Educação Integral: Princípios e Concepções
Educação Integral: Princípios e Concepções
Educação Integral: Princípios e Concepções
Claudinei FRUTUOSO/FAAR1
ABSTRACT: The present paper shows a study about the principles and conceptions of
integral education in Brazil, based on the premises that initiated the institutionalized
integral education and through policies implemented between 1950 and 2005. This
approach begins with the construction of the first School-park, which, although it is not
denominated by its creator like integral education, had characteristics that allow thus to
classify. The other experience is the Cieps, which was thought by Darcy Ribeiro in a
model different from the first. The “CEUS” are presented here as an experience that
deserves to be highlighted, since this is not a comprehensive school of education, which
in its structure provides a space conducive to the development of a type of education
aimed at the poorest sections of the population. In this model, what draws attention,
besides the structure, is the pedagogical proposal and the school organization. Finally,
an experiment developed in the North of the country, called the Burareiro Project of
Integral Education, is an experiment that worked in the years 2005-2006, being a
pedagogical proposal that had as a theoretical-methodological basis the Historical-
Critical Pedagogy. Thus, this text aims to characterize the course of integral education
1
Mestre em Educação-UNIR, Graduado em Pedagogia-UNIR, membro do Grupo de Pesquisa CIEPES-
UNIR. Professor da rede estadual de ensino e Professor das Faculdades Associadas de Ariquemes -
FAAR. Email frutuoso12@gmail.com .
RESUMEN: Este trabajo presenta un estudio sobre los principios y las concepciones de
educación integral en Brasil, basándose en las premisas que dieron inicio a la educación
integral institucionalizada a través de políticas implantadas entre 1950 y 2005. Este
enfoque se inicia con la construcción de la primera Escuela-parque, la cual, aunque no
sea denominada por su creador como educación integral, poseía características que
permiten clasificarla así. La otra experiencia es la de los Cieps, que fue pensada por
Darcy Ribeiro en un modelo distinto del primero. Los CEUS son presentados aquí como
una experiencia que merece destaque, pues no siendo esta una escuela de educación
integral trae en su estructura un espacio propicio para el desarrollo de un tipo de
educación orientado hacia las esferas más pobres de la población. En este modelo, lo
que llama la atención, además de la estructura, es la propuesta pedagógica y la
organización escolar. Por último, se presenta una experiencia desarrollada en el Norte
del país, denominada Proyecto Burareiro de Educación Integral, experimento que
funcionó en los años 2005-2006, siendo una propuesta pedagógica que tuvo como base
teórico-metodológica la Pedagogía Histórico-Crítica. Así, este texto tiene como objetivo
caracterizar el recorrido de las políticas de educación integral en Brasil como registro
histórico de un momento. Sin embargo, aunque se ha progresado, pedagógica y
organizacionalmente, la escuela de educación integral todavía está en desacuerdo con
las reales necesidades de las demandas a que se destina.
Palavras clave: Concepciones de Educación. Políticas Educativas. Principios
pedagógicos. Educación Integral.
Introdução
Carneiro Ribeiro, a primeira escola-parque construída por Anísio Teixeira2 que, durante
o período em que esteve à frente do INEP (1951-1964), expandiu sua experiência de
educação integral com as escolas-parque do Distrito Federal. No mesmo período
trabalhando com Anísio, na década de 1960, Darcy Ribeiro tornou-se um dos
responsáveis pela criação da Universidade de Brasília-UnB. Passados quase 20 anos do
período em que assumiu como vice-governador do Estado do Rio de Janeiro (1983-
1987), Darcy Ribeiro criou sua experiência de educação integral com a construção dos
CIEPS. Para Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, a educação escolar precisava investir de
forma organizada fazendo chegar os benefícios deste investimento ao povo.
Propostas de educação diferenciadas, em aspectos como tempo de permanência
na escola, surgiram no Estado de São Paulo com a construção dos CEUs (Centros
Educacionais Unificados) no ano de 2003. Esse modelo se destacou pela estrutura física,
pois essas escolas foram construídas na intenção de levar um ambiente típico de escola
do centro para a periferia. Outro fator de destaque está relacionado à proposta
pedagógica que leva em consideração aquilo que se apresenta no centro e não na
periferia (GADOTTI, 2000).
Em oposição a esses modelos, Maciel (2007) propõe uma educação integral de
base politécnica, em que a formação do aluno ocorre pela associação entre trabalho
intelectual, as atividades corporais trabalhadas a partir da educação física e a atividade
tecnológica, acrescentando a esses a própria politecnia como concepção pedagógica
através da relação direta entre teoria e prática. Fundamentada numa concepção marxiana
2
No final da década de 1940, o então governador da Bahia, Otávio Mangabeira, solicitou ao seu
Secretário de Educação e Cultura, Anísio Teixeira, que elaborasse um sistema para resolver a crescente
demanda por vagas nas escolas públicas. Paralelamente àquela época, precisavam-se, urgentemente, de
novos currículos, novos programas e novos professores. Anísio Teixeira providenciou tudo num trabalho
hercúleo de quase 16 horas por dia. Conseguiu criar a primeira célula – o modelo de Salvador – e a
denominou de Centro de Educação Popular. Para ele, este centro deveria ser a primeira demonstração da
passagem da escola de poucos para a escola de todos. A intenção de Anísio Teixeira era que fossem
instalados, inicialmente, sete sistemas semelhantes que seriam localizados nos bairros mais carentes de
Salvador. O primeiro esquema para a distribuição destes núcleos previa, para Salvador, sete escolas. O
primeiro núcleo foi construído no bairro da Caixa D´Água, bairro popular de Salvador que tinha grande
concentração de menores sem escola e até mesmo menores abandonados – e sta ainda é a realidade deste
bairro. O espaço para a construção do centro foi definido através de um convênio entre o Governo Federal
e o Governo do Estado da Bahia, através da Secretaria da Educação. Nesta negociação coube ao Governo
do Estado a cessão do terreno, cabendo ao Governo Federal a manutenção da escola e o pagamento dos
professores, todos em regime de dedicação integral. Após alguns anos, o centro passou a ser mantido
exclusivamente pelo Governo do Estado da Bahia. O Centro Educacional Carneiro Ribeiro foi idealizado
e planejado por Anísio Teixeira quando Secretário de Educação do Estado da Bahia (1947-1950) e diretor
do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – 1951-1964), com a finalidade de
proporcionar uma educação em tempo integral às crianças e adolescentes da região do bairro da
Liberdade e adjacências. Acesso em 30 de jun. de 2014. Disponível em:
http://www.escolaparquesalvador.com.br/?post_type=external-videos&p=381.
Desta maneira, seria preciso não só uma estruturação da instrução pública, como
também uma mudança na forma de condução do ensino. Deste modo, o pensamento de
Dewey vai influenciar a reestruturação do ensino no país, já que o debate no âmbito da
escola pública da época é de como esta deveria ensinar, estava no auge. Segundo
Cavaliere (2002, p. 261), “seu projeto de escola é fundamentalmente um projeto de
comunidade intersubjetiva, democraticamente estruturada, na qual se possibilitará, por
meio da comunicação da experiência, a construção de alguma identidade coletiva”.
Assim, a escola torna-se um espaço onde a experiência deve ser utilizada como meio
para o alcance de determinado fim, ou seja, o aprendizado.
Neste contexto, num Brasil de expectativas, mudanças, lutas e incertezas, surge
o educador Anísio Teixeira que, ao se formar na mesma profissão do pai, escolheu uma
carreira diferente, enveredando pela da educação. Assumiu a instrução pública de seu
Estado, no ano de 1922, a convite do então governador do Estado da Bahia, sendo sua
indicação feita pelo amigo Hermes de Lima.
Vivendo em um tempo de grandes eventos internacionais, como a primeira
guerra mundial e o movimento da escola nova, Anísio Teixeira tomou como base o
pensamento educacional escolanovista fundamentado nas ideias de Dewey. Conforme
expresso por Cavaliere (2002, p. 256),
Assim, a escola passa, para Anísio, a ter um novo papel dentro deste contexto,
pois a princípio não foi possível continuar com o mesmo modelo de escola, uma vez
que esta não atendia as necessidades da população mais necessitada. A educação na
concepção escolanovista é centrada na visão de educação como vida, e não como
preparação para a vida, podendo-se destacar a importância que essa dá à atividade
criadora em suas mais variadas expressões, tanto na vida social como na comunitária,
proporcionando uma formação global da criança (CAVALIERE, 2002).
Influenciado por este modelo de educação, Anísio se propõe a remodelar a
educação brasileira, visando sua expansão e autonomia, uma vez que os governos
responsáveis diretos por ofertar o ensino às crianças se abstêm de investir como devem
na estrutura e formação. O que para Nunes (2009, p. 129) é visto como um diferencial
da concepção da Escola Nova está no fato de sua intervenção funcionar como fator de
qualidade, quando afirma que:
Desta forma, o objetivo dos educadores da escola nova era a transformação desta
e a intervenção direta em sua estrutura, pois não era possível remodelar o ensino numa
escola com as características tradicionais, ou seja, ensino, estrutura, formação e função
da escola. Para isso, era preciso amenizar as desigualdades a partir do efetivo
reconhecimento, por parte de classes e grupos da sociedade, promovendo a “autoridade
pedagógica”, pois deste modo quanto menos esta necessite produzir as condições de sua
instauração e perpetuação, mais efetivo será o trabalho da escola, diminuindo o processo
de reprodução da desigualdade social (CAVALIERE, 2002).
Assim, o pensamento escolanovista vai permear o novo modelo de educação,
proporcionando uma reflexão sobre as bases da escola primária, tanto em sua concepção
pedagógica como em sua infraestrutura, pensando um modelo de escola que atenda com
propriedade às necessidades de se fazer conhecer a escola para as massas.
A educação integral pensada por Anísio Teixeira tinha como base uma escola
onde a sua estrutura favorecesse o aprendizado, bem como economizasse nos custos,
partindo de um espaço em que as atividades pudessem ser realizadas com o mínimo de
intervenção externa possível. Seguindo estes critérios, ele cria a escola-parque, uma
escola onde as atividades aconteceriam em dois ambientes: a escola-classe e, depois, a
escola-parque.
Seu funcionamento se daria da seguinte forma: os alunos seriam matriculados
nas quatro (4) escolas-classes onde se organizariam, passando um tempo na escola-
A crítica aqui levantada à escola vem das péssimas condições que este a vê: essa
condição é vista tanto de seu olhar enquanto político, quanto do seu olhar como
educador, visto que Darcy tem a realidade como laboratório, fato ligado a sua formação
antropológica. Neste contexto de debates se propõe um novo modelo de escola que,
segundo Ribeiro (1984, p. 81), tem as seguintes características: “essas escolas de novo
tipo assumirão dois padrões: um para educação pré-escolar e quatro primeiras séries do
primeiro grau; outro para alunos de quinta a oitava séries e maiores de 14 anos atrasados
nos estudos”. Assim, pensasse uma escola, a princípio, que tem como objetivo atender
um número x de alunos que são vistos como excluídos do atual sistema, porém qual
forma teria essa escola? Essa era uma resposta que apenas Darcy Ribeiro poderia dar.
Os debates que definiram a série de metas a serem materializadas visando à
melhoria do sistema educacional do Rio de Janeiro foram realizados num minicongresso
em que Darcy, então vice-governador do Estado, esteve à frente dos trabalhos, inclusive
como palestrante e mediador. O objetivo deste minicongresso era ouvir os professores e
os demais profissionais envolvidos com a educação escolar.
Dentre os muitos desafios que se propuseram neste congresso um chama a
atenção, que era o relacionado à formação do professor, que deveria receber essa
formação em serviço (RIBEIRO, 1984). Assim, após extenso debate surge uma
proposta de escola que atendesse verdadeiramente a classe trabalhadora; Ana Maria
Monteiro destaca esta escola como sendo uma escola revolucionária. Segundo Monteiro
(2009, p. 41), “os Cieps surgiram, nesse contexto, como uma escola revolucionária em
todos os sentidos, que atuaria como espaço privilegiado para a crítica das desigualdades
e luta para a construção de uma sociedade mais justa”. Essa visão de escola
revolucionária, porém não era a dos políticos que viam nos Cieps só mais uma escola
que traria gastos à máquina pública.
Embora tivesse trabalhado com Anísio e pudesse ter se utilizado do modelo das
escolas-parque, Darcy preferiu criar uma escola diferente para sua época. Neste
contexto, Bomeny (2009, p. 117) distingue Darcy de Anísio ao dizer que, “neste ponto,
me parece, reside a maior distinção entre ele e Anísio Teixeira: um conferindo ao seu
projeto um cunho político-sociológico e o outro, Anísio, defendendo gradualmente o
modelo pedagógico”. Estava aí o ponto central para a criação dos Cieps, pois o objetivo
era dar uma escola que pudesse não só ensinar em tempo integral, mas que auxiliasse a
família precarizada pelo modo de vida capitalista, uma vez que essa criança, estando na
escola, a família estaria despreocupada podendo proporcionar o sustento.
O caráter revolucionário dos Cieps não estava relacionado apenas à maneira
como o ensino seria dado dentro dos Cieps, mas também pela estrutura que seria dada
para que ocorresse. Mas, afinal, o que eram os Cieps? Para Gomes (2010, p. 52),
“constituíam mais um fruto do trabalho de Darcy associado a Oscar Niemeyer. A
arquitetura conferia identidade, inclusive político-partidária, às unidades e ao mesmo
tempo, condicionava e refletia a proposta pedagógica”. A construção de uma escola de
pompa para os trabalhadores provocou (e muito) os adversários, tanto políticos como os
que nunca quiseram ver florescer a escola para todos.
A este contexto somasse o fato de a escola primária, desde meados da década de
1920 no Brasil, haver perdido espaço e significado, restando reconstruir ou mesmo criar
um novo padrão. A opção de Darcy em não implantar o modelo das escolas-parque de
Anísio Teixeira estava no fato de, para ele, este modelo de escola preterir certa classe já
em muito favorecida pelo sistema.
Os Cieps se valiam de uma proposta pedagógica diferenciada, embasada nos
princípios da Escola Nova onde sua ação pedagógica primava pela visão
interdisciplinar, tendo como base um trabalho integrado, em que cada professor pudesse
complementar e reforçar o trabalho dos demais (RIBEIRO, 1986). Desta forma, as
ações eram voltadas, primeiramente, para o universo cultural dos alunos, respeitando,
acima de tudo, seus saberes. Daí a escola nova ser criticada por ser uma escola que
valorizava mais a experiência em detrimento dos conteúdos, ou seja, o saber livresco.
Ao lado de uma escola elitista e que pouco acrescentava às classes
empobrecidas, os Cieps constituíram uma saída para uma sociedade há muito
marginalizada. Essa preocupação com a escola que excluía e cobrava da criança pobre o
mesmo rendimento da criança abastada já encontrava, em Darcy, sua crítica. Era,
porém, preciso a superação desta escola elitista e seletiva (BOMENY, 2009); então,
além de uma nova proposta pedagógica, seria preciso ressignificar a escola em sua
estrutura.
Para a tarefa de criar uma escola com estrutura ideal que proporcionasse um
ambiente de aprendizagem, procurou-se não se espelhar totalmente nas escolas-parque,
mas em construções que pudessem atender as demandas e as características locais.
Portanto, os Cieps se caracterizavam por serem escolões com capacidade para 1.000
alunos cada e, como se pode perceber, o objetivo era o de integrar a formação cultural e
pedagógica num único espaço. Conforme Monteiro (2009, p. 38),
governos (na esfera municipal, estadual ou federal) buscavam desenvolver ações (que
pelo menos no discurso, se diz) voltadas à melhoria educacional. O Brasil se destaca
neste contexto com políticas que são impostas por governos e exemplos não faltam,
especialmente no campo da educação integral.
Vale ressaltar que a diversidade de projetos, além de priorizar padrões que não
vão ao encontro das características locais, se dizem capazes de resolver o problema da
falta de qualidade; porém, nem sempre a lógica do sistema criado pelo próprio Estado
permite obter essa qualidade. Contrariando a lógica, o governo do PT frente à Prefeitura
de São Paulo, durante a gestão da prefeita Marta Suplicy (2001-2004), criou um modelo
de escola que, embora não seja caracterizada como escola integral, traz em seu eixo
pedagógico e administrativo traços de uma escola de educação integral.
Surgem, assim, os Centros Educacionais Unificados (CEUs) caracterizando-se
como escola normal, atendendo alunos em turnos de quatro horas com um diferencial: a
oferta de atividades em outros horários à comunidade. Ao destacar o surgimento dos
CEUs, Gadotti (2000, p. 2) os caracteriza como projeto de educação popular:
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Para Freire (1979), não é possível um compromisso verdadeiro com a realidade e com os homens
concretos que nela e com ela estão, se desta realidade e destes homens se tem uma consciência ingênua.
Não é possível um compromisso autêntico se, àquele que se julga comprometido, a realidade se apresenta
como algo dado, estático e imutável. Se este olha e percebe a realidade enclausurada em departamentos
estanques. Se não a vê e não a capta como uma totalidade, cujas partes se encontram em permanente
interação. Daí sua ação não poder incidir sobre as partes isoladas, pensadas que assim transforma a
realidade, mas sobre a totalidade. É transformando a totalidade que se transformam as partes e não o
contrário. No primeiro caso, sua ação, que estaria baseada numa visão ingênua, meramente “focalista” da
realidade, não poderia constituir um compromisso. Desta forma, o sentido dado à intersetorialidade é o de
compromisso de todas as partes envolvidas, onde a atuação constante com o objetivo de transformar e
incidir sobre esta realidade é claro. Aqui, é importante observar que não haveria êxito sem a participação
de todos os setores envolvidos e comprometidos com o objetivo final.
Entenda-se que apenas a participação não garante a valorização, uma vez que o
Estado dita as regras. Grosbaum e Carvalho (2009, p. 12) destacam que esses
parâmetros estavam estipulados no Regimento dos CEUs, onde deveria existir um
Colegiado de Integração. Por sua vez, o objetivo principal era “assegurar a integração
operacional entre as diretrizes e prioridades das diversas Secretarias, Coordenadorias e
Comunidade”, promovendo uma organicidade e unicidade em torno do projeto
educacional e seus objetivos.
Em sua composição, os CEUs têm como principal objetivo aproximar a
comunidade do poder público, bem como a valorização da estrutura e o cuidado com o
O CEU passa a ser visto por seus criadores como uma escola da comunidade que
tem voz e decide, no conjunto, o que é melhor para o coletivo. Porém, é importante
destacar que o projeto não se desenvolve de forma homogênea, uma vez que cada
localidade tinha as suas particularidades e que os problemas foram acumulando à
medida que esse envolvimento foi perdendo força. Fato observado nos estudos de
Grosbaum e Carvalho (2009, p.42) ao destacarem a pouca participação comunitária no
interior dos CEUs, pois, segundo as mesmas, o interior chama mais a atenção à presença
predominante de crianças e pessoas idosas e a quase ausência de jovens. Outro número
que chama atenção está relacionado à equipe de limpeza que é numerosa, tendo um
cuidado com a manutenção e a higiene local.
O funcionamento dos CEUs tem características bem diferenciadas, chamando a
atenção até pelo horário, já que funciona com uma série de atividades extras, iniciando-
se às 6h30min com a chegada das pessoas para fazer caminhada e cursos indo até às
23h, com a saída do último aluno ou telespectador do teatro. Nos finais de semana
funciona com programações diversas, podendo fechar mais tarde no sábado, por
exemplo, dependendo do tipo de evento, como o caso de bailes ou festivais. No
domingo as atividades encerravam-se às 19h, sendo as segundas-feiras dedicadas à
avaliação, ao planejamento e aos debates (CANGUSSÚ, 2010).
Caracterizada por ser uma escola de arquitetura diferenciada, sua gestão se
destaca por ser composta por um conselho gestor formado por representantes das
escolas do entorno, representantes dos núcleos de ação educacional e da ação cultural e
de esportes e lazer, representantes do telecentro, da guarda civil metropolitana e da
subprefeitura, além, é claro, dos representantes de CEI, EMEI e EMEF4.
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No estudo de caso realizado por Grosbaum e Carvalho (2009, p. 18-21), alguns problemas puderam ser
observados nos CEUs, principalmente os relacionados à divisão existente no próprio ambiente
relacionada às classes, ou seja, unidades escolares ali estruturadas quando diz que: “um Colegiado
composto por gestor, coordenadores dos núcleos e diretores das escolas fica responsável pela integração
dos projetos e das ações a serem desenvolvidas. Reúne-se mensalmente e, para essas reuniões, são
Nesse contexto, a gestão dos CEUs tem como principal desafio a participação
comunitária – tão necessária para o desenvolvimento da escola do ponto de vista da
gestão democrática – e como possibilidade de deliberar sobre o que realmente a
comunidade quer da escola. Para Gadotti (2000, p. 10), esse desafio visa “instituir
mecanismos que permitam a comunidade deliberar sobre o que querem dar as
instalações construídas, como querem que seja executado o orçamento, que normas de
funcionamento [...] e que tipo de educação querem”. Tudo isso para que a participação
se efetive no caminhar de uma gestão compartilhada.
A importância de um envolvimento da comunidade do entorno da escola segue
como desafio nos CEUs, pois para garantir que o trabalho pedagógico tenha êxito, os
objetivos educacionais, socioculturais e esportivos devem ser trabalhados em todas as
suas dimensões. Esse trabalho não tem tornado o CEU um espaço diferenciado na
relação aprendizado, pois segundo as pesquisas atuais este espaço tem contrariado a
lógica se destacando pelo baixo desempenho nas avaliações educacionais em relação a
outras escolas que não possuem espaço diferenciado (GROSBAUM; CARVALHO,
2009).
Compreendendo que na relação ensino-aprendizado os espaços também
influenciam o aprender, a estrutura pensada para o CEU privilegiava as relações
horizontais. Conforme Gadotti (2000, p.7), “em especial aquelas entendidas como
projetos estratégicos de integração do CEU, respeitando-se a autonomia de seus
convidados também o coordenador do telecentro, o responsável pela biblioteca e lideranças das equipes
de segurança e limpeza. Vários entrevistados revelaram que essa integração é difícil, principalmente pelas
dificuldades de relacionamento com as Unidades Escolares (CEI, EMEI, EMEF), sobretudo com a
EMEF, que se coloca como uma Unidade à parte. Segundo uma das gestoras entrevistadas, “a relação
com os três diretores das Unidades não é fácil, mas a gente tem que batalhar para conseguir. Um exemplo
foi o Recreio nas férias: as Unidades não se inscreveram e a gestão teve que assumir e fazer a inscrição de
mais de 800 crianças. Isso ocorreu em mais de um CEU”, o que explica as dificuldades em realizar um
trabalho articulado.
núcleos, unidades e espaços”. Esses espaços eram distribuídos a partir dos núcleos que
faziam parte da composição do CEU, são eles: o núcleo educacional, o de ação cultural,
o de esportes e lazer, o Centro de Educação Infantil (CEI), a Escola Municipal de
Educação Infantil (EMEI) e a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF), além
do Telecentro e da padaria-escola que também compõe esta estrutura.
Desse modo, embora os CEUs não sejam escolas integrais, sua estrutura e
organicidade o eleva como projeto educacional que se assemelha as escolas projetadas
tanto por Anísio Teixeira quanto por Darcy Ribeiro, diferenciando-se destas em seu
projeto pedagógico, pois o discurso da valorização e da participação comunitária
encobre o objetivo principal, que é a manutenção de um clientelismo típico das políticas
do Estado neoliberal.
2007). Em cada uma dessas existe um conjunto de atividades que visam desenvolver a
formação politécnica.
O funcionamento do Projeto Burareiro ocorre nas ações de tempo integral para a
promoção de uma educação integral. O que quer dizer que em sua concepção
pedagógica há uma característica metodológica intrínseca à teoria que leva a essa
prática de educação integral. Devido às particularidades da região amazônica, o turno de
estudos começava às 7 horas, com um café da manhã para todos os alunos, o qual era
servido nos refeitórios da escola e do Country5. Depois, cada grupo seguia para o
desenvolvimento de suas atividades de estudos diários e, das 11:30 às 13:30 horas, era
servido o almoço, realizando-se no intervalo atividades de relaxamento com músicas
clássicas, entre outras (MACIEL, 2007). Todo esse trabalho era acompanhado por uma
equipe de profissionais, tais como os da recreação, artes e reforço escolar.
Esse modelo de escola vai de encontro a uma perspectiva educacional de
superação do modelo de educação integral, portanto uma educação integral para além da
exclusão promovida pela escola pública aos filhos dos trabalhadores, pois estes sofrem
com a falta de investimento e com a exclusão promovida pelo Estado às massas.
Considerações finais
analisados. Assim, não seria esse o propósito deste trabalho, mas o de caracterizar no
tempo como funcionou cada modelo de escola integral, deixando para um próximo
momento a continuação deste debate.
Referências
CAVALIERE, Ana Maria Villela. Educação integral: uma nova identidade para a escola
brasileira? Educ. Soc., Campinas, v. 23, n. 81, p. 247-270, dez. 2002. Acesso em maio
de 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-
73302002008100013&script=sci_abstract&tlng=pt
CAVALIERI, Ana Maria. Escolas de tempo integral versus alunos em tempo integral.
Em Aberto, Brasília, v. 22, n. 80, p. 51-63, abr. 2009.
RIBEIRO, Darcy. Nossa escola é uma calamidade. Rio de Janeiro: Salamandra, 1984.