Caracterização Da Gestão de Marketing em Clubes de
Caracterização Da Gestão de Marketing em Clubes de
Caracterização Da Gestão de Marketing em Clubes de
ÁREA TEMÁTICA: MARKETING
Resumo:
Apesar da importância econômica e social da indústria do esporte, o marketing esportivo é
uma área de estudo recente na academia, apresentando lacunas e grandes desafios. A pesquisa
exploratória, realizada para a elaboração deste artigo, demonstrou que alterações na gestão
dos clubes brasileiros, em busca de novos modelos de gestão, estão em curso. Com o objetivo
de entender o que os clubes de futebol brasileiros já estão fazendo e qual a distância que
existe entre o que praticam e o que é ditado pelas principais referências científicas de
marketing esportivo, nacionais e internacionais, realizou-se uma pesquisa qualitativa, por
meio de um estudo de caso, em um tradicional clube de futebol do interior de São Paulo: o
Botafogo Futebol Clube, da cidade de Ribeirão Preto. Os resultados revelaram pontos de
melhoria na prática gerencial para fortalecimento da marca e geração de novas fontes de
receita.
Palavras-chave: Gestão de Marketing, Marketing Esportivo, Clubes de Futebol.
Abstract:
Despite the economic and social importance of the sports industry, sports marketing is an
area of recent study at the academy, with large gaps and challenges. The exploratory
research conducted for the preparation of this article, demonstrated that changes in the
management of Brazilian clubs in search of new management models are ongoing. In order to
understand what the Brazilian football clubs are already doing and the distance that exists
between practicing and what is dictated by the main scientific references for sport, national
and international marketing, we carried out a qualitative study by through a case study in a
traditional football club from São Paulo: Botafogo Futebol Clube in the city of Ribeirão
Preto. The results revealed areas for improvement in management practice to strengthen the
brand and generating new sources of revenue.
INTRODUÇÃO
A compreensão atual do esporte não apenas como atividade de lazer e competição,
mas também como atividade econômica importante, capaz de gerar empregos, promover a
inclusão social e atuar preventivamente em relação a problemas ligados à saúde e educação
vem despertando o interesse de acadêmicos e pesquisadores pelo tema.
A importância econômica e social da indústria do esporte, nem sempre foi
acompanhada pelo desenvolvimento científico da área. A gestão e o marketing esportivos são
áreas de estudo recentes na academia, apresentando lacunas e grandes desafios.
Se ao redor do mundo o marketing esportivo encontra-se em fase introdutória, pode-se
afirmar que no Brasil ainda é embrionário. Alguns desbravadores brasileiros têm se dedicado
ao tema, com muito empenho, mas ainda são poucos. O fato de não existir periódicos
científicos específicos sobre o assunto no país é um indício da pequena produção acadêmica
brasileira.
Incrementar a produção acadêmica nacional referente ao marketing esportivo poderia
favorecer os executivos e dirigentes de clubes de futebol e demais associações esportivas da
indústria do esporte nacional a encontrar soluções que permitam explorar, de maneira
adequada e sustentável, os recursos existentes no Brasil.
A realização de grandes eventos esportivos internacionais no Brasil (os Jogos Pan-
americanos, ocorridos em 2007, a Copa do Mundo de Futebol, realizada em 2014 e os Jogos
1
Olímpicos do Rio de janeiro, agendados para 2016) cria novas oportunidades para promover
pesquisas e a profissionalização da área. De fato, a pesquisa exploratória realizada para a
elaboração deste artigo, demonstrou que alterações na gestão dos grandes clubes brasileiros
estão em curso. Novos modelos de gestão estão sendo buscados pelos clubes brasileiros.
Modelos que permitam aumentar a receita dos clubes e atrair e manter torcedores fiéis. O
marketing tem um papel central nesse processo.
O país tem torcedores apaixonados em grande número e vários talentos esportivos,
sobretudo no futebol, reconhecidos internacionalmente. É preciso manter os talentos no Brasil
e oferecer produtos e serviços esportivos à altura da paixão que o esporte desperta nos
brasileiros.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Marketing Esportivo
Segundo Fagundes et al. (2012) a importância da indústria esportiva na economia
mundial só atingiu os patamares atuais devido ao consumo dos produtos e serviços
relacionados a essa indústria e, não apenas aos espetáculos esportivos. Assim, o marketing,
responsável pela inovação na captação de recursos no mercado esportivo, surge como um dos
pilares dessa transformação (Pozzi,1998).
A literatura internacional de marketing esportivo, apesar de recente, apresenta uma
significativa evolução nos últimos vinte anos. Os trabalhos publicados na área apontam para
uma expansão do foco estratégico de marketing e inclusão de sofisticadas técnicas para
3
trabalhar processos de segmentação e branding, de modo a interferir positivamente na
lealdade de torcedores às marcas de seus times favoritos e no consumo de produtos e serviços
relacionados a elas (LOUGH; BRANN, 2011; REIN, KOTLER, SHIELDS, 2008).
Há alguns periódicos internacionais que discutem a gestão de marketing esportivo há
algum tempo, com exclusividade: Sport Marketing Quaterly (SMQ), Sports Marketing (SP),
Journal of Sport Management (JSM), Journal of Sport Economics (JSE), International
Journal of Sport Management (IJSM), International Journal of Sports Marketing and
Sponsorship (IJSMS), Sport Manegement Review (SMR), Journal of Legal Aspects of Sport
(JLAS).
A revista Sport Marketing Quaterly (SMQ) se destaca por ter sido a pioneira e pelo
reconhecimento acadêmico que desfruta. Desde 1992, lança artigos sobre o marketing
esportivo e a gestão de esportes, e foi apontada desde o início como a primeira publicação a
tentar estabelecer uma ponte entre o conhecimento acadêmico e a prática profissional do
marketing esportivo. Em sua comemoração de 20 anos de pesquisas, foram publicados dois
artigos analisando a evolução do campo de estudo, o marketing esportivo, através dos artigos
publicados na revista. Tais artigos serão comentados a seguir.
Em um dos artigos faz-se uma análise do conteúdo publicado nos vinte primeiros anos
da revista. Segundo os autores (PEETZ; REAMS, 2011) durante o período, 76 temas foram
discutidos e 346 artigos incluídos na análise, totalizando 3.098 páginas sobre o assunto. Todos
esses artigos foram analisados e categorizados em relação aos conteúdos específicos
componentes do marketing esportivo, utilizando o artigo de Pitts e Sotlar (2007). Os
resultados apontam que os Estados Unidos se destacam como o país que mais publicou na
revista. Ainda que o fato da revista ser americana possa favorecer a publicação de artigos de
pesquisadores americanos, os dados sugerem que os E.U.A. têm se destacado nesse campo de
pesquisa, pois foi o primeiro país a editar um periódico com dedicação exclusiva ao tema.
A análise dos resultados sugere uma predominância dos aspectos estratégicos do
marketing (Análise dos espectadores, Análise dos Participantes, Análise dos espectadores e
dos participantes e Pesquisas de Marketing, Estratégias de Marketing, Segmentação e Missão
da Empresa) que somados correspondem a 82% das publicações, em detrimento dos
elementos do marketing mix (Produto, Preço, Praça e Promoção) que representaram apenas
6% de todos os artigos publicados. O tema mais estudado foi a ‘Análise dos espectadores’,
com 115 publicações nesta área, o que corresponde a 33,2% do total. Na sequência, os estudos
ligados à pesquisa de marketing somam 88 artigos, ou 25,4% do total.
No segundo artigo publicado em comemoração ao vigésimo aniversário da Revista
SMQ, os autores fizeram uma análise da publicação e elegeram os 20 melhores artigos dos
primeiros vinte anos da revista. Os autores do artigo, Brann (primeiro Editor-Chefe da revista)
e Lough (Editor-Chefe à época da publicação do artigo) contaram com a ajuda de todo o staff
editorial que participou da revista desde 1992 até 2011, para escolher os artigos mais
relevantes. O critério que norteou o trabalho de seleção foi o propósito de oferecer aos leitores
um panorama amplo da evolução da pesquisa em marketing esportivo no período estudado
(LOUGH, BRANN, 2011).
Nota-se que na lista há uma diversidade de abordagens entre os artigos selecionados:
há os que buscaram aprofundar a discussão teórica sobre a definição de marketing esportivo,
outros focam no comportamento de torcedores e praticantes (envolvendo aspectos de
segmentação, posicionamento, motivação, lealdade), há os que se concentraram em estudar o
mercado esportivo sob o ponto de vista da gestão, envolvendo a competitividade, os
patrocínios, aspectos éticos e legais. Destaca-se que em 1999 foi publicado um artigo sobre
brand equity, que se constituiu em uma grande contribuição à expansão do foco estratégico do
marketing esportivo, incluindo a construção e gestão de marcas fortes. Segundo Lough e
4
Brann (2011), esse artigo gerou uma grande repercussão, tanto na academia, quanto no
mercado profissional.
Outro destaque foi dado ao trabalho de Mahony, Madrigal e Howard (2000), que
desenvolveram uma escala para segmentação do torcedor, baseada no construto ‘lealdade’. Os
autores foram os primeiros a oferecer uma ferramenta prática para a segmentação do mercado
com base na lealdade, o que possibilitou também, com base na mesma escala, a elaboração de
estratégias para desenvolver a lealdade de torcedores.
Outro artigo destacado foi o trabalho de Fullerton e Merz (2008), considerado um
artigo seminal, em que os autores, com base em extensa revisão bibliográfica, construíram
uma ampla estrutura conceitual, buscando integrar as várias facetas das múltiplas definições
do marketing esportivo.
A análise dos artigos de marketing esportivo publicados no Brasil apresenta resultado
diferente do que foi relatado até aqui. Analisando os principais periódicos e eventos
científicos brasileiros, na área de Administração, Fagundes et al. (2012) constataram a
pequena quantidade de produção acadêmica: foram publicados apenas 23 artigos sobre
marketing esportivo no período de 1994 a 2011 (18 anos). A maior parte (65%) foi produzida
a partir de 2005. A maioria dos artigos foi publicada em eventos (74%) e não em periódicos, o
que pode indicar falta de amadurecimento das pesquisas nessa área, uma vez que trabalhos
publicados em eventos científicos são tidos como estudos iniciais ou em construção.
Corroborando a constatação anterior, notou-se que a maioria dos artigos (74,%)
constituiu-se de estudo exploratório, em busca da construção mais consistente do constructo
‘marketing esportivo’ na academia brasileira. Tais fatos sugerem que o interesse pelo tema é
recente, embrionário e carente de consolidação científica. Segundo os autores, um dos fatores
que pode influenciar a pequena produção científica é a ausência de periódicos específicos
sobre o assunto no país.
Outro fato que foi destacado pelos autores é que 85% dos trabalhos acadêmicos
apreciados foram desenvolvidos em instituições de ensino localizadas nas regiões sudeste e
sul do país, mesmas regiões que concentram os eventos esportivos mais significativos e as
equipes esportivas mais competitivas em termos nacionais (FAGUNDES et al., 2012).
A revisão teórica realizada para a elaboração deste artigo permitiu identificar os
aspectos teóricos que nortearão a investigação. Tais aspectos serão resumidos a seguir.
O termo “marketing esportivo” se desenvolveu em duas frentes: o marketing do
esporte (marketing de produtos e serviços esportivos) e o marketing através do esporte
(atividades ou produtos que fazem uso do esporte como veículo promocional). Neste artigo
optou-se por tratar do marketing do esporte, isto é, a aplicação específica dos princípios e
processos do marketing a produtos de esporte (clubes, times, atletas, ligas, eventos, etc.),
portanto o marketing sob a ótica das entidades esportivas.
Nesse contexto, optou-se por usar duas perspectivas teóricas, que se complementam. A
primeira perspectiva escolhida foi apresentada na definição proposta por Pitts e Stotlar
(2002): “marketing esportivo é o processo de elaborar e implementar atividades de produção,
formação de preço, promoção e distribuição de um produto esportivo” (p.90). A segunda
perspectiva, que foi desenvolvida por Rein, Kotler e Shields (2008), apresenta o marketing
esportivo como um modelo de negócios centrado integralmente na manutenção e na satisfação
do torcedor, a fim de transformar o produto esportivo em marca de longa duração, imune a
vitórias e derrotas e capaz de se adaptar às rápidas mudanças do mercado.
Em termos de fundamentação teórica, observa-se que a primeira definição baseia-se na
Escola Gerencial do Pensamento de Marketing, enquanto que a segunda fundamenta-se na
Escola do Comportamento do Consumidor. De acordo com a pesquisa bibliográfica tais
escolas predominam nos estudos científicos ligados à área de marketing esportivo.
5
À luz do conceito de marketing do esporte, entende-se que o produto central dos
clubes esportivos é o entretenimento que fornece a seus torcedores e ao público em geral. Mas
nenhum esporte pode sobreviver no mercado atual sem agregar produtos e serviços colaterais
ao produto central. Assim, produto esportivo deve ser entendido como todos os bens e
serviços, desenvolvidos por organizações esportivas, no caso os clubes de futebol,
direcionados aos torcedores ou espectadores do esporte (ex.: jogos, eventos e competições,
serviços de lanchonetes e restaurantes, acomodações, museus e visitas guiadas, promoções,
produtos licenciados).
As principais práticas de marketing citadas na literatura de marketing esportivo
compreendem a pesquisa de marketing e do comportamento do torcedor, o processo de
segmentação do mercado, o processo de diferenciação e posicionamento do produto esportivo,
a gestão do produto esportivo como marca (branding esportivo), o exercício do planejamento
e controle de marketing e as ações do marketing mix (Produto, Preço, Praça e Promoção).
De acordo com Soriano (2010) “os clubes esportivos fornecem entretenimento a seus
torcedores e ao público em geral” (p.19). Esse é o produto central. Mas de acordo com o
mesmo autor, alguns clubes conseguem desenvolver uma carga emocional muito superior e
uma grande capacidade de representação social. Outra especificidade citada é que os clubes,
diferentemente de outros produtores de entretenimento, criam uma identificação
extraordinária com seus territórios e população e são dotados de valores sociais e até políticos
(SORIANO, 2010).
Assim, passa a ser uma das preocupações dos clubes, a criação e manutenção de uma
marca, forte e ativa, que capte a atenção dos torcedores e os fidelize através de programas de
sócios torcedores e outros produtos colaterais, a fim de capitalizar a identificação do torcedor
com o clube.
A indústria do esporte nos mostra que uma gestão eficaz pode levar os clubes de
futebol, a um processo de sucesso e de geração de receita, já que o que se vende são todos os
aspectos intangíveis associados a ele como a emoção, o entretenimento, o prazer de
“pertencer”, além do momento em que o torcedor pode se expressar e se concentrar em uma
diversão, que foge à rotina do seu dia-a-dia.
Para ampliar o “produto esportivo”, o clube deve criar as condições para que o
torcedor esteja sempre em contato com o time, através de revistas, entrevistas, almoço com
jogadores, prêmios exclusivos e sempre ampliando sua experiência de consumo esportivo.
Nesse sentido, o produto central – espetáculo esportivo – vem sendo ampliado e uma
gama de novos produtos e serviços colaterais vêm sendo oferecidos aos consumidores do
esporte (torcedores, fãs, atletas, participantes e praticantes de esporte, entre outros), gerando
novas fontes de receitas. Direitos de Transmissão, patrocínios e publicidade, rede de lojas,
licenciamento e franquias, entre outros. Os clubes cada vez mais precisam diversificar sua
geração de receita para depender cada vez menos de fontes já consolidadas, como arrecadação
com os jogos, por exemplo. Gómez e Opazo (2007) defendem a importância da diversificação
de produtos oferecidos como uma forma de libertar os clubes, diminuindo a pressão única por
resultados.
Historicamente, a primeira fonte de renda dos clubes baseava-se na arrecadação gerada
com os associados e na venda de ingressos para os jogos. Depois, a partir da década de 90,
houve um crescimento explosivo com a renda gerada pelos direitos de transmissão televisiva
das partidas de futebol. A gestão dos direitos audiovisuais se transformou em parte
fundamental do negócio do futebol. A partir do século XXI surgiram novas fontes de renda:
patrocínios, merchandising, turnês e partidas amistosas, além da venda de produtos com a
marca do clube (licenciamento), cabendo ao departamento de marketing gerir essas novas
áreas (SORIANO, 2010). Com base na revisão teórica, elaborou-se uma relação das principais
fontes de receita dos clubes de futebol (vide quadro 1).
6
Quadro 1: Tipologia das Fontes de Receita dos Clubes de Futebol
MERCADO NEGOCIADOR FONTE DE RECEITA
9
Observa-se que a bilheteria e as verbas federativas, (no caso, direitos de transmissão),
tradicionais fontes de receita dos clubes de futebol, ainda respondem por quase toda a renda
gerada pelo clube. Novas fontes de receita, como o licenciamento de produtos, naming rights
e o carnê torcedor ainda não oferecem recursos ao clube.
Negociação de jogadores não é uma receita frequente no clube, variando de acordo
com o desempenho dos atletas nas competições, principalmente no Campeonato Paulista Série
A1.
O time conta com três torcidas organizadas: 1) a Fiel Força Tricolor, fundada em
1992, possui um dos maiores bandeirões do Brasil, oitavo maior do mundo, medindo 135x33
metros, sendo 90% pintado. Em 2008, a FFT desfilou no carnaval de Ribeirão Preto como
bloco, celebrando os 90 anos de fundação do Botafogo. O atual presidente da torcida é o João
Paulo Piva; 2) a Associação Recreativa e Cultural Torcida Organizada "Força Jovem
Tricolor". Fundada em 1976, voltou a atuar em 2013 e já conta com cerca de 15 membros
ativos e vem crescendo cada dia mais. O Atual presidente da torcida é Jhonatan Adorni e vice
Thales dos Santos e 3) em 2011, surgiu a torcida Kamikaze Tricolor, fundada por ex
integrantes da Fiel Força Tricolor.
5.2. Gestão de Marketing Esportivo
Após a transcrição da entrevista os dados foram categorizados e analisados. Os
resultados serão apresentados e comentados a seguir. Trechos retirados da entrevista serão
apresentados entre aspas e em recuo.
Bloco 1: Inserção do marketing no modelo de gestão do clube
“O futebol demorou muito tempo para reconhecer que gestão e departamentalização eram o mínimo
necessário para uma boa administração. No Brasil esse processo foi ainda mais longo, e modelos de
gestão são todos recentes. Além disso, cada presidência ou diretoria, com intuito de "escrever" sua
história no clube, ganhando títulos a qualquer preço, toma decisões movidas pela paixão,
comprometendo o resultado financeiro do clube. [...] no Botafogo [...] este processo administrativo e
departamentalizado começou recentemente. Mas a efetivação ocorreu em maio de 2012, quando
Gustavo Assed e Rogério Barizza, assumiram o clube”.
“O processo de departamentalização foi instituído logo de início, administração, jurídico,
contabilidade, marketing, imprensa, compras, etc. O que antes era feito por poucas pessoas de
"confiança", hoje é realizado por profissionais da área, em cada setor.”
“As mudanças começaram a ser visíveis tanto no setor administrativo, quanto desportivo. Na parte
administrativa, o clube conseguiu uma profissionalização na maioria dos setores e isso reflete na parte
desportiva.”
“Além disso, o centro de treinamentos voltado para as categorias de base, faz os meninos terem uma
estrutura correta para sua evolução”. E hoje, o Botafogo Futebol Clube, possui o maior projeto de
intercâmbio do Brasil, o Botafogo Academy.”
Nota-se nos trechos de entrevista apresentados que o entrevistado relacionou o
processo de profissionalização à estrutura organizacional (departamentalização e à
contratação de profissionais especializados para as áreas administrativas). Aspectos
relacionados ao processo de gestão não foram citados. O entrevistado correlacionou os
resultados alcançados pelo time à profissionalização da administração. Outro aspecto
enfatizado, positivamente, pelo seu caráter estratégico foi a decisão da administração em
investir no centro de treinamento voltado para as categorias de base que, segundo o
entrevistado, transformou o Botafogo Academy no maior projeto de intercâmbio do Brasil.
Bloco 2: Objetivos estratégicos do clube
O entrevistado afirmou que a diretoria é responsável por definir os objetivos
estratégicos do clube, através de retrospectos de anos anteriores e planejamento para o ano
seguinte. Segundo ele, atualmente, os objetivos do clube são manter-se na primeira divisão do
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campeonato paulista; conseguir um calendário para o ano inteiro e fortalecer a marca e o
clube formador. Nota-se que os dois primeiros são objetivos de curto prazo.
Bloco 3: Gestão e planejamento de marketing
“A Análise SWOT (pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças), é uma das ferramentas
preferidas para alinhar os objetivos e estratégias do clube. Porém, a ferramenta só é utilizada em
lançamentos de produtos e alguns projetos específicos de marketing. É fundamental, pois assim pode-
se ter uma visão geral de todos os riscos e ganhos futuros que se pode obter”.
A declaração do entrevistado aponta para o uso restrito da Análise SWOT, pois apesar
da afirmação de preferência pela ferramenta, observa-se que seu uso ainda não está
disseminado.
“O planejamento de Marketing é realizado trimestralmente pelo departamento de marketing do clube,
de acordo com os números do ano anterior. Esse planejamento é apresentado para a diretoria e
presidência do clube, caso seja aprovado, segue para ser implementado. Pode ser refeito ou alterado
em função do parecer dos diretores e presidentes.
[...]
“O planejamento é feito de acordo com o desempenho esportivo, pois no futebol, este fator se torna
fundamental. [...] Dentro do futebol, por melhor que seja o trabalho e planejamento de marketing, o
desempenho dentro de campo é um grande diferencial; esse desempenho afeta todas as áreas
(administrativa, marketing, eventos, vendas de produtos e etc.).”
Um aspecto que chama a atenção na fala do entrevistado é a curta periodicidade do
processo de planejamento. Três meses é um prazo extremamente curto para qualquer plano de
marketing, que, em geral, costuma ser anual. Tal fato sugere um plano muito mais tático e
reativo do que estratégico. A declaração por parte do entrevistado de que o planejamento de
ações de marketing está totalmente atrelado ao resultado das partidas disputadas é um fator
que confirma a hipótese de ação reativa em marketing. Isto é, tudo leva a crer que o marketing
apenas colhe os frutos do desempenho esportivo e que existe uma dependência, maior do que
a desejada, em relação aos resultados das partidas esportivas.
Em relação às ferramentas de comunicação além do programa semanal de televisão
(TV Botafogo) o clube se faz presente nos seguintes canais de comunicação off line: rádio
(spots semanais de jogos e campanhas), revistas (campanhas e jogos) e jornais (jogos). Em
relação às mídias sociais, segundo o entrevistado, o clube marca presença no Facebook,
Twiter e Youtube. Também trabalha com blogs, rádio online, web site da empresa e
disseminação de comunicação viral.
As ações de promoção de vendas desenvolvidas pelo clube incluem: brindes, adesivos,
exposições/sala de troféus e visitas técnicas ao estádio. Um programa de fidelização (sócio-
torcedor) está em andamento. Enquanto o programa não pode entrar em ação, em função de
questões contratuais vigentes de patrocínio firmado anteriormente, o clube criou o "carnê
torcedor" um programa de desconto para a venda antecipada de ingressos para todos os jogos
do Paulistão, denominado dentro do clube de ‘Passaporte’. A ação descrita merece destaque
pelo seu caráter estratégico, na medida em que criou uma forma de antecipar a venda e contar
com o torcedor em campo, independentemente do desempenho esportivo, o que contraria a
fala do entrevistado ao afirmar que o marketing do clube é dependente dos resultados
esportivos. Porém, o entrevistado não estabeleceu essa relação, nem destacou o aspecto
estratégico da ação.
Bloco 4: Busca de informações, relação com torcedores e resultados esportivos
O entrevistado ressaltou que 65% da região de Ribeirão Preto, estimada em três
milhões de habitantes, compõem a torcida Botafoguense. Essa informação baseia-se em
pesquisa do Datafolha, realizada há mais de cinco anos.
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O entrevistado ressalta que a intensidade de devoção ao clube, por parte dos
torcedores, é alta. Esclarece que, por ser um clube local, o clube desfruta da proximidade com
os torcedores da região de Ribeirão Preto, o que não ocorre com os grandes clubes paulistas.
O entrevistado afirmou que o Botafogo F.C nunca realizou qualquer tipo de pesquisa
com torcedores, nem mediu, sistematicamente, o nível de envolvimento de seus torcedores
com o time. Está no planejamento do primeiro semestre de 2014 a realização de pesquisa em
outubro do mesmo ano, com esse fim. Apesar da ausência de pesquisa, trabalha com a ideia
de uma torcida fiel e altamente envolvida com o time. Além da pesquisa Datafolha, baseia-se
em indícios, como o fato de contar com mais de 80 mil curtidas no Facebook, para tal
suposição.
Referente à frequência na arena, afirma-se que no Campeonato Paulista de 2013 e
2014 o Botafogo teve uma média de quase cinco mil torcedores e o retorno é específico por
jogo.
O Botafogo F.C. realiza esforços para atrair novos torcedores por meio de eventos e
promoções na cidade. Com foco no segmento infantil, realiza visitas semanais em colégios e
instituições carentes, visando explanar a respeito da estrutura e história do clube.
Além das partidas de futebol, o clube oferece outros produtos ao mercado, como o
Botafogo Challengers (Futebol Americano); o Ciclismo Botafogo e o Botafogo Runners. Há
também uma linha de produtos licenciados com a marca Botafogo, vendidos na Boutique do
Botafogo FC, loja oficial do clube.
CONCLUSÃO
Como método qualitativo o estudo de caso não permite que os resultados sejam
generalizados. Mas permite que se levantem aspectos a serem estudadas em amostras mais
robustas. O clube analisado neste estudo de caso conta com um processo em andamento de
profissionalização de sua gestão. Vários aspectos desse processo, em relação ao departamento
de marketing, foram estudados.
Verificou-se que o clube priorizou a estrutura (departamentalização e contratação de
profissionais) em detrimento dos processos. Esse resultado propicia uma reflexão acerca da
importância da definição do modelo de gestão, e respectivos processos, a ser adotado pelos
clubes de futebol, em processos de profissionalização. Contar com uma boa estrutura e com
bons profissionais é um bom começo, mas não garante o sucesso. É necessário definir um
modelo de gestão de marketing, adequado às características do mercado. Todo administrador
sabe que a simples contratação de profissionais não oferece resultados se não houver uma
transformação interna, especialmente no processo de tomada de decisão. É importante dar aos
novos profissionais autonomia para promover as mudanças necessárias à administração
estratégica.
No processo de profissionalização do futebol fica cada vez mais evidente a
importância de um posicionamento estratégico efetivo por parte dos clubes brasileiros, que
considere as forças internas e externas atuantes no futebol, e as oportunidades e ameaças de
mercado (LEONCINI e SILVA, 2005). E posicionamento requer competências essenciais e
funcionais específicas para que os clubes obtenham melhores resultados, sejam estes
financeiros e/ou esportivos.
A literatura internacional de marketing esportivo (REIN, KOTLER, SHIELDS, 2008)
atribui ao marketing o papel de gestor da marca esportiva de modo a atrair e manter a
fidelidade de torcedores, independentemente das vitórias conquistadas no campo esportivo. O
desempenho esportivo é um componente fundamental para a construção da imagem do time,
mas não pode ser o único componente.
Com base nessa premissa, a criação e manutenção de uma marca forte e ativa, que
capte a atenção dos torcedores e os fidelize através de programas de sócios torcedores e outros
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produtos colaterais, a fim de capitalizar a identificação do torcedor com o clube, passa a ser
uma das preocupações dos principais clubes de futebol, nacionais e internacionais.
O Botafogo faz parte do grupo que defende essa tese, na medida em que define o
fortalecimento de sua marca como um dos objetivos estratégicos do clube. Entretanto,
deixando de lado o terreno das ideias e investigando melhor a prática gerencial do clube,
observa-se que a transformação do esporte em marca, ainda não aconteceu de modo pleno e
efetivo. À luz da teoria, falhas são observadas em todo o processo de planejamento e
implantação das ações de marketing para o fortalecimento da marca. A começar pela ausência
de informações, sistematizadas, sobre o torcedor e a relação que esse estabelece com o clube.
A teoria aponta para a necessidade de obter tais informações como premissa para a criação de
estratégias focada em fãs do esporte.
Apesar dos avanços evidenciados no marketing do clube, os resultados sugerem ainda
a prevalência de uma postura reativa e pouco estratégica em sua gestão. O objetivo de
transformar o produto esportivo em marca forte capaz de gerar recursos financeiros,
independentemente dos resultados esportivos ainda não foi atingido.
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