História Da Psicologia
História Da Psicologia
História Da Psicologia
tema formaram um corpo de conhecimentos denominado filosofia. diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo
A formulação de um conjunto de pensamentos sobre a origem do foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. Dessa forma, o
homem, seus princípios morais, forma outro corpo de conhecimento saber pode ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. Essa
humano, conhecido como religião. No Ocidente, um livro muito conhecido característica da produção científica possibilita sua continuidade: um novo
traz as crenças e tradições de nossos antepassados e é para muitos um conhecimento é produzido sempre a partir de algo anteriormente
modelo de conduta: a Bíblia. Esse livro é o registro do conhecimento desenvolvido. Negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e
religioso judaico-cristão. Outro livro semelhante é o livro sagrado dos assim a ciência avança. Nesse sentido, a ciência caracteriza-se como um
hindus: Livro dos Vedas. Veda, em sânscrito (antiga língua clássica da processo.
Índia), significa conhecimento. A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à
Por fim, o homem, já desde a sua pré-história, deixou marcas de sua objetividade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas
sensibilidade nas paredes das cavernas, quando desenhou a sua própria de emoção, para, assim, tornarem-se válidas para todos.
figura e a figura da caça, criando uma expressão do conhecimento que Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas,
traduz a emoção e a sensibilidade. Denominamos arte a esse tipo de processo cumulativo do conhecimento, objetividade fazem da ciência uma
conhecimento. forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo
Somente esse tipo de conhecimento, porém, não seria suficiente para as do senso comum. Esse conjunto de características é o que permite que
exigências de desenvolvimento da humanidade. O homem, desde os denominemos científico a um conjunto de conhecimentos.
tempos primitivos, foi ocupando cada vez mais espaço neste planeta, e Quando fazemos ciência, baseamo-nos na realidade cotidiana e pensamos
somente esse conhecimento intuitivo seria muito pouco para que ele sobre ela. Afastamo-nos dela para refletir e conhecer além das aparências.
dominasse a Natureza em seu próprio proveito. Os gregos, por volta do O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximam-
século 4 a.C, já dominavam complicados cálculos matemáticos, que ainda se e se afastam: aproximam-se porque a ciência se refere ao real; afastam-se
hoje são considerados difíceis por qualquer jovem colegial. Os gregos porque a ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a
precisavam entender esses cálculos para resolver problemas agrícolas, ciência afasta-se da realidade, transformando-a em objeto de investigação
arquitetônicos, navais etc. Era uma questão de sobrevivência. Com o tempo, — o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real.
esse tipo de conhecimento foi-se especializando cada vez mais. A este tipo
de conhecimento, que definiremos logo adiante, chamamos de ciência. A Psicologia Científica e sua diversidade de objetos de estudo
Portanto, arte, religião, filosofia, ciência e senso comum são diferentes
domínios do conhecimento humano. Como dissemos anteriormente, um conhecimento, para ser considerado
científico, requer um objeto específico de estudo. O objeto da Astronomia
são os astros, e o objeto da Biologia são os seres vivos. Essa
O que é Ciência classificação bem geral demonstra que é possível tratar o objeto dessas
ciências com certa distância, ou seja, é possível isolar o objeto de estudo.
A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou
Esse cientista não corre o mínimo risco de confundir-se com o fenômeno que
aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma
está estudando.
linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de
O mesmo não ocorre com a Psicologia, que, como a Antropologia, a
maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a
Economia, a Sociologia e todas as ciências humanas, estuda o homem.
verificação de sua validade. Assim, podemos apontar o objeto dos
Certamente, esta divisão é ampla demais e apenas coloca a Psicologia
3
entre as ciências humanas. Qual é, então, o objeto específico de estudo da os “diversos homens” concebidos pelo conjunto social. Assim, a Psicologia
Psicologia? hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos de estudo.
Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele dirá: “O Por outro lado, essa diversidade de objetos justifica-se porque os
objeto de estudo da Psicologia é o comportamento humano”. Se a palavra for fenômenos psicológicos são tão diversos, que não podem ser acessíveis ao
dada a um psicólogo psicanalista, ele dirá: “O objeto de estudo da Psicologia mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos
é o inconsciente”. Outros dirão que é a consciência humana, e outros, ainda, padrões de descrição, medida, controle e interpretação. Esta situação leva-
a personalidade. nos a questionar a caracterização da Psicologia como ciência e a postular
que no momento não existe uma psicologia, mas Ciências psicológicas
A diversidade de objetos da Psicologia é explicada pelo fato deste campo embrionárias e em desenvolvimento.
do conhecimento ter-se constituído como científico só muito recentemente
(final do século 19). Quando uma ciência é muito nova, ela não teve tempo A subjetividade como objeto da Psicologia
ainda de apresentar teorias acabadas e definitivas, que permitam determinar
com maior precisão seu objeto de estudo. Considerando toda essa dificuldade na conceituação única do objeto d e
Outro motivo que contribui para dificultar uma clara definição de objeto estudo da Psicologia, pensamos que o objeto de estudo da Psicologia
da Psicologia é o fato de o cientista — o pesquisador — confundir-se com o deveria ser um que reunisse condições de aglutinar uma ampla variedade de
objeto a ser pesquisado. No sentido mais amplo, o objeto de estudo da fenômenos psicológicos. Assim, optamos por apresentar uma definição que
Psicologia é o homem, e neste caso o pesquisador está inserido na categoria sirva como referência, uma vez que você irá se deparar com diversos
a ser estudada. Assim, a concepção de homem que o pesquisador traz enfoques que trazem definições específicas desse objeto (o comportamento,
consigo “contamina” inevitavelmente a sua pesquisa em Psicologia. Isso o inconsciente, a consciência etc.).
ocorre porque há diferentes concepções de homem entre os cientistas (na A identidade da Psicologia é o que a diferencia dos demais ramos das
medida em que estudos filosóficos e teológicos e mesmo doutrinas políticas ciências humanas, e pode ser obtida considerando-se que cada um desses
acabam definindo o homem à sua maneira, e o cientista acaba ramos enfoca o homem de maneira particular. Assim, cada especialidade —
necessariamente se vinculando a uma destas crenças). É o caso da a Economia, a Política, a História etc. — trabalha essa matéria-prima de
concepção de “homem natural”, formulada pelo filósofo francês Rousseau, maneira particular, construindo conhecimentos distintos e específicos a
que imagina que o homem era puro e foi corrompido pela sociedade, e que respeito dela. A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade: é essa a
cabe então ao filósofo reencontrar essa pureza perdida. Outros veem o sua forma particular, específica de contribuição para a compreensão da
homem como ser abstrato, com características definidas e que não mudam, totalidade da vida humana.
a despeito das condições sociais a que esteja submetido. Nós, autores deste A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós
livro, vemos esse homem como ser datado, determinado pelas condições vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as
históricas e sociais que o cercam. experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos identifica, de
Na realidade, este é um “problema” enfrentado por todas as ciências um lado, por ser única, e nos iguala, de outro lado, na medida em que os
humanas, muito discutido pelos cientistas de cada área e até agora sem elementos que a constituem são experienciados no campo comum da
perspectiva de solução. Conforme a definição de homem adotada, teremos objetividade social. Esta síntese — a subjetividade — é o mundo de ideias,
uma concepção de objeto que combine com ela. Como, neste momento, há significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas
uma riqueza de valores sociais que permitem várias concepções de homem, relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é,
diríamos simplificadamente que, no caso da Psicologia, esta ciência estuda também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.
4
O mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado por nós, pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas
possibilita-nos a construção de um mundo interior. São diversos fatores que vão sempre mudando. Afinam e desafinam”.
se combinam e nos levam a uma vivência muito particular. Nós atribuímos As pessoas não estão sempre iguais. Ainda não foram terminadas. Na
sentido a essas experiências e vamos nos constituindo a cada dia. verdade, as pessoas nunca serão terminadas, pois estarão sempre se
A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e modificando. Mas por quê? Como? Simplesmente porque a subjetividade —
fazer de cada um. É o que constitui nosso modo de ser: sou filho de este mundo interno construído pelo homem como síntese de suas
japoneses, militante de um grupo ecológico, detesto Matemática, adoro determinações — não cessará de se modificar, pois as experiências sempre
samba e black music, pratico ioga. Meu melhor amigo é filho de trarão novos elementos para renová-la.
descendentes de italianos, primeiro aluno da classe em Matemática, trabalha Talvez você esteja pensando: mas eu acho que sou o que sempre fui —
e estuda, é corintiano fanático, adora comer sushi e navegar pela Internet. eu não me modifico! Por acompanhar de perto suas próprias
Ou seja, cada qual é o que é: sua singularidade. transformações, você pode não percebê- las e ter a impressão de ser como
Entretanto, a síntese que a subjetividade representa não é inata ao sempre foi. Você é o construtor da sua transformação e, por isso, ela pode
indivíduo. Ele a constrói aos poucos, apropriando-se do material do mundo passar despercebida, fazendo-o pensar que não se transformou. Mas você
social e cultural, e faz isso ao mesmo tempo em que atua sobre este cresceu, mudou de corpo, de vontades, de gostos, de amigos, de atividades,
mundo, ou seja, é ativo na sua construção. Criando e transformando o afinou e desafinou, enfim, tudo em sua vida muda e, com ela, suas
mundo (externo), o homem constrói e transforma a si próprio. vivências subjetivas, seu conteúdo psicológico, sua subjetividade. Isso
De um certo modo, podemos dizer que a subjetividade não só é acontece com todos nós.
fabricada, produzida, moldada, mas também é automoldável, ou seja, o É claro que a forma de se abordar a subjetividade, e mesmo a forma de
homem pode promover novas formas de subjetividade, recusando-se ao concebê-la, dependerá da concepção de homem adotada pelas diferentes
assujeitamento e à perda de memória imposta pela fugacidade da escolas psicológicas. No momento, pelo pouco desenvolvimento da
informação; recusando a massificação que exclui e estigmatiza o diferente, a Psicologia, essas escolas acabam formulando um conhecimento
aceitação social condicionada ao consumo, a medicalização do sofrimento. fragmentário de uma única e mesma totalidade — o ser humano: o seu
Nesse sentido, retomamos a utopia que cada homem pode participar na mundo interno e as suas manifestações. A superação do atual impasse levará
construção do seu destino e de sua coletividade. a uma Psicologia que enquadre esse homem como ser concreto e
Por fim, podemos dizer que estudar a subjetividade, nos tempos atuais, é multideterminado. Esse é o papel de uma ciência crítica, da compreensão,
tentar compreender a produção de novos modos de ser, isto é, as da comunicação e do encontro do homem com o mundo em que vive, já
subjetividades emergentes, cuja fabricação é social e histórica. O estudo que o homem que compreende a História (o mundo externo) também
dessas novas subjetividades vai desvendando as relações do cultural, do compreende a si mesmo (sua subjetividade), e o homem que compreende a
político, do econômico e do histórico na produção do mais íntimo e do mais si mesmo pode compreender o engendramento do mundo e criar novas rotas
observável no homem — aquilo que o captura, submete-o ou mobiliza-o e utopias.
para pensar e agir sobre os efeitos das formas de submissão da subjetividade Algumas correntes da Psicologia consideram-na pertencente ao campo
(como dizia o filósofo francês Michel Foucault). das Ciências do Comportamento e, outras, das Ciências Sociais.
O movimento e a transformação são os elementos básicos de toda essa Acreditamos que o campo das Ciências Humanas é mais abrangente e
história. E aproveitamos para citar Guimarães Rosa, que em Grande Sertão: condizente com a nossa proposta, que vincula a Psicologia à História, à
Veredas, consegue expressar, de modo muito adequado e rico, o que aqui Antropologia, à Economia etc.
vale a pena registrar: “O importante e bonito do mundo é isso: que as
5
Se temos a intenção de compreender a complexidade que define e A psicologia não se desenvolveu no vácuo, sujeita apenas a influências
circunscreve a psicologia de hoje, o ponto de partida adequado é o século interiores. Ela é parte da cultura mais ampla em que funciona, estando,
XIX, o momento em que a psicologia se tornou uma disciplina independente portanto, exposta a influências externas que moldam a sua natureza e a sua
com métodos de pesquisa e raciocínios teóricos característicos. direção de maneiras significativas. Uma compreensão adequada da história
Somente há pouco mais de cem anos os psicólogos definiram o objeto de da psicologia tem de considerar o contexto em que a disciplina surgiu e se
estudo da psicologia e estabeleceram seus fundamentos, confirmando assim desenvolveu — as forças sociais, econômicas e políticas que caracterizam
sua independência em relação à Filosofia. Os primeiros filósofos se diferentes épocas e lugares, influenciam seu passado e afetam o seu
preocuparam com problemas que ainda são de interesse da Psicologia, mas presente.
os abordaram de modos vastamente distintos dos empregados pelos atuais Nos primeiros anos do século XX, a natureza da psicologia americana e o
psicólogos. A ideia de que os métodos das ciências físicas e biológicas tipo de trabalho que muitos psicólogos faziam sofreram uma drástica
poderiam ser aplicados ao estudo de fenômenos mentais foi herdada do mudança, basicamente como resultado de oportunidades econômicas. O foco
pensamento filosófico e das pesquisas fisiológicas dos séculos XVII a XIX. da psicologia americana passou da pesquisa pura do laboratório universitário
Essa época fervilhante constitui o cenário imediato onde surgiu a psicologia para a aplicação do conhecimento e das técnicas psicológicas a problemas
moderna. do mundo real. Os psicólogos logo perceberam que, se desejassem que um
Em dezembro de 1879, na Alemanha, Wilhelm Wundt implantou o dia seus departamentos acadêmicos, orçamentos e rendas crescessem, teriam
primeiro laboratório de psicologia do mundo. Até então, os psicólogos de demonstrar aos administradores universitários e aos legisladores a
trabalhavam em departamentos de filosofia. O psicólogo britânico William utilidade que a psicologia poderia ter na solução de problemas sociais,
McDougall definiu a psicologia, em 1908, como a “ciência do educacionais e industriais.
comportamento. Dessa forma, por volta do começo do século XX, a Um dos fatores contextuais que influenciaram essas mudanças foi o
psicologia americana conseguia a sua independência em relação à filosofia, crescimento das escolas. Devido ao influxo de imigrantes para os Estados
desenvolvia laboratórios nos quais aplicava os métodos científicos, formava Unidos perto da virada do século, e à sua alta taxa de natalidade, a educação
sua própria associação científica e definia-se formalmente como ciência — a pública tornara-se uma indústria em crescimento. Entre 1890 e 1918, as
ciência do comportamento. matriculas em escolas públicas tiveram um aumento de 700%, sendo
Uma vez estabelecida, a nova disciplina se expandiu com rapidez, em construídas em todo o país novas escolas à proporção de uma por dia.
especial nos Estados Unidos, que assumiu e mantém uma posição de Gastou-se na época mais dinheiro em educação do que nos programas
destaque no mundo psicológico. A psicologia se expandiu não apenas em militar e de bem-estar social juntos. Muitos psicólogos aproveitaram essa
termos de seus clínicos, pesquisadores, acadêmicos e de sua literatura, mas situação e buscaram maneiras de aplicar o seu conhecimento e os seus
também em termos do seu impacto na vida cotidiana. Seja qual for a sua métodos de pesquisa à educação. Esse foi o começo de uma rápida mudança
idade, ocupação ou interesses, a sua vida é influenciada de alguma maneira de ênfase na psicologia americana — do experimentalismo do laboratório
pelo trabalho de psicólogos. acadêmico para a aplicação da psicologia à aprendizagem, ao ensino e a
outras questões práticas de sala de aula.
As guerras foram outra força contextual que ajudou a moldar a
psicologia. As experiências de psicólogos que colaboraram com o esforço de
guerra dos Estados Unidos na Primeira e na Segunda Guerra Mundiais
7
aceleraram o desenvolvimento da psicologia aplicada e estenderam a sua movimento. Em geral, os membros de uma escola trabalham em problemas
influência a setores como a seleção de pessoal, os testes e a engenharia comuns e compartilham uma orientação teórica ou sistemática. O surgimento
psicológica. A Segunda Guerra Mundial também modificou a face e o de escolas de pensamento diferentes, e por vezes simultâneas, e o seu
destino da psicologia na Europa. Muitos psicólogos destacados fugiram subsequente declínio e substituição por outras, caracterizam a história da
da ameaça nazista nos anos 30, e a maioria deles foi para os Estados psicologia.
Unidos. O exílio e a emigração forçados marcaram a fase da mudança do No curso da história da psicologia, desenvolveram-se diferentes escolas
domínio da psicologia do Velho para o Novo Mundo. A guerra influenciou de pensamento, sendo cada qual um protesto efetivo contra o que a precedia.
as posições teóricas de psicólogos individuais. Depois de testemunhar a Toda nova escola usa um modelo mais antigo como base contra a qual
carnificina da Primeira Guerra, Sigmund Freud foi levado a propor a se opor e a partir da qual ganhar impulso. Embora tenha sido apenas
agressão como uma força motivadora tão importante para a vida humana temporário o domínio de ao menos algumas escolas de pensamento, cada
quanto o sexo, o que representou uma enorme mudança em seu sistema da uma desempenhou um papel vital no desenvolvimento da ciência
psicanálise. Erich Fromm atribuiu seu interesse pelo estudo do psicológica. A influência das escolas ainda pode ser vista na psicologia
comportamento irracional e anormal ao fato de ter observado o fanatismo contemporânea, mesmo que suas facções tenham pouca semelhança com os
que tomou conta da Alemanha durante a Primeira Guerra. sistemas precedentes, porque mais uma vez novas doutrinas substituíram as
Um terceiro fator contextual são a discriminação e o preconceito, que por antigas.
muitos anos determinaram quem podia tornar-se psicólogo e onde cada As primeiras escolas de pensamento no campo da psicologia foram
profissional poderia trabalhar. Durante décadas, os afro-americanos foram movimentos de protesto contra a posição sistemática prevalecente. Cada
amplamente excluídos da psicologia e da maioria dos campos que exigiam escola assinalou o que considerava as limitações e falhas do sistema mais
estudos acadêmicos avançados. Até a década de 40, apenas quatro antigo e ofereceu novas definições, conceitos e estratégias de pesquisa para
universidades dos Estados Unidos ofereciam graduação em psicologia para corrigir as fraquezas percebidas.
negros, e poucas admitiam negros como alunos de pós-graduação. Os judeus Não podemos considerar nenhuma escola de pensamento como a versão
também foram vítimas de discriminação, especialmente na primeira metade completa do fato científico. Como observamos, a moderna ciência
da história da psicologia. Um extenso preconceito contra mulheres tem se psicológica não atingiu a sua forma final. O estágio mais maduro ou
manifestado ao longo de quase toda a história da psicologia. Mesmo quando avançado do desenvolvimento de uma ciência é alcançado quando ela já não
conseguiam cargos de destaque, as mulheres recebiam salários menores, e se caracteriza por escolas de pensamento, ou seja, quando a maioria dos
enfrentavam barreiras à promoção e cargos de chefia. membros dessa disciplina chega a um consenso acerca de questões teóricas e
Esses e outros exemplos citados adiante mostram o impacto de forças metodológicas. Durante os mais de cem anos de história da Psicologia, ela
econômicas políticas e sociais sobre o desenvolvimento da psicologia tem buscado, acolhido e rejeitado diferentes definições, mas nenhum sistema
moderna. A história da psicologia é moldada não apenas pelas ideias, teorias ou ponto de vista individual conseguiu unificar as várias posições. O campo
e pesquisas de seus grandes líderes, mas também por influências externas — permanece especializado, e cada grupo adere à sua própria orientação teórica
forças contextuais — sobre as quais teve pouco controle. e metodológica, abordando o estudo da natureza humana a partir de
diferentes técnicas.
As Escolas de Pensamento: Marcos do Desenvolvimento da Psicologia Nos primeiros anos da evolução da psicologia como disciplina científica
distinta, no último quarto do século XIX, a direção da nova psicologia foi
O termo escola de pensamento refere-se a um grupo de psicólogos que profundamente influenciada por Wundt. Ele determinou o objeto de estudo,
se associam ideológica e, às vezes, geograficamente ao líder de um o método de pesquisa, os tópicos a serem estudados e os objetivos da nova
8
ciência. Ele foi, é claro, afetado pelo espírito de sua época e pelo
pensamento então vigente na filosofia e na fisiologia. Mas a situação logo
mudou. Instalou-se a controvérsia entre os cada vez mais numerosos
psicólogos. Alguns psicólogos, refletindo essas novas correntes de
pensamento, passaram a discordar da versão de psicologia de Wundt e
propuseram suas próprias concepções. Na virada do século, coexistiam
várias posições sistemáticas ou escolas de pensamento, que eram,
essencialmente, definições diferentes da natureza da psicologia.
A obra de Wundt teve como fruto a escola de pensamento denominada
estruturalismo, que se desenvolveu a partir dos trabalhos iniciais no campo
da filosofia e da fisiologia. Seguiu-se a isso o funcionalismo, o
comportamentalismo e a psicologia da Gestalt que, ou evoluíram a partir do
estruturalismo, ou se revoltaram contra ele. Num curso de tempo mais ou
menos paralelo, a psicanálise decorreu da reflexão filosófica sobre a
natureza do inconsciente e das tentativas da psiquiatria no sentido de tratar
os doentes mentais. Tanto a psicanálise como o comportamentalismo
geraram algumas subescolas. Na década de 50, desenvolveu-se o
movimento da psicologia humanista como reação ao comportamentalismo
e à psicanálise, incorporando princípios da psicologia da Gestalt. Por volta
de 1960, o movimento da psicologia cognitivista desafiou com sucesso o
comportamentalismo, e a definição da psicologia mudou outra vez, O
principal aspecto dessa modificação foi o retorno ao estudo da consciência e
de processos mentais ou cognitivos.