Revista Educação Pública - O Adoecimento Do Professor Da Educação Básica No Brasil - Apontamentos Da Última Década de Pesquisas
Revista Educação Pública - O Adoecimento Do Professor Da Educação Básica No Brasil - Apontamentos Da Última Década de Pesquisas
Revista Educação Pública - O Adoecimento Do Professor Da Educação Básica No Brasil - Apontamentos Da Última Década de Pesquisas
ISSN: 1984-6290
B3 em ensino - Qualis, Capes
DOI: 10.18264/REP
A Psicologia tem apontado cada vez mais para a importância do trabalho na vida mental dos indivíduos, bem como a influência de fatores
laborais na saúde e qualidade de vida destes. O adoecimento psicológico por meio do trabalho tem ressaltado cada vez mais a necessidade de
investigações quanto aos fatores prejudiciais à saúde mental do trabalhador presentes nas atividades ocupacionais (Codo, 2007). Uma das
profissões que provocam forte preocupação referente à saúde mental é a docência, especialmente em relação aos profissionais que atuam na
Educação Básica brasileira.
A atuação no campo da Educação envolve um enorme contingente de desafios e responsabilidades ao trabalhador, uma vez que o profissional se
depara com inúmeras situações que vão além do ato de ensinar. Adentram na escola os reflexos de todas as mazelas sociais, que envolvem as
famílias, os alunos e mesmo o ato de ensinar. Adoecido, o professor, formador de todos os demais profissionais, se vê sem condições de exercer
a profissão que escolheu para a sua vida, deixando também a escola e a sociedade carentes de sua contribuição social (Carlotto, 2010).
O professor do nível básico de ensino possui papel significativo para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social de crianças e adolescentes,
uma vez que a fase da escolarização é fundamental na constituição psicológica destes, é também o principal mediador do aluno ante a educação
formal. Considerando-se a relevância do papel social dos professores, entende-se o impacto que o adoecimento docente acarreta não somente
ao trabalhador, mas também à escola e a sociedade como um todo (Tardif, 2005).
Na atualidade, a Psicologia tem sido convocada ao espaço escolar e educacional para auxiliar esse profissional diante das problemáticas que
permeiam o fazer docente. São inúmeras as queixas da escola, e uma das mais preocupantes é, sem dúvida, a adoecimento psicológico do
docente pelo trabalho. Diante destas constatações, é válido questionar: o que as pesquisas têm apontado em relação à saúde mental do
professor de Educação Básica no Brasil? Quais fatores têm sido apontados como contribuintes para o adoecimento do professor no Brasil nos
últimos 10 anos, levando-o ao adoecimento e mesmo ao abandono da profissão?
Compreender o que tem levado o docente brasileiro ao adoecimento é fundamental para se fortalecer ações de prevenção e promoção de saúde
a esse trabalhador, contribuindo também na melhoria da qualidade da Educação Básica no Brasil. O olhar para as pesquisas da última década
permite uma visão mais ampla dos problemas que tem persistido no dia a dia do trabalho docente, trazendo sofrimento a este profissional,
avanços e retrocessos em saúde mental no trabalho, bem como os pontos que ainda necessitam de maior investigação.
Dessa forma, a presente pesquisa se propôs a realizar uma revisão sistemática da literatura como objetivo de identificar os principais sinais e
tipos de adoecimentos mentais em professores brasileiros da Educação Básica e seus fatores associados, apontados em estudos dos últimos 10
anos. Para tal, foram selecionados 25 artigos das bases de dados da SciELO, BVS, Lilacs, os quais foram triados criteriosamente a fim de compor a
presente revisão. Este trabalho aborda também a relação saúde mental e trabalho, especialmente no caso do professor de Educação Básica no
Brasil, atentando para as questões epidemiológicas e fatores causais que comprometem o trabalhador do campo educacional. Dessa forma, a
pesquisa pretende contribuir com a questão da saúde mental do docente no Brasil.
Todavia, tem-se reconhecido fatores de risco à saúde mental do trabalhador presentes na organização do trabalho, o que tem chamado a
atenção dos serviços de vigilância em saúde, uma vez que se verifica o impacto de características presentes no trabalho sobre a qualidade de
vida do trabalhador (Sato, 2005). A partir da perspectiva dos estudos epidemiológicos, vem aumentando o número das pesquisas e análises que
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demonstram a relação do trabalho como o adoecimento psiquiátrico, a qual é reconhecida também pela Organização Internacional do Trabalho
(OIT) (Seligman-Silva, 2016).
O nexo causal entre trabalho e doença tem-se estabelecido como uma área delicada de estudo, uma vez que implica a afirmação de causalidade
entre as duas variáveis, ou seja, a afirmação do trabalho como um agente capaz de causar adoecimento ao indivíduo. Essa relação é ainda mais
delicada quando se fala no adoecimento mental, uma vez que leva a questionar se o adoecimento pode ser decorrente de características
particulares da psique do sujeito ou se realmente determinados ambientes e dinâmica de trabalho acarretam prejuízos à saúde mental (Jaques,
2007).
Segundo Jacques (2007), a Psicologia precisou ressignificar a relação entre saúde mental e trabalho, uma vez que, no início da história dessa
ciência, o trabalho ocupava uma posição secundária, restringido este a um campo de aplicação dos conhecimentos psicológicos ou como um
dos indicativos de uma normalidade e adaptação. Porém, segundo a autora, com o advento da Revolução Industrial e a implantação dos
modelos taylorista e fordista, foi-se identificando o trabalho como uma potencial fonte de sofrimento, contribuindo então para a visibilidade aos
efeitos do trabalho sobre o psiquismo.
Essa percepção também se deu através dos estudos sobre o estresse, que tomou uma relação importante na conexão entre trabalho e saúde.
Selye (1907-1982), endocrinologista canadense, foi precursor nos estudos dos efeitos do estresse nos organismos, que o definiu como “o estado
manifesto por uma síndrome especifica que consiste em todas as mudanças não especificas induzidas dentro de um sistema biológico” (Selye,
1965, p. 54, apud Benevides-Pereira, 2002, p. 25). Desse modo, o estresse ocorre quando o indivíduo avalia que as demandas internas ou
externas excedem a sua capacidade para lidar com elas (Lazarus, 1995, apud Machado et al., 2013).
Selye comparou o estresse com o conceito da física de pressão, esforço ou tensão, resultando em deformidade. Seria este, então, “o estado de
um sujeito que resulta da interação do organismo com os estímulos ou circunstâncias nocivas ambientais” (Wallau, 2003, p. 23). O estresse não é
de todo negativo para o indivíduo, pois é uma resposta natural do organismo ante um estimulo estressor. Um processo de ajuste adaptativo
deste a fim de retornar ao estado de equilíbrio, tendo então a função de ajustar a homeostase do organismo e de melhorar sua capacidade para
a sobrevivência (Benevides-Pereira, 2002).
Segundo a teoria de Selye, o estresse seria decorrente da Síndrome de Geral de Adaptação (SGA), a qual consiste em reações sistemáticas do
corpo diante de situações estressoras, podendo desenvolver-se em três fases:
1. Fase de Alarme, quando ocorre imediatamente após o reconhecimento de uma situação estressora;
2. Fase de Resistência, visando reduzir a situação de estresse mobilizando defesas naturais do indivíduo, na qual nota-se maior ansiedade,
irritabilidade no individuo;
3. Fase de Esgotamento ou Exaustão, em que o organismo tem esgotado os seus recursos e perde progressivamente sua capacidade de
defesa diante do estresse, gerando adoecimento. É neste último estágio em que, diante de um estado crônico de estresse, pode surgir o
que foi denominado síndrome de burnout (Wallau, 2003).
Wallau (2003) chama a atenção para o estresse que ocorre devido às demandas e características presentes no trabalho, o estresse ocupacional. A
autora traz o estresse no trabalho como um fenômeno pessoal e social cada vez mais frequente, que acarreta consequências significativas em
nível intelectual e organizacional, além de expandi-las para as demais áreas da vida do indivíduo, ocasionando, além de problemas mentais,
doenças físicas (Wallau, 2003).
A síndrome de burnout é decorrente da cronificação de um estado de estresse e está associada diretamente à atividade laboral exercida pelo
indivíduo, mais comumente encontrada em ocupações assistenciais, como na área da saúde e educação. Este é um tipo de adoecimento
comumente referido quando se aborda a influência do trabalho na saúde mental dos indivíduos, além de uma série de outros acometimentos
biopsicossociais decorrentes das atividades laborais dos sujeitos (Benevides-Pereira, 2002).
Vasconcelos (2008) ressalta que o aumento de registro de doenças relacionadas ao trabalho a cada ano, bem como as modificações nas relações
sociais de produção, tem instigado os pesquisadores a investigar a relação entre o surgimento de doenças (físicas, mentais ou psicossomáticas) e
a organização do trabalho. Atualmente, existem cerca de 12 grupos de doenças mentais na relação específica dos transtornos mentais e do
comportamento relacionados ao trabalho, destacando-se o alcoolismo crônico, episódios depressivos, estados de estresse pós-traumáticos,
neurastenia (síndrome da fadiga crônica), neurose profissional, transtornos do sono e a síndrome de burnout (Brasil, 2001).
Seligmann-Silva (2013, p. 212) destaca questões sociais que vêm colaborando para o aumento de doenças mentais na população trabalhadora
na atualidade:
além do que se modificou no mundo do trabalho, várias grandes mudanças têm sido consideradas nos impactos produzidos sobre a sociogênese
dos distúrbios mentais: mudanças socioambientais, demográficas (migrações, aumento da população idosa), urbanização desordenada, hipertrofia
das metrópoles, intensificação da velocidade dos meios de transporte e de comunicação, aumento da violência em muitos contextos, poder das
mídias, expansão tecnológica em geral, além de tantas outras que afetaram a cultura – os modos de perceber o mundo e andar na vida.
Dessa forma, é visível a importância do trabalho na saúde mental dos indivíduos, necessitando-se então de um olhar atento para os aspectos que
podem tornar a atividade laboral um fator de adoecimento. Assim, diante do conhecimento do impacto que a realidade da organização do
trabalho acarreta ao trabalhador, é possível efetuar ações para a prevenção e promoção de saúde no contexto laboral.
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A profissão docente no Brasil tem seu início no período colonização com os jesuítas. Após a expulsão dos jesuítas do território brasileiro, inicia-se
um processo de institucionalização de formação docente, com o advento das escolas normais no século XIX a partir de iniciativas
governamentais, consolidando-se no século XX. Em 1990, na Conferência Mundial de Educação para Todos, foi aprovada a Declaração Mundial
de Educação para Todos, fornecendo um plano de ação para satisfazer as necessidades básicas da Educação Básica, a qual o Brasil passa a adotar,
fundamentando os planos decenais de educação (Silva, 2017).
A atual normativa da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei 9.394/96 Art. 21, par. I e 24) define que Educação Básica brasileira
seja constituída pelos ensinos de nível infantil, fundamental e médio, sendo nestes dois últimos a carga horária mínima anual de oitocentas horas
em sala de aula, distribuídas em 200 dias efetivos de trabalho nas escolas, exceto o tempo dispensado aos exames finais, se necessários. No Art.
22 da lei instituiu-se que a Educação Básica tem por finalidade “desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (Lei 9.394/96, Art. 22).
Nos dez últimos anos decorrentes, na segunda década do século XXI, mesmo diante de uma considerável democratização do acesso à escola,
verificou-se que o sistema educacional passa por críticas quanto aos seus resultados qualitativos e quantitativos, expressos nos sistemas de
avaliação da educação básica. Relacionam-se a esses resultados negativos, problemas na gestão dos recursos, distanciamento entre políticas
educacionais e sua implementação, condições de formação e de atuação profissional, política de apoio e incentivo à carreira docente, bem como
tem recaído a responsabilização ao professor diante das deficiências apontadas no cenário da educação (Borges; Cecílio, 2018).
Nos últimos anos, a Educação Básica no Brasil vem sofrendo transformações que têm impactado diretamente sobre a organização do trabalho
docente. Isso tem acarretado uma exigência ainda maior sobre o professor, que agora necessita se adaptar às questões tecnológicas e mudanças
sociais que adentram o ambiente da sala de aula. Mello (2004) ressalta as mudanças que o século XXI passou a exigir da escola e do professor.
Dessa forma, a função da escola passa a ser muito mais a de construir significados sobre as informações e conhecimento, do que emiti-los,
descentralizando o professor do lugar de detentor do saber. Segundo essa proposta, cabe ao professor assumir a liderança na constituição de
significados, embora não seja este mais a única fonte de conhecimento, de forma a gerar o protagonismo do aluno na construção do
conhecimento (Mello, 2004). Percebe-se também que o professor se depara diariamente com a necessidade de desempenhar vários papéis em
seu cotidiano escolar, papéis esses que vão além do ensino da disciplina mediante aos diversos conflitos emergentes no espaço e na dinâmica
das relações escolares (Carlotto, 2010).
Em 2013, foi realizado um estudo dirigido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a fim de caracterizar o trabalho docente em
diversos estados brasileiros. No estudo, foi apontada uma forte insatisfação dos docentes em relação ao salário, considerando a remuneração
incompatível ou injusta em relação às suas atribuições. Foi revelado que grande parte dos docentes trabalha em mais de uma escola, havendo
uma parcela que também exerce outro tipo de atividade para complementar a sua renda.
A mesma pesquisa também apontou a falta de apoio em relação ao trabalho com crianças com necessidades especiais em sala de aula, trazendo
que 70% dos professores entrevistados não recebem nenhuma orientação específica para essas atividades. A sobrecarga de trabalho e más
condições de trabalho também foram ressaltadas na pesquisa, uma vez que a maioria dos professores tem de levar tarefas do trabalho para
realizar em casa, e também contatou-se a queixa quanto às condições do ambiente da sala de aula, como o ruído interno, má ventilação e má
iluminação das salas de aula (Gestrado/UFMG, 2013).
Dessa forma, percebe-se que a Educação Básica no Brasil reúne ainda uma série de impasses que colocam o professor diante de diversas
dificuldades para exercer seu trabalho. Essas questões podem ter um forte impacto em sua saúde mental, podendo levá-los ao adoecimento.
Faz-se então necessário conhecer a realidade do professor brasileiro e quais os fatores presentes em seu cotidiano estão contribuindo para o seu
sofrimento, a fim de planejar ações para a melhoria da qualidade de vida e saúde mental deste profissional.
Metodologia
O presente artigo buscou identificar os principais sinais e tipos de adoecimento psicológicos apresentados pelos professores das redes de
educação básica pública e privada no Brasil, apontados por pesquisas nos últimos dez anos, bem como seus fatores associados. Para tal objetivo,
foi realizada uma pesquisa de revisão sistemática da literatura nas bases de dados SciELO, Lilacs e BVS Brasil, com os seguintes descritores: ‘saúde
mental professores’, ‘saúde mental docentes’, ‘adoecimento professores’, ‘adoecimento docente’, ‘transtornos mentais’.
Foram incluídos no presente estudo artigos, teses e dissertações nacionais e empíricos que datavam do período de 2009 a 2019, cuja população
estudada tenha sido professores brasileiros dos níveis infantil, fundamental e médio (Educação Básica) conforme da temática proposta,
envolvendo a temática do adoecimentos docente, incluindo a investigação de fatores a eles relacionados, os quais foram analisados quanti e
qualitativamente na apresentação dos resultados e discussão. Foram excluídos estudos internacionais, não empíricos e com professores de nível
superior. As revisões sistemáticas constituem-se em uma das técnicas mais eficazes para avaliação e síntese da literatura em diversos campos de
conhecimento. Permite apresentar um processo de pesquisa formal e controlado, claros critérios de inclusão e exclusão de estudos, explicitando
claramente o caminho metodológico realizado (Akobeng, 2005, apud Zoltowski et al., 2014).
Resultados e discussão
A partir da pesquisa nas bases de dados, 47 artigos foram identificados dentro da temática do adoecimento do docente: SciELO (21), Lilacs (16),
BVS (10). Após eliminação dos duplicados (10), 37 artigos foram selecionados para triagem. Na triagem inicial, com a leitura de títulos e dos
resumos, foram excluídos alguns artigos por não corresponderam à temática proposta (n = 7), além de um total de quatro artigos de natureza
não empírica, restando 26 artigos. Após, foi excluído um artigo devido ao fato de a amostra não ser composta de professores brasileiros. Por fim,
após a leitura na íntegra de cada artigo, foram selecionados 25 estudos para a coleta de dados, os quais foram organizados no Quadro 1.
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Autor/ano Título da Objetivo Delineamento e amostra Rede Sinais de sofrimento Fatores Resultados
pesquisa de e adoecimentos associados ao
Ensino adoecimento
Souza & Adoecimento das Descobrir e relacionar as Estudo exploratório Pública Insônia, distúrbios da - Excesso de Os resultados demonstraram que
Coutinho, professoras das principais queixas, descritivo e explicativo voz e da coluna, atribuições além 62,4% das professoras entrevistadas
2018 primeiras letras sintomas e diagnósticos quantiqualitativo com 32 irritabilidade, fadiga da sala de aula.
já se afastaram das suas funções
em Olinda: de professores de séries professoras de 3 escolas física e mental, - Infraestrutura por doença. O sentimento de
Sintomas, queixas iniciais da cidade de municipais de Olinda PE. tensão, ansiedade e inadequada das preocupação e tristeza representou
e diagnósticos Olinda. depressão.
salas de aula. os mais referidos, 62,4% seguido de
Sentimento de incapacidade com 43,75% e
tristeza, ansiedade ansiedade com 31,2%
Silva & As características O presente estudo teve Estudo comparativo de Pública Síndrome de burnout
Inserção alunos Foram encontrados maiores escores
Almeida, dos alunos são por objetivo comparar a corte, de analise (sinais de com necessidades de esgotamento emocional e
2019 determinantes presença de indicadores quantitativa, com 60 esgotamento especiais sem os despersonalização em professores
para o de burnout em três professores que atuavam emocional, realização recursos que trabalham com a inserção de
adoecimento de grupos de professores no ensino comum, profissional e necessários pra o alunos especiais em sala comum
professores: um que atuam no primeiro divididos despersonalização) ensino em turmas (sem recursos). O grupo da sem
estudo ciclo do Ensino proporcionalmente em 3 de ensino regular.
inserção apresentou maiores
comparativo sobre Fundamental grupo, em turmas com e - Maior escores de diminuição da realização
a incidência de sem a inserção de alunos quantidade de profissional.
burnout em com necessidades alunos em uma
professores do educacionais especiais, e sala de aula.
ensino regular e em sala de recursos, da
especial rede Municipal de Ensino
Fundamental de Bauru.
Simplício & Compreendendo a Compreender a relação Estudo exploratório e Pública Exaustão emocional,
-Condições de A análise dos dados coletados foi
Andrade, questão da saúde entre saúde e trabalho descritivo, de análise despersonalização e trabalho
organizada em quatro momentos
2011 dos professores da
em professores da rede qualitativa com 34 diminuição da -Tempo de da vida profissional: o estágio, o
Rede Pública municipal de São Paulo. professores de uma mesma realização pessoal no trabalho início da carreira, a experiência e o
Municipal de São escola do Ensino trabalho. final da carreira, em que pode-se
Paulo Fundamental I, II e do observar que nas três categorias
Ensino Infantil, de emergiram questões de
diferentes idades. adoecimento nas professoras como
despersonalização, diminuição da
realização pessoal no trabalho.
Excessiva carga
horária
Baixo salário
Salas em
desconforto
térmico;
Falta de
autonomia do
professor;
Desrespeito dos
alunos com os
professores;
Apoio insuficiente
ao professor
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Paparelli, Desgaste mental Identificar os principais Pesquisa exploratória e Pública - Sentimento de - Fracasso escolar
Os autores ressaltaram que a atual
2009 do professor da determinantes do descritiva e de analise impotência e Sobrecarga de regularização do fluxo escolar tem
rede pública de adoecimento de qualitativa com 6 frustração.
trabalho
relação direta com o adoecimento
ensino: trabalho docentes de ensino professoras em diferentes - Sentimento de acumulo de dos professores, uma vez que gera
sem sentido sob a fundamental de escolas momentos do processo de incompetência
responsabilidades
um mal estar diante do fracasso
politica da públicas, como estes sofrimento mental no - Desesperança
- Dificuldades de escolar causando devido a
regularização de aparecem na vivencia trabalho (afastamento, - Perda de sentido no relações desvalorização do profissional de
fluxo escolar dos professores e quais readaptação e ativa) de trabalho
interpessoais no educação, propiciando emergir
as formas de uma escola de ensino - Desrealização trabalho
estratégias de enfrentamento que
enfrentamento destes fundamental de São Paulo profissional
- Desvalorização contribuem para a perda de sentido
profissionais. - Angustia,
do trabalho no trabalho.
- desgosto,
docente
-cansaço,
- Falta de
-tristeza
professores
-desanimo - Trabalhar em
mais de uma
escola
- Falta de
funcionários da
equipe de apoio
nas escolas
-Regularização do
fluxo escolar –
ciclos de
aprendizagem
Macaia, 2013 Excluídos do Conhecer os processos Estudo qualitativo Pública Transtornos mentais e - falta de O autor destacou as condições de
Trabalho: analise de afastamento de exploratório com 20 comportamentais autonomia
trabalho como principais causadora
sobre o processo professores por professores de ativos e - contexto de do adoecimento dos profissionais
de afastamento transtornos mentais e readaptados com histórico trabalho de educação, chamando a atenção,
por transtornos comportamentais e da de licenças médicas por - condições através dos dados trazidos nas
mentais e rede pública municipal transtornos mentais e desfavoráveis de entrevistas. Também ressalta a
comportamentais de São Paulo. comportamentais e trabalho
importância do investimento de
e retorno ao retorno ao trabalho. - falta de políticas públicas e reconhecimento
trabalhos de reconhecimento social para essa classe trabalhista.
professores da social
rede pública
municipal de São
Paulo
Albuquerque Exploração e Verificar a associação Estudo transversal por Pública Transtornos mentais -Carga horárias Evidenciou-se, que a prevalência de
et al., 2018 sofrimento mental entre a elevação da meio da plataforma de trabalho casos indicativos de distúrbios
de professores: exploração no trabalho Limesurvey, com 1.201 elevada. psíquicos é muito elevada entre os
um Estudo na rede dos docentes e o professores da rede professores e que há indícios da
estadual de ensino sofrimento mental. estadual de ensino do -Número de associação desta prevalência com
do Paraná Paraná alunos por turma diversas formas de exploração no
trabalho. Carga horária semanal,
número de turmas por professor e
número de alunos por turma
apresentaram relação positiva para
a ocorrência de sofrimento mental.
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- Pressão por
resultados,
- Frustração por
não alcançar
objetivos
propostos
- Conflitos
institucionais
Martins; O trabalho das Analisar a relação entre Estudo de caráter Pública Estresse -Nível elevado de As professoras das Escolas de
Vieira & docentes da processo de trabalho e a censitário e corte demandas de Educação Infantil desse estudo
Bugs, 2014 Educação Infantil
saúde de 196 transversal, da qual trabalho.
realizam um trabalho em condições
e o mal-estar professoras das Escolas participaram todas
-Excesso de que podem não ser favoráveis à
docente: o Municipais de Educação as professoras das 26 burocracia baixos saúde principalmente pelo elevado
impacto dos Infantil em uma cidade Escolas Municipais de salários
nível de demanda psicológica,
aspectos
de porte médio no Rio Educação Infantil (EMEIS) -Extensa carga traduzida em tarefas que exigem
psicossociais no Grande do Sul. da cidade de Pelotas (RS),
horária semanal
excessiva, concentração, atenção,
adoecimento Brasil, totalizando 196 -Falta de responsabilidade, paciência,
professoras. autonomia
compreensão, inclusive esforço
-Trabalhar muito físico, excesso de burocracia, os
e em um ritmo baixos salários, a carga horária de
acelerado 40 horas semanais a falta de
autonomia, representadas pelo
baixo controle sobre seu trabalho
podem ser geradores de
adoecimento.
Meira et at., Percepções de Analisar as percepções Estudo de natureza publica tensão emocional
Sobrecarga de
Os relatos apresentam um cenário
2013 professores sobre de professores sobre o qualitativa constituído por provocado pelo trabalho, a caracterizado pela alta demanda da
trabalho Docente trabalho docente e as 12 docentes da rede trabalho, estresse
indisciplina
atividade, aliados à sobrecarga
e repercussões repercussões
estadual de ensino de um nervosismo escolar de alunos, física e mental, e desvalorização
sobre sua saúde em sua saúde. município da Bahia-BR. pressão profissional. emergiram três
organizacional da categorias temáticas:
escola,
Necessidades de mudança no
- jornadas ambiente de trabalho; Fatores que
prolongadas de influenciam na saúde do professor;
trabalho, Consequência do trabalho docente
aumento das em sua saúde.
demandas do
trabalho,
percepção da
desvalorização
profissional
a privação do
lazer
Batista et al., Prevalência da Avaliar a prevalência da Estudo de corte transversal Pública Síndrome de burnout ____ Os resultados evidenciaram que
2010 Síndrome
Síndrome de burnout com 265 professores da 33,6% dos professores
de burnout e nos professores da Rede Municipal de Ensino apresentaram alto nível de Exaustão
fatores
primeira fase do Ensino da Cidade de João Pessoa, Emocional, 8,3% alto nível de
sociodemográficos Fundamental das escolas Paraíba. Despersonalização e 43,4% baixo
e laborais
municipais da cidade de nível de Realização Profissional.
em professores de João Pessoa, PB, e sua
escolas
relação com as variáveis
municipais da sociodemográficas e
cidade de João
laborais.
Pessoa, PB.
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Silva et al., Prevalencia del O objetivo deste estudo Estudo quantitativo e Pública Síndrome de Burnout ____ A pesquisa revelou uma suspeita de
2017 síndrome de foi descrever a descritivo (levantamento prevalência de síndrome de Burnout
burnout entre prevalência da Síndrome Survey) com 52 docentes foi de 33 casos (63,5%). A
profesores de la de Burnout entre os de uma escola estadual de prevalência significativa desta
Escuela Estatal em professores da Escola Niterói, São Paulo. síndrome entre os professores gera
Niterói, Brasil Estadual em Niterói, alerta sobre as condições de
Brasil trabalho e a saúde
Borba et al., Síndrome de Comparar a prevalência Estudo descritivo, Pública Síndrome de Burnout Escola pública
Não houve diferença
2015 Burnout em da Síndrome de Burnout comparativo e transversal, e Escola privada estatisticamente significativa entre
professores: entre professores de de abordagem quantitativa privada os grupos. Concluiu-se que tanto o
estudo ensino fundamental de contexto público de ensino quanto
comparativo entre escolas públicas e o privado apresentam estressores
o ensino público e privadas. Amostra de que podem levar os professores ao
privado 117 professores de adoecimento, dado que permite
ensino fundamental de refletir que a prevalência da
escolas privadas e Síndrome de burnout pode estar
públicas das cidades de mais relacionada à categoria
Porto Alegre e Região profissional em si do que ao tipo de
Metropolitana do Rio escola.
Grande do Sul/Brasil.
Andrade & Trabalho docente Identificar condições e Estudo exploratório e Pública Solidão no trabalho
- A precarização Observou-se que 22% dos
Falcão, 2018 no município de percepções da atividade descritivo com 172 Insatisfação no das condições de professores consideram-se
Natal: Perfil e risco docente, dimensões professores de anos iniciais trabalho trabalho
insatisfeitos no trabalho e 30,2%
psicossocial psicossociais e risco do EF do município de - Alta demanda relatam sentirem-se solitários no
psicossocial do trabalho Natal RN psicológica e ambiente laboral. 19,2%
de professores do baixa latitude de correspondem a um perfil de risco
primeiro ao quinto ano tomada de psicossocial, com alta demanda
de Natal, Rio Grande do decisão (trabalho psicológica e baixa latitude de
Norte, estabelecendo ativo e baixo decisão. Concluiu-se que há
perfil e relações. controle)
associação entre o sentimento de
trabalho solidão no trabalho e a percepção
repetitivo e de maior demanda psicológica da
perturbado, atividade, suporte social e
tempo satisfação com as reuniões de
insuficiente
planejamento pedagógico.
para conclusão
das tarefas,
volume excessivo
de trabalho e
necessidade de
trabalhar
rapidamente.
- suporte social
- menor
experiência
profissional
Silva, Burnout e Verificar a prevalência de Estudo transversal, Pública - Síndrome de Baixa satisfação Em relação ao burnout, foi
Bolsini-Silva depressão em burnout e depressão em correlacional de burnout;
profissional
identificada a prevalência de 29%,
& Loureiro, professores do professores do ensino
prevalência em escolas - Depressão Menor tempo de sendo constatado distanciamento
2018 ensino fundamental e investigar públicas municipais e experiência emocional (40%), exaustão
fundamental:
possíveis correlações participaram 100 profissional
emocional (37%), desumanização
um estudo entre burnout, professoras do 2º ao 5º Condições do (22%) e realização pessoal (11%). A
correlacional depressão, variáveis ano. ambiente de depressão foi identificada em 23%
sociodemográficas e trabalho dos professores, além de
organizacionais. correlações positivas e fortes entre
a depressão e as dimensões do
burnout. Foi encontrada uma
correlação positiva entre a
depressão e as dimensões do
burnout,
Lyra et al, A relação entre analisar a relação entre Estudo exploratório Pública Humor depressivo (se - Mau Observou-se que 21,8% da amostra
2009 professores com professores com seccional com 151 e sentir nervoso, tenso comportamento relataram sofrimento psíquico.
sofrimento sofrimento psíquico e professores 372 crianças privada ou agitado; assustar- dos alunos
Constatou-se que professoras que
psíquico
crianças escolares com da 1º série do ensino se com facilidade; se - grande número vivenciam sofrimento psíquico,
e crianças problemas de fundamental sentir triste de alunos por comparadas às que não apresentam
escolares com comportamento. ultimamente) e aos turma,
o transtorno, identificam mais
- ideação suicida
- sentimento de
inutilidade
-decréscimo de
energia vital
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emocionais de grupos de professores e com 93 sujeitos, de ambos privada Estresse estressores emocional, vocal e na qualidade de
professores e não não professores com os gêneros, com idades laborais vida, sobretudo aqueles que têm a
professores com baixa e alta ansiedade. entre
voz como instrumento de trabalho,
baixa e alta 18 e 59 anos, divididos em os professores. Assim, o estudo
ansiedade quatro grupos: professores conclui que sintomas emocionais,
com baixa ansiedade; como ansiedade, estresse e
professores com alta depressão, podem influenciar
ansiedade; não professores proporcionalmente nas
com baixa ansiedade e não características vocais e na qualidade
professores com alta de vida da população de indivíduos
ansiedade. com alta ansiedade, sobretudo
daqueles que utilizam a voz como
instrumento de trabalho, como os
professores.
Castro e Efeitos da Investigar o sofrimento Pesquisa qualitativa Pública -questionamento da - Agressividade Os professores no inicio de carreira
Souza, 2014. agressividade do professor sob o exploratória transversal, competência pessoal
dos alunos;
apresentaram um questionamento
infantil para o aspecto da agressividade com 12 professores - angustia
- perda de de sua autoeficácia, angústia de
sofrimento infantil em diferentes - sensação de autoridade na corresponder as demandas sociais,
psíquico de momentos da carreira invisibilidade
sala de aula; tentativas de aproximação e
professores em - sentimento de precaução diante da agressividade
diferentes menos valia dos alunos, já professores mais
momentos de sensação de fracasso
antigos manifestaram maiores
carreira - mágoa, decepção e sentimentos de fracasso e
desesperança.
impotência, a evidenciando a
- Cansaço
desesperança em relação à
- Sentimento de culpa profissão.
e fracasso
Face, Ort. & Professor Discutir a relação Estudo qualitativo e Pública - afastamentos precarização das Os autores destacam que as
Barros, 2018 readaptado: a estabelecida entre a descritivo com 20 sucessivos do condições de condições de trabalho têm levado
precarização do precarização do trabalho professores readaptados, trabalho por trabalho muitos professores ao
trabalho docente e e o adoecimento do da educação básica transtornos mentais.
adoecimento, acompanhado de
o adoecimento professor readaptado - necessidade de sofrimento, e que o adoecimento, a
tendo como fundamento readaptação ao partir da perspectiva da Psicologia
os pressupostos da retornar ao trabalho Histórico-cultural seria uma forma
Psicologia Histórico- de resistência à precariedade do
Cultural. trabalho.
- falta de apoio
da comunidade
(entidades e
órgãos públicos)
- ausência de
amparo legal
diante da
violência escolar
Tostes, et al, Sofrimento mental Conhecer a prevalência Estudo transversal do Pública - Depressão - Sexo feminino
Foi encontrada uma prevalência de
2018 de professores do de sofrimento mental sofrimento mental com - Ansiedade
- trabalhar no 75% de Distúrbios Psíquicos
ensino público nos professores de rede 1.021 professores do - Estresse
ensino Menores na amostra, sendo que
estadual (ensino ensino público do Paraná. - Disforia
fundamental
9,73% dos professores relataram
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Sobre as metodologias utilizadas, a maioria (14 publicações) é composta por estudos de natureza transversal, exploratório e descritivo (56%).
Houve também publicações com metodologia correlacional (8%), caso controle (4%), estudo censitário (4%), estudo de prevalência (4%),
descritivo comparativo (4%) e estudo longitudinal (4%). Para Shaughnessy et al. (2012), o método experimental pode ser efetivo para se
estabelecer relações de causa e efeito entre variáveis, além de permitir a inter-relação autoaperfeiçoadora entre os experimentos e as explicações
propostas, constituindo-se uma ferramenta fundamental aos psicólogos no estudo da mente humana.
Em relação à amostra, verificou-se que a maioria dos estudos (n =17) (68%) abordou exclusivamente professores do nível fundamental, sendo
que dois apenas com o ensino infantil (8%) e um estudo foi realizado com professores das séries iniciais (4%). O Ensino Médio foi abordado
juntamente ao Ensino Fundamental em cinco estudos (20%), como mostra o Gráfico 1.
Verifica-se hoje que, dentre as profissões formais no Brasil, a docência do Ensino Fundamental e Médio é apontada como uma das profissões que
acarretam maiores índices de desgaste emocional para os trabalhadores (Damásio; Melo, 2013).
Em relação à rede de ensino estudada, pode-se observar predominância de estudos sobre professores da rede pública de ensino, 22 estudos
(88%); a rede particular foi abordada em conjunto com a pública em somente três estudos (12%), em todas as pesquisas ressaltando a presença
do adoecimento. O estudo de Borba et al. (2015), que realizou uma comparação entre professores da rede pública e privada, ressaltou a presença
de sofrimento emocional nos profissionais de ambas redes de ensino, concluindo que ambas apresentam estressores que podem levar os
professores ao adoecimento. Diehl e Marin (2016) referem que o fato de a maioria dos estudos ser em instituições públicas deve-se a uma maior
abertura destas à pesquisa.
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Um dos estudos levantados (Batista et al., 2013) apontou que mais da metade dos afastamentos do trabalho dos professores da Educação Básica
possui como causa quadros depressivos, revelando alto nível de acometimento dessa psicopatologia entre os docentes. Segundo Cavalheiro e
Tolfo (2001), a população de trabalhadores afastados por motivo de depressão é cercada por preconceitos e falta de entendimento em relação à
condução do tratamento.
A depressão é considerada um transtorno mental, com alta prevalência e alta morbidade no Brasil e no mundo, além de constituir-se como uma
das principais causas de absenteísmo e presenteísmo no ambiente laboral, e a terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil. O país lidera
o ranking de prevalência de depressão entre as nações em desenvolvimento, com 20 a 36 milhões de pessoas afetadas, contabilizando o
equivalente a 10% das pessoas com depressão no mundo. A depressão possui também uma forte associação aos casos de suicídio (Razzouk,
2016; Assunção; Oliveira; Souza, 2018).
Carlotto (2010) observa que a síndrome de Burnout em profissionais da educação vem sendo estudada por um grande número de
pesquisadores, na qual estes têm sido enquadrados na categoria de alto risco, uma vez que apresentam um nível significativamente maior
comparado às outras profissões. Citando Ferber (1999, citado por Carlotto, 2010), a autora traz que o burnout ocorre quando o professor sente
que seus esforços não serão justificados ou suportados.
Os estudos também apontaram uma multiplicidade de sentimentos e percepções que compõem o sofrimento do professor diante de seu
trabalho, como tristeza, sentimento de impotência e frustração, sentimento de incompetência, desesperança, perda de sentido no trabalho,
angustia, desgosto, cansaço, desânimo, desmotivação com o exercício profissional, tensão emocional (Brasil et al., 2016; Meira et al., 2014; Silva et
al., 2017; Paparelli, 2009; Silva, 2017). Também foi apontada a insatisfação com o trabalho, o decréscimo de energia vital, sentimento de
inutilidade, questionamento da competência profissional, sensação de invisibilidade, sentimento de menos valia, sensação de fracasso, decepção,
solidão, desamparo, baixa expectativa em relação à profissão, baixa autoestima, sensação de trabalho improdutivo, revelando um alto sofrimento
associado ao trabalho nessa profissão (Andrade; Falcão, 2018; Lyra et al., 2009; Castro; Souza, 2014; Silva et al., 2017).
Houve também estudos que apontaram o absenteísmo, o presenteísmo e a necessidade de readaptação ao retornar ao trabalho (Silva, 2017).
Além do sofrimento psíquico, houve apontamentos de acometimentos físicos ao professor, como doenças osteomusculares, doenças
otorrinolaringológicas, destacando os problemas com a voz e os problemas respiratórios (Lyra et al., 2009).
Também sobressaiu a questão da sobrecarga de trabalho, presente em sete estudos (24%), com em casos em que este necessita levar tarefas do
trabalho para casa, a sua excessiva carga horária de trabalho (16%), trazendo também a exigência de cumprimento de horas que acarreta em
presenteísmo, fazendo com que o sujeito tenha de trabalhar mesmo adoecido, como destacam Silva (2017). Gomes e Britto (2006) apontam que
a sobrecarga de trabalho na profissão docente invade os espaços da vida doméstica, extrapolando os limites de tempo e de espaço da escola. O
cotidiano de muitos professores no Brasil é caracterizado por várias jornadas de trabalho. Há profissionais que assumem jornadas em mais de
uma escola e acabam ocupando o tempo que seria para seu descanso com as atividades relacionadas à docência, como preparação de aulas,
preparação ou correção de avaliações.
Houve também uma importante relação do adoecimento com dificuldades dos professores com alunos, apontado em nove estudos (36%),
trazendo questões como dificuldades com alunos especiais (4%), o desrespeito dos alunos com o professor (4%), número excessivo de alunos
por turma (8%), falta de motivação e problemas comportamentais dos alunos (12%), agressividade dos alunos (4%), e a perda de autoridade do
professor em sala de aula (4%). Para Miziara et al. (2006), o professor atualmente enfrenta diversas situações difíceis, como o desrespeito pelos
pais, alunos e mesmo pela sociedade, caracterizando a desvalorização do papel do professor e a falta do reconhecimento de sua autoridade em
sala de aula, o que interfere diretamente na ação pedagógica. Este profissional tem a difícil missão de gerir seu trabalho em sala em sala de aula,
de modo a superar as dificuldades na interação com o aluno, sem tornar-se autoritário ou permissivo demais.
Um recente estudo dirigido por Melanda et al. (2018), com 789 professores da rede pública de ensino de Londrina/PR, identificou que um em
cada doze professores relatou ter sofrido violência física na escola nos 12 meses anteriores à pesquisa. Ressaltou associação com a violência
sofrida a fatores como as condições de trabalho, o tipo de vínculo de trabalho temporário e número de escolas em que atuam, e a ter
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A falta de apoio também foi fortemente ressaltada nas pesquisas, apontada em oito estudos (32%), citando questões como o apoio insuficiente
ao professor, falta de funcionários na equipe de apoio, falta de apoio por parte da escola, ausência de suporte social ou da comunidade,
fragilidade da parceria escola/família, falta de apoio da equipe gestora na ação pedagógica, ausência de amparo diante da violência escolar.
Giovanetti (2006) ressalta o impacto que a ausência de apoio social possui sobre o aumento do estresse, contribuindo para o adoecimento do
profissional docente.
Outros fatores causais apontados foram a desvalorização e falta de reconhecimento social do professor, em cinco estudos (20%), o tempo de
trabalho (4%), associando maior sofrimento em professores com menor tempo de carreira (Silva et al., 2018), o baixo salário (Silva et al., 2017;
Martins et al., 2014), falta de autonomia do professor (Silva et al., 2017; Macaia, 2013; Martins et al., 2014), dificuldades nas relações interpessoais
de trabalho, falta de professores, a divisão dos ciclos na aprendizagem (Paparelli, 2009), pressão por resultados (Silveira et al., 2014),
despreocupação do empregador com a saúde dos professores (Brasil et al., 2016), frustração por não alcançar os objetivos propostos (Silveira,
2014), trabalho repetitivo e perturbado, tempo insuficiente para a conclusão das tarefas, (Andrade; Falcão, 2018), trabalhar em mais de uma
escola (Lira et al., 2009), distúrbios de voz (Almeida et al., 2014) e levar tarefas do trabalho para casa (Tostes et al., 2018).
Dois estudos (8%) investigaram o adoecimento do professor a partir do modelo demanda controle (Giannini et al., 2012; Andrade; Falcão, 2018).
Ambos encontraram na profissão docente uma característica de um trabalho com alto desgaste e baixo controle no trabalho.
Conclusão
Este estudo buscou investigar na literatura científica dos últimos dez anos os principais adoecimentos psicológicos apontados pelas pesquisas
que acometem os professores da Educação Básica brasileira, e os fatores presentes em seu trabalho relacionados a eles. Foram encontradas 25
publicações com que, a partir de sua análise, foi possível verificar importantes questões relacionadas aos riscos à saúde mental no trabalho deste
profissional. Foi possível destacar a Depressão e a Ansiedade como os principais tipos de adoecimento apontados nas pesquisas, seguidos pelo
estresse,burnout. A síndrome de burnout foi constatada nos profissionais de ambas as redes de ensino, privada e pública.
Além desses, diversos sentimentos, como a tristeza, solidão, desânimo, desesperança, fracasso e impotência compõem o sofrimento docente na
atualidade. Percebeu-se a carência de estudos sobre professores da rede particular de ensino, bem como em relação ao nível da educação
infantil, os quais também apresentam sofrimento psicológico, como evidenciaram as pesquisas aqui levantadas.
A precariedade das condições de trabalho revela condições de exploração no trabalho do professor, a gestão imprópria de recursos, déficitsna
formação e falta de implementação de políticas de apoio ao docente contribuem para o adoecimento psicológico. A ameaça à integridade física
e psicológica do professor, pelas circunstâncias de violência presente na escola coloca o profissional em sobressalto em relação à sua segurança
enquanto trabalha, afetando também sua saúde em geral.
O professor também se sente sobrecarregado pelas demandas de trabalho, com baixa remuneração, carga horária excessiva, necessidade de
levar trabalho para casa e circunstâncias sociais que adentram a sala de aula, sem o amparo necessário para o seu fazer e sem reconhecimento
social. A sociedade, a escola e o Estado lançam sobre o professor a responsabilidade quanto à formação de crianças e adolescentes, sem atentar
para a influência que as condições de trabalho possuem em sua saúde mental.
Uma revisão sistemática feita por Diehl e Marin (2016) com professores brasileiros de diversos níveis de ensino apontou os principais fatores que
levam esses profissionais ao adoecimento, como a organização do trabalho, falta de reconhecimento, problemas motivacionais e
comportamentais dos alunos (falta de limite e de educação) pouco acompanhamento familiar e problemas no ambiente físico, revelando ser esse
um assunto multidisciplinar.
Pode-se ter como limitação da presente revisão o fato de ter-se realizado com apenas três bases de dados científicos (SciELO, BVS e Lilacs), e um
número restrito de descritores, o que impossibilitou um número maior de estudos científicos. Porém, ainda diante das limitações identificadas, foi
possível traçar um perfil quanto aos dados apresentados pelas pesquisas dentro da temática proposta, constatando importantes questões que
envolvem o sofrimento do professor no Brasil.
Dessa forma, a literatura tem apontado fatores presentes na dinâmica de trabalho do professor que ameaçam seu bem-estar físico e psicológico
e que apontam para a necessidade de desenvolvimento de ações e políticas voltadas à promoção de saúde mental e redução de fatores que
podem levar o profissional de educação ao adoecimento pelo trabalho. Assim, o olhar para a saúde mental do professor, bem como para os
aspectos que podem ameaçar ou potencializá-la, torna-se fundamental na busca de promoção de saúde, tanto do profissional quanto de toda a
Educação Básica.
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24/10/2022 09:48 Revista Educação Pública - O adoecimento do professor da Educação Básica no Brasil: apontamentos da última década de pesquisas
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