Noções Básicas de Toxicologia Aplicadas Às Emergências Químicas
Noções Básicas de Toxicologia Aplicadas Às Emergências Químicas
Noções Básicas de Toxicologia Aplicadas Às Emergências Químicas
1. Acidentes químicos
Esta definição deve ser proposta junto com o conceito de "incidente químico", na qual uma
exposição originada por liberações de uma substância ou substâncias químicas podem se tornar
em doença ou possibilidade desta. A quantidade de pessoas afetadas por um acidente químico
pode ser mínima (mesmo uma só), a doença, incapacidade ou morte pode se manifestar em um
lapso de tempo longo, por exemplo anos depois do acidente.
Além dos efeitos para a saúde humana, os acidentes químicos podem provocar um dano
considerável ao meio ambiente a longo prazo, com numerosos custos humanos e econômicos
(IPCS/ OECD/ UNEP/ WHO 1994).
Substâncias envolvidas
Fontes de liberação
Vias de exposição
Sob este ponto de vista, considera-se importante que os participantes tenham conhecimentos
básicos de toxicologia para a assistência de uma emergência química. Estes conhecimentos
facilitarão as atividades dos profissionais que participam na assistência da emergência bem
como a proteção adequada para evitar os efeitos tóxicos.
Em 1988, em um artigo publicado por Gajraj, na revista UNEP Industry and Environment, sobre
as necessidades de capacitação na mitigação e contenção para acidentes, já se consideravam
os aspectos toxicológicos entre as atividades desse tipo de capacitação.
4. Toxicologia
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A toxicologia é a ciência que estuda os efeitos nocivos produzidos pelas substâncias químicas
sobre os organismos vivos. Assim, o indivíduo humano, os animais e as plantas podem estar
expostos a uma grande variedade de substâncias químicas. Estas podem ser desde metais e
substâncias inorgânicas até moléculas orgânicas muito complexas.
Segundo o Programa Nacional de toxicologia do Serviço de Saúde Pública dos EUA (EUA,
1999), existem nesse país 80.000 substâncias químicas às quais os habitantes podem estar
expostos através de produtos industriais e de consumo, como também quando estão presentes
nos alimentos, na água encanada e no ar que é respirado. Geralmente, supõe-se que
relativamente poucas destas representam um risco significativo para a saúde humana, nas
concentrações de exposição existentes, e que os efeitos na saúde produzidos pela maioria delas
são geralmente desconhecidos.
Alguns termos de uso freqüente em toxicologia são importantes e devem ser conhecidos. Por
exemplo: substância perigosa, risco, toxicidade, doses, exposição, absorção, biodisponibilidade,
distribuição, acumulação, biotransformação, eliminação e efeito tóxico.
4.1.2 Risco
O risco é a probabilidade que apareça um efeito nocivo devido à exposição a uma substância
química.
4.1.3 Toxicidade
Todas as substâncias, naturais ou sintéticas são tóxicas; em outras palavras, produzem efeitos
adversos para a saúde em alguma condição de exposição. É incorreto denominar algumas
substâncias químicas como tóxicas e outras como não tóxicas. As substâncias diferem muito na
toxicidade. As condições de exposição e a dose são fatores que determinam os efeitos tóxicos
(Ottoboni, 1991).
4.1.4 Dose
Paracelso, no século XVI afirmou: "Todas as substâncias são tóxicas. Não há nenhuma que não
seja tóxica. A dose estabelece a diferença entre um tóxico e um medicamento". Esta afirmação
ainda é muito importante para a toxicologia e envolve a idéia de dose.
Uma informação muito utilizada é aquela denominada Dose Letal 50 – DL50 que é a quantidade
de uma substância química que quando é administrada em uma única dose por via oral,
expressa em massa da substância por massa de animal, produz a morte de 50% dos animais
expostos dentro de um período de observação de 14 dias (Swanson, 1997). Na tabela 1 temos a
classificação das substâncias baseadas no valor da DL50.
Tabela 1
DL50 aguda para algumas substâncias químicas (IPCS, 1997)
Substância química DL50 rato macho, via oral; mg/kg de peso corporal
Etanol 7000
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DDT 100
Nicotina 60
Tetradotoxina 0,01
Se a dose de uma substância for suficientemente alta poderá ser perigosa para qualquer ser
vivo, assim como também se a dose de uma substância tóxica for muito baixa não produzirá
efeito adverso nenhum. A água (um elemento essencial para a vida) quando é ingerida em
grandes quantidades pode ter um efeito tóxico. A causa é que um volume superior àquele
considerado como ingestão diária normal para um adulto, entre 2 L e 2,5 L, pode causar a
eliminação pela urina de substâncias que são essenciais para o organismo.
O período de tempo no qual uma dose é administrada e a freqüência são informações muito
importantes.
Outro dado importante é aquele denominado concentração de interesse (em inglês: levels of
concern-LOCs), que é a concentração no ar de uma substância extremamente perigosa acima
da qual poderá produzir efeitos graves à saúde ou a morte como resultado de uma única
exposição durante um período relativamente curto. Algumas publicações (USEPA, 1987)
consideram o LOC como a décima parte da concentração denominada de perigo imediato para a
vida ou à saúde (cuja sigla em inglês é IDLH), segundo o publicado pelo National Institute of
Occupational Safety and Health – NIOSH ou de um valor aproximado do IDLH para animais.
4.1.5 Exposição
Para que uma substância química possa produzir um efeito deve estar em contato com o
organismo. As substâncias químicas podem ingressar no organismo por três vias principais:
digestiva, respiratória e cutânea. Depois do ingresso, por qualquer destas vias, as substâncias
químicas podem ser absorvidas e passar para o sangue, seem distribuídas pelo organismo todo,
chegar a determinados órgãos onde são biotransformados, produzir efeitos tóxicos e
posteriormente ser eliminadas do organismo.
Também uma substância química pode entrar no organismo por outras vias, por exemplo, por
injeção venosa ou intramuscular, mas estas vias não são de grande interesse desde o ponto de
vista toxicológico e especialmente quando se trata de acidentes que envolvem substâncias
químicas.
Uma forma muito utilizada para classificar as substâncias químicas segundo a toxicidade, está
baseado na duração da exposição. Geralmente, os toxicologistas procuram os efeitos da
exposição aguda, subcrônica e crônica, e também tentam entender o tipo de efeito adverso para
cada uma destas três exposições.
4. 1. 6 Absorção
A inalação é a via mais rápida pela qual uma substância química ingressa no organismo. Por
exemplo, a inalação do éter etílico, um gás anestésico, que quando chega ao pulmão é
absorvido, passa para o sangue e logo o efeito é observado. Também substâncias como o
material particulado ou gases podem ingressar pela via respiratória.
A via cutânea é outra via de ingresso importante. A espessura da pele nas distintas regiões do
organismo influi na absorção. Assi, na região do abdómen e do escroto, onde a pele é mais fina,
a absorção é mais rápida que em outras onde a pele é mais gross, como a planta dos pés ou a
palma da mão. O paration é facilmente absorvido pela via cutânea. Quando uma área grande de
pele estiver em contato com uma substância química, a quantidade absorvida será maior do que
aquela de uma superfície pequena. O tempo de contato também é importante, sendo maior a
absorção quanto maior for o tempo de contato.
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4.1.7 Biodisponibilidade
Alguns fatores físicos ou químicos podem afetar a absorção de uma substância em relação à
quantidade que deverá ser absorvida e ao tempo de absorção. Por exemplo, não todas as
formas químicas de um metal são bem absorvidas no intestino; assim no caso de ingerir
mercúrio metálico, pouco será absorvido. Porém, não acontece o mesmo com um composto
orgânico como o metilmercúrio.
Outra situação é a seguinte: os compostos de bário são tóxicos, mas o sulfato de bário é
utilizado, na forma segura, como meio de contraste nas radiografias do cólon devido este sal ser
insolúvel em água e em gordura. Não poderia ser utilizado cloreto de bário porque a sua
solubilidade em água seria suficiente para que uma quantidade que produz efeitos tóxicos fosse
absorvida.
4.1.8 Distribuição
Depois que a substância química é absorvida ela passa através do sangue por todo o
organismo, causando os efeitos nocivos especialmente no órgão alvo.
Entende-se por órgão alvo o local onde primeiro se evidencia um efeito nocivo. Para produzir
esse efeito a substância química deve atingir uma determinada concentração no órgão, por isso,
é importante a dose. A existência de um órgão alvo não significa que nos outros órgãos não
sejam verificados os efeitos e à medida que aumenta a dose e o tempo de exposição, outros
órgãos poderão ser afetados.
4.1.9 Acumulação
Uma parte da substância química, que é distribuída no organismo, pode ser acumulada. Isto
pode acontecer também no sangue já que algumas substâncias podem se unir às proteínas
sanguíneas. O flúor e o chumbo podem ser acumulados nos ossos, as bifenilenospolicloradas
(segundo a sigla em inglês, PCBs) podem ser acumuladas na gordura; outro exemplo é o
cádmio que une-se à outras proteínas e é acumulado no rim.
4.1.10 Biotransformação
4.1.11 Eliminação
As substâncias solúveis em água são eliminadas pela urina. As substâncias que são voláteis,
como o etanol e a acetona, e os gases como o monóxido de carbono eliminam-se parcialmente
pelo ar expirado. Algumas também são eliminadas pelo leite e suor.
Os efeitos tóxicos observados podem ser: dano aos tecidos e outras modificações patológicas,
lesões bioquímicas, efeitos teratogênicos, efeitos na reprodução, mutagenicidade,
teratogenicidade, efeitos irritantes e reações alérgicas. Os três primeiros pontos de contato entre
substâncias químicas presentes no ambiente e o organismo são o trato gastrintestinal, o sistema
respiratório e a pele. Deve-se lembrar que, as substâncias químicas são absorvidas e passam
para o sangue, logo seguem para o fígado, rins, sistema nervoso e o sistema reprodutor, entre
outros.
Não é possível descrever todos os efeitos que podem ser produzidos pela grande quantidade de
substâncias tóxicas; portanto, em seguida será apresentada uma breve explicação.
Sistema respiratório
situação de constrição das vias aéreas, o oxigênio não pode chegar tão rápido
como é necessário para satisfazer a demanda do organismo.
Uma segunda categoria dos efeitos no sistema respiratório é o dano causado nas
células do trato respiratório. Esse dano pode produzir a liberação de líquido para
os espaços internos e pode resultar em acúmulo denominado edema. Este edema
pode acontecer como um efeito retardado, que aparece depois da exposição
crônica ou subcrônica.
As reações alérgicas podem ser produzidas pelo mesmo mecanismo que foi
mencionado anteriormente.
Sistema circulatório
Fígado
Rim
Várias substâncias químicas podem produzir efeitos nocivos nos rins por
diferentes mecanismos de ação. Os metais pesados como o mercúrio, cádmio,
crômio e chumbo têm efeitos sobre o túbulo renal. Concentrações altas de metais
presentes no filtrado glomerular podem danificar as funções dos túbulos e produzir
a perda de grandes quantidades de moléculas essenciais para o organismo como
a glicose e aminoácidos. Se a concentração de metais for suficientemente alta
poderá acontecer a morte das células e alterar a função renal como um todo. O
tetracloreto de carbono e o clorofórmio são hepatotóxicos e nefrotóxicos.
Sistema nervoso
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Sistema reprodutor
O sistema reprodutor dos homens e das mulheres pode ser danificado por
determinadas substâncias químicas. Nos homens, algumas substâncias como
DBCP e cádmio, podem reduzir ou impedir a produção de esperma. Podem
acontecer alterações no processo reprodutor, como a indução de modificações
fisiológicas e bioquímicas que reduzem a fertilidade, e impedem totalmente o
desenvolvimento do feto ou do nascimento normal.
Teratogenicidade
Depois da fertilização do óvulo, começa a proliferação das células que dão origem
ao feto. Nos seres humanos, entorno do nono dia começa o processo de
diferenciação celular e os distintos tipos de células específicas que constituem o
organismo começam a se formar e migram para a sua posição adequada. Isto
acontece até o desenvolvimento completo do feto. Algumas substâncias químicas
podem causar efeitos na descendência, estes não são hereditários e são
denominadas substâncias teratogênicas.
Carinogenicidade
Considera-se que entre o 70% e 90% do casos de câncer em seres humanos são
de origem ambiental. Este termo é utilizado em um sentido amplo, o qual atinge
substâncias químicas industriais e contaminantes, dieta, hábitos pessoais, fumar,
comportamento e radiações.
Os efeitos referidos são um breve resumo daqueles indicados por Rodrick (1994) e
estas informações têm somente o objetivo de alterar os diferentes efeitos nocivos
das substâncias químicas no organismo humano.
5. Conclusões
Segundo Timbrell, atualmente os toxicologistas conhecem só parcialmente os mecanismos dos
efeitos tóxicos das substâncias químicas. Como conseqüência a avaliação do risco para o
organismo humano é difícil e incerta. Estas limitações precisam ser lembradas pelo público,
industriais, economistas e por aqueles que estão envolvidos nos processos de legislação, além
dos toxicologistas.
Possivelmente, o público espera muito mais dos cientistas em geral e dos toxicologistas
particularmente. Os toxicologistas não podem fornecer todas as respostas às perguntas que o
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público freqüentemente faz, mais ainda quando exige a segurança absoluta em relação aos
compostos químicos.
6. Bibliografia
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Vol. 12. Springer, 1998.
Gajraj, A.M. Training needs in accident mitigation and containment. UNEP Industry and
Environment. 11(3), 28-30, 1988.
Hill, M.K. Understanding environmental pollution. Cambridge University Press. USA, 1997.
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National Toxicology Program. Fiscal Year 1998 Annual Plan. U.S. Department of Health
and Human Services. USA, 1999.
Rodrich, J.V. Calculated risks. The toxicity and human health risks of chemicals in our
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Swanson, M.B.; Davis, G.A.; Kincaid, L.E. e col. Environmental Toxicology and Chemistry
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