Artigo Sayd Miranda A Teoria Da Cegueira Deliberada
Artigo Sayd Miranda A Teoria Da Cegueira Deliberada
Artigo Sayd Miranda A Teoria Da Cegueira Deliberada
Abstract: The present work aims to analyze the possibility of applying the Willfull
blindness doctrine, (Theory of deliberate blindness), derived from the jurisprudence
of the Supreme Court of the United States of America, in the current Brazilian order,
in particular to financial crimes, such as money laundering, corruption active and
passive. After analyzing the concepts of these crimes and their variants, a critical
analysis will be made of the Theory of Deliberate Blindness. Seeking a theoretical
overview, demonstrated the compatibility of the application in Brazilian law, as well
as already recognized by the Supreme Federal Court - STF in the judgment of the
crimes of the monthly allowance.
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Artigo apresentado ao Curso de Bacharelado em Direito
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Graduando em Direito pela Universidade do Sul do Maranhão – UNISULMA. E-mail:
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Professor orientador. Especialista em Direito Civil e Empresarial, FDDJ. E-mail: henryguilherme.f@gmail.com.
1. INTRODUÇÃO
Sleep era um proprietário de uma ferragem que embarcou num navio com
um barril que continha parafusos de cobre, estando alguns deles marcados
com um sinal em forma “flecha” para indicar que eram propriedade do
Estado. Por este motivo, Sleep foi acusado, em primeira instância, da
prática do crime de peculato6, cujo “conhecimento” de que os bens eram
propriedade do Estado era elemento do tipo normativo. Após Sleep ter
alegado, em sede de recurso, que não sabia da circunstância de que tais
sinais serviam para indicar que os parafusos eram pertences do Estado, a
condenação foi revogada com o fundamento de que: o júri não considerou
que o agente soubesse que os bens estavam marcados como propriedade
do Estado, nem que se abstivera intencionalmente de adquirir tal
conhecimento (EDWARDS,1889).
É valido ressaltar que nos crimes descritos pela Lei 9.613 de 1998,
encontraremos três fases, a saber mascaramento, ocultação e integração, como
veremos a seguir.
3.1.1 Dissimulação
Uma vez que o dinheiro foi colocado, faz-se necessário efetuar diversas
operações complexas, tanto nacionais como internacionalmente, visando
dificultar o seu rastreamento contábil. objetivo do criminoso nessa etapa
cortar a cadeia de evidências, ante a possibilidade de eventuais
investigações sobre a origem do dinheiro. (MENDRONI, 2015, p. 182)
3.1.3 Integração
Portanto, muito embora não haja previsão legal expressa para o dolo
eventual no crime do art. 1.º, caput, da Lei 9.613/1998 (como não há em
geral para qualquer outro crime no modelo brasileiro), há a possibilidade de
admiti-lo diante da previsão geral do art. 18, I, do CP e de sua pertinência e
relevância para a eficácia da lei de lavagem (TRF5,2009, on-line).
5. CONCLUSÃO
No que versa sobre a Teoria da Cegueira deliberada aplicada à legislação de
lavagem de dinheiro, lei 9.613 de 1998, percebemos que se trata de instituto recém-
chegado ao Brasil, mas já com muita história nas jurisprudências de tribunais
europeus e dos Estados Unidos da América.
A aplicação no Brasil encontra dificuldade, uma vez que se esbarra na
extensão quanto ao dolo, haja vista que só pode ser aplicado na modalidade de dolo
direto assim como descrito no art.18, inciso I do Código Penal Brasileiro.
Nas análises dos componentes sobre culpa e dolo, foi verificada a teoria do
dolo para aplicação correta na tipificação do delito previsto no art. 1º, paragrafo 2º da
lei de lavagem de dinheiro, sendo aplicado pela lei o dolo direto, e não eventual
como interpretação do juízo de 1º grau da 11º Vara de Justiça do TRF5º, que
discutiu matéria sobre aplicação das penas nos empresários que venderam veículos
para os envolvidos no assalto ao Banco Central.
Por se tratar de instituto novo a ser discutido pelos Tribunais brasileiros, a
Teoria da Cegueira Deliberada ainda não é bem desenvolvida e seus defensores
apresentam falha na interpretação e aplicação da jurisprudência advinda dos EUA,
conforme examinado na sentença condenatória do furto ao Banco Central de
Fortaleza, onde os proprietários da revendedora de veículos Brilhar Car, foram
condenados por participação na lavagem de dinheiro, fato este onde a Teoria da
Cegueira Deliberada se demonstrou inaplicável.
Sob este aspecto, a Teoria da Cegueira Deliberada prevê que para que o
agente seja punido de fato é necessário observar se este comete o ilícito, tenha
conhecimento da procedência do ato cometido, e, ainda, tenha como instituto final a
aferição de vantagens, podendo ter como resultado o lucro, facilitando a
concretização do crime.
Assim, percebe-se que o instituto estudado na Teoria da Cegueira Deliberada
encaixa-se com o dolo eventual, o que se procura é estendê-lo para crimes de
corrupção e lavagem de dinheiro a fim de punir os facilitadores do ilícito, que em
muitas vezes sabem do ilícito, e compactuam, vendendo, abrindo lojas de fachadas,
caracterizando-se, muitas vezes, como “laranjas”.
Portanto, para aplicação correta da teoria, devemos ter um desenvolvimento
a mais, e utilizar de um sistema jurídico que desenvolva através de jurisprudências e
doutrinas, o dolo eventual especificado para estes casos, uma vez que tal teoria
contribuiria para punir aqueles que realizam a lavagem, utilizando da ignorância
como subterfúgio para cometer o ilícito, bem como se valem deste artifício para
financiar o crime organizado, seja ele de colarinho branco, tráfico de drogas e a
gama de crimes financeiros que assolam o Brasil.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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S.A, 2018
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– SãoPaulo: Atlas, 2006.