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ESTUDOS EM JORNALISMO
Resumo
Este artigo tem como proposta avaliar o atual estado do chamado jornalismo
tradicional e apontar a filosofia do jornalismo cívico como uma importante
alternativa a essa prática. O jornalismo cívico pode ser considerado um meio de
potencializar a inserção do público nas rotinas produtivas, o que pode trazer
benefícios tanto para o jornalismo como para o cidadão e a vida cívica como 22
um todo. Neste trabalho, revisitamos os escritos dos principais autores sobre o
tema e buscamos, também, compreender se o jornalismo cívico tem sido
praticado no Brasil e de que forma essa realidade se materializa. Outras
manifestações alternativas do jornalismo, as quais objetivam a centralidade do
cidadão nos processos jornalísticos, também serão brevemente abordadas neste
trabalho.
Palavras-chave: Cidadão; Jornalismo alternativo; Jornalismo cívico.
FAPESB
3 Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Universidade Federal de
Minas Gerais. Professor Adjunto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e professor do
Programa de Pós-Graduação em Letras: Cultura, Educação e Linguagem, na Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (UESB).
4
Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade estadual do Sudoeste da
Bahia; especialista em História: Política, Cultura e Sociedade pela UESB; Mestranda em Letras:
Cultura, educação e Linguagens, também pela UESB. Pesquisadora na Agência Experimental em
Jornalismo Cívico (UESB)
Revista Pauta Geral-Estudos em Jornalismo, Ponta Grossa, vol.1, n.1 p.22-39, ago/dez,
2014.
REVISTA PAUTA GERAL
ESTUDOS EM JORNALISMO
Abstract
This paper aims to evaluate the current state of the so called traditional journalism
and point the philosophy of civic journalism as an important alternative to this
practice. Civic journalism can be considered as a mean of enhancing the
inclusion of the public in productive routines, which can benefit both journalism
and the citizen, as well as the civic life as a whole. In this paper, we revisit the
writings of the leading authors on the subject and we also seek to understand if the
civic journalism has been practiced in Brazil and how it is done. Other journalism
alternative manifestations, which aim the centrality of the citizen in the journalistic
processes, will also be briefly discussed in this paper.
Keywords: Citizen; Alternative journalism, Civic journalism.
1.Considerações iniciais
Assim como o homem é fruto do seu tempo ou, como afirma Rousseau, é um produto do
meio, toda e qualquer forma de expressão humana, individual ou coletiva, também o é.
Essa reflexão é extensiva à imprensa, a qual foi se adaptando, adequando suas práticas 23
ao longo do tempo, seja pelo aperfeiçoar das técnicas ou pelas transformações das
mentes. A história do jornalismo e dos veículos de comunicação não deve ser vista
isoladamente, pois há sempre interesses políticos e econômicos atrelados ao
desenvolvimento dos canais de informação. Há que se considerar ainda que, como
explica José Marques de Melo (2003), não é por acaso que o jornalismo tenha surgido
historicamente concomitante aos acontecimentos que tornaram realidade a transformação
das sociedades europeias.
Não nos enganemos. A mídia é uma das peças do grande quebra-cabeça que
compõe a esfera estrutural da economia. Por isso, “as notícias são mercadorias
fabricadas e distribuídas segundo a lógica do mercado. (...) a mídia possui um conteúdo
que interpreta, segundo os conceitos implícitos ou explícitos e ideológicos do mundo, a
realidade social representada” (BONFANTINI, 1984 apud RODRIGO ALSINA, 2009, p.79).
O jornalismo contemporâneo não nasceu com o capitalismo, mas sim por causa
dele e das suas necessidades econômicas. O sistema de transmissão de informações
midiáticas teve seu caráter mercadológico potencializado a partir do século XIX, com a
expansão mundial da Revolução Industrial, iniciada no Reino Unido em meados do século
XVIII. Neste cenário, onde as transformações tecnológicas repercutiram profundamente
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Hacket & Carroll (2006 apud ATTON & HAMILTON, 2008) descrevem três
características comumente relacionadas ao jornalismo que se encaixa nos padrões acima
descritos: 1) tende a ser relativamente autônoma ou independente de corporações ou
órgãos governamentais. A independência de métodos dominantes de organização da
mídia encoraja seus praticantes a experimentar, com métodos de controle mais inclusivos
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Falar de jornalismo cívico é abordar mais do que uma teoria, mas também é
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O jornalismo cívico evita qualquer tipo de interesses político-partidários. Em vez
de discutir a realidade e as ações dos partidos políticos, sua intenção é promover um
debate sobre a política de forma aberta e acessível a todos os cidadãos interessados.
Essa democracia fortalecida por meio do diálogo envolve jornalistas, cidadãos e
políticos, atraídos por um exercício de governo que seja coerente com a democracia
participativa direta.
Outra relevante mudança proposta refere-se aos termos adotados numa nova
configuração textual que não se preocupa apenas em ouvir e expressar a visão das
partes envolvidas nos assuntos retratados. Como destaca Fernandes (2002), a
expressão “cão de guarda”, tão conhecida e disseminada nos escritos de Teorias do
Jornalismo, dá lugar à função de “cão-guia”, postura que permite uma abertura das
redações para a participação cidadã, uma vez que incita o jornalista a encarar seu
público como parceiro em suas rotinas produtivas. Nesse sentido, Theodore L. Glasser
(1999), constata que o jornalismo cívico contribuiu com a percepção de que a visão
restrita das rotinas produtivas do jornalismo tradicional pode facilmente tornar a
imprensa incapaz de promover a mudança social.
Se a resolução dos problemas comunitários contarem com uma participação
mais ativa do jornalismo, certamente os cidadãos se sentirão mais encorajados a
participar da vida pública.
O novo posicionamento diante das necessidades e preocupações dos cidadãos
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No Brasil não se pode dizer que haja uma história do jornalismo público,
muito menos uma tradição. Nos veículos comerciais encontramos
algumas iniciativas pontuais de jornais que querem participar de forma
mais ativa de suas comunidades ou se aproximar de seus públicos, mas
com pouca associação ao conceito de jornalismo público. Nas mídias
públicas, em especial nas emissoras de TV, a discussão sobre jornalismo
público é mais frutífera. (MORAES, 2011, p. 51).
Segundo este autor, o que pode ser percebido, ao avaliar a prática jornalística
brasileira que segue uma tendência cívica, é que ela está mais voltada “à inclusão de
serviços nas matérias que uma abertura do jornal ao cidadão e à resolução de problemas
da comunidade” (MORAES, 2011, p. 9).
Bailey (1999, p.134) reconhece que o jornalismo cívico praticado no Brasil possui
duas características distintas, que por vezes se encontram sobrepostas:
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6. Considerações Finais
Propor o jornalismo cívico como estratégia pode soar utópico, uma meta
inalcançável em seu todo. Mas, se mudar a prática do jornalismo tradicional,
(sub)imerso na lógica de mercado, parece uma tarefa demasiadamente difícil, é preciso,
então, investir em uma formação diferenciada na academia. Por isso, concordamos com
Eksterowicz, Roberts e Clark (2003, p. 101) quando afirmam que
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sua profissão, mas dotados, sobretudo, de uma visão crítica e ética que os permitam
exercer a função social do jornalismo em sua integridade.
O futuro do jornalismo cívico, como assegura Clifford G. Christians (1999, p. 67),
“depende da noção de bem comum e se podemos articulá-la, ajustá-la filosoficamente,
estabelecer sua lógica e raciocínio. O jornalismo cívico visa a formação da comunidade.
Destina-se a revigorar a esfera pública política e sociologicamente”. E isso, de acordo
com o autor, só se concretizará quando essa noção de bem comum for integrada à
prática jornalística.
Sirianni e Friedland (2001, p.231) reconhecem que
REFERÊNCIAS
BAILEY, O.G. Citizen journalism and child rights in Brazil. In: ALLAN, S. & THORSEN, E.
Citizen journalism: global perspectives. New York, Peter Lang, 2009. p.133-142.
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