E.book Emocoes Artes Inter AF
E.book Emocoes Artes Inter AF
E.book Emocoes Artes Inter AF
—
ISBN: 978-989-8797-41-4
Edição: Digital
Editor: Escola Superior de Educação e Ciências Sociais — Politécnico de Leiria
Ano: 2020
Índice
Apresentação........................................................................................... 5
Apresentação
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
a
ESECS – Politécnico de Leiria
b
CICS.NOVA – Politécnico de Leiria–iACT
c
CI&DEI – Politécnico de Leiria
Resumo
Juntar, no âmbito da intervenção, emoções e artes implica optar por uma
metodologia ligada à animação artística. Na verdade, a arte é uma força po-
derosa e omnipresente que ajuda o indivíduo a modelar as atitudes, as cren-
ças e os comportamentos e que, como tal, se salienta enquanto expressão da
existência em sociedade e como instrumento de compreensão das atitudes da
vida. Através das artes, o mundo torna-se mais inteligível, acessível e familiar
e as emoções são parte intrínseca de todo este processo ao possibilitarem uma
experiência a dois tons: pessoal e social. As linguagens artísticas facilitam
a conexão com as nossas emoções numa linguagem que é partilhada, mas
também única, uma vez que cada um de nós sente e age de forma singular.
As artes possibilitam a (re)construção de mecanismos de desenvolvimento
dos indivíduos e das comunidades pois aumentam a consciencialização dos
problemas e a procura de diferentes modos de os solucionar. É neste quadro
que as artes se salientam enquanto ferramentas privilegiadas na intervenção
social porque permitem envolver os indivíduos em processos artísticos que
decorrem, paralelamente, de duas maneiras: para dentro, gerando consciên-
cia individual e fortalecimento, e externamente, gerando consciência cole-
tiva, empoderamento da comunidade e mudança social (Ruiz, 2018). E em
todo este processo estão as emoções, sempre!
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Tal como explicam Madalena Leitão e Joana Lopes (2013), neste processo
a principal preocupação da animação artística é favorecer o que o diálogo
entre o fazer expressivo-artístico e outras culturas, artes e estéticas, originan-
do projetos diversificados Estes projetos têm a capacidade de “desbloquear
os limites dos processos criativos e capacitar a população para ser agente do
seu próprio desenvolvimento, propondo, deste modo, alternativas à cultura
massificada e à imposição de uma monocultura à escala global” (Leitão &
Lopes, 2013).
Com efeito, a animação artística é um elemento transformador que permite
desvendar os problemas de uma comunidade e, juntamente com os sujeitos,
proporcionar soluções de imaginação e criatividade, construindo uma análi-
se sensível e apropriada e fornecendo metodologias de resolução de conflitos
sem violência em que valores humanos adquirem o caráter de guias dos atos
e da ação (Oliveros, 2017).
Na mesma linha de argumentação, também Leitão e Lopes (2013) defendem
o papel preponderante que a animação artística detém na criação de dina-
mismos culturais que se repercutem direta ou indiretamente no tecido social
e económico do território onde exercem a sua ação.
Em jeito de síntese, gostaríamos de reiterar a importância da animação artís-
tica no fomento da participação consciente e crítica dos sujeitos e das comu-
nidades. Na realidade, a animação artística alcança o pleno sentido quando
promove a participação comunitária, implicando as pessoas nos processos.
Neste desiderato, carateriza-se por superar o conceito de cultura como con-
sumo para avançar para uma cultura de participação, onde as artes têm um
papel fulcral. Na verdade, as artes são boas ferramentas na intervenção so-
cial porque permitem interpolar, internalizar, expressar, através do proces-
so artístico que flutua de duas maneiras: para dentro, gerando consciência
individual e fortalecimento, e externamente, gerando consciência coletiva,
empoderamento da comunidade e mudança social (Ruiz, 2018). E em todo
este processo estão as emoções, sempre!
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Resumo
A reflexão que se apresenta sustenta-se na ideia central de que se apren-
de com a experiência relacional, emocional e epistémica, num permanente
questionamento da realidade interna e externa e de que o cérebro humano
é um órgão fundamental no processo de levantar questões e abrir novos ca-
minhos de aprendizagem. Defende-se, assim, que o ser humano é dotado de
uma capacidade de análise e avaliação dos sentimentos e intencionalidades
próprias e dos outros. Com as experiências de relação odeia-se quando se é
maltratado e ama-se quando se é bem tratado. Com estas experiências de re-
lação, o humano vai criando o seu cérebro, percecionando-o como um órgão
social. Este processo parte da relação resultante de uma necessidade de com-
preender os desejos, as necessidades e as virtudes da mente opaca do bebé
prolonga-se por todo o ciclo da vida. Neste contexto os educadores podem
ser agentes fundamentais, facilitando o desenvolvimento do processo de ma-
turação social da criança e com ele a aquisição de um locus de controlo interior,
ou seja, um educador ajuda o seu educando a modelar o seu progresso ma-
turativo cerebral, desenvolvendo diferentes circuitos neuronais, modelando
uma determinada forma de interpretar as experiências vividas na relação e
pela relação. Assim, a vida do cérebro é o cérebro da vida social, em particu-
lar, porque o afeto expressa fundamentalmente uma relação social.
Introdução
No decorrer do longo período em que a espécie humana foi evoluindo, o
cérebro foi talvez o órgão que mais mudou. Referimo-nos não só ao número
de neurónios, mas à imensidão de ligações entre eles que determinam os
circuitos neuronais responsáveis pela complexidade mental que caracteriza
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do seu cérebro para se adaptar às novas situações que o cérebro perceciona,
o que influencia, em permanência, a construção das redes cerebrais. Este é
também o espaço para se falar do papel do educador, enquanto objeto com
sensibilidade empática para intuir potencialidades e diagnosticar competên-
cias, facilitando a aprendizagem e o desenvolvimento.
1. A parábola do cérebro
O cérebro humano é uma parte do corpo e a consciência da existência de si
passa pelo funcionamento articulado de todas as partes do corpo numa busca
incessante à procura da homeostasia. António Damásio (2019) refere-se ao
papel da ficção, referindo que o homem é capaz de viver uma experiência
- uma vida vicariante – quando se coloca no lugar das personagens, funcio-
nando a ficção, como a vida por imagens e sentimentos. Quando Damásio
(2019) se refere aos sentimentos implica tanto sentimentos homeostáticos
como sentimentos emocionais, ou seja, o sentimento é a forma como rete-
mos uma experiência e esta está relacionada com a emoção, que é a forma
como agimos. Os sentimentos encontram-se no humano na mesma propor-
ção do seu desenvolvimento pessoal, com funções muito mais complexas do
que a simples adaptação como acontece com a maior parte dos animais. Os
sentimentos são uma espécie de resumo da complexidade da vida e da ação
humana num dado momento e em circunstância concreta. São portas de
acesso para conhecer essa complexidade e permitir, assim, o desenvolvimen-
to (Sempre, 2019).
Deste modo, sabemos que o nosso corpo, incluindo o nosso cérebro, é o pal-
co onde atuam os nossos sentimentos tomados por estados de consciência
que nos permitem trazer para o presente um processo que pode ter ocorrido
no passado, mas, porque está na consciência, é vivido como estando a acon-
tecer agora.
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no princípio, Deus criou muitos embriões, depois convocou-os perante o seu trono
e perguntou-lhe quais as caraterísticas e as armas que desejam ter para as suas
vidas e para a sua sobrevivência. Todos os embriões escolheram caraterísticas
diferentes, mas o embrião do homem não escolheu nada. Então, Deus chamou-o
e convidou-o novamente a escolher, mas o embrião do homem disse que preferia
ficar assim, como tinha sido criado, um embrião, pois se Deus o tinha criado
daquela forma deveria haver uma boa razão para tal. Deus elogiou-o muito
por esta escolha e disse que permanecia embrião até ao túmulo, mas que todos
os outros animais só permaneceriam embrião até ao túmulo, mas que todos os
outros animais só permaneciam embriões consoante as próprias forças. É por
isso que o homem conserva durante toda a vida as caraterísticas neoténicas e,
com elas, também a curiosidade, a sede de conhecimento e, até certo ponto, o
comportamento próprio de uma criança. (...) O grande truque da infância pro-
longada do homem criou o seu grande cérebro (Maffei, L. 2018, pp. 25 e 26).
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2. Emoção e socialização
Nos humanos, as emoções são fundamentalmente emoções sociais, isto é, são
emoções que resultam de um fenómeno de atenção partilhada. São emoções
que resultam da contemplação de um objeto. Estas emoções resultam de
um processo de relação entre educando-educador, sendo que o primeiro se
constituiu como uma base segura e detém a capacidade de “pensar um pen-
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samento” até que o segundo seja capaz de o fazer (Bion, 1979). Esta é uma
ideia essencial para a compreensão do impacto do processo de socialização
no desenvolvimento do bebé humano e que se prolonga no processo de de-
senvolvimento humano, como se socializar fosse deixar-se pensar por outros
até ser capaz de se pensar por si próprio. Esta é uma ideia básica do processo
de empatia, capacidade de “sentir interior” e ao mesmo tempo ser capaz
de ver o mundo do ponto de vista do outro, ou seja, empatia é projeção: a
capacidade de nos colocarmos o lugar de uma pessoa, imaginando o que
sentiríamos nessa situação.
Assim, clarificar as emoções que são iminentemente sociais realiza-se ao mes-
mo tempo que se clarifica as mesmas relações sociais, por isso, socialização e
desenvolvimento emocional são bidirecionais e influenciam-se mutuamente
(Sempre, 2019). Neste contexto, todos os educadores facilitam o desenvolvi-
mento do processo de maturação social e com ele a aquisição de um locus de
controlo interior, ou seja, um educador ajuda o seu educando a modelar o seu
progresso maturativo cerebral, desenvolvendo diferentes circuitos neuronais.
Esta ideia remete para uma outra, segundo a qual quando queremos algo,
queremos sempre mais o objeto que desejamos e queremo-lo de uma de-
terminada forma, ou seja, quando definimos como queremos que sejam as
nossas relações sociais, estamos também a definir como queremos ser. Deste
modo, o crescimento da nossa identidade pessoal e o crescimento das nossas
emoções também se requerem bidireccionalmente, entrecruzando o cogniti-
vo com o social (Sempre, 2019).
3. O Cérebro Social
O cérebro social de um ser humano age como agente no mundo e igual-
mente, reage ao real desse mundo, como explicita o neurocientista Neil Levy
(Cyrulnik, 2016, p.122, in Vasconcelos, 2017). Esta dualidade, de ser agente
e reagente, impõe que se tome o cérebro no contexto dos sistemas complexos
com retroação, onde dominam complexidades intersubjetivas inerentes ao
espírito humano.
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que pode ser consubstanciado neste conceito de “cérebro social” que alia órgão
do corpo (natura) e experiência no mundo (educação e cultura)” (Vasconcelos,
2017, p.36).
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origem de mutações nos genes de cada neurónio, de modo que estas muta-
ções são uma memória durável para a origem e desenvolvimento da célula.
Aliando, então, genética e vivências no mundo – ou seja, aliando as células
cerebrais e as sinapses à interrelação entre cérebros – pode-se concluir que o
cérebro constrói-se na interface entre a experiência e a genética, onde natu-
reza, cultura e educação se transformam num só elemento de estímulo para
a transmissão sináptica.
A neurobiologia interpessoal e os estudos neurobiológicos que têm vindo a
ser feitos têm mostrado a existência de uma estreita correlação entre as ex-
periências interpessoais e o crescimento biológico cerebral, pondo em evi-
dência a capacidade de os cérebros humanos se moldarem e se edificarem, a
partir das relações que estabelecem com outros cérebros humanos, destacan-
do também o papel determinante das relações de vinculação com as figuras
cuidadoras, num momento do crescimento humano em que as infraestrutu-
ras neuronais do cérebro social se estão a formar.
A vida do cérebro é o cérebro da vida social, em particular, porque o afeto
expressa fundamentalmente uma relação social. O afeto que os pais trans-
mitem aos filhos constitui a fonte da maturidade que a criança vai desen-
volver, num duplo sentido: capacidade para viver a vida com os outros e a
compreensão de que viver é um desafio que, afinal, não se pode enfrentar
sozinho.
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Resumo
No presente texto apresentamos algumas considerações sobre as articulações
entre práticas de intervenção social e subjetividade, tomando a educação
não escolar como uma forma específica de intervenção social. Apontando a
educação escolar como vetor de produção de sujeitos, postulamos que práti-
cas de educação não escolar configuram estratégia de (de)formação humana
que subverte as formas instituídas, para instituir outras e novas formas de ser
e estar no mundo. Descrevemos as práticas de educação não escolar como
um processo que promove a abertura para o mundo, afetando, animando,
fazendo corpo e forçando pensar o inédito, o imprevisível, o impensável da
vida. Defendemos, enfim, as práticas de educação não escolar como estraté-
gia de experimentação, de co-engendramento entre o humano e o mundo,
que instaura novos sujeitos.
Introdução
No âmbito do debate social mais amplo, algumas questões sobre o campo da
educação suscitam controvérsias, aparentemente, sem solução. Dentre tan-
tas, a discussão sobre o que é, efetivamente, educação continua despertando
interesse.
Em seu sentido amplo podemos dizer que a educação constitui o processo
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por meio do qual o humano vai se tornando sujeito1 à medida que desenvolve
suas potencialidades e se apropria de conhecimentos, informações, valores,
crenças, habilidades artísticas, etc. (Paro, 2010).
Entendemos que educação, portanto, constitui o processo de transformação
do humano em sujeito social por meio da sua gradual e contínua incorpo-
ração ao universo da cultura. Dito de outro modo, a educação constitui o
processo pelo qual a sociedade dá “forma à vida humana” (Bauman, 2009).
Nesse sentido, a educação não se restringe ao contexto escolar, posto que se
realiza por meio de um ostensivo e, ao mesmo tempo, sutil processo de for-
mação do qual ninguém escapa. A educação constitui, portanto, uma prática
social cuja principal função é ensinar o humano a aprender a tornar-se sujei-
to de práticas sociais.
De modo provocativo Meszaros (2005, p. 47) afirma que:
De fato, a educação produz efeitos mais sutis do que, apenas, preparar para
o mercado de trabalho em consonância com a ordem social do capital.
Contudo, ainda que a função da educação seja formar sujeitos para um mo-
delo determinado de sociedade, seus efeitos são “incontroláveis”. A socie-
dade não constitui um espaço neutro, uniforme posto que está formada por
diversas forças cujos interesses econômicos, políticos, tecnológicos, culturais,
etc, criam um campo de tensionamento contínuo, incidindo sobre o humano
como oportunidades de “aprendizagem”. São essas forças em tensão que
1 O termo sujeito será aqui usado, seguindo as postulações de Michel Foucault, para designar a posição na
qual o humano é compelido a viver de acordo com mandatos sociais estabelecidos à sua revelia e para os quais não
tem liberdade de escolha. O termo sujeito, portanto, designa a condição de subjugação da vontade de alguém a uma
força impositiva e perante qual não existe espaço de liberdade. O termo sujeitar refere-se ao ato ou condição submis-
sa em oposição ao termo dessubjetivar que designa a condição momentânea de libertação conquistada por meio de
práticas de resistência.
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Não há uma forma única de educação; a escola não é o único lugar onde ela
acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática
e o professor não é o seu único praticante. [ ... ] Da família à comunidade, a
educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontáveis práticas
dos mistérios do aprender; primeiro, sem classes de alunos, sem livros e sem
professores especialistas; mais adiante, com escolas, salas, professores e métodos
pedagógicos.
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requerido para cada período histórico. Com efeito, a história tem demons-
trado que para qualquer demanda – de guerreiros à burocratas - a educação
constitui o equipamento social que “forma” o perfil ideal de homem para o
modelo de sociedade. De forma nada sutil, a educação protagoniza o “pro-
cesso de produção de crenças e ideais, de qualificações e especialidades que
envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem
tipos [específicos] de sociedades. E esta é a sua força.” (Brandão, 2013, p.
11-12)
Nesse sentido, Gonzáles Rey (2009, p. 56) afirma que “a cultura representa
sempre uma multiplicidade de configurações subjetivas sociais e individuais
que, de forma contínua e progressiva, compõe e participa da construção de
perfis humanos de acordo com as diversas demandas do sistema social.”
De acordo com o referido autor, a cultura é inseparável dos processos sócio
políticos e econômicos que atravessam todas as produções sociais que, por
sua vez, estão configurados em uma dimensão subjetiva em todas as práticas
humanas, tendo um efeito direto sobre as representações dominantes que
orientam os comportamentos dos homens. Ou seja, o ser humano se faz his-
tórico pela apropriação dos elementos culturais transmitidos pela educação.
Corroborando o argumento acima Brandão (2013, p. 10) afirma que a edu-
cação “pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa
o saber e o controle sobre o saber como armas que reforçam a desigualdade
entre os homens, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos símbo-
los.” Ainda que se referindo à educação em seu sentido amplo, ambas asser-
tivas remetem à educação na sua forma escolar a qual, desde seu surgimento,
vem cumprindo essa função política e social. Discorrendo sobre a educação
nas sociedades primitivas, Brandão (2013, p. 29-30), demonstra a relação do
surgimento da escola com o início de um tempo
... em que a sociedade separa e aos poucos opõe: o que faz, o que se sabe com
o que se faz e o que se faz com o que se sabe. Então é quando, entre outras
categorias de especialidades sociais, aparecem as de saber e de ensinara saber.
Esse é o começo do momento em que a educação vira o ensino, que invente a
pedagogia, reduz a aldeia à escola e transforma “todos” no educador. O que
isso significa? Significa que, para além das fronteiras do saber comum de todas
as pessoas do grupo e transmitido entre todos livre e pessoalmente, para além
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a sociedade possui uma dimensão subjetiva que não é a soma das subjetividades
dos indivíduos”. (...) “Os processos de subjetivação que aparecem nas ações dos
indivíduos, geram novos espaços de subjetividades. Uma vez que esses espaços
sociais se geram na e pelas interações dos indivíduos eles “entram” em um outro
sistema que não é apenas a subjetividade das pessoas, mas é a subjetividade de
um espaço social complexo que tem uma capacidade geradora que está além das
intenções e ações das pessoas. A subjetividade é o mundo subjetivo dos cenários
sociais que afetam e são afetados pelos indivíduos de uma mesma história-cultura.
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aquilo que nos sustenta vivos - instaurando maneiras de pensar, sentir e agir
voltadas para o inédito da existência, instaurando processos de dessubjetiva-
ção, liberando as energias para outras possibilidades de existência.
Nesse sentido, em nosso percurso de estudos e pesquisas4 vimos afirmando
uma modalidade educativa “acontecimental”. Uma proposta de educação
que transcendendo o espaço físico da escola constitua um “entre-espaço”
particular, sutil, volátil e artesanal que, efetivamente, acolha do desejo. Tra-
ta-se de uma educação que, transversalmente, opere como “indisciplina” do
pensamento e que temos chamado uma educação não escolar5.
Por educação não escolar queremos designar os processos educativos que se
configuram em diferentes esferas da sociedade e definindo um vasto campo de
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Instituto Politécnico de Portalegre
b
CEC – Centro de Estudos Comparatistas da FLUL
Resumo
A partir da análise de três álbuns para a infância em que as emoções bási-
cas surgem representadas no texto e nas imagens, procura-se, neste artigo,
apresentar estratégias narrativas e pictóricas que visam suscitar a fruição e a
compreensão leitora, por um lado, mas também auxiliar o potencial recetor
infantil a identificar, distinguir e autorregular as suas próprias emoções atra-
vés da projeção identificativa com as personagens e as situações por elas ex-
perienciadas. Pretende-se assim demonstrar que a literatura para a infância,
sendo um subsistema artístico-literário que tem como finalidade primordial
suscitar o prazer estético, se pode instituir igualmente como um território
privilegiado para abordar as emoções, afigurando-se neste caso como um
recurso pedagógico para fomentar o desenvolvimento emocional desde a pri-
meira infância.
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Ler é relacionar cada texto lido aos demais anteriores (textos-vida + textos
lidos) para reconhecê-los, significá-los, assimilá-los; processo que dota o Leitor
da capacidade de Ad-mi-ra-ção (olhar que aprende e apreende) e o torna um
Leitor-Sujeito de sua própria História. Ato de leitura que é revolucionário, pois
transforma o leitor passivo em leitor ativo, um co-autor, doador de sentidos.
(Góes, 1996, p. 16).
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Deste modo, leitura reveste-se sempre de uma dimensão emocional por parte
do leitor, seja pela adesão seja pela projeção identificativa. Nesse aspeto, a
literatura capacita o leitor para uma leitura compreensiva, que não só o en-
volve afetivamente como lhe suscita o prazer de ler. No caso dos livros para
a infância, a perceção do livro como verdadeiro objeto estético dependerá,
inevitavelmente, da relação de complementaridade e de correspondência sig-
nificativa entre os dois discursos que coexistem, e se interseccionam, no livro
endereçado a esse público específico (e não só). Esse diálogo pictórico-verbal
possibilita, pois, não só a adesão afetiva do leitor ao objeto estético que se lhe
oferece ao olhar como simultaneamente favorece a mobilidade interpretativa
do potencial recetor infantil devido ao carácter plurissignificativo dessas duas
linguagens artísticas – a verbal e a gráfico-plástica.
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mesma. Por outro lado, cremos que o mais relevante, nesta narrativa, não é
o facto de apresentar uma família negra. O que realmente importa, e essa é
a grande mensagem que o livro transmite, é que é uma família feliz.
Já no que diz respeito ao livro Bernardo Faz Birra, do ponto de vista
simbólico, o facto de o protagonista surgir no telhado, num espaço urbano
despovoado e em ruínas, sob um céu cinzento a sinalizar a presença de uma
forte tempestade, é relevante por indiciar o gesto de autoexclusão a que a
personagem voluntariamente se submete. Efetivamente, tanto a expressão
facial como a postura corporal, de contenção e fechamento, evidenciam o
estado anímico da criança amuada, ideia corroborada pelo título, simboli-
camente colocado na representação icónica de uma espessa nuvem de fumo
que sai da chaminé e que indicia que o ambiente, físico, mas sobretudo emo-
cional, está metaforicamente contaminado e poluído, embora não se consiga
antecipar os motivos que terão estado na origem da birra de Bernardo.
Ao longo da narrativa, o discurso hiperbólico do narrador procura expli-
car os contornos de uma birra de proporções descomunais, que vai crescen-
do em espiral apesar das intervenções assertivas das personagens adultas da
obra que, repetidamente, lhe dizem «Já chega».
Se, na primeira parte da obra, o discurso acelerado se socorre de mecanismos
textuais como o paralelismo estrutural e anafórico, o capital lexical associado
à área semântica da tempestade e obviamente a hipérbole, na segunda parte,
o ritmo narrativo desacelera, sendo que os procedimentos narrativos e téc-
nico-literários se alteram, passando a existir um movimento em ritardando,
do universo até à tranquilidade do quarto de Bernardo, que naturalmente
já não se consegue lembrar, nem provavelmente o pequeno leitor, ardilosa-
mente interpelado pelo narrador, porque tinha feito uma birra tão grande.
Desconstrói-se desta forma, perante o olhar desprevenido da criança leitora,
a importância de uma birra, numa linguagem poética e visual altamente
congruentes e complementares.
Ou seja, se no livro Tanto! Tanto!, a emoção predominante é a alegria, no caso
de Bernardo Faz Birra é a ira, embora, em ambas as obras se assista a um re-
gresso tranquilo à calma e ao sono.
O último dos livros selecionado para esta análise é A Avó Adormecida, que pro-
voca um efeito desconcertante no leitor na medida em que na capa podemos
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Considerações finais
Literatura Infantil é um lugar de afetos onde moram as palavras e as ima-
gens, criando uma atmosfera poética que contribui para a formação estético-
-literária das crianças (pré)leitoras, um lugar repleto de sentidos que crianças
e potenciais leitores adultos vão (re)construindo com a sua particular forma
de ver e de sentir. É pela via da afetividade que os livros chegam aos leitores
e neles ficam a morar por vezes durante toda a vida. Há livros que marcam
porque nos transportam para um mundo mágico onde tudo é possível, há
livros que nos fazem rir e chorar, que nos comovem e nos fazem pensar em
nós e nos outros. Cada ser humano tem a sua história de leitura. Uma leitura
mais emotiva do que racional, assim o cremos.
Por isso, às crianças devem ser dados a ler livros imbuídos de riqueza poética,
livros que façam pensar e que deixem marcas indeléveis nos seus percursos
de leitores competentes e críticos. O adulto-mediador não deverá socorrer-
-se destes livros apenas com o pretexto de abordar o tema das emoções (ou
outro). Deve, acima de tudo, auxiliar a criança a descobrir o valor artístico
destes objetos estéticos e, se esse for o seu propósito educativo, partir para
uma fase posterior à leitura em que suscite a reflexão sobre as vivências das
crianças e os seus estados emotivos, ajudando-as a identificar e a nomear as
suas emoções, a verbalizar as situações em que as experienciam, as causas e
as consequências.
A reflexão conjunta, a partir dos livros ou de outros elementos desencadea-
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a
Universidade de São Paulo
bUniversidad Pablo de Olavide
Resumo
Há uma carência de pesquisas que identifiquem aspectos qualitativos dos bas-
tidores da animação sociocultural, especialmente, ao cuidado às pessoas que
atuam nessa área. A importância da vivência, da participação e do bem-estar
são valorizadas aos grupos, no entanto, a prática exige e recebe influências
diretas de questões subjetivas a esse profissional. Nesse contexto, a partir de
resultado parcial de pesquisa sobre o significado da Animação Sociocultural
a pessoas e equipes, este artigo visa responder por meio de pesquisa explora-
tória e qualitativa, “que tipo de influência as questões emocionais geram em equipes de
animação sociocultural?” com representantes de Uruguai, Argentina, Espanha
e Brasil. O presente texto relaciona as características de equipes de Anima-
ção Sociocultural com relações emocionais e os resultados expressam que as
necessidades emotivas, bem como relações interpessoais, propósitos pessoais,
vínculos e identificação com grupos são alguns dos pontos fundamentais de
atenção a essas pessoas que visam “animar” e dinamizar processos de desen-
volvimento e transformação social em diferentes partes do mundo.
Introdução
O século XXI vem sendo caracterizado cada vez mais por uma série de
mudanças sociais, globais e relacionais. Ao mesmo tempo em que há um
movimento de descobertas e incrementos tecnológicos e virtuais, há uma
necessidade crescente de atenção às questões sociais e de convivência.
Além dos desafios que a dinâmica atual nos apresenta, como o elevado trân-
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“Respeitar a si mesmo,
Respeitar aos demais e
ser Responsável em todas as suas ações”.
Gloria Perez Serrano
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2. Método de pesquisa
2.1 Processo utilizado: tipo de pesquisa, recolha e análise de dados
Para o desenvolvimento desta investigação, optou-se pela pesquisa explora-
tória de natureza qualitativa. Sabe-se que a pesquisa qualitativa pode res-
ponder a questões muito particulares, em geral, ela se preocupa, nas ciências
sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja,
ela trabalha com “[...] o universo de significados, motivos, aspirações, cren-
ças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à ope-
racionalização de variáveis” (Minayo, 2001: 21- 22).
Também caracteriza-se como exploratória, pois “[...] refere-se à descoberta
de ideias e intuições” como nos apresenta Selltiz et al. (1974:59), desenvolvi-
da por meio deste levantamento de dados unido a entrevistas semiestrutura-
das e temáticas, entrevistas em profundidade com profissionais do setor que
representam redes de animação sociocultural.
A recolha de dados para essa pesquisa reflete o que apresenta Mazzotti
(2000, p.163), de que “[...] as pesquisas qualitativas são caracteristicamente
multimetodológicas, isto é, usam uma grande variedade de procedimentos e
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Foi então que eu me dei conta que o que eu oferecia, gerava impactos impor-
tantes nas pessoas, porque se trabalhava a própria expressividade e isso é
fundamental que se tenha ferramentas para trabalhar. A vivência é essencial,
atravessando a experiência. O que acontece comigo, com a minha própria ex-
pressão, minhas capacidades artísticas e minha capacidade
de me vincular com o outro a partir da arte é uma bagagem muito
importante para um líder porque fortalece muito o seu interior e a
sua capacidade criativa. Isso é o que vai levar as ferramentas
para ir criando com os ‘emergentes’ sociais e com os diferentes
grupos. Assim, cada um sente que o indivíduo tem como recurso, é importante e
é necessário para o outro.
O tema das emoções também foi abordado com pessoa entrevistada de Es-
panha sobre as lacunas e pendências para avanço das equipes e dos profissio-
nais desse setor. Segundo ela,
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1 Passatempo Educativo
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quero estar aqui”, “eu nunca contei isso porque tinha medo”, são indícios de
que também se carece de espaços e propostas de “autocuidado” aos grupos.
Proposta essa que foi identificada num dos seminários de rede na Espanha
também, por identificarem necessidade.
Conforme bibliografia, às vezes, alguns membros se dão conta de coisas apa-
rentemente difusas, mas definitivas, como o sentimento de pertença, a ne-
cessidade de ter umas raízes, o calor, o apoio emocional, o reconhecimento... Todas elas
são garantidas normalmente através dos grupos (Blanco, Caballero e Corte,
2005).
Os resultados apontam que a ASC necessita de pessoas e de competências
relacionadas ao que exercem como animadores para dentro das próprias
equipes. Há algumas que são humanas e não profissionais: se necessita apro-
ximação, escuta ativa, habilidades sociais, empatia, distância profissional –
que está muito vinculada à educação emocional. Parte dos entrevistados sen-
tem que não deveriam se sentir mal com as necessidades do grupo, mas sim
tentar ‘empatizar’ – para que depois sim, seja possível falar das habilidades
profissionais. Primeiro, a parte humana.
Segundo entrevistada de Espanha, “a parte emocional está carente, total-
mente. Não se trabalha na formação técnica/ profissional a educação emo-
cional e sim, a questão prática do trabalho. Na escola, universidade tampou-
co. A não ser que haja intencionalidade das pessoas que atuam com isso”.
Dessa maneira, ao pensar que a intervenção visa mudanças e que, para isso,
é necessário ter criatividade para a resolução de problemas, outras pesqui-
sas apontam a importância de considerar a criatividade também como uma
manifestação da equipe.
Segundo Romo (2018), a criatividade reflete um processo mental a partir de
uma forma de pensar que tenha um resultado novo e valorizado. Para tal, há
uma pessoa com experiências, motivações e um ambiente para desenvolvê-
-la. Assim, muito vinculada à expressão artística, crítica e vivencial, a criati-
vidade é defendida pela autora como um valor a cada contexto que gere um
sentimento ou uma emoção específica.
Se conhecer, respeitar, não julgar, se não exercita o respeito, não se sabe o
que é. Apenas diz. É uma aprendizagem humana e emocional.
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3. Considerações finais
“Não há animação se não há uma equipe. É necessário que haja uma equipe,
senão podemos falar de outra coisa, genial e válida, mas não de animação.”
Itahisa Pérez-Pérez
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Referências Bibliográficas
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dad Pablo de Olavide.
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Catarina Mangasa, b, c
a
ESECS – Politécnico de Leiria
b
CICS.NOVA – Politécnico de Leiria–iACT
c
CI&DEI – Politécnico de Leiria
Resumo
O desenvolvimento emocional inicia-se nos primeiros anos de vida, tendo re-
percussões em todo o percurso académico e pessoal da criança e reflexos ine-
gáveis ao longo da sua vida. Este implica um conhecimento profundo sobre
si e sobre o mundo que a rodeia, envolvendo capacidades de comunicação
com os outros e de regulação das emoções nos diferentes contextos sociais.
O sucesso das interações e adaptações sociais da criança junto dos seus pares
e com os adultos que a acompanham no seu percurso desenvolvimental tem,
portanto, influência no seu sucesso nas mais diversas áreas da vida.
O artigo evidencia a relevância do papel do educador de infância neste per-
curso, através da manifestação de emoções positivas, da transmissão de con-
fiança e empatia e da capacidade em apoiar as necessidades das crianças.
Para o efeito, terá de aplicar estratégias proactivas de gestão comportamen-
tal, tendo em consideração o tipo de linguagem adotada que deve privilegiar
uma escuta ativa das emoções, valorizando a voz da criança e estimulando-a
a refletir sobre o que está a sentir e sobre a melhor forma de reagir a deter-
minadas situações.
Introdução
As emoções envolvem a experiência do afeto em si e a expressão/receção de
mensagens afetivas como resposta do organismo ao ambiente social (Hal-
berstadt, Denham, & Dunsmore, 2001). Estas respostas incluem uma com-
ponente fisiológica, associada às funções do corpo, cognitiva (espiritual) e
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contribuam para que a criança tenha acesso a uma panóplia de pistas que a
ajudem a comportar-se e a lidar com as suas emoções (Cadima et al., 2016).
Estas incluem, nomeadamente, o/a (Pianta, 2006; Rebelo, Veríssimo & Ma-
chado, 2013; Karstad; 2016; Cadima et al., 2016):
i. Estabelecimento de rotinas previsíveis;
ii. Organização dos tempos/espaços;
iii. Definição de regras claras, sempre que possível definidas em cocons-
trução com a criança;
iv. Transmissão das expectativas do educador/adulto à criança;
v. Reforço dos comportamentos positivos (e prevenção de comporta-
mentos disruptivos);
vi.
Respeito pelo tempo de reação e ativação das emoções da criança;
vii.
Escuta ativa da criança;
viii. Resposta às necessidades da criança através de elevados níveis
de apoio emocional;
ix. Valorização e incentivo à expressividade e desejo da criança comuni-
car as emoções;
x. Utilização de expressões faciais em contexto e descrição dos aconteci-
mentos que originam as emoções.
O interesse do pequeno sujeito em comunicar “implica saber-se escutado” e
supõe também ter coisas interessantes para dizer” (Silva et al., 2016, p. 62), o
que só acontece em “interações adulto/criança, caracterizadas por um ele-
vado grau de respeito, confiança, aceitação e estimulação verbal, desenvolvi-
das num clima emocional de relações positivas entre adultos e crianças e en-
tre crianças, que proporcionam múltiplas oportunidades de aprendizagem.”
(Silva et al., 2016, p. 106). Para que este tipo de interações ocorra e tenha
influência positiva no desenvolvimento integral da criança e no seu sucesso
académico e social, é fulcral que o educador de infância manifeste emoções
positivas, mesmo que, por vezes, tenha de camuflar alguns estados emocio-
nais gerados pelos contextos e situações vivenciadas, transmitindo confiança,
empatia e capacidade de apoio às necessidades das crianças (Brown, Vesely,
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Considerações Finais
O desenvolvimento emocional inicia-se muito cedo, sendo os primeiros anos
da infância extremamente relevantes para aumentar os níveis de confiança
e competência das crianças, na sua relação consigo e com o contexto acadé-
mico, pessoal e social. A comunicação (receção e produção de mensagens)
influencia este processo, podendo aumentar ou reduzir a capacidade de com-
preensão das causas e circunstâncias que ativam as emoções.
A forma como os educadores se dirigem às crianças e como as escutam é,
portanto, um fator relevante na sua capacidade de regulação emocional, pelo
que deve ser ajustada em função das necessidades particulares de cada uma
e de cada circunstância. Neste sentido, “[…] it seems imperative for the field
and, more narrowly, preschool centres to identify and expose teachers to ex-
pected emotional display rules. […] how educators emotionally act given
their perceptions of the emotional displays rules seems important. Program-
mes ought to be intentional about developing and working with teachers
to understand and enact these emotional display rules, and use forms of
emotional acting which may influence their interactions to young children.”
(Brown et al., 2018, p. 1784).
Para que as emoções sejam corretamente desenvolvidas na criança e a con-
duzam ao sucesso académico e social também o educador/ a família devem
conhecer as mais valias da inteligência emocional, na medida em que é im-
pulsionadora da capacidade para aprender (Goleman, 2019). A inteligên-
cia emocional está naturalmente associada à motivação, ao autocontrolo e
à autorregulação, capacidades que auxiliam o sujeito (criança ou adulto) a
desenvolver-se de forma salutar, empática e esperançosa.
Referências bibliográficas
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Cadima, J.; Ferreira, T.; Guedes, C.; Vieira, J.; Leal, T. & Matos, P. (2016). Ris-
co e regulação emocional em idade pré-escolar: A qualidade das interações
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Resumo
Pretende-se, neste artigo, apresentar uma visão multifacetada sobre a im-
portância das artes como metodologias educativas. A nossa reflexão foca-se
em mostrar que as expressões artísticas são uma mais-valia quando usadas
de forma complementar com outras áreas de conhecimento. Neste sentido,
há um olhar valorativo e compreensivo sobre o contributo que as diferentes
expressões artísticas têm dado para modificar as metodologias educativas. O
funcionamento e a génese destas atividades artísticas integram e articulam
diferentes saberes e como atividades globalizantes contribuem para o sucesso
educativo. As definições de educação e arte são dinâmicas e flexíveis tornan-
do-se adaptáveis aos novos modelos educativos que vão surgindo. Estas novas
dinâmicas educativas, sempre em mutação, vêem-se obrigadas a redescobrir
outros métodos de transmitir conhecimento e intervir socialmente. As vias
de ensino tradicionais estão esgotadas e a práticas de quem ensina têm de
incluir duas especificidades obrigatórias: a transmissão de conhecimento e
a necessidade de compreensão do outro. Neste sentido, quando se ensina é
necessário perceber a predisposição do outro para a aprendizagem e per-
ceber quais os fatores endógenos e exógenos que afetam diretamente a sua
capacidade de aprender. Esta abordagem colaborativa e interativa torna-se
assim numa intervenção concreta capaz dar maior motivação e valorizar o
conhecimento de quem aprende. Esta forma de atuação tem sido colocada
em prática com criatividade, nomeadamente quando se estabelecem com-
promissos em educar recorrendo às diferentes formas de arte.
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Introdução
A arte é uma atividade multissensorial, a sua prática cria ou regenera a ca-
pacidade criativa, promove a compreensão do abstrato e desenvolve o pen-
samento crítico e reflexivo. A arte gera conhecimento na partilha das suas
propriedades, que são sobretudo propriedades energéticas “traduzidas em
fruição e abertura emotiva e intelectual. Porque, conhecer é ter consciência
de sabermos o que essas características são ou podem ser, usando-as e usu-
fruindo-as como desejarmos, livremente, na sua própria especificidade de ser
o que são e de nós sermos o que somos” (Castro E. M., 2014).
Neste artigo, a intenção não é explorar o conceito de arte nas suas dinâmicas
processuais e profissionais, nomeadamente os territórios concretos do aspeto
formativo, da construção criativa, da sua divulgação ou da promoção da
obra e do artista, a intenção é expor possibilidades concretas de como utili-
zar a arte como ferramentas educativas. Vários autores, Silva (2008), Villaça
(2014) referem que o conceito de educação pela arte foi desenvolvido na
segunda metade do século XX, por Herbert Read, numa obra sua intitulada
«Education throught art», segundo este poeta e crítico de arte britânico, a
educação deveria passar “pelos sentidos, membros, músculos dos educandos
e não resumir-se apenas a ideias abstratas, associando-a com a função ima-
ginativa, muito presente entre as crianças e os artistas” (Villaça, 2014, p. 80).
Para os profissionais da educação que utilizam as artes como metodologia de
trabalho Herbert Read foi o autor que mais contribui para o desenvolvimen-
to de uma educação centrada na criatividade, particularmente pela forma
empenhada que tentou “tornar visível o papel das artes na educação, bem
como, apontar caminhos que levem à sua aplicação às necessidades atuais”
(Silva, 2008, p. 2).
Contudo, o termo educação é vasto e polissémico, abarcando teorias e defi-
nições relativas a uma construção alargada do conhecimento, saber transver-
sal, resultado este só possível atingir quando são “encontradas metodologias
que possibilitem aprendizagens nas quais o bem-estar seja um objetivo, ser
seja uma condição, ouvir seja uma atitude, mediar seja uma postura e permi-
tir seja uma condição” (Libânio, 2013, p. 12).
Para isso, é importante que a educação pela arte se centre na “expressão li-
vre, na espontaneidade, no jogo, na inspiração e na criação, ou seja, apesar
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A flexibilidade curricular pode afirmar-se como uma boa proposta para mo-
dificar as práticas pedagógicas. Os Educadores (em sentido lato) têm assim
oportunidade para extrapolar a rigidez clássica pela qual se pautam os mé-
todos de ensino. As expressões artísticas têm um papel cada vez mais valioso
como ativadores cognitivos, aumentam o desenvolvimento intelectual, a re-
flexão criativa, estruturaram o pensamento abstrato e ajudam a saber corre-
lacionar entre o que se vê e o que se sente.
A interpretação de um sentimento obriga-nos a compreender as emoções
que lhe estão subjacentes, também nas expressões artísticas e nas artes em
geral, este exercício acontece quando o espectador não entende a forma, a
textura, o desenho, a expressão corporal ou o texto representado. Este con-
fronto e dificuldade de entendimento, entre o que a obra representa ou pre-
tende representar, está intimamente ligada à falta de articulação e na forma
escolar é conceptualizado o currículo escolar.
Partindo dessa ideia, os factos dão relevo a um entendimento mais polido
e mais aprofundado que leva à reflexão critica, à discussão, ao debate e à
apreciação conjunta da necessidade de ser articularem todas as áreas disci-
plinares. Ao proporcionarmos atividades artísticas e culturais aos alunos no
contexto educativo, estamos a contribuir e a provocar alterações significati-
vas no seu processo de crescimento, para Lowenfeld (1997) “quanto maior
for a oportunidade para desenvolver uma crescente sensibilidade e maior a
conscientização de todos os sentidos, maior será também a oportunidade de
aprendizagem” (Lowenfeld, 1977, p.17).
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Um dos maiores desafios deste século é saber de que forma se podem com-
bater os fatores supramencionados e quais os principais motivos que geram
este desinteresse pela escola demonstrado pelos alunos.
Perante este panorama, emergem as seguintes questões: Será a escola de
hoje um local pouco atrativo e sem capacidade para incentivar os alunos a
gostarem do ambiente que vivem no contexto educativo? Os educadores/
professores têm dificuldade em transmitir os conteúdos de forma a torná-los
apelativos? Os conteúdos lecionados na escola vão de encontro às expectati-
vas que os alunos têm, de acordo com o que desejam Ser a nível profissional
no futuro? As novas tecnologias e a facilidade de acesso à informação fazem
com que os alunos desvalorizem a escola pela forma célere que podem en-
contrar qualquer dispositivo móvel com acesso à internet?
Esta panóplia de questões são sintoma de que a escola tem de se apressar a
modificar o seu modus operandi e adaptar-se aos novos modos e ritmos de vida
dos alunos de hoje. Apenas com as respostas a estas questões, poderemos sa-
ber que mudanças se devem operacionalizar para que os ajudar os alunos a
melhorar o seu rendimento académico.
O mundo está em constante transformação, as pessoas mudam, por sua vez
mudam também os hábitos, a concretização e a motivação para determina-
das das tarefas. Porém, nem sempre se mudam questões centrais no proces-
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Figura 1 - Imagem de sala de aula no ano de 1907 Figura 2 - Imagem de sala de aula no ano de 2017
1 https://dre.pt/pesquisa/-/search/245336/details/maximized
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
Considerações finais
Procurou-se neste artigo discutir as possibilidades que existem para aumen-
tar as competências específicas possíveis através das artes como ferramentas
de intervenção socio educativas e a importância que podem ter na formação
dos alunos, nomeadamente as que os impelem, a ser mais participativos e
interativos na comunidade onde estão inseridos.
A seleção das imagens apresentadas durante este trabalho são fruto de ações
desenvolvidas em escolas onde se privilegia o apoio socio terapêutico e psi-
cossocial com recurso a intervenções artísticas. Para garantir o anonimato, o
nome das escolas não foi colocado nas legendas das imagens supra apresen-
tadas.
Como se pode constatar, todas as leis para a educação referem a importância
de se implementarem nas escolas novas metodologias de trabalho, particu-
larmente planos de ação que privilegiam a execução de atividades artísticas,
assentes em modelos intervenção colaborativos e de cariz interdisciplinar.
Investir em metodologias inovadoras e criativas pressupõe objetivamente
melhorar as aprendizagens dos alunos, implementá-las e transformar a reali-
dade do contexto educativo e as diferentes dimensões que contribuem para a
aprendizagem: motivação, participação, envolvência, partilha, entre outras.
A transformação dar-se-á por via da adaptação contínua de práticas pedagó-
gicas, sem nunca esquecer a importância de realizar um bom diagnóstico das
necessidades de cada aluno e do contexto social onde a escola está inserida.
A intenção de recorrer às diferentes expressões artísticas é optar por evo-
luir e usar modelos de intervenção social e educativa: proactivos, dinâmicos,
permeáveis, criativos que enriqueçam as aulas e melhorem o desempenho
académico dos alunos.
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
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a
ESECS – Politécnico de Leiria
b
CICS.NOVA – Politécnico de Leiria
Resumo
O acolhimento residencial é uma medida de proteção de crianças em perigo
visando protegê-las dos contextos de perigo de onde provêm, proporcionan-
do-lhes condições que permitam o seu bem-estar e desenvolvimento adequa-
do, e a preparação para a autonomia de vida.
A sujeição a circunstâncias de perigo e respetivos impactos concorrem para
que estas crianças e jovens estejam em situação de grande vulnerabilidade.
Os complexos desafios a que estão sujeitas levam as instituições acolhedoras
a enfrentar necessidades de melhoria das suas próprias dinâmicas. O Projet’
Ar-te, financiado através do Programa Crianças e Jovens em Risco da Fundação
Calouste Gulbenkian, foi desenvolvido entre 2012 e 2015 na Casa do Canto,
sob direção da Associação Portuguesa para o Direito dos Menores e da Fa-
mília – CrescerSer.
Um dos eixos deste projeto foi o Programa de Desenvolvimento de Compe-
tências para a Vida, que contempla a intervenção de relevo nas estratégias
de regulação emocional. Através de entrevistas etnobiográficas a duas jovens
que integraram o projeto, procurou-se compreender as suas perceções sobre
o impacto do PDCV nos seus quotidianos em autonomia de vida. Os resulta-
dos revelam momentos significativos durante o acolhimento residencial que
parecem ter tido impacto significativo na regulação das emoções e gestão da
autonomia de vida.
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Introdução
O acolhimento residencial é uma medida de promoção de direitos e proteção
em regime de colocação, prevista na lei de proteção de crianças e jovens em
perigo (lei 147/99, de 1 de setembro). Esta medida é aplicada em situações
em que crianças e jovens se encontram em perigo no seu meio natural de
vida, estando os cuidadores ou responsáveis legais reconhecidamente inca-
pazes de afastar o perigo em que as mesmas se encontram. A aplicabilidade
do acolhimento residencial visa, assim, proteger as crianças e jovens dos con-
textos de perigo no seu ambiente de origem, proporcionando-lhes condições
que permitam o seu bem-estar e desenvolvimento adequado, e a preparação
para a autonomia de vida, principalmente nos casos em que o retorno à fa-
mília de origem não tem possibilidades de se concretizar.
As crianças e jovens em acolhimento residencial encontram-se em situação
de desvantagem face às que se desenvolvem em contextos familiares comuns.
Às vulnerabilidades da própria infância e adolescência, somam-se as que de-
correm da exposição a circunstâncias de perigo e respetivos impactos. Por
isto, os complexos desafios a que estão sujeitas nos seus percursos de vida le-
vam as instituições acolhedoras a enfrentar necessidades de melhoria das suas
próprias dinâmicas. O Projet’ Ar-te, financiado através do Programa Crianças
e Jovens em Risco da Fundação Calouste Gulbenkian, foi desenvolvido entre
2012 e 2015 na Casa do Canto, sob direção da Associação Portuguesa para
o Direito dos Menores e da Família – CrescerSer. Um dos eixos deste projeto
foi o Programa de Desenvolvimento de Competências para a Vida, que con-
templa a intervenção de relevo nas estratégias de regulação emocional.
Através de entrevistas etnobiográficas a duas jovens que integraram o proje-
to, procurou-se compreender as suas perceções sobre o impacto do PDCV
na regulação emocional e nos seus quotidianos em autonomia de vida. Os
resultados revelam experiências significativas durante o acolhimento residen-
cial que parecem ter tido resultados significativos na regulação das emoções
e gestão da autonomia de vida.
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
Procedimentos metodológicos
Para compreender o impacto proporcionado através do PDCV do Projet’
Ar-te, foram realizadas entrevistas etnobiográficas centradas nas subjetivi-
dades e reflexividades de duas jovens (Francisca e Diana2) que vivenciaram
o projeto durante um ano. Estas jovens, maiores de idade, encontravam-se
com aplicação de medidas de autonomia de vida, apoiadas pela ESAAC. Os
dados recolhidos nas entrevistas como conversas (Burgess, 2001) permitiram
conhecer as perceções subjetivas sobre as competências adquiridas, durante
o acolhimento residencial, em várias dimensões da vida das jovens: “É uma
opção que tem por base um profundo cepticismo sobre a possibilidade de o esquema de per-
guntas e respostas da entrevista tradicional, mesmo utilizado com flexibilidade, captar com
profundidade experiências subjectivas” (Flick, 2005: 99).
Estes testemunhos que permitiram compreender as perceções sobre os im-
pactos da intervenção na regulação emocional e outras competências para a
vida adquiridas durante o período de acolhimento residencial e após a saída
do mesmo, no âmbito do acompanhamento da ESAAC. A análise temática
do conteúdo das entrevistas foi realizada com recurso ao software MAXQDA.
2 Nomes fictícios
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‘Ah, …, estás a melhorar! Muito bem!’, pronto, ainda bem [risos]” (Francisca).
Tanto Francisca como Diana ilustram formas de acautelar sensatez nas de-
cisões relacionais que tomam: [...] as pessoas, às vezes, não são aquilo que parecem e
têm sempre aquele lado obscuro, que nunca ninguém vai saber” (Francisca); “[...] aprendi
com algumas experiências que tive, a reconhecer uma coisa que eu não queria para a minha
vida, uma pessoa que eu não queria para a minha vida” (Diana). Francisca identifica
transformações na gestão de stress e autocontrolo: “Agora não sou mal-educada
para os professores [risos]… [Dantes era mal-educada] Para toda a gente…! […] E agora
consigo ser mais calma, falar como deve ser, para que as pessoas não me entendam mal,
porque… sou muito irónica a falar” (Francisca).
Nos casos de ambas as jovens, a rede familiar é fraca, limitada a uma ou duas
pessoas de referência com quem sentiram necessidade de manter relaciona-
mentos mais próximos. Apesar da existência de condicionantes externos, a
continuidade das relações e a aproximação das jovens às suas redes pessoais
foi alvo de atenção por parte dos profissionais da Casa do Canto.
A regulação das competências emocionais apresenta reflexos no recurso aos
serviços da comunidade e na formação cívica: “Conhecemos outras instituições,
conhecemos outras realidades. […] Ir ao banco, porque eu não ia ao banco, nem tinha
conta bancária… […] ir ao supermercado […] Essas pequenas coisas, foi na Casa que
aprendi” (Diana). Francisca relata uma experiência semelhante: “[...] mexer no
multibanco, também não sabia… [...] Tudo o que seja do exterior… assim, instituições
públicas… [...] Foram eles que me ajudaram em tudo” (Francisca).
A Casa do Canto foi permitindo a autonomização progressiva das jovens, a
sua abertura e estratégias usadas perante situações desconhecidas: “‘Eu não
sei onde é que se muda a morada, pode-me ajudar?’ [risos] Porque dantes nem sequer ajuda
eu pedia…” (Francisca). Esta necessidade afigura-se como mais urgente no
período que antecede a saída da instituição: “Eu, nas últimas semanas, eu só pedia
‘Por favor, levem-me ao Centro de Saúde para eu saber como é que peço uma consulta, como
é que eu faço isto’…” (Francisca).
Algumas das estratégias utilizadas na implementação das atividades do Pro-
jet’Ar-te são diferenciadas pela dinâmica motivadora na aquisição de com-
petências. Quando incentivada a pensar uma atividade em que tenha par-
ticipado com o objetivo de criar competências para a gestão do domicílio,
Francisca identifica prontamente “[...] a [atividade] ‘donas de casa não desespera-
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
das’ [risos] [em] que [as jovens] tinham de ir, no mínimo de tempo possível, passar uma
camisola a ferro como deve de ser, ou uma camisa, umas calças… depois, tinham de ir a
correr para o quarto fazer a cama… com o resguardo, os lençóis, tudo… Depois, ir a cor-
rer para a cozinha, para lavar um copo, um prato e os talheres… E depois tinha ordens,
primeiro é o copo, depois é que são os talheres e o prato, por causa da gordura… […]”
(Francisca). Esta atividade contemplava sessões informativas prévias e a atri-
buição de prémios às vencedoras, o que motivava as jovens no cumprimento
das tarefas propostas.
Estas competências têm ecos na vida autónoma que se inicia após a saída da
instituição: “Desde essa palestra sobre a roupa que todas as vezes que meto roupa a lavar
penduro as minhas camisolas num cabide”; “[...] tenho que saber cozinhar para mim! [...]
já fiz frango estufado… [...] massa, já fiz arroz, já fiz bifinhos com cogumelos e batatas
fritas [...] Feijão com atum, aquelas saladas rápidas… ervilhas, [...] salsichas… peixe
cozido, salmão” (Francisca). Diana refere que se sente confrontada com a difi-
culdade ou falta de motivação para cozinhar apenas para si própria, socor-
rendo-se de uma pequena rede de amigos que a tem ajudado a ultrapassar
este desafio: “[...] às vezes, não cozinho tanto, porquê? [...] Porque é só uma pessoa,
então torna-se chato. Muitas vezes, é só para ti. Então, comeres sozinha…” (Diana).
A fase final do acolhimento foi sentida por ambas as jovens como um período
de grande ansiedade, existindo, simultaneamente, a vontade de sair da casa
e a incerteza do que seria a vida autónoma. A este propósito, Diana refere:
“E eu sentia-me preparada! E toda a gente me dizia, perto de mim, mas eu chegava a
dizer: ‘Mas será que eu não estou preparada?’”. As jovens entrevistadas aderiram à
ESAAC antes de completarem 18 anos, no período que antecedeu a saída
da casa de acolhimento, ambas com aplicação de medida de Apoio para a
Autonomia de Vida.
O momento de saída da casa é um marco significativo na vida das jovens:
“Então, eu pedi à Dra. … para fazer um jantar como eu gostasse, com tudo o que eu gosta-
va! Foi lasanha, foi a minha sobremesa preferida, e nesse dia… acreditas que saímos de lá
todas a chorar…? [...] E eu disse ‘Eu saí daqui, não foi com técnicos nem com monitoras:
eu saí daqui com amigos’. E isso é muito importante… que tu saias de lá com um elo de
amizade. E isso, para mim, foi muito bom” (Diana). Em autonomia de vida, as jo-
vens referiram a existência de contactos com a pessoa de referência escolhida
entre a equipa da instituição: “[...] havia aquela coisa de [...] ser profissional e de não
estar lá diretamente para mim, mas sempre tive curiosidade de a conhecer melhor. É mesmo
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
muito boa pessoa e fez um excelente trabalho comigo e com todas as que passaram nas mãos
dela” (Francisca). Também Diana mantém contacto e sente a continuidade
na relação com alguns profissionais: “[…] Ela pediu-me o meu contacto e eu dei-
-lho. E mais tarde ela ligou-me para a gente conversar um bocadinho, pronto, também não
há aquele… cortar de ligação” (Diana). As jovens relataram momentos em que o
apoio psicossocial prestado pela ESAAC foi relevante para o seu bem-estar
após o acolhimento: “[Procuro apoio para] Desabafar. Adoro falar com ela” (Fran-
cisca); “[...] telefona para saber se está tudo bem, se eu preciso de alguma coisa… Agora,
quando souberam que eu andava grávida… sempre foram muito queridas, deram-me muito
apoio” (Diana).
Conclusão
Os jovens que saem de casas de acolhimento enfrentam mais desafios nos
seus processos de autonomização de vida do que os que nunca experiencia-
ram o acolhimento residencial. Estes desafios prendem-se com as razões que
os levaram à entrada no sistema de promoção e proteção e, em particular,
às casas de acolhimento residencial. É reconhecida a importância de investir
em programas de apoio e acompanhamento à autonomia de vida (Barth et
al., 2009; Georgiades, 2005). A importância do desenvolvimento de com-
petências pessoais e sociais prende-se, também, com a reconfiguração das
casas de acolhimento e a sua aproximação a modelos familiares (Leandro et
al., 2006), como espaços onde a participação dos jovens é considerada nas
atividades da vida diária.
A intervenção processa-se gradualmente, ao longo do tempo de acolhimento,
e em várias dimensões da vida dos jovens, até que seja possível uma verda-
deira autonomia de vida. Neste sentido, a regulação emocional é a base para
a construção de um processo de autonomização. O Projet’Ar-te integra esta
componente como uma dimensão vital, uma vez que a autoestima, a con-
fiança, o relacionamento interpessoal e a gestão do stress e autocontrolo, são
destacadas, nas vozes das entrevistadas, como aquisições significantes duran-
te a permanência na instituição e no pós-acolhimento.
As subjetividades e reflexividades das jovens permitiram compreender que
as jovens sentem necessidade de libertação do sistema de acolhimento e, ao
mesmo tempo, experienciam desamparo e solidão. A implementação do
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
Bibliografia
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
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Conferência Internacional Emoções, Artes e Intervenção
Clara Leão
Resumo
Levada a cabo num contexto prisional, uma experiência de criação coreo-
gráfica através da Dança Criativa envolveu um grupo de jovens reclusos e
um igual número de bailarinas, alunas de uma escola de dança. O trabalho
foi orientado para que cada participante recluso pesquisasse o que nesse tem-
po e modo fosse a sua visão de si próprio, do mundo, e da sua relação com
o outro. Às participantes bailarinas a orientação foi no sentido de explorar
formas e razões de conflito com escassa, ou nenhuma, possibilidade de reso-
lução. Entender o outro, explorando os diferentes caminhos da empatia, foi o
passo seguinte que permitiu chegar a um “aqui e agora” real, de corpos com
atitudes reais, de pensamento organizado em torno do “eu sou, tu és”, e de
emoções que partem de si e voltam com o outro.
As Circunstâncias
O projecto Pavilhão Mozart, criado pela Sociedade Artística e Musical dos
Pousos (SAMP) com a parceria da Escola de Dança Clara Leão (EDCL) e do
Estabelecimento Prisional de Leiria – Prisão Escola (EPL-PE), e financiado
pelo programa PARTIS/Gulbenkian, pelo Portugal Inovação Social e pela
Caixa Agrícola, dividiu-se em duas partes. Na primeira, os jovens reclusos
trabalharam numa versão da ópera Così Fan Tutte, apresentando o trabalho
daí resultante em três sessões públicas, dentro do estabelecimento prisional.
Na segunda parte, destinada a um ano de residências artísticas, foram pro-
duzidos trabalhos nas áreas da dança, do teatro e da música, tendo cada
residência a duração de três meses, com sessões bissemanais, e também apre-
sentação pública do seu resultado nas instalações do EPL-PE. Em Novembro
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O Processo – rapazes
Nas primeiras sessões procedi à explicação do conceito e formas de fazer da
Dança Criativa, já que o seu entendimento é mais importante do que a pro-
dução de passos mais ou menos sugeridos ou copiados, e só a sua compreen-
são pode possibilitar uma real aprendizagem e exploração dos elementos da
Dança Criativa que permitam a criação de movimento próprio que, por sua
vez, sirva para alargar o alcance e a capacidade expressiva de cada um (Gil-
bert, 1992). A Dança Criativa foi explicada como uma possibilidade de ex-
pressão artística ao alcance de todos, já que o necessário desenvolvimento de
capacidades parte, sempre, da realidade física, emocional e mental de cada
um, e progride respeitando todas as velocidades e níveis de aprendizagem al-
cançados. Assegurei aos rapazes que a criatividade é uma possibilidade com
que todos nascemos, um direito de encontrar soluções, de produzir beleza, e
de criar estéticas particulares que nos traduzam, e não um atributo especial
de uns poucos bafejados com essa capacidade, errada e frequentemente con-
fundida com excelências de desempenho técnico (Garcia von Hoegen, 2019).
Expliquei também que, dado tratar-se de uma residência artística de curta
duração e dirigida a pessoas sem qualquer contacto prévio com dança, não
se fariam quaisquer aprendizagens técnicas - salvo se alguma se revelasse de
crucial importância para a composição - e iríamos apenas trabalhar na pes-
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O Processo – bailarinas
Mantidas, sem entrar em pormenores, ao corrente do trabalho que estava a
ser feito com os rapazes (de forma a não serem colocadas na situação de tudo
saberem e perderem por isso alguma “frescura” na descoberta do caminho
que fariam em conjunto), as raparigas dividiam-se em dois grupos: o grupo
das que já tinham tido contacto com reclusos num projecto anterior e ansia-
vam pela repetição da experiência marcante que tinham tido, e o das que,
pela primeira vez colocadas perante o desafio, se dividiam entre a vontade de
o levar a cabo e os receios, naturais, sobre o que iriam encontrar e como se
iriam sentir. Porque existiam estas duas realidades, deu-se o facto interessante
de serem as adolescentes, ou jovens adultas, a explicarem às outras o que já
tinham visto, vivido e sentido, fazendo-as perceber que o receio que sentiam
era natural, assegurando-lhes que iriam encontrar nos rapazes simpatia e
timidez, e garantindo que depressa se esqueceriam das grades que as cerca-
riam e estariam a trabalhar todos para o mesmo fim.
Saliente-se aqui que todas as alunas com 16 ou mais anos foram convidadas
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a
ESECS – Politécnico de Leiria
b
CICS.NOVA.IPLEIRIA
c
CIES.IUL
d
APCEP
Resumo
A criação de oportunidades de aprendizagem para seniores, em contexto de
ensino superior, tem permitido o desenvolvimento de atividades intelectuais,
físicas, culturais e sociais contribuindo para os objetivos do envelhecimento
ativo.
No caso do Programa IPL60+, os estudantes seniores têm a possibilidade de
escolher unidades curriculares das escolas do Politécnico de Leiria, em áreas
científicas muito diversas, nomeadamente no domínio das linguagens artís-
ticas. Neste relato, propomo-nos refletir sobre as iniciativas de aprendiza-
gem ao longo da vida dirigidas aos seniores, em particular sobre o Programa
IPL60+; analisar, do ponto de vista estatístico, a participação dos estudantes
do IPL60+ nas unidades curriculares no referido domínio, no período com-
preendido entre 2010 e 2019, bem como refletir sobre o envolvimento dos es-
tudantes seniores na dinamização de atividades complementares nesta área.
1. Introdução
Embora envelhecer seja um fenómeno incontornável do ciclo de vida de
cada indivíduo, é também um processo complexo e singular, como referem
Pimentel e Lopes (2017, p.142), “Não há um caminho único, existem múl-
tiplas formas e possibilidades de envelhecer e de viver a velhice.” A par-
ticipação em contextos de aprendizagem no ensino superior é uma dessas
possibilidades que, simultaneamente, permite o acesso a variadas áreas do
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“[…] são uma excelente ferramenta de trabalho com este tipo de população, na
medida em que ao apelar ao lúdico, à descoberta e à experimentação constante,
proporcionam nas pessoas que se encontram nesta faixa etária, uma via de
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2. Metodologia
Trata-se de um relato de experiência que se configura num estudo descriti-
vo, de abordagem quantitativa, com o foco na participação dos estudantes
do IPL60+ nas UC das áreas das linguagens artísticas. Os objetivos são o
de perceber, do ponto de vista estatístico, a relevância atribuída, por parte
dos estudantes seniores, às áreas das linguagens artísticas, desde o ano letivo
2010- 2011 (ano a partir do qual a inscrição em pelos menos uma UC de
licenciatura se tornou obrigatória), e de refletir sobre o seu envolvimento na
dinamização de atividades neste domínio.
O cenário do estudo foi desenvolvido no Programa IPL60+, a partir da consul-
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Gráfico 1 – Áreas com maior número de estudantes do IPL60+ inscritos entre o ano letivo 2010-11 e 2018 -19
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4. Reflexão conclusiva
O interesse pelas linguagens artísticas, nas suas diversas expressões e mani-
festações, tem sido regular entre os estudantes do Programa. Quer nas UC
dos diversos cursos do Politécnico em que se inscrevem, quer nas atividades
do Programa, essa regularidade é evidente e em alguns anos revelou ser das
áreas mais procuradas pelos estudantes. Quando são convidados a expressar
as suas opiniões sobre as atividades realizadas ao longo do ano letivo e a
apresentar propostas para o ano seguinte, as atividades socioculturais e artís-
ticas são valorizadas e, com frequência, solicitam um maior investimento nas
mesmas, como por exemplo no teatro e na dança.
Como acontece com muitos dos participantes em atividades artísticas e ex-
pressivas promovidas pelos projetos socioeducativos (Leal, 2017; Taberner
Palop, 2014) grande parte dos estudantes seniores do IPL60+ que participam
nos diversos grupos que apresentámos neste texto nunca haviam desenvolvi-
do qualquer atividade artística. Desta forma, experimentam novas formas de
expressão e sentem-se gratificados pela possibilidade de crescimento pessoal
e de autoconhecimento que as mesmas lhes proporcionam. Sentem, também,
que alguns dos resultados alcançados, nomeadamente as dramatizações, as
interpretações musicais, as danças levadas a público, as telas que pintaram,
os livros publicados ou as histórias digitais lhes permitem deixar algo que
permaneça na memória das gerações vindouras. Sousa, Patrão e Vicente
(2012, p. 264) falam da necessidade de “criação de sentido e de legado”.
Procuramos deixar algo positivo para as gerações seguintes, o que nos dá um
sentido de continuidade e de permanência simbólica.
Relatam com satisfação e orgulho a surpresa dos filhos, dos netos ou dos ami-
gos, ao assistirem às suas apresentações públicas e ao descobrirem a sua ou-
sadia e a sua vivacidade. Esta é uma perspetiva corroborada por Leal (2017,
p.36) quando afirma que o envolvimento dos seniores em atividades artísticas
se constitui
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Enfatizamos, por fim, a utilização destas formas de expressão para fins so-
lidários. A SessenTuna e o Grupo de Jograis deslocam-se, regularmente, a
instituições de cariz social a fim de atuarem para crianças, pessoas idosas
ou pessoas com deficiência. Estas atuações realizam-se em ambientes des-
contraídos e têm como principal objetivo proporcionar momentos de convi-
vência e de interação social, quebrando o isolamento a que, por vezes, estas
pessoas estão sujeitas.
Bibliografia
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envelhecimento ativo (pp. 101-128). Lisboa: Coisas de Ler.
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a
Politécnico de Leiria
b
CI&DEI – Politécnico de Leiria
Resumo
Este artigo parte do reconhecimento dos valores identitários, relacionais, his-
tóricos e culturais da literatura, do seu potencial transformador e da neces-
sidade de construção de conhecimento entre emoções e arte da palavra que
sirva a vida, através de uma intervenção criativa nos contextos em que os
leitores se movem. Tendo por referência um paradigma sociocultural de lei-
tura, de leitura dialógica (Serrano, Micerva e Larena 2010), herdeira de Pau-
lo Freire e do modelo transacional da leitura (Rosenblatt,1994), objetiva-se:
i) conhecer o papel que a leitura tem nas vidas quotidianas dos participantes
do Clube de Leitura e Escrita 60+ (CLE 60+); ii) identificar modos como os
participantes constroem significados em torno das suas práticas de leitura no
CLE 60+ e iii) refletir sobre as implicações políticas dos dados obtidos. O
estudo revela que os leitores do CLE 60+ manifestam uma adesão emocional
aos livros propostos, escolhendo os objetos a ler, lendo com prazer e/ou per-
sistindo em vencer a resistência da leitura; desenvolvem empatia narrativa,
manifestada na compreensão face às personagens e mundividências textuais;
usam a escrita como modo de expressão e fruição, tendo-se confirmado que
se geram cumplicidades e se desenvolve o gosto por uma leitura mais ativa e
partilhada que amplia sentidos pessoais.
Introdução
A perspetiva de formação literária de base humanista subjacente ao artigo
que se apresenta parte de três pressupostos: 1.º) a participação em práticas
culturais e artísticas constitui um direito inalienável de desenvolvimento das
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Metodologia
Contexto e participantes
Uma brevíssima reconstrução da história do clube de leitura e de escrita 60+
do Politécnico de Leiria permite-nos afirmar que este foi criado há apro-
ximadamente 10 anos pelo desejo de uma estudante de 60+ (MJR), leitora
entusiasta, que congregou em torno do seu desejo colegas e professores, tam-
bém eles amadores de livros.
Desde a sua criação, o clube tem reunido aproximadamente uma vez por
mês. Neste tempo de encontro, são selecionados livros para leitura e partilha
de pontos de vista em torno das mundividências textualmente criadas. O
clube integra igualmente uma dimensão de escrita, sendo que, neste novo
ciclo iniciado em 2018, os participantes são convidados, depois da leitura
individual e da construção e partilha de significados em grupo, a prolongar o
diálogo com o texto, através da escrita de poemas e cartas dirigidas às perso-
nagens, a partir de linhas de exploração previamente definidas e partilhadas
com o grupo.
No âmbito deste estudo teremos como referência o corpus seletivo de produ-
ções orais e escritas elaboradas pelos participantes (7), recolhido entre janei-
ro de 2018 e fevereiro de 2019, com vista a conhecer a sua experiência leito-
ra, sendo que neste artigo foca-se exclusivamente um olhar sobre a dimensão
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Análise de dados
O envolvimento emocional no contexto do CLE 60+, sendo multifactorial
e pressupondo condições motivacionais intrínsecas e extrínsecas de leitura,
será evidenciado, no âmbito deste estudo, por dados que se circunscrevem-se
às categorias e subcategorias acima identificadas.
No processo de reconstrução coletiva e emocionada de sentidos e significa-
dos, importa focar o papel do moderador, mediador, alguém cuja função será
a de criar um clima de envolvimento potenciador do prazer da descoberta e
aprendizagem dos modos literários de exploração da adesão emocional do
leitor. Efetivamente, no âmbito deste CLE, a adesão emocional constrói-se
numa leitura individual e partilhada e mediada quer oralmente quer por
escrito.
Ora, uma breve história das leituras destes leitores de + 60 anos diz-nos que
a sua relação com os livros e a leitura é uma relação emocionada e essa
justifica-se desde logo porque recordam alguém (professor, familiar) que nas
suas vidas os estimulou a ler e a sentir a leitura de uma forma emocionante,
tal como se pode confirmar através da transcrição que a seguir se apresenta:
Como está Sr. livro? O meu relacionamento consigo[livro] não foi desde tenra
idade. Sabe o dinheiro que havia era para as necessidades mais básicas. Um
livro era um objeto de luxo, por isso inacessível. (...) Lembro-me muito bem
das histórias da Majora da coleção Azul, dos Cinco, das Mulherzinhas (...)
Mais tarde lia livros emprestados ou requisitados (...) quando tinha catorze
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anos recebi dum tio um pequeno conjunto de livros (...) eu li-os todos... (MJG)
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A um livro
Hoje o dia acordou triste, o céu enevoado e com promessa de chuva.
Em casa algum silêncio.
Precisava de um amigo, um amigo especial com quem conversar (...) Trouxe
comigo este amigo [Estuário], com pressa de começar a lê-lo e ter com quem
conversar. (...) Edmundo quer salvar o mundo distante que conheceu de forma
dura, um mundo injusto (...)O problema e sonho de Edmundo Galeano é um
problema também nosso. É preciso estarmos atentos e ativos perante as injusti-
ças, as crises que nos rodeiam(...) É preciso pensar no futuro da Humanidade.
E aqui está amigo livro, como me fizeste companhia.
Ex.mo Senhor
Edmundo Galeano,
Os meus respeitosos cumprimentos:
Peço desculpa pelo atrevimento de lhe escrever, mas a verdade é que ontem vi-o
no Cais do Sodré, contemplando o rio muito pensativo e muito triste. Eu sei
que tem motivos para estar assim (...). Porque não escreve sobre a sua famí-
lia? (...) sobre as suas experiências no Dadaab, como voluntário?(...)
Despeço-me enviando cumprimentos para todos e o desejo de que os problemas
da sua família se resolvam. (MA,10 de dezembro de 2018)
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Ex.ma MA
Foi com grande surpresa que recebi a sua carta. Não fazia a menor ideia que
alguém neste país estivesse preocupado comigo e com a minha família (...)
Aproveito para lhe agradecer as suas palavras encorajadoras. O que me disse
na sua carta estava há muito no meu pensamento e finalmente concretizei o
meu sonho - o meu livro já está na editora.
Edmundo Galeano
Lisboa, 2 de fevereiro de 2019
Ainda sobre Edmundo Galeano, outra leitora afirma depois de uma síntese
da leitura do livro Estuário: Afinal as grandes interrogações sobre o mundo podem ser
feitas a partir dos problemas duma família. (MG, 29 de janeiro de 2019)
As personagens efetivamente ganham espaço na vida dos leitores, saindo das
páginas dos livros e habitando o seu mundo interno, redimensionando o va-
lor pessoal, educativo e cultural da literatura. De facto, as respostas estéticas
destes leitores, na linha de Rosenblatt (1994), confirmam um sentir emocio-
nado feito ora em aproximação às suas vidas, ora distanciando-se criticamen-
te para as pensar. Outra leitora escreve:
Acabei de conhecer-te e quis conversar contigo. Aviso-te já que vai ser mais um
monólogo do que conversa, que é também assim que gosto de passear de braço
dado. Com que então queres ser escritor? (...) Que diabo de ideia essa de só
agora compreenderes os livros da escola?(...) Então porque passeavas por estas
margens relembrando Pessoa e a sua Ode Marítima? (...) Sim, sabias de cor
alguns versos da Ode, eu percebi! Mas não me vais dizer por que a escolheste,
pois não? Quero felicitar-te pela escolha (...) Bolas, ter o Mestre na cabeça
enquanto se escreve! Homem corajoso!” (MJG)
Um olhar muito breve sobre um dos livros que ofereceu maior resistência
de leitura – O Grande Caderno de Agote Kristof - permite perceber como
este livro foi lido com perplexidade, repulsa e tentativa de compreensão das
motivações das personagens:
CARA AVÓ:
(Desculpa não te tratar pelo nome, mas como convinha, a Agote Kristof nem
nome te quis dar...) Encontrei-me com dezenas de avós ao longo da vida. Des-
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Carta à avó,
A tua filha e netos chegaram hoje a tua casa. Vinham da grande cidade,
fugindo da guerra e da fome.
Porque os recebeste assim? (...) Mas os netos? (...) Sim, a vida também foi
dura contigo, mas... (...) Em que mulher te tornaste? Como podes ser assim,
tu que foste mãe e és avó? (FP, 14 de março de 2018)
Caro gémeo,
Tomei conhecimento da sua fuga por algumas pessoas que encontrei na rua.
Contavam que um dos gémeos da pequena Cidade tinha conseguido atravessar
a fronteira. (...) Ouvi imensas histórias incríveis a seu respeito e do seu irmão
(...) e pensei escrever-lhe na esperança de vos perceber. (...) Tenha boa sorte.
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Referências bibliográficas
Bauman, Zigmund, (2017) A Arte da Vida. Lisboa: Relógio de Água.
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J.L. (editores), (2017): Educación y capacidades: hacia un nuevo enfoque del desarrollo
humano Madrid: Dykinson.
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Maria de São Pedro Lopesa,b , Marina Pinto Bastoc e Pedro Pinto Bastod
a
ESECS – Politécnico de Leiria
b
CI&DEI – Politécnico de Leiria
c
Professora aposentada
d
Fotógrafo e Antropólogo
Resumo
Este relato pretende partilhar a história do processo de construção de um
Projeto de Intervenção com a Fotografia, desde a forma como surgiu a ideia
até à sua implementação. Serão apresentados todos os momentos que atra-
vessaram esta experiência, descrito o envolvimento da população na procura
de fotografias e na sua explicação, permitindo, assim, situá-las no tempo e
reconstituir a história do Vau. Esta aldeia pertence ao Concelho de Óbidos e
está localizada muito perto da Lagoa de Óbidos.
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Logo aí, e pela noite fora, começámos a pensar como tantas outras famí-
lias deveriam ter fotografias, como seria importante que as novas gerações
soubessem como era a aldeia antiga, e como essa partilha poderia colocar
gerações em contacto!
E assim nasceu a ideia de um possível projeto! Como um dos elementos do
grupo era fotógrafo, tivemos de imediato um parecer sobre o que poderia
ser recuperado e redimensionado e, no dia seguinte, decidimos ir à Junta de
Freguesia!
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- A pobreza do passado…
«…e então, a minha mãe, vendia uma galinha para ir comprar milho para a
gente ir levar a farinha para cozer.»;
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«…o meu pai trazia esses peixinhos que até os senhores ricos gostavam. Eu ia
levar uma tigelinha de reibacos [ruivacos] e então davam-me umas laranjas,
umas nozes…e eu vinha toda contente repartir com os meus irmãos.»;
«Nesse tempo os ricos é que tinham a fruta e não se podia mexer em nada. Nem
os miúdos.».
- As formas do trabalho…
«…e trabalhávamos de sol a sol. Era noite escura e eles ainda lá. Era tudo uma
exploração muito grande, nos pobres…»;
«Ah! Na terra é uma coisa e no mar é outra! Apanhávamos logo ar mais fresco.
Não era bom petisco, mas ganhávamos praticamente igual, às vezes até mais.
Quatro ou cinco carregávamos a camioneta do Bernardo e da Ilda, e íamos
ao Bombarral descarregá-la. Ganhávamos 25 tostões. Mas passeávamos à
tarde!»;
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«Eu trabalhava muito e aos 12 anos já comecei a ganhar jorna como as mu-
lheres.»
- As vivências da juventude…
«Os rapazes iam à inspeção a Óbidos. Iam dar o nome e depois eram chamados
para a tropa. Quando vinham da inspeção, faziam um almoço ou jantar e um
bailarico. Era com foguetes e tudo.»;
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«Oh! Este burrinho era o Carocho. Comprou-o o meu pai muito novito. Acabou
de o criar. Viveu muito tempo e gostávamos muito dele…»;
«As mães punham os filhos nos burros, em cestos. Para equilibrar convinha um
em cada cesto. E depois, lá na fazenda, tirava-se o cesto e punha-se o cesto no
chão e um miúdo em cada cesto. Só que às vezes o cesto tombava e lá estava o
garoto de cabeça para baixo a comer terra.».
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«…as únicas pessoas, desta fotografia, que ainda estão vivas, sou eu e a minha
mãe.»;
«…era a festa de agosto! Estávamos lá todos. Aqui é o F.S. depois eu, O J.R. já
falecido. A N. falecida e o J.S também falecido. A minha prima, ainda viva…».
«Na matança do porco, era uma festa. Era assar carne, comer e beber. Antes,
numa matança do porco, a família toda era convidada e depois fazia-se lá a
matança do porco. E aqueles dois dias eram dias de festa.»;
«…A bola era um desporto muito novo, quando apareceu para nós. Mas gos-
távamos. Íamos para um campo que tinha muitos buracos das vacas. Era cada
tombo!»;
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- A vida amorosa…
«As pessoas de Lisboa, quando passavam por aqui e viam um burro, pediam
logo para fotografar. E, às vezes, quando voltavam ofereciam-nos a fotografia.»;
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«… e não havia casa de banho. Mesmo os mais ricos, fizeram-nas mais tarde,
porque também não tinham»;
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Bibliografia
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Sempere, A. M. (2004). Elaboração de Projetos e Programas de Animação So-
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Âmbitos. Lisboa: Instituto Piaget.
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Sofia Duartea,b,c
a
Fundadora & Coordenadora do Projeto Céu d’afetos
b
Professora de Educação para os Afetos e Educação Emocional
c
Formadora de equipas educativas e pais no âmbito da Educação Socioafetiva
Resumo
Céu d’afetos® é um projeto centrado na Educação para os Afetos e Educação
Emocional orientado para a infância. O seu programa assume um caráter
preventivo e promove a aquisição de um conjunto de competências socioe-
mocionais, que se inserem no âmbito da cidadania - Respeito, Colaboração
e Solidariedade.
Céu d’afetos® preconiza a otimização da Educação Emocional e da Educação
para os Afetos através da introdução do paradigma pedagógico “Acolhimen-
to Emocional”, que vê a criança para além do seu comportamento, indo às
causas do mesmo, numa perspetiva integral. O intuito é ajudar a criança a
gerir as suas emoções, favorecendo em si a resiliência para ultrapassar desa-
fios emocionais futuros com autonomia.
O programa aposta numa abordagem sistémica que envolve todos os agentes
educativos – pais, professores e educadores, o que pressupõe um desenvol-
vimento pessoal permanente destes mesmos agentes educativos, em termos
humanos, emocionais e relacionais.
Na sua prática educativa, Céu d’afetos® defende uma Educação Afetiva, ba-
seada no respeito mútuo, numa escuta ativa da criança, validando as suas
opiniões e ajudando-a a desenvolver o seu espirito crítico.
Educação Afetiva
Educar com limites é educar com Amor?
Antes de mais, gostaria de citar uma frase da obra Pais Conscientes que des-
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emocional.
Na sua prática educativa, Céu d’afetos recorre a “abraços e limites conten-
tores”, os quais andam e andarão sempre de mãos dadas. É neste equilíbrio
que as crianças cooperam, não por medo mas por respeito. Mas qual será a
melhor forma de educar para o respeito? Será seguramente pela implemen-
tação do respeito na nossa relação diária com as crianças! Educar para as
emoções começa nesta base de respeito mútuo, onde nós próprios, adultos,
somos o modelo.
O desenvolvimento do respeito na relação adulto-criança requer por parte do
educador disponibilidade emocional e tempo. O respeito assume-se, assim,
como base primordial das restantes aquisições socioemocionais, pelo que Céu
d’afetos® prevê um espaço de aproximação à criança, em momentos indivi-
duais e em trabalho colaborativo com os educadores. Um trabalho que se
reflete de uma forma muito positiva no desenvolvimento socioemocional da
criança, que rapidamente se torna mais colaborativa em contexto de grupo.
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Considerações finais
O programa de Educação para os Afetos do Céu d’afetos® comprova que a
pedagogia de Acolhimento Emocional conduz ao bem-estar emocional da
criança, associado a uma recuperação da sua autoestima e autoconceito po-
sitivo, que se traduz em comportamentos cada vez mais saudáveis.
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temunhos/artigo/ver/?id=12660&langid=1
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Enne Marx
"Um afeto que é uma paixão deixa de ser uma paixão assim que formamos dele
uma ideia clara e distinta"
Resumo
O presente artigo discorre sobre a minha pequena percepção acerca dos afe-
tos, impulsionada pelo desejo de conhecer mais sobre o assunto, a partir da
aula aberta intitulada "Elaboração dos Afetos", um estudo do qual não esta-
mos comumente habituados a presenciar1. Palavras faladas pela professora
Maria João Santos, como Imaginário, Sentimentos e Emoções, junto a outras como
Cérebro, Consciência e Sistema Límbico. Logo, podemos "imaginar" as surpresas pe-
las quais decorreram durante a apresentação. A imaginação sempre foi uma
palavra aliada à minha vida. Entretanto, nunca tinha parado para pensar de
onde ela vem. Pensava antes que a imaginação vinha de um sítio onde só os
meus pensamentos de artista social, conheciam. Mas por vários momentos,
nesta aula, percebi que a imaginação está no real, disponível a todos, fácil de
acessar, pois imaginar é "interpretar o real". Este artigo foi escrito pela pers-
pectiva das emoções como linguagem, onde há uma enorme seara de curiosi-
dades e respostas a encontrar. Acredito que os afetos sejam um portal que gera
transformação, razão pela qual rege o mestrado2 no qual
1 Elaboração dos Afetos, aula aberta apresentada pela professora doutora em Estudo da Criança, pela Uni-
versidade do Minho, em Braga, Portugal, Maria João Santos, em 11 de Abril de 2018, no Instituto Politécnico de
Leira, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais, para o evento “Maio Criativo”.
2 Mestrado em Intervenção e Animação Artísticas, Escola de Educação e Ciências Sociais, Instituto Politéc-
nico de Leiria.
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estou inserida. O afeto positivo intervém para uma vida melhor, e eu, como
interventora artística, preciso conhecer com mais propriedade, esta potência.
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encontra esquecido num mundo tão cheio de outros interesses, onde o sucesso
é individual e onde não importam as relações ou trocas afetivas, mas apenas o
que podemos subtrair do outro. Um dos afetos positivos, a empatia, que como
observou a professora, "é uma virtude fundamental para cuidar do próximo",
aparece crucialmente nos momentos de dilema em nossas vidas e é um catali-
sador na hora da tomada de decisões. Nestes momentos, o que conta? Razão
ou Emoção? Este antagonismo, sob o ponto de vista dos afetos, nem sempre
é assim, tão incompatível, já que as duas coisas fazem parte do nosso cérebro.
Também a intuição, muitas vezes vista como um ato impulsivo e inconsciente,
nos foi apresentada nesta aula, sob um novo prisma, aquele que está coligado
à nossa experiência de vida, ou seja, quanto mais maduros somos, mais intui-
tivos seremos.
Escrever sobre o assunto, entretanto, parte de um desejo. O de conhecer um
pouco mais sobre um tema tão complexo, o ser humano. A Elaboração dos
Afetos para mim, trata antes de tudo sobre nós, humanos, e nossas comple-
xidades que rondam o coração e a mente. Em minha vida de investigadora,
é um novo conceito que abre diversas lacunas de reflexão, e alerta para as
dualidades cabeça - coração, razão - emoção, intuição - lógica. Sobre a distinção entre
sentimento e emoção, diz Damásio: "não se pode observar um sentimento
noutra pessoa, embora possa observar um sentimento em si próprio quando,
enquanto ser consciente, tem a percepção dos seus próprios estados emocio-
nais" ( 2000, p.63). Portanto, essas percepções acerca dos afetos, são impor-
tantes para termos percepção de nós mesmos - o que estamos sentindo, que
emoção se externa em nosso corpo e o que isto produz em nossa mente?
Para Rafael Trindade, um dos autores no site Razão Inadequada, a nossa
vida é um "mapa de afetos". Em seus estudos sobre a obra de Espinosa, sobre-
tudo a seara que compõem os afetos, ele observa que: "O corpo é uma potên-
cia de ser, uma capacidade de afetar e ser afetado, uma afirmação; a mente é
uma potência de pensar, de criar noções comuns, de concatenar os afetos que
a constituem (como ideia do corpo) e entendê-los" (Trindade, 2016). Para
Damásio "a emoção bem dirigida parece ser o sistema de apoio sem o qual
o edifício da razão não pode funcionar eficazmente" (2000, p.62). Ou seja,
os afetos devem ser considerados como itens importantes para uma melhor
forma de viver, e quanto mais elaborarmos como os afetos se encontram em
nosso corpo, mais potentes seremos no enfrentamento dos problemas de for-
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ma positiva e consciente.
Contudo, o que entendemos por Afeto? Segundo os estudos etimo-
lógicos, a palavra “afeto” vem do "substantivo affectus, 'estado psíquico ou
moral (bom ou mal)', afeição, disposição de alma, estado físico, sentimento,
vontade'" (Marinheiro, 2010). Já o substantivo afeto quer dizer "sentimento
terno de adesão geralmente por uma pessoa ou animal, afeição, afinidade,
ligação espiritual terna em relação a alguém ou algo" (Ibidem, 2010). Mas é
o afeto, um sentimento? O afeto é uma emoção? A emoção e o sentimento
são peculiaridades da mente ou do coração? A consciência tem alguma par-
ticipação na construção dos nossos afetos? São essas peculiaridades do nosso
ser, genuínas ou provocadas? Há no nosso cérebro alguma relação com tudo
isto?
Foram essas questões que surgiram durante e depois da aula aberta, no
meu cérebro/pensamento/mente e no meu coração (no caso do último, já
não tenho certeza), promovidas pelas diversas "imagens mentais" que eu criei
a partir das falas da professora sobre a "Elaboração dos afetos". Certamente
eu fui "afetada" pelo tema Afeto, e especialmente, pelo entendimento do
afeto de empatia, uma virtude que acredito, ser imprescindível para um bom
caráter. Para afetar e sermos afetados passamos por um estágio com base nas
relações com o outro e do que conseguimos dar significado, geramos os pen-
samentos e as imagens mentais, que podem ser boas ou más.
Sobre a origem e a natureza dos afetos em Espinosa (1632-1677), Trin-
dade (2014) observa, que existem afetos passivos e afetos ativos. Quando nós
não somos a causa de nossos afetos e apenas estamos à mercê de que algo
nos aconteça ou não, podemos ser afetados tanto positivamente quanto ne-
gativamente, estes são os afetos passivos. Já os afetos ativos, são um potencial
do nosso corpo em agir positivamente, o que só pode produzir alegria. Logo,
se estimularmos a nossa natureza a agir sempre com positividade, seremos
afetados cada vez mais por afetos alegres ou paixões alegres. Notamos então,
que o afeto positivo é uma grande potência de alegria, algo que faz com que
nos sintamos bem. Se este estado de afeto propicia ao ser humano (e também
aos animais) uma melhor vida emocional, é possível pensar que se já não nas-
cemos com ele, devemos ao menos, criar formas de gera-lo em nós mesmos,
para então, afetarmos o mundo de forma benéfica.
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sustentado por elos de relação entre o dentro e o fora. Quem educa deve, por isso,
falar à criança de todos os afetos, os bons e os maus, para que esta os conheça,
para que esta crie “esquemas de ação”, circuitos neuronais, que fundem um self,
tão construtivo que lhe permita uma relação equilibrada entre o dentro e o fora,
entre ela e os outros, numa relação dinâmica construtora de um ser cognitivo,
emocional, social e cultural. (Ibidem, 2013, p.17)
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Sob esta perspectiva, podemos pensar nas "emoções sociais" e nos possíveis
impasses que normalmente aparecem em nossas vidas. Entre as emoções,
alguns autores citam a alegria, a surpresa, o medo, a cólera, a repulsa, o des-
gosto, o interesse e a vergonha. Já Damásio cita também as emoções sociais
que incluem: a simpatia, a compaixão, o embaraço, a vergonha, a culpa, o
orgulho, o ciúme, a inveja, a gratidão, a admiração e o espanto, a indignação
e o desprezo. (Damásio, 2003, p.62). Em determinadas situações conflituo-
sas, não sabemos usar o que a psicologia moderna chama de "inteligência
emocional" - capacidade de reconhecer e avaliar os nossos sentimentos e os
dos outros - como vimos em Damásio, não seria possível analisarmos os sen-
timentos alheios, pois usualmente eles não aparecem. Penso que se estiver-
mos em um dilema que envolva uma outra pessoa, é importante na tomada
de decisão, não pensarmos apenas em nós, mas também nos colocarmos no
lugar do outro, exercitar a empatia e a compaixão, e também há que consi-
derarmos inclusive, a criatividade, na resolução do problema.
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Talvez o papel mais fundamental dos sentimentos no que diz respeito à ética
sempre tenha sido, desde o seu aparecimento, o de manter mentalmente presente
a condição de vida, de forma que esta condição pudesse desempenhar um papel
principal na organização do comportamento. E é precisamente porque os sen-
timentos continuam ainda a ter esse papel que julgo que eles devem ser ouvidos
quando a colectividade social discute a avaliação, desenvolvimento e aplicação
de instrumentos culturais tais como as leis, a justiça e a organização sociopolí-
tica. (Damásio, 2003, p.190).
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razaoinadequada.com/2014/07/15/espinosa-origem-e-natureza-dos-afetos/
(consultado em 10/05/2019).
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a
ESECS – Politécnico de Leiria
b
CI&DEI – Politécnico de Leiria
Resumo
Este texto relata uma experiência de criação plástica proporcionada a par-
ticipantes da 1.ª edição da Conferência Internacional de Emoções, Artes e
Intervenção. Numa sessão em formato de workshop foi proposto aos partici-
pantes que organizassem composições visuais através da colagem de elemen-
tos heterogéneos, com vista à representação de mensagens visuais associadas
a emoções.
A proposta foi estruturada em três momentos diferentes, terminando com
um espaço de diálogo e partilha em torno das composições visuais construí-
das. Observando os resultados, foi possível constatar que, independentemen-
te do nível de familiaridade que os participantes tinham com os materiais de
criação plástica, todos deram um contributo válido, cumprindo o que era
pedido e materializando pensamentos sobre emoções através dos elementos
da sua composição.
Introdução
O workshop «Juntar, Colar, Sentir» procurou proporcionar aos participantes
uma experiência de criação plástica, balizada pelas temáticas da Conferên-
cia, cujo processo de desenvolvimento fosse transferível para contextos de
intervenção. Assim sendo, pensou-se numa experiência associada à repre-
sentação das emoções através da linguagem plástica, onde pudesse haver um
momento de criação individual e um momento propício à construção de re-
lações interpessoais. Para tal, foi seguida uma metodologia que se estruturou
nos seguintes momentos e ações:
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gem plástica» – uma linguagem que tem uma gramática visual mediante a
qual podemos expressar-nos e comunicar com os outros. Esta gramática é
formada pelo «alfabeto visual» – composto pelo ponto, a linha, a superfície,
a cor, a textura, o volume e a forma – que são as «letras» que podemos com-
binar para nos expressarmos. É também formada pela «sintaxe visual» – que
tem em conta a medida, a proporção, o agrupamento, a estrutura, a direção,
o movimento, o ritmo, o equilíbrio, a simetria, a assimetria, a harmonia e o
contraste – que são as formas que temos para poder combinar as «letras» do
alfabeto visual (Civit & Colell, 2004).
Ficou saliente que as imagens podem ter uma multiplicidade de significados
e que originam também uma multiplicidade de interpretações. Estes signifi-
cados só serão apreendidos se houver um processo de questionamento e pes-
quisa para compreender os contextos que lhes deram origem (Rocha, 2013).
Os rostos dos presentes ao assistirem à apresentação revelaram «clarificação»
e «identificação» perante a observação de alguns exemplos, principalmente
nas imagens que mostravam acontecimentos muito recentes, mediaticamen-
te muito explorados. Partindo da ideia de que a emoção é uma resposta do
nosso organismo diante de um estímulo externo, observaram-se representa-
ções dessas respostas materializadas através da linguagem plástica. De forma
breve, abordou-se o conceito de «emoção estética», tal como é enunciado
por Lotierzo (2013), e que resulta do contacto com a arte – o espetador re-
cebe estímulos visuais ou auditivos e, mesmo sem o conhecimento artístico
necessário, contempla, aprecia e emociona-se com a arte nas suas diferentes
formas e manifestações.
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detalhes do seu processo criativo. Era notório que a explicação dada comple-
mentava a leitura que cada observador podia fazer acerca de cada composi-
ção, proporcionando expressões de «clarificação». Nestas breves descrições
faziam-se referências às emoções representadas e aos contextos que lhes po-
diam ter dado origem, quer fossem emoções «positivas» ou «negativas». Era
também notório que algumas descrições se referiam a aspetos de natureza
pessoal, como a vivência da «angústia» e da «raiva», assim como à situação
em que se tem emoções ambíguas – «metade do rosto representa uma emo-
ção e a outra metade representa outra».
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Conclusão
Desta experiência sobressaiu o reconhecimento de que a vida e o quotidiano
se podem espelhar em imagens. Uma ligação entre a vida e a arte que, nas
palavras de Rocha (2013, p.33), perspetiva pontes para o «diálogo e para a
compreensão, aceitação e valorização da diversidade cultural dos mundos
que nos rodeiam».
Reconheceu-se que a experiência de criação plástica e a subsequente partilha
de ideias em torno das diferentes composições podem concretizar aborda-
gens de educação intercultural, no sentido em que são referidas por Banks
(1994): «aditiva», no sentido em que possibilitou conhecer diferentes realida-
des e perspetivas dos participantes, alicerçadas nas suas referências culturais;
«transformativa», pois permitiu que cada um se colocasse no ponto de vista
do outro; e «interventiva», pois tratou-se de uma situação em que todos par-
ticiparam igualmente, escutando e aprendendo uns com os outros.
Tal como foi referido, tratava-se de um grupo intercultural. Para além do
ponto de vista formativo e de desenvolvimento profissional dos participantes,
o workshop trouxe também a possibilidade de cada um desenvolver competên-
cias de comunicação e de relação intercultural.
Referências bibliográficas
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Resumo
O número de idosos dependentes e com patologias crónicas tem crescido
exponencialmente nas instituições de apoio ao idoso, que se vêm assim com
dificuldades em intervir adequadamente, tendo em conta a escassez de re-
cursos humanos e económicos que apresentam.
A estimulação é essencial e está presente em todas as etapas da vida, devendo
ser aumentada e reforçada no processo de envelhecimento, de forma a com-
pensar as perdas e alterações intrínsecas a esta fase da vida.
Verifica-se que, os idosos que estão integrados em estruturas residenciais e
que apresentam comportamentos desadequados ou desestabilizadores são,
na sua maioria, idosos em situação de privação sensorial. Neste sentido, a
estimulação do idoso terá de englobar, para além da componente cognitiva,
que é a mais reconhecida e a que os técnicos das instituições desenvolvem
maioritariamente nas suas atividades, a sensorial, de acordo com as necessi-
dades e características de cada idoso.
No presente artigo serão partilhadas diretrizes úteis a ter em conta na esti-
mulação do idoso dependente, bem como algumas estratégias de intervenção
no processo de cuidar, que podem ser inseridas na prestação de cuidados ao
idoso e que beneficiam, em muito, o bem-estar e qualidade de vida do idoso.
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Conclusões finais
O envelhecimento da população, associado a um aumento no número de
idosos com limitações funcionais, doenças crónicas e necessidade de cuida-
dos a longo prazo, constitui um desafio social que deve ser repensado, tanto
a nível individual como coletivo. Este fenómeno coloca em evidência a res-
ponsabilidade social e económica das redes de suporte ao idoso, bem como o
papel do Estado, no apoio à dependência (Carta Social, 2009).
As Instituições de apoio ao idoso devem assumir uma atitude pró-ativa face
às características que a população envelhecida apresenta atualmente, tarefa
que nem sempre é conseguida, seja por motivações de ordem económica,
escassez de recursos humanos e falta de formação dos mesmos, ou simples-
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