O Culto de Jurupari Jurupari, o Legislador Dos Silvícolas Amazônicos, Tem Um Culto Rigoroso e Cheio de
O Culto de Jurupari Jurupari, o Legislador Dos Silvícolas Amazônicos, Tem Um Culto Rigoroso e Cheio de
O Culto de Jurupari Jurupari, o Legislador Dos Silvícolas Amazônicos, Tem Um Culto Rigoroso e Cheio de
É tão importante essa cerimônia que os tocadores dos instrumentos só podem neles
executar a música de Jurupari se estiverem puros. Para isso, apanham raízes e caules
do ceuci-cipó, esmagam-nos no pilão e bebem o sumo, que é um vomitório violento.
Após essa purificação, tomam prolongados banhos. Só depois é que podem tocar os
sagrados instrumentos. Quem assim não fizer, arrisca-se a morrer.
JURUPARI
A crença neste mito aceita duas denominações gerais: no norte, o "Jurupari" e no sul, o
"Anhangá".
A única dúvida que resta é saber como se parecem. O Jurupari não tem encarnação
alguma e o Anhangá apresenta-se sob o aspecto de um veado vermelho, com chifres
cobertos de pelos, olhos de fogo e com uma cruz no meio da testa. Ele vive em lugares
da mata considerados assombrados, perseguindo os caçadores que se atrevem a violar o
seu domínio. O Anhangá foi um dos primeiros seres sobrenaturais dos quais os
conquistadores portugueses tiveram notícias entre os indígenas.
Há, entretanto, lendas cheias de mistérios e romance sobre suas origens e destino. Em
uma, Jurupari, aparece como imigrante invasor, que dita leis e se constitui como
orientador de uma raça e, cujos exemplos e lições devem ser obedecidos pelos índios.
Na maioria das lendas de que se têm conhecimento, os Juruparis não são outra coisa,
senão o resultado das atribulações noturnas do indígena, surpreendido e salteado por
pesadelos.
Foram os jesuítas, sabe-se hoje com certeza, que caracterizaram o Jurupari como
demônio. Supersticiosos, os índios foram fáceis de serem conduzidos, aceitaram
prontamente que as interrupções do sono e os sustos eram obra de um espírito do mal.
E, efetivamente, o testemunho de quase todos os missionários era que o jurupari era
sinônimo do demônio. Já mostraremos, porém de onde procede esta analogia.
Jurupari, é traduzido como: "ser que vem a nossa rede", isto é, ao lugar onde os índios
dormiam. A tradução, conforme tradição indígena, exprime a idéia de que um estranho
visita os homens em sonho, causando aflições e trazendo-lhes imagens de perigo
horríveis. Esta aí delineada nitidamente a imagem do pesadelo.
Os índios piranhas, que habitavam o médio rio Maici, afluente do rio Marmelos, dão o
nome de "paracé" aos rituais com que costumavam invocar os espíritos de Urupá,
zelador e protetor da tribo e de Jurupari, interesseiro e vingativo, mas que tudo sabe.
Incorporado no pajé, Jurupari toma a bebida e corria novamente para a mata distante
onde prossegue sua cólera diabólica, imprecando ou brandindo o arco na simulação de
uma luta contra o inimigo. Mais tarde, retornava a uma touceira de mato, próxima da
maloca e, oculto aos olhares profanos, respondia às perguntas que lhes eram dirigidas
pelos índios, profetizando bens e males que haveriam de suceder.
Para os homens se tornarem independentes delas, instituiu grandes festas em que só eles
podiam participar e segredos só a eles contou. As mulheres que fraudassem tais regras
deviam morrer. E, em desobediência a esta lei, morreu Ceuci, a própria mãe do
legislador.
As leis de Jurupari revelam que os homens só são iniciados nos seus segredos depois
de sofrerem, desde a puberdade, esmerado preparo e atingirem a idade em que se
sentem plenamente fortes para resistir a qualquer sedução que lhes queira arrebatar os
segredos. A morte á a punição a todo aquele que o desvenda. Castigo idêntico recaía
sobre a mulher que, mesmo por acaso, soube ou viu os instrumentos sagrados.
AS DURAS LEIS:
Em 1909 foi Don Frederico Costa, bispo de Uaupés que as recolheu no seio de um
movimento de libertação de mulheres, são elas:
8 - A mulher nunca poderá ver o Jurupari, afim de que assim seja castigada por alguns
de seus três defeitos dominantes:
a) a incontinência;
b) a curiosidade
E este ilustre desvendador de tantos mistérios deste reino maravilhoso dá-nos ainda,
importantes informes no seu grande livro "O Selvagem" sobre a teogonia dos índios,
que atribuíam a cada ordem da criação um deus protetor, uma espécie de mãe, que a
defende contra tudo e, especialmente contra a ação destruidora do próprio homem.
SIGNIFICADO DO JURUPARI
As leis do Jurupari impunham silêncio total sobre os segredos ocultos. Um pai deveria
matar seu filho, se este descobrisse, antes de ser iniciado pelos rituais qualquer
particularidade sobre suas festas sagradas. Nestas cerimônias iniciáticas, os Uananá, por
exemplo, cantavam os seguintes versos:
[1]
Verbete sobre os índios Ka´apor, texto sobre Religião, traduzido do inglês por Ana Valéria
Araújo, setembro de 1998 – site do Instituto Sócio
Ambiental.http://www.socioambiental.org/website/pib/epi/kaapor/religiao.shtm
[2]
Kadiwéu -verbete sobre os índios Kadiwéu, texto sobre Ritos, por Mônica Thereza Soares Pechincha,
março de 1999. Fonte: Instituto Socioambiental.
http://www.socioambiental.org/website/pib/epi/kadiweu/ritos.shtm
[3]
Biblioteca Virtual - Museu Virtual - MAE-USP - Brasil Indígena - Ritual de Iniciação Feminina
Tukúna a "Festa da Moça Nova" http://www.bibvirt.futuro.usp.br/acervo/audiovisual/visual/mae
Escola do futuro da Universidade de São Paulo http://www.bibvirt.futuro.usp.br
[4]
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. São Paulo: Ediouro, s/d, 10º ed. p.
533.
[5]
HARDING, M. Esther. Os Mistérios da mulher. São Paulo: Paulinas, 1985. P. 88.
[6]
PIEDADE, Acácio Tadeu de C. Música ye’pâ-masa: por uma antropologia da música no Alto Rio
Negro. Dissertação de Mestrado, UFSC, 1997.
SILVEIRA, Maria Luiza. Índias Mehinaku, as princesas das águas. Revista Manchete, junho de 1996..
[7]
Identidade em mulheres índias: um estudo sobre processos de transformação. Maria Luiza dos Santos
Silveira, tese de mestrado, USP, Instituto de Psicologia.
[8]
SILVEIRA, Maria Luiza. Índias Mehinaku, as princesas das águas. Revista Manchete, junho de 1996.
[9]
BISILLIAT, Maureen, VILLAS-BÔAS, Orlando e Cláudio. Xingu, território tribal. Fotos de
Maureen Bisilliat, texto de Orlando e Claudio Villas-Bôas. São Paulo: Cultura Editores Associados,
1990.
[10]
LARRINGTON, Carolyne. The Woman’s companion to mythology. London:
HarpersCollinsPublishers, 1992. p. 401 a 408.
[11]
SCHADEN, Egon. Homem, cultura e sociedade no Brasil. Coleção Estudos Brasileiros. Petrópolis:
Vozes, 1972. p.95-97. Mito recolhido por Horace Banner.