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PT WTND 2009 09

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CAPÍTULO

Prevenção de infecções
9 nas unidades sanitárias

Risco de transmissão de infecções


Quando prestam cuidados aos doentes, os trabalhadores de saúde podem entrar
em contacto com líquidos do corpo, como sangue, pus ou secreções genitais
(da vagina e do pénis). Os líquidos do corpo do doente podem conter agentes
infecciosos (micróbios), como por exemplo, os agentes causadores da sífilis, da
hepatite, ou o vírus que provoca o SIDA (HIV).

No ambiente hospitalar, em que circulam doentes e trabalhadores de saúde,


assim como outras pessoas que não estão doentes, mas podem ou não ser por-
tadoras de infecções, há o risco de transmissão de infecções entre estas pessoas,
e especialmente:

z do doente para o trabalhador de saúde;


z do trabalhador de saúde para o doente;
z e dos doentes entre si.

Os agentes causadores de algumas doenças transmitem-se através do sangue.


É o caso dos agentes da sífilis, hepatite, HIV, e malária. Outros agentes infeccio-
sos, como aqueles que causam a tuberculose, sarampo, meningite, transmitem-se
através do ar, trata-se duma forma de contágio por inalação.

Transmissão de infecções aos doentes e aos


trabalhadores de saúde
Nos serviços de saúde, podem transmitir-se infecções aos
doentes através de:

z injecções
z procedimentos cirúrgicos
(sutura de feridas, por exemplo)
z transfusão de sangue infectado
z contacto com sangue ou
feridas dum trabalhador de
saúde infectado

136 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


A transmissão de infecções ao doente
acontece principalmente através da picada
com agulha ou corte com instrumento
cortante, contaminados com sangue
infectado.

A maioria dos procedimentos realizados no atendimento aos doentes, não


constitui risco de transmissão de infecções do doente para o trabalhador de
saúde. Se forem tomadas as devidas precauções, o risco de um trabalhador de
saúde se infectar a partir de um doente é reduzido. Mas pode acontecer se o
trabalhador de saúde for exposto ao sangue ou outros líquidos contaminados do
doente através de:

z Picada com agulha ou corte com


instrumento cortante
z Feridas abertas (ou outras
aberturas na pele provocadas por
doenças da pele)
z Contacto com os olhos ou a mucosa da boca.

Risco de transmissão da tuberculose


O número de doentes com o HIV internados nas unidades sanitárias aumentou
consideravelmente nos últimos anos. Estes apanham tuberculose com mais fa-
cilidade do que as pessoas sem o HIV, pelo que é especialmente importante a
prevenção da sua transmissão.

Sempre que possível, os doentes com tuberculose pulmonar devem ser trata-
dos em regime ambulatório, reduzindo as baixas hospitalares destes doentes, li-
mitando-se, assim, o risco de transmissão da tuberculose nos serviços de saúde.

Os doentes com tuberculose pulmonar e baciloscopia positiva, após o início


do tratamento, rapidamente deixam de ser infecciosos; é por isso que é urgente
iniciar o tratamento destes doentes, para reduzir os riscos de transmissão da
tuberculose.

Os trabalhadores de saúde que


trabalham com doentes sofrendo de
tuberculose, devem tomar medidas
específicas de protecção, pois correm
o risco de apanhar essa doença. Os
trabalhadores de saúde que têm
o HIV não devem trabalhar com
doentes com tuberculose pulmonar.

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 137


Para prevenir a transmissão da tuberculose nos serviços de saúde, é importante
que as instalações tenham uma boa ventilação e exposição aos raios solares. O
doente com tuberculose pulmonar deve ser ensinado no sentido de conhecer e
saber evitar os riscos de transmissão da infecção. Deve ser ensinado a cobrir a
boca e o nariz quando tossir e expectorar, e usar máscara facial.

Nas enfermarias de tuberculose não deve ser admitido nenhum doente que
não tenha um diagnóstico confirmado de tuberculose.

Reduzir os riscos nos serviços de saúde

PRECAUÇÕES PADRÃO

Precauções padrão (também chamadas universais ou standard) são o


conjunto de normas destinadas a diminuir o risco de transmissão de micró-
bios no ambiente hospitalar. No ambiente hospitalar, todas as pessoas (do-
entes e trabalhadores de saúde) devem ser consideradas como potencial-
mente infecciosas (capazes de transmitir a infecção) e como susceptíveis
à infecção (capazes de apanhar a infecção).
As precauções padrão resumem-se no seguinte:

v Lavar as mãos é o procedimento mais importante para prevenir a


contaminação de pessoa a pessoa, ou de um objecto contaminado a
uma pessoa;
v Usar luvas antes de entrar em contacto com sangue ou outros líquidos
corporais, pele com lesões, instrumentos sujos e lixo contaminado
(sangue, pus, material de penso, agulhas);
v Utilizar equipamento de protecção individual (luvas, aventais,
máscaras, protectores oculares e botas) para se proteger de salpicos e
derrames de líquidos corporais;
v Utilizar desinfectantes (ver pág. 736) para limpeza de feridas, pele e
mucosas do doente. Utilizar desinfectantes também para a lavagem das
mãos antes de qualquer operação;
v Utilizar práticas de trabalho seguras, tais como não recolocar a
tampa nem dobrar as agulhas de injecção;
v Processar os instrumentos, luvas e outro material, depois da sua
utilização;
v Descartar o lixo infeccioso ou contaminado de forma segura.

138 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


Lavagem das mãos
A lavagem das mãos deve ser realizada com
água limpa e sabão.

Deve-se lavar as mãos:

v antes e depois de examinar o doente;


v em qualquer situação em que as mãos
possam ter sido contaminadas com
sangue ou líquidos corporais ou por
contacto com instrumentos;
v Antes de colocar luvas esterilizadas.

Para a lavagem das mãos:

v Usar água e sabão.


v Se não há água corrente, depois de lavar com sabão, uma segunda pessoa
deve verter a água limpa para remover o sabão.
v Não usar toalha, mas deixar secar as mãos ao ar.
v Não usar a mesma água outra vez.

Se não houver água, utilizar um desinfectante como álcool ou cetrimida e clo-


rexidina, para lavar as mãos.

Nos casos de cólera, usar hipoclorito (ver pág. 740) para lavar as mãos.

Equipamento de protecção individual (EPI)


O uso de equipamento de protecção individual
ajuda a reduzir o risco de transmissão de
micróbios no hospital. Estes equipamentos
protegem áreas do corpo expostas ao
contacto com materiais infecciosos e devem
ser usados sempre que houver a possibilidade
de contacto com sangue, líquidos corporais,
mucosas ou pele lesionada.

O EPI consiste de luvas, aventais, máscaras,


sapatos fechados e, por vezes, protectores
oculares.

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 139


Luvas
As luvas devem ser utilizadas quando se prevê contacto
com sangue ou outros líquidos corporais (ex., quando se
tira sangue), ou contacto com mucosas ou pele lesionada.

As luvas devem usar-se também para manusear mate-


riais ou superfícies sujas com sangue ou outros líquidos.

O tipo de luva a ser utilizado, depende do tipo de


tarefa a executar. Por exemplo, o pessoal de limpeza
utiliza luvas de borracha e não luvas cirúrgicas, que devem
ser reservadas para procedimentos cirúrgicos, partos. Para
exames clínicos, usam-se luvas feitas de material plástico.

As luvas deverão ser trocadas após contacto


com cada doente. Quando se utiliza as luvas não se
deve realizar outras actividades, como tocar noutros
objectos, atender o telefone, etc.

Quando se utiliza luvas esterilizadas deve-se:

v lavar as mãos;
v usar um par de luvas para cada doente, para evitar
contaminação cruzada;
v não usar luvas retiradas dum pacote já aberto, ou
cujo prazo de validade tenha expirado;
v não usar luvas rasgadas ou com furos;
v não tocar a parte externa das luvas esterilizadas
quando estão a ser calçadas – manusear apenas pela
parte interna, que está revirada para fora.

Se por acaso as luvas forem contaminadas, devem


ser rejeitadas imediatamente e colocado um novo par
de luvas esterilizadas.

Antes de retirar as luvas, estas devem ser descontami-


nadas, colocando as duas mãos em solução de hipoclorito Não tocar na
a 0,5% (ver pág. 741). Depois, retirar as luvas, revirando-as, parte dos dedos.

de modo a que a parte interna fique para fora.

Deitar as luvas no lixo ou deixar que fiquem imersas (mergulhadas) na so-


lução de hipoclorito durante 10 minutos, para depois serem processadas para
reutilização.

Deve lavar-se as mãos depois de retirar as luvas.

O uso de luvas não dispensa a lavagem das mãos.

140 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


Avental
O uso do avental está indicado quando há risco de contacto com material infec-
cioso, por exemplo, parto, operações, doença de Marburg e Ébola (ver pág. 463).
Durante o parto convém utilizar aventais impermeáveis que protejam o tronco e
os membros inferiores.

É importante usar
luvas e avental
durante o parto.

O uso correcto do equipamento de protecção individual diminui o


risco de transmissão de infecções.

Práticas de trabalho seguras


No manuseamento de instrumentos perfurantes/cortantes (agulhas, lâminas,
bisturis, tesouras, etc.).

Deve-se:
v Apontar sempre a parte perfurante/cortante dos instrumentos para longe e
afastada das outras pessowas.
v Pegar nos instrumentos perfurantes/cortantes, um de cada vez.
v Usar recipientes para passar os instrumentos perfurantes/cortantes durante
procedimentos cirúrgicos.

NÃO se deve:

v Voltar a tapar as agulhas de injecção.


v Dobrar as agulhas.
v Retirar a agulha da seringa com a mão. Se vai ser reutilizada, deve-se utilizar
uma pinça para retirar a agulha.
v Não guardar as seringas para remover as agulhas mais tarde.

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 141


O QUE FAZER DEPOIS DA UTILIZAÇÃO

v Colocar as seringas, agulhas e v Quando estes recipientes


outros materiais perfurantes/ estão cheios até ¾,
cortantes numa caixa para devem ser eliminados por
incineração ou em recipientes incineração ou enterrados.
à prova de perfuração. Onde
não existem caixas para
incineração, recomenda-se
recipientes feitos de cartão
espesso, uma lata com
tampa, ou uma garrafa ou
caixa plástica grossa. Estes
recipientes devem estar
devidamente rotulados.

Cheio de mais: Até 3/4:


inseguro seguro

ORIENTAÇÕES PARA UMA UTILIZAÇÃO SEGURA DA CAIXA INCINERADORA

v Colocar uma caixa em cada local de injecção, e ao alcance da mão


da pessoa que dá a injecção;
v Depositar a seringa e a agulha na caixa, imediatamente depois de
dar a injecção;
v Não encher demasiado a caixa incineradora;
v Não esvaziar ou reutilizar a caixa incineradora.

Não misturar o material perfurante/cortante no lixo comum. O lixo per-


furante/cortante é constituído por material potencialmente contaminado, que
pode causar feridas (picadas, cortes) e infectar pessoas.

Se disponível, usar a cortador de agulha para as autodestrutíveis.

Se as agulhas e seringas vão ser reutilizadas, devem mergulhar-se em solução


de hipoclorito a 0,5% durante 10 minutos, antes de serem lavadas (ver procedi-
mento mais adiante).

142 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


Processamento do material
Deve proceder-se à descontaminação, seguida de esterilização ou desinfecção
do material, de modo a que esteja pronto para ser utilizado. A esterilização ou
desinfecção dum instrumento depende do material de que é feito e dos recursos
existentes na unidade sanitária.

Para a execução destes procedimentos, o trabalhador de saúde deve lavar as


mãos e utilizar o equipamento de protecção individual.

Descontaminação
A descontaminação é o processo de diminuição do número de micróbios pre-
sentes no material e superfícies, antes de se proceder à sua lavagem. A descon-
taminação permite um manuseamento seguro pelos trabalhadores de saúde. É o
primeiro passo antes do manuseamento dos instrumentos, luvas e outros artigos
contaminados. Os instrumentos contaminados com sangue ou outros líquidos
corporais devem sempre ser descontaminados antes de serem lavados e esterili-
zados ou desinfectados.

A descontaminação do material faz-se


pela sua imersão completa em solução
desinfectante de hipoclorito a 0,5%
durante 10 minutos (ver pág. 739); depois
disso, deve lavar-se com água corrente.

Lavagem
Através da lavagem, remove-se a sujidade antes da desinfecção ou esteriliza-
ção. A lavagem, que deve ser feita com água e sabão, também reduz o número
de micróbios.

Os instrumentos devem ser abertos ou desmontados, quando possível. Utilizar


escovas para remover sujidade, prestando atenção aos espaços interiores, e às zonas
de união. Depois da lavagem, os instrumentos devem ser passados por água limpa.

A secagem do material deve ser feita ao ar livre, ou utilizando uma toalha


limpa. Os resíduos de água no material fazem aumentar a diluição das soluções
de desinfecção ou esterilização; por isso, é importante secar o material antes da
sua imersão. A secagem também ajuda a conservar o material.

Desinfecção
A desinfecção destrói quase todos os micróbios. É isso que a distingue da esteri-
lização, que elimina todos os micróbios. Apesar disso, a desinfecção é muito útil
no caso de não haver condições para esterilização.

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 143


A desinfecção faz-se por:

v Fervura – imersão completa do material em água a ferver;


v Meios químicos líquidos:

Hipoclorito a 0,1% (ver pág. 739) Álcool a 70% (ver pág. 736)
durante 30 minutos durante 30 minutos

A desinfecção por fervura deve fazer-se do seguinte modo:

v O material deve ser mantido dentro da


água – em quantidade suficiente para
submergir todo o material (cobrir com
pelo menos 2 cm) – a ferver durante
20 minutos, contados a partir do início
da fervura. Se for colocado um outro
instrumento depois de iniciado o processo
de fervura, deve-se começar a contar o
tempo de novo.
v Nunca deixar o material fervido
permanecer na água até esfriar, pois os
micróbios podem começar a crescer
na água fria; também é possível que os
instrumentos comecem a enferrujar na
água depois de algum tempo.
v Depois de retirado da panela ou ebulidor com uma pinça desinfectada ou
esterilizada, e usando luvas esterilizadas, colocar o material num recipiente
esterilizado ou desinfectado. O material pode ser armazenado num
recipiente coberto durante 1 semana, se for conservado seco. Se estiver
molhado, deve ser usado no mesmo dia.
A desinfecção química faz-se por imersão total do
material na solução química, livre de bolhas, durante os
tempos acima indicados. Os recipientes devem man-
ter-se tapados durante todo o processo de desinfecção.
Deve utilizar-se equipamento de protecção individual
no manuseio do material.

Do mesmo modo que o material desinfectado por


fervura, o material desinfectado quimicamente deve
ser retirado da solução desinfectante com uma pinça
desinfectada ou esterilizada e deixado secar ao ar livre.
Quando bem seco, o material pode ser guardado du-
rante 1 semana, num recipiente coberto. Se húmido,
deve ser utilizado imediatamente.

144 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


Esterilização
A esterilização é mais poderosa que a desinfecção, pois destrói todas as formas
de vida dos micróbios. A esterilização faz-se através de:

Meios físicos

v Autoclave (calor húmido) – 127°C durante 30 minutos


v Estufa (calor seco) – 170°C durante 2 horas

Autoclave Estufa
Material Material
esterilizável: esterilizável:
Roupa Ferros cirúrgicos
Ferros cirúrgicos Taças
Taça Pó de talco
Compressas Seringas de vidro
Material de
borracha (luva, Não esterilizar
algálias) na estufa
material de
borracha

PASSOS SEQUENCIAIS NO PROCESSAMENTO DO MATERIAL HOSPITALAR

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 145


Tratamento das superfícies
As superfícies fixas (chão, paredes, tectos, portas, mobiliários, etc.) não represen-
tam risco significativo de transmissão de infecções na área hospitalar. Por isso, é
desnecessária a desinfecção rotineira de superfícies, a menos que haja depósitos
ou restos de líquidos e tecidos corporais.

Os locais que contêm líquidos corporais e restos de tecidos podem causar


riscos a doentes e trabalhadores de saúde. Por isso, necessitam de descontami-
nação e desinfecção.

Procedimentos de descontaminação
e desinfecção de superfícies

Descontaminação:

Retirar os restos de líquidos corporais


e tecidos com um pano ou papel;

v Aplicar hipoclorito a 0,5% e deixar durante 10 minutos;


v Após este tempo de acção, remover com um pano ou papel.

Desinfecção:

v Limpar com um pano embebido em hipoclorito a 0,05%;


v Limpar com água e sabão;
v Secar as superfícies.

As áreas húmidas ou molhadas tornam-se meios de cultura nos quais se de-


senvolvem micróbios. Por isso, é necessária a secagem adequada das superfícies
e do material.

Devido ao risco de infecção, não se deve varrer a seco as áreas hospitalares.

Lixo hospitalar
Deve-se cuidar do lixo para:

v Proteger as pessoas que lidam com o lixo infeccioso;


v Prevenir a transmissão da infecção aos trabalhadores de saúde e à comunidade;
v Eliminar de forma segura os materiais perigosos.

146 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


O lixo das unidades sanitárias é composto por lixo contaminado (15%) e não
contaminado (85%).

O lixo contaminado ou infectado (sangue, pus, material de penso, agulhas).


é o que pode transmitir doenças às pessoas.

O lixo líquido contaminado deve ser manipulado com cuidado.

v O líquido deve ser descontaminado com hipoclorito a 0,5% e depois despejado


no esgoto ou drenagem. No acto do despejo, devem evitar-se salpicos.
v Se o recipiente que contém o líquido vai ser utilizado novamente, deverá ser
descontaminado com uma solução de hipoclorito a 0,5% durante 10 minu-
tos, antes de ser lavado.

O lixo sólido contaminado deve ser descontaminado.

Este lixo deve ser colocado em sacos apropriados e ser transportado em


separado até à lixeira ou aterro. Todo o lixo deverá circular sempre em reci-
piente fechado.

O lixo contaminado não deve ser transportado juntamente com


o lixo comum.

O lixo contaminado ou infectado deve ser queimado – incinerado. Se não for


possível, deve ser enterrado num aterro sanitário. Deve-se evitar exposições aci-
dentais com materiais perfurantes/cortantes durante este processo.

Incineradora fixa Incineradora móvel

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 147


O aterro sanitário deve ser coberto, para evitar a entrada de insectos e da
chuva. O lixo deve ser incinerado e coberto com areia. No caso de não ser possí-
vel incinerar, recomenda-se colocar uma nova camada de areia, diariamente.

O lixo não contaminado (papéis, restos da cozinha) não representa risco de


transmissão da doença.

Este tipo de lixo deve ser depositado em recipientes laváveis com tampa e
transportado para o aterro sanitário ou lixeira.

Saco de lixo Contentor de despejo com tampa

Para manusear o lixo, deve utilizar-se o equipamento de protecção


individual. Deve lavar as mãos com frequência.

148 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


Acidentes pós-exposição ao HIV
O risco de um trabalhador de saúde se infectar com o HIV, a partir de um doente,
é reduzido. O maior risco de acidente por exposição ao HIV (exposição ocupa-
cional) nas unidades sanitárias é através de picada acidental com agulha conta-
minada. Estas picadas ocorrem mais frequentemente quando se tenta recolocar
a tampa das agulhas, depois de as utilizar.

Mas pode acontecer, se o trabalhador de saúde for exposto ao sangue ou


outros líquidos contaminados do doente, através de:

v Picada com agulha ou corte com instrumento cortante contaminado com


sangue ou outros líquidos corporais infecciosos.
v Contacto da pele lesada do trabalhador com cortes, feridas ou outras lesões
(dermatite) ou duma mucosa (ocular, oral), com sangue ou outros líquidos
do doente.

O contacto de sangue ou outros líquidos corporais infecciosos com a pele


não lesada não constitui situação de risco para a infecção pelo HIV. Por isso,
nestes casos, não se recomenda o uso de profilaxia.

Avaliação do risco
Para se avaliar o risco, deve considerar-se o tipo de exposição e os factores que
aumentam o risco de transmissão. Esta avaliação é importante porque determina
a necessidade ou não de fazer a profilaxia com anti-retrovirais.

FACTORES QUE AUMENTAM O RISCO DE TRANSMISSÃO

O risco é maior:
z se resultar de lesão através da pele;
z quanto mais profunda e extensa for a lesão;
z se for sangue;
z quando o trabalhador de saúde tem deficiência do sistema imunitário (por ex.
devido a diabetes, malnutrição);
z quando o trabalhador de saúde tem feridas ou outras lesões da pele;
z quando o trabalhador de saúde não cumpre com as precauções padrão;
z quando os primeiros cuidados do ferimento são inadequados;
z quando o doente está num estado inicial ou avançado de HIV;
z se a exposição for massiva (picada profunda, agulha de grande calibre,
produto de laboratório concentrado) ou intermediária (corte com um bisturi
através da luva, picada superficial com uma agulha).

O risco é menor se a exposição for mínima: lesão superficial da pele com agulha
de sutura ou de pequeno calibre.

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 149


Medidas a tomar após exposição ao HIV
O trabalhador de saúde que sofre um acidente deverá
comunicar de imediato ao seu superior hierárquico, que
deverá registar a ocorrência e manter a confidencialidade.

É importante que se tomem cuidados adequados


imediatamente após a exposição; a decisão de iniciar
profilaxia deve ser tomada o mais rápido possível.

Primeiros cuidados
t Exposição através da pele: limpeza imediata com água e sabão.
t Exposição de mucosa (boca ou olhos): lavagem prolongada com soro fisioló-
gico ou com água.

A profilaxia pós-exposição (PPE)


A profilaxia pós-exposição é um tratamento de curta duração com medicamen-
tos anti-retrovirais (ver pág. 748) para reduzir o risco de infecção pelo HIV depois
duma exposição ocupacional. Todas as unidades sanitárias devem ter um kit para
iniciar a PPE.

A avaliação e a decisão sobre a PPE deve ser feita o mais rápido possível (é pre-
ferível iniciar a PPE nas primeiras 4 horas após o acidente, mas pode ser iniciada
até 72 horas depois do mesmo).

A avaliação é realizada pelo trabalhador de saúde responsável por esta


actividade.

A primeira medida é testar o doente, se for desconhecido o seu estado HIV.


Se for positivo, o trabalhador de saúde deve também fazer o teste. Também se
deve verificar os factores de risco de transmissão referidos acima. Se a exposição
é mínima (lesão superficial da pele com agulha de sutura ou de pequeno calibre)
não se inicia a PPE.

Doente e Doente HIV-positivo Doente e


trabalhador ou desconhecido trabalhador
de saúde e trabalhador de de saúde
HIV-negativos saúde negativo HIV-positivos

Não são necessárias Iniciar a profilaxia Os dois devem ser


quaisquer medidas. pós-exposição encaminhados para
(PPE) o mais rápido o seguimento em
possível. consulta apropriada.

150 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS


Se o trabalhador de saúde for HIV-positivo ou recusa ser testado, não se inicia
a PPE.

Se não for possível fazer o teste, inicia-se a PPE e tranfere-se para uma unidade
sanitária com mais recursos para avaliação. Sempre que possível, o trabalhador
deve levar consigo a amostra de sangue do doente e o relatório clínico.

Se o doente for HIV-positivo e o trabalhador de saúde afectado pelo acidente


for negativo, e estiver distante do responsável pela avaliação, deverá deslocar-se
o mais rápido possível nas primeiras 24 horas, levando consigo a amostra de
sangue do doente e o relatório clínico

Registo e notificação do acidente


Recomenda-se que o acidente seja registado e notificado.

Monitorização da profilaxia
A monitorização é clínica (avaliar o estado físico e mental do doente) e labora-
torial (fazer análises de controle, incluindo o teste do HIV ao fim de 6 semanas e
depois, aos 3 e 6 meses).

Além do aconselhamento, é preciso encorajar o trabalhador a tomar os medi-


camentos de acordo com as instruções e verificar a sua aderência ao tratamento
(ver definição da aderência na pág. 426).

O trabalhador de saúde deve seguir as seguintes recomendações:

v Evitar gravidez por um período de 6 meses, utilizando métodos de planea-


mento familiar.
v Praticar sexo seguro, utilizando o preservativo.
v Abster-se de dar sangue e de amamentar durante 6 meses.
v Consultar o clínico, em caso de aparecimento de algum efeito secundário.

Os trabalhadores que não receberam PPE devem ser monitorizados da se-


guinte forma:

v Repetir o teste do HIV na 6ª semana e no 3º e 6º mês.


v Aconselhamento adicional.

Todos os trabalhadores de saúde devem saber o que fazer e para


onde se dirigir em caso duma exposição ocupacional.

PREVENÇÃO DE INFECÇÕES NAS UNIDADES SANITÁRIAS 151

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