ENGELMANN e SORANÇO
ENGELMANN e SORANÇO
ENGELMANN e SORANÇO
CAMPUS CHAPECÓ
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
CHAPECÓ
2016
ALINI KUNZ ENGELMANN
ANGÉLE PASSARI SORANÇO
CHAPECÓ
2016
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RESUMO
1 INTRODUÇÃO
1 Acadêmica da 10ª fase do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Fronteira Sul –
UFFS, Campus Chapecó. E-mail: alinikunz@hotmail.com
2 Acadêmica da 10ª fase do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Fronteira Sul –
UFFS, Campus Chapecó. E-mail: angelepassari@hotmail.com
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O início desse exercício de reflexão demanda que situemos o autor que constitui a base
principal deste estudo. A partir das informações obtidas no site4 do Instituto Paulo Freire é
possível expor uma breve apresentação acerca do autor. Paulo Freire nasceu em Recife,
capital do estado de Pernambuco em 19 de setembro de 1921. Destacou-se por suas grandes
contribuições na área da educação popular, voltado tanto para a escolarização como para a
tomada de consciência crítica da realidade. Publicou diversas obras, as quais foram traduzidas
e comentadas em diversos países.
Em relação as suas primeiras experiências educacionais, apresentam-se as realizadas
em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde foram alfabetizados 300 trabalhadores
rurais em 45 dias. Com o golpe militar de 1964, que determinou sua prisão, suas atividades
3 Durante a realização do levantamento bibliográfico desta temática, percebeu-se que há pouca produção
específica na área. Pode-se evidenciar isso analisando os seguintes dados levantados em quatro Grupos de
Trabalho da Anped (GT 4 – Didática; GT 6 – Educação Popular; GT 12 – Currículo; GT 20 – Psicologia da
Educação). No período entre 2010 e 2015, foram produzidos no GT 4 apenas três trabalhos (37ª Anped); no GT 6
foram produzidos seis trabalhos (37ª, 36ª, 35ª,34ª, e na 33ª Anped); no GT 12 foram produzidos dois trabalhos
(37ª e 36ª Anped) e no GT 20 foi produzido apenas um trabalho ( 33ª Anped). Nesta pesquisa foram utilizados os
seguintes descritores: Educação em Freire, Conhecimento em Freire, Práxis pedagógica em Freire. Também
foram realizadas buscas, porém sem recorte temporal na Scielo e no Portal de Periódicos da Capes.
4A breve trajetória de Paulo Freire aqui destacada encontra-se disponível em:
http://www.centrorefeducacional.com.br/paulo.html. Acessado em: 21/05/2016.
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foram interrompidas. No Chile exilou-se por 14 anos. Com sua participação, o Chile recebeu
uma distinção da UNESCO, por ter sido um dos países que mais contribuiu em relação à
superação do analfabetismo.
Ainda de acordo com o Instituto Paulo Freire, em 1970, Paulo Freire juntamente com
outros brasileiros exilados em Genebra - Suíça, criam o IDAC (Instituto de Ação Cultural),
assessorando vários movimentos populares, em diversas partes do mundo. Freire ao retornar
do exílio continuou com suas atividades de escritor e debatedor. Assumiu cargos em
universidades e foi Secretário Municipal de Educação da prefeitura de São Paulo. Morreu em
02 de maio de 1997, em São Paulo. Deixou grandes contribuições para a educação tanto
nacional como internacional. Paulo Freire construiu uma proposta de alfabetização e, por
caminhos diversos, construiu um legado importante materializado numa teoria pedagógica
conhecida como “da libertação ou freireana”.
Segundo Alves (2012), a pedagogia freireana ou da libertação, possui na educação seu
principal objeto relacionado ao comprometimento com a emancipação dos sujeitos humanos,
os quais têm sua existência marcada por contextos que desrespeitam tanto a vida como a
vivência da cidadania. Na pedagogia de Freire o sujeito não é passivo, formado pelas pressões
do ambiente e sim um sujeito que, com as armas que possui, significa a experiência vivida,
sendo que são dessas significações que são extraídos os conteúdos libertadores para a práxis
pedagógica.
Freire (2011) aborda a questão do mito da neutralidade da educação que por ele é
entendida como uma abstração. Do ponto de vista crítico não há neutralidade e a educação é
vista como um ato político a serviço da humanidade, no qual se questiona a favor de quem e
do que esta atividade está voltada. Ser um professor não-neutro não significa ser manipulador,
significa ser coerente com uma posição política com coesão na teoria e na prática. Segundo a
perspectiva freireana a educação é a alavanca para as mudanças sociais e a tomada de
consciência.
Em termos de organização e prática pedagógica a educação, definida por Paulo Freire,
sublinha Alves (2012) conquistará sua identidade quando admitir um caráter próprio de crítica
e autocrítica constante. Nesta perspectiva, jamais poderá gerar o contrário do que defende, ou
seja, ser uma educação que se reduza e se feche em si própria.
No sentido freireano ainda ancoradas em Alves (2012) percebemos que, uma
pedagogia crítica sugere uma séria e profunda análise, presume uma organização de
conhecimentos que se cruzam e dialogam com as condições das populações, de modo especial
as populações pobres. Também sugere que sejam incorporados os saberes, as significações do
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povo, reveladas através da palavra e estabelecida no espaço social que ocupa na rede de
relações maiores, de maneira crítica, jamais reificado.
A teoria pedagógica crítica construída por Freire supera a própria pedagogia.
Conforme Romão (2002, p. 26), Freire será lembrado, como:
[...] um dos maiores educadores do século XX, mas certamente também será
incluído nas antologias dos que deram uma contribuição ao avanço da ciência nessa
mesma centúria, porque, mais do que um conteúdo novo, mais do que metas ou
objetivos inéditos, ele propôs uma profunda transformação paradigmática na
maneira de pensar o mundo, dando continuidade à tradição crítico-transformadora-
libertária do pensamento ocidental.
localizados no mundo é vista como uma ferramenta essencial para a organização curricular e
político-pedagógica num todo.
Com esse olhar sobre o humano, Freire discute a educação como prática da liberdade.
Para ele segundo Damke (1995) é nas relações dialéticas com a realidade que a educação
passa a ser um processo permanente de libertação, sendo assim, considera que não há
educação sem diálogo. Para ele a resposta dialogada é um compromisso com o outro, portanto
é preciso que a educação não seja uma prática que se faça exclusivamente do educador sobre
os educandos, ou para eles e passe a ser um diálogo crítico e libertador com os educandos. Na
prática pedagógica, segundo Freire (1987, p.31) “Educador e educandos (liderança e massas),
co-intencionados à realidade, se encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato,
não só de desvelá-la e, assim, criticamente conhecê-la, mas também no de re-criar este
conhecimento”, sendo assim a educação é um ato de conhecimento.
Damke (1995), baseada em Freire afirma que a educação é vista como uma situação
gnosiológica, que prevê o diálogo, deixando clara a relação entre o conhecimento da realidade
e o descobrimento do ser cognoscente que faz de si um sujeito do processo histórico. Neste
sentido segundo Freire (1987, p.32) “Ao alcançarem, na reflexão e na ação em comum, este
saber da realidade, se descobrem como seus refazedores permanentes”. Dessa forma, Damke
(1995) argumenta que conceber a educação como condição gnosiológica, como relação entre
seres humanos cognoscentes, mediatizados pelo objeto cognoscível, na qual o educador
precisa refazer constantemente o seu ato de conhecer, fez com que Freire buscasse maneiras
concretas, a fim, de provocar nos educandos o pensar certo, evitando que estes apenas
fizessem a memorização.
Neste sentido, Damke (1995) aponta que para a pedagogia freireana a problematização
jamais poderá ser separada do ato cognoscente, pois esta parte das situações já vivenciadas
pelos sujeitos, provocando nestes um retorno mais crítico. Ainda Damke (1995), se referindo
a Freire, afirma que este ao penetrar intensamente no significado da educação, do
conhecimento e da libertação, percebe que tudo pode ser problematizado. Neste sentido Freire
(1987, p.39) considera que “[...] a educação problematizadora – situação gnosiológica –
afirma a dialogicidade e se faz dialógica”.
Nessa perspectiva dialética e dialógica de Paulo Freire, o conhecimento é visto como
algo em constante movimento, ou seja, não é algo estático, pronto e acabado. De acordo com
Alves (2012), o processo de conhecimento é concebido por Freire como fenômeno cuja
produção depende da relação de troca e interação, a qual é efetivada e caracterizada pela
mediação social, ou seja, o conhecimento é produzido na relação com o outro e no movimento
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dialético que tem na realidade o ponto de partida e de chegada. É por isso que não é uma
relação com o mundo físico de maneira individualizada.
Ancoradas nos estudos de Alves (2012), sobre o conhecimento em Freire, percebemos
que o conhecimento é um fenômeno humano, portanto sócio-histórico, tendo em vista que
ocorre em um tempo humano chamado história. Assim, o que conhecemos e definimos como
verdade é um fenômeno estabelecido pelo tempo histórico vivenciado.
Em conformidade com os aportes teóricos colocados percebemos que, no processo do
conhecimento, o ato de conhecer em Freire é constituído como processo eminentemente
humano, o qual implica na necessidade de pensarmos os acontecimentos como pequenas
partes, as quais pertencem à totalidade maior, ou seja, o todo cria as partes e vice-versa. Desta
forma é preciso que o processo pedagógico de construção do conhecimento entenda esse
movimento que ocorre da realidade social dos sujeitos - totalidade, para a especificidade
teórica da sala de aula e dela novamente para a realidade social, originando um processo
dialético de trabalho pedagógico.
Essa proposta pedagógica baseia-se no termo referencial epistemológico da teoria
dialética do conhecimento, para a qual este constrói-se essencialmente, a partir da base
material.
Neste sentido Alves (2012), tendo como base o referencial dialético do conhecimento,
aponta que, tanto a prática social quanto o movimento cognitivo que efetiva-se na busca do
saber constituem fenômenos em totalidade e contradição, isso quer dizer que partir da
realidade implica na atividade de enxergá-la como totalidade articulada, no entanto, é preciso
compreender que a realidade social não se manifesta no processo de construção do
conhecimento, sendo assim, é necessário focar em um ou mais aspectos da totalidade para
desvendar, reconhecer e conhecer, e assim refletir objetivando a análise, síntese e
compreensão.
Deste modo, apesar de sabermos que o conhecimento faz parte de um todo, para
apreendê-lo, é necessário focar a atenção em algumas especificidades do objeto. Nesta
perspectiva o ato de conhecer e conceituar para pedagogia freireana traduz um movimento de
abertura e intencionalidade da consciência, no qual, a intencionalidade é o principal elemento
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como saber acumulado acessível na cultura. Portanto, o conhecimento é fruto da práxis. Nas
palavras da autora,
[...] O ato de conhecer é um ato de aproximação crítica da realidade, ato pelo qual o
ser humano, através da sua própria ação reflexiva e crítica, transforma a realidade.
Transforma-a porque passa a vê-la de modo diferenciado, o que lhe possibilita uma
atuação igualmente diferenciada nos meandros dessa realidade [...] (ALVES, 2012,
p. 206).
Deste modo, Freire (1987) aponta a ação pedagógica como um ato de conscientização,
resultando na ideia de que conscientizar é pensar a respeito da realidade. O ato de consciência
demanda todo um processo, exigindo do sujeito um deslocamento da realidade, visto que dela
é extraído o conteúdo da consciência e a ela direcionam os reflexos produzidos.
Damke (1995), apoiada em Freire, aponta que, à medida que a consciência reflexiva
recebe estímulos para refletir sobre a própria realidade, o ser humano passa a compreendê-la
por meio de um levantamento de hipóteses em relação aos problemas a fim de encontrar
soluções. Assim, com o próprio trabalho transforma-a, e com isto, passa a ampliar
respectivamente suas esferas de saber e constituir a sua consciência. Somente o homem como
ser que trabalha e apresenta um pensamento - linguagem cuja origem é social se fez um ser de
relações, ou seja, um ser da práxis.
A palavra concebida como práxis, explicita a consciência, sendo esta à expressão da
vida. A partir dos estudos de Alves (2012) ancorada em Freire, percebemos que a linguagem é
um instrumento da consciência, tendo o papel de composição, de controle e de planejamento
do pensamento e função de intercâmbio social. É pela linguagem que os seres humanos
interagem não somente entre si, mas com o seu ambiente, se apropriando da cultura. Assim, a
linguagem surge pela necessidade do ser humano se comunicar com o outro, permitindo
trocas de informações na busca da compreensão e interação com o mundo. Pode-se ressaltar
ainda, que o papel da linguagem é fundamental para o desenvolvimento do pensamento e a
formação de conceitos.
É a partir desse entendimento que Freire aponta o papel da escola no processo de
construção do conhecimento, sendo este visto como fonte de desenvolvimento humano. Deste
modo, é necessário que a escola tenha como ponto de partida o conhecimento prévio dos
sujeitos, sua visão de mundo manifestada na sua palavra sobre o mundo, pois somente assim,
expandirá e produzirá novos conhecimentos, novas interpretações sobre sua própria prática
social e, consequentemente, caminhará na direção de um sujeito crítico e emancipado.
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Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino [...] Enquanto ensino continuo
buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me
indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me
educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a
novidade.
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temas geradores5 sem nenhuma relação com outras situações problemas. E que não façam
parte de um todo organizado e estruturado dialeticamente, seja da expectativa de compreendê-
los e, ou, superá-los. Para ela os conhecimentos trabalhados possibilitam aos educandos e
educadores construírem uma percepção, de perceberem-se e perceberem a realidade, o que
lhes permite objetivá-la, decifrá-la e também identificar os limites atribuídos pela realidade
desigual/opressora e tornar claro o nexo lógico entre os problemas vividos com a totalidade
estruturada. Desta forma, ao descobrirem o limite que a realidade lhes impôs, conseguirão
decidir de modo crítico e epistemológico suas ações como sujeitos.
Portanto, quando Freire (1987) se refere à práxis pedagógica libertadora, insiste
sempre na necessidade de ouvir o que os sujeitos falam, e fazer anotações inclusive do que
parece não ter importância. Pois, para ele as falas dos sujeitos humanos são instrumentos
fundamentais para a organização de um currículo político e pedagógico. Freire ressalta que:
O que se pretende investigar, realmente, não são os homens, como se fossem peças
anatômicas, mas o seu pensamento-linguagem referido à realidade, os níveis de sua
percepção desta realidade, a sua visão do mundo, em que se encontram envolvidos
seus “temas geradores”. (FREIRE, 1987, p.50).
5 Trata-se de um conceito freireano, na qual é feito a investigação do “tema gerador” ou da temática significativa
do povo, tem como objetivo captar os temas básicos para a organização do conteúdo programático. O “tema
gerador” só pode ser entendido nas relações homens-mundo.
Os “temas geradores” podem ser localizados em círculos concêntricos, que partem do mais geral ao mais
particular. (FREIRE, 1987, p.54)
6 É um conceito freireano. As “situações-limites” implicam na existência daqueles a quem direta ou
indiretamente “servem” e daqueles a quem “negam” e “freiam”. (FREIRE, 1987, p.53).
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A sala de aula segundo Possamai (2014) é permeada por dimensões tanto da ação como
da reflexão, uma união entre ambas, proporcionando o existir humanamente. Assim sendo, o
espaço do diálogo, o qual se dá entre o real, acervo científico e sujeitos mediadores –
educador e educando – os quais possuem papéis e responsabilidades distintas, demanda uma
sala de aula, na qual os educandos se reconheçam, compreendam e atuem no mundo,
procurando humanizá-lo.
Nesta perspectiva Freire (1987) indica que, é importante que a prática pedagógica leve
em conta que é através da reflexão e do estabelecimento de relações da própria vivencia que o
sujeito aprende. Por isso, o professor deve ter consciência da importância da relação entre o
saber científico e o saber cotidiano, para assim construir uma aprendizagem significativa.
Caso contrário, o processo de ensino e aprendizagem será mecânico e sem sentido, ou seja,
nas ideias de Freire trata-se de um ensino bancário, no qual a educação é:
Além dessas contribuições mais gerais Paulo Freire (1996) na obra “Pedagogia da
autonomia” defende que a prática pedagógica deve conter entre outros aspectos: rigorosidade
metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética e ética,
corporificação das palavras pelo exemplo, risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer
forma de discriminação, reflexão crítica sobre a prática, reconhecimento e a assunção da
identidade cultural. A prática pedagógica deve conter ainda, consciência do inacabamento, o
reconhecimento de ser condicionado, respeito a autonomia do ser do educando, bom-senso,
humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores, apreensão da realidade,
alegria e esperança, convicção de que a mudança é possível, curiosidade. Exige também
segurança, competência profissional e generosidade, comprometimento, compreender que a
educação é uma forma de intervenção no mundo, liberdade e autoridade, tomada consciente
de decisões, saber escutar, reconhecer que a educação é ideológica, disponibilidade para o
diálogo e querer bem aos educandos.
Destarte, quando Paulo Freire (1996) defende que a prática pedagógica deve ter
rigorosidade metódica, ele busca evidenciar uma forma de ensinar na qual os educadores e
educandos devem criar ambientes instigadores humildes e que possibilitam o cultivo da
curiosidade e do pensar certo, sendo desafiador, pois, o pensar certo não é algo dado,
envolvendo um movimento dialético, dinâmico entre o fazer e o pensar, ou seja, reflexão
crítica sobre a prática.
Neste processo a pesquisa se faz importante, pois a indagação, a busca também deve
fazer parte da prática docente para que esta sempre acrescente ao ensinar. Ainda nessa mesma
perspectiva, Freire (1996) aponta que, na interação em sala de aula, o processo pedagógico
intencional voltado para o fomento do desenvolvimento dos modos complexos de pensamento
não pode desconsiderar os significados construídos pelos sujeitos no decorrer de suas
vivencias, pois estes são significados construídos na experiência histórica e desta forma
retratam relações afetivas, crenças, maneiras de ser e viver que exigem da ação de ensinar,
respeito, humildade, amorosidade, o ouvir o outro, exige ainda, bom senso e seriedade.
Segundo os escritos de Freire (1996, p.12) “ensinar não é transferir conhecimento”,
porque o ensino deve criar possibilidades de produção e construção do conhecimento através
de aberturas para indagações, curiosidades sendo estimulador do ser crítico do aluno. Nessa
perspectiva para ser educador é necessário que a sua autoridade quanto às decisões de sala,
orientação de atividades, cobrança de produção individual ou coletiva não se confunda com
autoritarismo e por isto é necessário ter bom-senso respeitando as necessidades e realidades
de cada aluno.
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Nessa perspectiva, Freire defende que o professor somente ensina de forma verdadeira,
quando conhece o conteúdo que ensina, ou seja, conforme se apropria dele, conseguindo
compreendê-lo e interpretá-lo. Desta maneira, ao ensinar o educador reconhece o objeto que
já conhece. Sob este olhar “[...] ensinar é assim a forma que toma o ato de conhecimento que
o(a) professor(a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para provocar nos alunos
seu ato de conhecimento também[...]” (FREIRE, 1992, p. 42). Na base do ensinar e aprender
se encontra a curiosidade do educador e dos educandos em ação. Em razão disso, ensinar é
um ato crítico e criador jamais podendo ser um ato mecânico, exigindo assim, que o educador
planeje sua prática, e que esta esteja voltada para uma intencionalidade pedagógica, a qual
consiga realizar a mediação, possibilitando que o aluno compreenda os conceitos.
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Ainda no que diz respeito ao conteúdo, sabemos que tanto o conteúdo resultante das
falas da comunidade como o conteúdo escolar compreendido como produto histórico são
necessários, tendo em vista que, o diálogo entre ambos formam sínteses de conteúdo, fazendo
a mediação de processos de aprendizagem e desenvolvimento do pensamento. Neste sentido,
é fundamental observar esse processo, para sabermos que é importante partir da realidade, no
entanto, não podemos permanecer nela, no empírico, pois precisamos dialogar com o
conhecimento científico, presente na escola. Para que o diálogo estabeleça um terreno fértil de
novas compreensões da realidade, os dois conteúdos devem ser recortados e estar focados nos
processos sociais, por meio da prática pedagógica libertadora, direcionado para a construção
de novas sínteses da realidade. Deste modo tem-se distintos conteúdos que coexistem e
cruzam-se dialeticamente provocando rupturas e construções constantes.
Como conclusão, consideramos pertinente ao invés de somente darmos respostas
também provocar a análise e reflexão de algumas questões que podem, do nosso ponto de
vista, baseado nos estudos de Freire, ser cruciais para a prática pedagógica, se tratando da
construção do conhecimento e emancipação dos sujeitos, fazendo-nos pensar em relação aos
momentos que planejamos nossas aulas/prática pedagógica. Nessas ocasiões sabemos e
levamos em consideração quem são os sujeitos? De que lugar eles vêm? Como organizam e
dão significados as suas experiências sociais e históricas? Independente da resposta é
importante sabermos que através deste diagnóstico é possível elaborar estratégias pedagógicas
voltadas para a humanização, das crianças e jovens que encontram no espaço escolar a única
oportunidade de perceber o mundo e olhá-lo de outro modo.
ABSTRACT
This article aims to bring up issues that show the importance of the pedagogical practice
organization for the construction of knowledge and emancipation of the subject, centralizing
the reflection on the teaching role, being understood in its primary function in a process of
knowledge mediator. The main support was Freire's pedagogy, given its emphasis and
commitment to emancipatory education, the objectives were i.) To understand the pedagogy
of liberation as theoretical- methodological and dialectic conception, with a vision of human,
society and educational organization; ii) To understand the concept of knowledge in a
dialectical-materialist perspective that guides Freire's pedagogy; iii.) To identify relevant
aspects of this pedagogy to teaching and learning organization. The theoretical analysis was
grounded in research Alves (2012); Corazza (1991); Damke (1995); Delizoicov (2011); Freire
(1987, 1992, 1996, 2011); Possamai (2014); Romão (2002); Vasconcellos (1993). The
methodology of this research is qualitative and of bibliographic nature. The results showed
that it is extremely important to think in pedagogical practice as an organized form of action
in the development of subjects. It was concluded that the complexity that permeates the
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teaching practice, requires a closer look. It is indispensable to this process the contributions of
Freire, who sees man as being in transformation, product and process of dialectical movement
in social and cultural relations.
RESUMEN
REFERÊNCIAS
CORAZZA, S. M. Manifesto por uma dida-lé-tica. Contexto e Educação, Ijuí, vol.6, n. 22,
1991.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. 51 ed.
São Paulo: Cortez, 2011.
23
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo:
Paz e Terra, 1996.
______. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Disponível
em:>http://www.faed.udesc.br/arquivos/id_submenu/151/leusa_fatima_lucatelli_possamai.pdf
< Acessado em: 05/09/2015
ROMÃO, José Eustáquio. Pedagogia dialógica. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire,
2002. (Biblioteca freiriana; 1).