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Teste de DP

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Direito Penal do Inimigo e do Terrorismo:

Noção de Direito Penal  Conjunto de normas jurídicas que associam factos


penalmente relevantes uma determinada consequência juridica, uma sanção juridica ou,
conjunto de normas jurídicas que fazem corresponder a uma descrição de um
determinado comportamento uma determinada consequência juridica desfavorável.
É um regulador do poder do Estado, estabelece ligações com diversas vertentes
importantes, como a liberdade, o conceito de Direito, a pessoa humana, entre outros.
Este é um direito jovem, possuindo cerca de 200 anos, cujo desenvolvimento se
submeteu a uma construção doutrinária, jurisprudencial e dogmática, não esquecendo
que acompanhou a história do Direito Constitucional.
De facto, julga-se que o Direito Penal em Portugal nasceu com a primeira constituição
(1822), no entanto nos primórdios este direito já existia dentro do direito civil, porém
em sentido material e não formal, como se faz sentir a partir de 1822.

O DP tem sofrido uma discussão entre defensores de um DP humanista de liberdade


(DP do cidadão) – e um DP policializado (defendido), e os defensores de um DP
justicialista “derrotar” (acusador) de algumas garantias materiais e processuais do ser
humano, os defensores do DP Bélico/inimigo (que apela à ideia de que existem alguns
delinquentes que devem ser tratados como não-pessoa ou coisa).
O DP do pós-modernismo um ato penal de progresso ao retrocesso.
A negação de direitos do Estado civil ao seu “perigoso” gerador de incerteza secundária
(e a negação da própria essência da dignidade da pessoa humana do ser humano).

O DP moderno aparece com a intenção de limitar a ação punitiva do Estado, que para
proteger os interesses vitais da comunidade os torna em tutela penal (para restabelecer
uma paz juridica), este princípio esta hoje em perigo (a essência humana).
O equilíbrio exigido ao DP (que é tutelar os bens jurídicos colocados em perigo por uma
conduta humana negativa e proteger o delinquente) está em perigo de desaparecer face
as novas tendências penalistas em curso: fundamentados em que o ser humano que
delinqua e não se reinsira torna a ser uma doença contagiosa da comunidade.
Vivemos hoje a hipertrofia legislativa do DP que tudo quer tutelar e nada tutela, e esta
gera o fenómeno da popularização.

Isto mostra que o Direito Penal apresenta 2 dimensões de causa:

 Legais – Que se encontram positivadas na lei.

 Supralegais – Não estão positivadas na lei e tem uma função material


(metapositiva).

Em analepse, a codificação do Direito Penal iniciou-se nos séculos 18/19, tendo este
uma forte iniciativa por parte de Napoleão, que pretendia unir o império, mas
respeitando as diferenças de todos.
Por exemplo, a existência de estados confederados estabelece um equilíbrio entre o
direito constitucional e o penal, sendo que existem aspetos consagrados no primeiro,

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

que acabam por ser exceção na legislação do direito penal (apenas para algumas vias),
como as touradas, sendo que se pretendia respeitar todas as culturas.
Ligação forte entre o Direito Constitucional e o Direito Penal:

 Direito Constitucional – Defende o povo do Direito político.

 Direito Penal – Limita o poder do estado face ao punido.

→ Princípios gerais do Direito

Exemplo: Princípio da legalidade – não é positivo por isso não se


esgota no âmbito do Direito Penal.

 Ocorre uma ilegalidade a partir do momento em que uma


lei viole uma lei de bases.

→ Princípio geral de cada ramo de Direito

Direito
- DUDH/CEDH/CDFUE (artigo 8º
CRP)
→ Direito Positivo - Autorizações legislativas
-Decretos lei / decretos
regulamentares

→ Jurisprudência/ Doutrina/ Legalidade material


democrática

O Direito Penal lida com pessoas enquanto seres livres, independentemente de serem
criminosas, este apenas aplica penas às mesmas.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Antes:

No entanto, a pessoa humana nem sempre foi tratada numa dimensão axiológica, sendo
que existem situações que retratam esta realidade, como a inquisição ou o episódio de
Auschwitz, o que mostra que o ser humano apenas era importante pelo facto de se
encontrar dentro da coletividade, levando assim à coisificação (objetificar) do mesmo.

Depois:

Atualmente, o centro do direito penal é a pessoa humana, sendo que começaram a ser
preservadas as seguintes dimensões: a auto-determinação, a auto-confirmação e a auto-
responsabilidade, o que por sua vez poderá levar à auto-coisificação.

O código penal estabelece uma relação de conformidade com a CRP, uma vez que lhe
deve obediência inclui na sua legislação princípios pertinentes que defendem os direitos
fundamentais do ser humano, como:

1. Princípio da humanidade:

O fundamento de uma lei que se pretende elaborar deve conter o pensamento cultural do
povo que habita determinado estado, sendo que a mesma deve respeitar e defender os
direitos fundamentais dos seres humanos que se encontram expressos na CRP. Neste
sentido, isto significa que o direito deve defender os direitos essenciais à vida desse
povo com toda a sua energia, sendo assim a vontade de um povo essencial, para o
direito penal, que por sinal reconhece a sua auto-determinação em identificar e
manifestar o que é importante para a sociedade do estado. Para além desta aceção do
direito ter a obrigação de defender os direitos fundamentais do ser humano, não deve
interferir onde a ordem social consegue resolver sozinha, deliberando então sobre os
problemas sociais pertinentes à sua ação e de forma equitativa/justa.
Deste modo, verificamos que os pilares do estado são a dignidade humana, cujo
princípio assenta no código penal, e a vontade popular (tem 3 dimensões: auto-
determinação, auto-confirmação e auto-responsabilização) como podemos verificar no
Artigo nº 1 da CRP.

Exemplos da defesa da dignidade humana:

➔ Artigo 33º CRP;

➔ Uma pessoa com problemas psíquicos não pode ser condenada, esta tem de ser
encaminhada para o hospital para que se possa tratar, deste modo aplica-se uma
medida de segurança, passando de um regime penal para um regime de saúde
mental. Isto significa que, se passar 20 anos no hospital não irá depois ser presa
porque a resolução do seu caso se encontra sob outro regime, que se não for
aplicado poderá trazer consequências graves à pessoa em questão.
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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

“O estado português não compactua com outro estado que vá contra o princípio da
humanidade”

2. O princípio da separação dos poderes:

A CRP limita a presunção de autoria, sendo que cada um dos órgãos de soberania possui
funções diferentes, como podemos verificar a competência política e legislativa
compete à Assembleia da República (Artigo 161º), constituída pelos representantes do
povo que tem uma dimensão legitima sociológica que deve ser respeitada.
No entanto, a mesma pode autorizar o Governo a identificar o objeto e o conteúdo da
situação em questão, através de uma autorização legislativa (Artigo 198ºb). De facto,
estas autorizações legislativas têm um valor igual às leis e decretos-leis como podemos
verificar no Artigo 112º nº2, no entanto os órgãos que careçam desta autorização
apenas poderão legislar o que se encontra em reserva relativa, senão o seu ato será
considerado inconstitucional.

Para além disso, o legislador não pode aplicar penas que não estejam previamente na lei,
isto significa que se a lei não tiver escrita nem publicada não poderá ser aplicada, nem
decidir por si, correndo assim o risco de inconstitucionalidade material. Por exemplo
não é possível aplicar uma norma jurisdicional tendo em conta que o tribunal nem
sequer possui o poder legislativo, sendo este considerado apenas um titular dos órgãos
de soberania. Para finalizar, quando um tribunal cria uma norma, pelo facto de não
existir uma para regular uma determinada situação, esta não poderá ser usada
posteriormente e mesmo assim terá de estar dentro dos limites da constituição.

3. Princípio da constitucionalidade:

O estado deve obediência à constituição (Artigo 2º CRP) e à legalidade democrática


(Artigo 3º CRP).
Embora na constituição no Artigo 29 nº1 explicite que ninguém pode ser sentenciado
criminalmente sem lei prévia, isto não significa que as condutas não podem ser punidas
pela aplicação de normas que se encontram dentro da ordem internacional, que por sua
vez foram aceites pelo estado português no momento em que este assinou e ratificou os
respetivos tratados (Artigo 29 nº2), sendo obrigado a julgar quem cometer crimes que
são abrangidos nestas convenções.
Deste modo, as convenções possuem normas incriminadoras que são assinadas e
ratificadas pelos estados que analisam essas condutas, ou seja, a partir do momento em
que a mesma seja assinada o estado estará obrigado a decidir com o que assinou
previamente. - Estas normas embora sejam internacionais farão parte da constituição
interna do estado que as assinar.

De acordo com o Artigo 8º nº 1 e 2, estabelece que todas as normas relacionadas com o


ius cogens (normas percetivas- impõem-se por si só), como o direito à vida e a
integridade pessoal, afirmam-se como normas que regem o direito sem prescrição

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concreta na normatividade constitucional, mas encontram-se dentro da


constitucionalidade material.

Nota: A convenção das nações unidas marca fortemente o direito penal interno.

4. Princípio da igualdade (Artigo 13º) e da legalidade (Artigo 29º) – Kant:

Não se pode analisar em termos penais o princípio da legalidade penal sem invocar a
igualdade. O Artigo 13º e o Artigo 29º tem de ser analisados conjuntamente no âmbito
penal.
O princípio da legalidade sem certeza e sem determinabilidade viola o princípio da
igualdade porque vai ser aplicado de acordo com a hermenêutica daquele aplicador, isto
significa que é necessário reconhecer se a conduta em questão é mesmo um crime ou
não.

O princípio da igualdade tem duas dimensões que é “tratar igual o que é igual” e
“diferente o que é diferente”, mas nos últimos 20 anos os penalistas discutiram acerca
de outras dimensões:

• Tratar igual o que é diferente, mas deve ser tratado de forma igual (Artigo 2º nº4
do CP e Artigo 29º nº4 CRP).
• Tratar diferente o que é igual, mas deve ser tratado de forma diferente, isto
marcou as alterações legislativas quanto à questão do consumo de drogas.

Relação entre o Artigo 2º nº4 CP e o Artigo 29 nº4 CRP:

O criminoso não poderá sofrer uma pena maior do que aquela que lhe foi atribuída no
momento em que foi julgado pela sua conduta, isto significa que a lei reguladora a
aplicar terá de ser sempre a mais favorável ao arguido, uma vez que não é possível ir
contra a liberdade do indivíduo, como podemos ver no Artigo 29º nº4 CRP. Deste modo,
o mesmo encontra-se relacionado com o artigo 2º nº4 CP, uma vez que enunciam que
embora uma lei posterior detenha disposições diferentes da lei antiga, será sempre
aplicado regime mais favorável ao criminoso, até se já tiver transitado em julgado, neste
caso a condenação cessa assim que este tiver cumprido o tempo máximo da pena que se
encontre na lei posterior.
Não faria sentido o transitado em julgado não beneficiar do regime favorável e o
não transitado em julgado beneficiar, isto quebraria o princípio da igualdade.

LA------------------------------------------------LN

(será aplicada aquela que for a favor do arguido)

Exemplo: Uma mulher abortou em janeiro de 2001, esta foi presa, mas saiu uma lei
posterior, em março do mesmo ano, que enunciava que o aborto não era mais
considerado crime, então esta é libertada.
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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

5. Princípio da universalidade do direito penal (Artigo 29º nº2):

De acordo com o Artigo 29º nº2, não se pode esquecer a existência de um direito penal
metapositivo que integra o ius cogens. Embora um determinado elemento objetivo não
seja considerado crime dentro do estado, caso o mesmo tiver assinado e ratificado uma
convenção que integre um princípio geral internacional que assim o considere, então
terá de o respeitar e julgar o agente da conduta criminal que deverá ser punida
independentemente do tempo e do espaço, uma vez que não pode ficar sem jurisdição
penal.

6. Princípio da legalidade material (Artigo 29º nº2):

A legalidade tem na sua essência a igualdade e por este motivo o Artigo 13º e o Artigo
29º CRP devem ser analisados juntos, no entanto também poderá ser associado o
Artigo 18, o qual se refere à força jurídica, que por sua vez será aplicada, antes de a lei
estar feita, em todo o processo legislativo. Isto significa que, no momento gradual da
feitura da lei esta terá de respeitar os princípios constitucionais que se destinem aos
direitos do ser humano. - Este imperativo de normas percetivas vincula-se a todos
diretamente, tanto aos cidadãos que as devem respeitar como ao Estado que as devem
proteger e assim que estiver a ser postar em causa, devem agir rapidamente.

No que diz respeito ao Artigo 18 nº2, este refere-se ao princípio da proibição do


excesso, na medida em que consagra que a restrição de direitos deve estar prevista na
constituição, como podemos ver no Artigo 27º nº2, que consiste na regra geral de
privação de liberdade e no nº 3 que são as exceções ao nº2. No entanto, o princípio da
reserva constitucional enuncia que o facto de a restrição dos direitos ter de estar prevista
na constituição, acaba por não integrar os direitos e as respetivas restrições que ocupam
uma posição material e não formal, como no caso daqueles que se encontram escritos.
Por outro lado, o Artigo 18º nº3 estabelece um limite essencial às restrições das
liberdades fundamentais.

O princípio da proibição de excesso ou da proporcionalidade em latu sensu apresenta


três
corolários:

• Princípio da adequação: a pena tem de ser adequada à conduta do criminoso.


• Princípio da necessidade/exigibilidade/indispensabilidade: o direito penal é
necessário porque os outros tipos de direito preventivos não funcionam na
prevenção de certas condutas (subsidiariedade e consequência deste princípio).
O direito penal é o último a ser aplicado, então quando este é invocado significa
que a pena é indispensável a determinadas condutas.
• Princípio da razoabilidade/proporcionalidade (stricto sensu): a pena poderá
ser ponderada de modo a perceber se a mesma poderá ser flexibilizada/ o juiz
não pode dar penas superiores ao que se encontra no Artigo 152º C.P.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Isto mostra que o agente do crime deve ser protegido, senão este será visto como uma
não-pessoa o que não é verdade, este mesmo quando está preso a sua liberdade não
completamente suspensa, uma vez que este por ir, por exemplo, até ao recreio. Se lhe
fosse imposta a restrição máxima da sua liberdade, seria violado o Artigo 18º nº3 CRP.
Artigo 19º CRP – estado de sítio (autoridades administrativas) e de emergência
(forças armadas):

No momento em que se declara estado de sítio e estado de emergência, não é imposta


uma suspensão do direito, mas sim uma suspensão do exercício dos direitos. Assim, as
pessoas continuam a possuir os seus direitos simplesmente não os podem exercer por
um período de tempo, não por estar em estado de sítio ou de emergência os bens
jurídicos continuam a ser convertidos em tutela penal, como o direito à vida, este não
admite qualquer restrição porque a sua restrição gera a morte e isso vai contra os
princípios da CRP, ou seja, determinados direitos não foram restringidos e devem ser
respeitados (Artigo 19º nº6). No entanto, os direitos não são completamente
restringidos, por exemplo, no momento de pandemia que se atravessa, se a liberdade
fosse completamente restringida não seria possível exercer a medicina, e por outro lado
o agente do crime se não tivesse liberdade também não poderia aceder à saúde, à qual
ele tem direito mesmo estando preso.

Artigos:

• Crimes que envolvem saúde pública - 64º CRP


• Crimes que envolvem propriedade privada - 62º CRP
• Crimes que envolvem o ambiente - 66º
• Crimes que envolvam atividades culturais: direitos de autor, propriedade
intelectual
• Crimes que envolvem o abandono da criança pelo pai - 138º CP

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Direito Penal do Inimigo e o Terrorismo:

O pilar central do Direito Penal é o estado de direito democrático, o que significa que
age em conformidade com os mesmos sem os violar.
Em primeiro lugar, a constituição dogmática do direito penal é aquela que foi construída
no pós-revolução Francesa, sendo este direito penal caracterizado como moderno com
200 anos. Este apareceu com o intuito de limitar o poder do estado, neste caso o poder
na linha constitucional, tutelando os interesses da sociedade que a ordem jurídica
converte em bens jurídicos, que caso sejam violados necessitam de tutela penal e, deste
modo, proporciona-se a paz jurídica e mantém-se salvaguardados os direitos
fundamentais da pessoa. No entanto, não podemos dizer que antes não existia direito
penal, uma vez que não estava era sistematizado, ou seja estava enquadrado de um
modo material ao invés de formal, o que no século 19 se modificou com a consolidação
da constituição de 1822. Por exemplo, nos impérios ou até mesmo na bíblia o direito
penal estava presente.

O que esta em causa no direito penal moderno e o que se mantém hoje?

Os aspetos que se mantém hoje é o objetivo de manter a paz jurídica e a paz social, uma
vez que é uma das grandes funções do direito penal, e isto consegue-se através da
função de equilíbrio, por um lado, tutelar os bens jurídicos com o intuito de proteger a
pessoa lesada e por outro lado proteger o agente do crime contra a força punitiva do
estado, uma vez que a função do estado é cuidar dos cidadãos, quer sejam agentes de
crimes ou não, isto mostra que mesmo que uma pessoa vá presa os seus direitos
constitucionais mantém-se como podemos ver no Artigo 30º nº5. Isto mostra ainda que,
a tutela do bem jurídico é iminente à proteção do mesmo, como também à proteção do
agente do crime perante o poder do estado como à reintegração do mesmo na sociedade,
de acordo com o Artigo 40º nº1 CP, o que prova que a finalidade da pena e do penal
prende-se á tutela dos bens jurídicos e não ao bem jurídico em si.

No entanto, este equilíbrio do Direito Penal, que acolhe o princípio humanista, o qual
enuncia que mesmo que a reação penal incida sobre um ser humano, este deve ser
tratado como tal, colide com os valores das novas tendências penalistas como aquela
que defende que a pessoa delinquente deve ser expulsa da sociedade, sendo ainda mais
julgado se cometer crimes “hediondos” ou um delito que provoque uma paneonomia
generalizada na sociedade (técnica jurídica de alteração de normas através do medo e do
terror, para alterar a legislação que legitima a ter o direito do meu lado), com intuito de
se proteger.

Crimes hediondos: terrorismo, trafico de droga, pessoas, corrupção, crimes de


favorecimento pessoal na política- desafios aos quais o D.P não consegue responder-
Tratado UE.

Nota- críticas a alguns filósofos:

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

• A ideia positivista de Kelson não e correta, uma vez que a sua teoria tenta
afirmar-se primeiro como defensora do princípio da separação dos poderes.
• Luigi Ferrarioli defende a legalidade estrita e esta pode ser aplicada em estados
autoritários e totalitários.
3 momentos da esquizofrenia e paneonomia (técnica jurídica de alteração de normas
através do medo e do terror, para alterar a legislação (aumentar
penas/neocriminalizar/aumento da censura) que me legitima a ter o direito do meu
lado):

Beccaria enuncia que só com a ameaça é que o povo se porta bem e este não aceita que
as coisas sejam assim, uma vez que qualquer ato de autoridade de um homem para com
outro homem é tirânico. De facto, os homens uniram-se com a intuição de gozar de
segurança e tranquilidade, e em troca cederiam uma parte da sua liberdade, no entanto
não é o que está a acontecer porque “dão-nos a sensação que nos e que temos o poder,
mas na verdade não e nos acabamos por não saber quem é que tem o poder” - polizar
(centralizar) o medo/medo esquizofrénico.

1. Hipercrimininalização:

• Deste modo, vivemos hoje a hipertrofia legislativa do Direito Penal, isto é um


fenómeno ocasionado pela ineficiente atuação estatal no combate ao crescente
aumento da criminalidade. Com efeito, verificada a ocorrência de fato de
relevante repercussão social, passa a mídia a realizar constante pressão,
potencializando a insatisfação do povo, o Estado, por sua vez, em resposta às
reclamações da sociedade, por imediatas e enérgicas soluções, recorre à
intervenção penal como alternativa mais rápida e barata ao aparente combate a
todos os tipos de conflitos sociais – leva à vulgarização do direito penal. No
entanto este ramo de direito deve ser “ultima et extrema ratio”, com o intuito de
solucionar todo e qualquer problema lesiva de bens jurídicos.
Isto revela que existem diversas matérias que não deviam ser consideradas
crimes, uma vez que não tem bem jurídico, como é o caso da criminalização da
atividade do exercício de segurança privada, que revela a fraqueza do direito
administrativo preventivo e sancionatório que estava impregnado na RJSP.

2. Neocriminalização:

• Existem condutas que já estão previstas noutros sistemas jurídicos como o das
contraordenações e criminalizam-nas sem fazerem um estudo adequado para
saber o porque de o sistema contraordenacional não ter funcionado e por esse
motivo, essas matérias passam para o âmbito penal. Isto significa que as
condutas já se encontravam proibidas, no entanto encontravam-se noutro âmbito.

Exemplo: A matéria que diz respeito aos crimes contra animais, cujos artigos são
o 387º e seguintes, já estava prevista num sistema jurídico contraordenacional,
no entanto passou a enquadrar o âmbito penal, o que mostra que não houve
cuidado logístico.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

3.

O terceiro movimento traduz-se no aumento da censura ético-jurídica através do


aumento das penas, da prisão ou da alteração dos pressupostos da criminalização das
penas.
Exemplo:

• No que diz respeito ao bem jurídico, integridade física, esta já tem uma norma
para a sua regulação que é o artigo 143º C.P, no entanto se for num âmbito de
violência doméstica, esta conduta será criminalizada através do artigo 152º C.P o
que acaba por retirar força jurídica ao bem jurídico, uma vez que são o mesmo
crime, embora diferentes, deveriam estar ao abrigo de uma mesma lei e não cada
uma com a sua penalização. Além do mais, não é por o agente do crime ser
diferente que a lei tem de mudar, esta tem de punir mediante a conduta e não
mediante a qualidade do agente. - A pena varia de acordo o agente o que não
está correto. (Artigo 143º CP: 3anos – Artigo 152º C.P: 5 anos).

• O carjacking já se encontra previsto no artigo 210º C.P, se fosse feita uma lei em
específico para este roubo seria perigoso, uma vez que por em causa o princípio
da segurança jurídica, em que os tribunais depois não iriam conseguir aplicar a
norma concreta. Assim, não vão criar uma norma para condutas que já estão
criminalizadas, promovendo então, ao povo, segurança cognitiva que depois não
tem uma relevância concreta jurídica. (vai contra a lógica Beccaria).

Na verdade, nunca poderão aumentar as penas de uma forma excessiva, sendo que isso
viola o princípio da proporcionalidade, ou seja, o estado não pode ultrapassar os limites.
O objetivo é das penas são:
• Os criminosos cederem uma parte da sua liberdade
• Os estados reeducam-nos para que possam ser reinseridos na sociedade.

De facto, esta lógica de máxima criminalização - “et extrema ratio” do direito penal –
como solução para os problemas da sociedade e para travar a paneonomia generalizada,
face aos crimes de terrorismo e aos crimes conexos com a tipologia de crimes de
organização terrorista (Artigo 83º UE), cede não só ao princípio da “prima sola et única
ratio” do direito penal, assim como se começa a retirar o espaço do agente do crime,
acabando este por ser tratado como uma não pessoa. Isto significa que, se o agente do
crime não se comportar dentro do quadro jurídico estipulado naquela sociedade,
significa que quebrou o contrato social causando a desarmonia na comunidade, por este
motivo não deve ser mais tratado como cidadão e sim como inimigo, e para que seja
estabelecida a paz novamente, o estado terá de combater este indivíduo.
Por outro lado, se o indivíduo não se rege pelas leis da natureza, mas sim por outra regra
senão a da razão e a da equidade, então o mesmo se torna uma criatura nociva para o
género humano, deste modo terá de ser posto fora da sociedade para não causar medo e
assim estabelecer a segurança de todos os cidadãos.

“as ofensas que podem ser cometidas no estado de natureza podem ser também punidas
no estado de natureza com um castigo igual e tão severo como no seio de uma
comunidade política.”

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

A comunidade que não acredita no Direito Penal comum, considera que deveriam ser
criados paradigmas de direito penal excecionais para combater os indivíduos que
praticam a tipologia de crimes referida, uma vez que consideram que o direito penal não
previne e não os consegue responsabilizar perante as suas condutas, o que acaba por não
transmitir segurança, quer seja cognitiva assim como real, aos cidadãos. Deste modo,
pretendem que os delinquentes passem a ser não pessoas. Em contraposição, defende-se
que por um lado, não existem sistemas perfeitos e que por outro lado, se o estado fizesse
uma transposição do paradigma garantista para o paradigma do inimigo, então o mesmo
estaria a sobrecarregar os seus cidadãos, o que vai contra os princípios da
proporcionalidade, o artigo 18º nº2 e nº3, da igualdade, etc… Os cidadãos não têm
escrito na testa que são criminosos, e mais tarde ou mais cedo esta coisificação do ser
humano iria acabar por recair sobre todos, principalmente sobre aqueles que a
defendem.

Nota: Consideravam que o direito penal não conseguia responder a todos os crimes o
que não é verdade, o que acontece e que antigamente tinha-se a perceção da
criminalidade, nos dias hoje existe uma maior perceção da descoberta de crimes.

Teorias sobre o desenvolvimento da delinquência:

• Cesare Lombroso: Defende que o ser humano, tendo em conta as suas


características física, psíquicas, genéticas e raciais nasce propenso para o crime,
ou seja, há pessoas já nascem destinadas a serem criminosas e a representarem
um perigo para a sociedade.
No entanto, o mesmo só estudou os que estavam presos e não os que estavam em
liberdade, quando fazemos um estudo científico que já sabemos a conclusão,
logicamente que será falhada, este estudo deve incluir outras ciências.
A teoria de Cesare Lombroso, que foi desenvolvida por Garófalo e por Ferri, que
se afirma como uma teoria que se centra no autor do crime, ao invés da conduta
negativa do crime, ou seja, o facto, serviu de fundamento doutrinário político da
exterminação da raça judaica. - Centra-se no autor.

• Garófalo: Defende que a hereditariedade é o fator principal para uma pessoa se


tornar criminosa no futuro.
No entanto, a sua lógica apresenta algumas falhas uma vez que este considera
que o problema esta no agente e não no facto, ninguém e criminoso só porque
uma determinada situação aconteceu, muitas das vezes somos agentes de um
crime sem querermos, ou seja, não tivemos bem inteligência para não lesar
aquele bem jurídico. - Centra-se no autor.

• Ferri: Defende que dos fatores individuais, físicos e sociais nasce o criminoso.
Fator social: o tipo de meio que o indivíduo frequentar irá formar o tipo de
pessoa que ele é. - Centra-se no autor.

• Zaffaroni: Este ensina que o direito penal-socialista combate o antissemitismo,


que a par com o anticomunismo, lutava contra a nação alemã, uma vez que a

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

mesma considerava que o judeu, o cigano, ou o homossexual eram o inimigo da


sociedade, os quais tinham de ser aniquilados.
• Gunther Jakobs: Para este o inimigo da sociedade é o terrorista, o traficante de
droga, o traficante de armas e de seres humanos, os membros de organizações de
crime organizado transnacional, sendo estes delinquentes de elevada
perigosidade para a comunidade, e como tal, deve submeter-se à construção
jurídico-criminal de inimigo.

Direito Penal do Inimigo Direito Penal Garantista

→ Foca-se no autor e não na conduta → Foca-se na conduta e não no autor


→ Não protege o agente do crime → Reeduca o agente do crime
→ Este é o sistema que deve estar
inserido na sociedade, sendo que não
mete em questão o Estado de Direito
social democrático.

Evolução histórica do Direito Penal do inimigo ou Direito Penal bélico:

O direito penal bélico sempre esteve presente ao longo da história da humanidade, a


verdade é que esta teoria que considera o agente do crime como uma não-pessoa e que
deve ser tratado como um cancro para a sociedade, foca-se no “ser”, enquanto que o
direito penal garantista defende que o cidadão criminoso deve ser tratado de modo igual
sem ferir a sua dignidade humana, efetivamente este paradigma foca-se no “dever ser”.

Ser:
 Consideram que o comportamento do cidadão tem de ser apenas um, se este
enveredar por uma conduta negativa deixa de ser cidadão, ou seja, apresenta
consequências maiores para quem não respeitar o quadro jurídico legal. 
direito penal do inimigo

Dever ser:
 Consideram que o comportamento do cidadão é algo subjetivo, não podemos
controlar o comportamento de todos, deste modo, quem não respeitar o quadro
jurídico legal será punido, mas não deixa de ser tratado com dignidade – Deveria
ser, mas não é, então vamos aplicar uma consequência”.  direito penal
garantista

De acordo com este paradigma do direito penal do inimigo, a pressão da imprensa faz
com que o legislador integre no “dever ser” o que deveria estar no “ser”, isto é, no
paradigma garantista o “ser” corresponde à norma que deve refletir o ser na sociedade,
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enquanto que para o sistema bélico, o “ser” refere-se à cor, nacionalidade, entre outros
que a pessoa apresenta (judeu, cigano, branco, preto, islâmico).
Jescheck e weigend:

Direito Penal de facto:

 A punibilidade deve-se à reprovação da sua conduta humana, ou seja, de factos


singulares e não pela natureza do agente do crime.

Direito penal do autor:


 Culpam o próprio autor por ter escolhido aquele caminho, ou seja, culpam a
personalidade e não o facto em si.
 O agente do crime poderá voltar a ter a mesma conduta então deve ser posto fora
da sociedade.

Roxin:

O princípio “não há crime nem pena sem lei prévia” (Artigo 165º CRP) não é
respeitado no campo do Direito penal do Autor.

Determinam os elementos crimógeneos permanentes na pessoa do autor.

Este princípio não está em conformidade com o artigo 29º nº2.

O objetivo do DP é intervir no facto passado, para que se siga para um futuro de não
delinquência do agente do crime.

Figueiredo Dias:

Não concorda com o direito penal do inimigo porque:


 Pode descambar num “direito penal sobre o agente”.
 Ignora a conceção de “pessoa” que o estado de direito consagra.

Wezel – Figueiredo Dias não concorda com a sua teoria:

Wezel considera que só pode participar na vida externo-social quem possui ”liberdade1 e
autonomia inter-pessoal” ou “liberdade moral interior”.

1
Mete de parte os doentes mentais e as pessoas que não têm a norma a seu favor (delinquentes).
13
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Figueiredo não concorda com esta teoria uma vez que o DP não supria a liberdade em
função do ato ilícito praticado pelo inimputável, mas sim por possuir uma doença ou
pela incapacidade de se deixar motivar pelas normas.

O DP do inimigo, que extermina todos aqueles ligados a condutas de terrorismo ganham


espaço nos ordenamentos jurídicos que apenas tutelam os bens jurídicos e não a
liberdade das pessoas. Estes ordenamentos consideram que o mais importante é a
segurança e ordem social (assenta na ideia lockeana).

Paneonomia do cidadão perigoso (obsessão pela segurança coletiva)

Esquizofrenia legislativa

Tiverem de tutelar tudo e ao


máximo, mas depois não tutelam
nada.

Hans Frank:

“Tudo que serve o povo é direito, tudo o que o prejudica é ilícito”  Fundamento para
o positivismo defensivo da segurança face à perigosidade do ser humano.

Filippo Grispigni:

Função de direito penal é controlar o perigo. (penas e medidas de segurança).

Mussolini:
“Nada contra o estado, nada fora do estado, tudo dentro do estado”

O fenómeno do terrorismo no âmbito criminal, promoveu a redução da aplicabilidade


imediata dos direitos, liberdades e garantias devido à indeterminabilidade e ilegibilidade
das vítimas inocentes – Agem sem fundamento para incriminar alguém.
Nota: A obsessão de manter a segurança social faz com que o estado queira tutelar tudo,
fazendo com que ate pessoas inocentes sejam consideradas culpadas.
Exemplos de redução de Direitos, Liberdades e Garantias:
 Buscas domiciliarias por parte dos policias sem previa autorização.
 Utilização de notícias e conversas pessoais para extorsão de informações
criminais.

14
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Direito penal do terrorismo (preventivo) ≠ Direito penal do inimigo

Considerar o agente do crime uma não pessoa Despersonalização do cidadão

Priorização da segurança social

“Holocausto” Despersonalização da sociedade

Autocoisificar o ser humano

Corneluis Prittwitz e Gérman Aller:

O direito penal do inimigo implica a defesa do autoritarismo penal, uma política


criminal do inimigo e a militarização da sociedade, o que tem de ser convertido através
da criação de novas alternativas de reação e intervenção penal.
A função do direito penal é por um lado reeducar o agente do crime e, por outro lado
suavizar o poder do estado, no entanto neste âmbito pretende suprimir os direitos,
liberdades e garantias fundamentais, penais, materiais e processuais do ser humano.
Deste modo, o delinquente passa a ser visto como um inimigo para a sociedade, que
deve ser aniquilado pelo estado, em função de garantir não só a identidade da sociedade
como a sua segurança. Impõe-se que, como o indivíduo se encontra no estado natureza e
não no estado legal, seja tratado como não-pessoa e despido de direitos, liberdades e
garantias como as pessoas que se comportam como membros da comunidade.

Definições:

 Individuo → Reduzido a número e despido de dimensão ético-jurídica


(despersonalização).

 Cidadão → Inserido numa dimensão societário e de um valor político social


atribuído a cada ser.
 Ser humano → Pessoa dotada de direitos de igualdade em dignidade e de
dignidade em igualdade.

No entanto, embora o estado possa dispor sentenças, nas quais o agente do crime é
obrigado a comparecer, nunca se deve esquecer da existência dos direitos fundamentais,
que por sua vez são para todos os cidadãos incluindo os criminosos. Isto significa que, o
processo penal e penitenciário não pretende apenas julgar o cidadão que cometeu o
crime, mas sim fazer com que este possa voltar a ser inserido na sociedade, de modo a
que os seus direitos sejam respeitados. Assim, o intuito do direito penal recai na

15
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

racionalização das situações, não se trata de uma vingança perante o cidadão, mas sim
de uma função pedagógica.

Exemplo: não é aplicada a pena perpétua porque não teria qualquer vantagem, apenas
originaria complicações sociais e seria prejudicial para a economia do estado.

Influências para a construção do direito penal:

 O delinquente na teoria penal de Protágoras:

Segundo Protágoras, o agente do crime não deve ser excluído da sociedade sem lhe
darem a oportunidade de este poder seguir o caminho da justiça e da moral, caso este
envereda-se por este caminho o seu castigo seria num âmbito pedagógico, para que
pudesse aprender os valores essenciais para viver em comunidade. Por outro lado, caso
o mesmo não pretender acolher os valores ou tenha sido condenado e volte a meter a
vivência comunitária em causa, então a sua sanção deixaria de ter uma natureza
pedagógica, mas sim de inocuização (enclausurado).

 O sofista de António de Jâmbico:

Os seres não conseguem viver isolados, então para que estes possam viver em reunião
civilizadamente submetem-se a um estado de legalidade, ou seja à lei e à justiça.
Efetivamente, quem quiser viver num estado de ilegalidade, que gera medo aos restantes
membros da sociedade, passa a ser um inimigo e o estado tendo de garantir a paz social
tem de eliminar o medo, com qualquer instrumento que esteja à disposição. Assim, este
considera que quem não se envolver com a legalidade vigente não é membro da
comunidade e deixa de ser cidadão dotado de direitos e deveres próprios. É um inimigo
do estado e deve ser combatido.

De facto, esta é uma visão dura para o lado do agente do crime, basicamente o estado
não o protege, mas, fica contra o mesmo não lhe concedendo qualquer tipo de proteção,
ou seja, o estado combate o cidadão teorizando-o como um inimigo - (contexto que não
foge da realidade atual). Em contraposição, a nível processual e penitenciário o
criminoso é visto como um humano e caso seja possível recorre-se à humanização da
pena, tendo como intuito protege-lo. No entanto, por vezes pensa-se que o garantista
não quer que o culpado seja punido, mas não é verdade, uma vez que este defende que o
culpado tem de ser punido, mas não tem de ser somente punido, não é vingança e
educação, pois existem direitos fundamentais.

 O delinquente em S. Tomás de Aquino:

Este defende uma tipização das condutas, ou seja, são introduzidos vários níveis de
gravidade nos atos negativos, o que nos dias de hoje seria banal uma vez que, existe um
código penal material. Por outro lado, este estabelece uma ligação entre vários conceitos
como o:
16
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

• Pecado: Seria lícito matar quem comete-se pecados, uma vez que os indivíduos
pecadores poderiam exterminar a comunidade, então estes mereciam ter penas
máximas ou ser mortos, no entanto este poder apenas compete aos governantes,
que tem autoridade pública e não às pessoas particulares.

• Arrependimento: É importante retirar o mal e para reconciliar – Reconciliação –


Com a sociedade, sendo esta uma das maiores virtudes própria dos homens
virtuosos.

S. Tomas de Aquino considera que o facto de este ter uma conduta negativa, que por
sua vez o levará a uma pena de prisão, já tem como efeito uma condenação moral. De
facto, os códigos e processos penais, apresentam conceitos morais, se o agente do crime
se arrepende do crime que cometeu, então este merece que a sua pena seja atenuada e
que merece também voltar a ter contacto com a sociedade.

 A teoria do inimigo na filosofia penal moderna:

O sistema penal na era moderna considera que a lei tem de ser provida de eficácia, não
se importando que o delinquente que vai ser punido é uma pessoa com direito,
liberdades e garantias fundamentais. Esta defende que o delinquente é visto como o
inimigo e se o mesmo não é capaz de se reger pelo direito então deve ser expulso da
sociedade, sendo lhe retirado o seu estatuto jurídico político de cidadão. A prioridade do
estado é a segurança publica e a coesão social, no entanto para priorizar essa coesão é
necessário combater o inimigo, deste modo os seus interesses não devem ser
defendidos, se o mesmo quis enveredar por uma conduta negativa, então merece ser
tratado de maneira diferente.
Miguel Polaino - Orts considera que as normas penais materiais e processuais do direito
penal do inimigo foram aprovadas nos estados constitucionais sociais e democráticos,
uma vez que apresentam uma fraqueza da tutela de bens jurídicos pelo direito penal do
cidadão e a necessidade de uma efetiva tutela e de uma efetiva segurança cognitiva
normativa da sociedade.

Axioma:

Coerência da lei ------------------------------------ Eficácia da lei Elementos do sistema


penal integral

O contrato social:

A teoria do contrato social de Rosseau está ligada ao direito penal do inimigo, uma vez
que este considera que o indivíduo ao cometer delitos graves e meter o pacto social em
causa é um inimigo, e sendo assim este não detém condição de pessoa moral ou de
cidadão. Segundo Rosseau, o homem deixa o seu estado de natureza para entrar num
estado social, no qual deixará de se reger pelo instinto, mas sim pela razão, através da
qual tomará as suas decisões, para posteriormente se assumir como cidadão.
Quando um indivíduo mete em causa a sobrevivência do estado então este deve ser
eliminado, podendo este ser exilado para ilhas, morto, etc…
17
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

O delinquente como coisa: a teoria de Johann Fichte:

Segundo esta teoria, aquele que violar o contrato social, quer seja intencionalmente ou
por negligência, perde todos os seus direitos como cidadão e como pessoa, devendo este
ser tratado como coisa. Equipara-se o autor de homicídio a um inimigo, que perde os
direitos como ser humano e cidadão, no entanto não lhe é aplicada a pena de morte, mas
sim uma medida de segurança por meio da morte do criminoso, que passou a ser um
animal que deve ser abatido – exclusão do estado (jurídico-física e técnica). A medida
de segurança é declarada pelo estado e não pela lei, sendo que a morte não deve ser
anunciada pela lei, estando esta sob o domínio da polícia. As razões que levam a morte
do homicida devem-se ao facto de ser necessário corrigir o que estava mal na sociedade,
e por outro lado conceder-lhe prisão perpétua seria prejudicial para o estado. A partir do
momento em que o indivíduo não respeita os direitos dos demais cidadãos e o contrato
social, então este e o estado não tem mais nada a ver um com o outro, ou seja,
inexistência de uma relação jurídica.
Por outro lado, considera que aquele que tiver uma conduta negativa, mas que não meta
em causa a pena humana não deve ser excluído da sociedade, sendo este sancionado de
modo a salvaguardar a segurança pública, mas não lhe são retirados todos os seus
direitos. Deste modo, todo o cidadão que praticam crimes que não negam totalmente o
contrato social deve ter a oportunidade de ser reintegrado na sociedade por meio de um
contrato de expiação, sendo que aqui temos uma obrigação do estado para com o agente
do crime.
No que concerne aos crimes praticados contra o estado, o agente do crime terá de ser
excluído, mas admite que se deve dar uma oportunidade celebrando-se um novo
contrato de expiação (contrato de regeneração política) como pena substitutiva da pena
de exclusão. Deste modo, o estado deve respeitar este cidadão e acreditar na sua
regeneração para que possa fazer parte da sociedade novamente.

O cidadão e o inimigo em Thomas Hobbes:

Thomas Hobbes considera que o inimigo é aquele se encontra num estado de natureza,
sendo estes os que proporcionam perigo e ameaçam a existência da vida humana e a
segurança cognitiva. Deste modo, este reintroduz no pensamento político uma separação
entre o:

• Estado de natureza: O indivíduo não aceita o poder soberano comum então


deve ser castigado.
• Estado de legalidade: Os cidadãos têm direitos, respeitam o estado e vice-versa.

Efetivamente, a conceção de igualdade natural e um estado sem qualquer disposição


comum a todos os homens seria um estado de guerra, uma vez que cada um
egoisticamente iria tentar alcançar aquilo que acham que é essencial para eles para que
pudessem assegurar o seu poder, e para isso seriam capazes de tirar a vida uns aos
outros, proporcionando assim, insegurança e medo na comunidade.
O estado de natureza permanente não garante a segurança pública, deste modo os
homens têm de sair deste estado e podem no fazer através da paixão ou da razão. O
primeiro não concede realmente segurança, uma vez que uma pessoa acaba por sentir
“poder” em outra, o que acaba por transmitir medo, insegurança e desconfiança. Por
18
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

outro lado, a razão, sendo esta conhecida como um caminho mais viável à saída deste
estado de natureza, o homem cria regras que proporcionam a paz, de modo a
construírem uma sociedade que é governada pelo estado. Este estado emerge pelo poder
que todos os homens sentem que acaba por gerar guerras, e por outro lado o medo
recíproco entre os homens. Os homens encontram-se assim, submetidos às leis, criadas
pelos mesmos sendo representados por assembleias, que por sua vez estão acima das
leis naturais, no entanto isto não significa que exista concordância, mas sim que os
homens cedem uma parte da sua liberdade para o estado os possa proteger.
Deste modo, o homem que infringir a lei e que não transmita uma segurança futura, ou
seja condições de que vai cumprir a lei civil então a este deverá ser aplicado o direito
penal do inimigo, uma vez que estes voltam novamente ao estado de guerra e quebram o
pacto social, ao contrário do infrator que admitir condições de garantir segurança então
deverá ser aplicado o direito penal do cidadão, estando o poder do estado limitados
pelas leis positivas.
Acrescente-se que nesta teoria o inocente também pode ser punido e isso vai contra a lei
da natureza que se transformou em civil, por outro lado Hobbes também não inclui a
diminuição de garantias processuais para os inimigos, sendo esta uma consequência
necessária ao Direito penal do inimigo.

O estado natural e o estado legal - Immanuel Kant e John Locke:

Immanuel Kant considera que o inimigo é uma ameaça à ordem jurídica instituída, à
segurança jurídica, física e cognitiva. Para este existem dois estados, o estado de
natureza (status naturalis), no qual os homens vivem em estado de guerra, e por outro
lado o estado paz. O estado de paz a ameaça é afastado e os homens conseguem
relacionar-se uns com os outros.
Os membros do estado legal devem respeitar os outros membros, e caso infrinjam as
normas poderão ser obrigados a ser reintegrados no estado social-legal ou então a serem
afastados por terem abandonado os padrões do estado legal. Deste modo, Kant
considera que o inimigo é aquele se encontra em estado de natureza ou mesmo que se
encontre em estado legal, esteja afastado dos comportamentos que consolidam a paz.
No que concerne à pena de morte, Kant não concorda que seja atribuída essa sanção aos
criminosos, uma vez que considera que a melhor solução seria a sua deportação.

Nota: Se estivéssemos em estado de natureza o homicídio nem sequer poderia ser


chamado de assassinato.

O estado legal implica a aplicação da lei sob uma igualdade formal e a ação do estado
sob o princípio da legalidade. Nesta linha de igualdade, Kant propõe a retribuição ética
da ofensa ao bem jurídico lesado, ao contrário de Hegel, que propõe a retribuição
material da ofensa ao bem jurídico lesado.

Relativamente a John Locke, este considera que o homem mesmo estando no estado de
natureza não tem poder para aniquilar outro homem, apenas o podendo fazer em caso de
homicídio, deste modo defende que o agente do crime pode ser destruído, e que as
ofensas cometidas no estado de natureza podem ser punidas no estado de natureza com

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

castigo igual ou pior do que no seio da comunidade política. Se este é um ser nocivo,
então deve estar sujeito a liberdade de decisão de outro ser, ou seja, um juiz, que pode
fazer o que quiser com os seus súbditos. A liberdade do estado de natureza não é total,
mas não se encontra delimitada como no estado legal em que a autoridade legislativa
aplica aos que não são inimigos da sociedade política organizada.

Direito penal do cidadão:

Direito penal opressivo objetivo Acabar com os delitos e manter


ordem e segurança social através
do pacto social.

Colaupsou

Com a obra de Beccaria (1764)


 Considera que os homens cederam
parte da sua liberdade para que o
Estado cuidasse deles, no entanto, é
exercida uma força maior perante
estes, ou seja, as penas excessivas
devem-se aos interesses
particulares, o que acaba por ser
injusto.
Direito = Força

Beccaria considera que deve ser respeitada a personalidade e a dignidade da pessoa


humana, nunca a podendo tratar como uma coisa (arbítrio e despotismo).

Dellitti:
 A legalidade é a fonte legitima limitadora do ius puniendi (poder do estado).
 Trazem valores fundamentais para o DP  A legalidade assenta na igualdade
penal e nas garantias do direito penal, material, processual e penitenciário.
 Garantia da limitação do poder do estado (ius puniendi).

20
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Novo olhar face ao agente do crime, este como ser humano dotado de responsabilidade,
deve responsabilizar-se pela lesão que provocou ao bem jurídico, no entanto deve se
julgado como cidadão dotado de direito.
O DP passa a obedecer aos princípios da legalidade, sendo este igual para todos os
cidadãos. Esta liberdade leva a um direito penal garantista, que respeita a tortura e as
penas cruéis.

Faria costa:
O DP garantista e humanista assenta na liberdade e de que deve intervir em último
extremo ratio. Segundo Faria Costa, apenas o DP consegue combater crimes, no
entanto, este não é a ferramenta mais importante. Este é um ramo de direito subsidiário
e fragmentado, sendo que em caso de conflito quem intervirá serão outros institutos,
caso estes não sejam eficazes, segue-se então para o DP que julgará o agente do crime
por ter lesado um bem jurídico, não por em si representar um perigo para a comunidade,
mas sim por ter provocado um dano na comunidade. Deste modo, este ser dotado de
direitos, terá de se responsabilizar, mas nunca poderá ser tratado como uma coisa.

Princípios que limitam o poder do detentor do ius puniendi (Estado):

 Princípio da legalidade constitucional penal;


 Princípio da previsão constitucional das restrições às liberdades pessoais;
 Princípio da consagração constitucional das garantias processuais penais dos
cidadãos;
 Princípio da humanidade das consequências jurídicas dos crimes (penas).

Garantismo penal:

Significa a existência do respeito pelas normas penais materiais e processuais, que dão
oportunidade ao inocente de demonstrar a sua inocência ou justificar o seu
comportamento, caso seja responsável pelo facto.

Direito penal  Direito da liberdade


Direito processual penal  Direito dos inocentes

Nota: O garantismo penal não pretende que os delinquentes não sejam punidos, mas sim
preservar os seus direitos e trata-lo como uma pessoa com dignidade.

Direito penal garantista:


 Leis claras;
 As visões legais têm de se submeter ao princípio da proporcionalidade
(proibição de excessos);
 Retribuição juridica e material;

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Interpretação e aplicação da lei tem de ceder ao princípio da proporcionalidade.


 Fim pretendido:
o Prevenção geral e positiva – Reafirmação da força juridica da norma
juridica afetada com a conduta negativa da pessoa.
o Prevenção geral negativa – Aplicação da pena.

o Prevenção especial positiva – Reintegração do cidadão na sociedade.

o Prevenção especial negativa – Ameaça de nova pena caso este volte a


cometer.

Neste direito penal garantista:


 Existência de garantias processuais e penais;
 Respeito pela liberdade do cidadão (decisão, pensamento e ação);
 Não aplique penas por meio da vingança;
 Reconhece-se a sua inocência ate transitado em julgado;
 Consagram a dignidade humana: é o limite e o fim da atuação penal do estado;
 Impõe aos estados que tratem os seres humanos, como detentores de direitos,
liberdades e garantias que têm de ser respeitados.
 Pretende a autorresponsabilização (garantia de que é dotado de direitos e que são
cidadãos) do facto criminoso e a sua futura reintegração na sociedade.

O direito penal do cidadão implica a criação de normas jurídico-criminais com base


nos princípios da subsidiariedade2, necessidade, indispensabilidade,
fragmentariedade3, proporcionalidade4, eficácia e última et extrema ratio.

Salvaguarda os direitos fundamentais dos cidadãos.

No DP do cidadão este deve responsabilizar-se pela sua conduta negativa e ser punido,
não pela própria pessoa em si (opção sexual, religiosa, etc… - quebra o princípio da
igualdade), mas sim pelo facto modelar negativo (O DP aplica-se de modo igualitário a
todos os cidadãos).

2
O DP só deve interferir quando a tutela conferida pelos outros ramos do ordenamento jurídico não for
suficientemente eficaz para manter os bens considerados fundamentais à existência do Estado ou da
sociedade. Deste modo, o DP intervém como última “ratio” no quadro do ordenamento jurídico.
3
O DP não deve intervir para precaver lesões a todos e quaisquer bens, mas só àqueles bens ditos
fundamentais, essenciais e necessários para o equilíbrio social.
4
O DP só deve intervir quando a sua tutela é necessária, útil e eficaz, ou seja, deve-se medir em termos de
proporções a necessidade que há de tutelar um bem fundamental.

22
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Direito Penal = Direito Penal do Cidadão

Pleonasmo
Crise do sistema penal do cidadão:

Consideram que o DP do cidadão não consegue fazer frente a crimes de terrorismo,


trafico de armas, de seres, órgãos humanos e drogas e crimes contra a autodeterminação
sexual. Por outro lado, biogenética, bioquímica, indústria farmacêutica, indústria
destruidora do meio ambiente proporcionam insegurança, são um perigo para a
comunidade e os estados não conseguem combater.

Crimes especializados: Criminalidade:


Económico financeiro
Bancárias Tradicional
cibernética

Com isto podemos ver um


 Gera uma maior … social; descrédito do DP, visto que este
 Promovida por organizações transnacionais não tem capacidade para lutar e
ou mesmo por estados; prevenir crimes de escala
 Dificulta a ação penal. mundial.

É necessário um DP do inimigo para combater este tipo de crimes que o DP não


consegue.

 Terrorismo:
o Há legislação penal que não prevê o crime de terrorismo nos moldes e
condições definidos pelas nações unidas.
o Se não invocarmos a “tipologia terrorismo” então serão integradas as
suas condutas negativas nos códigos penais, mas se a invocarmos então
temos de procurar prevenir e reprimir sem desfazer da qualidade do ser
humano do terrorismo.
o O terror, a insegurança permanente e o perigo de crimes de terrorismo,
não são suficientes para a mudança de paradigma de persecução penal
(não se pode mudar para uma ação penal mais eficaz e estabelecedora da
paz juridica.)

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Mudança de paradigma penal:


o Material – Aumento das penas, aumento da punibilidade dos atos
preparatórios e atos de execução e aumento dos tipos legais de perigo
abstrato.

o Processual – Diminuição das garantias processuais penais, aumento das


competências das policias criminais sem controlo e sem autorização das
autoridades judiciarias.

o Penitenciário – Transformar as penas em medidas de segurança que


privem a liberdade por tempo indeterminado.

Isto converte o cidadão “inimigo” a “não-pessoa”

Despersonalização do ser humano

Passa de condição humana para condição inimigo

Direito do autor

Nega a DUDH

Negar a condição pessoa/ser humano a alguém, mesmo que seja alguém que tenha
cometido crimes hediondos é negar o Direito.
Para promover a paz juridica e social são necessários os estados restringirem direitos,
liberdades e garantias fundamentais (artigo 18º - tem limites), principalmente às pessoas
que cometem crimes hediondos, no entanto esta restrição não deve ser feita como um
ato de vingança, mas sim com um ato de justiça.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 “mais do que usar a força é preciso usar da inteligência e nunca


abdicar dos princípios que distinguem os democratas dos
terroristas”
 “… novo equilíbrio entre as necessidades de segurança nacional
e as do respeito pelos direitos fundamentais”

Não pode ser esquecida a segurança nacional e não pode ser esquecido o respeito pelos
direitos fundamentais.

 Restrição ilimitada de direitos


como meio de afirmação da liberdade. Vai contra o sistema penal
 Sistema penal securitário. humanista/do ser humano/do
 Segurança é o valor imperial cidadão.
para a aquisição da liberdade.

 Tendência securitária (não suprime os direitos, apenas reduz o seu exercício):


o Tutela dos bens jurídicos com um aumento dos poderes materiais da
polícia:
 Plano não penal administrativo sancionatório.
 Processo penal – aumento dos atos de competência
própria/intervenção dos policiais sem autorização judicial

o Diminuição da intervenção direta da autoridade judicial na atividade


policial  deve ser validade a posteriori.

o Criminalização de pequenas e insignificantes infrações cuja competência


é da polícia.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Artigos:

 Artigo 8º nº1 e 2:
o O estado português inclui na sua ordem interna os princípios gerais
internacionais, nº1. Deste modo, a partir do momento em que estas
normas internacionais são aprovadas e ratificadas passam a produzir
efeitos dentro do ordenamento. Embora apenas se possam criminalizar
condutas com lei prévia, não exclui a possibilidade de estas serem
criminalizadas por normas internacionais, como podemos ver no artigo
29º nº1 e 2º - estamos perante uma legalidade material.

Uma conduta só poderá ser criminalizada por lei anterior, artigo 29º nº1 e
 Artigo 13º artigo 1º nº1. Por outro lado, caso saia uma lei posterior esta, se for mais
 Artigo 29º favorável, terá de ser aplicada a todos, não faria sentido aplicar uma lei a
 Artigo 18º uns e outro a outros, sendo que viola o princípio da igualdade (artigo 29º
 Artigo 27º nº4 e artigo 2º nº4).
 Artigo 1º Uma vez que estas leis são restritivas de direitos estas terão de ser
 Artigo 2º nº4 abstratas e gerais e não podem ter efeito retroativo (artigo 18º nº3).
Assim, para salvaguardar estes direitos (artigo 18º nº2) encontra-se
estipuladas as exceções ao direito da liberdade (artigo 27º nº2 e 3).

Princípio da legalidade penal  Determinabilidade e certeza  Caso não tenha 


Viola o princípio da igualdade

 Artigo 25º:
o Nº1 – Princípio da culpa.
o Nº2 – Proíbe penas cruéis, degradantes, desumanas e que a integridade
física das pessoas é inviolável.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Artigo 30º nº5:


o Protege o delinquente, mesmo que esteja preso mantem os seus direitos
fundamentais, salvo as limitações que a limitação imponha.

 Artigo 34º:
o Ninguém pode invadir propriedade/domicilio de outro individuo sem o
ser consentimento.

 Artigo 35º:
o Proibição de informação de dados sob origem étnica.

 Artigo 11º nº8 e 9:


o É transmissível a responsabilidade criminal.
o Nº8 – Fusão e cisão.
o Nº9 – A pessoa que lidera a entidade que é coordenada esta sujeita a
pagamento de multas:
 No período de exercício do seu cargo;
 Crimes praticados anteriormente, os quais levaram à sua
insuficiência;
 Crimes praticados anteriormente, quando as multas foram
notificadas no período do exercício do seu cargo.

 Artigo 30º:
o Proíbe as penas cruéis (humanização de penas).

 Artigo 32º:
o O agente do crime é inocente até transito em julgado.

 Artigo 27º:
o Consagra-se a liberdade (penitenciário)

Prender alguém arbitrariamente  Viola o princípio da legalidade

 Artigo 20º nº4:


o Princípio justa equitativo – Para que hajam processos justos e equitativos
é necessário que os tribunais sejam independentes (artigo 203º) e
imparciais.

Não podem aplicar normas que sejam inconstitucionais (artigo 204º)

27
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Artigo 165º:
o Não há crime nem pena sem lei escrita.
o A AR cria normas incriminatórias.

 Artigo 112º:
o As leis e os decretos-leis têm um valor igual, independentemente de ser a
AR ou o Governo.

 Artigo 198º:
o B) e C) – O Governo pode legislar em reserva relativa matérias em que a
AR também se encarrega (com autorização expressa da mesma).

 Artigo 280º:
o Só se recorre ao TC em última instância.
o Refere-se aos casos concretos, ou seja, aos casos em tribunal.

 Artigo 281º:
o É obrigatório recorrer ao TC.

 Artigo 282º:
o Os efeitos são para a fiscalização abstrata (artigo 281º) e não para a
concreta (artigo 280º).
o Se a norma que foi declarada inconstitucional estiver a violar os
interesses públicos/segurança juridica vai ser posto de fora.

 Artigo 288º:
o Limites que terão de respeitar e nunca poderá ser modificado.

Esquema:

 Artigo 1º:
o Pilares do Estado:
 Dignidade da pessoa humana (artigo 33º e artigo 26º)
 Vontade popular:
 Autoconfirmação
 Autodeterminação
 Autoconfirmação

 Artigo 2:
o A república funda-se no estado de direito democrático:
 Soberania popular
 Manter instituições democráticas

28
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Assegurar direitos e liberdades fundamentais (artigo 3º nº 2 – O


estado subordina-se à constituição e ao princípio da legalidade
democrática – artigo 13º)

Direito Penal Fundamentos Político-Criminais:

Sistema integral do DP:


 Direito penal material;
 Direito processual penal;
 Direito da determinação da pena.

A realização da dogmática jurídico-criminal não garante a segurança jurídica sem a


intervenção da política criminal como ciência essencial ao apuramento e conhecimento
critico do crime, no tempo e no espaço, nem sem uma estratégia de prevenção e
repressão do crime.

Ciência global do DP  Sem a política criminal5 não é possível saber quem são os
operadores judiciários de um ser e de um dever ser ativo preventivo e de execução
repressiva.

Ação a montante: Ação a jusante:


- Teoria da prevenção - Teoria da repressão do
(social, legislativa e RELAÇÃO ENTRE crime (ação penal e
operativa policial) jurisdicional)

ação jurídico-administrativa ação jurídico-criminal

5
Implica que o legislador, o interprete, aplicador da lei (operadores judiciários e cidadãos) devem fazer
uma hermenêutica da lei tendo em conta que estão perante um ser humano.

29
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Todos os operadores judiciários e as proposições de política criminal encontram-se


subordinadas às proposições jurídico-constitucionais (Estado).

Ou seja,

Política criminal (prevenção/repressão) rege-se pelos valores constitucionais do estado


de direito material social democrático.

Subordina-se a:
 Princípios gerais do direito;
 Princípios jus internacionais;
 Princípios supraconstitucionais;

Política criminal transistemica (sistema penal):

Desenhadora do se e do como do DP

Eficácia (fins) –
Legitimidade (meios):
limitadora da
punibilidade

Estão subordinados aos princípios da legalidade (ampla), culpabilidade, humanidade


e ressocialização ou tratamento do infrator.

Impõe uma legiferação de prevenção criminal, interpretação e aplicação correta do DP


ao facto concreto.

Esta responsabilidade cabe à polícia e ao ministério público.

Princípio ne peccetur:
 A política criminal detém vetores de orientação e princípios regedores cuja
materialização depende da ação proativa dos operadores judiciários e não
judiciários.

30
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Princípio última et extrema ratio:


 É uma ação repressiva, material e processual, a qual pertence ao estado, que
detém os operadores judiciários necessários para a concretização da aprovação e
execução de uma política criminal garantistica e humanista.

Operadores da justiça criminal:


 Polícia – Ação preventiva e repressiva;
 Advogados – Defesa da axiologia constitucional penal, material e processual;
 Ministério público – Ação repressiva;
 Juízes – Ação decisória absolutória ou condenatória.

Sistematização:

Operadores judiciários – Policia/Advogados/Ministério Público/Juízes – Alicerces da


democracia (Polícia e MP)

Vinculados a princípios
 As medidas da polícia estão orientadores da sua atividade  Pilar do estado de direito
previstas na lei e só podem ser (página 23) – princípios de material, social e democrático –
usadas quando necessário, sem ferir defesa e garantia dos direitos e artigo 1º
a dignidade da pessoa humana – liberdades fundamentais e
artigo 272ºnº2/ artigo 3º nº2/ artigo  Fundamento, razão, fim e limite
proteção da dignidade da pessoa
18º nº1 da aplicação dos operadores
humana.
judiciários no âmbito do direito
 Não é permitido arranjar provas penal, material e penitenciário.
ferindo os direitos, liberdades e
garantias fundamentais – artigo 32º
nº8 Polícia criminal concretização de:
Princípios:
 Legalidade material
ampla;
 Culpabilidade;
 Humanidade;
 Ressocialização do
delinquente.
Dignidade da pessoa humana:

31
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

As ações repressiva e preventiva não podem por em causa os direitos fundamentais,


com as devidas exceções, nem por em causa a independência dos tribunais e dos juízes.

 Princípio da juridicidade (estão de acordo com o quadro constitucional)


 Princípio da jurisdicionalidade.

A política criminal está subordinada à constituição e ao garantismo democrático –


“democracia constitucional” – que submete o poder legislativo, judicial e executivo.
A polícia e o MP têm de obedecer à constituição, sendo esta o fundamento, fim e limite
para a materialização da ação preventiva e repressiva estatal.

L+J=S

A aprovação e execução da política criminal tem de promover a justiça, produzindo a


liberdade e afastando o plano da violência.

Garante o DP material, processual e penitenciário, garantista e humanista que reconhece


o delinquente como um ser humano.

Política criminal – Para muitos autores, a política criminal não é uma ciência, mas uma
técnica, um método de trabalho ou ate mais exatamente uma arte.
É um conjunto de meios e critérios empregados ou a empregar pelo DP para o
tratamento da criminalidade, ou seja, os meios jurídicos utilizados ou a utilizar para a Submetem a aç
consecução dos fins concretos de uma comunidade juridica. repressiva e
Cada sistema jurídico responde uma determinada orientação politico-criminal e traduz preventiva
uma concreta política criminal.
Cada sistema jurídico responde a uma determinada orientação político-jurídica e traduz
uma concreta política de direito.

32
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Espaço de atuação – Quando


num estado de direito - Ciência atuante a MONTANTE e a JUSANTE do fenómeno criminal e
Frank Von Liszt próprio crime.
democrático se opta pela
Mário Ferreira Monte
definição de uma conduta - Se a ciência global do DP não estiver integrada, torna-se impossível
como criminosa, ocorre uma construir um caminho que dote todos os operadores judiciários devem ser e
de um dever ser ativo preventivo e de execução repressiva.
escolha entre as várias alternativas
que se abrem para a resolução do conflito  Esta opção pela criminalização, será, neste
caso, uma opção política criminal. Considere que a política criminal não deixa de ser o
exercício de um poder, que se concretiza com a criminalização, o que fica com que não
seja possível dissociar o DP e a política criminal.  Ambas integram o sistema penal,
pois são as opções da política criminal que decidem sobre a incriminação ou não de
determinada conduta, considerando-se a vantagem social da tipificação bem como quem
deve ser responsabilizado.
O DP nasce das exigências da política criminal  O facto é que tanto a política criminal
quanto o DP devem ser estruturados a partir dos postulados constitucionais (é aqui que
entram os princípios constitucionais)
A política criminal não é alheia à dogmática penal. O direito existe para a satisfação dos
interesses que o DP prossegue que hão de estar sempre nas construções dogmáticas.
Definição dos interesses a prosseguir por um dado DP e os meios de os realizar é tarefa
primária da política criminal através dos seus vetores (eficácia – fins – e legitimidade –
meios).

Considerações gerais:

1. A política criminal, o macros sistema social e intervenção penal (página 17):

 Criminologia
 Política criminal

 Todos os operadores judiciários e as proposições de política criminal


encontram-se subordinadas à conceção do Estado.

33
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

2. O padrão critico da política criminal transistemica: Vetores e princípios. Os


princípios “ne peccetur6” e “última et extrema ratio7” (página 21):

 Transistematica: Subordinados a 4 princípios:


o Legitimidade - Legalidade (ampla);
(meios) - Culpabilidade;
o Eficácia (fins) - Humanidade;
- Ressocialização ou tratamento do infrator.

 Prevenção criminal não é tarefa exclusiva do Estado, é uma missão de todos


os cidadãos.

Luigi Ferrajoli

3. Operadores de justiça criminal promotores da política criminal subordinada a


vetores e princípios de prevenção e repressão criminal (página 23):
 Polícia (ação preventiva e repressiva)
 Ministério público (ação repressiva)
 Juízes (ação decisória absolutória ou condenatória)
 Advogados (essências da defesa da axiologia constitucional penal material
e processual)

Vinculados às proposições constitucionais de defesa e garantia dos direitos e liberdades


fundamentais pessoais e da materialização do respeito da dignidade da pessoa humana
 Fundamento, raiz, fim e limite.

4. A política criminal no constitucionalismo e garantismo democrático:


legitimidade, direitos e liberdades fundamentais pessoais, o princípio da não
violência (página 25):
6
A política criminal detém vetores de orientação e princípios regedores cuja materialização depende da
ação proativa dos operadores judiciários e não judiciários.

7
É uma ação repressiva, material e processual, a qual pertence ao estado, que detém os operadores
judiciários necessários para a concretização da aprovação e execução de uma política criminal garantistica
e humanista.

34
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Democracia constitucional  submissão de todo o pais


 Grande objetivo de substituir o uso da violência

Considerações especificas:

5. A política criminal e a atividade preventiva e repressiva do Estados. A ação


penal: conceito jurídico-constitucional e a realização do direito (página 29):
 Ministério público  Um dos guardiões dos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos. Deve decidir quer contra quer a favor do
arguido. Agir publicamente em nome do povo.

6. A política criminal e ação penal: crime, objeto do processo e operadores


judiciários. A barreira intransponível da dignidade da pessoa humana (página
32):
 Ação penal  elemento integrante do objeto da política criminal.
 Execução da política criminal  cabe ao MP8, polícia9.

7. A legitimidade normativa constitucional e infraconstitucional e os modelos de


política criminal face às leis política criminal (página 34):
 Atores de justiça criminal  estão ao serviço da dignidade da pessoa
humana e do povo.
8. A ciência ao serviço da vida humana e da legitimidade dos meios politico-
criminais. A prevenção como mote do sistema integral penal. Breve nota dos
princípios legiferantes da justiça criminal: reserva de lei, reserva de código e
reserva de constituição:
 Atuação preventiva da polícia
 Artigo 208º CRP
 Finalidade de prevenção apresenta-se como valor orientador da
administração da justiça penal
 Missão do DP  Evitar comportamentos socialmente danoso. Promover
uma defesa preventiva de bens jurídicos. Princípio de precedência de lei,
como ao princípio da reserva de lei (material e processual), ao princípio
de reserva de código e ao princípio da reserva constitucional.

Do enquadramento histórico, doutrinário e legislativo da política criminal:

8
Órgão autónomo de administração da justiça.
9
Coadjuvado pelos olhos e brações e demais.

35
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

9. A não exiguidade da política criminal. A política criminal como ciência de


organização e estruturação da intervenção preventiva e repressiva do estado.
Breve escurso entre a liberdade e segurança, garantismo e justicialismo (página
47):
 Política social é a melhor política criminal  Deve atuar como prevenção
ampla de qualquer fenómeno criminal. Agilizar a defesa preventiva de
bens jurídicos. Ciência de organização e estruturação preventiva e
repressiva de todo o estado de direito e democrático constitucional

10. A função de equilíbrio do DP. A influencia europeia e internacional na


legiferação penal interna. A assunção do DP, securitário, subordinado a uma
funcionalização política e normativista da vida em comunidade (página 52):
 Grande função do DP  Equilíbrio entre a tutela de bens jurídicos
lesados ou colocados em perigo de lesão e a defesa do delinquente face ao
poder de o punir.
o Modelos de intervenção do DP:
o Garantista
o Ressocializado
o Securitário originário (novo)
o Bélico ou DP do inimigo
Germano M. da Silva

 Funcionalismo normativista já hobsiano de fins ético educativos ou


moraciticos dos cidadãos  criminalização dos maus tratos ou abandono
de animais (artigo 387º e 389º CP)
 Claridade processual penal  garantia fundamental do arguido

11. Prevenção criminal e ação penal: desiderato de um Estado de direito material


social e democrático. A prevenção criminal como labor de todos os cidadãos
(página 63):
Anabela M. Rodrigues
 Função de prevenção criminal  Não se esgota na ação
Luderssen exclusiva dos Cada um reflete na natureza,
Paulo ferreira da cunha operadores judiciários. atribuições e competências quer
Trabalho de todos os constitucionais quer legais de
todos os operadores judiciários.
cidadãos, de todos os órgãos de estado.
o Comunidade  Exige uma nova aceção de prevenção criminal aos
operadores do sistema de justiça criminal (artigos 272º nº3 e 219º
nº1 conjugados com os artigos 202º; 18º nº1; 3º nº2 e 2º nº1 da
CRP)

 Leis da política criminal  Artigo 272º CRP. Colocam a polícia como um


ator de ação daquelas quer no âmbito das prioridades de prevenção quer
36
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

de investigação criminal, assim como a releva no âmbito das orientações e


respetivos objetivos.

12. Uma atividade comportamental funcional diferenciada na defesa dos valores da


humanidade e liberdade do ser humano. Uma política criminal garantista e
humanista. O constitucionalismo da política criminal (página 68):

 Direitos e liberdades fundamentais do ser humano  Política de


incrementação de igualdade de oportunidades realização dos direitos
fundamentais pessoais, sociais, culturais, económicos e políticos.
 Polícia (1º pilar de intervenção) e MP  Não podem afastar-se do
primado que atuam sobre pessoas que têm a mesma dignidade que eles
mesmos. A polícia defende a legalidade democrática, ao garantir a
segurança interna e os direitos dos cidadãos, está obrigada a atuar dentro
do estado de direito democrático constitucional. Defende e garante todos
os direitos dos cidadãos destacando-se os direitos humanos.
 MP  No âmbito da ação penal a missão de defender e garantir a
legalidade democrática, onde cabe a execução da política criminal. A
ação penal é regida por uma política criminal de reintegração/reposição
do bem jurídico (prevenção geral positiva) e de ressocialização ou
reintegração do delinquente ou reinserção com autorresponsabilização
(prevenção especial positiva).
 Somos defensores de um garantismo integrador e não de um garantismo
desintegrador.
 CRP  Garantista e humanista (vinculam todos os operadores
judiciários – polícia e MP – artigos 219º e 272º conjugados com o 3º nº2
e 18º nº1 CRP). Encontra na dignidade da pessoa humana a sua fonte
inspiradora e a sua essência na subordinação da organização e do
exercício de todos os poderes: politico-legislativo, judicial e executivo.

13. A dignidade da pessoa humana como fonte de uma política criminal integradora
dos poderes em concorrência constitucional e da comunidade (página 73):

Conceitualização da política criminal: um novo paradigma:


14. A construção de um conceito de política criminal reativo e repressivo num
sistema político em que os operadores judiciários são rosto de uma política
criminal de repressão e securitária (página 75):
 No início do seculo XIX e até meados do seculo XX, a política criminal
era concebida como ciência intrasistemática  A todo o sistema penal é
alcançado pela política criminal no estado de direito material.

37
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Atores fulcrais do macrossitema direito  Polícia e MP – rosto da


política criminal. A polícia é o rosto visível da lei (estado) – 1º ator a
interpretar e aplicar a política criminal identificada e determinada pela
doutrina, jurisprudência, lei positivadas e pelos princípios gerais do DP,
da política criminal e do direito como macrossistema.
 São legítimos todos os meios jurídico-criminais materiais e processuais
operativos do alcance do MP e a polícia para obter a máxima eficácia.

15. A política criminal como ciência intrasistemática em Franz Von Liszt: princípios,
investigação, crime, pena e instituições (página 80):
 Critério assenta na pena  Determina no que respeita ao género e à
medida tendo em conta a natureza do delinquente, uma vez que a pena
vai infligir sobre ele um mal, que afeta bens jurídicos individuais.
 Pena privativa de liberdade (pena de prisão)  Para jovens/infratores,
deve propor e optar por prescrever medidas educativas

16. A política criminal como arte do legislador para prevenir e reprimir a


criminalidade. A política criminal como uma não ciência e/ou como uma ciência
de observação (página 82):
 Política criminal  fita o SE do sistema de justiça criminal.

17. Política criminal como ciência política juridica geral e de controlo de


criminalidade. Poder-se-á dizer que é uma ciência autónoma?
 Equilíbrio entre o controlo da delinquência (prevenção) e a luta contra a
criminalidade (repressão).
 Polícia e MP  Encontram-se subordinada ao primado da constituição
Frank Von Liszt
(jus constitucional) e ao direito supraconstitucional (jus internacional).
Faria Costa
Eduardo Correia
Germano M. da Silva 18. A política criminal e o DP como encontro sistematizado de postulados,
Marc Ancel funções e fins sob o paradigma de prevenção (página 90):
Delmas- Marty
 Separação entre o DP e a política criminal

- Estado da dogmática - Estado da


jurídico criminal do configuração desejável
Reinhart Maurach direito vigente. desse direito.
Heinz Zipf
- Função: Equilíbrio
entre a tutela efetiva
dos bens jurídicos e a
defesa do delinquente
face ao poder de punir

38
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

19. O confronto da evolução da ciência política criminal com o regresso a um


modelo reativo e exíguo de autores (judiciários). As necessidades de
desmitificação do direito e da função do jurista que deve atuar ante delictum e
não no post delictum (página 92):
 Polícia  Cidadão recorre em primeiro lugar para tutela dos seus
direitos e liberdades fundamentais. Promover o equilíbrio da tutela
desses direitos e liberdades e os possíveis abusos de intervenção no
espaço subjetivo do infrator.
 MP Intervêm por iniciativa própria, quando toma conhecimento direto
da notícia de um crime, ou por impulso de outrem, pela transmissão da
notícia de um crime por parte da política que adquiriu a notícia de forma
direta ou indireta.

Delmas- Marty 20. A política criminal como ciência com vetores e princípios integrantes
Reinhart Maurach do macrossistema de justiça criminal (página 97):
Heinz Zipf
Luigi Ferrajoli  Tempo e espaço  Elementos fundamentais para uma hermenêutica e
Paulo Pinto de praxis equitativa do DP.
Albuquerque

21. Os valores a prevenir e a reprimir só podem advir de um quadro jurídico-


constitucional através de uma política criminal que determine os limites (o SE e
o COMO) da intervenção penal (página 100):
 Nem toda a conduta congregadora de perigo é digna de intervenção
penal.
Taipa de Carvalho
 Encontro entre o estado social e o estado democrático na concreção de
Jescheck
Weigend um equilíbrio do sistema social só é possível com um programa político
Reinhart Maurach criminal imparcial e conciliador.
Heinz Zipf

22. A prevenção da criminalidade e a relação da confiança da comunidade na


efetividade de uma ciência conjunta do DP (página 103):
 Política criminal, dogmática, jurídico-criminal e criminadora – objeto de
Raul Zaffaroni
Claus Roxin estudo próprio  Ciência conjunta do DP que deu lugar ao sistema
social.

23. Um conceito jurídico-constitucional e meta-positivo de política criminal,


enquanto ciência que deve orientar o se e o como do sistema penal integral
(página 105):

39
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Da transistematização da política criminal: uma nova orientação de prevenção e


repressão criminal:

24. A complexidade e problemática do espaço sistemático da política criminal que


afirme como uma ciência de prevenção: ne peccetur (página 107):
 Política criminal  Complexo e problemático. O jus naturalismo e
meta-positivismo impõe que abandonemos a posição intrassistemica e se
afirme a posição suprassistema, ou seja, uma política criminal
transistemica. Finalidade: prevenção do crime.

25. A prevenção criminal como desiderato essência da política criminal com reflexo
(i)mediato no DP material, processual penitenciário:
 DP – afirma-se como um DP de tutela de bens jurídicos e como limite
legitimante do direito punitivo. Limite do poder de punir.

26. Manifestação da política criminal no direito penal material (página 113):


 Teoria da lei penal em geral
 Teoria do crime
 Teoria da pena
 Direito penal especial
 Artigo 18º nº2 CRP
Anabela Miranda
Rodrigues  Artigos 143 ao 152º B CP
Fernanda Palma

27. Manifestações da política criminal no DP processual (página 117):


 Meios de obtenção de prova
 Medidas cautelares e de polícia
 Medidas de coação

28. Manifestações da política criminal no DP penitenciário (página 119):

29. DP transistémico às ciências criminais no estado de direito formal passa a


infrassistémico à política criminal com a afirmação do estado de direito material
(página 120):

30. A transistematização da política criminal com a afirmação do estado de direito


material social e democrático em simultâneo com a constitucionalização das
funções de soberania, segurança e justiça (página 123):

40
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 No estado de direito material, a política criminal ocupa um lugar de


transcendência face às restantes ciências criminais.
 Política criminal é o padrão critico (relação com a dogmática jurídico-
criminal decorre de um quadro)  cooperação ou de unidade funcional
– imagem do delinquente pode ser uma imagem idealista do homem
(membro da comunidade) ou imagem realista do homem (infrator,
desintegrador, sem autoafirmação, necessitante de intervenção)
 Violação do princípio do respeito da dignidade da pessoa humana –
Artigo 32º nº8 CRP
 Soberania/vontade popular – Artigo 1º CRP
 Constitucionalização da missa do MP – Artigo 219º e 220º CRP

31. A política criminal assume-se transistemática à dogmática jurídico-criminal e


intrassistematica à ordem jurídico-constitucional de um Estado constitucional
democrático assente na vontade de cada ser humano e no princípio da dignidade
da pessoa humana (página 128):
 Política criminal  Ciência extrasistematica quanto ao DP e
intrasistematica relativamente à conceção do estado.

Duas principais ordens de razão:


1. SE e do COMO da punibilidade; limites e a legitimação do DP.

2. Conceitos básicos das doutrinas do facto punível muito para alem de serem
“penetrados” ou “influenciados” devem ser determinados e cunhados a partir de
proposições político criminais e da função que esta lhes é assinalada no sistema.

32. A recomposição da ciência global do DP por meio de uma política criminal que
dita o se e o como da dogmática jurídico criminal (página 132):
 Bem jurídico não só não é verosímil, como também não detém
dignidade penal.
 Criminalização de maus tratos e abandono de animais (artigos 387º e
389º CP)
33. O “meio” legislativo preventivo ou, tao só, preventivo como marca de uma
política criminal avessa a funcionalizar normativamente o DP (página 135):
 Determinação das consequências jurídicas do crime  Depende da
prova obtida na fase de inquérito e, nos casos em que seja requerida, na
fase de instrução e produzida em sede de julgamento. Obtenção de
provas permite eficácia quantos aos fins do DP. A eficácia depende da
Frank Von Liszt legitimidade quanto aos meios empregues na prossecução da política
Figueiredo Dias criminal (meios):
Anabela M Rodrigues
 Legislativo preventivo

41
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Legislativo penal
 Legislativo processual
 Legislativo sancionario
 Legislativo penitenciário

 Princípio da necessidade da ameaça penal (artigo 10º nº2 CRP), se


existe ou se o fenómeno afete (lesa ou coloca em perigo de lesão) um
bem jurídico digno de tutela penal.
 Princípio subsidiariedade penal; medida abstrata e proporcional à
negatividade e à danosidade ou lesividade produzida pela conduta.

A influencia da política criminal supranacional na política criminal nacional:

34. A constituição como repositório dos bens jurídicos dignos de tutela penal e as
mutações legislativas influenciadas por uma política criminal internacional e
europeia (página 147):
 Constituição é o repositório dos valores fundamentais da comunidade –
direitos humanos  Reflexos de um pensar de uma agir e de estar
próprios de uma comunidade organizada, e que, sem os quais, não detém
a garantia, a segurança e a coesão social necessária à sua afirmação e
sobrevivência em liberdade. Bens jurídicos dignos de tutela penal.
 DUDH  Hino à condição humana e é um pilar de construção
comunitária global centrada na defesa e na garantia do ser humano.
 CEDH  Reafirmação no espaço europeu da condição humana e da
dignidade que em si mesmo encerra.
Figueiredo Dias
Jescheck
Weigend
Reinhart Maurach
Heinz Zipf Estes 2 instrumentos alteram a condição de sujeito de direito atribuída ao
Faria Costa cidadão: confinada ao espaço nacional/estatal
Cezar Roberto
Bitencourt

35. Os desideratos de uma política criminal humanista, próprios da ONU, do


conselho da europa, UE, da organização dos estados americanos, são derrogados
pelas políticas de segurança dominantes do DP (página 156):
 A política criminal internacional, propalada e incrementada pela ONU,
optou por tutelar os bens jurídicos com a consagração de preceitos que
dirigiam à punibilidade de condutas que indiretamente podem advir de
atos terroristas  Convenção sobre a prevenção e repressão de crimes
contra pessoas que usufruem de proteção internacional, incluindo os
agentes diplomáticos de 1973, a Convenção internacional para a
repressão de atentados terroristas à bomba de 1998, etc…

42
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

36. O caminho do justicialismo por meio de uma política criminal pós-securitária


imposta pela sistematização tópico-juridica do espaço penal europeu: liberdade,
segurança e justiça. A afirmação de princípio do reconhecimento mútuo eu
ganha primazia face à harmonização desejada (página 136):
 A nível europeu, temos assistido a uma política criminal pro-securitária
ou securitária.
Vetor da legitimidade  A construção europeia ou a
Vetor da eficácia construção de um espaço penal
L = Liberdade S= Segurança
L+S=J  Estado pró-securitário ou justicialista
S+J=L  Estado securitário ou de segurança (total) nacional
L+J=S  Estado democrático garantista e humanista
 Celeridade processual  direito do cidadão e um princípio do processo
penal corolário do princípio da presunção de inocência.

37. A americanização do DP por meio do reforço do valor segurança em detrimento


da liberdade (página 169):

38. O abandono do padrão critico da política criminal, que deve dizer o se e o como
da dogmática jurídico-criminal e influencia a ação de todos os operadores do
sistema de justiça criminal, sendo mais visível na atuação da polícia de um
estado (página 171):

Os vetores da política criminal regentes no DP contemporâneo: Ação preventiva e


ação repressiva penal:

39. Os vetores da política criminal regentes do se e do como do DP: A eficácia como


vetor fundante e limite do legislador, do hermeneuta e exegeta (página 175):
 Proposições politico-criminais  Subordinada aos valores jus
constitucionais do estado de direito democrático. Subordinam-se a 4
princípios:
 Legalidade
 Culpabilidade

43
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Humanidade
 Ressocialização

 Política criminal contemporânea  Dota a dogmática jurídico-criminal.


Dota também os poderes público-legislativos judiciais e executivos.
 Vetor da eficácia (restabelece a paz juridica e pública)  Subordina-se
aos primados constitucionais da prevenção criminal

40. O vetor legitimidade num estado de direito material social e democrático tem de

Não confundir com o princípio da eficácia de intervenção do DP para a tutela de bens jurídicos.

Pretende-se com os fins do SE e do COMO do DP ao caso concreto e com a solução do problema


real, enriquecendo a dogmática jurídico criminal, seguindo os princípios

ter natureza normativa e sociológica quando se decide pela intervenção penal


(material, processual e penitenciaria) (página 180):
 Ação penal (estatal)  Restringe direitos, liberdades e garantias
fundamentais pessoais no sentido de a justiça se realizar, mas esta não
pode ser deificada em detrimento da liberdade individual
 Política criminal valorativa da pessoa humana criadora de uma
dogmática jurídico-criminal do ser humano.
 Ação penal desenvolve-se com meios que restringem direitos e
liberdades fundamentais dos cidadãos: vítima, comunidade local geral e
arguido ou acusado – carecem de legitimidade na dupla vertente –
compete à lei imanar do órgão eleito pelo povo (legitimação normativa).
Lei em si mesma e a atividade processual penal estatal devem sentir-se
necessárias e uteis aos olhos dos cidadãos (legitimação social).
Na legitimação normativa encontrar-se-á sempre preenchida face à
origem orgânica dos diplomas que regem na generalidade e na
especialidade a ação penal estatal independentemente do estado.
 Legitimidade juridica  Expressão da legitimidade sociológica que
fundamenta e justifica a norma penal como uma construção abstrata.

41. A decisão politico-criminal de intervenção penal impõe uma legitimidade


sociológica sob pena de uma dogmática criminal excludente dos princípios e
axiomas do garantismo e humanismo (página 184):
 Intervenção estatal  Há que saber se o meio será a intervenção
criminal, ou a intervenção administrativa sancionaria ou a intervenção
meramente terapêutica. A intervenção criminal apura que condutas em

44
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

específico lesam ou colocam em perigo de lesão o bem jurídico e a


natureza das penas ou medidas de segurança, os meios de obtenção de
prova e meios de prova, os órgãos competentes para a ação penal, a
regra da publicidade ou segredo de justiça do processo, opção de
policialização ou de jurisdicionalização do processo, a opção de
introdução ou não de institutos do principio da oportunidade e do
consenso, a opção ou não pela mediação penal, pela justiça restaurativa
ou reparadora, os modelos ou formas de execução das penas aplicadas
ao caso concreto.
 A política criminal  Cabe apresentar fundamentos da necessidade e da
utilidade de todos os meios que os operadores judiciários se podem
socorrer para prevenir o crime.

42. Os vetores da eficácia e legitimidade devem funcionar como limites ao DP


securitário e/ou belicista, e, muito mais, ao DP do inimigo (página 189):
 Vetores da eficácia e da legitimidade da intervenção penal

O legislador optou por apurar o âmbito da aplicação das penas alternativas à pena de
prisão e de multa.

Substituição da pena de prisão até 1 ano pela pena de multa ou de outra pena não
privativa da liberdade – Artigo 43º nº1 CP

Pena de prisão não superior a 3 anos pode ser substituída por uma pena de proibição de
exercício de atividades, profissão ou função, desde que o crime fosse cometido no
respetivo exercício – Artigo 43º nº3 CP

 Conciliar a legitimidade – meios – e a eficácia – fins – política criminal

O legislador ampliou a aplicação da pena de prestação de trabalho a favor da


comunidade (pena de prisão não superior a 2 anos – Artigo 58º nº1 CP)

 O legislador português optou como fim dar prioridade politico-criminal


à prevenção especial, por meio de penas não privativas da liberdade para
questões de pequena e media criminalidade.
45
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Os princípios da política criminal regedores da ação preventiva e da ação penal estatal:

43. A política criminal do ser humano assente numa tetralogia de princípios


axiomáticos constitucionais (página 195):
 4 princípios:
 Legalidade
 Culpabilidade
 Humanidade
 Ressocialização ou tratamento

Princípio da legalidade

44. O princípio da legalidade politico-criminal assume a função de


Figueiredo Dias
Faria Costa garantia de todos os seres humanos e a manifestação de garantia, de
Jescheck juridicidade, de constitucionalidade e de uma arquitetura de direitos e
Weigend
Castanheira Neves
liberdade fundamentais pessoais consagrados na constituição (página
198):
 Sentido funcional – Garantia jurídico do cidadão – assume-se como
medula do princípio do estado de direito assente na juridicidade, na
constitucionalidade e nos direitos fundamentais.
A juridicidade assenta nas ideias de matéria, de procedimento, de forma
como elementos de conceção do direito, que implica a distancialização
entre os cidadãos face à individualidade de cada um e que arreiga a
justiça na ideia de igualdade para que a justiça faça parte da ideia de
direito e se concretize através de princípios jurídicos materiais.
A constitucionalidade arreiga à ideia de estado constitucional ao
princípio da vinculação do legislador à constituição orgânica, formal
(procedimental) e material, ao princípio da vinculação de todos os atos
do estado constitucional – princípio este mais amplo que o princípio da
constitucionalidade das leis – ao princípio da reserva da constituição –
há matérias que só devem ser reguladas por lei constitucional (artigo 34º
nº3 CRP) e ao princípio da força normativa da constituição.

 Princípio do estado de direito subordinado ao sistema dos direitos e


liberdades fundamentais pessoais (artigo 24º, 25º e 26º CRP)
 Princípio da legalidade como fonte garantista (e legitimada pelos) dos
direitos e liberdades fundamentais ganha a expressão nas várias cartas

46
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

supranacionais subordinadas aos direitos do homem: DUDC, DUDH,


CEDH, PIDCP… este princípio não se esgota na previsão do tipo legal
de crime ou do meio de obtenção de prova, impondo-se uma relação de
legitimidade e de eficácia dentro do quadro dogmático jurídico criminal.
Dignidade da pessoa humana e vontade popular.
 Defendemos uma legalidade que englobe o respeito pelos princípios da
intervenção mínima do DP (assim como da afirmação do seu carater
fragmentário na tutela dos bens jurídicos) na opção da criminalização de
uma conduta humana – necessidade, subsidiariedade,
indispensabilidade, proporcionalidade em sentido lado, eficácia e última
et extrema ratio – e uma dogmática que respeite os valores e proposições
politico-criminais constitucionais e supraconstitucionais
 Elementos da estrutura do crime:
 Ação
 Tipicidade
 Ilicitude
 Culpabilidade
 Punibilidade

45. O princípio da legalidade da política criminal como concretização do princípio


do estado de direito material social democrático ancorado no princípio da
igualdade e nos corolários axiomáticos de Ludwing Andreas Von Feuerbach
(página 206):
 Princípio nullum crimen sine lege  Emergente do princípio da
separação de poderes. Limite do ius puniendi e de garantia dos cidadãos –
segurança juridica- face à prescrição dos princípios da previsibilidade e da
calculabilidade do direito inerente s vida comunitária (artigo 58º CP).
 Violação do princípio da legalidade (artigo 13ºCRP)
 Direito = D
Crime = C
Pena = P
C= - D
P= - C
P = [-(-D)] = D
 Direito = D
Crime = C
Pena = P
Bem = B
Bem Jurídico = BJ
C= (- D)
P=B

47
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

P= [B + (- D)] = B = BJ = D

46. O princípio da legalidade penal do estado de direito material social democrático


deve assumir-se como limite ao expansionismo penal e às teorias reducionistas
de direitos e liberdades fundamentais pessoais e à populista defesa de um direito
penal máximo (página 216):
 Traços característicos da atividade de prevenção  Ação jurídico-
administrativa-policial e da ação de repressão - ação penal, cujo titular é
constitucionalmente o MP

47. O princípio da legalidade, despido das suas funções intrínsecas ao estado


constitucional democrático – garantista, juridicidade, constitucionalidade e
direitos e liberdades fundamentais pessoais -, pode ser axioma de um sistema
funcionalista normativista ou do funcionalismo sistémico (página 229):
 Princípio da legalidade da política criminal pode conduzir-nos a uma
prevenção geral funcionalista dirigida na reafirmação absoluta da norma
jurídico-criminal.
 Intervenção penal por meio da aplicação de uma pena não tem como
escopo direito ou imediato a tutela de bens jurídicos como afirmam a
doutrina, jurisprudência e o direito positivo penal dos estados de direito
democrático social e material. A tutela de bens jurídicos só é um fim
mediato ou consecutivo da tutela ou proteção e restabelecimento da força
juridica da norma juridica agredida ou colocada em perigo de violação.
 Norma jurídico criminal – apresenta-se fonte legitimadora da ação
preventiva e repressiva do estado (política e MP).
 Conduta humana típica, antijurídica, censurável e punível – lesa a
vigência (ou a força juridica) da norma.
 Gera-se a violação da norma e ao direito (Dp) cabe o dever de assegurar a
vigência da norma juridica-criminal (NJC), inocuizada com a conduta
humana e para ta, socorre-se da pena (P) para sancionar o crime (C).
Este (C) nega a norma jurídico-criminal (- NJC). O direito penal ao negar
o crime (- C) com a pena (P) nega ou neutraliza a negatividade imposta à
norma jurídico-criminal e repõe a força juridica da norma jurídico-
criminal (NJC)
Dp= Direito Penal
NJC = Norma Jurídico-criminal
P= Pena´
C= Crime
Dp = NJC
C= - NJC
48
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

P= - C
P= [- (- NJC)] =NJC

48. O princípio da legalidade, encrustado nos valores constitucionalmente a tutelar


pelo DP, assume-se como axioma do bem jurídico digno e carente de tutela penal
(página 236):
 Restabelecimento da paz juridica da comunidade afetada pela prática do
crime não se alcança fora de um princípio da legalidade
 Direito (D) protege um bem (B) individual ou supra individual que, sendo
vital à relação comunicativa do ser humano ganha relevo do bem jurídico
(B) digno de tutela jurídico criminal (Dp), quem tem como dupla
finalidade a tutela de bens jurídicos (B) e a proteção e a reinserção
comunitária e reeducação para o direito do delinquente (RD)
 Direito = D
Bem = B
Direito Penal = Dp
Pena = P
Crime = C
Bem Jurídico = BJ
Proteção e reinserção do delinquente = RD
D= B
Dp = (BJ) + (RD) = B = D
C = - BJ
P=-C
P = [[(BJ) + (RD)] + (- C)] = Dp = D = B
Artigos 29º nº1 e 18º nº2 CRP

Princípio da culpabilidade

49. O princípio politico-criminal da culpabilidade assume-se como fundamento


[pressuposto], fim e limite da pena (página 242):
 Princípio da culpabilidade – tem na sua génese a insuportabilidade de se
condenar um inocente – afasta qualquer possibilidade de
responsabilidade objetiva e de que a pena não se pode apartar da
culpabilidade (artigo 40º CP)
Este princípio exige que a medida da culpa fundamente o limite a
medida da pena independentemente de existirem razoes  tratamento.
Segurança ou intimidação, que justificasse um prolongamento da pena.
O interesse da liberdade do condenado limita a intervenção coerciva do
estado.

49
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

50. A trilogia dos elementos intrínsecos ao princípio da culpabilidade que lhe


garantem a dimensão política, a dimensão normativo-constitucional e a
dimensão limite da assunção da perigosidade como elemento subjetivo do tipo
de crime (página 248):
 Personalidade da ação
 Imputabilidade ou capacidade penal
 Intencionalidade ou culpabilidade em sentido escrito

51. O princípio da culpabilidade é fundamento da intransmissibilidade da


responsabilidade penal, nega a imputação por meio da perigosidade e é, na
essência, um espaço de afirmação do princípio da proporcionalidade da
intervenção penal e da responsabilidade penal em concreto (página 252):

52. O princípio da culpabilidade rege toda a atividade persecutória de um estado de


direito material social democrático e impõe uma ação de investigação assente no
estado de inocência dos visados com a ação penal (página 256):
 Investigação criminal  Descoberta da verdade e da prossecução ou
realização da justiça. Defesa e garantia dos direitos fundamentais 
arguido, vítima e sociedade em geral. Alcance da paz pública

Vinculação dos operadores judiciários a interpretar o facto delituoso na globalidade 


identificação e determinação dos elementos objetivos e subjetivos. Recorrer aos meios
de obtenção de prova.

Trazer para o processo todos os elementos materiais e todas as informações obtidas por
testemunhos ou por recolha de elementos materiais no local do crime.

 Política criminal  Obrigada a agir sob o princípio da presunção da


inocência

Princípio da humanidade

53. O princípio da humanidade é uma construção do constitucionalismo penal


assente na ideia de justiça, de verdade não violenta, de penas não cruéis e

50
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

desumanas, e da dignidade da pessoa humana. O princípio da humanidade


contraria a ideia de vingança (página 260):
 Princípio da humanidade – afasta de imediato e de mediato a ideia de
vingança.  implica a intervenção penal seja dirigida o reintegrar o bem
jurídico lesado ou colocado em perigo de lesão e a responsabilizar sob a
égide da legalidade e da culpabilidade o agente da conduta negativa com
o intuito de o reinserir com responsabilidade na sociedade.
Reflexo do princípio da dignidade da pessoa humana. Implica a existência
e vivencia conjunta com o princípio da liberdade como valor supremo da
justiça.
Este não admite a vingança, e orienta a política criminal à realização de
uma justiça, como bem essencial à vivencia comunitária, que produz bem-
estar, qualidade de vida, restabelecimento da confiança intersubjetiva:
restabelecimento da paz juridica comunitária, alterando por conduta
negativa humana.
 Paz juridica  Consciência de segurança adstrita ao direito emergente da
confiança da comunidade na validade e vigência da norma juridica, que,
sendo agredida por conduta humana, se impõe que seja restabelecida.
Relação de confiança na segurança e na força normativa do direito.
 Ao legislador penal não só proíbe a opção pela pena de morte, pelas penas
cruéis, degradantes e ofensivas da dignidade humana.
Esta dignidade tem que ter respeito na tipificação da pena única de prisão,
mas deve tipificar penas alternativas abstratas e concretamente
exequíveis.
 Ao legislador penal que recuse a opção pela prisão perpetua (pena
máxima: 25 anos) – artigo 30º nº1 CRP

54. O princípio da humanidade abarca todo o sistema penal integral e vincula o


legislador, o hermeneuta, o exegeta e o aplicador da norma ao caso concreto. O
princípio da humanidade avoca para o debate científico todos os atores do
sistema judiciário criminal: juiz, MP, advogado, polícia, agente do crime,
vítimas e todos os agentes do sistema prisional (página 265):
 Princípio da humidade ou da proscrição da crueldade e de todos os atos
desumanos deve ser materializado no decurso de todo o processo crime.
 Princípio da humanidade ou da proscrição e conduta cruel por parte dos
operadores judiciários  impõe que tratem com dignidade toda e
qualquer vítima independentemente da sua condição social etc…

Princípio da recuperação ou ressocialização ou do tratamento:

51
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

55. O princípio da recuperação ou ressocialização ou do tratamento rege a


intervenção penal o estado ab initio ad finem, tendo em conta que aos agentes do
crime são, muitas vezes, aplicadas medidas de coação privativas da liberdade.
Este princípio assume a prevenção especial positiva como seu baluarte por
manifestar e só admitir olhar o agente de um crime como ser humano com
autodeterminação, autoconformação e autorresponsabilidade (página 273):
 Princípio da ressocialização ou do tratamento  Preconiza e executa a
execução da sanção penal no respeito pelo princípio do humanismo e da
responsabilidade individual de modo a desenvolver o delinquente e com
responsabilidade da sua vida em sociedade.
 Diminuição do recurso a pena privativa em substituição a penas
alternativas: prisão domiciliar e trabalho comunitário.

Direito Penal Consumo de Drogas (21-108):

52
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Cronologia do estado face ao consumo de droga Portugal


Primeiramente houve a reação de salvaguarda de saúde pública e depois surge uma
reação de defesa da tranquilidade dos cidadãos, ou seja, de segurança.
Evolução:
 Antes de 1970- a problemática era analisada sob uma perspetiva fiscal e
comercial, ou seja, a droga era vista como uma mercadoria;
 De 1970/75- surge a perspetiva criminalizadora, na qual a droga simbolizava o
delito (DL Nº 420/70 detinha uma racionalidade que assentava numa perspetiva
criminal, não havendo qualquer evidencia de dimensões clínicas ou psicossocial,
que as leis de Macau de 1962 e 65 tinham tido em uma perspetiva de reinserção
do consumidor;
 De 1975/83- O legislador procurou reagir com mecanismos terapêuticos e
psicossociais, caracterizando-se esta reação por uma vontade de saber sobre o
indivíduo (vertente-clínica) e interações com contextos micro e macrossociais
(vertente psicossocial)
 De 1983/95- surge um novo quadro cujas preocupações incidem na compreensão
científica dos atores envolvidos (legislador, aplicador e transgressor), donde
resulta um intuito de prevenção com carácter preventivo e ressocializado;
 De 1995 até agora- Há uma racionalidade que assenta numa visão de que o
consumidor é um doente sem vontade e sem culpa, logo o que precisa é de
tratamento e não de prisão, o que resultou na lei nº30/2000, de 29 de Novembro.

Decreto lei nº15/93 de 21 de janeiro, e a lei nº 30/2000, de 29 de Novembro


Em 1993 o parlamento português defendia que uma nova abordagem teria
necessariamente de ser ponderada por dois grandes fatores, o conhecimento científico
das consequências nefastas do consumo e a audição e a discussão com aqueles que mais
de perto sentem o problema da droga e as suas consequências desagregadoras da
sociedade e da sia célula principal- a família.
Na nossa opinião a lei nº30/2000 de 29 de Novembro
É fruto de um dos objetivos previstos no nº 2 do ponto 10 da RCM nº46/99, de 26 de
Março e de ter realizado uma discussão pública sobre a problemática da droga, não é de
todo fruto da conjugação destes dois fatores.
Reflete apenas a opção de estabelecer um regime alternativo ao anterior.
Esta lei é um exemplo de descriminalização no sentido técnico ou estrito, ou seja,
desqualificou a conduta enquanto crime, reduzindo formalmente a competência de
intervenção penal quanto à conduta consumo de droga, que passa a ser um ilícito de
mera ordenação social. O legislador não efetivou a despenalização do consumo de
drogas.
O CONSUMO DE DROGA DEIXOU DE SER UM CRIME PARA SER UMA
CONTRA-ORDENAÇÃO. SENDO ESTABELECIDA UMA QUANTIDADE
NECESSÁRIA PARA CONSUMO MÉDIO INDIVIDUAL CORRESPONDENTE
PARA O PERÍODO DE 10 DIAS (tudo isto no artigo 2º nº1 da lei nº30/2000)

53
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Consideramos que não podemos desculpar todas as atitudes de um toxicodependente


pela sua condição de doente ainda que haja quem considere que dada a situação o
individuo perde a consciência da prática dos atos que comete. Consideramos que não se
pode recorrer às causas de exculpação para justificar a não criminalização de um facto,
assim como não podemos olhar para o autor de um facto em si sem que se analisem
todos os pressupostos de punibilidade e anteriormente de necessidade de intervenção
penal.

PRINCÍPIOS LEGITIMADORES DA INTERVENÇÃO PENAL

Critério da subsidiariedade não pode ser visto nem de uma perspetiva ampla (lato senso)
– pois implicaria que o direito penal interferisse também nos casos onde não há extrema
necessidade. Nem estrita (estrito senso) pois implicaria um carácter mais fragmentado,
surgiria como limite do legislador ordinário e como garantia dos possíveis delinquentes.
O critério deve na verdade:
-Discricionariedade do legislador ordinário;
-Recurso à pena
- Legislador vinculado à certeza da necessidade do recurso à pena.
Legislador- deve ter provas/certezas e aplicar uma pena proporcional. Cabe-lhe ainda o
onus probandi, ou seja, a tutela penal deve ser eficaz, isto é exigido pela dignidade penal
da lesão e pelo princípio da subsidiariedade.

EFICÁCIA
A eficácia obriga a que se faça uma análise dialética entre custos (restrições de direito
do agente do crime) e benefícios (proteção eficaz do bem jurídico).
Este princípio prescreve que a enumeração dos comportamentos a punir não pode ser
orientada pelo princípio das cifras negras, a análise depende também da verificação de
maior ou menos eficácia, não devendo a eficácia ser condição absoluta e única para a
criminalização ou descriminalização de uma conduta desviante.
A eficácia é uma condição necessária, mas não suficiente.
Na análise da eficácia devem introduzir-se os fatores do plano pragmático e espiritual
direito penal, (isto inclusive no campo das drogas).
A opinião pública pode servir de arma legitimadora da intervenção ou não intervenção
do direito penal. E como mostra a história pode ser perigosa.
O argumento que o cidadão deve dispor livremente do seu corpo não é válido para o
consumo de drogas porque desse modo nada seria crime.

DIREITO PENAL
Legitimidade do direito penal- concretização dos fundamentos (pressupostos), fins e
limites jurídico-constitucionais criminais.
Se e como do direito penal ditados pela política criminal do ser humano, que deve ser
sociológica e jus normativo constitucional, para que a axiologia e teleologia a sí

54
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

intrinsecas se afirmem como dimensão sistemática da própria ordem juridica


considerada no seu todo.
Princípios do direito Penal- humanidade, culpabilidade, legalidade e ressocialização ou
tratamento.
Princípios inspiradores do direito. penal- subsidiariedade, proporcionalidade em sentido
amplo, adequação, necessidade, exigibilidade e proporcionalidade strictu senso,
vinculação à certeza ou in dubio pro libertate e eficácia e indispensabilidade da sanção
penal.
A intervenção penal exige que o bem jurídico a ser tutelado criminalmente tenha
dignidade e carência pena, sob a pena de não estando estes dois previstos a mesma ser
materialmente inconstitucional por violação do nº2 do art.18º.
Nos nossos dias impõe-se que o direito penal se racionalize de modo que não contenha
os apelos desvirtuados, de uma criminalização desmedida. Deve ser a intervenção
excecional de tutela de bens jurídicos.

CONVICÇÃO HUMANISTA - Levar em conta a complexidade dos dramas humanos


que tantas vezes se traduzem no consumo de drogas e na dependência. Considerar o
toxicodependente no geral como um doente, exigir a garantia de meios de tratamento a
todos os toxicodepentes, incluindo aqueles que por algum motivo se encontram em
estabelecimentos prisionais. Exige a promoção de condições para uma reinserção social.

Descriminalizar o consumo de drogas é diferente de despenalizar.

LEI Nº30/2000, DE 29 DE NOVEMBRO E DECRETO LEI Nº 130/2001, DE 23


DE ABRIL - Descriminalização da aquisição, da detenção e da posse de estupefacientes
e substâncias psicotrópicas para consumo e a descriminalização do consumo privado de
drogas. Até ao dia 29 de novembro de 2000 era considerado crime de consumo ilícito de
estupefacientes.

ALTERADOS PELO DECRETO LEI 114/2011, DE 30 DE NOVEMBRO

Exclui a liberalização e a regulação do comércio de drogas.

Antes destas leis vigorava o artigo 40º do Decreto-Lei nº15/93, de 22 de janeiro onde
havia a proibição criminal do consumo, da aquisição e da posse para o consumo.
Alterou-se face às convenções internacionais, que proibiam o consumo excluindo-se a
hipótese de legalização do mesmo, mas não impõe a criminalização.

55
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

ENLCD - Estratégia nacional de luta contra a droga (nunca houve referendos)


SICAD - Serviço de intervenção nos comportamentos aditivos e nas dependências
IDT (ACTUAL SIDAC) – Instituto da droga e da toxicodependência
Articulações que se exigem do SIDAC a vários níveis para o controlo das drogas:
 Institucional – Articulação entre os serviços e as áreas de intervenção do IDT,
com outros serviços do ministério da saúde, com entidades externas, outros
ministérios, as autarquias, a sociedade civil;
 Objetivos – A articulação deve abranger a redução de riscos e a prevenção com
a intervenção em meios escolar, para que se diminua os comportamentos de
risco e se promova a saúde, o desenvolvimento integral dos jovens.
 Financiamento/Competência – Que rentabilizem e maximizem a mobilização
de toda a sociedade civil por meio de ações definidas pelo idt, atual sicad,
devendo este identificar e determinas as linhas orientadores indicadores e
instrumentos de avaliação, materiais e instrumentos de prevenção, a formação
dos intervenientes, que possa promover um serviço de qualidade e de
especialidade de intervenção.

Concluído o SIDAC é um elemento aglutinador dos serviços que, por inerência ou


voluntarismo, têm promovido ou procuram prosseguir os objetivos da ENLCD, a ação
concreta implica uma atualização legislativa que legitime e legalize a atividade de
vários atores.

RAZÃO PELA QUAL HAVIA CRIMINALIZAÇÃO DE CONSUMO DE


DROGAS ATÉ 2000

O objetivo era responsabilizar o ser humano por comportamentos individuais que


levassem ou colocassem em perigo de lesão bens jurídicos coletivos ou supra
individuais. Esta ideia assentava na ideia penal de proteção de bens jurídicos- saúde e
segurança públicas. Aqui os consumidores eram criminalizados pelo simples facto de
consumirem ou adquirirem drogas para consumo próprio.

Os princípios da subsidiariedade e da proporcionalidade


Estes princípios tiveram grande importância na descriminalização do consumo de
drogas, isto claro acompanhados dos colários que são os subprincípios da necessidade,
da adequação e da proibição de excesso. bem como o princípio humanista.

56
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Conclui-se que a criminalização do consumo de drogas não é justificável por não ser um
meio absolutamente necessário ou até adequado para enfrentar o problema do consumo
de drogas e dos seus efeitos.
A ENLCD acrescenta ainda (a favor da descriminalização) que a opção pelo ilícito de
mera ordenação social potencia, uma mais profunda utilização de certas manifestações
do princípio de oportunidade, permitindo introduzir um sistema sancionatório mais
flexível com vista a um melhor tratamento processual do caso concreto.

Vetores e princípio politico-criminais que deveriam ter regido a descriminalização


do consumo/posse de droga

Legitimidade Eficácia

Dos meios a utilizar na prevenção e Dos fins a alcançar com os meios


repressão das condutas humanas lesivas que se podem em resumo configurar
de bens jurídicos ou que colocam em na reintegração dos bens jurídicos
perigo de lesão bens jurídicos a par e uma lesados ou colocados em perigo de
exegese sobre a existência, determinação lesão na reintegração do agente e
e identificação dos bens jurídicos dignos restabelecimento da paz social.
de tutela penal.

TERCEIRA VIA
Havendo a dúvida quanto a penalizar ou não o consumo de drogas, o legislador
português escolheu uma terceira via. Via que se segue em Portugal, que se trata de uma
descriminalização do consumo de droga no sentido lacto e estrito, não despenalizou a
conduta consumir e não descriminalizou de facto a conduta humana em si.
O legislador português procurou encontrar uma via que não protelasse indefinidamente
a aparente criminalização, e transmitisse a ideia de que seria a única saída.

Ordem juridica
Resultado e reflexo da estrutura cognitiva da sociedade face aos valores, morais e
éticos, aos costumes e à visão abrangente ou minimalista dos problemas que a abarcam
e circundam.

57
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

A defesa da liberdade individual tem comandado o fenômeno da descriminalização de


condutas capazes de ofenderem a moral social. No sentido em que a ação penal só se
justifica quando o cidadão pratique uma conduta que ponha em causa os direitos de
terceiros, que lhes provoque um dano na sua esfera jurídica.

Delvin não concorda com este argumento e defende:


 A função do direito penal consiste também na salvaguarda dos valores morais
aceites pela sociedade, pelo que o direito não deve deixar de perseguir e punir os
comportamentos que se apresentem desviantes em relação ao núcleo dos
princípios morais.

Nesta linha de pensamento, devemos considerar que:


 Os valores morais preenchem inequivocamente a essência de bens jurídicos
fundamentais quer de terceiros quer da própria sociedade, mas esses valores
morais não podem ser a medula legitimadora e fundante da intervenção penal.

O RECURSO AO DIREITO DE MERA ORDENAÇÃO SOCIAL


Procurou promover funções politico-criminais capazes de responder sancinatóriamente
a situações em que não se verificou uma tutela penal (ambiente, economia nacional),
funcionando como uma alternativa idônea à criminalização de condutas de forma a que
se racionalizasse a intervenção do direito penal em conteúdos, cujas ofensas seriam
intoleráveis quer quanto aos valores, quer quanto aos interesses fundamentais da
convivência comunitária.

Segundo Eduardo Correia uma das grandes mais valias disto é: a possibilidade de
uma enorme amplitude de aplicabilidade do princípio da oportunidade e de
simplificação processual, cujo recurso das decisões sancionatórias administrativas deve
ser para os tribunais administrativos.
Consideramos que na base para a criminalização ou descriminalização do consumo de
drogas deve ter-se em conta o campo de ofensas a bens jurídicos extra-pessoais (saúde-
pública, segurança...) e não um campo de reprovação moral.

Argumentos a favor da descriminalização

3 argumentos considerados falsos para o prof.:


 Um dos argumentos a favor da descriminalização é que o toxicodependente é
doente e como tal precisa de ajuda médica e não de uma coima ou uma pena de

58
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

prisão. No entanto também há o prisma de que se é doente para uma pena


também o é para uma contraordenação;
 Há quem considere que deve haver uma descriminalização pois o ser humano
tem direito à disponibilidade pessoal do próprio corpo, isto acompanhado da
ideia de que o consumo não ofendia qualquer bem jurídico comunitário que
fosse merecedor de tutela penal.
 O argumento da falta de eficácia do direito penal, é falso, pois preocupa-nos o
tom minimalista, feito de despenalização, medidas alternativas, desregulação,
descodificação e sobretudo algum laxismo ético e jurisprudencial.

Princípio da oportunidade processual emergente


O ditame do tratamento já estava prescrito no decreto lei nº 15/93 de 22 de janeiro, cuja
eficácia dependia muito da sensibilidade do julgador, neste decreto lei são previstos
tratamentos no âmbito do processo pendente. Aqui vemos expressa a ideia de que o
toxicodependente precisa de ser tratado e não devia estar sujeito à pena de prisão,
considera-se que estes normativos são um espaço primacial de promoção ao princípio da
oportunidade processual emergente (art.219 nº1 da CRP), ao consagrar a ação penal
orientada pelo princípio da legalidade.
Considera-se que o legislador abriu caminho para a descriminalização do consumo e
drogas, ao decidir várias vezes que o toxicodependente não devia ser encarcerado, mas
antes tratado.

O regime contra-ordenacional permite dois blocos de sugestões


 Por um lado, afasta o infrator deste estigma da sala de tribunal/ julgamento, mas
por outro lado permite um processo administrativo, isto claro quando as sanções
aplicadas são desta índole, nunca há sanções restritivas de liberdade, há sim
medidas alternativas no artigo 17º da lei nº30 /2000.

Possíveis inconstitucionalidades materiais da lei 30/2000, de 29 de Novembro


É estipulado um prazo alargado para a entrada em vigor desta lei, para que todas as
providências necessárias à aplicação do novo regime de tratamento e fiscalização do
consumo, pudessem entrar em vigor a 1 de julho de 2001. O legislador consagrou uma
vacatio legis alongada devido às alterações administrativas que deviam ser efetuadas.
O problema surge do facto de, assim sendo, podemos questionar-nos se dentro do
período da vacatio legis alguém pode ser incriminado pelo consumo ilícito de drogas.
Outra questão é tendo o legislador aprovado e publicado um diploma legislativo no qual
descriminaliza a conduta é lícito retardar a publicação da mesma por razões de ordem

59
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

meramente administrativa? E, por conseguinte, será válido aceitar a existência de


figuras de descriminalização a prazo?
O Tribunal Constitucional optou por não conhecer o objeto do recurso e não analisar a
questão levantada.

Do traficante-consumidor – A Lei nº 30/2000 não revogou o artigo 26º do DL nº 15/93


que prevê e pune a conduta de traficante-consumidor. Não alterou nem ajustou à nova
política criminal, gerando uma violação do princípio da segurança juridica e da
confiança do cidadão na ordem juridica. O legislador apenas descriminalizou o
consumo, a aquisição e a detenção (posse) para consumo conforme o artigo 2º nº1 da
Lei nº 30/2000, defendemos que o artigo 26º do DL nº 15/93 não foram
descriminalizadas sem sentido técnico ou escrito.

Do trafico de menor gravidade ou consumo agravado – artigos 25º e 40º, nº2 do


Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro – Como sabemos a quantidade de consumo
médio individual pode ser diferente conforme o consumidor. Consideramos que o artigo
40º nº2 do DL nº 15/93 se encontra revogado por força do artigo 28º da Lei nº 30/2000,
acrescendo que o consumo agravado se encontra descriminalizado por força teleológica
da política criminal de descriminalização do consumo de estupefacientes e por qualquer
outra interpretação promover uma indeterminabilidade do tipo e, assim, violar o
princípio da legalidade constitucional penal consagrado no artigo 29º da CRP.
CRISTINA LÍBANO MONTEIRO afirma que a situação se deve enquadrar no artigo
25º do DL nº 15/93 que prevê e pune o trafico de menor gravidade, ou seja, devemos
considerar que o legislador prescreveu uma quantidade taxativa, acima da qual se deve
proceder de acordo com o trafico de drogas.

Se optarmos pela posição de INÊS BONINA, de FERNANDA PALMA e do


TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES, com o qual concordamos, não
podemos enquadrar uma situação que se prevê como excesso para o consumo no crime
pelo artigo 25º do DL nº15/93, mas antes considera-la como uma contraordenação.

Consideramos que não existe nenhum vazio sancionatório como defende RUI
PEREIRA, nos termos no artigo 2º da Lei nº 30/2000.
Tipo incriminador do artigo 25º e do artigo 21º do DL nº 15/93, sendo que só o artigo 25
é incriminador.
Esfera criminal  DL nº15/93
Esfera contra-ordenacional  Lei nº 30/2000

Consumo em lugares públicos ou de reunião


No sentido da epígrafe do art.30º do DL nº 15/93 de 22 de janeiro (neste artigo o agente
do crime não é o consumidor, mas sim o proprietário ou responsável pelo local em
causa).

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Artigo 30º Tráfico e consumo em lugares públicos ou de reunião


1 - Quem, sendo proprietário, gerente, diretor ou, por qualquer título, explorar hotel,
restaurante, café, taberna, clube, casa ou recinto de reunião, de espetáculo ou de
diversão, consentir que esse lugar seja utilizado para o tráfico ou uso ilícito de plantas,
substâncias ou preparações incluídas nas tabelas I a IV é punido com pena de prisão de
um a oito anos. (no corpo do artigo não estão abrangidos os locais públicos de acesso e
domínio comum (parque, jardim...)).
2 - Quem, tendo ao seu dispor edifício, recinto vedado ou veículo, consentir que seja
habitualmente utilizado para o tráfico ou uso ilícito de plantas, substâncias ou
preparações incluídas nas tabelas I a IV é punido com pena de prisão de um a cinco
anos. Ex: Se o proprietário de um carro o emprestar a outrem sabendo que a pessoa em
questão irá consumir, proporciona-se a prática de um ilícito, mesmo sendo de mera
ordenação social, pode ser punido até 5 anos de prisão.

Um consumidor só pode deter e adquirir uma quantidade de droga que não ultrapasse o
consumo médio individual para 10 dias (nº2 do art.2º da lei nº 30/2000).

Relativamente ao asrt30 nº1, o consentimento para a prática de tráfico ou consumo tem


de ser expresso e apenas haverá detenção em flagrante de delito. Caso contrário deve
levantar-se o auto da notícia, identificar o agente e constitui-lo arguido, por fim enviar a
informação ao ministério público para que promova a ação penal.

Quando não há consentimento mas também não há medidas adequadas a evitar o


consumo ou o tráfico no estabelecimento, pode haver uma punição até 5 anos nos
termos do art.30º nº3 DL nº15/93, no entanto para que se considere que houve esta
conduta têm que se verificar os requisitos previstos no nº4 do art.30º, “4 - O disposto no
número anterior só é aplicável após duas apreensões de plantas, substâncias ou
preparações incluídas nas tabelas I a IV, realizadas por autoridade judiciária ou por
órgão de polícia criminal, devidamente notificadas ao agente referido nos artigos 1 e 2,
e não mediando entre elas período superior a um ano, ainda que sem identificação dos
detentores.”

A autoridade competente para a investigação dos ilícitos do artigo 30º dá conhecimento


do facto à autoridade administrativa que autorizou ou licenciou a abertura do
estabelecimento dos factos e assim se decide ou não pelo encerramento do espaço.

Se o consumidor for o responsável ou o dono do local aberto ao público, não há prática


de crime, mas sim a prática de uma contraordenação por consumo, aquisição ou posse
(princípio da igualdade).

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Abandono de seringas e consumo de drogas


O abandono de seringas é um crime nos termos do art.32º DL nº15/93, de 22 de Janeiro.
Isto porque aqui importa proteger essencialmente a integridade física e a vida, mas
também a saúde pública.

A punibilidade a cima referida abrange apenas o crime de abandono da seringa,


possíveis danos a bem jurídicos como a integridade física, causados na sequência e em
virtude deste ato são crimes a parte que se aglomeram a este. Esta questão preencheria o
âmbito de concurso aparente de crimes. A resolução deste concurso passaria
necessariamente pela aplicação e análise dos princípios de subsidiariedade, da
consumpção e da especialidade.

O princípio da subsidiariedade submetido à resolução de conflitos entre normas penais,


prevê que quando duas normas prevejam inteiramente o mesmo facto concreto se
aplique a norma que contém a penalidade mais grave visto que se deve presumir que
esta será a que mais completamente realiza os fins da ordem penal.

No caso das seringas estamos perante subsidiariedade explicita, pois, a própria norma
diz que se deve aplicar a pena mais grave, citando diz “se pena mais grave não lhe
couber por força de outras disposições legais”.

Deixar a seringa em algum lugar quando se tem uma doença contagiosa pode significar
dois crimes o de conduta dolosa ou negligência ou conduta negligente de um perigo
(crimes de natureza pública).

A detenção de alguém que abandone a seringa só se dá sabendo que o agente é


toxicodependente se a seringa for usada por um diabético o caso é outro, já não pode
haver detenção por abandono de seringas

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

DP Português – Introdução e Teoria da Lei Penal:

Norma – É uma regra/lei que exprime a ligação de uma estatuição à previsão de um


facto ou situação. Pode ser também, o elemento da forma por que nos aparece a ordem
juridica.

Ordem juridica – Exprime-se através de regras ou normas jurídicas. O ponto de partida


são as fontes de direito e o ponto de chegada são as normas ou regras.

A norma penal é uma norma juridica, pois orienta e disciplina os comportamentos


humanos e também faz recair sobre os destinatários que a infrinjam uma sanção. Esta
norma é composta por:
 Previsão – É uma hipótese, preceito, tipo legal e factispecie que refere o modelo
de comportamento humano típico, o facto ou conjunto de factos cuja ocorrência
histórica desencadeia a consequência juridica fixada na estatuição.
 Estatuição – Corresponde à consequência da verificação da hipótese, ao efeito
jurídico da violação do preceito, da realização do comportamento conforme ao
modelo que o tipo legal descreve. Na norma penal a estatuição corresponde à
pena.

Normas incriminadoras – Normas que definem os crimes, estabelecem as penas,


definem os pressupostos das medidas de segurança e as medidas aplicáveis.
Traduz um juízo objetivo de valor do modelo de comportamento humano, ou seja, todo
o comportamento previsto na lei, é em regra, negativo para o direito, ainda que
ocorrendo certas circunstâncias possa não ser ilícito, porque é então justificado. É
também um imperativo, dirigido aos seus destinatários.
O preceito está, geralmente, implícito na descrição da hipótese. As leis penais modernas
não contêm um comando direto, mas sim a proibição indireta, descrevendo o facto
como pressuposto da sanção.

Normas integrantes – Demais normas penas, que disciplinam a aplicação e os limites


das normas incriminadoras. Podem dividir-se em:
 Normas de aplicação – Estabelecem os limites de aplicabilidade das normas
incriminadoras – artigos 2º a 6º
 Normas declarativas ou explicativas – Definem certos conceitos previstos na lei
– artigos 14º e 15º
63
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Normas diretivas – Fixam princípios que devem ser observados em


determinadas matérias – artigos 10º, 11º e 12º
 Normas interpretativas – Servem à interpretação de outras normas – artigo 1º nº3
 Normas permissivas – Permitem a prática de determinados atos que
normalmente seriam ilícitos, mas que em razão de especiais circunstâncias são
permitidos.

Nas normas sobre estados de perigosidade e medidas de segurança falta imperatividade,


falaremos então de determinação, que podem ser:
 em sentido restrito
 em sentido amplo

A norma penal tem autonomia, evidente na aplicação de casos concretos.


Crimes de forma livre – A lei tutela o bem jurídico contra qualquer espécie de
comportamento que o agrida.

Crimes de forma vinculada – A lei descreve a forma do comportamento proibido ou


imposto.

Leis penais em branco – Alguns tipos penas não indicam em si mesma o


comportamento contrário à norma, o comportamento que é proibido ou imposto, antes,
remetem o destinatário da norma para uma disposição legal diferente da lei penal, donde
a norma penal se limite aparentemente a estabelecer a sanção. Podem ser:
 em sentido lato – Improprias ou homogéneas (é preciso recorrer a outra lei
complementar que advém da mesma instância legislativa, sucedendo da
conjugação de variásseis da mesma hierarquia).
 em sentido escrito – Próprias e heterogéneas (são as verdadeiras normas penais
em branco. É aquela em que a descrição da conduta proibida requer um
complemento extraído de um outro diploma oriundo de uma outra fonte
legiferante de hierarquia inferior ou mero ato administrativo.)

Princípio da legalidade – Fins do século XVIII, com o objetivo de submeter à lei o


exercício dos poderes do Estado, garantindo que fosse legal, que não pudesse
transformar-se em arbítrio. Os fundamentos do princípio ocorrem nos princípios do
século XIX, com Feuerbach.
O princípio é indissociável do Estado de Direito.
Consta no artigo 11º da DUDH.
Artigo 7º da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e das Liberdade Fundamentais
Artigo 15º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos
Na perspetiva de Jorge Miranda só existe estado de direito quando se dá a limitação
material e não apenas a formal do poder político.

Subprincípios do princípio da legalidade:

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

1. nullum crimen, nulla poena sine lege previa – Nenhum facto pode ser


considerado crime, nem nenhuma pena pode ser aplicada ao agente do facto,
sem que uma lei anterior qualifique o facto com crime e estabeleça a natureza e
quantidade da pena que lhe corresponde. Proíbe a analogia para qualificar factos
como crime e proíbe a retroatividade das leis penais prejudiciais ao agente dos
factos. Abarca não só as penas e os crimes, mas também os pressupostos dos
estados de perigosidade e as medidas de segurança – artigos 29º nº1 e 3 CRP e
1º nº2 CP.

2. Nullum crimen, nulla poena sine lege certa – A norma penal incriminadora
tem de ser certa, ou seja, determinar com suficiente precisão o facto criminoso, o
crime não pode consistir numa situação, numa qualidade ou atitude pessoal. O
facto (ação ou omissão) não pode ser inferido da lei, tem de ser definido na lei.
Proibição das leis penais em branco, pois a ratio de garantia do princípio é
violada quando a lei seja de tal modo incompleta que exija de outro facto
normativo não a sua integração, mas a própria definição do comportamento
típico.

3. Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta – A lei do Estado é a fonte das
normas que definem as incriminações e as sanções, fica excluído o costume
como facto normativo.

4. Nulla poena sine judicio – O princípio da legalidade está ligado com o


princípio da jurisdicionalidade (artigo 29º nº1 a 5 CRP), é feita pelos tribunais
de forma imparcial e independente (artigos 10º DUDH, aplicável por força do
artigo 16º nº2 CRP)

No que toca a lei do estado como fonte da lei penal, o artigo 168º nº1 alínea c) CRP
dispõe que constitui matéria da reserva legislativa da AR a definição dos crimes, penas e
medidas de segurança e respetivos pressupostos. Já o artigo 164º alínea g) compete lhe
conceder amnistias e perdões genéricos.
No que refere a definição dos crimes, penas e medidas de segurança, trata-se de reserva
relativa do Parlamento e não de reserva absoluta, mediante autorização legislativa
concedida pela AR, o Governo pode legislar em matéria penal.
Ao dizer-se que a fonte do direito penal é a lei do estado, significa que apenas a AR e o
Governo, mediante autorização legislativa, têm competências para legislar em matéria
penal.
O princípio da legalidade exige a conexão formal entre os pressupostos das penas e das
medidas de segurança e as respetivas penas e medidas de segurança aplicáveis – artigo
29º CRP.
O artigo 8º da CRP e o artigo 29º nº2 falam do Direito Internacional. O direito penal
interno sofre os efeitos da prevalência das normas comunitárias e por isso não deve ser
aplicada pelo tribunal a norma penal que esteja em conflito com um regulamento
comunitário. Os tratados são diretamente aplicáveis quando as suas normas tenham

65
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

conteúdo dispositivo, já as diretivas só vinculam os Estados-Membros a adotarem as


medidas necessárias à realização dos fins prosseguidos com a diretiva.
A UE carece de competência em matéria penal, pois os Estados-Membros não
atribuíram aos órgãos comunitários o jus puniendi, ou seja, os interesses da UE só
podem ser tutelados penalmente pelo direito interno dos Estados-Membros.
Para uma aplicação uniforme do direito comunitário pelo estados membros, o tratado
prevê um mecanismo de cooperação entre o juiz nacional e o comunitário – questão
prejudicial.
Através da analogia aplica-se a lei a factos não previstos. Verificado o caso omisso, o
interprete busca uma norma que regule situações afins da que se lhe apresenta para,
inspirando-se na razão que a ditou, dela extrair um princípio valido no caso a resolver,
segundo a regra de que ubi eadem ratio ibi eadem dispositivo. Para existir analogia é
necessário uma lacuna, sendo que a nossa lei, de acordo com o princípio da legalidade,
não admite lacunas (artigo 1 nº3 CRP). Contudo a analogia com forma de integração de
lacunas é possível nos termos do artigo 10º CC, não sendo aplicáveis a normas
excecionais.
O crime em sentido formal é afirmar que é impossível qualificar como crime um facto
que seja estranho à previsão formal da lei, pois não pode existir crime sem previsão
legal.

O princípio da legalidade impõe uma interpretação estritamente literal. Beccaria


considerava que a execução literal das leis penais era a única forma de obstar à tirania
dos juízes. É sempre necessário fazer uma interpretação.
O CP de 1886 não admitia a interpretação extensiva relativamente às normas penais
incriminadoras

Quando os sujeitos interpretam a lei:


 Interpretação autêntica – O órgão que cria uma lei também a pode interpretar.
Quando, após publicação, surgem duvidas o órgão que a criou tem competências
para a interpretar através de uma nova lei. É uma manifestação da competência
legislativa e tem força vinculante própria da lei. No direito penal não se aplica o
artigo 13º CC, que nos diz que a lei interpretativa se integra na lei interpretada,
mas este princípio sobre as limitações decorrentes do princípio da legalidade em
DP.
Se a lei interpretativa vale com a força inerente à nova manifestação de vontade
do legislador, esta pode ser uma lei inovadora, pois se se tratar de nova norma
incriminadora ou que estabeleça sanções, a lei interpretativa só vale ex nunc,
salvo se for mais favorável ao delinquente (artigo 29º CRP)

 Interpretação jurisprudencial – Interpretação feita pelos tribunais para a


aplicação da lei aos casos concretos. Não tem força vinculativa.

 Interpretação doutrinaria – Interpretação feita pelos autores e jurisconsultos


nos seus trabalhos de doutrina. Não tem força vinculativa

Elementos da interpretação:
 Elemento gramatical
 Elemento logico

66
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

o Racional ou teológico
o Sistémico
o Histórico

O professor castanheira neves diz que o teor verbal das leis, considerado na perspetiva
da problemática da interpretação juridica, não tem significação diferente da que lhe
determina essa interpretação.
Princípio in dúbio pro reo – Há que buscar o verdadeiro sentido da lei, o pensamento
legislativo, e não um sentido mais ou menos desfavorável.

A Interpretação pode ser:


 Declarativa – Quando o sentido do texto, direta e claramente, corresponde
também ao pensamento legislativo.
 Extensiva – Quando o interprete conclui que a letra do texto da lei fica aquém
do seu espírito, que a fórmula verbal adotada diz menos do que aquilo que se
pretendia dizer.
 Restritiva – Quando o interprete chega à conclusão de que o texto da lei
atraiçoa o pensamento legislativo, na medida em que diz mais do que aquilo que
pretendia dizer.
 Revogatória ou ab-rogante – Quando 2 normas ou parte delas existe uma
contradição pelo que o fim visado pelo legislador levara ao sacrifício da parte ou
totalidade de uma delas.
 Enunciativa – Quando o interprete deduz do texto uma norma que nele não está
formulada, utilizando certas interferências logico-jurídicas que assentam em
argumentos “a contrario sensu”, “a maiori ad minus” e “a minori ad maius”

A analogia é um processo de integração de lacunas do sistema legal e não meio de


esclarecer, de interpretar o conteúdo da lei.
A fraude à lei consiste no comportamento que viola o espírito da lei, mas não a sua
expressão literal. Abusa das divergências entre o seu teor literal e a sua finalidade.

Validade da lei penal no tempo - O direito penal contém especialidades quanto à


aplicação das leis no tempo.

Princípios gerais (lei penal no tempo):


 As leis só valem depois de publicadas e decorrido o período de vacatio legis,
estabelecido pelas mesmas ou genericamente por lei (artigo 5º CC).
 As leis só dispõem para o futuro (artigo 12º CC)
 A lei deixa de vigorar quando for revogada por outra (artigo 7º CC). No entanto,
há leis revogadas que continuam a aplicar-se mesmo depois da revogação
(ultratividade) e leis novas que se aplicam a factos que ocorreram antes da sua
entrada em vigor (retroatividade).

67
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

O princípio da legalidade e a necessária irretroatividade das leis penais


incriminadoras:
O que o princípio da legalidade garante com a exigência da lei prévia que o facto em
apresso tem que ser punível à data da sua prática (não impõe que seja essa a lei
aplicável).
A irretroatividade das leis incriminadoras significa que nenhum facto pode ser punível
se à data da sua prática não havia lei que o qualificasse como crime e o sancionasse com
pena e ainda que não é aplicável uma sanção criminal mais grave do que a que
correspondia por lei à data da sua prática.
1. Decorre do princípio da legalidade que ninguém pode ser condenado senão em
virtude de lei anterior que declare punível a ação ou omissão.

No entanto, pode decorrer que no momento do julgamento a lei vigente à data da prática
dos factos já tenha sido alterada ou revogada. Isto não significa, porém, que o facto que
era antes punível deixe sempre de o ser, pode acontecer que:
 O facto continue a ser punível por força de outra lei, publicada posteriormente à
prática do facto;
 Que se tratasse de uma lei de natureza temporária.

Eficácia das leis penais no tempo:


O sistema jurídico está em constante alteração. O art.2º do C.P regula a aplicação das
leis penais no tempo, dispondo sobre o que sucede em caso de alteração das leis, bem
como nos casos de caducidade das leis temporárias ou de revogações.

A lei que elimina uma norma incriminadora (descriminalização de um facto)


Se um facto é considerado crime por uma lei, mas uma nova que a revoga lhe retira essa
qualificação então este deixa de ser punível, a partir da entrada em vigor dessa nova lei.
Posto isto não se justifica mais a punição do agente do crime, ainda que praticado em
momento em que existia a lei que o qualificava como crime, isto está disposto no art.2º
nº2 C.P. Neste caso se já tiver ouvido condenação, ainda que, transitada em julgado
cessam a execução bem como os seus efeitos penais.

Razões que justificam este facto: Acontece que deixa de haver razão para a punição do
agente, considerando que a pena tem como fim:
 A prevenção geral (positiva ou negativa) ou especial: se o facto deixa de ser
considerado crime já não há razão para o prevenir, sendo que este deixa de ter
relevância penal;
 Retribuição ou a reintegração social do delinquente, deixa de haver razão para a
penalização, porque a própria ordem jurídica reconhece ao descriminalizar o ato
que não há motivo que justifique o castigo pela prática, não há motivo que
justifique o castigo pela sua prática nem o agente deve ser convencido pelo
sofrimento da pena que o facto é desvalioso.

Relativamente a estas leis pode alterar-se o preceito e manter-se a pena aplicável,


manter-se o preceito e alterar a penalidade ou alterar-se o preceito e a penalidade.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Em muitos casos a alteração da lei significa implicitamente a revogação de algumas


normas nela contida. Isto pode ocorrer de formas variadas: umas vezes pela própria
alteração da descrição da previsão, outras porque se elimina ou acrescenta algum
elemento à descrição do facto típico.

Leis penais temporárias ou excecionais ou de emergência:


Estas são as leis que só valem por um determinado período de tempo ou que se aplicam
em determinadas situações excecionais.
A regra é que estas leis valem para os factos praticados no período da sua vigência,
sendo então punível o facto praticado na sua vigência ainda que o julgamento seja em
momento posterior (quando o facto já não é punível) = Nº3 art.2º CP
Estas leis podem também ser revogadas, quando o legislador entenda que são
desajustadas, que foram erroneamente decretadas, portanto (neste caso segue-se a regra
geral- e desqualifica-se o crime), ou, quando as circunstâncias excecionais que ditaram
a sua imposição já não se justificam, aqui a revogação significa somente que a partir do
momento da revogação as razões que proibiam determinado comportamento já não se
verificam.
A caducidade da lei temporária, diferencia-a do regime regra. Esta lei é criada para
vigorar apenas num determinado período de tempo fazendo face às adversidades que se
vão verificar apenas naquele período determinado, posto isto é lógico que ao existirem
situações análogas praticadas a posteriori estas não são consideradas como crime pois a
lei caducou e as que foram praticadas a posteriori já o são pois a lei tutelava
determinado bem apenas naquele período de tempo daí que ao haver infração nesse
período esta seja plenamente considerada num período a posteriori. Assim se justifica a
derrogação do regime geral (por esta natureza especifica), afinal a sua caducidade ou
alteração são uma certeza assim que cessem as circunstâncias excecionais ou o termo
fixado na lei, então se não pudesse haver julgamentos destes crimes a posteriori a lei
perdia a força jurídica.
A vigência da lei temporária está condicionada pela permanência das circunstâncias que
lhe deram origem.
A temporalidade da lei pode ser:
 expressa: quando a própria lei fixa a sua vigência para um período determinado;
 implícita: quando a temporalidade da lei resulta da verificação de circunstâncias
excecionais, sendo esta válida enquanto as mesmas se mantiverem. Estas
designam-se frequentemente na doutrina por leis de emergência.

Pode haver uma sucessão de leis temporárias (pode não haver modificação da lei
anterior nestas sucessões), ou seja, duas leis que se sucedem no tempo, neste caso
impera o princípio geral da aplicação retroativa da lei mais favorável, salvo se a nova
lei estabelecer expressamente ou resultar da sua interpretação que a alteração justifica
um regime diverso (ainda que também temporário).

Sucessão, revogação e incriminação de leis:


Quando um facto cabia na descrição de uma lei e já não cabe na descrição da nova (que
a alterou) = revogação da norma contida na lei anterior.

69
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Se um facto não cabia na descrição da lei anterior, mas passa a caber na lei nova= nova
incriminação
Quando o facto era punível na lei anterior e continua a sê-lo na lei nova (ainda que as
consequências possam divergir) = sucessão de leis (é a este facto que se refere o art.2º
nº4 C.P e parte final do número 4 do artigo 29º da constituição)

A lei que modifica a norma penal:


Aplica-se sempre a norma que se mostrar mais favorável (entre as que vigoram entre
a prática do facto e o julgamento) ao delinquente, seja a lei que vigorava à data da
prática do crime ou qualquer outra posterior de conteúdo mais favorável. Não se fazem
comparações abstratas entres as leis, olha-se sim aos resultados completos da aplicação
de cada uma delas. A dificuldade maior em decidir qual a pena mais favorável resulta da
comparação de penas sucessórias.
A nossa lei não estabelece equivalências entre as penas.
Pena de prisão é sempre mais grave que multa independentemente da sua duração ou do
valor da multa.
No caso de concurso de infrações a jurisprudência tem sido no sentido de que a
determinação do regime mais favorável ao agente há de ser apreciada em relação a cada
um dos crimes e não aos cúmulos jurídicos. Não consideramos esta orientação a certa
pelo menos na forma simplificadora. Nós consideramos que no caso dos concursos
devem ser comparados os resultados globais. Embora a comparação se tenha de fazer a
partir da lei sobre concurso vigente à data do último crime cometido e leis posteriores.

A lei que modifica a natureza jurídica do facto:


Se um facto é qualificado como crime e passa a contraordenação há uma
descriminalização (lei penal não é mais aplicável art.2º nº2 C.P), do mesmo modo, se o
facto era contraordenação e é elevado a crime há uma criminalização que não pode ser
aplicada retroativamente.

Leis interpretativas penais:


Nº1 art.445º Código do processo penal= a decisão que resolver o conflito tem eficácia
no processo em que o recurso foi interposto.
O nº 3 do mesmo artigo dispõe = A decisão que resolver o conflito não constitui
jurisprudência obrigatória para os tribunais judiciais, mas, estes devem fundamentar as
divergências relativas à jurisprudência fixada.
Concluindo a decisão tem natureza de norma interpretativa, sendo a própria lei que não
obriga à sua aplicação nem retroativamente nem para o futuro. Antes da alteração do
445º (para isto) a decisão preferida em recurso era obrigatória para os tribunais
judiciais, no entanto era interpretativa e não constitutiva de direito, pelo que a
jurisprudência fixada devia aplicar-se a todos os casos ainda não decididos após
publicação no diário da república.

Norma declarada inconstitucional:


Nos termos do art.282º CRP a declaração de inconstitucionalidade ou ilegalidade com
força obrigatória geral produz efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada
inconstitucional ou ilegal e determina a repristinação das normas, que ela eventualmente
haja revogado. O nº3 do mesmo artigo ressalva os casos julgados, salvo decisão em
contrário do tribunal constitucional quando a norma respeitar a matéria penal,

70
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

disciplinar ou de ilícito de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável


para o arguido (isto em regra).
Com efeito a identificação das normas válidas é uma prioridade, antecedendo lógica e
valorativamente, a aplicação da norma (lei posterior) de conteúdo mais favorável
(art.29º nº4). Isto porque a aplicação de uma norma inconstitucional violaria o disposto
no artigo 207º da CRP (que constitui uma derivação obrigatória e imediata dos
princípios do estado de direito e da legalidade (art.2º e 3º da CPR)).
Concluindo em primeiro encontra-se o dever de julgar de acordo com a constituição e
depois o de aplicar a lei mais favorável.

Recusa de ratificação ou ratificação com emendas das leis penais:


Valem neste domínio os princípios que regem a sucessão de leis penais: proibição da
retroatividade de norma penal desfavorável e aplicação retroativa de norma penal
favorável. Ao ser menos favorável a lei nova só produz efeitos para o futuro.
A recusa da ratificação, a suspensão de vigência ou a alteração do decreto lei (art.172º
CRP), devem ser consideradas como lei nova revogatória do decreto lei.
A lei enquanto não for ratificada é válida e eficaz pelo que a lei de tipificação deve
considerar-se como uma lei nova.

O caso julgado e a aplicação retroativa da lei penal mais favorável:


A constituição estabelece um princípio de retroatividade da lex mitior, dado que, o
princípio constitucional da igualdade proíbe a fixação de limites à sua aplicação
retroativa, com o intuito de impedir que situações idênticas tenham tratamento desigual,
sendo que disto podem resultar graves injustiças.
A intangibilidade de um caso julgado não é absoluta, a lei permite o recurso
extraordinário de revisão e noutro lugar também a constituição admite exceção ao
respeito do caso julgado, em ordem a respeitar a lei penal mais favorável (art 282º nº3
CRP).
Posto isto, após a decisão transitada em julgado, mas antes da pena estar cumprida na
totalidade, entrar em vigor lei penal mais favorável do que aquela que foi aplicada ao
condenado este pode requerer a reabertura da audiência para que lhe seja aplicado o
regime novo (art.317º código processual penal, introduzida pela lei nº 48/07 de 29 de
agosto), dando-se deste modo cumprimento ao disposto na constituição no art.29º CRP.
Por sua vez, a lei nº59/2007 de 4 de Setembro, alterou o n´4 do art.2º do código penal,
dispondo que se tiver havido condenação ainda que transitada em julgado, cessam a
execução e os seus efeitos penais logo que a parte da pena que se encontrar cumprida
atinja o limite máximo da pena prevista na lei posterior (não é uma ressalva ao efeito do
caso julgado porque como dito a cima o processo pode ser reaberto havendo nova
audiência com base no novo regime).

A modificação da lei penal e as medidas de segurança:


Relativamente aos pressupostos das medidas de segurança bem como às mesmas, não
há qualquer especialidade relativamente aos crimes. Não havendo distinção por parte da
lei o art.29º nº1,3 e4 CPR, é aplicável igualmente aos factos criminosos e aos
pressupostos das medidas de segurança (nº1) as penas e as medidas de segurança (nº3).
A aplicação retroativa da lei mais favorável é também aplicada igualmente aos crimes e
medidas de segurança (nº4).

71
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Há que realçar que isto não é uniforme nas diversas ordens jurídicas. Ex: o código
alemão dispõe que à medida de segurança se aplique a lei em vigor no momento da
decisão; o francês dispõe que o princípio da não retroatividade não se aplica às medidas
de segurança.
Aplicação no tempo das leis processuais penais
A regra sobre a aplicação no tempo destas leis conta do art. 5º do código de processo
penal, que dispõe que a lei processual penal é de aplicação imediata, sem prejuízo da
validade dos atos realizados na vigência da lei anterior. No entanto há leis de natureza
mista (processual e substantiva), a estas leis deve aplicar-se o regime substantivo,
enquanto concretamente for mais favorável ao arguido (ex: prescrição do procedimento
criminal e sobre condições de procedibilidade).

As leis processuais penais materiais:


As leis que têm efeito sobre a penalidade concreta aplicada ao arguido devem ser
consideradas de natureza material, ainda que também tenham natureza processual.
Henriques da Silva (1905), ensinava que as leis formulárias podem envolver ofensas de
direitos e sempre que isto sucede é substantiva a lei formulária e não deve aplicar-se
retroativamente, por implicar com os direitos dos cidadãos, mas esta lição só ganhou
seguidores agora.
As normas sobre prescrição do procedimento criminal, tem natureza material e por isso
são de aplicação retroativa quando mais favoráveis ao arguido. Isto porque de acordo
com Figueiredo Dias, Cavaleiro de Ferreira e Taipa de Carvalho, as normas sobre
prescrição afetam a delimitação da infração, necessariamente afetada pela extinção do
direito de ação penal, constituem causa de afastamento da punição e condicionam a
efetivação da responsabilidade penal.
No que respeita às normas sobre condição de procedibilidade, a orientação da doutrina e
da jurisprudência não está ainda assente, verificando-se divergências acentuadas. Mas,
em termos gerais, aplica-se a lei mais favorável ao arguido.
A maior dificuldade reside em determinar o momento a partir do qual se há de contar
o prazo para a apresentação de queixa, quando a lei nova exige queixa e a anterior
não.
Taipa de Carvalho apresenta as seguintes propostas de solução:
 Quando a lei nova converte o crime público em semi-público, este no caso do
titular do direito já conhecer o facto e os seus autores contar-se-á a partir do
momento em que entrou em vigor a lei nova.
 Quando a lei nova encurta o prazo aplicar-se-á a lei nova se o tempo que ainda
faltar decorrer para preencher o prazo da lei antiga for superior ao prazo da lei
nova, caso contrário continua a aplicar-se a antiga

A solução apresentada por Taipa de Carvalho é a que tem sido seguida pela
jurisprudência e que parece tutelar também o interesse das vítimas. Esta orientação
parece impor-se pelo direito constitucional de acesso aos tribunais e de proteção contra
a vitimização secundária (arts.20 nº1 e 32º nº9 CRP).
Situação especial é a que resulta de à data da alteração da lei que converte o crime
público em semipúblico ou particular para haver procedimento criminal há dependência
de queixa, já houver um processo instaurado. Neste caso o processo mantem-se válido
pois as normas são de aplicação imediata, mas não retroativa.

72
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Sobre esta questão dos prazos de apresentação da queixa, importa bastante a fase em
que o processo se encontra:
 Se se encontra na fase de inquérito, não nos parece que o ministério público
possa deduzir acusação sem prévia queixa, pois a legitimidade não é imutável;
 Se o processo se encontrar na fase de instrução ou de julgamento e o crime
público passou a semi-público ou particular, esta alteração já não tem efeitos no
que respeita à validade da acusação, mas a nova natureza do crime tem
implicações, nomeadamente no que diz respeito à extinção do procedimento pela
via de desistência da queixa (renuncia ao procedimento).

As normas sobre execução de penas:


Cavaleiro de Ferreira entende que há que distinguir entre as que se reportam à essência
ou substância das penas e aquelas que apenas respeitam as modalidades administrativas
da execução. Neste último caso as normas são de aplicação imediata, naquele são
aplicáveis os princípios gerais sobre a aplicação no tempo das leis penais.

O momento da penetração do crime para efeitos de determinação de lei aplicável:


Regra geral: Para efeito da aplicação da lei no tempo é necessário determinar o
momento da prática do facto. Art.3º C.P, o facto considera-se praticado no momento em
que o agente atuou, ou no caso de omissão, deveria ter atuado, independentemente do
momento em que o resultado típico se venha a produzir (o que importa é o momento da
ação ou omissão).
Com o início da execução de um crime, este já existe na forma tentada embora em
alguns casos a tentativa possa ficar impune (art.22º CP). Posto isto o facto determinante
para fixar o tempus delicti tem de ser necessariamente o primeiro ato de execução, neste
momento tem de já ser incriminado por lei.
Um crime pode ser instantâneo ou duradouro/continuado, no segundo caso é difícil
determinar o momento da prática dos factos pois a execução se prolonga no tempo.
Acontece que quando um comportamento se protele no tempo no seu decurso podem
vigorar leis diferentes e aqui é relevante saber o exato momento em que os factos se
sucederam, porque nem sempre é suficiente aplicar a regra do regime mais favorável.

O que acontece em cada caso:


 Crime de execução prolongada: Se durante a execução surgir nova lei, ainda
que mais gravosa, é esta a lei aplicável a todo o facto, uma vez que não é
possível distinguir partes de facto. Acresce que o agente pode sempre desistir a
meio de um crime prolongado, mas a desistência da tentativa fica impune.
Também a não desistência causa frustração à função de prevenção da lei penal;

 Crime continuado (pluralidade de crimes unificados juridicamente art.79º


CP): A solução do problema depende da natureza jurídica que for atribuída ao
crime continuado. A solução depende de cada um dos crimes cometidos e da
determinação do tempo de prática.
Primeiro há que determinar qual a lei aplicável a cada crime, depois forma-se o
concurso de crimes neste momento deve atender-se à data do último crime. Se
leis posteriores forem mais favoráveis aplicam-se retroativamente.

73
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Temos sempre que considerar o regime global e não a pena aplicável a cada
crime, para determinar qual o regime mais favorável.
O crime continuado não constitui um comportamento unitário.
A solução que preconizamos nada tem a ver com as normas sobre prescrição
porque para esta temos norma expressa a determinar que corre desde a data do
último facto (art.119 C.P), o que muitas vezes faz com que crimes que estariam
prescritos, se considerados isoladamente, deixam de o estar em razão da
unificação jurídica resultante da continuação;

 Crimes permanentes: Nestes crimes há só uma ação ou omissão que se protela


no tempo (ex: sequestro), o tempo delicti não deixa de continuar a ser o do início
da execução. Frequentemente estes crimes tem consequências ao nível da
ilicitude do facto.
A doutrina tradicional é a de que se durante o decorrer deste tipo de crimes surge
uma nova lei ainda que menos favorável é esta que é aplicada, uma vez que não
é possível distinguir partes do facto.

 Delinquentes por tendência e alcoólicos e equiparados (pena relativamente


indeterminada): arts.83º e 88º C., o que conta para a aplicação da respetiva lei
é o último crime, pois é este que vai determinar a aplicação da pena
relativamente indeterminada. Aqui aplica-se a lei mais favorável.

 Concurso de crimes: O momento relevante é o da prática do último crime, é


em função deste em concorrência com os demais que se decide o regime
aplicável, sendo aplicável retroativamente regime posterior mais favorável, nos
termos gerais. As ponderações são feitas em torno do regime global e não crime
a crime.

A validade da lei penal no espaço em relação às pessoas


Há crimes que violam interesses de mais que um estado ao mesmo tempo (iter criminis
das infrações penais pode realizar-se em mais de um estado), aí entramos no domoninio
do direito penal internacional à semelhança do direito internacional privado (é um
direito interno), sendo ambos direitos nacionais cuja diferença se manifesta no objeto.

Direito internacional penal surge na primeira guerra mundial, é o direito que


determina as infrações, estabelece as penas e fixa as condições de responsabilidade
penal internacional dos estados e dos indivíduos. O objeto deste direito são as
verdadeiras normas internacionais de fonte consuetudinária ou convencional e outras
que tem como fonte entidades supra-nacionais. O conjunto de normas internas ou
convencionais que em cada sistema jurídico resolvem estes conflitos designa-se então
direito penal internacional.

Princípios deste direito (normalmente os países usam 5):


 Da territorialidade, geralmente é o princípio predominante e cinge-se ao
território do estado. Os crimes nele cometido são regidos pelas suas leis,
qualquer que seja a nacionalidade do agente do crime ou da vítima. Princípio

74
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

semelhante a este é o da bandeira ou pavilhão segundo o qual o estado em que


está registada a aeronave ou o navio pode sujeitar o seu poder punitivo as
infrações cometidas a bordo independentemente da nacionalidade dos
envolvidos e do território onde se encontrem.

 Da nacionalidade ou personalidade, determina que a lei aplicável é a do pais


de origem do delinquente, onde quer que ele se encontre. Este princípio
normalmente só se aplica de forma subsidiária para evitar impunidades de
crimes cometidos no estrangeiro por nacionais de outros países. Este princípio
desdobra-se em dois subprincípios:

o Princípio da nacionalidade ativa: aqui aplica-se a lei do pais de origem


do agente, sem se atender ao bem jurídico violado pelo crime;

o princípio da nacionalidade passiva: a lei do país de origem só se aplica


quando o bem jurídico ofendido pertence a pessoas da mesma
nacionalidade.

As alíneas b) e) e g) do nº 1 do art.5º fazem a aplicação do princípio da nacionalidade


ativa e passiva, estes são os crimes a que a lei penal portuguesa será aplicada em meio a
este princípio.
As alíneas B), E) E G) do art.5º C.P fazem a aplicação do princípio da nacionalidade,
ativa e passiva. Nas hipóteses previstas nestas alíneas a aplicação da lei portuguesa só
tem lugar quando o agente não tiver sido julgado no país da prática ou se houver
subtraído ao cumprimento total ou parcial da condenação. Não obstante ser aplicável a
lei portuguesa o facto é julgado segundo a lei do pais onde for praticado sempre que isto
se mostre mais favorável, neste caso há uma conversão da pena aplicável à que lhe
caberia no sistema português, ou não havendo correspondência direta daquela que a lei
portuguesa prevê para o facto (ressalvam-se desta regra as alíneas A) e B) do art.5º.
Equipara-se ao princípio da nacionalidade a sede em Portugal das pessoas coletivas.

 Da defesa, da proteção ou real, diz que a lei aplicável é a da nacionalidade


do bem jurídico violado ou ameaçado, independentemente do local onde o
crime foi cometido bem como da nacionalidade do agente. Este princípio
torna-se necessário quando o princípio da territorialidade se mostra ineficaz.
Um exemplo da aplicação deste princípio é a alínea A nº1 do art.5º do CP,
segundo este preceito é aplicável a lei penal portuguesa, salvo tratado ou
convenção em contrário, a factos praticados fora do território português
quando constituírem crimes de burla informática (art.221º) outros crimes que
servem de exemplo são os expostos nos artigos nº 262º, 271º, 325º, 345º, 308º,
321º..

 Da justiça universal ou universalista, o delinquente fica sujeito à lei do país


onde for encontrado, independentemente do local onde comete o crime, bem
como da sua nacionalidade. Constituem aplicação deste princípio as previsões
das alíneas c) e D) do nº1 do art.5º.

75
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Da representação, a lei penal de um pais é também aplicada aos crimes


cometidos no interior de navios e embarcações privadas, quando ocorram no
estrangeiro e aí não sejam julgados.
As leis não acolhem com exclusividade qualquer destes princípios, recolhem
frequentemente elementos de cada um deles (como acontece no caso
português).

Princípios gerais da lei penal portuguesa


A lei penal portuguesa é válida para todo o território nacional (art.5º CRP diz qual o
território português,). O art.4º e 5º do C.P declaram que salvo tratado ou convenção em
contrário a lei penal portuguesa é aplicada a todos os factos que sucedam no território
ou abordo de navios ou aeronaves portuguesas, independentemente da nacionalidade do
agente. Em razão das ressalvas no tratados e convenções internacionais a lei portuguesa
é ainda aplicável a quaisquer factos cometidos fora do território nacional que o estado
português se tenha obrigado a julgar por tratado ou convenção.
Princípio do pavilhão: consideram-se portugueses os navios de guerra e os mercantes
no alto mar.

Imunidades
A lei é igual para todos e não existem privilégios pessoas que limitem a aplicabilidade
da lei, mas, há pessoas que em virtude das suas funções na orgânica do estado ou em
rezão de regras de direito internacional gozam de imunidades.
Imunidades são privilégios por força dos quais as pessoas a quem são atribuídas não
ficam sujeitas à jurisdição do estado ou não lhes são aplicadas as sanções previstas na
lei penal.
Discute-se na doutrina a natureza destes privilégios se é substantiva (as pessoas gozam
de uma isenção quanto à inaplicabilidade das suas penas penais, quando segundo os
princípios gerais seria aplicada a lei penal portuguesa) ou natureza adjetiva quando
simplesmente gozam do privilégio de não se submeterem à jurisdição portuguesa.

As imunidades costumam classificar-se em


 Absolutas, quando eximem de responsabilidade ou isentam de submissão à
jurisdição por qualquer crime. São reservadas aos chefes de estado estrangeiros,
são imunidades de direito público internacional geral.
 Relativas ou funcionais, quando são limitadas a algum ou alguns crimes.
Podem ter origem no direito público interno (deputados da assembleia da
república pelos votos e opiniões que emitirem art.160 nº1 CRP e as dos juízes
pelas suas decisões art.216 nº2) ou no internacional (diplomatas e agentes
internacionais a eles equiparados).

O fundamento das imunidades, internas e internacionais, é sempre de natureza política


interna ou internacional.

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

A responsabilidade das pessoas coletivas: Admite-se a responsabilidade penal das


pessoas coletivas. O grande problema da questão muitas vezes passa por saber quem
efetivamente deve ser julgado pelo erro cometido em nome da pessoa coletiva.

A responsabilidade por facto próprio


O art.30º nº3 CRP, dispõe que as penas são insuscetíveis de transmissão, daqui resulta
que cada um é responsável pelos seus atos e que ninguém se pode responsabilizar pelos
atos de outrem. Com ressalva da responsabilidade imputada nas pessoas coletivas que
pode ser estruturado como responsabilidade por facto de terceiros.

Sentenças penais estrangeiras


Tradicionalmente os estados não aceitam a exequibilidade das sentenças penais
estrangeiras no seu território, por questões de soberania, isto encontra-se regulado no
art.234º a 240º Código de processo penal. A eficácia depende da lei ou de tratado ou
convenção e de prévia revisão e confirmação.

Extradição, asilo e expulsão


A constituição proíbe sempre a extradição e a expulsão nos casos referidos no art.33º
CRP.
O instituto da extradição pertence ao direito internacional público, normalmente a
questão é regulada por tratados ou convenções, na falta, utiliza-se a lei ou costume do
pais a que é solicitada a extradição.
A extradição pode ser
 ativa, quando pede para se extraditar alguém para o seu território e o recebe.
 passiva, entregar alguém a outro estado.
 de trânsito, quando um país permite que um extraditado por lá passe, para
efetivação de entrega.

O código penal português no seu art.5º nº1 deixa claro que pais se pode recusar a
extraditar, mas que haverá julgamento em Portugal.

Princípios gerais da extradição:


1- Proibição da extradição dos nacionais (art33º CRP), salvo em situações de
reciprocidade estabelecidas em convenções internacionais, casos de terrorismo,
criminalidade organizada e se o outro estado der garantias de processo justo e
equitativo.
2- Proibição da extradição por motivos políticos (art33º e art.7º da lei de
cooperação judiciária)
3- Proibição de extradição por crimes punidos com penas leves (art.10º lei da
cooperação)
4- Não se pode extraditar delinquentes ou arguidos por crimes cometidos no
território onde se encontram, se o crime for cometido em Portugal é julgado
em Portugal.
5- Outras limitações impostas pela lei português: art.6º alínea B lei nº 144/99 e
art.33º CRP

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Direito de asilo e expulsão de estrangeiros: A extradição é limitada pelo asilo.


O direito de asilo assume três dimensões:
 Internacional, consiste no direito do estado a acolher a quem é perseguido ou
ameaçado de perseguição por outro estado;
 Pessoal, enquanto direito subjetivo do perseguido obter refúgio e asilo noutro
estado e não ser remetido para o estado de onde provém;
 Constitucional objetiva, meio de proteção dos valores constitucionais
(democracia, liberdade, paz, direitos da pessoa humana...)

O estatuto de refugiado político é conferido a estrangeiros e apátridas que beneficiem de


asilo, impedimento à extradição ou expulsão.
Expulsão: ato unilateral do estado, quando há uma entrada ou presença com
irregularidades por parte de estrangeiro.

Critério da ubiquidade ou solução plurilateral


O art.7º do C.P dispõe que o facto se considera praticado tanto no local onde o agente
atuou total, parcialmente, sob qualquer forma de comparticipação, ou no caso da
omissão devia ter atuado, como naquele em que o resultado típico se tiver produzido. (é
o que diz este princípio).
No caso de ter sido só uma tentativa o facto considera-se igualmente praticado nos dois
âmbitos.
Sempre que por força deste critério o facto seja considerado praticado em dois locais,
predomina o princípio da territorialidade.
Penas que devem acontecer em Portugal: se já tiver havido julgamento e condenação
total ou parcial noutro país, quando devia ter acontecido em Portugal à um desconto da
medida processual ou pena em Portugal. Se o agente for julgado no estrangeiro e
absolvido é irrelevante tem de ser julgado de novo em Portugal.

VIGÊNCIA TEMPORAL DA LEI

Introdução:
Uma das decorrências do princípio da legalidade é que não há crime sem uma lei
anterior ao momento da prática do facto que declare esse comportamento como crime e
estabeleça para ele a correspondente sanção.
Em Direito Penal vigora, portanto, a lei do momento da prática do facto. Mas a
aplicação externa ou exacerbada deste princípio poderia levar a situações injustas.
Donde o princípio geral em matéria penal é de que as leis penais mais favoráveis
aplicam-se sempre retroativamente.

Aplicação da lei:
Qual é a lei que no momento do julgamento o juiz devia aplicar ao arguido? É a lei do
momento da prática do facto, que é a, mas favorável, do que a lei posterior, ainda que

78
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

essa lei tenha revogado aquela. Existe ultra-actividade da lei penal, porque se aplica
sempre a lei penal de conteúdo mais favorável ao arguido.
O momento da prática do facto é sempre aquele em que, no caso de se tratar de um
crime comissivo ou por ação, o agente atuou, ou, no caso de se tratar de um crime
omissivo, no momento em que o agente deveria ter atuado.

Duas situações:
Uma nova lei vem descriminalizar uma determinada conduta. Como deve reagir a
ordem jurídica? Se a conduta vier a ser descriminalizada não deve ser condenado por
essa conduta, mesmo que o agente tenha já sido condenado e se encontre detido (artigo
2º nº2 CP). Cessa os efeitos penais – princípio da aplicação da lei mais favorável.
Regime que se revela concretamente mais favorável, deve-se aplicar este regime ao
agente.
No entanto a lei no artigo 2º nº4 CP coloca um limite para o efeito retroativo – “salvo se
este já tiver sido condenado por sentença transitada em julgado”. É diferente dos efeitos
da descriminalização.
Há autores que defendem a inconstitucionalidade do artigo 2º nº4 CP, outros defendem a
sua constitucionalidade.

Constitucionalidade do artigo 2º nº4 CP:


A Constituição de 1976 foi revista em 1982, o Código Penal é de 1982 e entrou em
vigor em 1983; donde, o legislador penal deveria ter conhecimento das disposições
constitucionais e se legislou ordinariamente consagrando esta ressalva, é porque a
ressalva não é incompatível com o disposto na Constituição, por ser legislação posterior.
Não é incompatível o artigo 2º nº4 CP com o artigo 29º nº4 CRP, na medida em que a
Constituição manda aplicar retroativamente a lei de conteúdo mais favorável ao arguido,
e arguido tem um sentido técnico-jurídico rigoroso: uma coisa é arguido, outra é
condenado e outra ainda é réu.
O artigo 2º nº4 CP, diz que a lei penal de conteúdo mais favorável só não se aplica ao
condenado, e isto porque, se já há trânsito em julgado da sentença condenatória, é
porque esse indivíduo já foi condenado, não se estando a falar em arguido, mas sim em
condenado.
A entender-se o contrário, ou seja, a entender-se a aplicabilidade da lei mais favorável,
pôr-se-ia em causa o princípio “ne bis in idem”, e também se poria em causa a
intangibilidade no caso julgado.
Se realmente se pudesse aplicar retroativamente esta lei mais favorável, então estava-se
a julgar outra vez o mesmo indivíduo pela prática do mesmo facto. E o princípio “in bis
in idem”, de que ninguém deve ser julgado/condenado duas vezes pelo mesmo facto
(artigo 29º nº5 CRP) era posto em causa.

Inconstitucionalidade do artigo 2º nº4 CP:

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

O Direito Penal tem carácter subsidiário, é o princípio da subsidiariedade do Direito


Penal. Logo o Direito Penal só deve intervir quando se torne necessário a sua
intervenção.
Não faz sentido que o Estado, equacionando uma valoração eminente a um determinado
crime, se abstenha a partir de determinado momento de impor uma determinada
punição; como também não faz sentido continuar a aplicar uma punição que o Estado
recusou num determinado momento.
Esta ressalva é inconstitucional porque viola o princípio da igualdade, e também existe
o princípio da igualdade dos cidadãos na administração da justiça.
Um outro argumento para a inconstitucionalidade da ressalva do artigo 2º nº4 CP,
substancialmente não existem diferenças a que se aplique retroativamente as normas
que operam a descriminalização, das normas que não operam uma descriminalização,
mas principalmente uma despenalização, porque nos dois casos se altera o regime penal.
O que está em causa é uma diferente valoração do legislador quanto aos factos
considerados crimes.

Leis temporárias e leis de emergência:


As leis temporárias são as leis que marcam “ab initio”, à partida, o seu prazo de
vigência; são as normas que se destinam a vigorar durante um determinado período de
tempo pré-fixado. São leis temporárias que caducam com o “terminus” da vigência que
pré-fixaram.
As leis de emergência são as leis que face a determinado circunstancialismo anormal
vêm penalizar, criminalizar determinadas condutas que até aí não eram consideradas
crime, ou vêm efetivamente agravar a responsabilidade penal por determinado facto que
até aí já era crime, mas em que esse agravamento se deve tão só a situações ou
circunstâncias anormais que reclamam a situação de emergência.
Ressalva-se no artigo 2º nº3 CP, que continua a ser punido o facto criminoso praticado
durante o período de vigência de uma lei de emergência.
Significa que, não obstante no momento do julgamento a lei já não estar em vigor por já
ter caducado ou já ter sido revogada, deve continuar a ser punido pelo facto que praticou
durante esse período em que a lei estava efetivamente em vigor.
Em bom rigor, no âmbito das leis temporárias não há uma verdadeira sucessão de leis
no tempo, porque:
- A lei é temporária em sentido estrito, não necessita de nenhuma outra lei para
que se possa afirmar uma sucessão de leis penais no tempo; a lei é só uma só faz sentido
falar em sucessão de leis penais no tempo e em retroatividade ou irretroatividade
quando estão em causa mais do que uma lei, pelo menos duas leis. Aqui a lei é só uma.
- Não há uma lei diferente, não há uma sucessão de regimes, donde também não
faz sentido falar em aplicação retroativa porque a lei é sempre a mesma.

Aplicação da lei no espaço:


Não são só conexões geográficas que o legislador utiliza para tornar aplicável alei penal
portuguesa, para que seja competente para julgar factos penalmente relevantes.

80
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

O legislador utiliza também a conexão dos valores ou dos interesses lesados ou


ameaçados de lesão com as atividades criminosas, o valor dos interesses postos em
causa pela prática do crime. Isto evidencia-se em sede de dois princípios:
- Princípio da tutela ou da proteção dos interesses nacionais.
- Princípio da universalidade ou de aplicação universal.

Vindo estes princípios consagrados no artigo 5º CP.

Princípio da tutela ou da proteção dos interesses nacionais:


Quando se trate de crimes expressamente consagrados no artigo 5º nº1 CP, são crimes
que o Estado português entende ferirem a sensibilidade jurídica nacional, são crimes
que põem em causa valores ou interesses fundamentais do Estado português.
Os factos penalmente relevantes ocorridos em território nacional, a lei portuguesa é
competente para os julgar – princípio da territorialidade.
Este princípio da territorialidade é depois complementado pelo princípio do pavilhão
ou da bandeira pelo qual independentemente do espaço aéreo ou das águas, a lei penal
portuguesa também se aplica a factos praticados no interior de navios com pavilhão
português, ou a bordo de aeronaves registadas em Portugal.

Princípio da universalidade ou da aplicação universal:


São de alguma forma crimes que todos os Estados têm interesse em punir. De um modo
geral, independentemente da nacionalidade dos seus autores, são crimes que reclamam
uma punição universal e daí que as ordens jurídicas se reclamem competentes para fazer
aplicar a sua lei penal a esses factos descritos no artigo 5º nº1 alínea b) CP.
Da alínea c) do artigo 5º nº1 CP retira-se o princípio da nacionalidade, também dito
princípio da personalidade ativa ou passiva.
O princípio da nacionalidade ativa diz basicamente que a lei portuguesa se aplica a
factos praticados no estrangeiro por portugueses. É de harmonia com o princípio da
nacionalidade ativo, que a lei penal portuguesa aplica-se a factos praticados no
estrangeiro que sejam cometidos por cidadãos nacionais.
O princípio da nacionalidade passiva diz que a lei penal portuguesa se aplica a factos
cometidos no estrangeiro contra portugueses.

Condições para o princípio da nacionalidade:


1º Condição: os agentes sejam encontrados em Portugal (artigo 5º nº1 alínea b)
CP);
2º Condição: que os factos criminosos “sejam também puníveis pela legislação
do lugar em que foram praticados, salvo quando nesse lugar não se exerça poder
punitivo”;
3º Que “constituam crime que admite extradição e esta não possa ser
concedida”, não se admite a extradição de cidadãos nacionais.

81
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Esta condição prevista na 3ª condição, só funciona cumulativamente quando se trate de


um caso de nacionalidade passiva, quando se trate de um crime praticado no estrangeiro
por um estrangeiro contra um, português.

Teoria da ubiquidade:
Visa abranger os delitos à distância.
O artigo 7º CP é importante: se considerar que a conduta ou o resultado típico tiveram
lugar em Portugal, então pode-se considerar que o facto ocorreu em território nacional;
e aí poder-se-á aplicar a lei penal portuguesa por força do preceituado no artigo 4º CP e
que consagra o princípio da territorialidade, uma vez precisamente que este princípio
vem dizer que a lei penal portuguesa é aplicável a factos praticados no território
nacional.
Uma vez em sede do artigo 5º CP vai-se analisar caso a caso:
- Se será o princípio da proteção dos interesses nacionais, poderá ser um dos
crimes elencados no aliena a);
- Se haverá afloramento do princípio da universalidade (alínea b));
- Se será eventualmente o princípio da nacionalidade ativa ou passiva previsto na
alínea c); e aqui verificar se estão reunidas todas as condições previstas e se existem ou
não restrições à aplicabilidade da lei portuguesa

Princípio da dupla incriminação e princípio da especialidade:


O princípio da dupla incriminação, significa que só é admitida a extradição se o
Estado português considerar também crime o facto pelo qual se pede a extradição ou o
facto que fundamenta a extradição.
O princípio da especialidade significa que a extradição só pode ser concedida para o
crime que fundamenta o seu pedido, não podendo o extraditado ser julgado por uma
infração diferente e anterior à que fundamenta o pedido de extradição.
Por outro lado, também em princípio não se admite a extradição quando seja
prioritariamente aplicável a lei penal portuguesa.

Princípio da administração supletiva da justiça penal (artigo 5º nº1 alínea e) CP):


Admite que o Estado português julgue um criminoso que tenha cometido um crime no
seu país de origem contra um cidadão desse país e fuja para Portugal.
Pressupostos:
- Que o agente se encontre em Portugal;
- A extradição seja pedida;
- Seja possível a extradição, mas não seja admitida.

O artigo 6º define as condições gerais de aplicação da lei penal portuguesa a factos


cometidos por estrangeiros:

82
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

- Princípio de que ninguém pode ser responsabilizado por um facto mais do que
uma vez (artigo 29º CRP);
- Artigo 6º nº2 CRP, depois de ver que lei penal é competente, tem-se que ter em
atenção a lei do lugar onde o facto foi cometido, e mais favorável, mas que puna o facto.
As condições no artigo 6º nº2 CP não funciona quando está em causa o princípio da
proteção dos interesses nacionais (artigo 6º nº3 CP).

Concurso aparente de normas ou leis penais:

O direito penal não admite:

• que existam normas que se contraponham deste modo, dispõe regras que
• que uma pessoa seja julgada mais do que previnem o conflito entre as
uma vez pela prática do mesmo crime (bis in idem) normas.

Quando o facto viola duas normas distintas e autónomas não se pode falar de conflito,
uma vez que todas as normas violadas têm aplicabilidade simultânea, mas se o facto
incide sobre várias normas, mas estas apresentam uma relação de hierarquia, podendo
apenas uma ser aplicável a outra terá de ser absorvida. Neste caso, já nos podemos
dirigir ao conflito aparente porque o sistema jurídico detém mecanismos que
determinam qual das normas é mais adequada ao facto,

Obs: Prima facie: quando duas normas estão em colisão

O concurso aparente de normas corresponde:

 o sentido de várias normas aplicáveis a um mesmo facto, mas em que só uma é


efetivamente aplicável devido a outros critérios, como os princípios da
especialidade e subsidiariedade, ou por outro lado, várias normas aplicáveis a
vários factos, mas que duvido à relação existente entre os factos, só uma será
aplicável, porque a condenação pelo ilícito típico mais grave exprime já o
desvalor de todo o comportamento – princípio da consumpção.

83
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 Prof. Figueiredo Dias: afirma que só existe conflito de normas no princípio da


consumpção. Para determinar qual a lei a ser aplicada recorre-se ao regime
“unidade de norma ou de lei”.

O conflito aparente de normas denomina-se por um concurso aparente de normas ou de


lei, que se destinam a casos em que várias normas são aplicáveis a um mesmo facto, por
este estar previsto nas mesmas, mas só uma é que é realmente aplicável.
Este conflito distingue-se do concurso real de normas que, abrande os casos em que
várias normas são efetivamente aplicáveis ao mesmo facto. No conflito aparente o facto
apenas viola uma norma, mesmo que o facto esteja previsto noutras normas – aplica-se
apenas uma norma-, enquanto que no concurso real ocorre a violação de várias normas,
sendo que foram concretizados vários crimes por meio de um só facto – aplicam-se
normas em simultâneo.

Concurso real de normas (concurso ideal de crimes) desdobra-se ainda em:

 Concurso heterogéneo: quando um só facto viola diferentes normas


Exemplo: com um só tiro o atirador mata uma pessoa e destrói um objeto de arte
- temos um só facto e dois crimes de tipos legais diferentes (uma contra as
pessoas e outra contra propriedade)

 Concurso homogéneo: quando um só facto viola várias vezes a mesma norma


Exemplo: com um só tiro o atirador mata três pessoas – temos um só facto e três
crimes do mesmo tipo.

 um crime e, são aplicadas várias ou normas ou a mesma norma várias vezes.

Concurso real de crimes:

 pluralidade de crimes e pluralidade de normas aplicáveis ou a mesma norma


várias vezes.

Pressupostos do concurso de normas:

Para que ocorra um concurso de normas, quer seja aparente ou real, é necessário existir
uma pluralidade de normas e um só facto, a que estas normas sejam aplicáveis.

 Pluralidade de normas:

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Para que haja concurso aparente de normas tem de haver duas normas concorrentes,
deste modo não há concurso aparente quando um facto viola várias vezes a mesma
norma.

 Unidade de facto:

o O facto é o conteúdo da hipótese normativa, da previsão das normas e da


factispécies. Isto é, o facto é definível na sua unidade ou pluralidade em
função de um critério, é através do factispécies que o próprio facto se
configura como sendo o facto previsto na lei. O que permite identificar a
diferença específica das situações de facto do ponto de vista do direito é a
factispécies jurídica.

o Para haver um concurso de normas, é necessário que o facto seja só um, mas
esta unidade é estabelecida por um critério jurídico, em função da lei. A
norma pode individualizar um facto, mas existem outros elementos
necessários para individualizar um facto concreto, sendo este o pressuposto
do concurso de normas.

o Os elementos da realidade do facto, reunidos como unidade por força de uma


norma, podem ser simultaneamente estruturados como uma unidade por
força de outras normas. O facto corresponde à unidade de violação da lei
penal e, por isso, o mesmo comportamento pode constituir vários factos ou
um só facto.

Princípios para a resolução de conflito aparente de normas:

O concurso aparente de normas verifica-se quando entre as normas concorrentes haja


uma relação de especialidade, de subsidiariedade ou de consumpção. Em todos estes
casos, uma das normas convergentes prevalecerá sobre a outra ou outras aparentemente
aplicáveis e, que por isso serão excluídas.

Obs: O código penal não contém critérios de inaplicabilidade de uma das normas
convergentes sobre o mesmo facto e sobre a aplicabilidade de outra norma convergente
que sobre a primeira prevalece e a exclui.

 Princípio da especialidade – Lex Specialis Derogat Legi Generali:

o A relação entre a norma geral (género) e a norma especial (espécie).

o A norma especial contém todos os elementos de uma norma geral e, mais


alguns de natureza objetiva e subjetiva, denominados de especializastes, por
este motivo esta apresenta um minus ou um plus de severidade, isto é, a
85
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

norma especial configura-se em relação à norma geral como um seu


desenvolvimento ou enriquecimento do conteúdo dos conceitos nela usados.

o A norma especial, ou seja, aquela que acrescenta elementos à própria


descrição legal do crime previsto na geral, prefere à norma geral e, afasta-se
do bis in idem, uma vez que o comportamento do agente só será enquadrado
na norma incriminadora especial, embora o crime também esteja previsto na
norma geral.

o À especialidade pode corresponder uma sanção mais grave, de tipo


qualificado, ou uma menos grave, de tipo privilegiado, o que importa é que a
norma especial é a que se aplica, pois, o legislador possui elementos
especiais para alterar o género, atenuando-o o agravando-o.

o A relação de especialidade é uma relação em que a norma geral contém a


norma especial, mas esta é a que será aplicada porque é a que se adequa mais
ao facto concreto.

o As normas gerais sobre a interpretação das leis regulam expressamente os


efeitos da relação de especialidade: a norma especial prevalece sobre a
norma geral e afasta a aplicação desta (artigo 7º nº3 C.C). - A norma especial
é determinada por meio da interpretação.

Representação gráfica da relação de especialidade:

Figura 1:

Representa-se por dois círculos em que o maior inclui um ou mais círculos menores,
representado a maior a norma geral e o menor a norma especial.

Figura 2:

Representa o círculo maior a norma geral e cada um dos menores as normas especiais.

Exemplos:
Na figura 1 podemos aludir aos artigos 131º e 132º do C.P. O conteúdo do artigo 131º é
o crime de homicídio comum, por este motivo corresponderia à norma geral (círculo
maior) e, o artigo 132º refere-se ao homicídio qualificado, que por sua vez corresponde
à norma especial (círculo menor).

Se o facto couber no artigo 132º, então este caberá também no artigo 131º, no entanto se
o artigo 132º não existisse seria aplicado o artigo 131º, mas como o 132º existe é este
que vai ser aplicado porque específica um ou mais elementos do crime, tornando esta
norma mais próxima do caso concreto.
Imaginemos que A mata B, o seu pai. A morte de qualquer pessoa cabe no 131º, no
entanto no 132º refere-se ao crime cometido contra o pai, então seria esta aplicada
porque é a que está mais próxima do caso concreto do que o 131º.

86
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Na figura 2 podemos também referir o artigo 131º (homicídio comum ou simples),


continuando este a corresponder a norma geral. Um dos menores círculos corresponderá
ao artigo 133º (homicídio privilegiado) e o outro corresponderá ao artigo 134º
(homicídio a pedido da vítima). As normas 133º e 134º são especiais relativamente ao
artigo 131º, sendo que estas contemplam um caso particular do homicídio. Se o 133º e o
134º não existissem, seria aplicado o 131º, mas como estas existem serão estas a ser
aplicadas por que se posicionam mais perto do caso concreto.

O artigo 8º e 9º do C.P têm fundamento no princípio da especialidade, atribuindo-lhes


assim prevalência. Se a lei especial, incriminando certos factos, produzir preceitos
especiais para a sua aplicação contrapondo-se às normas do código, o conflito apenas
será resolvido pelo princípio da especialidade.

Por outro lado, podem existir várias normas em relação de especialidade com uma
norma comum, deste modo pode-se suceder casos em que as normas especiais
concorrem entre si, verificando-se concorrência de qualificações ou privilegiamentos e
de qualificações e privilegiamentos. Entre estas normas não ocorrem relações de género
a espécie, como acontecia na especialidade, mas sim de subsidiariedade ou de exclusão.

Exemplo:

O artigo 132º e 133º são ambas normas especiais e não cabem uma na outra, então é
necessário verificar qual a norma a ser aplicada.

Aplicações no código penal português:

 O artigo 131º, que prevê homicídio doloso simples (norma geral)


constitui normas especiais:

o Artigo 132º – homicídio agravado e qualificado


o Artigo 133º, 134º, 135º e 136º – homicídio privilegiados.

 O artigo 143º, que prevê o crime de ofensa à integridade física simples


(norma geral) constitui normas especiais:

o Artigo 144º, 145º e 146º, que prevê ofensas à integridade física


agravadas
o Artigo 147º, que prevê ofensa à integridade física privilegiada
(esta é especial relativamente às que foram mencionadas em
cima).

87
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 O artigo 203º, que prevê o crime de furto (norma geral) constitui normas
especiais:

o Artigo 204º, que prevê o crime de furto qualificado


 O artigo 205º nº1, que prevê abuso de confiança (norma geral) constitui
normas especiais:

o Artigo 205º nº4 e nº5.

 Os crimes de roubo previstos no artigo 210º, sendo geral a norma do nº1


e especiais os nº2 e nº 3 do mesmo artigo (roubos qualificados). As
normas do artigo 210º são também normas especiais (qualificadas)
relativamente à do artigo 203º, que prevê o furto. - O crime de roubo é
complexo, uma vez que o seu autor viola não só um bem jurídico de
caráter patrimonial, mas também um bem jurídico pessoal.

Princípio da Subsidiariedade – Lex Primaria Derogat Legi Subsidiariae e Princípio


da Exclusão:

Princípio da Subsidiariedade:
Uma lei tem caráter subsidiário quando o facto por ela incriminado é também
incriminado por outro, tendo, por isso um âmbito de aplicação comum, no entanto cada
uma delas tem também um campo de aplicação diferenciado não abrangido pela outra.
Isto é, o facto cabe nas duas normas e, por isso estas normas apresentam-se idênticas, no
entanto as suas normas enunciam um conteúdo diferenciado.

Diferença entre especialidade e subsidiariedade:


Na subsidiariedade, os factos previstos em uma e outra norma não estão em relação de
espécie a género, antes são diferenciados, embora possuam as duas uma zona que
podem interferir relativamente ao facto. Deste modo, quando duas normas preveem o
mesmo facto concreto, por inteiro, aplica-se aquela que possui a penalidade mais grave,
uma vez que é a que melhor realizará os fins da ordem jurídica penal. O facto definido
pela norma subsidiária não é só de menor gravidade que o da principal, mas dela se
diferencia, pois, é uma parte desta. Ou seja, a figura típica subsidiária está contida na
principal (ver pg. 285º – nota 632).
Subsidiariedade:

 Expressa (explícita ou formal): quando uma lei contém no seu próprio texto a
cláusula de que a sua aplicação está subordinada à não aplicação dessa outra.

 Tácita (implícita ou material): quando o facto incriminado por uma norma entra
como elemento constitutivo de facto incriminado por outra norma, de modo que
a presença do último exclui a simultânea punição do primeiro.

Ou seja, a subsidiariedade traduz-se no seguinte: quando o facto é punido por uma


norma principal, em princípio consagrando uma moldura penal mais grave, não pode sê-

88
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

lo também pela norma subsidiária (no facto, de certas normas só se aplicarem


subsidiariamente).

O gráfico da relação de subsidiariedade:

Figura 3:

Representa-se por dois círculos, a parte em que se sobrepõe representa a parte comum
entre as normas, no entanto o facto concreto não corresponde apenas à zona sobreposta,
mas cabe inteiramente em cada uma das normas. O que se sucede é que o mesmo facto
cabe inteiramente nas duas normas, mas a aplicação de ambas desencadearia numa
dupla punição a um só facto concreto, o que não pode acontecer.

Aplicações no código penal português:

Subsidiariedade explícita:

 O artigo 152º prevê os maus-tratos ou sobrecarga de menores, de incapazes ou


de cônjuge e pune o crime com pena de 1 a 5 anos, se o facto não for punível
pelo artigo 144º. No entanto, se os maus-tratos constituírem crime de ofensa de
integridade física grave punível pelo artigo 144º com pena de prisão de 2 a 10
anos é este o aplicável.

 O artigo 215º prevê o crime de usurpação de coisa imóvel por meio de violência
ou ameaça punível com pena de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240
dias, mas se a violência ou ameaça, isto é o meio utilizado constituir crime
punível com pena mais grave, é esta a pena aplicável.

 O artigo 230º prevê o crime de perturbação de arrematações, por meio da


dádiva, promessa, violência ou ameaça com mal importante e pune-o com pena
de prisão até 2 anos ou com pena de multa até 240 dias, se os meios usados
constituírem crime punível com pena mais grave, é esta a aplicável.

 O artigo 243º prevê o crime de tortura e outros tratamentos cruéis, degradantes


ou desumanos, punindo-o com pena de prisão de 1 a 5 anos, mas se os atos de
crueldade, degradantes ou desumanos constituírem crime punível com pena
superior, é esta a aplicável.
 O artigo 292º prevê o crime de condução de veículo em estado de embriaguez,
punindo-o com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias, mas
a embriaguez for elemento de outro crime punível mais grave e este se verificar,
é esta a pena aplicável.

 O artigo 293º prevê o crime de lançamento de projétil contra veículo e pune-o


com pena de prisão até 6 meses ou com pena de multa até 60 dias. Se, porém,
com o lançamento de projétil for cometido crime mais gravemente punível, será
a pena deste aplicável.

89
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

 O artigo 322º prevê os crimes praticados contra pessoa que goze de proteção
internacional, punindo-os com pena de prisão de 1 a 8 anos, mas se os crimes
cometidos, independentemente, da qualidade das vítimas, forem puníveis com
pena mais grave, será esta a aplicável.

 O artigo 337º prevê o crime de obstrução à inscrição de eleitor por meio de


violência, ameaça de violência ou artifício fraudulento, punindo-o com pena de
prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias, mas se os meios
empregados constituírem crime punível com pena mais grave é esta a pena
aplicável.

Subsidiariedade implícita:

 O artigo 190º incrimina e pune a violação de domicílio. A introdução ou


permanência na habitação de outra pessoa sem o seu consentimento pode fazer-
se por meio de violência, sendo então punível com pena de prisão até 3 anos ou
com pena de multa. Se, porém, a violência consistir em crime de ofensas à
integridade física grave, punível, pelo artigo 144º com pena de 2 a 10 anos, é
esta a norma aplicável.

 O crime de violação de domicílio pode fazer-se por meio do arrombamento,


sendo este punível com prisão ate 3 anos ou com pena de multa. O crime de
dano dos artigos 212º e 213º, pode ser cometido por outro fim sem ser apenas
entrar em casa alheia. Portanto, ambas as normas se mostram aptas a regular o
mesmo facto punível, mas será aplicada a norma que perante o caso possuir pena
mais gravosa, ainda que a subsidiariedade não esteja expressa na lei.

 O artigo 347º prevê o crime de coação sobre funcionários, punindo com pena de
prisão até 5 anos que empregar violência contra funcionário para o constranger a
que pratique ato relativo ao exercício das suas funções, mas contrário aos seus
deveres. Se a violência constituir em ofensa contra a integridade física punível
com pena de 2 a 10 – artigo 144º – é esta a ser aplicada.

Concurso entre normas especiais em relação de subsidiariedade e de exclusão:

Pode suceder-se que ao mesmo facto sejam aplicáveis em concurso normas


simultaneamente de qualificação, de privilegiamento ou de qualificação e de
privilegiamento.

Exemplo: se A matar o pai, movido por profunda compaixão em face do seu prolongado
sofrimento, admite-se que o facto se enquadra no artigo 132º e 133º. Não estamos
perante um concurso de normas porque a integração do facto no âmbito da norma do

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

133º exclui a norma 132º. Posto isto, a qualificação do artigo 132º resulta da especial
censurabilidade do facto e o privilegiamento do artigo 133º da menor censurabilidade,
pelo que são incompatíveis: ou se aplica uma ou outra, uma exclui a outra.

Exemplo de do concurso de duas normas privilegiadas: concorrência sobre o mesmo


facto dos artigos 133º e 134º.

 Ambas as normas concorrem sobre o facto, sendo aplicável a norma que


estabeleça maior privilegiamento.

 Pela subsidiariedade deveria ser aplicada a 133º porque possui a pena mais
grave, o que seria injusto se o facto se inserisse no 134º, porque possui uma pena
menor.

 Quando concorrem duas normas privilegiadas ao facto, deve ser aplicada aquela
que for mais favorável ao delinquente. Trata-se de uma relação material, só
verificável na aplicação da lei ao caso concreto, sendo ambas as normas
aplicáveis em abstrato, mas não o sendo em concreto para evitar o bis in idem, e
porque ambas atenuantes devem ser aplicadas a que procede a uma mais intensa
atenuação.

Princípio da Consumpção – Lex Consumens Derogat Legi Consumptae:

Verifica-se a relação de consumpção quando o crime previsto por uma norma


(consumida) é absorvido pelo crime previsto por outra (consumptiva).
A norma consumida e a consumptiva são autónomas, uma delas não é mais específica
que a outra, o que se sucede é que uma delas capta toda a dimensão do facto ilícito
(consumptiva), o que a outra não faz (consumida). Os factos não se apresentam em
relação de espécie e género, mas de minus a plus entre os bens jurídicos que dominam
os preceitos.

Princípio major absorbet minorem:

 A eficácia da consunção de normas criminais está dependente não só da


circunstância de os bens jurídicos tutelados se encontrarem numa relação de
mais para menos, mas também de, no caso concreto, a proteção visada por uma
delas ficar esgotada ou consumida pelas outras. As normas que punem a
falsificação e a burla não estão entre si numa relação de mais para menos, pois
que visam a defesa, a tutela de bens jurídicos diferenciados que são, quanto à
falsificação, os que se prendem com a fé pública que devem merecer os
documentos, e, quanto à burla, os referentes à integridade patrimonial dos
lesados.

O gráfico do princípio da consumpção:

Figura 4:

91
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

As normas são autónomas, totalmente independentes, tendo quanto à realidade de facto


que incriminam, campos de aplicação inteiramente diferentes, deste modo podem ser
apresentadas por 2 círculos que não se tocam.

 No princípio da consumpção o facto é diferenciado, embora seja expressão de


um desvalor penal homogéneo e por isso é expressão de uma unidade normativa,
ou seja, o facto diferenciado é expressão de um desvalor homogéneo.

Exemplo: No furto acompanhado do dano da coisa furtada. Imaginemos o furto de fruta.


Ao ofendido não importa o que sucede à fruta furtada, ou seja, se a comida é vendida ou
simplesmente destruída pelo ladrão.

A doutrina entre que o princípio compreende os casos de antefacto, pós-facto ou facto


simultâneo que expressem o mesmo desvalor do facto principal e por isso não puníveis,
outros incluem no seu âmbito os crimes progressivos (não é acertado por delimitarem o
facto típico).

Preparação do crime: consumpção dos atos preparatórios e da tentativa pelo crime


consumado

✔ iter criminis: pensamento criminoso (nuda cogitatio) até à consumação


(execução), passando pelos atos preparatórios.
✔ Nuda cogitatio e atos preparatórios não são puníveis (artigo 21º C.P).

✔ O artigo 21º dispõe que os atos preparatórios não são puníveis, mas existem
exceções, uma vez que há normas que punem até os atos preparatórios, como é o
caso dos artigos 271º, 274º, 300º nº5 e 344º. Nestes casos, os atos preparatórios
são puníveis autonomamente, isto é, se o crime que preparam não for executado,
mas se o iter criminis prossegue os atos preparatórios são absorvidos na unidade
do crime que prepara.

Exemplo:

A aquisição de moeda falsa para ser posta em circulação é um ato preparatório do crime
da passagem de moeda falsa, previsto no artigo 241º como crime autónomo. O facto de
ser punido como crime autónomo não significa que a sua punição deva ter sempre lugar,
pois ela verifica-se quando o agente fique por aí (aquisição) no iter criminis, mas não já
quando do mero perigo de lesão, que a aquisição representa, se passou à execução e
consumação do próprio crime de passagem de moeda falsa, isto é, à lesão concreta do
bem jurídico em causa, dado que nesta hipótese a norma que pune a lesão consome já a
proteção que a outra norma – que pune o perigo da lesão- tem em vista (consumação).

Execução do crime:

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

A seguir à fase de preparação vem a fase da execução do crime, esta pode ser
incompleta dando lugar, nos crimes mais graves, à incriminação por tentativa, por força
do artigo 23º do C.P.

Duas distinções: Isto é: o crime ou


crimes na forma de
 Quando a tentativa que procede o crime consumado tentativa precede o
ou leva à realização da mesma resolução criminosa. crime consumado, mais
 Quando a consumação do crime é a execução de uma o crime consumado
outra resolução criminosa, isto é, da realização de um novo crime. posterior consome o
crime ou crimes
tentados anteriormente

Exemplo:

Quando um delinquente comete dois crimes e o primeiro leva ao homicídio de alguém,


sendo este tratado como o segundo crime que consumou o anterior, o agente do crime
deve ser punido integralmente pelo homicídio que, entretanto, ocorreu. Mas, para que
isto aconteça é necessário que ocorra uma ligação entre os dois crimes, ambos
praticados com o mesmo fim, ou seja a ofensa ao bem jurídico vida, e num quadro
temporal quer permita a conclusão de que ambos tinham a mesma finalidade concreta.
Os crimes sucessivos têm de apresentar um nexo de continuação, final e temporal.

Outros factos anteriores, concomitantes e posteriores:

 factos anteriores impunes:

Agora importa distinguir os próprios factos, ou seja, os factos mantêm distintos e


desencadeiam numa progressão criminosa. Quando o facto anterior serve de meio para
cometer o crime subsequente (mais grave) ou quando o crime posterior apresenta o
mesmo fim do que o primeiro que o agente do crime pretendia realizar – consumpção.
Relativamente à proteção dos bens jurídicos, a jurisprudência exige que os bens
jurídicos tutelados pelas distintas normas têm de ser os mesmos, mas seria mais
acertado exigir que o bem jurídico ofendido pelo primeiro crime (consumado), seja
tutelado pelo crime que consome.

 Factos concomitantes impunes:

Um crime que tenha levado à execução de outro crime, provocando danos


desnecessários à execução do último, ou seja não sendo essencial ao caso, acabará por
ser consumido pelo último crime que foi cometido.
Exemplo: O agente do crime, inicialmente, infringe a norma 151º (crime de rixa),
posteriormente, viola a integridade física da vítima (artigo 143º a 146º) e, por fim

93
Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

comete um homicídio (artigo 131º a 132º), na tutela dos bens jurídicos será utilizada as
normas da integridade física e do homicídio, consumindo assim o crime de rixa, uma
vez que no meio de tantos acaba por ser desnecessário.
Exemplo: o crime de ofensas corporais é consumido pelo crime de violação, mas caso o
último não se concretize, o primeiro autonomiza-se (concurso real).

 Atos posteriores impunes:

Quando o autor do crime tem uma conduta que lesa o bem jurídico que foi prejudicado
pelo crime anterior, esta conduta não será punida, uma vez que já está abrangida na
tutela do bem em função do crime anterior. Mas, isto já não acontece se a conduta
posterior ao crime prejudicar outro bem senão aquele que foi anteriormente prejudicado.
Exemplo: O autor do crime de furto que depois destrói a coisa furtada não é, em
acumulação, responsável por furto da propriedade e furto de uso ou por furto e dano. A
perda da propriedade da coisa furtada já tinha sido ponderada na tutela jurídica da
incriminação por furto, sendo assim consumida.
Exemplo: O autor da falsificação da moeda não é punível pela passagem da moeda
falsificada, esta constitui facto posterior impune (artigo 262º e 265º).

Outras questões conexas com o concurso de normas crime:

O crime progressivo e a progressão criminosa:

O crime progressivo é considerado como uma das modalidades da consumpção. O


crime progressivo é aquele que ocorre o agente do crime pretende alcançar um resultado
mais grave, por meio de atos sucessivos, são violações acrescidas ao bem jurídico.
Exemplo: o agente do crime quer matar uma pessoa, mas começa por ofensas corporais,
até chegar à sua finalidade que é a morte da vítima (unidade de conduta).
Aqui não há um verdadeiro consumo pelo último crime, porque a conduta é considera
unitária. Não é possível distinguir os vários atos praticados, porque estes juntos e que
vão integrar o resultado final do crime.
Exemplo: quando são realizadas várias ofensas criminais, estas não poderão ser vistas
isoladamente, uma vez que todas estas juntas é que desencadearam na ofensa corporal
grave.

Na progressão criminosa verifica-se uma pluralidade de condutas, aqui coloca-se a


questão se um crime poderá ser consumido por outro.
Aqui o agente comete um crime, e sucessivamente outro e outro, mas de modo a que o
crime posterior tenha como fim o crime que foi planeado deste o primeiro crime que foi
cometido. Os vários crimes são absorvidos pelo crime final. No entanto, é necessário
que os crimes sucessivos possuam um nexo de continuação, de insistência na
prossecução do fim que o agente se propôs.
Princípio da alternatividade:

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Inês Carvalho Direito Penal I 2º ano – 1º Semestre

Este é um princípio que resolve a convergência aparente de normas, mais


concretamente, referente à norma que prevê várias condutas como modalidade do
mesmo crime. Segundo este, a norma só será aplicada uma vez, ainda que os factos
sejam praticados pelo mesmo sujeito sucessivamente. Neste caso, não há convergência
de normas, mas sim uma norma, cujo preceito único pode ser violado por qualquer uma
das condutas descritas e sucessivas.

Concurso formal ou ideal de crimes:

Ocorre quando o agente, mediante uma só ação, pratica dois ou mais crimes.
Distinguindo-se do concurso material pela unidade de conduta: no concurso material, o
agente comete dois ou mais crimes por meio de duas os mais condutas distintas.
Exemplo de concurso ideal ou formal: o agente com um só tiro ofende mais de uma
pessoa

Artigo 30º C.P: equipara o concurso real de crimes ao concurso ideal

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