FT - 2018 - 1 - Notas de Aula - v02
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Contents i
Prefácio ix
1 Introdução 1
1.1 Dimensões, magnitudes e escalas características . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Teoria e empirismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.4 Metodologia de solução de problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.5 Escopo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
I Equilíbrio 25
2 Estados físicos 29
2.1 Equilíbrio Termodinâmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.2 O estado gasoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2.1 Equação de estado dos gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2.2 Mistura de gases ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.2.3 Comportamento de gases não-ideais . . . . . . . . . . . . . . . 50
2.3 O estado líquido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.3.1 Equação de estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
i
ii SUMÁRIO
11 Condução 347
11.1 A equação da condução de calor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 348
11.1.1 Integração da equação da condução de calor . . . . . . . . . . 349
11.1.2 Resistência térmica de condução . . . . . . . . . . . . . . . . . 350
11.1.3 Associação de resistências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 353
11.2 Metodologia de solução de problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 360
13 Radiação 383
13.1 O espectro de radiação eletromagnética . . . . . . . . . . . . . . . . . 383
13.2 Radiação térmica de corpo negro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 384
SUMÁRIO vii
Referências 407
Índice 411
viii SUMÁRIO
Prefácio
A solução dos problemas atuais da engenharia, como por exemplo, em energia, ali-
mentação, ambiente, saúde, infraestrutura e mobilidade, exige abordagens interdis-
ciplinares1 . Na busca de soluções, o engenheiro atua em etapas de desenvolvimento,
análise, projeto, manufatura, teste e industrialização de dispositivos, equipamentos,
sistemas e métodos. A aplicação dos conhecimentos é viabilizada pelo uso racional
das ferramentas da matemática, simulação computacional, observação e experimen-
tação. Em outras circunstâncias, o engenheiro deve ser capaz de coordenar e avaliar
os trabalhos de equipes multidisciplinares, eventualmente, fornecendo sugestões téc-
nicas e contribuindo para a solução do problema. Em qualquer dessas situações, o
engenheiro integra equipes de trabalho e deve ter as habilidades necessárias para
uma comunicação efetiva.
Nessas notas de aula, os fenômenos de transporte são apresentados com a
mesma visão multidisciplinar que a engenharia exibe na atualidade. O conhecimento
macroscópico desenvolvido nas áreas de mecânica dos fluidos e tranferência de calor,
sempre que necessário, é complementado por conhecimentos da física e da química,
especialmente, estado sólido, matéria condensada e eletromagnetismo, cujos funda-
mentos hoje permeiam grande parte da prática da engenharia e são explorados nos
laboratórios de pesquisa.
Da mesma forma que um curso em fenômenos de transporte não deve se tornar
um curso de mecânica dos fluidos ou de transmissão de calor (senão, melhor seria
apresentar aquelas áreas de forma isolada como elas se desenvolveram tradicional-
mente), este não deve se tornar também um curso de física ou de química. O desafio
que se coloca então é como estender os conteúdos clássicos de fenômenos de trans-
porte, sem penetrar excessivamente em detalhes de mecânica dos fluidos, trans-
missão de calor, transporte de massa, termodinâmica, física e química e, mesmo
assim, fornecer uma visão integrada da micro e macro engenharia dos fenômenos de
transporte.
1
Uma abordagem interdisciplinar articula as contribuições de diferentes disciplinas sob um
mesmo referencial metodológico e integra as diferentes contribuições em uma única solução.
ix
Nessas notas de aula, desenvolve-se uma tentativa preliminar de maior unifi-
cação entre o macro e o micro, e entre as várias áreas da engenharia de fenômenos
de transporte. Espera-se atingir um balanço que seja interessante, produtivo e útil
para uma disciplina de graduação com duração de 18 semanas, com 4 aulas de 50
min por semana.
Sugere-se a seguinte distribuição do conteúdo proposto:
x
”The time has come,” the Walrus said,
”To talk of many things:
Of shoes–and ships–and sealing-wax–
Of cabbages–and kings–
And why the sea is boiling hot–
And whether pigs have wings.”
Introdução
“Science can amuse and fascinate us all, but it is engineering that changes the
world.“
Isaac Asimov, Book of Science and Nature Quotations, 1988.
1
2 MÓDULO 1. INTRODUÇÃO
Comprimento:
Tempo:
Massa:
Temperatura:
Zero absoluto 0K
Mínima temperatura já medida (ordem de) 10−5 K
Temperatura residual (de fundo) do universo 2,3 K
Ebulição do hélio 4, 216 K
Ebulição do hidrogênio 20, 28 K
Ebulição do nitrogênio 77, 35 K
o
Fusão do gelo 0C 273, 15 K
Ebulição da água 100o C 373, 15 K
Fusão do alumínio 933, 52 K
Temperatura de uma chama adiabática de metano 2200 K
e ar
Centro da terra 4000 K
Superfície do sol 5780 K
Plasmas 104 a 107 K
Centro do sol 2 × 107 K
Fissão do urânio 235 5 × 107 K
Fusão do deutério (isótopo de hidrogênio) 4 × 108 K
Temperatura no momento do Big-Bang 1032 K
1.1. DIMENSÕES, MAGNITUDES E ESCALAS CARACTERÍSTICAS 7
Nas tabelas anteriores, você percebeu que alguns valores são expressos de forma
mais compacta utilizando múltiplos das respectivas variáveis. Por exemplo, a massa
da terra é 5, 98 × 1024 kg. Esse valor corresponde ao número 5,98 acompanhado
de 24 zeros. Uma forma alternativa e mais compacta de apresentar-se esse valor é
obtida quando se usa um múltiplo da unidade kg, por exemplo, através do prefixo
zetta: 1 zetta = 1021 . Assim, poderia-se expressar a massa da terra como 5,98 Zg
(lê-se "zettagrama"). A Tabela (1.b) no Apêndice mostra os prefixos utilizados no
sistema internacional de unidades (SI).
Exemplo 1:
Segundo o Balanço Energético Nacional, uma edição anual da Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia do Brasil (MME), na sua edição
de 2015, a oferta de energia no Brasil foi de 305589 mil tep. A unidade tep significa
Tonelada Equivalente de Petróleo e equivale grosseiramente à energia contida em
1 tonelada (1000 kg) de petróleo. A unidade tep é bastante útil para expressar
os valores de energia utilizados pelos paises nas suas diversas formas, permitindo
uma comparação direta entre várias formas de produção e consumo. A unidade
equivalente internacional é o toe, ton of oil equivalent. Considerando as relações de
conversão fornecidas abaixo, converta esse valor para as unidades cal, J e W-h e use
também o prefixo que permitiria uma expressão mais compacta.
Solução:
Da tabela acima, 1 tep equivale a 41,87 GJ, ou seja, 41,87 ×109 J. Assim, a oferta
interna de energia no Brasil em 2014 na unidade J torna-se:
Comentário:
A unidade Wh expressa a energia gerada/consumida por uma máquina com potência
de 1 W operando continuamente por 1 hora. Assim, 1 Wh = 1 W × 3600 s = 1 J/s
× 3600 s = 3600 J.
Exemplo 2:
Uma molécula de DNA (ou ADN, ácido desoxirribonucleico) é um polímero formado
pela repetição de monômeros denominados nucleotídeos. O nucleotídeo é formado
por uma base (adenina, tiamina, guanina ou citosina), ligada a uma molécula de pen-
tose (C5 H8 O5 ) e um radical fosfato (PO−3
4 ). Cada nucleotídeo apresenta diâmetro
aproximado de 3,3 Å(0,33 nm). As células humanas apresentam grande variação
em tamanho e forma, dependendo da sua função. As hemácias presentes no sangue
estão entre as células mais abundantes e apresentam diâmetro aproximado de 8 µm.
Considere uma indivíduo com estatura de 1,7 m. Estabeleça uma escala que facilite
a compreenção das dimensões mencionadas acima. Para isso, assuma que um nu-
cleotídeo seja ampliado até atingir o diâmetro de uma bola de tênis de mesa, ou
seja, 40 mm. Quais seriam os tamanhos da hemácia e do indivíduo humano?
Solução:
Inicialmente, converteremos todas as dimensões fornecidas para o m. Assim, tem-se
1 [m]
dnucelotídeo [m] = 0, 33 [nm] × = 3, 3 × 10−10 m
109 [nm]
1 [m]
dhemácia [m] = 8 [µm] × 6 = 8 × 10−6 m
10 [µm]
Lindivíduo [m] = 1, 70 m
Comentário:
Esse exemplo expressa a grande diferença entre as escalas geométricas típicas dos
problemas na nanotecnologia quando comparados com os problemas na escala da
percepção humana.
1.2 Aplicações
As tabelas a seguir apresentam alguns exemplos de sistemas e processos onde fenô-
menos de transporte ocorrem de forma determinante dos seus comportamentos.
10 MÓDULO 1. INTRODUÇÃO
6. Se tudo parece correto, falta conferir se a solução pode ser aceita como reali-
dade. Na prática, a teoria deve permanecer correta, ou precisaremos revisar a
prática, a teoria, ou ambas! Neste momento, projetos de produtos ou processos
usualmente requerem testes experimentais ou testes com modelos, em escala
16 MÓDULO 1. INTRODUÇÃO
1.5 Escopo
O objetivo dessas notas de aula é fornecer uma introdução aos Fenômenos de Trans-
porte, com ênfase nas aplicações e na interação com as diversas áreas da engenharia.
Para este fim, serão explorados os conceitos físicos e matemáticos da disciplina, sua
aplicação na solução de problemas de engenharia, os fundamentos da utilização de
aproximações e empirismo e o uso inovativo destes conceitos e ferramentas na busca
de soluções de problemas.
Os capítulos a seguir visam cobrir os conteúdos e conceitos de uma forma
construtiva e indutiva. Embora a apresentação dos capítulos siga uma sequência
construtiva de teorias e modelos, cada capítulo é escrito em uma forma que visa min-
imizar sua dependência dos anteriores. As construções matemáticas mais elaboradas
são acrescentadas para maior complitude e formalismo, mas podem ser suprimidas
sem prejuízo ao entendimento físico dos fenômenos e solução dos exemplos de apli-
cações. Exemplos resolvidos e exercícios com resposta são incluídos para encorajar
1.6. REFERÊNCIAS 17
1.6 Referências
Termofísica
18 MÓDULO 1. INTRODUÇÃO
Ciências Térmicas:
Termodinâmica:
Transmissão de Calor:
1.7 Exercícios
Problema 1: Realize a conversão das unidades abaixo:
1000 cm3 m3
20 ft2 m2
80 km/h m/s
1 g/cm3 kg/m3
0,1 MPa Pa
25 bar Pa
(a) Determine a energia total gerada em etanol no Brasil em mil tep no ano de
2014.
(c) Considere que o restante da energia consumida nos transportes deva ser gerada
com etanol. Assuma que exista uma paridade de eficiência energética dos
sistemas utilizados em transporte, seja com combustível fóssil ou com etanol,
e que o balanço energético de produção dos combustíveis seja igual. Assuma
que quando a cana de açucar é utilizada integralmente para produzir etanol
seja possível obter 80 litros de etanol por ton de cana de açúcar. Determine
a quantidade de área adicional em km2 que seria necessário para o plantio de
cana de açúcar. Mostre a dimensão desse valor em relação à área do território
do estado de Santa Catarina.
20 MÓDULO 1. INTRODUÇÃO
Use: 1 hectare = 10000 m2 ; 1 tep = 41,87 GJ; 1 milhão = 106 ; 1bilhão = 109 .
Resposta: (a) 14728 mil tep, (b) 18 % do total consumido em transporte.
Problema 3: O transporte de carga no Brasil ocorre pelos modais rodoviário,
ferroviário, aéreo, aquaviário e dutoviário. A maior parcela do transporte interno
ocorre pelos modais rodoviário e ferroviário. Dados referentes a 2016 indicam que:
(a) Determine a emissão total de CO2 , em ton CO2 , para cada um dos modais de
transporte.
(b) Determine a energia consumida em cada modal por massa de carga trans-
portada e expresse o resultado em GJ/ton de carga.
1.7. EXERCÍCIOS 21
(c) Determine a emissão de CO2 em cada modal por massa de carga transportada
e expresse o resultado em ton CO2 /ton de carga.
Tabela 1: Estimativa ”top-down” da energia consumida e da produção de CO2 média por massa de carga transportada por três
Dica: A emissão de CO2 por massa de carga para o modal rodoviário é 0,4
ton CO2 /ton de carga.
Referências:
[1] Anuário Estatístico de Transportes 2010-2016, Ministério dos Transportes,
Portos e Aviação Civil, 2016.
http : //www.transportes.gov.br/
[2] Balanço Energético Nacional 2017, Ano Base 2016, Empresa de Pesquisa
Energética - EPE, 2017.
https : //ben.epe.gov.br/downloads/RelatorioF inalB EN2 017.pdf
[3] CO2 Emission Factors for Fossil Fuels, Climate Change 28/2016, German
Environmental Agency, June, 2016.
https : //www.umweltbundesamt.de/sites/def ault/f iles/medien/1968/publikationen/co2
[4] International Panel fof Climate Change, 2002.
22 MÓDULO 1. INTRODUÇÃO
4. O trabalho executado sobre o corpo para ele realizar esse movimento entre
x1 = 0 e x2 = X é dado por
∫ x2
W = F dx. (1.1)
x1
Equilíbrio
25
27
Introdução
Estados físicos
”A theory is the more impressive the greater the simplicity of its premises, the
more different kinds of things it relates, and the more extended its area of
applicability. Therefore the deep impression that classical thermodynamics made
upon me. It is the only physical theory of universal content which I am convinced
will never be overthrown, within the framework of applicability of its basic
concepts.”
Albert Einstein
(Citado por: Don Howard, John Stachel, Einstein: The Formative Years,
1879-1909, Einstein Studies, vol. 8, Birkhäuser Boston, 2000)
29
30 MÓDULO 2. ESTADOS FÍSICOS
Vizinhança:
Tudo que está localizado fora do sistema, mas tem relação com o seu compor-
tamento.
Estado termodinâmico:
As características do sistema, determinadas por configurações e interações mi-
croscópicas (de origem atômica ou molecular), mas que manifestam-se macroscopi-
camente, podendo ser inferidas através de medições.
Exemplo: Para uma substância pura, compressível (ar, por exemplo), a medição
da sua pressão p(Pa), temperatura T (K) e volume ocupado V (m3 ) determina o seu
estado termodinâmico.
Coordenadas termodinâmicas:
São as variáveis macroscópicas que se relacionam (e determinam) o estado do
sistema.
Exemplo: Uma substância pura, compressível, descrita pela sua pressão p(Pa),
volume V (m3 ) e temperatura T (K). A especificação de duas destas coordenadas
(p e T , por exemplo) determina o valor da terceira (V , por exemplo) e o estado
termodinâmico do sistema, em especial, sua energia interna U (J).
5. Uma barra de metal homogênea sendo deformada pela ação de uma força
externa.
Sistema
p
1
• Mecânicas: por exemplo, por ação de uma força aplicada na sua superfície.
Quando o sistema, ao ser liberado, não sofre mudança de estado, ele estará em
equilíbrio:
seja suficientemente pequeno para que variações nos valores das propriedades no seu
interior sejam negligenciáveis.
T, oC Distribuição de
temperatura inicial
T1
T2
x, m
Sólido
Lado Lado
quente frio
L
Figura 2.2: Ausência de equilíbrio local: Uma barra metálica é aquecida à temper-
atura T1 na extremidade x = 0 e resfriada à temperatura T2 na extremidade em
x = L. A parte superior da figura apresenta um gráfico de temperatura T versus
distância x que mostra a distribuição de temperatura ao longo da barra metálica.
Considere uma barra na qual existe uma variação linear de temperatura, com
temperatura T1 = 100o C em uma extremidade e T2 = 20o C na outra. Esta barra
é então completamente isolada do ambiente e sofre um processo de equalização de
temperatura na direção do equilíbrio térmico. Imaginemos dois cenários possíveis.
No primeiro cenário, a barra é feita de cobre puro, o qual possue elevada condu-
tividade térmica. Neste caso, após, digamos 10 s, as duas extremidades da barra
estarão respectivamente a T1 = 61o C e T2 = 59o C. A diferença de temperatura sobre
toda a barra é de apenas cerca de 2o C. Podemos então obter a energia interna da
barra, com boa aproximação, somente como
U = U (t, T̄ )
onde T̄ = 60o C.
Neste segundo cenário, consideremos uma barra feita de aço carbono, o qual
possui condutividade térmica cerca de 6 vezes menor que a do cobre puro. Após,
digamos 10 s, as duas extremidades da barra estarão respectivamente a T1 = 90o C e
T2 = 30o C. A diferença de temperatura sobre toda a barra é de cerca de 70o C. Neste
caso, não podemos utilizar apenas uma única temperatura para caracterizar o estado
termodinâmico da barra (e calcular a energia interna). Porém, podemos pensar que
sobre pequenas regiões, onde as diferenças de temperatura não são maiores que cerca
2.2. O ESTADO GASOSO 35
u = u(t, T (x))
de uma forma puramente mecânica e externa ao gás, como por exemplo, a força que
um pistão com uma determinada área faz sobre o volume de gás. Neste ponto, como
hipótese, poder-se-ia dizer que as sensações causadas por um gás a uma dada pressão
e volume são caracterizadas por uma única variável denominada temperatura.
As relações entre a temperatura, conforme definida acima, pressão e volume
foram definidas empiricamente a muito tempo. Entre estes conceitos, postulados
historicamente como leis, estão:
2. Charles (1787) e Gay-Lussac (1802): para uma dada massa e pressão constante,
o volume ocupado pelo gás cresce linearmente com a temperatura:
V = Vo (1 + aT ) (2.2)
3. Para uma dada massa e volume constante, a pressão do gás cresce linearmente
com a temperatura:
p = po (1 + bT ) (2.3)
4. Avogadro: Para qualquer gás perfeito, a constante dos gases possui o mesmo
valor se a mesma quantidade de moléculas do gás é considerada. Este valor é
Ru = 8314 J/kmol-K.
5. Dalton: a pressão exercida por uma mistura de gases é equivalente a soma das
pressões exercidas por cada gás atuando sozinho. Para Ng gases, tem-se
Ng
∑
p= pi (2.4)
i=1
A Eq. (2.6) é chamada equação de estado dos gases ideais. A Figura ?? mostra
em forma gráfica a superfície definida no diagrama p-V -T . Neste diagrama, os eixos
horizontais representam a temperatura T e o volume V e o eixo vertical representa
a pressão p calculada pela equação dos gases ideiais. Embora a equação de estado
estabeleça relações entre p, V e T , obtidas a partir de observações experimentais,
estes conceitos não sugerem nenhuma relaçao entre estas propriedades macroscópicas
e propriedades mais fundamentais dos gases. A teoria cinética dos gases é um modelo
para estas relações.
Figura 2.3: Superfície pVT para um gás ideal e as projeções em dois planos: Pressão
p versus Volume V e Temperatura T versus Volume V (Fonte: ChemWiki - The
Dynamic Chemistry Hypertext. Section 6.2: Ideal Gas Model: The Basic Gas Laws).
(Observe que nesta seção n e m são definidos de forma diferente do que no restante
do texto). A existência de grupos de moléculas ni com velocidades entre ci e ci + dci ,
onde dci é tão pequeno quanto se queira, implica na existência de uma distribuição
de probabilidade de velocidades. Esta distribuição é denominada de distribuição
de velocidades de Maxwell-Boltzmann e não será desenvolvida explicitamente por
enquanto. Por enquanto, basta que esta distribuição exista e seja bem definida.
Embora o modelo assuma que não há colisão mútua entre as moléculas do gás,
são as colisões que garantem que o sistema atingirá uma configuração de equilíbrio.
Esta aparente contradição não causará um problema maior se assumirmos que não
é nosso interesse descrever o que acontece no momento da colisão, mas apenas ob-
servar os resultados obtidos quando as moléculas do gás já se encontram com uma
distribuição de velocidades definida estatisticamente. Em particular, mesmo neg-
ligenciando as colisões entre moléculas, estas irão colidir de forma elástica com as
2.2. O ESTADO GASOSO 39
Para todas as moléculas deste grupo, tem-se uma pressão resultante igual a
Ni pi onde Ni = ni l3 . Assim, somando para todos os grupos de moléculas,
∞
∑ ∑∞
Ni 2
p=m u
3 i
= m ni u2i = mn⟨u2 ⟩ (2.12)
i=1 l i=1
onde ∞
1∑
⟨u2 ⟩ = ni u2i (2.13)
n i=1
Comparando esta equação com a equação de estado dos gases ideais para 1
mole de mostura,
pV = Ru T (2.19)
pode-se concluir que
1 NA m⟨c2 ⟩
T = (2.20)
3 Ru
Lembrando que a constante de Boltzmann é equivalente à constante universal
dos gases por molécula, Ru = kB NA , tem-se
1 m⟨c2 ⟩ 2 Ec
T = = (2.21)
3 kB 3 kB
e
2
pV = NA Ec , (2.22)
3
ou seja, a temperatura do gás é proporcional à energia cinética média das moléculas e
o produto pV é proporcional à energia cinética total das moléculas do gás. Observa-
se que neste modelo simplificado nem a temperatura T nem o produto pV dependem
diretamente da massa da molécula de gás, mas no produto m⟨c2 ⟩.
Ainda, da Eq. (2.21), pode-se escrever
( )1/2
3Ru T 3Ru T 3Ru T
⟨c ⟩ =
2
= ⇒ c = ⟨c2 ⟩1/2 = (2.23)
NA m M M
onde M = NA m é a massa molar do gás (kg/kmol) (em um modelo mais refinado
substitui-se a constante 3 por 8/π (Bird, 1960)).
2.2. O ESTADO GASOSO 41
Tabela 2.1: Velocidade média molecular para alguns gases a T = 273 K (Ru =
8314, 33 J/kmol-K).
Uma consequência da teoria cinética dos gases é a definição de caminho livre molec-
ular médio. Trata-se da distância média percorrida pelas moléculas do gás entre
colisões sucessivas. Para este cálculo, defini-se o diâmetro de colisão da molécula
de gás dm , ou seja, considera-se que ocorre colisão entre duas moléculas de um gás
quando o centro de uma das moléculas passar a uma distância igual ou menor que
dm do centro da outra molécula. Quando uma molécula desloca-se por uma distân-
cia l = ct, esta varrerá um volume lπd2m . Como existem n moléculas por unidade de
volume, esta molécula sofrerá nlπd2m colisões durante o seu deslocamento. Assim, a
42 MÓDULO 2. ESTADOS FÍSICOS
Este é o modelo mais simples possível, o qual considera que todas as outras
moléculas estão estacionárias quando a primeira se desloca. Ao levar em consider-
ação o movimento relativo
√ entre as moléculas, obtém-se que a expressão acima é
reduzida por um fator 2. Assim, utilizando-se também a equação de estado dos
gases ideais, obtém-se
1 1 1 1 kB T
λm = √ 2 = √ 2 (2.25)
π 2 dm n π 2 dm p
Observa-se que o espaçamento médio instantâneo entre moléculas é da ordem
de ( )1/3 ( )1/3
( )1/3
l3 1 kB T
lm = = = (2.26)
N n p
Na verdade, então, o caminho livre molecular médio é maior que o espaça-
mento médio entre as moléculas do gás. Como exemplo, para o ar atmosférico
(principalmente composto de N2 e O2 ) a p = 1 atm = 101325 Pa e T = 273 K,
o diâmetro médio molecular é cerca de dm = 0, 35 nm e obtém-se lm = 3, 34 nm
e λm = 68, 30 nm. Assim, o caminho livre molecular médio é cerca de 20 vezes
a distância instantânea entre moléculas e é cerca de 200 vezes o diâmetro médio
molecular. Estas escalas permanecem semelhantes para outros gases em pressão
e temperatura próximas às do ambiente. Observa-se também que a razão entre o
caminho livre molecular médio e o espaçamento médio entre moléculas é da ordem
de 1 para os líquidos e é muito menor que 1 para os sólidos.
A Tabela 2.2 apresenta alguns valores de dm e λm para alguns gases para p = 1
atm e T = 300 K. Também, mostra-se a relação entre o caminho livre molecular
médio e o diâmetro da molécula.
Quando a menor dimensão de um sistema macroscópico L for muito maior que
o caminho livre molecular médio λm podemos tratar este sistema como formado por
substâncias que se comportam de maneira contínua, denominadas de meio contínuo.
A relação entre a dimensão característica do sistema e o caminho livre molecular
médio é chamada de número de Knudsen,
λm
Kn = (2.27)
L
Assim, a hipótese de meio contínuo é aplicável quando Kn ≪ 1. Em caso
contrário, devemos utilizar uma abordagem molecular na solução dos problemas de
transporte (Kaviany, 2010).
2.2. O ESTADO GASOSO 43
Gás dm , A λm , nm λm /dm
H2 2,74 122,5 407
N2 3,68 67,9 168
H2 O 4,60 43,5 86
CO2 4,59 43,7 87
O2 3,61 70,2 176
CH4 4,14 53,7 118
ar atmosférico padrão 3,50 75,1 195
ou seja,
aT = ⟨u2 ⟩1/2 (2.31)
√
Portanto, verifica-se que a velocidade do som é γ maior que o valor calculado
√
anteriormente. Para o ar na temperatura ambiente, γ ≃ 1, 4 e γ ≃ 1, 18. Por-
tanto, independentemente do processo que o gás esteja submetido, a velocidade de
propagação da onda é muito próxima da velocidade molecular. Esse fato indica que
a molécula é o mensageiro (carrier) das informações em um gás e esta característica
terá uma importância fundamental na análise das propriedades de transporte em
fase gasosa.
Ng
∑
p= pi (2.34)
i=1
Ru
p=ρ T (2.38)
M
e obtém-se a massa molar da mistura M como
N
ρ ∑ g
ρi
= (2.39)
M i=1 Mi
∑
N
ρ= ρi (2.41)
i=1
tem-se a identidade
∑
N
Yi = 1 (2.42)
i=1
1 ∑N
Yi
= (2.43)
M i=1 Mi
mi = ni Mi (2.44)
A fração molar pode também ser expressa nas unidades práticas conhecidas
como ppm e ppb. A unidade ppm significa partes-por-milhão e corresponde a
Estas unidades práticas são úteis para expressar concentrações molares muito
pequenas comuns, por exemplo, quando se descreve poluição ambiental.
Em propriedades molares, a equação de estado dos gases perfeitos pode ser
escrita para a mistura como
p = cRu T (2.49)
e obtém-se a massa molar da mistura M como
∑
N
M= Xi Mi (2.50)
i=1
Assim, ( )
( )
Ru 8314
ρ = p/ T = 101325/ × 300 = 1, 17kg /m3
M 28, 8
A massa de ar seco é portanto
m = ρV = 1, 17 × 200 = 234kg
Note que quando uma substância pura na fase líquida está em equilíbrio ter-
modinâmico com o seu vapor, existe uma correspondência unívoca entre a temper-
atura e a pressão do sistema em equilíbrio. Esta condição de equilíbrio é chamada
de equilíbrio de fase. A equação de Clapeyron fornece uma relação entre a pressão e
a temperatura de saturação na forma (este aspecto será explorado com mais detalhe
logo adiante) ( )
dp 1
∼ −d
p T
a qual, integrando entre um estado de referência a pref , Tref e outro a p, T , fornece
( ) ( )
p 1 1
ln ∼− −
pref T Tref
Assumindo que o vapor comporta-se como gás perfeito (a pressão de vapor é sufi-
cientemente baixa para que esta hipótese seja válida)
( ) ( )
Ru 8314
ρ v = pv / T = 2862, 4/ × 300 = 0, 021kg /m3
Mv 18
A massa de vapor é portanto
ma = ρa V = 1, 14 × 200 = 228kg
Note que este valor é cerca de 6 kg menor que o valor calculado no exemplo anterior
e estes 6 kg de ar seco foram substituídos por 4,2 kg de vapor de água.
Tabela 2.4: Constantes críticas para algumas substâncias (Reid et al., 1986).
A equação de Van der Waals resulta de correções na equação de estado dos gases
ideais para modelar o comportamento não ideal. Estas correções incluem uma cor-
reção do volume ocupado pelas moléculas e uma correção da interação entre as
moléculas. Van der Waals (em 1873) argumentou que o volume do gás não deve
52 MÓDULO 2. ESTADOS FÍSICOS
Rg T
v= +b (2.53)
p
ou,
p(v − b) = Rg T (2.54)
O valor do volume b pode ser estimado de diversas formas. Por exemplo, pode-se
assumir que quando o diâmetro efetivo médio da molécula é dm , esta sofrerá colisão
com qualquer molécula cujo centro passe por uma distância dm do centro desta.
Assim, cada molécula carrega um volume excluído com raio dm , o qual equivale a
4πd3m /3 = 8(πd3m /6) = 8vm . Assumindo somente colisões entre pares de moléculas,
isto implica que para cada duas moléculas exclui-se um volume 8vm . Portanto, para
NA /M moléculas por unidade de massa, o volume excluído é b = 4NA vm /M .
Gases não ideais são caracterizados por forças de interação entre moléculas.
Estas forças fazem com que a pressão medida em uma superfície seja diferente da
pressão existente no interior do gás longe da superfície. A razão desta diferença é que
na superfície o campo de forças ao redor das moléculas encontra-se desbalanceado
devido à ausência de moléculas no lado da superfície. Para atingir a superfície,
parte da energia cinética da molécula é gasta para escapar da atração das moléculas
próximas à superfície. Desta forma, a energia cinética da molécula ao atingir a
superfície é menor do que ela teria no interior do gás. Denominando esta perda
equivalente de pressão por ∆p, a pressão na parede é pid − ∆p. Assim, escrevendo
a equação de estado para a pressão próxima à parede tem-se
(p + ∆p)(v − b) = Rg T (2.55)
A equação de van der Waals pode ser aplicada às condições no ponto crítico
e obtém-se uma relação entre os parâmetros da equação e as condições no ponto
crítico,
a 8a
vc = 3b; pc = 2
; Tc = (2.57)
27b 27Rg b
ou, pode-se escrever também
27Rg2 Tc2 Rg Tc
a= ; b= (2.58)
64pc 8pc
Tabela 2.5: Constantes de van der Waals para algumas substâncias (Sander, 1999).
[ ]
psat (Tr = 0, 7)
ω = −1 − log10 (2.66)
pc
ρ = constante (2.68)
2.3. O ESTADO LÍQUIDO 57
Exemplo:
A pressão de saturação de substâncias pode ser aproximada usando uma equação
de Antoine na forma (adaptado de Elliot e Lira, 2000),
b
ln [psat (Pa)] = a −
T (K) − c
58 MÓDULO 2. ESTADOS FÍSICOS
onde as constantes a,b e c são ajustadas a fim de melhor reproduzir valores medidos.
Para a água e para o etanol, as constantes a,b e c são dadas na tabela abaixo:
a b c
água 23,4776 3984,923 39,724
etanol 23,5718 3667,705 46,996
Figura 2.4: Pressão de saturação em kPa (1 kPa = 1000 Pa) em função da temper-
atura em o C para água e etanol utilizando a equação de Antoine, representada em
um gráfico semi-log.
3. O calor latente de mudança de fase tem relação direta com a energia das
ligações químicas. Para a sublimação de um sólido, pode-se escrever
1
∆hsv = NA r∆Ep (2.69)
2
onde o fator 2 ocorre para que cada ligação não seja tomada duas vezes. ∆hsv
é o calor latente de sublimação por mol de substância.
2.6 Referências
1. Atkins, P., 2001, Físico-Química - Fundamentos, 3a. edição, LTC Editora.
5. Tabor, D., 1995, Gases, liquids and solids and other states of matter, 3a.
edição, Cambridge University Press, Cambridge.
2.7 Exercícios
Problema 1: Responda cada pergunta em 1 parágrafo de texto:
Problema 2: Calcule a massa de gás oxigênio (O2 ) que ocupa um volume de 0,8
m3 na pressão de 2 MPa e temperatura 25o C.
Problema 3: Calcule o caminho livre molecular médio para o ar ambiente na
pressão de 1 atm e temperatura de 500 K. Você poderia adotar hipóteses de meio
contínuo para o escoamento do ar nesta temperatura e pressão em uma fresta com
0,01 µm de espessura.
Problema 4: Calcule a velocidade média de moléculas de hidrogênio na temper-
atura de 1000 K e pressão de 1 kPa.
2.8. NA WEB: 61
(b) Refaça o seu cálculo considerando que a água tenha sido aquecida a T = 50
o
C. Expresse o seu resultado como uma relação entre a quantidade de água
calculada nesse item e aquela do item (a), ou seja, expresse quantas vezes mais
água é carregada com o ar nessa condição do que na condição do item (a).
2.8 Na WEB:
1. Simulação da distribuição de Maxwell-Boltzmann: na teoria cinética dos gases,
desenvolve-se a distribuição de velocidades de Maxwell-Boltzmann, a qual es-
pecifica a probabilidade de se encontrar uma molécula a uma dada velocidade.
Na página http://www.sas.upenn.edu/rappegroup/education/MB/mb.html, clique
em ”Applet ”, clique em ”Go”, especifique a temperatura do gás e o número
de moléculas utilizado na simulação e clique ”Start”. Observe a distribuição de
1
Veja, por exemplo, https://www.youtube.com/watch?v=F3pM57al-NQ .
2
Sobre a atmosfera padrão, conforme definida pela IUPAC, veja
http://goldbook.iupac.org/html/ S/S05906.html .
3
Nesse caso, diz-se que o gás no interior da bolha se encontra em equilíbrio térmico e de fase
com a água, pois deixa o borbulhador na temperatura da água e completamente saturado.
62 MÓDULO 2. ESTADOS FÍSICOS
2. Outro programa, o qual você pode instalar no seu computador, está disponível
aqui
http://www.physics.umd.edu/rgroups/ripe/perg/software/thermo.html
”Duro é o que é denso e mole é o que é rarefeito. Duro e mole, assim como pesado
e leve, são diferenciados pela posição e arranjo dos espaços vazios.”
Demócrito (460-370 AC)
63
64 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
deslizamento da rolha com baixo atrito, mas que é pequena o suficiente para que
não haja um vazamento significativo através desta folga. Esta rolha é sustentada
na direção vertical por uma haste que passa internamente ao longo do recipiente e é
ligada a um dos braços de uma balança. No prato da balança ligado ao braço oposto
depositamos uma massa cujo peso deve contrabalancear exatamente a força exercida
pela água contra a rolha. No experimento de Pascal, o recipiente foi preenchido com
0,4 kg de água. Após o repouso da água, Pascal determinou que era necessário
adicionar uma massa de 4,8 kg ao prato da balança para manter a rolha em seu
lugar. Então, ele concluiu que a força necessária para manter a rolha no lugar não
é igual ao peso da massa de água contida no reservatório, pois, caso a massa de
água no reservatório fosse congelada, mas não ficasse aderida à parede do recipiente,
permanecendo completamente apoiada sobre a rolha, uma massa de 0,4 kg seria
suficiente para manter a rolha imóvel sustentando o peso do bloco de gelo no interior
do recipiente. Ainda, quando voltava a derreter, novamente uma massa de 4,8 kg
era necessária para manter a água líquida no interior do recipiente. Pascal ainda
notou que o mesmo permanecia verdadeiro não importando a orientação do orifício,
estivesse ele no fundo, ou nas laterais do recipiente próximo ao fundo. Veremos na
análise que segue, que a força necessária para manter a rolha no lugar é proporcional
ao nível da água no recipiente. O nível da água determina a pressão na superfície
da rolha e esta determina a força que o fluido exerce sobre a rolha.
A fim de determinarmos a distribuição de pressão em um fluido estático e ho-
mogêneo, isolamos uma porção de fluido, que denominaremos ume elemento macroscópico
de fluido, e realizamos um balanço das forças aplicadas sobre ele. As forças são de-
nominadas forças de superfície quando são aplicadas sobre as superfícies do elemento
e forças de corpo quando aplicadas sobre a massa de fluido no interior do elemento.
A magnitude das forças de superfície é proporcional à área superficial do elemento,
enquanto que a magnitude das forças de corpo, é proporcional à massa do elemento.
A obtenção da equação da estática dos fluidos também é uma ótima oportu-
nidade de ilustrar-se a forma de se desenvolver balanços de forças macroscópicos
e a estratégia usada para se obter uma equação microscópica a partir destes bal-
anços. Esta mesma estratégia será usada continuamente para a obtenção das outras
equações de conservação. Uma vez que este desenvolvimento seja compreendido, se
tornará mais fácil acompanhar as próximas derivações.
g
z
Fp,2
Fp,3 Fp,4
Dz
Fg
Fp,1
Dx
Esse resultado indica que a pressão é uniforme ao longo de uma superfície que
é localmente normal ao vetor aceleração da gravidade, como é o caso da superfíce xy.
Esse resultado bastante importante explica porque a superfície livre de um fluido (na
superfície da Terra) sempre adquire uma orientação horizontal quando em repouso,
excluindo os efeitos de tensão superficial.
Fazendo agora o balanço de forças na direção z obtém-se
Fp,1 − Fp,2 − Fg = 0
p1 ∆x∆y − p2 ∆x∆y − ρg∆x∆y∆z = 0, (3.6)
ou, ainda,
p1 = p2 + ρg∆z. (3.7)
3. As variáveis são funções contínuas, ou seja, os gráficos das funções não apre-
sentam pontas ou buracos (a continuidade requerida, no sentido matemático,
inclui até a derivada segunda).
∂p
− − ρg = 0 (3.12)
∂z
Observa-se das equações acima que a pressão varia somente com a coordenada
z, ou seja, p = p(z). Assim, o balanço de forças na direção z pode ser expresso por
dp
− − ρg = 0 (3.14)
dz
3.1.2 Aplicações
3.1.2.1 Integração da equação da estática dos fluidos
z
g
z=h
z=0
p(z = h) p(z = 0) p
1. A densidade do fluido varia com a pressão: Este é o caso típico, por exemplo,
quando o fluido é um gás. Integrando equação da estática dos fluidos, obtém-se
∫ p ∫ h
dp
=− gdz
po ρ 0
∫ p
dp
= −gh (3.15)
po ρ
onde a solução da integral depende da equação de estado ρ = ρ(p, T ) para o
fluido.
∫ h
p − po = −g ρdz (3.16)
0
onde a solução da integral depende da função que descreve a variação de ρ
com z.
Este último caso representa uma aproximação para a pressão atmosférica sob
a limitação de temperatura uniforme. Na realidade, a atmosfera não possui temper-
atura uniforme.
Outras expressões matemáticas são obtidas quando outras hipóteses são as-
sumidas acerca da variação da massa específica ρ com a direção z. Exemplos de
3.1. DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM FLUIDOS EM REPOUSO 71
estratificação são a variação da massa específica da água dos oceanos como função
da variação de salinidade entre as regiões próximas à superfície e próximas ao fundo
e a variação de massa específica em um fluido contendo um material particulado
que sofre decantação. Outro exemplo interessante são as variações de massa especí-
fica devido à diferenças de temperatura no fluido, causando um escoamento com
transferência de calor denominado de convecção natural ou convecção livre.
psat(T)
g
d
h
patm
fluido manométrico:
mercúrio
Esta coluna de mercúrio se desloca para baixo originando uma região com
vapor de mercúrio, na extremidade superior fechada, com valor de pressão igual
à pressão de saturação do mercúrio na temperatura do ambiente. Esta pressão é
psat (T ) = 0, 173 Pa na temperatura de 20◦C. Assumindo que o mercúrio se comporte
como um fluido incompressível (o que é uma excelente hipótese) com massa específica
ρ, a aplicação da equação da estática dos fluidos entre a superfície livre à pressão
atmosférica patm e a superfície do mercúrio dentro do tubo a psat (T ) resulta em
Digamos que este experimento seja realizado ao nível do mar e que, após a
estabilização da altura da coluna, obtenha-se h = 760 mm. Rearranjando a equação
e considerando que a massa específica do mercúrio a 20o C é aproximadamente ρ =
13600 kg/m3 e que o módulo da aceleração da gravidade ao nível do mar é g = 9, 81
m2 /s, tem-se
(a) (b)
tubulação extremidades válvula
abertas tubulação fechada g
pA pA
patm patm
d d
a válvula válvula
fechada aberta
h h/2
nível de equilíbrio
inicial
h/2
tubulação
g
pA 1 2
patm
d
a
5
h h/2
nível de equilíbrio
de referência
h/2
3 4
fluido manométrico
p1 − p2 = 0
p2 − p3 = −ρg(a + h/2)
p3 − p4 = 0
p4 − p5 = ρm gh
p3 = pA + ρg(a + h/2)
p4 = patm + ρm gh
ou,
pA = patm − ρg(a + h/2) + ρm gh
3.1.3 Generalização
Nesta seção, visa-se desenvolver uma equação mais geral para o balanço de forças em
um fluido estático, utilizando o que se convenciona chamar de formulação integral,
ou, balanço macroscópico. Um fluido é considerado estático na ausência de taxa
de deformação. Para uma situação ainda mais restritiva, qual seja, a ausência
de movimento do fluido (vetor velocidade do fluido u(x, y, z, t) = 0), ausência de
interfaces e quando a única força de corpo é a força gravitacional, a conservação da
quantidade de movimento linear do fluido em um volume de controle com volume
V reduz-se a um balanço entre forças de superfície causadas pela pressão e a força
de corpo causada pela ação da gravidade, ou seja,
∂p ∂p ∂p
∇p = i+ j+ k (3.24)
∂x ∂y ∂z
3.1.4 Exercícios
Problema 1: Ao final desta seção, você deve ser capaz de definir e expressar
matematicamente:
4. Fluido incompressível;
Problema 2:
Considere o volume de controle bidimensional no plano x-y com lados a e b.
Mostre que a igualdade ∫
− A pndA
lim = −∇p
∆V →0 ∆V
é correta. (Problema difícil. Tente se você quiser obter um conhecimento maior dos
aspectos matemáticos envolvidos nas derivações).
Problema 3:
Mostre que para um gás perfeito isotérmico a pressão em uma altura h em
relação ao nível zero é ( )
−g
p = po exp h
Rg T
onde po é a pressão em z = 0, T é a temperatura do gás, g é o módulo da aceleração
da gravidade e Rg = Ru /M é a constante universal para o gás com massa molar M .
Problema 4:
Obtenha a distribuição da pressão em função da altura h para um gás perfeito
cuja temperatura varia com a altura z segundo
T =A+Bz
onde To = 288 K e λtrop. = −6, 5 × 10−3 K/m Assuma que a pressão da atmosfera
padrão ao nível do mar seja po = 101325 Pa e que a massa molar aproximada do ar
seja Ma = 29 kg/kmol.
(a) Encontre uma expressão para a variação da pressão p (Pa) ao longo da altura
na troposfera, entre o nível do mar em h = 0 m e uma altura qualquer h (m).
Problema 6:
Um tubo em U tem as duas extermidades abertas para a atmosfera, conforme
mostrado na figura abaixo. O tubo é preenchido com água (massa específica ρl =
1000 kg/m3 ) e com mercúrio (massa específica ρHg = 13500 kg/m3 ). Na situação
de equilíbrio estático, determine a altura h2 (m) quando h1 = 1 m.
g
patm
aberto à atmosfera
h1
h2
mercúrio
água
Problema 7:
Calcule a pressão manométrica na tubulação A, pA , quando ∆h = 10 cm,
h1 = 20 cm e h2 = 300 cm. Assuma os fluidos incompressíveis com densidades
ρa = 1, 5 kg/m3 (ar), ρl = 1000 kg/m3 (água) e ρHg = 13500 kg/m3 (mercúrio). O
manômetro está aberto para a atmosfera.
Resposta Pr.6 :
pA = patm + (ρHg ∆h − ρa h2 − ρl h1 ) g.
80 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
tubulação g
ar patm
pA aberto à atmosfera
h2 d
h1
Dh
água
fluido manométrico
(mercúrio)
Problema 8:
Um tanque fechado é pressurizado no topo na pressão pA (Pa). O tanque
contém óleo até um nível h1 = 2 m. Um manômetro é instalado na posição mostrada,
sendo h2 = 0,4 m, h3 = 1 m e h4 = 0,8 m. Assuma que a pressão atmosférica é
patm = 101325 Pa, a aceleração da gravidade aponta para baixo e tem módulo g =
9,8 m/s2 e que os fluidos são incompressíveis com densidades ρo = 850 kg/m3 (óleo)
e ρa = 1000 kg/m3 (água). (a) Calcule a pressão absoluta no topo do tanque pA
(Pa). (b) Obtenha uma expressão para a distribuição de pressão manométrica p(z)
(man.) ao longo da parede vertical do lado esquerdo do tanque.
Resposta Pr.7 : (a) pA = patm + ρa gh4 − ρo g (h2 + h3 ) . (b) p(z) = pA + ρgz, 0 ≤ z ≤
h1 .
Problema 9:
A figura abaixo mostra dois tubos transportando água conectados através de
um manômetro em U feito com um tubo com diâmetro constante. Antes da conexão
do manômetro, o nível de equilíbrio estava a uma altura a = 1 m em relação ao
nível dos tubos. Para as situações mostradas abaixo nas figuras (a) e (b), calcule
a diferença de pressão entre os tubos A e B se o desnível anotado é h = 20 cm.
Utilize: ρℓ = 1000 kg/m3 (água) e ρm = 13000 kg/m3 (mercúrio). A aceleração da
3.1. DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM FLUIDOS EM REPOUSO 81
ar
p(z) g
óleo
pA
patm aberto à atmosfera
h2
d água
h1
h3
h4
tubulação g tubulação g
pA pB pA pB
d d
d
a a
h h/2 h
nível de equilíbrio nível de equilíbrio
de referência de referência
h/2
fluido manométrico
q
deslocamento final do deslocamento final do
fluido manométrico fluido manométrico fluido manométrico
Problema 10:
Um tanque de aço inox com diâmetro D = 10 cm é munido de um visor de
nível (externo) na forma de um tubo de vidro com diâmetro d = 1 cm. Na situação
(a), este tanque é preenchido com água até um nível de equilíbrio de referência, o
qual é anotado na superfície do visor de nível. Então, na situação (b), o tanque é
alimentado lentamente com com uma certa massa de um óleo mineral com densidade
ρo = 800 kg/m3 (óleo). Após atingir-se a nova situação de equilíbrio, o nível final
da água no visor de nível está a uma altura ∆h = 25 cm do nível de equilíbrio de
referência. Ambos o tanque e o visor permanecem abertos à atmosfera e o óleo não
se mistura com a água. Determine a massa de óleo adicionada ao tanque. Dados:
ρa = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 81 m/s2 (aceleração da gravidade), patm = 101325
Pa (pressão atmosférica).
ar
D D
óleo
Dh
nível de equilíbrio
de referência
d d
água água
( )
πD2 ρm ∆h d2
Resposta Pr.9 : mo = ρo ho , ho = 1+ 2 .
4 ρo D
Problema 11:
A figura abaixo mostra um micromanômetro feito com um reservatório vertical
com diâmetro d1 = 40 mm conectado a um tubo inclinado em um ângulo θ = 60o com
diâmetro d2 = 16 mm. Esse manômetro, que contém água como fluido manométrico
com massa específica ρm = 1000 kg/m3 , é utilizado para medir a diferença de pressão
entre os pontos A e B em duas tubulações paralelas, nas quais escoa óleo com massa
específica ρo = 800 kg/m3 . A tubulação do manômetro acima do fluido manométrico
3.1. DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO EM FLUIDOS EM REPOUSO 83
tubulação g
fluido presente
pA na tubulação pB
d2
a
L
d1
nível de equilíbrio
de referência
deslocamento final do
fluido manométrico
q
fluido manométrico
Problema 12:
A figura abaixo mostra um micromanômetro feito com um tubo vertical com
diâmetro D = 3 cm conectado a outro tubo inclinado em um ângulo θ = 45o com
diâmetro d = 9 mm. Este manômetro, que contém álcool como fluido manométrico
com massa específica ρm = 850 kg/m3 , é utilizado para medir a diferença de pressão
entre os pontos A e B da tubulação inclinada, na qual escoa ar com massa específica
ρa = 1,5 kg/m3 . A tubulação é inclinada em um ângulo θ = 30o e os pontos A e B
são separados por uma distância h = 20 cm. Quando o manômetro está aberto à
atmosfera, o nível de referência inicial situa-se a uma distância a = 40 cm do ponto
A. Após a conexão à tubulação, o manômetro passa a acusar um deslocamento de
L = 10 cm no tubo inclinado. Determine a diferença de pressão entre os pontos A
e B, pA − pB (Pa). Utilize g = 9,8 m/s2 para a aceleração da gravidade.
∂p
− =0 (3.30)
∂x
∂p
− =0 (3.31)
∂y
∂p
− + ρg = 0 (3.32)
∂z
A integração das Eqs.(3.30) e (3.31) fornece
p é uniforme ao longo de x
86 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
p é uniforme ao longo de y
ou seja, para um fluido estático a pressão não varia em um plano que é normal ao
vetor aceleração da gravidade.
Para a integração da equação na direção z, considere que o fluido é incom-
pressível, ou seja, sua densidade não varia com a pressão, possui pressão po na
coordenada z = 0 e deseja-se conhecer a pressão p na coordenada z. Para este caso,
dp = ρgdz
∫ p ∫ z
dp = ρgdz
po 0
∫ z
p − po = gρ dz
0
p = po + ρgz (3.33)
(a) (b)
g y
x
y
DFp 1
2
3
4
Fp zo z 5 Dz
6
7
z N=8
h
w w
Figura 3.15: (a) Superfície submersa e sistema de referência utilizado. (b) Placa
plana mostrando sistema de referência local e divisão em N elementos de área.
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 87
Nota-se que esta força é aplicada do fluido para a superfície na direção normal
à superfície.
A seguir, desenvolve-se algumas aplicações do cálculo de força sobre superfícies
planas.
3.2.3 Aplicações
A solução da integral de superfície da pressão depende da forma e orientação da
superfície. Assumiremos que o fluido seja incompressível e consideraremos alguns
exemplos a seguir. Na solução destes exemplos adotaremos um sistema de referência
(x, y, z) cujo eixo z é alinhado com a direção do vetor aceleração da gravidade. Neste
sistema, p = po no ponto z = 0 e a pressão não varia com as coordenadas x e y. Em
todos os exemplos, a superfície é plana com comprimento L(m) e largura w(m) (na
direção y saindo da página). Ainda, adotaremos um segundo sistema de referência
(x′ , y ′ , z ′ ) com origem em um ponto na superfície e sendo o eixo z ′ alinhado com a
superfície plana de interesse. A Figura ?? mostra as configurações analisadas. Estas
figuras apresentam a projeção no plano x − z.
z z
h L
(c) g (d) g
patm patm
zo zo
x x
z z z z
L
L h
q
cuja solução é
ρgL2 w
Fp = po Lw + (3.41)
2
Com a origem do eixo z posicionada na superfície do líquido, po = patm . Assim,
ρgL2 w
Fp = patm Lw + (3.42)
2
Nessa expressão, observa-se o efeito de uma pressão constante aplicada sobre
a superfície, patm Lw, superposto ao efeito da pressão variável com a profundi-
dade (ρgL2 w)/2. Nota-se também que
( )
ρgL2 w L
≡ ρg Lw (3.43)
2 2
ou seja, este termo é a pressão média na superfície (ρgL/2) multiplicada pela
área desta (Lw).
z = z ′ sen(θ) (3.45)
Como
dA = w dz ′ (3.46)
e utilizando a Eq. (3.33) tem-se
∫ L ∫ L
Fp = (po + ρgz)wdz ′ = [po + ρgz ′ sen(θ)] wdz ′ (3.47)
0 0
cuja solução é
ρgL2 sen(θ)w
Fp = po Lw + (3.48)
2
90 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
ρgL2 sen(θ)w
Fp = (patm + ρgzo )Lw + (3.49)
2
Novamente, observa-se o efeito de uma pressão constante aplicada sobre a
placa, (patm + ρgzo )Lw, superposto ao efeito da pressão variável com a pro-
fundidade que pode ser interpretado como
( )
ρgL2 sen(θ)w Lsen(θ)
≡ ρg Lw (3.50)
2 2
3.2.4 Exercícios
Problema 1: Responda:
3. Qual a origem da força causada por um fluido em repouso sobre uma superfície
submersa? Em que direção essa força se aplica? Do que variáveis depende a
força resultante sobre a superfície?
4. Discuta se, ou, em que contexto, a seguinte afirmação é correta: A força cau-
sada por um fluido contido em um reservatório sobre a superfície que contém
esse fluido não depende da massa total de fluido contido no reservatório.
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 91
Problema 2:
Considere uma superfície triangular equilátera com lados com dimensão a sub-
mersa verticalmente em um fluido em repouso. Sendo po a pressão no ápice do
triângulo, mostre que a aplicação da Eq. (3.82 ) fornece para a força horizontal
√ ( √ )
a2 3 3
Fy = po + ρga
4 3
. (Dica: Use a simetria exibida pelo triângulo para definir a função W (z)).
z
g
po
Fy
a
x
Problema 3:
O tanque mostrado abaixo possui água com massa específica ρ(kg/m3 ) até
o nível indicado, sendo o restante preenchido por ar. Um manômetro no topo do
tanque indica uma pressão manométrica pA (Pa). Obtenha expressões para a força
resultante exercida: (a) no lado esquerdo, (b) no lado direito, (c) na tampa e (d)
no fundo do tanque. A pressão externa é atmosférica patm (Pa) e o tanque está her-
meticamente vedado ao ambiente externo. Assuma que o ar no topo do tanque tem
pressão uniforme. O vetor aceleração da gravidade, com módulo g(m2 /s), aponta
para baixo na direção vertical.
Problema 4:
Um reservatório pressurizado possui uma tampa retangular com altura L(m)
e largura w(m), inclinada em um ângulo θ em relação à horizontal. O fluido, com
nível h(m) acima da tampa, possui massa específica ρ(kg/m3 ). A pressão externa é
atmosférica patm (Pa) e o topo do tanque contém ar com pressão absoluta pA (Pa). O
vetor aceleração da gravidade, com módulo g(m2 /s), aponta para baixo na direção
vertical. Para os tanques (a) e (b) mostrados abaixo, obtenha expressões para as
componentes horizontal e vertical da força resultante exercida pelo fluido sobre a
tampa. Que semelhanças você observa entre as duas soluções?
Resposta:
92 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
g pA
patm a
h
(a) (b)
g pA pA g
patm h h patm
L L
q q
O O
ρg sen(θ)wL2
FR = (pA − patm + ρgh)wL +
2
Somente a direção da força é diferente entre partes (a) e (b). Você consegue
identificar a direção e sentido da força?
Os componentes horizontal e vertical são
FH = FR sen(θ), FV = FR cos(θ)
de referência e cuja linha de ação não passa pelo ponto de referência gera um mo-
mento em torno deste. Na Figura ??(a), mostra-se três forças aplicadas sobre um
sólido. Observa-se que das três forças apenas a força F1 exerce um momento em
relação ao ponto O. Na Figura ??(b), mostra-se a aplicação de uma força F sobre
uma superfície plana que gera um momento Mo em relação ao ponto O. A distância
entre a linha de ação da força e o ponto de referência O, medida perpendicularmente
à linha de ação da força, é o braço de alavanca r. Para este exemplo, r = L que
é o próprio comprimento da superfície na direção x. O momento é um vetor cujo
módulo é dado pelo produto entre a força aplicada e o braço de alavanca e cuja
direção é a direção do eixo de rotação, o qual é normal ao plano definido pela força
e pelo braço de alavanca. No diagrama de forças da Figura ??(b), mostra-se o vetor
distância r e o vetor momento Mo . Observa-se que estes vetores tanto podem ser
definidos em relação a um sistema de referência (xyz) como a um sistema de refer-
ência (x′ y ′ z ′ ) preso à superfície. A escolha depende apenas de conveniência. Para o
sistema (x′ y ′ z ′ ) tem-se
Mo = −F r j′ (3.51)
onde F = |F| e r = |r|. O vetor unitário na direção y ′ é j′ .
(a)
F1
F3
F2 o
Mo
(b)
F x
x y
y z
z o
o Mo
L r
z F
o
y Mo
Figura 3.20: (a) Exemplos de forças que originam momento (F1 ) e forças que não
originam momento (F2 e F3 ) em relação ao ponto O, (b) Geração de momento em
relação ao ponto O por uma força F e diagrama vetorial.
(a) (b) y
g
x z
y o
DFp 1
2
3
o z 4
Fp o 5 Dz
6
7
z N=8
h
w w
Figura 3.21: Obtenção do momento exercido pelo fluido em relação a um eixo pas-
sando pelo ponto O.
∑
N ∑
N
Mp,i−N = ∆Mp,i = zi′ pi w ∆z ′ (3.53)
i=1 i=1
O vetor momento está alinhado com o eixo y ′ e o sentido pode ser obtido pela
regra da mão direita. Observa-se que na equação acima a pressão deve também ser
expressa em termos de z ′ . Para isto, usa-se a transformação
z = zo + z ′ (3.55)
para escrever
p = po + ρgz = po + ρg(zo + z ′ ) = p′o + ρgz ′ (3.56)
Assim, ∫ h
Mp = z ′ (p′o + ρgz ′ ) w dz ′ (3.57)
0
3.2.6 Aplicações
A solução da integral de superfície da pressão depende da forma e orientação da
superfície. A Figura ?? apresenta alguns exemplos de configurações para uma su-
perfície plana retangular com comprimento L e largura w (saindo da página). As-
sumiremos que o fluido seja incompressível e resolveremos os exemplos listados.
cuja solução é
L2 w
Mo = (po + ρgh) (3.60)
2
Esta expressão pode ser reescrita como
L
Mo = (po + ρgh)Lw (3.61)
2
ou seja, a força de magnitude (po + ρgh)Lw aplica um momento com braço de
alavanca L/2. Neste caso, po = patm .
96 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
z z
h L
z
z
o
o
L
(c) g (d) g
patm patm
zo zo
x o x
z z z L
L h
z
q
o
dA = w dz ′ (3.62)
ou,
L2 w ρgL3 w
Mo = po + (3.67)
2 6
Neste caso, po = patm . Nota-se nessa expressão a contribuição de duas parcelas.
A primeira parcela é uma força uniforme po Lw aplicada no centro da superfície
exercendo um momento através do braço de alvanca L/2. A segunda parcela,
é um momento realizado por uma força distribuída com resultante (ρgL/2)Lw
aplicada em um braço de alvanca de L/3.
dA = w dz ′ (3.68)
z = z′ (3.70)
Assim ∫ L
Mo = [po + ρgz ′ ]z ′ wdz ′ (3.71)
0
cuja solução é
po L2 w ρgL3 w
Mo = + (3.72)
2 3
Esta expressão é semelhante a anterior, porém, agora
dA = w dz ′ (3.74)
h = z + z ′ sen(θ) (3.76)
cuja solução é
L2 w ρgL3 sen(θ)w
Mo = (po + ρgh) − (3.78)
2 3
e, considerando que h = L sen(θ),
L2 w ρgL3 sen(θ)w
Mo = po + (3.79)
2 6
Esta expressão também apresenta uma primeira parcela que corresponde a um
componente constante de força de pressão realizando momento e uma segunda
parcela que corresponde a uma força distribuída com resultante [ρgL sen(θ)/2]Lw
realizando momento através de um braço de alavanca de L/3. Ainda, neste
caso,
po = patm + ρgzo (3.80)
3.2.7 Generalização
Esta seção é acrescentada com o objetivo de obter uma dedução mais rigorosa e
generalizada. Seja a superfície submersa apresentada na Figura ??. Deseja-se deter-
minar a magnitude, direção e linha de ação da força atuante sobre a face superfior
desta superfície e do momento em relação a um eixo passando pelo ponto O. O sis-
tema de coordenadas é escolhido de modo que o eixo y acompanhe a aresta superior
da superfície y ≡ y ′ .
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 99
(a) (b)
x
z y
g zo
zo
y
L z
o
Fp h = L sen q
zo q
h b = L cos q
w w
z
q z
Figura 3.23: Calculo de forcas e momentos sobre uma superficie submersa plana.
3.2.7.1 Força
O produto da pressão (um escalar) com a normal unitária n (um vetor) indica
que a força causada pela pressão atua na direção normal à área e o sinal negativo
indica que esta é dirigida do fluido para a superfície. O módulo da força aplicada
pelo fluido sobre a superfície é portanto dado por
∫
Fp = |Fp | = p dA. (3.82)
A
zo + z ′ sen(θ). Assim,
∫ z′
p = p′ o + ρ g sen(θ) dz ′ . (3.84)
0
100 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
p = p′ o + ρ g z ′ sen(θ). (3.85)
Observa-se que a pressão uniforme p′ o exerce uma força com módulo equiva-
lente ao produto p′ o A na direção da normal n. O segundo termo expressa a força
exercida pela pressão que varia ao longo da superfície. Define-se a coordenada do
centróide da superfície como
′ 1∫ ′
zc = z dA (3.87)
A A
ou seja, o produto zc′ A representa o momento de área de primeira ordem. Assim,
obtém-se:
Fp = − [p′ o A + ρ g sen(θ)zc′ A] n (3.88)
dA = W(z ′ ) dz ′ (3.91)
1∫ ′ 1∫L ′
zc′ = z dA = z W(z ′ ) dz ′ (3.93)
A A A 0
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 101
1∫L ′ 1 wL2 L
z ′c = z w dz ′ = = (3.95)
A 0 wL 2 2
Portanto, no caso particular de uma superfície plana e retangular, inclinada
em um ângulo θ e submersa em uma profundidade zo ,
[ ( )]
L sen θ
Fp = patm + ρ g zo + w L. (3.96)
2
3.2.7.2 Momento
onde p é a pressão exercida sobre cada elemento de área superficial dA, r é o vetor
posição sobre a superfície com origem no eixo O e o sinal × indica o produto vetorial.
O produto vetorial do vetor posição r com a força de pressão normal à superfície
−p n dA fornece o momento em uma direção normal a ambas as direções de n e r.
Utilizando a distribuição de pressão para um fluido incompressível,
p = p′ o + ρ g z ′ sen(θ),
Então,
w L2 wL3
Mo = p′ o + ρ g senθ . (3.106)
2 3
ou,
w L2 wL3
Mo = (patm + ρ g zo ) + ρ g senθ . (3.107)
2 3
3.2.8 Exercícios
. (Dica: Use a simetria exibida pelo triângulo para definir a função W (z)).
z
g
po
Fy
a
x
√
Resposta: A altura do triângulo é h =√a 3/2 e a largura para o eixo z
começando no ápice do triângulo vale W = 2z/ 3.
Problema 3:
Um reservatório pressurizado possui uma tampa retangular com altura L(m) e
largura w(m), inclinada em um ângulo θ em relação à horizontal. O fluido, com nível
h(m) acima da tampa, possui densidade ρ(kg/m3 ). A pressão externa é atmosférica
patm (Pa) e o topo do tanque contém ar com pressão absoluta pA (Pa). O vetor
aceleração da gravidade, com módulo g(m2 /s), aponta para baixo na direção vertical.
Para os tanques (a) e (b) mostrados abaixo, obtenha expressões para o momento
resultante exercido em relação ao ponto O. Que semelhanças você observa entre as
duas soluções?
Resposta:
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 105
(a) (b)
g pA pA g
patm h h patm
L L
q q
O O
Parte (a)
wL2 ρg sen(θ)wL3
Mo = (pA − patm + ρgh) +
2 3
Parte (b)
wL2 ρg sen(θ)wL3
Mo = (pA − patm + ρgh) +
2 6
Problema 4:
A comporta inclinada com comprimento L e largura w mostrada abaixo separa
dois fluidos incompressíveis, um fluido com massa específica ρ2 (kg/m3 ) e outro com
massa específica ρ1 (kg/m3 ). A comporta possui peso Fg (N) e densidade uniforme.
Para a situação mostrada na figura:
g comporta
patm
L
h2
h1
q
Resposta:
gw
Fg = (ρ2 h32 − ρ1 h31 )
3L cos(θ) sen2 (θ)
gw
FR = (ρ1 h21 − ρ2 h22 ) , FH = FR sen(θ), FV = FR cos(θ) + Fg
2 sen(θ)
comporta
g
patm
M
h L
q
Resposta:
ρh3 w
M=
3 sen(θ) cos(θ)[L sen(θ) − h]
Problema 6:
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 107
L
Massa M(kg)
água
h
articulação
o q
fundo fixo
Resposta:
ρwh3
M=
6Lsen3 θ
Problema 7:
A figura abaixo mostra uma comporta rígida com seção transversal em V
presa a uma articulação O e separando dois reservatórios. A comporta possui massa
negligenciável e ambos os reservatórios possuem água com densidade ρ = 1000
kg/m3 . O nível da água no reservatório 1 é h1 e o nível da água no reservatório 2
é h2 . O lado em contato com o reservatório 2 forma um ângulo θ com a horizontal.
Determine a relação h2 /h1 que faria a comporta girar para o lado do reservatório 2.
Assuma que a comporta possui largura w uniforme.
Resposta:
h2 < h1 sen2/3 θ
Problema 8:
A figura abaixo mostra uma comporta com seção transversal em V, com ângulo
interno θ = 60o , presa a uma articulação A no fundo do reservatório. A comporta
possui massa negligenciável e está em contato com fluidos diferentes nos dois lados.
O fluido 2 possui densidade ρ2 = 1000 kg/m3 e nível h2 = 1 m. O fluido 1 possui
densidade ρ1 = 1100 kg/m3 .
108 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
g comporta
patm
h1
h2
q
Resposta:
( )1/3
ρ1 sen2 (θ)
h2 = h1
ρ2
Problema 9:
Calcule o nível da água h(m) que faria o bloco de concreto tombar para o
lado direito (ou seja, que causaria um momento negativo ao redor do ponto O). As
dimensões indicadas são b = 40 cm, a = 2 m; o fluido é incompressível com densidade
ρ = 1000 kg/m3 (água); o bloco possui densidade ρb = 2100 kg/m3 ; assuma que a
pressão atmosférica é patm = 101325 Pa e a aceleração da gravidade aponta para
baixo e tem módulo g = 9,8 m/s2 .
Resposta:
( )1/3
3ab2 ρb
h=
ρ
Problema 10:
A figura abaixo mostra uma comporta rígida retangular com comprimento
L(m) e largura w(m) presa a uma parede vertical fixa através de uma articulação
(dobradiça) separando dois reservatórios. No reservatório da esquerda, existe um
fluido com ρ1 (kg/m3 ) e nível h1 (m) em relação à dobradiça. No reservatório da
direita, existe outro fluido com densidade ρ2 (kg/m3 ) e nível h2 (m) em relação
à dobradiça. A comporta possui massa M (kg) e o ângulo de inclinação com a
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 109
Bloco de concreto
a
h
o
b
horizontal é θ. Obtenha uma expressão para a altura h1 mínima necessária para que
a comporta permaneça fechada (ou seja, uma expressão para h1 em função de h2 e
das outras variáveis para a situação de equilíbrio de momentos).
h1
h2
L o
Comporta
Resposta: ( )
ρ2 ρ2 2L senθ M cos θ
h1 = h2 + −1 −
ρ1 ρ1 3 ρ1 LW
Problema 11:
A figura abaixo mostra uma comporta rígida retangular com comprimento
L = 1, 2 m e largura w = 0, 7 m presa a uma parede vertical fixa através de
uma articulação colocada na posição L/2 (ponto O) No interior do reservatório
existe água suja com ρ1 = 1100 kg/m3 e nível h1 = 1, 5 m em relação ao fundo
do tanque coberta com uma camada de óleo pesado com ρ2 = 900 kg/m3 com
espessura h2 . A comporta forma um ângulo θ = 60o em relação à horizontal e
possui um contrapeso com massa M (kg) preso na extremidade. Estime a massa
110 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
Contrapeso
h2
o
h1 L/2
L
q
Comporta
Resposta: [ ]
1 ρ1 g sen(θ)wL3
M= po L2 w +
4gL cos(θ) 3
( )
L sen(θ)
po = ρ2 gh2 + ρ1 g h1 −
2
Problema 12:
A figura abaixo mostra uma comporta rígida formada por duas placas de aço
soldadas e articuladas no ponto O. A comporta é retangular e tem largura w (m)
(normal à folha). (a) Encontre a equação para o momento resultante no instante
de abertura da comporta. (b) Determine o valor do momento resultante para as
variáveis abaixo.
Dados: a = 2 m, H = 5 m, w = 1 m, θ = 30o , ρ = 1000 kg/m3 (água),
g = 9, 8 m/s2 , patm = 101325 Pa.
Resposta:
ρgw 3
(a) MR = (h − 3ha2 − 2a3 senθ), h = H − a senθ
6
Problema 13:
A figura abaixo mostra uma comporta móvel presa a uma estrutura fixa através
de uma articulação no ponto O. A comporta possui largura w = 0,8 m, comprimento
L = 2,0 m e está apoiada no fundo do reservatório formando um ângulo θ = 60o com
a horizontal. No interior do reservatório existe água com massa específica ρ = 1000
3.2. FORÇAS E MOMENTOS EM SUPERFÍCIES 111
H o a
Massa M(kg)
água
estrutura fixa
h O
L
articulação
q comporta móvel
fundo fixo
Resposta: ( )
ρwL h L senθ
M= − (3.118)
cos θ 2 6
Problema 14:
Determine qual densidade ρs (kg/m3 ) o material do bloco deve possuir para
se manter estável na posição mostrada na figura abaixo. As dimensões do bloco são
a(m) e b(m) e o fluido tem densidade ρ (kg/m3 ). O bloco tem largura w (m) na
direção normal à página. A aceleração da gravidade é g (m/s2 ).
ρs a2
Resposta: = 2 +1
ρ 3b
112 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
a
o
b
3.3 Flutuação
A força de empuxo em um corpo em contato com um fluido resulta do campo de
pressão aplicado pelo fluido na superfície do corpo. Como exemplo, considere um
corpo na forma de um prisma retangular com altura a (m) e área da base b2 (m2 ),
parcialmente submerso até uma profundidade c (m) em um fluido incompressível,
conforme mostra a Figura ??. Deseja-se obter uma expressão que permita estimar o
valor de c em função das massas específicas do fluido ρ(kg/m3 ), do corpo ρs (kg/m3 ) e
das demais dimensões. A Figura ??. mostra tembém o diagrama de corpo livre. As
forças na direção x aplicadas nas superfícies laterais por ação da pressão do fluido
sobre o corpo (Fp,1 e Fp,2 ) se anulam mutuamente por agirem na mesma direção
(direção x) mas em sentidos opostos.
O balanço de forças na direção z fornece
g
patm corpo flutuando
x
a
água c
z
b
Fp,c
Este resultado, que pode ser expresso como ”o peso aparente do corpo quando
submerso em um fluido é igual à diferença entre o peso do corpo e o peso do fluido
deslocado pelo corpo”, é conhecido como Princípio de Arquimedes. O lado esquerdo
da Eq. (3.123) é a força de empuxo Fe (N), ou seja,
que a do fluido, este irá submergir indefinidamente no fluido. Note que, no caso
de uma embarcação, apesar da densidade do aço ser cerca de 11 vezes maior que a
da água, a embarcação possui espaços internos preenchidos com ar que diminuem
consideravelmente a densidade aparente da embarção como um todo, permitindo
que esta flutue.
3.3.1 Generalização
O cálculo da força de empuxo pode ser generalizada conforme segue. A força de
empuxo causada pelo fluido sobre o corpo submerso é o resultado da força resultante
de pressão obtida de ∫
Fe = − p n dA. (3.126)
A
Usando o teorema de Gauss,
∫ ∫
ϕ n dA = ∇ϕ dV (3.127)
A V
Da equação da estática,
∇p = ρg. (3.129)
Assim,
∫ ∫ ∫
Fe = − p n dA. = − ρg dV = −g ρ dV = −mg. (3.130)
A V V
3.3.2 Exercícios
Problema 1: Responda:
Problema 2:
A flutuação de um corpo com massa específica conhecida pode ser utilizada
para determinar-se a massa específica de um fluido desconhecido. Considere um
corpo na forma de um prisma triangular parcialmente submerso em um fluido incom-
pressível, conforme mostra a Figura ??. O corpo encontra-se parcialmente submerso
até um nível c. Obtenha uma expressão para a massa específica do fluido ρ(kg/m3 )
em função da massa específica do corpo ρs (kg/m3 ) (conhecida), da dimensão c(m)
medida e das demais dimensões. Explique como esse densímetro poderia ser uti-
lizado.
b
água L
h
D
lama
L 4mg
(a) ρm = ρ−
h hπD2
4mg h dL h
(b) L = 2
+ ρm ⇒ = . Logo, a sensibilidade aumenta com o
ρπD ρ dρm ρ
aumento do h.
Problema 4:
Um flutuador na forma de um cilindro com altura L (m) e diâmetro D (m)
é utilizado como suporte de instrumentos que devem ficar sobre a superfície de um
reservatório. Os instrumentos e o cilindro apresentam massa total M (kg). A água
dentro e fora do cilindro possui massa específica ρg (kg/m3 ) e o ar no interior do
cilindro apresenta massa específica ρa (kg/m3 ).
(a) Calcule o nível de água h (m) que deve ser colocada dentro do cilindro para
que esse permaneça submerso a uma distância H (m) abaixo do nível do reservatório,
conforme mostra a figura.
(b) Considerando que o orifício no fundo do cilindro comunica a água de dentro
com a água de fora, determine a pressão necessária ao ar na situação mostrada na
figura.
(c) Você teria alguma preocupação quanto à estabilidade desse sistema? Dis-
cuta.
Dados: ρg =1000 kg/m3 , ρga =1,4 kg/m3 , D = 100 mm, M = 1,5 kg, H =
700 mm, L = 1000 mm.
Respostas Pr. 4 :
4M
(a) h = H −
πD2 ρ
(b) pa = patm + ρg(H − h)
Problema 5:
3.3. FLUTUAÇÃO 117
g instrumentos
ar pressurizado
flutuador
água L
H
h
D
orifício água
(a) Determine a massa de equipamentos que poderá ser suportada pela plataforma
flutuante mc (kg) de forma que os flutuadores permaneçam submersos exata-
mente a metade do seu diâmetro c = D/2.
(b) Faça um gráfico mostrando a massa de equipamentos que poderá ser suportada
pela plataforma (mc , kg) em função da altura de flutuador que permanece fora
da água dividida pelo raio do flutuador (1 − c/R), para 0 ≤ 1 − c/R ≤ 1.
(d) Você poderia usar medições da altura de flutuador que permanece fora da água
como meio de estimar a massa carregada pela plataforma? Discuta.
118 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
Plataforma Flutuador
D-c
Flutuadores D
c
Profundidade submersa
Dicas: (1) Para o item (b), você pode precisar das informações contidas em:
http://mathworld.wolfram.com/CircularSegment.html
(2) Entregue o trabalho de forma impressa contendo: (1) A descrição resumida
do probelma; (2) Os dados e premissas disponíveis;(3) A sua formulação do modelo
contendo as deduções realizadas e as equações finais; (4) Os resultados na forma de
números, tabelas ou gráficos; (5) Outras discussões necessárias.
(3) Faça as suas contas usando uma planilha de cálculos, como, por exemplo,
o MS Excell.
(4) Seja o gráfico feito à mão ou em algum programa de computador, você deve
caprichar na sua formatação: Cada eixo deve ter um título, variáveis são acompan-
hadas das suas respectivas unidades, pontos e marcas não são necessários a menos
que se refiram a medições ou quando há muitas curvas no mesmo gráfico, não use
algarismos significativos em excesso, legendas são necessárias apenas se houver mais
de uma curva no mesmo gráfico. Veja abaixo um exemplo de um gráfico bem for-
matado (os dados são fictícios).
Respostas Pr. 4 : A resposta do item (a) é mc = 292 kg. A resposta do item
(c) é 1 − c/D = 0,715.
forças com origem externa e, assim, obtemos o diagrama de corpo livre mostrado
na Figura ??. Aplicando a segunda Lei de Newton, obtém-se
ρa = −∇p + ρg (3.131)
ou,
0 = −∇p + ρ (g − a) (3.132)
∂p
= ρ(gz − az ) (3.134)
∂z
Como p = p(x, z),
∂p ∂p
dp = dx + dz (3.135)
∂x ∂z
Sobre uma superfície isobárica, dp = 0. Dividindo por dx,
∂p ∂p dz
0= + (3.136)
∂x ∂z dx
Então,
dz
0 = ρ(gx − ax ) + ρ(gz − az ) (3.137)
dx
ou
dz (gx − ax )
=− (3.138)
dx (gz − az )
ga = g − a (3.140)
∂p
= ρga (3.141)
∂n
onde o módulo da gravidade aparente ga = ga n é
√
ga = (gx − ax )2 + (gz − az )2 (3.142)
p = po + ρga n (3.143)
3.4.1 Generalização
Agora, analisaremos a natureza da aceleração que é imposta ao elemento de fluido.
Para que um fluido execute um movimento de corpo rígido, em geral, ele precisa estar
confinado por paredes sólidas (como em um tanque de combustível) e acelerado por
um tempo suficientemente longo, para que uma condição de equilíbrio se estabeleça.
A aceleração sofrida por um corpo rígico tem componentes de aceleração linear e
aceleração devido ao movimento rotacional. A velocidade v do ponto P em um
corpo rígido que sofre translação e rotação com velocidade angular ω ao redor de
um eixo que passa pelo ponto O pode ser escrita como
v = vo + ω × r (3.144)
Água
g Água
g
q
Ar
g Ar g
q q
T
-a
Fp p1
g-a g
Fg p2 > p1
n n p3 > p1
Figura 3.41: Diagrama de corpo livre para o corpo imerso no fluido sob aceleração.
onde Fg (N) é a força peso, Fp (N) é a força de empuxo e T (N) é a força de tração
no cabo que sustenta o corpo.
A força de gravidade é dada pela aceleração da gravidade,
Fg = mg (3.148)
T = −m(g − a) − Fp (3.149)
Fp = −ρV ga (3.151)
Fp = −ρV ga (3.152)
3.4.2 Exercícios
Problema 1: Um corpo com massa específica ρs = 11000 kg/m3 está suspenso
por um cabo e completamente imerso em água com massa específica ρs = 1000
kg/m3 . (a) O reservatório sofre uma aceleração a = 4 m/s2 . Determine a deflexão
do cabo em relação à horizontal. (b) Determine a tensão no cabo. (c) Se a super-
fície do reservatório está na pressão patm = 101 kPa, determine a pressão em uma
profundidade h = 2 m.
Problema 2: Um reservatório cilíndrico gira com velocidade angular ω = Ω k.
O vetor posição em relação ao eixo de rotação é r = r i.
po − patm Ω2 2
z = + r (3.157)
ρg 2g
124 MÓDULO 3. EQUILÍBRIO ESTÁTICO EM FLUIDOS
Parte II
125
127
Introdução
F2
Partícula de fluido m=rV
a
FR
F1
v
F3
quilograma (kg), o metro (m), o segundo (s) e o Kelvin (K). Essas quatro unidades
fundamentais permitirão expressar as unidades de todas as variáveis importantes
para os escoamentos que encontraremos ao longo desse texto. A Tabela 1 apresenta
algumas variáveis e as suas respectivas unidades. Algumas dessas variáveis ainda
não foram apresentadas a você, mas serão definidas no momento adequado.
Por exemplo, para expressar uma força usamos a unidade N que equivale a kg-
m/s . Para a pressão, usamos Pa que equivale a N/m2 , ou, kg/m-s2 . Certamente,
2
o produto de pressão por uma área produz uma força, como as unidades indicam.
Ainda, todo o problema terá valores característicos de massa, comprimento e tempo,
os quais nos fornecerão os valores caracteríticos das forças, aceleraçoes, velocidades
etc.. Identificar esses valores característicos para cada problema depende de exper-
iência e habilidade, mas, quando possível, essa identificação nos permite conhecer
como o escoamento responderá às variações nas suas condições, como por exemplo,
como a força responde às variações de velocidade ou vice-versa.
Nessa parte, são apresentados os conceitos fundamentais relacionados aos flu-
idos e ao seus escoamentos. Um fluido, em contraste com um sólido, será definido
através do seu comportamento quando submetido à uma força de cisalhamento.
Quando um sólido é sujeito a um esforço cisalhante, este apresenta uma deformação
finita ou se rompe, dependendo da magnitude do esforço aplicado. Por outro lado,
quando um fluido sofre um esforço de cisalhamento, ele se deforma continuamente. A
dinâmica dos fluidos visa estabelecer relações entre velocidades, acelerações, forças
e energias em um fluido em escoamento. Os princípios fundamentais de conservação
da massa, energia e quantidade de movimento são empregados para descrever os
escoamentos e quantificar a interação do fluido com as superfícies e ambiente que o
129
envolve.
O estudo dessa parte será dividido nos seguintes capítulos:
Conservação da massa
“ The most exciting phrase to hear in science, the one that heralds the most
discoveries, is not ’Eureka!’ (I found it!) but ’That’s funny...’ “
Isaac Asimov
131
132 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
z Partícula de fluido
no instante de tempo t
vp(t) Trajetória
rp(t)
rp(t+Dt)
Partícula de fluido
no instante de tempo t+Dt
x
Figura 4.1: Partícula de fluido em um escoamento em dois instantes de tempo
diferentes.
dxp
= up ,
dt
dyp
= vp , (4.4)
dt
dzp
= wp .
dt
∆m ρ∆x∆y∆z
= . (4.9)
∆t ∆t
O movimento observado restringe-se à direção x. Assim, as coordenadas y (e z)
permanecem constantes. Para um fluido incompressível, a densidade ρ é constante.
4.2. VAZÃO MÁSSICA 135
(a) (b)
t=0 t = Dt
Dx Dx
y y
u u
Dy Dy
x x
onde ∆ṁ é a vazão que cruza uma pequena região da superfície com área ∆A =
∆y∆z.
Agora, consideraremos que o escoamento seja dividido em um grande número
de partículas que no tempo t = 0 se encontram adjacente à superfície de interesse que
corta a tubulação transversalmente, conforme mostra a Fig ??. Após a passagem de
um instante de tempo ∆t, várias partículas, com diferentes velocidades, cruzaram
a superfície. As partículas em contato com as paredes da tubulação permaneceram
estacionárias, mas as demais partículas movimentaram-se de acordo com as magni-
tudes das suas velocidades. A vazão mássica total corresponde à massa total das
partículas que atravessaram a superfície na unidade de tempo e pode, portanto, ser
aproximada pela soma da massa (contagem) de todas as partículas que atravessaram
a superfície, dividida pelo intervalo de tempo ∆t. Assumiremos que o escoamento
da figura ?? seja bidimensional, ou seja, não há variação do campo de velocidade
ao longo da direção z (note que o campo de velocidade pode variar com x, mas a
superfície de interesse localiza-se em uma dada posição x). Identificando o desloca-
mento na direção x de cada partícula em contato com a superfície com o subscrito
136 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
i, tem-se ( )
∑
N
∆xi
ṁ = ρ ∆y∆z (4.12)
i=1 ∆t
Dx
Dy
(a) (a)
t=0 t = Dt
u y u
y
h h
x x
Portanto, a vazão total é dada pela soma das vazões que atravessam todas as
regiões com área ∆A = ∆y∆z. Assumindo que a dimensão da tubulação na direção
z seja w, pode-se então escrever
∑
N ∑
N
ṁ = (∆ṁi ) = (ρui w∆y) (4.13)
i=1 i=1
ṁ = ρum Au (4.16)
de massa, consante, ou seja, sua dimensão e forma não varia com tempo, e inercial,
ou seja, estacionário ou se movendo com velocidade constante. Considerando que
a massa de um fluido não pode ser nem criada nem destruída, a massa contida em
um volume de controle pode modificar-se apenas quando existe troca de massa com
o exterior, ou seja, quando massa entra nesse volume proveniente do seu exterior ou
quando massa é entregue ao exterior.
A Figura (??) mostra um volume de controle contendo massa inicial m(t) no
tempo t. Durante um intervalo de tempo ∆t, o volume de controle recebe uma
massa de fluido ṁe ∆t do seu exterior e entrega uma massa de fluido ṁs ∆t para o
seu exterior, adquirindo massa de fluido m(t+∆t) no tempo t+∆t. Essas operações
podem ser representadas matematicamente como
m(t) + ṁe ∆t − ṁs ∆t = m(t + ∆t). (4.21)
Dividindo todos os termos por ∆t e rearranjando, obtém-se
m(t + ∆t) − m(t)
= ṁe − ṁs . (4.22)
∆t
Extraindo o limite quando ∆t → 0, tem-se
∂m
= ṁe − ṁs . (4.23)
∂t
.
me Dt
VC
+ - =
m(t) . m(t+Dt)
ms Dt
Figura 4.4: Representação da conservação da massa para um volume de controle.
• Por uma questão de objetividade, ele deve ser posicionado de forma a atraves-
sar as seções do escoamento nas quais conhecemos o valor da vazão e àquelas
nas quais desejamos conhecer os valores de vazão. Assim, o volume de controle
acompanha as paredes do tanque, pois sabemos que as velocidades normais são
nulas (não há vazamento através das paredes do tanque).
• Nas regiões onde ocorre escoamento, a fim de facilitar o cálculo das vazões, o
volume de controle é posicionado de forma a produzir áreas de escoamento que
são normais ao vetor velocidade nessas seções. Assim, as superfícies de controle
com áreas A1 e A2 cortam as tubulações em direção normal ao escoamento.
m1
m2
ou
− ṁ1 + ṁ2 = 0 (4.27)
Quando se observa que o nível varia com o tempo, pode-se afirmar que a quantidade
de água presente no interior do volume de controle, e portanto, sua massa m, varia
com o tempo. Neste caso, pode-se escrever que, em cada instante de tempo,
∂m
= ṁ1 − ṁ2 (4.28)
∂t
Da hipótese (4), nota-se que nesta análise negligenciou-se a massa de ar que entra
ou sai do volume de controle a medida que a água é deslocada (esta hipótese será
removida mais tarde, obtendo-se essencialmente o mesmo resultado que é obtido a
seguir).
4.3. A CONSERVAÇÃO DA MASSA 141
∂h ṁ1 − ṁ2
= (4.29)
∂t ρAT
Esta equação sugere que a variação do nível de água no tanque está conectada, em
cada instante de tempo t, aos valores instantâneos das vazões mássicas ṁ1 e ṁ2 .
Quando se observa que ∂m/∂t = 0, diz-se que o escoamento se desenvolve em regime
permanente ou estacionário. Em caso contrário, o escoamento se desenvolve em
regime transiente. Observa-se que o regime permanente não implica necessariamente
o equilíbrio mecânico, visto que podem haver acelerações presentes no interior do
volume de controle. Apenas afirma-se que a massa de partículas entrando no tanque
por unidade de tempo é igual à massa de partículas saindo por unidade de tempo.
Essa formulação nada nos informa acerca dos padrões do escoamento no interior do
tanque, como sobre a existência de recirculações, jatos, ondas, quebra da superfície
etc.. Na verdade, os detalhes do escoamento podem ser bastante complicados. A
única informação obtida aqui acerca do escoamento no volume de controle é de
caráter global, ou integral.
Nas tubulações de entrada e saída, pode-se adquirir um nível adicional de detal-
hamento. Na figura (??) mostra-se um volume de controle posicionado na tubulação
de saída do tanque. O volume de controle é posicionado em contato com as paredes
da tubulação e corta a seção transversal em direção normal ao escoamento. Uti-
lizaremos as mesmas hipóteses listadas acima. Com relação à hipótese (1), quando
as paredes da tubulação são impermeáveis, não há escoamento através das faces
laterais do volume de controle. Portanto, só há escoamento nas faces verticais e
denotamos as vazões nestas faces por ṁ1 (kg/s) e ṁ2 (kg/s).
m1 m2
y
x
4.4 Aplicações
As aplicações a seguir apresentam situações de escoamentos nos quais conhece-se as
vazões em alguns trechos de
Qi = Qi . (4.36)
i=1 e i=1 s
4.4. APLICAÇÕES 143
h m3
Volume de
controle
m2
Observa-se que quando a interface divide dois fluidos que não se misturam (ou seja,
o líquido não evapora e o gás não sofre nem condensação nem difusão no interior
do líquido), a velocidade do líquido penetrando no volume de controle é a própria
velocidade da interface, um,3 = −dh/dt. Assim, pode-se escrever
dh
ṁ3 = ρl um,3 AT = −ρl AT (4.38)
dt
e obtém-se
dh 1
= (ṁ1 − ṁ2 ) (4.39)
dt ρl AT
144 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
Este resultado é rigoroso e conduz à solução correta para o problema. Esse trata-
mento da interface é estendido para o fluido no lado superior da interface quando ele
é de interesse. Por exemplo, na figura ??, deseja-se conhecer a vazão de entrada do
fluido 2 no volume de controle VC2, ṁ4 . Fluido 1 ocupa o volume sob a interface,
m4
Interface
m3,2
Fluido 2
VC2
h2 VC3
m1 VC1 -dh1/dt
m3,1
h1
Fluido 1 Volume de controle
m2 aplicado na interface
identificado como VC1, enquanto que o fluido 2 ocupa o volume sobre a interface,
identificado como VC2. A interface é circundada por um volume identificado como
VC3. Conforme acima, a velocidade da interface é um,3 = −dh1 /dt. Assim, as
vazões dos fluidos 1 e 2 na região da interface são dadas por
dh1 dh1
ṁ3,1 = ρ1 AT um,3 = −ρ1 AT , ṁ3,2 = ρ2 AT um,3 = −ρ2 AT (4.40)
dt dt
onde ṁ3,1 entra no VC1 e ṁ3,2 deixa o VC2. A conservação da massa aplicada ao
fluido 1, da mesma forma que acima, fornece,
−ṁ1 − ṁ3,1 + ṁ2 = 0
( )
dh1
−ṁ1 − −ρ1 AT + ṁ2 = 0 (4.41)
dt
dh1 1
= (ṁ1 − ṁ2 )
dt ρ1 AT
Para o fluido 2, tem-se
−ṁ4 + ṁ3,2 = 0
dh1 (4.42)
ṁ4 = −ρ2 AT
dt
4.4. APLICAÇÕES 145
Entendendo que a face superior do VC2 acompanha a face superior do tanque e que
a altura total do tanque h = h1 + h2 é constante, pode-se escrever
dh dh1 dh2
= + =0
dt dt dt
(4.43)
dh2 dh1
=−
dt dt
Essa aplicação introduz o que se denomina balanço de interface, ou, condição de
acoplamento em uma interface. Os balanços de interface serão também utilizados
em outras aplicações nos próximos capítulos.
h h
x
v(x,y)
um(x)
m1
Deseja-se obter uma expressão algébrica para a velocidade média em qualquer seção
transversal ao longo da tubulação um . Assumiremos regime permanente, que o fluido
se comporte como incompressível e que o escoamento seja invíscido. A conservação
da massa em um volume de controle que se estende de x = 0 até x fornece
ṁ2 = ρum,2 A2
(4.46)
= ρum,2 2hw
Poderíamos agora perguntar: Qual deve ser o valor de Vo para que ṁ2 (L) = 0?
Utilizando a solução acima, obtém-se
2ṁ1 h
Vo =
ρhw L
(4.50)
2ṁ1
= .
ρLw
ou seja, nessa condição, a vazão mássica atravessando a área wL deve ser igual à
ṁ1 .
4.5 Generalização
Pode-se generalizar a aplicação do princípio da conservação da massa em um volume
de controle com quaisquer superfícies de entrada e saída de escoamento. Para isto,
defini-se uma forma mais rigorosa de calcular a vazão mássica atravessando uma
certa seção de escoamento.
Tomando um elemento de área dA na seção de escoamento, o fluxo de massa
dṁ através do elemento de área dA, cujo vetor normal unitário n aponta para fora
da superfície de controle, é dado por:
v · n = ∥v∥∥n∥ cos(θ)
= v n cos(θ) (4.52)
onde usa-se ∥v∥ = V para denotar o módulo do vetor velocidade v. Observa-se que,
por definição, ∥n∥ = n = 1. Assim,
v · n = V cos(θ). (4.53)
Como a massa específica pode ser variável espacialmente (não uniforme), ela per-
manece como variável na integração ao longo da superfície de controle. Por exemplo,
a massa específica pode ser diferente na entrada e na saída do volume de controle
como resultado de variações de pressão e temperatura. A velocidade também poderá
ser não uniforme espacialmente, embora permaneça, em cada ponto, constante com
o tempo. A dimensão do integrando é (kg/s-m2 ) e portanto, esta equação expressa
que a vazão mássica líquida saindo do volume de controle é nula.
Esta equação foi desenvolvida sem considerar que o campo de velocidade e massa es-
pecífica se encontram em regime permanente e sejam uniformes, apenas, considerou-
se que a massa total no volume de controle é constante. Aplicações desta equação
incluem escoamentos nos quais a massa específica, embora constante com o tempo,
4.6. EXERCÍCIOS 151
4.6 Exercícios
Problema 1:
O campo de velocidade de um escoamento pode ser representado no sistema
cartesiano por uma função vetorial do tipo v = u i + v j + w k, na qual u, v e w são
os componentes do vetor velocidade nas direções x, y e z, respectivamente. Indique
se cada um dos campos de velocidade abaixo é unidimensional, bidimensional ou
tridimensional e se ele ocorre em regime permanente ou transiente. Nas equações a
seguir, C1 , C2 etc. representam constantes.
(1) v = C1 i + C2 j
(2) v = (C1 y − C2 y 2 ) i
Problema 2:
Óleo escoa para baixo, numa fina camada com espessura h(m), sobre um plano
inclinado, em regime permanente. Na seção mostrada na figura, o campo de veloci-
dade é unidimensional com distribuição dada por v = u(y) i no qual o componente
x do vetor velocidade vale
( )
y2
u = a hy − ; (m/s)
2
y
g
u(y)
filme de óleo
x
plano inclinado h
m
q
Resposta:
Problema 3:
O tubo de venturi é um equipamento utilizado para a medição de vazão. Nesse
equipamento a tubulação com diâmetro D1 sofre uma redução de diâmetro para
o valor D2 e depois volta suavemente ao diâmetro D3 = D1 . Considere que a
vazão volumétrica que escoa pela tubulação vale Q (m3 /s). Determine os valores da
velocidade média do escoamento um nas seções com diâmetros D1 , D2 e D3 .
Resposta:
4Q 4Q 4Q
um,1 = 2
; um,2 = 2
; um,3 = .
πD1 πD2 πD32
4.6. EXERCÍCIOS 153
ar D2
Q D1 D3 patm
Problema 4:
Um tanque com seção transversal circular com diâmetro D1 (m) aberto para
a atmosfera sofre um vazamento através de uma fenda com seção transversal retan-
gular com altura 2 h (m) e largura w (m), sendo w ≫ h. No instante mostrado, a
taxa de variação do nível no tanque é dL/dt (m/s). O campo de velocidade na fenda
pode ser aproximado pelo comportamento unidimensional mostrado na figura, no
qual o componente x do vetor velocidade é dado por
[ ( )2 ]
y
u=C 1− ,
h
onde C é uma constante. (a) Obtenha a relação entre C e a velocidade média do
escoamento na fenda um (m/s). (b) Obtenha a relação entre C e a taxa de variação
do nível no tanque dL/dt (m/s).
Superfície aberta para o ambiente, patm y
g D1
h
u
água h
L
y
Gráfico do componente x da velocidade
h
m2 no interior do duto
u
Figura 4.12: Pr. 4: Tanque com vazamento por uma fenda retangular.
Resposta:
2C 3 πD12 dL
(a) um = ; (b) C = − .
3 16 wh dt
Problema 5:
154 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
m1 m2
DT
Resposta:
dh 37 37
(a) = − ; (b) h = ho − t.
dt 20 20
(Dica: Esse problema é resolvido mais facilmente se você usar algum programa
computacional.)
Problema 7:
A figura abaixo mostra um reservatório sendo alimentado por um escoamento
uniforme de água com fluxo de massa G1 = ṁ1 /A (kg/m2 -s). O reservatório tem
comprimento L (m) e largura W (m) (saindo do papel). A água escoa para fora do
reservatório, devido à ação da gravidade, através de uma tubulação com diâmetro
D2 . A situação abaixo mostra a condição de regime permanente, ou seja, não há
variação no nível da água dentro do reservatório. Obtenha uma expressão para a
velocidade média um na tubulação de saída.
m1/A
m2
h
D2
Resposta:
4G1 Lw
um = .
ρπD22
Problema 8:
Um tanque cilíndrico aberto para a atmosfera é alimentado com óleo na vazão
mássica ṁ1 e com água na vazão mássica ṁ2 . Ao mesmo tempo, água deixa o
tanque na vazão mássica ṁ3 . Assuma que as vazões sejam constantes e encontre
uma expressão para o nível do óleo em relação ao fundo do tanque h = h1 + h2 como
função do tempo h(t). Assuma que as massas específicas do óleo e da água sejam,
respectivamente, ρo e ρl (kg/m3 ).
Resposta: ( )
dh 1 ṁ1 ṁ2 − ṁ3
= + .
dt AT ρo ρl
Problema 9:
156 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
m1 CV2
h2
CV1
m2
h1
m3
DT
vm,3
D3
Ar
mg CV2
Gasolina
h2
CV1
Ql
Água
h1
DT
Resposta: ( )
4 ṁg
vm,3 = 2
Ql −
πD3 ρg
.
Problema 10:
Dois tanques cilíndricos abertos à atmosfera com diâmetros D1 e D2 estão
conectados por uma tubulação com diâmetro D3 . Assuma que a vazão através da
tubulação que conecta os dois tanques tenha velocidade média dada por
um,3 = C(h)0,5
g CV1
patm
CV2
Água
h
h1
h2
D1 D3 D2
Resposta:
( )
A3 C A3 (A1 + A2 ) 2
h1 = h1,o − C h1/2
o t+ t
A1 4 A1 A2
( )
A3 C A3 (A1 + A2 ) 2
h2 = h2,o + C h1/2
o t+ t
A2 4 A1 A2
Problema 11:
158 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
patm
CV1 pA Ar
CV2
Água h
h1
p1 p2 D4 h2
um,4
Q3
D1 D2
Resposta:
( )2
C2 pA − patm C2 C2
h1 = h1,o − (gh2,o )0,5 t , = h2,o − (h1,o − h2,o ) + (gh2,o )0,5 t.
A1 ρg C1 A1
Problema 12:
Em um amortecedor hidráulico, um fluido hidráulico com massa específica
ρ é pressionado no interior de um orifício com diâmetro D1 por um pistão com
diâmetro D2 . Entre o pistão e a parede do orifício existe uma folga radial com
espessura 2δ = D1 − D2 . Considere que a velocidade de deslocamento do pistão seja
up constante.
(a) Determine uma expressão para a variação do comprimento do orifício L
em função do tempo.
(b) Determine uma expressão para a velocidade média do escoamento um na
folga radial δ.
4.6. EXERCÍCIOS 159
Folga radial
Parede do orifício
Pistão
F up
D2 D1
L(t)
Resposta:
A2
L = Lo − up t , um = up .
A1 − A2
Problema 13:
Um fluido ocupa o espaço entre dois discos paralelos com diâmetro D2 . A dis-
tância entre os discos é h. Para cada uma das situações descritas abaixo, determine
uma expressão para a velocidade média de saída do escoamento um,2 na posição
r = R2 = D2 /2.
(a) Ambos os discos encontram-se estacionários e a distância que os separa é
h constante. A vazão de entrada pela tubulação com diâmetro D1 é ṁ1 constante.
(b) O disco inferior é estacionário, enquanto que o disco superior desloca-se
para baixo com velocidade vp constante. A vazão de fluido que entra pela tubulação
com diâmetro D1 é nula, ou seja, ṁ1 = 0.
(c) O disco inferior é estacionário, enquanto que o disco superior desloca-se
para baixo comvelocidade vp constante e existe vazão ṁ1 de fluido entrando pela
tubulação com diâmetro D1 . Como essa solução se relaciona com as duas anteriores?
Resposta:
ṁ1 /ρ + vp πD22 /4
(c) um,2 = .
πD2 (ho − vp t)
Problema 14:
Considere uma tubulação vertical com seção transversal retangular com altura
2h (m) e largura (saindo da página) w (m). A partir de uma certa posição x = 0, a
parede da direita se torna porosa até uma posição x = L. O campo de velocidade
160 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
D2
Disco superior CV
vp um,2
h(t)
Disco inferior
D1
m1
onde C > 0 é uma constante. A parede porosa permite a saída de escoamento com
campo de velocidade
( )
x
v = Vo 1−
L
(a) Obtenha uma expressão algébrica para a velocidade média em qualquer seção
transversal ao longo da tubulação.
(b) Determine o valor de Vo necessário para escoar pela parede porosa toda a
vazão de água que entra na tubulação em x = 0.
Dados: C = 6 m/s; h = 0, 1m; L = 1m; ρ = 1000 kg/m3 ; g = 9, 8 m/s2 ;
p1 = 110 kPa (abs.).
Respostas:
( )
2 Vo x2 8 h
(a) um = C − x− , (b) Vo = C .
3 2h 2L 3 L
Problema 15:
Determine a vazão volumétrica Q3 (m3 /s) saindo do volume de controle através
da superfície A-C quando a velocidade uniforme de entrada na face à esquerda
(superfície A-B) é U (m/s) e o campo de velocidade na saída à direita (superfície
4.6. EXERCÍCIOS 161
p2
x
g
v(x,y)
u(x,y)
y
p1
h h
C-D) é [ ( )3 ]
U y y
u= 3 − .
2 δ δ
Assuma escoamento em regime permanente e que a largura do escoamento normal
à página é w (m).
y m3 y
A U C U
y u u
B
D
x L
Respostas:
3
V̇3 = wδU.
8
Problema 16:
162 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
y L
x
h
z y
u
W
h/2
u Vo
-h/2 U
Resposta:
2 2h 2
(a) um = U ; (b) Vo = U ; (c) um (x) = U (é constante com x).
3 3L 3
Problema 17:
Em um queimador, um tubo perfurado distribui a mistura ar-combustível com
masssa específica ρ ao longo de um comprimento L com velocidade constante Vo . O
4.6. EXERCÍCIOS 163
tubo possui área da seção transversal circular e a vazão de saída com velocidade Vo
ocorre em metade do perímetro, A2 = πDL/2.
(a) Determine a relação entre a vazão volumétrica de entrada no queimador
Q1 (m3 /s) e a velocidade (uniforme) de saída Vo (m/s).
(b) Determine a distribuição da velocidade média no tubo perfurado um (m/s)
como função de x.
Q1 y
A1
x
Vo
Resposta:
( )
2Q1 4Q1 x
(a) Vo = ; (b) um (x) = 2
1− .
πDL πD L
Problema 18:
Uma esteira se desloca para a direita em regime permanente, impulsionada
pelos roletes com raio R (m) e velocidade angular ω (rad/s). Um alimentador
descarrega um pó sobre a esteira a uma velocidade constante vs (m/s). O pó tem
comportamento incompressível e tem massa específica ρs (kg/m3 ). (a) Determine
a vazão de pó na saída da esteira, ṁ2 (kg/s). (b) Determine uma equação para a
variação da espessura da camada de pó h(x) (m) em função da distância x (m).
Assuma que a esteira tem largura saindo da página igual a W (m).
Resposta:
vs
(a) ṁ2 = ρs vs LW ; (b) h(x) = x
ωR
164 MÓDULO 4. CONSERVAÇÃO DA MASSA
rs, vs
h(x) m2
w R
x
L
Conservação da quantidade de
movimento linear
165
166MÓDULO 5. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR
(mvp ) = Fi . (5.2)
dt i=1
(a) (b)
t=0 t = Dt
Dx Dx
y y
u u
Dy Dy
x x
(c) (d)
t=0 t = Dt
y u y u
h h
x x
Figura 5.1: Escoamento entre duas placas planas paralelas - Definição do escoamento
de uma propriedade do fluido.
por ( )
η∆m
∆ (ṁη) = lim = η (ρu) ∆y∆z = η (ρu) ∆A. (5.6)
∆t→0 ∆t
Essa é uma equação vetorial. O vetor quantidade de movimento linear possui com-
ponentes mu, mv e mw. Assim, as propriedades por unidade de massa em cada
direção são, respectivamente, ηx = u, ηy = v e ηz = w. Portanto, o escoamento
através da área Au , com fluxo de massa ρu (kg/m2 -s), é responsável pelo transporte
dos 3 componentes da quantidade de movimento linear e, assim, para cada direção
pode-se escrever ∫
Direção x: (ṁu)Au = Au u (ρu) dA,
∫
Direção y: (ṁv)Au = Au v (ρu) dA, (5.10)
∫
Direção z: (ṁw)Au = Au w (ρu) dA.
Observe que o mesmo conjunto de equações poderia ser escrito para o escoa-
mento através de uma seção com área Av normal ao componente v da velocidade e
5.3. A CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR 169
e, ∫
Direção x: (ṁu)Aw = Aw u (ρw) dA,
∫
Direção y: (ṁv)Aw = Aw v (ρw) dA, (5.12)
∫
Direção z: (ṁw)Aw = Aw w (ρw) dA.
matematicamente como
∑
m v(t) + (ṁ v)e ∆t − (ṁ v)s ∆t + Fext ∆t = m v(t + ∆t). (5.13)
.
(mv)e Dt
VC
SFext Dt
+ - + =
mv(t) . mv(t+Dt)
(mv)s Dt
Figura 5.2: Representação da conservação da quantidade de movimento linear para
um volume de controle.
ou,
∂mv
− (ṁv)e + (ṁv)s = F, (5.17)
∂t
onde mv é a quantidade de movimento linear contida no volume de controle e
ṁv é a quantidade de movimento linear que atravessa a superfície de controle, por
unidade de tempo, nos locais onde ocorre entrada de massa, (ṁv)e , e nos locais onde
ocorre saída de massa, (ṁv)s . Observe que os termos (ṁv)e e (ṁv)s representam
os escoamentos de quantidade de movimento linear em cada seção de escoamento,
calculados através das integrais discutidas na seção acima. Observa-se também que
o lado esquerdo da equação da conservação da quantidade de movimento linear pode
ser interpretado como o produto da massa pela aceleração para um escoamento que
atravessa um volume de controle. Essa associação será explorada mais tarde ao
analisarmos o escoamento externo.
A diferença entre a quantidade de movimento linear saindo e entrando no
volume de controle por unidade de tempo é igual ao balanço líquido de quantidade
de movimento linear saindo através da superfície de controle por unidade de tempo.
Assim, pode-se escrever de forma equivalente
Taxa de variação da
Quantidade de movimento linear
quantidade de movimento + líquida saindo do VC =
linear no interior do VC por unidade de tempo
Resultante das
forças externas
agindo no VC
∂mu
= (ṁu)e − (ṁu)s + Fx ,
∂t
∂mv
= (ṁv)e − (ṁv)s + Fy , (5.18)
∂t
∂mw
= (ṁw)e − (ṁw)s + Fz .
∂t
5.4 Aplicações
Nas aplicações a seguir, encontraremos escoamentos completamente confinados no
interior de tubulações, escoamentos parcialmente confinados por uma superfície sól-
ida e escoamentos livres. Em cada aplicação, desejamos obter as relações entre
o campo de velocidade e pressão no fluido e as forças externas aplicadas sobre o
escoamento pelas superfícies sólidas das tubulações ou pelo ambiente externo.
O nosso objetivo é obter equações para as forças que o escoamento aplica sobre
a tubulação e, por meio dessas equações, buscar um entendimento sobre a interação
do escoamento de um fluido com as paredes que limitam esse escoamento.
A conservação da quantidade de movimento linear é uma equação vetorial.
Assim, iniciamos a análise definindo:
inteiramente dentro da tubulação, como mostra a figura ??. Nesse volume de cont-
role, as propriedades nas superfícies de entrada e saída do escoamento receberão os
subscritos 1 e 2 respectivamente. As superfícies 3 e 4 estão no interior do fluido, mas
acompanham as paredes da tubulação. A largura do volume de controle na direção
normal a página é considerada constante e igual a w.
O sistema de coordenadas deve ser aquele que possibilite a descrição matemática
mais direta do campo de velocidade e das forças envolvidas no problema. A tubu-
lação formada por placas planas paralelas limita um escoamento bidimensional para
o qual um sistema de coordenadas cartesiano (x, y) é o mais adequado. Escolheremos
x como a direção normal à seções de entrada e saída.
U A4 U
m1 A1 m2
A2
y A3
x
VC
m3 = 0
(b) Diagrama de forças na direção x: (c) Diagrama de forças na direção y:
A1 Fp,4 A2
A4 Fm,4 A2 A4
Fp,1 Fp,2
Fm,1 Fg Fm,2
y y
x VC x VC
A1 A3 A3
Fm,3 Fp,3
de corpo típica é a força peso que resulta da ação da aceleração da gravidade sobre
a massa de fluido. A componente da força peso na direção x é
que é exatamente o balanço de forças para o fluido estático. Nota-se que V /A3 é
exatamente o espaçamento h entre as placas paralelas. A força sentida pelas paredes
da tubulação Ry é exatamente a resultante das pressões aplicadas sobre elas, ou seja,
m4 = 0
U A4
m1 U m
A1 2
A2
y A3
x
m3 = 0 VC2
Fp,1 Fp,2
Fm,1 Fg Fm,2
y y
x x VC
A1 Fx,3 A3 Fy,3 A3
VC2 VC2
A1 A4
U
m1 A2
y q
x
A3
m3 = 0
(b) Diagrama de forças: Fp,2
Fy A4 Fm,2
Fx
A2
Fm,1
Fp,1 A1 VC2
Fg
yx q
A3
para o volume de controle com uma entrada (superfície 1) e uma saída (superfície
2) é expressa como
∂
(mu) − (ṁu)1 + (ṁu)2 = FR,x (5.33)
∂t
O campo de velocidade na superfície de entrada A1 é dado por v1 = U i.
Assim, (ṁu)1 = ṁU . Na superfície de saída A2 , o campo de velocidade é v2 =
U cos(θ) i + U sen(θ) j. Assim, (ṁu)2 = ṁU cos(θ).
A3
(c) Forças de pressão na direção x:
Fe,2,2 Fd,2,2
A2,2 patm p2 A2,2
Fe,1,2 Fd,2,1
A1,2 p1 Fp,2 q A2,1
Fp,1
Fe,1,1 Fd,1,1
A1,1 A1,1
patm
conforme mostra a figura ??(b), A2 cos(θ) = A2,1 + A2,2 . Cada uma dessas regiões
sofre o efeito de pressões nos lados esquerdo (subscrito e) e direito (subscrito d). A
pressão na superfície A1 causa uma força normal que aponta na direção x. Assim,
Fp,1,x = Fp,1 = p1 A1 = p1 A1,1 + p2 A1,2 . A pressão na superfície A2 causa uma força
normal Fp,2 cuja componente na direção x é Fp,2,x = Fp,2 cos(θ) = p2 A2 cos(θ) =
p2 A2,1 + p2 A2,2 . Portanto, conforme indicado na figura ??(c), a força resultante de
pressão na direção x torna-se
Fp,x = (Fe,1,1 + Fe,1,2 + Fe,2,2 ) − (Fd,1,1 + Fd,2,1 + F2,2 )
Fp,x = (p1 − patm )A1,1 + (p1 − patm )A1,2 − (p2 − patm )A2,1 − (p2 − patm )A2,2
− ṁU + ṁU cos(θ) = mgx + (p1 − patm )A1 − (p2 − patm )A2 cos(θ) + Fx . (5.36)
Tabela 5.1: Condições especiais para o escoamento em uma tubulação curva com
área uniforme, conforme mostrado na figura ??.
θ Fx Fy
0 −(p1 − p2 )A ρV g
As hipóteses (3), (4) e (5) resultam que o escoamento tenha campo de ve-
locidade uniforme nas seções de entrada e saída. Denominaremos U o módulo da
velocidade (uniforme) e A a área de escoamento na saída do jato. Desejamos obter
as componentes da força que o escoamento causa sobre a superfície. A figura ??
mostra a situação em análise.
jato de água
bocal
h
U Superfície
q curva
Figura 5.7: Superfície sólida curva e estacionária que recebe um jato de água com
velocidade U .
184MÓDULO 5. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR
Campo de velocidade
uniforme
jato de água U
1 2 q
VC
bocal h
h U cos q
U
Fy q Superfície
curva
Fx
Campo de velocidade
uniforme
U
ou seja, ṁ1 = ṁ2 . A vazão na superfície de entrada (1) é dada e vale ṁ1 = ρV A. Na
ausência de gravidade e de efeitos viscosos (hipóteses 4 e 5) e assumindo escoamento
uniforme na saída do jato (hipótese 3), um,1 = um,2 = U . Assim, A1 = A2 = A.
A pressão que atua sobre toda a superfície do volume de controle é patm e,
portanto, não há força resultante de pressão. Assim, a única força na direção x
é aquela que existe no interior da haste que suporta a superfície sólida. Então, a
5.4. APLICAÇÕES 185
Ry = ρU 2 A senθ. (5.45)
Nota-se que a força em y cresce com o aumento de θ atingindo o valor máximo com
θ = 90o .
Pode-se verificar o ângulo da força resultante na haste com relação ao eixo x.
Sendo Fx e Fy as componentes nas direções x e y, tem-se
U
jato de
água
bocal
h1
q
U
tendo um campo de velocidade uniforme nas seções de entrada e saída com módulo
da velocidade U , (3) o escoamento ocorra em regime permanente, (4) a gravidade
tenha efeito negligenciável e (5) as forças viscosas sejam negligenciáveis. O jato
deixa a tubulação com velocidade uniforme com módulo V e área de escoamento
A1 . Desejamos conhecer as espessuras h2 e h3 dos jatos de saída e o valor da força
normal aplicada sobre a superfície. A figura ?? mostra a situação em análise.
O volume de controle deve cortar as superfícies com escoamento em direção
normal ao vetor velocidade e evidenciar a força que se deseja calcular. A figura
?? mostra um volume de controle que envolve a estrutura, dessa forma, eliminado
forças causadas pela pressão. O sistema de coordenadas acompanha a superfície.
A conservação da massa fornece
A1 = A2 + A3 . (5.48)
U x
h2
jato de
água
y
bocal
h1
q
U
Fy
h3 Fx
U
u1 = U cos θ,
u2 = U, (5.50)
u3 = −U.
v1 = −U sen θ,
(5.54)
v2 = v3 = 0.
A única força na direção y é aquela provida pela haste para manter a placa esta-
cionária. Assim,
Fy = ρU 2 A1 sen θ. (5.55)
A máxima força em y é conseguida quando θ = π/2, quando toda a quantidade
de movimento sendo transportada na direção y é destruída. A força exercida pelo
fluido sobre a placa é a reação à força calculada acima, ou seja,
Portanto, o fluido aplica uma força na direção negativa de y com módulo igual ao
escoamento de quantidade de movimento na direção y que é defletido.
jato de água
bocal
h
U Superfície
q curva
carro
Campo de velocidade
uniforme
jato de água
1 2 U
VC
bocal q
h
h
U U cos q
q
Superfície
Campo de velocidade
uniforme Fx curva
U
carro
h
Campo de velocidade
uniforme
jato de água
1 2 U
VC
bocal q
h
h
U U cos q
q
Superfície
Campo de velocidade
uniforme Fx curva
U V
h
carro
5.5 Generalização
O escoamento total da propriedade η é dado pela integração ao longo da área, ou
seja, ∫
(η ṁ) = η (ρv · n) dA. (5.65)
A
onde A é a área da seção em análise.
Quando a densidade de propriedade η for uniforme ao longo da área, a integral
torna-se ∫
(η ṁ) = η (ρv · n) dA = η ṁ. (5.66)
A
∂ ∫ ∫ ∑N
ρv dV + ρv(v · n)dA = Fy (5.71)
∂t V C SC i=1
∂ ∫ ∫ ∑N
ρwdV + ρw(v · n)dA = Fz
∂t V C SC i=1
∂ ∫ ∫ ∑N
ρv dV + ρv[(v − w) · n]dA = F (5.78)
∂t V C SC i=1
A aplicação para um volume de controle que apresenta aceleração não será revista
aqui, podendo ser encontrada nas referências.
194MÓDULO 5. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR
5.6 Exercícios
Problema 1:
Uma lâmina de água com espessura uniforme h (m) e velocidade V (m/s) na
origem escoa ao redor de um pêndulo formado por uma haste reta rigidamente presa
a um cilindro com diâmetro D (m) e comprimento (na direção normal a folha) w
(m). (a) Determine o valor da força na direção horizontal Fx (N) aplicada pela
lâmina de água sobre o pêndulo. (b) Determine o valor da força na direção vertical
Fy (N) aplicada pela lâmina de água sobre o pêndulo. (c) Se o atrito no pino O
for nulo, para que direção se deslocará o cilindro? Não esqueça de enunciar as suas
hipóteses simplificativas.
Dados: V = 0, 5 m/s, ρ = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 8 m/s2 , patm = 101325
Pa, h = 7 mm, w = 40 mm, D = 30 mm, θ = 45o .
V
h
O
Resposta:
Problema 2:
Um jato de água plano, vertical, aberto para a atmosfera, com altura H(m),
diâmetro d (m) e velocidade V (m/s) atinge uma placa circular com diâmetro D =
2R (m), que é presa rigidamente a uma haste que oscila livremente em um pino
na origem O. A outra extremidade da haste aplica uma força Ry (N) na direção
vertical, conforme mostra a figura abaixo. Assuma que não há atrito na articulação
O e determine o valor da força Ry (N). Não esqueça de listar as suas hipóteses.
5.6. EXERCÍCIOS 195
R a b
d
H Ry
V
Dados: V = 25 m/s; d = 0, 02 m; H = 0, 3 m; D = 0, 2 m; a = 0, 3 m; b = 0, 1
m; ρ = 1000 kg/m3 ; g = 9, 8 m/s2 ; patm = 101325 Pa.
Resposta: ( )
2
2 πd πd2 a
Ry = ρV −ρ Hg .
4 4 b
Problema 3:
Um tanque pressurizado na pressão p1 (Pa) descarrega água com velocidade V2
(m/s) sobre um anteparo na forma de um disco com o mesmo diâmetro do jato de
saída, D2 (m). O anteparo deflete apenas parcialmente a quantidade de movimento
e o fluido deixa o anteparo como um jato plano na forma de sino. Na borda do
anteparo, o jato de saída forma um ângulo θ com a vertical, conforme mostra a
figura. (a) Utilizando a equação da conservação da quantidade de movimento linear
na forma integral, determine uma expressão para a velocidade V2 (m/s) de saída
do tanque em função de p1 , patm , ρ, g e h. (b) Conhecendo o valor de V2 (m/s) e
as demais variáveis do problema, determine uma expressão para a força na direção
vertical Fy (N) que deve ser aplicada sobre o anteparo para mantê-lo estacionário.
Não esqueça de enunciar as suas hipóteses simplificativas.
Resposta:
( )1/2
p1 − patm 1/2
(a) V2 = + gh ; (b) Fy = ρV2 A2 (V22 + gH) (1 − cos θ).
ρ
Problema 4:
Um tunel de vento é utilizado para medir a força de arraste causada pelo
196MÓDULO 5. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR
D1
p1
D2
V2 H
patm
q
Fy
h
b
b
h
Entrada Saída
cilindro
Resposta:
( )−1 ( )( )−2
b Fx 2b b
(a) V2 = V1 1− ; (b) = ρV12 h 1 − 1− − 1 .
2h 2w 3h 2h
5.6. EXERCÍCIOS 197
Problema 5:
Um bomba ejetora é mostrada na figura abaixo. Nessa bomba, água na vazão
volumétrica Q2 (m3 /s) é ejetada pelo tubo ejetor com diâmetro D2 (m) no interior
da bomba, na região onde a pressão interna é p2 (Pa). Como resultado, água é
succionada pelo tubo de sucção com diâmetro (D1 − D2 ) (m). A mistura dos dois
escoamentos deixa a bomba com vazão volumétrica Q1 (m3/s) para o ambiente com
pressão patm (Pa). Obtenha uma expressão para a vazão volumétrica no tubo ejetor
Q2 (m3 /s) requerida para obter uma dada vazão Q1 (m3 /s) na saída em função das
demais variáveis do problema, ∆p = (patm − p1 ) (Pa), D1 (m), D2 (m), D3 (m) e ρ
(kg/m3 ). Enuncie as hipóteses que você utilizar.
p2
patm
água D2
Q2 D1 Q1
tubo ejetor
Resposta:
Cons. massa: V2 A2 + V3 A3 = V1 A1
Cons. Q.M.L. em x: −V22 A2 − V32 A3 + V12 A1 = −(∆p/ρ)A1
( )1/2
V2 ∆p A3
⇒ =1+ .
V1 ρV12 A2
Problema 6:
Um jato de água plano, horizontal, aberto para a atmosfera, com altura h (m),
largura w (m) e velocidade V (m/s) atinge o defletor de um vagão móvel que desliza
pendurado em um cabo.
Na situação (1) o vagão se desloca com velocidade constante U (m/s). Para
essa situação:
(a) Obtenha a força de atrito Fx (N) exercida pelo cabo sobre o vagão.
(b) Qual a velocidade máxima que o vagão pode atingir? Explique.
(c) Qual seria o valor do ângulo θ que forneceria a máxima aceleração do vagão
quando esse partisse do repouso? Explique.
198MÓDULO 5. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR
cabo cabo ar
U
vagão suspenso vagão suspenso
bocal bocal
h h
q q
V V
pistão pneumático
jato de água jato de água
Respostas:
Problema 7:
A figura abaixo mostra duas configurações (a e b) de uma tubulação com
seção transversal circular. A primeira configuração (a) possui diâmetro D1 (m) em
ambas as seções horizontal e vertical. A segunda configuração (b), no entanto,
apresenta diâmetro D2 = 2D1 na seção vertical. A pressão medida no começo da
seção horizontal é p1 (Pa) (absoluta) e no final da seção vertical é p2 (Pa) (absoluta).
Assuma que a vazão ṁ(kg/s) que escoa nas duas configurações é a mesma e que as
massas de tubo mais fluido nas duas configurações, M (kg), também são as mesmas.
Compare a força vertical Fy (N) obtida em cada uma das duas configurações e discuta
o seu resultado. Utilize os dados abaixo e enuncie as suas hipóteses simplificativas.
Dados: Para ambas as configurações: ρ = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 8 m/s2 ,
patm = 101325 Pa, ṁ =200 kg/s, M =50 kg.
5.6. EXERCÍCIOS 199
p1 p1
m m
D1 D1
p2 p2
D2 D2
Respostas:
Fy = M g − (p2 − patm )A2 − ρV22 A2 ,
Fx = −(p1 − patm )A1 − ρV12 A1 .
Problema 8:
A figura abaixo mostra um filme de líquido aberto para a atmosfera que escoa
sobre uma parede com velocidade V1 (m/s) e altura do nível do fluido igual a h1
(m). Esse filme recebe um jato do mesmo fluido com velocidade V2 (m/s) e largura
h2 (m). Determine a altura do nível do filme h3 (m) e velocidade V3 (m/s) na seção
de saída do filme. Negligencie o efeito da aceleração da gravidade e liste as demais
hipóteses que você utilizar.
Dados: V1 = 0,5 m/s; h1 = 4 mm; V2 = 2 m/s; h2 = 1 mm, θ = 30o , w = 10
mm.
Respostas:
(V1 h1 + V2 h2 )2
h3 =
V12 h1 + V22 h2 cos θ
V1 h1 + V2 h2
V3 =
h3
Problema 9:
200MÓDULO 5. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR
h1
q
V3 h3 V2 V1
h1
D1
p1
jato de água
D2
V2
q bocal
placa defletora
Respostas:
( )
A1
(a) Fx = −ρV22 A2 cos θ ; Fy = (p1 − patm )A1 + ρV12 A1 1− senθ
A2
(b) Fx = ρV22 A2 cos θ ; Fy = 0.
Problema 10:
O barco mostrado abaixo se movimenta por ação de uma hélice instalada na
popa. A hélice capta ar na parte frontal e descarrega na popa através de uma nacele
na forma de um bocal com diâmetro de saída D2 = 2 m. O barco experimenta
uma força de arraste total dada por FD = KρU 2 , onde K = 10 m2 . Utilize a
massa específica do ar ρ = 1,15 kg/m3 . Determine qual velocidade U (m/s) o barco
desenvolveria em regime permanente quando a velocidade do jato em relação ao
barco fosse V = 15 m/s.
D2
U FD
Resposta:
U = V (A2 /K)1/2 .
202MÓDULO 5. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO LINEAR
Módulo 6
Conservação da energia
203
204 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
E = Ec + Ep + Ei . (6.2)
Ep = mp gz. (6.5)
E v2
e= = ec + ep + ei = p + gz + ei . (6.6)
m 2
6.2. A CONSERVAÇÃO DA ENERGIA PARA UM VOLUME DE CONTROLE205
.
(me)e Dt
VC
. .
(Q+W) Dt
+ - + =
me(t) . me(t+Dt)
(me)s Dt
Figura 6.1: Representação da conservação da energia para um volume de controle.
6.2.1 Energia
A energia contida no escoamento possui parcelas de energia cinética, potencial e
interna,
E = Ec + Ep + Ei . (6.12)
6.2. A CONSERVAÇÃO DA ENERGIA PARA UM VOLUME DE CONTROLE207
. A1 A2
m1 Fp,1 Fp,2
u1 u2
y
x
Dx Dx
y y
u Fp u Fp
Dy Dy
x x
6.3 Aplicações
. U A4 U .
m1 A1 m2
A2
y A3
x
u=0
m3 = 0
(b) Diagrama de forças: (c) Taxa de transferência de trabalho e
calor externo:
VC VC
Fm,4
. A4 u=0 . . A4 u .
m1 Fp,1 Fp,2 m2 m1 m2
A1 A1
U A2 U A2
y u=0 A3 y A3
x x
Fm,3
. .
W Q
E U2
e= = ec + ep + ei = + gz + ei . (6.28)
m 2
∂
(me) − (ṁe)1 + (ṁe)2 = Q̇ + Ẇs + Ẇp + Ẇv
∂t
[( ) ( ) ] (6.30)
p p
= Q̇ + Ẇs + ṁ − ṁ + Ẇv
ρ 1
ρ 2
ou,
[ ( )] [ ( )]
∂ p p
(me) − ṁ e + + ṁ e + = Q̇ + Ẇs + Ẇv (6.31)
∂t ρ 1
ρ 2
6.3. APLICAÇÕES 213
Ẇs
ηb = (6.42)
Ẇelétrico
Ẇs
ηv = (6.45)
Ẇelétrico
Ẇelétrico
ηt = . (6.48)
Ẇs,ideal
6.3. APLICAÇÕES 217
0 = ρVo2 Ao,2 − ρV22 A2 + (po,2 − patm )Ao − (p2 − patm )A2 . (6.54)
Ẇs
Cp = 1 . (6.61)
2
ρAo V13
Embora não seja possível obter um valor de b para todos rotores de eixo hori-
zontal de forma geral, visto que é específico para cada rotor e condições de operação,
é possível obter-se qual valor de b forneceria o máximo Cp . Fazendo dCp /db = 0,
obtém-se b = 1/3. Com esse valor, obtém-se Cp,max = 0,59. Portanto, idealmente,
pode-se recuperar no máximo aproximadamente 60 % da energia cinética disponível
no vento.
Pode-se também definir uma eficiência de conversão de energia como sendo a
relação entre a potência elétrica gerada e a potência de eixo ideal, ou seja,
Ẇelétrico
ηe = . (6.63)
Ẇs
ρV12
p2 = p1 + . (6.64)
2
Assim, v
u ( )
u ρ
V1 = t2gh −1 . (6.67)
ρf
p1 V12 p2 V22
+ = + . (6.68)
ρ 2 ρ 2
6.3. APLICAÇÕES 221
A1 D2
ṁ = ρV1 A1 = ρV2 A2 ⇒ V2 = V1 = 12 V1 . (6.69)
A2 D2
A vazão obtida pelo produto da velocidade expressa pela Equação 6.71 pela
área A1 representa uma vazão ideal, tendo-se em vista as hipóteses simplificativas de
escoamento ideal, embutidas na dedução da equação de Bernoulli. Efeitos causados
pela aceleração do escoamento e efeitos viscosos resultam em uma diferença entre a
vazão valométrica ideal e a que de fato escoa no interior do tubo de venturi. Todos
os efeitos não incluidos na equação de Bernoulli são concentrados em um coeficiente
de descarga, CD , definido como
V̇real
CD = . (6.72)
V̇ideal
Assim, escreve-se
v
u
u 2gh (ρm /ρf
t − 1)
V̇real = CD A1 . (6.73)
(A1 /A2 ) − 12
EXEMPLO 1:
Um tubo de pitot é utilizado para medir a velocidade de um escoamento
em uma tubulação de ar com diâmetro D1 (m) que sofre uma constrição para um
diâmetro D2 (m). Um manômetro de água ligado ao tubo de pitot acusa um desnível
222 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
ar
D2 patm
.
V D1 D3
a
patm
h g
Solução:
(a) Aplicando a equação da conservação da massa, a vazão volumétrica é
Q = V1 A1 = V2 A2 = V3 A3
V22 p2 p2,total
+ =
2 ρ ρ
ou seja, a pressão total na boca do tubo de pitot p2,total é igual à soma da pressão
estática p2 e da pressão dinâmica p2,dinamica = ρV22 /2.
6.4. GENERALIZAÇÃO 223
6.4 Generalização
Considerando as expressões para o escoamento de uma propriedade do fluido e para
o trabalho da força de pressão na superfície de controle, a equação da conservação
da energia pode ser escrita para um volume de controle estacionário como
∂ ∫ ∫ ∫
p
e ρ dV + e ρ (v · n) dA = Q̇ − (ρv · n) dA − Ẇv − Ẇs − Ẇo (6.76)
∂t V C SC SC ρ
224 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
6.5 Exercícios
Problema 1:
Você deve ser capaz de responder às seguintes perguntas:
6. Como o tubo de pitot é utilizado para medir a vazão em uma tubulação e para
medir a velocidade de uma aeronave em voo?
Problema 2:
A saída do tubo de sucção de uma turbina hidrelétrica está a um nível h =
324 m abaixo do nível do reservatório. A turbina é alimentada por uma vazão
volumétrica V̇ = 19 m3 /s, a tomada de água tem diâmetro D1 =1,5 m e o tubo de
sucção tem diâmetro de saída D2 = 2,5 m. As perdas por atrito viscoso da tomada
d’água até a saída do tubo de sucção são modeladas por:
( )
V2
Ẇµ = ṁ K 2
2
Barragem
Conduto forçado Linha de
Reservatório Tomada transmissão
d´água
Trafo
Gerador
Turbina h
D2
Respostas:
( )
V̇ 2 V̇ 2
(a) Ẇe,t = ρV̇ gh − − K
2A22 2A22
Ẇel,t
(b) ηt =
Ẇe,t
[ ( )] (6.85)
1 V̇ 2 V̇ 2
(c) Ẇel,b = ρV̇ gh + +K 2
ηb 2A21 2A2
[ ]1/2
2gh
(d) V2 (Ẇe,t,max ) = .
3(1 + K)
Problema 3:
Uma bomba movimenta água com vazão ṁ de um tanque aberto para a at-
mosfera (tanque A) para um segundo tanque selado (tanque B) que alimenta um
equipamento. A água no tanque B encontra-se na pressão pB (Pa) que á medida
6.5. EXERCÍCIOS 227
patm
g
Tanque B
h1
água
D1 D2 pB
Bomba
Tanque A patm h2
L1
h3
mercúrio
Resposta (a):
{ [ ]}
1 pB − patm V2
Ẇel,b = ρV̇ − gh1 + 2 + Ẇµ
ηb ρ 2
pB = patm + ρm gh3 − ρg(h2 + h3 ).
Problema 4:
Água com massa específica ρ(kg/m3 ) escoa em uma tubulação horizontal com
diâmetro D1 (m), que sofre uma redução para um diâmetro D2 (m) e retorna a ter
diâmetro D1 (m), como mostra a figura abaixo. Nas seções 1 e 2 são instalados
tubos verticais abertos para a atmosfera que são usados para medir a pressão difer-
encial entre as regiões com diâmetros D1 e D2 . O próprio fluido em escoamento é
228 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
patm
ar
h
D1
.
m D1
D2
água
Problema 5:
A figura abaixo mostra uma tubulação com diâmetro D1 (m) que termina
em um estreitamento com diâmetro D3 (m) e descarrega o fluido com densidade
ρ (kg/m3 ) para a atmosfera na pressão patm (Pa). A fim de medir a vazão do
escoamento, um bocal com diâmetro de garganta D2 (m) é instalado no interior
da tubulação. Após o escoamento atingir regime permanente, o desnível do fluido
manométrico, com densidade ρm (kg/m3 ), atinge o valor h (m). Negligencie efeitos
viscosos e encontre expressões para: (a) A vazão do escoamento V̇ (m3 /s). (b) A
pressão estática (absoluta) no ponto 1, p1 (Pa).
Dados: D1 , D2 ; D3 , ρ, ρm , g, h, patm . Obtenha: V̇ , p1 .
Problema 6:
Um tubo de pitot é utilizado para medir a velocidade de um escoamento
em uma tubulação de ar com diâmetro D1 (m) que sofre uma constrição para um
diâmetro D2 (m). Um manômetro de água ligado ao tubo de pitot acusa um desnível
6.5. EXERCÍCIOS 229
D1
. D2
V D3
patm
g
ar
D2 patm
.
V D1 D3
a
patm
h g
Problema 7:
Óleo com massa específica ρo (kg/m3 ) escoa internamente em uma tubulação
vertical com dâmetro constante munida de um tubo de pitot, posicionado na linha
230 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
g
D1
H
D2
. h
V
Problema 8:
Água com massa específica ρ(kg/m3 ) escoa para baixo em uma tubulação
vertical com dâmetro D1 (m), que sofre uma redução para um diâmetro D3 (m),
como mostra a figura abaixo. Na seção com diâmetro D3 existe um tubo de pitot
com diâmetro D2 (m) posicionado na linha de centro. O tubo de pitot é ligado
a um manômetro em U contendo um líquido manométrico com massa específica
ρm (kg/m3 ) que é conectado à tubulação a uma distância L1 (m) em relação à ponta
do tubo de pitot. Em regime permanente, o líquido manométrico apresenta um
desnível h(m). (a) Obtenha a vazão volumétrica do escoamento. (b) Caso a pressão
estática no ponto 3 seja p3 (Pa) (absoluta), determine a pressão estática no ponto
1, p1 (Pa) (absoluta).
Dados: ρ = 1000 kg/m3 (água), ρm = 13000 kg/m3 (mercúrio, fluido manométrico),
g = 9,8 m/s2 , D1 = 100 mm, D2 =2 mm, D3 = 50 mm; L1 = 2000 mm; L2 = 1000
6.5. EXERCÍCIOS 231
p1 D1 g
.
V
L1
D2
L2
D3
h
p3
Problema 9:
Um tanque contem água com densidade ρa (kg/m3 ) na sua parte inferior até
um nível H (m) e uma camada de óleo com densidade ρo (kg/m3 ) e espessura L (m),
como mostra a figura abaixo. A parede lateral do tanque apresenta um orifício que
forma um jato circular com diâmetro D2 (m) aberto para a atmosfera. Um tubo de
pitot é instalado no jato e é preenchido por água e por um fluido manométrico com
densidade ρm (kg/m3 ). Negligencie os efeitos viscosos, assuma que os fluidos sejam
incompressíveis e que DT ≫ D2 .
(a) Calcule V2 (m/s).
(b) Calcule a deflexão h (m) que seria acusada no manômetro ligado ao tubo
de pitot.
Dados: ρo = 800 kg/m3 (óleo); ρa = 1000 kg/m3 (água); ρm = 1800 kg/m3
(fluido manométrico); g = 9,8 m/s2 ; D2 = 50 mm, H = 200 mm; L = 150 mm; a =
500 mm; patm = 101 kPa (absoluto).
Problema 10:
Um tubo de venturi possui diâmetro de saída D1 (m) e diâmetro de garganta
D2 (m). Neste tubo, aberto para a atmosfera na saída, escoa ar na vazão volumétrica
V̇a (m3 /s). Na garganta do venturi é instalado um tubo de sucção com diâmetro
D3 (m) que aspira um líquido com massa específica ρℓ (kg/m3 ) a partir de um reser-
vatório aberto para a atmosfera e com nível do líquido situado a uma distância h(m)
232 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
DT aberto para
atmosfera
ar D2 patm
.
ma D1
tubo de h g
D3
sucção patm
Líquido
Problema 11:
A figura abaixo mostra um canal com profundidade h1 (m) no qual escoa um
fluido com massa específica ρ (kg/m3 ). Em um certo local, coloca-se uma barreira
apoiada no fundo do canal. A barreira tem altura h2 (m). Essa barreira represa
parcialmente o canal. Após a barreira, o escoamento no canal prossegue com pro-
fundidade h3 (m). A largura do canal vale w (m).
(a) Se a vazão volumétrica no canal for V̇ (m3 /s), determine as velocidades
médias do escoamento nas seções com profundidades h1 (m) e h3 (m).
(b) Determine o valor da energia mecânica na superfície das seções com altura
h1 (m) e h3 (m). Explique a diferença observada entre os valores de energia.
Dados: V̇ = 2,73 m3 /s; w = 2 m; h1 = 1,3 m; h2 = 0,48 m; h3 = 0,3 m; ρ
= 1000 kg/m3 ; g = 9,8 m/s2 (aceleração da gravidade); patm = 101325 Pa (pressão
atmosférica).
Barreira
.
g
V
h1
h2
h3
Fundo do canal
Problema 12:
Um tubo de venturi é instalado na saída de um grande tanque vertical aberto
para a atmosfera. O tanque possui diâmetro D1 (m) e nível de fluido em relação
à linha de centro da tubulação igual a h(m). O tubo de saída é aberto para a
atmosfera, possui diâmetro D2 (m) e a garganta do venturi possui diâmetro D3 (m).
(a) Considerando que o escoamento seja invíscido e o fluido seja incompressível,
determine a vazão mássica na tubulação ṁ (kg/s). Assuma que o tanque tem
diâmetro muito maior que a tubulação.
(b) Considerando as mesmas hipóteses do item (a), determine a pressão p3 (Pa)
na garganta do venturi.
(c) Na presença de efeitos viscosos, a vazão mássica na tubulação seria maior,
igual ou menor que o valor calculado no item (a)? Explique.
234 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
(d) É possível que o fluido, água, sofra mudança de fase de líquido para vapor
na garganta do venturi? Explique.
Dados: ρ = 1000 kg/m3 (água), g = 9, 8 m/s2 , patm = 101325 Pa, h = 5 m,
D1 = 2 m, D2 = 0, 1 m, D3 = 0, 076 m.
D1 g
superfície aberta para o ambiente, patm
h p3
D2 D3 D2
m
Respostas:
(a) V2 = 9,9 m/s, ṁ = 77,75 kg/s. (b) V3 = 17,1 m/s, p3 = 3452 Pa. (c) Seria
menor. (d) Seria possível caso a pressão na garganta do venturi se tornasse menor
que a pressão de saturação do fluido.
Problema 13:
Um ventilador é submetido a um teste de desempenho em uma instalação em
um laboratório. Para isto, um bocal é instalado na tubulação de sucção do ventilador
e um manômetro em U de água é instalado na saída do bocal. O manômetro acusa
um desnível de h = 10 mm. A tubulação de sucção do ventilador tem diâmetro
D1 = 400 mm, o bocal tem orifício com diâmetro D2 = 300 mm e a tubulação de
descarga tem diâmetro D3 = 400 mm. Se o motor elétrico utilizado para acionar
o ventilador produz uma potência de 100 W, obtenha a eficiência do ventilador.
Utilize para a água a massa específica de 1000 kg/m3 , para o ar a massa específica
de 1,17 kg/m3 e para a pressão atmosférica 101325 Pa. Negligencie as perdas por
efeitos viscosos.
Respostas:
V2 = 12,9 m/s; V3 = 7,3 m/s; ṁ = 1,07 kg/s; Ẇs = 28,3 W; ηv = 0,28.
Problema 14:
Óleo com massa específica ρo (kg/m3 ) escoa internamente em uma tubulação
6.5. EXERCÍCIOS 235
m
D1 D2 D1 D3
Problema 15:
Um bomba ejetora é mostrada na figura abaixo. Nessa bomba, água na vazão
3
Q2 (m /s) é ejetada pelo tubo ejetor com diâmetro D2 (m) no interior da bomba.
Como resultado, água é succionada pelo tubo de sucção com diâmetro D3 (m) a
partir do reservatório localizado a uma distância h(m) abaixo da linha de centro do
tubo de descarga. Tanto a superfície do reservatório como a saída da bomba estão
abertos para a atmosfera. (a) Determine a vazão de saída da bomba Q1 (m3 /s) em
função das demais variáveis do problema. (b) Determine o valor da pressão estática
236 MÓDULO 6. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA
D1
g
D2 H
Q h
p4 (Pa) que seria medida na parede da seção na qual se encontra a saída do tubo
ejetor. Enuncie as hipóteses que você utilizar.
Dados: Q2 (m3 /s), D1 (m), D2 (m), D3 (m), h(m), ρ(km/m3 ), g(m/s2 ), patm (Pa).
p4
água D2 patm
Q2 D1 Q1
tubo ejetor
h
tubo de D3 g
sucção patm
tubo de
descarga
água
Escoamento interno
“ Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é
preciso". Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a
casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.“
Fernando Pessoa, “Poesias“.
237
238 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
gia mecânica, ou seja, um aumento nas perdas viscosas. O regime de baixo número
de Reynolds, é denominado de regime de Stokes e é característico do escoamento
de fluidos com alta viscosidade ou em velocidades muito pequenas. O chamado
regime laminar inclui o regime de Stokes e ainda os escoamentos nos quais os termos
de inércia se tornam importantes, mas que ainda podem ser caracterizados como
escoamentos estáveis. Os escoamentos denominados turbulentos são aqueles que ap-
resentam comportamento transiente e caótico. As características e formulações para
as perdas de energia por efeitos viscosos dos escoamentos laminares e turbulentos
em tubulações serão analisados nesse capítulo.
A seguir, aplica-se as equações da conservação da massa, quantidade de movi-
mento linear e energia para o escoamento interno. Em uma tubulação horizontal
com seção transversal uniforme, nas regiões do escoamento para as quais não ex-
istem efeitos de aceleração, a existência de perda de energia por efeitos viscosos é
evidenciada por um decréscimo contínuo da pressão estática do escoamento. Essa
redução de pressão, também chamada de perda de carga, implica em uma perda na
capacidade do escoamento de realizar trabalho. Deseja-se conhecer as característi-
cas do campo de velocidade e obter relações para quantificar a perda de energia por
efeitos viscosos. Assume-se como hipóteses que:
(a) p1 p2
A1 A3 A2
.
m
D
(b) A3
A1 A2
. p1 Ft,1 p2 .
m1 m2
V1 V2
x
L
Figura 7.1: (a) Trecho reto de tubulação com diâmetro D e comprimento L. Dois
medidores de pressão acusam as pressões p1 em x = 0 e p2 em x = L. (b) Volume de
controle com as superfícies laterais próximas às paredes da tubulação e as superfícies
de entrada e saída normais ao campo de velocidade do escoamento.
V1 = V2 . (7.4)
240 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
p1 − p2 Ẇµ
= . (7.7)
ρ ṁ
EXEMPLO 6.1:
Considere o escoamento movido por energia potencial gravitacional a partir de
um tanque com a superfície superior aberta para a atmosfera, conforme mostrado
na Figura ??(a). O tanque tem seção transversal cilíndrica com diâmetro D1 e
7.2. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA 241
contém água até um nível h em relação à base. Subtamente, a saída com diâmetro
D2 é aberta formando um jato livre para a atmosfera com vazão ṁ. A Figura
??(b) mostra o volume de controle com as superfícies laterais próximas às paredes
do tanque e as superfícies de entrada e saída normais ao campo de velocidade do
escoamento. Determine uma expressão para a velocidade de saída do tanque nas
condições (a) de escoamento invíscido e (b) do escoamento na presença de efeitos
viscosos.
(a)
Aberto para a atmosfera
A1 (b)
p1=patm
A3
m1
h D2 .
m
A2
D1 h
Jato livre
para a atmosfera D2 p2=patm
po m2
D1
Figura 7.2: (a) Tanque cilíndrico com diâmetro D1 , aberto para a atmosfera, con-
tendo água até um nível h em relação à base. (b) Volume de controle com as
superfícies laterais próximas às paredes do tanque e as superfícies de entrada e saída
normais ao campo de velocidade do escoamento.
Solução:
Aplicando a equação da conservação da energia mecânica ao volume de controle
da Figura (??), verificando que Ẇs = 0, obtém-se,
[ ( )] [ ( )]
p V2 p V2
− ṁ +α + gz + ṁ +α + gz = −Ẇµ .
ρ 2 1
ρ 2 2
Fµ,x = τw A3 . (7.11)
ou,
A3
p1 − p2 = −τw . (7.13)
A1
Portanto, a conservação da quantidade de movimento linear na direção x ex-
pressa que a resultante das forças de pressão aplicada sobre o fluido equilibra exata-
mente a resultante das forças viscosas. As forças viscosas, como veremos a seguir,
dependem do campo de velocidade e, nesse escoamento, aumentam linearmente com
o aumento da velocidade média do escoamento. Portanto, o equilíbrio entre as
forças de pressão e forças viscosas determina a velocidade do escoamento. Quando a
pressão é aumentada, a velocidade do escoamento aumenta até que as forças viscosas
equilibrem as forças de pressão.
Comparando a Eq. (7.13) com a Eq. (7.7), tem-se
A3 Ẇµ
p1 − p2 = −τw =ρ , (7.14)
A1 ṁ
ou,
Ẇµ −τw A3
= . (7.15)
ṁ ρ A1
Assim, a determinação da tensão de cisalhamento τw permite a determinação
de Ẇµ . Como Ẇµ > 0, a expressão acima sugere que τw < 0.
A existência de componente de força de corpo conservativa na direção do es-
coamento, por exemplo, aceleração da gravidade, não torna o problema significa-
tivamente mais complicado se observarmos que é possível definir um potencial de
escoamento ϕ cujo componente na direção x é dado por
∂p
ρϕx = ρgx − , (7.16)
∂x
onde gx é o componente do vetor aceleração da gravidade na direção x.
7.4. ESCOAMENTO LAMINAR PLENAMENTE DESENVOLVIDO 245
A3 Ẇµ
(p1 + ρgx x1 ) − (p2 + ρgx x2 ) = −τw =ρ , (7.17)
A1 ṁ
na qual percebe-se que a gravidade exerce um potencial para escoamento semelhante
ao potencial de pressão.
A seguir, determina-se expressões para Ẇµ para alguns escoamentos simples.
onde u, v e w são as componentes do vetor velocidade e ⃗ex , ⃗ey e ⃗ez são os vetores
unitários nas direções x, y e z. Para o escoamento laminar, em regime permanente
e plenamente desenvolvido, o vetor velocidade é alinhado com o eixo x, ou seja, as
componentes v e w são nulas. Assim,
⃗v = u ⃗ex (7.23)
du ∆p
=− y (7.25)
dy Lµ
∆p y 2
u=− +C (7.26)
Lµ 2
∆p 2
u= (h − y 2 ) (7.27)
2Lµ
Ẇµ 3Lµ
= um (7.32)
ṁ ρh2
A expressão acima indica que a dissipação de energia mecânica por efeitos viscosos
é proporcional à viscosidade do fluido e à velocidade média do escoamento.
Para maior generalização da expressão obtida acima, estabelece-se que a di-
mensão caractrística do escoamento é o diâmetro hidráulico definido como:
4Au
dh = (7.33)
Pku
onde Au é área da seção transversal da tubulação e Pku é o perímetro molhado, ou
seja, o perímetro da seção transversal em contato com o fluido. Para o escoamento
entre duas placas planas paralelas,
pois w ≫ h. Assim,
8hw
dh = = 4h. (7.35)
2w
Através de um rearranjo na equação (7.31) e expressando em função de dh ,
obtém-se
Ẇµ 3Lµ 6µ L u2m 96µ L u2m L u2m
= um = = = f (7.36)
ṁ ρh2 ρum h h 2 ρum dh dh 2 dh 2
onde o fator de atrito de Darcy para o escoamento torna-se
96
f= (7.37)
Redh
e o número de Reynolds expresso em função do diâmetro hidráulico é
ρum dh u m dh
Redh = = (7.38)
µ ν
248 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
⃗v = u ⃗ex (7.44)
Note que esta expressão pode ser reescrita explicitando-se a queda de pressão,
8Lµ
∆p = 2 um (7.52)
R
ou, utilizando a Equação (7.7),
Ẇµ 8Lµ
= um (7.53)
ṁ ρR2
As expressões acima indicam que a dissipação de energia mecânica por efeito viscoso
é proporcional à viscosidade do fluido e proporcioanal à velocidade média do escoa-
mento. Para a tubulação com seção transversal circular, dh = D. Assim, através de
um rearranjo na equação (7.52) obtém-se
Ẇµ 8Lµ 32µ L u2m 64µ L u2m L u2m
= u m = = = f (7.54)
ṁ ρR2 ρum R 2R 2 ρum D D 2 D 2
onde o fator de atritor de Darcy para esse escoamento torna-se
64
f= (7.55)
ReD
e o número de Reynolds é
ρum D um D
ReD = = (7.56)
µ ν
onde a viscosidade cinemática é ν = µ/ρ.
Novamente, o fator de atrito decresce com o aumento do número de Reynolds,
porém, a perda de pressão por efeitos viscosos aumenta com o aumento do número
de Reynolds.
C2 (7.57)
f Redh = C2 , ou, f = .
Redh
7.5. ESCOAMENTO TURBULENTO PLENAMENTE DESENVOLVIDO 251
b b
b
a a a
Exemplo 6.2:
A bomba mostrada na figura abaixo auxilia o bombeamento de água do tanque
superior, aberto para a atmosfera a patm (Pa), para o tanque inferior, cuja superfí-
cie do líquido é pressurizada na pressao p2 (Pa). A vazão volumétrica que deve ser
bombeada é Q(m3 /s) e a tubulação tem diâmetro D(m) e comprimento total L(m).
Obtenha a potência elétrica necessária para a bomba. Assuma que os tanques pos-
suem diâmetro muito grande, que o processo ocorre em regime permanente e que a
tubulacão possue superfície lisa.
Dados: Q = 0, 06 m3 /s; p2 = 3 atm; patm = 101325 Pa; D = 0, 3 m; L = 100
m; H = 5 m; h1 = 3 m; h2 = 2 m; Ke = 0, 6; Kj = 0, 3; ηb = 0, 8; ρ = 1000 kg/m3
(água); µ = 0, 001 Pa.s, g = 9, 8 m/s2 .
Solução:
A equação da conservação da energia entre os pontos 1 e 2 obtém-se
Ė2 = Ė1 + Ẇs − Ẇµ
[ ] [ ]
p2 + ρgh2 V22 patm + ρgh1 Ẇs Ẇµ
+ = + g (h2 + H − h1 ) + −
ρ 2 ρ ṁ ṁ
254 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
Tabela 7.2: Resumo das equações para o tratamento das perdas de energia por
efeitos viscosos.
( ) ( )
p2 V22 patm Ẇs Ẇµ
+ = + gH + −
ρ 2 ρ ṁ ṁ
Ẇs p2 − patm V 2 Ẇµ
= − gH + 2 +
ṁ ρ 2 ṁ
Das expressões para as perdas de carga,
( )
Ẇµ V2 L
= 2 Ke + 2Kj + f
ṁ 2 D
Da vazão fornecida,
4Q 4 × 0, 06
V2 = = = 0, 85 m/s
πD 2 π × 0, 32
7.6. ESCOAMENTO EM ACESSÓRIOS DE TUBULAÇÕES 255
ρV2 D 1000 × 0, 85 × 0, 3
Re = = = 254648
µ 0, 001
Como Re > 2300, o escoamento é turbulento. Assim, da expressão de Blasius
para tubos lisos,
0, 316
f= = 0, 014
Re0,25
Calculando a perda de carga,
Ẇµ = 101, 35 W
A potência elétrica é
Ws
Ẇel. = = 11678 W
ηb
Comentário:
Outros valores calculados: ṁ = 60 kg/s, A2 = 0, 07069 m2 , p1 = 130725 Pa,
p2 = 3 atm = 303975 Pa, p3 = 323575 Pa, Ė1 = 10195, 5 W, Ė2 = 19436, 1 W,
Ẇµ /ṁ = 1, 689 J/kg, Ẇs /ṁ = 155, 70 J/kg.
256 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
7.8 Exercícios
Problema 1:
Você deve ser capaz de responder às seguintes perguntas:
Problema 2:
Encontre o campo de velocidade u(y) para o escoamento plenamente desen-
volvido, em regime laminar, de um fluido incompressível e newtoniano, com pro-
priedades constantes, entre duas placas planas paralelas horizontais, sendo que a
placa inferior, em y = 0, é estacionária e a placa superior, em y = h, move-se com
velocidade constante U . Esse escoamento é chamado de Escoamento de Couette.
Para esse problema, a equação da conservação da quantidade de movimento linear
na direção x torna-se ( )
d du
0= µ ,
dy dy
com as condições de contorno
y = 0 , u = 0,
y = h , u = U.
(a) Integre a equação acima com as condições de contorno e encontre a solução para
u(y).
(b) Obtenha a tensão de cisalhamento na parede superior, τ (N/m2 ) em y = h.
(c) Se a placa superior tem área superficial As = wL, obtenha a força de atrito
viscoso Fµ,x (N) sentida pela placa superior.
7.8. EXERCÍCIOS 257
(d) Obtenha a potência dissipada pelo atrito na placa superior Ẇµ . (Dica:
A potência é o trabalho realizado por unidade de tempo, e o trabalho é a força
multiplicada pela distância).
Resposta:
U U U U2
(a) u = y, (b) τ = µ , (c) Fµ,x = µ wL, (d) Ẇµ = µ wL.
h h h h
Problema 3:
Encontre o campo de velocidade u(y) para o escoamento plenamente desen-
volvido, em regime laminar, de um fluido incompressível e newtoniano, com pro-
priedades constantes, impulsionado para cima por uma placas plana vertical, movendo-
se com velocidade constante U , sendo a superfície do fluido aberta para a atmosfera.
Para esse problema, a equação da conservação da quantidade de movimento linear
na direção x torna-se ( )
d du
0= µ − ρg,
dy dy
com as condições de contorno
y = 0 , u = U,
y = h , du
dy
= 0.
(a) Integre a equação acima com as condições de contorno e encontre a solução para
u(y).
(b) Obtenha a tensão de cisalhamento na placa, τ (N/m2 ) em y = 0.
(c) Se a placa tem área superficial As = wL, obtenha a força de atrito viscoso
Fµ,x (N) sentida pela placa.
(d) Obtenha a potência dissipada pelo atrito na placa Ẇµ . (Dica: A potência
é o trabalho realizado por unidade de tempo, e o trabalho é a força multiplicada
pela distância).
(e) Obtenha a velocidade média desse escoamento, um (m/s).
(f) Determine a condição que deve ser satisfeita pela velocidade U (m/s) para
que o escoamento tenha vazão ascendente, ou seja, o fluido seja carregado pela placa
em movimento.
Resposta:
( )
ρgh2 y 2 2y
(a) u = U + − , (b) τ = −ρgh, (c) Fµ,x = ρghwL, (d) Ẇµ = ρghwLU,
2µ h2 h
258 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
ρgh2 ρgh2
(e) um = U − , (f) U > .
3µ 3µ
Problema 4:
Para o escoamento plenamente desenvolvido, em regime laminar, de um fluido
incompressível e newtoniano, com propriedades constantes, movido por gradiente
de pressão (dp/dx), no interior de uma tubulação com seção transversal circular
com diâmetro D = 2R e comprimento L, determinou-se que a perda de energia por
efeitos viscosos é dada por
( )
8Lµ
Ẇµ = ṁ um .
ρR2
Mostre como essa equação pode ser transformada em
( )
L u2m
Ẇµ = ṁ f
dh 2
64 ρum D
f= onde ReD = .
ReD µ
Problema 5:
Considere o escoamento plenamente desenvolvido, em regime laminar, de um
fluido incompressível e newtoniano, com propriedades constantes, movido por gradi-
ente de pressão (dp/dx), no interior de uma tubulação com seção transversal circular
com diâmetro D = 2R e comprimento L.
(a) Mostre que o número de Reynolds pode ser escrito em função da vazão
mássica como
4ṁ
ReD = .
πDµ
(b) Mostre que o fator de atrito de Darcy pode ser escrito como função da
vazão mássica como
πC Dµ
f= ,
4 ṁ
onde C = 64.
7.8. EXERCÍCIOS 259
(c) Mostre que a perda de energia por efeitos viscosos pode ser escrito como
função da vazão mássica como
2C L µṁ2
Ẇµ = ,
π D 4 ρ2
onde C = 64.
Problema 6:
Obtenha o diâmetro hidráulico dh para as seguintes geometrias: (i) Seção
circular com diâmetro D, (ii) Seção retangular com lados a (um quadrado) e (iii)
Seção triangular com lados com comprimento b (um triângulo equilátero).
Problema 7:
Considere o escoamento em 3 tubulações com mesmo comprimento L, porém,
com seções transversais diferentes:(i) Seção circular com diâmetro D, (ii) Seção
retangular com lados a (um quadrado) e (iii) Seção triangular com lados com com-
primento b (um triângulo equilátero). Admita que a vazão mássica deva ser a mesma
nas três configurações e que D = a = b. Assuma escoamento plenamente desen-
volvido, em regime laminar, de um fluido incompressível e newtoniano, com pro-
priedades constantes, movido por gradiente de pressão (dp/dx), e determine qual
configuração apresentaria a menor perda por efeitos viscosos. (Dica: Escreva a
equação para a perda por efeitos viscosos em termos da vazão para cada config-
uração. Lembre que os valores de dh , Au e f Redh são diferentes para cada seção
transversal. Use as constantes f Redh listadas no texto.)
Problema 8:
Assuma escoamento plenamente desenvolvido, em regime laminar, de um fluido
incompressível e newtoniano, com propriedades constantes, movido por gradiente
260 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
Resposta:
( )1/4
D 4 CC
= ≃ 1, 094, onde CC = 64 e CQ = 56, 91.
a π CQ
Portanto, D deve ser aproximadamente 9,4 % maior que a.
Problema 9:
A região de transição do escoamento interno (2000 ≤ Redh ≤ 10000) pode apre-
sentar escoamento essencialmente laminar ou turbulento dependendo das condições.
Por exemplo, é possível prolongar a existência de escoamento laminar em um tubo
liso para números de Reynolds bastante elevados. Considere o escoamento plena-
mente desenvolvido, de um fluido incompressível e newtoniano, com propriedades
constantes, movido por gradiente de pressão (dp/dx), em um tubo circular.
(a) Determine a relação entre os fatores de atrito de Darcy f calculados para
regime laminar flam e para regime turbulento fturb .
(b) Assuma que a tubulação é lisa, tem diâmetro D = 6 mm, o escoamento
tem vazão mássica ṁ = 5 × 10−4 kg/s, e o fluido é ar com densidade ρ = 1, 18 kg/m3
e viscosidade dinâmica µ = 1, 85 × 10−5 Pa.s. Calcule os fatores de atrito de Darcy
para as duas hipóteses, flam e fturb .
(c) Calcule as perdas por atrito viscoso nas duas hipóteses assumindo que a
tubulação tenha comprimento L = 20 m.
(d) Assuma que a tubulação seja reta e horizontal e calcule a queda de pressão
no escoamento nas duas condições. Discuta os valores de queda de pressão.
Laminar Turbulento
(a) f , adim. 0,0111 0,0363
(b) Ẇµ , W 2,09 6,83
(c) (p2 − p1 ), Pa 4931 16071
Problema 10:
Considere o escoamento plenamente desenvolvido, em regime laminar, de um
fluido incompressível e newtoniano, com propriedades constantes, movido por gra-
diente de pressão (dp/dx), em uma tubulação com seção transversal circular com
diâmetro D = 0, 1 m e comprimento L = 100 m. A tubulação é feita de PVC e, após
10 anos de uso, apresenta rugosidade relativa e/D = 1×10−3 . O fator de atrito para
o escoamento turbulento em tubos rugosos pode ser aproximado pela correlação de
Swamee e Jain (1976),
−2
e/D 5, 74
f = 0, 25 log + 0,9 .
3, 7 Redh
Resposta:
(a) f = 0,0219, (b) Ẇµ = 177,32 W, (c) ∆p = 17732 Pa.
A queda de pressão equivale a 1,8 mca (metros de coluna d’ água).
Problema 11:
Uma bomba é utilizada para alimentar um reservatório sobre uma estrutura
que está a uma altura h2 = 10 (m) em relação à sucção da bomba. A tubulação
utilizada possui diâmetro interno D = 50 mm e o reservatório inferior está afastado
uma distância horizontal b = 30 m do reservatório superior. O nível da água no
reservatório inferior é h1 = 3 m e o nível da água no reservatório superior é h3 = 2
m. Deseja-se bombear água na vazão volumétrica V̇ = 0,0012 m3 /s. A tubulação
apresenta perdas por atrito viscoso nos trechos retos e nos acessórios (entrada e
joelhos). Se a bomba apresenta eficiência ηb = 0,8, determine a potência elétrica
Ẇel W consumida pela bomba. Assuma operação em regime permanente, fluido
incompressível com massa específica ρ = 1000 kg/m3 (água à temperatura ambiente)
262 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
e g = 9,8 m/s2 .
Reservatório
superior
g
h3
patm
Reservatório Bomba h2
inferior
h1
Estrutura
b
Resposta:
{ [ ]}
1 V2 (b + h2 ) V22
Ẇel,b = ρV̇ g(h2 + h3 − h1 ) + 2 + f
ηb 2 D 2
Problema 12:
A bomba mostrada na figura abaixo descarrega água para a atmosfera através
de um bocal com diâmetro D2 (m) instalado ao final de uma tubulação com diâmetro
D1 (m). O tanque que alimenta a bomba é aberto para a atmosfera e possui água
até um nível h1 (m). A velocidade no bocal de saída vale V2 (m/s). Assuma que o
tanque de alimentação possua diâmetro muito grande, o fluido seja incompressível,
o escoamento ocorra em regime permanente, as tubulações sejam lisas e use as
equações do formulário para estimar o fator de atrito de Darcy. Determine a potência
elétrica requerida para a bomba Welet (W).
Dados: V2 =25 m/s; D1 = 0,0635 m; D2 = 0,0286 m; L1 = 5 m; L2 = 30
m; h1 = 3 m; ρ = 1000 kg/m3 ; µ = 0,001 Pa.s; g = 9,8 m/s2 ; patm = 101325 Pa.
Coeficientes de perda de carga localizada: KE = 2,0 (entrada); KB = 1,2 (bocal).
Eficiência da bomba: ηb = 0,85 .
Respostas:
V1 = 5,06 m/s; ṁ = 16,03 kg/s; f = 0,0133; Ẇµ = 2160 W; Ẇs = 6699 W;
Ẇelet = 7881 W.
Problema 13:
7.8. EXERCÍCIOS 263
patm g
D1 D1 patm
h1 Bomba D2
L1 L2
A figura abaixo mostra uma bomba que desloca um fluido do tanque inferior
para o tanque superior separados por uma distância L (m), conforme mostra a figura.
Ambos os tanques estão abertos para a atmosfera e apresentam nivel de água até a
altura h1 (m) e h3 (m) respectivamente. A tubulação que liga os tanques apresenta
diâmetro D (m) e a vazão desejada é ṁ (kg/s). O fluido é água com densidade ρ
(kg/m3 ). A tubulação tem como acessórios 1 entrada, 1 joelho e 2 válvulas. Assuma
que o fluido seja incompressível, que os tanques tenham diâmetro muito grande,
que o escoamento ocorra em regime permanente e que existam perdas por efeitos
viscosos.
(a) Calcule a potência elétrica necessária à bomba Ẇel (W) para executar esse
bombeamento considerando que a eficiência da bomba é ηb .
(b) Se a distância entre a bomba e o fundo do tanque inferior é L1 , calcule a
pressão pe (Pa) (absoluta) na entrada da bomba.
(c) Explique em que condições poderia ocorrer cavitação na entrada da bomba.
Dados: D = 0,1 m, h1 = 1 m; h2 = 6 m; h3 = 1 m; L = 100 m; L1 = 3 m;
ṁ = 8 kg/s; KE = 0,8; KJ = 0,6; KV = 2,5; ρ = 1000 kg/m3 ; µ = 0,001 Pa.s; ηb =
0,9; g = 9,8 m/s2 ; patm = 101 kPa. (Note que 1 kPa = 1000 Pa).
Problema 14:
Calcule a potência elétrica Ẇel (W) necessária para um ventilador utilizado
no resfriamento de placas de circuitos elétricos. O canal formado entre as placas
possui seção transversal com altura h = 15 cm, largura w = 10 cm e comprimento
L = 20 cm. Deseja-se uma velocidade média nessa seção V2 = 5 m/s. O ventilador
com seção transversal a = b = 10 cm é instalado na parede da caixa de circuitos.
A saída do escoamento da caixa é formada por uma grade com área de escoamento
A4 = ϵhw, onde ϵ = 0, 85. A conversão de energia por efeitos viscosos, incluindo o
264 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
h3
superfície aberta para o ambiente, patm
Válvula h2
água Bomba
h1 pe
m D
L1
L
( )
V2
Ẇµ = ṁ K 3
2
Caixa de circuitos
b h
w
Ventilador
L
Resposta: [ ( )]
1 V42 V2
Ẇel,v = ρV̇ +K 3
ηv 2 2
V̇ V̇
V3 = , V4 = .
wh ϵwh
Problema 15:
Um ventilador é submetido a um teste de desempenho em uma instalação em
um laboratório. Para isto, uma placa de orifício é instalada na tubulação de sucção
do ventilador e manômetros em U de água são instalados na sucção e descarga
do ventilador. O manômetro diferencial na placa de orifício acusa um desnível de
21 mm, o manômetro na sucção do ventilador acusa um desnível de 65 mm e o
manômetro na descarga do ventilador acusa um desnível de 30 mm (veja a direção
dos desvios na figura). Todos os manômetros possuem nível de equilíbrio 40 cm
abaixo da linha de centro da tubulação. A tubulação de sucção do ventilador tem
diâmetro 10 cm, a placa de orifício tem diâmetro 4 cm e a tubulação de descarga
tem diâmetro 15 cm. Se o motor elétrico utilizado para acionar o ventilador produz
uma potência de 25 W, obtenha o rendimento do ventilador. Utilize para a água a
massa específica de 1000 kg/m3 , para o ar a massa específica de 1,4 kg/m3 e para a
pressão atmosférica 101325 Pa. Negligencie as perdas por efeitos viscosos.
266 MÓDULO 7. ESCOAMENTO INTERNO
Módulo 8
Escoamento externo
”Talk nonsense, but talk your own nonsense, and I’ll kiss you for it. To go wrong
in one’s own way is better than to go right in someone else’s. ”
Fyodor Dostoyevsky, Crime e Castigo, 1866. Tradução de 1956 por Constance
Garnett para Random House.
267
268 MÓDULO 8. ESCOAMENTO EXTERNO
(a)
y
U v1 j
A1 v4 x
A4
v2
j A2
v3
A3
(b)
Fp,4
Fm,t,1 Fm,n,4
A1 A4
Fm,n,1 Fm,t,4
Fy
Fx
Fp,1
j A2
Fm,t,2
Fm,n,2
Fp,3 A3
Fm,n,3 Fm,t,3 Fp,2
ou,
Fx = −ρv12 A1 + β2 ρv22 cos θA2 − Fµ,x − +Fp,x . (8.5)
onde v2 é a velocidade média na área A2 , β2 é o coeficiente de quantidade de movi-
mento linear definido no Capítulo 5, Fµ,x e Fp,x são as resultantes das forças viscosas
e de pressão na direção x aplicadas sobre todas as superfícies do volume de controle.
De acordo com a hipótese (H.4), assumiremos Fµ,x = 0 e Fp,x = 0.
Sendo v1 = U e usando a relação obtida da conservação da massa, v2 =
U A1 /A2 , tem-se ( )
A1 cos θ
Fx = −ρU A1 1 − β2
2
. (8.6)
A2
A força de arrasto FD (N) é definida como a força que o fluido realiza sobre a
placa na direção do escoamento livre, a direção x nesse problema, ou seja,
( )
A1 cos θ
FD = Rx = −Fx = ρU A1 2
1 − β2 . (8.9)
A2
A força de sustentação FL (N) é definida como a força que o fluido realiza sobre
a placa na direção normal ao escoamento livre, a direção y nesse problema, ou seja,
A21
FL = Ry = −Fy = β2 ρU 2 senθ (8.10)
A2
FL , nota-se que a força de sustentação para cima (positiva) aumenta com o aumento
θ e é máxima quando θ = 90o . Neste caso, a placa funciona como uma asa. Se o
ângulo θ fosse negativo, a placa funcionaria como um aerofólio, ou seja, teria uma
sustentação para baixo (negativa).
Nota-se que a força aerodinâmica depende da velocidade relativa entre o corpo
e o fluido, da forma do corpo e da orientação deste em relação à velocidade relativa.
A força aerodinâmica depende fortemente do ângulo de ataque, ou seja, do ângulo
formado entre a linha de centro do corpo e a direção da velocidade relativa. Assime-
trias na forma do corpo, por exemplo, um aerofólio assimétrico, possuem uma forte
influência sobre a força aerodinâmica.
O efeito das forças viscosas agindo próximo à superfície da placa se revela de
duas formas: pelo valor do ângulo θ e pelo valor da área de escoamento A2 . O ângulo
de desvio do escoamento na saída da região da placa pode não ser igual ao ângulo de
inclinação da placa. De fato, para o escoamento de um fluido sem viscosidade não
haveria deflexão do escoamento. O segundo efeito decorre da redução da velocidade
na vizinhança da superfície da placa devido ao atrito viscoso, fazendo com que
v2 < U e, para que haja conservação da massa, A2 > A1 .
onde Fp,1 , Fp,2 e Fµ,n,1 , Fµ,n,2 são, respectivamente, as forças de pressão e viscosas
normais na direção n, aplicadas nas superfícies 1 e 2 do volume de controle, Fg,n é
a componente da força peso na direção n e Fn é a força aplicada pela placa sobre o
fluido.
Lembrando que a força aplicada pelo fluido sobre a placa na direção n é Rn =
−Fn , tem-se
(a)
x
Fp,2
j n Fm,n,2
y
Fm,t,2
t
Fp,1 Fm,t,4
Fm,n,1 Fm,t,1
(b)
x
p2
j n
s2
y
t2
t
p1 Fm,t,4
s1 t1
FL
CL = 1 (8.21)
2
ρU 2 Ap,n
Tabela
√ 8.1: Valores da função erro complementar para diferentes valores de η =
y/(2 νt).
Exemplo 1:
Durante a partida de uma transmissão hidráulica, o eixo inicia instantaneamente
o seu movimento com velocidade tangencial U = 1 m/s. A folga entre o eixo e o
mancal tem espessura h = 0,5 mm e assuma que o raio do eixo é R ≫ h. Determine
o tempo necessário para que o movimento do eixo inicie a ser transmitido para o
mancal. Assuma que o fluido é óleo mineral SAE 030 com viscosidade cinemática
ν = 6, 8 × 10−4 Pa.s.
Solução:
O modelo desenvolvido por Ludwig Prandtl em 1904 para aproximar a solução desse
escoamento foi um divisor de águas na história da Mecânica dos Fluidos4 .
A figura 8.1 apresenta um esquema de uma placa plana sujeita a um escoa-
mento externo em regime permanente, paralelo à superfície da placa. Na figura 8.1
mostra-se o aspecto das linhas de corrente do escoamento caso o fluido não possu-
isse viscosidade. Verifica-se que as particulas de fluido deslizam sobre a placa e o
escoamento segue uma trajetória que não é alterada pela sua presença. Na figura
figura 8.1(b) apresenta-se as linhas de corrente do escoamento de um fluido viscoso.
Observa-se uma leve deflexão do escoamento na direção normal à placa indicando a
existência de um pequeno, mas decisivo, componente y da velocidade.
Quando o número de Reynolds é alto, os efeitos das forças viscosas ficam lim-
itados a uma região muito próxima à superfície da placa denominada de camada
limite. Na camada limite observa-se as maiores variações de velocidade no escoa-
mento. Na figura 8.1(c), representa-se a região da camada limite, com a escala em y
ampliada em mais de 1000 vezes. Nessa região, a componente x da velocidade varia
de zero na superfície para um valor bastante próximo à velocidade do escoamento
livre, U , enquanto que a componente y da velocidade varia de zero na parede, atinge
um valor máximo e então decai a zero novamente. Na camada limite, predominam
os efeitos de inércia nas direções normal e paralela à placa e as forças viscosas, ou
efeitos difusivos, são significativos apenas na direção normal à superfície da placa.
Fora da camada limite, as forças viscosas tendem a zero e o escoamento comporta-se
como se de um fluido isento de viscosidade, ou seja, um escoamento invíscido.
A simplificação adotada para a camada limite, denominada de hipóteses de
camada limite, permite aplicar uma teoria de similaridade e obter uma solução
4
Prandtl terminou um doutorado em matemática em janeiro de 1900 na Universidade Ludwig
Maximilian de Munique, com um trabalho na área de elasticidade. No mesmo mês em que concluiu
seu doutorado, ele assumiu uma posição de engenheiro na fábrica da MAN em Nuremberg. Ime-
diatamente, começou a trabalhar na otimização de um ventilador, visando aumentar a eficiência e
reduzir o ruído aerodinâmico. Durante este período, trabalhou na fluido dinâmica de ventiladores
e, ao que parece, o projeto foi bem sucedido. Respondendo a um convite, em setembro de 1901,
ele se mudou para a universidade técnica de Hanover para se tornar o professor responsável pela
disciplina de mecânica. Em agosto de 1904 ele participou do Terceiro Congresso Internacional de
Matemática em Heidelberg, organizado por Felix Klein, apresentando o seu trabalho sobre camada
limite. No mesmo ano, ele foi convidado pelo mesmo Klein para assumir a chefia do departamento
de física técnica do instituto de física em Göttingen, tornando-se também co-diretor do Instituto
de Matemática Aplicada e Mecânica, local onde trabalhou pelos próximos 40 anos.
282 MÓDULO 8. ESCOAMENTO EXTERNO
U u(x,y)
U
Superfície plana
e impermeável.
U d(x)
u(x,y)
x
L
Figura 8.4: (a) Linhas de corrente para o escoamento invíscido paralelo a uma
placa plana (somente o escoamento na parte superior da placa é representado). (b)
Linhas de corrente para o escoamento viscoso sobre uma placa plana com velocidade
de corrente livre U (m/s) paralela à superfície da placa. A linhas de corrente para
o escoamento invíscido aparecem tracejadas no fundo. (c) A camada limite sobre a
placa plana. Definição do sistema de coordenadas (x, y) e da espessura da camada
limite δ(x).
8.2. ARRASTO EM CORPOS IMERSOS NO ESCOAMENTO 283
δ(x) 5, 0
=√ , (8.32)
x Rex
onde o número de Reynolds baseado na posição x é
Ux
Rex = . (8.33)
ν
δ̄ 0, 37
= , (8.37)
L (ReL )1/5
Nota-se que o coeficiente de atrito sobre a placa decresce com a raiz quadrada
do comprimento, mas a tensão de cisalhamento e, portanto, o arraste viscoso, cresce
com a raiz quadrada do comprimento.
Para a região de escoamento turbulento, para 5 × 105 < mathrmRex < 107 , a
tensão de cisalhamento na superfície é aproximada por
ρU 2
τw = 0, 021 . (8.43)
Re1/3
x
Exemplo 2:
Considere o escoamento de ar com velocidade de escoamento livre U = 1 m/s es-
coando sobre uma placa plana com comprimento L = 1 m e largura W = 1 m.
Calcule a espessura da camada limite em x = L, o coeficiente de atrito médio e a
força de arraste sobre a placa. Utilize ρ = 1, 17 kg/m3 e µ = 1, 83 × 10−5 Pa.s.
Solução:
O número de Reynolds é calculado por
ρLU
ReL = (8.51)
µ
Para ReL > 5 × 105 , o escoamento é laminar sobre parte da superfície e turbulento
sobre o restante e tem-se:
0,37L
δ(L) = (ReL )1/5
,
0, 074 1742 (8.53)
⟨Cf ⟩ = 1/5
− .
ReL ReL
A força de arraste é
1
FD = ⟨Cf ⟩As ρU 2 , (8.54)
2
8.2. ARRASTO EM CORPOS IMERSOS NO ESCOAMENTO 287
onde As = LW .
Usando os dados do problema tem-se
1, 17 × 1 × 1
ReL = = 6, 45 × 104 ⇒ Laminar,
1, 83 × 10−5
5, 0 × 1
δ(L) = √ = 19, 7 mm,
6, 45 × 104
(8.55)
1, 328
⟨Cf ⟩ = √ = 0, 0052,
6, 45 × 104
1, 17 × 12
FD = 0, 0052 × 1 × 1 = 0, 0031 N.
2
Comentário:
Vamos repetir os cálculos para outros fluidos, sob as mesmas condições. A Tabela
abaixo mostra os resultados obtidos.
ρU 2
po = p ∞ − . (8.60)
2
4. 150 < Red ≤ 105 : Para número de Reynolds suficientemente alto, o escoa-
mento sofre transição para turbulência na camada limite no ponto de sepa-
ração. A região da esteira se torna caótica e os vórtices formados são vórtices
de turbulência e se desenvolvem em várias escalas de tamanho e frequência5 .
5. Red > 105 : A transição para turbulência ocorre mais perto do ponto de estag-
nação. Na camada limite turbulenta, existe maior quantidade de movimento
médio na direção do escoamento e maior difusão de quantidade de movimento.
Com isto, existe um atraso na separação do escoamento, que passa a ocorrer
em torno de θ = 120o . A esteira é completamente turbulenta.
Ponto de
U separação Vórtice ancorado
r
na superfície
d(q) dp/dx > 0
U
r r
U
U
u(r,q)
u(r,q)
u(r,q)
Fronteira da
camada limite
5. Red > 105 : O escoamento torna-se turbulento sobre a esfera e ocorre separação
e formação de uma esteira de vórtices turbulenta.
Figura 8.6: Coeficiente de arrasto para esfera, cilindro e disco em função do número
de Reynolds [24] [35]
.
também que a força de arrasto não depende da massa específica ρ do fluido, uma
característica originada do fato da inércia do esoamento ser negligenciável6 .
Sendo Ap = πd2 /4 a área projetada, o coeficiente de arrasto torna-se
24
CD = . (8.65)
Red
A solução de Stokes para a esfera fornece uma aproximação com desvio menor
que 10% quando Red ≤ 0, 1. Para valores mais altos do número de Reynolds, os
desvios aumentam, porém, de qualquer forma, essa aproximação fornece sempre um
limite inferior para a força de arrasto.
Uma aproximação de ordem superior fornece [32] [34],
[ ]
24 3 9
CD = 1 + Red + Red ln (Red ) . (8.66)
Red 8 40
O segundo e o terceiro termos entre parênteses vem da inclusão dos termos de inércia
de forma aproximada. Essa solução analítica, embora estenda a solução de Stokes,
fornece boa aproximação apenas para Red ≤ 1.
Uma aproximação de [11] que fornece bons resultados em uma faixa ainda
maior é
( )
24 1
CD = 1 + Red , (8.67)
Red 48
que apresenta boa aproximação para Red < 104 . Verifica-se que a correlação ap-
resenta o comportamento assintótico típico para o regime subcrítico com assíntota
CD → 0, 5.
Uma aproximação de [6] estende a previsão para todo o regime de escoamento
sub-crítico. Essa equação semi-empírica é
24 [ ( )]
CD = (1 + 0, 27 Red )0,43 + 0, 47 1 − exp −0, 04 Red0,38 , (8.68)
Red
Exemplo 3:
A velocidade terminal de um corpo em sedimentação em um fluido é o valor final de
velocidade constante atingida pelo corpo quando existe um equilíbrio entre as forças
peso, flutuação e viscosa. Determine uma expressão para a velocidade terminal U∞
de uma esfera com massa específica ρi sedimentando em um fluido infinito com vis-
cosidade dinâmica µ e massa específica ρ. Utilize a teoria de Stokes para modelar a
força de arrasto sobre a esfera.
Solução:
A velocidade terminal da esfera ocorre quando existe equilíbrio entre as forças de
arraste, empuxo e peso. Nessa condição, tem-se
Fg − Fe − FD = 0. (8.70)
Fluido Esfera d ρi ρ µ FD U∞ Re
mm kg/m3 kg/m3 Pa.s N mm/s
óleo alumínio 1 2712 956 0,65 9,01E-06 1,5 0,0022
glicerina alumínio 1 2712 1259 0,95 7,46E-06 0,83 0,0011
óleo aço inox 1 7850 956 0,65 3,54E-05 5,8 0,0085
glicerina aço inox 1 7850 1259 0,95 3,38E-05 3,8 0,0050
Comentário:
Essa expressão fornece uma forma de testar a validade da equação para a força de
arrasto sobre uma esfera.
Exemplo 4:
Determine uma expressão para a trajetória de uma partícula esférica com diâmetro D
e massa específica ρi que sedimenta em velocidade terminal sob o efeito da gravidade
a medida que é carragada pelo escoamento de um fluido com viscosidade dinâmica
µ, massa específica ρ e velocidade U na direção x. Utilize a teoria de Stokes para
modelar a força de arrasto sobre a esfera
Solução:
O movimento da partícula é o resultado do balanço de forças de arrasto, empuxo e
peso. A força de arrasto atua na mesma direção e sentido contrário da velocidade
relativa entre a partícula e o fluido, a qual possui componentes x e z. Assumiremos
que a direção do movimento da partícula forme um ângulo θ com o eixo x. Assim,
o balanço de força em cada direção fornece
Direção x: FD,x = 0,
Direção z: FD,z = Fg − Fe ,
(ρi − ρ)D2 g
Direção z: 6πµRVz = (ρi − ρ) ∨p g ⇒ Vz = .
18µ
dxp
= U,
dt
dzp (ρi − ρ)D2 g
= .
dt 18µ
xp (t) = xp,o + U t,
(ρi − ρ)D2 g
zp (t) = zp,o + t,
18µ
ou,
(ρi − ρ)D2 g
zp (t) = zp,o + [xp (t) − xp,o ] .
18µU
Comentário:
Nesse problema, assumiu-se que a esfera já sedimenta com velocidade terminal e já
se encontra em equilíbrio com a velocidade do escoamento. A aceleração da esfera se
tornaria relevante quando ela entrasse em contato com o fluido possuindo velocidade
diferente da velocidade terminal.
8.2. ARRASTO EM CORPOS IMERSOS NO ESCOAMENTO 297
Para uma bolha de um gás em um líquido, tem-se σµ → ∞, enquanto que para uma
partícula sólida, tem-se σµ = 0.
A solução do problema no regime de Stokes resulta na força de arrasto [34]
( )
1 + 23 σµ
FD = 6πµRU . (8.73)
1 + σµ
Para σµ = 0, recupera-se a expressão para a força de arrasto sobre uma esfera. Para
uma bolha de um gás em um líquido, tem-se σµ → ∞, a força de arrasto torna-se
FD = 4πµRU .
A solução para a velocidade terminal U∞ de uma bolha esférica formada por
um fluido com viscosidade dinâmica µi se deslocando em um fluido com viscosidade
dinâmica µ (ver Exemplo) é
( )
2 gR2 1 + σµ
U∞ = (ρi − ρ) . (8.74)
9 µ 1 + 23 σµ
Essa expressão fornece resultados com boa aproximação para bolhas esféricas
relativamente grandes. Para bolhas pequenas, existe uma acumulação de espécies
químicas surfactantes na interface entre o líquido e o gás, fazendo com que efeitos
de superfície se tornem significativos em relação ao volume da bolha. Nesse caso, o
escoamento interno na bolha reduz-se sensivelmente e a bolha passa a se comportar
como se fosse uma esfera rígida, mantendo a constante 6π na força de arrasto.
298 MÓDULO 8. ESCOAMENTO EXTERNO
Exemplo 5:
Determine uma expressão para a velocidade terminal U∞ de uma bolha esférica for-
mada por um fluido com viscosidade dinâmica µi se deslocando em um fluido com
viscosidade dinâmica µ. Utilize a teoria de Stokes para modelar a força de arrasto
sobre a bolha.
Solução:
A velocidade terminal da esfera ocorre quando existe equilíbrio entre as forças de
arraste, empuxo e peso. Nessa condição, tem-se
Fg − Fe − FD = 0. (8.75)
Comentário:
Essa expressão fornece uma forma de testar a validade da equação para a força
de arraste sobre uma bolha. Os resultados são adequados para bolhas esféricas
relativamente grandes (ver explicação no texto).
Exemplo 6:
Obtenha uma expressão para a razão entre as forças de arrasto Fb /Fa para uma ag-
ulha com razão de aspecto e = b/a deslocando-se na direção do seu eixo longitudinal
Fb e deslocando-se em direção normal ao seu eixo longitudinal Fa .
Solução:
A razão entre as forças de arraste na direção longitudinal e transversal é
Fb Cb µU cos θ1 Cb cos θ1
= = .
Fa Ca µU sen θ2 Ca sen θ2
300 MÓDULO 8. ESCOAMENTO EXTERNO
Comentário:
Uma agulha muito fina pode ser aproximada como tendo e → ∞. Como ln 2e → ∞,
para a agulha muito fina tem-se
Fb Cb 1
= = .
Fa Ca 2
Exemplo 7:
Durante a sua sedimentação em um líquido infinito com massa específica ρ, uma
agulha com massa específica ρi e razão de aspecto e → ∞ apresenta o seu eixo
longitudinal inclinado em um ângulo φ em relação ao vetor aceleração da gravi-
dade. Nesse instante, o movimento da partícula ocorre com vetor velocidade vp =
U cos θ eb + U sen θ ea em uma direção inclinada em um ângulo θ = 30o em relação à
direção do seu eixo longitudinal. eb e ea são vetores unitários nas direções dos eixos
longitudinal e transversal.
(a) Obtenha a razão entre as forças de arrasto na direção do seu eixo longitudinal
Fb e na direção normal ao seu eixo longitudinal Fa .
(b) Obtenha o ângulo φ entre o eixo longitudinal da partícula e a direção do vetor
aceleração da gravidade.
Solução:
(b) No equilíbrio, as componentes das forças peso, empuxo e de arrasto tem so-
matorio igual a zero. A força de arrasto pode ser expressa como
FD = −Fb eb − Fa ea .
Logo, √
Fb 3 1
= =
Fa 2 tan φ
ou,
2
tan φ = √ ⇒ φ = 49, 1o .
3
Comentário:
Observa-se que a resultante das forças está aplicada no centro de massa da partícula.
Portanto, não há geração de momento e a partícula sedimenta sem rotacionar.
8.3 Exercícios
Problema 1: Responda:
Problema 2: Uma carga com massa m = 6800 kg deve ser descarregada de uma
aeronave utilizando paraquedas com diâmetro D = 20 m. Determine o número de
paraquedas necessários se a carga deve descer com velocidade constante U = 10
m/s. Para o ar a 300 K, use ρ = 1, 18 kg/m3 and µ = 1, 83 × 10−5 Pa.s. Considere
que o coeficiente de arraste de cada paraqueda seja CD = 1, 2. Assuma g = 9, 8
m/s2 .
Resposta: n = 3.
Problema 3: Um disco com diâmetro D = 3 m é mantido estacionário frente a um
escoamento de ar com velocidade U = 20 m/s. (a) Determine a força necessária para
manter o disco estacionário. (b) Calcule o número de Reynolds desse escoamento.
Para o ar a 300 K, use ρ = 1, 18 kg/m3 and µ = 1, 83 × 10−5 Pa.s.
Resposta: (a) FD = 2000 N, (b) ReD = 3, 9 × 106 .
Problema 4: Um objeto muito pequeno com massa m = 180 kg é amarrado em
um disco de polietileno de alta densidade com massa específica ρ = 970 kg/m3 e
liberado na água. Determine o diâmetro que o disco deverá ter para que a velocidade
terminal do conjunto objeto mais disco seja U = 1 m/s. Use o valor de CD dado
na Tabela 8.2. Para a água a 300 K, use ρ = 1000 kg/m3 and µ = 8, 9 × 10−4 Pa.s.
Considere que a espessura do disco deva ser 5 % do seu diâmetro e negligencie a
massa e volume dos cabos que prendem o objeto ao disco.
Resposta: D = 1, 9 m.
Problema 5: Determine a velocidade terminal de uma esfera de aço, com massa
específica ρs = 7850 kg/3 e diâmetro D = 5 mm, que é liberada em um tanque com
óleo com ρ = 960 kg/m3 and µ = 0, 7 Pa.s. Assuma g = 9, 8 m/s2 . (a) Determine o
coeficiente de arraste da teoria de Stokes. (b) Discuta se o escoamento ao redor da
esfera se encontra no regime de Stokes.
8.3. EXERCÍCIOS 305
Transferência de Calor
307
309
Introdução
5. Você deverá também conhecer os conceitos por trás das diversas propriedades
termofísicas que regulam a transmissão de calor através dos mecanismos cita-
dos acima.
”Did they get you to trade your heroes for ghosts? Hot ashes for trees? Hot air for
a cool breeze? Cold comfort for change? Did you exchange a walk on part in the
war for a lead role in a cage?”
George Roger Waters
311
312 MÓDULO 9. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA TÉRMICA
Q
A
V
T
S
Figura 9.1: Aplicação da equação da conservação da energia térmica em um volume
de controle com volume V (m3 ), área superficial A (m2 ), contendo uma conversão
de energia Ṡ (W) e transferindo calor ao ambiente na taxa Q (W).
Q = qA. (9.3)
Ṡ = ṡV. (9.4)
Ṡ = ṡA. (9.5)
Q = Ṡ (9.7)
Exemplo 1:
A água contida em um copo dentro de um forno de microondas está sujeita a
uma geração de calor de ṡ = 2 W/cm3 . Ao mesmo tempo que é aquecida, ele perde
calor para o ambiente no interior do forno através da superfície lateral do copo
(negligenciando as perdas pelo fundo) na taxa de q = 0, 1 W/cm2 . A temperatura
inicial da água é 25o C. Estime o tempo necessário para que a água no interior do
copo atinja a temperatura de 100o C. Negligencie a absorção de calor pelo copo e
assuma para a água ρ = 1000 kg/m3 e cp = 4180 J/kg-o C. O copo é cilíndrico com
diâmetro D = 3 cm e altura H = 5 cm.
Use a formulação integral.
Solução:
A equação da energia térmica na forma integral para este problema torna-se
d
(ρcp T V ) = −qA + ṡV
dt
Da geometria do copo,
πD2
A = πDL; V = L
4
9.3. GENERALIZAÇÃO 315
9.3 Generalização
∫
> 0; implica em maior quantidade de calor saindo.
(q · n) dA = 0; implica em iguais quantidades de calor entrando ou saindo.
A
< 0; implica em maior quantidade de calor entrando.
(9.9)
316 MÓDULO 9. CONSERVAÇÃO DA ENERGIA TÉRMICA
d ∫ ∫
ρeh dV = − eh (ρv · n) dA − Q|A + Ṡ (9.10)
dt V A
eh = ei + p/ρ (9.12)
Esta equação pode ser simplificada significativamente para alguns casos es-
peciais:
(vi) Finalmente, quando ambas a massa e o calor específico são constantes com o
tempo, pode-se escrever
dT ∑ ∑
mcp =− Q+ Ṡ. (9.26)
dt
∑ ∑
0=− Q+ Ṡ (9.27)
ou, ∑ ∑
Q= Ṡ (9.28)
Esta expressão indica que todo a energia térmica gerada no interior do vol-
ume de controle deve ser equilibrada por uma taxa de transferência de calor líquida
para fora do volume de controle com a mesma magnitude, para que a substância no
interior do volume de controle permaneça com sua energia térmica constante.
Observe que a análise acima parte do princípio apenas da existência do fluxo de
calor e da conversão de energia térmica, mas não forneçe nenhuma indicação sobre
a natureza destas parcelas. A obtenção de expressões de cálculo para a conversão
de energia requer o estudo de outras áreas da engenharia, como por exemplo, a
geração de energia térmica por atrito viscoso em escoamentos, por atrito mecânico,
por efeito joule, por absorção de microondas, por mudança de fase, etc.. Apesar
de não ser o enfoque deste curso estudar em detalhe todos estes outros fenômenos
físicos, algumas equações simplificadas que permitem aproximar estes fenômenos
sob situações especiais serão fornecidas no capítulo sobre Conversão de Energia. O
objetivo é permitir ao engenheiro desenvolver uma apreciação sobre as diferentes
formas de ”produzir calor ” ou ”produzir frio”. A obtenção de expressões de cálculo
para o fluxo de calor requer a definição e a solução da equação da conservação da
energia na forma diferencial, e este é o assunto tratado a seguir.
derivadas das funções que descrevem como essas propriedades variam espacialmente
e temporalmente. Sendo estes conceitos válidos, a equação da conservação da energia
na forma intergral aplicada a um volume de controle com volume V é dividida pelo
volume V e e extraimos o limite quando este volume tende a zero. Matematicamente,
aplicando à taxa de transferência de calor líquida deixando o volume de controle
obtém-se
[∫ ]
lim QA ≡ lim (q · sn ) dA . (9.29)
V →0 V →0 A
q = qx i + q y j + qz k (9.31)
> 0; implica em maior quantidade de calor saindo.
∇ · q = 0; implica em iguais quantidades de calor entrando ou saindo.
< 0; implica em maior quantidade de calor entrando.
(9.33)
Analogamente ao definido anteriormente, quando existem iguais quantidades
de calor entrando ou saindo, diz-se que o processo ocorre em regime estacionário,
ou, regime permanente.
5
Um procedimento matemático mais rigoroso exigiria a definição de resíduo ε tal que V → ε o
qual, por sua vez, assume valores infinitesimais.
9.3. GENERALIZAÇÃO 321
∂
(ρcp T ) + ∇ · (ρcp vT ) = −∇ · q + ṡ (9.34)
∂t
onde, recorde que, q é o fluxo de calor em (W/m2 ), ṡ é a taxa de conversão de energia
para energia térmica (ou da energia térmica) em (W/m3 ) e cp é o calor específico à
pressão constante (J/kg-K).
Em coordenadas cartesianas, pode-se reescrever a equação da conservação da
energia térmica como
∂ ∂ ∂ ∂ ∂qx ∂qy ∂qz
(ρcp T )+ (ρcp uT )+ (ρcp vT )+ (ρcp wT ) = − − − + ṡ. (9.35)
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
Esta equação pode ser simplificada significativamente para alguns casos es-
peciais:
(i) Quando ambas a massa específica e o calor específico são constantes com o
tempo, pode-se escrever
∂T ∂T ∂T ∂T ∂qx ∂qy ∂qz
ρcp + ρcp u + ρcp v + ρcp w =− − − + ṡ. (9.36)
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
ou,
∂qx
= ṡ (9.40)
∂x
Esta expressão indica que toda a energia térmica gerada localmente deve ser
equilibrada por uma taxa de transferência de calor líquida com a mesma magnitude,
para que a substância permaneça com sua energia térmica constante.
Outros sistemas de coordenadas ortogonais de interesse em aplicações são os
sistemas cilíndrico (r, θ e z) e o esférico (r, θ e φ). Na ausência de conversão
de energia e em regime permanente, a equação da conservação da energia térmica
unidimensional escrita em x para o sistema cartesiano e em r para os sistemas
cilíndrico e esférico torna-se
Cartesiano:
∂qx
= 0 =⇒ qx = constante com x (9.41)
∂x
Cilíndrico:
1 ∂
(rqr ) = 0 =⇒ (rqr ) = constante com r (9.42)
r ∂r
Esférico:
1 ∂ ( 2 ) (
2
)
r q r = 0 =⇒ r q r = constante com r (9.43)
r2 ∂r
Estas equações expressam que as taxas de transferência de calor em regime
permanente e na ausência de conversão de energia são uniformes ao longo do eixos x
e r. Note que os fluxos, a exceção do sistema cartesiano, não são uniformes, apenas
as taxas (fluxo x área) é que são. Estas equações serão utilizadas como pontos de
partida para a definição das resistências térmicas equivalentes para a condução de
calor unidimensional.
9.5 Exercícios
Problema 1:
Responda:
Problema 2:
O telhado de uma construção absorve superficialmente energia do sol na taxa
ṡe,r = 500 W/m2 . Simultaneamente, o telhado perde calor para o ar ambiente por
convecção superficial com fluxo de calor qku = 150 W/m2 . Deseja-se obter a taxa
de transferência de calor para o interior da construção Qi (W). Assumindo que o
telhado tenha área A = 25 m2 e que as tranferências de calor ocorram em regime
permanente:
Problema 3:
Uma resistência elétrica é utilizada para aquecer um banho com água. O banho
ocupa um recipiente fechado com base de 50 × 40 cm e altura de 60 cm. A água
no interior do banho é agitada por pás rotativas, de forma que a sua temperatura
permaneça uniforme (ou seja, não depende da posição x, y, z no interior do tanque).
As superfícies laterais e superior do recipiente perdem calor para o ambiente por
convecção superficial com fluxo de calor qku = 350 W/m2 . A superfície inferior do
recipiente perde calor para o chão por condução de calor com fluxo de calor qk = 200
W/m2 . O recipiente é completamente preenchido por água com densidade ρ = 1000
kg/m3 e calor específico cp = 4180 J/kg-o C. Deseja-se calcular a taxa de conversão
de energia por efeito Joule que deve ocorrer na resistência elétrica Ṡe,J (W) para
manter a água e o tanque com temperatura constante.
(a) Faça um esquema do recipiente com água e indique as direções das transfer-
ências de calor e o local onde ocorrem as transferências de calor e a conversão
superficial de energia.
(c) Calcule a taxa de conversão de energia por efeito Joule na resistência elétrica
Ṡe,J (W) que é requerida para manter a água e o tanque com temperatura
constante.
Respostas: (c) Ṡe,J = 488 W. (d) Pouco mais que 2 horas e 51 minutos.
Problema 4:
Um escoamento de ar na temperatura Te = 25 o C deve ser aquecido a Ts = 125
o
C. Para esse aquecimento, coloca-se uma resistência elértica no interior de uma
tubulação por onde escoa o ar. Assuma que o fluxo de calor médio do ar para o
ambiente seja qku = 1750 W/m2 . A tubulação tem diâmetro externo De = 0, 02
m, comprimento L = 1 m, a vazão de ar é ṁ = 0, 001 kg/s. Assuma que o calor
específico do ar seja cp = 1009 J/kg-o C.
(c) Determine o valor da geração de energia por efeito Joule Ṡe,J (W) necessária
para realizar esse aquecimento.
Problema 5:
Uma tubulação transportando água quente é exposta ao ambiente externo de
uma edificação. A água na vazão ṁ = 0,2 kg/s entra na tubulação na temperatura Te
= 60 o C. Assuma que o calor específico da água sejacp = 4180 J/kg-o C. A tubulação
possui diâmetro externo De = 0,025 m e comprimento L = 20 m.
(c) Em um dia ventoso de inverno, o fluxo de calor médio por convecção superficial
para o ambiente é estimado em qku = 12500 W/m2 . Calcule a temperatura de
saída da água Ts o C.
327
328 MÓDULO 10. CONVERSÃO DE ENERGIA TÉRMICA
Sendo a corrente I(A)= je (A/m2 )Ae (m2 ) e o volume V (m3 )= Ae (m2 )L(m),
tem-se analogamente
Ṡe,J = Re I 2 (10.3)
onde Re (Ω) é a resistência elétrica.
A Lei de Ohm relaciona a diferença de potencial △φ(V) no condutor com a
corrente elétrica e a resistência elétrica por
△φ = Re I (10.4)
Condutor
T
L
I
w
-
w
+
Figura 10.1: Conversão de energia por efeito Joule em um condutor com seção
transversal quadrada.
Exemplo 1:
330 MÓDULO 10. CONVERSÃO DE ENERGIA TÉRMICA
Aquecedor
- Visor
S
+ Q Q
W
L
W
H
b
a
Seção transversal Aquecedor Visor
do aquecedor.
Solução:
(a) O corpo de interesse é o aquecedor colado atrás do visor. Então, estabelece-
se um volume de controle que envolve o aquecedor. A forma integral da equação da
conservação da energia térmica aplicada ao aquecedor torna-se
d
(ρcp V T ) = −Q + Ṡ (10.7)
dt
onde ρ é a densidade, cp é o calor específico, V é o volume e T é a temperatura do
aquecedor. Note que ρV = m, onde m é a massa do aquecedor.
10.1. CONVERSÃO DE ENERGIA ELETROMAGNÉTICA 331
Ṡ = Q (10.8)
ou seja, toda a energia térmica gerada deve ser perdida pelo volume de controle para
o seu exterior para que a sua temperatura se mantenha constante no tempo.
As únicas duas formas de calor deixando o aquecedor são o calor perdido para
o fundo e para a frente (ambos para fora do aquecedor). O problema afirma que
essas duas quantidades são iguais. Sendo q o fluxo de calor, tem-se
Q = 2Ak q (10.9)
Ṡ = ṡe,J Vf (10.10)
ou
2Ak q 2qW H 2 × 1000 × 0, 1 × 0, 02
ṡe,J = = = = 5, 62 × 108 W/m3
Vf abL 0, 4 × 10−3 × 0, 0254 × 10−3 × 0, 7
(10.12)
(b) Obtivemos no item anterior a quantidade de energia que deve ser gerada
para prover a taxa de transferência de calor desejada. Agora, precisamos obter os
valores de tensão e corrente que são requeridos para gerar essa taxa no elemento
aquecedor proposto. O aquecimento ocorrerá por efeito Joule. Para o efeito Joule,
Assim, ( )2
∆φ ∆φ2
ṡe,J = ρe = (10.15)
ρe L ρ e L2
332 MÓDULO 10. CONVERSÃO DE ENERGIA TÉRMICA
Exemplo 2:
Uma junta termelétrica é formada pela união de dois condutores de Telureto
de Bismuto (Bi2 Te3 ). Um dos condutores é dopado do tipo p com coeficiente de
Seebeck αS, p = 230 × 10−6 V/K. O outro condutor é dopado do tipo n com co-
eficiente de Seebeck αS, p = −210 × 10−6 V/K. Liga-se a junta termelétrica a um
potencial elétrico gerando uma corrente elétrica I = 10 A. Se a temperatura da
junta termelétrica é T = 20 o C, calcule a conversão de energia por efeito Peltier.
Solução:
O coeficiente de Seebeck é calculado por
αS = αS,p − αS,n = 230 × 10−6 + 210 × 10−6 = 440 × 10−6 V/K. (10.23)
Essa energia não é totalmente liberada (ou absorvida) para o (do) ambiente ex-
terno à junção, pois parte da energia térmica é conduzida pelos próprios condutores
metálicos por condução de calor.
ou,
Ṡe,T = ±αT I(T2 − T1 ). (10.27)
Exemplo 3:
Uma xícara cerâmica contendo água é colocada no interior de um forno de
microondas. O forno gera um campo elétrico com intensidade erms = 300 V/m
e frequência f = 2 × 109 Hz. Determine: (a) A taxa volumétrica de conversão
de energia por absorção de microondas e (b) a taxa de aumento da temperatura
da água para duas condições: (i) a água é destilada e apresenta permissividade
dielétrica ϵec = 0, 364 e (ii) a água contém sal e apresenta permissividade dielétrica
ϵec = 269. Assuma para a água ρcp = 4 × 106 J/m3 e negligencie a massa da xícara.
Solução:
Posiciona-se um volume de controle ao redor da xícara. Aplicando a equação
da conservação da energia para esse volume de controle, na ausência de escoamento
e admitindo que as propriedades sejam uniformes no volume de controle, obtém-se
∂T
ρcp V = −Q + Ṡ. (10.30)
∂t
Na ausência de taxa de transferência de calor para o ambiente, Q = 0. Sendo
que a conversão de energia ocorre por efeito Peltier Ṡe,P = ṡe,P V , escreve-se
dT
ρcp V = ṡe,P V, (10.31)
dt
10.1. CONVERSÃO DE ENERGIA ELETROMAGNÉTICA 335
ou,
dT
ρcp = ṡe,P . (10.32)
dt
(a) A taxa volumétrica de conversão de energia por efeito Peltier é dada por
dT ṡe,P
= . (10.36)
dt ρcp
dT 3, 65 × 103
= = 9, 1 × 10−4 o C/s = 0, 1 o C/min. (10.37)
dt 4 × 106
dT 2, 69 × 106
= = 6, 7 × 10−1 o C/s = 40, 4 o C/min. (10.38)
dt 4 × 10 6
Observa-se que a água com sal absorve muito mais efetivamente a radiação de
microondas.
qr,i
Ts
Figura 10.3: Conversão de energia eletromagnética para energia térmica por absoção
de radiação térmica.
Exemplo 4:
A superfície de uma piscina recebe radiação solar, em dado momento, com
intensidade qr,i = 800 W/m2 . Assuma que a absorptividade da radiação solar seja
αs = 1, 0 e determine a taxa de conversão de energia por m2 de superfície.
Solução:
A absorção de radiação térmica é dada por
Ṡe,α = αr qr,i A = 1, 0 × 800 × 1 = 800 W/m2 . (10.41)
A irradiação solar varia ao longo do dia, de um lugar para outro, com a ori-
entação da superfície e depende das condições climáticas regionais. A previsão da
10.2. CONVERSÃO DE ENERGIA POTENCIAL 337
onde ṁvℓ (kg/s) é a taxa de mudança de fase da fase vapor para a fase líquida e
∆hℓv (J/kg) é a energia térmica absorvida na mudança de fase (a mesma que na
equação anterior). Pode-se também escrever
Exemplo 5:
Uma forma contendo uma lâmina de água na temperatura de saturação de
100o C recebe um fluxo de calor na sua superfície inferior de qk = 2, 72 kW/m2 . Se
a entalpia de mudança de fase de líquido para vapor é ∆hℓv = 2, 257 × 106 J/kg,
determine a taxa de evaporação por m2 de superfície.
Solução:
Colocando um volume de controle envolvendo o filme de líquido, a equação da
conservação da energia térmica torna-se
dT
ρcp V = −Q + Ṡ (10.49)
dt
10.2. CONVERSÃO DE ENERGIA POTENCIAL 339
Assim,
qk A 2720 × 1
ṁℓv = = = 1, 205 × 10−3 kg/s = 4, 34 kg/hora. (10.51)
∆hℓv 2, 257 × 106
Exemplo 6:
Uma mistura contendo metano (CH4 ) e ar em escoamento no interior de uma
tubulação sofre combustão completa. A mistura entra na tubulação na temperatura
Te = 25 o C. Assuma que o metano apresente energia de reação (poder calorífico
inferior) ∆er,f = 50 MJ/kg e que a mistura tenha calor específico cp = 1500 J/kg-o C.
Determine a temperatura de saída da mistura de gases Ts o C. Considere que 1 mol
de ar apresente 0,21 moles de oxigêno (O2 ) e 0,79 moles de nitrogênio (N2 ) e que são
necessárias 2 moléculas de oxigênio para reagir completamente com cada molécula
de metano. As massa molares de metano, oxigênio e nitrogênio são, respectivamente,
16, 32 e 28 g/mol.
10.3. CONVERSÃO DE ENERGIA MECÂNICA 341
Solução:
Para a reação completa de metano e oxigênio, 2 moléculas de oxigênio são
necessárias para queimar cada molécula de metano. Como 1 mol de ar possui 0,21
moles de oxigêno, precisa-se de 2/0,21 moles de ar para reagir completamente com
1 mol de metano. Então,
16
Yf,m = 2 = 0, 055. (10.57)
16 + (0, 21 × 32 + 0, 79 × 28)
0, 21
Então,
Yf,m ∆er,f
Ts = Te + . (10.60)
cp
Utilizando os dados, tem-se
0, 055 × 50 × 106
Ts = 25 + = 1835 o C. (10.61)
1500
Verifica-se que a temperatura alcançada em uma chama de combustão pode
atingir valores relativamente altos.
10.5 Resumo
A Tabela 1 apresenta um sumário das relações para a taxa volumétrica de geração
de calor.
10.7 Exercícios
Problema #1:
Dois copos com água são colocados dentro de um forno de microondas. Um
copo possui água destilada e o outro possui água com sal. O microondas opera com
frequência f = 109 Hz, e o campo eletromagnático possui potência rms erms = 102
V/m. A água destilada apresenta permissividade dielétrica ϵec = 0, 364 e a água
com sal apresenta permissividade dielétrica ϵec = 269. Assuma que não há perda de
calor para o forno ou para o ar no seu interior e negligencie a massa do copo.
(a) Calcule a taxa instantânea de variação com o tempo das temperaturas
dT /dt do copo de papel, água destilada e água com sal.
(b) Qual dos dois copos com água aquececerá mais rapidamente?
(c) Se as águas destilada e salgada tiverem a mesma massa, qual a diferença
no tempo de aquecimento de uma ou outra?
Para a densidade e calor específico da água destilada e com sal use ρ = 1000
kg/m e cp = 4180 J/kg-K. Utilize ϵo = 8, 8542 × 10−12 A2 -s2 /N-m2 para a permis-
3
pc = a1 ∆u1
onde a1 = 15.000 Pa-s/m é uma constante e ∆u1 é a velocidade relativa entre o freio
e o eixo. O eixo girando com uma certa velocidade angular w (rad/s), a qual pode
ser calculada a partir da velocidade em rpm, possui velocidade relativa dada por
∆u1 = Rw
onde R = 50 cm é o raio do eixo da turbina. Assuma para o contato entre o freio e
o eixo um coeficiente de atrito dinâmico µF = 0, 6. Assumindo que 30% deste calor
gerado seja transmitido à lona de freio com propriedades iguais às do asbestos na
Tabela 13 (a T = 373 K), calcule a taxa instantânea de elevação da temperatura
dT /dt da lona de freio. A lona de freio tem dimensões retangulares de l1 = 10 cm,
l2 = 20 cm e espessura e = 2 cm.
346 MÓDULO 10. CONVERSÃO DE ENERGIA TÉRMICA
Módulo 11
Condução
”Anything worth doing is worth doing twice, the first time quick and dirty, and the
second time the best way you can.”
Arthur Leonard Schawlow (1921–1999), pioneiro do laser e Nobel de Física em
1981.
347
348 MÓDULO 11. CONDUÇÃO
∂T
qk,x = −k (11.2)
∂x
onde k(W/m-K ou W/m-◦C) é a condutividade térmica, uma propriedade termofísica
de transporte (em contraste com as propriedades termodinâmicas), e ∂T /∂x (o C/m
ou K/m) é o gradiente de temperatura na direção x.
O fluxo de calor é positivo quando apontado na direção de decréscimo da
temperatura, ou seja, na direção contrária ao gradiente de temperatura. Como o
gradiente de temperatura é uma grandeza calculada localmente, o fluxo de calor
por condução depende apenas de características locais do problema, ou seja, as
propriedades e a distribuição local de temperatura.
Partindo da forma diferencial da equação da conservação da energia térmica,
a forma diferencial da equação da condução de calor unidimensional torna-se
( )
∂ ∂ ∂T
(ρcp T ) = k + ṡ (11.3)
∂t ∂x ∂x
d2 T
=0 (11.6)
dx2
d2 T
=0
dx2
Condições de contorno:
x = 0 ⇒ T (0) = T1
x = L ⇒ T (L) = T2
(T2 − T1 )
T (x) = T1 + x (11.7)
L
O fluxo de calor, dado pela Lei de Fourier, torna-se
350 MÓDULO 11. CONDUÇÃO
dT (T1 − T2 )
qk,1−2 = −k =k (11.8)
dx L
O fluxo de calor nesta geometria cartesiana unidimensional é independente de
x, ou seja, é constante com x. Neste caso, a taxa de transferência de calor através
de uma área A(m2 ) perpendicular ao caminho do fluxo de calor é dada por
(T1 − T2 )
Qk,1−2 = kA (11.9)
L
(a) (b)
T1 T2 T2 T1
R2
R1
w Qk,1-2
r
Qk,1-2
H L
x
L
Figura 11.1: Sólidos em forma de (a) placa plana e de (b) calota cilíndrica e as
variáveis para o cálculo da resistência térmica.
Exemplo 2:
Uma lâmina de vidro, com condutividade térmica k = 0,8 W/m-o C, tem es-
pessura e = 5 mm, largura W = 0,2 m e comprimento L = 0,6 m. Uma das faces
está à temperatura T1 = 35 o C enquanto que a outra está à T2 = 25 o C. Determine:
(a) A taxa de transferência de calor por condução Qk,1−2 (W) através da placa
de vidro.
(b) O fluxo de calor por condução qk (W/m2 ) através da placa de vidro.
Solução:
(a) A resistência térmica da condução através da placa de vidro é
e e 0, 005
Rk,1−2 = = = = 0, 052 o C/W (11.13)
kAk kW L 0, 8 × 0, 2 × 0, 6
(T1 − T2 ) 35 − 25
Qk,1−2 = = = 192 W (11.14)
Rk,1−2 0, 052
352 MÓDULO 11. CONDUÇÃO
T1 T2
Qk,1-2 qk
L
x
e
Exemplo 3:
Uma garrafa térmica na forma de um cilindro com diâmetro D1 = 100 mm e
altura H = 150 mm apresenta temperatura superficial T1 = 80 o C. Essa garrafa é
envolvida por uma capa de poliuretano com espessura e = 20 mm e condutividade
térmica k = 2 W/m-o C. A temperatura da superfície externa é medida e obtém-se
T2 = 32 o C.
(a) Determine a taxa de transferência de calor por condução Qk,1−2 (W) através
da capa de isolamento.
(b) Determine os fluxos de calor nas superfícies interna qk,1 (W/m2 ) e externa
do isolamento qk,2 (W/m2 ).
Solução:
(a) O isolamento térmico possui a forma de uma calota cilíndrica. A resistência
11.1. A EQUAÇÃO DA CONDUÇÃO DE CALOR 353
T1 T2
D1 e
Obserava-se que o fluxo depende da área na qual ele é calculado. Como a calota
cilíndrica tem área que cresce com o raio, o fluxo na superfície interior é maior do
que na superfície exterior.
(a ) T1 T2 T3
Q1 Qk,1-2 Qk,2-3 Q3
H
x
L 1-2 L 2-3
(b)
Qk,1-2 Qk,2-3
Q1 T1 T2 T3 Q3
Rk,1-2 Rk,2-3
Figura 11.4: (a) Esquema mostrando duas paredes planas com condutividades tér-
micas kA e kB arranjadas em série e (b) circuito elétrico equivalente.
onde
L1−2
Rk,1−2 = . (11.21)
kA Hw
Analogamente, a taxa de transferência de calor através da placa B é dada por
(T2 − T3 )
Qk,2−3 = (11.22)
Rk,2−3
onde
L2−3
Rk,2−3 = (11.23)
kB Hw
onde as duas placas planas tem condutividades kA e kB , respectivamente.
O balanço de calor para essas duas placas em contato fornece,
Q1 = Qk,1−2 = Qk,2−3 = Q3 (11.24)
ou seja, a taxa de transferência de calor que deixa a face da direita da placa B, o
valor Q3 , é igual àquela que entrou na face da esquerda da placa A, o valor Q1 .
Uma forma física de você lembrar esse conceito é relacionar o calor com algo que
escoa. Esse algo é a energia térmica, medida em Joules. A vazão de energia térmica
Q (que recebe o nome de taxa de transferência de calor) é então dada em Joules
por segundo, ou seja, Watts. Se o calor é algo que escoa, podemos entender as duas
placas como dois tubos ligados, o segundo (B) ao final do primeiro (A). Assim, para
que o calor chegue no tubo B ele terá que atravessar integralmente o tubo A e,
ainda além, todo o calor que atravessa o tubo B, atravessou também o tubo A. Se
medirmos essa vazão de energia térmica na entrada do tubo A, o valor QA , ou na
saída do tubo B, o valor QB , certamente esses dois valores serão iguais (veja que,
na nossa analogia, os tubos não tem vazamentos laterais!). Portanto, QA = QB .
Agora, verificaremos o que acontece com as temperaturas. Usando um simples
truque algébrico, podemos relaionar as temperaturas na forma abaixo
T1 − T3 = (T1 − T2 ) + (T2 − T3 )
Então, substitui-se as diferenças de temperatura pela respectiva equação da taxa de
transferência de calor e define-se uma resistência térmica equivalente Re,1−3 para
representar a taxa de transferência de calor Q1 em termos da diferença total T1 − T3 .
Com esse procedimento, obtém-se
Re,1−3 Q1 = Rk,1−2 Qk,1−2 + Rk,2−3 Qk,2−3
∑
N −1
RT,1−N = Rk,i−i+1 (11.27)
i=1
e
(T1 − TN )
Q1 = QN = (11.28)
RT,1−N
Exemplo 4:
Considere um material composto formado por um placa metálica sanduichada
entre duas placas cerâmicas formando uma associação em série. As faces externas
das placas cerâmicas estão nas temperaturas T1 e T2 respectivamente. Determine a
taxa de transferência de calor Qk,1−2 na direção transversal (direção x na figura).
Negligencie a transferência de calor através das superfícies superior e inferior.
w
Qk,1-2
H
x
a b a
Solução:
Para a geometria indicada, a taxa de transferência de calor entre as superfícies
nas temperaturas T1 e T2 é dada por
T1 − T2
Qk,1−2 = (11.29)
Rk,1−2
Considere agora que as duas placas, ao invés de serem colocadas face-à-face, são
colocadas lado-à-lado, com um contato perfeito. Vamos assumir que as temperat-
uras das faces das placas são mantidas iguais, ou seja, ambas as placas apresentam
temperatura T1 na face da esquerda e temperatura T2 na face da direita. Como
resultado da diferença de temperatura, cada placa é atravessada por uma taxa de
transferência de calor diferente, (Qk,1−2 )A e (Qk,1−2 )B . A Figura abaixo ilustra essa
situação.
A taxa de transferência de calor total atravessando as placas é a soma daquela
que passa pela placa A com aquela que passa pela placa B, ou seja,
(a) T1 T2
w
(Qk,1-2)A
Q1 ( L 1-2) A Q2
(Qk,1-2)B
( L 1-2) B
x
L
(b) (Qk,1-2)A
(Rk,1-2)A
Q1 Q2
(Qk,1-2)B
(Rk,1-2)B
Figura 11.6: (a) Esquema mostrando duas paredes planas com condutividades tér-
micas kA e kB arranjadas em paralelo e (b) circuito elétrico equivalente.
T1 − T2 T1 − T2 T1 − T2
= + (11.33)
Re,1−2 (Rk,1−2 )A (Rk,1−2 )B
1 1 1
= + (11.34)
Re,1−2 (Rk,1−2 )A (Rk,1−2 )B
L1−2 L1−2
(Rk,1−2 )A = ; (Rk,1−2 )B = (11.35)
kA AA kB AB
Exemplo 5:
Considere um material composto formado por um placa metálica sanduichada
entre duas placas cerâmicas formando uma associação em paralelo. As faces externas
das placas estão nas temperaturas T1 e T2 respectivamente. Determine a taxa de
transferência de calor Qk,1−2 na direção transversal (direção y na figura). Negligencie
a transferência de calor através das superfícies superior e inferior.
T1 T2
L Cerâmica
w
Metal
a
Qk,1-2
b
a Cerâmica
Solução:
Para a geometria indicada, a taxa de transferência de calor entre as superfícies
a temperatura T1 e T2 é dada por
T1 − T2
Qk,1−2 = (11.38)
Rk,1−2
Da associação em paralelo, tem-se
1 1 1 1
= + + (11.39)
Rk,1−2 Rk,c Rk,m Rk,c
360 MÓDULO 11. CONDUÇÃO
Convecção superficial
”Something hidden. Go and find it. Go and look behind the Ranges—
Something lost behind the Ranges. Lost and waiting for you. Go!”
Rudyard Kipling (1865–1936), The Explorer, 1898.
361
362 MÓDULO 12. CONVECÇÃO SUPERFICIAL
Fluido: Tf u
velocidade:
escoamento Qku u condução de
calor
u=0
qk d
partícula
de fluido
Superfície: Ts
(Ts − Tf )
Qku = (12.5)
Rku
Ambiente: Tf h
Qku
Ts
Figura 12.2: Transferência de calor por convecção (superficial) entre uma superfície
com área Aku (m2 ) a uma temperatura Ts e um fluido com temperatura Tf .
Exemplo 1:
Calcule a perda de calor do corpo humano para o ambiente assumindo que
o corpo tem temperatura superficial T1 = 31o C e o ambiente tem temperatura
Tf = 20o C. Em uma situação de briza leve, o coeficiente de convecção é h = 30
W/m2 -K. Assuma que o corpo humano é uma placa plana com largura L = 40 cm
e altura H = 1, 70 m, perde calor por ambos os lados e encontra-se protegido por:
(a) Uma camada de roupa com espessura lr = 2 mm e condutividade kr = 0, 1
W/m-K.
(b) Duas camadas de roupa com espessura lr = 2 mm e condutividade kr = 0, 1
W/m-K intercaladas com uma camada de ar com espessura la = 1 mm e condutivi-
dade ka = 0, 025 W/m-K.
Use a formulação integral.
Solução:
(a) Para as resistências da roupa e do ar externo em série, temos:
T1 − Tf
Q1−f =
RΣ
L 1
RΣ = Rk,1−2 + Rku = +
kAk hAku
366 MÓDULO 12. CONVECÇÃO SUPERFICIAL
lr la lr Espaço com ar
L = lr = 0, 002 m
Ak = 2HL = 2 × 1, 7 × 0, 4 = 1, 36 m
Aku = 2HL = 1, 36 m
Assim,
0, 002 1
RΣ = +
0, 1 × 1, 36 30 × 1, 36
= 0, 0147 + 0, 025
= 0, 0397 o C/W
31 − 20
Q1−f =
0, 0397
= 281 W
31 − 20
Q1−f =
0, 0833
= 132 W
tanh (mLc )
ηa = (12.7)
mLc
πD2
Ak = ; Pku = πD; Lc = L + D/2. (12.10)
4
Ambiente: Ta Qc-a
h
e b
w
Qc-a,a
Qc-a,b
L
Aleta
a
Base
Ts
Figura 12.4: Superfície aletada com duas aletas com seção transversal retangular
uniforme (superfícies estendidas). A figura mostra a geometria e as taxas de trans-
ferência de calor da superfície para o ambiente.
Ts − Ta
Qc−a = (12.17)
Rku,e
onde
1
Rku,e = (12.18)
1/Rku,b + 1/Rku,a
370 MÓDULO 12. CONVECÇÃO SUPERFICIAL
Exemplo 2:
Dois transistores são fixados firmemente em um dissipador feito com uma chapa
de alumínio com espessura e = 5 mm dobrada de maneira a formar duas superfícies
estendidas, conforme a figura. O comprimento das superfícies é L = 60 mm e o
espaçamento entre elas é b = 40 mm. Esse dissipador está exposto ao ambiente com
ar a Ta = 30 o C e coeficiente de convecção médio com a superfície do dissipador
de h = 80 W/m2 -o C. A efetividade das superfícies estendidas é ηa = 0, 8. Cada
transistor dissipa uma energia térmica Ṡe,J = 20 W. Obtenha o comprimento mínimo
necessário para o conjunto w(m) se a temperatura dos transistores não deve exceder
Tc = 80 o C. Negligencie outras formas de transferência de calor e assuma que a
operação ocorra em regime permanente.
Ambiente: Ta Qc-a
h
e b
L
Aleta
a
Tc
Base
Solução:
A aplicação da equação da conservação da energia para um volume de controle
12.2. SUPERFÍCIES ESTENDIDAS 371
Assim, tem-se
2Ṡe,J 1 1
= +
(Tc − Ta ) Rku,b Rku,a
= h̄Aku,b + ηa h̄Aku,a
= h̄bw + ηa h̄2 (2L + e) w + ηa h̄4Le
= wh̄ [b + 2ηa (2L + e)] + ηa h̄4Le
Isolando w tem-se
[ ]
1 2Ṡe,J
w= − ηa h̄4Le
h̄ [b + 2ηa (2L + e)] (Tc − Ta )
Portanto,
w = 0, 0377 m = 3, 8 cm.
A Apêndice 1 lista várias correlações que são utilizadas para previsão do coe-
ficiente de convecção superficial.
374 MÓDULO 12. CONVECÇÃO SUPERFICIAL
d [ ] (T1 − T2 )
(ρcp V )1 T1 = − + Ṡ1 (12.21)
dt Re,1−2
que torna-se independente de ρcp Vvc . Você deve ser capaz de mostrar, através de
um balanço de calor, que esta é a solução em regime permanente para o problema.
A resistência térmica equivalente Re,1−2 pode ter componentes de convecção
superficial e condução de calor, como mostram os exemplos abaixo.
Exemplo 3:
A figura mostra um modelo de um motor elétrico como um cilindro com
diâmetro D(m) e comprimento L(m). O motor está inicialmente a uma temper-
atura uniforme Tm,o . Ele é então colocado em operação e parte da energia que é
fornecida a ele é convertida em energia térmica na taxa volumétrica sm (W/m3 ). O
motor perde calor por convecção superficial para o ar ambiente que está na tem-
peratura constante Tf (o C). Em função do ventilador montado no próprio eixo do
motor, estabelece-se um coeficiente de convecção superficial h (W/m2 -o C). Deseja-se
determinar a temperatura do motor em função do tempo. Negligencie a troca de
calor por radiação.
Fluido Tf
externo: hf
Qku,m-f
L
Sm
D
motor
Tm de indução
Solução:
Considerando o motor elétrico como um cilindro, tem-se
( )
πD2 πD2
V = L; Aku = πDL + 2 (12.26)
4 4
Exemplo 4:
Considere o condutor metálico abaixo sendo aquecido por efeito Joule e iso-
lado com duas camadas finas de polímero (isolante térmico). O condutor metálico
apresenta temperatura uniforme Tc . A cobertura de polímero apresenta resistência
térmica de condução Rk,c−2 e estão em contato externamente com um fluido es-
coando em velocidade elevada com temperatura uniforme T2 . Neste exemplo, vamos
considerar que este condutor está em contato com um grande número de condutores
arranjados lado-a-lado e, assim, não há condução de calor na direção lateral (devido
à simetria do campo de temperatura).
Solução:
Para a geometria mostrada, assumindo que o condutor apresentava temper-
atura inicial Tc,o , a variação com o tempo da temperatura do condutor é dada por
d [ ]
(ρcp V )c Tc = −2 Qk,c−2 + Ṡc (12.32)
dt
12.4. TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONVECÇÃO TRANSIENTE 377
Isolante
Qk,1-2
w
L Condutor
T1
b T2
-
Qk,1-2 Isolante
+
Figura 12.7: Exemplo 4.
ou [ ]
d [ ] (Tc − T2 )
(ρcp V )c Tc = −2 + Ṡc (12.33)
dt Rk,c−2
( ) [ ( )]
−t −t
Tc (t) = T2 + (Tc,o − T2 ) exp + ac τc 1 − exp (12.34)
τc τc
onde
Ṡ1 Re I 2 △φ2 /Re
τc = (ρcp V )c Rk,1−2 = ρc cp,c (bwL) Rk,1−2 ; a1 = = =
(ρcp V )c ρc cp,c (bwL) ρc cp,c (bwL)
(12.35)
onde
ρe L
V = bwL; A = bw; Re = (12.36)
bw
Exemplo 5:
A água contida em um copo dentro de um forno de microondas está sujeita a
uma geração de calor de ṡ = 2 W/cm3 . Ao mesmo tempo que é aquecida, ela perde
calor para o ambiente no interior do forno através da superfície lateral do copo e da
378 MÓDULO 12. CONVECÇÃO SUPERFICIAL
d
(ρcp T V ) = −qA + ṡV
dt
Da geometria do copo,
πD2 πD2
A = πDL + ; V = L
4 4
(a) Assumindo que a perda de calor ocoore na taxa constante q = qa , tem-se:
dT
ρcp V = −qa A + ṡ V
dt
Rearranjando, obtém-se
dT −qa A + ṡ V
=
dt ρcp V
Integrando esta equação entre T = To para t = 0 e T = T (t) para qualquer
tempo t, obtém-se
−qa A + ṡ V
T (t) = To + t
ρcp V
12.4. TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONVECÇÃO TRANSIENTE 379
T − Ta 1
Q = qA = , Rku =
Rku ha A
Assim, tem-se:
dT T − Ta
ρcp V =− + ṡ V
dt Rku
Rearranjando, obtém-se
dT
= aT + b
dt
onde
( )
−1 1 Ta
a= , b= + ṡ V
ρcp V Rku ρcp V Rku
[ ]
1 aT (t) + b
ln =t
a aTo + b
Isolando T (t),
1
T (t) = [(aTo + b) exp (at) − b]
a
T (t → ∞) = Ta + Rku ṡ V
380 MÓDULO 12. CONVECÇÃO SUPERFICIAL
12.5 Generalização
qu = ρeu (12.37)
onde ρ(kg/m3 ) é a massa específica, e(J/kg) é a energia interna específica e u(m/s)
é o vetor velocidade para a substância em escoamento.
Este vetor descreve o fluxo de calor na direção do escoamneto que representa
a energia carregada pelas partículas do fluido na forma de energia interna através
de uma área unitária normal ao escoamento.
Para gases ideais ou substâncias incompressíveis, pode-se escrever
qu = ρcp uT (12.38)
∂
(ρcp T ) = ∇· (−ρcp uT + k∇T ) + ṡ (12.39)
∂t
ou, expandindo-se a notação para gradiente e divergente,
( ) ( ) ( )
∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂T ∂ ∂T ∂ ∂T
(ρcp T )+ (ρcp uT )+ (ρcp vT )+ (ρcp wT ) = k + k + k +ṡ
∂t ∂x ∂y ∂z ∂x ∂x ∂y ∂y ∂z ∂z
(12.40)
Ainda, quando a condutividade térmica k e a capacidade térmica ρcp podem
ser considerados uniformes e constantes, obtém-se
( )
1 ∂uT ∂vT ∂wT ∂T ∂ 2T ∂ 2T ∂ 2T ṡ
+ + + = 2
+ 2
+ 2
+
α ∂x ∂y ∂z ∂t ∂x ∂y ∂z k
1 ∂uT ∂ 2T ṡ
= 2
+ (12.42)
α ∂x ∂x k
Na ausência de geração de calor, pode-se escrever
1 ∂uT ∂ 2T
= (12.43)
α ∂x ∂x2
Note que a solução desta equação ainda depende da especificação de uma
função para a velocidade u, a qual é fornecida pela solução do escoamento. Quando
a solução do escoamento pode ser obtida independentemente da solução para a
transmissão de calor, diz-se que a convecção é forçada. Em caso contrário, tem-se
um problema conjugado témico e hidrodinâmico. Este é o caso, por exemplo, da
convecção livre.
T − T2 exp (ux/α) − 1
=1− (12.44)
T1 − T2 exp (uL/α) − 1
Radiação
”When you change the way you look at things, the things you look at change.”
Max Planck (1858-1947), Nobel de Física em 1918.
383
384 MÓDULO 13. RADIAÇÃO
J
B
rB
eEb
Superfície do sólido
Eb Interior do sólido
aB
tB
de radiação térmica. Por outro lado, a irradiação Bi contabiliza toda a radiação que
chega à superfície i proveniente de todas as outras superfícies j. Assim, a taxa de
transferência de calor por radiação, líquida, deixando a superfície i, Qr,i (W), é
5 3
Qr,1 4
Qr,1 3
Qr,1 5
Qr,1 6 Qr,1 2
2
6
Qr,1
Figura 13.3: Transferência de calor por radiação da superfície i=1 para as outras
superfícies j=2, 3, 4, 5 e 6 em uma cavidade formada por 6 superfícies planas.
i j
Qr,i j
Qr,j i
Então,
Qr,i,j = Ai Fi→j (Ji − Jj ). (13.19)
Considerando que N seja o número de superfícies participando da troca de calor por
radiação, e somando as trocas de todas superfícies j com a superfície i, tem-se
∑
N ∑
N
Qr,i = Qr,i,j = Ai Fi→j (Ji − Jj ). (13.20)
j=1 j=1
Qr,1-2 T2
T1
Figura 13.5: Transferência de calor por radiação entre duas superfícies difusas,
opacas e cinzas.
Qr,1-2 T2
T1
Figura 13.6: Transferência de calor por radiação entre duas superfícies difusas,
opacas e cinzas, sendo que a segunda superfície envolve completamente a primeira
(F1−2 = 1).
Exemplo 1:
O vidro traseiro de um automóvel está sujeito, externamente, ao vento com
13.5. MODELAGEM POR CIRCUITO TÉRMICO EQUIVALENTE 395
Tc
Qr,2-c
W
Qku,1-i
Qku,2-f
T1 T2
Qr,2-c
T1 T2
Qku,1-i
H
Qku,2-f
Solução:
396 MÓDULO 13. RADIAÇÃO
onde Qk,1−2 é a taxa de transferência de calor da face interna para a face externa
do vidro, Qku,2−a é a perda de calor por convecção da face externa do vidro para o
ar ambiente e Qr,2−c é a perda de calor por radiação da face externa do vidro para
o céu noturno.
Cada uma dessas taxas é dada por:
Para a condução no vidro:
T1 − T2
Qk,1−1 =
Rk,1−2
e
Rk,1−2 = , Ak = W H
kAk
T2 − Ta
Qku,2−a =
Rku,2−a
1
Rku,2−a = , Aku = W H
hAku
Ak = HW = 0, 9 × 1, 5 = 1, 35 m2
Aku = Ar = Ak = 1, 35 m2
13.5. MODELAGEM POR CIRCUITO TÉRMICO EQUIVALENTE 397
T2 − Ta 293 − 288
Qku,2−a = = = 1012, 5 W
Rku,2−a 0, 00494
Para a troca de radiação com céu noturno:
Qr,2−c = σSB εr Ar (T24 − Tc4 ) = 5, 67 × 10−8 × 0, 9 × 1, 35 × (2934 − 2704 ) = 1421, 6 W
Assim,
T1 = T2 + Qk,1−2 Rk,1−2 = 293 + 1154 × 0, 00463 = 298K = 25 o C
(b) Assumindo que não haja perda para o interior do automóvel, a geração
elétrica na superfície interna deverá ser
Qk,1−2 1097
se,J = = = 855 W/m2
Ak 1, 35
Combinação de mecanismos
“ Alice: Would you tell me, please, which way I ought to go from here?
The Cheshire Cat: That depends a good deal on where you want to get to.
Alice: I don’t much care where.
The Cheshire Cat: Then it doesn’t much matter which way you go.
Alice: ...So long as I get somewhere.
The Cheshire Cat: Oh, you’re sure to do that, if only you walk long enough.“
Charles Lutwidge Dodgson, Alice in Wonderland, 1865.
399
400 MÓDULO 14. COMBINAÇÃO DE MECANISMOS
Da mesma forma que para as outras provas, a prova 3 será individual e sem
consulta. A prova 3 terá três questões aplicadas e uma questão teórica.
A seguir, estão alguns exemplos tirados de provas anteriores.
14.2 Exercícios
Problema 1:
14.2. EXERCÍCIOS 401
Problema 2:
Um aquecedor de resistência elétrica fino e transparente é utilizado para manter
um visor de cristal líquido aquecido durante o inverno. O aquecedor é colocado atrás
do visor e o visor estará em contato com o ambiente externo. Atrás do aquecedor,
existe a placa de circuitos que controla o visor. O aquecedor é formado por um fio
de cobre com seção transversal a = 0, 4 mm e b = 0, 0254 mm e comprimento total
L = 70 cm depositado sobre uma membrana de plástico transparente com dimensões
W = 10 cm e H = 2 cm. Assuma que a mesma quantidade de calor é transferida
para o visor na frente e para o circuito nas costas do aquecedor (a energia gerada
é dividida igualmente). Para que o visor receba uma quantidade de calor de 1000
W/m2 , calcule:
(a) Calcule a taxa de geração de calor volumétrica no fio por efeito Joule
ṡe,J (W/m3 ) necessária.
(b) A tensão ∆φ(V) necessária.
(c) A corrente I(A) no aquecedor.
Use a formulação integral. Para o cobre use ρe = 1, 725 × 10−8 Ohm-m.
Problema 3:
402 MÓDULO 14. COMBINAÇÃO DE MECANISMOS
Problema 4:
O vidro traseiro de um automóvel está sujeito, externamente, ao vento com
temperatura Tf = 15o C e coeficiente de convecção h = 150 W/m-K, correspondente
ao carro trafegando em uma auto-estrada. Também está exposto à troca de calor
por radição com o céu noturno a Tc = 270 K. Considere que a emissividade do vidro
e do céu noturno sejam ambas εr,v = εr,c = 1. O vidro tem dimensões W = 1, 5
m, H = 0, 7 m, espessura e = 5 mm e condutividade térmica kv = 0, 8 W/m-K.
Assuma regime permanente e F1−2 = 1.
(a) Caso a temperatura da face externa do vidro deva ser mantida a T2 = 17, 8
o
C para evitar o seu embaçamento, determine a temperatura da face interna T1 (o C).
(b) Calcule a quantidade de calor por efeito Joule por metro quadrado de
parabrisa Ṡe,J /A (W/m2 ) que precisa ser gerada no desembaçador do vidro para
que as temperaturas do ítem (a) sejam mantidas. Negligencie perda de calor para o
ambiente interno do automóvel.
(c) Calcule a contribuição percentual da troca de calor por radiação com o céu
noturno na perda de calor total do vidro.
Resposta: (a) T1 = 21, 08 o C, (b) Ṡe,J /A = 525 W/m2 , (c) Qr,s−c /Qt = 19, 9
%.
Problema 5:
Uma janela de vidro duplo possui dimensões a = 2 m e b = 1, 5 m. As lâminas
de vidro possuem espessura l = 3 mm e o espaço entre as lâminas possui dimensão
e = 8 mm. O ambiente interno à construção possui temperatura do ar Ti = 22o C e
14.2. EXERCÍCIOS 403
Resposta: (a) QJ = 48, 5 W, (b) QJ+P = 2448, 5 W, (c) Sim, pois a perda
pela parede representa 98 % da perda total do conjunto janela+parede.
Problema 6:
As garrafas térmicas possuem internamente um recipiente de vidro com paredes
duplas e espelhadas. O espaço entre as paredes é evacuado de forma que a única
transferência de calor que ocorre neste espaço é por radiação térmica. Considere
uma garrafa com geometria cilíndrica com diâmetro interno Di = 10 cm, espessura
do espaço evacuado de e = 5 mm e altura L = 20 cm. A garrafa contém um líquido
quente e a superfície interna da garrafa está a Ti = 80o C. A superfície externa está
a Te = 25o C.
Problema 7:
404 MÓDULO 14. COMBINAÇÃO DE MECANISMOS
Problema 8:
Uma parede com dimensões H = 3 m e L = 5 m é construída de alvenaria
com espessura w = 10 cm e condutividade térmica kt = 2, 5 W/m-K. Esta parede
é exposta a um ambiente externo com temperatura Te = 28o C e coeficiente de
convecção he = 100 W/m2 -K. Internamente, a parede é exposta ao ambiente interno
que possui temperatura Ti = 22o C e coeficiente de convecção hi = 10 W/m2 -K.
Deseja-se avaliar a importância da utilização de uma camada de isolante térmico
aplicada na parede na redução da transferência de calor para o ambiente interno.
Considere que você tem disponível comercialmente um isolante térmico feito de lã
de vidro com espessura ei = 25 mm e condutividade térmica ki = 0, 4 W/m-K. Para
terminar a aplicação do isolante térmico, a parede é revestida internamente por uma
placa de madeira aglomerada com espessura em = 6 mm e condutividade térmica
km = 1, 5 W/m-K. Determine o percentual de redução na taxa de transferência de
calor para o ambiente interno quando o isolante térmico revestido com madeira é
aplicado sobre toda a superfície interna da parede. Defina a redução percentual
como
Qsem idolamento − Qcom isolamento
R(%) = × 100
Qsem idolamento
Problema 9:
Deseja-se avaliar a vantagem de se utilizar janelas com vidro duplo com o
objetivo de diminuir a troca de calor entre o interior de uma construção e o ambiente
externo. Para isso, analise duas situações:
(a) Uma janela com 1 m2 de área formada por uma única lâmina de vidro
com espessura e = 3 mm. A condutividade térmica do vidro é kv = 0, 8 W/m-K. O
ambiente externo está a 35o C e apresenta coeficiente de convecção com a janela igual
a 200 W/m2 -K. O ambiente interno esta a 22o C e apresenta coeficiente de convecção
com a janela igual a 10 W/m2 -K. Obtenha a taxa de transferência de calor de fora
para dentro através da janela Q1 (W).
(b) Uma janela com 1 m2 de área formada por duas lâminas de vidro com
espessura e = 3 mm contendo um espaçamento de ar com espessura la = 5 mm entre
as lâminas de vidro. Assuma que condução de calor é o mecanismo prevalente através
do ar entre as lâminas de vidro e que a condutividade térmica do ar é ka = 0, 026
W/m-K. As demais condições do item (a) permanecem constantes. Obtenha a taxa
de transferência de calor de fora para dentro através da janela Q2 (W).
Resposta: (a) Q1 = 119, 5 W, (b) Q2 = 42, 6 W.
Problema 10:
Um filme de polímero com comprimento L = 2 m e largura W = 1 m recebe
irradiação de um aquecedor infravermelho com intensidade qr,i = 1400 W/m2 , que
atinge uniformemente toda a superfície do filme por ambos os lados. A absortividade
da superfície do polímero é αr = 0, 85. Ao mesmo tempo, ele perde calor por
convecção para o ar no interior do forno, sendo a temperatura da superfície do filme
Ts = 90o C, a temperatura do ar Tf = 50o C e o coeficiente de convecção h = 20
W/m2 -K, e perde calor por radiação térmica para as superfície no interior do forno,
que estão à temperatura Tv = 60o C. A emissividade da superfície do polímero é
εr = 0, 85.
(a) Calcule as taxas de transferência de calor do filme para o ar por convecção
Qku e do filme para as paredes do forno por radiação Qr .
(b) Quanto representam as perdas de calor por convecção e por radiação em
relação à absorção de radiação térmica? Comente sobre o efeito da perda de calor
na energia que é realmente absorvida pelo polímero.
Resposta: (a) Qku = 3200 W, Qr = 977 W, Ṡr,α = 4760 W, Qs = 583 W
absorvidos pelo filme de polímero (o filme está esquentando).
Problema 11:
406 MÓDULO 14. COMBINAÇÃO DE MECANISMOS
Uma batata assada e recheada com manteiga, queijo mussarela e bacon frito é
deixada esfriar sobre uma mesa, enquanto que o dono da batata enfrenta uma fila
para pegar seu suco de laranja. A batata, do tipo grande, pode ser modelada como
uma esfera com raio R = 5 cm. As propriedades da batata recheada podem ser
aproximadas por ρ = 850 kg/m3 e cp = 2800 J/kg-K. A batata, inicialmente a To =
250o C está em contato com ar ambiente a Ta = 25o C e o coeficiente de convecção
é h = 60 W/m2 -K. A batata perde calor por toda a sua superfície. Negligencie a
perda por calor no contato com o prato e a perda de calor por radiação térmica.
Calcule o tempo que a batata demorará para esfriar até Tf = 50o C. Admite-se que
o dono da batata possa permanecer na fila durante este tempo e ainda encontrá-la
em condições aceitáveis de consumo.
Resposta: τ1 = 661 s, a1 = 0 C/s, e a solução é tf = 1453 s = 24 min.
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