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Ministério Da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Câmpus Anápolis

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Ministério da Educação

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás
Câmpus Anápolis

Correntes de Educação Ambiental – Texto em contrução. Fonte: Tese de doutorado


Alessandro Silva de Oliveira.

3 As correntes de educação ambiental enquanto categorias ideológicas:


características, abordagens e propostas de formação

No contexto caracterizado pelos impactos negativos da degradação ambiental,


diversas foram as alternativas apontadas em campos sociais diferentes como
possibilidades para a minimização dos problemas decorrentes das alterações antrópicas
no meio ambiente (TOMAZELLO et al, 2009). A educação ambiental, enquanto
processo formativo capaz de promover transformações nas interações ser-humano/meio
ambiente foi considerada uma das principais possibilidades para a amenização ou
solução desses problemas. Como processo formativo para as interações ser-
humano/meio ambiente a educação ambiental corresponde a uma possibilidade
potencial para as esses processos. No entanto, conceber a educação ambiental apenas
como um instrumento na minimização dos impactos das interações humanas seria o
mesmo que reduzi-la a um instrumento para a conservação ou preservação dos recursos
naturais. Dessa maneira, grandes são os riscos de equívocos e possibilidades de
limitações quando atitudes fundamentadas nesses pressupostos desconsideram outras
dimensões de possibilidades formativas inerentes às propostas em educação ambiental.
Em relação à elaboração sobre a educação ambiental enquanto processo
educativo de formação, cabe ressaltar inicialmente que a mesma situa-se em uma esfera
da não neutralidade e heterogeneidade de intenções (CARVALHO, 2002). A não
neutralidade dessa perspectiva advém desde quando os conceitos de natureza e meio
ambiente deixaram de pertencer exclusivamente ao campo da Ecologia e foram
incorporados ao discurso das reivindicações dos movimentos sociais. Essa incorporação
e atribuição de significados a vários conceitos que alicerçam esse processo formativo
proporcionou a heterogeneidade constatada nos vários campos discursivos e ideológicos
da educação ambiental. Com isso, constata-se sob o “guarda chuvas” da educação
ambiental, a existência de diversas possibilidades formativas por esse processo
educativo. As dificuldades muitas vezes verificadas no próprio reconhecimento desse
processo educativo em suas várias nuances formativas, justifica-se pela característica da
diversidade que o constitui.
Nesse sentido, tentar definir o que é a educação ambiental corresponde a uma
tentativa infértil e desnecessária na abordagem aqui considerada. Mais propriamente,
considera-se que para a mesma não é possível uma definição propriamente dita, pois a
educação ambiental não corresponde a uma única forma de educação dentre inúmeras
outras, ou a uma ferramenta para a resolução exata de problemas ou controle do meio
ambiente (SAUVÉ, 1999). Corresponde a uma dimensão formativa que diz respeito a
uma série de interações pessoais e sociais no meio em que vivemos. Daí as múltiplas
abordagens ou correntes ideológicas que caracterizam e compõem a dimensão formativa
pela educação ambiental.
Dessa forma, a construção de uma prática educativa nomeada como educação
ambiental adquire desdobramentos que ganham significados de acordo com os
contextos políticos e culturais nos quais se articula (CARVALHO, 2002). Caracterizada
por limites e possibilidades que irão delinear diferentes ênfases, abordagens e
compreensão acerca das questões ambientais, o tratamento da realidade por perspectivas
da educação ambiental pode favorecer a homogeneização ou aparecimento de
contradições que constituem a realidade e que não emergem nas práticas ingênuas e
superficiais. Desses desdobramentos da educação ambiental, consideram-se mais
relevantes aqueles que constituem processos formativos que buscam a compreensão das
questões ambientais fundamentadas nas perspectivas da complexidade e diversificação
inerente à própria realidade humana.
Esse tópico da escrita pretendeu a descrição das correntes de educação ambiental
enquanto categorias ideológicas, no intuito de favorecer a compreensão dessas
abordagens acerca da problemática ambiental. Como correntes ideológicas elas
influenciam a estruturação de conceitos, direcionamento das abordagens e propostas de
práticas sociais ou pedagógicas. Essas correntes apresentam em comum a preocupação
com o meio ambiente e o reconhecimento da educação ambiental como fator primordial
nas interações do ser-humano com o meio ambiente. No entanto, os diferentes atores
(pesquisadores, professores, pedagogos, animadores, políticos, organismos, e outros)
adotam diferentes discursos sobre a educação ambiental e propõem diversas maneiras
de praticar e conceber essa ação educativa (SAUVÉ, 2005). Esses diferentes discursos e
propostas decorrem de posturas que se situam em posicionamentos ideológicos que
encontram seu lugar nas correntes de educação ambiental. Nesse sentido, justifica-se a
descrição dessas correntes para melhor compreensão das perspectivas assumidas por
esses atores, como também para proporcionar a melhor compreensão da perspectiva
adotada pela educação ambiental crítica.
Nesse sentido, as correntes que constituem a dimensão da educação ambiental
não correspondem apenas a categorias de classificação, mas a posicionamentos
ideológicos. Apresentam formas variadas de conceber o meio ambiente e o processo
educativo e adotam discursos diferentes sobre a educação ambiental, que implicam em
formas de praticar e conceber a ação educativa com objetivos e finalidades específicos
nesse processo formativo. Caracterizar cada uma delas não corresponde a tentativa de
defini-las, mas ao movimento que busca proporcionar a compreensão das proposições
ideológicas que as fundamentam. Porém, cabe ressaltar que, as características presentes
nessas categorias de classificação não as constituem em sistemas de conjuntos bem
definidos. Vários são os aspectos que podem apresentar divergências e oposições, como
também ser comuns ou complementares a essas correntes de educação ambiental.
A sistematização dessas correntes apresenta valor de importância pela
possibilidade de compreensão da diversidade de proposições que constituem a educação
ambiental. Também como possibilidades para o norteamento de abordagens e práticas
pela escolha daquela(s) que servirão como referenciais que melhor inspirarão o processo
formativo pela educação ambiental no atendimento dos objetivos e finalidades
pretendidos. Retoma-se novamente que, no contexto dessa análise a sistematização
dessas correntes procura favorece a compreensão do referencial adotado para a mesma.
A proposta adotada no corpo do texto para a apresentação da sistematização das
correntes de educação ambiental fundamentou-se no delineamento proposto por Sauvé
(2005). Segundo a perspectiva da pesquisadora, são quinze as correntes de educação
ambiental que encontram maior destaque dentre as abordagens e práticas dos
educadores/atores ambientais. Sete dessas correntes apresentam uma tradição mais
antiga e foram dominantes desde as primeiras décadas de abordagem da educação
ambiental, no período correspondente as décadas de 1970 e 1980. Oito dessas
apresentam uma tradição mais recente e incorporam também outras perspectivas em
seus discursos. Dessa maneira, as correntes da educação ambiental enquanto categorias
ideológicas serão apresentadas considerando os seguintes parâmetros: concepção de
meio ambiente, principal abordagem no processo educativo e estratégias adotadas por
cada corrente de educação ambiental.
É importante destacar uma percepção que surge pelo diálogo com os referenciais
sobre a diversidade das correntes de educação ambiental em suas propostas ideológicas.
Pela análise realizada, pode-se inferir que essa diversidade não surge de forma
semelhante no processo educativo no contexto mundial. Existem ênfases em certas
categorias que predominam nas propostas educativas dos países. Assim, tentando um
delineamento dessas ênfases, pode-se constatar que em países como na Austrália e em
grande parte dos EUA, predominam um processo formativo pela educação ambiental,
mais situado em propostas ideológicas para a preservação, sustentabilidade,
conservação e manejo de áreas naturais (SAUVÉ, 2005), (GIORDAN, SOUCHON,
1991), (PARDO, 2001) (HELLER, 2003), (GAUDIANO 2000). A diversidade
ideológica das correntes de educação ambiental surge de forma mais acentuada
principalmente no Brasil, Europa, México e em outros países da América Latina
(GAUDIANO, 2002) (GAUDIANO 1999), (ROBOTTON, 2005), (SAUVÉ, 2005),
(SAUVÉ, 1997), (REIGOTA, 2004).
Apesar da forte tendência da ecologização das relações, na diversidade presente
nos Países como o Brasil e outros da América Latina, constata-se uma ênfase no
processo formativo que tende a movimentos de reivindicação e participação social nas
questões socioambientais. Esses processos não se situam em seu todo
fundamentalmente nas propostas de preservação dos espaços naturais e tendem a
incorporar discursos das perspectivas sociais e econômicas. Considerando Carvalho
(2001), pode-se inferir que possivelmente essa característica da pluralidade constatada
nesses locais, esteja relacionada ao contexto dos movimentos sociais nesses países e foi
concebida na esteira das reivindicações sociais e na divulgação das questões ambientais.
No entanto, um delineamento rígido dessas características, na pretensão de
enquadramento dos países em perspectivas ideológicas homogêneas e imutáveis é
inviável devido à própria característica não homogênea da educação ambiental e das
realidades de cada local.
Ao constituir-se enquanto prática educativa, para a educação ambiental faz-se
necessárias orientações específicas independentes de constituir-se pelos processos
formal ou não formal de ensino. Contudo, caber ressaltar, que o processo de
sistematização apresentado nesse texto não se limita a mera descrição das correntes já
tratadas por Sauvé (2005). A apresentação das mesmas no corpo do texto resulta de um
processo de elaboração pelo diálogo com referenciais específicos, que busca um
delineamento dessas correntes pelos parâmetros considerados acima.

3.1 Sistematização das correntes em educação ambiental concebidas no


período de 1970 a 1980
As correntes de educação ambiental que foram concebidas entre as décadas de
1970 e 1980 corresponderam às primeiras correntes em educação ambiental, sendo por
isso consideradas de tradição mais antiga (Sauvé, 2005). Correspondentes a propostas
ideológicas que orientam abordagens e concepções de vários educadores/atores
ambientais, essas correntes são representadas pelas: Corrente Naturalista, Corrente
conservacionista/Recursista, Corrente Resolutiva, Corrente Sistêmica, Corrente
Científica, Corrente Humanista, Corrente Moral/Ética. Das sete correntes, nesta
pesquisa serão apresentadas apenas aquelas que contribuem para situar a análise da
proposta de investigação aqui pretendida.

3.1.1 A Corrente Naturalista


A Corrente Naturalista corresponde a uma categoria ideológica de educação
ambiental que considera o meio ambiente como sendo a própria natureza (REIGOTA,
2002). Nessa concepção, o meio ambiente é considerado como sinônimo de natureza
com seus componentes bióticos e abióticos. Desse espaço o ser-humano não faz parte
ou é considerado de forma dicotômica. Caracterizado por seus atributos naturais, esse
espaço é geralmente referenciado por florestas, rios, locais de beleza natural, lugar
intocado ou intocável e algumas vezes como “paraíso terrestre” (DIEGUES, 2000). A
intenção principal dessa corrente de educação ambiental situa-se no objetivo do
desenvolvimento da capacidade de reconhecimento dos componentes da natureza,
descrição dos fenômenos, dos ciclos naturais ou compreensão dos processos de
degradação com enfoque nos aspectos biogeoquímicos.
Essa corrente corresponde a uma das primeiras perspectivas consideradas em
educação ambiental e constitui-se em uma corrente fortemente influente e presente em
várias perspectivas da educação ambiental (SILVA, 2009). A abordagem da mesma
enfatiza os aspectos biológicos das questões ambientais e privilegia os aspectos físico-
químicos da degradação ambiental, em detrimento das dimensões política, social e
econômica que caracterizam o espaço do meio ambiente (REIGOTA, 2009). Esse
pressuposto de abordagem reforça o dualismo na interpretação ser-humano/natureza ao
considerar os aspectos biológicos como os principais constituintes dessa relação. Nesse
sentido, acredita-se no âmbito dessa investigação que uma abordagem pela corrente
naturalista em educação ambiental corresponde a um fator limitante para a construção
da cidadania das pessoas articulada com o compromisso ético e político, uma vez que
essas dimensões não são consideradas.
A proposta de formação pela corrente naturalista está centrada na natureza e
utiliza a imersão nos meios naturais como uma de suas principais estratégias educativas.
Essa imersão favorece a sensibilização pelo contato com a natureza e constitui-se em
um aspecto importante para a amenização da visão dicotômica ser-humano/natureza
(COHEN, 1990). No entanto, a corrente naturalista prioriza nessa imersão o valor
intrínseco da natureza, sem o questionamento de qualquer ordem de fatores externos ou
internos de influência, o que ocasiona um reducionismo nesse processo de formação aos
aspectos de reconhecimento da fauna e da flora. No curso do século XXI as estratégias
características dessa corrente ainda podem ser constantemente verificadas nos
movimentos de “educação ao ar livre” ou “educação para o meio natural” (CLOVER,
2000).
As estratégias utilizadas nas propostas dessa corrente podem ser exemplificadas
pela realização de oficinas, jogos, dinâmicas de grupos e visitação a espaços naturais
que priorizam a compreensão dos fenômenos ecológicos ou a identificação dos
componentes da natureza. Preferencialmente é realizada nos espaços naturais, mas não
necessariamente ocorre somente neles. Uma perspectiva ideológica de formação pela
corrente naturalista também pode ser constatada nas abordagens em espaços e discursos
diversos que desconsideram os conflitos inerentes às relações humanas, os aspectos
políticos, históricos, sociais e culturais das relações que se constituem nas interações do
ser-humano com seu meio ambiente. Nesse sentido, tanto aspectos práticos quanto de
abordagens teóricas que desconsideram tais dimensões e priorizam os aspectos naturais
fazem parte do leque de exemplos para essa abordagem.

3.1.2 A Corrente Conservacionista/Recursista


A Corrente Conservacionista de educação ambiental corresponde a uma
categoria ideológica que considera o meio ambiente como um recurso, fonte de matéria
prima ou subsistência para o ser-humano (SAUVÉ, 2001). Na mesma, constata-se uma
ênfase de importância nos aspectos bióticos e abióticos do meio, enquanto componentes
utilizáveis pelo ser-humano, por isso essa categoria também recebe a denominação de
Corrente Recursista. Nessa concepção o ser-humano mantém certa interação com o
meio ambiente, mesmo que para atender aos seus interesses, o que atenua a perspectiva
dualística. Porém essa relação ainda é dualística porque o ser-humano assume uma
posição externa ao meio ambiente ou de maior importância dentre todos os seres vivos
(REIGOTA, 2009). A intenção principal dessa corrente situa-se na capacidade de
reconhecimento do meio ambiente enquanto espaço de recursos naturais, identificação
de suas potencialidades, biodiversidade e patrimônio genético. Como o meio é
considerado um recurso, a preocupação fundamental consiste no desenvolvimento de
habilidades para a gestão desse espaço.
A Corrente Conservacionista ou recursista também corresponde a uma das
primeiras correntes consideradas nas propostas de formação pela educação ambiental e
apresenta suas origens na ética antropocêntrica humanista e no pensamento cartesiano
(FERNANDES, 2003). A Abordagem da mesma enfatiza as proposições centradas na
conservação dos recursos tanto em relação a sua quantidade e qualidade, pois os
mesmos servem para a utilização humana e destinam-se à existência do ser-humano
(SAUVÉ, 2005). Os enfoques verificados situam-se na conservação da biodiversidade e
no reaproveitamento dos recursos, sendo a primeira considerada enquanto possibilidade
de reserva e os segundos aspectos correspondentes à possibilidade de maior preservação
dos recursos naturais. A abordagem e o enfoque utilizado por essa corrente de educação
ambiental apresentam um aspecto positivo no que tange à possibilidade de
desenvolvimento de posturas responsáveis para com a utilização dos recursos naturais.
No entanto, favorece uma visão reducionista e utilitária ao considerar o meio ambiente
enquanto recurso a ser utilizado pelo ser-humano.
As principais estratégias verificadas na Corrente Conservacionista/Recursista
correspondem ao desenvolvimento de programas ou ações centrados em processos de
reaproveitamento ou preocupações de gestão ambiental dos espaços. As atividades
desenvolvidas pela perspectiva clássica dos três R (Redução, Reutilização e
Reciclagem) e exemplificadas pelos programas de coleta seletiva, oficinas com
materiais, construções alternativas, gestão da água, do lixo, e da energia; correspondem
a essas estratégias. Muitas práticas pedagógicas realizadas mediante a visitação em
aterros sanitários, lixões, usinas de reciclagem ou triagem também exemplificam essa
modalidade de educação ambiental. Essas estratégias formativas constituem-se restritas
quando se limitam a abordagens para reutilização ou conservação dos recursos.
Como categoria ideológica de educação ambiental, essa corrente é fortemente
constatada em práticas e abordagens realizadas com comunidades que dependem
diretamente dos recursos naturais para a sua sobrevivência ou onde os mesmos
encontram-se escassos (SAUVÉ, 2005). Corresponde a uma ideologia que se
desenvolveu principalmente após o período da Segunda Guerra, quando os recursos
naturais começaram a se esgotar. Dessa maneira a ela surgem associadas nuances do
discurso da sustentabilidade ou do desenvolvimento sustentável (SACHS, 2002). A
incorporação desse discurso a essa perspectiva de educação ambiental, apresenta seu
valor de importância, porém não corresponde ao enfoque principal da mesma que
prioriza ações e habilidades para a utilização e gestão dos recursos naturais do meio.

3.1.3 A Corrente Resolutiva


A Corrente Resolutiva de educação ambiental corresponde a uma categoria
ideológica da educação ambiental que considera o meio ambiente como um espaço no
qual existem inúmeros problemas ambientais a serem resolvidos pelo ser-humano
(SAUVÉ, 2001). O ambiente é considerado como um espaço biofísico importante para a
sobrevivência humana, porém ameaçado pelos problemas de degradação. A constatação
desses problemas é atribuída ao meio ambiente sem a relação com aspectos políticos,
econômicos, culturais ou históricos. Eles “acontecem” no espaço do meio ambiente e
cabe ao ser-humano resolvê-los para a garantia do seu espaço de sobrevivência. A visão
de ser humano nesse espaço ainda é dicotômica, uma vez que esses problemas são
apresentados como problemas internos ao meio e externo ao ser humano. No entanto,
para a resolução dos mesmos há a necessidade de ações e essas podem ser alcançadas
por mudanças de comportamentos. Com isso, a intenção principal dessa perspectiva
corresponde ao desenvolvimento de comportamentos, habilidades e ações para a
resolução dos problemas ambientais que são inerentes ao meio ambiente.
A corrente resolutiva surgiu nos princípios dos anos 70, quando foram
divulgados os problemas decorrentes da degradação ambiental (SAUVÉ, 2005). Nesse
contexto, a abordagem desse processo formativo sofreu forte influência das perspectivas
catastróficas do período, que influenciaram na concepção de meio ambiente como um
espaço de insegurança. A abordagem adotou a visão central de educação ambiental
proposta pela UNESCO no contexto do PIEA, que prioriza a informação das pessoas
sobre os problemas ambientais decorrentes da degradação (SAUVÉ, 2005). A proposta
de mudanças de comportamentos apresentada por essa corrente situa-se em âmbito
individual sem o questionamento das questões políticas, econômicas e sociais que
envolvem a dimensão humana. As relações ser-humano/meio ambiente são priorizadas
em seus aspectos pontuais dos problemas ambientais.
As estratégias utilizadas por essa abordagem na informação e possibilidade de
mudanças de comportamento para a resolução dos problemas ambientais consistem na
identificação da situação problema, pesquisa dessa situação, diagnóstico; busca,
avaliação e escolha de soluções para as mesmas (HUNGERFORD et al, 1992). Vários
recursos podem ser utilizados no desenvolvimento dessas estratégias, desde a utilização
de documentários ao estudo de caso de situações reais ou fictícias de degradação
ambiental. Em relação ao aspecto da utilização de documentários, ainda verifica-se no
período atual uma preferência por abordagens alarmistas e catastróficas, que consideram
o medo como ponto de partida para uma proposta formativa pela educação ambiental.

3.1.4 A Corrente Sistêmica


A categoria ideológica da Corrente Sistêmica de educação ambiental apresenta
uma concepção de meio ambiente próxima da apresentada pela Corrente Naturalista. O
meio ambiente também corresponde ao espaço formado pelos componentes bióticos e
abióticos, no entanto, na Corrente Sistêmica são priorizadas as relações existentes entre
os mesmos (SAUVÉ, 2005). Nessa perspectiva, o ambiente é compreendido como um
conjunto formado pelas relações entre os componentes que se integram formando o
sistema. De forma semelhante à visão naturalista, o ser-humano não é considerado
enquanto componente ou integrante desse sistema de relações, com isso se pode afirmar
que nessa visão também existe uma caraterística dicotômica na perspectiva ser-humano
/natureza. Como as relações entre os componentes correspondem ao aspecto
fundamental de caracterização do meio ambiente a intenção principal dessa corrente da
educação ambiental corresponde ao desenvolvimento da capacidade de compreensão
desses sistemas naturais.
A Corrente Sistêmica apresenta como base de sua fundamentação teórica os
aspectos da Ecologia, que exerceram forte influência na caracterização do meio
ambiente na década de 1970 (SAUVÉ, 2005). Com isso, a abordagem dessa corrente
situa-se no enfoque dos diferentes componentes do espaço e nas relações entre os
mesmo, privilegiando a descrição dos sistemas naturais. Nessa abordagem acredita-se
que pelo enfoque dos componentes relacionados em um processo dinâmico de
interação, é possível proporcionar uma base de conhecimentos para a compreensão das
realidades e dos problemas ambientais. A perspectiva dessa corrente é interessante pela
proposta de consideração inter-relacionada dos componentes do meio ambiente. Porém,
ainda é naturalista e ocasiona reducionismos por não considerar outras dimensões
inerentes a esse espaço.
Essa corrente privilegia a capacidade de análise e síntese dos elementos
constituintes da realidade de forma integrada. Nesse aspecto, (GIORDAN, SOUCHON,
1991) consideram a complexidade dos componentes dessa realidade pela articulação e
integração que os mesmos apresentam entre si. Assim, a estratégia fundamental dessa
perspectiva consiste na observação de uma realidade ou fenômeno ambiental, análise de
seus componentes e relações para o desenvolvimento de uma proposta que permita
chegar a uma compreensão global da problemática ambiental (SAUVÉ, 2005). Vários
são os exemplos que consideram essa possibilidade formativa na educação ambiental,
como a visitação em espaços naturais. Por essa perspectiva, acredita-se que no contato
com espaço natural e pela observação e análise da interação entre seus componentes,
pode-se favorecer a compreensão de um problema de degradação em toda sua dimensão
ambiental. Essa compreensão será no mínimo parcial, uma vez que, a consideração da
dimensão socioambiental surge como necessidade para uma possível compreensão das
questões relacionadas ao meio ambiente.

3.1.5 A Corrente Humanista


A Corrente Humanista é a primeira desse grupo a considerar o meio ambiente
não apenas como espaço restrito aos seus componentes biofísicos ou relações entre os
mesmos (SAUVÉ, 2005). O meio ambiente é considerado como o espaço da vida
formado e influenciado por dimensões históricas, culturais, econômicas e estéticas. Não
corresponde somente aos espaços naturais, mas aos espaços sociais da cidade, das
praças públicas, das casas, dos jardins, do local de trabalho, escolas e outros nos quais
se insere a dimensão humana (SAUVÉ, 2001). Nesse sentido, a relação ser-
humano/natureza não é mais considerada em uma perspectiva dualística ou dicotômica
como verificada nas outras categorias ideológicas da educação ambiental. O ser-humano
é considerado inserido nesse espaço, interage com o mesmo e o modifica histórica e
culturalmente. Dessa maneira, a intencionalidade principal dessa corrente corresponde
ao desenvolvimento do senso de pertencimento e aprendizado nesse espaço.
A abordagem principal dessa corrente situa-se nas relações da sociedade com o
meio ambiente, considerado como o espaço para a aprendizagem e interação humana. A
aprendizagem nessa abordagem é pretendida pela consideração das características e
potencialidades humanas na constituição de seus espaços de vida, sendo tratados por
essa corrente os aspectos positivos e negativos dessa relação. A abordagem dessa
corrente situa-se mais propriamente nas alterações estéticas, históricas, sociais e
econômicas, dessa relação. Nesse sentido, um fator positivo dessa perspectiva de
educação ambiental corresponde a consideração do meio ambiente como resultado das
interações humanas nesse espaço, que pode possibilitar o desenvolvimento de noções
para responsabilidades nessa relação. No entanto, a prioridade dada aos aspectos
paisagísticos ou estéticos do meio ambiente em detrimento dos resultantes de interesses
políticos ou econômicos, pode limitar esse processo de formação para o reconhecimento
de alterações no espaço.
A estratégia utilizada por essa perspectiva fundamenta-se na observação das
paisagens e descrição das alterações resultantes das ações humanas. Nesse sentido, os
componentes, estruturas ou alterações nos espaços do campo ou da cidade,
correspondem aos contextos de possibilidades para o desenvolvimento das estratégias
pretendidas por essa perspectiva da educação ambiental. O contato, observação e análise
por aspectos sensoriais e afetivos estruturam as propostas de estratégias pretendidas por
essa corrente, na pretensão de construção simbólica do espaço do meio ambiente
(DEHAM, OBERLINKELS, 1984). A leitura da paisagem e observações das interações
humanas corresponde às propostas centrais na estruturação dessas estratégias.
Contudo, a análise das correntes de educação ambiental desse período, pelo
diálogo com os referenciais teóricos, permite a constatação de alguns aspectos comuns
para as propostas de interações na relação ser-humano/meio ambiente (REIGOTA,
2002), (DIEGUES, 2000), (SILVA, 2009), (CLOVER, 2000), (COHEN, 1990),
(SAUVÉ, 2001), (FERNANDES, 2003), (SAUVÉ, 2005), (SACHS, 2002),
(HUNGERFORD et al, 1992), (DEHAM, OBERLINKELS, 1984).
Em geral, pode-se afirmar que predomina na maioria das correntes desse período
nuances de uma visão naturalista que surge de maneira mais ou menos intensa, de
acordo com a abordagem da educação ambiental. O ser-humano, quando não é tratado
de forma dicotômica ou dualista é considerado como um observador passivo da
natureza ou componente cujas ações e interesses não impactam de forma intensa as
questões ambientais. Algumas das correntes desse período ensaiam uma perspectiva
socioambiental em suas ideologias, porém ainda priorizam a descrição dos sistemas ou
alterações do espaço natural, sem o enfoque político, econômico e social que
caracterizam as relações do ser-humano com o seu espaço.
Apesar dos vários documentos e propostas para um processo em educação
ambiental que considerasse o ser humano e as relações inerentes à dimensão ambiental,
o clima alarmista e catastrófico do período correspondente às décadas de 1960 e 1970
influênciou fortemente essas propostas da educação ambiental. A perspectiva ideológica
implícita na Conferência de Estocolmo presente em sua proposta de formação favoreceu
a forte influência nas correntes desse período. Nesse sentido, prevalecem a descrição
dos componentes, sistemas e alterações antrópicas nessas propostas, cuja intenção
consistia em capacitar as pessoas para o reconhecimento desses fatores, como se esse
reconhecimento pudesse habilitar plenamente para ações e compreensão da
problemática ambiental em nível global. A descrição das principais correntes desse
período correspondeu a proposta de favorecer a compreensão dos aspectos ideológicos
que caracterizam as mesmas, bem como a influência que tiveram do quadro histórico
das décadas de 1960 e 1970.

3.2 Sistematização das correntes em educação ambiental concebidas após a


década de 1980

As categorias das correntes ideológicas que foram concebidas após a década de


1980 incorporam em suas concepções, preocupações caracterizadas pela valorização das
relações humanas e de aspectos dos movimentos de reivindicações sociais que
ocorreram em várias partes do mundo. Pelo delineamento proposto por Sauvé (2005),
essas correntes são representadas pelas: Corrente Holística, Corrente Biorregionalista,
Corrente Práxica, Corrente Crítica, Corrente Feminista, Corrente Etnográfica, Corrente
Eco Sustentável e Corrente da Sustentabilidade. Semelhante à estruturação da proposta
pretendida na sistematização anterior, serão apresentadas aquelas de maior relevância
para o contexto dessa pesquisa. Nesse sentido, os critérios adotados para a
elaboração/descrição dessas correntes constituem-se nos mesmos pretendidos
anteriormente para as correntes de educação ambiental: a concepção de meio ambiente,
principal abordagem no processo educativo e estratégias adotadas por cada corrente de
educação ambiental.
Uma síntese sobre as principais características de todas as correntes
sistematizadas nessa elaboração será apresentada em quadro no final desse processo.
Dessa maneira, segue a descrição das correntes de educação ambiental do período
correspondente ao pós 1980:

3.2.1 A Corrente Holística


A Corrente Holística de educação ambiental apresenta uma perspectiva diferente
de meio ambiente daquelas apresentadas até então pelas correntes em educação
ambiental. Por essa corrente, o meio ambiente é considerado como um “organismo
vivo” capaz de se autorregular e atingir o equilíbrio em seus processos de interação
(LOVELOCK, 1987). Corresponde a um espaço universal no qual todos os seres vivos
encontram-se relacionados e integrados de forma harmônica e global. É o espaço que
pode se manifestar e reagir com uma linguagem própria da natureza, frente a ações
impactantes decorrentes das ações antrópicas (CAPRA, 1995). Nessa concepção o meio
ambiente é compreendido por uma perspectiva globalizante, na qual há atribuição de
características humanas, místicas e espirituais aos componentes do espaço. O ser-
humano é considerado como fundamental na relação ser-humano/meio ambiente, pois
cabe a ele integrar-se a esse espaço, entender a linguagem da natureza e promover a
“harmonia ambiental” (AVANZI, 2004). Dessa maneira, pode-se dizer que a
perspectiva dessa relação não se situa em aspectos dualísticos ou dicotômicos. Pelo
contrário, a mesma propõe uma interação e integração completa do ser-humano com o
meio ambiente natural. Porém, nessa proposta de interação constata-se uma perspectiva
de encantamento e contemplação universal.
O pensamento holístico teve suas origens em meados do século XVIII, nas
teorias do naturalista inglês Gilbert White, porém Capra corresponde a um dos
principais referenciais dessa perspectiva de educação ambiental. A abordagem dessa
corrente situa-se na tentativa de possibilitar a apreensão do mundo a partir da
internalização das relações dinâmicas existentes entre os seres vivos da natureza,
considerados na mesma ordem de importância do ser-humano (GADOTTI, 2000). Com
isso, essa categoria ideológica da educação ambiental visa o desenvolvimento de uma
noção de pertencimento ao meio. Acredita-se que através dessa noção, o ser-humano
pode tornar-se sensível às questões ambientais e que a mesma pode promover mudanças
de postura para a interação com o meio, considerado de forma ampla e universal. A
intenção principal dessa abordagem parte da proposta de uma mudança interior pela
interação com o meio ambiente para que essa mudança possa ser estendida para as
relações humanas e sociais.
A Corrente holística utiliza como estratégias de abordagem proposições
centradas em propostas psicopedagógicas ou cosmológicas (SAUVÉ, 2005). A primeira
corresponde à perspectiva de desenvolvimento individual da pessoa pela interação com
o meio ambiente, enquanto que a segunda corresponde ao desenvolvimento de uma
visão de mundo em que todos os seres vivos estariam relacionados entre si. Nessa
proposta, torna-se difícil exemplificar um conjunto homogêneo de estratégias capaz de
caracterizar essa perspectiva da educação ambiental, principalmente pela influência
mística e religiosa que a mesmas agrega. No entanto, pode-se apreender como traço
comum nas práticas pedagógicas pretendidas por essa perspectiva, uma iniciativa para o
contato com o meio natural considerando um enfoque nos aspectos sensoriais, afetivos,
intuitivos, místicos e criativo (GUTIÉRREZ & PRADO, 2000).
Essa corrente de educação ambiental apresenta aspectos favoráveis e
desfavoráveis em relação ao conjunto de sua proposta. No âmbito desta pesquisa,
considera-se que a intenção de desenvolver uma noção de pertencimento do ser-humano
ao mundo, corresponde a um aspecto favorável à diminuição dos aspectos dualísticos e
dicotômicos na relação ser-humano/meio ambiente. No entanto, também se considera
que essa intenção situada na ideologia de desenvolvimento de um ser planetário é
prejudicial para a formação de um indivíduo questionador da realidade em seus aspectos
políticos e socioambientais. Percebe-se pela análise da Corrente Holística, que muitas
das práticas e abordagens pretendidas por ela, não apresentam a pretensão de
desenvolvimento de posturas questionadoras sobre o meio ambiente. Muitos são os
posicionamentos favoráveis e contrários a essa perspectiva de educação ambiental. Na
presente investigação considera-se que essa Corrente não colabora para o
desenvolvimeto pretendido pela perspectiva crítica de formação.

3.2.2 A Corrente Biorregionalista


Na Corrente Biorregionalista o meio ambiente é considerado enquanto espaço
geográfico com atributos específicos que caracterizam certa área ou região (SAUVÉ,
2005). No entanto, a concepção de meio ambiente apresentada por essa categoria de
educação ambiental é diferente das concepções apresentadas pelas correntes naturalista
e sistêmica que enfatizam os componentes e fatores dos sistemas, respectivamente. O
espaço do meio ambiente e seus atributos naturais são considerados enquanto valor
simbólico para uma comunidade ou região. A perspectiva da relação ser-humano/meio
ambiente não é dualística ou dicotômica. Nessa concepção o ser-humano encontra-se
inserido nesse espaço e a ele atribui valores diversos: fonte de recursos, de subsistência,
fonte de vida, riqueza biológica, existencial, de beleza cênica e outros que ressaltam o
valor do espaço com suas características.
O biorregionalismo correspondeu a um movimento de retorno ao campo nos fins
do século passado depois das desilusões com a industrialização e urbanização (SAUVÉ,
2005). Dessa maneira, a abordagem da Corrente Biorregionalista da educação ambiental
situa-se na perspectiva ecocêntrica do movimento ambientalista pela (re) valorização
dos locais de origem no campo. A intenção principal dessa abordagem corresponde à
elaboração de uma relação de referência com o local, pelo desenvolvimento de um
sentimento de pertencimento e compromisso com esse espaço do meio ambiente. Nesse
sentido, percebe-se na mesma uma prioridade para as questões locais, em detrimento de
uma problemática mais ampla, considerada nessa abordagem pouco fértil para o
tratamento de questões locais concretas. Com isso, pode se afirmar que o (re)
conhecimento da própria realidade corresponde ao aspecto de maior importância por
essa corrente de educação ambiental. No entanto, entendemos que a restrição a uma
única realidade local é prejudicial à necessária percepção dos fatores externos que
influenciam as dimensões da realidade.
As principais estratégias verificadas por essa abordagem consistem na
valorização dos atributos naturais, artesanato, produtos, tradições, cultura e saberes
locais. Nesse sentido, pode-se considerar a proposta de educação ambiental
biorregionalista como um processo de formação contextualizado que aproveita as
potencialidades formativas de cada região. Os costumes de uma comunidade, as festas
tradicionais, ou as características naturais de uma determinada região correspondem a
exemplos e possibilidades por essa perspectiva. Em nossa região do Cerrado é comum a
constatação de práticas de educação ambiental por meio de propostas de produção de
doces, geleias com os frutos do cerrado. Essas práticas constituem-se em estratégias
que exemplificam essa categoria ideológica da educação ambiental, na qual os aspectos
práticos predominam na perspectiva. Nesse aspecto, cabe ressaltar a necessidade de um
rigor no planejamento das estratégias dessa modalidade de educação ambiental, para
que as mesmas não se restrinjam a práticas reducionistas.

3.2.3 A Corrente Práxica


A Corrente Práxica corresponde a uma categoria de educação ambiental que
considera o meio ambiente como um espaço para a aprendizagem através da ação
(SAUVÉ, 2005). Esse espaço é considerado em seus componentes, sistemas e aspectos
externos de influência de várias ordens, enquanto espaço de possibilidades para a
aprendizagem humana. Com isso, a relação ser-humano/meio ambiente não se
caracteriza por aspectos dicotômicos ou dualistas. O ser-humano situa-se nesse espaço
para o aprendizado prático sobre o mesmo, considerando os aspectos do meio ambiente,
suas características e problemas inerentes à degradação ambiental. Nessa proposta, a
Corrente Práxica de educação ambiental favorece o contato com realidades muitas vezes
distantes do indivíduo, que podem contribuir para o conhecimento e atenção frente a
alguns aspectos.
Nessa categoria ideológica acredita-se que a formação ocorre pela ação. Por isso,
a abordagem dessa corrente de educação ambiental não considera a necessidade de
conhecimentos prévios ou conceituais para o desenvolvimento de habilidades para a
atuação e ação em uma eventual situação de dada questão ambiental. O processo
formativo situa-se na própria ação e procura através do envolvimento nas práticas e
situações de uma realidade, o desenvolvimento dessas habilidades. No entanto, a
proposta de formação pretendida por essa corrente ideológica da educação ambiental
não corresponde a um exercício prático desprovido totalmente do processo de reflexão.
A proposta formativa pretendida por essa corrente também procura através da prática e
na prática o exercício de identificação e questionamento de determinada situação
ambiental. A intensão principal dessa corrente corresponde à tentativa de empreender
um processo participativo para resolver um problema percebido na instância da vida,
através do contato com o mesmo.
A reflexão é pretendida pelo contato prático com as situações no meio ambiente
que levem ao questionamento das questões ambientais. Algumas perguntas norteiam
esse processo, como: por quê? Qual a finalidade? Quais os objetivos? O que se
pretende? Quais são os procedimentos mais adequados? E o que se deve aprender com o
contato prático na realidade? A pesquisa-ação corresponde um processo que
exemplifica em parte essa possibilidade da educação ambiental, pois ao propor a
integração e ação em determinada realidade pelo questionamento e reflexão acerca da
mesma, permite o desenvolvimento de um processo reflexivo. Cabe ressaltar nesse
aspecto que, o processo reflexivo pretendido não abrange o movimento de pensamento
sobre as dimensões sociais, políticas e econômicas do espaço. Ele mais situa-se nos
próprios aspectos pontuais das questões ambientais e nas possibilidades de ações
individuais ou coletivas de práticas nesses espaços.
Essa abordagem da educação ambiental estruturada no contato com a realidade
para o processo de reflexão pode favorecer uma melhor compreensão de realidades
pretendidas apenas por um enquadramento teórico. No entanto, para a mesma há a
necessidade do desenvolvimento de propostas com abordagens e estratégias adequadas
para se atingir essa finalidade. Caso contrário, a pretensão formativa dessa corrente de
educação ambiental pode situar-se apenas nos aspectos do fazer e se restringir a
compreensão dos componentes, sistemas e problemas pontuais de uma determinada
questão ambiental. Por essas características, a Corrente Práxica situa-se em uma
interface de outras perspectivas da educação ambiental. Para a mesma também faz
necessário um rigor no planejamento das ações dessa proposta formativa.

3.2.4 A Corrente Etnográfica


O meio ambiente nessa categoria ideológica da educação ambiental corresponde
ao espaço privilegiado pela existência de comunidades tradicionais, manifestações
culturais e valores históricos dos povos existentes (SAUVÉ, 2005). Nessa perspectiva, o
ambiente é reconhecido enquanto espaço constituído por aspectos e valores culturais,
que podem delinear características bastante diversificadas para o mesmo. A relação ser-
humano/meio ambiente também não é dualística ou dicotômica. Segundo Pardo (2001)
apud Sauvé (2005), nessa perspectiva considera-se o ser-humano nas suas
manifestações socioculturais, de relevante importância para a constituição dos
contornos e características culturais do espaço do meio ambiente. Diferentemente de
outras concepções sobre o meio ambiente que privilegiam o enfoque nos constituintes
do espaço, a caracterização do mesmo situa-se na valorização das manifestações e
tradições existentes nele.
Essa corrente considera as características culturais dos grupos ou comunidades
para a abordagem das questões ambientais em sua proposta formativa. A abordagem
dessa corrente enfatiza o caráter cultural e procura por meio deste uma aproximação
com as questões ambientais. Nessa concepção de educação ambiental não se procura
apenas adaptar suas propostas ás realidades culturais diferentes, mas incorporar os
aspectos culturais dessas realidades á sua proposta educativa (SAUVÉ, 2005). A
principal intenção dessa abordagem consiste no reconhecimento e identificação das
características dos grupos e comunidades consideradas nos processos formativos para as
interações com as questões ambientais. A utilização dessa abordagem em educação
ambiental é verificada nos locais onde se percebe uma forte expressão cultural de
grupos ou comunidades tradicionais. Através dela acredita-se a possibilidade para a
superação de realidades de senso comum, quando assim se fizer necessário.
As principais estratégias dessa corrente situam-se na valorização dos aspectos
linguísticos, dos costumes, das tradições, festas locais, alimentos típicos, crenças e
folclore de uma comunidade ou grupo tradicional. Essas estratégias correspondem as
possibilidades que se apresentam para o desenvolvimento da noção de pertencimento ao
meio ambiente e valorização dos aspectos culturais. Um modelo pedagógico que
exemplifica a proposta formativa pretendida por essa corrente de educação ambiental
corresponde ao modelo citado por Sauvé (2005) de Joseph Bruchac (1987), denominado
“Os Guardiões da Terra”, e proposto para comunidades indígenas nos Estados Unidos
da América (EUA). Esse modelo busca na valorização dos contos e histórias ameríndios
uma proposta de valorização do universo simbólico indígena para o desenvolvimento da
noção de pertencimento ao meio ambiente, em práticas que ocorrem com a visitação aos
espaços naturais. De forma semelhante ás Correntes Naturalista e Práxica, para que o
processo formativo atinja seus objetivos e finalidades, há a necessidade de um cuidado
especial no planejamento do processo para o não favorecimento de reducionismos em
sua proposta formativa.

3.2.5 A Corrente da Sustentabilidade


A Corrente da Sustentabilidade corresponde a uma categoria ideológica da
educação ambiental que considera o meio ambiente pela perspectiva do
desenvolvimento sustentável (SAUVÉ, 2005). Nessa proposta, o meio ambiente é
considerado como o espaço fonte de recursos para a sobrevivência humana, no qual o
ser humano pode suprir as necessidades da geração atual sem afetar a capacidade das
gerações futuras de suprir as suas próprias demandas (SACHS, 2002). Por essa corrente
da sustentabilidade, ao meio ambiente é atribuída a função de atendimento as
necessidades humanas também para o desenvolvimento econômico e social, cabendo ao
ser-humano a responsabilidade da utilização desse espaço sem esgotar os recursos
naturais ou degradar o ambiente, fatos que o tornaria inadequado para a sobrevivência
humana (GUIMARÃES, 2010). A relação ser-humano/meio é não é considerada
dualística ou dicotômica dentro dessa perspectiva de utilização “com parcimônia”dos
recursos naturais através do desenvolvimento de práticas de sustentabilidade.
A ideologia do desenvolvimento sustentável apresentou maior expansão em
meados da década de 1980 quando o conceito da sustentabilidade permeou os discursos
de vários setores em diversas áreas (JACOBI, 2005). No campo da educação ambiental,
o mesmo foi incorporado gradativamente e influenciou posicionamentos de organismos
importantes como o assumido pela UNESCO (GADOTTI, 2009). Visando atender as
recomendações do capítulo 36 da Agenda 21, a UNESCO substituiu em 1997 o PIEA
pelo Programa de Educação para um Futuro Viável, cujo objetivo principal é contribuir
para o desenvolvimento sustentável pela materialização de práticas de sustentabilidade,
uma vez que, o desenvolvimento econômico corresponderia à base do desenvolvimento
humano e para os mesmos estaria a necessidade de conservação dos recursos naturais
(SCOTTO et al, 2005). Essa (re) afirmação da proposta formativa pela educação
ambiental influenciou vários posicionamentos formativos em educação ambiental em
todo o Mundo. No Brasil, o ProNEA corresponde à proposta de orientação oficial, que
exemplifica essa perspectiva da educação ambiental, que tende ser predominante.
Logo, as abordagens da educação ambiental que se situam nessa perspectiva
formativa adotam como referenciais o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade
como norteadores para suas propostas formativas. Nessa categoria ideológica da
educação ambiental procura-se a constituição de um aprendizado para a utilização
racional dos recursos no presente, de maneira que se possa assegurar a existência dos
mesmos no atendimento das necessidades futuras. A abordagem dessa corrente de
educação ambiental consiste no tratamento de questões relativas a práticas e
posicionamentos para a sustentabilidade. Na proposta formativa da educação ambiental
para a sustentabilidade busca-se o desenvolvimento de habilidades para a constituição
dessas práticas, posturas e ações que visem a sustentabilidade tanto dos recursos
naturais quanto dos espaços. A intencionalidade principal dessa abordagem
fundamenta-se na proposta de desenvolvimento de princípios para o consumo
sustentável, práticas de conservação dos espaços e formação de uma consciência
participativa sobre as questões ambientais, principalmente voltadas para a conservação
dos recursos naturais (GALEANO, 2008).
A proposta formativa pela Corrente da Sustentabilidade busca o
desenvolvimento humano de posturas responsáveis com o espaço do meio ambiente
pelo reconhecimento das relações humanas enquanto ações predatórias dos recursos
naturais e favorecedoras da degradação ambiental (JACOBI, 2005). Muitos adeptos
dessa corrente situam a proposta de formação de posturas responsáveis para a interação,
com o espaço pela participação social nas questões de ordem ambiental, política e
econômica (LIMA, 2009). No entanto, a perspectiva predominante que se verifica nessa
proposta formativa não corresponde à problematização dessas relações em seus
desdobramentos político-econômicos e sociais. A proposta de formação de posturas
responsáveis corresponde mais a um novo direcionamento para as ações predatórias do
ser-humano no meio ambiente. A formação de pessoas capazes de desenvolver novas
tecnologias e criar condições culturais que favoreçam mudanças sociais para o
desenvolvimento sustentável corresponde à principal orientação dessa categoria
ideológica da educação ambiental, presente principalmente no discursos e documentos
oficiais que norteiam essa proposta formativa.
Pode-se afirmar que a corrente da sustentabilidade é aquela que mais considera a
dimensão econômica na abordagem de sua perspectiva. O meio ambiente e a economia
são considerados integrados por uma visão econômica e passíveis de uma relação
equilibrada pela utilização racional dos recursos sem o comprometimento das
necessidades das gerações futuras (BOFF, 2012). As principais estratégias utilizadas por
essa proposta educativa, que procuram contemplar essas dimensões, podem ser
exemplificadas por práticas ou abordagens que buscam favorecer a análise sobre o
consumo de produtos, diminuição do desperdício, reutilização de materiais, uso
responsável e conservação dos espaços em uma proposta de desenvolvimento de ações
para a conservação dos recursos naturais. Estes aspectos considerados por essa corrente,
também se relacionam ao clima alarmista das décadas de 1960 e 1970, sendo
decorrentes das políticas oficiais elaboradas e propostas desde as Conferências
Mundiais da década de 1970.
Muitas práticas centradas na perspectiva da Sustentabilidade apresentam suas
propostas formativa para o consumo sustentável. Quando situadas nesses aspectos
verifica-se nas mesmas a ênfase da abordagem em preocupações inerentes a
informações sobre os produtos e desenvolvimento da habilidade de escolha dos mesmos
(GADOTTI, 2010). Nesse aspecto, as informações situam-se de maneira geral no
consumo e desperdício desses produtos. Os modos de produção, impactos ambientais,
custos de produção e processos de controle e qualidade ambiental também surgem,
mesmo que em plano secundário. O processo formativo da educação ambiental situada
nesse aspecto busca o desenvolvimento da habilidade de escolha desses produtos dentro
da perspectiva da sustentabilidade (SAUVÉ, 2005). Cabe ressaltar que, tal característica
da perspectiva não corresponde a única pretendida nessa proposta da educação
ambiental da sustentabilidade. A conservação dos espaços e recursos naturais também
caracteriza a perspectiva ideológica da Corrente de Sustentabilidade da educação
ambiental.
Pela perspectiva de Gaudiano (1999), a Corrente da Sustentabilidade não
corresponde apenas a uma proposta de educação para o consumo sustentável e
conservação dos recursos naturais. Por essa corrente também pretende-se a inclusão
social das pessoas pelo acesso a informação. Segundo esse referencial, as características
de cada grupo social devem ser consideradas e a partir das mesmas se pode adotar
estratégias apropriadas para que populações em vulnerabilidade social possam ter
acesso a informações e serviços, dos quais são muitas vezes privadas. A proposta dessa
perspectiva é de valorização da cidadania pela participação. No entanto, a interpretação
das considerações desse referencial constituem-se em propostas que situam o acesso à
informação e exercício da cidadania em práticas e ações voltadas para o
conservacionismo dos espaços e recursos naturais. Não propriamente para o
questionamento e participação política, econômica e social, que constituem âmbitos
importantes pretendidos para a cidadania.
Como as demais correntes, essa categoria ideológica de educação ambiental
apresenta aspectos positivos e negativos na sua proposta formativa. Em relação aos
aspectos positivos, pode-se considerar a proposta de uma (re) orientação das relações
humanas assumidas no meio ambiente, no intuito de minimizar os impactos das
interações do ser humano com o espaço. Em relação aos aspectos negativos dessa
corrente de educação ambiental, pode-se exemplifica-los pelo reducionismo
proporcionado quando da ênfase na conservação de certos recursos naturais, muitas
vezes realizada de forma destituída de uma proposta de diálogo politizada. Considera-
se no âmbito desta pesquisa que essa categoria de educação ambiental favorece a
abertura como possibilidade de incorporação das dimensões sociais, políticas,
econômicas, culturais e históricas dos espaços; porém não as apresentam.
Um melhor detalhamento da Corrente de Educação Ambiental da
Sustentabilidade foi realizado no corpo desse texto pela constatação de equívocos e
confusões conceituais desta corrente com a Corrente da Educação Ambiental Crítica,
referencial de análise nesta investigação. A Corrente de Educação Ambiental Crítica,
que será detalhada em outro tópico, corresponde a uma possibilidade formativa para a
problematização e ação em relação às questões socioambientais (REIGOTA, 2009).
Contudo, a categorias da educação ambiental consideradas enquanto correntes
ideológicas para a proposta da escrita, fundamentou-se na referência das correntes do
contexto europeu. Essa orientação justifica-se pelo fato das mesmas constituírem-se em
um campo referencial consolidado para muitos pesquisadores em educação ambiental
da América Latina. Nesse sentido, o diálogo exercitado com esses referenciais permite a
pretensão de uma proposta de contribuição no delineamento dessas correntes enquanto
categorias ideológicas.
SAUVÉ (2005) que realiza o esforço original dessa proposta de sistematização
das correntes de educação ambiental representa um dos principais referenciais que se
propos a esse esclarecimento sobre as diversas formas de “fazer” e “pensar” a educação
ambiental. No âmbito da proposta de Sauvé (2005), a pesquisadora apresenta as
características fundamentais desse estudo e aponta para a necessidade de identificação
de vantagens e limitações de cada corrente, no intuito de colaboração com a proposta de
delineamento. Tal tentativa de identificação de vantagens ou desvantagens é
considerada pretensiosa no contexto dessa escrita pelo risco que a mesma apresenta da
demarcação cartesiana de um processo que assume características diversificadas em
seus contextos formativos. Nesse sentido, os quadros a seguir sobre as correntes de
educação ambiental, pretendem mais facilitar a visualização dos aspectos elaborados
pelas dimensões consideradas, que caracterizam as correntes de educação ambiental. No
entanto, mesmo sem a delimitação proposta por Sauvé (2005), considera-se que a
elaboração sobre as correntes de educação ambiental realizada nesta escrita pelo diálogo
com os referenciais, contribui para situar os locais dos quais se fala e proporcionar
abordagens e práticas mais condizentes com os objetivos e finalidades pretendidos para
cada realidade.
Para facilitar a visualização desses aspectos, seguem dois quadros sobre as
correntes de educação ambiental consideradas no corpo do texto:
Quadro 01: Correntes de educação ambiental concebidas no período de 1970 a 1980.

Correntes de educação Concepção Relação ser Propostas Abordagem/Estratégias


ambiental de meio ambiente humano/meio- ideológicas da utilizadas na proposta
ambiente corrente
Naturalista O meio ambiente é Desse espaço o ser A intenção principal A abordagem enfatiza os
considerado como humano não faz parte dessa corrente situa- aspectos biológicos das
sendo a própria ou é considerado de se no objetivo do questões ambientais e
natureza com seus forma dicotômica. desenvolvimento da privilegia os aspectos físico-
componentes bióticos capacidade de químicos da degradação
e abióticos. reconhecimento dos ambiental, em detrimento
Caracterizado por componentes da das dimensões política,
seus atributos natureza, descrição social e econômica do meio
naturais, esse espaço dos fenômenos, dos ambiente. As estratégias
é referenciado por ciclos naturais, utilizadas podem ser
florestas, rios, locais compreensão dos exemplificadas pela
de beleza natural, processos de realização de oficinas, jogos,
lugar intocado ou degradação, enfoque dinâmicas de grupos e
intocável, paraíso nos aspectos visitação a espaços naturais.
terrestre. biogeoquímicos.
Conservacionista/Recursista O meio ambiente é O ser humano A intenção principal A Abordagem enfatiza as
considerado recurso, mantém certa corresponde a proposições centradas na
fonte de matéria interação com o meio capacidade de conservação dos recursos,
prima ou subsistência ambiente, que atenua reconhecimento do pois os mesmos servem para
para o ser humano. a perspectiva meio ambiente a utilização humana. As
Constata-se uma dualística. Porém a enquanto espaço de principais estratégias
ênfase nos aspectos relação ainda é recursos naturais, correspondem a programas
bióticos e abióticos dicotômica porque o identificação de suas ou ações de
como componentes ser humano assume potencialidades, reaproveitamento ou
utilizáveis pelo ser uma posição externa biodiversidade e preocupações de gestão
humano. ao meio ambiente, ou patrimônio genético. ambiental dos espaços.
de maior importância.
Resolutiva Considera o meio A relação do ser A intenção principal A abordagem desse processo
ambiente como humano é dicotômica. corresponde ao formativo prioriza a
espaço no qual O espaço como um desenvolvimento de informação das pessoas
existem problemas problema não comportamentos, sobre os problemas
ambientais a serem favorece a interação habilidades e ações ambientais decorrentes da
resolvidos pelo ser ser humano/meio- para a resolução dos degradação. As estratégias
humano. Esses ambiente, uma vez problemas ambientais utilizadas por essa
problemas são que, esses problemas inerentes ao meio abordagem consistem na
considerados em são apresentados ambiente. Na identificação da situação
relação ao meio como problemas proposta ideológica problema. pesquisa dessa
ambiente sem a internos ao meio e procura-se a situação, diagnóstico; busca,
relação com aspectos externo ao ser identificação de avaliação e escolha de
socioambientais. humano. situações-problemas. soluções para as mesmas.
Sistêmica Corresponde ao O ser humano não é Privilegia a A abordagem é pretendida
espaço formado por considerado como capacidade de análise pelo enfoque dos
aspectos bióticos e componente ou e síntese dos componentes da realidade
abióticos, que se integrante desse elementos natural. A estratégia consiste
integram formando o sistema. A relação é constituintes da na observação de uma
um sistema. dicotômica. realidade de forma realidade ou fenômeno.
integrada.
Humanista O meio ambiente não A relação ser Como o ser humano A abordagem nessa corrente
está restrito aos seus humano/meio- é considera inserido situa-se mais nas alterações
componentes. É ambiente não é em seu espaço, a estéticas, históricas, sociais e
considerado como o considerada dualística intencionalidade econômicas. As estratégias
espaço da vida ou dicotômica. O ser principal dessa fundamentam-se na
formado e humano é corrente corresponde observação sobre as
influenciado por considerado inserido ao desenvolvimento paisagens. Componentes,
dimensões históricas, nesse espaço, interage do senso de estruturas ou alterações nos
culturais e estéticas. com o mesmo e o pertencimento e espaços do campo ou da
Não corresponde só modifica histórica e aprendizado nesse cidade, aos contextos.
aos espaços naturais. culturalmente. espaço.
Quadro 02: Correntes de educação ambiental concebidas após 1980

Correntes de educação Concepção Relação ser Propostas Abordagem/Estratégias


ambiental de meio ambiente humano/meio- ideológicas da utilizadas na proposta
ambiente corrente
Holística O meio ambiente é O ser humano é A proposta ideológica A Corrente holística utiliza
considerado como um considerado de dessa corrente situa-se como estratégias de
“organismo vivo” maneira fundamental. na tentativa de abordagem proposições
capaz de se Cabe a ele integrar-se possibilitar a centradas em preocupações
autorregular e atingir o ao meio ambiente, apreensão do mundo a psicopedagógicos ou
equilíbrio em seus entender a linguagem partir da internalização cosmológicas A primeira
processos de interação. da natureza e das relações dinâmicas corresponde ao
Corresponde ao espaço promover a “harmonia existentes entre os desenvolvimento individual
universal no qual todos ambiental”. Nessa seres vivos da pela interação com o meio
os seres vivos perspectiva a relação natureza, considerados ambiente. A segunda
encontram-se não se situa em na mesma ordem de corresponde a visão de
relacionados e aspectos dualísticos ou importância do ser mundo em que todos os seres
integrados de forma dicotômicos. A humano. Essa vivos estariam relacionados
harmônica e global. corrente propõe uma categoria ideológica entre si. Nessa proposta,
Pode se manifestar e integração completa do visa o torna-se difícil exemplificar
reagir com uma ser humano com o desenvolvimento de a corrente por um conjunto
linguagem própria da meio ambiente. A uma noção de homogêneo de estratégias
natureza, frente a perspectiva é de pertencimento ao capaz de caracterizar essa
ações antrópicas. encantamento. meio. perspectiva.
Biorregionalista O meio ambiente é A relação ser A proposta ideológica A abordagem situa-se na
considerado enquanto humano/meio- dessa corrente valorização dos atributos
espaço geográficos, de ambiente não é abordagem naturais, artesanato,
fauna ou flora com os dualístico ou corresponde ao produtos, tradições, cultura e
seus atributos dicotômico. O ser desenvolvimento de saberes local. As práticas
específicos que humano é inserido referência com o local nessa perspectiva podem ser
caracterizam certa área nesse espaço e a ele pelo sentimento de artesanatos com materiais
ou região. atribuem valores. pertencimento. locais.
Práxica A Corrente Práxica de A relação ser Nessa proposta A abordagem é estruturada
educação ambiental. humano/meio- ideológica acredita-se no contato com a realidade
Considera o meio ambiente não se que a formação ocorre para processos de reflexão.
ambiente como um caracteriza por pela ação. Não se Acredita-se que a mesma
espaço para a aspectos dicotômicos considera a possa favorecer a melhor
aprendizagem através ou dualistas. O ser necessidade de compreensão de realidades
da ação. Esse espaço é humano situa-se nesse conhecimentos prévios pretendidas apenas por um
considerado em seus espaço para o para o enquadramento teórico. As
componentes pelos aprendizado prático desenvolvimento de estratégias utilizadas nessa
sistemas e aspectos sobre o mesmo. São habilidades. A perspectiva aproveitam
externos de influencia considerados os proposta formativa aspectos da própria realidade
de várias ordens, aspectos, situa-se na própria a degradação ambiental,
enquanto características e ação e procura o desperdícios,
possibilidades para a problemas inerentes ao envolvimento nas reaproveitamento e interação
aprendizagem humana. meio ambiental práticas e situações. com o espaço e outros.
Etnográfica Nessa perspectiva, o A relação ser Na proposta A abordagem dessa proposta
meio ambiente humano/meio ideológica dessa procura situar-se nos locais
corresponde ao espaço ambiente não é corrente considera-se onde se percebe uma forte
privilegiado pela por dualística/ dicotômica. as características expressão cultural de grupos
nele existir povos, Considera-se o ser culturais dos grupos ou comunidades tradicionais.
comunidades, valores humano nas suas ou comunidades em As principais estratégias
históricos dos povos e manifestações sua proposta mais utilizadas
manifestações socioculturais, de formativa. A intenção correspondem a valorização
culturais. Nessa relevante importância principal dessa dos aspectos linguísticos, dos
perspectiva, o para a constituição dos corrente consiste no costumes, das tradições,
ambiente é contornos e reconhecimento e festas locais, alimentos
reconhecido enquanto características identificação das típicos, crenças e folclore de
espaço constituído por culturais do espaço do características dos uma comunidade ou grupo
aspectos e valores meio ambiente. Este, é grupos e comunidades tradicional. Por meio delas
culturais, que podem valorizado pelas valorizadas para as pretende-se a noção de
delinear características manifestações e interações com as pertencimento ao meio
bastante diversificadas. tradições existentes. questões ambientais. ambiente.
Sustentabilidade Considera o meio A relação ser A proposta ideológica A abordagem da corrente da
ambiente pela humano/meio- dessa corrente procura sustentabilidade fundamenta-
perspectiva do ambiente é a constituição do se na proposta de
desenvolvimento considerada dentro aprendizado para a desenvolvimento de
sustentável. Nessa dessa perspectiva, pelo utilização racional dos princípios para o consumo
proposta, o meio desenvolvimento de recursos no presente, sustentável, práticas de
ambiente corresponde práticas de de maneira que se conservação dos espaços e
ao espaço fonte de sustentabilidade na possa assegurar a formação de uma
recursos para a interação com os existência dos mesmos consciência participativa
sobrevivência humana recursos naturais. no atendimento das sobre as questões ambientais,
capaz de suprir as necessidades futuras. principalmente voltadas para
necessidades da Propõe o tratamento a conservação dos recursos
geração atual sem de questões relativas a naturais. As principais
afetar a capacidade das práticas e estratégias utilizadas por
gerações futuras de posicionamentos para essa proposta educativa,
suprir as suas próprias a sustentabilidade. Na podem ser exemplificadas
demandas . Ao meio proposta formativa da por práticas ou abordagens
ambiente é atribuída a educação ambiental que buscam favorecer a
função de atendimento pela corrente da análise sobre o consumo de
as necessidades sustentabilidade produtos, diminuição do
humanas para o busca-se o desperdício, reutilização de
desenvolvimento desenvolvimento de materiais, preservação ou
econômico e social. habilidades para a conservação dos espaços e
Cabe ao ser humano a constituição dessas desenvolvimento de ações
responsabilidade por práticas, posturas e para a conservação dos
esse espaço sem ações que visem a recursos naturais. Essas
esgotar os recursos sustentabilidade tanto estratégias são comumente
naturais ou degradar o dos recursos naturais verificadas nas propostas de
ambiente. quanto dos espaços desenvolvimento sustentável.

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