Castro Almeida JR
Castro Almeida JR
Castro Almeida JR
RESUMO
Propõe a representação política da biblioteca ativa em uma narrativa do vir-a-ser no sentido de
amplificar as vozes de grupos isolados, vulneráveis e esquecidos de ressoarem nas ações culturais da
Biblioteca, confluindo diretamente em uma percepção teórica praxiológica em sentido de
reconceituação de (b)iblioteca a (B)iblioteca. Dessa forma, o objetivo é discutir o problema
epistemológico no estudo da biblioteca, tendo repercussões em uma abordagem emancipatória. Isto,
implica nas recepções da informação, isto é, à mediação da informação que implica não apenas um
resultado, mas uma reconstrução de olhar as coisas primeiras, inserir a abstração teórica no sentido
de que é nela que se desvirtua a práxis, não numa percepção de uma mediação imediata, mas uma
ação reconstrutiva em processo. A metodologia baseia-se no desenvolvimento da pesquisa teórica,
adota como método a pesquisa bibliográfica que, no sentido mais estrito, visa construir uma reflexão
sobre a mediação da informação, tendo em vista as proposições as percepções de significado entre
(b)iblioteca a (B)iblioteca. Os resultados descrevem as percepções de sentido entre (b)iblioteca a
(B)iblioteca para a construção de uma reflexão sobre a mediação da informação, do ponto de vista de
analisar problemas epistemológicos no estudo e ação do bibliotecário em que se inclina mais para ser
entendido como uma ferramenta de "tipo ideal", da realidade que se configura, então, como uma
perspectiva metodológica que considera a ação coletiva emancipatória, em que há a autonomia dos
sujeitos que contribuem para a compreensão informacional dos fenômenos sociais em biblioteca e
práticas cotidianas associadas à identificação de necessidades de informação. Para finalizar, aponta-se
para a redistribuição de espaços paradigmáticos da produção científica, construindo um projeto de
investigação metanormativa, em que revisa as possibilidades de uma crítica política que articula
questões epistemológicas, éticas e políticas.
Palavras-Chave: Obstáculo epistemológico; Biblioteca; Mediação da informação; Direito à justificação.
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teórica en el sentido de que es en ella donde se distorsionará la praxis, no en una percepción de una
mediación inmediata, pero una acción reconstructiva en proceso. La metodología se basa en el
desarrollo de la investigación teórica, adopta como método de investigación bibliográfica que, en
sentido estricto, tiene como objetivo construir una reflexión sobre la mediación de la información, en
vista de las proposiciones las percepciones de significado entre (b)iblioteca a (B)iblioteca Los
resultados describen las percepciones de significado entre (b)iblioteca y (B)biblioteca para la
construcción de una reflexión sobre la mediación de la información, desde el punto de vista del análisis
de problemas epistemológicos en el estudio y la acción del bibliotecario en el que se inclina más a ser
entendido como una herramienta de "tipo ideal", de la realidad que se configura, entonces, como una
perspectiva metodológica que considera la acción colectiva emancipadora, en la que está la autonomía
de los sujetos que contribuyen a la comprensión informacional de los fenómenos sociales en la
biblioteca y las prácticas cotidianas de información asociadas a la identificación de las necesidades de
información Finalmente, apunta a la redistribución de los espacios p de la producción científica,
construyendo un proyecto de investigación metanormativo, donde revisa las posibilidades de una
crítica política que articule cuestiones epistemológicas, éticas y políticas.
Palabras-Clave: Obstáculo Epistemológico; Biblioteca; Mediación de la Información; Derecho a la
Justificación.
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1 INTRODUÇÃO
apenas um resultado, mas uma construção de
As concepções de sentido entre
um olhar sobre fatores primários. Em outras
"(b)iblioteca a (B)iblioteca" visam construir uma
palavras, de olhar as coisas primeiras, inserir a
reflexão sobre a mediação da informação, dado
abstração no sentido de que é nela sque se
o ponto de vista de Alfaro Lopez (2010), que
desvirtuará a práxis, não é como uma mediação
considera problemas epistemológicos no
imediata, mas uma ação reconstrutiva em
estudo da prática da biblioteca e tem
processo.
repercussões em uma abordagem
emancipatória.
Nesse sentido, o conceito do obstáculo
epistemológico da “(b)iblioteca a (B)iblioteca”
A compreensão desse sentido, influi
do ponto de vista de Alfaro Lopez (2010), vai
diretamente na concepção praxiológica
além de uma simples estética da letra inicial
direcionada para essas duas concepções
sendo minúscula ou maiúscula, mas passa pelo
conceituais de biblioteca, para que o
profundo significado das ações que guiam
profissional da informação possa pensar nas
mesclas em ambas concepções biblioteca b(B).
questões temporais da mediação que em devir
Isso inclui toda uma cadeia de relações teóricas
se configura no cuidado do seu reconhecimento
com a concepção de estranhamento de
sobre uma transtradução que sobretudo
hipóteses epistemológicas positivas, com
reconheça primeiramente o autoexame sobre
obstáculos, ou seja, há uma necessidade de
sua posição histórica diante da mediação do
justificação nessa cadeia que ainda envolve
conhecimento e do mundo (Perez & Trindade,
ações de mediação.
2020).
Trata-se, portanto, de fenômeno
Por isso, a mediação é dialética, não se
autorrepresentativo, quer dizer, da expressiva e
funda numa relação dicotômica, entre isso ou
imaginativa representação política desse
aquilo, ou entre o bibliotecário e o usuário, mas
público como participantes ativos na biblioteca.
é relação das formas fenomênicas da realidade
Uma narrativa para fazer as vozes de grupos
que se reproduzem e despontam sobre a
isolados, vulneráveis e esquecidos de
experiência sensível, a negação, a criação, a
ressoarem nas ações culturais da Biblioteca
reconstrução das normas, mas não as que estão
Pública.
sobre a dominação formulada por agentes, mas
aquela que os sujeitos reivindicam e postulam
Por fim, defende-se, neste caso, a
suas próprias justificações que difere da ordem
criação de conjuntos dialógicos que
normativa vigente que estão subordinados
permitam estabelecer ações discursivas para
(Forst, 2018).
superar as barreiras da (b)iblioteca a
(B)iblioteca compreendendo-se os processos de
Isto implica nas recepções da
mediação da informação pela necessidade de
informação, isto é, à mediação da informação
justificação.
que segundo Almeida Júnior (2015), implica não
2 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO
A compreensão teórica sobre mediação epistemologia social da Ciência da Informação
concebe uma nuance na qual está sobre a (CI) nos estudos de Shera (1977). Segundo esse
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autor, a origem epistemológica social da CI Visão do bibliotecário mediador que
reside sobre uma perspectiva sociocultural da leva a informação a alguém, tem em sua gênese,
biblioteconomia; a relação bibliotecária, o livro evidências com as simetrias pragmático e
e o sujeito descortinam novos parâmetros de funcional, aqui observamos uma relação com as
cooperação mútua dado com o conceito de concepções de Alfaro Lopez (2010). Aquele que
informação. detém a informação e medeia através de
sistemas olhando para o fim, reduzindo a ação
Interpretando Shera (1977), a de mediar para o usuário buscar a informação,
epistemologia social da Ciência da Informação, relaciona-se com crítica feita por Almeida Júnior
tem um foco embrionário das concepções de (2021):
mediação, pois é entendida como um processo
de ação coletiva que trata relacionalmente com Os bibliotecários procuram criar
fenômenos da informação e construção do ambientes amigáveis, mas dentro de
conhecimento, e só pode ser comunicada com padrões previamente elaborados a
o envolvimento de um modelo emancipatório partir da idealização do usuário e de
estruturas informacionais internas que
da sociedade, a interação entre os sujeitos, na
se valem de implantações coletivas e
prática social (Shera, 1977). pouco consideram a apropriação dos
Portanto, essas correlações cooperam conteúdos, da informação pelo
usuário (Almeida Júnior, 2021, online).
com que, diante da apropriação da informação,
ela se localiza numa perspectiva da Essa abordagem mediada imediata,
autorrepresentação do usuário, conforme os pouco alcança o sentido social e antropológico
estudos de Castro e Almeida Júnior (2022), pois, que a mediação da informação de forma crítica
remetem “às experiências práticas de traz em seu ser, que é o olhar na abordagem de
autorrealização, que fazem com que sujeitos e “geração de conflitos e de novas necessidades
grupos informacionais atuem politicamente de informacionais” (Almeida Júnior, 2015, pp. 25).
acordo com seus modos de vida.” (pp. 4).
Ressalta-se dois pontos: conflitos e
De outra forma, a mediação da necessidades. Uma evidência de que a
informação em sua gênese esteve relacionada mediação não se resume em resultados de levar
na projeção de ponte em que se vislumbra com a informação a alguém ou ser mediada de forma
a teoria que defende a existência de um emissor simples e prática que os envolvidos pouco ou
e um receptor. Imaginário que sustentou os nada são afetados por suas relações. Ao
estudos de mediação por meio de um contrário do conflito e necessidades
entusiasmo alegórico que existe um alguém, informacionais, entram no âmbito do teórico
como o bibliotecário, que leva a informação crítico que podem ser gerados a nível de
para o receptor, usuário, dando o sentido complexidade das relações.
simbólico e imaginário de um personagem
coadjuvante que necessita de uma informação, A mediação da informação não envolve
enquadramento que recai “o senso comum unicamente um resultado, mas uma construção
bibliotecário, identifica e tenta explicar a de olhar para fatores primeiros, que abarca
mediação com a imagem da ‘ponte” (Almeida toda uma cadeia de relação teórica com
Júnior, 2009, pp. 94). Embora, nas literaturas estranhamento de pressupostos
contemporâneas, essa visão de ponte está epistemológicos positivos, sobre os obstáculos
sendo aos poucos rompida, seu sentido deixa que ainda cercam as ações de mediar, tecendo
rastro no imaginário que o bibliotecário é problemáticas de olhar crítico de dentro para
aquele que “transfere” e “leva a informação ao fora, das ações do bibliotecário perante a ação
usuário”. de mediar e o espaço da biblioteca.
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A mediação não é um momento, mas Essa abordagem engloba a direção para
um processo conforme aborda Almeida Júnior ação cultural como efeito para mediação da
(2015) que envolve desde o olhar do informação como aborda Flusser (1980, pp.
bibliotecário consigo mesmo, as relações entre 134) “todo o processo de ação cultural engloba
ele com ambiência informacional construída também a dimensão de mediação e neste
com os usuários. Seu olhar e diálogo crítico deve sentido a biblioteca reencontra sua prática a de
envolver desde os suportes e equipamentos ser um depósito de herança cultural”. Nesse
informacionais (físico ou não) que se viés a biblioteca alcança seu sentido de
interrelacionam com o ouvir e ecoar da mediação social e cultural, quando amplifica
representatividade dos usuários como espaço vozes do não-público através das dimensões de
dialógico da biblioteca, alcançando um âmbito criação cultural na biblioteca, que não ocorre
de áreas físicas ou não, que a informação unicamente por leituras, mas pelas diferentes
circula. manifestações de domínio das experiências de
mediação que a linguagem cultural engloba.
3 DA (b)IBLIOTECA A (B)IBLIOTECA
No segundo, a (B)iblioteca é pensada
No capítulo de seu livro intitulado "A
pelo viés da arquitetura teórica e para uma
biblioteca como um obstáculo epistemológico",
construção conceitual, à reflexão da abstração
o autor Alfaro Lopez caracteriza uma crítica de
em que a biblioteca está inserida, um olhar para
biblioteca que destaca perspectivas entre a
a reflexão das práticas com análise crítica. Na
(b)iblioteca e a (B)iblioteca: "A biblioteca não
perspectiva de um caminho para a construção
nos fez pensar sobre a Biblioteca." (Alfaro
de novos olhares conceituais que apontem
Lopez, 2010, pp. 3). O sentido dado a
caminhos para a inserção de abordagens pouco
(b)iblioteca e a (B)iblioteca segundo Alfaro
ou ainda não discutidas dentro das práticas
Lopez (2010, pp. 3), “obviamente não significa
bibliotecárias, acompanha e influencia a
um jogo de ingenuidade gráfica ou alegórica,
sociedade contemporânea, com olhar para
muito pelo contrário, há uma intencionalidade
soluções e na previsibilidade dos resultados.
que visa representar duas ordens cognitivas
Alinha-se com as práticas utilitárias que
diferentes” respectivamente: do concreto, o
envolvem os serviços da biblioteca, para um
imediato o factual e a ordem do abstrato, do
grande público, que representa um efetivo e
intelectivo, do conceitual.
potencial, mas que não quer dizer ou não
No primeiro, representa a (b)iblioteca engloba e contempla o público diverso que
pautada na sua funcionalidade, com o olhar Flusser (1980) denomina de não público, que
apenas para serviços a serem oferecidos, no contempla um público isolado, marginalizado e
pilar funcional da técnica, do empirista ou, em esquecido pelas ações culturais da biblioteca
seu melhor aspecto, positivista, reduz as pública.
literaturas de estudos a resultados empíricos de Essa diferença entre olhar os serviços
serviços realizados, “o que deu origem a uma para o público, sem reconhecer que existe
acumulação e excedente de conhecimento e diferenças entre sujeitos e buscar investigar e
com isso propiciou conformação do campo, refletir a amplitude social de comunidades e
levando a um obstáculo epistemológico” (Alfaro representatividades, questionar os
Lopez, 2010, pp. 3). direcionamentos da biblioteca sobre o motivo
que faz o não público não se apropriar do
espaço e não dedicar a adotar políticas culturais
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para abarcar o não público, recair no olhar ("letrado"), mas ignora a diversidade, que
horizontal de relações, em que os sujeitos são Flusser (1980) descreve como um não-público,
padronizados e incorporados às normas e referindo-se ao público isolado, marginalizado e
funções do ambiente informacional, opondo-se esquecido pelas ações culturais da biblioteca
assim às construções dialógicas entre as pública.
diferentes comunidades, principalmente as
marginalizadas pela sociedade, acaba Essa ação pragmática que recai na
incorporando a ação da biblioteca em padrões representação funcional de prestar unicamente
de relações. serviços, sem problematizar fatores de
comunidades que possam estar sendo
Essas ações de olhar apenas para excluídas, necessita ser discutida e refletida
resultados em entregar sistemas e serviços de pelas ações e relações teóricas, do olhar para as
informação, negligenciam a teoria e prática da primeiras coisas, dos processos construtores
diversidade; as comunidades e a interferência semióticos entre sujeitos, objeto e espaço que
dos sujeitos no mundo da vida; a forma de não envolvem os estudos biblioteconômicos e nas
participação ativa do público; os serviços e práticas dentro da biblioteca.
sistemas não são tratados de maneira
equitativa aos sujeitos que se inserem na No ambiente de biblioteca pública não
biblioteca pública, evidencia as herança teórica existe apenas um olhar para resultados
do pragmatismo de James, “a disposição de tirar previsíveis, pois a biblioteca ao envolver e
o olhar das coisas primeiras, das ‘categorias’, buscar inserir toda a diversidade de usuários,
das pretensas necessidades, e a olhar ao estará frente aos habitus de cada indivíduo e
contrário, para as coisas últimas. Para os cada grupo, que traz consigo linguagem e
resultados e consequências, fatos” (James, práticas identitárias que necessitam serem
1985, pp. 13-14). evidenciadas e legitimadas para ocorrer as
relações.
Para ilustrar o pragmatismo e entender Pensar em investigações que pouco
a crítica de Alfaro Lopez às questões limitadas problematizam e questionem conceitos já
de funções e serviços, recorre-se ao seu inferidos, deixando as ressignificações de lado,
fundador, William James, que baseia sua tendem a entregar a teoria que cercam as ações
filosofia no utilitarismo, o método que busca bibliotecárias para a vertente que Kuhn (1998,
resultados claros e objetivos para a ação. pp. 30) denominou de “ciência normal. Quando
Explicando pragmatismo, James avalia: “uma as pesquisas seguem uma regra e padrão da
pragmática volta resolutamente as costas, de literatura da área de conhecimento, sem traçar
uma vez por todas, a um grande número de novos horizontes “significa a pesquisa
posições cara aos filósofos de profissão, e foge firmemente baseada em uma ou mais
da abstração, das soluções verbais, das más realizações científicas passadas. Essas
razões a priori, dos princípios fixos, dos sistemas realizações são reconhecidas durante algum
fechados, dos falsos absolutos.” (James, 1985, tempo por alguma comunidade científica
pp. 18). específica como proporcionando os
fundamentos para sua prática posterior.”
A ação pragmática a que se refere
(Kuhn, 1998, pp. 29).
James (1985) acompanha e influencia as
soluções da sociedade atual e a previsibilidade A perspectiva funcional não deixou
dos resultados. Foca-se em práticas utilitárias pensar na complexidade e aprofundamento
que envolvem serviços e sistemas de bibliotecas teórico que surgem com a diversidade social
para um grande público efetivo e potencial que a biblioteca pública deveria buscar
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alcançar. A diversidade aponta para os partir das visões de membros de bibliotecas que
diferentes níveis de signos que estão envolvidos partem de uma opinião generalista e pouco
no ambiente da biblioteca, mas que devido à aprofundada em reflexão teórica-crítica no
complexidade de não saber lidar ou conceituar sentido de dizer:
a complexidade que os signos apresentam, são
ocultadas pelo funcionalismo já existente, logo Estamos bem e então, para
são deixadas para não causarem transtornos. permanecermos eficientes nos
serviços de biblioteca, não precisamos
Essa visão de elaboração crítica de muito, ou apenas uma pequena
conceitual, que envolve a teoria da fração necessária para ser mais
diversidade de práticas e objetos eficiente, de abstração ou de teorias:
próprios e definidores bibliotecário, é além disso, um excesso de teoria pode
visto como algo estranho à dinâmica acabar atrapalhando a eficiência. tudo
que o dia a dia seja realizado ao longo isso não nos impediu de cumprir
da atividade da biblioteca; porque ela funcionalmente nossa missão de
se estabeleceu em uma tarefa serviço (Alfaro Lopez, 2010, pp. 38).
pragmaticamente orientada e cujo
suporte cognitivo, baseia-se na Esse desdobramento na rotina pautado
funcionalidade técnica do empirista, unicamente na funcionalidade técnica, no
em seu melhor aspecto, positivista conceito de Alfaro Lopez de “racionalidade de
(Alfaro Lopez, 2010, pp. 4). serviço” de sentir satisfação de estar cumprindo
seu papel como missão do bibliotecário, que
Essa visão recorre aos estudos que leva a leitura, dissemina a informação, acaba
pouco aprofundam em cadeias conceituais, na por trazer uma segurança mental e cognitiva de
busca de ressignificações de conceitos ou para exercer funções na espera de resultados
problematizar práticas, logo, acabam previamente objetivos, mas que afastam toda
entregando unicamente a teoria bibliotecária construção complexa sobre as relações
mergulhada na vertente que Kuhn (1998, pp. humanas (conflito) e solidificam os obstáculos
30) denomina de “paradigma” e tende a evoluir epistemológicos para a área, conforme Alfaro
para uma ciência normal pois, na busca de Lopez (2010, pp. 37-38).
alcançar uma direção e inserção dentro da
comunidade científica, estudantes adquirem A visão do bibliotecário de incorporar
conceitos de homens que aprenderam as bases unicamente essa missão de servir, resulta em
de seu campo de estudo a partir dos mesmos problemática de obstáculo epistemológico e
modelos concretos, sua prática subsequente cognitiva para o campo, pois ao conectar esse
raramente irá provocar desacordo declarado olhar romântico, pouco contribui-se para uma
sobre pontos fundamentais. Homens cuja visão crítica das suas teorias e funções, gerando
pesquisa está baseada em paradigmas um aspecto de não estranhamento no campo.
compartilhados estão comprometidos com as Essa missão de servir “encobre
mesmas regras e padrões para a prática aprofundamentos teóricos o que contribuirá
científica. Uma forma de segurança cognitiva e para a representação vezes de um véu que
mental em não pender para novos horizontes esconde problemas subjacentes e não apenas
ou questionar o que é costumeiro a fazer dentro de natureza epistemológica, mas de natureza
de certas ações. diversa [...] que serão motivo para uma reflexão
mais aprofundada.” (Alfaro Lopez, 2010, pp.
Alfaro Lopez (2010) tece sua crítica na 36).
vertente costumeira à dinâmica das atividades
bibliotecárias, que se alinha com a construção
do obstáculo epistemológico de Kuhn (1998) a
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Por exemplo, o conformismo da A visão do bibliotecário mediador, em
Biblioteca Pública estaria evidenciado, assim, sua gênese ainda tem evidências com as
através dos trabalhos desenvolvidos - ou, quem simetrias do pragmático e do funcional
sabe, dos trabalhos não desenvolvidos - pelos observada por Alfaro Lopez (2010), isto é,
profissionais que nela atuam. Explicando aquele que detém as informações e medeia por
melhor: o conformismo deve ser entendido, no sistemas, olha para os fins e reduz a ação de
caso específico da Biblioteca Pública, como a mediação para que o usuário possa buscar e
passividade de sua atuação, como o aceitar ser encontrar a informação, assinala Almeida Júnior
um mero instrumento ideológico que apenas (2021).
transmite e reproduz informações de interesses
destoantes aos das classes populares (Almeida
Júnior, 2018).
3 NECESSIDADE DE JUSTIFICAÇÃO
ficou para era pós-moderna? Será que os atores
A questão usual parece ser exatamente
se poderíamos (bibliotecários) estar tomaram uma diferente perspectiva quando,
preocupados em distribuir além de recursos de em vez dos seguintes comandos morais,
informação. Busca situar as práticas da laboram para uso de seus direitos. (HABERMAS,
biblioteca em relação às práticas democráticas 2010, pp. 471-472), isto é, será que irrompeu as
de várias maneiras e compartilhar com o campo construções das ações comunicativas que se
da filosofia política e da educação a busca de difundiram nesses espaços sociais e épocas
fundamentos normativos atrelados a históricas? As ações comunicativas, não
justificativas de grupos sociais (Leckie, Dado & somente se alimentam das fontes das tradições
Buschman, 2010). culturais e das ordens legítimas, mas também
Milanesi (2002) considera que se antes dependem das identidades de indivíduos
era preciso conhecer as técnicas de socializados. (HABERMAS, 1997, p. 111).
catalogação, o desafio moderno dos
A tarefa essencial do bibliotecário
bibliotecários seria a dominação das tecnologias
deveria ser a complexidade da informação a
e as normas que apenas transcenderam seu
“levar para uma mais completa exaustão os
contexto funcional.
direitos existentes para a descoberta e a
As “técnicas” tocavam os limites do construção de novos direitos a partir da
treinamento e se aproximavam do multiplicidade de experiências” (Habermas,
adestramento: um máximo de 2010, pp. 467). Em outras palavras, se é
respostas com um mínimo de reflexão. formada o poder comunicativo na qual surgir
Já as chamadas “culturais” não dos não lugares onde há uma formação da
mostravam nenhum vínculo com o
trabalho profissional e, portanto, não
opinião e da vontade (Habermas, 1997)
poderiam fazer a ponte entre o
específico técnico e a cena social. As relações (b)iblioteca a (B)iblioteca,
(Milanesi, 2002, pp. 17). mescladas às necessidades de justificação
envolvidas em espaços informacionais,"
A questão hoje é se tais cenas como as confluem para as ações comunicativas no
contextualizadas por Milanesi (2002) ainda ambiente agregados aos direitos, pois “tornava-
permanecem sem o sentido da reflexão. O que se necessário dar um sentido social às
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informações, transformando-as em produtos Já na perspectiva de um caminho para
utilizáveis pela sociedade como um instrumento a construção de novos olhares conceituais,
essencial ao seu crescimento”. (Milanesi, 2002, aponta-se a inserção de abordagem das
pp.12). políticas culturais e decoloniais, ainda tímida
nas práticas bibliotecárias, que pode produzir
Então, o que representa a (b)iblioteca consciência crítica na biblioteca um lugar da
com base em sua funcionalidade, considera-se corporeidade e sociabilidade diante das lacunas
apenas os serviços a serem prestados, no pilar existentes no rastro do que a ação do
funcional da tecnologia, o empiricista ou no colonialismo trouxe para o local da (b)iblioteca.
melhor sentido do positivista, destaca-se um
processo pelo qual gera nos usuários e Alfaro Lopez (2010) explica que a
bibliotecários uma atividade desengajada “que abstração, (B)iblioteca, pode dar forma e
se constitui como a contrapartida do significado a diferentes tipos de bibliotecas,
incremento da desigualdade, da injustiça e da mas isso tem sido evitado pelo conhecimento
indiferença” (Haroche, 2008, pp. 15). Esse da biblioteca (b). Em outras palavras, estudos
entendimento reduz a literatura de estudo a teóricos com abordagem reflexiva no nível
resultados empíricos dos serviços realizados, “o teórico-crítico são tímidos devido a estudos
que deu origem a uma acumulação e excedente pragmáticos de bibliotecas voltados apenas
de conhecimento e com isso propiciou para resultados imediatos.
conformação do campo, levando a um
Em outras palavras, como práticas de
obstáculo epistemológico” (Alfaro Lopez, 2010,
participação na perspectiva da justificação dos
pp. 3). Na segunda, a (B)iblioteca é pensada do
usuários na biblioteca, está a corrente da ação
ponto de vista da arquitetura teórica e de uma
comunicativa, que considera a maneira que
construção conceitual, reflete o abstrato, isto é,
ocorre a ação intersubjetiva na prática
a experiência sensível:
bibliotecária com os usuários da biblioteca, isto
A consideração das emoções vividas é, a que contribui na capacidade intersubjetiva
na mediação da informação pode para compreender determinados contextos
sustentar uma avaliação que, no sociais (Castro, Silva & Oliveira, 2020). Desse
exercício da práxis, indique a modo, a justificação é o princípio da autonomia
intensidade alcançada na dimensão e da crítica que se defronta com os fenômenos
estética, na medida em que se observe da dominação que, por sua vez, tentam impedir
o prazer dos sujeitos envolvidos em que essa ordem normativa aconteça. Além
poderem interpelar, questionar e criar
disso, trata-se de olhar para o fato do que priva
a partir do encontro com a informação
as pessoas de algo que elas poderiam
em debate no coletivo. (Gomes, 2020,
pp. 15-16). reivindicar como a razão recíproca e universal
que não poderiam ser rejeitadas, assinala Forst
A zona intersubjetiva onde a biblioteca (2018).
está localizada deve olhar para as práticas de
distribuição, participação e reconhecimento na Para o autor, os princípios
perspectiva da justificação dos usuários na fundamentais de justiça implicam na
biblioteca, a fim de minar estereótipos que redistribuição, antes pela justificação dos
ajudam a silenciar e ignorar populações processos de reconhecimento onde o direito à
marginalizadas (não público) (Forst, 2018; justificação é fundamental aos membros da
Mathiesen, 2015; Flusser, 1980). estrutura básica da sociedade em serem
respeitados, isto é, o poder de decidir sobre as
instituições equânimes. “O que está
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prioritariamente em jogo na inclusão é o efetiva o papel de agente que não se presume
respeito ao sujeito que age, que merece uma em não apenas as ações funcionais no ambiente
justificação política efetiva – como participante onde está inserido (Castro, Silva & Oliveira,
de uma prática de dar e receber razões no 2018).
espaço político.” (Forst, 2018, pp. 94). Por
exemplo, a biblioteca não considera os sujeitos Essa diversidade, como denomina
como participantes políticos no ambiente Flusser (1980) de pluralidade de expressão,
informacional, tratados aqui como não aponta para os diferentes níveis de signos que
públicos, ou seja, a participação de indivíduos e deve ocupar os espaços envolvidos no ambiente
grupos vulneráveis para se autorrepresentarem da biblioteca, mas que acabam tendo suas vozes
no espaço público da biblioteca, o que se coloca não amplificadas nesses espaços, devido a
em discussão é uma justiça informacional que fatores da biblioteca não saber garantir ou não
seja contributiva, participativa e do instigar a complexidade que os signos se
reconhecimento (Mathiesen, 2015). apresentam e na busca de sentir representados,
pois são silenciadas, ocultadas pelo
Para Habermas (1997, pp. 51): funcionalismo já existente, do status quo, que
as padronizações e normas horizontais, tratam
O agir comunicativo aponta para uma as relações entre sujeito e espaço da biblioteca,
argumentação, na qual os evidenciadas para que não causem poucos
participantes justificam suas transtornos nas relações no espaço
pretensões de validade perante um
informacional.
auditório ideal sem fronteiras. Os
participantes de uma argumentação
partem da suposição idealizadora de
Flusser (1980) ressalta que esse é um
que, no espaço social e no tempo dos principais problemas da biblioteca pública,
histórico, existe uma comunidade que afasta grupos minoritários e devido sua
comunicacional sem fronteiras e têm vertente centralizadora de cultura, em não
que pressupor a possibilidade de uma buscar fazer inserir, ouvir e ecoar a linguagem
comunidade ideal "dentro" de sua do não-público na construção social da
situação social real. biblioteca, pois para o não-público essa cultura
generalista presente na biblioteca, acaba não
Para serem tratadas com ‘justiça’ como fazendo sentido para o não-público se eles não
fonte de informação, as pessoas devem ter a têm as possibilidades de formular e inserir sua
mesma chance de contribuir para a produção e cultura através da palavra, de serem ouvidos
provisão de conhecimento: isso se chama dentro das bibliotecas, pois é a cultura que faria
justiça participativa garantindo que as sentido para ele.
bibliotecas evitem colecionar livros infantis e
infantojuvenis que reforçam estereótipos e Segundo Leite (1996, pp. 60):
estigmas sociais de grupos subalternos
(Mathiesen, 2015). Apesar de muito enfatizada,
principalmente no discurso político, na
A percepção intersubjetiva e prática a democratização da
comunicativa da informação está na tarefa informação não tem se concretizado.
essencial do bibliotecário de levar para uma Isto pode ser constatado entre outras
mais completa exaustão os direitos existentes formas, pelo próprio modelo de
comunicação do conhecimento, que
para a descoberta e a construção de novos
muitas vezes não responde às
direitos a partir da multiplicidade de necessidades individuais e coletivas da
experiências. Essa relação de direitos sociedade. Os mecanismos de
manifesta-se na ação do bibliotecário, que
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comunicação não fornecem ações críticas frente à ações costumeiras e
informações que contribuam para a comodidade paradigmática que ainda envolve a
tomada de decisões, nem dão biblioteca pública, causando um obstáculo
oportunidade de expressão a todos os epistemológico para a construção do
setores da população; não estimulam
conhecimento entre o não público e a
o diálogo nem o crescimento da
consciência crítica e da capacidade de
biblioteca.
participação.
Embora as práticas e os serviços feitos
Como representatividade, o não- nas bibliotecas buscam utilizar sistemas padrão
público necessita autorrepresentar, de organização e o excesso de normas para que
amplificando vozes diante dos ambientes ocorra o menor sentido de ruído desde as
informacionais, ocupando esses espaços, pois a buscas informacionais até as relações entres os
biblioteca apenas pensa em ação cultural, de sujeitos, correm o risco, como aborda Morin
modo generalista, sem haver a reflexão e ação (2005), de provocar uma cegueira, se tratando
frente e em conjunto com a palavras do não da exclusão dos aspectos complexos que
público, que não alcançam seu sentido envolve as relações, que são importantes para o
verdadeiramente público. avanço das relações.
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vezes ao significado social e antropológico que simples e prática, de que seus relacionamentos
sob uma mediação crítica pode carregar em seu têm pouco ou nenhum impacto sobre os
ser, um olhar para a avaliação de "gerar envolvidos, isto é, entre os sujeitos.
conflitos e novas necessidades de informação"
(Almeida Júnior, 2015, pp. 25). Ao contrário, as necessidades
conflitantes e informacionais, entram em um
É a prova que a mediação não se quadro teórico crítico que pode ser gerado no
resume aos resultados de fornecimento de nível de complexidade da relação, assinala
informações a outro ou remediá-la de forma Edgar Morin (2005).
4 MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia baseia-se no Nesse sentido, a pesquisa teórica
desenvolvimento da pesquisa teórica, adota compreende o ambiente de discussão sobre um
como método a pesquisa bibliográfica que, no determinado tema ou questões que intrigam a
sentido mais estrito, visa construir uma reflexão realidade. Isso implica a construção do
sobre a mediação da informação, tendo em conhecimento reflexivo de forma relacional,
vista as proposições de Alfaro Lopez (2010), entendida como ação coletiva e só pode ser
sobre as diferenças de significado entre comunicada integrando um modelo social que
"(b)iblioteca a (B)iblioteca" e a relação de como considere emancipação, a interação entre os
isso é observado como um obstáculo sujeitos, na prática social (Shera, 1977).
epistemológico.
5 RESULTADOS
O quadro abaixo sistematiza os O tipo ideal é o principal meio
resultados da pesquisa e descreve as metodológico tanto para estabelecer o
percepções de sentido entre (b)iblioteca a significado cultural dos fenômenos,
(B)iblioteca para a construção de uma reflexão quanto para formular proposições
sobre a mediação da informação, do ponto de empíricas sobre eles. O conceito de
vista de Alfaro Lopez (2010) que analisa tipo ideal é obtido pelo realce
problemas epistemológicos no estudo e ação do unilateral de um ou de vários pontos
bibliotecário. de vista e a reunião de uma multidão
de fenômenos singulares, difusos e
Nesse sentido, o quadro, inclina-se mais discretos que se encaixam naqueles
para ser entendido como uma ferramenta de pontos de vista no quadro conceptual
"tipo ideal", ao estilo de Max Weber. É mais um em si unitário. Essa unidade
gradiente entre pólos não-absolutizáveis da conceptual é o que confere ao tipo
realidade. ideal a univocidade que permite a
De acordo com Saint-Pierre (1994, pp. objetividade na comparação de vários
67-83): fenômenos do mesmo tipo. O tipo
ideal é o modo de construção de
A categoria do tipo ideal é a ponte que conceitos peculiares ao método
liga o componente subjetivo das histórico ou individualizante, que é o
ciências da cultura com o
conhecimento estritamente empírico.
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estudo da realidade e dos fenômenos desencadeiam a conjuntura de um olhar de
em sua singularidade. compartilhamento de informações que vai do
local ao global, isto é, às percepções sobre o
Em outras palavras, o “tipo ideal” ambiente social (Castro & Oliveira, 2022, pp.3)
configura-se, então, como uma perspectiva
metodológica que considera a ação coletiva O tipo ideal é a ponte que liga o
emancipatória, em que há a autonomia dos componente subjetivo das ciências da cultura
sujeitos que contribuem para a compreensão com o conhecimento estritamente empírico. O
informacional dos fenômenos sociais. Uma das tipo ideal é o principal meio metodológico tanto
questões diz respeito à “relação entre fatores para estabelecer o significado cultural dos
socioculturais e práticas cotidianas de fenômenos, quanto para formular proposições
informação associadas à identificação de empíricas sobre eles. O conceito de tipo ideal é
necessidades de informação.” (Castro & obtido pelo realce unilateral de um ou de vários
Almeida Júnior, 2022, pp. 3). De outro modo, o pontos de vista e a reunião de uma multidão de
sentido dado ao texto sobre a relação fenômenos singulares, difusos e discretos que
(b)iblioteca a (B)iblioteca, refere-se a visão de se encaixam naqueles pontos de vista dentro do
imediação, termo usado por Hegel, em que diz: quadro conceptual em si unitário. Essa unidade
A essência não tem ainda um ser- conceptual é o que confere ao tipo ideal a
determinado não são sensíveis ou univocidade que permite a objetividade na
existentes imediatas, mas existe, e em comparação de vários fenômenos do mesmo
um sentido mais profundo que o ser; tipo. O tipo ideal é o modo de construção de
a coisa é o começo da existência conceitos peculiares ao método histórico ou
refletida; é uma imediação, que ainda individualizante, que sabemos ser o estudo da
não está posta como essencial ou
realidade e dos fenômenos em sua
refletida. Mas, realmente não é um
singularidade.
imediato existente. (Hegel, 2017, pp.
167). Isso tem a consequência de que a visão da
(b)iblioteca, ao causar um excesso de
A “coisa” por assim podemos dizer é o conhecimento no campo da orientação
começo de uma existência refletida, no qual se pragmática, os sujeitos que recorrem a tais
cita o tipo ideal de Weber, a (b)iblioteca pode agências, são afetados por pressupostos de
ser uma imediação não posta essencialmente, racionalidade social que se baseia em dados não
mas que a partir das concepções da (B)iblioteca, criticados, pouco reconfigurada aos conceitos
juntas podem marcar uma relação identitária de gerados neste campo, necessitam de uma certa
uma perspectiva da autorrepresentação dos distância para uma reconstrução normativa e
sujeitos que se relacionam entre essas duas podem ser as causas, portanto, da ação
concepções de (b)iblioteca a (B)iblioteca. contínua que leva ao obstáculo epistemológico.
Conforme Castro e Oliveira (2022), a
autorrepresentação configura-se na
possibilidade dos sujeitos informacionais
exercerem maior controle sobre suas próprias
representações na ambiência das bibliotecas,
diz respeito a um processo contínuo de ação de
interferência que frente às narrativas
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Quadro 1: Mediação: (b)iblioteca a (B)iblioteca
Fonte: elaboração própria (2022).
MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO
(fx): a) Sistemas e serviços: emissor e Vale relembrar que a mediação não é
bibliot receptor; racionalidade do serviço; um momento, mas um processo, como assinala
eca (b) Público potencial – efetivo; cultura do Almeida Júnior (2015), uma vez que, do ponto
silêncio;
b) Medo do pensamento abstrato, da
de vista do bibliotecário, a autoanálise é
elaboração cognitiva abstrata necessária para destacar as relações entre eles
sistemática das múltiplas práticas e um ambiente informativo construído com
c)Tarefas pragmáticas baseadas na
funcionalidade técnica empirista
bibliotecários e usuários, aqui está o processo
(excesso de conhecimento); de afastamento.
d) Caráter sistemático e obstáculo O olhar crítico e o diálogo devem
epistemológico.
qualificar equipamento e dispositivos
informacionais (físicos ou não), conectados à
(fx): a) Construída intelectualmente a partir escuta e amplificação da voz dos usuários como
Bibliot de conceitos e arquitetura teórica e um espaço dialógico da biblioteca, local de
eca (B) discursiva: ações de interferência,
intersubjetividade que atinge um espaço físico
conflito, ação e reflexão, Não-público,
Cultura da palavra; ou não físico por onde circula, busca e apropria-
b) É a Biblioteca que deve dar forma, se da informação.
significado e funcionalidade aos
diferentes tipos de bibliotecas;
c) A elaboração abstrata, que envolve a
construção conceitual e teoria da
diversidade de práticas;
d) Reconfiguração teórica;
e) Caráter de estranhamento do campo.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A configuração teórica deste texto natural de justificação, isto é, se
considera a direção da ação cultural como efeito autorrepresentar através das dimensões da
mediador da informação assinalada por Flusser criação cultural na biblioteca, que não passa
(1980, pp. 134): “todo o processo de ação apenas por leituras, mas pelas diferentes
cultural engloba também a dimensão de manifestações do campo, experiências de
mediação e neste sentido a biblioteca mediação que a ambiência da biblioteca deve
reencontra sua prática, a de ser uma herança
possibilitar.
cultural.”.
Em outras palavras, há problemas de
No texto deixa-se claro que essa não é
visão crítica de dentro para fora, às ações do
uma visão maniqueísta, não é uma questão de
bibliotecário antes da prática da mediação e ao
ou isso ou aquilo. Há mesclas entre esses
espaço da biblioteca.
olhares, ou seja, entre a biblioteca e a
Biblioteca.
A visão crítica da biblioteca possibilita
refletir sobre as contribuições teóricas para a
Nesse viés, a biblioteca percebe o
mediação da informação, não apenas no
sentido de mediação social na reconstrução
bibliotecário que influencia uma prática
cultural, quando o não público tem o direito
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generalista e horizontal, mas sob perspectivas Para se pensar exatamente sobre a
plurais de mediação. qualidade da informação, é possível fomentar
as habilidades de partilha, sentimento e
Além disso, apresenta tensionamentos percepção das relações informacionais e suas
que caracterizam o pensamento ibero- variações interligadas a ambientes
americano pertinente ao contexto brasileiro em informacionais, elencados nos estudos críticos
relação à tendência dos estudos em mediação de Araújo (2018).
da informação (Araújo & Valentim, 2019),
seguindo as ideias de Araújo (2018): “[...] Por fim, Gonzalez de Gomez (2012)
questionamentos aos pensamentos aponta para a redistribuição de espaços
estabelecidos, colocar em dúvida modelos paradigmáticos da produção científica,
hegemônicos, subverter ordens, promover construindo um projeto de investigação
deslocamentos. Os estudos culturais, em sua metanormativa, onde revisa as possibilidades
crítica ao elitismo cultural.” (Araújo, 2018, de uma crítica política que articula questões
pp.2). epistemológicas, éticas e políticas.
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