Rpee SIII n18
Rpee SIII n18
Rpee SIII n18
http://rpee.lnec.pt/
5 Editorial
33 Durabilidade da ligação betão-CFRP em sistemas de reforço com as técnicas EBR e NSM sob efeito
de envelhecimento natural
Ricardo Cruz ∞ Luís Correia ∞ Susana Cabral-Fonseca ∞ José Sena-Cruz
43 Acompanhamento dos processos de deterioração das barragens portuguesas afetadas por reações
expansivas do betão
António Lopes Batista
115 Randselva bridge and Drawingless projects – Planning and building bridges solely based on BIM
models
Tiago Vieira ∞ Pedro Cabral ∞ Øystein Ulvestad ∞ Krzysztof Wojslaw
divulgação 0 Publicação de artigos baseados nas melhores Dissertações de Mestrado 2021 e 2022
João Almeida Fernandes António Abel Henriques João Henrique Negrão Paolo Riva
(APEE - Associação Portuguesa de Engenharia de Estruturas) FEUP, Portugal FCTUC, Portugal Univ. di Bergamo, Itália
João Azevedo António Bettencourt Ribeiro João Pires da Fonseca Paulo Costeira
(SPES - Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica) LNEC, Portugal UBI, Portugal IP Viseu, Portugal
ISSN 2183-8488
nota prévia
Este número da série III da Revista Portuguesa de Engenharia de Estruturas (rpee) é dedicado ao tema “reabilitar & betão
estrutural”, divulgando um conjunto de artigos submetidos ao “Congresso Reabilitar & Betão Estrutural 2020”, realizado no
LNEC de 3 a 5 de novembro de 2021. A qualidade científica deste número temático é assegurada pela Coordenação Científica
da rpee em articulação com as Comissões Científica e Organizadora deste Congresso. Fica aqui expresso o reconhecimento
da Administração da rpee pelo excelente trabalho desenvolvido.
A administração da rpee
José Manuel Catarino (LNEC)
João Almeida Fernandes (APEE)
Eduardo Júlio (GPBE)
João Azevedo (SPES)
editorial
A seguir à última crise financeira internacional, o setor da reabilitação em Portugal registou um crescimento sem paralelo,
tendo recentemente sido introduzidas alterações regulamentares muito relevantes neste contexto. Paralelamente, a nível
internacional, a prioridade da sustentabilidade da construção ganhou ainda maior importância e surgiram as questões
associadas às alterações climáticas. Foi neste clima tão desafiante do ponto de vista técnico e científico que a Associação
Portuguesa de Engenharia de Estruturas (APEE) e o Grupo Português de Betão Estrutural (GPBE) decidiram juntar esforços
e organizar conjuntamente o Congresso Nacional Reabilitar & Betão Estrutural 2020 (RBE 2020), dando continuidade
aos Encontros Nacionais de Betão Estrutural, organizados de dois em dois anos, desde 1986, pelo GPBE e aos Encontros
Nacionais REPAR 2000 e Reabilitar 2010, organizados pela APEE. Com uma realidade fortemente marcada pela pandemia
COVID-19, a Comissão Organizadora decidiu adiar o evento, de forma a permitir a sua realização presencial no Laboratório
Nacional de Engenharia Civil, tendo este acabado por ter lugar nos dias 3 a 5 de novembro de 2021.
O Congresso Reabilitar & Betão Estrutural 2020 contou com 153 comunicações (6 por convite), organizadas em quatro
temas: 1. Patologia, inspeção e diagnóstico, 2. Materiais e produtos para estruturas duráveis e sustentáveis, 3. Análise,
modelação e normalização e 4. Realizações: obras novas e de reabilitação. Atendendo à elevada qualidade e interesse dos
artigos aceites, a seleção de um conjunto de 12 para publicação neste número especial da Revista Portuguesa de Engenharia
de Estruturas, abrangentes e representativos dos tópicos cobertos pelo RBE 2020, não se revelou tarefa fácil.
Os assuntos abordados nos 12 artigos selecionados, incluem: normas para intervenções em estruturas existentes; desafios
da conservação das estruturas do património cultural; durabilidade de estruturas de betão reforçadas com FRP; deterioração
de barragens afetadas por reações expansivas no betão; modelos de campos de tensões para avaliação do comportamento
em serviço; modelos numéricos para estudo do comportamento de barragens abóbada; técnicas de reforço de estruturas
de betão; dimensionamento de estruturas de transição; e realizações como: a reabilitação de uma ponte em Florianópolis; o
projeto de uma ponte na Noruega recorrendo exclusivamente a modelos BIM; e a monitorização da estrutura de ampliação
da pista do Aeroporto da Madeira.
Esperamos que este número especial dedicado ao RBE 2020 seja do agrado dos leitores da Revista Portuguesa de Engenharia
de Estruturas e aproveitamos para lembrar que, este ano, de 9 a 11 de novembro, irão ter lugar as 6.as Jornadas Portuguesas de
Engenharia de Estruturas, evento que se realiza de oito em oito anos, organizado conjuntamente pelo Laboratório Nacional
de Engenharia Civil, a APEE, o GPBE e a Sociedade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES).
Eduardo Júlio
Luís Oliveira Santos
Júlio Appleton
Resumo Abstract
Neste trabalho apresenta-se o estado atual em Portugal no que This work presents the recommendations for the intervention and
se refere à normalização dirigida às intervenções e avaliação safety assessment of existing structures applied in Portugal. To
da segurança em estruturas existentes. Para enquadrar o tema situate the theme the progress of materials, construction technology
apresenta-se também a evolução dos métodos construtivos, and safety criteria is also presented.
dos materiais, dos critérios de verificação da segurança e da
regulamentação de estruturas.
2 A evolução dos processos construtivos, A pormenorização das armaduras das lajes envolvia em geral a
subida de metade das armaduras a 1/5 do vão, para a face superior
materiais e regulamentação sobre as vigas.
Nas primeiras estruturas de betão armado de edifícios é usual
2.1 Projeto e construção de edifícios antigos (1), (12) encontrarem-se vigas com aumento de altura junto aos apoios de
Há a considerar diversas tipologias construtivas de edifícios – continuidade (esquadros). A resistência ao esforço transverso era
edifícios com pavimentos de madeira e paredes de tabique e de essencialmente garantida com varões inclinados, tendo os estribos
alvenaria, construídos em Portugal até à década de 1950; edifícios uma contribuição diminuta.
com pavimentos de betão e paredes de alvenaria, construídos até à Os pilares de betão armado e os nós de pórticos não eram
década de 1960 e edifícios com toda a estrutura de betão armado devidamente cintados, o que só foi corrigido na regulamentação
construídos desde o início do século, mas só de forma praticamente de 1983. Como não era feita uma avaliação adequada para a ação
exclusiva após a década de 1960. Consideram-se edifícios antigos sísmica, as cintas tinham quase só uma função construtiva, o seu
aqueles que foram executados há 50 anos ou mais. A construção diâmetro era reduzido e a distância entre cintas muito grande
dos edifícios antigos era realizada respeitando as boas práticas (30 cm a 40 cm) e frequentemente só se dispunha de uma cinta no
construtivas correntes à data da sua execução. Os edifícios antigos contorno do pilar.
raramente apresentam caves. As fundações das paredes de alvenaria eram realizadas com sapatas
Os pavimentos de madeira eram realizados com vigas maciças de contínuas, frequentemente realizadas em alvenaria ou betão simples.
madeira e eram calculados controlando a deformação dos pisos Se o terreno era de má qualidade realizavam-se pegões e arcos
e verificando que as tensões máximas eram inferiores às tensões sobre os quais nasciam as paredes. Nalguns casos, em alternativa
admissíveis. As ligações eram realizadas por pregagem, parafusos, aos pegões, o terreno sob a base da sapata era compactado por
entalhes ou com elementos metálicos. As coberturas eram realizadas cravação de estacas de madeira (diâmetros de cerca de 15 cm e
com asnas, madres e ripas de madeira. A madeira utilizada era do comprimentos de 3 m a 5 m).
tipo maciço. Só em décadas recentes passaram a estar disponíveis Com o advento do betão armado as fundações passaram a ser
os lamelados colados. realizadas com este material, quer em fundações diretas para os
As paredes de alvenaria localizadas nas fachadas, empenas e caixas pilares e paredes quer em estacas (após a década de 1940). Era
de escada eram calculadas para a carga vertical, reduzindo a sua corrente a realização de estacas cravadas com seção quadrada (com
espessura em altura em função da carga axial que suportavam. As 30 cm a 40 cm de lado) e estacas moldadas de seção circular não
alvenarias das fachadas e empenas eram realizadas com alvenaria excedendo 60 cm de diâmetro. A profundidade das estacas estava
de pedra e as paredes interiores em alvenaria de tijolo ou com também limitada pela capacidade dos equipamentos a cerca de
tabiques de madeira. Nas construções pombalinas parte das paredes 30 m.
integravam uma estrutura interior de madeira que, interligada com Na década de 1950 são publicados os primeiros livros de Mecânica
os pisos (paredes de frontal), funcionava também como sistema de dos Solos e Fundações e diversos trabalhos por investigadores do
travamento para as ações horizontais. A qualidade construtiva que LNEC para o dimensionamento de sapatas e de estacas.
caracterizava as construções pombalinas foi-se deteriorando no séc.
Em soluções de fundação direta as sapatas passam a ser interligadas
XIX e início do séc. XX, com a construção dos chamados edifícios
por lintéis (solução adequada para o bom comportamento para as
Gaioleiros.
ações sísmicas). Quando se realizam caves é frequente a adoção de
A diversidade da constituição dos elementos de alvenaria é soluções de ensoleiramento geral. Atualmente, quando necessário,
enorme. Em edifícios as paredes de alvenaria podem ser de pedra são executadas estacas com diâmetros correntes de 80 cm a
argamassada, de cantaria, de alvenaria de tijolo. Em alvenaria 120 cm.
realizavam-se também as abóbadas no piso térreo.
A inspeção das condições de fundação de edifícios existentes pode
As lajes de betão armado, que começaram a ser utilizadas nalguns ser realizada com a abertura de poços de inspeção quando não
edifícios a partir do início do século XX, eram calculadas usualmente há informação fiável sobre a geometria e tipologia das fundações
com recurso a tabelas e apresentavam reduzidas espessuras (10 cm existentes, assim como sobre a cota de fundação.
ou menos) e reduzidos recobrimentos (10 mm).
Quando a estrutura não apresenta anomalias associadas a
As ações verticais eram frequentemente subestimadas, no que se assentamentos de fundação e as ações não sofreram, nem vão
referia à consideração dos pesos de paredes e revestimentos, e não sofrer alterações, nem existem indícios de agressividade do solo
era feito um dimensionamento da estrutura para a ação sísmica. da fundação, poderá ser dispensada a inspeção e avaliação das
A partir de 1960, o dimensionamento para a ação sísmica passou a condições de segurança das fundações dos edifícios existentes.
ser exigido. Era feito considerando forças horizontais equivalentes Caso contrário, é necessário pesquisar a informação geotécnica
atuando nas paredes e pilares (verificação de corte basal) e disponível ou caracterizar o terreno de fundação com sondagens
verificando a respetiva resistência ao corte. de prospeção. A avaliação da necessidade de reforço, em particular
Até à década de 1960 o aço utilizado nas estruturas de betão armado quando se aumentam as cargas ou se detetam deficiências de
era o aço liso A235 e os betões não ultrapassavam em geral os 30 fundação, é fundamental no processo de intervenção em obras
MPa de resistência à compressão em ensaio de cubos. existentes. Uma das soluções mais usuais para o reforço de fundações
de edifícios é a introdução de microestacas e a sua interligação às veículo tipo foram sendo aumentadas com a nova regulamentação
fundações existentes. adequando esses valores ao tráfego real que circula nas rodovias. No
No final do século XIX e início do século XX foram realizadas RSA o coeficiente dinâmico passou a ter um valor unitário.
coberturas de edifícios, com estrutura metálica, substituindo as Um dos problemas das pontes antigas é a reduzida largura do
tradicionais coberturas de madeira. Em edifícios industriais essa tabuleiro. No caso particular das pontes de alvenaria outro problema
aplicação manteve-se até aos nossos dias em paralelo com as corrente é a reduzida seção de vazão.
estruturas pré-fabricadas de betão. As sobrecargas ferroviárias especificadas sofreram um grande
As ligações entre elementos metálicos eram realizadas por rebitagem, aumento desde as primeiras obras até ao RPM de 1929, mantendo-
de acordo com as regras de dimensionamento apresentadas no RPM se, a partir dessa data, com valores não muito superiores.
de 1929 e REAE de 1967. Em obras mais recentes as ligações são Um dos problemas das pontes ferroviárias antigas era o reduzido
realizadas por aparafusamento e soldadura. gabarito vertical de secções em caixão treliçado, o que, para a
A soldadura só foi desenvolvida mais tarde e não é aplicável às obras implementação da eletrificação da linha, requereu nos anos de 1960
mais antigas onde se deve manter a rebitagem. Os aços laminados e 1970 a alteração da sua geometria e alteamento dos travamentos
posteriores a 1930 apresentam em geral composição adequada para do banzo superior.
a aplicação da soldadura, mas tal deve ser confirmado com ensaios. Nas pontes, a dificuldade de realizar grandes vãos sem recorrer a
soluções de grandes arcos metálicos ou de betão, que têm um custo
2.2 Projeto e construção de pontes antigas (7) elevado, conduziu a soluções com pilares implantados no leito menor
dos rios. Os trabalhos de fundação destes pilares eram realizados
As pontes antigas eram construídas com abóbadas de alvenaria. em período de estiagem e, quando necessário, modificando o curso
Em pontes há a referir as pontes em arco e os pilares de alvenaria da água. Se não era possível realizar as fundações superficialmente
(em geral forrados a cantaria). Os materiais adotados são também era necessário realizar fundações por pegões com profundidade
diversos e com características mecânicas muito diferenciadas – máximas da ordem de 20 m e com a enorme dificuldade da presença
granitos, calcários e xistos. As estruturas de alvenaria eram analisadas de água. Esses pegões eram realizados com recurso a ar comprimido
para as cargas verticais evitando-se ter trações nas alvenarias. para colocar a câmara de trabalho na base da escavação com uma
A partir da 2.ª metade do séc. XIX, e em especial para o projeto pressão superior à pressão hidrostática.
nacional da rede ferroviária, foram construídas numerosas pontes Um dos problemas graves que pode ocorrer nas pontes com pilares
com tabuleiro metálico do tipo treliçado apoiado em pilares de localizados no leito menor é a infraescavação das fundações. Por
alvenaria, e algumas pontes em arco. Os materiais adotados eram o isso é importante realizar inspeções subaquáticas e avaliar a
ferro fundido, o ferro laminado e o aço laminado. Para as estruturas segurança em relação ao descalçamento de fundações diretas ou
metálicas das pontes foram desenvolvidos modelos de cálculo por pegões.
elástico quer para os arcos quer para os tabuleiros. A verificação A partir da década de 1950 tornou-se possível realizar, quando
da segurança era realizada pelo método das tensões admissíveis. necessário, fundações profundas com a tecnologia de execução de
Os aços que eram então utilizados correspondem aos atuais S235. estacas. Os diâmetros de estacas podem atualmente exceder os 2 m
Só o REAE de 1986 considera outros tipos de aço com maiores e profundidades de 100 m.
resistências como o aço S275 e o aço S355.
No começo do séc. XX inicia-se a construção de pontes de betão
armado, com tabuleiro apoiado em pilares ou em arcos. Só a partir 2.3 Evolução da regulamentação nacional
do final dos anos de 1960 se começam a realizar pontes com aplicável às estruturas (6)
tabuleiro em betão armado pré-esforçado. O primeiro regulamento português que conhecemos data de
Para as primeiras pontes de betão armado com tabuleiro em laje 24/2/1863. Trata-se do decreto assinado pelo Duque de Loulé
vigada utilizavam-se frequentemente uma conceção de estrutura intitulado “Regulamento das provas que se deverão fazer nas
isostática longitudinalmente, quer com tramos simplesmente pontes metálicas de Caminho de Ferro, antes de serem entregues
apoiados, quer com tabuleiros do tipo viga Gerber. Os tabuleiros à exploração”. Documento sucinto, inclui os critérios de verificação
eram normalmente fixados, pelo menos, num dos encontros. da segurança dos elementos metálicos forjados e laminados e a
As sobrecargas rodoviárias uniformemente distribuídas, adotadas no especificação dos ensaios de carga estáticos e dinâmicos a realizar
cálculo das pontes antigas, tinham valores muito elevados e eram nas pontes metálicas realizadas no início da concretização da Rede
afetadas de um coeficiente dinâmico. Pelo contrário, as cargas dos Ferroviária Nacional. Refira-se que em 1877 é realizada uma das mais
veículos pesados eram reduzidas pelo que é vulgar existirem algumas notáveis pontes portuguesas, a Ponte Maria Pia sobre o Rio Douro.
deficiências locais nos tabuleiros dessas pontes. Com o RSEP de 1961 Em 1/2/1897 é publicado o “Regulamento para projeto, provas e
as sobrecargas uniformemente distribuídas foram significativamente vigilância das pontes metálicas”, documento já mais desenvolvido e
reduzidas, mantendo-se com valores semelhantes no RSA. Os seus aplicável às pontes de caminho de ferro e às pontes de estradas. Este
valores são inferiores aos especificados para o tráfego atual na documento inclui também os valores das sobrecargas, os valores
EN 1991-2. O coeficiente dinâmico definido no RSEP com o valor de caracterizadores das propriedades dos materiais e os critérios de
1,2 passou a ser aplicado apenas às ações do veículo tipo. As ações do verificação da segurança de pontes metálicas.
O início das construções de betão armado em Portugal, no final pontes, nomeadamente os aspetos relacionados com o projeto de
do séc. XIX, justificou a publicação, em 28/3/1918, do Dec. 4036 ligações soldadas e aparafusadas.
“Regulamento para o emprego do beton armado”, onde se Em 20/5/1967 é publicado o Decreto 47723 “Regulamento de
apresentam, ainda de forma incompleta, as características dos Estruturas de Betão Armado” – REBA. Este regulamento marca
materiais, os critérios de verificação da segurança e a execução e a alteração do método de verificação de segurança por tensões
ensaio das obras de betão armado. admissíveis para o método de verificação da segurança aos estados
O desenvolvimento das vias de comunicação e a necessidade limites (de serviço e de rotura), sendo para a rotura adotada a
de atualizar o regulamento de 1897 conduziu à publicação em filosofia semi-probabilística dos coeficientes parciais de segurança.
10/4/1929 do Decreto 16781 “Regulamento das Pontes Metálicas” Esta metodologia, na época inovadora, veio a ser mais tarde adotada
– RPM. Este regulamento foi objeto de diversas alterações até a nível internacional nos atuais Eurocódigos.
1958, como as introduzidas pelo Dec. 41584. Este regulamento é Em 31/5/1983 é publicado o Decreto-Lei 235/83 “Regulamento de
um documento bastante completo que se manteve parcialmente Segurança e Ações para Estruturas de Edifícios e Pontes” – RSA e
em vigor durante muitas décadas. De realçar que, em Portaria de em 30/71983 é publicado o Decreto-lei 349-C “Regulamento de
28/9/1929, são publicadas umas interessantes Instruções para a Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado” – REBAP, que ainda
aplicação deste regulamento, onde se incluem também indicações estão em vigor. O RSA inclui, para além da atualização da definição
sobre a conceção e pré-dimensionamento de pontes e dos seus e quantificação das ações, a filosofia e os critérios de verificação
aparelhos de apoio. Refira-se que é neste regulamento que se da segurança. O REBAP inclui pela primeira vez em Portugal os
encontram os valores das tensões admissíveis para os elementos requisitos regulamentares relativos às estruturas pré-esforçadas.
metálicos e para as alvenarias. Adota-se também o Sistema Internacional de Unidades e Simbologia
Em 16/10/1935 é publicado o Decreto 25948 “Regulamento (ISO 3898).
do Betão Armado” – RBA, que trata agora de forma completa o Em relação às estruturas metálicas, procedeu-se com o Decreto
dimensionamento e execução de estruturas de betão armado. Neste 211/86 de 11/4/1986 a uma revisão do REAE, adotando-se a filosofia
regulamento é feita, na introdução, uma apresentação detalhada de segurança aos estados limites em conformidade com o RSA.
da regulamentação europeia e americana. É neste regulamento Consideram-se ainda os novos tipos de aços em chapa e perfil então
que são introduzidas pela primeira vez, ao nível regulamentar, disponíveis no mercado, Fe360, Fe430 e Fe510.
as ações a adotar no projeto de edifícios. É dado um grande
Em síntese apresenta-se a listagem da regulamentação nacional
desenvolvimento ao cálculo de lajes fungiformes e a vários aspetos
aplicável ao dimensionamento de estruturas:
do dimensionamento de pontes de betão armado relacionados com
o cálculo de tabuleiros em laje vigada, com o cálculo das abóbadas e –– Decreto de 24/2/1863: “Regulamento das provas que se deverão
com o cálculo de articulações e aparelhos de apoio. fazer nas pontes metálicas de Caminho de Ferro, antes de serem
entregues à exploração”;
Em 31/5/1958 é publicado o Decreto 41658 “Regulamento de
Segurança das Construções contra os Sismos” – RSCS. Embora –– Decreto de 1/2/1897: “Regulamento para projeto, provas e
aplicável a todas as construções não se explicita o enquadramento vigilância das pontes metálicas”;
do projeto de pontes definindo os necessários valores dos respetivos –– Decreto 4036 de 28/3/1918: “Regulamento para o emprego do
coeficientes sísmicos. Este regulamento seguiu-se à realização, beton armado”;
em 1955 na Ordem dos Engenheiros, de um seminário para –– Decreto 16781 de 10/4/1929: “Regulamento das Pontes
assinalar os 200 anos do sismo de 1755 e discutir a necessidade de Metálicas”;
regulamentação para a segurança sísmica (22).
–– Decreto 25948 de 16/10/1935: “Regulamento do Betão
Só em 18/11/1961 as ações passam a ser definidas em regulamento Armado” (RBA);
específico, o RSEP – “Regulamento de Solicitações em Edifícios
e Pontes”, Decreto 44041. São então atualizados os valores das –– Decreto 41658 de 31/05/1958: “Regulamento de Segurança das
sobrecargas nas pontes e todas as outras ações atuantes nas Construções contra os Sismos” (RSCS);
estruturas quer sejam metálicas ou de betão. É introduzido neste –– Decreto 46160 de 19/1/1965: “Regulamento de Estruturas de
regulamento o conceito de ações excecionais que incluem a ação Aço para Edifícios”;
sísmica e a ação de ventos excecionais. São assim definidos dois –– Decreto 44041 de 18/11/1961: “Regulamento de Solicitações
tipos de combinação de ações, do tipo I (solicitações permanentes e em Edifícios e Pontes” (RSEP);
solicitações variáveis habituais) e do tipo II (solicitações permanentes
–– Decreto 47723 de 25/5/1967: “Regulamento de Estruturas de
e solicitações excecionais).
Betão Armado” (REBA);
Em 19/1/1965 é publicado o Decreto 46160 “Regulamento de
–– Decreto 404/73 de 23/9/1971: “Regulamento de Betões de
Estruturas de Aço para Edifícios” – REAE que atualiza os requisitos
Ligantes Hidráulicos” (RBLH);
regulamentares para as estruturas metálicas, eliminando, em
relação ao RPM, especificações relativas a ações. Muito embora se –– Decreto 235/83 de 31/05/1983: “Regulamento de Segurança e
indique como âmbito de aplicação os edifícios e não tenha então Ações para Estruturas de Edifícios e Pontes” (RSA);
sido revogado o regulamento das pontes metálicas, várias cláusulas –– Decreto 349-c/83 de 30/7/1983: “Regulamento de Estruturas
deste regulamento eram naturalmente aplicáveis ao projeto de de Betão Armado e Pré-esforçado” (REBAP);
–– Decreto 211/86 de 11/4/1986: “Regulamento de Estruturas de Os ensaios de carga estáticos têm como objetivo avaliar a
Aço para Edifícios”. deformação (rigidez) de um elemento e comparar os resultados com
No que se refere à evolução das ações na regulamentação, o aspeto a obrigatória previsão de modelo de cálculo. Estes ensaios podem ser
mais importante tem a ver com a ação sísmica que será tratado realizados antes e depois de uma intervenção como forma de avaliar
noutra secção deste trabalho. a sua eficácia. Importa referir que, numa construção existente, os
elementos não estruturais (por exemplo os revestimentos de piso)
Em relação aos materiais os regulamentos vão acompanhando os
afetam a resposta se comparada apenas com o cálculo da estrutura.
progressos e considerando o sucessivo aumento da capacidade
Estes ensaios não devem causar danos na estrutura pelo que a prévia
resistente dos aços e dos betões.
avaliação analítica e o acompanhamento dos ensaios pelo consultor
Documentos de referência são os Model Code do CEB/FIP e fib são fundamentais.
(10), (17).
Os ensaios dinâmicos, em particular os ensaios associados à
vibração ambiental, têm particular interesse porque mobilizam
meios reduzidos e permitem avaliar a resposta global da estrutura
3 Normas, regulamentos e recomendações
(frequências e modos de vibração). Esses resultados não só servem
para a inspeção e ensaios em estruturas para calibrar os resultados dos modelos analíticos como permitem
existentes (9), (13), (14) avaliar a evolução do comportamento ao longo do tempo.
Constituem também uma forma de avaliação dos efeitos estruturais
3.1 Introdução globais da deterioração ao longo do tempo.
A inspeção visual de uma construção realizada por um técnico Informação importante sobre a resposta da estrutura é a medição
experiente e conhecedor é uma tarefa fundamental no acompanha- das deformações (permanentes, em particular) existentes na
mento e manutenção do património construído. estrutura. No caso de edifícios a medição das flechas em pavimentos
Durante a inspeção pode realizar-se a observação de dispositivos e no caso das pontes o nivelamento do tabuleiro, os deslocamentos
existentes da monitorização estrutural e podem realizar-se ensaios e deformações nos aparelhos de apoio e juntas de dilatação são
para a caracterização dos materiais e da estrutura. observações importantes. Uma dificuldade na interpretação desses
resultados é que, em geral, não existe o registo dessas grandezas
A inspeção e ensaios deve ser realizada após uma visita prévia à obra após a conclusão da obra pelo que não se torna possível separar
e após a aprovação de um plano em que se estabelece o calendário a deformação da parcela correspondente à geometria inicial. Tal
previsto para os trabalhos de campo, em que se indicam os meios de dificuldade já não se verifica quando se fazem leituras ao longo do
acesso a mobilizar para observar a estrutura a pequena distância e tempo com as mesmas posições de referência.
em que se definem o tipo e número dos ensaios a realizar.
Os ensaios de materiais têm como objetivo a sua caracterização
Um dos principais objetivos da inspeção é a realização do mecânica e a avaliação do seu estado de deterioração.
mapeamento e caracterização das anomalias da estrutura
Para a caracterização mecânica podem realizar-se ensaios diretos
(deformação excessiva, assentamento de fundações, vibração
(destrutivos) em que se submetem provetes extraídos da obra a
excessiva,…) e dos seus materiais.
um dado esforço e se obtém o comportamento até à rotura (por
Para as estruturas de betão as principais anomalias são a corrosão exemplo ensaios numa carote de betão ou num provete de aço
das armaduras, a fendilhação e a deterioração química do betão em extraído da obra). Para evitar realizar um número elevado de ensaios
que se destacam as reações expansivas alcalis-agregado e as reações destrutivos pode associar-se a estes a realização de ensaios não
sulfáticas internas. destrutivos e estabelecer correlações que permitam, desse modo,
Para as estruturas metálicas a corrosão do aço é a principal anomalia estimar de forma indireta as características mecânicas dos materiais.
deste tipo de material estrutural, requerendo uma proteção Uma questão fundamental que se coloca na realização de qualquer
superficial (EN 12944) e sua permanente manutenção. tipo de ensaio é a sua representatividade, o que exige a escolha do
Um dos problemas das estruturas metálicas antigas sujeitas a local e número de ensaios em cada elemento.
fortes ações alternadas, como é o caso das pontes ferroviárias, é Os ensaios que têm como objetivo a avaliação do estado de
a resistência à fadiga dos aços. Tal resistência é inferior à dos aços deterioração são fundamentais para a decisão da necessidade de
atuais e por outro lado as estruturas já foram sujeitas a numerosos intervenção preventiva ou corretiva e para a especificação do tipo
ciclos de carga. de intervenção.
Para as estruturas de alvenaria a principal anomalia é a fendilhação. Só devem ser realizados ensaios cujos resultados sejam utilizados
Para as estruturas de madeira as principais anomalias são a na avaliação evitando-se realizar toda uma “ementa” de ensaios
deterioração do material e a deformação excessiva. A deterioração atualmente disponíveis.
pode ser causada pela ação de fungos de podridão ou por insetos Para as estruturas de betão os ensaios mais importantes são
(térmitas e carunchos) e pela ação dos agentes atmosféricos. a medição do recobrimento das armaduras, a medição da
Os ensaios da estrutura têm como objetivo avaliar a resposta global profundidade da carbonatação do betão, a contaminação do betão
de um elemento ou da estrutura na sua globalidade para as ações por iões cloreto e ensaios a realizar em carotes. Refira-se que no
que atuam na construção nas suas condições normais de utilização. ambiente marítimo a profundidade da carbonatação é em geral
muito baixa e que em ambiente urbano afastado da costa não (conhecimento normal), KL3 (conhecimento integral). A estes
existem em geral cloretos no ambiente atmosférico. níveis de conhecimento associam--se coeficientes de confiança,
As carotes, para além de permitirem a observação macroscópica da respetivamente de 1,35; 1,20 e 1,10 que deverão ser utilizados para
estrutura do betão, são utilizadas para realizar ensaios mecânicos redução dos valores médios da resistência mecânica dos materiais
e para a extração de provetes para realização de identificação de obtidos em ensaios, para efeitos de verificação da segurança. Em
eventuais reações expansivas no interior do betão e previsão da sua função do nível de conhecimento são também estabelecidos os
evolução futura. métodos de análise a adotar na verificação da segurança.
A extração de varões para ensaios à tração numa estrutura de betão Na secção 3.4 dessa norma desenvolve-se a caracterização dos
armado deve ser minimizada, pesquisando previamente o tipo de níveis de conhecimento e indicam-se no Quadro 1, aqui reproduzido,
armaduras utilizados à data da obra e observando as características os valores mínimos recomendados para a inspeção e ensaios em
das nervuras do aço (ou se o aço é liso), o que em muitos casos edifícios existentes.
permite identificar o tipo e classe de resistência do aço.
Quadro 1 Requisitos mínimos recomendados para diferentes níveis
Para as estruturas metálicas antigas a extração de provetes (a de inspeção e de ensaio
realizar em zonas sujeitas a menores esforços) é necessária para
obter ou confirmar a resistência à tração e tipo de aço, a resistência Inspeção Ensaios
à fadiga e a composição química (com o principal objetivo de avaliar (das disposições construtivas) (dos materiais)
a soldabilidade do aço). Para cada tipo de elemento primário (viga, pilar, parede):
Para as estruturas de alvenaria a tarefa principal é a caracterização
Nível de Percentagem de elementos
geométrica e identificação do tipo de alvenaria. A dificuldade Amostras de
inspeção cujas disposições construtivas
associada a estas estruturas é a enorme variedade de tipologias e materiais por piso
e de ensaio têm que ser verificadas
materiais adotados em paredes e abóbadas. Nalguns casos pode
ser necessário avaliar o estado de tensão e deformabilidade numa Limitado 20 1
alvenaria de pedra ou tijolo podendo adotar-se ensaios de macacos Alargado 50 2
planos. Ensaios com ultrassons podem também ser muito úteis.
Completo 80 3
Para as estruturas de madeira a caracterização geométrica das
secções e identificação do tipo de madeira é essencial. Podem A orientação e definição do tipo de ensaios, sua distribuição espacial
extrair-se provetes para realização de ensaios mecânicos que e número de ensaios compete a um consultor especializado. A
permitem avaliar a deformabilidade e resistência do material. necessidade de mais ou menos ensaios depende naturalmente do
A fotogrametria e o varrimento laser são tecnologias que são muito conhecimento existente sobre o projeto e sobre a execução da obra.
úteis na caracterização geométrica das construções. Os drones são O número de ensaios deve ser sempre o mínimo necessário para
atualmente de enorme ajuda na inspeção de zonas de difícil acesso. garantir a fiabilidade da avaliação e devem ser realizados apenas nos
elementos mais importantes e representativos.
Para a interpretação dos resultados dos ensaios refere-se a EN
3.2 Documentos normativos e recomendações
13791:2008 – Avaliação da resistência à compressão do betão
para a inspeção e ensaios nas estruturas nas estruturas e em produtos pré-fabricados. Neste documento
Para as pontes existem especificações de donos de obra estabelece-se a metodologia para a interpretação dos resultados
institucionais de que se referem as das Infraestruturas de Portugal dos ensaios. Um aspeto importante a referir é que para avaliar a
e as recomendações brasileiras do DNIT 010-2004 relativas às capacidade de carga de uma estrutura existente o que interessa é
inspeções em pontes de betão. a resistência do material à data da avaliação e não a resistência dos
materiais considerada no projeto ou em obra, relativa ao controlo da
Como é natural esses documentos apresentam orientações gerais
qualidade (para o betão na idade de 28 dias).
porque a decisão sobre os ensaios necessários tem que ser objeto de
análise caso a caso.
Os ensaios deviam ser realizados em duas fases para que, após a 4 Normas, regulamentos e recomendações
realização de uma inspeção visual e ensaios básicos preliminares,
seja possível identificar os ensaios que realmente são necessários
para a avaliação das condições de segurança
para a avaliação das causas de anomalias visíveis e caraterização do das estruturas existentes (14)
estado da estrutura.
4.1 A pr EN1990-2 de 7/4/2021 Assessment and
A norma NP EN 1998-3:2017 aborda a questão da representatividade
dos resultados dos ensaios.
retrofitting of existing structures – general
rules and actions (doc CEN/TC250 2747)
Na secção 3: Informação para a avaliação estrutural, secção
3.2: Informação de base necessária e secção 3.2: Níveis de Este documento não inclui a avaliação e reforço para a ação sísmica,
conhecimento, a norma estabelece 3 níveis de conhecimento matéria que é tratada na NP EN 1998-3. Não inclui também
sobre a estrutura existente: KL1 (conhecimento limitado), KL2 cláusulas específicas para estruturas de betão armado, metálicas,
alvenarias e madeiras estando em preparação, na nova geração dos pormenorização das atuais normas para obras novas mas tal não
eurocódigos, anexos dedicados às estruturas existentes. significa que não sejam seguras. As partes dos eurocódigos relativos
Seguidamente destacam-se alguns dos aspetos tratados nesta aos diversos materiais estruturais e os Anexos Nacionais irão incluir
norma e no Anexo Nacional em preparação pelo GT2 da CT115 modelos adaptados às particularidades das estruturas existentes.
(Avaliação e reabilitação de estruturas existentes – regras gerais). O Relatório da Avaliação deve apresentar detalhadamente todo o
Na secção 4 – Regras gerais e em relação à filosofia de segurança processo adotado na avaliação e deve concluir fundamentadamente
(secção 4.1), a proposta no Anexo Nacional é, atualmente, que, para sobre a eventual necessidade de complementar a avaliação e sobre
estruturas existentes, se pode admitir uma ligeira redução do índice a eventual necessidade de intervenção na estrutura.
de fiabilidade alvo, de acordo com os seguintes valores: A secção 6 da norma trata da atualização das variáveis básicas
– geometria da estrutura e elementos não estruturais, ações e
βr = βn – 0,5
propriedades dos materiais.
βu = βn – 1,5 Importa definir claramente os valores das ações a considerar na
verificação da segurança, tendo em conta as ações reais e as
em que
especificadas na nova regulamentação.
βn é o índice de fiabilidade alvo de uma estrutura nova;
Em relação às propriedades dos materiais há que complementar
βr é o índice de fiabilidade alvo de uma estrutura reparada ou a informação do projeto e dos regulamentos em vigor à data do
reforçada; projeto com os resultados obtidos nos ensaios realizados no âmbito
βu é o índice de fiabilidade alvo mínimo admissível numa estrutura da avaliação.
existente. A secção 7 da norma trata da modelação da estrutura e dos ensaios.
A fiabilidade é a capacidade de uma estrutura para satisfazer os Os modelos de cálculo devem basear-se no projeto e na informação
requisitos para os quais foi projetada. O índice de fiabilidade está obtida na inspeção e, sempre que possível, devem ser calibrados
relacionado com a probabilidade de não satisfação de um dado com os resultados da monitorização e ensaios (por exemplo ensaios
requisito. Por exemplo β = 3,8 corresponde a uma probabilidade dinâmicos).
de 10–5. Importa referir que eventuais ensaios de carga devem ter objetivos
A aplicação dos níveis de fiabilidade requeridos para obras novas pode claros, um planeamento cuidadoso incluindo a previsão da resposta
não ser tecnicamente viável ou implicar custos desproporcionados da estrutura e não devem introduzir danos na estrutura (limitando e
que desincentivem a reabilitação estrutural. controlando o valor das cargas de ensaio).
Em paralelo com a possibilidade de redução dos índices de fiabilidade A secção 8 da norma trata das verificações da segurança.
devem ser identificadas as principais debilidades da construção, Para os Estados Limites Últimos deve ser utilizado o método dos
corrigindo aspetos fundamentais como sejam assimetrias de rigidez/ coeficientes parciais de segurança tomando como base a EN 1990-1,
resistência, ausência de ductilidade, perigo de ocorrência de colapsos sem alteração dos coeficientes de combinação mas com possíveis
progressivos. ajustamentos dos coeficientes majorativos das ações variáveis,
Os métodos de avaliação da segurança das estruturas existentes tendo em conta a possibilidade de redução do índice de fiabilidade
podem basear-se em métodos quantitativos (baseados em cálculos), alvo para estruturas existentes (proposta do GT da CT115).
métodos qualitativos baseados no comportamento passado ou Os coeficientes parciais de segurança para as ações são usualmente
na combinação de ambos, incluindo resultados de monitorização definidos através da seguinte relação:
estrutural e ensaios.
γF = γEd ⋅ γf
A avaliação deve incluir a análise de toda a informação existente
– documentos do projeto, documentos da obra, relatórios de onde,
inspeção e ensaios, informações relativas a manutenção, alterações, γF é o coeficiente parcial de segurança para a ação;
acidentes.
γEd é o coeficiente associado ao erro da modelação da ação;
Ao analisarem-se estruturas existentes há a possibilidade de
se atualizar a informação da obra construída inspecionando e γf é o coeficiente associado à dispersão da ação.
ensaiando materiais e a estrutura, atualizando as bases de calculo, Geralmente, o coeficiente γEd, associado aos erros do modelo, toma
ajustando as ações e as características dos materiais. valores entre 1,05 e 1,15, sendo o valor de 1,10 o mais usual.
A secção 5 da norma trata dos processos de avaliação de estruturas Assim, se for considerado para γEd um valor igual a 1,10, o coeficiente
existentes, sendo de realçar que o âmbito e objetivos deste processo parcial de segurança para as ações pode ser considerado como:
tem de ser acordado com o dono de obra. A avaliação tem de
modelar as alterações introduzidas e os efeitos da deterioração que γF = 1,10 ⋅ γf
se verifiquem na obra (2),(5) e (25). A inspeção tem de verificar a De acordo com a proposta de redução do índice de fiabilidade para
conformidade da obra com o projeto evitando-se estar a realizar a as estruturas existentes, uma redução de 0,5 no índice de fiabilidade
avaliação de uma estrutura que não corresponde ao executado. de uma estrutura nova para obter o índice de fiabilidade de uma
As estruturas existentes podem não respeitar requisitos ou estrutura reparada ou reforçada, corresponde aproximadamente
à seguinte relação entre os coeficientes associados à dispersão da A secção 9 da norma trata da avaliação baseada no comportamento
ação: anterior. Esta possibilidade deve ser considerada com toda a
prudência. Esta avaliação requere a realização de uma inspeção
γfr / γf = 0,94
detalhada e comprovação de que a estrutura não apresenta
onde γfr é o coeficiente associado à dispersão da ação para uma anomalias, a comprovação de que a estrutura foi sujeita a níveis de
estrutura reparada ou reforçada. Assim, o coeficiente de segurança carga semelhantes aos que terão muita probabilidade de não serem
parcial γFr, para uma estrutura reparada ou reforçada será obtido excedidos no futuro, a comprovação de que a estrutura não irá sofrer
a partir do coeficiente parcial definido para a estrutura nova, alterações nem que seja previsível que futura deterioração afete o
multiplicando-o por 0,94. desempenho da estrutura e a aceitação por parte das entidades
Por sua vez, uma redução de 1,5 no índice de fiabilidade de uma envolvidas em manter o nível de segurança existente.
estrutura nova para obter o índice de fiabilidade mínimo que se A constatação de que uma estrutura tem tido um bom
aceita para não intervir numa estrutura existente, corresponde comportamento em serviço apenas é indicativo que a estrutura
aproximadamente à seguinte relação entre coeficientes associados provavelmente continuará a apresentar um bom comportamento
à dispersão da ação: nas mesmas condições de utilização, mas tal não é garantia do nível
de segurança para as situações dos estados limites últimos ou seja
γfu / γf = 0,82 para a avaliação da capacidade de carga de rotura da estrutura.
onde γfu é o coeficiente mínimo associado à dispersão da ação Esta questão é de especial relevância para a segurança sísmica
para uma estrutura existente. Assim, o coeficiente de segurança uma vez que nas últimas décadas não ocorreram sismos de elevada
parcial mínimo para a ação, γFu, para uma estrutura existente será intensidade no território do continente e portanto as estruturas não
obtido a partir do coeficiente parcial definido para a estrutura nova, foram testadas e por outro lado são conhecidas as debilidades das
multiplicando-o por 0,82. construções mais antigas, muitas das quais nem foram concebidas
para a resistência aos sismos. A ocorrência de sismos severos nalguns
A justificação para esta proposta alinhada com recomendações
países tem evidenciado estas debilidades.
europeias (18) é o reconhecimento da complexidade das interven-
ções e a necessidade de viabilizar uma intervenção que melhora a A secção 10 da norma trata das possíveis intervenções quando da
situação existente, sem medidas desproporcionadas e de custos avaliação se conclui de forma clara a causa das anomalias ou a
demasiado elevados. Afinal é uma medida de bom senso. constatação de que um dos requisitos de segurança regulamentares
não é verificado. Na secção 5 deste artigo analisam-se essas
Por exemplo, no caso de sobrecarga em edifícios, considerando que
alternativas de intervenção.
o respetivo coeficiente parcial de segurança para uma estrutura
nova é de 1,50, obter-se-iam os seguintes coeficientes parciais de
segurança: 4.2 A pr EN 1992-1-1 para a avaliação da segurança
–– 1,40 (1,5 × 0,94), para uma estrutura existente a reparar ou das estruturas existentes realizadas em betão
a reforçar; armado (Anexo I) e a atividade do Grupo de
–– 1,25 (1,5 × 0,82), para a aceitação do nível de segurança de Trabalho GT2 da CT115
uma estrutura existente sem realizar intervenção de reforço.
Os eurocódigos separaram todos os assuntos relativos à ação sísmica
Em relação aos valores de cálculo das propriedades dos materiais em documentos autónomos porque alguns países europeus não
e considerando Xk o valor característico de um parâmetro de sofrem a possibilidade de atuação dessa ação com níveis relevantes.
resistência, o valor de cálculo associado Xd vem dado por: Tal não é o caso de Portugal e por isso a nossa regulamentação
Xd = η Xk / γM tratava de forma integrada a ação dos sismos com as demais ações.
Seguindo a organização dos eurocódigos apresenta-se nesta secção
γM = γRd γm = γRd1 γRd2 γm a referência à avaliação geral da segurança das estruturas de betão
em que a primeira parcela do produto (γRd) contém os coeficientes e na secção seguinte a avaliação para a ação sísmica. Para os outros
parciais de segurança relativos às incertezas do modelo de materiais estruturais – aço, alvenaria e madeira não conhecemos
resistência (γRd1) e dos desvios geométricos (γRd2), se estes não forem ainda anexos que tratem da avaliação das estruturas existentes,
modelados explicitamente. A segunda parcela do produto (γm) mas por certo virão no futuro a contemplar essa matéria. Refira-se
representa o coeficiente parcial de segurança relativo às incertezas, no entanto que grande parte das normas aplicáveis a obras novas
ou variabilidade, associadas às propriedades dos materiais e as também o são para as estruturas existentes.
incertezas estatísticas e η representa um fator de conversão. Na nova geração dos eurocódigos, a pr EN 1992-1-1 – Eurocode 2
A revisão destes coeficientes parciais de segurança para as estruturas Design of concrete structures- General rules, rules for buildings,
existentes está em fase de estudo. Por um lado é possível ensaiar os bridges and civil engineering structures de 10/5/2021 (doc.2724)
materiais realmente aplicados e obter as suas características efetivas inclui um Anexo I – Assessment of Existing Structures, onde se
podendo ser revistos os valores das resistências, mas por outro lado apresentam as recomendações para a avaliação da segurança de
o comportamento de elementos reparados ou reforçados pode ser estruturas existentes de betão.
menos fiável do que o de elementos de estruturas novas. Este anexo percorre as várias secções do texto geral do eurócodigo
EN 1992-1-1, dirigido às obras novas, apresentando as recomendações Na Figura 1 apresenta-se o zonamento sísmico no continente
específicas para estruturas existentes. considerado nos regulamentos de 1958 e 1961, no RSA de 1983 e no
Na secção I.4 apresentam-se comentários gerais em relação à Anexo Nacional da NPEN 1998-1 (Eurocódigo 8)
necessidade de considerar os efeitos estruturais da deterioração na
avaliação das estruturas existentes e a possibilidade de ajustar os
coeficientes parciais dos materiais tendo em conta os resultados dos
ensaios efetuados na construção.
Na secção I.5 (Materiais) remete-se para a norma EN 13791 a
interpretação e caracterização mecânica do betão com base nos
ensaios de carotes e para o aço remete para a norma EN ISO 15630,
referindo a possibilidade de caracterização de alguns aços pelo
sistema de marcação realizado nas nervuras.
Na secção I.6 indica-se a necessidade de rever a avaliação da
aderência se o recobrimento é inferior ao valor de referência (Cmin,b).
Na secção I.7 aborda-se o difícil problema de quantificar a força de
pré-esforço instalada, recomendando que, atendendo à dificuldade
de quantificar essa força, seja feita, em projeto, uma análise de
sensibilidade variando o valor de pré-esforço entre limites plausíveis.
Na secção I.8 ULS descrevem-se os efeitos da corrosão de armaduras
a considerar na avaliação.
Nessa secção apresentam-se regras para as estruturas existentes
que não cumprem os requisitos da atual regulamentação para obras
novas, como sejam a consideração de armaduras lisas, a existência
de varões inclinados e armaduras transversais com disposições
construtivas que não satisfazem os atuais requisitos mínimos para a
resistência ao esforço transverso nas novas normas.
Na secção I.9 SLS refere-se que a verificação desses estados
limites de serviço pode ser feita com medições na obra existente e
complementa as fórmulas de cálculo do comprimento de amarração
e da estimativa da abertura de fendas para elementos de betão com
armaduras lisas e terminando em gancho.
No âmbito da atividade do Grupo de trabalho GT2 da Comissão dos
Eurocódigos (CT115) foram preparadas umas “Recomendações para
a Avaliação e Intervenção em Estruturas Existentes de Betão”. Nesse
documento apresenta-se informação complementar ao referido
anexo I, informação que eventualmente será incorporada no Anexo
Nacional a esse anexo do eurocódigo.
Assim na secção 3 destas “Recomendações” apresenta-se a
evolução da caracterização do betão e do aço, dos modelos de
análise e critérios de verificação da segurança considerados na
regulamentação Portuguesa e adotados no meio técnico nacional.
Na secção 7 destas “Recomendações” apresenta-se uma descrição
sintética dos vários tipos de ensaios de caracterização dos materiais Figura 1 Zonamento Sísmico considerado em 1958/1961, 1983 e
em estruturas de betão armado, seu estado de deterioração e 2010 (zonamento diferente para o sismo afastado, agora
interpretação dos resultados. designado tipo 1, e sismo próximo, agora designado
sismo 2)
4.3 Avaliação da segurança sísmica de estruturas Nas Figura 2 apresenta-se a comparação, para a região de Lisboa,
existentes do coeficiente sísmico equivalente para o RSEP (construções sem
elementos não estruturais de travamento), para o RSA (considerando
4.3.1 Ação sísmica
a ação majorada por 1,5 para o ELU, de acordo com este regulamento,
Os registos da atividade sísmica e os estudos efetuados mostram para vários tipos de solo e coeficiente de comportamento igual a 2, a
que o risco e a intensidade da ação sísmica apresentam uma grande título de exemplo) e para o EC8 , para vários tipos de solo, e também
variação quer no continente quer nas ilhas dos Açores e Madeira. para um coeficiente de comportamento igual a 2.
Valores
Categorias
Figura 3 Comparação da ação sísmica na região de Lisboa RSA/EC8 indicativos
para o
do período Exemplos
Verifica-se que, na gama corrente de frequências entre 0,5 Hz a período
de vida
2,0 Hz, existe um agravamento da quantificação da ação sísmica de vida
(anos)
entre o RSA de 1983 e o EC8 de 2010 para solos de fundação de
qualidade média a baixa. 1 10 Estruturas temporárias (1)
Na Figura 4 ilustram-se os espectros de resposta elástica definidos
no EC8 para a região de Lisboa, para um coeficiente de importância 2 10 a 25 Partes estruturais substituíveis (apoios,...)
de 1,0 e um período de vida útil, tL , de projeto de 50 anos.
3 15 a 30 Estruturas para agricultura ou fins similares
A NP EN 1990 introduz, para diversos tipos de construções, o conceito
de período de vida útil (ou período de referência tL) a considerar Estruturas de edifícios e outras estruturas
no projeto (classificação que terá repercussões nos requisitos 4 50
comuns
de durabilidade, definição das ações e níveis de segurança, ...).
Monumentos, pontes e outras obras públicas
Durante esse período de referência os requisitos de desempenho
5 100 e edifícios social ou economicamente muito
regulamentares devem ser satisfeitos. importantes
No quadro seguinte indicam-se os valores de referência do período
(1) Estruturas que podem ser desmontadas para serem reutilizadas não são
de vida para diversos tipos de estruturas, introduzindo-se o conceito consideradas temporárias.
de categorias para o período de vida (1 a 5).
A probabilidade p do valor característico de uma ação ser excedida Deste modo foram obtidos na NP EN 1998-1 os fatores de
no período de referência tL está relacionado com o período de importância a considerar nos edifícios, conforme indicado no
retorno TRC pela equação: quadro seguinte.
1
TRC = 1
Quadro 3 Quadro NA.II – Coeficientes de importância yi
1− ( 1− p ) tL
Classe de Ação sísmica Ação sísmica Tipo 2
em que TRC é o período entre 2 ocorrências subsequentes em que é imprtância Tipo 1 Continente Açores
excedido o valor característico da ação.
I 0,65 0,75 0,85
Para p = 0,10 e um período de referência de 50 anos vem TRC = 475
anos (Figura 5). II 1,00 1,00 1,00
γ2 = 1,32
Se adotarmos o procedimento da NP EN 1998-1 para um coeficiente
de importância de 1,3 (independentemente do período de vida útil)
tem-se TRL = 1044 anos e:
Figura 5 Relação entre o período de retorno e o período de vida
útil de projeto para vários valores de p γ1 = 1,69
Para garantir um comportamento dúctil deve evitar-se também NP EN 1998-1:2010 multiplicando-os pelos coeficientes indicados
mobilizar a capacidade última ao esforço transverso nos pilares, no Quadro NA.I.
sobredimensionando a resistência ao esforço transverso nas zonas
críticas das rótulas plásticas. Deve-se também evitar ter os pilares Quadro 4 Quadro NA.I – Coeficientes para quantificação da ação
sujeitos a elevados níveis de compressão porque a ductilidade em sísmica em estruturas existentes (Anexo Nacional da NP
flexão é significativamente reduzida para elevados níveis de esforço EN 1998-3)
axial reduzido.
Ação sísmica Ação sísmica tipo 2
De igual modo deve evitar-se ter plastificações nas fundações, dada Estado limite
tipo 1
a dificuldade de inspecionar e efetuar nessas zonas reparações após Continente Açores
um sismo intenso e pelas repercussões globais que teria uma rotura De colapso iminente (NC) 1,00 1,00 1,00
ao nível das fundações.
De danos severos (SD) 0,75 0,84 0,89
Introduz-se o conceito de requisito de não colapso para sismo
intenso e requisito de limitação de danos para um sismo moderado. De limitação de dano (DL) 0,29 0,47 0,59
São consideradas soluções que limitem os efeitos da ação sísmica
nas construções introduzindo dispositivos de dissipação de energia Para os edifícios existentes correntes (classe de importância II) deve
ou introduzindo aparelhos de isolamento entre a fundação e a ser verificado o Estado Limite Último de danos severos (SD), que
superestrutura (isolamento de base). corresponde a um período de retorno de 308 anos, ou seja para
um nível de ação inferior à exigida para a verificação da segurança
ao estado limite último em projetos de edifícios novos, da mesma
4.3.3 A NP EN 1998: Projeto de estruturas para classe de importância que seria obtida para um período de retorno
resistência aos sismos – Parte 3: Avaliação de 475 anos. Para os edifícios das classes III e IV deve também ser
e reabilitação de edifícios, 2017 (a norma verificado o E.L. de colapso eminente.
europeia data de 2005) Nesta norma definem-se elementos dúcteis e frágeis. Os elementos
dúcteis devem ser verificados para a capacidade de deformação; os
A única norma estrutural de aplicação específica para estruturas elementos frágeis devem ser verificados para a resistência.
existentes em Portugal é a NP EN 1998-3. Esta norma, dirigida para
A metodologia de referência da norma para a verificação da
a avaliação e intervenção sísmica em edifícios, apresenta vários
segurança é a abordagem com base nas deformações ao contrário
aspetos aplicáveis às estruturas em geral.
do considerado na EN 1998-1 para projeto de obras novas onde
Esta norma tem como objetivos: a metodologia de referência é a abordagem com base em forças
–– Estabelecer critérios para a avaliação do desempenho considerando coeficientes de comportamento.
sísmico das estruturas de edifícios existentes; Estabelecem-se níveis de conhecimento sobre a estrutura existente
–– Descrever uma abordagem que permita escolher as medidas KL1, KL2 e KL3 (do menor para o maior nível de conhecimento) e
corretivas; os respetivos fatores de confiança CF (1,35; 1,2 e 1,0), conforme já
–– Estipular critérios de projeto para as medidas de reabilitação. referido anteriormente.
De acordo com esta norma a verificação da segurança e intervenção Para determinação das capacidades dos elementos dúcteis e frágeis
em edifícios existentes pode ser realizada considerando para a ação o valor médio das propriedades dos materiais obtido nos ensaios
sísmica valores um pouco inferiores aos especificados para os novos é dividido pelo fator de confiança. Para determinação dos esforços
edifícios de acordo com as seguintes indicações: de dimensionamento dos elementos frágeis a partir das resistências
dos elementos dúcteis o valor médio das propriedades dos materiais
Em Portugal devem considerar-se os seguintes períodos de retorno
obtido nos ensaios é multiplicado pelo fator de confiança.
para a definição da ação sísmica de referência associada a cada um
dos três estados limites indicados em 2.1 (2)P: No que se refere à análise adotada na avaliação da segurança
sísmica a norma permite adotar a verificação com base em forças
–– estado limite de colapso iminente (NC): periodo de retorno
considerando um coeficiente de comportamento de 1,5 para as
de 475 anos correspondentes a uma probabilidade de
estruturas de betão, alvenaria e madeira e 2,0 para as estruturas
excedência de 10% em 50 anos;
metálicas, sem verificações adicionais, independentemente da
–– estado limite de danos severos (SD): período de retorno tipologia de estrutura.
de 308 anos correspondente a uma probabilidade de
Esta metodologia é muito conservadora e pode conduzir a decisões
excedência de 15% em 50 anos;
de intervenção de reforço que seriam dispensáveis fazendo a
–– estado limite de limitação de dano (DL): período de verificação da segurança pela abordagem com base em deformações.
retorno de 73 anos correspondente a uma probabilidade de
A avaliação sísmica analítica deverá, sempre que possível, ser
excedência de 50% em 50 anos.
aferida com ensaios experimentais de comportamento dinâmico
Os valores da aceleração máxima de referência agR a adotar para que permitam aferir as frequências e modos de vibração obtidos
cada um dos três estados limites indicados são obtidos a partir em modelo analítico. É no entanto de realçar que, em edifícios,
dos valores de agR indicados no quadro NA.I do Anexo Nacional da a avaliação experimental do comportamento dinâmico é muito
dependente da contribuição dos elementos não estruturais que têm a lista dos Eurocódigos a observar na elaboração dos projetos (ver
como efeito um aumento significativo da rigidez da estrutura para referências neste artigo). Neles se inclui a NP EN 1998:3 dirigida à
as condições normais de utilização do edifício. Avaliação e Reabilitação de Edifícios Existentes.
Nessa norma enunciam-se as várias opções de intervenção para a A Portaria 302/2019 define os termos em que as obras de intervenção
melhoria do comportamento sísmico. em edifícios estão sujeitas à elaboração prévia do relatório de
Em edifícios deve, sempre que possível, reduzir-se a irregularidade vulnerabilidade sísmica e quando necessário ao projeto de reforço
estrutural e aumentar-se a ductilidade. sísmico. Esta Portaria entrou em vigor em 15 de Novembro de 2019.
Para as pontes antigas de betão armado uma das intervenções mais Para apoio à aplicação desta norma o LNEC coordenou a realização
usuais é a introdução de dispositivos de dissipação entre o tabuleiro do seguinte conjunto de publicações (que estão disponíveis
e os encontros e/ou entre o tabuleiro e os pilares. Caso existam gratuitamente na RPEE):
pilares curtos a sua ligação ao tabuleiro não deve ser rígida. “Avaliação da segurança sísmica de edifícios existentes em betão
A norma apresenta anexos para estruturas de betão, para armado”, RPEE nº10 Julho 2019;
estruturas metálicas e mistas e para estruturas de alvenaria. Para “Aspectos gerais da aplicação em Portugal do EC8 Parte 3 Edifícios
cada tipo de estrutura apresenta soluções de reforço/aumento de de alvenaria”, RPEE nº 12 Março de 2020;
ductilidade e respetivos critérios de dimensionamento adotando o “Métodos expeditos para a avaliação sísmica de edifícios de alvenaria
que designamos por método dos coeficientes globais (coeficiente com pavimentos rigidos”, RPEE nº14 Nov. 2020;
de redução da resistência de elementos reforçados em relação aos
“Métodos expeditos para avaliação sísmica de edifícios de alvenaria
valores obtidos em elementos monolíticos com a mesma geometria
com pavimentos flexíveis”, RPEE nº16 Julho 2021.
e armaduras). Para pontes têm particular interesse as disposições
dessa norma relativas a pilares de betão armado, como sejam
as relativas ao encamisamento de secções com betão, aço ou 5 Normas e recomendações para intervenções
compósitos (FRP).
em estruturas existentes (14), (19)
Nestas normas dão-se recomendações para os modelos a adotar
para estimar a capacidade resistente dos vários elementos
estruturais para ação sísmica, para edifícios de betão armado, 5.1 Regras gerais
estruturas metálicas e mistas e edifícios de alvenaria. A pr EN 1990-2 inclui um conjunto de recomendações gerais a
O Eurocodigo 8, como todos os outros está em fase avançada considerar no projeto de reforço de estruturas. Na secção 6 trata
de revisão. Em relação à EN 1998-3 foi publicada uma versão em da possível atualização/adaptação das variáveis básicas – geometria
22/5/2018 (doc. 707 da SC8) e recentemente nova revisão (doc da estrutura, ações e propriedades dos materiais. Nas secções 7 e 8
1059) em 6/5/2021. Nestas novas versões já estão também incluídas trata da modelação e critérios de verificação da segurança.
as pontes quer na secção de avaliação da segurança quer na secção Na secção 10 descreve as várias possibilidades de intervenção de
do dimensionamento das intervenções de reforço sísmico. reparação e de reforço.
Neste contexto referem-se as publicações (24) e (28). A reparação e o reforço de uma estrutura podem envolver as
seguintes soluções:
4.3.4 A legislação portuguesa –– Reparação local;
Em 2019 foram publicados, finalmente, um conjunto de documentos –– Reforço de elementos estruturais;
que oficializam a aplicação dos eurocódigos no projeto de novas –– Introdução de novos elementos (por exemplo paredes,
estruturas de edifícios e nas intervenções em edifícios existentes. elementos de contraventamento);
Em 18/7/2019 foi publicado o Dec.Lei 95/2019 que estabelece o –– Introdução de pré-esforço exterior;
regime aplicável à reabilitação de edifícios, em articulação com –– Modificação das condições de ligação entre elementos
a substituição dos Regulamentos Nacionais pelos Eurocódigos (ligações entre paredes, entre pavimentos e paredes);
Estruturais e exige a análise da vulnerabilidade sísmica nalgumas
intervenções de reabilitação. Este decreto entrou em vigor em –– Introdução de sistemas dissipativos ou isolamento de base
Novembro de 2019, requerendo a publicação de despacho para o reforço sísmico;
normativo e portaria complementares. –– Redução do peso;
Este decreto foi regulamentado em 17/9/2019 pelo Despacho –– Proteção geral.
Normativo 21/2019 das Infraestruturas e Habitação e pela Portaria Para uma estrutura reforçada é em geral necessário realizar um
302/2019. modelo de análise global da estrutura incluindo a simulação dos
O despacho Normativo 21/2019 aprovou as condições para a reforços.
utilização dos Eurocódigos Estruturais nos projetos de estruturas
de edifícios. O período de transição em que ainda é permitida a
utilização da regulamentação Portuguesa no projeto de edifícios
termina em 17 de Setembro de 2022. Neste despacho apresenta-se
Não se conhece a inclusão de anexo na pr EN 1996 para as estruturas [16] fib bul. 14 – “External bonded FRP reinforcement for RC structures”,
2001
existentes de alvenaria.
[17] fib – “Model Code for Concrete Structures 2010”, Ernst &Sohn, 2013
Para edifícios históricos o CIB publicou um Guia para a Reabilitação
[18] fib bul 80 “Partial factor methods for existing concrete structures,
Estrutural (11).
2016
[19] Fundiestamo – Guia do Fundo Nacional de reabilitação do Edificado,
5.5 Estruturas de madeira (23), (26) coordenação Eduardo júlio, 2020
[20] LNEC – “Regras de Segurança Sísmica de Edifícios de Pequeno Porte em
Para além da proteção dos elementos de madeira contra o ataque
alvenaria Confinada”, 1988
dos xilógafos uma das técnicas de reforço de pavimentos de madeira
é a adição de novas vigas entre as existentes e seu tarugamento. [21] LNEC – “Construção Anti-sísmica, edifícios de pequeno porte”, 1985
Outra técnica com muito interesse é a ligação de chapas ou perfis [22] Ordem dos Engenheiros – Simposio sobre a acção dos sismos e sua
metálicos (ou compósitos) e sua interligação com conectores consideração no cálculo das construções, Nov. 1955
metálicos. Quando necessário poderão os elementos de madeira ser [23] Negrão, J.; Faria, A. – Projeto de estruturas de madeira, Publindústria
substituídos ou reparados localmente. 2009
[24] Parque Escolar – “Reforço sísmico de edifícios escolares”, 2011
O reforço da ligação entre pavimentos e paredes é também
intervenção importante na reabilitação de edifícios antigos. A [25] Santos Silva, A. – “Degradação do betão por reações alcalis-sílica.
substituição do pavimento de madeira por uma lâmina de betão Utilização de cinzas volantes e metacaulino para a sua prevenção”, tese
de doutoramento em Engenharia Civil, U. Minho, 2005
estabelecendo ligação às vigas é também uma forma eficaz de
aumento da rigidez e resistência de um pavimento. [26] Saporiti, J. et. al. – Avaliação, conservação e reforço de estruturas de
madeira, Verlag Doshofer, 2009
[27] Sowden, A.M. – “The Maintenance of brick and stone masonry
structures”, E&F.N. SPON ,1990
[28] SPES/Gecorpa – “Redução da Vulnerabilidade sísmica do edificado”, OE NP EN 1993-1-9:2010 – “Fadiga” (EN 1993-1-9:2005)
2001
NP EN 1993-1-10:2010 – “Tenacidade dos materiais e
propriedades segundo a espessura” (EN 1993-1-10:2005)
Normas Europeias e Normas Nacionais baseadas em normas
europeias EN 1993-2:2006 – “Steel bridges”
Os eurocódigos (EN) são referenciados pela norma portuguesa NP EN 1994 “Projecto de estruturas mistas aço-betão”
(NP), quando já publicada, indicando-se no final de cada referência
NP EN 1994-1-1:2011 – “Regras gerais e regras para edifícios”
a correspondente norma europeia e data de publicação. Quando
(EN 1994-1-1:2004)
não está publicada a correspondente norma portuguesa, é apenas
referida a norma europeia. NP EN 1994-1-2:2011 – “Regras gerais – verificação da resistência
ao fogo”(EN 1992-1-2:2005)
Não se referem os documentos relativos às erratas (corrigendum)
dessas normas. Para obter tal informação poderá ser consultado EN 1994-2:2005 – “General rules and rules for bridges”
o sítio (site) do LNEC. Algumas das erratas das normas europeias EN 1995-1-1 :2004 “Design of timber structures. Part 1-1
já foram incorporadas na publicação das correspondentes normas General-Common rules and rules for buildings
portuguesas. EN 1995-1-2 :2004 “Design of timber structures. Part 1-2
NP EN 1990:2009 – “Bases para o projecto de estruturas” General-Structure fire design
(EN1990:2002) EN 1995-2 :2004 “Design of timber structures. Part- Bridges
EN 1990:2005 – “Annex A2. Application for bridges”
NP EN 1996 “Projecto de estruturas de alvenaria”
NP EN 1991 Acções em Estruturas (EC1)
NP EN 1996-1-1:2010 – “Regras gerais para estruturas de
NP EN 1991-1-1:2009 Parte 1.1 – “Acções gerais – pesos alvenaria armada e não armada” (EN 1996-1-1:2005)
volúmicos, peso próprio, sobrecargas em edifícios”
NP EN 1996-1-2:2015 – “Regras gerais – verificação da resistência
(EN 1991-1-1:2002)
ao fogo”(EN 1996-1-2:2005)
NP EN 1991-1-2 Parte 1.2:2010 – “Acções em estruturas expostas
ao fogo” (EN1991-1-1: 2010). EN 1996-2:2006 – “Design considerations, selection of materials
and execution of masonry”
NP EN 1991-1-3 Parte 1.3:2009 – “Acções da neve”
(EN 1991-1-3:2003) NP EN 1997 – “Projecto geotécnico
NP EN 1991-1-4 Parte 1.4:2010 – “Acção do vento” NP EN 1997-1:2010 – “Regras gerais”(EN 1997-1:2004)
(EN 1991-1-4:2005) EN 1997-2:2007 – “Ground investigation and testing”
NP EN 1991-1-5:2009 Parte 1.5 – “Acções térmicas”
(EN 1991-1-5:2003) NP EN 1998 – “Projecto de estruturas para resistência aos sismos”
EN 1991-1-6:2005 Parte 1.6 – “Actions during execution” NP EN 1998-1:2010 – “ Regras gerais, acções sísmicas e regras
para edifícios” (EN1998-1:2004)
EN 1991-1-7 Parte 1.7:2006 – “Accidental actions”
EN 1998-2:2005 – “Bridges”
EN 1991-2 Parte 2:2003 – “Traffic loads on bridges”
NP EN 1998-3:2017 “ Avaliação e reabilitação de edifícios”
NP EN 1992 - Projecto de Estruturas de Betão (EN 1998-3:2005)
NP EN 1992-1-1:2010 – “Regras gerais e regras para edifícios” NP EN 1998-5:2010 – “Fundações, estruturas de suporte e
(EN 1992-1-1:2004) aspectos geotécnicos”, (EN1998-5:2004)
NP EN 1992-1-2:2010 – “Regras gerais – verificação da
resistência ao fogo”(EN 1992-1-2:2004) Outras Normas Europeias
EN 1992-2:2005 – “Concrete bridges – design and detailing As normas seguintes são apresentadas por sequência do numero da
rules” norma europeia.
Pr EN 1992-4:2016 – “Design of fastenings for use in concrete” NP EN 206:2005 – “Betão – Comportamento, produção, colocação
NP EN 1993 – “Projecto de estruturas de aço” e critério de conformidade “
NP EN 1993-1-1:2010 – “Regras gerais e regras para edifícios” EN 338:2003 Structural timber. Strength classes
(EN 1993-1-1:2005) EN 1090-1:2004 – “Steel and aluminium structural components –
NP EN 1993-1-2:2010 – “Regras gerais – verificação da general delivery conditions”
resistência ao fogo”(EN 1993-1-2:2005) EN 1090-2:2005 – “Execution of steel structures and aluminium
NP EN 1993-1-5:2012 – “Plated structural elements” structures-Part2: Technical requirements for the execution of steel
(EN 1993-1-5:2006) structures”
NP EN 1993-1-8:2010 – “Projecto de ligações ” NP EN 1317:2007 – “Sistemas de segurança rodoviária”, Partes 1 e 2
(EN 1993-1-8:2005) EN 1337 - “Structural bearings” Part 1 to 11, 2000 a 2005
Paulo B. Lourenço
Resumo Abstract
O património cultural construído está em perigo devido a riscos The built cultural heritage is in danger due to natural and man-made
naturais e causados pelo homem. A vulnerabilidade sísmica hazards. The seismic vulnerability of existing buildings is difficult
de edifícios antigos é difícil de avaliar e requer conhecimentos to assess and requires specialized technical knowledge. Relevant
técnicos especializadas. Aspetos relevantes são os materiais e os aspects are the materials and non-linear effects, the morphology
efeitos não lineares, a morfologia dos elementos estruturais e as of the structural elements and the connections between these
ligações entre estes elementos, a rigidez dos diafragmas horizontais elements, the stiffness of the horizontal diaphragms and the state
e o estado da construção. Este artigo apresenta a abordagem of the construction. This article presents the holistic approach
holística recomendada para a avaliação estrutural destes edifícios e recommended for the structural assessment of these buildings and
desenvolvimentos nas áreas de inspeção, diagnóstico, monitorização developments in the areas of inspection, diagnosis, monitoring
e ensaios não destrutivos, com aplicações em monumentos and non-destructive testing, with applications in emblematic
emblemáticos. A metodologia considera uma abordagem faseada monuments. The methodology considers a phased approach based
baseada na investigação histórica, um estudo indutivo em estruturas on historical research, an inductive study on similar structures and a
semelhantes e um conjunto de ferramentas de levantamento, set of survey, experimental, analytical and numerical tools aimed at
experimentais, analíticas e numéricas, destinadas a avaliar a resposta assessing the structural response and defining safety levels.
estrutural e definir níveis de segurança.
Palavras-chave: Património cultural / Conservação / Alvenaria / Análise Keywords: Cultural heritage / Conservation / Masonry / Structural analysis
estrutural
realizada em edifícios com diafragmas flexíveis mostraram que: construção, ensinado por mestres a aprendizes, era a base da tradição
(a) os apoios dos pisos são flexíveis; (b) existe uma grande capacidade e a teoria para o projeto estrutural. Os construtores medievais
de deformação e elevada resistência do piso; (c) os mecanismos conheciam as técnicas geométricas necessárias para traçar plantas
de rotura dos diafragmas flexíveis estão relacionados com a falta e preparar o aparelho da cantaria. A transformação da pedra maciça
de ligações (ou ligações fracas) entre as paredes de alvenaria e os no delicado rendilhado característico da arquitetura gótica é uma
diafragmas; (d) o comportamento histerético é altamente não linear clara evidência da poderosa lógica dos métodos de tentativa e erro
para ações sísmica elevadas; (e) o melhoramento da capacidade utilizados pelos construtores medievais - uma vitória da experiência
dos diafragmas horizontais é uma solução natural, mesmo que um sobre a probabilidade de colapso. Parece evidente que esses
aumento da rigidez no plano por si, não seja geralmente suficiente construtores não empregaram nenhuma forma de análise estrutural
para melhorar a resposta global do edifício. Adicionalmente, as moderna. Desta forma, os construtores medievais parecem ter
estruturas monumentais apresentam frequentemente uma relação descoberto as margens de segurança por meio da observação.
elevada entre vão e altura, com elementos “horizontais” limitados Na transição dos construtores medievais para os tempos modernos,
(possivelmente alguns arcos, abóbadas ou cúpulas). é interessante lembrar Andrea Palladio, que começou como
Neste artigo, discute-se brevemente a relevância da engenharia aprendiz de escultor e depois trabalhou como pedreiro, antes de se
estrutural na conservação, bem como os aspetos da segurança e tornar uma das pessoas mais influentes na história da construção
os métodos de análise estrutural, com exemplos de monumentos europeia. Na Renascença, procuraram-se as explicações teóricas
emblemáticos e aplicações da metodologia apropriada para a e, hoje, a engenharia de conservação tem de conciliar a realidade
tomada de decisão. Conclui-se com algumas recomendações e uma da construção existente com o método da engenharia estrutural. A
referência ao impacto esperado da transformação digital em curso. primeira é amplamente empírica, baseado na experiência adquirida
e na observação. O segundo, geralmente expresso em termos
matemáticos, baseia-se no conhecimento teórico, na experiência e
2 Sobre a engenharia de estruturas na responsabilidade da profissão perante a segurança pública. Os
regulamentos e normas da construção de hoje são baseados no
A definição do jornal oficial da Institution of Structural Engineers, no
método científico. Demonstrar como os edifícios históricos podem
Reino Unido foi de que a Engenharia de Estruturas é “a ciência e
funcionar de acordo com as exigências modernas é importante para
a arte de projetar e realizar, com economia e elegância, edifícios,
garantir sua viabilidade e uso moderno, seja como um monumento
pontes e outras estruturas semelhantes para que possam resistir
vivo ou um monumento morto, e isto é o que a engenharia de
com segurança às forças às quais estão sujeitas”. Esta definição
estruturas permite obter.
completa-se com a ideia de segurança, um objetivo em última
análise o mais importante. Erros de engenharia que significam a
perda de uma única vida não são aceitáveis atualmente, mesmo
3 Segurança estrutural e o património
que, no passado, fossem fundamentais para o desenvolvimento
do conhecimento empírico. A ideia de que as estruturas estarão construído em alvenaria
seguras se puderem resistir às forças às quais podem estar sujeitas A avaliação sísmica de estruturas patrimoniais em alvenaria é um
é simples, mas a resistência dos materiais não é conhecida com processo multidisciplinar integrado, baseado numa metodologia
precisão. Adicionalmente, prever as ações a que uma estrutura para a análise, conservação e restauro estrutural definido nas
pode ser submetida em qualquer momento da sua vida não é trivial, recomendações ICOMOS / ISCARSAH de 2005 [6]. Em geral, a
especialmente para riscos naturais como os sismos. metodologia de avaliação de um edifício histórico respeita os
Habitualmente, os engenheiros abordam a avaliação de risco no valores de autenticidade, de integridade estrutural e arquitetónica,
ambiente construído, associando-o ao nível de perigosidade, à e das tecnologias de construção intangíveis. A metodologia envolve
vulnerabilidade e ao nível de exposição. Um perigo é um evento uma combinação de ferramentas de investigação e diagnóstico;
natural ou causado pelo homem que pode impactar pessoas, edifícios, isto é, recolha de informação histórica, inspeção, monitorização e
infraestrutura, agricultura, ativos ambientais e comunidades, como análise estrutural. O objetivo principal é obter uma compreensão
um sismo ou uma cheia. A vulnerabilidade mede o impacto que e conhecimento profundos do material, do comportamento
uma ameaça tem sobre o ambiente construído, dada a magnitude estrutural, do nível de ligação entre as partes estruturais e das
de um determinado cenário de perigosidade, como o sismo com alterações e deteriorações subsequentes que ocorreram durante a
período de retorno de 475 anos ou a cheia de 100 anos. Finalmente, vida útil da estrutura.
a exposição refere-se aos bens em risco como o número de pessoas O processo de diagnóstico, numa abordagem de primeiro nível,
afetadas ou o valor económico do edifício. De acordo com esta é qualitativo, envolvendo principalmente investigação histórica e
abordagem, a vulnerabilidade é o fator mais importante, não apenas observações no local, para obter informações sobre o comportamento
por causa das consequências físicas de um desastre, mas porque é estrutural e os danos existentes. A fim de conhecer as causas dos
onde a engenharia pode intervir: reduzindo a vulnerabilidade, limita- danos, o nível de segurança e a necessidade de eventual reparação
se a extensão dos danos físicos, perdas de vidas humanas e perdas e reforço, são também necessárias abordagens quantitativas;
económicas. principalmente caracterização de materiais, ensaios / monitorização
Na antiguidade - antes que houvesse distinções entre as profissões no local e em laboratório, e análise estrutural [6]. Dada a incerteza
de arquitetura e engenharia - o conhecimento empírico da arte da relacionada com os dados, os resultados quantitativos devem ser
Figura 1 Conservação e intervenção nas estruturas do património cultural construído. Passado (confiança cega em técnicas modernas e
invasivas, com perda de autenticidade e desconfiança na capacidade original da estrutura antiga) versus presente (combinando
intervenções mínimas e monitorização de longo prazo)
Figura 3 Exemplos de metodologia e aplicação a casos de estudos com macro-modelação: Catedral da Cantuária no Reino Unido (esq.)
[10]; Catedral de Ica no Peru (dir.) [11]
Figura 4 Aplicações a casos de estudo com micro-modelação: Igreja de Kuñotambo no Peru (esq.) [12]; Templo de Évora (dir.) [13]
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[10] Karanikoloudis, G.; Lourenço, P.B.; Alejo, L.E.; Mendes, N. (n.d.)
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Canterbury Cathedral as a case study, International Journal of
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[11] Ciocci, M.P.; Sharma, S.; Lourenço, P.B. (2018) – Engineering simulations
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Meccanica, 53(7), p. 1931–1958. doi: 10.1007/s11012-017-0720-3.
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(Peru). SAHC Master Thesis, University of Minho, Portugal.
[13] Nayeri, S.A. (2012) – Seismic Assessment of the Roman Temple in
Évora, Portugal. SAHC Master Thesis, University of Minho, Portugal.
Ricardo Cruz
Luís Correia
Susana Cabral-Fonseca
José Sena-Cruz
Resumo Abstract
A durabilidade das estruturas de betão armado reforçadas The durability of reinforced concrete structures strengthened with
com polímeros reforçados com fibras de carbono (CFRP) tem carbon fiber reinforced polymer (CFRP) has been studied mainly
vindo a ser estudada essencialmente através de protocolos de with accelerated ageing protocols under laboratory conditions, with
envelhecimento acelerado em laboratório, existindo poucos estudos very few studies performed under natural ageing (real).
de envelhecimento natural (real). This work aims to contribute to the knowledge of the durability
Este trabalho pretende contribuir para o conhecimento da of the bond between concrete and CFRP laminates, applied
durabilidade da ligação entre betão e laminados de CFRP, aplicados according to the EBR and NSM techniques with an epoxy adhesive.
segundo as técnicas EBR e NSM, utilizando um adesivo epoxídico. An experimental study was implemented, where a reference
Foi implementado um programa experimental, que incluía um environment (20 °C / 55% RH) and four different types of natural
ambiente de referência (20 °C / 55% HR) e quatro condições de exposure conditions were included, inducing mainly (i) carbonation,
exposição natural, induzindo principalmente (i) carbonatação, (ii) freeze-thaw cycles, (iii) extreme temperatures and (iv) chlorides
(ii) ciclos gelo-degelo, (iii) temperaturas extremas, e (iv) ação de action. The effects of continuous immersion of these systems in
cloretos. Foi ainda estudado o efeito da imersão contínua em água water at 20 °C was also studied.
a 20 °C. The durability of bond was evaluated up to 2 years of exposure
A durabilidade da ligação foi avaliada até 2 anos de exposição, through direct pullout tests. It was found that the bond performance
através de ensaios de arranque direto. Constatou-se que o after natural ageing showed relatively low levels of degradation for
desempenho da ligação nos envelhecimentos naturais apresentou both techniques.
níveis relativamente reduzidos de degradação para ambas as
técnicas de reforço.
Palavras-chave: Durabilidade / Ligação betão-CFRP / Técnicas EBR e NSM / Keywords: Durability / Concrete-CFRP bond / EBR and NSM techniques /
/ Envelhecimento natural / Natural ageing
2 Programa experimental
Aviso legal 2.1 Descrição geral
As opiniões manifestadas na Revista Portuguesa de Engenharia de
Estruturas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. O programa experimental foi realizado no âmbito do projeto
"FRPLongDur – Comportamento estrutural e durabilidade de
Legal notice elementos de betão armado reforçados à flexão com laminados
The views expressed in the Portuguese Journal of Structural Engineering CFRP", com o objetivo de investigar o comportamento estrutural a
are the sole responsibility of the authors. longo prazo e a durabilidade de elementos de BA reforçados à flexão
com laminados CFRP em ambientes artificiais e naturais relevantes.
Este projeto inclui vários tipos de protótipos para avaliação de
durabilidade em diferentes escalas: (i) amostras dos materiais
(betão, dois adesivos epoxídicos e laminados de CFRP), (ii) provetes
para o estudo da aderência (técnicas EBR e NSM) e, (iii) lajes de BA
à escala real reforçadas à flexão com laminados CFRP (técnicas EBR
e NSM). O presente artigo apenas inclui os estudos de durabilidade
CRUZ, R. [et al.] – Durabilidade da ligação betão-CFRP em sistemas dos provetes de aderência até 2 anos de envelhecimento.
de reforço com as técnicas EBR e NSM sob efeito de envelhecimento Foram considerados seis ambientes diferentes: dois ambientes
natural. Revista Portuguesa de Engenharia de Estruturas. artificiais em laboratório (E1 e E2) e quatro ambientes reais (E3 a
Ed. LNEC. Série III. n.º 18. ISSN 2183-8488. (março 2022) 33-42. E6). O ambiente E1, com condições higrotérmicas controladas
(20 °C / 55% HR), foi considerado o ambiente de referência; o As principais etapas para a produção e instalação dos provetes nos
ambiente E2 foi escolhido para investigar o efeito da imersão em diferentes ambientes resumem-se da seguinte forma:
água a temperatura controlada de 20 °C. Ambos os ambientes • novembro de 2016: produção de todos os provetes de betão a
artificiais foram encontram-se na Universidade do Minho. Os partir de uma única betonagem, com um volume de betão de
ambientes reais localizam-se em vários pontos de Portugal, cerca de 12 m3;
na tentativa de serem alcançadas condições específicas de
• março de 2017: aplicação dos sistemas de reforço com
envelhecimento, nomeadamente: E3 – níveis de carbonatação
laminados de CFRP. Após a aplicação destes sistemas CFRP, os
do betão elevados, tendo a estação experimental sido instalada
provetes permaneceram em ambiente de laboratório até à sua
no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa;
instalação nos respetivos ambientes;
E4 – ciclos de gelo-degelo, tendo a estação experimental sido
instalada na Barragem da Lagoa Comprida (Seia), na Serra da Estrela; • outubro 2017: ensaios de caracterização inicial;
E5 – temperaturas de serviço extremas e baixa humidade relativa, • maio a dezembro de 2018: instalação destes provetes nos
tendo a estação experimental sido instalada na fábrica da S&P respetivos ambientes.
Clever e Reinforcement Ibérica, em Elvas; e, E6 – níveis elevados de Dois anos após a exposição aos diferentes ambientes, 24 provetes
concentração de cloretos em suspensão no ar e elevada humidade (4 de cada ambiente) foram recolhidos e ensaiados de modo a
relativa, tendo a estação experimental sido instalada Porto de estudar a durabilidade da aderência betão-CFRP para as técnicas
Mar de Viana do Castelo (APDL), em Viana do Castelo. A título de EBR e NSM. O protocolo seguido incluiu um período de dessorção
exemplo, na Figura 1 apresentam-se os provetes instalados nos durante 3 semanas com as condições higrotérmicas definidas para
ambientes E3 e E4. o ambiente E1. No caso dos provetes do ambiente E2 (imersão
em água), todos os provetes foram testados saturados, i.e. foram
ensaiados imediatamente após a sua remoção da água.
Durante o período de envelhecimento, foi registado de forma
contínua a temperatura e a humidade relativa do ar de cada
ambiente. Todos os detalhes relativos a esta caracterização podem
ser consultados na publicação [10].
Adesivo
19,9 (3,0) 6,5 (3,0) 4,0 × 10–3 (6,2)
Laminados ff [MPa] (CoV [%]) Ef [GPa] (CoV [%]) εf [× 10–3] (CoV [%])
(b)
CFRP_L10 2405 (3,8) 164 (1,2) 14,6 × 10–3 (3,8)
Figura 1 Aspeto dos provetes para estudo da aderência instalados
nos ambientes (a) E3 e (b) E4 CFRP_L50 2527 (10,8) 190 (9,3) 13,3 × 10–3 (13,6)
(b)
Figura 2 (a) Geometria do provete e configuração de ensaio, e
(b) fotografia ilustrativa de um ensaio de aderência EBR.
Nota: todas as dimensões encontram-se em [mm]
(a)
Foi utilizado um prisma de betão com 400 × 200 × 200 [mm], sendo
aplicadas duas tiras de laminado de CFRP com seção transversal
de 50 × 1,2 mm2 (L50) em faces opostas (paralelas à direção de
betonagem), de acordo com a técnica EBR, de modo a permitir a
realização de dois ensaios por provete de betão. Foi adotado um
comprimento de aderência de 220 mm (superior ao comprimento
efetivo, estimado em 101 mm [11]), com 100 mm livres da
extremidade do prisma de betão de forma a evitar a rotura prematura
por destacamento do betão entre a extremidade do prisma e a
extremidade carregada. Os ensaios foram realizados recorrendo a
um equipamento servo-controlado, sendo a força aplicada medida
por intermédio de uma célula de carga de capacidade máxima de
200 kN (erro linear de 0,05% FS). O deslocamento relativo entre
o CFRP e o betão (deslizamento) na extremidade carregada (sl) e
na extremidade livre (sf) foram medidos usando os transdutores de
deslocamento LVDT1 e LVDT2, respetivamente, com um curso de (b)
± 10 mm (erro linear de 0,24% FS). Os ensaios foram realizados em Figura 3 (a) Geometria do provete e configuração de ensaio,
controlo de deslocamento através do LVDT1, com uma velocidade e (b) configuração do ensaio de aderência NSM
de 2 µm/s. Nota: todas as dimensões encontram-se em [mm]
3 Resultados e discussão dominante foi coesivo no betão (ver Figura 5), esta observação
deve-se provavelmente a variações nas propriedades mecânicas do
3.1 EBR adesivo através do reportado “physical ageing” que caracteriza os
adesivos poliméricos. Comparando os valores de Fmax obtidos nos
A Tabela 2 apresenta os resultados médios dos ensaios de arranque
provetes E2-E6 após dois anos de exposição com a caracterização
direto realizados nos provetes de aderência EBR na caracterização
inicial, o maior aumento de Fmax (+16,2%) foi verificado no ambiente
inicial (T0) e após dois anos de exposição (T2) – cada ambiente e
E3, enquanto no E4 o aumento foi de +13,6%. Além disso, obteve-se
idade inclui 4 provetes. Nesta tabela, Fmax representa a força de corte
também aumento em E2 (3,0%), e pequenos decréscimos em E5
máxima atingida durante o ensaio. Os modos de rotura observados
(–0,3%) e E6 (–3,3%). A absorção de água pode causar plasticização
são também apresentados, sendo estes detalhados na Figura 5. A
e um aumento do volume nos adesivos de origem epoxídica,
Figura 4a apresenta as curvas força de corte versus deslizamento na
levando a reduções consideráveis no módulo de elasticidade e
extremidade carregada (Fl – sl) representativas para cada ambiente
resistência, tal como descrito na literatura, e.g. [15-16]. No entanto,
obtidas nos ensaios (dos 4 provetes, foi escolhida uma curva). Estas
é de ressalvar que, a imersão em água (ambiente E2) e o ensaio em
curvas apresentaram o comportamento típico neste tipo de técnica:
estado saturado do provete parecem não afetar o comportamento
numa primeira fase existe um ramo inicialmente linear ascendente,
da aderência nos provetes EBR. Este facto pode estar relacionado
com rigidez decrescente até ser atingida a carga de máxima
com a plasticização do adesivo, que pode ter levado a uma redução
(suportada pelo comprimento efetivo de acordo com [11]); numa
nos picos de tensão nas interfaces e levar a uma distribuição mais
segunda fase, para uma força sensivelmente constante, observa-se
uniforme das tensões ao longo do comprimento da ancoragem,
um aumento do deslizamento na extremidade carregada aumenta
conduzindo a um aumento da força máxima. Em relação ao
até à rotura [12-14]. Na Figura 4b representam-se as forças de corte
aumento da força máxima nos ambientes naturais, o motivo para tal
máximas (Fmax) obtidas na caracterização inicial e após dois anos de
observação pode estar relacionado com a pós-cura do adesivo que
exposição aos diferentes ambientes.
certamente ocorreu durante o período de exposição, bem como, a
Tabela 2 Principais resultados obtidos nos ensaios de aderência variação da resistência à tração superficial do betão.
EBR apos dois anos de exposição aos ambientes de
estudo (E1 to E6) (resultados médios de 4 provetes)
E1 27,7 (11,0%) C (4)
E3 35,1 (9,1%) C (4)
30,2 (13,3%) F/A + C (2); C (2)
E4 34,4 (11,1%) C (4)
E5 30,1 (5,9%) C (4)
(a)
E6 29,2 (6,0%) C (4)
A Figura 5 apresenta os modos de rotura observados nos ensaios resultados mostram variações de Fmax e respetivos sfmax para cada
de aderência EBR. O modo de rotura dominante após dois anos de ambiente. A Figura 6b apresenta uma representação gráfica das
exposição foi a rotura coesiva no betão - apenas num ensaio foi forças máximas de arranque para os provetes NSM na caracterização
também observada a rotura coesiva do betão simultaneamente inicial e após dois anos de exposição aos diferentes ambientes.
com destacamento na interface laminado-adesivo, conforme Modos de rotura: F/A = rotura por deslizamento na interface
apresentado na Tabela 3. Não foram observadas diferenças CFRP-Adesivo; A/C = rotura por deslizamento na interface betão-
significativas entre os modos de rotura com o tipo de exposição. adesivo; C = rotura coesiva do betão; A = rotura coesiva do adesivo;
CC = fendilhação do betão; CS = destacamento do betão; os valores
entre parênteses são os respetivos coeficientes de variação ou
número de provetes onde o modo de rotura indicado ocorreu.
(a)
(a)
(b)
(b)
Figura 5 Modos de rotura típicos observados nos ensaios
de aderência EBR: (a) rotura coesiva do betão – C e Figura 6 (a) Resultados de ensaios de aderência EBR após dois
(b) rotura coesiva do betão e destacamento na interface anos de exposição em cada ambiente: (a) Curvas típicas
laminado-adesivo – C + F/A Fl – sl; (b) força de corte máxima
Nos ensaios de aderência NSM em T0, a força máxima média
atingida nos provetes foi de 28,2 kN – este valor corresponde a
3.2 NSM
um nível de tensão de cerca de 70% da resistência última à tração
A Tabela 3 apresenta os resultados médios dos ensaios de arranque do laminado. Tal como no caso do sistema EBR, nestes ensaios
direto na caracterização inicial (T0) e após dois anos de exposição obtiveram-se respostas (Fl – sl) semelhantes às reportadas na
(T2) – cada ambiente e idade inclui 4 provetes. Nesta tabela, Fmax literatura, e.g. [5]. O modo de rotura dominante foi o deslizamento
representa a força máxima de arranque atingida durante o ensaio e ao nível da interface laminado-adesivo (F/A), observado na maioria
slmax representa o deslizamento na extremidade carregada para Fmax. dos ensaios. Comparando as duas técnicas de reforço, fica mais uma
Os modos de rotura observados são também apresentados. A Figura vez fica patente a superior eficiência da técnica NSM, para a qual se
6a apresenta as curvas média força de arranque versus deslizamento atingem tensões máximas mais elevadas no sistema de reforço, com
na extremidade carregada (Fl – sl) para todos os ambientes (curva um menor comprimento de aderência. De referir que os resultados
média de 4 ensaios) obtidas após dois anos de exposição. Embora da caracterização inicial são idênticos aos resultados obtidos em
existam grandes semelhanças entre a forma destas curvas, os outros trabalhos semelhantes, e.g. [5, 17, 18].
Tabela 3 Principais resultados dos ensaios de arranque direto em provetes de aderência NSM após dois anos de exposição aos ambientes
estudados (E1 a E6) (resultados médios de 4 ensaios)
Fmax [kN] (CoV [%]) slmax [mm] (CoV [%]) Modo de rotura
Ambiente
T0 T2 T0 T2 T0 T2
E2 24,6 (2,0) 0,5 (21,0) F/A + CS (2); F/A+ F/C + CS (1); A + CS (1)
(a) (b)
Figura 7 Modos de rotura dominantes nos ensaios de aderência NSM: (a) rotura por deslizamento na interface laminado--adesivo com
fendilhação do betão – F/A + CC e (b) rotura por deslizamento na interface laminado-adesivo com destacamento de betão – F/A
+ CS
A Figura 7 apresenta os dois modos de rotura dominantes este resultado. Conforme referido anteriormente, o adesivo epóxi
observados nos ensaios após dois anos de exposição. Estes modos absorve água levando à sua plasticização, conforme mencionado
de rotura foram classificados de acordo com o local onde ocorreram: anteriormente. A diminuição de Fmax também foi observada em
(i) betão - C; (ii) adesivo - A; (iii) interface laminado/adesivo – F/A; E3 (–3,8%) e E4 (–8,4%). Um aumento negligenciável (+0,3%) foi
ou (iv) interface adesivo-betão – A/C. Em alguns provetes, estes observado em E5, enquanto em E6, foi registado um maior aumento
modos de rotura são acompanhados por fissuração no betão (+4,9%). Estas variações observadas após envelhecimento natural,
(CC), destacamento do betão (CS) ou fissuração do adesivo (AC). resultam da sinergia de ações características de cada ambiente
O modo de rotura F/A foi observado em todos os ensaios, exceto (e.g., temperatura, humidade, radiação ultravioleta) que podem levar
nos provetes E2, onde ocorreu uma gama mais ampla de modos de a efeitos deteriorantes como a plasticização do adesivo ou fissuração
rotura (ver Tabela 3). do betão, podendo também produzir efeitos benéficos como a
Variações insignificantes nos valores de Fmax (0,7%) foram observadas pós-cura do adesivo. Verifica-se a evidente alteração no modo de
após a exposição dos provetes de aderência NSM ao ambiente rotura, entre o ambiente E1 (T0 e T2) e os ambientes E3-E6 (T2), de
E1 durante dois anos, o que pode indicar uma conservação do F/A, em E1, para F/A + CC ou F/A + CS nos ambientes E3, E4 e E5, ou
desempenho do sistema em ambiente controlado. A maior redução para F/A + F/C + CS no ambiente E6. Assim, a variação do modo de
de Fmax foi observada após dois anos de imersão em água (ambiente rotura pode indiciar que a alteração da Fmax é um efeito da variação
E2) (–12,2% quando comparada com a o ambiente de referência E1). das características do betão. Não obstante, variações nos restantes
De salientar que além da imersão em água por um longo período, materiais, assim como nas interfaces betão/adesivo e adesivo/
estes provetes foram testados saturados, o que pode justificar /laminado podem ser também críticas no desempenho da ligação.
Resumo Abstract
Em Portugal há cerca de seis dezenas de grandes barragens de betão In Portugal there are about six dozen large concrete dams with
com observação continuada, sendo que cerca de um terço estão continuous observation, of which about a third are affected by
afetadas por reações expansivas de origem interna do betão. Uma concrete swelling reactions of internal origin. One of them, the
delas, a barragem do Alto Ceira, foi mesmo substituída em 2013, já Alto Ceira dam, was even replaced in 2013, as its rehabilitation
que não era viável a sua reabilitação. Há três que apresentam valores was not feasible. There are three that present average values of the
médios das extensões acumuladas no tempo superiores a 1000 ×10–6 expansions accumulated in time above 1000×10–6 (Pracana, Santa
(Pracana, Santa Luzia e Fagilde). A barragem de Pracana sofreu Luzia and Fagilde). The Pracana dam had major rehabilitation works
importantes obras de reabilitação na década de 1980. Atualmente in the 1980s. Currently, only the Fagilde dam has annual expansion
apenas a barragem de Fagilde apresenta taxas de expansão anuais rates above 100×10–6. In the other affected dams, the deterioration
superiores a 100×10–6. Nas outras barragens afetadas os processos processes are still of small to moderate magnitude, but in some of
de deterioração são ainda de pequena a moderada magnitude, mas them the expansion rates have increased in recent years.
em algumas delas as taxas de expansão têm aumentado nos últimos A summary of the main observation activities (monitoring,
anos. inspection and tests) of the works and the results of some studies
Apresenta-se uma síntese das principais atividades de observação carried out, within the scope of the behavior assessment of this
(monitorização, inspeção e ensaios) das obras e dos resultados group of dams, is presented.
de alguns estudos realizados, no âmbito do acompanhamento do
comportamento deste conjunto de barragens.
Palavras-chave: Barragens de betão / Reações expansivas / Deterioração Keywords: Concrete dams / Swelling reactions / Structural deterioration /
estrutural / Observação / Monitoring
Fagilde APA
Fratel EDP
Gravidade e
Monte Novo APA
descarregadora
Penha Garcia AdP
Raiva EDP
Bemposta Engie
Cabril EDP
Abóbada e
Bouçã EDP
arco-gravidade
Caniçada EDP
Picote Engie
Aguieira EDP
Figura 1 Localização das barragens de betão portuguesas afetadas por reações expansivas do betão
expansivas de origem interna do betão [1] e atualiza, em muitos 3 Barragens portuguesas com expansões
aspetos, o inventário de 2012 das barragens portuguesas sujeitas a
esta patologia [2]. de maior magnitude
3.1 Barragem do Alto Ceira
2 Efeitos estruturais das expansões do betão A barragem do Alto Ceira, construída em 1949 e desativada em
em barragens 2013 (através de demolição do seu trecho central), era uma
abóbada delgada com 36 m de altura (Figura 2). A obra apoiava-
As evidências macroscópicas dos efeitos das reações expansivas do se num maciço xistoso. Na sua construção foi usado betão
betão nas barragens, que são semelhantes na RAS e na RSI, são as produzido com agregados quartzíticos. Desde a década de 1960
seguintes: que o comportamento observado da barragem se caracterizou
i) nos paramentos, a fendilhação superficial, difusa e generalizada por deslocamentos progressivos, verticais para cima e radiais
(craquelê), devida à heterogeneidade local das expansões, às para montante. A fendilhação dos paramentos e do coroamento
vezes com delaminação do betão e formação de pequenas acentuou se ao longo do tempo, tendo-se chegado a um estado
crateras, e fendilhação linear, devida à resposta estrutural muito avançado no início deste século, com passagem franca de
global a deformações impostas; água pelas fendas na zonas dos rins (Figura 3).
ii) em juntas de contração das estruturas e de dilatação nos
tabuleiros sobre os descarregadores de superfície, o fecho
generalizado e os deslizamentos entre blocos (em particular
os desalinhamentos no coroamento), com o esmagamento
de preenchimentos e a delaminação de bordos, devido a
deslocamentos absolutos e relativos;
iii) em vãos e nas centrais, designadamente em vazamentos,
condutas, orifícios e descarregadores, a ovalização da secção das
condutas, o desalinhamento de peças e respetivas fixações, e o
fecho e a distorção de orifícios e portadas, causando problemas
em apoios e em folgas de equipamentos e o encravamento de
comportas;
iv) a coloração amarelada das superfícies de betão afetadas por
RAS;
v) eflorescências e exsudação do gel formado (RAS) nas superfícies
aparentes, em geral em cavidades, fendas e juntas;
vi) para reações expansivas de maior magnitude, a passagem de
água pelas fendas e a rotura de armaduras.
Os efeitos das reações expansivas refletem-se, nos resultados da
monitorização das barragens de betão, na progressividade das
seguintes grandezas:
i) nos deslocamentos absolutos, verticais para cima e radiais para
montante (exceto nas barragens de contrafortes);
ii) nos deslocamentos relativos entre blocos, designadamente no Figura 2 Barragem do Alto Ceira. Vista de jusante e corte pela
fecho das juntas de contração e nos deslocamentos diferenciais consola central
verticais para cima dos blocos mais altos relativamente
aos blocos mais baixos e nos deslocamentos diferenciais Os primeiros ensaios laboratoriais, físicos e químicos, realizados
horizontais para montante dos blocos do fundo do vale (mais sobre amostras de betão retiradas do corpo da obra em 1986,
altos) relativamente aos blocos das encostas; confirmaram a gravidade da deterioração do betão e o seu elevado
potencial remanescente de expansão [3]. Em 1990 foi feita uma
iii) nas extensões do betão, em extensómetros ativos e corretores; nova campanha de amostragem e ensaios do betão da barragem.
nas tensões do betão. Os resultados dos ensaios de expansão acelerada, realizados com os
No diagnóstico e prognóstico das reações expansivas do betão e dos provetes de betão imersos em solução saturada de cloreto de sódio
seus efeitos estruturais, em geral recorre-se: i) à interpretação dos e em água destilada, em estufa a 50 ºC, são apresentados na Figura 4
resultados da observação; ii) a análises e ensaios laboratoriais, físicos [4]. Nos provetes realizados a partir das amostras retiradas do lado
e químicos, sobre amostras de betão retiradas do corpo das obras; da margem esquerda foram obtidas expansões remanescentes
iii) a ensaios “in situ”; e iv) a modelação matemática. máximas de cerca de 1400 × 10–6.
Figura 3 Barragem do Alto Ceira. Fendilhação difusa, do tipo craquelê, no piso do coroamento (à esquerda) e bica no paramento de jusante
para coletar repasses pelas fendas (à direita)
Os deslocamentos absolutos da barragem foram observados por abóbada, entre 1950 e 1993, e na Figura 6 apresenta-se a evolução
métodos geodésicos, desde o primeiro enchimento da albufeira, destes deslocamentos no ponto em que tiveram maior expressão
em 1950. Os deslocamentos radiais tiveram, ao longo do tempo, (junto ao coroamento do bloco EF), incluindo o ajuste de uma
uma grande progressividade para montante. Na Figura 5 apresenta- função aos valores observados entre 1984 e 2011. O valor irreversível
se uma planta com a evolução dos deslocamentos horizontais do deslocamento radial deste ponto atingiu, neste período, cerca de
observados por métodos geodésicos nos alvos superiores da 50 mm.
Campanha Data Cota de água Campanha Data Cota de água Campanha Data Cota de água
1 15-09-1950 659,0 14 15-01-1986 659,0 27 8-09-1988 658,4
2 24-09-1950 630,0 15 16-01-1986 659,0 28 12-10-1988 658,4
3 29-11-1950 658,6 16 24-03-1986 655,6 29 10-01-1989 659,2
4 22-08-1963 657,5 17 25-03-1986 658,8 30 4-05-1989 658,7
5 29-08-1963 630,0 18 7-10-1986 658,2 31 22-08-1989 658,0
6 20-11-1963 659,0 19 22-10-1986 630,0 32 20-09-1989 658,3
7 18-05-1970 656,1 20 23-10-1986 630,0 33 19-02-1990 658,7
8 26-09-1974 654,9 21 3-12-1986 658,3 34 15-03-1990 658,7
9 28-09-1978 654,9 22 7-01-1987 658,6 35 18-10-1990 659,4
10 10-08-1983 655,2 23 11-06-1987 658,5 36 10-04-1991 658,7
11 17-05-1984 658,2 24 11-08-1987 655,0 37 25-07-1991 658,5
12 24-01-1985 658,0 25 8-10-1987 658,6 38 19-10-1992 658,4
13 25-10-1985 654,8 26 8-03-1988 658,7 39 27-04-1993 658,9
Figura 5 Barragem do Alto Ceira. Evolução dos deslocamentos horizontais observados por métodos geodésicos nos alvos superiores da
abóbada (cota 663,00 m), entre 1950 e 1993 (adaptada de [5])
(Figura 10) [7, 8]. Pode notar-se que foram identificadas as principais
fendas, bem como repasses e depósitos de carbonatos.
Figura 13 Barragem de Santa Luzia. Resultados da interpretação quantitativa dos deslocamentos verticais observados através de
nivelamentos geométricos de precisão até 2011
britados no local, e cimento Portland normal com uma dosagem em todo o coroamento, e fendas lineares de menor abertura nos
média de 240 kg/m3 de betão [12]. paramentos da abóbada e do arco-gravidade. Na Figura 14 e na
O empolamento do coroamento da barragem foi detetado, pela Figura 15 apresentam-se fotografias, obtidas em 2019, de algumas
primeira vez, em 1966 [13]. Os deslocamentos verticais ascendentes zonas da obra onde se verifica maior fendilhação do betão.
e radiais para montante tiveram taxas de aumento praticamente O sistema de observação inicial da obra permitia a monitorização
constantes entre 1960 e 2000, mas nas últimas décadas têm vindo de: i) deslocamentos horizontais em 9 pontos do paramento de
a diminuir. Na Figura 13 apresentam-se as diferentes parcelas jusante, por triangulação geodésica; ii) deslocamentos verticais de
dos deslocamentos verticais do coroamento, obtidas através da 6 pontos do coroamento, por nivelamento geométrico de precisão;
interpretação quantitativa dos deslocamentos verticais medidos em iii) temperaturas no corpo da barragem, com termómetros de
nivelamentos até 2011. Refere se que os deslocamentos verticais resistência elétrica; e iv) extensões em pontos junto ao paramento
acumulados ao longo do tempo são maiores no arco gravidade que de jusante, com extensómetros de corda vibrante. Em 1945 foram
na abóbada. instalados mais 4 alvos de pontaria no paramento de jusante,
O LNEC realizou levantamentos do estado de fendilhação da em 1948 constatou-se que estava avariada a aparelhagem para
obra em 1979/1980 [14] e em 1998 [15]. A fendilhação evoluiu medição de temperaturas e de extensões do betão e em 1959 foram
entre estas datas e até à atualidade, sendo muito mais intensa instaladas rosetas de bases de alongâmetro em juntas de contração.
no arco-gravidade e na zona de ligação à abóbada. A fendilhação Após a identificação do comportamento anómalo da obra, o
é predominantemente difusa, mas há fendas de desenvolvimento sistema de observação foi melhorado em duas fases. Em 1987
linear com aberturas de vários centímetros na zona de ligação e foram instalados extensómetros de varas na fundação, a jusante,
Figura 14 Barragem de Santa Luzia. Fendas na abóbada principal, no paramento de jusante em juntas de betonagem com depósitos de
carbonatos de cálcio (à esquerda), e lineares no piso do coroamento, do lado da margem direita (à direita), em 2019
Figura 15 Barragem de Santa Luzia. Fendas muito abertas no coroamento, na zona de ligação entre a abóbada principal e o arco-gravidade
(à esquerda) e fendilhação difusa no trecho superior do paramento de montante do arco-gravidade (à direita), em 2019
e no corpo da barragem, entre a fundação e o coroamento, para estando apoiadas nos contrafortes laterais e em encontros artificiais
medição de deslocamentos verticais, e foi reformulado o subsistema (Figura 16). O primeiro enchimento da albufeira iniciou-se em junho
de medição de deslocamentos relativos entre blocos, passando a de 1985 e terminou em janeiro de 1987.
integrar 32 rosetas de bases de alongâmetro. Em 1994, utilizando
o passadiço metálico construído a meia altura da abóbada no
paramento de jusante, foram instalados: i) dois fios de prumo, um
tradicional conjugado (direito no trecho superior e invertido no
trecho inferior e fundação, exteriores e entubados) no bloco central
DE, e um prumo ótico, também exterior, no bloco BC, do lado da
margem direita; ii) 14 termómetros no corpo da barragem, 12 na
abóbada e 2 no arco gravidade; e iii) novas rosetas de bases de
alongâmetro, para substituir outras que tinham saído do campo de
medida e para mediar a abertura de algumas fendas [16].
Os principais estudos de caracterização das propriedades e das
expansões do betão foram realizados na década de 1990 [17, 18,
19]. As carotes extraídas em 1995 permitiram identificar produtos
da RAS, mas também, em menor grau, produtos expansivos do tipo
etringite e taumasite, resultantes de reações sulfáticas. Os ensaios
de expansibilidade mostraram que o potencial remanescente
de expansão era baixo, da ordem de 100 × 10–6. A resistência à
compressão do betão teve um valor médio de 30,6 MPa, com
máximo de 40,0 MPa e mínimo de 19,2 MPa. Na determinação da
resistência à tração direta obtiveram-se os seguintes resultados:
i) nos 40 provetes não submetidos a ensaios de expansão, o valor
médio foi de 1,35 MPa; e ii) nos 55 provetes submetidos previamente Figura 16 Barragem de Fagilde. Vista geral de jusante
a ensaios de expansão, o valor médio foi de 1,11 MPa. Quanto ao Na construção da obra foi utilizado betão pronto, da classe B225,
módulo de elasticidade, obteve-se um valor médio de 20,9 GPa. com uma dosagem de cimento Portland normal de 360 kg/m3,
Os ensaios de fluência, realizados com 6 provetes, mostraram uma agregado grosso constituído principalmente por rocha calcária
deformabilidade considerável do betão. A partir deste conjunto de britada e agregados finos formados por areão e areia siliciosos
resultados concluiu-se que o betão apresentava um dano interno (Tabela 2).
significativo, atendendo aos baixos valores obtidos para a resistência
à tração e para o módulo de elasticidade, bem como as taxas de Tabela 2 Barragem de Fagilde. Composição do betão da obra
fluência exibidas, não compatíveis com um betão são com cerca de
50 anos de idade. Componentes Dosagem Composição
(máxima dimensão em mm) dos agregados (%) do betão (kg/m3)
Entre 2003 e 2007 foram realizados estudos de modelação do
comportamento estrutural da barragem, para analisar e interpretar Brita 38,1 – 25,4 35 661
o comportamento observado até 2003 [20] e até ao final de 2006 Brita 25,4 – 9,5 15 283
[12].
Brita 9,5 – 4,8 12 227
Os resultados da observação dos últimos anos mostram que as taxas
de expansão estão a diminuir [21], pelo que o dono de obra (EDP) Areão 27 510
pretende atualizar os estudos de diagnóstico e de prognóstico do Areia 11 208
betão e da própria obra, com vista à definição das intervenções mais Cimento – 360
adequadas a realizar na barragem.
Água – 160
A barragem de Fagilde, localizada no rio Dão, a cerca de 15 Km de Os valores característicos da tensão de rotura à compressão,
Viseu, foi construída entre agosto de 1982 e o final de 1983. Trata-se obtidos nos ensaios realizados durante a construção para controlo
de uma estrutura de betão constituída por uma parte central com da qualidade do betão, usando provetes cúbicos de 20 cm de aresta,
contrafortes, ladeada por duas abóbadas cilíndricas que fecham as foram de 26,7 MPa, 31,8 MPa e 33,8 MPa aos 7, 14 e 28 dias de idade,
margens. O maciço rochoso de fundação é granítico. A estrutura respetivamente [22]. Pode assim considerar-se que a maturação foi
central tem uma altura máxima acima da fundação de 26,6 m rápida e que aos 28 dias de idade foi obtido um valor elevado face
e compreende três contrafortes, entre os quais se inserem dois à classe de resistência prescrita (B225). Atendendo à dosagem de
descarregadores (um de superfície e outro de meio fundo), cada um cimento utilizada e à espessura dos elementos betonados, é provável
com dois vãos. As duas abóbadas cilíndricas têm espessura variável, que as temperaturas do betão tenham atingido valores elevados,
paramento de montante vertical e uma altura máxima de 18,0 m, propiciando condições para o desenvolvimento da RSI [23].
Na inspeção anual do LNEC de janeiro de 2001 foi, pela primeira 30]; e iv) a análise e a interpretação do comportamento observado,
vez, registado um número significativo de fendas nos paramentos da usando modelação matemática [31, 32].
barragem. No entanto, os resultados da observação já indiciavam a Em 2004 foi realizado um mapeamento da fendilhação superficial,
existência de um processo de deterioração do betão pela presença com vista ao estabelecimento de um estado de referência. Foram
de fendilhação difusa em algumas zonas da obra, e também caracterizadas as principais fendas existentes nos paramentos
pela ocorrência de deslocamentos horizontais progressivos para de montante e de jusante, faces dos contrafortes e coroamento,
montante e de empolamento do coroamento [22]. através da sua numeração, localização, abertura, desenvolvimento e
Face à deterioração progressiva da obra, o seu acompanhamento orientação média. Na Figura 17 apresentam-se estes resultados, bem
passou a ser ainda mais cuidado e foram realizados, como as novas fendas detetadas na atualização do levantamento
sucessivamente, os seguintes estudos: i) caracterização do processo realizada em 2009. A fendilhação das superfícies em 2004 era
expansivo do betão, segundo um plano previamente definido considerável, tendo a maior parte das fendas abertura inferior a
[24], compreendendo o levantamento do estado de fendilhação 1 mm, mas um número reduzido de fendas (as mais expressivas)
dos paramentos [25], o estudo da fluência do betão [26] e a tinha maior abertura, mas sempre inferior a 10 mm. Na Figura 18
caracterização petrográfica, física e química do betão [23, 27]; apresentam-se fotografias, obtidas em 2015 e 2016, de zonas da
ii) a instrumentação complementar da barragem [28]; a análise obra onde se verifica um estado mais avançado de deterioração do
detalhada dos resultados da observação continuada da obra [29, betão.
Figura 17 Barragem de Fagilde. Resultados do mapeamento da fendilhação dos paramentos realizado em outubro de 2004 e novas fendas
detetadas em 2009 (cor verde) [29]
Figura 18 Barragem de Fagilde. Vistas de jusante de um trecho da abóbada direita, em 2015 (à esquerda), e de uma zona do contraforte
central, em 2016 (à direita) [29]
do paramento de montante e a injeção de fendas nas abóbadas; Ensaios físicos e químicos, realizados em amostras retiradas do corpo
ii) a substituição das duas abóbadas; e iii) a substituição da própria da barragem, confirmaram a existência conjunta da RAS e da RSI,
barragem. As duas primeiras alternativas obrigarão à realização de com expansões de grande magnitude. Entre 1980 e 1992 a albufeira
estudos detalhados sobre o comportamento da obra nas suas novas esteve vazia. O projeto de reabilitação foi concluído pela EDP em
condições estruturais. Contudo, devido à limitada capacidade da 1985. Na Figura 22 estão representados alguns dos trabalhos de
albufeira para abastecimento de água aos municípios de Viseu, Nelas reabilitação da obra, realizados entre 1988 e 1992 [33, 34, 35].
e Mangualde na estiagem, a APA está a ponderar a substituição da
barragem por uma nova, localizada numa secção adequada do rio
umas centenas de metros a jusante.
Figura 21 Barragem de Pracana. Fendilhação generalizada do paramento de montante e das almas dos contrafortes (fotografias captadas
antes das obras de reabilitação)
Tabela 3 Barragem de Pracana. Extensões verticais médias acumuladas e taxas médias anuais, nos períodos 1952-1980 e 1992-2019,
obtidas através da análise dos deslocamentos verticais do coroamento medidos por nivelamento [38]
Período de outubro de 1952 a maio de 1980 Período de dezembro de 1992 a janeiro de 2019
Altura Deslocamentos Extensão Taxa anual Deslocamentos Extensão Taxa anual
Contraforte
média verticais vertical de extensão verticais vertical de extensão
/ bloco
(m) acumulados acumulada vertical acumulados acumulada vertical
(mm) (× 10–6) (× 10–6/ano) (mm) (× 10–6) (× 10–6/ano)
B2 3,7 – – – 2,7 716 27,4
B1 10,8 5,6 521 18,4 7,4 684 26,2
B0 17,2 – – – 6,0 349 13,4
P1 25,1 – – – 4,9 195 7,5
P2 32,1 33,1 1050 37,1 4,4 137 5,3
P3 38,6 – – – 3,0 76 2,9
P4 47,3 31,8 550 19,4 3,2 67 2,6
P5 57,8 – – – 4,2 73 2,8
P6 63,0 32,1 535 18,9 5,1 80 3,1
P7 62,3 – – – 5,5 88 3,4
P8 62,3 32,2 535 18,9 6,4 102 3,9
P9 62,2 – – – 5,5 88 3,4
P10 60,9 26,8 466 16,5 5,2 85 3,2
P11 53,4 33,1 685 24,2 6,3 117 4,5
P12 38,4 30,6 836 29,5 5,5 142 5,4
B13 24,2 – – – 3,3 134 5,1
B14 12,6 25,5 2024 71,5 9,3 734 28,1
B15 4,2 – – – 11,2 2667 102,2
Tabela 4 Barragens portuguesas afetadas por reações expansivas do betão. Meios de identificação e de caracterização do fenómeno [1]
4 Síntese dos resultados do acompanhamento anos, mas mostrando depois taxas crescentes no tempo. Na Tabela
6 apresentam-se os valores médios, em 2020, das extensões livres
das obras observadas nos extensómetros corretores e as extensões verticais
Na Tabela 4 indicam-se os tipos de estudos realizados para estimadas a partir dos resultados de nivelamentos do coroamento,
caracterizar os fenómenos expansivos nas 20 barragens afetadas bem como as respetivas taxas de evolução, nos últimos 10 anos,
e na Tabela 5 apresenta-se uma síntese no que respeita ao tipo de e na Figura 26 representa-se a evolução, até 2015, para algumas
reação e à estimativa das deformações verticais de cada uma das das barragens em apreço, de algumas das grandezas referidas [39].
barragens. Este tipo de comportamento está relacionado com a reatividade
A reação expansiva mais comum nas barragens portuguesas é a RAS, lenta de agregados com sílica cristalina [40], pelo que as que foram
apenas na barragem de Fagilde é dominante a RSI, provavelmente construídas com betão produzido com agregados quartzíticos
devido aos processos de colocação do betão pronto. desenvolveram as reações expansivas desde muito cedo, ao passo
que nas barragens onde foram utilizados agregados graníticos o
São catorze as barragens afetadas por reações expansivas, em
período inicial dormente deste fenómeno chegou a atingir mais de
regra do tipo RAS, em que foram usados agregados graníticos na
30 anos.
composição do betão: Alto Rabagão, Caniçada e Penide, no noroeste
do país; Miranda, Picote e Bemposta, no Douro Internacional; Na Tabela 7 apresenta-se uma síntese dos tipos de ensaios
Aguieira, Raiva, Cabril, Bouçã, Covão do Meio e Fratel, nas Beiras; realizados “in situ” e de modelação estrutural, pelo método dos
e Monte Novo e Caia, no Alto Alentejo. Todas foram construídas elementos finitos, utilizados para interpretação do comportamento
entre 1942 e 1982, exibindo um comportamento caracterizado observado das barragens portuguesas afetadas por expansões do
por taxas de expansão muito baixas durante os primeiros 20 a 30 betão. Pode notar-se que foram adotados modelos que consideram,
Tabela 5 Barragens portuguesas afetadas por reações expansivas do betão. Tipos de agregados e de reação e extensões verticais estimadas
devidas às expansões [1]
Agregados Ordem de
Taxas anuais da
grandeza da
Barragem Ano de Tipo de extensão vertical
Altura extensão vertical
(m) conclusão reação Grossos Areia nos últimos 10 anos
acumulada
(× 10–6)
(× 10–6)
Santa Luzia 1942 76 RAS Quartzito Quartzito 600 a 2400 5 a 20
Alto Ceira 1949 36 RAS Quartzito Quartzito 600 a 4000 5 a 50
Penide 1949 18 RAS (?) Granito ? ? 10
Pracana 1951 60 RAS/RSI Quartzito Quartzito 800 a 1400 0 a 50
Covão do Meio 1953 28 RAS Granito ? ? 30
Cabril 1954 132 RAS/RSI Granito ? 80 <5
Bouçã 1955 65 RAS (?) Granito ? 80 <5
Caniçada 1955 76 RAS Granito ? 160 5 a 10
Picote 1958 99 RAS Granito Granito 100 <5
Miranda 1961 80 RAS Granito Granito 20 5
Alto Rabagão 1964 94 RAS Granito Granito 100 <5
Bemposta 1964 87 RAS Granito ? 250 5 a 10
Caia 1967 52 RAS/RSI Granito Quartzito ? ?
Fratel 1973 43 RAS/RSI Granito Siliciosa 300 a 400 5 a 15
Penha Garcia 1980 25 RAS (?) Quartzito Siliciosa 70 <5
Coimbra 1981 40 RAS (?) ? Siliciosa ? ?
Aguieira 1981 89 RAS Granito Siliciosa 120 <5
Raiva 1981 36 RAS (?) Granito Siliciosa 250 < 10
Monte Novo 1982 30 RAS Granito ? 100 5
Fagilde 1984 27 RSI Calcário Siliciosa 900 a 2400 20 a 50
Figura 26 Evolução até 2015 dos valores médios das deformações livres medidas em extensómetros corretores
e das deformações verticais estimadas a partir dos resultados de nivelamentos em algumas barragens
portuguesas afetadas por RAS, construídas com betão de agregados grossos graníticos [39]
Tabela 6 Valores médios, em 2020, das extensões livres observadas nos extensómetros corretores e das extensões verticais estimadas a
partir dos resultados de nivelamentos nas barragens portuguesas afetadas pela RAS, construídas com betão de agregados grossos
graníticos [1]
Extensões verticais estimadas a partir
Extensões livres medidas nos
dos deslocamentos verticais medidos
extensómetros corretores
nos nivelamentos do coroamento
Idade em 2020 Valor médio Valor médio da taxa Valor médio da Valor médio da taxa
Barragem
(anos) da extensão anual de extensão extensão vertical anual de extensão
acumulada nos últimos acumulada vertical nos últimos
no tempo 10 anos no tempo 10 anos
(× 10–6) (× 10–6) (× 10–6) (× 10–6)
Penide 66 – – 200 (desde 1997) 10
Covão do Meio 62 – – 600 (desde 1985) 30
Cabril 61 250 10 80 <5
Bouçã 55 150 < 10 80 <5
Caniçada 60 150 (desde 1990) < 10 170 5 a 10
Picote 57 200 < 10 100 <5
Miranda 54 300 10 200 5
Alto Rabagão 51 150 10 100 <5
Bemposta 51 200 < 10 250 5 a 10
Caia 48 – – 50 (12 anos, 1996-2008) < 5 (2003-2008)
Fratel 42 – – 200 (desde 2000) 5 a 15
Aguieira 34 150 < 10 120 <5
Raiva 34 – – 250 < 10
Monte Novo 33 – – 100 5
para as barragens mais afetadas pela patologia, o comportamento internacionalmente, como um caso de enorme sucesso (como
viscoelástico com maturação e a fendilhação através de dano, já referido, o facto da albufeira ter estado vazia durante 12 anos
para o betão, e a geração das expansões estruturais em função da provocou a secagem do betão, o que contribuiu decisivamente para
temperatura, humidade interna e estado de tensão. esta realidade). As atuais taxas de expansão são reduzidas, exceto
As obras que apresentaram expansões superiores a 1000 × 10–6 são, nos blocos dos encontros.
como referido, as barragens de Santa Luzia, Alto Ceira, Pracana e A barragem de Fagilde tem vindo a ser acompanhada, continuando
Fagilde. Apenas as barragens do Alto Ceira e de Fagilde mostraram funcional e segura. Se as taxas de expansão mantiverem os padrões
taxas de expansão anuais superiores a 100 × 10–6. Nas outras atuais, a obra poderá necessitar de uma grande intervenção a
barragens afetadas, os processos de deterioração são de pequena médio prazo. Contudo, tal poderá não vir a acontecer pois está a ser
a moderada amplitude e têm-se desenvolvido com taxas reduzidas, ponderada a construção de uma nova barragem a jusante, por forma
exceto na barragem do Covão do Meio, na qual se têm verificado, a aumentar o volume armazenado na albufeira.
nos últimos anos, taxas de acréscimo de deslocamentos verticais
correspondentes a extensões de cerca de 30 × 10–6/ano. Agradecimentos
A barragem do Alto Ceira, que estava irremediavelmente deteriorada, Agradece-se à Agência Portuguesa do Ambiente (APA), EDP, Engie,
foi substituída em 2013. Águas de Portugal (AdP), Aguia Enlica e Associação de Beneficiários
A barragem de Santa Luzia parece ter a reação praticamente do Caia a autorização concedida para a publicação de elementos da
esgotada e os seus danos estruturais são apenas de monta na zona observação das barragens referidas neste trabalho.
de ligação da abóbada ao arco-gravidade da margem esquerda.
O seu desempenho estrutural mantém-se satisfatório. O dono de Referências
obra tem vindo a realizar estudos no sentido de programar uma
intervenção de reabilitação da obra. [1] Batista, A.L. (2021) – Deterioração e reabilitação de barragens afetadas
por reações expansivas internas do betão. Programas de Investigação
A reabilitação da barragem de Pracana, realizada entre 1988 e e de Formação Pós-Graduada apresentados para obtenção do
1992, com recuperação da integridade do betão e instalação de título de Habilitado para o Exercício de Funções de Coordenação de
uma geomembrana no paramento de montante, é apontada, Investigação Científica, LNEC.
Tabela 7 Barragens portuguesas afetadas por reações expansivas do betão. Ensaios “in situ” e modelação estrutural para interpretação
do comportamento observado [1]
Tipo Ano de Altura Ensaios “in situ” e modelação do comportamento estrutural (MEF)
Barragem
estrutural conclusão (m) Ensaios “in situ” Modelação estrutural (MEF)
Santa Luzia Abóbada 1942 76 S1 + S3 + S4 E4 + E5 + E6 + E7
Alto Ceira Abóbada 1949 36 S1 + S2 + S3 + S4 + S5 E1 + E2
Penide Descarregadora 1949 18 - -
Pracana Contrafortes 1951 60 S1 + S2 + S5 E3 + E4 + E5 + E6 + E7
Covão do Meio Abóbada 1953 28 S1 + S4 E3 + E4 + E5 + E6 + E7
Cabril Abóbada 1954 132 S1 + S2 + S3 + S4 E1
Bouçã Abóbada 1955 65 S1 + S4 -
Caniçada Abóbada 1955 76 - -
Picote Abóbada 1958 99 - -
Miranda Contrafortes 1961 80 S3 -
Bemposta Arco-gravidade 1964 87 - E4 + E5 + E6 + E7
Alto Rabagão Abóbada 1964 94 - -
Caia Contrafortes 1967 52 S2 -
Fratel Descarregadora 1973 43 - E4 + E5 + E6 + E7 (*)
Penha Garcia Gravidade 1980 25 - -
Aguieira Abóbadas múltiplas 1981 89 S3 + S4 E1 + E5
Raiva Gravidade 1981 36 - -
Coimbra Descarregadora 1981 40 - -
Monte Novo Gravidade 1982 30 - -
Fagilde Gravidade 1984 27 S1 E4 + E5 + E6 + E7
Ensaios “in situ”: Tipo de modelos estruturais (método dos elementos finitos):
S1 - Mapeamento da fendilhação e/ou de outras ocorrências E1 - Elástico
S2 - Ensaios de ultrassons E2 - Elastoplástico
S3 - Ensaios de vibração forçada E3 - Dano
S4 - Ensaios de vibração ambiente E4 - Viscoelástico com maturação
S5 - Medição de tensões E5 - Geração expansões
(*) Estudo em curso E6 - Dependência da temperatura e da humidade interna
E7 - Dependência do estado de tensão
[2] Batista, A.L.; Piteira Gomes, J. (2012) – Practical assessment of the [7] Berberan, A.; Portela, E.A.; Boavida, J. (2006) – Assisted visual
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Conferece, Maceió, Brasil. [8] LNEC (Henriques, M.J.) (2013) – Levantamento térmico de paramentos
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Ceira. Colaboração do Núcleo de Química. Relatório 170/1991, DBB/NO/NFOS, Lisboa.
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Alkali-Aggregate Reaction (ICAAR 2020-2022), Lisboa.
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DBB/NO, Lisboa. [39] Batista, A.L.; Piteira Gomes, J. (2016) – Characteristic behaviour of the
portuguese large concrete dams built with granite aggregates and
[26] LNEC (Ribeiro, S.; Bettencourt Ribeiro, A.) (2007) – Barragem de
affected by ASR. 15th International Conference on Alkali-Aggregate
Fagilde. Estudo da fluência do betão. Relatório 15/2007 – DM/NB,
Reaction (ICAAR 2016), São Paulo, Brasil.
Lisboa.
[40] Santos Silva, A.; Fernandes, I.; Ferraz, A.R.; Soares, D. (2017) – Can
[27] FCUP (Fernandes, I.; Ribeiro, M.A.; Noronha, F.) (2006) – Barragem de
certain alkali minerals explain the slow reactivity of granitic aggregates
Fagilde. Análise petrográfica do betão. Relatório, Departamento de
in dams? Swelling Concrete in Dams and Hydraulic Structures (DSC
Geologia, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Porto.
2017), Civil Engineering and geomechanics series, ISTE-Wiley,
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observação. Relatório 111/2008, DBB/NO, Lisboa.
[29] Piteira Gomes, J., Batista, A.L., Silva, J.C. (2016) – Avaliação dos efeitos
do processo de deterioração do betão da barragem de Fagilde - Parte
1 – Caracterização do estado da obra. II Encontro Luso-Brasileiro de
Degradação de Estruturas de Betão, LNEC, Lisboa.
Miguel Ferreira
João Almeida
Miguel Lourenço
Resumo Abstract
Os modelos de campos de tensões contínuos incluem Since a continuous stress field model includes the compatibility
intrinsecamente as relações de compatibilidade, permitindo alargar relationships, it predicts the structure ductility. Including the
o uso destes modelos para a avaliação da respetiva ductilidade. concrete's tensile strength and the bond between the concrete and
A introdução dos efeitos da resistência à tração do betão e da the steel, it is possible to simulate the contribution of the concrete
aderência entre o betão e o aço permite simular os efeitos da between cracks (tension stiffening) and thus evaluate the in-service
contribuição do betão entre fendas (tension stiffening) e assim behaviour.
estudar o comportamento em serviço das estruturas. We present a formulation that models the Tension Chord Model
Apresenta-se uma formulação que modela o Tension Chord Model explicitly employing the three components, steel, concrete and
empregando explicitamente as três componentes, aço, betão e bond combined in a finite element. With this model, both stabilized
aderência combinados num elemento finito. Deste modo, pode-se and localized cracking solutions can be obtained.
obter quer as soluções de fissuração estabilizadas, quer de fissuração Examples of application in reinforced concrete ties subjected to
localizada. applied force, imposed deformation and concrete shrinkage are
Apresentam-se exemplos de aplicação em tirantes de betão armado presented, proving the suitability of the methodology for known
sujeitos a força aplicada, deformação imposta e retração do betão, cases. Then, the behaviour of the deep beams is evaluated in
comprovando a adequabilidade da metodologia a casos conhecidos. comparison with the results obtained in laboratory tests.
Seguidamente, avalia-se o comportamento de vigas-paredes em
comparação com os resultados obtidos em ensaios laboratoriais.
Palavras-chave: Betão Estrutural / Modelos de campos de tensões contínuos / Keywords: Structural Concrete / Continuous stress field models / In-service
/ Comportamento em serviço behaviour
Aviso legal
As opiniões manifestadas na Revista Portuguesa de Engenharia de
Estruturas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.
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The views expressed in the Portuguese Journal of Structural Engineering
are the sole responsibility of the authors.
metodologia proposta permite simular este efeito diretamente na O deslocamento do nó k está representado por dk. A extensão inicial
formulação, sem recorrer a alterações das relações constitutivas dos do betão, εc,0, pode representar a retração. O comportamento
materiais. do betão além de ser não linear, apenas tem resposta à tração, é
Apresenta-se um elemento finito que simula o Tension Chord plástico, dado que após a fissuração o valor de αc muda de 1 para 0.
Model, modelando explicitamente as três componentes: aço, betão O comportamento da aderência é do tipo elasto-plástico com uma
e aderência. Desta forma, a relação esforço axial-extensão média rigidez inicial muito elevada, K, e um valor limite fb. O fator αy indica
é um output, e não um dado que é calculado previamente para se o aço está em regime elástico (αy = 1) ou em cedência (αy = 0,5).
ser introduzido no modelo. O elemento proposto permite obter Para que o elemento consiga obter uma fissuração discreta é
estimativas de abertura de fissuras e uma distribuição de rigidez mais importante introduzir uma variabilidade na resistência à tração
próxima da que ocorre num ensaio. Por outro lado, ao considerar do betão. Este efeito pode ser obtido multiplicando a resistência
individualizadas as componentes aço e betão, ajusta-se bem quer à tração associada a cada subelemento por um fator fi, como o
para avaliação dos ELU, em que se limita a resistência máxima pela apresentado na Figura 3 (fct,i = fi × fct). Deste modo, existe uma zona
cedência das armaduras, quer para avaliar o comportamento em na qual se inicia a fissuração para os casos de esforço axial constante.
serviço da estrutura. Igualmente importante é usar uma discretização fina, pelo menos
O elemento desenvolvido é apresentado e aplicado a um tirante 4 elementos entre cada fissura para que o efeito de retenção de
para ilustrar os resultados obtidos através do software EvalS[3], tensões seja bem captado. Acresce ainda que os patamares de
onde foi implementado o referido elemento. Apresenta-se ainda a incremento de carga sejam pequenos para fissurar apenas um
comparação com resultados de ensaios em vigas parede. elemento em vez de vários numa mesma zona.
Este elemento finito permite calcular a força de aderência de uma
forma mais direta porque toda a informação está no mesmo elemento
2 Elemento armadura finito. Esta modelação explícita da aderência permite simular zonas
onde a insuficiência de amarração pode condicionar a capacidade
O elemento finito de n nós[4], para simulação da armadura sujeita
resistente da estrutura e também, pelas suas caraterísticas, permite
unicamente a esforço axial, pode ser usado em diferentes formatos,
uma boa simulação de zonas de fissuras únicas.
conforme ilustrado na Figura 2, nomeadamente apenas elementos
de aço (a); aço com aderência (b) ou aço com betão e aderência (c).
Este último formato inclui os componentes necessários para simular
o Tension Chord Model.
3 Comportamento de um tirante
Figura 2 Elemento de armadura com n nós aplicado em diferentes
versões: a) apenas aço; b) aço e aderência; e c) aço (s) Para ilustrar a capacidade de simulação deste elemento finito
+ aderência (b) + betão (c) apresenta-se as respostas de um tirante submetido às situações de
força aplicada; deformação imposta e retração.
O comportamento não linear dos materiais pode ser resumido em: A resposta de um tirante de betão armado tem caraterísticas próprias
Aço ss,j = min (– fy ; max (Es ⋅ εs,j ; fy)), em que εs,j = que dependem do rácio de armadura, ρ = As /Ac, da quantidade de
armadura mínima em tração, ρmin = fct /fy , e do tipo de ação imposta.
=(dj+1 – dj) / (xj+1 – xj) Estudaram-se três rácios de armadura para melhor comparar o seu
efeito. Os dados do tirante analisado, com um comprimento de 2 m
Aderência τb,j = min (– fb αy ; max (K ⋅ ∆dj ; fb αy)), em que ∆dj = dn+j – dj
e subelementos com 5 cm, são:
Betão ssj = se (0 ≤ εc,j – εc,0 ≤ fj ⋅ εct e αc =1; Ec ⋅ εc,j ; se não 0),
em que εc,j = (dn+j+1 – dn+j) / (xj+1 – xj); Caso o elemento
atinja a fissuração αc = 0
Módulo de
Área Resistência
elasticidade
fct = 3 MPa
Betão 150 cm2 30 GPa
fi ∈ [0,8; 1,2]
ρ = 0,25%
Aço ρ = 0,75% 200 GPa fy = 500 MPa
ρ = 1,50%
Aderência 200 GPa/mm fb = 6 MPa
betão é, em geral, superior à reação desenvolvida pela restrição de WT3, a fissuração na base é bem distribuída, e com menor
existente. Na Figura 12, que representa a variação do esforço axial redistribuição de tensões internas, ver Figura 15.
(total, no betão e no aço) para o caso de ρ = 0,25%, este efeito A comparação entre os resultados numéricos e experimentais foi
é francamente visível. Neste exemplo, após a cedência do aço, feita com base nos resultados de deformação a meio vão, extensão
a tensão de aderência baixa e alarga a zona fissurada. Quando o média do tirante inferior e abertura de fissura medida ao nível do
tirante tem vários elementos de armadura com tensão de cedência, tirante inferior.
o modelo capta a extensão pronunciada de um desses troços.
5 Conclusões
A avaliação estrutural por modelos de campos de tensões em meios
contínuos, baseados em elementos finitos, pode ser expandida para
avaliar o comportamento das estruturas na fase de serviço. Nesse
Figura 15 Padrão de fissuração ilustrado pelas extensões no betão sentido, apresentou-se um elemento finito que permite a análise
na viga parede WT3 do material composto betão armado. Como resultado, obtém-se
uma melhor aproximação da rigidez efetiva, e das estimativas dos
No caso da viga parede WT2, a estimativa da abertura de fissuras nos valores das tensões e aberturas de fissuras, mantendo-se os mesmos
modelos em que a aderência não está explicitamente modelada, foi princípios simples da modelação com campos de tensões.
calculada indiretamente pelas expressões do MC2010[[2]]. Verifica-
-se pelo gráfico da Figura 16, que esse modelo não consegue estimar A aplicação aos casos tipificados de tirantes permite confirmar
os valores após a cedência das armaduras. Por outro lado, com o o conhecimento existente do comportamento de elementos
elemento armadura, a abertura na primeira fissura os valores foram submetidos a ações diretas e indiretas, sendo também ilustrada
um pouco inferiores inicialmente e após a cedência obtém-se uma a aplicação numérica do modelo desenvolvido para a análise do
boa concordância. comportamento em serviço de regiões de descontinuidade.
Referências
[1] Marti, P., Alvarez, M., Kaufmann, W., & Sigrist, V. (1998) – Tension chord
model for structural concrete. Structural Engineering International,
8(4), 287-298.
[2] fib Bulletin 66 (2012) – Model Code 2010 – Final draft Vol. 2
[3] EvalS (2020) – Software de cálculo não linear; http://evalssoftware.
blogspot.com
[4] Ferreira, M.P. (2021) – Avaliação numérica de vigas de acoplamento
sujeitas a ações cíclicas através de modelos de campos de tensões;
Tese de Doutoramento; Universidade de Lisboa.
[5] Lourenço, M.S.; Almeida, J.F. (2013) – Adaptive Stress Field Models:
Assessment of Design Models. ACI Structural Journal, 110(1), 83.
Figura 16 Abertura de fissura da viga parede WT2 ao nível do
tirante inferior
Miguel Rodrigues
Sérgio Oliveira
Jorge Proença
Resumo Abstract
Neste artigo é apresentado um modelo de separação de efeitos The present paper presents a hybrid HSCT-FE separation of effects
híbrido do tipo HSCT-FE para análise do comportamento de model to analyse the behaviour of large concrete dams. This model
grandes barragens de betão. Este tipo de modelo permite obter separates the hydrostatic pressure elastic effect (H), the seasonal
separadamente o efeito elástico da pressão hidrostática (H), o effect from temperature variations (S), the creep effect from
efeito sazonal devido às variações da temperatura (S), o efeito da the hydrostatic pressure (C) and other time effects (T), like the
fluência devido à pressão hidrostática (C) e outros efeitos do tempo self-weight creep effect and, most importantly, the swelling
(T), como o efeito da fluência devida ao peso próprio e, de grande reactions pathological effect. Cabril dam was selected as the case
importância, o efeito patológico das reações expansivas. Considera- study. It is a double curvature arch dam with 132 m of maximum
-se como caso de estudo a barragem do Cabril, uma barragem height, where a swelling process evolution had previously been
abóbada de dupla curvatura com 132 m de altura máxima, onde identified. The proposed hybrid HSCT-FE models prove themselves
foi identificada a evolução de um processo expansivo. Os modelos capable of separating the effect of the swelling reactions, where the
híbridos HSCT-FE propostos mostram-se capazes de separar o efeito corresponding quantitative evolution is coherent with the swelling
das reações expansivas, apresentando uma evolução quantitativa values calculated by a reference finite elements model validated for
coerente com os valores de expansões calculados através de um the swelling reactions load.
modelo de elementos finitos de referência validado para a ação das
expansões.
Palavras-chave: Barragens de betão / Modelos HSCT-FE / Efeito das reações Keywords: Concrete dams / HSCT-FE models / Swelling reactions effect / Creep
expansivas / Efeitos da fluência / Efeitos sazonais effects / Seasonal effects
do tempo numa parcela de fluência associada à PH, numa parcela de O efeito da temperatura pode ser simulado com base nos valores
fluência associada ao PP, e numa parcela referente a outros efeitos da temperatura do ar registados no local da obra (é usual aplicar
do tempo, como por exemplo: expansões, movimentos de fundação, um desfasamento em dias correspondente ao tempo de resposta da
etc. Para isolar o efeito da fluência é importante distinguir a fluência barragem à variação da temperatura do ar) ou com base em funções
do PP da fluência da PH, para o que é útil estimar a componente harmónicas de período anual e/ou semestral. Na formulação b ou
elástica da resposta para estas duas ações, o que pode ser efetuado b1 e b2 são os coeficientes de regressão e Tar é a temperatura do ar
com base no MEF. no local.
Tal como é apresentado na Tabela 1, são usadas funções O efeito de fluência do peso próprio corresponde a uma resposta
exponenciais para representar a resposta elástica da estrutura à diferida da barragem à ação do PP. O PP é uma força constante, com
PH. Alternativamente, quando necessário, podem ser utilizados o sentido da gravidade, aplicada à estrutura, provocando um efeito
resultados do MEF para definir as funções que melhor representam a de fluência que pode ser estimado com base nos deslocamentos
resposta elástica às variações da PH. Na formulação, a é o coeficiente elásticos previstos pelo MEF para a ação do PP, com base no
de regressão e cf é um coeficiente associado à forma da exponencial, coeficiente de fluência estimado a partir da função de fluência e
sendo que, geralmente, coeficientes de forma reduzidos ajustam tendo em conta a idade média do betão da obra.
melhor as exponenciais ao comportamento real da ação quando são O desenvolvimento ao longo do tempo da função de ajuste associada
analisados pontos junto aos encontros, enquanto valores superiores ao deslocamento provocado pelas ações expansivas é representado
ajustam as exponenciais melhor a pontos localizados nas consolas na Figura 4 pelo traço a cor vermelha. A curva resultante é do
centrais. tipo sigmóide, ou seja, aumenta lentamente ao longo do tempo e
O efeito de fluência da PH é calculado através da aplicação de quando atinge metade do seu deslocamento muda de curvatura
coeficientes de fluência aos valores do deslocamento elástico (ponto de inflexão ou de half-swelling), passando a tender para a
calculados para incrementos mensais da altura de água (patamares) estabilização [7]. Alternativamente, o efeito das reações expansivas
e efetuando depois a sua respetiva sobreposição. A Equação (2) pode ser representado através de uma função polinomial. O tipo
representa esse cálculo. de função admitida dependerá da que melhor se ajustar aos dados
observados. Na formulação proposta, c é o coeficiente de regressão.
p hj h j −1
p' hj h j −1
uFPH ( h,t ) = a × ∑ φ( t ,t'j ) e 20 − e 20 − ∑ φ( ta ,t'j ) e 20 − e 20 (2) O termo independente k é introduzido para ter em conta que
j =1 j =1 a observação inicial, na primeira época do período em análise,
Na Equação (2), h e t são a altura de água na albufeira e o tempo assume um valor descrito por k. Os valores desse termo nas épocas
em dias, respetivamente; a é o coeficiente de regressão, p é número subsequentes traduzem variações relativamente ao referido valor
de patamares de carga, p’ é o número de patamares desde o início inicial.
do primeiro enchimento até à época ta, correspondente ao início do Com esta formulação, com os dados de observação, com um modelo
período em análise. A variável t’ corresponde à idade de aplicação de elementos finitos e com o recurso ao Método dos Mínimos
da carga. Os coeficientes de fluência φ são calculados através das Quadrados (MMQ), obtém-se uma curva ajustada às observações
respetivas funções de fluência.
Table 2 Funções de ajuste utilizadas em cada uma das parcelas da equação de regressão
h
ue
PH
( h) Elástico da pressão a e c f − 1 ,15 < c f < 35 (alternativamente, o valor de a
hidrostática pode ser calculado pelo MEF)
2π t 2π t
( Tar ) ,( 0 < t < 365 ,25 dias )[5]
VT
ue Temperatura bTar ou b1 cos + b2 sin
365 ,25 365 ,25
PH
uF ( h,t ) Fluência da pressão
hidrostática
∑ φ(t ) ∆u PH
e
uF ( t ) Fluência do peso φ ( t ) ue
PP PP
próprio
uexp (t ) Expansões
(
c × 1 − e −t
n β
) onde β = t n
hs × n ( n − 1) , n = 3 ,258 e ths 8000 dias
( hs − half swelling )
k Termo independente –
efetuadas. Salienta-se que antes de aplicar o MMQ é subtraído ao artigo é analisar os resultados observados com vista a obter uma
valor dos deslocamentos observados, a parcela de fluência afeta ao separação de efeitos adequada, que permita, nomeadamente,
peso próprio. identificar separadamente o efeito das expansões. A verificação
Para se obterem bons resultados, em termos da separação de da coerência deste efeito das expansões resultante dos modelos
efeitos, é conveniente ter observações em quantidade, obtidas com híbridos HSCT-FE é efetuada através da comparação com resultados
base em medições de qualidade e bem distribuídas ao longo do do MEF. A ação expansiva é calculada para o período entre 1982
tempo por forma a ter valores observados em todas as épocas do e 2018, tendo em conta os dados dos extensómetros corretores.
ano e para valores das cotas de água bem representativos de todos A ação expansiva considerada foi definida para que as extensões
os patamares de enchimento da albufeira. impostas fossem compatíveis com as extensões observadas nos
extensómetros corretores espalhados pela obra. Na Figura 3, do lado
direito, é apresentado o campo de expansões acumuladas adotado
3 Análise do comportamento da barragem no MEF, enquanto do lado esquerdo, são apresentados os valores
das expansões acumuladas medidas nos extensómetros corretores
do Cabril usando modelos hsct-fe instalados no corpo da barragem.
A barragem do Cabril, usada como caso de estudo, foi construída
na década de 1950 e é a mais alta barragem abóbada em Portugal.
Localizada no rio Zêzere, é uma barragem em forma de abóbada de
dupla curvatura, com 132 m de altura máxima. O coroamento, à cota
de 297 m, tem um desenvolvimento de cerca de 300 m. A espessura
da consola central varia entre os 19 m na base e os 4,5 m pouco
abaixo do coroamento. A transição da estrutura para a fundação foi
concebida de forma a manter a abóbada simétrica. A barragem está
fundada num maciço granítico de boa qualidade. Relativamente à
albufeira, o nível da mesma varia entre a cota 240 m (nível mínimo
de exploração) e o nível máximo de armazenamento à cota de 294 m
(o nível máximo de cheia situa-se aos 296,3 m). Durante o primeiro
enchimento da albufeira ocorreu fendilhação numa faixa horizontal, Figura 2 Modelo de elementos finitos da barragem do Cabril
junto ao coroamento, localizada entre as cotas 280 e 290 m. Na
Na Figura 3, mostra-se que o campo de expansões considerado
década de 1990 foi detetado o desenvolvimento de um processo
no modelo de elementos finitos é coerente com os valores das
expansivo. A geometria da barragem do Cabril é apresentada na
extensões medidas nos extensómetros corretores. Por exemplo,
Figura 1 (vista, alçado, planta e corte).
verifica-se que no MEF, no paramento de montante, as expansões
consideradas são maioritariamente superiores às consideradas no
paramento de jusante, tal como foi medido nos extensómetros
corretores.
Neste estudo analisa-se a história dos deslocamentos horizontais
medidos através de triangulação e a história dos deslocamentos
verticais medidos no coroamento por nivelamento de precisão.
Após terem sido testadas múltiplas variantes dos modelos de
regressão, o modelo HSCT-FE que apresentou o melhor ajustamento
global, envolvendo todos os pontos da barragem observados, tem
as seguintes características: (i) para a estimativa do efeito elástico
da PH foram consideradas duas funções exponenciais com valores
Figura 1 Barragem do Cabril. Vista de jusante, alçado de jusante, de cf iguais a 20 e 25, quando considerados deslocamentos radiais,
planta e corte e valores de 15 e 20, quando considerados deslocamentos verticais,
Para uso dos modelos híbridos HSCT-FE, são necessários os o parâmetro a é fixo previamente de forma a ser ajustado aos
resultados do MEF; (ii) o efeito da temperatura foi estimado através
resultados de um MEF, em particular, são necessários resultados
das temperaturas médias diárias do ar observadas, considerando um
para os efeitos elásticos do peso próprio e da pressão hidrostática.
desfasamento de 22 dias para reproduzir a propagação do calor no
A estimativa dos efeitos de fluência é efetuada através da aplicação,
interior do betão; (iii) o efeito de fluência da PH é estimado através
às componentes elásticas do deslocamento, dos coeficientes de
dos coeficientes de fluência aplicados à resposta elástica, para a
fluência [6]. Os resultados do MEF são comparados com resultados
discretização mensal em patamares constantes, e considerando
dos modelos de separação de efeitos.
um betão com uma lei de fluência de Bazant e Panula [6] com os
Na Figura 2 apresenta-se o modelo de elementos finitos adotado, no seguintes parâmetros que definem a forma da sua curva ao longo
qual se consideram elementos isoparamétricos de 20 pontos nodais. do tempo, E0 = 25 GPa, ϕ1 = 2,8, β = 0,048, m = 0,42 e n = 0,22,
Um dos principais objetivos do trabalho relatado no presente correspondendo à fluência de um betão afetado pelo efeito das
Figura 3 Valores acumulados de expansões desde 1982 até 2018. Do lado esquerdo apresentam se os resultados
medidos nos extensómetros corretores instalados no corpo da barragem e do lado direito apresenta-se o campo
considerado para o MEF
reações expansivas, que é, neste caso, cerca do dobro da fluência de fluência do PP é estimado através dos mesmos coeficientes
inicialmente estimada para o betão intacto (existem evidências de fluência aplicados aos deslocamentos elásticos determinados
da ocorrência de expansões, visíveis à vista desarmada através de através do MEF para a ação do PP; (v) o efeito do tempo associado
exsudações de gel nas galerias de inspeção superiores); (iv) o efeito às expansões é dado através de uma curva em forma de sigmóide
Figura 4 Resultados da separação de efeitos do tipo HSCT-FE: análise da história do deslocamento radial medido por
triangulação na marca posicionada no bloco KL à cota 295 m
Figura 5 Resultados da separação de efeitos do tipo HSCT-FE: análise da história do deslocamento vertical no topo da
consola central
considerando um tempo de half-swelling de 15 mil dias (cerca de instalado na estrutura há cerca de 30 anos, portanto, num betão
40 anos). com esta idade, esta ligeira variação devido ao efeito de fluência
A Figura 4 apresenta os resultados dos modelos HSCT-FE para o também era esperada). Relativamente à componente elástica da PH,
deslocamento radial na marca de triangulação localizada no topo da a mesma segue a variação do nível da albufeira com deslocamentos
consola central. Desta análise é possível verificar o bom ajustamento no sentido de jusante.
obtido entre o modelo estatístico (HSCT-FE) e o modelo numérico A variação da componente de fluência da PH apresenta, tal como
(MEF) para o efeito elástico da PH e para o efeito da temperatura esperado, um aumento ao longo do tempo até ao valor máximo de
(gráficos superior esquerdo e direito, respetivamente, da figura). No cerca de 25 mm no sentido de jusante. O efeito das expansões está
gráfico referente ao efeito elástico da PH, com o aumento do nível direcionado para montante com um valor máximo acumulado de
da albufeira, há um aumento do deslocamento radial, com um valor aproximadamente 20 mm para o período de 1980 até 2018.
máximo aproximado de cerca de 30 mm. No gráfico referente ao Na figura 5 apresentam-se os resultados da análise da história
efeito da temperatura, o deslocamento anual máximo, tanto para do deslocamento vertical no topo da consola central utilizando o
o arrefecimento do inverno como para aquecimento do verão, é de presente modelo de separação de efeitos do tipo HSCT-FE. Como se
aproximadamente 12,5 mm no sentido de jusante para o inverno e pode verificar é claramente identificada uma parcela de empolamento
no sentido oposto no verão, isto no período de tempo considerado progressivo associada às expansões e duas componentes de fluência
na análise. Naturalmente, o efeito da temperatura segue um em sentidos opostos: uma de assentamento progressivo associada
comportamento harmónico. ao peso próprio e uma de empolamento associada à pressão
No gráfico central de separação de efeitos da Figura 4 é observável, hidrostática.
ao longo do tempo, um bom ajustamento entre a aproximação Na Figura 6 analisam-se os deslocamentos devidos às expansões
obtida por aplicação do MMQ e as observações. A componente (1982-2018) comparando os resultados da separação de efeitos
de fluência do PP apresenta, para o período em análise, um valor (modelo HSCT-FE) com os resultados numéricos obtidos com o
acumulado reduzido (no início do período da análise o PP já está modelo de elementos finitos. No topo da Figura 6 comparam-se
Figura 6 Efeito das expansões. Comparação dos resultados dos modelos HSCT-FE com o MEF. (topo) Deslocamentos
radiais. (fundo) Deslocamentos verticais
os resultados referentes aos deslocamentos radiais e no fundo da verticais obtidos por ambos os modelos, na mesma localização, são
mesma comparam-se os resultados referentes aos deslocamentos de aproximadamente 11 mm.
verticais. Como se pode verificar obtém-se um bom acordo entre
os resultados do modelo de separação de efeitos e os resultados
numéricos do MEF, tanto para a componente radial como para a 4 Conclusões
componente vertical dos deslocamentos, o que é um bom indicador A metodologia apresentada, usando modelos híbridos de separação
da adequabilidade de ambos os modelos. de efeitos do tipo HSCT-FE, aplicada à análise dos deslocamentos
Na Figura 6 é possível verificar que, devido às expansões (1982-2018), observados na barragem do Cabril, permitiu verificar que o campo
ocorrem maiores deslocamentos radiais junto ao coroamento, na de deslocamentos devido à ação expansiva (1982-2018) obtido
direção de montante, com valores máximos no topo da consola por separação de efeitos é coerente com o respetivo campo de
central, e decrescendo tanto na direção dos encontros como na deslocamentos calculado numericamente com o modelo de
direção do pé da barragem. Os deslocamentos verticais também elementos finitos validado da barragem, quer em termos das
apresentam valores máximos no topo da consola central. De forma componentes radiais quer em termos das componentes verticais.
geral pode-se verificar que existe um bom ajuste global entre os No modelo de elementos finitos foi considerada uma ação
deslocamentos calculados e os identificados por separação de expansiva compatível com os valores das extensões medidas nos
efeitos. Por exemplo, no topo da consola central, o deslocamento extensómetros corretores, de forma a validar os seus resultados. O
radial obtido por separação de efeitos, através dos modelos bom acordo obtido exigiu que, no modelo de separação de efeitos,
HSCT-FE, é de cerca de 18 mm, idêntico ao valor obtido através fossem consideradas separadamente as parcelas de fluência do peso
do MEF, na mesma localização. Similarmente, os deslocamentos próprio e da pressão hidrostática e que fosse utilizada uma função
Referências
[1] Ramos M. (1985) – Consideração da reologia do betão no
comportamento de barragens, Tese de especialista, LNEC.
[2] Ramos, M.: Pinho, J. (1987) – A new method for quantitative analysis
of dam displacements. In: III Int. Conf. on Computational Methods and
Experimental Measurements. Porto.
[3] Batista, A.; Ramos, J.; Oliveira, S.; Gomes, P. (2002) – Models for safety
control of concrete dams. In: 3rd International Conference on Dam
Engineering: pp. 1:8. CI Premier. Singapura.
[4] Oliveira, S. (2000) – Modelos para análise do comportamento de
barragens de betão considerando a fissuração e os efeitos do tempo.
Formulações de dano, Tese de doutoramento, FEUP.
[5] Willm, G.; Beaujoint, N. (1967) – Les méthodes de surveillance des
barrages au service de la Production Hidraulique d'Electricité de
France; Problèmes anciens e solutions nouvelles. In the Proceedings of
the IX ICOLD Congress, Istambul, R.30, Q.34.
[6] Bazant, Z.P.; Panula, L. (1979) – Practical prediction of time dependent
deformations of concrete. Materials & Structures.
[7] Larive, G. (1997) – Apports combinés de l’expérimentation et de la
modélisation à la compréhension de l’alcali-réaction et de ses effets
mécaniques. Tese de doutoramento, École Nacional de Ponts et
Chaussées.
Mário Pimentel
Aurélio Sine
Sandra Nunes
Resumo Abstract
A reabilitação e reforço de vigas e lajes de betão através de Strengthening existing reinforced concrete (RC) beams and slabs using
deposição de uma camada de compósito cimentício de ultra- a thin layer of ultra-high performance fibre reinforced cementitious
elevado desempenho reforçado com fibras (UHPFRC na sigla em composites (UHPFRC), plain or reinforced with ordinary steel bars,
Inglês) tem vindo a afirmar-se como uma técnica competitiva, has been shown to be an effective way of increasing the flexural
possibilitando incrementos significativos da resistência à flexão capacity in hogging moment regions. However, as the increase in
na secção de momentos negativos. No entanto, este incremento the flexural strength can be very significant, the shear strength may
da capacidade de carga pode ser condicionada pela resistência govern the capacity of the strengthened element. In this regard, the
ao esforço transverso, sendo ainda limitados tanto a evidência available experimental evidence concerning the shear strength of
experimental como os modelos mecânicos que permitam explicar composite RC-UHPFRC beams and slabs is relatively limited. In this
a contribuição da camada de UHPFRC para o reforço face ao modo work, the results of an experimental campaign are presented where
de rotura por corte. the influence of important parameters was systematically evaluated,
Neste trabalho são apresentados os resultados de uma campanha namely the reinforcement ratios in the original RC beam and the
experimental em que se estudou o efeito da taxa de armadura new UHPFRC layer, and the size effect. An analytical approach for
longitudinal e o efeito de escala na resistência ao corte de vigas calculating the shear strength is evaluated.
(ou faixas de laje) sem armadura transversal. Os resultados são
comparados com as previsões de um modelo analítico.
Palavras-chave: Compósito cimentício de ultra-elevado desempenho reforçado Keywords: Ultra-high performance fibre-reinforced cementitious composites
com fibras (UHPFRC) / Reforço / Esforço transverso (UHPFRC) / Reinforced concrete beams / Shear / strengthening
(a)
Aviso legal
As opiniões manifestadas na Revista Portuguesa de Engenharia de
Estruturas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.
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The views expressed in the Portuguese Journal of Structural Engineering
are the sole responsibility of the authors.
(b)
Figura 1 Rotura por corte-flexão de vigas compostas RC-UHPFRC
Neste trabalho apresentam-se os resultados de uma campanha
experimental desenvolvida com o intuito de evidenciar o efeito
na resistência ao esforço transverso de lajes e vigas sem estribos
reforçadas com uma camada de UHPFRC, da taxa de armadura no
Pimentel, M. [et al.] – Resistência ao corte de vigas e lajes reforçadas substrato e na camada de reforço, assim como o efeito de escala
com uma camada de UHPFRC. Revista Portuguesa de Engenharia normalmente associado aos modos de rotura caracterizados pela
de Estruturas. Ed. LNEC. Série III. n.º 18. ISSN 2183-8488. propagação de uma fissura crítica.
(março 2022) 81-88.
em que:
hU fUtu
0 ,5 f + f ; psU = 0 (b)
Uc Utu
xU = (5)
ρ h f Figura 2 Geometria das vigas ensaiadas: (a) secções transversais
sU U syU ; ρ sU > 0
0 ,5 fUc tipo; (b) alçado tipo
VT-RU2 RC-RU 250 600 200 180 3f12 1,26 50 225 3f10 3,15
VB VB1-RU RC-RU 250 600 200 180 2f10 0,58 50 225 3f12 4,52
VS2-RU RC-RU 460 1200 400 360 6f12 1,25 60 430 4f8 2,24
caracterizado em [12]. Com base no modelo desenvolvido em [13] 3.3 Procedimento de reforço
é possível estimar que numa camada de 50 mm de espessura com
orientação aleatória das fibras o material exiba endurecimento sob O recobrimento das vigas das séries VB e VS foi removido com
tração direta com a tensão limite de elasticidade fUte, resistência à recurso a hidrodemolição com jato de água de alta pressão, ver
tração fUtu e a extensão de tração correspondente à tensão de pico Figura 3 (a). Este procedimento permitiu remover uma camada de
εUtu indicadas na Tabela 2. cerca de 10 mm, expondo o agregado grosso e criando uma superfície
rugosa. Nas vigas da série VT foi utilizado um martelo pneumático
Tabela 2 Propriedades mecânicas do betão e do UHPFRC para efetuar esta remoção da camada superior. Este procedimento
não é, no entanto, aconselhável em virtude da possibilidade de
Betão UHPFRC danificação do betão do substrato e da menor qualidade da superfície
(data de ensaio) (28 dias)
final. A superfície foi limpa e, antes da betonagem das camadas de
Série
Ec fc fct,sp EU fUc fUte fUtu εUtu reforço, foi mantida saturada para não absorver água do material
[GPa] [MPa] [MPa] [GPa] [MPa] [MPa] [MPa] [‰] do reforço. A betonagem do UHPFRC consistiu simplesmente na
deposição do material, tal como se evidencia na Figura 3 (b).
VT a) 31 35 3,1
(a) (b)
Figura 3 Reforço das vigas: (a) Hidrodemolição de 10 mm da camada de recobrimento superior; (b) betonagem da nova camada de
UHPFRC.
de edifícios. No entanto, tal como seria de esperar num modelo quando aplicado a lajes com espessuras típicas de lajes correntes de
baseado na teoria da análise limite, não é capaz de reproduzir o efeito edifícios. No entanto o modelo não é conservativo quando aplicado
de escala e fornece estimativas não conservativas da resistência para a elementos espessos, na medida em que não reproduz o efeito de
as vigas de maior espessura (VS2-RU e VS3-RU). Na referência [8] é escala.
descrito um modelo capaz de produzir com grande precisão a carga
correspondente à propagação da fissura crítica e que pode ser usado
de forma conservativa para prever a resistência ao corte de vigas ou Agradecimentos
lajes de maior espessura, tendo em conta o efeito de escala.
Este trabalho foi financiado por: Financiamento Base
Tabela 3 Resumo dos resultados experimentais e comparação (UIDB/04708/2020) e programático (UIDP/04708/2020) da
com os valores calculados Unidade de Investigação CONSTRUCT – Instituto de I&D em
Estruturas e Construções – através da FCT/MCTES (PIDDAC);
Vcritexp VRexp VRcalc VRexp / VRexp /
Beam projeto UHPGRADE (PTDC/ECI-EST/31777/2017) financiado pelo
[kN] [kN] [kN] Vflex VRcalc
FEDER através do COMPETE2020-POCI e por fundos nacionais
VT1 41,1 41,1 – 0,83 – através da FCT/MCTES (PIDDAC). Os autores agradecem o apoio
VT2 46,9 46,9 – 0,51 –
do "Laboratório de Engenharia de Moçambique, Instituto Público
(LEM, IP) e da Fundação Calouste Gulbenkian através da bolsa
VT-U3 44,8 53,4 38,4 0,91 1,39 de doutoramento nº144945 atribuída ao segundo autor, e a
VT-U5 52,1 60,2 43,9 0,91 1,37 colaboração das empresas LimpaCanal, Concremat, Secil, Omya
VT-RU1 61,0 76,8 64,5 0,82 1,19 Comital, Sika, MC-Bauchemie e Krampeharex.
VT-RU2 63,0 81,3 69,0 0,76 1,18
VT-RU3 66,9 86,8 71,9 0,70 1,21 Referências
VB0-RU 56,3 60,3 66,2 0,72 0,91
[1] Brühwiler, E.; Denarié, E. (2013) – Rehabilitation and Strengthening of
VB1-RU 57,5 98,3 69,2 1,01 1,42 Concrete Structures Using Ultra-High Performance Fibre Reinforced
VB2-RU 65,8 107,1 72,5 1,01 1,48 Concrete. Structural Engineering International 23 (4): 450-57.
VS1 37,6 37,6 – 0,74 – [2] Habel, K.; Denarié, E.; Brühwiler, E. (2007) – Experimental Investigation
of Composite Concrete and Conventional Concrete Members. ACI
VS2 64,0 64,0 – 0,63 – Structural Journal, no. 104: 93-101.
VS3 97,1 97,1 – 0,64 – [3] Oesterlee, C. (2010) – Structural Response of Reinforced UHPFRC
and RC Composite Members. École Polytechniqueet Fédérale de
VS1-RU 54,5 54,5 54,3 0,71 1,00
Lausanne, PhD Thesis.
VS2-RU 94,1 94,1 109,0 0,62 0,86 [4] Matos, A. M.; Nunes, S.; Costa, C.; Barroso Aguiar, J.L. (2021) – Durability
VS3-RU 140,6 140,6 163,6 0,61 0,86 of na UHPFRC containing spent equilibrium catalyst. Construction and
Building Materials, 305, 124681.
Vcrit esfoço transverso correspondente à propagação da fenda crítica de corte – flexão
VR esfoço transverso na rotura [5] Noshiravani, T.; Brühwiler, E. (2013) – Experimental Investigation
Vflex esfoço transverso correspondente ao esgotamento da capacidade em flexão on Reinforced Ultra-High- Performance Fiber-Reinforced Concrete
calculada Composite Beams Subjected to Combined Bending and Shear. ACI
Structural Journal 110 (2).
[6] Noshiravani, T.; Brühwiler, E. (2013) – Rotation Capacity and Stress
5 Conclusões Redistribution Ability of R-UHPFRC-RC Composite Continuous Beams:
An Experimental Investigation. Materials and Structures/Materiaux et
Foi desenvolvida uma campanha experimental para estudar de Constructions 46 (12): 2013-28.
forma sistemática o efeito de diversas variáveis na resistência ao [7] Pimentel, M.; Nunes, S. (2016) – Experimental Tests on RC Beams
esfoço transverso de lajes/vigas de betão armado reforçadas na face Reinforced with a UHPFRC Layer Failing in Bending and Shear. Proc.
tracionada com uma camada de UHPFRC. As variáveis analisadas of 4th International Symposium on Ultra-High Performance Concrete
foram o efeito de escala, a taxa de armadura na viga original, a taxa and High Performance Materials (HiPerMat).
de armadura da camada de reforço e a espessura da camada. Foram [8] Sine, A. (2021) – Strengthening of reinforced concrete elements with
ainda ensaiadas vigas de referência, sem reforço. UHPFRC. Universidade do Porto, Faculdade de Engenharia. PhD Thesis.
Foi possível confirmar o acréscimo de resistência ao esfoço transverso [9] Noshiravani, T.; Brühwiler, E. (2014) – Analytical Model for Predicting
que é possível obter com esta técnica, sendo possível em muitos Response and Flexure-Shear Resistance of Composite Beams
Combining Reinforced Ultrahigh Performance Fiber-Reinforced
casos duplicar a resistência ao corte sem armadura transversal da
Concrete and Reinforced Concrete. Journal of Structural Engineering.
viga de referência.
[10] Bastien-Masse, M.; Brühwiler, E. (2016) – Contribution of R-UHPFRC
As cargas de rotura experimentais foram comparadas com a Strengthening Layers to the Shear Resistance of RC Elements. Proc.
resistência calculada com o modelo que serve de base à norma Suiça of HiPerMat 2016-4th International Symposium on Ultra-High
SIA 2052-2016, tendo-se concluído que o modelo é conservativo Performance Concrete and High Performance Materials.
Bárbara Campelo
Joana Correia
Jörg Appl
Abstract Resumo
Post-installed rebar connections have become a trusted, everyday Cada vez se torna mais comum a utilização de ligações pós-
solution in recent years for reinforced concrete structures. instaladas na conexão de elementos de betão existente a elementos
They are used in both retrofit work and in new construction for a de betão novo através da selagem de varões nervurados.
wide range of applications like slab-to-wall connections, anchoring Esta solução pode ser encontrada tanto em obras de construção
of stair landings, connecting cantilever slabs with slabs or anchoring nova como de reabilitação, em diversas aplicações – ligações
columns in existing foundations. parede-laje, varões para arranque de escadas, prolongamento de
Until as recently as 2018, post-installed rebar was assessed through lajes ou arranque de pilares em fundações.
Technical Report 023, which was then superseded by the European Até 2018, o dimensionamento de ligações pós-instaladas com
Assessment Document EAD 330087. selagem de varões nervurados era avaliado através do Relatório
After several years of intense research, the Technical Report TR 069, Técnico TR 023 que foi depois substituído pelo EAD 330087.
broadens the scope of post-installed rebar applications to moment Após intensivos anos de investigação, surge o novo Relatório Técnico
resisting reinforced concrete connections without the necessary TR 069, que amplia o espectro de soluções onde as ligações pós-
execution as splice. instaladas poderão ser aplicadas.
Hilti can now offer you a revolutionary system for moment resisting A Hilti pode agora oferecer um sistema revolucionário para este tipo
post-installed rebar connections, consisting of: de ligações, consistindo em:
• A brand-new design method – TR 069; • Um novo método de dimensionamento – TR 069;
• A new product – Hilti HIT-HY 200-R V3 injectable mortar; • Um novo produto – a ancoragem química HIT-HY 200-R V3;
• New software – PROFIS Rebar. • Um novo software – PROFIS Rebar.
Keywords: Normalization / Project / Rehabilitation / Post-installed / New Palavras-chave: Normalização / Projeto / Reabilitação / Pós-instalado /
construction / Construção nova
Aviso legal
As opiniões manifestadas na Revista Portuguesa de Engenharia de
Estruturas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.
Legal notice
The views expressed in the Portuguese Journal of Structural Engineering
are the sole responsibility of the authors.
• As concrete-pouring is done bit by bit, rebar can be exposed, the rebar has been misplaced or forgotten as discussed above.
which can lead to different issues such as complex logistics, With this new technical report, we can now consider the concrete
damaged rebar and safety hazards; tensile strength to transfer the loads and start designing it also as
• The load-bearing capacity of a splice consisting of two rebars a rigid (moment-resisting) connection. The load transfer between
with different properties is dependent of the lowest capacity of new and existing concrete members shall be verified in accordance
the rebar, i.e. the one that is cast-in. This limits the ability to fully with EC2 (e.g., shear transfer at the interface and shear resistance of
leverage the higher capacity of the bond of post-installed rebar connecting member as well as nodal panel). Furthermore, the safety
compared to cast-in rebar, thus resulting in overlap lengths that concept (i.e. partial safety factors) adopted in TR 069 is the same as
are uneconomical; in EC2-1 (for steel yielding) and EC2-4 (for concrete cone and bond-
-splitting failure modes), ensuring a high level of compatibility of the
• In renovation, a rebar connection with splice needs to be
design output of TR 069 in accordance with EC2.
executed by partial demolition to expose the existing rebar,
weld the new rebar onto it and then close the connection with
concrete again, all of which is very time- and thus cost-intensive.
NRd,c design concrete cone break out resistance The characteristic resistance for the group of reinforcement under
NRd,sp design bond splitting resistance tension action resulting from the moment resisting mechanism shall
be obtained as per the equation below:
Design resistance to yielding
NRk,c = N0Rk,c . Ac,N / A0c,N . Ψs,N ⋅ Ψre,N . Ψec,N . ΨM,N (4)
The resistance to yielding is a function of rebar diameter and steel
strength and can be obtained from the following equation:
Where:
NRd,y = NRk,y / γMs (2)
N0Rk,c characteristic resistance for a single reinforcement post-
NRk,y = As . fyk (3) installed in the concrete and not influenced by any adjacent
reinforcement or edge
Where: A0c,N projected area of a single reinforcement post-installed in
As cross sectional area of all tensioned post-installed rebars the concrete with large spacing and edge distance with the
within the connection concrete cone idealized as a pyramid of height lb and base
fyk yield strength length scr,N = 3 lb [mm]
Ψre,N the shell spalling factor accounts for the reduced strength
Design concrete cone break out resistance
of rebars with an anchorage length lb < 100 mm inserted in
The embedment depth is calculated from the interface between the concrete elements with closely spaced reinforcement
old and the new concrete. This is where the concrete cone can occur,
Ψec,N this factor account for the eccentricity between the point of
Figure 4.
application of the axial force and the center of gravity of the
tensioned rebars
ΨM,N this factor represents a compression force resulting from the
bending moment for concrete cone failure
Design bond splitting resistance
The characteristic resistance for the group of reinforcement
under tension shall be obtained as given below. If the load on the
tensioned bars is applied eccentrically and/or the values cmin and
cmax are different for each tensioned bar, the resistance NRk,sp shall be
calculated separately for each rebar.
NRk,sp = τRk,sp . lb . ∅ . π (5)
Figure 4 The yellow rectangle represents from where the
embedment length is being considered
Table 1 Five new possibilities to design structural joints as rigid connections: column to foundation, wall to foundation, slab to wall, beam
to wall and beam to column
Connection Simply
Supported Supported Rigid Rigid Rigid Rigid Rigid
type supported
Wall
Members Slab Beam Beam Column to Slab Beam Beam
to
connected to wall to wall to column foundation to wall to wall to column
foundation
Current design
EC2 EC2 EC2 x x x x x
method
τRk ,sp = η1 ⋅ Ak ⋅( fck / 25)sp1 ⋅(25 / ∅)sp2[(cd / ∅ sp3 )⋅(cmax / cd )sp4 + connections subjected to static and quasi-static loads and does not
(6) yet cover seismic, fatigue action and fire exposure.
+ km ⋅ ktr ]⋅(7∅ / lb )lb1 ⋅Ω p ,tr One important point to highlight is that the connecting joint
between the existing and the new reinforced concrete shall be
≤ τRk,ucr . Ωcr / Ωp,tr . Ψsus for 7∅ ≤ lb ≤ 20∅ (7)
roughened, and the carbonated layer should be removed. The
verification of the joint resistance to shear force shall be carried out
≤ τRk,ucr . (20 lb / ∅)lb1 . Ωcr / Ωp,tt . Ψsus for lb > 20∅ (8)
according to EN 1992-1-1.
Where:
Ak fitting factors; sp1, sp2, sp3, sp4 and lb1 = fitting exponents 2.2 Products Innovation: HIT-HY 200-R V3
according to ETA Extensive research has shown that HY 200-R V3 has increased
∅ diameter of the rebar performance compared to cast-in rebar as shown in Figure 5. Now
with TR 069 we can leverage this increased performance and achieve
lb embedment length of the post-installed rebar design optimization, i.e. reduce embedment depth of many post-
τRk,sp bond resistance in non-cracked concrete (upper value) installed rebar connections.
• Less health and safety risks related to cast-in rebar sticking out 3 Main conclusions
of the concrete;
The new technical report TR 069 is a new approach to the design of
• Ability to use the performance of the injection mortar to its
structural joints. This new approved design concept on European
fullest extent, optimizing the design solution, with significant
level gives us an improved method to calculate different post-
productivity gains;
-installed rebar applications with more flexibility (i.e. covering a
• Project planning, design and documentation of the calculation broader range of applications compared to EN 1992-1-1, namely
process for post-installed rebar using the Hilti PROFIS Rebar moment-resisting connections) and higher productivity (i.e. with
design software. potential for design optimization, namely embedment reduction).
From now on it is possible according to TR 069, to leverage the
2.3 Tools for an Efficient and Accurate Design: bond strength of injection systems which carry an ETA according
Hilti PROFIS Rebar to EAD 332402. Hilti offers the first product qualified under the
new EAD 332402, HIT-HY 200-R V3, with significantly higher rebar
By using the Hilti Profis Rebar design software, you can perform performance and qualified for the most challenging conditions
every type of post-installed reinforced concrete connection: from namely seismic and fire, designed according to EN 1992-1-1.
simply supported to moment resisting to splice. PROFIS Rebar
Combined with this new regulation, the software Hilti PROFIS Rebar
offers you flexibility and efficiency, always according to the latest
can give a complete perspective of calculation with the certainty
regulations and standards that were discussed before (TR 069 and
that the design complies with the latest regulations and standards.
EC2).
This revolutionary system of improved code, product innovation
With simple and easy-to-use tools for designing, you can calculate:
and efficient design software allows for more economical and safer
• Tension and compression lap splice lengths; solutions for a wide range of post-installed rebar applications.
• Anchorage lengths for starter bars;
• Anchorage lengths for special rigid connections;
Referências
• Different loads – static, seismic, fire resistance and fatigue
resistance; [1] EN 1992-1-1:2014 – Eurocode 2: Design of concrete structures – Part1-
• For different conditions – dry or wet concrete; 1: General rules and rules for buildings.
[2] EOTA TR069 – Design Method for Anchorage of post-installed
• For different drilling methods – hammer drilling or diamond
reinforcing bars (rebars) with improved bond-splitting behavior as
drilling with or without a roughening tool. compared to EN 1992-1-1. European Organization for Technical
In addition, it generates an easy-to-use design report for your Assessment, October 2019.
project documentation with relevant information that includes the [3] EAD 332402-00-0601 – Post-installed reinforcing bar (rebar) connec-
following verifications: steel flow of the subsequent reinforcement; tions with improved bond-splitting behavior under static loading.
concrete excavation; composite/gap failure (based on qualification [4] EN 1992-4:2018 – Eurocode 2 – Design of concrete structures – Part 4:
in ETA) and minimum anchorage length. Design of fastenings for use in concrete.
Hilti PROFIS Rebar can even go beyond the code with Hilti design [5] fib Model Code 2010 – Fib Model Code for Concrete Structures 2010.
methods, based on internal Hilti research work, allowing specifiers [6] fib Bulletin 72 – Bond and Anchorage of embedded reinforcement:
to design applications which are not covered by Eurocode 2 or Background to the fib Model Code for Concrete Structures 2010.
TR 069. For load cases which are not yet regulated, the Hilti design
method, incorporated in PROFIS Rebar can be used as an engineering
judgement providing additional engineering solutions, e.g. post-
installed reinforced concrete connections under fatigue loading.
Gonçalo Ribeiro
João Almeida
Paulo Silva Lobo
Abstract Resumo
A transfer structure is a structure that alters the load path of the Uma estrutura de transição (ET) é uma estrutura que altera o
gravity loads, shifting the line of thrust laterally to a different caminho-de-carga das forças gravíticas. ETs são inseridas em edifícios
vertical alignment. Transfer structures are introduced in buildings que exibem descontinuidades em pilares ou paredes resistentes, e
that feature discontinuities in vertical elements and where a direct onde um caminho-de-carga direto para as fundações não é possível.
load path to the foundations is not possible. This paper presents Estas estruturas constituem elementos condicionantes do edifício
an overview of existing transfer systems and provides guidance onde se inserem, e o seu impacto no custo e no tempo de construção
on their design and construction. Extensive research on buildings pode ser significativo. Este documento apresenta uma perspetiva
with transfer structures was carried out with the aim of developing geral das estruturas de transição existentes em edifícios e reúne
a rational typology of these structures. The results can be broken princípios orientadores para o seu dimensionamento e construção.
down into five main types: BEAM, TRUSS, INCLINED STRUT, PLATE, Foi realizada uma extensa pesquisa sobre edifícios com ETs em todo
and ARCH & CABLE. In addition, transfer structures’ design is often o mundo com o objetivo de desenvolver uma tipificação adequada
outside the scope of normal code guidance and may require a degree destas estruturas. O resultado consiste em cinco tipos principais:
of engineering judgment. This paper also highlights the key aspects Viga, Treliça, Escora inclinada, Placa e Arco & Cabo.
that determine the structural design of transfer structures, as well as
typical construction methods.
Keywords: Transfer structure / Girder / Truss / Plate / Design / Construction Palavras-chave: Estrutura de transição / Viga de transição / Treliça de transição /
/ Laje de transição / Dimensionamento / Construção
Figure 1 (a) Single-storey TS; (b) Multi-tier TS; (c) Structural frame transfer system; (d) Bank of China Tower, Hong Kong, China; (e)
Citigroup Centre, Manhattan, New York, USA; (f) Alcoa Building, San Francisco, USA
manages to gradually transfer the loads from all the floors to the reinforced concrete (RC), prestressed concrete and steel – may be
supports. considered, as well as composite schemes. The following sections
In general, transfer structures should not participate in the lateral introduce each type of transfer structure and describe its main
load resisting system (as their function is to redirect gravity loads) features, as well as illustrate them through a set of representative
but must maintain their load-carrying capacity through the full range examples.
of displacement that the building may be subjected to. Moreover,
as transfer structures are very stiff elements of the structure, these
2.1 Beam
will often attract considerable lateral loads and must be designed
accordingly. Sometimes, it might make sense to combine the lateral For a wide variety of reasons, it is quite common that a column has
stability system with the transfer structure. Most tall buildings to be interrupted at a certain level and cannot go all the way to the
require more than their central core to provide lateral stability when foundations. The load arising from that column must be transferred
they reach the 40 to 50 storey range [1]. In such cases, a perimeter to nearby ones by means of a transfer element that may be a
stability system can be integrated with the transfer structure to form beam. The term beam is generally applied to structural members
a vertical Vierendeel frame or a braced façade [2]. Figures 1d, 1e and subjected primarily to bending stresses and also to shear stresses.
1f show examples of buildings where the braced façade - which has a The most common structural forms exhibiting beam behavior that
major role in resisting lateral loadings - also manages to redirect the are employed as transfer structures in buildings are transfer girders
loads from the peripherical columns to the few supporting columns and Vierendeel frames.
at ground level. Transfer girders have been widely used due to their simple design
and construction. They are usually employed to deal with local
discontinuities in the supporting system but can also deliver radical
2 Types of transfer structures changes in the structural grid. The major difference between a
The majority of the transfer structures can be rationalized into five transfer girder and a common beam is that the former resists much
generic forms. These are the BEAM, TRUSS, INCLINED STRUT, PLATE, larger loads. Hence, the main characteristic of a transfer girder is
and ARCH & CABLE, which are illustrated in simplified form in Figure 2. its unusual depth (Figures 3a and 3b). Due to the very large depths
In most of these groups, all the three main structural materials – and substantial reinforcement quantities required for a reinforced
Figure 2 Types of transfer structures – BEAM, TRUSS, INCLINED STRUT, PLATE, and ARCH & CABLE
Figure 3 (a) São Paulo Museum of Art, São Paulo, Brazil; (b) National Bank House, Melbourne, Australia [5]; (c) Four Pancras Square,
London, UK; (d) Commerzbank Tower, Frankfurt, Germany
Figure 4 (a) Transfer truss scheme; (b) The Standard Hotel, New York, USA; (c) Art’s Business & Hotel Centre, Lisbon, Portugal; (d) Gravity
loads path through the transfer truss in the Art’s Business & Hotel Centre [6]
Figure 5 (a) Hanger TS (two possible arrangements); (b) HSBC Main Building, Hong Kong, China; (c) FPM 41 Building, Lisbon, Portugal; (d)
Gravity loads path through the hanger transfer structure in FPM 41 Building [7]
motivated by the differences in the complexity of the systems, the to undertake major transfers (Figure 6), being a critical element
materials used, and the types of connections and design procedures of the whole building structure. In the first case, the lateral forces
involved. induced by the load eccentricity can often be resisted by tension and
compression of the slabs at floor levels, and the system relies on the
diaphragm action of the latter to distribute the lateral forces to the
2.3 Inclined strut shear walls. In the second case, a specific structure to deal with the
The inclined strut is a transfer system that gradually migrates vertical pull and push forces generated is usually required.
load from the application point to the supports. It can appear in the A walking column is a tied-back shear panel transfer system in which
form of an inclined column, a walking column and a wall or a deep the vertical load is shifted laterally by means of a vertical concrete
beam. Inclined columns may be made of structural steel, reinforced wall loaded essentially in shear (Figures 7a and 7b). A tie at the top
concrete or composite systems, whereas walking columns and deep of the panel and a compression strut at the bottom (or vice-versa),
beams are always concrete elements. both connected to the building's main lateral load-resisting system,
Adopting inclined columns is a way of transferring vertical load from restrain the moment induced by the eccentricity of the gravity loads.
one column location above to a different support location below. This structural system is completely equivalent to that of an inclined
The eccentricity of the transferred load causes an out of balance column since the inclined strut, similar to the inclined column,
moment that cannot be neglected, and, therefore, in order for the is developed within the concrete wall. This design is widely applied
system to be in static equilibrium, a set of horizontal forces are to achieve small adjustments in column location, as shown in
required. This system can be applied to attain a small adjustment in Figure 7c.
the column locations, stepping the column positions incrementally Finally, a deep beam is characterized by having a relatively small
over a number of floors to achieve the overall desired offset, or span-to-depth ratio, generally below 3 to 4 [8]. It has a shear
Figure 6 (a) Structural system of the Grosvenor Place, Sydney, Australia; (b) 160 East 22nd Street Building, Manhattan, New York, USA; (c)
Inclined column view during construction of the 160 East 22nd Street Building; (d) 150 North Riverside Plaza, Chicago, USA; (e)
Inclined columns of the 150 North Riverside Plaza
Figure 7 (a) Beetham Tower, Manchester, UK; (b) Walking column system at the Beetham Tower; (c) Walking column at the 56 Leonard,
Manhattan, New York, USA; (d) Deep beam in the Brunswick Building, Chicago, USA
dominant behavior instead of a flexural dominant one, characteristic the only continuous vertical element is a central core. Therefore, the
of normal beams. Deep beams are widely used as local transfer transfer plate admittedly participates in the lateral load resisting
structures to interrupt a single column, however, they may also system, as some of the transferred members may attract significant
be employed to redirect load from several columns, as illustrated lateral loads.
in Figure 7d. Contrarily to the inclined column and walking column As the transfer plate usually extends the entire building footprint
schemes, this system does not rely on external elements to achieve and has a thickness of up to several meters, it is a massive concrete
stability. structure with a substantial self-weight and large amounts of
reinforcement, as illustrated in Figure 8. Post-tensioning of the
2.4 Plate transfer plate is an effective way of reducing the reinforcement
quantities and the plate thickness and improving the cracking and
A transfer plate is a thick concrete slab that can redirect loads in deflection behavior [9]. The reduction of the plate thickness, and
more than one direction and, therefore, is particularly suitable thus of its self-weight, is also advantageous for the falsework system
when a radical change in the building grid is required. This solution which has to support a lighter structure.
provides great flexibility to the architect and the structural engineer
The transfer grid (Figure 9) is a variant of the transfer plate system.
to modify the supporting system and the vertical load path.
Instead of being a continuum concrete slab, it consists of an assembly
In high-rise buildings, the transfer plate is usually placed between the of beams, usually in two orthogonal directions. While the transfer
tower and the podium, 20 m to 30 m above ground level. The upper plate can redirect loads in virtually any direction, the grid system is
structure often accommodates offices or residential units whereas not so versatile as it is restrained to beam directions [10]. However,
the podium floors house other functional spaces such as a shopping the transfer grid has the following advantages over the transfer plate:
mall or a lift lobby, which require large column-free areas. Buildings it provides free space between the beams that often accommodates
with a transfer plate are usually composed of a shear wall system mechanical or electric installations; its structural behavior is clearer
in the upper structure, mega-columns below the transfer floor, and and easier to model; and it is a lighter structure, which has direct
Figure 8 (a) The Pacific Place, Hong Kong, China; (b) Structural system of the Pacific Place; (c) Pacific place’s transfer place layout and
detailing; (d) Langham Place's transfer plate, Hong Kong, China
implications for the design of the falsework system. The beams are Reactive forces will develop at the arch or cable ends, which have
usually prestressed to reduce depth and reinforcement quantities. both vertical and horizontal components [11]. A basic design issue is
whether to support the horizontal thrust involved directly through
the foundations or to use a supplementary horizontal compression
strut in the case of the cable or a tie-rod in the case of the arch.
Designing the foundations to absorb both vertical and horizontal
thrusts may not be practical due to the significant horizontal forces
involved; hence, this solution is rarely used. In most cases, the
horizontal thrusts are then resisted by compression struts or tie-rods.
Figure 10 (a) Broadgate Exchange House, London, UK; (b) Ludwig Erhard Haus, Berlin, Germany; (c) Marquette Plaza, Minneapolis,
Minnesota, USA
Considerations of robustness and disproportionate collapse may concrete or prestressed concrete, whereas structural steel is more
also be key for the design of transfer structures as these are often popular for the TRUSS and ARCH & CABLE types.
regarded as critical elements for the overall stability of the building
[15]. Finally, connections design might be challenging in transfer
structures due to very high forces and complex geometry involved,
and the general seismic design principle of capacity based design
should be followed.
Transfer structures usually create logistical construction challenges
related to sequencing and erection of heavy elements, as well as
formwork complications. Therefore, temporary support systems
play an important role in the construction process and may have a
considerable influence on the overall benefit of a solution. Transfer
structures should always utilize the highest strength of materials
that are locally available in order for these elements to be the
most effective and constructible - this includes using high-strength
concrete (HSC), high-strength steel rebar (HSR), and high-strength
structural steelwork (HSS). Figure 11 Materials employed in each type of TS
Regarding the construction of concrete transfer structures, the
This is related with the structural behavior of each transfer system,
casting of large concrete elements, usually termed mass concrete,
might be challenging as their thermal behavior is considerably since concrete is clearly predominant in flexion or shear dominant
different from ordinary concrete works, and high-temperature structures (BEAM and PLATE), and steel is preferable for axially
differentials between the core and the surface may originate early- loaded elements (TRUSS and ARCH). It is interesting to note that,
age cracking. On the other hand, steel transfer structures usually within the TRUSS and ARCH & CABLE types, composite steel and
require a high degree of dimensional control during fabrication and concrete solutions are quite common, contrarily to the other types
erection and the definition of a complex system of tolerances. of transfer structures, in which one material seems to be dominant.
The evolution of transfer structures over time is represented in
Figure 12. From the analysis of this Figure, it is noteworthy that some
4 Concluding remarks types of transfer structures were more popular in past decades and
others are currently more widely employed. For example, most of
Extensive research on buildings with transfer structures all over the the buildings within the BEAM type were built in the 1960s and ‘70s
world has been performed. Based on more than 100 examples that and there is only one representative example from recent years. In
were analyzed [16], a rational typology of existing transfer structures contrast, buildings using the TRUSS system are increasingly more
was developed based on their structural system, and the following common, and the majority of the examples shown are subsequent
conclusions may be drawn. to 1990. Examples of the ARCH & CABLE type are relatively scarce,
Regarding the materials employed, any type of transfer structure but there is no recent application of this system, and the INCLINED
can be materialized with either concrete or steel, although there STRUT and PLATE types do not appear to be more common in any
appears to be a preference for a certain material in each type, as specific time period. It is clear that the ARCH & CABLE schemes are
demonstrated in Figure 11. For example, transfer structures within particularly suitable to achieve long span transfers. Furthermore,
the BEAM, INCLINED STRUT and PLATE types are mostly made of the overall most common type of transfer structure is the TRUSS
Figure 12 Year of conclusion and main span for buildings with global transfer structures (note: for cantilevered TSs, the adopted
span was twice the cantilever length for a better comparison with normal span TSs)
and, judging by the past two decades, it seems that this scheme is
going to prevail over the other types of transfer structures in the near
future, and reaching for bigger spans.
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[16] Ribeiro, G. – “Structural Design of Transfer Structures,” Instituto
Superior Técnico, University of Lisbon, 2018 (MSc Thesis).
Resumo Abstract
A reabilitação da Ponte Hercílio Luz é uma obra de referência a nível The rehabilitation of the Hercílio Luz Bridge is a worldwide reference
mundial no âmbito da reabilitação de pontes, quer pelo carácter work in the scope of bridge rehabilitation, either because of the
único da ponte – é a maior ponte suspensa do Brasil e a única no unique features of the bridge - it is the largest suspension bridge
mundo com uma catenária formada por barras biarticuladas que se in Brazil and the only one in the world with a catenary formed
integram na corda superior da treliça do tabuleiro – quer pela sua by bi-articulated bars that in the upper chord of the truss of the
complexidade técnica. deck - either because of its technical complexity.
O artigo faz referência aos aspetos técnicos de maior complexidade The article refers to the technical aspects of greater complexity and
e originalidade, desde o reforço de fundações ao procedimento originality, from the reinforcement of foundations to the procedure
criado para a troca dos elementos de suspensão – catenária e cabos created for the replacement of suspension elements – catenary
pendurais – bem como a tecnologia utilizada para a anulação das and hanging cables – as well as the technology used to cancel
tensões nesses elementos (antes da substituição) e a sua reentrada the tensions in these elements (before the replacement ) and its
em carga (após a substituição) e do sistema de monitorização re-entry under load (after replacement) and the monitoring system
implementado a fim de aferir, entre outras grandezas, esforços e implemented in order to measure, among other magnitudes, efforts
deformações da estrutura, principalmente durante as operações and deformations of the structure, mainly during critical operations
críticas de manipulação da deformada do vão central. of manipulation of the deformation of the central span.
Palavras-chave: Reabilitação / Pontes suspensas / Metálicas / Fundações / Keywords: Rehabilitation / Suspension bridges / Metallic / Foundations /
/ Monitorização / Monitoring
assentes em rocha, excetuando as da torre T6, estava previsto a As trações calculadas não seriam passíveis de ser equilibradas nas
execução de encamisamento em betão armado com o objetivo de condições previstas pelo Projeto, uma vez que, por um lado alguns
aumentar a durabilidade dos blocos existentes – torres T1, T2 e T9 dos blocos de fundação não tinham peso suficiente para evitar o
a T12. levantamento e, por outro, o betão existente não armado, não tinha
As bases assentes em solo e as da torre T6 previam-se reforçar com capacidade para resistir a esforços de tração daquela magnitude.
estacas raiz (solução muito vulgar no Brasil de estacas de pequeno Assim, para equilibrar as trações nas bases dos montantes, foi
diâmetro) executadas em torno dos blocos existentes. necessário transmitir diretamente esses esforços ao terreno através
Com exceção da torre T6, as linhas gerais do Projeto de reabilitação de tirantes. De forma geral, a solução adotada consistiu em tirantes
das fundações dos viadutos foram mantidas, tendo, no entanto sido verticais ancorados na rocha e ligados aos montantes através de
efetuadas diversas alterações no tipo de estacas e na sua disposição uma estrutura metálica aparafusada. Os parafusos foram colocados
relativa à base das respetivas torres. aproveitando a furação existente para os rebites, não tendo sido
necessário furação adicional.
Considera-se importante referir que, à data do início desta
empreitada realizada pela Teixeira Duarte, já tinham sido realizadas Foram executados dois tirantes, em barras em aço de alta resistência
(de forma incompleta) algumas intervenções de reabilitação das ϕ36 mm, nas torres T9 e T10, com comprimentos de ancoragem de
fundações nas torres dos viadutos ao abrigo de anteriores contratos 6,5 m e de 3,0 m, respetivamente.
entretanto rescindidos e que condicionaram significativamente as
soluções que acabaram por ser adotadas. Descrevem-se em seguida, 2.2.2 Torres T13 e T14
como exemplo, alguns das soluções implementadas.
Para cada base das torres T13 e T14, o projeto de reabilitação das
fundações previa a execução de 4 a 8 estacas raiz com 450 mm de
2.2.1 Torres T9 e T10 diâmetro nominal em solo e 355 mm de diâmetro nominal em rocha,
No caso das bases das torres T9 e T10, assentes em rocha, não foram totalizando 40 estacas no conjunto das duas torres. Em cada bloco, o
feitas alterações ao Projeto, que previa apenas um encamisamento centro geométrico destas estacas coincidia com o eixo do respetivo
dos blocos em betão armado, conforme Figura 3. Porém, verificou- pilar da torre, o que implicava a execução de estacas no interior da
-se que a instalação de uma grua de torre sobre a torre T9, poderia torre. Por outro lado, cada bloco iria funcionar individualmente, uma
originar trações nas bases das torres T9 e T10, devido ao facto de, vez que o projeto não previa nenhum elemento de ligação entre eles.
durante a restauração da ponte, a carga permanente ser inferior à Deste modo, a principal alteração feita ao projeto foi a execução
da fase de utilização da ponte e a área de exposição ao vento ser de estacas apenas no exterior da área de implantação das torres,
superior. de modo a evitar a necessidade de remoção temporária de
Figura 4 Execução de estacas raiz pelo exterior da torre, montagem de célula expansiva e faseamento construtivo dos blocos
contraventamentos, procedendo-se à uniformização do número que parte dos trabalhos foi realizada abaixo do nível do mar, foi
de estacas por bloco, passando a 4 estacas raiz com diâmetros necessário instalar ensecadeiras de modo a permitir a execução dos
nominais iguais aos anteriormente previstos, dispostas em linha trabalhos a seco. A concepção e o detalhamento das ensecadeiras
paralelamente ao eixo longitudinal da ponte, reduzindo de um couberam à Teixeira Duarte.
total de 40 para 32 estacas no conjunto das duas torres. De modo Foram fabricadas duas ensecadeiras, primeiramente utilizadas
a equilibrar o momento fletor gerado pela excentricidade do centro em simultâneo nos blocos de fundação do pilar T7 (Figura 5) e,
geométrico das estacas em relação ao eixo dos pilares das torres, posteriormente, reutilizadas nos blocos do pilar T8. As ensecadeiras
foram consideradas vigas de travamento transversais, ligando os foram pré-fabricadas integralmente em estrutura metálica e
blocos do lado Norte aos do lado Sul. transportadas em duas metades separadas, sobre um pontão até ao
Tal como previsto projeto foram realizadas transferências de carga bloco a reabilitar, onde foram então posicionadas com auxílio de
dos blocos antigos para os novos. Para isso, foi necessário executar grua automóvel, uma de cada vez e suspensas em vigas montadas
os novos blocos de coroamento de estacas em duas fases, com sobre cada bloco de fundação.
ligação estrutural através de luvas de emenda entre os varões de A ligação de cada ensecadeira ao fuste do respetivo bloco foi feita
armadura de ambas as fases. por intermédio de uma selagem do espaço livre entre o fundo da
De realçar a realização de um ensaio de carga estático com recurso ensecadeira e o bloco com betão armado e ancoragens químicas
a célula expansivo e ensaios de integridade PIT na totalidade das horizontais. Esses anéis de betão armado no fundo das ensecadeiras
estacas. foram feitos com o auxílio de mergulhadores, no trecho dos fustes
com seção transversal octogonal, imediatamente abaixo dos trechos
cilíndricos que se pretendia encamisar. Por esse motivo, tanto os
2.2.3 Bases dos pilares principais (T7 e T8) anéis de betão armado, como as ensecadeiras, foram projetados
As fundações dos pilares centrais consistem em blocos de betão com geometria octogonal em planta.
simples formados por trechos de seção transversal circular, Após a bombagem da água do interior das ensecadeiras, a maior
octogonal e quadrada, com dimensões crescentes em profundidade parte da força de impulsão foi equilibrada com a carga de compressão
assentes diretamente na rocha. dos pilares principais. A força de impulsão foi transmitida às vigas
Com o objetivo de melhorar a durabilidade do betão dos quatro posicionadas sobre os blocos dos pilares principais, através de oito
blocos dos pilares, o projeto preconizava o encamisamento montantes incorporados nas paredes das ensecadeiras. Por sua vez,
superficial do trecho superior de seção transversal circular com um essas vigas transmitiam a carga vertical às escoras diagonais, ligadas
anel de betão armado com 5,5 m de diâmetro exterior com um a tubos de aço horizontais atravessando o interior dos blocos,
alargamento para 5,7 m numa faixa de 0,50 m no topo. Uma vez selados com resina epoxi e preenchidos com grout.
Figura 5 Montagem e colocação em serviço das ensecadeiras em serviço, primeira fase de betonagem e nível de escoramento
A dimensão da ensecadeira foi definida de modo a garantir uma de fundações e reconstrução do maciço, optou-se por suspender
largura livre mínima de 1,50 m entre os seus paramentos e a o tabuleiro numa estrutura metálica treliçada, com um vão de
superfície do betão do encamisamento a executar e uma altura aproximadamente 45 m, formada por treliças modulares travadas
mínima de 0,50 m acima da altura de água máxima prevista, entre si e com apoio sobre as torres T3 e T5. A suspensão do tabuleiro
resultando numa altura de 4,15 m. foi realizada pelas longarinas principais, em seções próximas dos nós
No reforço dos blocos foram ainda instaladas cintas metálicas de ligação aos pilares da torre T4, com recurso a 8 barras de aço de
de seção 250 × 20 mm instaladas no topo de cada bloco, que alta resistência com 32 mm de diâmetro.
permitiram efetuar o seu tensionamento a 150 kN. Estas cintas
foram instaladas previamente à execução dos encamisamentos
e ficaram embebidas no betão. Introduzindo-se assim elementos
3 Substituição do sistema de suspensão
adicionais de confinamento do topo dos blocos de fundação para
equilíbrio das tensões horizontais decorrentes da dispersão das 3.1 Desmontagem dos cabos pendurais
compressões induzidas na base dos macacos posicionados no topo A desmontagem do sistema de suspensão da ponte começou pela
das fundações, próximo do bordo, durante a troca dos aparelhos de remoção dos cabos pendurais.
apoio dos pilares principais.
O corte e remoção dos cabos pendurais iniciou-se pelos 4 cabos
Na reabilitação destes blocos foram também realizadas oito de maior comprimento, junto aos pilares principais, avançando
perfurações verticais em cada bloco em toda a altura das fundações sequencialmente no sentido do centro da ponte. Durante a
e até 3,0 m abaixo da base dos blocos, para consolidação dos blocos realização destas operações de remoção dos cabos pendurais foi
através da injeção de calda de cimento de eventuais fissuras ou necessário manter sob controlo a distribuição de forças nos macacos
vazios. Em cada furo foram colocados varões ϕ40 em aço CA-50, e acompanhar a evolução dos esforços nos restantes elementos
conferindo robustez adicional às fundações existentes. através do sistema de monitorização.
Apesar do sistema de suspensão ter sido aliviado pelas operações
2.3 Maciço de ancoragem lado Continental de transferência de carga (capítulo desenvolvido mais à frente) para
reduzir a força nos cabos pendurais, estes elementos mantiveram
O maciço de ancoragem do lado do Continente encontrava-se
alguma força residual.
suportado por estacas de madeira cravadas no solo residual. O
projeto de reabilitação deste elemento foi desenvolvido partindo da Para ser possível a remoção dos cabos com garantia de que a
premissa de que que o mesmo não seria demolido, o que implicou a sua tensão fosse efetivamente nula e o corte se desse em total
alteração da posição das novas ancoragens das barras biarticuladas segurança, foi desenvolvido um dispositivo constituído por barras
e, consequentemente, o aumento dos momentos de derrube. A roscadas de alta resistência que permitiria transferir para estas as
solução de reforço de fundações passava pela execução de estacas tensões residuais.
posicionadas fora da sua área de implantação e a criação de um
maciço de reforço com grandes dimensões, envolvendo o existente. 3.2 Remoção das barras biarticuladas
Essa solução, resultaria numa alteração muito significativa da
aparência do maciço, incompatível com o estatuto de património Desmontados os cabos pendurais, procedeu-se à remoção das
classificado, definido pelo IPHAN. Assim, a Teixeira Duarte barras de olhal.
desenvolveu uma solução alternativa para o reforço das fundações Para tal foi necessário assegurar que também as barras de olhal
do maciço admitindo a demolição do maciço existente. estivessem sem tensão o que só foi possível com a elevação
A solução alternativa adotada consistiu do maciço, até à face das barras de olhal em cada nó, através de cilindros hidráulicos
superior do bloco de coroamento das estacas de madeira existentes, posicionados no topo das torres da estrutura auxiliar superior, na
atualmente abaixo da superfície do terreno, executar 29 estacas direção ortogonal ao seu eixo axial até se atingir o deslocamento
moldadas com 1,50 m de diâmetro e cerca de 13 m de comprimento que teoricamente anularia as tensões residuais. Isto correspondeu a
médio, com a prévia carotagem do bloco de coroamento existente uma elevação média de cerca de 700 mm a meio vão da catenária.
(desprezando na totalidade o efeito das estacas de madeira Estas operações de macaqueamento foram efetuadas em várias
originais), construir o novo bloco de coroamento sobre o atual, com etapas e com o auxílio de 14 macacos hidráulicos de 50 toneladas,
2,00 m de altura e 24,30 × 24,30 m em planta, posicionar as novas entre os lados Norte/Sul e continente/ilha, com o objetivo de
ancoragens das barras biarticuladas e reconstruir o maciço com minimizar a torção das torres principais.
geometria semelhante à original. As primeiras barras de olhal a serem retiradas foram as do nível
Tendo o maciço sido totalmente demolido, foi necessário desmontar inferior nos viadutos, junto aos maciços de ancoragem, seguindo-se
a torre T4 (apoiada neste maciço). Após a reconstrução do maciço, de forma ascensional a remoção de todas as barras dos viadutos até
a torre T4 foi novamente instalada, repondo as atuais condições de às selas do topo dos pilones e sempre de forma simétrica entre o
apoio do tabuleiro. Porém, durante o período de remoção da torre lado do continente e do lado da ilha.
T4, foi necessário criar apoios provisórios para o tabuleiro entre as Após a remoção das barras de olhal nos viadutos e no vão central na
torres T3 e T5. Tendo em conta a distância do tabuleiro ao solo e o zona dos pendurais, subsistiam as barras constituintes da treliça do
espaço necessário para realizar os trabalhos de demolição, reforço vão central, que agora se apresentava defletida para cima e com a
corda superior tracionada axialmente. barras de olhal, começando pelas barras no topo das torres principais,
Para proceder à remoção destas últimas barras de olhal foi seguindo em ordem descendente até às barras de olhal de fecho,
necessário anular estas tensões, através do abaixamento de 950 mm tanto nos viadutos quanto no vão pênsil, sempre em simultâneo do
do tabuleiro da ponte na região central e da elevação de 430 mm lado Norte e Sul e simetricamente do lado Ilha e Continente.
nas extremidades, reinstalando o sistema hidráulico utilizado na Após a conclusão da montagem das barras de olhal do vão pênsil,
transferência de carga, complementado com 4 macacos colocados para se proceder ao fecho da cadeia com a montagem dos 8 pinos
sob as vigas transversais dos extremos. finais, correspondendo 2 no viaduto Continente, 4 no vão pênsil e
Foi necessário também desmontar os apoios pendulares nas 2 no viaduto Ilha, nos lados Norte e Sul, foi necessário realizar duas
extremidades da treliça para permitir estes movimentos do tabuleiro. operações distintas.
Em primeiro lugar as barras de olhal do vão pênsil foram elevadas
e reposicionadas na cota teórica, porque por motivos operacionais,
todos os pinos tinham sido montados a uma cota inferior para facilitar
o acesso dos operários e instalação dos equipamentos auxiliares. Em
segundo lugar foi necessário movimentar o topo das torres principais
em direção às margens, por meio de afinação cuidada das cargas no
sistema de atirantamento provisório das torres principais, a distância
necessária até garantir a concentricidade de todos os furos das peças
a ligar. No viaduto Ilha, após a movimentação do pilone T8 o valor
teórico, não se conseguiu garantir a concentricidade total dos furos
sem ultrapassar a carga admissível no sistema de atirantamento. Por
esse motivo, desenvolveu-se um dispositivo auxiliar que se fixou por
atrito às barras de olhal que faltavam ligar e permitiu o ajuste de 30
mm do topo da torre T8 e garantir a concentricidade do furo exigida
para a montagem dos últimos 2 pinos.
carga total. Esta elevação foi realizada com 24 cilindros hidráulicos como na estrutura de suporte provisória. No total, foram instalados
de 50 t, posicionados sob alguns nós da corda inferior da treliça 62 prismas refletores GPR112 e 10 alvos refletores. Os alvos GPR112
e controlados por 4 centrais hidráulicas. Com esta pré-elevação permitiram a aferição da sua posição durante as operações noturnas
executada, iniciou-se a montagem de torres metálicas provisórias, com uma estação total Leica TS30. Os resultados obtidos foram
sobre a estrutura da ponte, para apoio das barras de olhais, num comparados com os valores teóricos e a informação recolhida do
total de 660 t de aço. sistema hidráulico.
Os restantes 80% da carga total da ponte foram transferidos para O sistema de monitorização incluiu vários sensores e dispositivos
a estrutura inferior em 4 fases, totalizando uma elevação adicional de aquisição de dados de diferentes tipos, todos recolhidos e
de 400 mm no meio vão da ponte. Para isso foram usados 30 sincronizados pelo mesmo software. Para medições de extensão e
cilindros hidráulicos de 50 t e 28 de 100 t, instalados na estrutura de temperatura, a tecnologia escolhida foi a ótica, nomeadamente
de suporte provisória, sob os nós da corda inferior da treliça Fiber Bragg Grating (FBG). No total, foram usados 284 sensores para
(Figura 7. O sistema hidráulico utilizado para a elevação da treliça medir cargas em 64 locais críticos. A opção por sensores FBG foi
compôs-se de 3 centrais hidráulicas sincronizadas, interligadas entre tomada sobretudo pela sua resistência à humidade e à corrosão,
si e comandadas num único posto de comando (Master), onde era fatores importantes face à duração da obra. (Casas et al., 2003). Além
possível visualizar as informações de todos os cilindros hidráulicos. dos sensores óticos, foram instalados 26 elétricos, 20 inclinómetros
A operação através de centrais hidráulicas sincronizadas permitiu o nas bases da estrutura provisória e nos pilares, 2 termómetros,
controlo automatizado de todos os cilindros hidráulicos, garantindo 2 anemómetros e 2 fluxómetros.
com precisão o deslocamento pretendido em cada alinhamento Entre os sensores e a sala de controlo onde foram instalados os
e minimizando o risco de desalinhamentos no tabuleiro da ponte sistemas óticos de aquisição de dados, foram instalados cabos
durante as várias etapas de elevação. multifibra com emendas feitas insitu. Estes cabos foram também
usados como meio de comunicação entre os 6 sistemas elétricos de
aquisição de dados PMX, posicionados junto aos sensores elétricos.
Todos os sensores foram ligados à sala de controlo através
de controladores Ethernet óticos: os PMX do cabo ótico e os
interrogadores óticos diretamente. Como referido anteriormente,
foram usadas 6 unidades PMX para a aquisição dos 26 sinais
elétricos. Para os quase 300 sensores FBG, usou-se 3 interrogadores
BraggMETER com 8 canais óticos. Todos os dispositivos foram
sincronizados via software Catman e as medições foram gravadas
e processadas. Foram usados 2 PCs, um para aquisição de dados
em direto e de forma contínua e outro para o pós-processamento
de dados anteriormente guardados. A Figura 7 mostra a sala de
controlo e uma imagem da monitorização em tempo real. O
software utilizado permitiu, com facilidade, a configuração de dados,
visualização, armazenamento e processamento, tendo possibilitado
ainda a criação de scripts em VBA visando a criação automática
de relatórios periódicos em MS Word ou Excel e de alarmes para
Figura 7 Cilindros hidráulicos e calços posicionados sob a treliça
trabalhadores no local ou localizados remotamente, via e-mail ou
do vão central
SMS.
Concluída a transferência de carga, deu-se início à desmontagem do Durante as operações de transferência de carga, ia sendo feita uma
sistema de suspensão da ponte, começando pela remoção dos cabos análise em tempo real da evolução dos esforços nos elementos
pendurais e posteriormente das barras biarticuladas. monitorizados, comparando os resultados com as previsões
teóricas. No final de cada operação elaborou-se um relatório através
do software com os dados de todos os sensores. Este relatório foi
5 Monitorização e controlo sempre comparado com os outros dados disponíveis como as
Todas as etapas de elevação e abaixamento foram realizadas relações força-deslocamento do sistema hidráulico, o controlo
durante a noite, evitando deformações devidas às variações térmicas topográfico e o modelo teórico.
diurnas. Após cada etapa e durante o dia seguinte, foram efetuadas
as análises e interpretações de todas as medições topográficas, dos
outputs das centrais hidráulicas (forças em cada cilindro hidráulico) 6 Conclusões
e dos resultados do sistema de monitorização. O sistema de A Reabilitação da Ponte Hercílio Luz é um exemplo a reter no
monitorização foi montado com equipamento da HBM, incluindo que respeita à complexidade de uma recuperação estrutural de
sensores e sistemas de aquisição de dados. grande porte, onde o trabalho de equipa entre projetista e entidade
Desenvolveu-se um sistema de monitorização topográfico para executante foi primordial, requerendo uma equipa multidisciplinar e
acompanhar o deslocamento de pontos críticos tanto na ponte na qual foram aplicadas técnicas de reabilitação inovadoras.
Figura 8 Sensores óticos de deformação (FS62) e de temperatura (FS63). À esquerda: Compósitos. No meio: Soldáveis. À direita: Processo
de soldadura
Figura 9 À esquerda: Sala de controlo com 3 interrogadores BraggMETER industriais. À direita: Exemplo de um painel com visualização de
dados em tempo real sobre um alçado da ponte
Tiago Vieira
Pedro Cabral
Øystein Ulvestad
Krzysztof Wojslaw
Abstract Resumo
This paper describes the methods behind drawing less design and Neste artigo descrevem-se os métodos de projetar sem recurso a
how a 634 m long free cantilever bridge is being built without the desenhos e como uma ponte de avanços sucessivos em consola com
use of a single drawing, solely based on BIM-models. 634 m está a ser construída unicamente com base em modelos BIM,
Drawings have been part of the construction industry for thousands sem se utilizar um único desenho em obra.
of years. So, why would one want to stop using drawings? The Os desenhos fazem parte da indústria da construção há milhares de
answer is complex, but the main reasons are: anos. Então, qual o motivo para não se usarem desenhos? A resposta
• Understanding scope of work: A 3D-model greatly enhances é complexa, mas as principais razões são:
understanding of the scope of work about what will be planned • Compreensão do âmbito: um modelo 3D melhora
or built. consideravelmente a compreensão do âmbito do que será
• Clash control: Finding, anticipating and solving clashes in a BIM- projetado ou construído.
model is a lot easier and cheaper then solving clashes at site. • Controlo de conflitos: encontrar, antecipar e resolver conflitos
• Parametric design: BIM-models can be made with the help of num modelo BIM é muito mais fácil e económico do que
parametric design. resolvê-los em obra.
• Preparing for the future: If one wants to improve automation in • Parametrização: os modelos BIM podem ser produzidos
the construction industry, BIM is the alternative to 2D drawings recorrendo a parametrização.
when transferring information from design to site. • Preparação do futuro: o BIM é uma alternativa aos desenhos 2D
melhorando a automatização na construção e a transferência de
informação do projeto para a obra.
Keywords: Bridge / Construction innovation / BIM / Parametric design / Model Palavras-chave: Ponte / Inovação na construção / BIM / Parametrização /
based design / Modelação 3D
2 BIM
A drawingless project, or the so-called model-based project has the
following advantages:
• Understanding scope of work: A 3D-model greatly enhances
understanding of the scope of work when both planning and
building. While a drawing gives a limited amount of information,
like levels and measurements, a BIM-model gives the user
the ability to access any information needed. Compared to a
2D-drawing, a BIM-model also gives the ability to sequence
Aviso legal information.
As opiniões manifestadas na Revista Portuguesa de Engenharia de • Clash control: Finding, anticipating, and solving clashes in a
Estruturas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. BIM-model is a lot easier than on a 2D-drawing and cheaper
than solving clashes at site.
Legal notice
• Parametric design: BIM-models can be made with the help of
The views expressed in the Portuguese Journal of Structural Engineering parametric design. This way of working gives a lot of flexibility
are the sole responsibility of the authors. to design changes and saves a lot of time when working on
repetitive tasks.
• Cross border cooperation: A BIM-model looks the same in any
country, while drawings usually are very country-specific. Thus,
cross country collaboration becomes easier.
• Procurement: As all objects that need to be built or bought are
represented in the model, updated accurate data for volumes
VIEIRA, T. [et al.] – Randselva bridge and Drawingless – Projects and quantities are always present in the BIM-model. Also,
Planning and building bridges solely based on BIM models . Revista reinforcement can be ordered directly from the BIM-model,
Portuguesa de Engenharia de Estruturas. Ed. LNEC. Série III. n.º 18. eliminating the need for manually made bar bending schedules.
ISSN 2183-8488. (março 2022) 115-122.
Figure 1 Randselva bridge, Norway – General overview from North (BIM model shown in SMaRT, Sweco AS)
• Preparing for the future: If we want to improve automation in extending their demand for how BIM is used in their projects. The
the construction industry, it’s essential to find alternatives to first step in this development has been to use BIM-models as the
2D-drawings when transferring information from design to site. basis for project drawings. Parallel to this development, they have
Feeding 2D-drawings to a robot will not be optimal. seen a significant reduction in change orders. The main reason for
significant reduction in change orders in BIM-projects are better
opportunities for clash control and the improved understanding of
2.1 What is BIM and why use it? scope of work.
Figure 2 shows a drawing detail (left) and the equivalent area in a
When mentioning BIM (Building Information Model) most people
BIM-model shown in perspective (right). They both carry information
normally refer to digital BIM-models, but the abbreviation BIM can
about the top reinforcement of a concrete pile and how it will pass
also be used to describe the workflow that ensures information-flow through the bottom reinforcement of the above foundation. The
in the process of planning, building, and maintaining structures. 3d-view does however offer a lot more information on potential
Norwegian Public Roads Administration (NPRA) is the project owner clashes and a greatly improved understanding of scope of work even
of the Randselva bridge project. Over time they have been gradually before one start rotating the view.
Figure 2 The drawing detail (left) and the 3d-perspective (right) representing the same area in construction
To ensure a successful use of BIM in the Randselva project, These four different purposes all need specialized software and work
BIM-workflows were defined very early on in the project. They methods.
included defining: Counted in hours, the construction stage is by far the stage where
• Which software would be used; the BIM-models are being used the most. In contrast, it is at this
• Which file formats would be used; stage where available software is the least developed. Especially
• How quality control was to be done; methodology for installing reinforcement can greatly be improved.
• Which UDAs (user defined attributes) was to be used. Even though this is currently not used extensively, the BIM-model
will hopefully be used for more than planning and construction
and live on to serve as a digital twin with very detailed as-built
2.2 Who will use the model? documentation. This is assumed to be very valuable for the
A key to successful use of BIM is understanding who will use the operational period of the bridge and in maintenance purposes.
BIM-model and understanding what kind of information the users
will need to withdraw from the model. The Randselva bridge 2.3 Level of detail
BIM-models are being used for multiple purposes along its way from
design to operational state, as illustrated in the BIM workflow in Choosing an optimal level of details in a BIM-model is very
Figure 3. Users of the multiple stages will normally have different important. Objects need to be modelled with enough details to be
information requirements and use different software to extract the useful in clash control and understanding scope of work. At the same
data. time, too many details will make model very large and software will
start lagging and be difficult to control.
Post tensioning tendons and anchorages are important components
in the Randselva bridge as they are the “arteries” of the bridge.
Due to the bridge curvature in plan view and the combination of
two different structural systems, the post tensioning geometry is
very complex, and the position of the components is not flexible.
However, only the outer shape of the tendons geometry and
anchorages is important to model correctly, as it will form the basis
for clash control.
The steel strands and the inner geometry of the anchorages are
taken care of by the company delivering the product and does not
Figure 3 BIM-workflow and model users need to be modelled. An excerpt of the 200 tendons modelled at
Randselvabru is shown in Figure 5.
All structural reinforcement needed for the Randselva bridge
project has been modelled – see Figure 6. This gives a very good
understanding of which clashes must specially be designed and
fitted due to clashes and potential installation problems. All rebars
in the BIM-model are however not clash free. A pragmatic approach
is chosen where some clashes between rebars in the model are
accepted as long as it is obvious that clashes can easily be adjusted
at construction site.
Another advantage of modelling all rebars is that reinforcement
can be ordered directly from the BIM-model, eliminating the need
for manually made bar bending schedules. In areas with heavy
reinforcement and limited space like blisters for post tensioning
Figure 4 Four main purposes for use of BIM-models at anchorages, many projects traditionally produce 1:1 mock-ups at
construction site worksite to test constructability. For the Randselva bridge project,
these mock-ups have been produced digitally and have proven to be
On the Randselva bridge project, multi-disciplinary control and 3rd
a very efficient and cost-effective way of engineering.
party control are mainly done by using Solibri™ in combination with
BCF-files. At the construction stage, the model is being used for the In particular, due to the bridge curvature each blister position and
following four main purposes schematically shown in Figure 4: corresponding reinforcement are almost unique. In the BIM-model,
local adjustments on the general and blisters reinforcement were
A Earthworks and backfilling;
made for every blister. This would traditionally require a great
B Constructing scaffolding / Surveying; amount of specific drawings to avoid extra work at site. A comparison
C Producing and placement of third-party products; between a mock-up assembled at worksite and a digital mock-up
D Installing reinforcement (and post tensioning). developed for Randselva bridge is presented in Figure 7.
2.4 Parametric design parametric design. All the tendons and over half of the reinforcement
and concrete form has been created this way.
Parametric design can be described as a set of rules (a parametric
script) that is fed to a computer. The computer then use these rules
to produce a digital model. A quite simple example of such a rule can 2.5 User Defined Attributes (UDA)
be to place lighting posts every twenty meters along the centreline All objects in a BIM-model have attributes connected to it. Some
of the road. The advantages of modelling using parametric design of the attributes are predefined by the software used to model the
compared to modelling manually are many. If for example the object. Objects can also be enriched with UDA as shown in Table 1.
centreline of the road is moved, the computer will automatically
move the lighting posts with it, eliminating the human labour needed One of the most important parts of constructing a high-quality
to update the position of all the lighting posts. If the desired distance BIM-model is adding useful attributes to objects in the model. The
between the lighting posts is revised in the script, the computer more structures data that is added, the easier it is to use the model
revises the design in seconds. The same principles can be used for at later stages. On the downside, a large set of attributes is harder
more complex modelling like reinforcement or post tensioning. and laboursome to maintain. The key is understanding what kind of
When using enough of these rules, most of a structure can be information is useful at the different life-stages of the BIM-model.
described by parametric design. This leaves a very flexible design that In an IFC-viewer like Solibri, these attributes are shown when
can be revised quickly and without human errors. The parametric marking an object. For the Randselva bridge project the user defined
scripts can also easily be reused in future projects. For the Randselva attributes are shown in the custom-made curtain “A_E16_PART_
bridge project, more than 60% of the structure is modelled using INFO” seen in Figure 8.
Figure 9 Using UDAs (user defined attributes) to show different construction sequences (Axis 3: segments 01 and segments 02 phases)
3 Conclusions
This paper summarizes the main features of Randselva bridge in
Norway, the world’s longest bridge designed and currently being
built solely based on BIM-models. Along with a brief description
of the bridge concept, the main focus is sharing the BIM modelling
methodologies and features used for design and construction of this
advanced model-based project.
2D drawings usually follow certain CAD rules and specific country
defined notes and descriptions. BIM models make cross-country
collaboration a lot easier than in 2D drawings, since a BIM-model
practically looks the same in any country.
Experience from Randselva bridge also shows that the high level
of detailing used in the BIM-model is allowing a more standarized
fabrication of reinforcement and is significantly reducing the
number of questions and change requests from the site. On the
other hand, to achieve this performance there is a need for an
important investment from all stakeholders in this new digitalization
methodology.
Resumo Abstract
O Aeroporto da Madeira é uma infraestrutura crítica com Madeira Airport is a critical infrastructure with unique structural
características estruturais únicas, o que motivou a monitorização do characteristics, which motivated the monitoring of its structural
seu comportamento estrutural desde a construção da estrutura de behaviour since the construction of the runway extension structure,
ampliação da pista, que decorreu entre 1995 e 2000. which took place between 1995 and 2000.
O conhecimento adquirido do comportamento da estrutura em The knowledge acquired about the behaviour of the structure in
serviço, bem como a significativa evolução tecnológica, tornaram service, as well as the significant technological evolution, made it
natural uma atualização do sistema de monitorização, tendo em natural to update the monitoring system, to increase the information
vista o incremento de informação relevante para a gestão da sua relevant for the management of its conservation.
conservação. In addition to a new acquisition and communication systems, the
Para além de novos sistemas de aquisição e comunicação, upgrade included the installation of new functionalities, such as the
a atualização operada compreendeu a instalação de novas monitoring of the movement of expansion joints and the monitoring
funcionalidades, designadamente a monitorização do movimento of the dynamic behaviour, either through accelerometers and fibre
das juntas de dilatação e do comportamento dinâmico, quer através optic strain gauges, or through a digital image correlation system.
de acelerómetros e extensómetros em fibra óptica, quer por via de In this paper, the original monitoring system is briefly described, as
um sistema de correlação digital de imagem. well as the new sensors and some of the initial results, which appear
Nesta comunicação é brevemente descrito o sistema de to be promising.
monitorização original, bem como os novos sensores e alguns dos
resultados iniciais, que se afiguram promissores.
Palavras-chave: Aeroporto da Madeira / Correlação digital de imagem / Keywords: Madeira Airport / Digital image correlation / Structural health
/ Monitorização da integridade estrutural / Monitorização monitoring / Dynamic monitoring
dinâmica
extensão de 546 m, compreende 17 pórticos, numerados de P5 a marítimo, existindo alguns pilares nas zonas de falésia com alturas
P21; o segundo troço, com 462 m de comprimento, é constituído significativamente inferiores. As fundações dos pilares são diretas,
pelos pórticos P22 a P35 (Figura 2). por sapatas, ou indiretas, sobre estacas, conforme a natureza do solo
As lajes possuem uma espessura de 1,0 m que aumenta até de fundação.
1,7 m, junto às vigas, através de uma variação parabólica da sua face
inferior 10 m contíguos a cada viga [1], como é visível na Figura 1.
3 O sistema de monitorização da integridade
Os pórticos transversais são constituídos por vigas apoiadas em seis
pilares, afastados entre si de 32 m, que se prolongam por consolas estrutural instalado durante a construção
de 14 metros de vão em cada extremidade. O sistema de monitorização instalado durante a construção baseou-
As vigas são em betão armado pré-esforçado, com uma forma se em extensómetros de corda vibrante e termómetros elétricos
aproximada em I, cuja altura varia segundo uma diretriz circular de resistência embebidos no interior do betão dos seis pórticos
entre 3,6 m, a meio vão e na extremidade das consolas, e 5,6 m nos assinalados na Figura 2, bem como nos painéis de laje igualmente
apoios sobre os pilares. O banzo superior tem, junto à alma, uma assinalados nessa figura. Estes sensores estavam ligados a um
altura máxima de 1,7 m; a alma tem uma altura de 1,3 m e largura de sistema de aquisição de dados, permitindo a realização automática
2 m; o banzo inferior tem 3 m de largura e uma altura que varia entre das medições [2].
0,6 m, a meio vão, e 2,6 m sobre o eixo dos pilares [1]. A título exemplo, na Figura 3 apresenta-se a evolução das extensões
Os pilares são em betão armado, com uma secção circular de medidas desde a construção numa secção (S14) da viga de um
3 m de diâmetro e uma altura de cerca de 50 m sobre o aterro pórtico desta estrutura.
4.2 Juntas de dilatação Figura 4 Junta de dilatação principal: vista geral e detalhe da
instrumentação
A estrutura do aeroporto está dotada de juntas de dimensão
moderada nas duas extremidades e de uma junta de caraterísticas Na Figura 5 apresentam-se os movimentos da junta de dilatação
excecionais numa zona intermédia, situada entre os pórticos P21 e principal ao longo de um ano, entre janeiro de 2020 e novembro de
P22. Na Figura 4 apresentam-se duas vistas desta junta de dilatação, 2021, juntamente com a temperatura do ar e no interior do betão
uma superior e outra inferior. (T81.1). Para além da evidente correlação, verifica-se que a uma
variação de temperatura no betão com cerca de 17ºC de amplitude O processamento automático dos registos, efetuados com uma
corresponde uma variação da abertura da junta de cerca de 9 cm. frequência de aquisição de 250 Hz, realiza se separadamente para as
acelerações verticais e longitudinais. Na Figura 8 apresentam-se as
acelerações verticais medidas durante uma hora em que um avião
de pequeno porte em regime de treino realizou diversas aterragens e
descolagens, cuja ocorrência é bem evidente nesta figura.
(AMO) a cada grupo de séries temporais de duração horária, em que ou mesmo a simples circulação dos aviões sobre a pista, provocam
se aplicam várias técnicas [3]: vibração substancialmente maior que as ações ambientais, como
• Método de Decremento Aleatório; se pode constatar na Figura 8. Assim sendo, é necessário eliminar
as vibrações provocadas pelos movimentos de aeronave, o que
• Método de identificação estocástica em subespaços (SSI-COV); é efetuado com base no critério de valor eficaz (RMS) dos dados
• Automatização do processo de identificação modal. pré-processados [4].
A identificação modal estocástica é efetuada com base na resposta Aplicando o método de identificação estocástica em subespaços
das estruturas às ações ambientais, assumindo-se a hipótese de (SSI-COV) e a técnica de análise cluster são identificados os polos
as forças de excitação serem idealizáveis através de um processo estabilizados que são considerados, possivelmente, associados aos
estocástico gaussiano de tipo ruído branco (com densidade modos de vibração da estrutura (Figura 9). Consequentemente, são
espectral constante) com média nula. A aterragem, descolagem obtidos os parâmetros modais (frequência natural, coeficiente de
amortecimento e configuração modal) dos modos de vibração da mantidas em memória as últimas 60 imagens. À medida que cada
estrutura. imagem é capturada, uma pequena região desta é comparada com
Desta forma foi possível obter modos de vibração presentes, de uma a região homóloga da referência com um algoritmo de correlação
forma contínua, ao longo do período em análise, como representado digital. Se for detetado um deslocamento de aproximadamente 1
na Figura 10, relativamente aos modos verticais, e na Figura 11 para pixel, é sinalizado ao sistema que foi detetado um evento e repete-
os modos longitudinais. Devido às características da estrutura, se o processo.
nomeadamente o facto de ser uma estrutura contínua com um
elevado número de tramos (32 × 32 m) e uma grande largura (178
m), existe um número considerável de modos de vibração com
frequências muito próximas, como se pode verificar, por exemplo,
nos intervalos de 2 Hz a 5 Hz e de 6 Hz a 8 Hz.
As frequências e coeficientes de amortecimento identificados
ao longo do tempo permitirão a avaliação da evolução do
comportamento dinâmico da estrutura.
2. ELEGIBILIDADE
São elegíveis para publicação os artigos resultantes de Dissertações
de Mestrado apresentadas em Universidades ou Politécnicos que
respeitem cumulativamente as seguintes condições:
2.1 Tenham sido aprovadas com classificação mínima de 16 valores após a
correspondente defesa pública;
2.2 Tenham sido defendidas nos anos de 2021 ou 2022.
3. PROCESSO DE SUBMISSÃO
3.1 A submissão dos artigos deverá ser feita de acordo com as instruções
apresentadas em http://rpee.lnec.pt/03_a_instrucoes_autores.htm
e através da plataforma de submissão de artigos da rpee:
http://rpee.lnec.pt/submission;
3.2 Após a submissão deverá ser enviado um email para rpee@lnec.pt,
informando o número que foi atribuído ao artigo e que o mesmo foi
submetido ao abrigo desta iniciativa. Deverá também ser enviada uma
versão da Dissertação em pdf.
6. CALENDÁRIO
6.1 A submissão de artigos terá de ser efetuada até 28/02/2023.
http://rpee.lnec.pt/
6as Jornadas Portuguesas de Engenharia de Estruturas
Encontro Nacional de Betão Estrutural 2022
12o Congresso Nacional de Sismologia e Engenharia Sísmica
Lisboa • LNEC
9 a 11 de novembro de 2022
As Jornadas Portuguesas de Engenharia de Estruturas (JPEE) têm sido organizadas desde 1982 pelo Laboratório Na-
cional de Engenharia Civil (LNEC) envolvendo três associações nacionais interessadas na engenharia de estruturas: a
Associação Portuguesa de Engenharia de Estruturas (APEE), o Grupo Português de Betão Estrutural (GPBE) e a Socie-
dade Portuguesa de Engenharia Sísmica (SPES). As Jornadas, com a periodicidade de 8 anos, têm contribuído muito
significativamente para o intercâmbio de experiências e informação no domínio da engenharia de estruturas.
Nos 40 anos decorridos após as primeiras Jornadas, as associações que nelas participaram promoveram a realização
de vários eventos científicos e técnicos autónomos, nacionais e internacionais, mantendo-se as JPEE como evento de
referência, e de reunião das três associações, registando sempre uma grande adesão e sucesso.
Prémio
FERRY BORGES
2022
Colaboração de
Laboratório Nacional de Engenharia Civil
Ordem dos Engenheiros
urbana e Diagnóstico
Reabilitação
Instituto da Construção
R. Dr. Roberto Frias, s/n
património
4200-465 Porto
Ensaios Portugal
22 508 1856
Reforço 22508 2190
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Pretende avaliar a resistência à tração de uma ancoragem ou varão pós instalado num material
base de resistência desconhecida, como alvenaria?
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betão degradados como
vigas, pilares, cornijas e varandas.
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pré-fabricados em betão.
• Regularização de pequenas zonas de betão com
defeitos superficiais, tais como vazios, zonas
porosas, segregação, furação das tijes, juntas de
betonagem, etc.
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proteção de elementos de
vigas, pila
• Reforço e reparaçao de elementos p
• Regularização de pequenas zona
superficiais, tais como vazios, zonas poros
da tijes, ju
COM O APOIO DE:
http://rpee.lnec.pt/
ISSN 2183-8488