Tutoria III - Câncer de Próstata
Tutoria III - Câncer de Próstata
Tutoria III - Câncer de Próstata
Objetivos
1. Entender o câncer de próstata (epidemiologia, fatores de risco, quadro clínico, diagnóstico e
rastreamento – recomendações)
Epidemiologia
O câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre a população masculina, representando 29% dos
diagnósticos da doença no país. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam para 65.840 novos casos de
câncer de próstata a cada ano, entre 2020 e 2022. Homens com mais de 55 anos, com excesso de peso e obesidade,
estão mais propensos à doença.
Um em cada 9 homens será diagnosticado com câncer de próstata durante sua vida.
O câncer de próstata ocorre principalmente em homens mais velhos. Seis em cada 10 casos são diagnosticados em
homens com mais de 65 anos, sendo raro antes dos 40 anos. A média de idade no momento do diagnóstico é de 66
anos.
O câncer de próstata é a segunda principal causa de morte por câncer em homens, atrás do câncer de pulmão. A cada
41 homens, pelo menos 1 morrerá de câncer de próstata.
O câncer de próstata pode ser uma doença grave, mas a maioria dos homens diagnosticados com a doença não irão
morrer por causa dela.
No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-
melanoma). Em valores absolutos e considerando ambos os sexos, é o segundo tipo mais comum. A taxa de incidência
é maior nos países desenvolvidos em comparação aos países em desenvolvimento.
Mais do que qualquer outro tipo, é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo
ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado
pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e
pelo aumento na expectativa de vida.
Fatores de Risco
Idade: É doença extremamente rara abaixo dos 40 anos. A incidência começa a aumentar a partir dos 50 anos.
Dois em cada três pacientes com essa doença têm mais que 65 anos quando recebem o diagnóstico.
Raça: o câncer de próstata é mais frequente em homens com ascendência africana e caribenha do que em
homens de outras raças. O câncer de próstata ocorre com menos frequência em homens asiáticos e
hispânicos/latinos do que em brancos não hispânicos
Nacionalidade: é mais comum na América do Norte, noroeste da Europa, Austrália e nas ilhas do Caribe . É
menos comum na Ásia, África, América do Sul. O rastreamento intensivo em alguns países desenvolvidos,
provavelmente, é responsável por pelo menos parte dessa diferença, mas outros fatores, como diferenças de
estilo de vida tender a ser importantes
Histórico Familiar: ter parente de primeiro grau com diagnóstico de CA de próstata mais que duplica o risco
de um homem desenvolver a doença
Alterações Genéticas: algumas alterações genéticas hereditárias podem aumentar o risco de desenvolver mais
do que um tipo de CA. Os homens com síndrome de Lynch, tem uma condição causada por alterações
genéticas hereditárias, têm um risco aumentado para um série, incluindo o CA de próstata
Dieta: Alguns estudos sugerem que dietas hipercalóricas, ricas em gorduras e pobres em fibras, frutas e
vegetais aumentam o risco, mas o tema é controverso.
Obesidade: alguns estudos mostram que homens obesos têm uma risco menos de contrair uma forma de baixo
grau (crescimento mais lento) da doença, mas um risco maior de contrair CA de próstata mais agressivo
(crescimento mais rápido)
Exposição ocupacional: existe algumas evidências de que bombeiros expostos a produtos de combustão tóxica
têm um risco aumentado de CA de próstata
1
Rayssa Garcia – MED XXXVIII
Inflamação de próstata: alguns estudos têm sugerido que a prostatite (inflamação da próstata) pode ser
associado a um risco aumentado da doença. A inflamação é muitas vezes diagnosticada em amostras de
tecidos da próstata, que também contêm câncer.
Doenças Sexualmente Transmissíveis: DST, como gonorreia ou clamídia, podem aumentar o risco desse CA,
possivelmente levando a inflamação da próstata porém, até agora os estudos não são conclusivos.
Quadro Clínico
Em sua fase inicial, o câncer da próstata tem evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma
ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata (dificuldade de urinar, necessidade
de urinar mais vezes durante o dia ou a noite).
Na fase avançada, pode provocar dor óssea, sintomas urinários (micção frequente, fluxo urinário fraco ou
interrompido, vontade de urinar frequentemente a noite(nicturia), sangue na urina ou no sêmen), disfunção erétil, dor
no quadril, costas, coxas, ombros ou outros ossos se a doença se disseminou, fraqueza ou dormência nas pernas ou
pés, ou, quando mais grave, infecção generalizada ou insuficiência renal
Diagnóstico
O diagnóstico do câncer da próstata é feito pelo estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata, que
deve ser considerada sempre que houver anormalidades no toque retal ou na dosagem do PSA.
O relatório anátomo-patológico deve fornecer a graduação histológica do sistema de Gleason, cujo objetivo é informar
sobre a provável taxa de crescimento do tumor e sua tendência à disseminação, além de ajudar na determinação do
melhor tratamento para o paciente.
A escala de graduação do câncer da próstata varia de 1 a 5, com o grau 1 sendo a forma menos agressiva:
a) Grau 1 – As células são, geralmente, uniformes e pequenas e formam glândulas regulares, com pouca variação de
tamanho e forma, com bordos bem definidos, densamente agrupadas, distribuídas homogeneamente e com muito
pouco estroma entre si.
b) Grau 2 – As células variam mais em tamanho e forma e as glândulas, ainda uniformes, mostram-se frouxamente
agrupadas e com bordos irregulares.
c) Grau 3 – As células variam ainda mais em tamanho e forma, constituindo glândulas muito pequenas, uniformes,
anguladas ou alongadas, individualizadas e anarquicamente espalhadas pelo estroma.
d) Grau 4 - Muitas das células estão fusionadas em grandes massas amorfas ou formando glândulas irregulares, que
são distribuídas anarquicamente, exibindo infiltração irregular e invadindo os tecidos adjacentes. As glândulas podem
apresentar, ainda, células pálidas e grandes, com padrão hipernefróide.
e) Grau 5 – Tumor anaplásico. As massas de células podem exibir necrose central, com padrão de comedocarcinoma.
Muitas vezes, a diferenciação glandular pode não existir: padrão de crescimento infiltrativo tipo cordonal ou de
células soltas.
OBS: Para se obter o escore total da classificação de Gleason, que varia de 2 a 10, o patologista gradua de 1 a 5 as
duas áreas mais frequentes do tumor e soma os resultados. Quanto mais baixo o escore de Gleason, melhor será o
prognóstico do paciente.
• Toque prostático (TP) - é sempre recomendável e também fundamental no estadiamento da doença, bem como para
definição do tratamento.
• Antígeno prostático específico (PSA) - aceita-se como valores limites normais até 4 ng/ml, porém podem existir
tumores com PSA abaixo deste valor. Quando o PSA estiver acima de 10 ng/ml há indicação formal para biópsia. Para
valores entre 4 -10 ng/ml deve-se também levar em consideração a velocidade do PSA e a relação PSA livre/total.
• Ultra-som transretal – pode ser usado para orientar a biópsia da próstata. Também pode ser útil na determinação do
volume prostático e para avaliar a extensão local da doença.
• Cintilografia óssea: É fundamental no estadiamento do câncer da próstata, sendo altamente sensível, porém pouco
específica. É indicada para todo paciente portador de câncer da próstata com PSA > 20ng/ml e PSA entre 10-20 com
graduação histológica de Gleason ≥ 7. Para pesquisa de metástases.
2
Rayssa Garcia – MED XXXVIII
Rastreamento
O rastreamento universal de toda população masculina (sem considerar idade, raça e história familiar)
apresenta controvérsias, pois pode diagnosticar, entre outros, câncer de próstata de baixa agressividade, que
não necessita de tratamento, cujos pacientes são submetidos a biópsias, que têm potencial de complicações
(infecção local), e, eventualmente, tratamentos radicais com potencial impacto na qualidade de vida.
Individualizar a abordagem é fundamental neste sentido. A identificação de pacientes com risco de
desenvolver a doença de forma mais agressiva, por meio de parâmetros clínicos ou laboratoriais, pode ajudar a
individualizar a indicação e frequência do rastreamento. Entre diversos fatores, a idade, a raça e a história
familiar apresentam-se como os mais importantes.
Para pacientes diagnosticados com tumores de baixo risco, a visão contemporânea é o oferecimento do regime
de observação vigilante como conduta e consiste em avaliações periódicas por meio de toque retal e dosagens
do PSA, reservando-se a ressonância magnética da pelve e/ou biópsia prostática para ser realizada em
intervalos variados.
A recomendação é de que homens a partir de 50 anos devem procurar um profissional especializado, para
avaliação individualizada. Aqueles da raça negra ou com parentes de primeiro grau com câncer de próstata
devem começar aos 45 anos. O rastreamento deverá ser realizado após ampla discussão de riscos e potenciais
benefícios, em decisão compartilhada com o paciente. Após os 75 anos, poderá ser realizado apenas para
aqueles com expectativa de vida acima de 10 anos.
Epigenética
O sequenciamento genômico de diversas espécies nos trouxe rápida expansão do conhecimento sobre os processos
biológicos nas plantas e animais. No entanto, além da sequência primária de DNA, a organização da cromatina exerce
função chave na determinação de padrões de expressão gênica: regiões menos compactadas da eucromatina são mais
acessíveis à transcrição. Logo, a mesma sequência gênica pode ser expressa normalmente ou transcricionalmente
silenciada dependendo da conformação da cromatina – eucromatina ou heterocromatina. Assim, a epigenética surge
como essencial para a genômica funcional revolucionando a genética molecular.
O termo epigenética refere-se a todas as mudanças reversíveis e herdáveis no genoma funcional que não alteram a
sequência de nucleotídeos do DNA. Inclui o estudo de como os padrões de expressão são passados para os
descendentes; como ocorre a mudança de expressão espaço temporal de genes durante a diferenciação de um tipo de
4
Rayssa Garcia – MED XXXVIII
célula e como fatores ambientais podem mudar a maneira como os genes são expressos. A pesquisa na área da
epigenética alcança implicações na agricultura, na biologia e doenças humanas, incluindo o entendimento sobre
células tronco, câncer e envelhecimento.
Existem três mecanismos principais de alterações epigenéticas: metilação do DNA, modificações de histonas e ação
de RNAs não codificadores. Os padrões de metilação de DNA são os mais estudados e melhor entendidos dentre estes
mecanismos, embora modificações de histonas também sejam bastante discutidas.
A metilação do DNA está relacionada normalmente ao silenciamento de genes. Ela ocorre em 70 a 80% nas ilhas CpG
que estão associadas aos promotores gênicos. A conformação da cromatina relaciona-se com a metilação, ou seja,
regiões altamente metiladas estão associadas à heterocromatização.
As modificações de histonas melhor estudadas são as acetilações, fosforilações e ubiquitinações, formando o que
chamamos de código de histonas determinando a conformação da cromatina. Já a ação de RNAs não codificadores
está relacionada ao silencimento póstranscricional de genes através do mecanismo de RNA de interferência onde
ocorre o bloqueio da tradução ou degradação do RNAm alvo. Além, da ação bloqueadora da transcrição, os siRNA
podem ser associados à metilação de sequências de DNA.
Todos estes mecanismos parecem estar interligados para a organização estrutural da cromatina tornando-a mais
acessível ou não aos fatores de transcrição.
As mudanças epigenéticas são fortemente influenciadas pelo ambiente. Qualquer alteração ambiental, ataque de
patógenos, tipo de alimentação pode acarretar em mudanças epigenéticas. O estresse ambiental, incluindo a hibridação
e a poliploidização, são determinantes na ocorrência de variações epigenéticas.
Sendo assim, a epigenética está intimamente relacionada com o aumento de variabilidade fenotípica dos indivíduos
resultando em relevante importância para a evolução também.
Metilação
Em 1975, foi proposto o primeiro mecanismo epigenético, a metilação do DNA, que influencia a expressão gênica e
possui um padrão herdável. Esse mecanismo explica, em partes, as mudanças nos padrões de expressão gênica e a
diferenciação celular ao longo do desenvolvimento.
A metilação consiste na adição de um radical metil (CH3) no carbono 5 da base nitrogenada citosina que é seguida por
uma base guanina (lembre-se que as bases nitrogenadas do DNA são: citosina, guanina, adenina e timina). Após a
adição do radical metil, a base nitrogenada metilada passa a se chamar 5-metil-citosina. Essa adição é feita por
enzimas DNA-metil-transferases (DNMTs) que podem ser de 3 tipos: DNMT3A e DNMT3B são responsáveis por
fazer novas metilações; enquanto a DNMT1 cuida da manutenção da metilação.
A manutenção feita pela enzima DNMT1 é importante, uma vez que a desmetilação do DNA pode ocorrer de forma
passiva, ou seja, naturalmente, ao longo das várias etapas da replicação. Se não houver a atividade da DNMT1, a
citosina será desmetilada. Além do processo passivo, a desmetilação também pode ocorrer pela atividade enzimática.
A metilação do DNA leva ao recrutamento de proteínas que causam a compactação da cromatina, impedindo que a
enzima RNA-polimerase se ligue à molécula. Dessa forma não ocorre a expressão gênica, uma vez que a RNA-
polimerase é a enzima responsável pela transcrição, ou seja, pela síntese de RNA a partir da informação contida na fita
do DNA.
Normalmente, regiões da molécula de DNA nas quais não existem genes ativos (regiões chamadas de
heterocromatina) são notadamente compactadas e metiladas.
de íntrons e regiões codificadoras. Estudos recentes, baseados em ensaios em larga escala, demonstraram que durante
a carcinogênese ocorre uma perda significativa de metilação em regiões genômicas pobres em genes.
Foram propostos três mecanismos para explicar a contribuição da hipometilação do DNA no processo de
carcinogênese: geração de instabilidade cromossômica, reativação de elementos transponíveis e perda do imprinting.
A perda de metilação pode favorecer eventos de recombinação mitótica e, consequentemente, levar a deleções e
translocações cromossômicas. Em adição, pode também reativar sequências de DNA repetitivas, como elementos
nucleares interdispersos longos (elementos L1) e sequências Alu. Acredita-se que transposons não metilados podem
ser transcritos ou translocados para outras regiões genômicas, contribuindo para a instabilidade genética característica
das células cancerosas.
Por outro lado, a hipermetilação do DNA é considerada um mecanismo alternativo de inativação de genes supressores
de tumor. Nos últimos anos, muitos genes descritos como alterados em vários cânceres esporádicos foram associados
à hipermetilação em sua região promotora. Um achado interessante é que muitos genes supressores tumorais
identificados como mutados em síndromes de cânceres hereditários também podem ser silenciados por hipermetilação
(por exemplo, genes hMHL1, MSH2 e BRCA1). Esses achados apoiam a hipótese de que o primeiro evento em casos
esporádicos seria a inativação epigenética em células somáticas (epimutação) desses genes.
Recentemente, epimutações constitutivas, ou seja, presentes em todas as células somáticas, de genes associadas a
síndromes de cânceres hereditários também foram identificadas, sugerindo que essas poderiam ser herdadas ou terem
surgindo muito inicialmente durante o desenvolvimento embrionário.
A perda de expressão de outros genes também foi encontrada em células tumorais associada à metilação da região
promotora, incluindo o gene de reparo MGMT, frequentemente inativado em cânceres de cérebro, colorretal, pulmão e
linfomas e o gene DAPK, com provável função inibidora de metástases, o qual se encontra alterado em linfomas,
leucemias e câncer de pulmão.
6
Rayssa Garcia – MED XXXVIII
O estagiamento clínico dos pacientes com câncer da próstata é fundamental para o planejamento terapêutico desses
casos. Um problema prático, nesse sentido, relaciona-se com o fato de que os métodos de estagiamento são
relativamente imprecisos; entre 22 e 60% dos pacientes com câncer de próstata são subestagiados clinicamente. Além
do toque retal, que permite avaliar localmente a extensão do tumor, o estagiamento é feito por meio de medidas das
fosfatases ácida e alcalina, dosagem do antígeno prostático específico, cintilografia óssea, ultrassonografia transrretal,
estudo de ressonância magnética da pelve e do retroperitônio. O PET-CT e a linfadenectomia ilíaca podem ser
ocasionalmente incluídos na avaliação.
A graduação, baseada na arquitetura do tumor em relação à estrutura glandular normal, auxilia a prever a
agressividade do tumor. A graduação leva em conta a heterogeneidade histológica do tumor. O classificação de
Gleason é comumente utilizado. O padrão mais prevalente e o segundo padrão mais prevalente recebem um grau de
1 a 5 e os dois graus são acrescentados para produzir a classificação total. A maioria dos especialistas considera um
classificação ≤ 6 bem diferenciado; 7, moderadamente diferenciado; e de 8 a 10, mal diferenciado. Quanto mais
baixa a pontuação, menos agressivo e invasivo é o tumor e melhor é o prognóstico. Para tumores focalizados, a
pontuação de Gleason ajuda a prever a probabilidade de penetração capsular, invasão da vesícula seminal e
disseminação para linfonodos. Graus 1 e 2 de Gleason foram excluídos; como resultado, o menor pontuação
possível (3 + 3) é 6. Mas um classificação de Gleason de 6 não parece baixo em uma escala que vai de 2 a 10.
O Grade Group é um escore mais recente para ajudar a comunicar isso aos pacientes, e também para simplificar a
classificação patológica. Esse novo sistema de classificação foi aceito pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
em 2016:
7
Rayssa Garcia – MED XXXVIII
A pontuação de Gleason, o estadiamento clínico e o PSA, juntos (utilizando-se tabelas ou normogramas), preveem
o estágio patológico e o prognóstico melhor que qualquer um deles isoladamente.
O câncer de próstata é estadiado para definir a extensão do tumor (ver as tabelas Estadiamento TNM da AJCC para
câncer de próstata e Definições TNM para câncer de próstata). Ultrassonografia transretal (TRUS) pode fornecer
informações de estadiamento, particularmente em relação à invasão da cápsula e das vesículas seminais. Os
pacientes com estágio T1c ou T2a, classificação de Gleason baixo (≤ 7) e PSA < 10 ng/mL (10 mcg/L) geralmente
não são submetidos a outros exames de estadiamento e são logo tratados. O mapeamento ósseo raramente é útil para
diagnóstico de metástases ósseas (frequentemente são anormais devido a trauma das alterações artríticas) até que o
PSA seja > 20 ng/mL (20 mcg/L), ou a menos que a classificação de Gleason seja alta (i.e., ≥ 8 ou [4 +3]). A TC
(ou a RM) do abdome e da pelve são comumente realizadas para avaliar os linfonodos pélvicos e retroperitoneais se
a classificação de Gleason for de 8 a 10 e o PSA estiver > 10 ng/mL (10 mcg/L), ou se o PSA for > 20 ng/mL (20
mcg/L) com qualquer classificação de Gleason. Linfonodos suspeitos podem ser mais bem avaliados por meio de
biópsia por agulha. A RM também pode auxiliar a definir a extensão local do tumor em pacientes com câncer de
próstata localmente avançado (estágio T3). O papel do antígeno de membrana específico à próstata (PSMA) e
mapeamento com PET F18 para o estadiamento está evoluindo, mas certamente não é necessário para doença inicial
localizada.
Fosfatase ácida elevada — especialmente no teste enzimático — correlaciona-se bem com a presença de metástases,
particularmente de linfonodos. Entretanto, essa enzima também pode estar elevada em hiperplasia benigna da
próstata (e está levemente aumentada após massagem prostática vigorosa), mieloma múltiplo, doença de
Gaucher e anemia hemolítica. Atualmente, raramente é utilizada para guiar o tratamento ou para seguimento de
pacientes após o tratamento, em especial porque seu valor quando dosada por radioimunoensaio (o habitual) não foi
estabelecido. Exames utilizando reação em cadeia da polimerase (PCR, polymerase chain reaction) com
transcriptase reversa para células circulantes do câncer da próstata estão sendo estudados como instrumentos de
estadiamento e prognóstico.
Estratificação de Risco
Progressão da doença
A evolução dos pacientes com câncer da próstata é relativamente imprevisível, com casos de rápida disseminação da
neoplasia, antes mesmo de surgirem sintomas locais, e casos de evolução lenta e indolente, com lesões que
permanecem estacionárias. De uma maneira geral, tende a prevalecer esta forma de comportamento, que é corroborada
por estudo de Stamey e Kabalin, demonstrando que o tempo médio de duplicação tumoral em câncer da próstata é de
8
Rayssa Garcia – MED XXXVIII
cerca de 2 a 3 anos, um dos mais baixos entre tumores sólidos humanos. Sob o ponto de vista clínico, esses dados são
confirmados por trabalhos nos quais se analisou a evolução de portadores de câncer de próstata localizado e não
submetidos a tratamento. Embora a progressão local da neoplasia tenha sido observada em 42 a 83% desses pacientes,
após um segmento médio de cerca de seis anos, apenas 0 a 16% deles faleceram em decorrência da doença.
Quando pacientes com CaP são acompanhados sem tratamento por períodos longos de tempo, muitos acabam
necessitando de uma intervenção terapêutica por sinais de progressão da doença. Contudo, entre 26 a 57% dos casos,
mantêm-se com o quadro inicial estável e permanecem livres de tratamento até 7 anos após o diagnóstico.
Vários parâmetros podem ser utilizados para definir o prognóstico de pacientes com CaP. O estágio inicial do tumor, o
escore histológico, o volume da neoplasia, as medidas de PSA e o número de fragmentos de biópsia envolvidos
representam os principais métodos de previsão prognóstica nesses casos.
Tanto os índices de sobrevida como os de cura relacionam-se diretamente com o estágio da doença. Os pacientes com
Estágios T1 e T2 apresentam chances elevadas de cura, enquanto aqueles com estágio M+ tendem a evoluir de forma
precária. Da mesma forma, os pacientes com tumores bem diferenciados (escore 6) quase sempre são curados da
doença, quando tratados adequadamente; enquanto a maioria dos casos de neoplasias indiferenciadas (escores 8 a 10)
evoluem de forma mais precária e imprevisível.
O volume tumoral também está ligado ao prognóstico dos casos de CaP e essa correlação foi demonstrada por Stamey
et al, que não observaram metástases ósseas ou em linfonodos ilíacos nos tumores prostáticos com menos de 3cc de
volume, e notaram tais fenômenos em quase 30% das neoplasias com 3 a 12 cc e em mais de 80% dos tumores com
mais de 12cc de volume.
Os níveis séricos de PSA se elevam progressivamente na medida em que aumenta a extensão e o estágio de neoplasia.
Pacientes com tumores localizados costumam evidenciar níveis séricos inferiores a 20 ng/mL, e nos casos de doença
regional extraprostática, costumam se situar entre 20 a 80 ng/mL, e quando a neoplasia se dissemina os valores de
PSA ultrapassam 100 ng/mL (Figura 132.6). Isso explica a menor sobrevida dos pacientes com níveis de PSA mais
elevados.
Trabalho realizado em nosso meio por Crippa et al8 demonstrou que a extensão da doença se relaciona diretamente
com a porcentagem de fragmentos positivos para câncer. Como mostra a Figura 132.5, pacientes com mais de 50%
dos fragmentos positivos têm chances elevadas de apresentarem extensão extraprostática da neoplasia e, portanto,
doença mais grave.
9
Rayssa Garcia – MED XXXVIII
evoluíram de forma favorável, com aparecimento de metástases em apenas 9 a 37% dos casos e óbito pelo câncer em
0 a 16% dos mesmos. Em decorrência, chegou-se a questionar a necessidade de tratamento dos pacientes com câncer
da próstata (Tabela 132.2). Uma análise mais detalhada desses trabalhos revela que a maioria dos pacientes estudados
tinha idade muito avançada e portava tumores bem diferenciados, sob forma de focos microscópicos. Essas lesões
tendem a crescer lentamente, fazendo com que eventuais manifestações clínicas surjam somente 10 anos após o
diagnóstico da neoplasia. Em outras palavras, esses tumores não chegavam a causar problemas simplesmente porque
os seus portadores eram muito idosos e não viviam o suficiente para tanto. Além disso, muitos desses casos tinham
apresentado progressão do tumor e continuavam vivos apenas porque passaram a receber tratamento hormonal.
De qualquer forma, esses estudos tiveram o mérito de demonstrarem que alguns homens com CaP não precisam ser
tratados. Incluem-se, aqui, os pacientes que têm menos de 10 anos de perspectiva de vida pela frente, que apresentam
níveis de PSA baixos e que têm tumores de baixo escore histológico (Gleason 6). Nos demais casos, com doença de
maior significado, deve-se realizar alguma forma de tratamento objetivo, tanto a cirurgia radical, como a radioterapia
ou a terapêutica hormonal. Cabe enfatizar que a opção do não tratamento deve ser adotada com cautela, em pacientes
motivados e acompanhados cuidadosamente. A adoção dessa estratégia em neoplasias mais agressivas pode
transformar uma doença curável em outra não curável.
Prognóstico
O prognóstico para a maioria dos pacientes com câncer da próstata, em especial quando localizado ou regional, é
muito bom. A expectativa de homens idosos com câncer da próstata difere pouco da de homens com mesma idade e
sem câncer da próstata, dependendo da idade e das comorbidades. Para vários pacientes, o controle local a longo
prazo e até a cura são possíveis. O potencial de cura, mesmo quando o câncer estiver clinicamente localizado,
depende do grau e do estágio do tumor. Sem tratamento precoce, os pacientes com cânceres de graus elevados mal
diferenciados apresentam prognóstico reservado. Câncer da próstata indiferenciado, carcinoma de células
escamosas e carcinoma ductal transicional respondem mal aos tratamentos habituais. O câncer metastático não tem
cura. A expectativa média de vida é 1 a 3 anos, embora alguns pacientes possam viver por vários anos.
A sobrevida específica por câncer de próstata foi de 88% em cinco anos e de 71% em dez. A classificação de Gleason
maior que 6, PSA maior que 40ng/ml, estádio B2 e cor da pele branca foram marcadores independentes de
pior prognóstico.
10