Metodologia Do Ensino de Historia III
Metodologia Do Ensino de Historia III
Metodologia Do Ensino de Historia III
Aberta e a Distância
METODOLOGIA
DO ENSINO
DE HISTÓRIA III
Joana D’Arc Germano Hollerbach
Universidade
Federal
de Viçosa
Coordenadoria de Educação
Aberta e a Distância
Reitora
Nilda de Fátima Ferreira Soares
Vice-Reitor
Demetrius David da Silva
Diretor
Frederico Vieira Passos
Joana D’Arc Germano Hollerbach - Metodologia do Ensino de História III. Viçosa, 2012.
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Metodologia do Ensino de História III
Sumário
4 Apresentação
5 Introdução
9 O ensino de história na legislação pós-LDB: construindo novos paradigmas
11 1.1 Novos sujeitos, novos objetos: o papel da memória na construção da história
11 1.2 Patrimônio e memória
13 1.3 Museus como espaço de construção do conhecimento histórico
16 1.4 A pesquisa documental como metodologia do ensino de história: a
construção da história local
18 1.5 O ensino de história e a história local: o caso do projeto Recriando Histórias
20 1.6 O ensino de história a partir do estudo do meio: a cidade conta a história
22 1.7 O ensino de história e as tecnologias da comunicação: a história virtual a
partir das possibilidades reais
26 1.8 Em busca de conclusões...
27 Referências Bibliográficas
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Metodologia do Ensino de História III
Apresentação
“A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante
para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da
ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos
jovens. E educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças
o bastante para não expulsá-las a seus próprios recursos, e tampouco ar-
rancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e
imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a
tarefa de renovar um mundo comum.”
Hannah Arendt
O objetivo deste material é orientar a leitura dos textos que serviram de base
para o desenvolvimento da disciplina HIS 263 - METODOLOGIA DO ENSINO
DE HISTÓRIA III. Para tanto, faremos aqui uma introdução sobre a temática, si-
tuando o ensino de história na história e na legislação nacional, sem prejuízo do
aprofundamento que será feito ao longo da leitura.
Entendemos que o ensino de história sofre, como todas as outras disciplinas,
problemas que assolam a educação básica. Daí a importância de uma educação
histórica sólida, que permita a crianças e jovens compreender a sociedade e a
sua organização no tempo e no espaço. Possibilita ainda um olhar questionador
sobre permanências e admitindo rupturas que possam alterar a ordem social na
qual nos encontramos, acreditando sempre na possibilidade de construção de
uma educação pública, de qualidade e para todos.
É para isso que pretendemos contribuir.
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Metodologia do Ensino de História III
Introdução
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental apresen-
tam como um dos objetivos gerais da história valorizar o patrimônio sociocul-
tural, por meio do que o aluno irá, entre outras coisas, desenvolver a noção de
cidadania, ampliar sua percepção do outro, aprender a respeitar as diferenças
culturais e étnicas.
O documento oficial ainda recomenda a diversificação do trabalho em sala
de aula pelo uso de documentos, visita a museus e outros locais que favoreçam
a construção do conhecimento histórico e o debate, dentre outros.
Além de indicar uma abordagem conceitual mais relacionada à historiografia
contemporânea, pressupõe metodologias e critérios de avaliação que integrem
o aluno ao processo ensino-aprendizagem. Essa perspectiva metodológica pos-
sibilitaria a inserção do aluno nos processos históricos a partir da própria sala de
aula, colaborando, assim, para a elaboração de uma concepção de história na
qual o aluno se veja sujeito dos processos que o rodeiam.
O conceito de patrimônio, segundo Françoise Choay (2001), sofre alterações
ao longo do tempo. A autora fala do “culto ao patrimônio”, referindo-se ao desta-
que que é dado às questões que envolvem a herança histórica de uma socieda-
de. Segundo a autora, a importância do patrimônio está naquilo que ele repre-
senta, sua relação com a memória, como algo que traz de volta algo importante
que tenha sido vivido por aquele grupo, ou não.
A sociedade estabelece, portanto, relações com os espaços e com as coisas,
valorizando e esquecendo, destruindo ou construindo, segundo os interesses
dos seus membros, oficiais ou não. Para Janice Theodoro (1998), esquecer tam-
bém é uma forma de memória. Ao recontar a história, são descartadas algumas si-
tuações e assimiladas outras. E a cultura material também passa por essa seleção.
Ainda nesse sentido, admitimos que a memória seja fruto de uma constru-
ção, daí a necessidade de lugares de memória – como os museus, por exemplo
(NUNES, 2002). Em vista disto, a apropriação desses espaços na construção do
conhecimento histórico vem possibilitar uma ampliação das concepções tradi-
cionais de história.
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Metodologia do Ensino de História III
Saiba Mais:
Decreto-Lei 860/69, disponível em
http://www6.senado.gov.br/sicon/ExecutaPesquisaLegislacao.action
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Metodologia do Ensino de História III
!
A discussão não se restringiu a questões particulares relativas ao
ensino de História. Reformulações da legislação e da estrutura educa-
cional se estabeleceram tão logo o processo de transição democrática
se efetivou. Em 1986, iniciou-se um grande movimento de educadores
na busca da construção de uma política educacional que contemplasse
a parcela da população historicamente excluída dos processos educa-
tivos oficiais.
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Metodologia do Ensino de História III
A proposta de uma nova lei que orientaria a educação envolveu setores da so-
ciedade civil e o poder público nas suas três instâncias municipal, estadual e
federal (BRITO, 1998).
Foram realizados fóruns para a discussão da educação pública em âmbito
nacional, a partir dos quais foram organizados documentos que formalizavam
a proposta da sociedade para a educação brasileira. Um desses documentos
o texto de Demerval Saviani Contribuição à elaboração da nova LDB: um início de
conversa - foi a base para o primeiro projeto apresentado pelo deputado Octávio
Elísio (BRITO, 1998, p.54).
Desse primeiro projeto, apresentado ao Congresso Nacional em 1988, até o
texto final, em 1996, foi um longo caminho. Os trabalhos se estenderam ao lon-
go de oito anos, entre discussões e revisões, indo e vindo da Câmara dos Depu-
tados ao Senado Federal, terminando com a aprovação de um texto do senador
Darcy Ribeiro, que perdeu muito da proposta original. Entretanto, apesar das en-
xertias presentes no texto final e da articulação com o então governo Fernando
Henrique Cardoso1, à revelia das discussões construídas ao longo do processo, a
nova lei marcava um novo momento na educação brasileira.
!
Segundo Cury, a lei promulgada em 1996 marcou um avanço no
processo democrático brasileiro na medida em que estabeleceu a edu-
cação como direito público. O autor, contudo, adverte para a necessi-
dade da observação do que determina a LDBEN no que diz respeito à
obrigatoriedade e gratuidade da educação básica, sob pena de se com-
prometer os avanços alcançados.
1 Segundo Brito, a aprovação do texto proposto pelo Senador Darcy Ribeiro sem
vetos pelo então presidente da República indica a negociação realizada com o governo
Fernando Henrique Cardoso e a articulação com as diretrizes educacionais do MEC.
(BRITO, 1998, p.87).
2 Naquele momento o Ensino Fundamental era de 8 anos, indo da 1ª. à 8ª. séries.
Isso foi alterado em 06/02/2006 quando foi sancionada a Lei nº 11.274, que ampliou o
ensino fundamental para 9 anos.
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Metodologia do Ensino de História III
O ensino de história
na legislação pós-LDB:
construindo novos paradigmas
Para início dos nossos trabalhos, é importante identificarmos alguns marcos
legais que passaram a orientar o ensino de história a partir da promulgação da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996. Esse reconheci-
mento é importante para que possamos nos apropriar da legislação, enrique-
cendo o ensino da história, tão importante para a nossa formação e a formação
das crianças e dos jovens. É bom lembrar que todos os documentos citados aqui
se encontram disponíveis no sítio eletrônico do Ministério da Educação (www.
mec.gov.br).
!
Entre esses novos marcos legais, destacamos a própria Lei de Dire-
trizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), que exige licencia-
tura plena para a atuação no ensino fundamental e médio, e extingue
a formação em cursos de curta duração, estabelecida no período da
ditadura militar e que restringiram em muito a formação dos professo-
res da educação básica.
Saiba Mais:
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão disponíveis
na versão eletrônica para download
em formato de arquivo pdf no site do MEC.
Além dos PCN, novas diretrizes foram estabelecidas para a formação dos pro-
fessores de história. O parecer 492, de 03 de abril de 2001, da Câmara Superior
de Educação, do Conselho Nacional de Educação (CNE), foi muito importante
naquele momento. Esse parecer veio definir as diretrizes para os formandos em
história. Logo em seguida, duas resoluções foram fundamentais para garantir
que a formação dos licenciados fosse resguardada no seu aspecto qualitativo.
Uma delas foi a Resolução nº. 2, de 19/02/2002, do Conselho Pleno, do
Conselho Nacional de Educação (CP/CNE). Essa resolução instituiu a duração e
a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de
professores da educação básica em nível superior. Essa carga horária mínima é
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Metodologia do Ensino de História III
de 2.800 horas, das quais 400 (quatrocentas) são de prática, 400 de estágio curri-
cular supervisionado, 1.800 de aulas para os conteúdos curriculares de natureza
científico-cultural e 200 horas para atividades acadêmico-científico-culturais.
A Resolução nº. 13, do Conselho Pleno, do Conselho Nacional de Educação,
em 13 de março de 2002, estabeleceu as diretrizes curriculares para os cursos de
história. Mas o que falam as novas diretrizes? Essa é uma pergunta importante,
visto que seremos professores de história e precisamos nos apropriar dessas nor-
mas, para o bom desempenho das nossas atividades.
O movimento hoje conhecido como a Nova História tem sua origem ligada
à fundação da revista Annales, em Estrasburgo, na França, em 1929. A proposta
dos idealizadores do movimento – Marc Bloch e Lucien Febvre – era de rompi-
mento com a exclusividade da história econômica, além da proposta de proble-
matização dos fatos históricos. Para a escrita da Nova História, era proposta uma
redefinição de conceitos como tempo histórico, sujeito histórico e fato histórico
e a adoção de novos objetos e novas fontes para a pesquisa histórica.
Dentro da perspectiva da corrente historiográfica conhecida como Nova His-
tória, é proposta uma revisão da historiografia que passa a admitir novas aborda-
gens para a pesquisa histórica. Nessa nova perspectiva, são ouvidos outros ato-
res, antes silenciados pelo poder dos grandes vultos. O tempo não é o mesmo em
todos os lugares – o que se dá a partir do rompimento com a idéia de evolução e
progresso. E a idéia de neutralidade do pesquisador também é questionada.
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Metodologia do Ensino de História III
nas atividades dos alunos dos espaços particulares de memória, como a família,
a comunidade e os arquivos pessoais.
Outra possibilidade de escrita da história é conhecida como o materialismo
histórico dialético, que também rompe com os ideais positivistas. A partir de es-
tudos de Karl Marx e Friedrich Engels, essa corrente teórica admite o trabalho
como categoria central de análise da sociedade, e a luta de classes como o mo-
tor das mudanças sociais. A compreensão dos fatos históricos se dá a partir da
análise das relações de trabalho, o que permite problematizar as desigualdades
sociais e a distribuição da riqueza.
!
Assim, cabe a nós problematizar e discutir o papel da memória e da
escola na construção da história. Entendemos que a escola tem um pa-
pel muito importante no sentido de estimular o senso de preservação
da memória social coletiva. A escola é também um espaço privilegiado
de exercício da cidadania - disso não temos dúvida. É preciso, então,
assumir o conhecimento e a valorização do patrimônio como prática
cidadã.
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Metodologia do Ensino de História III
Saiba Mais:
Veja o decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, que organiza
a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional no portal do
Palácio do Planalto:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm.
Mas, afinal, o que é patrimônio 2cultural? Ricardo Oriá, em seu texto, nos traz
três categorias. A primeira delas envolve os elementos ligados à natureza – os
rios, as montanhas, os animais, enfim, o habitat natural. A segunda categoria, diz
respeito ao conhecimento produzido pelos homens, às técnicas empregadas
na produção de bens e aos saberes acumulados ao longo do tempo pela huma-
nidade. Por fim, mas não menos importantes, constituem a última categoria as
construções, os objetos e os artefatos construídos pelos homens aqui con-
sideramos as edificações, as ferramentas, os adornos, o vestuário, por exemplo.
Considerando, então, que o texto constitucional já admite essa definição, uma
questão pode ser colocada aqui: qual é o patrimônio histórico do nosso municí-
pio? Vamos pensar sobre isso...
Diante de todas essas considerações, nos perguntamos então: por que pre-
servar?
A preservação é importante como lembrança do passado, mas não só isso...
Preservar os espaços de memória é relevante também como possibilidade de
compreensão da história e dos seus processos. Mas, além disso, também como
reconhecimento das semelhanças e diferenças entre nós e os outros.
Diante dessa constatação, fica a pergunta: quem (e o quê) nós elegemos para
preservar na lembrança? Durante muito tempo (e talvez ainda hoje...) foi privile-
giada a lembrança dos mais ricos e dos que dominavam as relações sociais, dos
políticos e das autoridades.
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Metodologia do Ensino de História III
A memória como direito é outro destaque feito pelo autor que não pode-
mos deixar passar despercebido. Ao preservar a memória coletiva, preserva-se
também a história de uma comunidade, seus percursos e processos. Um povo se
reconhece como tal na história que compartilha e é daí que vem a possibilidade
de luta e de transformação.
Nesse sentido, a depredação que frequentemente observamos nos espaços
públicos nos leva a crer que esse sentimento de pertencimento ao lugar e à his-
tória ainda está por construir. Nesse sentido, o papel da escola e do ensino de
história é fundamental para colaborar com a criação de significado para a popu-
lação dos monumentos erigidos como representantes da memória coletiva. Para
o exercício da democracia e da cidadania, é importante o indivíduo se reconhe-
cer como parte daquela história.
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Metodologia do Ensino de História III
Saiba Mais:
É possível conhecer as obras desse artista no site www.musee-rodin.fr/en.
Mas ainda nos perguntamos: por que visitar museus? As várias revisões na
teoria da história nos levaram a perceber que o estudo, a pesquisa e o ensino
podem acontecer em lugares diversos. Daí, percebermos o potencial educativo
desses espaços.
O museu permite tornar o conhecimento histórico concreto, palpável, pela
exposição de objetos dos mais variados tipos, nos remetendo à rotina daqueles
que nos antecederam no tempo e no espaço, ou que vivem numa outra socieda-
de, diferente da nossa.
Permite também a preservação do passado e da memória e a construção da
sua relação com o presente. Temos com a observação e análise das exposições
a possibilidade de encontrar semelhanças entre as nossas atividades e aquelas
desenvolvidas por outras pessoas. Mas é preciso ter um cuidado: as coleções de-
vem fazer sentido para os visitantes e para os estudantes. Por isso, é importante
que o professor tenha um contato prévio com o acervo a ser visitado.
Portanto, ao considerarmos a ação educativa dos museus, precisamos estar
atentos a alguns aspectos. Cabe aqui destacar a importância da atenção à ade-
quação da exposição ao perfil do público visitante: se são crianças ou adolescen-
tes, se já são alfabetizados ou não, se é necessário uma aula anterior à visita para
introdução do tema explorado pela exposição, etc. Outras possibilidades são as
visitas monitoradas; as oficinas promovidas por algumas instituições; o material
didático para empréstimo disponibilizado por alguns museus; as conferências
abertas ao público e os estágios de formação propostos por algumas instituições.
Os autores Adriana Mortara Almeida e Camilo de Mello Vasconcelos apre-
sentam a proposta de integração com professores e alunos de história do MAE
Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP). O MAE
disponibiliza coleções arqueológicas da pré-história geral e americana, além de
outras referentes à etnografia brasileira e afro-brasileira. Desenvolve atividades
de ensino, pesquisa e extensão e promove a proteção e a valorização do patri-
mônio histórico.
A proposta do MAE contempla atividades para professores e para estudan-
tes. Para os professores, há treinamentos para visitas monitoradas e cursos de
aprofundamento. Para estudantes, são programadas visitas monitoradas e a ela-
boração de roteiros articulados com o conteúdo escolar.
Nesse museu, ainda há outras possibilidades de atividades a serem desen-
volvidas. Uma delas é a abordagem do trabalho arqueológico, que é uma das
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Metodologia do Ensino de História III
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Pedro_Am%C3%A9rico
Saiba Mais:
No site do Museu do Ipiranga estão disponíveis vídeos sobre algumas
exposições. Confira! www.mp.usp.br
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Metodologia do Ensino de História III
!
Outras dificuldades são levantadas por Selva Guimarães Fonseca.
Segundo ela, o destaque para os aspectos políticos e a relevância dada
aos grandes vultos e às figuras políticas de destaque ofuscam o sujeito
comum, fazendo com que crianças e jovens não se reconhecem naque-
les papéis. Além disso, as fontes estudadas tendem a perpetuar a visão
construída pelos grupos que compõem a elite local.
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Metodologia do Ensino de História III
!
O marco temporal é um período datado que delimita o tempo do
tema a ser pesquisado. O marco espacial indica em que região nos con-
centraremos para a pesquisa. Por exemplo: vamos pesquisar a chegada
de trabalhadores rurais, na região da Zona da Mata Mineira, a partir da
inserção da cultura do café na região, em 1850 (data fictícia), até a ex-
tinção da escravidão. Marco temporal: de 1850 a 1888. Marco espacial:
região da Zona da Mata Mineira.
Outro aspecto importante é o cuidado com a apropriação, por parte dos alu-
nos, dos conceitos que serão trabalhados em campo. É essa tarefa que vai dar
sentido ao trabalho e vinculá-lo ao conteúdo escolar. E, finalmente, a elaboração
da síntese final, em sala. O fechamento do projeto deve ser claro e objetivo, de
modo a dar sentido ao que foi pesquisado e contextualizar o trabalho em rela-
ção ao conjunto de temas a serem estudados pelos alunos.
Para que possamos compreender a dinâmica da história local, é importante
compreender como se organiza o trabalho de campo. Para nos auxiliar neste
trabalho, vamos lançar mão do texto indicado para leitura, buscado no livro A
construção do saber, de Christian Laville.
As pesquisas históricas envolvem, de maneira muito especial, a pesquisa do-
cumental. Mas, afinal, o que é um documento? Documentos são registros das
atividades dos homens nas suas atividades diárias de trabalho, de produção ar-
tística, de produção intelectual e na vida particular. Para a recuperação desses
processos por meio da pesquisa histórica podemos utilizar a pesquisa documen-
tal. Os documentos podem ser públicos, como leis, escrituras, projetos públicos,
publicações de órgãos de governo,
Mas também podemos contar com os documentos pessoais como os diários,
as cartas, as receitas culinárias (isso mesmo: as receitas culinárias são muito uti-
lizadas na pesquisa histórica!). Também podemos considerar como documentos
as publicações periódicas como jornais e revistas e ainda os documentos sono-
ros e visuais, como fotos, pinturas, vídeos, músicas e os filmes.
Ainda sobre a pesquisa documental é importante considerar a crítica dos
dados. E o que é isso? A crítica dos dados nos permite avaliar a qualidade dos
dados que temos em mãos e a informação contida nos documentos.
Para isso, algumas perguntas são importantes e auxiliam em muito o nosso
trabalho: quem produziu esses documentos? Quando eles foram elaborados?
Em que condições isso se deu? Qual é a qualidade dessa informação? É uma
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Metodologia do Ensino de História III
!
Também é possível coletar informações por meio da observação,
como em alguns projetos que discutiremos mais adiante. Para esse
procedimento, o autor nos recomenda alguns cuidados. A observação
não deve ser ocasional e deve relacionar-se com o objeto pesquisado.
Ela pode ser:
- Estruturada: tópicos previamente elencados.
- Não-estruturada: quando não há um roteiro predeterminado.
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Metodologia do Ensino de História III
Paraná. O público alvo eram os alunos dos anos iniciais do ensino fundamental�.
Como todo projeto, o trabalho teve como referência uma base teórica deter-
minada. Nesse sentido, cabe destacar a organização do ensino de história levan-
do-se em consideração os conteúdos culturais; a identificação das diversidades
e das desigualdades presentes naquela região e a consideração da história como
estudo da experiência humana no tempo.
As autoras destacam a importância de termos cuidado com a teoria adota-
da. Uma realidade não contém em si mesma a explicação para suas próprias
questões ela está relacionada com o global, com o todo. Por isso, é importante
estarmos atentos para evitar perspectivas reducionistas, localistas. Isso acontece
quando, ao estudarmos a história local, nos esquecemos das relações estabele-
cidas com os contextos mais amplos.
!
Com todos esses critérios, consideramos que são muitas as possi-
bilidades de ensino da história a partir da história local. Dentre essas
possibilidades, ressaltamos os destaques feitos pelas autoras sobre o
caráter positivo da inserção do aluno na comunidade da qual faz par-
te, além da produção de atividades e atitudes investigativas a partir
da realidade cotidiana. Esse recorte nos faculta ainda trabalho com di-
ferentes níveis de análise econômica, política, social, cultural, além de
facilitar a identificação das continuidades e permanências locais.
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Metodologia do Ensino de História III
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Metodologia do Ensino de História III
importantes sob algum aspecto. Mas o que nos interessa para tratar do nosso
conteúdo? Esse aspecto o conteúdo a ser estudado nos leva a levantar infor-
mações prévias. Precisamos saber onde iremos encontrar respostas para as nos-
sas questões: se quero saber sobre religião, devo procurar os espaços religiosos
e não os bares ou clubes da cidade.
Outro cuidado não menos importante é saber problematizar as informações.
Nem sempre as informações disponíveis aos olhos são as mais importantes: A
fachada que vemos é original? A cor das paredes nos diz alguma coisa?
Ainda exercitando o nosso olhar, devemos visitar o local em diferentes dias e
horários. A rotina da cidade e das pessoas muda ao longo do dia e essa informa-
ção é importante para nós. Um lembrete: é muito importante a elaboração de
um diário de campo nessas visitas, onde registraremos tudo o que for observado.
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ral de Uberlândia. A ideia de discutir esse projeto, além de nos informar sobre as
ações desenvolvidas por pesquisadores, envolvendo os recursos da informática,
nos aponta possibilidades, ainda que em escala reduzida, para a nossa prática
diária.
O uso da internet como mediação para o ensino de história é fator importan-
te a ser discutido nos cursos de formação docente. Por essa razão, apresentamos
este projeto. O autor, que tem vasta experiência na pesquisa sobre o uso da in-
formática no ensino de história, considera importante admitirmos outras formas
de experiência escolar, baseadas na cultura digital. Além dessa ferramenta, o tra-
balho tem como vinculação teórica as noções de história-memória. É importante
destacarmos a aproximação desse referencial com os outros autores estudados
anteriormente.
O trabalho é apresentado pelo autor a partir de uma avaliação do museu,
do público e do acesso das pessoas a esse espaço. Para o autor, a ausência de
museus em grande parte das cidades dificulta a disponibilidade presencial. As-
sim, a internet amplia as possibilidades de acesso a pessoas distantes no espaço
dos museus tradicionais. Nesse sentido, já foi possível avaliarmos até aqui essa
dificuldade, não é mesmo? Basta verificarmos quantos museus temos nas nossas
cidades do interior.
Saiba Mais:
A visita virtual ao Museu de Artes e Ofício (MAO) pode ser feita a partir
do site do Museu: http://www.mao.org.br/port/default.asp
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!
Alguns autores, mais críticos, reconhecem que essa denominação
Sociedade da Informação - esconde a real exclusão em que vive a maior
parcela da população mundial, especialmente nos países mais pobres,
onde o analfabetismo, os altos custos do acesso às redes de computa-
dores e às máquinas, impedem o amplo acesso da população à infor-
mação difundida na rede mundial de computadores.
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Metodologia do Ensino de História III
!
Os autores indicam a existência de várias categorias de museus
virtuais. O museu brochura caracteriza-se por ser um site com infor-
mações básicas sobre determinada temática, sendo limitado nas inte-
rações e trocas entre os usuários. O museu conteúdo, de caráter mais
ampliando que o anterior, apresenta as coleções, com possibilidade de
visita on-line. Enfim, o museu aprendizagem guarda a possibilidade
maior de interação entre o visitante e o espaço virtual. Reconhecemos,
nesse espaço, maior qualificação da aprendizagem, com a participação
ativa dos sujeitos, com maior elaboração do conhecimento disponível.
Para Le Goff
Sempre coube à história desempenhar um papel social, no mais amplo sen-
tido; e em nossa época, em que esse papel é mais do que nunca necessário, a
história nova, se lhes forem proporcionados os meios de pesquisa, de ensino (em
todos os níveis escolares) e de difusão de que necessita, está em condições de
desempenhá-lo. (2001, p.51)
Quando o autor francês fala da necessidade do conhecimento histórico na
época atual, é provável que não tivesse em mente, a princípio, os problemas pró-
prios dos países em desenvolvimento. Ainda que os rótulos oficiais e econômi-
cos nos distanciem do mundo subdesenvolvido, vivenciamos situações que nos
mostram que no nosso país, a educação está longe de ser a desejável. Acredita-
mos que o ensino de história vivenciado de forma satisfatória, com condições
adequadas de ensino e de desenvolvimento das ferramentas próprias do saber
histórico pode contribuir para alterar esse estado de coisas.
Infelizmente, sabemos que grande parte dos jovens brasileiros não têm aces-
so a escolas de qualidade, alguns a escola alguma. Por isso, nosso desejo é que
desse trabalho partam novos questionamentos e novos direcionamentos, que
auxiliem na definição de novos padrões sociais, nos quais crianças e jovens pos-
sam ter acesso à educação que lhes é direito e a uma história diferente daquela
escrita até aqui.
Recuperar a memória, reconstruir experiências, é buscar compreender o vi-
vido e o não vivido. Essa compreensão é fundamental para a construção de uma
sociedade mais justa e mais solidária. E para a escrita de uma outra história.
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Referências Bibliográficas
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CURY, Carlos Roberto Jamil. A Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
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Minas Gerais. Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais.
Pesquisa educação patrimonial: subsídios para elaboração de proposta educa-
tiva. Belo Horizonte, Cadernos do CEUC. Série Cultura, n. 2, 2001.
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