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original Tendências da força de trabalho de cirurgiões-dentistas


no Brasil, no período de 2007 a 2014: estudo de
séries temporais com dados do Cadastro Nacional de
Estabelecimentos de Saúde
doi: 10.5123/S1679-49742018000100015

Trends in the dental surgeon workforce in Brazil 2007-2014:


a time series study using data from the National Registry of Health Services

Tendencias en la fuerza laboral de dentistas en Brasil nel periodo del 2007 al 2014:
estudio de series temporales con datos del Registro Nacional de Servicios de Salud

Andreia Morales Cascaes1 – orcid.org/0000-0001-9412-8299


Lara Dotto2
Rafael Aiello Bomfim3

1
Universidade Federal de Pelotas, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Pelotas, RS, Brasil
2
Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Odontologia, Pelotas, RS, Brasil
3
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Programa de Pós-Graduação em Odontologia, Campo Grande, MS, Brasil

Resumo
Objetivo: analisar as tendências da força de trabalho de cirurgiões-dentistas no Brasil, no período de 2007 a 2014.
Métodos: estudo de séries temporais com dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) e da Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); regressões lineares generalizadas de Prais-Winstein foram utilizadas para
estimar as tendências temporais e calcular a variação percentual anual da força de trabalho de cirurgiões-dentistas no período
estudado. Resultados: houve crescimento do número de cirurgiões-dentistas atuando como clínicos gerais e especialistas,
em média 12,7% e 17,3% ao ano, respectivamente; a expansão da força de trabalho de clínico geral (0,5%) e de especialista
(11,6%) foi menor no setor público, em relação ao setor privado (24,5% e 30,3%, respectivamente). Conclusão: o número
de cirurgiões-dentistas é elevado, embora estejam desigualmente distribuídos em ambos setores de atuação, o que pode
implicar barreiras no acesso aos cuidados odontológicos no Brasil.
Palavras-chave: Força de Trabalho; Recursos Humanos em Odontologia; Estudos de Séries Temporais.

Endereço para correspondência:


Andreia Morales Cascaes – Universidade Federal de Pelotas, Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Rua Gonçalves
Chaves, no 457, Pelotas, RS, Brasil. CEP: 96015-560
E-mail: andreia.cascaes@ufpel.edu.br

Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(1):e201723615, 2018 1


Tendências da força de trabalho de cirurgiões-dentistas no Brasil

Introdução gráfico de cirurgiões-dentistas por capitais e regiões


do país. Paranhos et al., em uma série de publicações
A odontologia foi regulamentada como profissão no de análises a partir dos dados do CFO, descreveram
Brasil em 1884,1 testemunhando a emergência de um o número de habitantes por cirurgião-dentista nos
novo sistema de ocupação. Em 1966, foi introduzida estados do Brasil entre os anos de 2003 e 2007.8-12
a regulamentação do exercício legal da odontologia, Arouca et al.13 conduziram um censo demográfico da
propiciando um rápido crescimento da profissão, força de trabalho nas especialidades odontológicas no
caracterizado pela abertura de inúmeros cursos de país, com base em dados do CFO até março de 2012,
graduação e pós-graduação, bem como sua evolução em que analisaram as características dos profissionais
científica e tecnológica.2 e sua correlação com indicadores populacionais,
Durante o Século XX, a odontologia constituiu-se geográficos e econômicos dos municípios.
em uma prática essencialmente privada, direcionada às Os estudos até então publicados utilizaram dados
demandas estéticas e de reposição dentária das camadas disponibilizados pelo CFO. Outra fonte de dados com
mais ricas da população.2 A atuação no serviço público registro periódico sobre as ocupações e que vem sendo
era incipiente, mediante prestação de serviços vincula- utilizada para analisar a força de trabalho no setor
dos a programas assistenciais, restritos a determinados Saúde é o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
grupos populacionais ou ainda, por meio de convênios Saúde (CNES).14
entre o Estado e o setor privado, destinando-se aos Diante da ausência de publicações recentes sobre
contribuintes do Instituto Nacional de Assistência Médica a força de trabalho dos cirurgiões-dentistas no Brasil,
da Previdência Social (INAMPS).3 o presente estudo, com base nos dados do CNES, teve
como objetivo analisar as tendências na força de tra-
Os investimentos na ampliação da balho dos cirurgiões-dentistas no período de 2007 a
oferta dos serviços odontológicos 2014, descrevendo-as segundo macrorregião do país
e municípios, setor de atuação (público ou privado)
intensificaram-se com o lançamento e tipo de profissional (clínico geral ou especialista).
da Política Nacional de Saúde Bucal
em 2004. Métodos

A partir de 1988, com a instituição do Sistema O presente estudo de séries temporais utilizou
Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal, o dados secundários, obtidos nas bases de dados do
acesso universal da população aos serviços de saúde, CNES e da Fundação Instituto Brasileiro de Geogra-
incluindo os serviços odontológicos, passou a ser fia e Estatística (IBGE), resgatados a partir do sítio
um direito de cidadania garantido pelo Estado.4 Os eletrônico do Departamento de Informática do SUS
investimentos na ampliação da oferta dos serviços (Datasus). Os dados, acessados no mês de janeiro de
odontológicos intensificaram-se com o lançamento 2015, referem-se ao período de dezembro de 2007 a
da Política Nacional de Saúde Bucal em 2004, impul- dezembro de 2014.
sionando o número de cirurgiões-dentistas atuantes O CNES foi instituído pela Portaria n° 376, de 3
no setor público.5 de outubro de 2000,15 que normatiza o processo de
Estudos publicados buscaram avaliar a força de cadastramento dos estabelecimentos de saúde em todo
trabalho dos cirurgiões-dentistas no Brasil. Pinto,6 o território nacional. O cadastro compreende o conhe-
ao utilizar os dados do Conselho Federal de Odonto- cimento dos estabelecimentos de saúde nos aspectos
logia (CFO), encontrou que o número de cirurgiões- de área física, recursos humanos, equipamentos e
-dentistas aumentou no período de 1960 a 1980, em serviços ambulatoriais e hospitalares, além dos pro-
ritmo superior ao da população geral. Ele estimou que, fissionais que executam ações e ou serviços de saúde
em mantendo-se o crescimento observado, haveria no no país, vinculados ou não ao SUS. Trata-se de uma
país um cirurgião-dentista para cada 954 habitantes no importante fonte de dados, haja vista ser o único ca-
ano de 2010. Morita et al.7 descreveram, para o ano dastro de saúde a abranger consultórios particulares,
de 2008, o número e o perfil socioeconômico e demo- profissionais vinculados a cooperativas e profissionais

2 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(1):e201723615, 2018


Andreia Morales Cascaes e colaboradores

estrangeiros, constituindo-se em uma ferramenta para Ministério da Saúde do Brasil para dentistas que atuam
traçar o perfil dos profissionais que atuam nos serviços na atenção primária: um cirurgião-dentista para cada
de saúde.14 Os dados do CNES estão disponíveis, em 3.000 habitantes, em média.17
acesso aberto (http://cnes.datasus.gov.br/). Os dados foram reunidos em planilhas do aplicativo
O número absoluto de cirurgiões-dentistas foi Excel e transportados para análise pelo programa es-
obtido na base de dados do CNES, a partir das opções tatístico Stata 11.0 (StataCorp., College St., TX, 2009).
Recursos Humanos – Ocupações – Segundo CBO Primeiramente, descreveu-se o número de cirurgiões-
2002 – Brasil. Foram incluídas todas as 23 ocupações -dentistas no período analisado, no Brasil e segundo
de cirurgiões-dentistas, a saber: Auditor, Clínico geral, macrorregiões do país e municípios, setor de atuação
Dentística, Disfunção temporomandibular, Endodontis- e tipo de atuação (clínico geral ou especialista). Para
ta, Epidemiologista, Estomatologista, Implantodontista, facilitar a visualização de dados, foram apresentados
Odontogeriatra, Odontologia do trabalho, Odontologia apenas os valores referentes aos anos de 2007 e 2014.
para pacientes com necessidades especiais, Odontolo- Posteriormente, regressões lineares generalizadas, re-
gista legal, Odontopediatra, Ortopedista e ortodontista, alizadas pelo método de estimação de Prais-Winstein,
Patologista bucal, Periodontista, Protesista, Protesiólo- foram utilizadas para estimar as tendências no período
go bucomaxilofacial, Radiologista, Reabilitador oral, de sete anos e calcular a variação percentual anual (VPA)
Traumatologista bucomaxilofacial, Saúde Coletiva e com o respectivo intervalo de confiança de 95% (IC95%)
Estratégia Saúde da Família. do número de cirurgiões-dentistas e da relação de habi-
Os cirurgiões-dentistas foram classificados segundo tantes por cirurgião-dentista, segundo as características
a atuação profissional como clínico geral ou especia- investigadas. As seguintes fórmulas foram calculadas
lista. A categoria de cirurgião-dentista especialista para obtenção dos valores de VPA = 100*(-1+10^b) e
agrupou todas as categorias, exceto a de clínico geral. de IC95% = 100*(–1 + 10^[b ± t*EP]).18 A tendência
Embora quatro ocupações listadas no CNES (Auditor, foi considerada crescente quando os coeficientes foram
Epidemiologista, Odontogeriatra e Reabilitador oral) positivos, decrescente quando negativos e estável quando
não sejam consideradas especialidades, segundo o os coeficientes da regressão não foram significativamen-
CFO, optou-se por categorizar esses profissionais te diferentes de zero (p>0,05). Para ilustrar a distribui-
como especialistas, uma vez que de alguma forma, a ção da relação de habitantes por cirurgião-dentista nos
ocupação exercida por esses profissionais remete a um municípios brasileiros, nos anos de 2007 e 2014, dois
serviço especializado, distinto de uma atuação como mapas foram confeccionados com auxílio do programa
clínico geral. A exclusão dessas ocupações decorreria Tab para Windows-Datasus versão 4.14.
em subestimação da força de trabalho disponível. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
O setor de atuação foi classificado conforme o Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade de Odon-
registro o CNES: ‘Atende Sistema Único de Saúde’; ou tologia da Universidade Federal de Pelotas em 26 de
‘Não atende Sistema Único de Saúde’, este utilizado junho de 2015 (Parecer no 1.127.177).
como proxy da atuação no setor privado.
Para calcular a relação de habitantes por cirurgiões- Resultados
-dentistas, dividiu-se o número de habitantes pelo núme-
ro de cirurgiões-dentistas. Neste cálculo, considerou-se No ano de 2007, estavam cadastrados na base de
a média da população do Brasil, suas macrorregiões e dados do CNES 112.283 cirurgiões-dentistas, e em
municípios para o período de 2007 a 2012, obtida do 2014, registravam-se 173.261. Em 2007, 70.748
IBGE. O ano de 2012 era o último ano com estimativa (63%) cirurgiões-dentistas atuavam no setor público
populacional disponível em janeiro de 2015. Estima-se e, embora em números absolutos tenha aumentado
que 80% da população do Brasil seja usuária do SUS,16 (86.380), em termos percentuais reduziu-se para
razão porque a população de referência utilizada na 49,9% a proporção de profissionais atuando nesse
relação habitantes/cirurgião-dentista no setor público setor em 2014. No período de 2007 a 2014, houve au-
foi de 80%, e no setor privado, foi de 20% da população mento do número e proporção de especialistas, tanto
geral do país. O parâmetro adotado para as compa- no setor público como no privado. A região Sudeste
rações dessa relação baseou-se na recomendação do concentrou o maior número de cirurgiões-dentistas

Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(1):e201723615, 2018 3


Tendências da força de trabalho de cirurgiões-dentistas no Brasil

atuando como clínicos gerais, em ambos setores – Centro-Oeste, foram estáveis (p>0,05). As tendências
público e privado. O maior número de especialistas do número de especialistas foram de crescimento, mais
atuando no setor público foi encontrado na região expressivo nas regiões Norte e Sudeste, tanto para o
Nordeste, enquanto no setor privado, esse número foi setor público como para o privado (Tabela 1).
maior na região Sudeste (Tabela 1). Em 2007, havia no Brasil um cirurgião-dentista
De 2007 a 2014, houve tendência significativa de atuando como clínico-geral para cada 2.880 habitantes
crescimento do número de profissionais no país e regi- e um especialista para cada 4.169 habitantes; estes nú-
ões. Essas tendências foram mais expressivas no setor meros se reduziram em 2014, passando para 1:1.965
privado, se comparadas às do setor público. Por exem- habitantes e 1:2.520 habitantes, respectivamente. No
plo, no setor privado, o número de cirurgiões-dentistas país, a relação de habitantes por cirurgião-dentista no
clínicos gerais e especialistas cresceu em média 24,5% setor privado foi menor do que no setor público, tanto
e 30,3% ao ano, respectivamente, enquanto no setor para clínico geral como para especialista. Houve ten-
público, esses valores foram de 0,5% e 11,6%. Apenas dência significativa de decréscimo dessa relação, mais
as tendências do número de clínicos gerais atuando no expressiva no setor privado se comparada à do setor
setor público, para o total do Brasil, regiões Sudeste e público. Permaneceram estáveis (p>0,05) as relações

Tabela 1 – Distribuição do número absoluto, taxa de variação anual e tendências da força de trabalho de cirurgiões-
dentistas atuando como clínicos gerais e especialistas, total e por setor de atuação, Brasil e regiões, 2007-2014

Cirurgião-dentista clínico geral Cirurgião-dentista especialista


Regiões e % de variação % de variação
Brasil 2007 2014 (IC95%) a Valor 2007 2014 (IC95%) a Valor
N N anual no período pb N N anual no período pb
de 2007 a 2014 de 2007 a 2014
Total
Norte 2.454 4.414 18,3 (15,0;21,8) <0,001 2.342 4.526 23,3 (17,3;29,7) <0,001
Nordeste 11.153 14.587 8,4 (4,6;12,4) 0,001 14.786 21.639 12,8 (9,1;16,6) <0,001
Sudeste 34.358 51.049 13,2 (7,0;19,6) 0,002 16.606 30.701 21,2 (12,7;30,3) 0,001
Sul 13.011 18.880 12,5 (8,1;17,0) <0,001 7.783 11.749 14,2 (11,9;16,5) <0,001
Centro-Oeste 5.436 8.423 14,5 (5,2; 24,7) 0,008 4.354 7.293 18,0 (12,7;23,6) <0,001
Brasil 66.412 97.353 12,7 (7,1;18,6) 0,001 45.871 75.908 17,3 (11,8;23,0) <0,001
Setor público
Norte 1.812 2.151 3,4 (0,5;6,4) 0,03 2.028 3.388 17,7 (12,9;22,8) <0,001
Nordeste 6.426 6.272 -1,5 (-2,0;-1,1) <0,001 13.011 17,692 10,0 (7,5;12,6) <0,001
Sudeste 20.084 20.422 -0,2 (-2,5;2,1) 0,818 10.819 16.245 13,6 (8,6;18,8) <0,001
Sul 6.216 6.735 2,0 (0,5;3,5) 0,016 5.161 6.695 8,8 (8,2;9,4) <0,001
Centro-Oeste 2.377 2.802 5,0 (-0,1;10,5) 0,055 2.814 3.978 11,2 (9,5;12,8) <0,001
Brasil 36.915 38.382 0,5 (-1,3;2,4) 0,515 33.833 47.998 11,6 (8,7;14,6) <0,001
Setor privado
Norte 642 2.263 47,1 (29,1;67,8) <0,001 314 1.138 50,6 (34,4;68,9) <0,001
Nordeste 4.727 8.315 19,4 (9,9;29,7) 0,002 1.775 3.947 28,6 (15,1;43,6) 0,001
Sudeste 14.274 30.627 27,3 (15,0;40,9) 0,001 5.787 14.456 33,0 (18,2;49,6) 0,001
Sul 6.795 12.145 20,3 (12,7;28,4) <0,001 2.622 5.054 23,5 (16,7;30,7) <0,001
Centro-Oeste 3.059 5.621 20,8 (8,1;34,9) 0,006 1.540 3.315 28,0 (16,1;41,1) 0,001
Brasil 29.497 58.971 24,5 (13,5;36,5) 0,001 12.038 27.910 30,3 (17,8;44,2) 0,001
a) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
b) Regressão de Prais-Winsten.

4 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(1):e201723615, 2018


Andreia Morales Cascaes e colaboradores

de habitantes por cirurgião-dentista para o perfil de densidade de profissionais nas regiões Sul e Sudeste e
clínico geral atuando no setor público, no Brasil e nas cidades litorâneas do Nordeste, tanto no início como
regiões Sudeste e Centro-Oeste. As maiores reduções no final do período analisado (Figura 1).
na relação de habitantes por cirurgião-dentista foram
observadas nas regiões Norte e Sudeste, tanto para o se- Discussão
tor público como para o privado, acordes com o maior
aumento de profissionais nessas regiões (Tabela 2). O presente estudo utilizou dados secundários
Segundo os registros, 15% dos municípios apresen- de bases de dados nacionais e de domínio público,
tam densidade da relação de habitantes por cirurgião- valorizando informações disponíveis e produzindo
-dentista inferior à média recomendada pelo Ministério novos conhecimentos sobre a realidade do país. O
da Saúde do Brasil (um cirurgião-dentista para cada CNES é a base para operacionalizar os sistemas de
3.000 habitantes, em média). Além de visualizar áreas informações em saúde, propiciando aos gestores
de maior redução dessa relação, destaca-se uma maior o conhecimento da realidade da rede assistencial,
Tabela 2 – Distribuição do número absoluto, taxa de variação anual e tendência da relação de habitantes por
cirurgiões-dentistas atuando como clínicos gerais e especialistas, total e por setor de atuação, Brasil e
regiões, 2007-2014

Habitantes por cirurgião-dentista clínico geral Habitantes por cirurgião-dentista especialista


Regiões e % de variação % de variação
Brasil 2007 2014 anual no período Valor 2007 2014 anual no período Valor
N N (IC95%) a pb N N (IC95%) a pb
de 2007 a 2014 de 2007 a 2014
Geral
Norte 6.394 3.555 -15,5 (-17,9;-13,0) <0,001 6.700 3.467 -18,9 (-22,9;-14,7) <0,001
Nordeste 4.772 3.649 -7,8 (-11,0;-4,4) 0,001 3.600 2.460 -11,4 (-14,3;-8,4) <0,001
Sudeste 2.351 1.582 -11,6 (-16,4;-6,6) 0,002 4.864 2.631 -17,5 (-23,3;-11,3) 0,001
Sul 2.121 1.461 -11,1 (-14,5;-7,5) <0,001 3.545 2.348 -12,4 (-14,1;-10,7) <0,001
Centro-Oeste 2.570 1.659 -12,7 (-19,8;-4,9) 0,008 3.209 1.916 -15,3 (-19,1;-11,3) <0,001
Brasil 2.880 1.965 -11,2 (-15,7;-6,6) 0,001 4.169 2.520 -14,7 (-18,7;-10,6) <0,001
Setor público
Norte 6.928 5.836 -3,3 (-6,0;-0,5) 0,03 6.190 3.705 -15,1 (-18,6;-11,4) <0,001
Nordeste 6.627 6.789 1,5 (1,1;2,0) <0,001 3.273 2.407 -9,1 (-11,2;-7,0) <0,001
Sudeste 3.217 3.164 0,2 (-2,1;2,6) 0,815 5.973 3.978 -12,0 (-15,8;-7,9) <0,001
Sul 3.551 3.277 -2,0 (-3,4;-0,5) 0,016 4.277 3.297 -8,1 (-8,6;-7,6) <0,001
Centro-Oeste 4.703 3.989 -4,8 (-9,5;0,2) 0,055 3.972 2.810 -10,0 (-11,4;-8,7) <0,001
Brasil 4.145 3.986 -0,5 (-2,3;1,3) 0,516 4.522 3.188 -10,4 (-12,8;-8,0) <0,001
Setor privado
Norte 4.888 1.387 -32,0 (-40,4;-22,5) <0,001 9.995 2.758 -33,6 (-40,8;-25,6) <0,001
Nordeste 2.252 1.280 -16,2 (-22,9;-9,0) 0,002 5.997 2.697 -22,2 (-30,4;-13,1) 0,001
Sudeste 1.132 527 -21,4 (-29,1;-13,0) 0,001 2.792 1.118 -24,8 (-33,1;-15,4) 0,001
Sul 812 454 -16,8 (-22,1;-11,2) <0,001 2.104 1.092 -19,0 (-23,5;-14,3) <0,001
Centro-Oeste 914 497 -17,2 (-25,9;-7,5) 0,006 1.815 843 -21,9 (-29,1;-13,9) 0,001
Brasil 1.297 649 -19,7 (-26,7;-11,9) 0,001 3.178 1.371 -23,3 (-30,6;-15,1) 0,001
a) IC95%: intervalo de confiança de 95%.
b) Regressão de Prais-Winsten.
Notas:
- População de referência do setor público equivalente a 80% da população geral do Brasil.
- População de referência do setor privado equivalente a 20% da população geral do Brasil.

Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(1):e201723615, 2018 5


Tendências da força de trabalho de cirurgiões-dentistas no Brasil

2007 2014
até 1.000 até 1.000
1.000 --| 1.500 1.000 --| 1.500
1.500 --| 3.000 1.500 --| 3.000
3.000 --| 15.000 3.000 --| 15.000
15.000 --| 44.396 15.000 --| 33.649

0 250 250 1.000 1.500km

Figura 1 – Distribuição da relação de habitantes por cirurgião-dentista clínico-geral ou especialista nos


municípios, Brasil, 2007 e 2014

auxiliando no planejamento em saúde em todos os o caso dos profissionais de odontologia sem registro
níveis do governo, além de dar visibilidade ao controle no CNES, especialmente daqueles que atuam exclusiva-
social da população. O CNES é um cadastro amplo, em mente no setor privado e não realizam negociações ou
termos de informações sobre todos os procedimentos parcerias. Outra diferença entre registros no CFO e no
executados pelos prestadores de serviços de saúde, CNES refere-se ao tipo de especialidade. O CFO informa
conveniados ou não ao SUS.14 o profissional que é registrado com diploma de curso de
Algumas limitações do estudo, decorrentes da fonte pós-graduação, enquanto o CNES informa o profissional
de dados CNES, devem ser apontadas. O CNES não apre- que atua em determinada ocupação, não se tratando,
senta os mesmos números que os registros do CFO. Por necessariamente, de um especialista registrado. O CFO
exemplo, o número de cirurgiões-dentistas cadastrados informa as 19 especialidades reconhecidas pela Odon-
no CFO em 2014 era de 272.090 (disponível em: http:// tologia, enquanto o CNES informa 23 possíveis formas
www.cfo.org.br), enquanto no CNES era de 173.261. de atuação como serviços especializados. O profissional
Ou seja, um terço dos dentistas registrados no CFO não registrado no CFO pode não atuar na especialidade para
possui cadastro no CNES. Embora, o cadastro no CNES a qual possui o diploma, além de poder exercer suas
seja obrigatório em todo o território nacional, esses atividades – de forma integral ou parcial – em outra
profissionais podem estar a atuar sem o devido cadastro localidade.13 Esse tipo de limitação é menos provável
do estabelecimento de saúde, desempenharem outras de acontecer quando são analisados dados do CNES, no
funções não vinculadas à assistência odontológica, qual o profissional é cadastrado a partir do local e da
ou não estarem a exercer a profissão, mas manterem ocupação que exerce em determinado estabelecimento
o registro no CFO. O código numérico obtido pelo de saúde, o que poderia ser visto como uma vantagem
estabelecimento de saúde a partir do cadastro no desse cadastro. No entanto, o CNES pode subestimar
CNES é utilizado para confecção de contratos aditivos, o quantitativo real da força de trabalho, pois estima o
entre prestadores de serviços, profissionais, sócios e número de profissionais em atuação no momento. Isto
operadoras de planos de saúde. Contudo, é comum significa que o presente estudo adotou uma apropriação
que gestores priorizem alimentar o CNES com as infor- restrita do conceito de força de trabalho, para designar
mações obrigatórias exigidas pelo Datasus, as quais se o conjunto dos profissionais atuantes em determinada
referem aos profissionais que efetuaram procedimentos ocupação no período analisado. Em função das incon-
geradores de pagamento.14 Em muitas situações, é esse sistências quanto ao número de profissionais de saúde

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Andreia Morales Cascaes e colaboradores

bucal de nível técnico e auxiliar na base de dados do 2008, em relação às demais regiões, na forma de fa-
CNES, não foi possível estimar a força de trabalho da culdades públicas (160%) e privadas (66%),7 sugere
Odontologia de forma mais ampla. Se por um lado, o uma tendência de incremento para os próximos anos,
CNES é uma ferramenta bastante útil para monitorar fato que pode explicar o aumento mais acentuado de
tendências e gerar novas hipóteses, por outro lado, ele profissionais em praticamente todas as análises para
oferece limitações à investigação da força de trabalho essa região. A maior oferta de cursos de graduação nas
dos profissionais de saúde em atividade no Brasil.14 três últimas décadas implicou crescimento da disponi-
Estudos internacionais apontam resultados similares bilidade de profissionais no mercado de trabalho, sem
aos nacionais, com crescimento da força de trabalho de um planejamento na distribuição e na capacidade do
cirurgiões-dentistas acompanhada de uma distribuição mercado de trabalho para absorver tal incremento.23
desigual desses profissionais, sendo menor sua oferta Em trabalho publicado no ano de 2010, Cardoso et
em áreas rurais e em países em desenvolvimento.19-22 al. avaliaram que a má distribuição de profissionais
24

Yamalik et al., ao investigarem a força de trabalho em tende a continuar, conforme apontado no presente
odontologia de 18 países no ano de 2012, revelaram estudo. Embora as políticas públicas de saúde bucal, a
uma oferta de cirurgiões-dentistas superior nos países exemplo do Programa Brasil Sorridente, incentivem o
desenvolvidos, em relação àqueles em desenvolvi- deslocamento de profissionais para o interior visando
mento.21 Entre os países desenvolvidos avaliados, os melhorar o acesso aos serviços odontológicos, elas não
Estados Unidos da América tinham o maior número de garantem uma redistribuição significativa de seus ser-
cirurgiões-dentistas (185.084), seguindo-se Alemanha viços.24 É nos grandes centros onde estão localizados
(53.767) e França (40.114). Entre os países em de- os polos formadores e a população de maior poder
senvolvimento analisados, Cuba (12,144), Costa Rica aquisitivo, razão porque muitos cirurgiões-dentistas
(4.510) e Marrocos (3.500) foram os três com o maior permanecem nesses locais, procurando aliar a atuação
número desses profissionais. Comparando-se a oferta no setor público com a atividade em consultórios ou
de cirurgiões-dentistas, o Brasil (173.261 com registro clínicas privadas.24
no CNES) se aproxima do padrão observado nos países Não há parâmetros mundiais recomendados sobre a
desenvolvidos. Ainda de acordo com o referido estudo, relação ideal de habitantes por cirurgião-dentista, uma
67% dos países em desenvolvimento apresentaram re- vez que essa demanda pode variar conforme as neces-
giões com insuficiência de profissionais, e 78% desses sidades da população e dos diferentes contextos. No
mesmos países carecem de especialistas. Brasil, a Política Nacional de Atenção Básica preconiza
Um fator que pode explicar diferenças na distribui- que um cirurgião-dentista, atuando com auxiliar de
ção dos cirurgiões-dentistas nas regiões do Brasil é a saúde bucal, deve ser responsável por 3.000 pessoas
quantidade de cursos de graduação e especialização em média.17 Quanto maior o grau de vulnerabilidade da
em odontologia, em cada região. De acordo com o população, maior deve ser o número de profissionais.17
CFO, havia 220 cursos de graduação em odontologia Tomando-se como base esses valores recomendados
no Brasil no ano de 2014, concentrando-se 43,6% pelo ministério, eles são adequados quando observa-
(N=96) no Sudeste, 19,5% (N=43) no Nordeste, mos, em termos gerais, o país e suas macrorregiões.
18,2% (N=40) no Sul, 10% (N=22) no Norte e 8,6% Contudo, uma análise por setor de atuação mostra
(N=19) no Centro-Oeste. De 1992 a 2008, ocorreu que essa relação não é adequada. No setor público, há
ampla expansão do número de cursos de graduação muitos habitantes para poucos cirurgiões-dentistas, en-
em Odontologia (132%), com 72% dos cursos priva- quanto no setor privado, a lógica se inverte, com poucos
dos.7 Essa expansão continuou no período de 2008 e habitantes para muitos profissionais; a esse achado,
2014 (11,6%), embora não tão expressiva quanto no soma-se a escassez de profissionais em determinados
período anterior. A maioria dos cursos de especiali- municípios, significando que muitos brasileiros sofrem
zação também se encontra no Sudeste, justificando restrição de acesso aos serviços odontológicos.
a presença nessa região da maioria de profissionais Na qualidade de um sistema de saúde universal, o SUS
com uma (56%) ou até duas (54%) especialidades.7 é referência na atenção à saúde de aproximadamente
O crescimento mais expressivo dos cursos de 80% dos brasileiros mas, ainda assim, um terço
odontologia na região Norte, no período de 2004 a da população não utiliza o serviço público de

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Tendências da força de trabalho de cirurgiões-dentistas no Brasil

forma regular.16 O aumento da disponibilidade de parece ser resultado da vontade de se obter uma
cirurgiões-dentistas nos últimos anos pode explicar estabilidade financeira, amenizando a incerteza do
o fato de a proporção de pessoas que nunca exercício profissional no setor privado.24
consultaram o dentista estar se reduzindo no Brasil.25 A nova perspectiva de atuação da odontologia traz
Entretanto, a iniquidade social na utilização de serviços o desafio de produzir um profissional com visão am-
odontológicos ainda é expressiva25 e isso pode ser pliada e comprometido com o objeto de sua prática,
explicado – também – pela oferta desigual dos capaz de contribuir para a melhoria da saúde da popu-
profissionais. Segundo o relatório da Pesquisa Nacional lação,30 seja no âmbito público, seja no privado.27 Essa
de Saúde (PNS) realizada em 2013, a proporção de discussão reafirma a importância da continuidade de
pessoas que consultaram dentista no último ano foi de políticas públicas e programas em todas as esferas de
44,4%, sendo que as regiões Norte (34,4%) e Nordeste governo, com vistas à ampliação e distribuição equi-
(37,5%) apresentaram as menores proporções desse tativa dos serviços odontológicos. A combinação entre
indicador, enquanto as maiores foram verificadas oferta de serviços de saúde e qualidade de atenção
nas regiões Sul (51,9%) e Sudeste (48,3%),26 onde poderá determinar os resultados futuros em termos
a oferta de profissionais é maior. Ainda segundo a de acesso e utilização, resolutividade e melhoria das
PNS, de todas as consultas odontológicas realizadas condições de saúde bucal da população.
nos 12 meses anteriores, apenas 19,6% ocorreram De acordo com os dados do CNES, no período de
no serviço público.26 2007 a 2014, a força de trabalho de cirurgiões-dentistas
A relação habitantes/cirurgião-dentista no setor atuando como clínicos gerais e especialistas cresceu,
privado é inferior à do setor público, indicando que com exceção dos clínicos gerais atuantes no setor pú-
o mercado de trabalho no setor privado pode estar blico das regiões Sudeste e Centro-Oeste do país, onde
sofrendo um processo de saturação, enquanto se se verifica tendência de estabilidade na relação entre o
observa maior espaço para o exercício da profissão no número de habitantes e a oferta desses profissionais. A
setor público. Apesar das potencialidades do mercado expansão da força de trabalho foi menor no setor públi-
no setor público, as políticas de formação profissional co, relativamente ao setor privado. Diferenças nas taxas
votadas para o SUS, bem como as vagas de emprego, de crescimento segundo a macrorregião do país e o tipo
ainda são insuficientes para absorver o considerável de atuação profissional foram observadas. A despeito do
volume de cirurgiões-dentistas que se formam todo número de dentistas ser elevado no Brasil, eles estão
ano, restando-lhes o mercado de trabalho no setor desigualmente distribuídos no território nacional, em
privado. A continuidade do Programa Brasil Sorridente, ambos os setores de atuação, o que torna o acesso aos
visando a expansão da atuação no setor público e a cuidados odontológicos difícil para muitos brasileiros.
interiorização da oferta de profissionais, depende de Os resultados deste estudo poderão contribuir para o
vontade política e movimentação popular, uma vez que planejamento da oferta de serviços odontológicos de
no Brasil, historicamente, programas de governo não são saúde e de formação profissional, sendo de grande
sinônimo de programas de estado.27 O aporte de recursos interesse para governantes, gestores, educadores e
para a saúde bucal na última década contribuiu com o profissionais de saúde, e para a comunidade.
aumento da empregabilidade em odontologia nos serviços
públicos; porém, diversas formas de trabalho temporário Contribuição dos autores
são adotadas, caracterizando um outro problema, a
precarização dos vínculos empregatícios no setor.28 Cascaes AM concebeu o estudo, compilou, reali-
Mudanças observadas nas últimas décadas, como a zou a análise e interpretação dos dados e redigiu o
queda nos lucros privados dos cirurgiões-dentistas, o manuscrito. Dotto L realizou a revisão de literatura,
surgimento dos convênios odontológicos, o aumento auxiliou na análise e interpretação dos dados e na
indiscriminado das faculdades de odontologia e o avan- redação do manuscrito. Bomfim RA contribuiu com
ço tecnológico não absorvido pelo mercado, refletem a análise e interpretação dos dados e com a redação
o esgotamento de uma “era de ouro” da odontologia do manuscrito. Todos os autores aprovaram a versão
brasileira.29 A aspiração do cirurgião-dentista pela final a ser publicada e são responsáveis por todos os
ocupação no setor público, antes vista com ressalvas, aspectos do trabalho.

8 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(1):e201723615, 2018


Andreia Morales Cascaes e colaboradores

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biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94074.pdf

Abstract Resumen
Objective: the objective was to analyze trends in the Objetivo: fue analisar las tendencias de la fuerza
dental surgeon workforce in Brazil between 2007 and laboral de dentistas en Brasil, entre 2007 y 2014.
2014. Methods: this is a time series study using data from Métodos: estudios de Series Temporales con datos
the Brazilian National Register of Health Establishments nacionales del Registro Nacional de Establecimientos de
and the Brazilian National Institute of Geography and Salud y del Instituto Nacional de Geografía y Estadística
Statistics. Prais-Winsten generalized linear regression fueron analizados; regresiones lineares generalizadas
was used to estimate time trends and to calculate the de Prais-Winstein fueron utilizadas para estimar las
annual percent change in the dental surgeon workforce tendencias en el tiempo y calcular el cambio porcentual
over the period. Results: the number of dental surgeons anual de la fuerza de trabajo de los dentistas durante
working as general practitioners and as specialists grew el período. Resultados: el número de dentistas que
on average by 12.7% and 17.3% per annum, respectively; actúa como generalistas y especialistas creció al año
dental surgeon workforce expansion in relation to en promedio de 12,7% y 17,3%, secuencialmente; la
general practitioners (0.5%) and specialists (11.6%) expansión de la mano de obra de dentistas generalistas
was lower in the public sector, compared to the private (0,5%) y especialistas (11,6%) fue menor en sector
sector (24.5% and 30.3%, respectively). Conclusion: público e comparado con el privado (24,5% e 30,3%,
the number of dental surgeons in Brazil is high, although respectivamente). Conclusión: el numero de dentistas
they are not equally distributed between both sectors. en Brasil es elevado, entretanto, están desigualmente
This may imply barriers to dental care access in Brazil. distribuidos, lo que puede implicar barreras en el acesso
Keywords: Labor Force; Dental Staff; Time Series Studies. a los cuidados odontológicos en Brasil.
Palabras-clave: Fuerza de Trabajo; Personal de
Odontología; Estudios de Series Temporales.

Recebido em 19/06/2017
Aprovado em 06/11/2017

10 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 27(1):e201723615, 2018

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