A Alquimia Experimental Da Pintura - Fabricação de Papéis, Pincéis e Tintas Artesanais
A Alquimia Experimental Da Pintura - Fabricação de Papéis, Pincéis e Tintas Artesanais
A Alquimia Experimental Da Pintura - Fabricação de Papéis, Pincéis e Tintas Artesanais
da Pintura: Fabricação de
Papéis, Pincéis e Tintas
Artesanais
Thais Hayek1
INTRODUÇÃO
1
Thais Fernanda Martins Hayek. Doutora em Educação, Arte e História da
Cultura (UPM), Mestra em Estética e História da Arte (USP) e Graduada em
Educação Artística: Artes Plásticas. sTrechos do material composto para o
Centro Universitário Claretiano, 2010.
maneira a fazer parte do processo completo de criação, da
fabricação à criação de sua própria arte.
Há técnicas de fabricação variadas de papéis e tintas.
Assim, nesta unidade, apresentaremos algumas destas técnicas
para que você possa aprender, fazer e ensinar a arte da pintura.
Iniciaremos com a preparação das superfícies para pintura,
papéis e telas. Depois, para a fabricação de pincéis artesanais e a
fabricação de algumas tintas.
Bons estudos!
Papéis
Neste tópico, conheceremos os procedimentos para a
fabricação de um papel artesanal, que pode ser feito por
qualquer pessoa e até mesmo crianças acompanhadas de um
adulto. Inicialmente, estudaremos como fazer o papel reciclado,
que atualmente além de ser bem valorizado é também muito
saudável para o meio ambiente.
Fabricar um papel artesanal é, de certa maneira, uma
alquimia, é transformar um material destinado ao lixo em algo
novamente em uso. O papel reciclado é a transformação do lixo
em num papel rústico que pode ficar muito bonito e diferente do
papel comum. A reciclagem de papel, ajuda a solucionar o
problema do acúmulo de lixo, e também diminui a devastação de
florestas. Pode-se fazer a reciclagem artesanal, que mesmo feita
de forma rudimentar, produz bons resultados, especialmente na
reciclagem industrial, que nos últimos anos vem aprimorando
tecnologia e confeccionando papéis com qualidade similar ao
produzido diretamente da fábrica.
No entanto, a reciclagem só é viabilizada se houver a coleta
seletiva do papel. O papel utilizado não deve se misturar com
outros materiais, especialmente com o lixo orgânico. Mesmo que
ele esteja amassado, riscado, rasgado, pintado, o que importa é
aproveitar esse papel para se fazer mais papel. Neste contexto,
acompanhe a seguir algumas receitas básicas para confeccionar o
papel caseiro e também o papel machê.
Papel reciclado I
Para a fabricação deste papel, inicialmente, você deverá
rasgar o papel a ser reciclado em pedaços pequenos e deixar de
molho de um dia para o outro e, posteriormente, realizar os
seguintes procedimentos:
1) Bater no liquidificador o papel que ficou de molho.
Começar com 10 pedaços de papel para cada ½ litro
de água e aos poucos perceber quanto papel se
pode colocar ao mesmo tempo. É necessário se ater
à quantidade de papel, pois muito papel dificulta o
funcionamento do motor do liquidificador e com
isso as fibras não ficarão bem batidas.
1) Medir a quantidade de massa de papel e colocar em
uma bacia com o dobro de água. Mexer bem e
mergulhar a peneira na bacia.
2) Devagar, chacoalhar a peneira para espalhar a
massa por igual. Deixar o excesso de água escorrer
da peneira em cima da bacia. Nesse momento,
poderá acrescentar folhas, pétalas ou pedaços de
papel colorido.
3) Inverter a peneira com a massa de papel em cima
de um pano, que por sua vez deve estar em cima de
jornais. Prensar com cuidado com uma esponja (tipo
de cozinha ou de banho) sobre a massa de papel, de
modo a absorver toda a água possível.
4) Levantar a peneira pelas bordas, a massa deve ficar
aderida ao pano. Dobrar o pano sobre a massa,
embrulhar bem, e pendurar em um varal para secar.
5) Retire do varal o papel embrulhado no pano de
prato. Estender sobre a mesa e descolar com
cuidado o papel seco do pano.
Papel reciclado II
Para a confecção deste papel, faça a coleta seletiva dos
papéis. Vale ressaltar que não podem ser utilizados papéis
plastificados e os usados para higiene. A cor, a textura e o estilo
de papel que se quer produzir dependem do tipo de papel que
será utilizado; os papéis que apresentam um melhor resultado
são aqueles usados em computador, em xerox ou off set,
cartolina, papel de presente e papel de caderno.
Após a escolha do papel, efetue os seguintes
procedimentos (figuras 1 e 2):
Telas
As telas já prontas apresentam vantagens por serem
preparadas em oficinas qualificadas. Porém, se o artista quiser
esticar sua própria tela de um tamanho específico, ele poderá
utilizar de alguns procedimentos. O tamanho do tecido a ser
utilizado deverá ser proporcional a moldura (Figura 3). Existem
diversas técnicas de como esticar telas para pintura, bem como
sua preparação para a pintura e, a partir destas técnicas você
poderá esticar telas de diversos formatos, usando sua
criatividade. Na confecção de tela a madeira deverá
ser chanfrada, senão a pintura rachará com o tempo.
Figura 3 Proporção do tecido à moldura.
Figura 4.
Figura 5.
Figura 6.
Pincéis artesanais
Você pode confeccionar o seu próprio pincel,
personalizando-o da maneira que achar mais adequada para o
seu tipo de pintura. Esta técnica também pode ser usada em sala
de aula, para ensinar os alunos a fazerem seus próprios pincéis.
Os materiais a serem utilizados são: pêlos, bambu ou madeira,
cola quente, elástico e tesoura. Vejamos.
Preparação de tintas
Aquarela
A fabricação artesanal de aquarelas é pouco utilizada,
porque a qualidade das tintas fornecidas pelo mercado atende as
necessidades técnicas dos artistas.
A maior dificuldade de fabricar a aquarela é a moagem dos
pigmentos que devem ser bem finos. A seguir, vejamos os
ingredientes e materiais necessários para a preparação desta
tinta:
• Ingredientes: pigmento em pó (quanto baste),
goma arábica, glicerina, amido de trigo branco,
xarope de milho, mel, óleo de cravo.
• Materiais: duas panelas, gaze, lâmina de vidro ou
bancada de pedra, espátula, colher medidora,
mascara de rosto e luvas látex.
Vale destacar que os ingredientes necessários para fabricar
a tinta aquarela são vendidos em lojas especializadas, mas caso
queira fazê-los artesanalmente, seguem algumas técnicas:
• Solução de goma arábica: coloque uma parte de
goma arábica em pó ou cristais em uma
panela. Colocar duas partes de água destilada
fervente, retirar do fogo, despejar lentamente sobre
a goma arábica e mexer bem para misturar. Cobrir
com um pano e deixar repousar por um dia,
mexendo de vez em quando. Em seguida, coar a
solução em camadas de gazes para remover
impurezas e sedimentos. Caso utilize uma solução
de goma arábica misturada, ela deve ter a mesma
consistência líquida como a solução de glicerina.
• Umectante: misturar o mel (duas medidas) com o
xarope de milho (uma medida). Lembrando que o
umectante favorece a uniformidade da tinta na
superfície.
• Dextrina: uma pasta conveniente consiste em 25
gramas de dextrina para 50 gramas de água
fervente.
Guache
Existem diversas maneiras de fazer a tinta guache, desde as
mais simples que podemos fazer com crianças e adolescentes em
sala de aula, até a fabricação de um guache voltado para artistas.
Vejamos no Quadro 1 os materiais e os métodos de criação
de alguns tipos de guache. O primeiro é bem simples, e pode ser
usado como recurso educativo com bastante segurança.
Acompanhe.
Têmpera
Assim como na fabricação das outras tintas, a têmpera
também possui vários métodos de criação. Ela pode ser feita à
base de ovo, com emulsões de óleo e ovo, goma arábica entre
outras. Vejamos a seguir a composição e o procedimento de
fabricação de algumas delas.
A tinta têmpera com gema de ovo é bem simples de fazer,
e muitos professores de arte utilizam desta técnica em sala de
aula. Os materiais utilizados para fazer a tinta têmpera a base de
ovo são: gemas de ovos sem a película, água, óleo de cravo (ou
vinagre), pigmentos (xadrez em pó ou líquido), e potes para
armazenar a tinta. O processo de fabricação desta têmpera são:
1) separar a clara da gema;
2) retirar a película que envolve a gema, com todo
cuidado;
3) acrescentar a água duas gotinhas de óleo de cravo
(ou vinagre) e mexer com uma colher;
4) separar essa base em potes pequenos e acrescentar
o pigmento em cada um deles com a cor desejada.
Vale ressaltar que o tom desejado depende do tipo de
trabalho que se quer fazer e da quantidade de água e pigmento
colocados. Quando se coloca mais água e menos pigmento, a
tinta fica aquarelada.
Um outro tipo é a têmpera com emulsões de óleo e ovo.
Um fato interessante em relação a esta têmpera é que, a adição
de ovo e óleo modifica a qualidade do óleo e dá maior
flexibilidade à têmpera. Há duas maneiras de fazê-la, vejamos no
Quadro 2.
Tintas naturais
Apesar de existir uma infinidade de tipos pigmentos no
mercado, não se pode esquecer que os pigmentos são extraídos
da natureza e que muitos destes elementos estão em nosso
ambiente cotidiano. Vejamos no Quadro 3 dois tipos de tintas
feitas com elementos e recursos naturais que podemos usar
como pigmento.
Tinta a óleo
Para fabricar a tinta a óleo é preciso ter uma boa
observação do equilíbrio para fazer a tinta na consistência
desejada. Atualmente, não há muita dificuldade em misturar os
pigmentos, pois eles já vêm com uma fina granulação. É
oportuno fazer uma advertência quanto ao cuidado em
manusear pigmentos: embora a maioria dos pigmentos atuais
não tenha restrição quanto ao contato com a pele, é necessário
ter o cuidado de não inalá-los. Além disso, o seu manuseio deve
ser feito de maneira a evitar o levantamento de pó (o mais
apropriado é usar uma máscara que bloqueie a inalação do
produto). Portanto, trata-se de uma técnica voltada para o
ensino especializado de arte, ou seja, em ateliês e universidades.
Vejamos a seguir os materiais e os processos de fabricação
de dois tipos de óleos. Acompanhe.
A tinta óleo I é a maneira mais simples de fabricação da
tinta a óleo, e tem como materiais necessários o pigmento seco e
o óleo de linhaça. O seu método de fabricação também é fácil,
contudo, o segredo está no equilíbrio da composição da tinta. Os
procedimentos são:
1) Em um vidro ou superfície de esmalte, fazer um
monte com o pigmento seco (uma colher de sopa
ou duas para começar).
2) Adicionar óleo de linhaça (o melhor é o refinado)
em gotas e misturar os poucos com uma espátula
plana até o pigmento adquirir a consistência
adequada.
3) Para misturar, trazer continuamente a pasta de fora
para o centro. Após concluído o processo, esta tinta
pode ser utilizada imediatamente em sua paleta ou
então armazenada em tubo ou pote.
4) Por fim, para limpeza do material utilizado, usar
terebentina ou outro solvente compatível.
Já a tinta óleo II é uma outra técnica de fabricar esta tinta,
e tem como ingredientes: 1 parte de pigmento, 1 parte de verniz
cristal, 1 parte de óleo de linhaça. O procedimento de fabricação
deste óleo também é pouco complicado, vejamos:
1) Misturar em porções iguais o verniz e o óleo de
linhaça, aos poucos.
2) Fazer uma pilha com o pigmento e um buraco no
meio dela e adicionar um pouco da mistura do
verniz.
3) Bater a mistura com uma espátula sobre uma
bancada de pedra ou placa de vidro;
4) Repetir o processo 3 e 4 citado na receita da tinta
óleo 1, para obter uma massa com a consistência
desejada.
5) Ao final, para limpeza do material utilizado usar
terebentina ou outro solvente compatível.
CONSIDERAÇÕES
Como pudemos ver, esta é uma unidade prática e, para
melhor compreensão, é importante que você mesmo tente
fabricar as tintas aqui mencionadas.
Lembre-se de que, fazer é o melhor jeito de aprender,
portanto, você deve colocar a mão na massa, ou melhor, na
tinta!
E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 - Materiais para confecção de papel reciclado: disponível em
<http://mayarareginaa.blogspot.com/2009/10/receita-de-papel-reciclado.html>.
Acesso em: 20 maio 2010.
Figura 2 - Método ilustrado para confecção de papel reciclado: disponível em
<http://mayarareginaa.blogspot.com/2009/10/receita-de-papel-reciclado.html>.
Acesso em: 20 maio 2010.
Figura 3 - Proporção do tecido à moldura: disponível em:
<http://artesarantes.com.br/mais/images/crbst_fazer_20telas_207.jpg>. Acesso em:
21 maio 2010.
Figura 4: disponível em
<http://www.webart.com.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=14&Item
id=39>. Acesso em: 21 maio 2010
Figura 5: disponível em
<http://www.webart.com.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=14&Item
id=39>. Acesso em: 21 maio 2010
Figura 6: disponível em
<http://www.webart.com.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=14&Item
id=39>. Acesso em: 21 maio 2010.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHILVERS, I. Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
FAJARDO, E.; MATHIAS, C. Tintas e texturas - Oficina de Artesanato. São Paulo: SENAC,
2002.
HAZEL, H. Enciclopédia de técnicas de pintura acrílica. Barcelona: Acanto, 1999.
______________ Enciclopédia de técnicas de pintura acuarela. Barcelona: Acanto,
2001.
LEME, S. P. A cozinha da arte. Uberlândia: UFU, [s.d.];.
MAYER, R. Manual do artista: de técnicas e materiais. São Paulo: Martins fontes, 1996.
PYLE, D.; PEARCE, E. Winsor & Newton – O livro da pintura a óleo. ColArt Fine Art &
Graphics Limited, 2002.
TAPPENDEN, C. Aprender a dibujar e pintar: manual enciclopédico de técnicas paso a
paso. Madri: Asppan, 2004.