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Artigo. Introducao Ao Geoprocessamento

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INTRODUÇÃO AO GEOPROCESSAMENTO

Jaqueline de Carvalho Silva1, Gabriela Oliveira Monteiro2, Sergio Vicente Denser Pamboukian3

Resumo foi interrompida e os casos de cólera diminuíram. Este é um


Este artigo apresenta os conceitos básicos de exemplo típico de aplicação do geoprocessamento, onde
geoprocessamento e suas aplicações, conduzindo o leitor à apenas a análise visual das informações e a relação espacial
compreensão do tema de forma detalhada e progressiva. entre tais informações foram capazes de esclarecer o
Apresenta conceitos de Cartografia, Sistemas de Projeção, problema [1].
Datum, Sistemas de Referência de Coordenadas, Sistemas
de Informações Geográficas, Georreferenciamento, entre
outros. Mostra ao leitor quão grande é a importância do
geoprocessamento e como ele está presente em nossas vidas.

Palavras-chave: Cartografia, Geoprocessamento,


Geotecnologias, Georreferenciamento, Sistema de
Informações Geográficas (SIG).

INTRODUÇÃO
Nossos antepassados, para uma plena organização de
sua sociedade, costumavam obter e armazenar diversas
informações sobre a distribuição geográfica de, por exemplo,
recursos minerais, propriedades, fauna e flora. Porém, todas
essas informações eram armazenadas em documentos e
mapas de papel, tornando muito difícil uma análise que
combinasse dados e mapas. Na segunda metade do século
XX, houve um intenso desenvolvimento da computação e
dos sistemas de informação, o que possibilitou representar
tais informações em ambiente computacional, dando origem FIGURA 1
ao Geoprocessamento. MAPA DA REGIÃO DE SOHO – LONDON – UNITED KINGDOM [1]
O Geoprocessamento consiste na utilização de técnicas
computacionais e matemáticas para obter e analisar Graças ao desenvolvimento da informática e dos
informações espaciais. Através dessas técnicas, os dados de equipamentos eletrônicos, surgiram as geotecnologias, que
diversos formatos e fontes são relacionados com o objetivo servem, entre outras coisas, para coletar informações através
de gerar algum ganho de informação sobre determinado de Global Positioning System (GPS), Radar, Satélite,
assunto. Fotogrametria, Cartografia, Topografia, Sensoriamento
Um exemplo clássico é o caso de epidemia de Cólera Remoto e outras fontes, armazenando as informações
amenizada pelo Dr. John Snow em 1854. Snow teorizou que obtidas em Bancos de Dados Geográficos.
a bactéria da cólera se reproduzia no corpo humano e se Todos os dados coletados devem ser georreferenciados,
disseminava através da água contaminada. Sua teoria foi ou seja, devem possuir uma localização geográfica bem
comprovada com a criação de um mapa temático de Soho, determinada. O tratamento e a análise das informações são
que é um distrito de Londres, na Inglaterra, localizado no feitos através de modelagem de dados, geoestatística, análise
borough da cidade de Westminster. Neste mapa, círculos de redes, análise topológica e processamento de imagens,
azuis indicavam os poços de abastecimento de água da com o uso do Geographic Information System (GIS) ou
região e pontos vermelhos indicavam as residências onde Sistema de Informações Geográficas (SIG) que é uma
havia casos de cólera (Figura 1). Analisando o mapa geotecnologia formada por hardware, software, informações
observou-se uma aglomeração dos casos ao redor de um dos espaciais e procedimentos computacionais [2].
13 poços marcados (Broad Street). A utilização desse poço

1
Jaqueline de Carvalho Silva, Aluna, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Engenharia Civil, Laboratório de Geotecnologias, Rua da Consolação, 930,
01302-907, São Paulo, SP, Brasil, carvalhosilvajaqueline@hotmail.com
2
Gabriela Oliveira Monteiro, Aluna, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Engenharia Civil, Laboratório de Geotecnologias, Rua da Consolação, 930,
01302-907, São Paulo, SP, Brasil, gabismont2@yahoo.com.br
3
Sergio Vicente Denser Pamboukian, Professor, Universidade Presbiteriana Mackenzie, Escola de Engenharia, Laboratório de Geotecnologias, Rua da
Consolação, 930, 01302-907, São Paulo, SP, Brasil, sergio.pamboukian@gmail.com
As geotecnologias possuem grande aplicação em No Brasil, temos bons exemplos de sua aplicação nos
diversos tipos de estudos que envolvem localização últimos anos em empresas e instituições de pesquisa como o
geográfica, por exemplo: em Estudo de Impacto Ambiental Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
(EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), Instituto
prevenção de desastres naturais, no mapeamento de áreas Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Empresa
urbanas e análises sobre a ocupação do solo elaboradas pelas Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
prefeituras, durante estudos sobre crescimento demográfico, Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebrás), dentre outros
no monitoramento de áreas de preservação ambiental, no [5].
controle sob a extração de minerais, na verificação da
eficácia de medidas implantadas pelo governo no trânsito, CARTOGRAFIA E O GEOPROCESSAMENTO
entre outros.
O fator decisivo à escolha entre utilizar ou não uma Uma vez que geoprocessamento é o processo que
geotecnologia é se a questão abordada se relaciona com relaciona localizações geográficas com diversos tipos de
localização ou não. Entretanto, é importante saber que as informações, a cartografia se torna essencial para sua
geotecnologias permitem avaliar situações utilizando outros existência. Devido a ela, a Terra, com sua forma
fatores conjuntamente, o tempo, por exemplo, abordado com tridimensional, pode ser representada em superfícies planas
a localização permite que o usuário analise quais foram as (mapas) sofrendo as menores distorções possíveis.
mudanças ocorridas ao longo do tempo em determinada Em vista disso, é importante para o profissional que
região. escolhe trabalhar com esse instrumental conhecer alguns
Além das tecnologias citadas acima existem os conceitos básicos de cartografia, pois assim, ele poderá
WebMappings, como o Google Maps, o Google Earth e o configurar seus projetos de acordo com os conceitos
Waze, onde o usuário acessa informações sobre trânsito em cartográficos mais adequados às suas necessidades.
tempo real (Figura 2) e efetua localização de endereços Para representar a Terra em um sistema computacional
(Figura 3), por exemplo. Isso significa que as geotecnologias encontramos alguns problemas:
não servem somente para solução de casos de grande  a Terra possui uma superfície muito irregular sendo
complexidade, mas também estão presentes no cotidiano das difícil encontrar um modelo matemático que a
pessoas dando maior praticidade às suas rotinas. represente com perfeição. Isto pode ser resolvido
adotando-se um modelo aproximado como um elipsoide
de revolução;
 nosso planeta é um objeto em três dimensões (3D) que
precisa ser representado em duas dimensões (2D) na tela
do computador e nos mapas em papel. A solução para
este problema é o uso de Projeções Cartográficas.
Em função desses fatores, conceitos e explicações sobre
como são feitas as correlações entre a superfície terrestre e
sua representação em mapas serão apresentados a seguir.
Formato da Superfície Terrestre
Desde a antiguidade, o formato da Terra é discutido por
filósofos e cientistas. As teorias fizeram com que a sua
configuração fosse de plana para esférica, de esférica para
FIGURA 2 elipsoidal (elipsoide de revolução achatado nos polos) e de
APLICATIVO DE TRÂNSITO EM TEMPO REAL [3] elipsoidal para Geoidal, que é a forma mais aceita
atualmente (Figura 4).

FIGURA 4
FIGURA 3 FORMATO DA TERRA, GEOIDE E ELIPSOIDE [6]
LOCALIZAÇÃO DE ENDEREÇO NO GOOGLE MAPS [4]
O Geoide foi definido por Carl Friedrich Gauss (1777-
1855) como o sólido formado pelo nível médio não
perturbado dos mares supostamente prolongado por sob os
continentes, que coincide com a superfície equipotencial do
campo de gravidade da Terra.
Visto que o geoide é uma superfície irregular e de difícil
tratamento matemático, foi necessário adotar, para efeito de
cálculos, uma superfície regular que possa ser
matematicamente definida. A forma matemática assumida
para cálculos sobre o geoide é o elipsoide de revolução, Projeção Cilíndrica
gerado por uma elipse rotacionada em torno de seu eixo
menor [7].
Sistemas de Projeção
Os mapas e cartas utilizados em um SIG são
representações planas da superfície terrestre. Porém, como a
superfície real da Terra é curva, quando a projetamos em um
plano ocorrem deformações em suas dimensões.
Tentando aproximar cada vez mais essas imagens do
real, os cartógrafos criaram vários Sistemas de Projeção.
Cada Sistema de Projeção possui uma fórmula matemática Projeção Cônica
que transforma as coordenadas geográficas em coordenadas
planas, mantendo correspondência entre elas. Cilíndrica,
Cônica, Azimutal e Universal Transversa de Mercator
(UTM), são exemplos de Sistemas de Projeção. A projeção
UTM se adequa bem as necessidades dos Sistemas de
Informações Geográficas e por esse motivo será detalhada
mais adiante neste artigo.
Na projeção Plana ou Azimutal, o mapa é construído
imaginando-o situado num plano tangente ou secante a um
ponto na superfície da Terra. Exemplo: Projeção Universal Projeção Plana ou Azimutal
Polar Estereográfica.
Na projeção Cônica, o mapa é construído imaginando-o FIGURA 5
PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS [9]
desenhado em um cone que envolve a esfera terrestre, que é
em seguida desenrolado. As projeções cônicas podem ser
também tangentes ou secantes. Nas projeções cônicas os Sistemas de Coordenadas Geográficas
meridianos são retas que convergem em um ponto e todos os
paralelos são circunferências concêntricas a esse ponto. Para representar a superfície da Terra é necessário
Exemplo: Projeção Cônica de Lambert. estabelecer um sistema no qual cada ponto representado no
Na projeção Cilíndrica, o mapa é construído mapa corresponda a um homólogo na superfície do planeta.
imaginando-o desenhado num cilindro tangente ou secante à Para isso é utilizado um Sistema de Referência de
superfície da Terra, que é depois desenrolado. Pode-se Coordenadas (SRC) [7].
verificar que em todas as projeções cilíndricas, os Para melhor compreensão sobre o assunto é necessário
meridianos bem como os paralelos são representados por saber que se denominam meridianos as linhas verticais que
retas perpendiculares. Exemplo: Projeção de Mercator [8]. dividem o globo terrestre no sentido leste-oeste e paralelos
As projeções Cilíndrica, Azimutal e Cônica podem ser as linhas horizontais que dividem o globo no sentido norte-
vistas na Figura 5. sul.
Em um modelo esférico, os meridianos são círculos
máximos cujos planos contêm o eixo de rotação ou eixo dos
polos. Já em um modelo elipsoidal, os meridianos são
elipses definidas pelas interseções, com o elipsoide, dos
planos que contêm o eixo de rotação [10].
Cada ponto da superfície terrestre é localizado na
interseção de um meridiano com um paralelo, possuindo
coordenadas de latitude e longitude (Figura 6).
localização de qualquer ponto do plano. Nesse caso, um
ponto é representado por dois números reais: um
correspondente à projeção sobre o eixo x (horizontal) e outro
correspondente à projeção sobre o eixo y (vertical).
A projeção utilizada no mapeamento sistemático do
Brasil, que compreende a elaboração de cartas topográficas
desde 1955, é a Universal Transversa de Mercator (UTM)
(Figura 7), consequentemente é a projeção mais utilizada em
geoprocessamento no país.

FIGURA 6
COORDENADAS GEOGRÁFICAS [11]

O meridiano mais conhecido é o Meridiano de Origem


(também conhecido como Inicial, Principal ou FIGURA 7
PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR (UTM) [12]
Fundamental), que passa pelo antigo observatório britânico
de Greenwich, por isso também é conhecido como Na projeção UTM a superfície terrestre é dividida em
Meridiano de Greenwich. Ele foi escolhido 60 fusos ou zonas de 6° de longitude (Figura 8). A cidade de
convencionalmente como a origem (0°) das longitudes sobre São Paulo, por exemplo, está localizada no fuso 23.
a superfície terrestre e como base para a contagem dos fusos
horários.
O paralelo mais conhecido é a linha do Equador que
intersecciona a superfície da Terra com o plano que contém
o seu centro e é perpendicular ao seu eixo de rotação.
A referência [7] define latitude e longitude da seguinte
forma:
Latitude geográfica é o ângulo (medido ao longo do
meridiano que passa pelo lugar) formado entre o equador
terrestre e o ponto considerado. Todos os pontos do
equador terrestre têm latitude geográfica igual a 0º. Pontos
situados ao norte do equador têm latitudes maiores que 0º
variando até 90º que é a latitude do polo norte geográfico.
Da mesma forma variam as latitudes ao sul do equador
terrestre, desde 0º a 90º, latitude do polo sul geográfico.
Para se diferenciar os valores, atribui-se sinal positivo
para as latitudes norte e negativo para as latitudes sul.
Simboliza-se a latitude pela letra grega  (phi).
Longitude geográfica é o ângulo (medido ao longo do
equador) formado entre o meridiano que passa pelo lugar
e o meridiano que passa pela cidade de Greenwich,
Inglaterra. A longitude é medida de 0º a 180º, para leste
ou para oeste de Greenwich. Por convenção, atribui-se
também sinais para as longitudes: negativo para oeste e
positivo para leste. Simboliza-se a latitude pela letra grega FIGURA 8
 (lambda). FUSOS OU ZONAS UTM [13]
A altitude, que possui um conceito um pouco mais
simples, é a distância vertical medida entre um determinado Segundo a referência [7] o Sistema de Coordenadas UTM
ponto e o nível médio do mar. possui as seguintes características:
O sistema de coordenadas geográficas muitas vezes é  o meridiano central da região de interesse, o equador e
representado pela sigla LLA (Latitude, Longitude e os meridianos situados a 90º do meridiano central são
Altitude). representados por retas;
Sistemas de Coordenadas Planas ou Cartesianas  os outros meridianos e os paralelos são curvas
complexas;
Em um Sistema de Coordenadas Planas ou Cartesianas,  a escala aumenta com a distância em relação ao
são utilizados dois eixos perpendiculares, cuja interseção é meridiano central, tornando-se infinita a 90º deste;
denominada origem, que é estabelecida como base para a
 a Terra é dividida em 60 fusos de 6° de longitude. O (500.000 – 168.553 = 331.447) e 2.604.917m ao sul do
cilindro transverso adotado como superfície de projeção Equador (10.000.000 – 2.604.917 = 7.395.083).
assume 60 posições diferentes, já que seu eixo mantém-
se sempre perpendicular ao meridiano central de cada Datum
fuso; O geoide varia cerca de ±100m além da superfície do
 aplica-se ao meridiano central de cada fuso um fator de elipsoide de referência. Em razão disto, busca-se uma
redução de escala (K) igual a 0,9996, para minimizar as melhor correlação entre o limite do geoide e do elipsoide,
variações de escala dentro do fuso. Como consequência, para que o erro no posicionamento geográfico seja o mínimo
existem duas linhas aproximadamente retas, uma a leste possível. Cada região do planeta define o elipsoide que
e outra a oeste, distantes cerca de 1º37’ do meridiano melhor se adapta ao geoide local e define um ponto de
central, representadas em verdadeira grandeza (K=1) referência padrão denominado Datum, localizado na
(Figura 9). intersecção entre a face do geoide e a face do elipsoide
(Figura 10), a partir do qual as distâncias, altitudes e
aceleração da gravidade dos demais pontos em um mapa são
definidos. Existem vários Data (plural de Datum) definidos
em diferentes ocasiões e por diferentes autores.

FIGURA 10
PONTO DE INTERSECÇÃO ENTRE GEOIDE E ELIPSOIDE (DATUM) [15]
FIGURA 9
DETALHE DE UM FUSO UTM [14] O sistema de coordenadas geográficas definido pelo
World Geodetic System 1984 (WGS-84), utiliza o elipsoide
O sistema UTM é limitado pelos paralelos 80°S e 84°N, global UGGI-79, enquanto que o sistema South American
pois acima disto as deformações são muito grandes. As Datum 1969 (SAD-69) utiliza o elipsoide local UGGI-67,
regiões polares devem ser representadas pela projeção que é o elipsoide para a América do Sul, com ponto de
Universal Polar Estereográfica, por exemplo. amarração situado no vértice Chuá em Minas Gerais [7]. Os
Os eixos cartesianos de origem são o Equador (X) e o dados coletados por GPS se referem ao Datum WGS-84,
meridiano central de cada zona (Y). No hemisfério Norte, o assim como o Google Maps e Google Earth.
Equador possui referência 0km e as coordenadas Y crescem
em direção ao Norte. No hemisfério Sul, o Equador possui Sistema de Referência de Coordenadas
referência 10.000km e as coordenadas Y decrescem em A união de um Datum e de um Sistema de Projeção dá
direção ao Sul (para evitar valores negativos). O meridiano origem a um Sistema de Referência de Coordenadas (SRC).
central de cada zona possui referência 500km, com Ao inserir ou referenciar uma imagem em um SIG, o
coordenadas X crescendo na direção E (leste) e decrescendo operador deve saber qual SRC será utilizado.
na direção W (oeste), para evitar valores negativos a oeste Os sistemas de referência utilizados no Brasil são,
do meridiano central. segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
No sistema UTM as mesmas coordenadas métricas X e [16]: Córrego Alegre, SAD69 e Sistema de Referência
Y repetem-se em todas as 60 zonas, por isso é importante a Geocêntrico para as Américas 2000 (SIRGAS2000). Caso a
indicação da Zona UTM que está sendo utilizada. projeção seja UTM é importante que o SRC identifique o
O Laboratório de Geotecnologias da Universidade fuso que está sendo utilizado (SAD69 / UTM Zona 23S, por
Presbiteriana Mackenzie está localizado na zona UTM 23S, exemplo).
cujo meridiano central é o de 45°. Neste fuso, a origem das Existe um código único para cada combinação de
coordenadas UTM é a intersecção do fuso 45° com a linha Datum e Sistema de Projeção, definido pelo European
do Equador e possui coordenadas X = 500.000m e Y = Petroleum Survey Group (EPSG). Um exemplo é o SAD69 /
10.000.000m. Considerando o Datum SAD69, o Laboratório UTM Zone 23S que possui o código EPSG 29193. Esse
encontra-se nas coordenadas X = 331.447m e Y = código facilita a configuração do SRC nos SIGs, pois ao
7.395.083m, ou seja, 168.553m a oeste do meridiano central
invés de procurar o SRC em uma lista, o profissional pode pontos sobre ele é relevante quando se trabalha com o
digitar apenas o ESPG. geoprocessamento.
Em uma aplicação SIG é possível misturar camadas
com diferentes SRCs. Em geral, a própria aplicação faz as Mosaico de Cenas
conversões automáticas de um sistema para outro e O Mosaico de cenas é a união de diversas imagens
apresenta as informações no SRC definido pelo projeto. georreferrenciadas (cenas) para formar uma imagem maior
Processamento de imagens que contenha o projeto a ser desenvolvido. A Figura 12, por
exemplo, é a união de 9 cenas. As cenas, em geral, possuem
As imagens obtidas por satélite, radar, sensoriamento uma pequena sobreposição para que a confecção do mosaico
remoto e fotogrametria requerem um tratamento para que seja possível.
tenham o aspecto visual de certas feições estruturais O mosaico também pode ser utilizado para a
realçado, o que as tornam mais fáceis de serem interpretadas combinação em uma única imagem de várias bandas de
pelo homem [17]. A disciplina responsável por isso é sensoriamento remoto.
denominada Processamento de Imagens, que possui técnicas
voltadas para a manipulação de imagens por computador. As
técnicas adotadas envolvem, por exemplo, correção
geométrica, eliminação dos efeitos atmosféricos,
georreferenciamento, mosaico e eliminação do ruído
sistemático da imagem, gerando produtos que possam ser
posteriormente submetidos a outros processamentos.
Georreferenciamento
Quando um profissional elabora uma análise espacial é
comum que as imagens e dados obtidos sejam de diversas
fontes e que haja a necessidade de trabalhar com elas em
conjunto. Por isso, cada informação deve ter a sua posição
geográfica bem definida. Quando essas imagens são obtidas, FIGURA 12
podem ocorrer distorções devido, por exemplo, à imprecisão IMAGEM COMPOSTA DE 9 CENAS (ELABORADO PELO AUTOR À PARTIR DE
dos dados de posicionamento do satélite ou aeronave. A [19])
solução para o problema é georreferenciá-las através do
próprio SIG. Camadas de um Sistema de Informações Geográficas
O georreferenciamento de imagens é uma transformação Um dos grandes avanços do SIG é a possibilidade de
geométrica que relaciona as coordenadas (linha e coluna) de trabalhar de forma separada ou conjunta com várias camadas
uma imagem jpg, bmp ou tif, por exemplo, com as ou layers (Figura 13). Essa é uma das razões que permite
coordenadas geográficas (latitude e longitude) ou que o geoprocessamento seja interdisciplinar [5].
coordenadas planas (x e y) de um mapa (Figura 11). Essa
transformação elimina distorções existentes na imagem,
causadas no processo de formação da imagem, pelo sistema
sensor e por imprecisão dos dados de posicionamento da
plataforma (aeronave ou satélite). Este processo utiliza
Pontos de Controle, que são feições possíveis de serem
identificadas de modo preciso na imagem e no mapa, como
por exemplo, o cruzamento de estradas.

FIGURA 13
FIGURA 11 CAMADAS (LAYERS) EM UM SIG [20]
GEOREFERENCIAMENTO [18]
Cada camada armazena um tema/aspecto do fenômeno a
É por esse motivo, que o conhecimento sobre a forma ser mapeado. Por exemplo, pode-se ter camadas separadas
do globo, sua projeção sobre um plano e a localização de para Imagens de Satélite, Usos do Solo, Sistema Viário,
Hidrografia, Cadastro Urbano, Topografia (Curvas de nível), mesma usada nos softwares Computer Aided Design (CAD).
entre outras. Essas camadas são georreferenciadas e ficam As principais características das imagens vetoriais são [23]:
sobrepostas umas às outras no sistema. Assim, os diferentes  a imagem se ajusta e não perde sua resolução quando
layers representam diferentes informações temáticas que, suas dimensões são alteradas;
agrupadas e analisadas, podem gerar Mapas em um SIG  as feições podem ser editadas, ou seja, a cor, a
(Figura 14) [21]. espessura, a área, pontos de formação e localização das
feições, por exemplo, podem ser mudados;
 podem ser atribuídas informações às feições da imagem
que ficam disponíveis para consulta no SIG através de
uma tabela de atributos;
 uma imagem vetorial trabalha em conjunto com um
banco de dados permitindo a elaboração de mapas
temáticos;
 requer pouco espaço de armazenamento.
O principal formato de imagem vetorial utilizado pelos
SIGs é o Shapefile.
Imagens Matriciais
Imagens matriciais (raster) (Figura 16) são aquelas
obtidas por instrumentos como câmeras, satélites, radares,
FIGURA 14 entre outros, e consistem na representação de alguma
MAPA DE DENSIDADE DEMOGRÁFICA
informação (relevo, por exemplo) em uma superfície
bidimensional.
Existem basicamente dois tipos de camada: a Camada
Sua estrutura é formada por uma matriz de pixels
Vetorial e a Camada Matricial (Raster). A primeira é
(abreviatura do inglês picture element), coloridos ou não,
composta por imagens vetoriais (formadas por pontos, linhas
que representam a informação armazenada de acordo com a
e polígonos) e a segunda por imagens matriciais (matriz de
sua intensidade.
pontos).
Imagens Vetoriais
Imagens Vetoriais (Figura 15) são formadas por
elementos geométricos denominados feições, que
compreendem pontos, linhas ou polígonos.

FIGURA 16
IMAGEM MATRICIAL OBTIDA POR SATÉLITE [19]

FIGURA 15
IMAGEM VETORIAL REPRESENTANDO VIAS E LOTEAMENTO URBANO [22] Ao aproximar (zoom) uma imagem matricial pode-se
notar que ela tem seu contorno distorcido por pequenos
Internamente, um SIG representa um ponto por um par quadrados, esses são os pixels. Isso ocorre porque ao
ordenado (X, Y) e linhas e polígonos pelas sequências aumentar as dimensões da imagem os pixels distribuem-se
desses pares ordenados. Esta forma de representação é a por uma área maior sem aumentar sua quantidade.
Portanto, a qualidade de uma imagem matricial se dará [4] GOOGLE INC. Google Maps. Disponível em:
<https://maps.google.com.br>. Acesso em: 03 dez. 2014.
sobre dois aspectos: a quantidade de pixels por polegada
(resolução da imagem) e o número de pixels na horizontal e [5] ABREU, A.H. Geoprocessamento Banco de Dados Geográfico para a
na vertical (tamanho da imagem). Quanto maiores estes gestão do Instituto Inhotim. Belo Horizonte: Universidade Federal de
Minas Gerais, Instituto de Geociências, Departamento de Cartografia,
valores, melhor é a qualidade da imagem e maior é o espaço 2010.
de memória que ela ocupa. Em vista disso, escolher uma
resolução adequada, sem excessos, pode otimizar a [6] MADEIRA, Daniel. O Sistema de Coordenadas UTM. Sorocaba,
2013. Disponível em: <http://dan-scientia.blogspot.com.br/2013/04/o-
realização de projetos. sistema-de-coordenadas-utm.html>. Acesso em: 08 dez. 2014.
As três principais bandas de uma imagem matricial são
[7] RUFINO, I.A.A.; FACUNDO, I.D.C. Noções de Sistemas de
RGB (Red, Green, Blue), sendo que a mistura dessas três Informação Geográfica. ATECEL/UNESCO, João Pessoa, 2004.
bandas resulta nas demais cores. Além dessas bandas, o Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/48342362/Nocoes-de-
sensoriamento remoto pode nos fornecer outras como a do SIG#scribd>. Acesso em: 17 dez. 2014.
Infravermelho, importante para realçar alguns aspectos da [8] ROSA, R. Cartografia Básica. Uberlândia: Universidade Federal de
superfície terrestre. Uberlândia, 2004. Disponível em:
Os principais formatos de imagens matriciais são: <http://pt.scribd.com/doc/50123495/cartografia-texto-bom>. Acesso
Bitmap (.bmp), Tagged Image File Format (.tif), Graphics em: 08 dez. 2014.
Interchange Format (.gif), Joint Photographic Experts Group [9] FRANCISCO, W.C. Projeções Cartográficas. Disponível em:
(.jpg) e Portable Network Graphics (.png). Depois de <http://www.mundoeducacao.com/geografia/projecoes-
georreferenciadas as imagens matriciais são salvas cartograficas.htm>. Acesso em: 08 dez. 2014.
geralmente em formato Geotiff. [10] INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Conceitos
Cartográficos. Disponível em:
<http://www.dpi.inpe.br/terraview/docs/pdf/ProjecaoCartografica.pdf
> Acesso em: 09 dez. 2014.
CONCLUSÃO
[11] LOPES DE SEIXAS, M.J.F.; FERREIRA, F.M.F.C. Estatística
As geotecnologias estão cada vez mais presentes em ambiental e tecnologias de informação geográfica. Universidade
nosso dia a dia. Com elas é possível analisar com bastante Nova de Lisboa, 2011.
precisão nossa realidade geográfica, a ocupação da costa [12] DANA, P.H. The Map Projection Overview. 2008. Disponível em:
brasileira, a urbanização de nossas cidades, onde passam <http://www.pdana.com/PHDWWW.htm>. Acesso em: 21 set. 2012.
nossas rodovias, onde estão as áreas agrícolas, as áreas [13] CÂMARA, G.; DAVIS, C. Introdução. In: CÂMARA, G.; DAVIS JR,
submarinas, e até mesmo nossa localização exata neste C.A.; MONTEIRO, A.M.V. (org.). Introdução à Ciência da
momento, entre outras opções. Geoinformação. São José dos Campos: Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, 2001. Cap. 1. Disponível em:
Para desenvolver projetos que envolvam <http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro/introd/cap1-introducao.pdf>.
Geoprocessamento é necessário que os profissionais Acesso em: 11 fev. 2011.
entendam como a Terra pode ser representada. Desta forma
[14] MENDONÇA, Marcis. Sistema de Projeção UTM. Disponível em:
são importantes os conhecimentos sobre elipsoide, geoide, <http://pt.slideshare.net/cleideisaias/sistema-de-projeo-utm>. Acesso
Sistemas de Projeção, Datum, Coordenadas Geográficas, em: 07 dez. 2014.
Coordenadas Planas, entre outros. [15] COSTA, H. C., SILVA, M.V.A. Projeções Cartográficas no gvSIG:
Os Sistemas de Informações Geográficas são Superfícies de Referência. Goiás: Universidade Federal de Goiás,
importantes ferramentas que podem auxiliar o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento.
desenvolvimento de tais projetos, pois reúne diversas Disponível em:
<http://www.lapig.iesa.ufg.br/lapig/cursos_online/gvsig/superfcies_de
informações através de camadas vetoriais e matriciais e _referncia.html>. Acesso em: 08 dez. 2014.
permite o tratamento e análise destas informações, além da
geração de mapas temáticos, entre outras coisas. [16] TECNOMAPAS. Transformação entre o SAD 69 e o SIRGAS2000 no
ArcGIS. Disponível em:
<http://www.geobases.es.gov.br/portal/attachments/032_SAD69_SIR
REFERÊNCIAS GAS2000_ArcGis_NTV2.pdf>. Acesso em: 09 dez. 2014.
[1] MACKENZIE, J. Mapping the 1854 London Cholera Outbreak. 2010. [17] INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ESPACIAIS. Teoria:
Disponível em: Processamento de Imagens. São José dos Campos. Disponível em:
<http://www.udel.edu/johnmack/frec682/cholera/index.html>. Acesso <http://www.dpi.inpe.br/spring/teoria/realce/realce.htm>. Acesso em:
em: 21 nov. 2013. 08 dez. 2014.
[2] PAMBOUKIAN, S.V.D. Introdução ao Geoprocessamento. Tutorial. [18] LOPES, E. S. S. Tutorial 10 aulas Spring 5.1. São José dos Campos:
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