Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

Livro Das Aguas WWF Brasil - Cleaned

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 68

Check Point Threat Extraction secured this document Get Original

ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

C A D E R N O S D E E D U C A Ç Ã O A M B I E N T A L

ÁGUA PARA A VIDA


ÁGUA PARA TODOS

L I V R O D A S Á G U A S

1
EXPEDIENTE

Secretária Geral – WWF-Brasil


Denise Hamú

Superintendente de Conservação – WWF-Brasil


Rosa Lemos de Sá

Coordenação – WWF-Brasil
Larissa Costa – Programa de Educação Ambiental e Samuel Roiphe Barrêto – Programa Água para a Vida

Textos e Concepção Pedagógica


Andrée de Ridder Vieira – Instituto Supereco

Colaboração nos Textos


Larissa Costa – WWF-Brasil e Mônica Pilz Borba

Pesquisa
Albina Cusmanich Ayala, Eliane Santos, Luciana Nocetti Croitor, Maria Ficaris, Vinicius Madazio e Instituto Supereco

Revisão Técnico-pedagógica
Anita Pereira do Amaral, Elite Ribeiro Valotto, Mônica Osório Simons e CEAG

Colaboração
Anderson Falcão, Mariana Antunes Valente e Waldemar Gadelha Neto – WWF-Brasil

Revisão
Vicente Emygdio Alves

Ilustrações
Ronaldo Coutinho

Ilustrações em Massa de Modelar


Liliane Dornellas

Projeto Gráfico e Editorial


Via Impressa Projetos Editoriais Ltda

Editoração Eletrônica
Via Impressa Projetos Editoriais Ltda

CTP/Impressão
Laborprint Gráfica e Editora

Dados Internacionais de Catalogação (CIP)

WWF-Brasil.

Cadernos de Educação Ambiental Água para Vida , Água para Todos:


Livro das Águas / Andrée de Ridder Vieira texto:; Larissa Costa e Samuel
Roiphe Barrêto coordenação – Brasília: WWF-Brasil, 2006

72 p. 28 cm.
Bibliografia.
ISBN - 85-86440-18-3

1. Educação Ambiental. 2. Recursos Hídricos. 3. Meio Ambiente. I. Vieira, Andrée


de Ridder. II. Costa, Larissa. III. Barrêto, Samuel Roiphe. IV. Título. V. Título: Livro
das Águas.
CDD 372.357
CDU 372.32

2
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

C A D E R N O S D E E D U C A Ç Ã O A M B I E N T A L

ÁGUA PARA A VIDA


ÁGUA PARA TODOS

L I V R O D A S Á G U A S

Textos Realização

Andrée de Ridder Vieira

3
Educação Ambiental pelas águas do Brasil
O WWF-Brasil tem a grande satisfação de apresentar os Cadernos de Educação Ambiental
Água para Vida, Água para Todos. Com eles, queremos convidá-lo a embarcar conosco numa
importante missão.

Os Cadernos de Educação Ambiental Água para Vida, Água para Todos são um material educativo
que objetiva envolver as pessoas com o cuidado das águas do Brasil. O primeiro dos dois volu-
mes da publicação, o Livro das Águas, traz um conjunto de informações sobre a situação das
águas no país e visa estimular a pesquisa, a vontade de conhecer e de participar no seu cuidado
e gestão. O segundo, um Guia de Atividades, sugere uma série de ações e práticas para sensibi-
lizar, construir conhecimentos, despertar a criatividade ao lidar com questões ambientais e cha-
mar pessoas e grupos à ação pelo meio ambiente.

Sugerimos que o Livro das Águas e o Guia de Atividades andem sempre de mãos dadas, pois
a interação entre eles certamente enriquece e amplia as possibilidades de uso do material. Não
deixe de visitar as páginas centrais dos dois volumes, lá você vai encontrar dados e curiosida-
des, orientações e sugestões para o seu uso. Vai encontrar ainda, indicações de conexões entre
o Livro das Águas e o Guia que podem ajudar bastante no planejamento e aprofundamento do
trabalho com o tema.

As publicações se destinam a todos que se interessem e queiram se aventurar pelo tema das
águas, do meio ambiente e da educação ambiental. O material é muito versátil e pode ser adap-
tado por educadores, professor, monitores, recreacionistas, gestores sociais, líderes comunitários
e outros, no desenvolvimento de atividades de educação ambiental e mobilização social com
vários públicos. Por meio de uma linguagem simples e interessante, quase uma conversa, ele nos
convida a olhar no espelho das águas e buscar nossa imagem refletida. Seja no trabalho, na
faculdade, no condomínio ou na comunidade, basta querer inovar e recriar as atividades de acor-
do com a sua realidade local.

Quando utilizados no espaço da escola, os Cadernos de Educação Ambiental Água para Vida,
Água para Todos podem ser uma ótima oportunidade de trabalhar questões ambientais. Eles são
um instrumento pedagógico muito favorável à construção de processos transversais em Educa-
ção Ambiental. Que tal sua escola adotar a conservação da água como tema gerador? Vale lem-
brar que o desenvolvimento destas atividades poderá ser melhor se trabalhado de forma integra-
da ao Projeto Pedagógico da escola e se forem fruto de um esforço conjunto de professores,
coordenadores e supervisores pedagógicos e o diretor da escola juntamente com toda a comuni-

4
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

dade escolar. Ao trazer para dentro do seu espaço as questões do mundo real, discutindo
problemas e assumindo responsabilidades na mudança, a escola realiza seu importante
papel na construção social.

A água, bem fundamental para a vida, influencia nossa história, cultura, formas de viver e
cotidiano. Ela está dentro de nós, como 70% do nosso corpo, e em toda parte. É um reflexo
do que somos. Sem ela a vida se esvai e nosso lindo Planeta Azul pode até mudar de cor.

O Brasil é o país mais rico do mundo em recursos hídricos. Conta com 13,7% da água
doce disponível do planeta, além de abrigar enorme biodiversidade como o Pantanal –
a maior área úmida continental do mundo – e a Várzea Amazônica, a mais extensa floresta
alagada da Terra. Apesar da privilegiada situação quanto à quantidade e à qualidade de
suas águas, nossos recursos hídricos não vêm sendo utilizados de forma correta e res-
ponsável. Super exploração, despreocupação com os mananciais, má distribuição, polui-
ção, desmatamento e desperdício são fatores que demonstram a falta de cuidado com
este valioso bem. O mau uso põe em risco a vida de todos os seres vivos e afeta direta-
mente as diversas atividades humanas.

A Missão Água para a Vida, Água para Todos é um desafio para resgatar nossa ligação
com a Terra, rever nossas ações individuais e coletivas e compartilhar reflexões com outras
pessoas sobre como vamos cuidar das águas do Brasil. Leia, use, adapte e reinvente estes
Cadernos. Eles são apenas um ponto de partida desta importante missão.

Venha conosco! Cuidemos das águas do Brasil e de nós!


O futuro está nas nossas mãos!

Denise Hamú
Secretária Geral
WWF-Brasil

Larissa Costa
Programa de Educação Ambiental
WWF-Brasil

Samuel Roiphe Barrêto


Programa Água para a Vida
WWF-Brasil

5
Sumário

08 Capítulo 1 - Espelho d’água


Distribuição da água na terra
Distribuição da água doce no mundo
De onde vem e para onde vai a água que usamos
Tabela sobre usos e abusos da água
Principais conflitos

16 Capítulo 2 - Fontes d’água


Cuidando dos mananciais
Mananciais importantes para o abastecimento em capitais brasileiras
A importância de proteger as áreas úmidas

20 Capítulo 3 - O sorriso de um rio


O respeito pela vocação de um rio
Caso Tietê
Caso São Francisco

24 Capítulo 4 - De bem com a vida


Quando a saúde fica doente
Doenças transmitidas pela água,
Quando o meio ambiente fica doente
Fazendo a nossa parte
Abastecimento de água, esgoto, lixo e energia nas escolas brasileiras,
A água que salva (soro caseiro)

30 Capítulo 5 - A última gota


Disponibilidade de água no mundo x concentração populacional
Um país de contrastes
O grande jogo da vida
A livre negociação da água

36 Capítulo 6 - No fundo do poço


Desmatamento
Agricultura mal planejada
Construção de reservatórios e barragens
Mineração

6
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Uso inadequado e desordenado do solo


Despejo de efluentes
Poluição difusa e fontes geradoras de poluição da água x impacto

42 Capítulo 7 - Águas sem fronteiras: a gestão depende de cada um


O que é e como se forma uma bacia hidrográfica
Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos
Os Comitês de Bacias Hidrográficas e suas competências
Como participar de um comitê
Por dentro das leis das águas
Outorga: o direito de uso da água
Cobrança: cobrar hoje e poupar para o futuro
Fundamentos da política de gestão de recursos hídricos
O papel de cada um

50 Capítulo 8 - Janelas do futuro


ETA
ETE
Sanitário seco
Gestão integrada do lixo
Reuso e reciclagem das águas
Captação de água da chuva
Dessanilização da água
Biorremediação
Fundindo água e floresta
Eficiência energética
Sistema de irrigação
Planos de manejo sustentável

58 Capítulo 9 - Ciranda d’água


Músicas, orações e poemas com a água

62 Capítulo 10 - Unindo os pingos d’água


A mobilização nas escolas e na comunidade

65 Referências bibliográficas e dicas de sites

7
1 Espelho d´água

A ONU – Organização das Nações Unidas escolheu o período de 2005 a 2015 como
a Década Internacional da Água, com o lema: “Água, fonte de Vida”. O ano de 2003 também foi
um marco para o tema, sendo considerado o Ano Internacional da Água Doce. É um convite para
parar e refletir sobre de que água estamos falando. Reflexo, água e reflexão se misturam, para
tentarmos entender por que tanto se discute sobre o assunto.

Falamos de um elemento natural, cuja falta impede a vida na Terra; de um bem universal e de
direito de todos; de um elemento sem cor, sem cheiro e sem sabor, mas que pode inspirar artistas,
músicos e poetas; de um meio de purificação e renovação da alma como acreditam os índios e os
sacerdotes; do fluído do útero materno que germina as sementes de nossas vidas e de um bem
econômico que garante o desenvolvimento e o progresso.

Há muitas definições para a água. Convidamos cada um a se debruçar sobre um lago, sobre um
rio ou uma fonte. Que imagem nós vemos refletida? Reflexo, do latim reflectere, significa “voltar
para trás”, uma tomada de consciência. Como cada um vê e sente o elemento água em sua vida
e de que forma se relaciona com ele?

O tema da campanha da ong WWF-Brasil e de nossa missão Água para a Vida, Água para
Todos é um desafio para resgatar nossa ligação com a Terra, rever nossas ações individuais e
coletivas e compartilhar reflexões com os demais integrantes do Planeta Azul.

A superfície da Terra é dominada, em 75%, pelas águas. Os 25% restantes são terras emersas, ou
seja, acima da água. Tamanha abundância de água cria condições essenciais para a vida e
mantém o equilíbrio da natureza.

Quem pensa que tanta água está disponível para o consumo humano está enganado, pois somen-
te 2,7% é de água doce e grande parte está congelada ou embaixo da superfície do solo.

Distribuição da água na Terra Distribuição da água doce


no mundo

Água salgada Gelo das calotas polares


Água doce Água subterrânea
Lagos e pântanos
Rios
Atmosfera

Fontes: www.rededasaguas.org.br

8
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

A água de fácil acesso, dos rios, lagos e represas, representa


muito pouco do total de água doce disponível. Mas água doce
também não significa água potável. Para isso a água precisa ser
de boa qualidade, estar livre de contaminação e de qualquer subs-
tância tóxica. Acredita-se que menos de 1% de toda a água doce
do Planeta está em condições potáveis. Realizando a atividade
Água é Vida e Indigestão de um curso d’água do Guia de
Atividades, ficará bem mais fácil entender a situação.

Instituto Supereco
O problema se agrava, quando a quantidade de água doce, de
que também necessita a própria natureza, tem múltiplos usos,
sendo utilizada, ao mesmo tempo, por todos os habitantes do
planeta e muitas vezes de forma pouco sustentável.
A água faz parte do
Só a agricultura consome 70% da água doce mundial. A irriga- patrimônio do planeta.
ção sem tecnologia gera grandes desperdícios e, consideran- Cada continente, cada
do-se a pecuária, os pastos e a água para os rebanhos, o con- povo, cada nação,
sumo é ainda maior. Essas atividades, juntas, também geram cada região, cada
outros impactos, como a remoção de grandes áreas de vege-
cidade, cada cidadão,
tação e das matas ciliares, que protegem os rios e o solo, e
causam a poluição das águas pelo despejo dos agrotóxicos. é plenamente
responsável aos olhos
Estaríamos em melhor situação, se houvesse bom uso e boa de todos.
gestão dos recursos hídricos. Afinal, o pior hábito é o desper-
dício e o desconhecimento. Muitos ainda pensam: “Tem muita Artigo 1 da Declaração Universal
dos Direitos da Água
água, então, para que economizar?”

Usos da água no mundo

Agricultura
Indústria
Uso doméstico

World Bank, 2001

9
1 Espelho d´água
As informações a seguir podem colaborar com a atividade Água é Vida do Guia de Atividades.

Segmento Usando água Abusando e esbanjando água

“Varrendo” calçadas com água limpa; deixando a torneira aberta


No abastecimento em geral, ao escovar os dentes, fazer a barba, lavar a louça; lavando o
Doméstico na higiene, na limpeza, carro com a mangueira; tomando banhos demorados; torneiras
na culinária, na rega de jardim pingando e vazamentos. Poluindo a água limpa: lançando lixo
e hortas. e esgoto nos rios e córregos ou no vaso sanitário, entupindo
os encanamentos; não limpando a caixa d´água.

Desperdício de água na rede de distribuição pelos


Na limpeza de repartições vazamentos.Sistema de abastecimento de água ineficiente,
públicas, lavagem de ruas, saneamento básico, coleta e tratamento de esgoto, vazamentos,
manutenção de fontes não tratando os esgotos coletados que serão devolvidos aos
Público e chafarizes, rega de parques cursos d´água. Planejando de forma inadequada a gestão dos
e áreas verdes, em incêndios, recursos hídricos: separando a administração da água da
como meio de transporte administração do solo, da água subterrânea, da água de
dos efluentes domésticos superfície, do suprimento de água e dos ecossistemas
e industriais. aquáticos, poucos processos de reuso da água.

Lazer, No abastecimento da rede Vazamentos, falta de manutenção de equipamentos, nas regas


turismo e hoteleira, passeios, hidrovias, dos jardins, nas atitudes dos turistas. Lançando o esgoto sem
esporte manutenção de piscinas, represas, tratamento e o lixo diretamente nos rios, córregos e praias.
esportes náuticos, marinas.

Em todos os processos Vazamentos, equipamentos desregulados, lavagem de pisos


produtivos, no resfriamento e ambientes das fábricas com desperdício.Poluindo a água
Industrial
e lavagem de equipamentos, pisos durante a produção e, depois, devolvendo-a, sem tratamento aos
e pátios, banheiros e restaurantes. cursos d’água. Pouco investimento em processos de reuso de água.

Técnicas de irrigação que desperdiçam muita água em vazamentos.


Utilizando excessivamente produtos e adubos químicos. Jogando
Agricultura Na irrigação de todos
embalagens vazias no solo e nos cursos d´água. Desmatando áreas
os tipos de cultura.
de vegetação nativa e de proteção dos cursos d´água. Provocando
a erosão do solo pelo mau planejamento do plantio.

Na limpeza geral e nos diversos


usos em restaurantes, Vazamentos, lavagem de pisos e ambientes de trabalho,
supermercados, postos de pelas atitudes dos funcionários e usuários dos serviços
Comércio
gasolina, lava-a-jato, hospitais, de comércio. Falta de manutenção dos equipamentos.
armazéns, consultórios Lançando lixo, óleo e esgoto.
odontológicos, entre outros.

Falta de manutenção dos bebedouros dos animais, desperdício


de água nos chuveiros para aliviar o calor, na lavagem dos
No fornecimento de água para estábulos, vazamentos nos encanamentos e redes de irrigação
Pecuária os animais e na manutenção das pastagens, técnicas de irrigação que gastam muita água.
das pastagens. Causando erosão nos pastos, assoreando os cursos d´água,
jogando lixo, restos de animais e fezes nos rios e córregos.
Desmatando grandes áreas de vegetação.

Degradando cursos d´água; poluindo a água com óleo, lixo


Navegação Na locomoção de navios, e resíduos da lavagem dos motores e mbarcações.Degradando
e transporte barcos e balsas. as margens dos rios: desbarrancamento das margens pelas
embarcações, provocando a erosão e o assoreamento.

Nas usinas hidrelétricas, na Planejando de forma inadequada os projetos e obras: mudança


Geração geração de energia maremotriz, no regime das águas, desmatamento, perda da fauna nativa,
de energia nos moinhos d’água, nas alagamento de grandes áreas com a necessidade de remoção
barragens e represas. de populações ribeirinhas.

Fonte: Tabela construída a partir das referências bibliográficas pesquisadas.

10
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

A Renovação do Fluido da Vida A mensagem da água.


O cientista japonês Masaru Emoto
coleta amostras para sua pesquisa
Ao olharmos para cima, vemos água caindo do céu. Ao olharmos para planetária, a fim de constatar a influ-
baixo, vemos água brotando do chão. Subindo no alto de uma monta- ência do ambiente sobre a água. Ele
nha, podemos sentir o vapor refrescante das nuvens. Podemos ter a foi um dos principais conferencistas
experiência de andar sobre lagos congelados ou deslizar sobre a neve. do Fórum Mundial da Água, realizado
em Kyoto, Japão, em março de 2003.
Onde olharmos, encontraremos água sólida, líquida ou gasosa. Parece Seu trabalho vem levando à conclu-
que cada tipo tem uma origem diferente, mas, graças ao seu poder mági- são de que “a água pode ser um veí-
co, a água consegue se renovar em tantos lugares e ao mesmo tempo. culo de transmissão de paz e harmo-
nia por onde ela passa”. Seu livro,
Messages from Water, traz várias fo-
Vamos seguir as gotas? tografias de cristais de água, indican-
do sua qualidade sob um ponto de
vista energético. Experiências sub-
metendo amostras de água à música
e a palavras vêm provocando uma
revolução nos meios científicos. Ao
som das palavras “amor e gratidão”
tem-se um dos mais belos cristais de
água já fotografados. Por outro lado,
sob o som de palavras agressivas,
obtêm-se cristais com formas
distorcidas. A nascente de água pura
que jorra das montanhas também
mostra maravilhosos desenhos geo-
métricos em padrões cristalinos, ao
passo que águas poluídas e tóxicas
de áreas industriais, estagnadas ou
de tubulações e represas mostram
estruturas cristalinas disformes. Para
saber mais visite o site www.hado.net

Crédito: www.hado.net

Fonte: Heat, R. Hidrologia Básica das Águas Subterrâneas. United States Geological Survey Water
Sup Paper 2220. wwwcetesb.sp.gov.br

Ao som de palavras amorosas.


A água que está nos mares e oceanos evapora com o aumento da tem-
peratura, subindo para a atmosfera; encontrando camadas de ar frio,
condensa-se e forma as nuvens. Do céu, ela cai na forma de chuva,
granizo ou neve, indo para os mares ou terra. Ao cair, uma parte escorre
pelos terrenos, formando riachos e rios, que podem atravessar cidades,
Estados ou países. Corre das partes mais altas para as mais baixas,
até encontrar um lago, um mar ou um oceano. Outra parte da água infiltra-
se no solo, até encontrar uma rocha que não a deixa passar, preenchen-
do todos os poros ou aberturas que encontra, alimentando as reservas Ao som de palavras agressivas.
de água subterrânea chamadas lençóis freáticos e aqüíferos.

11
1 Espelho d´água

Aqüífero Durante bilhões de anos, a água vem se reciclando naturalmente, sem


Massa rochosa fronteiras ou barreiras geográficas, garantindo vida na Terra e multipli-
com alta porosidade cando seu uso de diversas formas.
e permeabilidade,
contida entre Em função de seu ciclo natural, acredita-se que a água nunca desapare-
pacotes de rochas cerá. Entretanto, se o mau uso continuar, encontrar água potável será
cada vez mais difícil e raro, pois a contaminação ou poluição acontece
impermeáveis,
facilmente e pode ocorrer em qualquer fase do ciclo.
que acumula
água subterrânea Até pouco tempo, o Planeta funcionava como um autopurificador e seus
em quantidade sistemas naturais de filtragem eram suficientes para garantir a limpeza
e com vazão elevada, dos poluentes. O aumento da taxa populacional, somado ao modelo de
permitindo a sua desenvolvimento, propiciou o crescimento desordenado das cidades e o
exploração em fontes lançamento de lixo e esgotos sem tratamento nos corpos d’água. Indús-
naturais ou através trias que lançam produtos tóxicos e o uso irracional de água na agricultura
de poços tubulares levaram ao aumento crescente da demanda por água. A redução de áre-
perfurados no local as verdes pelos desmatamentos vem alterando a quantidade e a qualida-
de da água e o clima. Os mecanismos de “defesa da Terra” acabaram se
para atingir o aqüífero
enfraquecendo e hoje temos um estresse de água. Quem já passou por
em profundidade. uma situação de estresse pode entender o que acontece.
Fonte: www.unb.br/ig/glossario
Apesar do volume de água ser o mesmo desde a formação do planeta
Terra, o consumo vem aumentando, principalmente nos últimos 100 anos,
conforme mostra o Gráfico 1.

Gráfico 1. Valores dos volumes de água consumida no mundo de 1900 até 2000
nos diferentes setores.

Km 3 5000

Uso urbano
Uso industrial
Uso agrícola 4000

3000

Os recursos naturais
de transformação da 2000
água em água potável
são lentos, frágeis
e muito limitados. 1000
Assim sendo, a água
deve ser manipulada
com racionalidade, 0
precaução e
1900 1920 1940 1960 1980 2000
parcimônia.
Artigo 3 da Declaração Universal Fonte: Aurelir Nobre Barreto – engenheiro agrônomo M. Sc. Irrigação e Drenagem,
dos Direitos da Água. pesquisador da Embrapa Algodão

12
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

O ciclo natural da água não tem barreiras, o que aumenta nossa responsabili-
dade com o fluido da vida. Qualquer ação danosa para a água, em nível local,
Você já pensou
pode trazer problemas para milhares de pessoas em nível regional e mundial.
que as mesmas
É como jogar uma gota de tinta em um copo d´água. Ela se espalha rapida-
moléculas de água
mente, mudando a configuração de toda a água do copo.
que os dinossauros
beberam ou que
De onde vem e para onde vai a água que usamos? banharam Cleópatra
podem estar dentro
A água que chega até nós, ou que é utilizada de alguma forma, também retorna de você neste
para a natureza. Captada de um córrego, rio, lago ou reservatório e levada até instante?
uma ETA– Estação de Tratamento de Água para se tornar potável, fica armaze-
nada em reservatórios, de onde será distribuída por meio das redes adutoras
para as nossas torneiras.

A atividade Aquamóvel e Do Rio ao Copo, do Guia de Atividades,


pode contribuir para vivenciar a difícil tarefa de captar a água.

A maior parte da população urbana é abastecida por este processo. No meio


rural, muitas comunidades têm que se virar para obtenção da água, individual
ou coletivamente.
Brasil das águas
Toda água utilizada em casa transforma-se em esgoto ou efluente, devendo formosas
ser direcionada por meio de uma rede oficial coletora para uma ETE – Estação
de Tratamento de Esgoto. Consulte o capítulo Janelas do Futuro para “Os rios caudaes
compreender melhor este processo. Na estação, o esgoto tratado se transfor- de que esta provincia
ma em água, sendo devolvida aos rios em condições de não prejudicá-los, he regada são
incluindo peixes e outros organismos aquáticos. inumeraveis,
e alguns mui grandes,
Nem sempre o acesso à água tratada, à coleta e ao tratamento de esgotos é e mui formosas barras,
realidade de todos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-
não fallando em
tística-IBGE, em 2001, ainda existiam 116 municípios brasileiros sem abaste-
cimento de água, 33 sem coleta de lixo e 2.658 sem rede de esgoto no Brasil.
as ribeiras, ribeiros
Os capítulos A Última Gota e De Bem com a Vida mostram as desigual- e fontes de que toda
dades sociais causadas pela falta d’água e de saneamento. Esta realidade a terra he muito
inspirou o tema Fraternidade e Água – Água, Fonte de Vida, da Campanha abundante, e são
Nacional da Fraternidade, em 2004. as águas de ordinario
mui formosas,
A Crise da Água, apontada pelos técnicos e cientistas, será enfrentada por claras, e salutiferas,
todos, mas serão as populações mais pobres as mais sujeitas a contamina- e abundantes de
ções diretas, pois continuarão a usar os córregos e rios, muitas vezes poluí- infinidade de peixes
dos, para higiene e abastecimento de água.
de varias especies,
Segundo a UNESCO, na metade deste século, pelo menos dois bilhões de
dos quaes há muito
pessoas, em 48 países, sofrerão com a falta de água. Os habitantes de de notavel grandura
Israel e da Palestina já vivem esta realidade. O que pensar sobre a situa- e de muito preço,
ção dos brasileiros nos próximos anos? Para pensar no futuro, divirta-se e mui salutiferos,
com as atividades Diário de um rio e Meu mundo, nosso ambiente, e dão-se aos doentes
do Guia de Atividades. por medicina. (...)”

Agora vamos conhecer um pouco de nossa história e mergulhar nos demais Fernão Cardim, século XVI
capítulos do Livro das Águas.

13
1 Espelho d´água
Quando os europeus chegaram ao Brasil ficaram extasiados com a formosura das terras e a
abundância das águas. Observavam os índios, que já utilizavam a floresta, a água para beber,
para a higiene geral, ou para os rituais e práticas simbólicas. Foram aprendendo com eles o
“melhor jeito” de sobreviver num clima tropical.

Além de utilizar os rios para atividades domésticas, os desbravadores fizeram deles verdadeiras
trilhas de orientação. A navegação facilitou o acesso ao interior das terras brasileiras, permitido a
fixação de moradias em novas áreas. Ao longo de rios e córregos foi se povoando o Nordeste com
o aproveitamento das águas para a produção de cana e açúcar para exportação. Em Minas Ge-
rais, o Regimento das Águas concedia aos garimpeiros o uso das águas para trabalhar na mine-
ração. No Vale do Paraíba e no interior de São Paulo, as águas da Mata Atlântica garantiram boas
lavouras de café e pastos verdejantes para a criação do gado leiteiro. Foi nesse contexto que o
Brasil foi se desenvolvendo.

Na construção das vilas, povoados e cidades, geralmente escolhiam-se áreas elevadas, sendo
que os fundos das casas eram voltados aos rios, despejando neles lixo e esgoto, desde o início
da urbanização.

Com o passar do tempo, as necessidades básicas passaram a ganhar outras proporções. A água
tornou-se via de transporte, força motriz de moinhos e energia. De lá para cá, a água tornou-se
uma grande ferramenta econômica para a urbanização e a industrialização, mas é nesse caminho
de progresso que também estão as raízes da degradação ambiental do Brasil.

Você verá no gráfico do capítulo A última gota


que a concentração de pessoas em centros
Somos hoje 6 bilhões urbanizados provocou um enorme crescimento do
de habitantes com um consumo de água. Em cidades médias e regiões
consumo médio diário metropolitanas, como São Paulo e Recife, a falta
de 40 litros de água de água faz parte do dia-a-dia. Muitas fontes es-
por pessoa, bebendo, tão poluídas ou simplesmente secaram. Na Região
tomando banho, Metropolitana de São Paulo, segundo a SABESP –
escovando os dentes, Companhia do Saneamento Básico do Estado de
lavando as mãos. A cada São Paulo – o consumo médio diário por habitante
minuto de chuveiro chega a 200 litros.
utilizamos 3 a 6 litros
de água. Um europeu O País continua sendo visto, por brasileiros e es-
gasta de 140 a 200 litros trangeiros, como uma das mais valiosas fontes de
por dia, um norte- água doce do Planeta. Com um bom planejamento
americano, de 200 de distribuição e uso eficiente do potencial hídrico,
a 250 litros e, água não deverá faltar ao Brasil. O que ainda falta
em algumas regiões é a conscientização e o combate ao desperdício,
da África, 15 litros por uma melhor eficiência dos governos no abasteci-
dia. Segundo os dados mento de água e saneamento, uma gestão integra-
da SABESP, gastando da dos recursos hídricos e o compromisso das em-
200 litros por dia, em presas públicas e privadas em conservar a quali-
São Paulo, estamos dade da água.
é desperdiçando!!!

www.sabesp.com.br

14
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

O primeiro passo é reconhecer


os nossos principais conflitos:

• Desconsideração das características de cada região para


a implementação dos processos de gestão das águas.
• Participação ainda muito pequena da sociedade na gestão
dos recursos hídricos e no cumprimento das leis ambientais.
• Necessidade de melhor estruturação dos órgãos ambientais para
cooperação e cumprimento de suas funções, como a fiscalização.
• Poucos investimentos voltados à prevenção da poluição da água,
como sistemas de tratamento e esgotamento sanitários
e programas de educação ambiental.
• Ausência de monitoramento da qualidade das águas subterrâneas,
como os aqüíferos, e de seus processos de exploração,
fundamentais para o abastecimento de água, principalmente
no semi-árido.
• Degradação dos ecossistemas aquáticos e obras que alteraram
os ciclos hidrológicos.
• Disposição inadequada dos resíduos sólidos, provocando
a contaminação do solo e da água.
• Enchentes periódicas nos grandes centros urbanos, agravadas
pelo crescimento desordenado das cidades, ocupação de áreas
de alto risco ambiental, como encostas de morros,
várzeas de rios e áreas de mananciais.
Gestão integrada
• Agricultura mal planejada, com o uso abusivo de agrotóxicos,
Deve levar em conta
resultando no desmatamento das bacias hidrográficas, todos os tipos de
em processos erosivos e de contaminação do solo e das águas, uso do recurso,
no empobrecimento das vegetações nativas e redução quem será beneficiado
das reservas de água do solo. e em que quantidade
• Inexistência de práticas efetivas de gestão integrada e qualidade a água
dos múltiplos usos dos recursos hídricos.
será utilizada.
Observe a tabela
dos diferentes tipos
de uso das águas.

Fonte: www.unb.br/ig/glossario

Conhecer e reconhecer o nosso espaço físico, as características e necessida-


des regionais, o regime e distribuição de nossas águas, a fragilidade de nossa
natureza, os fatores sócio-culturais e o saber de nossos povos pode levar a
um novo olhar sobre as águas do Brasil. Um olhar para romper as fronteiras
geográficas e, como a água, unir cidades, Estados e países em uma nova
prática de cooperação.
15
2 Fontes de água

Ao redor de riachos, bicas, minas d´água e chafarizes reu-


niam-se os viajantes para um descanso merecido. Nas som-
bras da Mata Ciliar se refrescavam e nos corpos d’água
banhavam-se, matavam a sede, tratavam os animais e
abasteciam os cantis para a longa viagem.

Desde os velhos tempos, buscamos as fontes de água. Com


a urbanização, foi preciso pensar em formas de levar a água
mais facilmente para o consumo diário: captando, tratando e
distribuindo. Os órgãos governamentais e as empresas pri- Mata Ciliar
vadas passaram a retirar dos córregos, rios, regiões Assim como os cílios
alagadiças, lagos, represas ou até mesmo das águas sub- protegem os olhos, a mata
terrâneas a água para o uso geral, priorizando-a para o con- ciliar protege as nascentes,
sumo humano. As fontes responsáveis pelo abastecimento córregos e rios. O termo
de uma região são chamadas mananciais. Você sabe de Mata Ciliar significa qualquer
qual manancial vem a água que você consome? formação florestal na
margem de cursos d’água.
Antigamente, as nascentes das fazendas eram preserva-
As Matas Ciliares foram
das, mas, com o aumento das áreas para plantio, as leis
reduzidas drasticamente e,
de preservação passaram a ser desrespeitadas. O mesmo
quando presentes,
ocorreu nas áreas urbanas pela ocupação desordenada.
Estamos diante de mais um desafio: é na própria fonte que normalmente são vestígios.
a quantidade, a qualidade e a disponibilidade da água es- Segundo o Código Florestal
tão sendo comprometidas. (Lei 4.771 de 15/-09/65),
é obrigatória a conservação
A maioria das grandes cidades brasileiras está localizada de 30 m de mata para
no que seria o domínio da Mata Atlântica, da qual resta cursos d’água com até
apenas 8%, conforme estudos da Fundação SOS Mata Atlân- 10 m de largura. Por que
tica. O solo sem árvores é facilmente carregado pelas chu- é tão importante preservar
vas, junto com o lixo, o esgoto, o entulho e embalagens de as Matas Ciliares?
agrotóxicos para dentro dos cursos d’água. No que sobrou Porque contribuem para:
do solo recortado, há moradias de vários tipos, aglomera-
das no meio de chácaras, fábricas e pontos comerciais, • escoamento das águas
onde se passa a produzir ainda mais lixo e esgoto. da chuva;
• diminuição do pico dos
Uma sociedade comprometida pode redesenhar a sua his- períodos de cheia;
tória buscando melhorar a gestão dos seus mananciais. • estabilidade das margens
É preciso reconhecer que as áreas dos mananciais são e barrancos de cursos
prioritárias para o abastecimento público, acima de qual- d’água;
quer interesse, e protegidas por leis. • ciclo de nutrientes
existentes na água,
Veja no capítulo Águas sem Fronteiras informações
entre outros.
sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos. Esta prevê
taxas de ocupação que evitem o adensamento da popula- Fonte:
ção, índices de aproveitamento da água, restrições e fiscali- www.educar.sc.usp.br
zação de elementos poluidores e manejo da vegetação.

As informações sobre mata ciliar irão colaborar com a ativida-


de Ecofutebol do Guia de Atividades.

16
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

A população deve conhecer as leis e cumpri-las. Programas de educa-


ção ambiental têm uma importante contribuição para traduzir as leis em A questão dos
prática. A proposta da Missão Água para a Vida – Água para mananciais está
Todos, do Guia de Atividades, não pode ficar de fora. presente no Código
Florestal Brasileiro;
A implantação das APRMs (Áreas de Proteção de Mananciais) conside- na Lei no 6.938/81
ra a bacia hidrográfica como uma unidade de planejamento e gestão da Política Nacional
dos mananciais. Assim, as bacias também necessitam ser recupera- do Meio Ambiente;
das e protegidas, com a participação de todos, coordenada pelos go- na Lei no 6.766/79 do
vernos e apoiada pelas ONGs, empresas privadas, associações de Parcelamento do Solo
moradores e escolas. e na Lei no 9.605/98 dos
Crimes Ambientais.
Consulte o capítulo Água sem Fronteiras para saber mais sobre Vamos descobrir se
Bacias Hidrográficas e sua gestão. existem leis estaduais
e municipais
Por meio dos instrumentos de gestão de recursos hídricos, é possível específicas, na sua
definir qual será a qualidade final de água desejada para um rio, um região, para a questão
manancial ou uma bacia hidrográfica. A OMS (Organização Mundial da dos mananciais?
Saúde) sugere:

• Monitoramento: levantar, de forma organizada e regular, os dados de qualidade da água em


locais selecionados, para atender os objetivos de uso humano, e acompanhar a evolução da
qualidade ao longo do tempo. As empresas e universidades têm um papel importante nas
redes de monitoramento;
• Vigilância: observar as ações na bacia hidrográfica, especialmente aquelas que mais afetam
a qualidade das águas dos mananciais;
• Estudo especial: desenvolver uma campanha ou trabalho, para tratar da solução de conflitos.

Principal manancial Responsabilidade do manancial


Região Cidades
de abastecimento no abastecimento da população
São Paulo Sistema Cantareira 53%
Belo Horizonte Rio das Velhas 42%
SUDESTE
Vitória Sistema Jucu/Santa Maria Cerca de 25%
Rio de Janeiro Sistema Paraíba do Sul/Guandú 80%
Curitiba Sistema Irai Tarumã Iguaçu 45 a 50%
SUL Florianópolis Sistema Cubatão - Pilões 66 %
Porto Alegre Guaíba 99,5%
Brasília Rio Descoberto 62%
Goiânia Rio Meia Ponte 50%
CENTRO-OESTE
Cuiabá Rio Cuiabá Cerca de 65%
Campo Grande Córrego Guariroba 55%
Fortaleza Rio Jaguaribe 97%
NORDESTE
Recife Rio Tapacurá 40%
Belém Rio Guamá 75%
Manaus Rio Negro 90%
NORTE
Rio Branco Rio Acre e Igarapés 85%
Palmas Ribeirão Taquaruçu 70%

Nota: Tabela estruturada a partir de informações obtidas em entrevistas fornecidas até a impressão do material.
O trabalho de pesquisa contou com o apoio de diversos profissionais e instituições envolvidas com a questão da água em suas regiões.

17
2 Fontes de água

A indignação das gotas d´água de São Paulo

...”Não agüento mais morar aqui. Tem tanto esgoto, que nem garrafa jogada na água afunda!”, diz a alagoana Maria, que
há dois anos habita as margens da Represa Billings, o maior manancial da RMSP – Região Metropolitana de São Paulo.
Indignada com tanto lixo espalhado, restos de entulho, esgoto a céu aberto e um monte de gente empilhada nas casas,
engolindo árvores e nascentes da represa, ela pensa em voltar com os filhos para União dos Palmares (AL).

Do outro lado da cidade, outra Maria fica indignada: “O que você tem a ver com isso, se eu pago pela água?”. Desta
vez é Maria Paula, moradora de um bairro nobre de São Paulo, irritada porque Seu Artur lhe chamou atenção pelo fato
de ter ficado três dias seguidos lavando a calçada com a mangueira. Seu Artur é mais um, entre tantos paulistanos,
afetados pelo racionamento de água. Faz três meses que não chove e a água que chega à casa de seu Artur e de
Dona Maria Paula vem do Sistema Cantareira, responsável por abastecer quase 55% da população da RMSP.

Outros 3,8 milhões de paulistanos, que vivem das águas da represa da Guarapiranga, estão no mesmo barco.
A Guarapiranga produz menos água do que lhe é retirada. Apesar de, no total, os mananciais do Sistema Guarapiranga
somarem 10,3 mil litros por segundo, as Estações de Tratamento Alto do Boa Vista e Teodoro Ramos operam com vazão
média de 12,5 mil litros por segundo. Ou seja, quase 2 mil litros por segundo são retirados a mais do que se deveria.

Do lado de cá, na própria Guarapiranga vivem cerca de 650 mil pessoas, a maioria em loteamentos clandestinos e favelas
que também produzem esgoto. Darivan, morador antigo da Guarapiranga, madrugou para chegar ao trabalho. Justo hoje,
seu Marlow, marido de D. Maria Paula, que, por sua vez, é vizinha de seu Artur, lhe pede para lavar a sua BMW com a
mesma mangueira que D. Maria lavou a calçada há três dias. Dá para ficar indignado, mas é ordem do patrão.

História inspirada em dados reais da situação de escassez de água enfrentada por São Paulo, com dados extraídos
dos editoriais da Folha de São Paulo e Estadão, ano 2003.

As práticas sugeridas pela OMS podem se transformar em idéias para incrementar a Missão
Água para a Vida, Água para Todos, do Guia de Atividades, a ser desenvolvida na sua região.
Conheça e anote algumas dicas e práticas de preservação e recuperação dos mananciais. Algumas
podem ser feitas individualmente, outras requerem um grupo mobilizado com o apoio de instituições e
todas devem ser lembradas nos momentos de decisão, como eleições, orçamentos participativos e
criação de comitês gestores.

• proteger e recuperar as APP’s – áreas de preservação permanente, compostas de vegetação natural


ao longo dos rios, lagoas, lagos e reservatórios naturais e artificiais;
• armazenar, coletar e dar destino adequado ao lixo;
• evitar o desmatamento e promover ações de recuperação das áreas degradadas;
• incentivar a criação e a participação em comitês, câmaras técnicas e grupos de trabalho vinculados
à proteção dos recursos hídricos;

Ao participar dos Comitês de Bacias, você pode colaborar ao:

• planejar os usos múltiplos da água, respeitando limites, capacidades e qualidade para cada tipo de
uso;
• estabelecer planos de saneamento, tratamento de esgotos domésticos e industriais, para atender as
particularidades de cada bacia hidrográfica e seus recursos hídricos;
• elaborar, implementar e respeitar os planos diretores para uso ordenado do solo;
• ter cuidados no uso do solo e da água, inclusive no destino final das embalagens de agrotóxicos;
• estabelecer penalidades para as ações que desrespeitam as leis de proteção dos mananciais;
• adotar novas idéias sugeridas pela sua comunidade.
18
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

A importância de proteger as áreas úmidas


O Guaíba Além das fontes de águas do Planeta temos ainda áreas úmidas, ou seja,
contribui com áreas onde a água aparece na superfície, próxima dela, ou cobre parte dos
99,5% para solos, temporária ou permanentemente. Os pântanos e charcos, as zonas
o abastecimento ribeirinhas e os mangues são alguns exemplos. São áreas onde a água é
de água de fator determinante das condições ambientais e da fauna e da flora local.
Porto Alegre.
E o inverso: As áreas úmidas do Planeta têm grande importância ecológica e social por
Qual a seu valor científico, econômico, cultural e recreativo. A Convenção de Ramsar,
responsabilidade realizada em Ramsar/Irã, às margens do mar Cáspio, em 2 de fevereiro de
de cada cidadão 1971, originou um tratado inter-governamental cujo objetivo é a cooperação
de Porto Alegre internacional para a conservação e preservação de zonas úmidas ou áreas
para com o alagáveis do Planeta. Cerca de 119 países do mundo assinaram a Conven-
Guaíba? ção, totalizando mais de mil zonas de preservação espalhadas pelos conti-
nentes. Em 24 de setembro de 1993, o Brasil é considerado o quarto país do
mundo em superfície de áreas úmidas, validou sua participação na conven-
ção. Dentre elas, destacam-se as seguintes áreas de preservação:

• Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (AM),


destacada no capítulo Janelas do Futuro.
• Área de Proteção Ambiental da Baixada Maranhense (MA).
• Área de Proteção Ambiental das Reentrâncias Maranhenses (MA).
• Parque Estadual Marinho do Parcel Manuel Luiz (MA).
• Parque Nacional do Pantanal Matogrossense (MT).
• Parque Nacional da Lagoa do Peixe (RS).
• Parque Nacional do Araguaia (TO) com a ilha do Bananal, a maior ilha
fluvial do mundo.

© WWF/Canon - Fritz Pölking

Pantanal Matogrossense (MT)

19
3 O sorriso de um rio

Foto: Marcos Amend


Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (AM)

Se fizéssemos uma viagem no tempo, há pelo menos 4 mil anos a.C.,


já encontraríamos nos rios um instrumento político de poder. A posse “O rio é uma pessoa.
da água era uma forma de dominação dos povos da Mesopotâmia, que Tem nome.
habitavam os arredores dos rios Tigre e Eufrates. Controlando as en- Este nome é muito
chentes e a água para a irrigação e abastecimento das populações, as velho porque o rio,
civilizações estabeleceram seus territórios e suas formas de relações ainda que sempre
humanas. morra, é muito antigo.
Existia antes dos
Há milhares e milhares de anos, os povos do Nilo, Amarelo, Indu e
homens e antes
indígenas estabelecem suas aldeias, com sabedoria, sempre próximas
de rios. Por nosso Brasil afora, encontram-se vários rios e córregos com
da aves. Desde que
nomes de origem indígena, geralmente referindo-se a alguma caracte- os homens nasceram,
rística visual: Paraná (semelhante ao mar), Itaí (água da pedra), Ipiranga amaram os rios e tão
(rio vermelho), Irati (terra das abelhas), e assim por diante. Os bandei- logo souberam falar
rantes e outros expedicionários abriram caminhos pelas matas em bus- lhes deram nomes.”
ca de riquezas naturais e, com freqüência, tiveram que usar os rios
como parada e passagem. Vilas, vilarejos e povoados foram surgindo, Rémy de Gourmont
usando os rios como verdadeiras cercas vivas.

20
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Conhecendo a trajetória de vida dos rios, conhecemos a nossa história. Pode-


mos construí-la com as idéias da atividade O Diário de um rio, do Guia
de Atividades.

Os rios são muito mais do que espaços que contêm água. Eles abrigam uma
rica biodiversidade de fauna e de flora e nos oferecem múltiplos benefícios.
Para acelerar o “progresso”, muitos rios foram modificados e encontraram pela
frente desmatamentos, queimadas, atividades extrativistas, agrotóxicos, cons-
truções de estradas e obras hidráulicas, moradias irregulares e muito lixo. Em
alguns casos, não é possível mais reconhecer a sua forma e qualidade origi-
nal. Grandes rios ligados à história da humanidade estão quase por morrer, em
alguns trechos: o Nilo, no Egito, o Ganges, na Índia, o Amarelo, na China, o
Tietê, no Brasil.

Consultando o capítulo No Fundo do Poço, veremos que um rio é a veia


principal do sistema circulatório das águas e conheceremos como este siste- E você?
ma corre o risco de adoecer, pelos impactos que as águas podem sofrer. Conhece bem
a história do rio
A recuperação do desenho original e das funções ecológicas de um curso de sua cidade?
d´água, conhecida como renaturalização, requer uma mudança radical de Como ele era no
fatores e interesses, principalmente em uma região urbana. Grande parte da passado, como
área de várzea dos rios teria que ser abandonada, ou seja, avenidas marginais é no presente
desativadas, habitações desapropriadas, empresas retiradas, para que o re- e qual será
gime natural fosse novamente respeitado. Na maioria dos casos, esta solução o seu futuro?
não é viável economicamente.

WWF/Canon - Edward Parker

Rio São João (RJ)

21
3 O sorriso de um rio

Mas, se é possível devolver o sorriso a uma boca cheia de cáries, com


obturações, limpeza e orientações de higiene, é também possível fazer
um rio sorrir novamente, com a sua revitalização. A lógica deste proces-
so é tentar recuperar o rio devolvendo-lhe a vida e priorizando as condi-
ções da qualidade da água. Veja as associações que você pode fazer
com o tratamento dentário:
• deixar os rios e córregos livres da ação dos elementos poluidores,
evitando o lançamento de lixo e esgotos sem tratamento;
implementando e melhorando as redes coletoras de esgotos, bem
como um sistema adequado de coleta, tratamento e disposição dos
resíduos sólidos;

• proteger as matas ciliares já existentes e promover a reposição da


vegetação nas margens, evitando a erosão e o assoreamento;

• proporcionar uma evolução no curso das águas, com áreas adicio-


nais para a recuperação da forma mais natural possível;

• melhorar os rios já canalizados, buscando valorizar e adaptar a pai-


Renaturalização sagem para o seu aproveitamento, como a recreação e o lazer;
É muito comum
vermos a canalização • investir em programas de educação ambiental que orientem as pes-
dos córregos. soas para a importância da saúde do rio e a manutenção do trata-
mento realizado.
Isso traz uma série
de gastos futuros
Importantes rios brasileiros estão doentes e influenciando todo o siste-
com inundações ma circulatório das águas das Bacias Hidrográficas a que pertencem.
e alagamentos.
Hoje, a solução
mais econômica é
preservar as margens,
transformando-as em
um local agradável.
A renaturalização dos
rios e córregos busca O respeito pela vocação de um rio
resgatar os valores
simbólicos, ecológicos Se não nascemos para ser advogados, porque alguns insistem
e paisagísticos desses que tenhamos esta profissão? O mesmo pode acontecer com
lugares, apresentando alguns rios, como o Uacumã, no município de Presidente
alternativas e Figueiredo, a 140 Km de Manaus (AM). Suas terras, cerca de
2.380 Km2 da floresta amazônica, foram inundadas pelo lago
valorizando os
da hidrelétrica de Balbina. A usina já foi implantada há anos e
espaços urbanos. até agora a energia produzida pela hidrelétrica, em plena car-
ga, é insuficiente para garantir o abastecimento dos habitantes
Fonte: www.manuelzao.ufmg.br
de Manaus. A falta de chuva pode deixar Balbina sem gerar
energia, por meses, durante o ano. Há problemas de manuten-
ção e o custo da energia gerada pela usina é muito superior ao
de outras regiões produtoras de energia do país (Jornal Estado
de São Paulo, 23/08/1998 e 22/04/1999) .

22
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Rio Tietê
Com cerca de 1100 km de extensão, quase um terço da área total do Estado de São Paulo, o rio Tietê tem sua
nascente junto ao Município de Salesópolis, na Serra do Mar. É um rio que corre em direção contrária à do
Oceano, lançando suas águas no rio Paraná, em Itapura, perto do Mato Grosso. Obras hidráulicas e constru-
ções de barragens ligaram seus 400 km contínuos de franca navegabilidade aos 600 km navegáveis do alto do
rio Paraná, criando a hidrovia Tietê-Paraná. Como parte da história de colonização de nosso país, o rio deu
origem a vários povoados, quando os bandeirantes penetraram em suas margens em busca de ouro e pedras
preciosas. São Paulo teve a energia necessária para garantir o seu desenvolvimento com o rio Tietê e hoje ele
faz parte da estrada que expande a fronteira econômica do Brasil com o Cone Sul. Banhos e competições
esportivas, em suas águas limpas, são atividades de uma época distante.
Em 1976, o ministro das Minas e Energia prometia à revista Veja fazer uma pescaria no Tietê até o final do
governo Geisel. Em 1992, 13 anos após o mandato do presidente Ernesto Geisel, um abaixo-assinado, único na
história do País, reuniu mais de 1 milhão de assinaturas pedindo a despoluição do rio. Iniciou-se o projeto Tietê,
que já investiu mais de 1,1 bilhão de reais, financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Mesmo
com todo esse investimento ainda não podemos e nem poderemos por muitos anos pescar no rio. A primeira
etapa do projeto Tietê ampliou a coleta de esgotos na Região Metropolitana de São Paulo de 70% para 79% e
o tratamento passou de 24% para 65%, até 2001.
A segunda etapa está orçada em 400 milhões de dólares e deve ampliar a coleta de esgoto para 82% dos
moradores até final de 2006. A previsão é que, só depois da terceira etapa, o volume de esgoto despejado no
Tietê seja zerado.

Fontes: SABESP e Fundação SOS Mata Atlântica

Rio São Francisco


Apelidado carinhosamente de Velho Chico, o rio São Francisco vem sendo explorado, desde 1852, com um
pedido de Dom Pedro II para que se descobrisse suas potencialidades. Em 1913, o rio teve a construção da
primeira hidrelétrica do Brasil, Delmiro Gouveia. Sua bacia ocupa 8% do território nacional, incluindo os
Estados de MG, BA, GO, PE, SE e AL, além do Distrito Federal. O trecho que vai da nascente, na Serra da
Canastra em Minas Gerais, até Pirapora e inclui a barragem de Três Marias, é um dos mais importantes do
vale. Além de ser a região que mais contribui com as águas do rio, é o nascedouro e o maior reduto de
peixes. Após muitos debates polêmicos foi prevista a transposição do rio São Francisco, que significa
desviar parte de suas águas para captar 26 metros cúbicos por segundo (m³/s), para abastecer as bacias dos
Rios Jaguaribe (CE), Apodi (RN), Piranhas-Açu (PB e RN), Paraíba (PB), Moxotó (PE) e Brígida (PE). Essas
águas serão usadas para o abastecimento humano e para matar a sede dos animais. Não se sabe muito
bem quais os impactos ambientais que essa obra pode ocasionar na região e essa questão vem sendo
discutida em todas as esferas do governo. A atuação do CEIVASF – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio
São Francisco e a criação de um Plano de Conservação e de Revitalização Hidro-Ambiental da Bacia
Hidrográfica do Rio São Francisco são importantes iniciativas para a sua proteção.

Fonte:CEIVASF

23
4 De bem com a vida

O galo canta ou o despertador toca. Todos os dias a gente levanta para


estudar, para trabalhar ou para se divertir. Tirando fora a preguiça, o que
realmente nos leva a desistir da idéia de sair da cama é ficar doente. Ter
saúde é condição fundamental para qualquer humano ser produtivo.
Não estamos falando somente de doença, mas sim de estar de bem
com a vida e com o nosso ambiente. A OMS – Organização Mundial da
Saúde considera a saúde como um estado de completo bem estar físi-
co, mental e social, e não apenas a ausência da doença.

A água tem um importante papel nos três estados da saúde citados


pela OMS, sendo fator de inclusão ou exclusão social. Populações sem
acesso a água tratada e saneamento ambiental são expostas a doen-
Saneamento ças, ambientes sem estética e má qualidade de vida.
ambiental
Conjunto de ações que A água tem uma contribuição fundamental para a saúde e o bem-estar
envolve o abastecimento dos seres humanos, auxiliando no controle e prevenção das doenças,
de água potável, serviços nos hábitos higiênicos e nos serviços de limpeza pública; nas práticas
de esgotamento sanitário, esportivas e recreativas e na segurança coletiva, como meio de comba-
coleta e tratamento dos te ao incêndio. Na saúde do meio ambiente, a água é o fluido da vida,
resíduos, drenagem mantendo o equilíbrio e a beleza estética do cenário natural. Na econo-
urbana e controle de mia mundial, a saúde do bolso pode ser muito mais afetada, quando
vetores e reservatórios de gastamos para tratar a água contaminada ou uma doença gerada por
doenças transmissíveis ela do que quando prevenimos a degradação dos recursos hídricos.
com a finalidade de
proteger e melhorar Quando a saúde fica doente
as condições de vida
rural e urbana. O consumo de água contaminada, a falta de acesso ao saneamento
ambiental e as condições de higiene inadequadas são responsáveis
Fontes: www.cidades.gov.br e
www.funasa.gov.br pelos problemas mais graves de saúde, especialmente nas popula-
ções empobrecidas. Observemos alguns números:
• mais de 1,1 bilhão de pessoas,
no mundo, não possuem aces-
so à água de qualidade
(www.rededasaguas.org.br);
• mais de 10 milhões de
pessoas morrem a cada
ano, em decorrência de
doenças relacionadas à
ingestão de água contami-
nada e à falta de sanea-
mento, sendo a maioria
crianças abaixo de cinco
anos de idade (Organiza-
ção Mundial da Saúde);
• atualmente, as doenças
infecciosas – muitas de-
las relacionadas à qualida-
de da água – matam duas
vezes mais do que o cân-
cer (Sinais Vitais 2003,
Worldwatch Institute).

24
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Falta de rede coletora de esgoto no Brasil em distritos*

Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Ano 2000. *Distritos=municípios e povoados

Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em menores de 5 anos

Fonte: Ministério da Saúde/Funasa/CENEPI . SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade.


Período: 1998 – Mortalidade proporcional: percentual dos óbitos informados.

Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em menores de 5 anos


Segundo dados
do Sistema
Único de Saúde,
a cada R$1,00
investido em
saneamento,
as cidades
economizam
R$5,00 em
medicina
curativa da rede
de hospitais
e ambulatórios
públicos.

Fonte: PNSB-IBGE 2001

Fonte:
Ministério da Saúde/Funasa/CENEPI
SIM – Sistema de Informações sobre
Mortalidade. Período: 1998
Mortalidade proporcional:
percentual dos óbitos informados.

25
4 De bem com a vida
O censo realizado pelo IBGE, em 2000, registra quase 170 milhões de brasileiros habitando 5507
distritos (municípios e povoados). Destes, cerca de 59% não possuem rede coletora de esgoto.
Assim, podemos imaginar por que quase 7% das mortes, em 1998, de crianças menores de cinco
anos, foram causadas por diarréia aguda.

Segundo dados da Secretaria de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, o Brasil teve, de 2001
até julho de 2003, relatadas e identificadas, cerca de 780 mil internações devido a várias doenças
causadas pela água, gastando quase 152 milhões de reais. Das regiões do País, a Bahia teve o
maior índice de internações, com 124.484 casos, seguida de Pernambuco, com 75.889 casos.

A forma mais comum de contrair doenças contagiosas é a ingestão de água e de alimentos


contaminados, mas algumas podem ser transmitidas por vetores animais ou contato direto com a
água contaminada.

Doença Modo de transmissão Agente causador Sintomas


Cólera Com suporte na água: quando os agentes cau- Víbrio cholera Diarréia abundante, vômitos ocasionais,
sadores da doença são transportados diretamente rápida desidratação, acidose, cãibras
na água que a pessoa consome. musculares e colapso respiratório.

Amebíase Pela ingestão de alimentos ou água contaminada Entamoeba


com matéria fecal com os cistos da Entamoeba. histolytica Disenteria aguda, com febre, calafrios
Pode-se adquirir de outras formas, mas são bem e diarréia sanguinolenta.
menos freqüentes e estão restritas praticamente a
pessoas com a imunidade comprometida.

Gastroenterite Pela ingestão de alimento ou água contaminada. Rota vírus Diarréia, vômitos, levando à desidrata-
viral ção grave.

Hepatite A Pela ingestão de água e alimentos contamina- Vírus de hepatite A Febre, mal-estar geral, falta de apetite,
dos ou diretamente de uma pessoa para outra. icterícia.
O consumo de frutos do mar está particular-
mente associado com a transmissão, uma vez
que esses organismos concentram o vírus por
filtrarem grandes volumes de água contamina-
da. A transmissão através de transfusões, uso
compartilhado de seringas e agulhas contamina-
das também pode acontecer.

Desinteria Associada à higiene: quando há insuficiência de Bactéria shigella Fezes com sangue e pus, vômitos e
bacilar água para a higiene básica. cólicas.

Esquistossomose Com base na água: quando a doença é transmiti- Schistossoma mansoni, Na fase aguda: coceiras e dermatites,
da por algum animal que vive na água, ou que um verme parasita febre, tosse, diarréia, enjôos, vômitos
passa parte de seu ciclo de vida em outros animais e emagrecimento. Na fase crônica, ge-
aquáticos, podendo causar infecção por meio do ralmente assintomática, diarréia alterna-
contato da larva com a pele da pessoa ou pela se com períodos de prisão de ventre, a
ingestão da água contaminada. doença pode evoluir para um quadro
mais grave com aumento do fígado e
cirrose, aumento do baço, hemorragias
provocadas por rompimento de veias
do esôfago, e ascite ou barriga d’água,
isto é, o abdômen fica dilatado.

Dengue Associada a vetores desenvolvidos na água: Vírus Flaviviridae, Febre, prostração, dor de cabeça e do-
quando as infecções são transmitidas por insetos transmitido pela picada res musculares generalizadas. erupções
que usam a água para procriar ou que picam nas de um mosquito, o na pele (parecidas com rubéola), cocei-
regiões próximas da água. Aedes aegypti ra principalmente em palmas e plan-
tas, náuseas, vômitos, dor abdominal,
diarréia, tonturas ao sentar-se ou
levantar-se.

Fontes: Ministério da Saúde/Secretaria de Atenção à Saúde/Fundação Nacional de Saúde

26
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Veja o número de internações no Brasil de 2001 até julho de 2003:


• 616.090 casos de diarréia e gastroenterite de origem infecciosa presumida,
sendo gastos 116 milhões de reais;
• 2.998 casos de esquistossomose, sendo gastos 911 mil reais; Por que, em pleno
• 123.697 casos de dengue clássico e febre hemorrágica, sendo gastos século 21, quando
28 milhões. pesquisas para
combater doenças
“Prevenir é o melhor remédio”. Muito sofrimento e gastos poderiam ser evita- graves como
dos oferecendo melhorias no acesso à água de boa qualidade e no saneamen- o câncer e a AIDS
to básico. Outras ações, como ferver a água antes de beber, purificar a água estão tão
com cloro, lavar as mãos e cuidados de higiene ao preparar os alimentos, avançadas, ainda
também podem ajudar a reduzir grande parte dos problemas. gastamos recursos
com doenças do
tempo de nossos
Dicas de medidas preventivas antepassados?
As doenças
• Melhorar a distribuição e oferecer, de forma contínua, água de boa qualidade transmitidas pela
para o consumo humano. água atingem
• Promover a desinfecção adequada da água. somente as classes
• Oferecer sistema de esgotamento sanitário adequado. sociais menos
• Melhorar o saneamento diretamente nos domicílios. favorecidas ou
também as elites?
• Evitar o consumo de fontes opcionais de água, que possam estar contaminadas.
• Coletar regularmente, acondicionar e dar um destino final adequado ao lixo
e às embalagens descartáveis.
• Conscientizar os grupos de risco.
• Promover a educação sanitária.
• Melhorar a disponibilidade e a quantidade de água suficiente para bebida, alimentação, banho,
lavagem das mãos e dos utensílios de cozinha.
• Melhorar os hábitos de higiene das pessoas.
• Isolar açudes e reservatórios contaminados .
• Evitar e controlar a retenção de água, em especial, das chuvas, em vasos, pneus, vasilhames,
e outros ambientes que proporcionam locais apropriados para o desenvolvimento dos mosquitos.
• Abastecer as áreas rurais com água potável para evitar o contato direto das pessoas com áreas
de proliferação de mosquitos.
• Evitar a permanência nos locais próximos de água e em horários de maior incidência dos mos-
quitos transmissores das doenças.
• Investir em medicamentos preventivos, em vacinações e em drenagens dos criadouros.

A água que salva

O soro caseiro é a maneira mais rápida de evitar a desidratação em crianças com diarréia - uma doença que mata pela perda de água, de
sal e de potássio. Esta terapia salva, pelo menos, um milhão de crianças por ano no mundo. Poderia salvar mais, se as mães preparassem
o soro de maneira correta e hidratassem a criança logo no primeiro dia e aos primeiros sintomas da doença, sem deixar de levá-la a um
posto de saúde. A receita do soro caseiro deve ser feita com as colheres de medida oficiais, distribuídas pela UNICEF, pela Pastoral da
Criança, em igrejas e postos de saúde. Ao fazer a receita com as colheres comuns, existe o perigo de errar a quantidade de sal, o que pode
provocar convulsões numa criança desidratada. Toda colher-medida traz o modo de fazer o soro na sua superfície, mas poderemos ser
solidários e responsáveis, orientando as mães de forma prática. Dica de consulta: www.pastoraldacrianca.org.br

27
4 De bem com a vida
Quando o meio ambiente fica doente

E quem não tem rede de saneamento? Alguns fazem ligações clandesti-


nas na rede oficial de esgoto, mas a maioria lança os resíduos em bueiros,
terrenos, córregos e rios, ficando mais expostos a contaminações. É muita
gente usando, abusando e poluindo a água. Ao mesmo tempo, faltam
ações governamentais eficientes para diminuir esses conflitos. Então,
como pretender que o meio ambiente tenha saúde? No final, nós mesmos
é que pagaremos pela sua recuperação, como, por exemplo, pela
despoluição do rio Tietê/SP, um dos mais poluídos do Brasil.

As pessoas não podem ser saudáveis, se o seu ambiente também não


o for. Nosso sentido visual aguçado traz um grau de exigência que vai
além da questão sanitária, tão fundamental para a nossa saúde. Quere-
A água não deve
mos viver num ambiente belo e limpo, o que compreende manter as
ser desperdiçada,
funções dos ecossistemas em equilíbrio, remover a sujeira ou resíduos
nocivos à saúde. O atendimento a estas condições tem um alto custo. nem poluída,
No caso da água, a parte mais dispendiosa no seu cuidado é a constru- nem envenenada.
ção, operação e manutenção de estações de tratamento para a remo- De maneira geral,
ção da cor e turbidez, sabor, odor e eliminação de seres que causam sua utilização deve ser
doenças, deixando a água com bom aspecto. feita com consciência
e discernimento para
Quanto mais o meio ambiente se degrada, mais perde sua qualidade que não se chegue
ou saúde, e mais caro será recuperá-lo. O estudo Águas, Cidades e a uma situação de
Florestas, realizado pela ong WWF e pelo Banco Mundial, relata o caso
esgotamento ou
interessante e positivo da cidade de Nova Iorque, que investiu cerca
de deterioração
de 1,5 bilhão de dólares em prevenção durante 10 anos, para manter,
em condições de uso, suas áreas de mananciais. Se tivesse investido da qualidade das
nos métodos tradicionais, buscando água cada vez mais longe por reservas atualmente
meio de grandes projetos de engenharia, gerando conflitos pela dis- disponíveis.
puta da água com outras regiões, ou tratando a água para remover
metais pesados e outros poluentes, teria gasto 6 vezes mais, ou seja, Artigo 7 da Declaração Universal
de Direitos da Água
cerca de 8 bilhões de dólares.

Fazendo a nossa parte

Várias organizações nacionais e internacionais, governamentais e não governamentais têm alertado so-
bre a crise social da água. Elas colocam como desafio e responsabilidade de todos a melhoria dos
serviços de acesso à água de boa qualidade e de saneamento. Para que esta meta seja atingida é
necessário conhecer, com clareza, a realidade de cada região do país.

No Brasil, a quantidade e qualidade de informações sobre o estado de seus corpos de água, principal-
mente pelas suas dimensões continentais, diferenças geográficas regionais e grandeza dos problemas
de poluição e pobreza, ainda são muito pequenas.

No capítulo Águas sem fronteiras , você verá que um de seus princípios é desenvolver uma
tecnologia de redes de monitoramento da qualidade de água, acompanhando, de forma contínua, suas
modificações. Para tanto a ação dos governos, universidades e pesquisadores é muito importante, mas
cada brasileiro também pode dar uma contribuição:
• promover ações de educação ambiental e de educação para a saúde, no seu ambiente de estudo,
trabalho e lazer, para a conservação da água e a melhoria das condições de higiene das pessoas;
• identificar, informar e mobilizar as autoridades e instituições sobre a realidade da água de sua região;
28
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

• criar grupos de voluntários para proteção das nascentes e áreas de mananciais;


• promover um diagnóstico da situação ambiental, econômica e social da água, num determinado lugar e, a
partir desse estudo, criar novas ações para os voluntários.
• facilitar o acesso e circular informações e alternativas para as populações em situação de risco social.

Que tal você promover um chat sobre a situação das águas na sua região, convidando especialistas e
interessados em debater o tema? Esta idéia está desenvolvida, passo a passo, na atividade Animando
um Chat Aquático, do Guia de Atividades.

Você consegue levantar dados da sua escola ou comunidade para comparar e analisar com os dados da tabela
abaixo?

Abastecimento de água
Regiões Nº de Escolas Rede Poço Cacimba, Fonte, Rio Água
do Ensino Fundamental Pública Artesiano Cisterna e Poço Igarapé e Riacho Inexistente

Brasil 172.508 78.491 23.920 49.241 23.538 3.775


Norte 24.475 5% 15% 17% 37% 14%
Nordeste 81.878 39% 47% 65% 35% 74%
Sudeste 37.807 34% 16% 9% 18% 7%
Centro-oeste 8.523 7% 6% 3% 3% 2%
Sul 19.825 15% 16% 6% 7% 3%

Esgoto sanitário
Regiões N de Escolas
º
Rede Esgoto Esgoto
do Ensino Fundamental Pública Fossa Inexistente

Brasil 172.508 44.695 107.004 22.275


Norte 24.475 2% 15% 36%
Nordeste 81.878 26% 54% 58%
Sudeste 37.807 54% 13% 2%
Centro-oeste 8.523 5% 5% 2%
Sul 19.825 13% 13% 2%

Destinação do lixo
Regiões N de Escolas
º
Coleta Reutiliza Queima Recicla Joga em
do Ensino Fundamental Periódica outra área

Brasil 172.508 76.710 1.238 70.951 5.279 30.592


Norte 24.475 6% 4% 24% 2% 15%
Nordeste 81.878 33% 12% 50% 8% 77%
Sudeste 37.807 36% 18% 13% 35% 4%
Centro-oeste 8.523 8% 3% 4% 4% 1%
Sul 19.825 17% 63% 9% 51% 3%

Abastecimento de energia elétrica


Regiões Nº de Escolas Rede Gerador Energia Energia
do Ensino Fundamental Pública Próprio Solar Inexistente

Brasil 172.508 126.118 3.293 1.488 42.448


Norte 24.475 7% 62% 19% 32%
Nordeste 81.878 44% 26% 56% 59%
Sudeste 37.807 28% 6% 13% 5%
Centro-oeste 8.523 6% 5% 7% 3%
Sul 19.825 15% 1% 5% 1%
Fonte para todas as tabelas: MEC/INEP, 2002

29
5 A última gota

O mundo não Olhar a imensidão do Planeta Azul dá uma sensação de grandeza, de que a
foi presenteado água é algo que nunca vai faltar. Pensando bem, a quantidade de água no
pelos nossos planeta, de fato, não se altera porque seu ciclo natural se responsabiliza pela
sua manutenção.
antepassados,
mas emprestado
Não podemos dizer o mesmo dos seres humanos, que se multiplicam rapida-
por nossos filhos. mente e agrupam-se em espaços, cada vez mais urbanizados. Cada um, dos
mais de 6 bilhões que vivem atualmente, precisando de milhares de gotas
Provérbio africano
d´água para satisfazer as suas necessidades básicas. Multiplicando todos os
habitantes por milhares de gotas dá como resultado um grande consumo de
água; somando as atitudes e comportamentos do desperdício à poluição, che-
gamos a uma relação desigual entre natureza e seres humanos.

Segundo a ONU – Organização das Nações Unidas, a metade dos 12.500 km3
de água doce disponíveis no planeta já está sendo utilizada e, nos próximos
vinte anos, é esperado que a média mundial de água disponível, por habitante,
diminua um terço. Imaginem duas em cada três pessoas vivendo uma situa-
ção crítica de escassez de água.

Filmes que nos transportam ao futuro falam desse cenário, mas a crise já é
antiga. Em 1967, israelenses e árabes já guerreavam por causa do desvio de
bacias hidrográficas para o abastecimento de água e, hoje, no Oriente Médio e
algumas regiões na África, na Ásia, na China e na Índia, a disponibilidade de
água para o consumo é quase insustentável.

Um país de contrastes

Se o Brasil já é rico em biodiversidade, quando o assunto é água doce, não


deixamos a desejar. Atraímos os olhares do mundo todo. Segundo a ANA –
Agência Nacional de Águas, somos a maior potência hídrica do planeta, com

Fonte: UNESCO/ IHP Regional Office of Latin América and the Caribbean, 2002

30
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

13,7% do total mundial, garantida pela água dos rios, em especial de três Distribuição dos Recursos
grandes bacias, Amazônica, São Francisco e Paraná; pelo rico volume de
chuvas tropicais; e pela maior reserva de água doce subterrânea do mun-
Hídricos por população em %
do, o aqüífero Guarani, cujo tamanho é igual ao território da Inglaterra, do total no Brasil
França e Espanha juntas e que cruza a fronteira de sete Estados brasilei-

68,50
ros, avançando pelos territórios argentino, paraguaio e uruguaio.

A maior parte de nossas águas doces está concentrada na Região Ama-


zônica, onde mora a menor fatia da população, com menos de 5 habitan-

42,65
tes por km2. A região sudeste, com mais de 100 habitantes por km2, é
abastecida pela Bacia do Atlântico Sudeste que detém somente 2,5% de
descarga dos rios. Há ainda muitos brasileiros vivendo na seca, como no

28,91
semi-árido do nordeste, com baixa disponibilidade de água e rios não
contínuos. Castigadas pela pobreza, é comum vermos mulheres e crian-
ças nordestinas, assim como as mulheres indianas na Ásia, andarem
quilômetros e quilômetros em busca de água para as suas famílias.

15,70

15,5
O IPA – Índice de Pobreza e de Água vem sendo utilizado para caracte-
rizar o estado de desenvolvimento de uma região. O índice demonstra

6,50
que não é só a quantidade de recursos disponíveis que determina o

6,98

6,41

6
nível de pobreza de um país, mas também a sua eficácia. Os critérios

3,30
avaliados são: recursos disponíveis, acesso, capacidade, uso da água
e impactos ambientais. Assim, mesmo ocupando uma boa posição na
economia mundial, o Brasil alcançou a 50a colocação no IPA no estudo Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
do CEH – Centro para Ecologia Humana e CMA – Conselho Mundial da Recursos Hídricos
Água, envolvendo 147 países. Tal resultado pode ser atribuído à forma População
ineficiente do uso doméstico, industrial e agrícola, agravado pelo cres- Fonte: SIH/Aneel, 1996, IBGE, 1996
cimento populacional e pela falta de redes gerais e oficiais de abasteci-
mento de água para cerca de 12,10% de distritos, municípios e povoa- Falta de rede geral
dos brasileiros. (IBGE, 2000).
de abastecimento de água
A diferença entre ricos e po- no Brasil (por regiões)
bres também aparece nas so-
luções alternativas utilizadas
Como garantir água pelas regiões que mais care-
para todos, se a sua cem de rede geral de abas-
distribuição ocorre de tecimento de água. No nor-
maneira desigual no deste, as principais fontes
Planeta? alternativas de água utiliza-
Algumas regiões das são chafarizes, açudes,
são privilegiadas, bicas, minas, cisternas, en-
umas vivem quanto, no sul, são os poços
em regime de artesianos particulares. Vale
racionamento, lembrar que, quanto mais po- 44,8% Nordeste
outras em completa ços construirmos, mais esta- 31,5% Sul
escassez. Em geral, há remos provocando o rebaixa- 9,0% Sudeste
muita água boa onde mento dos lençóis freáticos, 8,0% Norte
mora quase ninguém e tornando-se mais difícil 6,7% Centro-Oeste
pouca água saudável alcançá-los.
em áreas densamente Fonte: adaptado do IBGE, Diretoria
povoadas. de Pesquisas, Departamento de População
e Indicadores Sociais, Pesquisa Nacional
de Saneamento Básico 2000.

31
5 A última gota

O grande jogo da vida

Como vencer a distância entre os vários “Brasis”?


No grande jogo da vida temos uma seleção forma-
da por 170 milhões de brasileiros (Censo IBGE,
2000), mas com equipes que jogam de maneira
desigual. Entre eles, também segundo o IBGE, cer-
ca de 44 milhões passam fome, quase 10 milhões
de famílias, e 8,8 milhões de famílias não possuem
acesso à água potável. Como tornar o jogo equili-
brado para os Josés, Marias e tantos outros cida-
dãos espalhados pelos cantos do País?

A desigualdade social e a cultura do desperdí-


cio estimulam cada um a jogar da maneira como
lhe convém. Este retrato está presente nas ações
individuais e coletivas de descaso com a água,
somado ainda ao problema da água
desperdiçada nas redes públicas de distribui-
ção, que chega a até 40% em alguns casos, por
causa de vazamentos.

A perda e o mau uso do potencial econômico da


água no País devem-se ao desconhecimento da
população sobre a dimensão real da crise da
água. Mas a situação é principalmente resultado
da falta de um planejamento integrado do gover-
no, incluindo o tema água como estratégico em
todas as discussões e setores governamentais.
Faltam investimentos para o uso e a proteção
mais eficiente da água e a garantia de uma dis-
tribuição equilibrada.

Milhares de brasileiros iniciam, ao mesmo tem-


po, sua jornada diária. Na floresta, na cidade ou
no sertão, todos começam, de alguma forma, sua
vida com a água.

Enquanto isso, todos os dias, em várias partes


do Planeta, outros milhões de habitantes continu-
am a abusar, desperdiçar e poluir a água.

Continuar ou não no jogo da vida depende de


um esforço conjunto, com equipes equilibradas,
táticas adequadas e planejadas de acordo com
cada situação. Cada brasileiro, atuando como co-
responsável por esta seleção de jogadores, re-
conhece que a água potável e o saneamento são
direitos humanos básicos e fundamentais para
todos. O que precisa ser mudado e onde investir
nossos esforços e recursos?

32
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

A livre negociação da água

Com a escassez mundial de água potável, algumas regiões estão negociando

Instituto Supereco
acordos para trazê-la de lugares distantes, com a construção de aquedutos,
exploração ou transposição de rios. No Brasil, a transposição das águas do rio
São Francisco tem gerado inúmeras discussões. Ao mesmo tempo, empresas
ganham espaço e direito para explorar fontes de água e ampliar seus serviços
de saneamento básico. Você já percebeu a expansão do negócio da água?
Qual a quantidade de marcas de água que existem nas prateleiras dos super-
mercados? Quantas lojas vendem garrafões de água potável para as nossas
A água não é somente
casas e escritórios? A água, um bem de primeira necessidade, está sendo herança de nossos
tratada como um bem econômico, sujeito à livre negociação. predecessores;
ela é, sobretudo,
A água como mercadoria vem sendo debatida por movimentos ambientalistas e um empréstimo aos
humanitários preocupados com os impactos sobre as diversas espécies de nossos sucessores.
seres vivos e seus ecossistemas, bem como a dificuldade de acesso à água Sua proteção constitui
para as populações mais pobres. Os grupos alertam para o caso de as empre- uma necessidade
sas se apossarem de águas subterrâneas, podendo vendê-las como água mine- vital, assim como
ral, enquanto para o abastecimento da população utilizam-se as águas superfi-
a obrigação moral
ciais, mais sujeitas à contaminação. Outra justificativa é que as águas do subsolo
se renovam mais lentamente que as águas de rios e lagos. A mesma reflexão se
do homem para
faz na execução de grandes obras de transposição, que resolverão os proble- com as gerações
mas por algum tempo, mas afetarão milhares de seres vivos. presentes e futuras.

Artigo 5 da Declaração Universal


dos Direitos da Água

Um caso para pensar:


Eleição e plebiscito no sul da América –
Águas de Outubro por Eduardo Galeano

Um par de dias, antes de que, no norte da América, se elegesse o presiden-


te do planeta, no sul da América, houve eleições e houve plebiscito num
país ignorado, um país secreto, chamado Uruguai. Nessas eleições ganhou
a esquerda, pela primeira vez na história nacional, e, neste plebiscito, pela
Em situações
primeira vez na história mundial, o voto popular opôs-se à privatização da
água e confirmou que a água é um direito de todos. Também o plebiscito da
de racionamento,
água foi uma vitória contra o medo. A opinião pública uruguaia sofreu um baldes já guardam
bombardeio de extorsões, ameaças e mentiras. Ao votar contra a privatização lugar nas filas para
da água, íamos sofrer a solidão e o castigo e íamos condenar-nos a um a chegada de água
porvir de poços negros e charcos fedorentos. Tal como nas eleições, no nas zonas rurais
plebiscito venceu o senso comum. As pessoas votaram, confirmando que a e caminhões de
água, recurso natural escasso e finito, deve ser um direito de todos e não um água potável rodam
privilégio daqueles que podem pagá-lo. E as pessoas confirmaram, tam- pelas cidades,
bém, que não se chupa o dedo e sabem que mais cedo do que tarde, num abastecendo
mundo sedento, as reservas de água serão tanto ou mais cobiçadas do que aqueles que pagam
as reservas de petróleo. Os países pobres, mas ricos em água, têm que
pelo serviço. No
aprender a defender-se. Mais de cinco séculos se passaram desde Colombo.
Até quando continuaremos a trocar ouro por espelhinhos? Não valeria a
“mercado da água”,
pena que outros países submetessem o tema da água ao voto popular? quantos poderão
Numa democracia, quando é verdadeira, quem deve decidir? pagar um litro
de água potável
Fonte: www//resistir.info engarrafada?

33
5 A última gota

Apesar de a lei no 9.433, no Brasil, declarar a água como um bem de domínio público e proibir sua
privatização, ainda existem lacunas relacionadas à água subterrânea e conflitos no que diz respei-
to ao Marco Regulatório do setor de saneamento ambiental. Tais problemas podem gerar situa-
ções em que o interesse econômico se sobreponha às necessidades da população e da natureza.
Um exemplo de conflito que merece destaque foi a disputa entre vários setores do Governo Fede-
ral, Estaduais, Municipais e a sociedade civil organizada no caso da transposição das águas do
Rio São Francisco.

A Cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável, em Johanesburgo, África do Sul, em 2002,


reuniu vários governos do mundo, organizações da sociedade civil, agências das Nações Unidas,
instituições financeiras multilaterais, que se comprometeram a reduzir pela metade o número de
pessoas que hoje não têm acesso à água de boa qualidade no mundo, cerca de 1,4 bilhão, e que
não dispõem de redes de esgotos, em torno de 2,3 bilhões, incluindo:

• atender necessidades básicas: água boa e suficiente e condições sanitárias para todos;
• garantir suprimento alimentar: especialmente para os pobres e os mais vulneráveis pelo uso da
água;
• proteger os ecossistemas: garantindo sua integridade via gerenciamento sustentável dos re-
cursos hídricos;
• promover a cooperação pacífica entre os Estados envolvidos e seus diferentes usos da água,
pelo gerenciamento sustentável do nível de base dos rios;
• gerenciar riscos: oferecendo segurança a partir de ações que evitem as doenças transmitidas
pela água;
• valorar a água: gerenciar a água a partir de seus diferentes valores (econômicos, sociais,
ambientais, culturais); cobrar o uso para recuperar os custos de fornecimento, levando em
conta a eqüidade e as necessidades dos pobres;
• gerenciar a água: envolvendo o público e os interesses de todos;
• garantir a integração entre água e indústria: implantando indústrias mais limpas com respeito
à qualidade da água e às necessidades de outros usuários;
• garantir a integração entre água e energia: permitindo que a água desempenhe seu papel-
chave na produção de energia para suprir o crescimento de demanda desta;
• garantir a base do conhecimento sobre a água, tornando-o universalmente disponível;
• promover a integração entre água e cidades: reconhecendo os desafios distintos de um mundo
crescentemente urbanizado, onde o interesse econômico se sobrepõe às necessidades
da população e da natureza.

Para atingir essas metas, precisa-


Para a O consumo médio mos rever nossos conceitos, hábi-
fabricação de... de água é de... tos e comportamentos. Além de
cuidar dos nossos rios e de eco-
1 kg de açúcar 100 litros nomizar água, produzir e consumir
1 litro de gasolina 10 litros também são atos de cidadania.
1 kg de papel 250 litros A água é matéria-prima fundamen-
tal na produção de itens e servi-
1 kg de alumínio 100 mil litros
ços importantes para nossa vida,
1 kg de carne 15 mil litros mas, quando consumimos em ex-
1 kg de frango 6.000 litros cesso, também estamos desper-
1 kg de cereais 1.500 litros diçando este precioso bem.
1 kg de frutas cítricas 1.000 litros
1 kg de raízes e tubérculos 1.000 litros

Fonte: ONU e www.mw.pro.br

34
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

É muito importante sensibilizar produtores e consumidores a pensarem em suas responsabilidades


frente aos desafios do consumo sustentável. Estimular as indústrias a refletirem sobre como o
sistema de produção pode afetar o meio ambiente e a sociedade e o que podem fazer para diminuir
esses impactos: tendo critérios na captação da água, evitando o desperdício, promovendo a
recirculação da água no processo de produção e devolvendo a água limpa para os rios. Estimular os
consumidores a pensarem sobre a compra de um determinado produto, levando em consideração
se realmente necessitam dele, como é o modo de fabricação e quais as alternativas no mercado que
já respeitam o meio ambiente e a sociedade. Na compra de uma verdura, por exemplo, adquire-se
um produto agrícola cuja produção consome muita água. Hoje já existem tecnologias que, além de
não usarem adubos químicos, evitam o desperdício de água na irrigação.

Na produção responsável, cada indústria preocupa-se com o uso dos recursos naturais, garantin-
do a existência deles para as gerações futuras e a continuidade de uso das matérias-primas na
sua produção.

No consumo responsável, cada pessoa preocupa-se com seu consumo pessoal, em ser solidário
e respeitar as comunidades, fazer a sua parte, somando a sua ação com a de outras pessoas. As
escolas têm um papel fundamental na formação de consumidores responsáveis. Um barco, um
galpão, uma sala de aula ou um quintal de um sítio são espaços nos quais educadores e alunos
podem compartilhar seus interesses e reconhecer aqueles que respeitam seu ambiente e seus
valores. Esta idéia precisa ultrapassar os muros das escolas e ser difundida em todos os lugares.

Assim, veja quando a gotinha se torna triste ou feliz:

• A cada minuto de banho você gasta de 3 a 6 litros. Quantos


litros você precisa para se banhar? Será que você é um consu-
midor sustentável?

• Escovar os dentes com a torneira fechada.

• Lavar o carro, durante meia hora, com uma mangueira aberta


consome cerca de 600 litros. Um balde faz o mesmo trabalho e
gasta só 60 litros. Em São Paulo existe uma lei que proíbe lavar
carros nas ruas da cidade.

• Instalar torneiras com fechamento automático, em escolas e


empresas, pode economizar cerca de 25% da água.

• Consertar pequenos vazamentos, como um buraco de 2 milí-


metros, pode economizar até 3200 litros de água em um dia.
Isso significa abastecer uma família de 4 pessoas por quase
um mês.

• Regular a válvula da descarga pode diminuir em três vezes o


consumo de água. Trocá-la por vasos sanitários com volume
de descarga reduzido pode economizar até 40% de água.

• Reutilizar água da máquina de lavar roupa para lavar o chão da


cozinha, área de serviço e quintal.

• Educar as pessoas.

• Criar incentivos econômicos para quem consome água de for-


ma mais eficiente.
35
6 No fundo do poço

Vamos fazer uma comparação entre o nosso corpo e a água. No ser humano, o sistema circulatório
tem várias veias e artérias que conduzem o sangue por todo o corpo, transportando oxigênio e
nutrientes essenciais à vida de todos os órgãos. Neste ciclo, o sangue é constantemente renova-
do, mas a sua quantidade permanece a mesma. A rede hidrográfica também é responsável por
transportar as condições de vida a todos os seres, sendo a água renovada naturalmente pelo seu
ciclo. Sangue e água podem ter um mesmo e triste final, se o sistema circulatório for entupido pelo
colesterol ou poluído pelas gorduras, tendo sua fluidez alterada, assim como nossos rios são
degradados pelo assoreamento, pelo lançamento de poluentes ou pelos solos impermeabiliza-
dos. A quantidade de sangue pode ser afetada, se a pessoa tiver uma hemorragia, assim como
quando retiramos grandes volumes de água de um rio para diversos fins, numa velocidade e
quantidade maiores do que a capacidade de renovação natural das águas superficiais. Em ambos
os casos, o sistema entra em colapso pelos impactos causados. Pessoas e rios podem morrer.

Toda e qualquer ação humana que afete, direta ou indiretamente, no todo ou em parte,
o meio ambiente pode ser definida como impacto ambiental.. No caso da água, o primeiro e mais
significativo impacto é a visão de propriedade que o ser humano estabeleceu: Somos donos da
água e ponto final. Vemos a água como uma mercadoria ou como um bem sempre disponível,
esquecendo-se de sua função principal na natureza. Por essa razão ou por falta de conhecimento,
simplesmente nos permitimos usá-la e poluí-la de diversas formas e acima do seu limite.

Limite! Esta é uma palavra conhecida de todos. Sabemos exatamente quando alguém passa dos
limites... Esgota a nossa paciência...Ou quando esgotamos todas as nossas possibilidades até ir
ao “fundo do poço”. Esta é uma expressão que começa a fazer parte do cenário da água.

Vejamos alguns impactos que afetam diretamente a quantidade e qualidade das águas doces.

Desmatamento

A vegetação tem influência direta sobre a distribuição de água no planeta, atuando no regime das
chuvas, na umidade do solo e no volume dos rios. É como se tivéssemos uma balança a ser
equilibrada. Quando a chuva cai em uma região arborizada, escoa lateralmente pelos troncos e
folhas das árvores e alcança o solo de forma suavizada, diminuindo o impacto da gota ao cair no
chão. Uma parte desta água é evaporada ou absorvida antes
de chegar ao solo. A transpiração das plantas ajuda a controlar
a circulação de quase metade de toda a chuva que cai sobre a
terra. A camada orgânica da superfície do solo, que funciona
Fazemos um convite, como uma esponja, retém a outra parte da água e isso contri-
para que cada um na bui para que ela mantenha a sua umidade. Assim, a água su-
sua região procure perficial que será levada para os rios é lançada aos poucos,
identificar que tipo de evitando as enchentes durante as estações úmidas. Durante
impactos podem fazer as secas, a água armazenada será fornecida ao meio ambien-
a última gota do poço te através do seu fluxo natural.
secar. As descobertas
podem surgir com A capacidade das plantas de reter água e de restituí-la à at-
as sugestões do Guia mosfera condiciona o regime hídrico em escala regional e glo-
de Atividades, bal. É possível imaginar as conseqüências sobre o clima de
em especial, um desmatamento em grande escala?
a realização das
atividades de Se o clima pode ficar ruim, a água pode ficar pior. Quando
investigação e busca retiramos a cobertura vegetal de um lugar, deixamos o solo
de conhecimento. desprotegido. A capacidade do terreno de reter a água da chu-
va é diminuída e esta passa a escorrer muito rápido, arrastan-
36
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Vamos comparar
o comportamento
da água da chuva
quando cai sobre
as árvores ou sobre
a grama, sobre uma
calçada ou sobre um
solo desmatado?

Interceptação Vegetal

do a camada superficial do solo. Além de se iniciar um processo de


erosão e de perda da fertilidade do solo, os materiais arrastados com a
Transpiração
água vão se acumular no fundo de rios, lagos e fontes, deixando o leito
do rio cada vez mais raso, ou seja, ocasionando o seu assoreamento..

Agricultura mal planejada


Escoamento
O Brasil chega a perder, todo ano, toneladas de solos férteis em razão de Superficial
uma agricultura mal planejada, aliada à prática de monocultura extensiva,
queimadas e desmatamentos. Junto com o solo, também perdemos água,
quando a erosão carrega os sedimentos, causando o assoreamento dos
cursos d´água. Se a quantidade de água fica comprometida, a qualidade
não fica para trás. A necessidade de aumentar a produção tem levado os
agricultores a utilizarem fertilizantes e agrotóxicos de forma exagerada e Escoamento Escoamento
sem critério. Muitas vezes, o aumento de áreas produtivas invade as Subsuperficial Subterrâneo
matas ciliares, comprometendo os corpos d’água da região. Os produtos
químicos usados diretamente nas plantações e suas embalagens des-
cartadas a céu aberto, apesar de existirem alguns programas de coleta
deste material, são levados até os rios, córregos e lagos, ou acabam
infiltrando-se no solo, contaminando as águas subterrâneas. Os descui-
dos não são poucos: o rio Miranda, no Mato Grosso do Sul, encontra-se
Transpiração
afetado pelo assoreamento causado pelo cultivo intensivo de arroz; o
aqüífero Guarani está contaminado pelos agrotóxicos das atividades agrí-
colas e o rio São Francisco, carregado de substâncias tóxicas que vêm
das atividades de carvoaria. Escoamento
Superficial
Consultando o capítulo Espelho d’Água, vemos que a irrigação,
sem tecnologia, representa um grande impacto causado pela agricultu-
ra. Além de consumir muita água, ela altera significativamente o ciclo da
água, pois a retira numa velocidade muito maior do que a reposição
natural pode prover . Segundo dados da UNESCO, cerca de 31% da
área plantada de grãos, no Planeta, é irrigada. No Brasil, os maiores
desperdícios de água vêm da fruticultura, do cultivo de grãos irrigados
Escoamento
e da pecuária de corte. Veja Quadro de quanto se consome de água Subsuperficial Escoamento
para produzir carne, frutas e papel, no capítulo A última gota.. Subterrâneo

37
6 No fundo do poço

Além do investimento em agricultura orgânica, consórcio e rotação


Do mito do pulmão de plantações, o capítulo Janelas do Futuro traz propostas al-
ternativas de diminuição dos impactos da agricultura.
do mundo à bomba
de reciclagem Construção de reservatórios e barragens
de água
Estocar a água em reservatórios é uma prática muito antiga. O moti-
Ao contrário do que as pesso- vo é ter uma reserva nos períodos de falta de chuva e promover o
as pensam, a Floresta Amazô- equilíbrio entre a oferta e a demanda por água. Reservatórios tam-
nica não tem como função ser bém têm sido construídos para a geração de energia, turismo e re-
o pulmão do mundo, já que a creação, navegação e controle de cheias.
maior parte do oxigênio que ela
produz é absorvido e usado O governo brasileiro continua apostando nos rios, nas represas e nas
pela própria floresta. Mas suas cachoeiras para a produção de energia a partir da construção de hi-
centenas de árvores, cada uma drelétricas. Estas obras, entretanto, têm limitações, uma delas é o
contendo milhares de folhas, esgotamento dos rios. As possibilidades de grande aproveitamento
são responsáveis por cerca de hidrelétrico no Sul, Sudeste e Centro-Oeste já acabaram. Na região
75% de toda a água que eva-
Norte há água em abundância, mas produzir energia lá é muito caro e
pora por meio da transpiração
traz enorme impacto. Os barramentos, quando mal planejados e de-
das folhas. Este fenômeno faz
pendendo do lugar em que são instalados, inundam grandes áreas
aumentar a umidade do ar, oca-
sionando as pesadas chuvas
de cobertura natural, alteram a dinâmica dos ecossistemas aquáti-
tropicais. Grande parte das cos, interrompem o fluxo migratório de peixes, provocam o
chuvas e a elevada umidade, desmatamento de florestas nativas e, conseqüentemente, prejudicam
criada pela própria floresta, ga- a fauna e as pessoas que ali vivem. Devido ao aumento das áreas
rantem o que elas necessitam que ocupam, o processo de evaporação também é ampliado, alteran-
para sobreviver. A massa de do o ciclo hidrológico e o clima de uma região.
vegetação funciona, na realida-
de, como uma bomba de Mineração
reciclagem de água, que res-
fria e umedece o clima e que
Na década de 80, era muito comum garimpeiros exibirem, com orgu-
mantém, em equilíbrio, o regime
lho, suas fotos com o sorriso repleto de dentes de ouro, resultado da
hídrico de 1/5 da água doce do
planeta. Quando grandes áreas
dura batalha e das grandes conquistas da Corrida do Ouro, na região
de florestas tropicais são corta- de Serra Pelada, localizada no município de Curionópolis (PA). No lugar
das, queimadas e simplesmente de grandes áreas de floresta, devastadas pelo garimpo sem nenhum
abandonadas como pastos, me- tipo de controle, víamos grandes escadas amontoadas de gente rumo
nos água é evaporada naquela ao topo do céu. Um cenário típico da insustentabilidade: uma corrida
área, chove menos e a floresta de muitos e para poucos.
não pode reaparecer como an-
tes. Pode até surgir uma nova Os impactos ambientais e soci-
comunidade vegetal adaptada à ais de uma mineração mal plane-
menor umidade, mas que, por jada vão além da degradação da
sua vez, tem menor capacidade Ao represar água,
paisagem. O processo pode uti-
de reciclar a água que cai como a quantidade de
lizar produtos químicos altamen-
chuva. Cada porção de área evaporação
te tóxicos, como o mercúrio, que
desmatada significa menos chu- aumenta,
é um metal pesado usado para a
vas na mata, nas demais regi- ampliando o ritmo
separação dos minerais, compro-
ões do país e no regime hídrico das chuvas,
global causando sérios impactos metendo a água e todas as for-
modificando o
no clima. mas de vida que estiverem em
clima e ameaçando
contato com ela. Além disso, cau-
o equilíbrio do
Fonte: “A vegetação e o clima no sam a remoção da cobertura ve-
Planeta” - Sônia Corina Hess/UFMS planeta.

38
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

getal e do material de fundo do rio, aumentando o material sólido transporta-


do e a mudança das condições dos cursos d´água.

A legislação ambiental brasileira é rigorosa para a atividade de mineração. As Você consegue


empresas necessitam obter licenças ambientais específicas e desenvolver lembrar-se de
programas e medidas que diminuam e compensem os impactos como: contro- alguma cena de
le ambiental no canteiro de obras, monitoramento de processos degradadores, um rio degradado
monitoramento da qualidade das águas superficiais e sedimentos, coleta de pela mineração?
espécies vegetais, reflorestamento e recuperação das áreas degradadas, ações
de educação ambiental, entre outras.

Uso inadequado e desordenado do solo

É sempre bom analisar uma situação de fora para dentro. O maior impacto que Você se lembra da
os cursos d´água recebem vem de fora e não do que está dentro deles. Veja o última enchente
exemplo da urbanização, que traz uma série de efeitos em cascata: o aumento que aconteceu em
da demanda por impermeabilização do solo; o despejo ilegal e acúmulo de sua região? Como
lixo e efluentes domésticos nos córregos, causando mau cheiro e problemas isso afetou a vida
de saúde pública; a modificação da forma dos rios para perderem suas curvas das pessoas?
e ganharem a forma reta que vemos hoje, geralmente com ruas ou avenidas
marginais, para facilitar o transporte, e o colapso das frágeis estruturas de
saneamento e fornecimento de água de boa qualidade.

Para esconder ou tampar os córregos que viraram canais de esgoto a céu aber-
to, canalizamos os cursos d´água, modificando o seu entorno e o fluxo do canal.
Ao impermeabilizarmos o solo com uma camada artificial, como o asfalto, redu-
zimos a sua capacidade de infiltração da água. Em ambos os casos, temos no
final um aumento da quantidade e da velocidade do escoamento da água das
chuvas. Os cursos d´água canalizados transbordam, juntam-se ao lixo que im-
pede o escoamento das águas nos bueiros, as águas chegam com maior rapi-
dez às calhas dos rios e temos, como resultado, as freqüentes enchentes. Algu-
mas delas já se tornaram históricas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro,
Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, entre outros.

Despejo de efluentes

O que acontece, num aquário, quando damos alimento demais aos peixes? No
começo, os bichos ficam felizes com tanta comida, mas, depois de algum
tempo, a digestão começa a ficar difícil, a barriga estufa e pronto: era uma vez
alguns peixes famintos.

Você já imaginou que os rios podem ter essa mesma sensação? A diferença é que,
ao invés de um saboroso alimento, os rios estão estufados de tanto lixo e esgoto.

As cidades cresceram sem planejamento e muitas delas, situadas nas mar-


Instituto Supereco

gens dos rios, passaram a jogar mais efluentes – água com resíduos domés-
ticos e industriais – do que, normalmente, as águas conseguem degradar.
O sistema público de redes coletoras de esgoto ainda é insuficiente para
atender a maior parte da população brasileira e o esgoto coletado, em al-
gumas regiões, ainda carece de tratamento adequado, como pode ser ob- Rio Pinheiros (SP)
servado no capítulo De Bem com a Vida.

39
6 No fundo do poço

A consciência de que a água é um recurso limitado e uma das principais matérias-primas na produ-
ção industrial, somada a uma legislação ambiental mais rígida e mais aplicada, tem levado muitas
indústrias a se comprometerem com a qualidade da água antes de despejarem seus efluentes nos
rios. Entretanto, ainda há muitas que se esquecem da importância dos cuidados com a água, ou são
responsáveis por acidentes, como o lançamento de poluentes nos ambientes aquáticos. Vazamen-
tos de óleos, vindos até mesmo dos postos de gasolina nos grandes centros urbanos, ou lançamen-
tos de metais pesados são exemplos da falta de cuidado. O Paraíba do Sul, entre tantos rios
brasileiros, foi uma das vítimas da contaminação por resíduos tóxicos de uma indústria de papel
localizada em Minas Gerais. Várias cidades do Estado do Rio de Janeiro ficaram sem água e os
pescadores tiveram suas atividades prejudicadas pela contaminação dos peixes.

Além da qualidade, os produtos tóxicos podem afetar também a quantidade de água disponível
para os usos essenciais. Em alguns casos, a extensão dos rios que atravessam as cidades
recebe tantos efluentes domésticos, industriais e lixo, que o rio chega a morrer nesses trechos.

Metais pesados
Diferem de outros
agentes tóxicos porque
não são sintetizados
nem destruídos pelo
homem. Sua presença,
muitas vezes, está
associada à localização
geográfica, na água
ou no solo, e pode ser
controlada limitando-se
o uso de produtos
agrícolas e proibindo a
produção de alimentos
em solos contaminados. Quantas
Todas as formas de garrafas você
vida são afetadas pelos consegue
metais, dependendo contar neste
manguezal ?
Foto: Delba Baraldi
da dose e da forma
química. Muitos metais
são essenciais para Poluição difusa
o crescimento de todos
Diferente da poluição causada pelos efluentes, que pode vir do ralo, da
os tipos de organismos,
cozinha, do banheiro, a poluição difusa vem de tudo que está no ambi-
das bactérias ente, de todo o tipo de resíduo não orgânico. Uma embalagem de
ao ser humano, mas agrotóxico esquecida no chão, a graxa ou o óleo de um automóvel, o
sempre em baixas combustível vazando dos postos de gasolina, as garrafas de plástico
concentrações, já se jogadas por aí, os papéis e outros tipos de lixo que se acumulam nas
a quantidade for grande ruas, as partículas de poeira e de outros materiais que contaminam o ar
podem danificar e refletem na formação da chuva ácida, entre tantas outras formas de
os sistemas biológicos. poluição causadas pela presença do ser humano, contribuem para for-
mar a poluição difusa num determinado ambiente. Tudo o que acaba
Fonte: sendo levado para dentro de uma represa ou manancial, pela ação do
www.mundodoquimico.hpg.ig.com.br
vento, da chuva ou de outro agente, afeta a qualidade da água.
40
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Fontes geradoras Impactos causados, quando não há cuidado ambiental, respeito


de poluição da água aos limites de degradação natural e de renovação da natureza
Atividades naturais Lixo orgânico formado pelas fezes e urina de animais e pelas fibras vegetais.
Esgotos domésticos (fezes, urina, higiene pessoal, lavagem de roupas, louças, calçadas,
Atividades humanas
entre outros)
Lixo e esgoto gerados pelos postos de gasolina, lavanderias e tinturarias, restaurantes
Atividades comerciais e lanchonetes, farmácias, consultórios, laboratórios, hospitais, supermercados, açougues,
feiras livres, entre outras atividades.
Degradação e poluição, durante a extração da matéria-prima, fabricação do produto
Atividades industriais
e lançamento dos poluentes, nos cursos d’ água, após a fabricação.
Atividades turísticas Lixo, desmatamentos e queimadas gerados por visitas a praias, campings e trilhas ecológicas.
Agricultura Agrotóxicos, desmatamentos, queimadas, sedimentos provenientes de erosão,
uso intensivo da água doce na irrigação.
Mudanças no regime da água, desmatamento das cabeceiras das bacias e das matas
Implantação de Obras ciliares causando erosão, construção de barragens, canalização de vias fluviais e drenagem
de terras alagadiças, enchentes.
Introdução de espécies exóticas, morte de algumas espécies por elementos tóxicos,
Alteração da fauna e flora naturais do lugar
desmatamento de florestas.

Fonte: Tabela construída a partir das referências bibliográficas e da webgrafia

Todos estes
impactos
ambientais podem
afetar o cotidiano
das pessoas?
Aumentar o risco
WWF/Canon-Diego M. Garces

de doenças?
Causar o
racionamento pela
falta d´água?
Aumentar do custo
econômico do
tratamento da água
para o consumo?
Reduzir o potencial
da pesca? Causar a
Toda ação produz uma reação. Aí começa um efeito-cascata: um saco de
perda de vidas
lixo jogado na rua é levado para um bueiro, vai para um córrego, que
humanas e de bens
encontra um rio, que deságua no mar. No encontro das marés, o lixo pode
carregados pelas
voltar para um rio, que talvez seja o manancial da sua cidade. E pronto: um
enchentes?
banho ou um copo d´água, sem tratamento, pode terminar em diarréia. São
Resultar na
milhares de sacos de lixo e outros impactos produzidos ao mesmo tempo.
proibição
dos banhos nas
Mas nem sempre o feitiço vira contra o feiticeiro. Quem recebe o produto
praias poluídas?
de nossas ações pode não ter as mesmas condições de enfrentar a situa-
ção. Você já pensou nisso? Conhecendo algumas soluções, do capítulo
Janelas do Futuro, podemos mudar este cenário e encher novamen-
te o poço com água.
41
7 Águas sem fronteiras: a gestão depende de cada um
Cada pessoa tem um jeito de organizar seu modo de viver. Programa a maneira de cuidar da
família, do trabalho ou do lazer, direcionando as atividades de acordo com o tempo, o espaço, as
limitações e os recursos. Conforme vai amadurecendo e interagindo com outras pessoas em
lugares, como a escola ou o trabalho, percebe que o seu jeito de levar a vida pode afetar a vida
dos outros. Quando forma uma família, faz parte de um grupo de amigos ou de colegas de
trabalho, passa a trocar idéias, muitas vezes, vivenciando situações de conflito onde é preciso
conversar e negociar soluções.

O que esta reflexão tem a ver com a Água? Tendo como espelho o cotidiano, podemos pensar
sobre os desafios e dificuldades encontradas no gerenciamento da Água. O primeiro deles tem a
ver com o fato de as discussões sobre o assunto terem ficado restritas, durante muito tempo, a
um grupo de cientistas e técnicos de universidades preocupados com a degradação dos rios e
com o agravamento dos conflitos de uso da água. A sociedade praticamente ignorou a questão
até surgirem movimentos organizados para discutir a forma de os governos gerenciarem os recur-
sos naturais. Estes grupos, além de exigirem um controle mais eficaz das questões ambientais,
passaram a estimular a participação da sociedade na resolução desses conflitos. Um segundo
desafio refere-se a problemas, como a escassez, a degradação da qualidade e o uso ineficiente
da água, que vêm se tornando insustentáveis. Mas o maior desafio de todos no processo de
gestão dos recursos hídricos sempre esteve na própria água: como administrar um recurso que
não estabelece fronteiras, que circula por todo o Planeta e do qual várias pessoas se beneficiam,
com diferentes usos, ao mesmo tempo?

A falta de visão do todo resultou num enfoque de gestão voltado à recuperação, à conservação, à
proteção ou ao controle de rios ou cursos d’água, de forma isolada. Um olhar muito limitado, pois
a água não existe sozinha no ambiente, ela faz parte de um conjunto, como elemento que liga tudo
e no qual todos se conectam para a vida. Graças ao avanço do conhecimento e à sensibilização das
pessoas, o enfoque para a gestão da água foi sendo ampliado, passando a abranger as áreas de
captação e incorporando a proteção dos recursos, como o solo, a flora, a fauna, os minerais e o
relevo, elementos estes que influem na produção e na descarga de água. Esta nova forma de
gestão, chamada de gestão por bacias hidrográficas, co-relaciona as atividades naturais e humanas
que influem na qualidade e na preservação dos recursos hídricos em uma determinada região.

A gestão da água
impõe um equilíbrio
entre os imperativos
de sua proteção
e as necessidades
de ordem econômica,
sanitária e social.

Artigo 9 da Declaração Universal


dos Direitos da Água

42
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Para explorar mais este assunto veja as atividades Quem sou eu neste pedaço, Qual a sua
gota de contribuição e Fazendo chover, do Guia de Atividades.

O que é e como se forma uma bacia hidrográfica

Uma bacia hidrográfica é uma área de grande superfície, formada por um conjunto de terras, por
onde corre um rio principal e seus afluentes, incluindo cabeceiras ou nascentes, divisores de
água, cursos d´água principais, afluentes, subafluentes, entre outros. Geralmente a água escoa
dos pontos mais altos para os mais baixos e a formação da bacia acontece pelo desgaste que a
água realiza no relevo de determinada área, podendo resultar em diversas formas: vales – depres-
sões nas montanhas, planícies mais ou menos largas, maior ou menor quantidade de nascentes.

O CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos e a ANA – Agência Nacional de Águas propu-
seram a definição de 12 principais regiões hidrográficas brasileiras. Olhando o mapa, localize
de qual região hidrográfica você faz parte e pode atuar?

As 12 Regiões
Hidrográficas Brasileiras
Amazonas
Tocantins-Araguaia
Atlântico NE Ocidental
Parnaíba
Atlântico NE Oriental
São Francisco
Atlântico Leste
Atlântico Sudeste
Paraná
Paraguai
Uruguai
Atlântico Sul

Fonte: ANA - Agência Nacional das Águas, 2005

É importante saber que a adoção de bacia hidrográfica, como unidade de gestão dos recursos
hídricos,, define um espaço geográfico de atuação que ajuda a promover o planejamento regional,
controlar o aproveitamento dos usos da água na região, a proteger e conservar as fontes de
captação nas partes altas da bacia e discutir com diferentes pessoas e setores as soluções para
os conflitos. Vale destacar também que a Bacia Hidrográfica está relacionada ao espaço físico e
não político, ou seja, geralmente ultrapassa a fronteira dos municípios, Estados e, mesmo, países.
43
7 Águas sem fronteiras: a gestão depende de cada um

Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

Para entender melhor como acontece a gestão nas regiões hidrográficas


brasileiras é preciso conhecer um pouco da estrutura de apoio do Siste-
ma Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos..

A utilização da água
implica respeito à lei.
Sua proteção constitui
uma obrigação jurídica
para todo homem
ou grupo social que
a utiliza. Esta questão
não deve ser ignorada
nem pelo homem
nem pelo Estado.

Artigo 8 da Declaração Universal


dos Direitos da Água

Fonte: www.mma.gov.br

No Ministério do Meio Ambiente, a coordenação geral dos recursos hídricos encontra-se dividida em 3
estruturas:

SRH - Secretaria Nacional de Recursos Hídricos: responsável por formular a Política Nacional de Recur-
sos Hídricos, integrando a gestão da água com a gestão ambiental do País. A Política Nacional trata do
conjunto de intenções, decisões, recomendações e determinações do governo, considerando o aproveita-
mento múltiplo, o controle e a conservação dos recursos hídricos. Ela se concretiza por meio de planos e
programas governamentais, cabendo a cada Estado ou município elaborar seus planos específicos.Em
2005, o Plano Nacional de Recursos Hídricos, que definirá as estratégias de conservação e gestão das
águas nos próximos vinte anos, começou a ser elaborado.

ANA - Agência Nacional de Águas:: responsável pela execução e implementação Política Nacional de
Recursos Hídricos e pela implementação do Sistema Nacional de Recursos Hídricos, disciplinando a
utilização dos rios, mediando conflitos e fiscalizando a utilização dos recursos hídricos no país, de forma
a evitar a poluição e o desperdício para garantir a boa qualidade da água.

CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos:: é composto por representantes dos Ministérios e
Secretarias da Presidência da República, dos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos, de organiza-
ções civis e dos usuários dos setores da agricultura, das indústrias, das concessionárias de energia
elétrica, da pesca, do lazer e turismo, da prestação de serviço público de abastecimento de água e
esgotamento sanitário, e das hidrovias. Ele promove a articulação entre os planejamentos nacional, regi-
onais, estaduais e dos setores usuários, acompanha a execução do Plano Nacional dos Recursos Hídricos
e determina as providências para o cumprimento de suas metas por meio de Resoluções e Moções.

Os Comitês de Bacias Hidrográficas

Antes da nova Lei das Águas no Brasil, instituída em 1997, os Comitês de Bacia eram fóruns de discus-
são dos problemas ligados aos recursos hídricos. Com a proposta de cobrança do uso da água prevista
44
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

na lei, os Comitês passaram a decidir sobre as prioridades de investimentos: quando, quanto e


para que cobrar pelo uso da água. Cada região tem ou terá um comitê de bacia, que pode ser
dividido em subcomitês, permitindo cada vez mais que os usuários diretos possam gerir suas
águas. Para saber mais acessar o site www.cnrh.gov.br; ou o www.ana.gov.br

Hoje não existe mais razão para ficar parado, só cobrando mais atuação dos governantes. É por
meio dos Comitês de Bacia que a sociedade pode dar sua contribuição para conservar e usar as
águas da sua região. Eles são verdadeiras assembléias nas quais é possível deliberar e articular
a atuação das entidades locais na resolução dos conflitos existentes na Bacia. Os Comitês são
compostos por vários representantes que partilham o uso da água: a União, no caso dos rios
federais, ou seja, que atravessam mais de um estado, os Estados, os municípios situados na
Bacia, usuários das águas, entidades civis (ONGs, Universidades, Associações entre outras) que
atuam na área.

Competências dos Comitês de Bacia:

• promover fóruns de debates, articulação e solução de conflitos da bacia;


• elaborar e acompanhar o Plano de Bacia Hidrográfica, que pode ser considerado como uma
“Bíblia das Águas”;
• encaminhar propostas de enquadramento de corpos d’água, segundo os usos;
• propor e estudar casos de isenção e obrigatoriedade de outorga: licença de uso de água;
• estabelecer mecanismos de cobrança pelo uso dos recursos hídricos;
• definir critérios e promover a distribuição proporcional de custos das obras de uso múlti-
plo da água, e
• solicitar, isoladamente ou em conjunto com outros comitês, a criação das Agências de Bacias.

Como participar de um Comitê de Bacia?

É hora de participar da gestão de nossas águas e levar nossas idéias a


algum Comitê de Bacia. Para que qualquer cidadão possa participar de
um comitê, opinar e ter direito a voto, é preciso pertencer a algum
tipo de sociedade organizada: ONGs, associações de bairro ou de
classe, universidades ou escolas. Mas isso não impede que
você esteja presente às reuniões do comitê para saber das
ações e dar as suas sugestões. Para participar procure os
órgãos públicos ambientais, as companhias de água e
esgoto, as associações e ongs que trabalhem pela cau-
sa e desenvolvam projetos de seu interesse.

Vale estimular a criação de um grupo de defesa das


águas, como proposto na atividade Grupos de
Ação: faça parte desta turma, do Guia de Atividades.

Quanto mais a gestão da água se der em nível estadu-


al, municipal e local, menor a burocracia e mais próxima
será a resolução dos conflitos. Uma outra forma impor-
tante de organização que vem ocorrendo é por meio de
Consórcios Intermunicipais de Bacia Hidrográfica.
Os Consórcios são organismos criados pelos municípi-
os localizados em uma Bacia.

45
7 Águas sem fronteiras: a gestão depende de cada um

Eles não têm as mesmas atribuições de um Comitê, pois envolvem mais


o poder municipal, mas contribuem muito para uma gestão integrada da
Bacia e podem ser o embrião de um Comitê. O Consórcio Intermunicipal
Lagos São João, no Rio de Janeiro, é um desses casos. Uma das suas
primeiras atividades foi o planejamento espacial, a divisão da região em
três bacias distintas e a definição de ações conforme o diagnóstico de
cada bacia. Para saber mais acesse: www.riolagos.com.br/cilsj
O planejamento
da gestão da água Por dentro da Lei das Águas
deve levar em conta
a solidariedade O Decreto Federal no 24.643, de 10 de julho de 1934, já estabelecia o
e o consenso Código de Águas, que previa legalmente águas comuns, municipais e
em razão de sua particulares, de uso gratuito. Com a Constituição Federal de 1988, todas
as águas foram decretadas de uso público, de domínio da União e dos
distribuição desigual
Estados. As águas que atravessam ou limitam mais de um Estado per-
sobre a Terra. tencem à União. Aos Estados cabe o domínio das águas de superfície e
subterrâneas, localizadas em seus limites territoriais. Quando presente
Artigo 10 da Declaração
Universal dos Direitos da Água em mais de um país, o rio é considerado transfronteiriço.

Em 8 de janeiro de 1997, a nova Lei das Águas no 9.433 instituiu a


Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos do Brasil. Os principais objetivos da Lei são assegurar à
atual e às futuras gerações a disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados, bem
como promover uma utilização racional e integrada dos recursos hídricos.

Compete à União e aos Estados legislar sobre as águas e organizar, a partir das bacias hidrográficas,
um sistema de administração de recursos hídricos que atenda as necessidades regionais. Cada
Constituição Estadual precisa tratar de políticas, diretrizes e critérios de gerenciamento de recur-
sos hídricos, ficando subordinada à legislação federal sobre as águas e o meio ambiente.

A nova lei definiu as bacias hidrográficas como unidades de planejamento para a gestão das
águas, estabelecendo que os Comitês de Bacias Hidrográficas, contando com a participação dos
usuários, das prefeituras, da sociedade civil organizada e dos demais níveis do governo (estaduais
e federal), devem tratar de seus conflitos em cada região.

Como a gestão deixou de ser centralizada, o Estado abre mão de uma parte de seus poderes e
compartilha, junto com os diversos segmentos da sociedade, uma participação ativa nas deci-
sões e na gestão das águas. O Poder Público, a sociedade civil organizada e os usuários da
água, que certamente conhecem os conflitos, integram os Comitês e atuam, em conjunto, na
busca de melhores soluções para sua realidade.

Pela legislação atual, a forma de atuação direta da sociedade ocorre com a sua participação no
Conselho Nacional de Recursos Hídricos, nos Comitês de Bacia Hidrográfica e nos Conselhos
Estaduais de Recursos Hídricos. A lei define ainda que as Agências de Bacia e os Comitês de
Bacia operacionalizam a cobrança pelo uso da água, sendo os recursos arrecadados destinados
a financiar os investimentos, conforme as prioridades decididas pelos Comitês de Bacia.

Outorga: o direito de uso da água

46
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Por tratar-se de um bem público, o uso da água para o


consumo ou para a utilização na produção industrial
requer uma autorização especial conhecida como Ou-
torga. Esta concessão, ou permissão de uso, conforme
o caso, é gratuita, sendo a administração pública a res-
ponsável por controlar o uso das águas, protegendo o
interesse público. A administração pode suspender a
licença em caso de conflito ou escassez, pelo não cum-
primento dos termos da outorga, pela ausência de uso
por um número determinado de anos, entre outros ca-
sos.

Cobrança: cobrar hoje e poupar para o


futuro

A cobrança pelo uso da água corresponde ao valor do paga-


mento pelo direito de seu uso, lançamento de esgotos e demais
resíduos líquidos. Este assunto tem gerado muitas discussões.
De um lado, estão aqueles que vêem a água como um direito funda-
mental do ser humano e, portanto, não deve ser cobrada. De outro lado, estão as pessoas preocu-
padas com a situação da água, sabendo que ela é um recurso natural limitado. Estas acreditam
que a cobrança é um meio de prevenir a escassez, pela conscientização dos usuários.

Cobrança da água traz a idéia de mais uma despesa a pagar entre tantas outras que já temos,
incluindo a conta d´água. Então, por que cobrar a água? É preciso entender, em primeiro lugar que
o que se tem cobrado, hoje, não é o uso, mas o serviço de captação, tratamento e distribuição da
água. Segundo, que sem a cobrança, quem se beneficia são aqueles que usam mal ou poluem as
águas, prejudicando a todos sem ter que responder por isso. A principal razão é que usamos a
água como um bem infinito, não reconhecendo que ela tem um valor econômico e que este recurso
se tornará muito caro para as futuras gerações. Agindo desta maneira, estamos pensando no hoje,
mas não no amanhã.

Quem usa muito ou polui a água, hoje divide o custo com toda a sociedade que paga, de forma
injusta, por tal atitude. O mesmo ocorre com o tratamento dos resíduos sólidos. A cobrança tem
como objetivo regular essa situação desigual e ser uma poupança para o futuro. É uma tentativa
de reverter o processo de degradação das águas por meio de um instrumento que possa ser
também educativo, no qual aprende-se que poluir sai mais caro do que prevenir.

Quando todos os usuários perceberem o valor da água, incluindo os gastos necessários para
obter água potável e tratar o que poluem, ficarão motivados a melhorar seu uso, evitando a degra-
dação e o desperdício de milhões de gotas que escoam pelos ralos todos os dias.

Já existe um certo consenso de que aqueles que captam a água da natureza para fins econômicos
ou a devolvem em forma de esgoto deverão pagar. É o conceito do usuário-pagador e do poluidor-
pagador. Estão incluídos neste grupo não só os setores industriais e agropecuários, mas também as
companhias de abastecimento de água públicas, mistas ou privadas. Mesmo pagando pelo uso da
água, os responsáveis pelo lançamento de poluentes e esgotos deverão cumprir as normas e pa-
drões legais para o controle de poluição das águas. Discussões, nos comitês, indicam que empre-
sas e agricultores que devolverem a água limpa aos rios poderão obter redução no valor da taxa.

47
7 Águas sem fronteiras: a gestão depende de cada um

Se todos somos
co-responsáveis pelo
desenvolvimento
e qualidade de vida,
podemos colaborar e
até mesmo influenciar
as tomadas de decisão
para que os recursos
arrecadados com
a cobrança sejam
direcionados para
reduzir as
desigualdades sociais
do país tais como:
melhorar o acesso
e qualidade de água
para todos; investir
nos métodos de
conservação da água,
incluindo a proteção
das florestas para
o controle do regime
hídrico regional;
priorizar, investir
e retomar as A cobrança pelo uso da água já vem sendo aplicada em algu-
esquecidas obras de mas bacias hidrográficas. Na região Sudeste, o CEIVAP –
saneamento básico, Comitê para a Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba
entre outros. Mais um do Sul já iniciou a cobrança. Os usuários dos empreendi-
motivo para que mentos instalados na bacia tiveram que declarar à ANA –
o sistema de cobrança Agência Nacional de Águas a quantidade de água que cap-
seja concebido com tam, consomem e devolvem aos rios sob a forma de efluentes,
a participação de todas em metros cúbicos por mês. No “exercício de cobrança”,
as partes envolvidas, promovido pelo Consórcio dos rios Piracicaba, Capivari e
discutindo a definição Jundiaí, no Estado de São Paulo, por exemplo, os consorci-
do modelo de ados pagam R$ 0,01 por m3, de forma voluntária.
cobrança. Conforme
orientações legais, A grande discussão é o valor da cobrança para o consu-
a fixação das tarifas em midor residencial. Neste caso, o cálculo do valor não é
cada região da bacia fácil. Os gráficos dos capítulos De Bem com a Vida
hidrográfica deverá demonstram a situação do abastecimento de água e da
considerar o tipo de rede coletora de esgotos no Brasil. Como cobrar de brasi-
uso, a disponibilidade leiros excluídos destes direitos ? No mínimo, a cobrança
hídrica do local, deve ser socialmente justa e incluir meios de proteger a
as obras hidráulicas, população empobrecida. Hoje, o consumo abaixo de de-
a vazão captada terminado valor, por mês, é isento pelas Companhias de
e o seu regime de Abastecimento de Água e de Esgoto, como forma de ga-
variação, o consumo rantir que as pessoas menos favorecidas tenham acesso
efetivo e a finalidade à água de boa qualidade.
do consumo.

48
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Fundamentos da política de gestão de recursos hídricos:

• definição da água como um bem de domínio público;


• a gestão deve proporcionar os usos múltiplos da água, priorizando, em caso de conflito,
o abastecimento público e a água para matar a sede animal, tornando igualitário, a todos os
tipos de usuários, o acesso aos recursos hídricos;
• visão da água como um bem finito e frágil, demonstrando a importância de usá-la de forma
racional para atender as gerações futuras;
• valoração da água, permitindo a cobrança pelo seu uso como forma de proteção do recurso
natural;
• gestão integrada, descentralizada e participativa: poder público, usuários, sociedade civil or-
ganizada, ONGs e outras instituições nas tomadas de decisão, e
• a Bacia Hidrográfica como unidade territorial para a implantação da Política Nacional de Recur-
sos Hídricos e a atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos

O papel de cada um

Para que os usuários discutam, entendam e participem do processo de definição da cobrança,


é necessário adotar uma estratégia de divulgação e de educação ambiental, ou seja,
ajudar cada um a entender o seu papel na gestão dos recursos hídricos. Veja a ativida-
de de mobilização Quem sou eu neste pedaço, do Guia de Atividades.

O papel do Estado: com a Constituição de 1988 e a nova Lei das Águas (no
9.433/97), cabe ao Estado definir diretrizes e apoiar técnica, administrativa e
financeiramente a gestão dos recursos hídricos, por meio da Secretaria Naci-
onal de Recursos Hídricos e da ANA – Agência Nacional de Águas.

O Papel da Sociedade Civil: com a participação


das organizações civis no Conselho Nacionall de
Recursos Hídricos, nos Comitês de Bacia
Hidrográfica e nos Conselhos Estaduais de Re-
cursos Hídricos, as decisões deixam de ser
tomadas apenas pelo Poder Público.
As ONGs, escolas, universidades e outros
grupos organizados têm um papel importan-
te na capacitação de recursos humanos e
orientação da população com programas de
educação ambiental.

O Papel do Usuário: além de cobrar o aces-


so à água e às condições mínimas de sane-
amento básico, precisamos colaborar na
conservação dos recursos naturais, ser so-
lidários e atuar efetivamente para reverter a
situação daqueles que enfrentam a dura re-
alidade de não ter água e de viver no meio
do esgoto. Como cada um pode participar
do processo de conservação e de gestão
da água no seu pedaço? Pense nisso!

49
8 Janelas do futuro

Presente em pequenas soluções criativas e alternativas ou em altas tecnologias, a conservação


ambiental passou a ser um grande parceiro econômico e social e não um obstáculo para o
desenvolvimento. Ao falarmos da água potável, será sempre mais difícil e caro obtê-la e tratá-la
do que conservá-la. Por essa razão, refletirmos sobre nosso estilo de vida e a região em que
habitamos, considerando a necessidade do uso mais eficiente, a cada dia, da gota d´água
disponível, é muito importante.

Vários atores devem se envolver, de forma participativa e conjunta, no planejamento de alternati-


vas para o aproveitamento e conservação dos recursos hídricos. Comunidades tradicionais e
ribeirinhas que conhecem o real valor da água para a natureza, cientistas e profissionais que
estudam idéias alternativas para suprir carências ambientais e sociais, empresários e governantes
que investem em tecnologias, todos têm um papel fundamental na busca de soluções, que, para se
tornarem eficazes, econômicas e adequadas a cada região do Brasil, devem fundir os conhecimen-
tos tradicional, científico e tecnológico. Que tecnologias e práticas são estas que ajudam a cuidar
das nossas águas?

Este capítulo pode colaborar com o desenvolvimento das atividades Faça uma Gota Feliz,
Grupos de Ação: Faça Parte desta Turma, Mutirão: Com as Mãos na Massa e Caia nesta Rede,
do Guia de Atividades
Atividades.

ETA

Muitas vezes, a água bruta, captada dos mananciais, tem gosto ruim, cor escura, odor ou partícu-
las, além de não ser totalmente potável. Seu destino será uma ETA -Estação de Tratamento de
Água, onde passará por vários processos: remoção do material grosseiro (pedras, folhas e ga-
lhos), clarificação, filtragem e desinfecção, que matará os microorganismos causadores de doen-
ças. A água, transformada em potável, é, então, armazenada em reservatórios e depois distribu-
ída por meio de redes de distribuição. Quem pensa que hoje já paga pela quantidade de água que
consome se engana. O valor cobrado em nossas contas mensais corresponde, por enquanto,
somente ao custo necessário para captar, tratar e distribuir a água que recebemos em casa.

50
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

ETE

Tão importante quanto tornar potável a água captada é devolvê-


la ao meio ambiente em condições de uso. O despejo, nos
cursos d´água, dos esgotos sanitários ou efluentes sem trata-
mento traz sérios riscos à saúde do meio ambiente e das po-
pulações. As Estações de Tratamento de Efluentes existem
para reduzir, ao mínimo, a situação de risco. O efluente bruto de
casas, prédios, escolas, indústrias e demais locais, coletado,
por meio de redes coletoras, é levado até uma estação de
tratamento, a fim de se remover os focos de contaminação, o
odor, a cor, os óleos e outras substâncias, que causem danos
aos seres humanos, ao meio aquático, à fauna e à flora. Todas
as indústrias são obrigadas a tratar seus efluentes. O lodo
orgânico, dependendo da qualidade do efluente, pode ser um
substituto para os fertilizantes químicos e a água pode ser
reutilizada e recirculada no ambiente doméstico e industrial.

Sanitário seco
Fotos: SABESP. Odair M. Faria

Em muitas comunidades, como não há canalização ou fossas


sépticas para o depósito e decomposição das fezes humanas,
estas acabam indo para o solo ou para a água, tornando-se
potenciais transmissores de doenças. A técnica do sanitário
seco vem sendo utilizada em algumas comunidades rurais,
como no sul da Bahia. Trata-se de um vaso sanitário parecido
com os comuns, mas que não está ligado às fossas ou rede
ETE de Barueri (SP)
de esgotos e não usa água. Ele tem um recipiente plástico no
51
8 Janelas do futuro

seu interior e, toda vez que alguém o usa, joga sobre as


fezes e urina uma camada de serragem, terra, folhas se-
cas, ou outra matéria orgânica. Este processo absorve a
umidade, elimina o cheiro e ajuda a afastar as moscas e
outros bichos. Quando o recipiente fica cheio é esvaziado
numa área de compostagem no quintal. Com o tempo, o
composto serve de alimento para alguns microorganismos
que, durante o processo de decomposição, liberam ener-
gia. A alta temperatura destrói os agentes causadores de
doenças e transforma o material em adubo orgânico. Além
de barato e ecológico, o sanitário seco tem colaborado para
melhorar as condições de higiene e saúde de muitas comu-
nidades.

Gestão integrada do lixo


www.ecocentro.org

Ao desenvolver as atividades Indigestão de um Curso


d´Água e Cada Lixo no seu Lugar, do Guia de Ativida-
des, podemos refletir: lixo e água não combinam. Enquanto
houver gente no Planeta, sempre haverá lixo.
Sanitário seco
A maioria das pessoas pensa que a melhor e a única solu-
ção para o lixo é a reciclagem. De fato, a reciclagem é um
método eficiente, mas para resolver a questão do lixo deve
ser associado a outros processos, num sistema de passos
e etapas a serem desenvolvidas em conjunto.

Em primeiro lugar, lixo deve ser jogado no lixo.. Até por-


que, se for em outro local, será difícil coletá-lo para dar-lhe
um destino adequado. Partindo do fato de que há muita
geração de lixo e pouco espaço, podemos tentar reduzir a
sua quantidade.. Campanhas e atividades de educação
ambiental que sensibilizem as pessoas a consumirem ape-
nas o necessário e a escolherem o tipo de produto e lixo
que irão gerar podem colaborar na redução.

Mesmo com essas atitudes, ainda continuará havendo lixo.


Ao reutilizar alguns tipos de lixo,, damos-lhes a chance
de aumentar a sua vida útil e garantir mais tempo para a
natureza recebê-los. Podemos introduzi-los novamente em
nossa vida, com outra finalidade diferente da original, como
a confecção de objetos e utensílios com materiais
reaproveitáveis ou promovendo a doação de jornais, revis-
tas, livros, brinquedos e roupas, em bom estado, para pro-
jetos comunitários.

Ainda assim haverá tipos de materiais que não podem ser


reutilizados, mas que podem ser separados e encaminha-
dos aos programas de reciclagem.. Neste processo, além
de tratar o lixo, economiza-se água, energia e matéria-pri-
ma da natureza. E o que não pode ser reduzido, reutilizado
ou reciclado? Será lixo e terá que ir para algum lugar, que
52
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

não seja a água. Os famosos lixões – áreas onde o lixo é jogado a céu aberto – não ofere-
cem nenhuma segurança. Os aterros sanitários são o locais mais indicados para receber
o lixo e devem observar, em sua construção e localização, os recursos hídricos existentes
como os mananciais subterrâneos e superficiais.

O solo do aterro deve ter uma base devidamente compactada e impermeabilizada pela
própria argila ou mantas de polietileno – um tipo de plástico, prevendo os caminhos ade-
quados para a saída do chorume – líquido gerado pela decomposição do lixo e um dos
principais poluentes da água - e as formas de tratá-lo. Os gases gerados no aterro deverão
ser coletados pelas tubulações e ter um destino adequado para não poluir o ar. A cobertura
com terra a cada disposição de camadas de lixo, o gerenciamento do posicionamento das
células de lixo, coordenado com as movimentações de caminhões e pás carregadeiras,
juntamente com todas as medidas ambientais já citadas, garantem a eficácia do aterro.

Tanto trabalho só poderá ser eficiente, se houver lugar para implantarmos novos aterros, quando
os antigos não tiverem mais espaço para o lixo. Voltamos ao início da questão: há espaços e
locais adequados para tanto lixo? Seria bom refletir sobre como está a situação da sua região e
começar a pensar em ações, num ciclo integrado de gerenciamento do lixo.

Reuso e reciclagem das águas

A água da máquina de lavar roupa ou do tanque, que já contém detergente, pode ser reutilizada
para lavar a rua, a calçada, o banheiro. Ou, ainda, um equipamento pode ser instalado para
captar a água da chuva e reaproveitá-la para atividades domésticas. O PURA – Programa de
Uso Racional da Água, da SABESP/SP, desenvolve ações para Redução de Perdas, Reuso
e Uso Racional da Água, além de oferecer dicas práticas de economia, e combate ao
desperdício. Algumas indústrias já adotam tecnologias para a recirculação e reuso da água,
diminuindo o consumo anual.

Foto: SABESP. Odair M. Faraia

Reuso de água para limpeza urbana

53
8 Janelas do futuro

A água usada é captada em pontos específicos do processo e


recirculada na própria produção industrial. Mesmo quando vira um
efluente industrial ou doméstico, a água pode ser tratada, com a
ajuda de filtros e de plantas aquáticas, e reutilizada na lavagem de
ruas, rega de jardins, desobstrução de redes de esgotos e de
águas pluviais, refrigeração, sistemas de incêndio, descarga para
vasos sanitários, entre outros usos. A cidade de Durban, na África
do Sul, economiza cerca de 10% do volume de água que utiliza , ao
tratar o esgoto doméstico e revender a água para o uso industrial.

Captação de água da chuva

A mesma chuva que alimenta os rios traz, hoje, esperança a mi-


Foto: Henrique Pinheiro

lhares de famílias que vivem em períodos de seca e escassez de


água doce em áreas urbanas e rurais. A técnica de captar a água
da chuva é tão antiga e popular que há dois mil anos já existiam,
na China, cacimbas e tanques coletores de chuva para fornecer
água potável. No México, astecas e maias, com sabedoria, de-
senvolveram sua agricultura baseada na colheita de água de chu-
Cisterna va, fornecida por cisternas para a população que vivia nas encos-
tas dos morros.

No Brasil, o projeto Um Milhão de Cisternas Rurais – P1MC, promovido pela ASA – Articulação no
Semi-Árido Brasileiro e pela ANA – Agência Nacional de Águas, envolvendo cerca de 800 entida-
des, busca superar as carências de água potável de um milhão de famílias rurais no semi-árido do
Nordeste a partir da construção de cisternas, que são pequenos reservatórios de água, protegidos
contra a entrada de animais e sujeira, e que procuram manter a temperatura e a qualidade da água.
A água da chuva captada de calhas e tubulações do telhado, da varanda ou de uma laje é
armazenada e passa por um processo de decantação e filtragem no qual folhas e outras impure-
zas mais grosseiras são separadas. A manutenção é simples, mas exige disciplina. As áreas de
captação têm que ser limpas; as calhas têm que ser mantidas em boas condições; a água não
pode ser retirada com baldes colocados no chão para evitar contaminação. As cisternas têm que
ficar cobertas para evitar dengue e a água usada para algumas atividades necessita ser fervida,
entre outras medidas.

Em cerca de 90% dos casos, a quantidade de água armazenada vinda de um telhado abastece, nos
períodos críticos de seca, quem mora debaixo dele. Outros sistemas de captação da água da chuva
superficial e no subsolo, como caldeirões, caxios e cacimbas, aproveitam o subsolo cristalino de
grande parte da região semi-árida do Nordeste. Fontes de água como estas contribuem para au-
mentar a produção e diminuir o êxodo rural, mas é necessário que estas tecnologias alternativas
sejam aceitas e haja vontade política para implementá-las. Ongs, trabalhadores e comunidades
precisam mobilizar os governantes para construir um modelo de desenvolvimento sustentável ade-
quado para suas regiões, sem ilusões de grandes projetos de irrigação.

Dessalinização da água

Existem várias tecnologias para retirar o sal da água do mar, como a osmose reversa e a técnica
desenvolvida pelo cientista francês Laurent Pannier, que segue o princípio da simbiose. Esta
última faz evaporar a água do mar a altas temperaturas. O vapor resultante fica livre do sal, das
impurezas e dos micróbios. Resfriado por um choque térmico, o vapor é rapidamente recuperado
e a água fica com pureza e qualidade semelhantes às da água da chuva. Em Dubai, cidade dos

54
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Emirados Árabes, dez milhões de litros de água marinha tratada por um


caro processo de dessalinização abastecem as piscinas de um Parque
Aquático. Já a osmose reversa consiste na passagem de água pura de
uma solução diluída para uma mais concentrada, através de uma mem-
brana, que separa as duas soluções. Essa técnica é utilizada em hospi-
tais para tratamento da água na hemodiálise; em navios, para obter água
potável; em Estados do Nordeste, para tratar a água salobra de alguns
poços, mas como é muito cara, torna-se uma solução insustentável e só
deve ser utilizada em situações especiais.

Biorremediação

Quando ocorre contaminação, uma das formas utilizadas para “limpeza”


do ambiente é a birremediação, que se dá por meio da ação de
microorganismos que vivem na natureza. Uma das técnicas usadas con-
siste em injetar ar no solo para que os microorganismos, bactérias e
fungos, proliferem e possam degradar o material poluente, reduzindo-o
ou, mesmo, eliminando a sua toxicidade. Além de ecologicamente corre-
to, o método é mais rápido e chega a ser entre 65% e 85% mais barato
que alguns tratamentos convencionais. Os experimentos devem identifi-
car se os tipos de microorganismos escolhidos, ao degradar o poluente,
não produzem outros poluentes, também tóxicos. Alguns países, inclusi-
ve o Brasil, já dominam e usam esta técnica.

Fundindo água e floresta

www.ecocentro.org
Crescendo nas margens dos cursos d´água, as matas ciliares têm um papel
fundamental para conservação dos rios. Elas evitam a erosão e mantêm a
água livre de sedimentos e de lixo; ajudam a regularizar os fluxos d´água;
garantem certa estabilidade na temperatura da água por meio do
sombreamento; barram pragas e doenças agrícolas; além de fornecerem
abrigo, alimento e água para muitas espécies de seres vivos. Recompor Ecossistema vivo
estas matas é muito importante, mas requer grande investimento em reflores-
tamento. Além da recuperação das matas ciliares é importante desenvolver o
manejo integrado de águas e florestas como uma política pública. Por isso, o
WWF-Brasil e diversos parceiros desenvolveram o Projeto Águas e Florestas,
que teve por objetivo mostrar o papel das florestas na conservação da bacia
hidrográfica. Para tanto, buscou integrar e implementar programas e ativida-
des de instituições públicas e privadas voltadas para a recuperação de águas
e florestas na Bacia do Paraíba do Sul, contribuindo para a gestão dos seus
recursos naturais, promovendo a conservação da biodiversidade e o desen-
volvimento regional sustentável. O Paraíba do Sul foi escolhido por ser uma
bacia prioritária e deverá ser exemplo para outras no Brasil.

Para que essa iniciativa ganhe escala e se torne uma política pública, foi
apresentado ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos, um documen-
to que propõe a criação de uma Resolução com diretrizes aos comitês
de bacias para integração das políticas e ações de gerenciamento e
manejo de recursos hídricos e florestais. Para atender e promover os
usos múltiplos da água é preciso garantir a saúde dos ecossistemas de
água doce. Assim,a adoção dessas medidas constituirá significativo
avanço para a conservação ambiental.

55
8 Janelas do futuro

www.ecocentro.org
Aquecedor solar de baixo custo

Águas, Cidades e Florestas


Eficiência energética
foi um estudo desenvolvido
pelo WWF e Banco Mundial
Cerca de 82% da matriz energética brasileira é originada pela
para demonstrar o papel das água, em especial, pelas hidrelétricas. Matriz energética significa
áreas protegidas de florestas a quantidade de uso de diferentes fontes de energia para abaste-
no suprimento de água para cer um país, um Estado ou uma região. O Programa Internacional
as cidades. O estudo envol- Aliança para a Economia de Energia, desenvolvido pela ONG
veu as 105 maiores cidades Alliance to Save Energy, com o apoio da USAID – Agência Norte-
do mundo e um dos resulta-
Americana para o Desenvolvimento, fornece auxílio aos municípi-
os para tornar seu sistema de abastecimento e distribuição da
dos que demonstra é que pelo
água mais eficiente no setor relacionado à energia. Os municípios
menos 30% delas dependem
de Fortaleza (CE) e Campina Grande (PB), por exemplo, fazem
diretamente dessas áreas parte deste programa. Tudo começa com a mobilização de funci-
protegidas para garantir o onários do governo, ONGs e membros da comunidade para a
abastecimento público. Outro criação de uma Comissão de Gerenciamento de Energia, respon-
dado interessante é que os sável pela execução de projetos de eficiência energética. As
moradores de Nova Iorque tecnologias e ações previstas incluem: a implantação de motores
concordaram em pagar um
de alto rendimento a fim de obter maior produção de energia;
bombas com tração mais baixa que gastam menos energia;
valor a mais na sua conta de
melhorias na potência dos equipamentos; substituição de equi-
água para proteção dos ma-
pamentos ultrapassados e de proporções impróprias; cálculo do
nanciais que abastecem a ci- fluxo d’água para identificação e eliminação de vazamentos; re-
dade. Eles entendem que é dução da demanda de energia e de água; substituições de enca-
mais barato proteger as áre- namentos; instalação de transformadores e luzes eficientes; cam-
as de mananciais do que tra- panhas de conscientização ao consumidor para minimizar o des-
tar a água poluída ou ter que perdício de água e de luz, entre outras.
construir grandes projetos de
engenharia para captação de
Sistemas de irrigação
água. Segundo o estudo, a
conservação dos mananciais Como já vimos no capítulo Espelho d´Água, a agricultura
consome 70% da água doce no mundo. Alguns métodos alter-
gera custos 6 vezes menores.
nativos de irrigação, do tipo “localizada”, apresentam menor
consumo de água, pois permitem colocar, junto ao sistema de
Fonte: www.wwf.org.br/agua raízes da planta e de forma mais eficiente, apenas a quantida-
de de água necessária.

56
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Os equipamentos e processos de automatização incorporados aos sistemas de irrigação


(gotejamento, micro-aspersão e pivô central) possibilitam operar e controlar a aplicação da água
e de fertilizantes, sendo ligados e desligados a partir de informações das condições da planta,
do solo e do clima. Com a implantação da cobrança pelo uso da água, tais métodos deverão ser
cada vez mais utilizados.

Planos de manejo sustentável

Para elaborar um plano de gestão de uma determinada área é preciso considerar o local
como um sistema integrado e não isolado. Ao analisar uma região litorânea, por exemplo,
não há como separar a terra do mar, o mangue da praia, os rios de água doce da água
salgada, as atividades comerciais das atividades de populações tradicionais. Também é
preciso planejar a utilização dos recursos naturais de maneira eficiente e renovável; desenvol-
ver técnicas de manejo que permitam manter a dependência estratégica que a água e
biodiversidade possuem; valorizar a identidade social e ambiental local, entre outros aspec-
tos. Um plano de manejo adequado para o litoral deve considerar o sistema como um todo e,
portanto, planejá-lo deve ser um trabalho conjunto que envolva pescadores, agentes de turis-
mo, indústrias, agricultores, governantes, associações de moradores, a fim de discutir para
cada ambiente atividades e medidas mais indicadas para a conservação local, como a pesca
periódica e monitorada ou o turismo controlado.

O Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, na Amazô-


nia, é exemplo desta visão global e integrada. Mamirauá é considerada a maior unidade de
conservação brasileira formada por florestas alagáveis, um ecossistema único no mundo. A
água, com seu regime de seca e cheias, enchentes e vazantes, afeta não só a flora como a
fauna local. Rios, braços, paranás, canais, lagos, furos, poças d’água, florestas alagadas
proporcionam inúmeros ambientes e riquezas para os seres que nela habitam. Declarada
como Sítio Ramsar, a Reserva integra um grupo de áreas úmidas de importância mundial, com
cerca de 5% de toda a extensão amazônica. Mamirauá não só tem riquezas naturais, como
também diversidade cultural. Este foi o maior desafio do seu Plano de Manejo: considerar o
ser humano como parte integrante do ecossistema, envolvendo 60 comunidades ribeirinhas,
apoiadas por técnicos, cientistas, assisten-
tes comunitários, como parte do proces-
so de pesquisa, desenvolvimento,
monitoramento e fiscalização das nor-
mas e recomendações estabelecidas
para o uso sustentável dos recursos na-
turais, como previsto no Plano de Ma-
nejo. Um Sistema de Zoneamento
da área, definido com base em
pesquisas científicas e gestão co-
munitária, delimita os locais em
que as comunidades humanas irão
desempenhar suas atividades e as
áreas destinadas para a conserva-
ção, sem colocar as espécies em
risco de extinção. Consulte o site
www.mamiraua.org.br para saber
mais sobre esta rica experiência.

57
9 Ciranda d’água
A capacidade do ser humano de criar e inventar contribuiu para mu-
dar e enriquecer a história da humanidade. Das invenções, a roda
d´água acabou se transformando numa grande ferramenta para abas-
tecimento, irrigação e geração de energia. Movendo moinhos para
transformar a mandioca em farinha, bombeando água nos engenhos
de café, ela atravessou a história e está presente até hoje na vida de
muitos brasileiros, pessoas que continuam a ver a água movimentar-
se em rodamoinhos, subir e descer pelas engrenagens, borbulhar,
bombear, bater e fazer a roda girar.
A água é a seiva de
nosso planeta. A água conquista pela sua inquietação de não ficar parada, de sempre
Ela é condição ter algum lugar para ir, de poder ser vista em todos os lugares e formas
essencial de vida possíveis. Consegue, de um jeito mágico, transformar-se a si mesma
de todo vegetal, em todas as coisas e transforma todas as coisas em si mesma. Indo de
animal ou ser um lado para outro, doce ou salgada, circula no Planeta, encontrando,
humano. Sem ela em cada lugar, pessoas com um jeito diferente de ser. A visão da água
não poderíamos pode mudar conforme o conhecimento, a cultura, o modo de vida ou as
raízes de cada um. É como se tivesse várias faces, dependendo de
conceber como são
quem a vê. Agora mesmo, você e tantas outras pessoas podem estar
a atmosfera, o clima, pensando na água de uma forma diferente da nossa.
a vegetação, a cultura
ou a agricultura. Alguns retratam a água do ponto de vista biológico, como fonte de vida
e solvente universal, elemento fundamental da fotossíntese, respiração,
Artigo 2 da Declaração Universal digestão, circulação, regulagem térmica e reprodução, responsável pelo
dos Direitos da Água
transporte, absorção de nutrientes e eliminação de resíduos.

Outros vêem o lado prático da água, vinculado a necessida-


des pessoais, como a higiene, a alimentação, o lazer,
atividades produtivas e industriais e à geração de energia.

Mas todos criamos um mundo de sentidos e significa-


dos para a vida e o ambiente e com a água estabelece-
mos uma relação simbólica. A água desperta nossas Você já reparou que
emoções e, muitas vezes, nos inspira a criar belas mani- todos os planetas do
festações artísticas. nosso Sistema Solar
são tratados no
Para poetas, músicos, escritores, pintores, repentistas, fo- masculino e somente
tógrafos e tantos outros, a água não é um elemento sem o nosso planeta
sabor, sem cor e sem cheiro. Pode transformar-se numa Terra, no feminino?
lágrima com sabor de saudade... Num mar de infinito azul Inconscientemente
como olhos que se perdem na imensidão... No doce frescor a consideramos
da infância ou num rio que cheira a podridão. a nossa mãe,
a nossa morada.
Pesquisar o imaginário e as manifestações culturais popu- Nosso corpo é parte
lares pode ser uma atividade rica e prazerosa. Vejamos o do planeta que se
que acontece numa Ciranda. Diferente da roda d´água, a constitui de sólidos,
força que faz a roda girar é a de pessoas, de todas as gases e de 70% de
idades, que prendem as mãos umas nas outras e formam líquidos.
um grande círculo, indo e vindo, sempre redondo. De uma
ciranda, podemos entrar, sair e entrar de novo, mas a for- Fonte: Gente cuidando das
mação da roda sempre continua. A viola vai tocando e o águas. Mazza Edições – 2002.

58
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

canto acompanhando, até que o ritmo mude. É a deixa para que a


roda mude o sentido e se crie uma nova sensação. Conheça,
dance e cante estas cirandas.

A roda muda de sentido e o mesmo acontece com a gente. Abrin- Pedra e Areia
do o nosso universo de inspirações, a cada descoberta que fizer- Lenine e Dudu Falcão
mos, poderemos obter um novo olhar sobre a água:
Olha! Que brisa é essa,
...percebendo que entre tantos brasileiros muitos são pescado- Que atravessa a imensidão do mar?
res, jangadeiros, ribeirinhos, pantaneiros, lavadeiras, portuários, Rezo, paguei promessa
surfistas, barqueiros, velejadores, remadores, nadadores. Como E fui a pé daqui até Dakar.
a água é companheira inseparável, vivem a vida e o ritmo da Praia, pedra e areia,
Boto e sereia, os olhos de Iemanjá
água. Para os pantaneiros que se distanciam dos entremeios dos
Água! Mágoa do mundo,
rios, a alimentação, o lazer e até mesmo o imaginário começam a
Por um segundo
se empobrecer. A mudança na relação simbólica e nos benefícios Achei que estava lá.
que a água traz no dia-a-dia também é refletida nos ribeirinhos Olha! Que luz é essa,
transferidos para outras áreas. Eles demonstram a relação vivida Que abre um caminho
com o rio como meio de sustento, mas também com uma noção Pelo chão do mar.
estética do ambiente e de sentido para a vida. Longe do rio, eles Lua, onde começa,
se sentem longe da natureza e de si próprios; Onde termina o tempo de sonhar?
“Eu tava na beira da praia
...encontrando apelidos para nossos córregos e rios, como cari- Ouvindo as pancadas
nhosamente já chamamos de “Velho Chico” o rio São Francisco; Das ondas do mar”.

...observando como nossas conversas são povoadas de expres-


sões coloquiais, como: “Quero beber deste conhecimento”, “Aque-
la menina é um poço de sabedoria”, “Preciso lavar a alma”, “Esta
atitude foi a gota d´água”, “Ninguém quer ir ao fundo do poço”,
e Lia
“Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” e a famosa Chamego d
“Desta água não beberei”; p u lar
Canto Po
uco
um verde lo
...resgatando lendas brasileiras, como a do navio encantado que O mar tem ue é beleza
navega nos rios amazônicos, quando a cobra-grande aparece u a ch o p o uco dize q
r
Ee co
m tanto co
em suas águas como uma sucuri gigante; ou de um ser mágico, Na praia te ritar riqueza
rouco gd e
chamado boto-rosa, que habita o fundo dos rios e igarapés e é Que eu fico
capaz de se transformar em ser humano. O mesmo “Velho Chico” gua fria
or, és de á
pode nos inspirar com seu personagem lendário caboclo d´água És, pescad iro
cirande
És moreno
dominando suas águas e peixes, garantindo fartura na pesca ou a m e go de Lia
És o ch
as canoas virando nas tempestades;

...identificando as diversas manifestações e práticas religiosas


que encontram nas águas a purificação, a renovação e a fé. A
Cântico do sol
imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, por
Oração de São
exemplo, foi retirada das águas do rio Parnaíba. Para os cristãos, Francisco de As
sis
São Pedro é o santo das chuvas e o protetor dos pescadores. Louvado sejas,
Muitos nordestinos realizam rituais e rezas com intuito de fazer meu Senhor
Pela irmã água
,
chover no solo castigado pela seca. Nos banhos diários, os sa- A qual é muito
útil e humilde
cerdotes indianos acreditam limpar a alma e o espírito para entrar E preciosa e ca
sta
em contato com os deuses. Osíris, da mitologia egípcia, é a deu-
sa da fecundidade e a criadora das águas, Iemanjá, a divindade
que reina sobre as águas do mar;

59
9 Ciranda d’água

... Considerando a água como princípio da vida, da saúde e da


purificação. Para Tales de Mileto, o filósofo, 300 a.C. “a água é o
princípio, a origem das coisas e Deus é aquela inteligência que
tudo faz da água”. Também não é por acaso que a localização
É esse mundo, com
das aldeias Xavantes se dá sempre às margens de um rio.
vários jeitos de ser,
O banho mantém o índio saudável e é um de seus rituais mais
ver e sentir a água,
importantes. A passagem dos jovens para a vida adulta aconte-
nos diversos
ce nos rios. No ritual de iniciação chamado Datsi-Wate, quando
cenários do Brasil,
ocorre a perfuração das orelhas, os índios ficam dentro do rio
que podemos
“batendo água” com as mãos durante dias, para anestesiar os
explorar. É um
lóbulos que receberão o par de brincos do adulto.
convite, para cada
um, em sua região,
... Lembrando que a água em seu estado natural, imaculada, é
buscar o que já
símbolo da pureza e da fertilidade. Águas mal cheirosas, escu-
existe, fazer novas
ras, escassas ou quase paradas refletem o comportamento de
descobertas ou criar
nossa sociedade, a imagem do ser humano, que poderá limitar
sua própria obra
nossas inspirações.
conforme a água o
inspirar.
A Dança da Ciranda é uma brincadeira que exige harmonia, pensar
junto, agilidade nas coreografias e grande concentração, humor e
boa direção para manter a formação da roda, para um lado ou para
o outro. Convidamos todos a entrarem nesta ciranda e percorrerem
conosco o caminho das águas.

Águas d
Tom Jo
e Março
Água bim
Arrigo Barnabé e Arnaldo Antunes
É pau, é
pedra,
É um re é
Da nuvem até o chão, sto de to o fim do camin
Do chão até o bueiro, É um ca co, é um ho
co de vid po
Do bueiro até o rio. É a noit ro, é a v uco sozinho
e, é a m ida, é o
São as or so
Do rio até a cachoeira. águas d te, é o laço é o l
Da cachoeira até a represa. É a prom e março anzol
essa de fechand
vida no oo
Da represa até a caixa d’água. teu cora verão
Da caixa d’água até o cano. ção
Do cano até a torneira.
Da torneira até o filtro
s
Do filtro até o copo. Lagoa dos Pato ça
ga
Do copo até a boca. Kledir Ramil e Fo
Tietes do
Da boca até a barriga. Tie tê
lagoa Almir Sater
Da barriga até a bexiga. Lá no fundo da -Rita Lee
ud ade boa
Da bexiga até a privada. Dorme uma sa
e se u sereno Tietes do T
Da privada até o esgoto. Longe dess ietê
o pe qu en o e vazio ficou Futuristas
Do esgoto até o rio. Coraçã aquarianos
iç as velas
ou
Do rio até outro rio. Sei que a vida gador
Paulistas n
ativos, uni-
s belas sou nave Nosso dest vos!
Do outro rio a outro rio. Mas em noite ino é sobre
Apesar dos viver
Outro rio outro rio. esgotos,
Toda água é a mesma água. Das fábrica
s,
Cada água é uma água só. Dos político
s,
Cada água é uma outra água. Dos escroto
s!
Toda água é mesmo água e só.

60
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Todo dia
Arnaldo Antunes

Debaixo d’água tudo era mais bonito


mais azul mais colorido
só faltava respirar
Mas tinha que respirar

Debaixo d’água se formando como um feto


sereno confortável amado completo
sem chão sem teto sem contato com o ar
Mas tinha que respirar

Todo dia; Todo dia, todo dia


Todo dia; Todo dia, todo dia
Todo dia

Debaixo d’água por encanto sem sorriso e sem pranto


sem lamento e sem saber o quanto
esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar

Debaixo d’água ficaria para sempre ficaria contente


longe de toda gente para sempre
no fundo do mar

Mas tinha que respirar


Todo dia; Todo dia, todo dia
Todo dia; Todo dia, todo dia
Todo dia
Festa do Tietê ini
e Paulo Vanzol
Sérgio Ricardo Debaixo d’água protegido salvo fora de perigo
aliviado sem perdão e sem pecado
etê,
Rio Tietê, rio Ti sem fome sem frio sem medo sem vontade de voltar
m ve r vo cê cristalino
Que bo Cuiabá Rennó
se mato ola e Carlos
Correndo por es Tetê Espínd Mas tinha que respirar
r de um menino
Com o vigo ouviu Debaixo d’água tudo era mais bonito
de um regato e onde se
Com a pureza ...Cuiabá d mais azul mais colorido
fundo ver
Que dá até pro io
Som de índ ira do rio só faltava respirar
o à be
etê, Cantand
Rio Tietê, rio Ti Cuiab á Mas tinha que respirar
o há de reverter vê
Teu curs De onde se Todo dia; Todo dia, todo dia
etê,
Rio Tietê, rio Ti Cuia à be ça Todo dia; Todo dia, todo dia
viver cuietê
É tempo de re Cabaça de Todo dia
rio Ti etê, Sobradinho
Rio Tietê,
os so breviver Sá e Guarabira
Nós vam
etê.
Rio Tietê, rio Ti O RAP do Mar
nffer
O homem cheg
a, já desfaz a na Dominique Stta
Tira a gente, põ tureza
e represa, diz
O São Francisc que tudo vai m
o lá prá cima da udar Autoridades,
Bahia e queixar:
Diz que dia men
os dia vai subi vim aqui para m abar,
E passo a pass r bem devagar ição tem que ac
o vai cumprindo toda essa polu durar
Do beato que di a profecia leza pouco vai
zia que o sertã senão essa be ar .
O sertão vai vi o ia alagar i mais lá rein
rar mar, dá no e a paz não va er ar ,
coração desesp
O medo que al
gum dia o mar A situação é de abar.
também vire se cu id ad o, ou o mar vai ac
rtão Tomem

61
10 Unindo os pingos d’água

Com tantas informações, dá vontade de sair por aí em busca de uma mudança na realidade.
Por onde andarmos veremos muita coisa, ouviremos muita gente, mas perceberemos que
muito ainda há por fazer. Como não podemos resolver tudo de uma só vez, o melhor é começar
em nosso espaço, em nosso dia-a-dia, como propõe a atividade Fazendo Chover, do Guia
de Atividades.

A questão é que para que a nossa vontade se concretize precisamos da ajuda de outras pesso-
as em torno da mesma causa, unidas pelo mesmo objetivo, num processo de mobilização.
Mais uma vez a água nos serve como exemplo. Quando dois sacos plásticos estão molhados e
se encontram, ficam tão grudados que é difícil separá-los. Isso acontece por causa das propri-
edades das moléculas da água, que, ao se fundirem, dificilmente se soltam. Pessoas podem se
unir como fazem os pingos d´água, com interesses comuns e coletivos, para mudar o que as
incomoda no cotidiano.

A mobilização requer mudanças no modo de ver e sentir o que nos cerca. Cuidar do nosso corpo,
de nossa casa, da água e do planeta não pode ser uma obrigação. O processo deve ser espon-
tâneo e fazer sentido para a pessoa.

Por essa razão, despertar a emoção das pessoas é uma das chaves do sucesso da mobilização.
Para sensibilizá-las, precisamos criar um clima de entusiasmo a partir de técnicas lúdicas, desper-
tando sonhos, sentimentos, reflexões e conhecimentos sobre a realidade das coisas à sua volta.
O Guia de Atividades pode nos auxiliar nesta etapa.

Cuidar adequadamente das águas não deve ser apenas um fim, mas sobretudo um meio de
vivermos num mundo melhor. A água merece ser tratada com a mesma emoção que envolve as
pessoas a cuidar, de modo espontâneo, generoso e atencioso, dos seres que mais amam na vida.

Juntamente com a sensibilização, precisamos estabelecer uma boa comunicação com o público a
ser mobilizado. Mobilizar para quem? Mobilizar para quê?

Comunicar os objetivos do que se deseja, de um jeito atraente e fácil, contribui para o engajamento
das pessoas. Algumas sugestões podem auxiliar este processo:

• identificar características específicas e marcantes do público: faixa etária, escolaridade, esti-


los de vida, hábitos culturais, condições sócio-econômicas e outras;
• escolher o modo de comunicação, a linguagem a ser utilizada e a mensagem a ser veiculada,
como frases de efeito e mensagens interessantes. Evitar abordar as questões com ingenuida-
de, o que fará com que as pessoas achem que está tudo bem; ou de forma pessimista, o que
fará com que se sintam incapazes de resolver a situação;
• as idéias precisam refletir o dia-a-dia da comunidade ou da escola. É preciso valorizar o ser
humano como capaz de resolver os problemas e não como um grande vilão da história;
• desenvolver processos participativos para construir o sentido de co-responsabilidade;
• criar formas de gerar uma identidade e afetividade com o meio ambiente: A que espaço eu
pertenço? Como meu espaço está?
• tomar todo o cuidado para não reproduzir preconceitos raciais, étnicos, de gênero, de classe
social, nos textos, falas e ilustrações;
• evitar textos (comunicação impressa) e falas (comunicação falada) longos e cansativos;
• priorizar a qualidade das informações. Selecionar o que estimula o público a refletir sobre atitudes
e valores em relação à água. Evitar impor comportamentos e sim ajudar cada um a perceber o
quanto é bom descobrir que determinada atitude muda tudo para um cenário melhor;
• estar atento à programação visual e formato dos materiais de comunicação, usando imagens e
ilustrações atraentes e simples de entender.
62
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Pessoas-chave são fundamentais no processo de mobilização, lideranças


que nos auxiliem a reunir mais pessoas da comunidade ou da escola. As-
sim como o aprendizado, a mobilização deve ser um processo criativo, dinâ-
mico e permanente, que leve a ricas experiências e divertidas descobertas.

Se a emoção move as pessoas, a razão ajuda a organizar suas idéias. Plane-


jar é a palavra-chave: Qual o caminho e as condições para caminhar? Para
implementar as ações, é importante evidenciar o que é mais importante, o
que vamos fazer primeiro, quando, quem será responsável. Veja as ativida-
des de mobilização do Guia de Atividades
Atividades.

A parceria nos ajuda a estabelecer ligações, a cooperar com outras pessoas


por uma causa comum, sendo um verdadeiro “certificado de cidadania”.
Um bom exemplo de mobilização são as redes de educação ambiental espa-
lhadas pelo Brasil, resultado da parceria entre educadores, ambientalistas,
ONGs e universidades. Algumas dicas para parcerias estão na atividade
Caia nesta Rede, do Guia de Atividades.
Orçamento
Participativo
Em algumas cidades brasileiras, exemplos de mobilização comunitária já ocor- É um processo
rem, como no chamado Orçamento participativo.. A cada ano são realizadas de democracia direta,
reuniões e plenárias de votação, abertas ao público, para discutir as priorida- voluntária e universal,
des de investimentos em obras, serviços e áreas, como saúde, educação, onde a população pode
lazer, esporte, cultura. O orçamento participativo, além de possibilitar o exercí- discutir e decidir sobre
cio da cidadania, ajuda a combater o individualismo e reforça o cooperativismo o orçamento
e o interesse comunitário. e as políticas públicas.
O cidadão não encerra
Em cidades, como Recife, Goiânia, Barra Mansa e Icapuí, já existe a experiên-
cia do Orçamento Participativo Mirim. As crianças das escolas públicas
sua participação
debatem sua realidade e definem temas e prioridades que são apresentadas no ato de votar na
ao Prefeito e seu Secretariado. Atividades lúdicas, oficinas de arte e redação e escolha do executivo
até passeatas pela cidade possibilitam conhecer os desejos e idéias dos jo- e do parlamento,
vens num mundo administrado por adultos. mas também decide
prioridades de gastos e
A elaboração das Agendas 21 e dos Planos de Bacia Hidrográfica, bem controla a gestão
como as oportunidades para auxiliar o planejamento urbano criadas pelo Esta- do governo.
tuto das Cidades, mesmo com foco e grau de engajamento diferente, também Com a Implantação
são espaços para inserir pessoas e instituições no debate sobre o
do Orçamento
gerenciamento dos recursos hídricos. Veja no capítulo Águas sem fron-
teiras o importante papel dos Comitês de Bacias na gestão das águas.
Participativo, o poder
de decisão sobre os
recursos públicos fica
comprtilhado entre
os poderes Executivo
e Legislativo
e a população.
A experiência mais
antiga no Brasil é
da cidade de Porto
Alegre/RS.

Fonte:
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/

63
10 Unindo os pingos d’água

Agenda 21 A mobilização nas escolas e na comunidade


Documento assinado por
mais de 170 países no Rio A escola é um privilegiado espaço de mobilização. Pela aprendi-
de Janeiro, em 1992, durante zagem a criança vai atribuindo significado àquilo que aprende,
não só em aulas ou palestras, mas também na quadra, corredo-
a Conferência Mundial de
res, bairro, riacho, local de trabalho dos pais. As trocas de expe-
Meio Ambiente – Eco-92, riências estimulam a percepção de que o mundo é feito de inúme-
serve de guia para as ações ras relações sociais. As descobertas e conflitos podem ser trans-
do governo e das formados em aprendizagem.
comunidades que procuram
o desenvolvimento sem É importante incentivar iniciativas de mobilização e ação dos alu-
destruir o meio ambiente. nos. Afinal, eles não são simples receptores de informações. Eles
Cidades, bairros, clubes, sempre têm algo importante a dizer. Precisamos dar-lhes oportu-
escolas também podem nidades para falar e partilhar as idéias, selecionar, interpretar,
fazer sua Agenda 21 local. buscar novas experiências, conferir significados, construir seu
próprio conhecimento e modificar a sua realidade. O importante é
Fonte: www.educar.sc.usp.br a vivência do que está sendo aprendido e o retorno que isso trará
para o aluno e para o seu meio.
A atividade Missão Água para a Vida - Água para Todos,
Estatuto da Cidade do Guia de Atividades, traz sugestões para ações de mobilização
Tem por objetivos, promover em torno da água. Veja algumas idéias:
o planejamento urbano de
forma sustentável, tendo • participar dos conselhos de escola, de associações de pais e mes-
como meta principal a tres, conselhos comunitários, sindicatos, associações de bairro
ou beneficentes, igreja, condomínio e grupos de voluntários;
qualidade de vida das
• promover campanhas, organizar festas ou comemorar datas fes-
pessoas e a proteção tivas é um jeito criativo de sensibilizar pessoas por uma causa;
ambiental em aglomerados • valorizar as iniciativas da comunidade, reconhecendo os auto-
urbanos e em cidades com res das idéias e instituindo prêmios de incentivo, estimula a
mais de 20.000 habitantes. participação das pessoas;
Os aglomerados urbanos • compor uma equipe multidisciplinar, valorizando os educadores,
irregulares têm no Estatuto pessoas da comunidade com diferentes habilidades e lideran-
da Cidade uma forma ças, contribui para a visão global da realidade a ser mudada;
legal de regularização. • buscar parcerias, a partir de um projeto que envolva o poder
Ao administrador público público, a iniciativa privada e a sociedade, garante maiores
chances de continuidade e compromissos;
é facultado implementar
• ter em mente que o maior parceiro de uma ação de mobilização
um planejamento urbano é o público e, portanto, deve existir um canal aberto e perma-
sustentável, buscando dar nente de interação com ele;
às propriedades ociosas • promover pequenas ações de mobilização no espaço da es-
uma função social cola, como verificar, de forma contínua e permanente, o consu-
compulsória, acabando mo de água, fazendo uma tabela comparativa e acompanhan-
com os vazios urbanos do a evolução dos gastos;
e a especulação imobiliária. • monitorar e avaliar os resultados, retornando o que aconteceu
para o público, é um passo importante para planejar novas ações.
Fonte: www.educar.sc.usp.br • aprender a respeitar as diferenças e tentar chegar a um con-
senso, para solução dos conflitos.

Nos processos de mobilização, todos saem ganhando


com a diversidade de idéias e com a busca de soluções.
O importante é sentir que fazemos parte desta história
e somos responsáveis pelo seu final!
64
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

Referências bibliográficas
Agência Nacional das Águas (ANA). A Evolução da Gestão dos Recursos Coutinho, Ismael. Gramática Histórica. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1968.
Hídricos no Brasil. Brasília: ANA, 2002.
Crivellaro, Carla Valeria Leonini. Ondas que te quero mar: educação ambiental
Agência Nacional das Águas (ANA). Regiões Hidrográ-ficas do Brasil: Ca- para comunidades costeiras: Mentalidade Marítima: relato de uma experiência.
racterização Geral e Aspectos Prioritários. Brasília: ANA, 2002. Porto Alegre, Gestal/ NEMA, 2001.

Agência Nacional das Águas (ANA). Relatório de Gestão 2001. Brasília: Dias, Genebaldo Freire. Atividades Interdisciplinares de Educação Ambiental.
ANA, 2002. 3ª. Ed. São Paulo: Gaia, 1994.

Agência de Proteção Ambiental Norte-Americana: Coordenadoria de Educa- Fundação Belgo-Mineira. Brasil 500 anos: redescobrindo as nossas águas. Belo
ção Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo. Horizonte, 2000.
Guia didático sobre o lixo no mar. São Paulo: SMA, 1997.
Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica. A engenharia da água. São Paulo:
Associação Super Eco. Água: explosão da vida (coleção Super Eco). São Rocha Edições, 1993.
Paulo: Super Eco, 1998.
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente. Vocabulário Básico de
Associação Super Eco. Programa Super Eco de Formação de Agentes Meio Ambiente. 3a. edição. Rio de Janeiro: Petrobrás, 1991.
Multiplicadores: Tema Água. 3a. edição. São Paulo: Super Eco, 1999.
Fundação SOS Mata Atlântica. Agressões ao meio ambiente: como e a quem
Associação Super Eco. Guia de Orientação e Apoio aos Educadores: Água. recorrer. 3a Edição. São Paulo, 2002.
Projeto de Educação Ambiental da CBA. UHE Piraju – Projeto Básico Ambiental.
1a. edição. São Paulo: Super Eco, 2001. __________. Ecópolis. Mãos à obra! Um Programa de Educação Ambiental. São
Paulo: Adgraf, 1996.
Azevedo, Luiz Gabriel (et alii). Série Água Brasil 2. Sistemas de Suporte à
Decisão para a Outorga de Direitos de Uso da Água no Brasil. Brasília: Governo do Estado do Rio de Janeiro; Secretaria de Estado de Meio Ambiente;
Banco Mundial, 2003. Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente. Enchentes: alerta à popu-
lação do estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2001.
Bezerra, Maria do Carmo Lima & Veiga, José Eli da. (coord). Agricultura
Sustentável. Brasília: Ministério do Meio Ambiente; Instituto brasileiro do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente, Coordenadoria de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; Consórcio Museu Educação Ambiental - CEAM; Instituto Ecoar para a Cidadania. Como fazer um
Emílio Goeldi, 2000. mutirão: Campanha “clean up the world” vamos limpar o mundo. São Paulo, 1998.

__________. & Munhoz, Tania Maria Tonelli. (coord. geral). Gestão dos Governo do Estado de São Paulo. Casa Militar. Gabinete do Governador. Coordenadoria
Recursos Naturais: subsídios à elaboração da Agenda 21 brasileira. Brasília: Estadual de Defesa Civil. História de um dia de chuva. São Paulo, 1990.
Ministério do meio Ambiente; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais renováveis; Consórcio TC/BR/FUNATURA, 2000. Gralla, Preston. Como funciona o meio ambiente. Trad. Andréa Nastri. São Paulo:
Quark Books, 1998.
__________. & Bursztyn, Marcel (coordenadores). Ciência e tecnologia
para o Desenvolvimento Sustentável. Brasília, Ministério do meio Ambiente; Granziera, M.L.M. Direito de Águas e Meio Ambiente. São Paulo: Cone Editora, 1993.
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis;
Consórcio CDS/UnB/Abipti, 2000. Instituto Ecoar para Cidadania e Instituto Crescer para a Cidadania. Obati-
Agenda 21 [projeto convivência e parceria]. São Paulo, Ecoar, 2002.
Bidegain, Paulo & Völcher, Claudio. Bacia Hidrográfica dos rios São João
e das Ostras – Águas, Terras e Conservação Ambiental. Rio de Janeiro: __________. Agenda 21 do pedaço. São Paulo, 2001.
Consórcio Intermunicipal para Gestão das Bacias Hidrográficas da Região
dos Lagos, Rio São João e Zona Costeira – CILSJ, 2001. JB Ecológico. Jornal do Brasil. A natureza humana aterrorizada. São Paulo, ano 2,
n.4., março 2003.
Bonacella, Paulo Henrique & Magossi, Luiz Roberto. A poluição da águas.
São Paulo: Moderna, 1991. (Coleção Desafios) Kageyama, Paulo Yoshio [et al.]. Restauração da mata ciliar - manual para
recuperação de áreas ciliares e microbacias. Rio de Janeiro: SEMADS, 2001.
Butzke, Ivani Cristina e Silva, Teomar Duarte da. Enchentes: a solução não
cai do céu. Blumenau: Fundação Água Viva, 1995. Kenda, Margaret e Williams, Phyllis S. Science wizardry for kids. New York:
Barron´s, 1992.
Cavinatto, Vilma Maria. Saneamento Básico. São Paulo: Moderna,1992.
(Coleção Desafio). Kraselis, Sérgio. “Sistemas para ter lucros com Água de Chuva. Metalúrgica
catarinense importa técnicas de coleta da Alemanha”. Gazeta Mercantil, 11 de
a
CETESB, São Paulo. Água, Lixo e Meio Ambiente. 2 .edição. São Paulo: abril de 2001.
CETESB, 1988.
Jornal da Biosfera. “Consórcio avança em direção ao Comitê de Bacia”. Edição
Chauí, Marilena. Introdução à História da Filosofia - dos Pré-Socráticos à 12, dezembro 2002, p.04.
Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1994.
Mayrink, José Maria. “Vocação hidrelétrica continuará prevalecendo”. O Estado
Colégio Rainha da Paz. Projeto Estudo do Meio: Brotas/Barra Bonita (SP). 5a de S. Paulo, 4 de junho de 2001.
série do Ensino Fundamental. São Paulo, 1999.
Medina, Naná Mininni. Educação ambiental: uma metodologia participativa de
Coletto, Loici Maria Marin. A Qualidade da água e sua importância para a formação. Petrópolis: Vozes, 1999.
vida. Curitiba: Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente.
Superintendência dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente, 1989. Mello, Sueli. “Sabesp incentiva uso mais racional”. Revista Saneamento Ambiental,
São Paulo, Novo saber/ Brasiliana, ano VII, n. 45, maio/ jun. 1997.
Corson, Walter H. Manual global de ecologia: o que você pode fazer a
respeito da crise do meio ambiente. São Paulo: Augustus, 1993. Mendonça, Rita. Como cuidar do seu meio ambiente. São Paulo: Bel Comunica-
ção, 2002. (Coleção Entenda e Aprenda)
Costa, Francisco José Lobato da. Série Água Brasil 1. Estratégias de
Gerenciamento de Recursos Hídricos no Brasil: Áreas de Cooperação com Michahelles, Kristina. “Políticas de conservação buscam evitar escassez hídrica”.
o Banco Mundial. 1a. edição. Brasília, 2003. Revista Ecologia e Desenvolvimento, São Paulo, ano 11, n 99, p. 32-5., jan./fev. 2002.

Costa, Helder & Teuber, Wilfried. Enchentes no Estado do Rio de Janeiro – Michel, François & Larvor, Yves. O livro da água: vida-ciência-ecologia. Trad.
Uma Abordagem Geral. Rio de Janeiro, SEMADS, 2001. Sonia de Souza Rangel. São Paulo: Melhoramentos, 1997.

65
Referências bibliográficas
Midkiff, Peter. “O lixo nosso de cada dia”. Jornal da Biosfera, n. 12, ____________. Relatório de qualidade das águas superficiais da bacia do
p.02, nov./dez. 2002. alto Paraguai – 1997-1998. Campo Grande, 1999.

Ministério do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazônia Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. A água no olhar da
Legal/ Secretaria dos Recursos Hídricos. Política Nacional de Recursos história. São Paulo, 1999.
Hídricos. Lei N. 9433 de 8 de janeiro de 1997. Brasília, 1997.
__________. Conceitos para se fazer educação ambiental. 2a Edição. São
Monticeli, João Jerônimo (et alii). Semana da Água: um programa de Paulo, 1997.
educação ambiental para crianças e adultos. São Paulo: Consórcio
Intermunicipal das Bacias dos rios Piracicaba e Capivari, 1996. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ciência hoje na escola, 4:
Meio Ambiente: Águas. Rio de Janeiro: Ciência Hoje, 1997.
__________. (coord). Organismos de Bacias Hidrográficas. Rio de Ja-
neiro: SEMADS, 2002. SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental) &
PROJESUL (Assistência Técnica e Projetos Rurais). 330 Dicas de atitudes
Odent, Michel Água e Sexualidade. São Paulo: Siciliano, 2005. práticas para você contribuir com a saúde do nosso Planeta - Terra, o
coração ainda bate – Guia de Conservação Ambiental.
Organização das Nações Unidas. Missão Terra: o resgate do Planeta.
Agenda 21, feita por crianças e jovens. Escrito e editado por crianças Telles, Marcelo de Queiroz et alii. Vivências Integradas com o Meio Ambien-
do mundo todo, em associação com a ONU. 5a.edição. São Paulo: te. São Paulo: Editora Sá, 2002.
Melhoramentos, 1994.
Thame, Antonio Carlos de Mendes (coord.). Comitês de bacias hidrográficas:
Ohtake, Ricardo (et alii) O livro do rio Tietê. Editora R.O, s.d. uma revolução conceitual. São Paulo: IQUAL, 2002.

Porto, Monica. Série Água Brasil 3. Recursos Hídricos e Saneamento na Tomaz, Kleber. “Atrás de cura, fiéis bebem água contaminada”. Folha Campi-
Região Metropolitana de São Paulo: Um desafio do tamanho da cidade. nas, 17 de agosto de 2002.
1a Edição. Brasília: Banco Mundial, 2003.
UNESCO. Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos
Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria da Habitação e Desen- – Water for People, Water for Life. UNESCO, 2003.
volvimento Urbano. Vamos defender a nossa água. São Paulo, 1991.
Vieira, Andrée de Ridder. “poluicaodas@guas.com”. Revista Nova Escola.
Quadrado, Adriano & Vergara, Rodrigo. “Vai faltar água?” Revista Super São Paulo, n. 160, p. 34-6, março 2003.
Interessante, São Paulo, n. 189, p. 43-6, junho de 2003.
Vitae Civilis & AGUA. Agenda 21 do Bairro Guapiruvu (vale do Ribeira, SP).
Rebouças, A. da C.; Braga, B. & Tundisi, J. G. (orgs.) Águas Doces no Brasil Sete Barras: Vitae Civilis (Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e
– Capital Ecológico, Uso e Conservação. São Paulo: Escrituras, 2002. Paz)/ AGUA (Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Guapiruvu),
1998.
Rebouças, A. da C. “O preço da água ´gratuita´ “. Revista Meio Ambien-
te Industrial, São Paulo, Ed. Tocalino, Ano VI, n.35, março/abril 2002. WWF-Brasil/Fundo Mundial para a Natureza. Programa de conservação e
gestão de água doce. Estratégia de 5 anos (julho 2001- junho 2006). Brasília,
Revista Água. Lata d’ água na cabeça, lá vai Guaribas. São Paulo, maio 2001.
Universidade da água, ano I, n.01, março 2003.

Revista Água e Vida. Centro de estudos de saneamento ambiental. CD-ROOM


Brasília, n.06. set/out, 1996.
Agência Nacional da Águas. HIDROGEO: Base Cartográfica Regiões e Esta-
Revista Águas e Energia Elétrica. Sistema de canais e Túneis vai dos do Brasil. Brasília.
garantir água para São Paulo. São Paulo, Secretaria de Recursos
Hídricos Saneamento e Obras, outubro 1998. Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
Plano de Bacia Hidrográfica 2000- 2003. São Paulo, 2003.
Revista Engenharia. Cuidando das águas do estado de São Paulo. São
Paulo, Instituto de Engenharia, ano 59, n. 548, 2001. Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos. Plano de Gerenciamento das
Águas da Bacia do Rio Jaguaribe. Diagnóstico, planejamento, Programa de
Revista Senac e Educação Ambiental. Seca: um drama sem solução. Rio Ações. Fortaleza, agosto de 2000.
de Janeiro, ano 10, n.03, setembro/dezembro 1992.

Ribemboim, Jacques (org). Mudando os padrões de produção e consu- Referências eletrônicas e dicas de sites
mo: textos para o século XXI. Brasília: Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/ Ministério do Meio www.abas.org
Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1997. (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas)
www. ana.gov.br
Rocha, Gerôncio A. Um copo d’água. São Leopoldo: Editora Unisinos, (ANA- Agência Nacional da Águas. Inform. sobre bacias hidrográficas e outros)
2002. www.agrisustentavel.com
(RAS – rede de Agricultura Sustentável)
Rodrigues, Vera Regina (coord). “Muda o mundo, Raimundo! Educação
www.agua.org.br
ambiental no ensino básico do Brasil”. Brasília, WWF, 1996.
(Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari, Jundiaí)
Romano Filho, Demóstenes; Sartini, Patrícia & Ferreira, Margarida Maria. www.aguaonline.com.br
Gente cuidando das águas. Belo Horizonte: Mazza, 2002. (Informações diversas sobre água)
www.aguavivasp.org.br
Selles, Ignez Muchelin (et alii). Revitalização de Rios - orientação técni- (ISA – Instituto Socioambiental – Campanha Água Viva para São Paulo)
ca. Rio de Janeiro: SEMADS, 2001. www.ambientebrasil.com.br
(Notícias sobre Meio Ambiente)
Secretaria de Estado de Meio Ambiente/ Fundação de Estado de Meio www.amda.org.br
Ambiente Pantanal. Coordenadoria de Recursos Hídricos e Qualidade (Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente)
Ambiental. Divisão Centro de Controle Ambiental. Relatório de qualidade das www.ase.org
águas superficiais da bacia do alto Paraguai – 1996. Campo Grande, 2000. (Alliance to Save Energy)

66
ÁGUA PARA A VIDA, ÁGUA PARA TODOS

www.bancomundial.org.br www.meioambiente.pro.br
(Grupo Banco Mundial. Conheça alguns projetos) (Águas Subterrâneas)
www.caesb.df.gov.br www.mma.gov.br
(Companhia de Saneamento do Distrito Federal) (Ministério do Meio Ambiente)
www.casan.com.br www.mma.gov.br/aguadelastro
(Companhia Catarinense de Águas e Saneamento) (Ministério do Meio Ambiente. Programa Global de Gerenciamento de Água de
www.cedae.rj.gov.br Lastro)
(Companhia Estadual de Águas e Esgotos) www.mobilizacao.org.br
www.ceivap.org.br (Banco de Dados de Projetos de Mobilização Social)
(Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul) www.oak.bio.br
www.cetesb.sp.gov.br (OAK Educação e Meio Ambiente)
(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental: Ciência e Tecnologia www.painelbrasil.tv
a Serviço do Meio Ambiente) (Notícias ambientais)
www.cenpec.org.br http://pnrh.cnrh-srh.gov.br
(Centro de Estudos e Pesq. em Educação, Cultura e Ação Comunitária) (Plano Nacional de Recursos Hídricos)
www.cidadaniapelasaguas.net www.pr.gov.br/pr12meses
(Grupo Cidadania pelas Águas – cidadãos mobilizados) (Projeto Paraná 12 meses do Governo do Paraná)
www.cidema.org.br www.rebea.org.br
(Consórcio Interm. para o Desenvolvimento Integrado das Bacias dos Rios (Rede Brasileira de Educação Ambiental)
Miranda e Apa) www.repea.org.br
www.cirandadoamor.com (Rede Paulista de Educação Ambiental)
(Dança Regional Ciranda do Amor – folclore, músicas, jogos) www.recursoshidricos.sp.gov.br
www.cnrh-srh.gov.br (Secretaria de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento)
(Conselho Nacional de Recursos Hídricos) www.rededasaguas.org.br
www.comiteitajai.org.br (Rede das Águas. Informações sobre água)
(Comitê do Itajaí) www.renovacao.com.br
www.comitepsm.sp.gov.br (Colégio Renovação – absoluto em educação. Projetos pedagógicos sobre água)
(Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul) www.riolagos.com.br
www.conservation.org.br (Consórcio Intermunicipal Lagos São João)
(Conservação Internacional do Brasil) www.riosvivos.org.br
www.crea-rj.org.br (Rios Vivos)
(Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do www.rodagua.com.br
Rio de Janeiro) (Projeto Roda D’Água. Programa de educação ambiental integrado aos currículos
www.cunolatina.com.br nacionais do ensino básico)
(Cuno University) www.sabesp.com.br
www.eco21.com.br (Companhia de Abastecimento de Água e Coleta de Esgotos de São Paulo)
(Eco 21 – Revista de Ecologia do Século 21) www.sema.rs.gov.br
www.ecoar.org.br (Secretaria Estadual do Meio Ambiente
(Instituto Ecoar para Cidadania) do Rio Grande do Sul)
www.ecodata.org.br www.senac.br
(Agência Brasileira de Meio Ambiente e Tecnologia da Informação) (Centro de Educação Ambienal do SENAC)
http://educar.sc.usp.br www.sosmatatlantica.org.br
(Programa Educ@ar) (Fundação SOS Mata Atlântica)
www.5elementos.org.br www.supereco.org.br
(Instituto 5 elementos) (Instituto Supereco)
www.epal.pt www.unesco.org
(EPAL - Empresa Portuguesa das Águas Livres) (Unesco)
www.estadao.com.br/ciencia www.uniagua.org.br
(Jornal O Estado de S. Paulo) (Universidade da Água)
www.folhadomeio.com.br www.unilivre.org.br
(Notícias Ambientais) (Universidade Livre do Meio Ambiente)
www.funasa.gov.br www.viaecologica.com.br
(Fundação Nacional da Saúde) (Notícias ambientais)
www.hidro.ufrj.br www.vidagua.org.br
(Laboratório de Hidrologia e Estudos do Meio Ambiente) (Instituto Ambiental Vidágua)
www.ibama.gov.br www.vitaecivilis.org.br
(IBAMA/MMA) (Vitae Civilis – Instituto para o Desenvolvimento,
www.ibge.gov.br Meio Ambiente e Paz)
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) www.waterweb.org
www.idrc.ca (“Water Web Consortium” – Informações sobre a água)
(International Development Research Centre) www.wateryear2003.org
www.iesb.org.br (International Year of Freshwater)
(Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia) www.who.int/en
www.ipam.org.br (OMS - Organização Mundial de Saúde)
(Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) www.wwf.org.br/agua
www.irpaa.org.br (WWF Brasil)
(Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – Convivência www.wwiuma.org.br
com o Semiárido) (Worldwatch Institute)
www.isa.org.br www.ybytucatu.com.br
(Instituto Socioambiental) (Comunicação Biorregional e Comunicação Alternativa)
www.mamiraua.org.br
(Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá)

67
Agradecimentos
Às pessoas que nos ajudaram... Michel Rodrigues
Mickela da Silva Souza
Abrahão Malulei Neto Miguel Scarcello
Adilson P. de S. Pereira Monica Riccitelli
Alcides Farias Noé Rafael da Silva
Álvaro Menezes Odair M. Faria
Ana Cristina Ghisleni Odo Primavesi
Ana Rita Pereira Alves Ozório Fonseca
Ana Terra Patrícia Otero
Anderson Falcão Priscila Melleiro Piagentini
Augusto de Araújo Almeida Netto Rebecca Abers
Breno Antonio dos Reis Renata Sanches
Carlos Gonçalves de Oliveira Sobrinho Renato Cunha
Cláudio Serricchio Ricardo Braga
Cristiane Santiago Ricardo Mendonça
Daniela Mendes Roberto Napoleão de Araújo
Demetrios Christofidis Rodrigo Vizeu Amorim
Edgar Montanarim Ronaldo de Luca F. Gonçalves
Edila Ferreira Moura Rosa Maria Formiga
Eduardo Cardoso Rosana Garjulli
Eduardo Teixeira Sandra Bittencourt
Émerson Espíndula Ségio Augusto Ribeiro
Fátima Ferreira da Silva Sérgio Colares
Francisca Britto Solimar Mendonça
Francisco Ribeiro Corrêa Stefane Henrique Monteiro dos Santos
Glodovir Augusto Zolet Sylvia Leitão
Guilherme Tavares Tânia Dias
Helena Alves Terezinha Onofre
Heloísa Dias Terezinha Silva
Henrique Pinheiro Thaumaturgo Peres
Ildisneya Velasco Dambros Ubirajara Santos
Inácio Amorim Valdaglênia Farias
Ivan Gonçalves Vânia Teixeira
Jânio Fagundes Borges Vera Rodrigues
João Batista Padilha Fernandes Virgínia Calaes Arbex
João Gonçalves
João Lúcio Farias de Oliveira Às instituições que contribuíram
Jorge Mendes
José Aldimiro Marques 5 Elementos - Instituto de educação e Pesquisa Ambiental
José Luis Lima de Oliveira Agência Nacional da Águas
José Oeiras Águas do Amazonas
Laura de Aquino Palma Associação Mico Leão Dourado
Leandro Ferreira Centro de Educação Ambiental de Guarulhos
Leila Heizer Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul
Leonice Lutufo Companhia Catarinense de Águas e Saneamento
Lucinda Assis Companhia Energética de São Paulo
Lucio Cadaval Bedê Companhia de Abastecimento e Esgotamento Sanitário de Brasília
Luis Roberto Camargos Dávila Companhia de Abastecimento e Esgotos de Manaus
Luiz Firmino M. Pereira Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará
Luiz Meneses Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
Luiz Paulo de Souza Pinto Companhia de Saneamento da Capital
Magali Medeiros Companhia de Saneamento de Minas Gerais
Manfredo Pires Companhia de Saneamento do Acre
Manoel Imbiriba Junior Companhia de Saneamento do Paraná
Marcelo Cavalcanti Companhia de Saneamento do Tocantins
Marcelo Moris Companhia Espírito Santense de Saneamento
Marcia Hirota Companhia Estadual de Águas e Esgotos
Márcio Borcosky Companhia Pernambucana de Saneamento
Márcio Borges Niemeyer Conservação Internacional do Brasil
Marcos André Lima da Cunha Consórcio dos Rios Santa Maria da Vitória e Jucu
Maria Josete Brasil Lopes Barros Departamento de Águas e Energia Elétrica
Maria Tavares Departamento Municipal de Água e Esgoto de Porto Alegre (RS)
Mariana Ramos Empresa Baiana de Águas e Saneamento
Mario Barroso Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Mario Borges Niemeyer Fotolab
Marlene Fugiwara Fundação Nacional de Saúde
Marlene Teixeira da Silva Instituto de Meio Ambiente do Acre
Marly de Oliveira Bonelli Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado - IPEC
Masaru Emoto Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Goiás
Mauro Ricardo Machado Costa Secretaria Nacional de Recursos Hídricos
Michael Becker Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém

68

Você também pode gostar