8165 9357 1 PB
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Resumo Em falésias costeiras no extremo oeste da Bacia Potiguar (Plataforma de Aracati), a Formação
Barreiras, de idade miocênica, exibe estruturas que caracterizam uma deformação de expressiva magnitude. O
levantamento em detalhe da geometria das falhas e dobras que afetam a Formação Barreiras conduziu ao reco-
nhecimento de estruturas distensionais (na localidade Ponta Grossa) e oblíquas contracionais (localidade Vila
Nova, próxima a Icapuí), associadas a um sistema de transcorrências com direções NE (nestas localidades) e
NW (Falha de Afonso Bezerra, na porção central da bacia). Os dados obtidos permitem caracterizar um campo
de tensões de idade neógena, que gerou falhas, dobras e estruturas hidroplásticas, incluindo trama SL e zonas
de cisalhamento, e reativou estruturas mais antigas, presentes na seção sedimentar neocretácea, subjacente. A
reinterpretação de seções sísmicas desta região e outros dados geológicos em várias localidades da Bacia Poti-
guar, permitiram delinear estruturas correlatas (em estilo e regime cinemático) afetando as rochas siliciclásticas
da Formação Açu e carbonáticas da Formação Jandaíra, bem como basaltos da Formação Macau, cuja idade
situa-se no limite Oligoceno-Mioceno. O reconhecimento desse arcabouço estrutural demanda compatibilizar
a deformação em superfície com aquela observada nas seções sísmicas, que inclui pulsos/eventos cuja idade
pode ser mais antiga (intervalo Neocretáceo a Paleógeno). Este modelo traz implicações importantes para a
estruturação (geometria, cinemática, idade de trapas) dos reservatórios de petróleo (especialmente os arenitos
da Formação Açu, no Campo de Fazenda Belém) e dos processos de migração e armadilhamento de hidrocar-
bonetos neste setor da Bacia Potiguar.
Palavras-chave: Bacia Potiguar, Neógeno, Formação Barreiras, campos de petróleo, Fazenda Belém.
Abstract Neogene deformation and its implications for the structural framework of the oil fields in
the Icapuí-Ponta Grossa (CE) region, onshore Potiguar Basin. In coastal cliffs at the western portion
of the Potiguar Basin (so-called Aracati Platform), the Barreiras Formation, of miocene age, displays structures
pointing to high strain deformation. Detailed mapping of faults and folds geometry in the Barreiras Formation
leds to recognition of extensional structures (at Ponta Grossa village) and contractional oblique structures (Vila
Nova, next to Icapuí town), both of them related to a transcurrent system bearing NE (at these locations) and
NW trends (Afonso Bezerra Fault, in the central portion of the basin). These data point to a neogene stress
field which generated faults, folds and hydroplastics structures, including SL fabrics and shear zones, as well
as reactivated older structures in the underlying neocretaceus sedimentary section. Reinterpretation of seismic
sections from this region and other geological data at several places in the Potiguar Basin outline structures
which are correlated (in style and kinematic regime) throughout the siliciclastic rocks of the Açu Formation,
limestones of the Jandaíra Formation and younger basalts of the Macau Formation, whose age straddles the
Oligocene-Miocene boundary. This structural framework recognized at the surface has to be compatible with
subsurface deformation as observed in seismic sections, which includes pulses/events of older, Neocretaceus
to Paleogene age. This model has important implications as regards the structure (geometry, kinematics, age op
traps) of oil reservoirs (especially the sandstones of the Açu Formation, in the Fazenda Belém Oil Field) and
the processes of migration and hydrocarbon entrapment at this region of the Potiguar Basin.
Keywords: Potiguar Basin, Neogene, Barreiras Formation, oil fields, Fazenda Belém.
INTRODUÇÃO Uma melhor compreensão da evo- palmente a partir de dados sísmicos ou sondagens. Por
lução tectônica da Bacia Potiguar constitui um ponto ex- outro lado, estão se acumulando evidências de estrutu-
tremamente importante para formular um modelo para a ras cenozóicas e reativações neotectônicas impressas
Margem Equatorial Brasileira. A estruturação principal nos litotipos aflorantes de idade pós-aptiana, na referida
da bacia é de idade eocretácea, sendo conhecida princi- bacia (Caldas et al. 1997, Dantas 1998, Bezerra et al.
1- Programa de Pós-Graduação em Geodinâmica e Geofísica, Departamento de Geologia e PRH22/ANP, UFRN. Natal (RN), Brasil.
E-mail: debora@geologia.ufrn.br
2 - Departamento de Geologia e PRH22/ANP, UFRN, Natal (RN), Brasil
1998, Jardim de Sá et al. 1999, Sousa et al. 1999, 2001), Formação Barreiras, além de sedimentos informalmen-
inclusive com reflexo importante em subsuperfície. Os te denominados de “pós-Barreiras”.
trabalhos citados documentam feições deformacionais
expressivas, penecontemporâneas ao importante marco LITOESTRATIGRAFIA DA ÁREA Na região
estratigráfico que é a Formação Barreiras. compreendida entre Icapuí e Lagoa do Mato, as litolo-
O controle estrutural envolvido na acumula- gias aflorantes são individualizadas em dois conjuntos:
ção de hidrocarbonetos é inferido, na maioria das ve- i) uma unidade carbonática, que ocorre de forma res-
zes, por métodos indiretos (sísmica) e amostras restritas trita, na base das falésias, e ii) unidades siliciclásticas,
(testemunhos e calhas). São comparativamente raras as que predominam lateral e verticalmente, ao longo das
oportunidades de conhecer e detalhar estruturas contro- falésias. O cenário de ocorrência destes dois conjuntos
ladoras de hidrocarbonetos em afloramentos que possi- pode ser observado nas figuras 1 e 2.
bilitam uma visão 3D. Na Bacia Potiguar, a migração e As rochas carbonáticas correlatas à Formação
acumulação de hidrocarbonetos constituem um processo Jandaíra afloram na base das falésias (Fig. 3), sob a
relativamente jovem, do Neógeno. Os marcadores deste forma de pequenos lajedos ao nível da praia atual, em
evento, aflorando no continente, incluem rochas sedi- geral recobertos pelas areias de praia na maior parte do
mentares cretáceas, pós-aptianas, e as formações Tibau ano. Esses afloramentos são compostos por calcários
e Barreiras, além de coberturas mais jovens. Detalhar a maciços, localmente fossilíferos, constituindo fácies de
estratigrafia e a estrutura desses depósitos contribui para packstones a wackestones bioclásticos, depositadas em
melhorar o conhecimento da seção de interesse econômi- ambiente lagunar com contribuição fluvial.
co na bacia, no que se refere à exploração e explotação As rochas da Formação Barreiras ocorrem sob
de petróleo na sua porção onshore e offshore rasa. a forma usual de estratos horizontalizados e não-de-
Os dados e resultados apresentados neste artigo formados, ou como camadas basculadas e afetadas por
são de interesse para a caracterização de reservatórios deformação de forte magnitude (acamamento e falhas
como os do Campo de Fazenda Belém, vizinho à área com forte basculamento), em um trecho mais restrito do
de trabalho detalhado no litoral. Adicionalmente, o mo- litoral a oeste de Icapuí (Sousa 2003). Nos trechos não-
delo estrutural definido tem implicações importantes deformados, as falésias expõem principalmente o nível
para o condicionamento de hidrocarbonetos em vários superior (fácies superior) da Formação Barreiras (Fig.
outros campos situados tanto na Bacia Potiguar quanto 3), o qual é composto por arenitos médios a grossos,
na Bacia do Ceará. com intercalações conglomeráticas de coloração aver-
O entendimento da evolução estrutural desta melhada, geralmente apresentando estrutura maciça.
região da margem continental, a partir das feições iden- Localmente (W de Ponta Grossa), algumas falésias exi-
tificadas nas unidades mais rasas/mais jovens da Ba- bem o nível inferior da Formação Barreiras, sobreposta
cia Potiguar, proporcionará uma melhor compreensão aos carbonatos da Formação Jandaíra. Todavia, é nas fa-
sobre a estruturação em profundidade, em especial na lésias com rochas deformadas (basculadas) que a fácies
seção neocretácea-terciária, de maior interesse para a inferior da Formação Barreiras está mais bem exposto,
exploração de hidrocarbonetos na bacia. Este tipo de sendo representado por arenitos médios a finos, com
dado pode subsidiar inferências sobre a migração e acu- coloração variando entre amarelo, roxo e vermelho, em
mulação de hidrocarbonetos, com aplicação potencial a alguns casos mostrando-se bastante oxidados.
campos como o de Fazenda Belém, que está situado no As rochas correlatas à Formação Tibau afloram no
prolongamento para S/SW da área estudada. extremo oeste da área, entre as localidades de Lagoa do
Mato e Sítio Retirinho (Fig. 3). Caracterizam-se por areni-
LOCALIZAÇÃO DA ÁREA E CONTEXTO GEO- tos médios a grossos, por vezes sem estrutura interna apa-
LÓGICO REGIONAL A área localiza-se na porção rente, com coloração amarelada a esverdeada, contendo
oeste da Bacia Potiguar, entre as localidades de Lagoa níveis de argila, possíveis marcas de raízes e grânulos de
do Mato e Icapuí, litoral oriental do Estado do Ceará quartzo dispersos. As rochas desta unidade transicionam
(Fig. 1). lateralmente para os litotipos da Formação Barreiras.
Geologicamente, esta área está situada na “Pla- Capeando discordantemente a porção superior
taforma de Aracati”, na qual a seção sedimentar pós- das rochas das formações Barreiras e Tibau (Fig. 3),
aptiana capeia uma extensa área do embasamento cris- ocorrem sedimentos que representam paleodunas e que
talino. Os mapas geológicos, seções sísmicas e mapas podem ser correlacionados à Formação Potengi, pre-
gravimétricos residuais identificam altos do embasa- sente em várias localidades no Estado do Rio Grande
mento, considerados feições paleogeomórficas, alinha- do Norte. Tais sedimentos são caracterizados por areias
dos na direção NE-SW. O embasamento é recoberto por de coloração branca, amarela ou vermelha, relaciona-
cerca de 400 m de arenitos fluviais albo-cenomanianos das à sedimentação eólica. Mais comumente, o contato
da Formação Açu. O registro de uma extensa platafor- inferior dos litotipos da Formação Potengi com as ro-
ma carbonática, de idade turoniana-neocampaniana, chas da Formação Barreiras se dá de forma erosional
é representada pela Formação Jandaíra, com cerca de (marcado pela diferença no grau de litificação dos se-
250 m de espessura nesta área, de acordo com dados dimentos), tornando-se mais nítido quando os estratos
de subsuperfície da PETROBRAS. Recobrindo estas sotopostos encontram-se basculados e falhados, carac-
litologias, ocorrem rochas siliciclásticas relacionadas à terizando uma discordância angular.
Figura 3 - Modo de ocorrência das rochas carbonáticas e siliciclásticas da região entre Ponta Grossa e Lagoa do
Mato. Observar a distribuição lateral das fácies da Formação Barreiras entre essas localidades, ilustrando o possível
controle tectônico-erosional na omissão da fácies inferior, no povoado de Ponta Grossa (a). Em direção a oeste, a
fácies inferior volta a aparecer, restritamente, na sede da Fazenda Retiro Grande (b). Ver localidades na figura 1.
vam sua espessura ao longo desta e de outras seções contra-se exposto sotoposto às rochas siliciclásticas da
intensamente deformadas. Próximo às falésias de Pon- Formação Barreiras;
ta Grossa, a SW, o calcário da Formação Jandaíra en- (c) Nas falésias de Ponta Grossa ocorre uma
Figura 5 - Falha distensional com estrutura rollover associada, afetando a fácies superior da Formação
Barreiras, na localidade de Retiro Grande.
te local, os estratos encontram-se novamente horizonta- pal de distensão referido no parágrafo precedente.
lizados, aparentemente pouco ou não deformados. Outra feição peculiar é a ocorrência de zonas
de cisalhamento com uma trama L>S desenvolvido
Estilo estrutural em superfície Considerando a re- por mecanismos de dissolução e precipitação, e mor-
gião de Ponta Grossa, as feições em macroescala mais fologia sigmoidal análoga às de equivalentes dúcteis.
marcantes são falhas distensionais N-S a NNE, com Tais estruturas apresentam direção WNW-ESE e rejeito
mergulho variando de alto a baixo ângulo, preferencial- normal, definindo um evento deformacional distinto do
mente para oeste. Os estratos encontram-se basculados anterior, mais jovem (as zonas de cisalhamento afetam
em torno de 30° a 40° para leste. Onde expostas ime- as camadas superiores da Formação Barreiras, previa-
diatamente a leste da vila (setor SW do corte na Fig. 6), mente basculadas), agora com direção de distensão
observa-se que o basculamento é mais forte (até 50°) aproximadamente N-S.
na seção (fácies) inferior da Formação Barreiras, sendo Na região de Vila Nova, próximo a Icapuí, a fi-
atenuado até o topo (correspondente à fácies superior). gura 7 ilustra uma seção estrutural onde é possível ob-
Juntas distensionais de alto ângulo, por vezes incipien- servar dobramentos na fácies inferior da Formação Bar-
temente sigmoidais, com direção N-S, cortam o acama- reiras, com estruturas anticlinais que ladeiam um graben
mento. Na fácies superior da Formação Barreiras, foi central, preenchido pela fácies superior da Formação
possível observar o espessamento e basculamento das Barreiras. As dobras são suaves, simétricas ou, menos
camadas para leste, incluindo uma camada de conglo- comumente, assimétricas (fraca vergência para SE).
merado lateritizado, próximo a uma falha principal N-S Associados ao dobramento, são identificados planos de
com mergulho para oeste, gerando uma estrutura rollo- clivagem de dissolução com arranjo em leque, direção
ver (Fig. 6). Tais feições estruturais podem ser compa- média NNE e mergulhos fortes (Fig. 7). Localmente,
tibilizadas com uma distensão E-W, em parte sindepo- as rochas exibem uma trama que inclui uma “lineação
sicional à fácies superior da Formação Barreiras. Esta de estiramento”, desenvolvida por processos de disso-
direção de distensão é a feição estrutural marcante na lução e precipitação de quartzo e óxidos/hidróxidos de
área, caracterizando o evento principal de deformação ferro, formando agregados ou concreções elipsoidais ou
na região de Ponta Grossa. prismáticas, com forte caimento. Falhas inversas de alto
No setor NE do corte na figura 6, o nível infe- ângulo, nos flancos das dobras, são identificadas em ex-
rior da Formação Barreiras apresenta falhas distensio- posições a oeste desta seção, sugerindo um mecanismo
nais planares com mergulhos de alto a baixo ângulo, de dobramento por deslizamento flexural. Essas feições
dominantemente para oeste, em arranjo dominó. O aca- contracionais estão restritas a este setor.
mamento encontra-se basculado para SE, sem apresen- Na mesma localidade, a deposição da fácies su-
tar variação na espessura das camadas, sugerindo que as perior da Formação Barreiras é controlada por estruturas
falhas são pós-deposicionais em relação à fácies inferior de grabens pull-apart, delimitados por falhas e zonas de
daquela formação. Este padrão também pode ser expli- cisalhamento oblíquas (sinistrais + normais), com di-
cado por distensão próxima a E-W/WNW, conforme in- reção N-NE, caracterizando um evento deformacional
dicado pela orientação das estrias nos planos de falhas; distensional superposto (vide a porção central da seção
deste modo, o mesmo correlaciona-se ao evento princi- representada na Fig. 7). Os arenitos da fácies superior
da Formação Barreiras são maciços, provavelmente por ticas da Formação Açu. Em alguns trechos das seções
efeito de fluidização contemporânea à deformação. Os sísmicas, os refletores na base da Formação Açu termi-
mesmos não exibem efeitos do dobramento que ocorre nam em onlap sobre os altos de embasamento cristalino
lateralmente, sugerindo que a deposição nos baixos es- (indicado pelas setas vermelhas na Fig. 8), indicando
truturais foi tardia em relação ao evento contracional. que os mesmos constituíam, pelo menos parcialmente,
feições paleotopográficas, quando da deposição dessa
INTERPRETAÇÃO DAS SEÇÕES SÍSMI- formação.
CAS Com base na interpretação de seções sísmicas As seções sísmicas também evidenciam que
cedidas pela PETROBRAS, foi possível distinguir duas o topo do embasamento cristalino/porção inferior da
unidades em subsuperfície: (i) o embasamento cristali- Formação Açu, e níveis estratigráficos superiores, já na
no pré-cambriano, cujo topo é marcado por refletores Formação Jandaíra, estão seccionados por várias falhas,
muito expressivos; sobre ele, ocorre (ii) a seção albia- que podem coincidir com os altos topográficos ou seus
na-neocretácea da bacia, correspondendo às formações flancos. Parte dessas falhas deve constituir reativações
Açu (na base) e Jandaíra (no topo), fortemente afetadas da(s) zona(s) de cisalhamento brasiliana(s) no embasa-
por falhamentos. mento, concentradas nos altos e suas bordas. Especial-
Nas seções sísmicas (Fig. 8) foram evidencia- mente quando seccionam os altos do embasamento, as
dos altos do embasamento cristalino, que se alinham se- falhas são de alto ângulo e com aspecto ramificado (Fig.
gundo a direção NE-SW, interpretados como de origem 8). Essas feições, associadas à presença de componentes
primariamente topográfica – cristas de rochas miloní- de rejeito geralmente inversos, apresentam geometria
ticas ou gnáissico-granitóides (marcadas por asterisco semelhante à de estruturas-em-flor positivas (Figs. 8 e
na Fig. 8), associadas às zonas de cisalhamento trans- 9), nas quais um componente importante de movimento
correntes brasilianas, de trend NE (feição comum no direcional estaria presente. O estilo estrutural descrito
embasamento desta região), exumadas pela erosão pré- é compatível com um regime de transpressão ao longo
albiana. Tal interpretação coaduna-se com as observa- de zonas de falhas com trend NE, definindo o Linea-
ções de terreno a SW do Campo de Fazenda Belém, na mento Ponta Grossa-Fazenda Belém – LPGFB, o qual
Serra Dantas e no Serrote dos Porcos, onde o embasa- afeta as formações Açu e Jandaíra. Esse estilo contrasta
mento aflora como janelas no interior da bacia, orlados com o regime distensional dominante, caracterizado na
pelos calcários da Formação Jandaíra, incluindo níveis Formação Barreiras em Ponta Grossa, embora possa ser
de conglomerados na base, ou pelas rochas siliciclás- comparado (embora não necessariamente cronocorrela-
to) às estruturas contracionais/transcorrentes nas falé- rejeitos (normal vs. inverso) em diferentes níveis es-
sias de Vila Nova. tratigráficos sugere uma inversão na cinemática das fa-
No mapa do topo do embasamento, obtido a lhas e do próprio contexto tectônico, com transpressão
partir da interpolação das seções sísmicas (Sousa 2003), seguida por transtração. Numa escala regional, esses
observa-se que as estruturas interpretadas têm direção eventos podem ser enquadrados no contexto tectônico
NE, com a ressalva do pequeno número de seções es- da Margem Equatorial e do interior continental adja-
tudadas. Neste setor da Bacia Potiguar, a direção NE cente, em correlação aos dados na literatura (Azevedo
corresponde a um persistente lineamento, designado de 1991, Matos 2000, Jardim de Sá 2001). O regime trans-
Lineamento Ponta Grossa – Fazenda Belém, o LPGFB pressivo, inferido a partir das estruturas que afetam as
(Sousa 2003). A sua direção coincide com as estrutu- formações Açu e Jandaíra, no nível inferior das seções
ras transpressionais precoces observadas na Formação sísmicas de Ponta Grossa, deve ter sido ativo durante
Barreiras, em Vila Nova. Por outro lado, as falhas dis- o Cretáceo Superior, pelo menos até o Paleógeno. O
tensionais N-S, em Ponta Grossa, parecem definir uma regime de transtração, com feições transpressivas mais
terminação ou ponte em transtração, que para este line- localizadas (p.ex., em Vila Nova), foi ativo durante a
amento identificariam um componente direcional sinis- deposição da Formação Barreiras. Recentes datações
tral, ativo durante a deposição da referida formação. geocronológicas, pelos métodos 39Ar-40Ar em rochas
Em direção ao topo nas seções sísmicas, as fa- vulcânicas sotopostas (Formação Macau) e óxidos de
lhas interpretadas se tornam menores e passam a do- Mn, e U-Th/He em óxidos/hidróxidos de Fe autigênicos
minar componentes de rejeito normal. A dualidade de e detríticos, permitem fixar uma idade mesomiocênica
Figura 11 - Mapa de contorno estrutural do topo da Formação Açu, com a distribuição dos
campos de óleo na referida formação (porção onshore da Bacia Potiguar). Modificado de
Bertani et al. (1990) e Vasconcelos et al. (1990). Campos: FZB- Fazenda Belém, IC- Icapuí,
CAM- Canto do Amaro, RE- Redonda, AR- Aratum, GMR Guamaré, FP- Fazenda Pocinho,
MAG- Monte Alegre, ARG- Alto do Rodrigues e ET- Estreito.
sário discutir o papel desse estilo estrutural na formação ções sísmicas indica que os paleoaltos do embasamento
e na conformação do Campo de Fazenda Belém, locali- tiveram a sua geometria modificada e amplificada por
zado sobre uma zona de falha reativada como transcor- estruturas-em-flor positivas, configurando trapas do tipo
rência sinistral em pelo menos duas etapas, desde a depo- combinadas (paleogeomórficas + estruturais).
sição das rochas-reservatório da Formação Açu até a de- A permoporosidade das falhas depende do es-
posição e deformação da Formação Barreiras. O regime tilo de deformação e das litologias justapostas, com
principal, acionado pela cinemática transcorrente/trans- resultado final freqüentemente apresentando balanço
formante da Margem Equatorial (Matos, 1999, 2000), positivo, por facilitar o fluxo de fluidos (fato notório
esteve ativo durante o Cretáceo Superior e/ou o Terci- nos afloramentos da Formação Barreiras, caracteriza-
ário, conforme indicado pelas estruturas que afetam, em dos por cores variegadas que são produto de oxida-
afloramento ou seções sísmicas, as rochas sedimentares ção, descoloração e precipitação devido à percolação
aflorantes da bacia. Reativações ou nucleação de falhas de fases fluidas). Por outro lado, o maior conteúdo de
transcorrentes E-W em arenitos de praia (Caldas et al. argilominerais e a freqüência de camadas ou lentes de
1997), conduzem à interpretação de que o mesmo con- sedimentos finos na Formação Barreiras favorecem a
tinuou ativo até o Holoceno. Interposto a este, tem-se o formação de espelhos argilosos, que exibem feições
registro de um evento de domeamento e distensão geral “miloníticas”, hidroplásticas; esses casos tendem a
na crosta superior, no intervalo Neógeno-Pleistoceno, le- produzir estruturas seladas. Na Formação Jandaíra, as
vando à reativação transtracional do LPGFB, tendo asso- falhas são comumente preenchidas por precipitados
ciado um enxame de falhas oblíquas e normais. carbonáticos, que encontraram espaços abertos durante
Durante a deformação, as estruturas mapeadas sua precipitação. Nos arenitos da Formação Açu, falhas
em superfície necessariamente se propagam em profun- e bandas de deformação desenvolvem uma matriz co-
didade. Nesse contexto, uma parte significativa da com- minuída, inicialmente aumentando a permoporosidade;
plexidade do Campo de Fazenda Belém pode ser de na- posteriormente, a precipitação de soluções ricas em sí-
tureza estrutural. O movimento das falhas pode justapor, lica tende a desenvolver estruturas seladas (Antonellini
lateral e/ou verticalmente, blocos da Formação Açu com & Aydin 1995, Aydin 2000).
porosidades distintas, condicionando rotas de migração Modelagens realizadas por Souto Filho (1994)
em menor escala, gerando e/ou destruindo trapas. Essa e Souto Filho et al. (2000) demonstram que, para a uni-
possibilidade deve ser considerada ao mesmo nível de dade Açu-3, decorridos 5 milhões de anos do início da
prioridade da hipótese de controle do reservatório pela migração a partir da Formação Alagamar (cujo pico do
geometria de canais, níveis selantes e outras feições se- evento é estimado na passagem do Oligoceno para o
dimentares. No mesmo sentido, a interpretação das se- Mioceno), o padrão de fluxo reconhece claramente o
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