História Da África: Professora
História Da África: Professora
História Da África: Professora
da África
PROFESSORA
Me. Karla Katherine de Souza Seule
FICHA CATALOGRÁFICA
Reitor
Wilson de Matos Silva
Karla Katherine de Souza Seule
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7747313264755696
HISTÓRIA DA ÁFRICA
Era uma vez um planeta em formação, este por acaso é o planeta no qual vivemos, a
Terra. Nele a primeira porção de terra a emergir das águas foi a que corresponde ao
continente africano. No espaço então da África os primeiros humanos deram os passos
sobre a Terra e começaram a História da humanidade.
Ao longo de diferentes eras esse continente esteve envolto a dinâmicas que foram pró-
prias das diferentes realidades presentes em seu território extenso, assim como tiveram
relações com as dos demais espaços e populações espalhadas por todo o planeta. Por-
tanto, as suas “histórias” são muitas e abrangem um extenso cabedal de conhecimento.
A História Africana é um objeto de conhecimento que infelizmente faz parte da rea-
lidade de poucos. Esse desconhecimento é fruto de várias situações que fazem parte
da história humana e africana. Por isso, convido você a experimentarmos juntos uma
jornada por sobre a História da África, do seu início até o presente, rumo a sanar essa
defasagem em torno dessa que é uma área importante da História. Venha descobrir
A História africana está diretamente ligada à História da humanidade, já que foi
nesse continente que o ser humano iniciou seu percurso no planeta, conforme dados
arqueológicos e antropológicos nos apontam. Da mesma forma, temos uma ligação
enquanto brasileiros, muito forte com a História de povos africanos, já que, conforme
levantamentos feitos sobre a composição de nossa população, o nosso país tem o
maior número de afrodescendentes fora da África. Daí a importância em estudarmos
a História da África, bem como as suas relações com o Brasil.
Desta maneira, convido você, caro(a) estudante, a verificar como começou o percurso
humano na Terra, pesquisando de que modo os primeiros humanos surgiram na África.
Ou seja, em qual região e período datam os achados arqueológicos sobre os primeiros hu-
manos? Que condições são apontadas para ter tido início a vida humana nesse continente?
Por que será que sabemos tão pouco sobre a história africana? É preciso observar
os pré-conceitos que temos a respeito das populações africanas, bem como a sua his-
tória e cultura levaram a esse desconhecimento e até mesmo distorção a seu respeito.
Verifique que conhecimentos e traços culturais nasceram na África e fazem parte
do nosso cotidiano, seja em áreas científicas específicas ou nas artes, bem como na
religiosidade e em hábitos cotidianos que estão presentes em nossa sociedade. Você
poderá verificar que eles são inúmeros e por isso, é importante que busquemos co-
nhecê-los e identificá-los.
Conhecimento, artes, religião, costumes, etc., fazem parte do ser e do fazer humano
e são construídos ao longo da sua História. Por isso, construa um mapa mental em que
você observe, onde esses aspectos em nosso cotidiano possuem heranças africanas.
Palavras-chave: Conhecimento, ciência, arte, religiosidade, cultura popular.
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS
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RODA DE CONVERSA
1
11 2
57
ÁFRICA – DE POVOS E REINOS
“BERÇO DA AFRICANOS –
HUMANIDADE” DO FINAL DA
A PALCO DE ANTIGUIDADE AO
ANTIGAS TRANSCORRER DA
CIVILIZAÇÕES ERA MODERNA
3
93 4 127
A ÁFRICA ENTRE A IMAGINÁRIO
MODERNIDADE E A SOBRE A ÁFRICA E
CONTEMPORANEIDADE HISTORIOGRAFIA
AFRICANA
5
157
RELAÇÕES
ÁFRICA-BRASIL
1
África – de “Berço
da Humanidade”
a Palco de Antigas
Civilizações
Me. Karla Katherine de Souza Seule
Gosto muito da célebre definição do historiador francês Marc Bloch para a ciência
histórica, em sua obra Apologia da História ou o Ofício do Historiador, quando ele
a apresenta como a ciência que estuda a ação humana ao longo do tempo. Pois bem,
você sabia que as primeiras ações humanas tiveram início no continente africano?
O desconhecimento em torno do início de nossa história, ou seja, da história da
humanidade, é algo comum e faz parte de toda uma série de conceitos e pré-con-
ceitos que envolvem o olhar em torno da África e das populações africanas. Mas,
conforme a observação a seguir presente no primeiro volume da Coleção História
Geral da África, organizada pela UNESCO junto com estudiosos da História afri-
cana, “apesar das diferenças aparentes, o homem constitui hoje uma única espécie,
e todos os homens partilham a mesma origem e a mesma história na sua evolução
primitiva” (MEC, 2010, p. 496). E o palco dessa origem foi a África.
Portanto, é preciso conhecer melhor a História da África para que saibamos
como a própria história da humanidade teve início. Além disso, muitas civiliza-
ções da Antiguidade na África se desenvolveram e mantiveram relações com
populações ali e em outros espaços, contribuindo para a trajetória histórica do
ser humano dentro e fora desse continente. Assim, a importância de entendermos
tudo isso, está diretamente relacionada ao nosso papel de estudantes da História
enquanto uma ciência, historiadores e professores.
Comecemos então, por analisar informações a respeito do espaço geográfico
que compõe o continente africano. Para tanto, é importante pontuarmos que o
continente africano, conforme observou o historiador José Rivair de Macedo em
sua obra História da África, possui um território extenso, com 30.343.511 km². Isso
significa que esse continente abarca 22% da superfície da Terra, constituindo-se no
terceiro maior do planeta. Esse continente contém cerca de um sétimo da popu-
lação mundial e é aquele que detém o maior número de países, 55 até o momento.
Que noções essas informações iniciais a respeito do tamanho do continente
africano podem nos indicar sobre a sua dimensão? Suas proporções em relação
aos demais continentes do planeta são de um espaço geográfico extenso ou di-
minuto? Sua divisão política em número de países indica uma África enquanto
unificada ou diversa?
Reflita a respeito dessas informações listadas acima e os questionamentos em
torno delas. Compare-as com o que você sabia a respeito do continente africano
até então e, em seguida, anote no seu Diário de Bordo as percepções que você
obteve por meio desse confronto com os dados relacionados a respeito da África.
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UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
OLHAR CONCEITUAL
O infográfico mostra um mapa da África em seu centro, dividido por cores re-
presentando as cinco macro-regiões africanas, bem como fotos de diferentes
paisagens presentes nas mesmas: na África do Norte ou Setentrional em ama-
relo, as flechas apontam para uma fotografia do pôr do Sol no deserto do Saara,
e uma terceira imagem que mostra as margens do rio Nilo; Na África Ocidental
destacada na cor azul, há a foto de uma embarcação atravessando o Níger; Da
África Central destacada em laranja, a flecha aponta para uma foto das curvas
em “S” do rio Congo em meio a floresta tropical, bem como outra fotografia em
que aparece uma aldeia no meio da floresta tropical no Congo atual; Na África do
Sul demarcada em lilás, a foto é do rio Zambeze demarcando a fronteira entre
Botswana, Namíbia, Zâmbia e Zaire.
E foi nessa África grandiosa e diversa em natureza que “teve origem o lento pro-
cesso de evolução da espécie humana, há cerca de 4,5 milhões de anos” (MACE-
DO, 2013, p. 12). É sobre as causas e as condições em que o surgimento do ser
humano se deu no continente africano, que convido você a voltarmos a direção
do nosso trajeto a partir de agora.
Margem Ocidental
Rio Níger, Mali Deserto do Saara do rio Nilo
Reserva Nacional
Floresta tropical Masai Mara,
do Congo savana no Quênia
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UNIDADE 1
De acordo com Macedo (2013), as causas para a África ter sido o cenário da
evolução humana podem ser encontradas na sua geomorfologia, ou seja, nas
características que compõem a sua superfície. Sobre isso, ele explica que ela foi
a primeira plataforma continental a emergir na superfície do planeta e a se des-
prender da Pangeia, o continente primordial que reunia todas as plataformas
terrestres do nosso planeta em uma só.
Descrição da Imagem: O mapa é um desenho na cor verde, em que estão indicados os diferentes con-
tinentes, do planeta Terra - a Europa, a Ásia, América (do Norte e do Sul), Antártida e Oceania. A África
no centro está unida aos demais formando o continente primordial que recebe o nome de “Pangeia”.
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
“
Pelas proporções dos ossos, devia medir pouco mais de um metro.
Sabe-se que era do sexo feminino e que tinha aproximadamente 20
anos, como testemunham os seus dentes do siso, já nascidos, mas
ainda não gastos. Pelo tamanho minúsculo de sua caixa craniana,
pode-se supor que não se distinguisse de outros animais irracionais.
É muito provável, contudo, que, diferentemente dos demais, Lucy
não fosse quadrúpede. Os australopitecos adquiriram a capacida-
de de se locomover usando apenas as patas traseiras, tornando-se
bípedes. (MACEDO, 2013, p. 14).
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: Na imagem têm dois mapas da África na cor bege e o oceano na cor azul, um
mapa completo menor na parte esquerda, com o nome África, e Ocean Atlantic na parte azul, com um
retângulo preto no contorno na horizontal delimitando um território no continente, e outro à direita é um
zoom mostrando a localização do Rift Valley. Essa localização está com quatro linhas pontilhadas, sendo
que a maior vai desde o "Gulf of Aden" passando pelo vulcão Ol Doinyo Lengai, por Lago Vitória (Lake
Victoria no mapa), e indo até perto do Oceano Índico. Uma linha pontilhada sai do Lago Vitória e vai até
o Mar Vermelho (Red Sea), outra sai também do Lago Vitória até o Oceano Índico e a última formando
um arco à esquerda do Lago Vitória.
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UNIDADE 1
Quando por volta de 2,5 milhões de anos, após a Terra transpor um ciclo de
aquecimento que aumentou as suas áreas florestais, fez subir o nível do mar em
30 metros em relação ao nível atual, e desse modo, reduziu as áreas de deserto, foi
então o momento em que surgiu o gênero Homo entre as espécies de hominídeos
do nosso planeta. Esse gênero, do qual a nossa espécie – Homo Sapiens – faz
parte, alçou, segundo Souza (2014), um novo e importante grau para o processo
evolutivo da humanidade.
Entre as características inovadoras que o gênero Homo trouxe, estão:
“
Aumento da estatura, melhoria na postura ereta, crescimento
do volume do cérebro, que, a partir da espécie mais antiga, pode
atingir 800 cm³, e transformação da dentição com maior desen-
volvimento dos dentes anteriores em relação aos laterais, em con-
sequência da mudança do regime alimentar, de vegetariano para
onívoro. (UNESCO, 2010, p. 448).
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UNICESUMAR
Essa espécie inovou ao “fazer uso de fragmentos de osso ou lascas de pedra para
abater outros animais, agindo como predador, como caçador”. Além disso, de-
senvolveu atividades em grupo, o que contribuiu para o posterior uso da lingua-
gem verbal. Linguagem essa que tornou possível o repasse dos conhecimentos
adquiridos às gerações subseqüentes, trazendo à tona “as primeiras bases de uma
tradição social” entre os humanos (MACEDO, 2013, p. 14).
O Homo Erectus, o primeiro hominídeo a andar completamente em pé, foi outra
espécie surgida em solo africano e que deu continuidade importante ao processo
evolutivo do ser humano. Contudo, alguns de seus exemplares romperam as frontei-
ras da África e marcaram presença também em território asiático e europeu. Entre
os traços inovadores dessa espécie na escala evolutiva da humanidade, encontramos:
“
O aumento da estatura, a maior capacidade craniana, a compleição mais
robusta e o progresso tecnológico na fabricação de ferramentas com o
lascamento bifacial da pedra, conhecida como indústria acheulense,
são característicos dessa etapa evolutiva humana.(SOUZA, 2014, p. 75).
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UNIDADE 1
Mas somente entre 400 mil e 100 mil anos atrás que eu e você encontraremos
exemplares mais antigos do homem moderno, ou seja, da nossa espécie o Homo
Sapiens. O seu berço também foi a África e segundo as evidências, a sua existência
foi concluída a partir de “homens arcaicos” que permaneceram no continente
africano, enquanto uma parte se aventurou por outros territórios:
“
Os novos viajantes, agora H. sapiens, ou homens modernos, refize-
ram muitos passos de seus ancestrais, foram expostos a ambientes
semelhantes e desafiaram diferentes condições de saúde-doença.
Dotados de tecnologias mais sofisticadas, também tiveram maior
vantagem na superação adaptativa dos desafios colocados diante da
colonização do planeta Terra. (SOUZA, 2014, p. 76).
Essa espécie foi a única entre as demais espécies humanas a alcançar todos os
pontos do planeta, se adaptar aos mesmos, sobreviver e assim, se perpetuar.
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: Fotografia mostra o busto que traz a reconstituição facial de um exemplar de Homo
Erectus, com vários ossos de animais, artefatos utilizados por essa espécie e crânios de diferentes espécies,
que ao que tudo indica, são espécies de hominídeos. Os mesmo estão em uma plataforma marrom, com
um painel na parte detrás em um tom de marrom mais escuro, com o título da apresentação sublinhado
em verde, com os dizeres “Acheuléen” (do francês, acheulense), com descrições dos ossos e artefatos, bem
como imagens de ferramentas da cultura acheulense que eram produzidas por essa espécie de hominídeo.
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
escrita, recebeu o título de período “pré-histórico”, o que equivalia a dizer que era
um período antes da história humana propriamente dita.
Contudo, se você conhece o restante da saga da ciência histórica, bem como
os seus diferentes métodos e fontes de análise, que foram posteriormente formu-
ladas, já sabe que essas primeiras concepções foram modificadas. Porque se no
século XIX essa ciência estudada por mim e por você, detinha o seu olhar por so-
bre a história das nações, fundamentada em um viés político, focado nos feitos de
heróis nacionais ou principais lideranças políticas de países, império, etc., fazendo
para tanto, somente o uso de fontes escritas, especialmente aquelas consideradas
oficiais, ou seja, documentos emitidos pelo Estado, tudo isso mudou na passagem
para o século XX. Novas e diferentes vertentes historiográficas definiram que a
História enquanto uma ciência era muito mais do que havia sido até então.
Foi a partir dessas mudanças que a concepção a qual relembrei no comeci-
nho do nosso trajeto, atribuída ao historiador Marc Bloch (2001) se concretizou
e estabeleceu que a História estudasse a ação humana ao longo do tempo.
E que a história humana não começava só com a invenção da escrita, mas sim, a
partir do momento em que o ser humano passou a existir e agir sobre o mundo.
A partir de então, é que para os estudos históricos, passou-se a ser consideradas
enquanto fontes tudo o que o ser humano produz e que pode trazer indícios sobre
a sua vida e o período em que ele viveu.
Novos olhares foram voltados para a chamada pré-história e trouxeram à
tona o fato de que esse não foi um período anterior à história humana, mas sim,
um contexto de muitas histórias. Feitas essas importantes considerações, para
que possamos pensar e repensar os conceitos que norteiam o meu e o seu tra-
balho enquanto estudiosos da História e aqui, da História africana, poderemos
prosseguir com o nosso itinerário, ainda que utilizemos essa nomenclatura para
o período em questão. Entretanto, percorreremos juntos a pré-história africana
sob essas perspectivas mais atuais.
Desse modo, convido você a partir de agora, a analisar junto comigo esse iní-
cio da vida humana na África ao longo das duas fases que subdividem o período
pré-histórico: o Paleolítico e o Neolítico.
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UNIDADE 1
O Paleolítico
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
A cultura olduvaiense recebeu esse nome com base nas características de ar-
tefatos líticos encontrados na Garganta do Olduvai, na década de 1950 pelo
casal de estudiosos britânicos, Louis e Mary Leakey. Localizado no norte da
Tanzânia, nas proximidades do Parque Nacional do Serengueti, o Olduvai con-
tém artefatos em pedra datados de cerca de 2 milhões de anos atrás, sendo este um tipo de
indústria primitiva das mais antigas já registradas.
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UNIDADE 1
Mas foi graças ao Homo Erectus, que detinha uma estatura e uma força física
maior que o Homo Habilis, espécime com a qual conviveu e se relacionou, é que
foram desenvolvidas indústrias líticas mais aperfeiçoadas. O Homo Erectus foi,
desse modo, o responsável por introduzir no convívio humano ferramentas de
pedra com lascamento bifacial que pertencem à cultura mais desenvolvida que
a do Olduvai, intitulada de acheulense (SOUZA, 2014).
EXPLORANDO IDEIAS
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UNICESUMAR
“
Estabelecia-se, assim, uma distinção ainda mais acentuada entre os
alimentos naturais, crus, e os alimentos produzidos, assados, mais
moles e fáceis de serem digeridos. Ao mesmo tempo, ampliava-se
a distância entre a natureza animal e a cultura, que apenas os seres
humanos são capazes de criar e reproduzir. (MACEDO, 2013, p. 15).
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UNIDADE 1
O homem moderno, ou Homo Sapiens, ao que tudo indica evoluiu desses ho-
minídeos arcaicos que permaneceram na África como eu e você conversamos há
pouco. Mas, mesmo aqueles que saíram desse continente para outros territórios “re-
fizeram muitos passos de seus ancestrais, foram expostos a ambientes semelhantes
e desafiaram diferentes condições de saúde-doença” (SOUZA, 2014, p. 76). E para
tanto, estiveram dotados das experiências adquiridas ao longo de sua vida na pró-
pria África, como você já pôde observar ao longo do nosso percurso até o momento.
Entre essas experiências, esteve o uso do fogo citado há pouco, que conduziu o
ser humano a novas possibilidades de vida e sobrevivência. Pois, o cozimento dos
alimentos ampliou a nossa alimentação já que permitiu o consumo de vegetais
que apenas cozidos são comestíveis, eliminou parasitas em carnes que passaram
a ser consumidas sem problemas posteriores e ainda nos ajudou a conservar os
alimentos, reduzindo os riscos de contaminação dos mesmos por fungos e bac-
térias nocivos à saúde humana.
Uma melhor comunicação permitiu novos avanços na fabricação de instru-
mentos e utensílios de pedra lascada, os micrólitos, ao longo do período Mesolíti-
co entre 15 mil e 12 mil anos a.C. Nessa fase final do Paleolítico, nossos ancestrais
desenvolveram lâminas mais afiadas junto a “cabos de lança e em machados,
foices, serras, enxós” que podem ser localizados de acordo com Macedo (2013,
p. 17), nas regiões africanas da Zâmbia, Namíbia e Angola atuais.
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UNICESUMAR
Nesse mesmo contexto, o arco e a flecha foram adotados como arma de caça. Tal
feito significou a fabricação inédita de um objeto “artificial” e engenhoso, que não se
constituía em uma mera adaptação do que estava disponível na natureza, e assim:
“
Com essa arma, a energia humana empregada para lançar a flecha
passou a ser acumulada na madeira dobrada do arco, podendo ser
concentrada num ponto e lançada de uma só vez, aumentando o
alcance do projétil e a exatidão de sua pontaria. Portanto, da junção
de dois elementos da natureza (a corda ou fio de couro e a madei-
ra), era fabricado um terceiro elemento muito mais preciso e eficaz.
(MACEDO, 2013, p. 17).
Todos esses fatores integraram as experiências culturais que serviram para uma
melhor capacidade de adaptação e sobrevivência do ser humano enquanto es-
pécie. E eles são relevantes para o estudo do início da história humana no palco
inaugural da África. Mas essa história não termina por aqui. Por isso, eu convido
você para continuar junto comigo rumo a análise da segunda fase da pré-história,
no cenário do território africano.
O Neolítico
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UNIDADE 1
Macedo (2013, p. 19) nos explica que no Saara, onde hoje existem oásis, dunas e
um colossal mar de areia, houve lagos, vegetação rica e vida animal diversificada”.
Indícios desta antiga realidade da região estão presentes em fósseis, inscrições e
artes rupestres que retratam um cotidiano em torno da caça, da pesca e da coleta
das pessoas que ali viviam.
Até então, a vida das pessoas se resumia a dependência “dos recursos da na-
tureza e organizados em pequenos grupos, os indivíduos tendiam a ser essencial-
mente nômades” (MACEDO, 2013, p. 18). Mas essas transformações climáticas
alteraram o cenário ainda que lentamente e, além de na prática isso ter levado as
populações a migrarem do interior do Saara mais para o norte ou para o sul, o
desenvolvimento da agricultura e da pecuária a serviço da sobrevivência passou
a ser uma realidade entre alguns grupos humanos.
O Neolítico foi, portanto, o período da chamada “Revolução Agrícola”, que
acarretou em mudanças profundas na vida humana, pois:
“
Com a adoção da agricultura e da pecuária, a natureza passa a ser
transformada, com o cultivo de determinados alimentos e a criação
contínua de certos animais que poderiam servir de fonte de alimen-
to, de energia e de transporte. (MACEDO, 2013, p. 18).
32
UNICESUMAR
Se antes era preciso mudar de um lado para o outro sempre que as fontes de ali-
mento cerceavam, com o desenvolvimento da agricultura e a domesticação e cria-
ção de animais pelo homem, essas fontes ficavam agora a seu dispor. E embora,
nem todos os grupos humanos desenvolveram tais práticas, até mesmo por não
haver a necessidade delas em todos os ambientes da vasta África, nos grupos onde
elas passaram a existir foi possível também a existência de uma vida sedentária.
Enquanto o lento processo de desertificação do Saara acontecia, entre 12.000
e 8.000 a.C. comunidades neolíticas se multiplicavam nos vales dos rios Níger e
Nilo. Nessas comunidades, como explicou Macedo (2013), foram encontrados
artefatos de pedra polida que indicam a criação de bovinos, equinos e caprinos,
além de já serem cultivados grãos como o sorgo e também um tipo de milho.
Todas essas mudanças que o estilo de vida sedentário trouxe abriram cami-
nho para mais inovações técnicas, como o desenvolvimento da cerâmica e da
metalurgia. As descobertas arqueológicas, segundo Macedo (2013), apontam para
o desenvolvimento da cerâmica por volta de 9.300 a.C. no Saara central, em 8.350
a.C. no vale do Nilo e em 8.200 a.C. na África Oriental. Enquanto a metalurgia
do cobre passou a ser realizada por volta de 3.300 a. C. na Tunísia e se difundiu
em comunidades do Níger e do Nilo.
33
UNIDADE 1
Descrição da Imagem: Trata-se de um desenho, em preto e branco, composto por quatro cenas em que
homens trabalham na fundição do cobre. O desenho é feito no estilo egípcio antigo, onde as pessoas são
desenhadas de lado. Na primeira cena, no canto superior esquerdo, há três homens colocando lenha no
fogo para o aquecimento do forno. Abaixo dela, no canto inferior esquerdo, na segunda cena, há dois
homens aquecendo o recipiente no fogo para a fundição do metal. Na terceira cena, no canto superior
direito, há três homens de cada um dos dois lados do forno, moldando o metal. E na quarta cena, no
canto inferior direito, há dois homens derramando o metal derretido em formas.
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
O Egito antigo
Convido você a começarmos pelo Egi- uma ilustração da atriz Elizabeth Taylor,
to, sobre o qual obtemos mais dados e que protagonizou a obra ao representar
pesquisas disponíveis. Além disso, esse a rainha egípcia, em cuja vida o referi-
reino se constitui na experiência políti- do filme se inspirou. Essa atriz era uma
ca e cultural mais longa que já existiu, mulher branca de olhos claros.
embora a sua história tenha se iniciado
bem antes de sua unificação. Parto en-
tão, junto a você para a observação dos
precedentes que levaram ao estabele-
cimento do Estado egípcio, bem como
para a análise do funcionamento des-
se reino no decorrer de sua existência.
Começaremos essa etapa do nosso ca-
minho verificando quais as origens da
população do Egito antigo, o que é um
assunto bem controverso. Isso porque
durante muito tempo essas origens fo-
ram atribuídas a ramos populacionais
Figura 18 - Cartaz do filme Cleopatra (1963).
externos à África, de origem caucasiana Fonte: Terpning, H. Cleopatra poster. 1963. 1 fo-
tografia. Disponível em: https://commons.wikime-
ou branca. Algo que ainda hoje é refor- dia.org/w/index.php?curid=25628726. Acesso em
çado pela mídia, na TV ou no cinema, 22 mar. 2022.
Cleópatra que foi produzido em Holly- em petro e branco). Entre essas quatro fotos
estão inscritos os nomes dos atores principais
wood no ano de 1963, como um céle- em azul: Elizabeth Taylor, Richard Burton e Rex
bre exemplo do “branqueamento” da Harrison. Além do nome do diretor “Joseph L.
Mankiewicz” em preto, acima do nome do filme
população egípcia que volta e meia é que está em letras garrafais.
feito pela mídia. No centro do cartaz há
36
UNICESUMAR
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UNIDADE 1
Mas o que eu quero ainda advertir você, é para o fato de a unificação dessas popu-
lações e das aldeias compostas por elas também ter se desenrolado em situações e
contextos próprios das relações que elas mantiveram e enfrentaram no ambiente
em que viviam na África. Essa unificação do Egito ocorreu por volta de 3.000 a.C.
e ao que tudo indica, foi quando o chefe de alguma confederação tribal conseguiu
reunir sob o seu poder o território sul e norte da região do que viria a ser o Egito
antigo. Esse chefe se tornou o “rei das duas terras” – do Alto e do Baixo Egito – o
faraó. Já as primeiras dinastias de faraós, segundo Doberstein (2010), só foram
estabelecidas depois, entre os anos de 2.920 a 2.575 a. C.
Mais do que uma autoridade civil, o faraó era uma autoridade religiosa, um
deus na Terra, o filho de Rá (deus Sol), o Hórus vivo. Todos esses títulos do go-
vernante do Egito antigo tiveram fundamento na religião elaborada e praticada
por sua população, que partia de uma ordem, em que segundo Cardoso (1986, p.
31) era “necessária, legítima e desejável no mundo e na sociedade”.
“
o mundo poderia - na visão desse povo - ser destruído não fossem
as preces e os ritos religiosos, a felicidade nesta vida e a sobrevi-
vência depois da morte eram asseguradas pelas práticas rituais, e
até mesmo "o ritmo das enchentes, a fertilidade do solo e a própria
38
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: Nas imagens que são fotografias, temos do lado esquerdo a entrada de uma
construção egípcia em uma rocha, o Templo de Hator em Abu Simbel, rodeada por estátuas de divindades
e autoridades egípcias, com hieróglifos nas colunas e na parede do templo, com uma porta na parte de
baixo da imagem. Enquanto à direita temos a máscara funerária do faraó Tutancâmon, de ouro com
decorações em lápis lazuli e pedras preciosas. Nela pode-se ver o toucado Nemés, uma espécie de lenço
às riscas, com as deusas Nekhbet e Uadjet representadas na forma de abutre à esquerda e de cobra à
direita, sendo que logo acima dos olhos a barba postiça trançada.
39
UNIDADE 1
“
[...] As pirâmides não eram estruturas isoladas, mas ligavam-se a
imensos distritos funerários, com templos e outras edificações que
eram o cenário de grandes celebrações religiosas, tanto durante
quanto após a vida do faraó. (JANSON & JANSON, 1988, p. 26).
Descrição da Imagem: A imagem mostra uma fotografia com três pirâmides no deserto egípcio ao fun-
do, cujos lados são retos, enquanto a frente delas temos outras três pirâmides menores, que possuem
degraus que dá base para o topo vão diminuindo de tamanho, formando o formato piramidal, enquanto
no plano da frente há à direita uma esfinge, cujo formato temos o corpo de leão e sua cabeça humana,
onde seu corpo e rosto estão voltados para a esquerda da imagem.
40
UNICESUMAR
E devo ainda salientar, com base nas informações que analisamos até o presente
momento a respeito do Egito antigo, o quanto o conjunto das crenças de sua popu-
lação era intrínseco a sua unificação enquanto um reino sob o poder central de um
faraó, que nada mais era do que um “rei-deus” (CARDOSO, 1986, p. 31) legítimo
e herdeiro de toda essa ordem que para os egípcios faria o seu mundo funcionar.
NOVAS DESCOBERTAS
41
UNIDADE 1
Foi justamente para uma melhor organização das forças coletivas, em prol do
aproveitamento dos recursos existentes em seu território, que a população entre-
gou a autoridade sobre si nas mãos daquele que seria o seu governante. E assim
um Estado egípcio, unificado e centralizado sob o poder faraônico foi estabele-
cido. Estado que tinha razão de existir em prol da garantia da sobrevivência e o
progresso do seu povo.
Junto ao faraó, uma hierarquia governamental de sacerdotes e chefias mi-
litares fortalecia o seu poder no topo da esfera política, religiosa e jurídica. E
conforme o reino egípcio se expandiu, uma série de funcionários aparelhou esse
governo estatal que começava no tjati, espécie de primeiro-ministro, e se estendia
até os escribas e chefes de nomos (províncias egípcias).
A economia do Egito antigo era baseada na agricultura e na pecuária. Na
agricultura, a produção principal era de trigo para fabricação do pão, base da
alimentação da população. Contudo, conforme enfatizou Cardoso (1995), os
egípcios produziam também a cevada para a cerveja e o linho para o vestuário.
Na pecuária, as principais criações foram de gado bovino, caprino, suíno, assim
como comboios de mulas, carneiros e diversas aves.
A pesca, de acordo com o mesmo autor, também era praticada tanto no Nilo
ou em canais que partiam dele. Para essa atividade, eram utilizados anzóis, redes,
a nassa (cesto para a pesca) e arpões. O consumo de peixe era grande, sobretudo,
peixe seco que assim o era para a sua conservação. E a caça também era praticada
como um esporte a serviço do abastecimento da mesa das famílias, ou como um
modo de aquisição de aves para as coleções da elite egípcia.
Outras atividades econômicas também eram realizadas no Egito antigo. Entre
elas, Cardoso (1995) destacou o trabalho de extração de barro nas margens do
Nilo para a fabricação de cerâmica e tijolos. Também no entorno do Nilo era co-
lhido o papiro, que servia para a produção de uma espécie de papel para escrita,
além de juncos e caniços para a confecção de cestos e móveis. A coleta da madeira
de sicômoros, palmeiras e acácias presentes na região, eram outras das atividades
extrativistas realizadas pelos habitantes desse reino.
O artesanato era feito em dois níveis:
“
Nas aldeias, os camponeses fabricavam seus implementos e objetos
grosseiros de uso corrente, não tendo em geral acesso aos produ-
42
UNICESUMAR
Sendo que, sob o poder faraônico estavam as minas e pedreiras, dos quais se
retirava materiais para a produção de joias e adornos finos, assim como para a
construção de grandes obras públicas, como os templos e as pirâmides.
Descrição da Imagem: Na fotografia vemos a entrada do templo de Filas, com duas espécies de torres
e uma fileira de colunas do lado direito, em direção ao portal central, enquanto mais à esquerda temos
outra porta.
43
UNIDADE 1
Os dados de que dispomos, sugerem que Kush emergiu por volta do século IX a.
C. e teve seu fim no século IV d. C. Ficava localizado na Núbia, uma região afri-
cana entre o sul do Egito e Sudão atuais, conhecida desde a Antiguidade como
a “terra do ouro”. Tal região era um importante empório fornecedor de peles de
animais, temperos, pedras e minerais preciosos tanto para o reino egípcio, quanto
para outras partes da África, ou ainda do Oriente Médio.
44
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: No
mapa vemos a localização
do vale do Nilo, com o Egi-
to ao norte, e assinaladas
cidades importantes des-
se reino em suas margens
do norte até o sul: Luxor,
Assuã, Abul-Simbel e Uádi
Haifa. Da mesma forma,
estão assinaladas outras
importantes cidades do rei-
no de Kush, na localização
do atual Sudão: Dongola,
Napata, Méroe e Cartum.
45
UNIDADE 1
O seu povoamento, assim como do Egito antigo, teve início graças a presença do
rio Nilo, que garantia a sobrevivência em meio a desertificação do Saara. Comu-
nidades agrícolas se desenvolveram “Na larga faixa que vai da Núbia ao Senegal,
domesticaram-se numerosas espécies vegetais, numa escala tão grande, que se
pode dizer ter sido ali a agricultura reinventada” (SILVA, 2011, p. 92).
Graças a união e organização dessas comunidades agrícolas em aldeias, pois o
rio Nilo por si só não fornecia condições plenas de sobrevivência, é que lideranças
começaram a emergir:
“
Era preciso controlar suas cheias [do Nilo], por meio de diques e
sistemas de irrigação, permitindo que a produção para a subsis-
tência ao longo do ano fosse possível e para tanto, foi impres-
cindível que essas comunidades se organizassem politicamente.
(BRISSAUD, 1978, p. 31).
As fontes decifradas sobre a Núbia são mais escassas que as egípcias. Contudo, as
estudadas até o momento sugerem que desde sempre essa região foi um ponto de
encontro que reuniu povos do interior africano até o Mediterrâneo:
“
Um breve exame do mapa físico da África basta para mostrar a im-
portância da Núbia como elo entre a África central – a dos Grandes
Lagos e da bacia do Congo – e o mundo mediterrânico. O vale do
Nilo, que em sua maior parte corre paralelo ao mar Vermelho, em
direção ao “corredor” núbio, entre o Saara, a oeste, e o deserto arábi-
co ou núbio, a leste, permitiu um contato direto entre as antigas civi-
lizações do Mediterrâneo e as da África negra. (MEC, 2010, p. 213).
Embora muitos tenham tratado a região como uma mera periferia egípcia, as pes-
quisas mais recentes têm demonstrado que a Núbia era bem mais do que isso. Em
um primeiro momento, os núbios foram dominados por outros povos, como os
egípcios. Enquanto em um segundo momento, formaram reinos independentes
como o de Kush, cujas ruínas e outros vestígios arqueológicos têm nos fornecido
informações preciosas a seu respeito.
46
UNICESUMAR
A XXV dinastia do Egito antigo (750 a 660 a.C.) era de faraós núbios e fi-
cou conhecida como “dinastia etíope”. Eles governavam partes da Etiópia atual,
atravessando a Núbia e todo o território egípcio até as margens do Mediterrâneo.
Uma dinastia que começou quando o rei núbio Pianki ou Piye foi ao socorro dos
egípcios e mobilizou tropas para combater invasores assírios na região. Esse envio
de soldados era comum, além das trocas comerciais, segundo Silva (2011), pois
os núbios eram exímios arqueiros.
Contudo, instabilidades no Egito graças a outros invasores asiáticos, os hicsos,
permitiram que na região mais ao sul uma unidade se firmasse por volta de 1070
a.C. e levasse ao estabelecimento de um reino independente, Kush. Esse reino é
comumente chamado como o reino dos faraós negros e das candaces.
Ao faraó Taharqa é atribuída a formação de Kush enquanto um reino autô-
nomo. Escavações nos levam a ruínas de grandiosas construções realizadas ao
longo do seu reinado por todo o reino e atestam a sua imponência e poder.
47
UNIDADE 1
Sabemos que entre os séculos IX e VI a. C. sua capital era Napata, mas no pe-
ríodo subseqüente foi transferida para Méroe, bem mais ao sul, como é possível
verificar no mapa da Núbia que demonstrei há pouco e desse modo, distante do
seu vizinho e muitas vezes rival, o Egito antigo.
A cidade de Méroe era um centro caravaneiro e produtor de ferro. Ela fica
na margem direita do Nilo e nela restam imponentes ruínas do reino da qual
era sede. Contudo, Napata não foi esquecida, permanecendo enquanto centro
religioso e tendo até o século IV a. C., na necrópole de Nuri, o lugar da “morada
eterna” dos reis cuxitas.
Descrição da Imagem: Na foto vemos em meio ao deserto em Nuri quatro pirâmides em ruínas, de
tamanho pequeno.
Ao que tudo indica, Méroe era uma região com condições climáticas mais propícias
à prática agrícola do que Napata. Além disso, um “entreposto ideal para as rotas de
caravanas entre o mar Vermelho, o Alto Nilo e o Chade” (MEC, 2010, p. 283) já que
permitia um fluxo mais acelerado das trocas comerciais dada a sua localização às
margens do rio Nilo e entre Napata e os demais entrepostos de comércio da região.
Méroe também era um centro produtor de artigos em metal, incluindo o ferro,
que por ser mais denso era difícil quem na época tivesse o domínio das técnicas
de sua fundição. O historiador Davidson, observa que:
48
UNICESUMAR
“
Em volta das ruínas de Meroe ainda se podem ver montes de es-
cória nos sítios onde trabalharam os fundidores do ferro. Alguns
historiadores pensam que foi de Meroe que as técnicas do trabalho
do ferro primeiramente se estenderam até o resto da África interior,
talvez pelas rotas comerciais que ligavam Meroe às terras do Níger
e mais além. (DAVIDSON, 1981, p. 27).
Descrição da Imagem: As imagens são fotografias. À esquerda vemos dois vasos ao fundo com um jarro
ao centro, de cerâmica fina com as pontas enegrecidas. Enquanto o resto está na cor laranja. À direita
vemos um jarro também em cerâmica, decorado com imagens do que parecem ser um sapo e vegetações
aquáticas na cor branca.
49
UNIDADE 1
50
UNICESUMAR
51
UNIDADE 1
Descrição da Imagem: Na foto vemos em meio ao deserto em Nuri quatro pirâmides em ruínas, de
tamanho pequeno.
“
A maior delas, a de Tararca, em outro cemitério, o de Nuri, tem na
base apenas 29m de lado, enquanto a de Quéops [Egito] apresenta
228 metros. As do campo-santo de Kurru, ainda menores, mostram
lados que poucas vezes ultrapassam os nove metros. São pirâmides
pontiagudas: bastante altas em proporção à base do que as do An-
tigo Império. (SILVA, 2011, p. 111).
Além disso, o arenito de que foram feitas era mais macio e de fácil erosão, daí o
fato de muitas delas restarem apenas ruínas na atualidade.
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UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Descrição da Imagem: Temos a fotografia de três homens atravessando a região desértica montados
em camelos, enquanto ao fundo temos as ruínas de pirâmides kushitas.
53
UNIDADE 1
54
Para que você possa exercitar os conhecimentos adquiridos até aqui, realize as ativi-
dades a seguir:
1. Vimos que a África foi o berço da espécie humana. Com base nas informações obtidas
a esse respeito, produza um texto dissertativo, de no mínimo 20 linhas, em que você
caracterize como era a vida de homens e mulheres durante as principais fases da
Pré-história, o Paleolítico e o Neolítico, inseridos em território africano.
Com base no excerto de texto que você acabou de ler e no que estudou até aqui a
respeito de Kush, responda:
55
2
Povos e Reinos
Africanos – do Final
da Antiguidade ao
Transcorrer da Era
Moderna
Me. Karla Katherine de Souza Seule
Muito do modo como enxergamos a África vem de repetidas ideias que foram
ditas a respeito desse continente ao longo da história. Em boa parte dos casos
foram ideias errôneas e equivocadas, que fizeram com que inclusive deixássemos
de estudar o continente e acabássemos por reproduzir preconceitos sobre o
mesmo. Para fugir de preconceitos, nada melhor do que o conhecimento não é
mesmo? Por isso, observe o mapa a seguir, em que estão demarcados os grupos
etno-linguísticos presentes na África:
Hamitas
Kanuri
Banto
Hausas Nilóticos
Banto
Songhai
Malaio-polinésio
Khoisan
Descrição da Imagem: A figura é um mapa do continente africano onde estão em destaque os diferentes
grupos étnicos presentes no continente africano, bem como o tronco linguístico do qual fazem parte: no
norte temos a predominância, destacada em amarelo mais claro das populações hamitas; na mesma
região uma faixa central marrom demarcando os territórios de populações kanuri; no centro há territó-
rios destacados em amarelo mais escuro, enquanto os territórios dos hausas; também em laranja estão
destacados os territórios no centro das populações songhai; ainda no centro e para o sul, em roxo e verde
há os grupos bantos; no sul da África em laranja escuro estão os territórios das populações khoisan; em
bordô populações nilóticas; e em lilás populações malaio-polinésias.
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UNICESUMAR
UNIDADE 2
Agora eu quero convidar você a que comece a refletir junto a mim sobre o quanto
sabe ou até mesmo se já ouviu falar de algumas dessas populações africanas cujos
territórios que habitam em África foram indicados no mapa acima. Feito isso,
pondere se você já ouviu falar de algum reino ou unidades políticas desenvolvi-
das por essas populações em território africano. Populações como os mandingas,
bantos e iorubás estão entre esses grupos étnicos e as unidades políticas que elas
criaram fizeram parte de relações internas e externas à África no transcorrer do
final da Antiguidade e no início da Era Moderna. Contudo, muito disso pode
ainda ser pouco conhecido e estudado, apesar de suas contribuições inclusive
para a formação do Brasil. Pois, durante o tráfico Atlântico de escravos da África
para as Américas, pessoas provenientes dessas populações e reinos que aborda-
remos aqui, tiveram como destino o Brasil, e seus descendentes integram hoje
a maioria da população brasileira, já que somos o país com o maior número de
afrodescendentes fora da África. E é sobre elas que voltaremos a nossa atenção
nesta etapa do nosso percurso.
Para tanto, é preciso que retiremos a ideia enganosa de que a África este-
ve isolada de grandes fluxos migratórios internacionais entre a Antiguidade e
a Era Moderna. Pois, como advertiu o historiador José Rivair Macedo (2013),
inúmeras migrações internas de leste para oeste do continente, bem como para
a região sul fizeram e fazem parte da história africana desde há muito. Além
disso, as regiões norte e leste mantiveram contatos frequentes com a Europa e a
Ásia. Essas migrações foram responsáveis por reunir populações e desenvolver
agrupamentos a partir delas, trazendo a este continente uma infinidade de gru-
pos etnolinguísticos. Desse modo caro(a) aluno(a), sugiro a você que faça um
levantamento em sites, como o Worldatlas ou outras páginas da web que tragam
de mapas a dados estatísticos dos diferentes grupos étnicos que compõem todos
os territórios africanos.
A partir da sua pesquisa, bem como do mapa da figura 1, você poderá ter
uma base inicial da variedade de etnias e culturas africanas. Por isso, registre no
diário de bordo a seguir, os dados relevantes levantados por você por meio desses
recursos, em que demonstre toda essa diversidade: indique o número de etnias
africanas e os grupos que estas compõem; os idiomas falados por elas; além dos
espaços que ocupam ao longo do território africano, bem como as suas carac-
terísticas geográficas. Feito isso, poderemos buscar as raízes dessa diversidade.
59
UNIDADE 2
DIÁRIO DE BORDO
“
Pouco a pouco, os homens que viviam nas savanas ao sul do Saara
foram acrescentando a bagagem trazida das culturas aquática e pas-
toril. Aperfeiçoaram o cultivo da terra e domesticaram novos vegetais.
Melhoraram os utensílios de trabalho. Tornaram mais sólidas as casas.
A cerâmica evoluiu e se enriqueceu até chegar à escultura em barro
cozido. E, uns cinco ou seis séculos antes de nossa era, o ferro começou
a incorporar-se aos materiais com que lidavam. (SILVA, 2011, p. 166).
60
UNICESUMAR
UNIDADE 2
Descrição da Imagem: Mapa com a localização do rio Níger na África Ocidental, com destaque para os
territórios que abarcam esse rio. O rio nasce perto da fronteira entre Guinea (Guiné) e a Sierra Leone
(Serra Leoa) na esquerda do mapa, ele segue na diagonal acima para a direita, passando por Bamako
(Bamaco), capital do Mali, por Timbuktu (Tombuctu), também no Mali. O rio continua mais um pouco
quase em linha reta no Mali, depois faz uma curva para baixo na diagonal direita, passando por Niamey
(Niamei), a capital do Níger. O rio passa por Benin e vai até a Nigéria, desaguando no sul desse país, no
Oceano Atlântico. Enquanto no canto superior direito da imagem, está o mapa de todo o continente em
miniatura, com um quadrante vermelho destacando o espaço geográfico da África, que está em verde,
onde de um modo geral a região da África Ocidental se encontra.
61
UNIDADE 2
“
Tornou-se mais fácil, com machados de ferro, derrubar as matas;
com enxadas de ferro, revolver o solo; com a foice de ferro, ceifar o
sorgo. Os instrumentos de caça e pesca fizeram-se melhores. Esfola-
vam-se com maior facilidade os animais. Abriam-se nos troncos das
árvores as grandes canoas. E, com as armas de ferro, aumentaram
o poder de destruição dos guerreiros e o poder de centralização de
seus chefes (SILVA, 2011, p. 177).
62
UNICESUMAR
UNIDADE 2
Diante do fato de o espaço que temos não nos permitir atingir a toda a diver-
sidade de povos e unidades sócio-políticas africanas nos ditos períodos, tive que
fazer a seleção de apenas alguns deles. Quanto às populações, entre as selecionadas
estão alguns grupos entre os mandingas, iorubás e bantos. E quanto aos reinos que
conheceremos e que foram estabelecidos por alguns desses grupos abordaremos
Axum, Gana, Império do Mali, o antigo Reino do Congo e o Império Monomotapa.
Embora o percurso seja breve, espero que possamos abarcar um pouco da
imensidão africana e suas dinâmicas a partir dessas que formam algumas de
suas populações e daquelas que foram durante os contextos da Antiguidade até
o limiar da Era Moderna, algumas das sociedades africanas mais proeminentes.
Para tanto, eu convido você a seguir comigo por uma ordem cronológica
linear, começando entre as sociedades ou reinos africanos selecionados dentro
desse recorte histórico mais antigo, para então finalizarmos com os reinos ou
organizações políticas que se desenvolveram por último. Vamos lá?!
O reino de Axum - Na região em que hoje está localizada a Etiópia, por volta
do século V a. C. emergiu o reino Axum. Esse reino foi criado a partir da cidade
homônima, cuja população de pastores e agricultores, que ainda manufaturavam
produtos em couro, tecido, madeira, cobre e bronze, mantinha importantes
relações com os iemenitas na outra margem do Mar Vermelho, além de popu-
lações do interior africano.
63
UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
O Kebre Negast é um livro que reúne escritos antigos, textos bíblicos, egípcios, árabes e
etíopes e faz um relato detalhado do encontro entre a Rainha de Sabá, chamada pelos
relatos etíopes de Makeda, e o rei de Israel, Salomão. Segundo os relatos desse livro, Sa-
lomão convenceu Makeda de sua sabedoria e desse modo, passou a noite com ela, o que
levou ao nascimento do rei Menelik I, fundador da dinastia de Salomão na Etiópia, que
perdurou até a destituição do imperador Haile Selassie em 1974.
Fonte: https://www.dw.com/pt-002/rainha-de-sab%C3%A1-uma-viagem-em-busca-do-co-
nhecimento/a-44487846. Acesso em 05/08/2021.
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UNICESUMAR
UNIDADE 2
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
O vídeo La Gran Muralla Verde del Sahel: 8.000 kms de árboles para frenar el
cambio climático en África, disponível no Youtube, no canal “El Confidencial”,
traz explicações sobre o Sahel, essa muralha verde que contém o avanço do
deserto no centro-sul africano.
Para saber mais acesse o QRcode a seguir:
Descrição da Imagem: A figura é um mapa cinza da região central da África em que se estende uma
faixa entre o litoral Atlântico até o Mar Vermelho, destacada em amarelo, que é o território conhecido
como Sahel.
67
UNIDADE 2
“
os Soninke ou Sarakolle, fundadores de Gana, ocupavam especial-
mente as províncias de Wagadu (Awker), Baxunu (Bakhunu) e Ka-
niaga; ao sul, aos pés dos montes de Kulikoro, estavam instalados os
Sosoe, ou Sosso, que tinham sua capital na cidade de Sosoe; e, ainda
mais ao sul, viviam os Maninka ou Malinké, do território chamado
Mande ou Manden, situado na bacia do alto Níger, entre Kangaba
e Siguiri. Os Soninke, também conhecidos como Marka ou Wakore
(Wangara) fundaram o Império de Gana, primeira expressão da
expansão manden. (MEC/Vol IV, 2010, p. 155).
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UNICESUMAR
UNIDADE 2
Os soninke foram os fundadores do reino de Gana, nas regiões em que hoje fazem
parte do Mali e da Mauritânia. Esse território esteve do século III ao VII domi-
nado pelos berberes que faziam comércio de ouro e noz de cola com os árabes
vindos do norte em troca de tecidos, cobre, sal, jóias, tâmaras e figos. Mas no
século VII, os Soninke estabeleceram sua soberania sobre Gana e transformaram
seu reino em uma potência militar e econômica. As suas principais cidades eram:
Kumbi-Saleh e Audagoste.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
UNIDADE 2
Foi então que, no início do século XIII, os vários grupos mandingas que vi-
viam sob o domínio de Gana começaram a se separar. Entre eles estavam os sussus,
que ocuparam Kumbi terminando por levar a decadência de Gana, uma das mais
duradouras unidades políticas subsaarianas. Enquanto isso, um chefe mandinga
chamado Sundiata, em 1240 destruiu a cidade de Kumbi Saleh e dessa forma ele
incorporou o que sobrara do Império de Gana ao novo Império mandinga do Mali.
Sundiata pertencia ao clã mandinga dos Keita. Velhas histórias a seu respeito
foram preservadas pelos Griotz, tradicionais contadores de história, responsáveis
por manter a cultura mandinga viva. Essas histórias tradicionais nos contam
que Sundiata teria fugido de seu povoado, por conta de disputas por sucessão de
poder por sobre as posses de sua família. Essa fuga teria sido durante as invasões
dos sussus na região e por isso, ele escapou ao massacre que acometeu seus fami-
liares durante essas guerras. Contudo, Sundiata retornou a sua região de origem
e conseguiu reunir os vários clãs mandingas contra os sussus. Desse modo, ele
recebeu o título de Mansa, tornando-se o primeiro rei da região a governar dos
“mananciais do ouro, os portos caravaneiros do Sael e os caminhos que levam de
uns aos outros” (SILVA, 2011, p. 318).
71
UNIDADE 2
Sua organização era parecida com o antigo Reino de Gana, porém, ainda mais
complexa, já que:
“
Compreendia as mais diversas formas políticas, desde reinos e ci-
dades-estado a aldeias que obedeciam a conselhos de anciãos. A ex-
tensão e a diversidade dos territórios que lhe pagavam tributo e lhe
forneciam tropas, exigiam do rei dos reis uma ampla tolerância para
com as peculiaridades de cada parcela do império e vetavam, por isso
mesmo, uma política de forçada islamização. (SILVA, 2011, p. 328).
72
UNICESUMAR
UNIDADE 2
“
cedo começaram negros e berberes a transportar para mercados
distantes o ouro, a pimenta-malagueta, o âmbar, o alúmen, o sal, o
cobre, as tâmaras, os tecidos, os artefatos de couro. E cavalos, que
frequentemente se permutavam por escravos. (SILVA, 2011, p. 310).
Zaouila Cufra
Arábia
Império de Gana Gidá
Audagoste Agadèz
Kanem-Bornu Souakim
Timbuctu Bilma
Gao Etiópia
Aden
Djenné Zinder
Zeilá
Império de Mali
para Kano e a costa
(XIII / XV)
Figura 13 - Mapa das rotas internacionais ligadas ao Império do Mali por volta de 1400.
Fonte: Miles, T. L. Niger saharan medieval trade routes. 2008. 1 fotografia. Disponível em https://
commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3415866. Acesso em 23 mar. 2022.
Descrição da Imagem: A imagem é um mapa em que aparece o centro-norte do continente africano, com
rotas que ligam as principais cidades do Mali, como Djenné e Timbuctu a mercados que perpassavam
o Marrocos atual, com destino a Europa, o Egito e a Etiópia, com destino a Arábia na Ásia. O Império do
Mali está identificado com contorno azul, enquanto o Oceano Atlântico, o Mar Mediterrâneo e Vermelho
estão em preto.
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UNIDADE 2
Descrição da Imagem: Na fotografia do lado esquerdo temos a grande Mesquita de Djenné e do lado
direito a Mesquita ou Universidade de Sankoré, ambas feitas em adobe (argila misturada à palha e seca
ao sol), um estilo arquitetônico classificado enquanto sudano-saheliano, com detalhes pontiagudos, torres
em ambos os casos e formato piramidal no caso da Mesquita de Sankoré, além da presença de portas e
janelas na imagem da Mesquita de Djenné. No plano da frente de ambas as imagens vemos duas pessoas
em frente à Mesquita de Djenné e três outras em frente a de Sankoré.
O Império do Mali abrangia uma área três vezes maior do que o antigo reino
de Gana e foi o império mais rico de seu tempo. Estima-se que a sua população,
em seu apogeu durante o século XIV, chegou a cerca de 45 milhões de habitantes.
A conversão de Sundiata ao islamismo contribuiu para integrar Mali ao circuito
comercial islâmico. E a riqueza desse império ficou conhecida no mundo oci-
dental pelos relatos deixados por viajantes árabes, especialmente aqueles que se
referem ao Mansa Kanku Mussá, que governou o império de 1312 até 1332, e
que, segundo esses relatos, visitou Meca levando tanto ouro consigo que causou
uma inflação do mesmo na região da Arábia.
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UNICESUMAR
UNIDADE 2
No final do século XIV, o reino de Mali entrou em declínio por conta de dispu-
tas sucessórias internas que o enfraqueceram, o que resultou em guerras por
independência por parte de suas províncias vassalas. Somou-se a isso a presença
europeia na região durante o século seguinte, feita por meio dos portugueses que
passaram a comerciar ali armas em troca de ouro e escravos. Essa interferência
estrangeira intensificou os conflitos internos da região, pois os portugueses ofe-
reciam vantagens comerciais aos pequenos chefes da costa africana, levando-os
assim, a se emanciparem do domínio do Mansa de Mali. Enfraquecido e frag-
mentado, atacado pelo leste e a oeste, o Império do Mali caiu sob o domínio de
Songai em 1470, outro poderoso reino na África Ocidental, que perdurou até o
início do século XIX.
Os iorubás – Reinos de Ifé e Oyó - Um dos maiores grupos etnolinguísticos do
continente africano são os iorubás. Há séculos os iorubás estão presentes na região
do atual Benin e na Nigéria. Suas cidades, espécie de cidades-Estado, se desenvolve-
ram nessa região por conta das rotas do comércio bérbere que transcorria a mesma.
Os iorubás formaram no decorrer da Era Moderna importantes reinos que parti-
ram dessas cidades-Estado. Contudo, esses reinos nunca estiveram reunidos sob uma
mesma centralização política que abarcasse a todas essas cidades-Estado iorubás,
compondo-se geralmente de uma só cidade e aldeias vizinhas sob o seu domínio.
75
UNIDADE 2
“
o mais antigo centro ioruba conhecido, dirigido pelos oni que por
muito tempo exerceram um poder espiritual sobre um vasto terri-
tório. Finalmente, foi a partir de Ife que se disseminaram os funda-
dores de Oyo e cinco outras grandes cidades iorubás, assim como
os sucessores da dinastia reinante no Benin, por volta dos séculos
XIV/XIV‑XV. (MEC, Vol IV, 2010, p. 594).
A partir dessas considerações, eu e você podemos verificar que, não à toa, as tradi-
ções iorubás apontam Ifé até hoje enquanto o “umbigo’ do mundo” (OLIVA, 2005,
p.150). Afinal, as próprias tradições iorubanas apresentam essa cidade enquanto
uma espécie de capital religiosa entre as demais cidades dos iorubás.
Esse conjunto de populações africanas, segundo o que as pesquisas podem nos
indicar, também detinham vantagens bélicas, como os mandingas mais ao norte,
por conta do domínio do ferro. Desse modo, ao chegarem nos territórios entre o
Níger e o rio Ogum ao longo dos séculos VII e XI conseguiram garantir o domínio
76
UNICESUMAR
UNIDADE 2
dos mesmos. Entretanto, boa parte dos dados a esse respeito foram obtidos por
meio das narrativas orais, sobretudo religiosas, preservadas ao longo dos séculos:
“
Assim como outros grupos étnicos que habitaram (ou habitam) a
região da atual Nigéria, os iorubás, pelo menos até o final do século
XIX, tiveram uma tradição religiosa marcadamente oral, na qual os
mitos e a memória coletiva desempenharam (ou desempenham)
um papel-chave na explicação e compreensão de suas realidades e
histórias. Esses elementos – a oralidade e a mitologia – acabaram
por permear a construção das relações no âmbito da sociedade e
dos contatos com o sagrado, além de conduzir a interpretação do
mundo e as formas de viver de suas gentes. (OLIVA, 2005, p. 150).
77
UNIDADE 2
Ifé, como vimos, ao que tudo indica foi o primeiro centro urbano iorubá. E ainda
que não se tenha uma definição da data exata de sua origem, o que se sabe é que
essa ocorreu durante a primeira fase de estabelecimento das populações antigas da
Guiné durante os séculos VII e XI. Contudo, essa cidade só estabeleceu sua prima-
zia religiosa e política na segunda fase de concretização das populações iorubanas
nesses territórios, ocorrida entre os séculos XIV e XV, quando foi desenvolvido nessa
cidade um governo monárquico com poder fundamentado em uma “origem divina”:
“
evidências arqueológicas vindas de Ile Ifé, principalmente suas es-
culturas de terracota e latão, que estão associadas a cerimônias da
realeza divina, nos encorajam a acreditar que Ile Ife foi um centro
antigo dessa forma de monarquia. Sendo assim, é possível que Ile
Ife tenha sido o primeiro lugar entre os iorubás a utilizar essa ins-
tituição de realeza e que de lá ela tenha se espalhado para outros
estados iorubás. (Law, 1973, p. 211).
Descrição da Imagem: Do lado esquerdo temos a fotografia de frente da cabeça de um monarca de Ifé
com uma coroa esculpida em terracota, enquanto à direita a fotografia de perfil de outra cabeça com
pescoço de um monarca dessa mesma cidade iorubana produzido em cobre.
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UNICESUMAR
UNIDADE 2
E desse modo, segundo as tradições iorubanas, o primeiro rei de Ifé teria sido
Odudua, uma das divindades primordiais dos iorubás, cujos filhos e netos depois
se tornariam os primeiros monarcas das outras cidades iorubanas. E assim, tanto
a mitologia, como a história dos iorubás, apontam para Ifé como um ponto de
difusão religiosa e de legitimidade política na região” (OLIVA, 2005, p. 158).
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UNIDADE 2
Ní
ge
r
Nigéria
Borgu ió
-O
Ilú-Oba Oió O ud
Nupés
o mé Oió
Da Ouó
dá Ifé
Gana Ala
Benim (Edo)
Descrição da Imagem: No mapa encontramos a localização do Império de Oyó na África Ocidental, en-
tre os rios Níger e o Oceano Atlântico, com destaques para cidades iorubanas de Ifé, Owo, ao sul e mais
para o norte Igbohu e Oud-Oyo, entre as regiões da atual Nigéria, Gana e Benin. Na parte superior, do
lado esquerdo há um pequeno mapa da África, com um retângulo vermelho indicando a localização dos
territórios da África Ocidental apontadas e detalhadas no restante da imagem.
A cavalaria de Oyó, segundo Oliveira (2005) era constituída por cavalos impor-
tados das regiões vizinhas pelos seus ricos comerciantes, já que os equinos não
conseguiam ser reproduzidos em seu território, devido a infestações da mos-
ca tsé-tsé. E graças a essa riqueza comercial, que lhes permitia a aquisição de
instrumentos para uma superioridade militar, os Alafins, imperadores de Oyó,
conseguiam manter sua soberania bélica.
A força bélica e política de Oyó é algo que novamente nos remete às ligações
históricas dos iorubás com as suas tradições e crenças religiosas. Isso porque se
o Oni (espécie de sacerdote rei) de Ifé era descendente de Odudua, o Alafin de
Oyó descenderia de Xangô o orixá da justiça, do trovão e do fogo, que por sua
vez descende também de Odudua. Desse modo, essas autoridades religiosas e
80
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UNIDADE 2
“
Além de manter uma agricultura auto suficiente, assim como boa
parte dos outros povos da região, ela se beneficiou de sua posição
geográfica, acima da floresta, com terras melhor agricultáveis. De-
senvolveu também um grupo de artífices de grande qualidade com
relação à tecelagem e à metalurgia, o que possibilitou o fomento de
importante atividade mercantil. (OLIVA, 2005, p. 162).
O que garantia a riqueza dos seus comerciantes, que importavam como citei há
pouco, os proventos necessários para o poderoso exército de Oyó.
Esse Império foi também um importante centro de comércio escravista e por
isso “sentiu a decadência do comércio atlântico de escravos e se desintegrou em
pequenas unidades políticas na primeira metade do século XIX, até cair sobre
o controle britânico” (SILVA, 2008, p. 107). Contudo, merece ser lembrado por
sua influência e destaque entre as organizações políticas da África Ocidental
estabelecidas por populações iorubánas.
Eu e você iremos agora, conhecer o último grupo etnolinguístico africano
que selecionamos para essa etapa de nosso roteiro por sobre a história africana.
Esse grupo povoou boa parte do continente e também estabeleceu importantes
unidades políticas entre a Antiguidade e a Era Moderna. Prossigamos, portanto,
em nosso trajeto ao encontro do mesmo.
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UNIDADE 2
3
2
4
Bantoid que não são Bantu
outros Benue-Congo orientais
Benue-Congo ocidentais
Atlântico
Descrição da Imagem: No mapa vemos a distribuição de diferentes grupos étnicos africanos da África
subsaariana: em marrom, está demarcada a maior área, a do grupo etnolinguístico banto – “Bantu area”
– que predomina por todo o centro sul africano; na área demarcada enquanto “West African Area” (área
da África Ocidental), há a presença dos grupos Kwa marcados em verde limão, os Kru em azul petróleo,
os Senufo em azul claro, os Gur em verde claro, os Kordofan em pink, os Mande em rosa mais claro e os
Atlantic em lilás; na região “Benue”, estão em laranja os territórios Bantoid, em amarelo dos Benue-Con-
go do Leste e em verde os Benue-Congo do Oeste; entre a área Banto e a Benue, em verde claro estão
indicados os territórios Adamawa-Ubangian e em azul de outras populações.
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UNIDADE 2
Reino de Loango
Reino de Macoco
São Salvador
Reino de
Caçongo
Reino do Congo
Songai
Reino de Matamba
Reino de Ngola-Ndongo
Joga Casangi
Benguela
Descrição da Imagem: No mapa temos os territórios que integraram o reino do Congo na África central,
com destaque em vermelho para a São Salvador (M’bamza Congo antes da colonização portuguesa) entre
suas importantes cidades. Ela está no centro do que está demarcado em preto como o Reino do Congo
(K. of Kongo), enquanto a esquerda estão os territórios das cidades do Songai (County of Songo) e o Reino
de Caçongo (K. of Caçongo), bem como no canto superior do mesmo lado está indicado o território do
Reino de Loango (K. of Loango), abaixo o Reino de Ngola-Ndongo (K. of Ngola N-dongo), de Benguela (K.
of Benguela) e as cidades do Joga Casangi (Country of the Jaga Cassangi), enquanto a direita faz fronteira
com os territórios Dembo Ambuila, o Reino de Matamba (K. of Matamba), Dembo Ambulaça e o Reino
de Macoco (K. of Macoco).
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UNIDADE 2
De acordo com Costa e Silva (2011), nessa região africana os rios eram ricos em
peixe, enquanto na savana havia muitos animais para a caça. Também era um
local próximo a minas de sal e de solo fértil que foi utilizado para o cultivo de
banana, dendê, coco, cola, milho, sorgo, inhame e macunde. As populações ali
estabelecidas criavam animais como galináceos, cabras, porcos e cães. Seu platô
foi cortado por várias rotas comerciais que traziam cobre do norte, da outra
margem do rio Zaire, enquanto das praias do oeste eram provenientes o sal e as
conchas e, do vales do rio Inquisi no leste, eram trazidos panos de ráfia. Riqueza
e prosperidade foram então geradas a partir desse comércio realizado ao longo
dessas rotas que percorriam o reino.
Segundo as histórias tradicionais mantidas ao longo do tempo, o reino do
Congo foi estabelecido entre os séculos XIV e XV pelo rei Nimi Luqueni, que
também aparece em alguns escritos como Antino-Uene, cujo termo antino quer
dizer “rei” ou “juiz”. Esse rei que provinha da região:
“
ao norte do rio Zaire, em plena floresta, [...] [onde] mandava um
rei, pai de muitos filhos. O mais moço deles, de nome Antino-Uene
[...] ao reconhecer que não tinha qualquer possibilidade de chegar
ao poder, o que muito desejava, resolveu emigrar com os seus para
a outra margem do rio e conquistar as terras que ali havia, reparti-
das entre diferentes senhores ou manis. Esse [...] passou as águas,
invadiu Mpemba Kasi e foi fixar-se numa colina, onde se ergueria
Umbanza Congo, a São Salvador dos portugueses. A população local
tinha um líder [...] Antino-Uene logrou o apoio daquele chefe-sa-
cerdote, casou-se com uma das suas filhas e assumiu o título de
manicongo, o senhor do Congo. (SILVA, 2011, p. 515-516).
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UNIDADE 2
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UNIDADE 2
Nzinga Mbemba saiu vitorioso com o auxílio dos portugueses e ele, que, ao se
converter havia adotado um novo nome, foi então coroado Afonso I do Congo:
“
Cristão desde 1491 e protetor dos raros missionários antes de 1506,
esse chefe de facção, uma vez rei, transformou rapidamente a Igre-
ja católica em religião de Estado. Seu filho Henrique, como bispo
consagrado em Roma, esteve à frente da Igreja do Congo de 1518 a
1536. (MEC, Vol V, 2010, p. 657).
O bispado do Congo que havia sido criado com o apoio do rei Afonso I, logo
ficou sob controle dos portugueses e concomitante cresceu o tráfico de escravos
que era de interesse dos mesmos. O rei tentou controlar e até mesmo abolir o
tráfico, mas não conseguiu. Também a sua descendência numerosa criou duas
facções para a sua sucessão e, assim, uma guerra civil a partir de 1665 enfraqueceu
o reino que virou alvo de invasores. Foi então, que a partir de 1575 os territórios
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UNIDADE 2
que pertenciam ao reino do Congo e que hoje fazem parte de Angola, foram
invadidos e passaram a ser colônia de Portugal.
Outro reino banto de destaque fez parte do contexto da Era Moderna, contu-
do, em territórios sul e orientais da África. Estou falando do Império Monomo-
tapa que floresceu ao longo dos séculos XV e XVIII entre as regiões que abarcam
o atual Zimbábue até o litoral do Índico. Sua origem é atribuída aos xona, grupo
banto que anteriormente havia desenvolvido em parte desses territórios um outro
Estado mais antigo, que ficou conhecido por meio de relatos a seu respeito como
o Grande Zimbábue.
EXPLORANDO IDEIAS
O Grande Zimbábue foi um império comercial estabelecido pelos xona em território afri-
cano que está presente hoje no atual Zimbábue, na região sul africana. Ele existiu entre os
séculos XII e XVI, povoado por agricultores, pastores, artesãos que produziam trabalhos
em cerâmica, esculturas e ferramentas de marfim, além de comerciantes de ouro. Esses
comerciantes foram responsáveis por realizar trocas comerciais que ligavam a costa afri-
cana do Índico ao extremo Oriente, como por exemplo, com a troca de seus produtos com
outros advindos da China. Embora tenha tido seus principais territórios abandonados
antes do século XVI, suas construções em pedras e tijolos tem ruínas sobreviventes que
hoje servem para estudos arqueológicos a seu respeito.
Fonte: Adaptado de https://escola.britannica.com.br/artigo/Grande-Zimb%-
C3%A1bue/481414. Acesso em 05/08/2021.
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UNIDADE 2
Pesquisas arqueológicas sugerem que a exploração das ricas minas de ferro e ouro
da região e o crescimento do comércio levou algumas famílias entre os xona a se so-
bressaírem e a controlarem as rotas comerciais do território. Desse modo, em algum
momento do século XV, uma dessas famílias passou a utilizar o termo “Monomota-
pa” que se tornou um título, cujo significado é “senhor das minas”. Os seus domínios
abarcavam um número considerável de minas de ouro, o que atraiu comerciantes
de vários cantos do continente africano e de fora dele, como árabes e portugueses.
Descrição da Imagem: A imagem apresenta um mapa, em que temos os contornos da região sul africana,
com a inscrição “Monomotapa” demarcando a maior parte desse território, que está escrito com as silabas
separadas de cima para baixo, além de caravelas em torno dos Oceanos e em seu canto inferior direito o
que sugerem ser dois homens negros segurando um cartaz entre eles com o título “Aethiopia Inferior vel
Exterior”, além de estar o do lado esquerdo com um arco em sua mão direita e o que está do lado direito
da imagem segurando uma lança.
88
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UNIDADE 2
“
Os mutapa [monomotapa] delegavam sua autoridade aos chefes da
aldeia e da província. Entretanto, parece que os detentores desses
cargos variavam de acordo com as circunstâncias políticas. Nos pri-
meiros anos do Império, apenas parentes mais ou menos próximos
dos mutapa eram investidos nas funções de chefe da aldeia ou da
província. [..] Além dos membros da linhagem real, aqueles, que,
embora não aparentados aos mutapa, tinham contribuído com a
conquista, eram promovidos a cargos de grandes responsabilidades.
Com o tempo, os mutapa sentiram‑se mais confiantes e seguros de
si; por isso, no século XVII, autorizaram as aldeias e as províncias a
elegerem seus próprios chefes. Na capital, eram assistidos por dig-
nitários de alto escalão, os quais recebiam terras em troca de seus
serviços. (MEC, Vol V, 2010, p. 760).
“
como a obrigação, incumbida aos chefes territoriais, de vir a cada
ano reacender os seus fogos reais na chama original, sendo para
eles uma forma de reafirmar a lealdade ao poder central. Uma vez
por ano, os soberanos mutapa davam ordens a esses chefes para
apagarem seus fogos reais e de rumarem imediatamente para o pa-
lácio do Mutapa a fim de reacendê‑los. Esse ritual de fidelidade era
igualmente repetido na ocasião da entronização de cada novo mo-
narca mutapa. Quando da morte de um soberano mutapa, a ordem
dada aos chefes territoriais era de apagar seus fogos reais até que um
sucessor fosse escolhido, ao lado do qual deveriam vir reacendê‑los.
(MEC, Vol V, 2010, p. 761).
89
UNIDADE 2
Tabela 1 - Povos Africanos que estudamos e algumas de suas unidades políticas / Fonte: a autora.
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UNIDADE 2
Chegamos ao fim de mais uma parte do nosso percurso por sobre a história afri-
cana e foi possível perceber que os preconceitos que apontam a África enquanto
um espaço uno, sem diversidade e riquezas ao longo da História são inverdades.
Afinal, você deve ter percebido a riqueza de histórias, bem como o dinamismo das
diferentes populações que habitaram e que percorreram a África ao longo do tem-
po. Essas percepções são necessárias para que você possa, enquanto professor de
História, trabalhar com esses contextos da História da África e de suas populações.
É preciso que conheçamos essas dinâmicas para compreendermos o quanto
as migrações internas e as relações políticas, culturais e comerciais entre grupos
étnicos e/ou sociedades estabelecidas por eles dentro e fora do continente afri-
cano ocorreram não só no princípio da vida humana que foi na África, mas ao
longo dos demais períodos da nossa história. Além disso, que embora tais situa-
ções possuem suas particularidades, relativas aos cenários e momentos das quais
fizeram parte, elas se inserem também em conexões globais, cujas dimensões
atingiram diferentes partes do mundo, incluindo aquela à qual nós e os nossos
alunos pertencemos.
Por isso, não deixe de tomar esse nosso trajeto, apenas como uma fase inicial
de demais estudos que permitam a você conhecer e compreender ainda mais
essas dinâmicas das quais as populações e reinos africanos fizeram parte. Por
isso você deve estar em constante pesquisa e diálogo com fontes que tragam as
informações mais atuais a respeito das temáticas a que irá trabalhar, incluindo
aquelas sobre a história africana. Desse modo é que informações precisas e de
forma adequada serão inseridas em sua rotina docente, em uma constante prática
de ensino de História, que envolve também um contínuo aprendizado.
91
Os Mapas Mentais ou Conceituais nos auxiliam a retomar os conceitos e conteú-
dos estudados por nós, assim como a elaborar ideias que posteriormente pode-
remos trabalhar enquanto professores com os nossos alunos, de modo eficiente
e significativo. Por isso, aproveite esse espaço para desenvolver o seguinte Mapa
Mental, com palavras-chave que retomam os conhecimentos que adquirimos a
respeito das populações e dos reinos africanos que estudamos ao longo desta
unidade. Para tanto, aborde:
1. suas origens e características culturais;
2. organização política;
3. relações econômicas;
4. e as questões que envolveram seu auge e declínio.
Diante de tal cenário, eu pergunto a você, que participação nesse evento as popu-
lações africanas tiveram, mesmo que por meio de seus governantes ou possíveis
representantes? Será que suas condições e anseios foram levados em conta por
aqueles que o realizaram e dele participaram?
Bom, representantes das populações africanas não participaram ou tiveram
qualquer tipo de reivindicação atendida durante o evento. Basta analisarmos a
própria caricatura feita como uma crítica nesse sentido ao Congresso em Ber-
94
UNICESUMAR
“
Na verdade, as mudanças mais importantes, mais espetaculares – e
também mais trágicas –, ocorreram num lapso de tempo [...] de
1880 a 1910, marcado pela conquista e ocupação de quase todo
o continente africano pelas potências imperialistas e, depois, pela
instauração do sistema colonial. A fase posterior a 1910 caracteri-
zou -se essencialmente pela consolidação e exploração do sistema.
(UNESCO, 2010, p. 1).
Diante desses fatos, sugiro a você que faça uma pesquisa em termos quantitativos,
pode ser em sites ou livros – até mesmo os livros didáticos da Educação Básica –
que abordem essa temática em específico da partilha da África. Nesses materiais
verifique o território total do território africano sobre o qual a ação imperialista
conseguiu se concretizar.
Feito isso, quero agora trazer o nosso percurso para o objeto de estudo que é o
nosso alvo aqui, a história da África e de suas populações. Afinal, devemos refletir
se o nosso enfoque deverá pontuar a ação dos invasores ou dos africanos diante
dessa invasão dos seus territórios? A primeira opção já é bem conhecida entre os
assuntos e processos históricos estudados por nós desde a Educação Básica até
o Ensino Superior. Por isso, quero que você registre as suas percepções sobre os
dados obtidos em sua pesquisa nos materiais didáticos que tratam do imperia-
lismo na África e que foram selecionados e analisados por você, registrando os
detalhes no diário de bordo a seguir:
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UNIDADE 3
DIÁRIO DE BORDO
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UNICESUMAR
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UNIDADE 3
98
UNICESUMAR
“
área de Angola e do Congo (até quase o final do século XIX); Costa
dos Escravos (Golfo de Benin, do final do século XVII até Século
XIX); Costa do Ouro (do início do século XVIII até o seu final); baía
de Biafra (centralizado no delta do Níger e do rio Cross). Outras
regiões tiveram menor participação em épocas diversas como: do
rio Bandana; costa perto do planalto de Futa Jalom; portos próximos
onde agora ficam Morávia e Freetown; e a região da Senegâmbia
com conexão com o interior muçulmano. (PACHECO, 2008, p. 27).
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UNIDADE 3
Descrição da Imagem: A imagem trata-se de um mapa em que temos o continente africano representado
em amarelo e o oceano em azul, com apenas as principais regiões em que o tráfico Atlântico de escravos
partia na costa africana coloridas, sendo elas: a Senegâmbia em marrom, Serra Leoa em mostarda, a
Costa dos escravos (Windward Coast) em azul, Golfo do Benin em vermelho, Golfo de Biafra em verde e a
África Centro-Ocidental em verde musgo. Há uma legenda no canto inferior esquerdo dentro de um box
branco, que segue a ordem das cores e territórios descritos anteriormente. As cores estão em retângulos
pequenos na legenda.
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UNICESUMAR
Nos locais acima referidos, o principal alvo entre as populações africanas eram
os homens e jovens. Para o fomento desse tráfico humano, cada vez mais aqueles
nele inseridos procuraram meios de escravizar pessoas e com o emprego cada
vez maior de violência.
Conforme explicou Redker, a longa prática desse modelo de escravidão resultou
em números exorbitantes, para essa que foi a maior diáspora humana da história:
“
O drama épico se desenrolou em inúmeros cenários, num longo
espaço de tempo, tendo como protagonista não um indivíduo, mas
antes um elenco de milhões. No decurso de quase quatrocentos anos
de tráfico de escravos entre o fim do século XV e o fim do XIX, 12,4
milhões de pessoas foram embarcadas em navios negreiros e trans-
portadas pela chamada Passagem do Meio, cruzando o Atlântico
rumo a centenas de pontos de distribuição espalhados ao longo de
milhares de quilômetros. (REDKER, 2011, p. 12).
O referido autor ainda pontua que muitos já morriam pelo caminho, no trajeto
por terra entre os territórios em que foram capturadas até os chamados “navios
negreiros” onde eram transportados para a América. Uma parcela que segundo
Redker (2011), podia variar de um décimo a metade dos cativos. Já nos navios
de transporte também conhecidos, não à toa, enquanto “tumbeiros”, cerca de 1,8
milhões das pessoas que compuseram essa diáspora africana, não chegaram aos
seus destinos finais, pois morreram pelo caminho amontoadas e encarceradas em
seus porões, sem alimentação, água suficiente e higiene adequada, tendo assim
seus corpos jogados ao mar.
101
UNIDADE 3
Descrição da Imagem: Temos no cartaz o desenho de uma embarcação britânica destinada ao tráfico de
escravos. Ao todos há sete desenhos na imagem e textos em inglês. No título acima está escrito "A estiva
do navio negreiro britânico está sujeita ao comércio de escravos regulamentado". Logo abaixo está escrito
"Lei de mil setecentos e oitenta e oito". Acima à direita temos um texto em inglês em tamanho pequeno
onde não é possível a leitura, assim como algumas palavras dentro dos desenhos do navio.
Abaixo do título, temos a figura um, onde é um desenho da lateral do navio onde é possível ver seu
interior e seis pessoas pretas espalhados, alguns sentados e outros agachados. No segundo desenho
temos o título "Planta do convés inferior com o armazenamento de duzentos e noventa e dois escravos
sendo cento e trinta destes sob as prateleiras conforme mostrado nas figuras três e cinco." Logo abaixo
temos a figura dois, com o navio visto de cima com várias pessoas pretas deitadas em várias posições
usando um pano na região do órgão sexual. Abaixo temos escrito "Plano mostrando o armazenamento
de 130 escravos adicionais ao redor das alas ou laterais do convés inferior por meio de plataformas ou
plataformas (à maneira de galerias em uma igreja) os escravos arrumados nas prateleiras e abaixo deles
têm apenas uma altura de dois pés sete polegadas entre travessas e muito menos sob as travessas.
Veja a figura um". Abaixo temos o desenho do navio vista de cima de outros compartimentos do navio.
Nas laterais e do lado direito há várias pessoas pretas deitadas. No centro, há três partes divididas: na
esquerda está escrito "mulher", no centro, em espaço menor está escrito "meninos" e na direita estão
escritos "homens". Abaixo temos quatro desenhos pequenos, as figuras quatro e cinco estão no canto
inferior esquerdo, onde tem um corte transversal do navio, que mostram uma perspectiva de frente no
navio onde é possível observar pessoas pretas deitadas em "andares".
As figuras no canto inferior direito mostram compartimentos pequenos do navio com pessoas pretas
deitadas entre a cabine do capitão à esquerda e o espaço onde fica a tripulação do navio à direita.
102
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O resultado dessa tragédia segundo as conclusões de Redker com base nos dados
por ele levantados, é que dentre:
“
todas as etapas – captura na África, Passagem do Meio, início da
exploração na América –, cerca de 5 milhões de homens, mulheres
e crianças morreram. Outra maneira de considerar a perda de vidas
é afirmar que se escravizaram cerca de 14 milhões de pessoas para
se obter um “rendimento” de 9 milhões de trabalhadores escravos
atlânticos com sobrevida maior. (REDIKER, 2011, p. 13).
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UNIDADE 3
Descrição da Imagem: A imagem trata-se de um mapa de do viajante holandês Guilherme Blaeu, datado
do ano de 1644, em que o mesmo fez um traçado do continente africano, representando os contornos do
continente, com a Europa na parte de cima e animais da fauna africana como elefantes em seu centro.
Há desenhos embarcações europeias nos mares em seu entorno - Mediterrâneo, nomeado “Mare Medi-
terraneum”, ao norte entre a África da Europa, o Atlântico a noroeste nomeado “Mare Atlanticum”, ainda
do lado oeste mais abaixo o Atlântico está nomeado de “Oceanus Aethiopicus”, enquanto na parte leste
o Índico aparece com o nome “Oceanis Orientalis”. Ao redor do mapa foram apresentados desenhos em
colunas do lado esquerdo e direito, que representam povos africanos e acima na parte superior do mapa
há uma fileira de desenhos com a vista área de nove cidades africanas que possuíam à época fortalezas
europeias ou entrepostos comerciais, sendo elas: Tanger (Tânger), Cevta (Ceuta), Alger (Argel), Tvnis (Túnis),
Alexandria, Mozambique (Moçambique), S. Georgius della Mina (Castelo de São Jorge) e Canaria (Canárias).
Esses detalhes podemos ver utilizando o zoom no link do wikimedia commons.
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“
Grupos maiores que adquiriam armas e pólvora muitas vezes se
tornavam Estados fortes, centralizados e militaristas, que usam as
armas de fogo para subjugar seus vizinhos, os quais, naturalmente,
forneciam o próximo comboio de escravos a ser trocado pelo próxi-
mo engradado de mosquetes. Nas áreas onde o tráfico de escravos se
fazia de maneira mais extensa surgiu uma nova divisão do trabalho
em que se especializaram as tarefas de captura, manutenção e trans-
porte de escravos. O número de escravos capturados e a importância
da escravidão como instituição nas sociedades africanas aumenta-
ram com o tráfico de escravos Atlântico. (REDIKER, 2011, p. 87).
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UNIDADE 3
A busca por produtos africanos ao longo da Era Moderna levou a uma roedu-
ra do continente, mas conforme o comércio de um dos seus principais produtos,
mão de obra escrava, decaía no início da Era Contemporânea, em contrapartida
acontecia um aumento concomitante da expansão europeia no interior da África.
Descrição da Imagem: Temos o mapa da África com a presença europeia assinalada em mil e oitocentos
e dez do lado esquerdo, com boa parte da costa ocidental e oriental africanas sob ocupação europeia
assinaladas em várias cores, enquanto esta pouco se fazia nos territórios do interior que aparece em um
único tom de cinza, indicando estarem livres da presença de alguma força militar ou política da Europa.
Já no lado direito, temos um mapa de mil novecentos e treze mostrando a ocupação por diferentes paí-
ses europeus de territórios na África, entre eles: Reino Unido, com a maior parte dos territórios, tanto
na África Ocidental, quanto no sul e na região Oriental do continente, assinalados em rosa; seguido de
territórios franceses em azul, principalmente no norte da África e na África Oriental; Na sequência os
territórios de Portugal na África centro-Ocidental e Oriental em verde; Uma pequena porção de território
na África Ocidental marcado em ocre, como pertencentes a Espanha; Outra estreita faixa de terra na
África Oriental destacada em vermelho, como pertencente a Itália; Mais algumas pequenas possessões na
África Ocidental, depois outras maiores na África central, no sul e na região Oriental, em cinza, assinaladas
como territórios alemães; e por último, no centro da África em lilás, uma faixa significativa de territórios
ocupados pela Bélgica. Enfim, estão a Libéria em azul claro na África Ocidental e a Etiópia em amarelo
na África Oriental, enquanto os únicos territórios africanos livres da interferência imperialista europeia.
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UNICESUMAR
Uma partilha da África foi sendo conduzida por potências imperialistas euro-
peias, como mencionamos acima, entre os anos de 1880 e 1910. Sendo que, nesse
ínterim, para evitar conflitos ou guerras envolvendo-as é que foi convocado pelo
chanceler alemão Otto Von Bismarck em 1884 e 1885, o já também citado Con-
gresso de Berlim, que terminou por os representantes dessas mesmas potências
europeias determinarem os limites das suas ocupações por sobre os territórios
africanos que vinham invadindo.
Tais ações despertaram reações por parte das populações africanas e focos
de resistência ocorreram por todo o continente. E é sobre eles que lhe convido a
tratarmos a partir de agora.
Essa resistência se fez por meio de variadas revoltas:
“
alguns movimentos populares cresciam na África ainda no século
XIX, lutando contra o domínio colonial. Era uma forma de resposta
a questões como a Conferência de Berlim (1885), onde os países
europeus estabeleceram suas posses territoriais com a partilha do
território africano. [...] desconsiderando sua organização social,
costumes, crenças, enfim, sua cultura e territorialidade. (SUZUKI;
SANTOS; MENEZES; 2015, p. 121).
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Ainda no norte da África tivemos a Revolta de Urabi, entre 1860 e 1882. Esta
ocorreu na região do Egito, enquanto uma reação de suas populações contra a
dominação francesa e britânica na região. Tais potências imperialistas exerciam
sua dominação por meio da cobrança de dívidas ou empréstimos feitos aos seus
governantes locais. Além disso, colocavam em jogo o apoio a esses líderes polí-
ticos desde que lhes fossem subservientes. Tais imposições geraram esse intenso
movimento nacionalista, que contou entre suas lideranças com o coronel Ahmed
Urabi. E embora derrotada, também foi um prolongado conflito que deixou suas
marcas entre os focos de resistência africana ao imperialismo europeu.
Figura 9 - Revolta de Urabi
Fonte: The Illustrated London News. Anglo-
-Egyptian War. 1882. 1 fotografia. Disponível
em https://commons.wikimedia.org/w/index.
php?curid=36702105. Acesso em 24 mar. 2022.
108
UNICESUMAR
Na mesma região houve uma resistência que ficou marcada pela existência de
um exército feminino, que causou forte impressão nos europeus invasores, nesse
caso, franceses. Estou me referindo a resistência dos Fon, um numeroso grupo
etnolinguístico da África Ocidental, que a partir do século XVII estabeleceram
nos territórios do atual Benin, o poderoso Reino do Daomé.
O Reino do Daomé havia sido formado pela junção do povo Aja com po-
pulações locais que deram origem ao grupo étnico dos Fon e possuía antigas
rivalidades com o Reino Iorubá de Oyó, além de tentar se impor as dificuldades
que o tráfico Atlântico de escravos vinha impondo na África Ocidental, desde o
início da Era Moderna. Desse modo, os fundadores do Daomé:
“
tentaram implementar um novo sistema político capaz de escapar às
tormentas da época. Rejeitaram a concepção tradicional do Estado,
que era considerado como uma versão estendida da família, e a
109
UNIDADE 3
110
UNICESUMAR
Tal Reino possuía entre os seus exércitos um composto apenas por mulheres, que
os invasores europeus chamaram “amazonas do Daomé”, em referência às míticas
guerreiras da Grécia Antiga. Estas mulheres guerreiras, entre os Fon eram cha-
madas de as Ahosí “que significava de forma generalizada todas as esposas do rei”,
além de “mino , que também representava as mulheres palacianas” (SUGUIAMA,
2018, p. 14) ou ainda traduzido enquanto “nossas mães”.
Desse modo, a importância das “amazonas do Daomé” ou Ahosi entre seu povo,
era de destaque e de muito respeito, enquanto para os viajantes europeus as des-
crições são de ferocidade, porém, mantém em geral o reconhecimento de suas
habilidades e bravura. Sendo que, na última década do século XIX, quando o
Daomé entrou em guerra com os franceses e, essas mulheres passaram a integrar
uma das principais forças contra esses invasores, acabaram por deixar as suas
marcantes impressões entre os relatos feitos por eles a seu respeito, que apesar
de por fim terem sofrido a derrota e serem exterminadas, permanecem vivas na
história da resistência africana ao imperialismo europeu.
111
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
112
UNICESUMAR
Na região do Alto Senegal, entre 1898 e 1901, houve outro movimento de re-
sistência africano, este foi organizado pelos Sonike e ficou conhecido como a
rebelião de Mamadou Lamine. O movimento teve por base a crença de que por
revelação divina os muçulmanos, que para tanto recorreram aos textos sagrados
da Suna, estariam proibidos de viver sob uma autoridade não islâmica, portanto,
não poderiam ser submetidos ao governo da França.
O estopim deste conflito aconteceu quando a população foi submetida a tra-
balhos forçados impostos pelo domínio francês para a construção de uma linha
telegráfica e uma estrada de ferro ligando Kayes ao Níger, cujo objetivo era orien-
tar as economias da região enquanto fontes de matérias-primas para exportação,
de acordo a propósito, com os interesses do governo desse país europeu. Essa
revolta também foi derrotada, mas demonstra uma resistência além de cultural,
ainda religiosa, à dominação europeia.
113
UNIDADE 3
Descrição da Imagem: A imagem é um mapa colorido cujo título da legenda é: “terceira revolta de
Mahmadou Lamine 1887”. Destacado em laranja estão os territórios do Alto Senegal submetidos ao do-
mínio francês, com indicações das regiões em que ocorreram vitórias francesas demarcadas com estrelas
vermelhas. Os territórios com tonalidade de laranja mais claro e listras escuras, são os derrotados após
a morte de Mahmadou Lamine. Em verde estão demarcados os territórios da Gâmbia britânica. Uma
estreita faixa em amarelo que abrange do interior ao litoral Atlântico indica os protetorados ou zonas de
influência francesa. Em azul estão indicados os Estados Djolof, com sobre eles quadrados pretos assina-
lando as fortalezas de Toubakouta.
114
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: A imagem é um mapa colorido dos territórios da África Oriental que aparece em
marrom e em uma tonalidade mais clara, os territórios que entre julho de mil novecentos e cinco e julho
de mil novecentos e oito, compunham o que era a chamada África Oriental Alemã (Deustsch-Ostafrika)
e dentro desse espaço territorial, estão realçadas em vermelho as áreas afetadas pela revolta Maji-Maji,
que estão entre as margens realçadas em vermelho, com rios que perpassam o território e com saída
para o Oceano Índico.
115
UNIDADE 3
Figura 16 - Mapa das áreas de Controle Dervixe entre Outubro de 1901 e Maio de 1902
Fonte: Floathreenn. 1901 - 1902 Darwiish. 2019. 1 fotografia. Disponível em https://commons.wiki-
media.org/wiki/index.%E2%80%99php?curid=81165399. Acesso em 25 mar. 2022.
Descrição da Imagem: O mapa do “Chifre da África” está em branco, com destaque em verde no centro
para os territórios Dervixe em seu interior, que estiveram sob o controle de seus clãs entre os anos de mil
novecentos e um e mil novecentos e dois: as regiões de Taleh, Halin, Cagaarweyne, Damot, Buuhoodle, Kirit,
Lassader, Gosaweyne, Geladi e Dannood. Ao lado direito, territórios sob o domínio italiano (Italian Hobyo
e Italian Majeerteen), enquanto do lado esquerdo os territórios britânicos da Somália (British Somaliland).
116
UNICESUMAR
“
Importa ressaltar que a reação religiosa foi um forte componente
nos movimentos de resistência na África, em particular entre 1880
e 1914. Melhor explicando: nos momentos em que a colonização
se fez perturbadora, a religião em graus diferenciados, cristalizou
a tomada de consciência, organizou o protesto e se converteu em
instrumento de oposição. A violência sofrida, por um lado, e a im-
potência material, de outro, favoreceram o recurso ao sagrado como
afirmação cultural. (HERNANDES, 1999, p. 144).
E nesse contexto, apesar de algumas elites locais se fixarem na crença de que con-
seguiriam barrar as intenções expansionistas europeias, como vinham fazendo
há séculos, por meio da manutenção de relações comerciais com a Europa, agora
a situação era outra e os objetivos dos invasores também:
“
em 1880, graças ao desenvolvimento da revolução industrial na Euro-
pa e ao progresso tecnológico que ela acarretara – invenção do navio a
vapor, das estradas de ferro, do telégrafo e sobretudo da primeira me-
tralhadora, a Maxim –, os europeus que eles iam enfrentar tinham no-
vas ambições políticas, novas necessidades econômicas e tecnologia
relativamente avançada. Por outras palavras, os africanos não sabiam
que o tempo do livre-cambismo e do controle político oficioso cedera
lugar, conforme diz Basil Davidson, à “era do novo imperialismo e dos
monopólios capitalistas rivais”. (UNESCO, 2010, p. 7).
117
UNIDADE 3
“
As associações e agrupamentos formados pela articulação das as-
pirações nacionalistas foram efetivamente numerosas, e bastante
variadas as estratégias e táticas elaboradas no decurso do período
para concretizá -las. [...]
118
UNICESUMAR
“
Os africanos que participaram da guerra, esperaram que as “pro-
messas” de transformações mais significativas nos seus países, como
uma autonomia maior sobre as decisões políticas e econômicas,
fossem cumpridas. Como isso não ocorreu, acabaram por insuflar
as populações, que mesmo com concretização da presença força-
da europeia, não estavam inertes e realizavam uma grande linha
de resistência nas suas regiões, fazendo emergir desse contexto o
discurso mais duro, que reivindicava autonomia, independência e
união africana contra os europeus. (MATOS, 2019, p. 79).
“
Dos anos 50 até o fim da “presença europeia” no continente africa-
no, a luta independentista foi intensa, com o surgimento de vários
movimentos, conflitos e lutas armadas, contra a exploração e inva-
são que ocorriam há tempos em África, e que sempre encontrou a
resistência pelo caminho. (MATOS, 2019, p. 77).
Embora, seja necessário pontuar que com o fim da Guerra, as antigas potências
imperialistas estavam estagnadas, o que tornava ainda mais difícil conter os con-
flitos e o alcance das independências por parte dos africanos.
119
UNIDADE 3
Descrição da Imagem: A imagem é composta por um mapa do continente africano, com sua divisão
política atual, apontando as datas em que cada uma das partes ou países da África conseguiram a sua
independência, sendo as regiões: em verde escuro entre os anos de mil oitocentos e quarenta e mil
novecentos e nove; em verde um pouco mais claro, entre os anos de 1910 e 1919; as regiões em verde-li-
mão entre 1920 e 1939; aquelas em verde-musgo foi durante 1940-1949; as em verde-oliva nos anos de
1950 a 1959; aquelas em amarelo no ano de 1960, que são a maior parte do território, do centro, parte
do norte e África Ocidental; as em laranja entre os anos de 1961 e 1969; seguidas das em vermelho que
foi entre 1980 e 1989; já em marrom claro temos assinaladas aquelas independências entre os anos de
1990-2009; e em marrom escuro as últimas, que ocorreram de 2010 em diante. Sendo que, a maior parte
dos territórios demarcados, alcançaram a sua independência no período posterior a 1950.
Como é possível observarmos por meio das informações obtidas no mapa acima,
a maior parte das independências foi alcançada após 1945, ou seja, depois do
final da Segunda Guerra. Encerrado o conflito mundial as lutas pela indepen-
dência se intensificaram, algumas mais curtas, com tratados de paz para encerrar
o mais rápido possível os confrontos, como foi o caso de boa parte das colônias
120
UNICESUMAR
121
UNIDADE 3
cionais, que os afetou em cheio graças ao modo como tiveram as suas economias
organizadas durante a colonização e exploração de seus territórios e populações,
de modo a servirem enquanto Estados “dependentes da exportação de matérias-
-primas e com recursos humanos não especializados” (OLIVEIRA, 2009, p. 96).
E com todos esses problemas relativos a fronteiras, disputas internas e exter-
nas, mais uma desigualdade de recursos como terras férteis a acesso ao litoral que
existe entre as diferentes nações africanas da atualidade, o desenvolvimento delas
também acabou por ser destoante e diverso. E como as antigas formas de governo
nativas foram extintas e substituídas por sistemas de governo implantados pelos
países colonialistas, foi retirada de suas populações a liberdade de, bem ou mal,
dirigirem as suas próprias economias, definirem as suas políticas, assim como as
suas relações culturais.
Portanto, o processo histórico do qual a África fez parte na era Contemporâ-
nea foi intenso e certeiro em movimentar as suas estruturas e em lançar muitos
desafios às suas diversas populações nos seus mais variados ambientes. Tais de-
safios têm sido o ponto de partida na atualidade para as jovens nações africanas
avançarem rumo a um futuro, que possa ser de superação desses e de outros
obstáculos que se apresentarem.
122
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
123
1. Considere a imagem a seguir:
Descrição da Imagem: Na imagem temos uma gravura em que no centro de um navio negreiro, uma
mulher negra está nua, apenas com um pano branco e vermelho listrado cobrindo a parte íntima
pendurada no mastro por uma corda amarrada ao seu pé direito, enquanto um homem branco, de
calças listradas em branco e azul, com um paletó vermelho e chapéu preto, com os cabelos castanhos,
puxa a corda que a está prendendo. E do lado esquerdo está um homem, com uniforme cujas calças
e camisa são brancas e o blazer azul, com peruca branca e chapéu preto, olha para o observador da
imagem sorrindo e empunhando um chicote na mão direita. No fundo, um pouco à esquerda da mu-
lher pendurada, é possível notar três mulheres negras nuas sentadas. Na direita da imagem, há dois
homens com calças listradas, um com paletó azul e outro com paletó marrom, os dois usam chapéus
pretos, o da direita está de costas para o observador e o da esquerda tem sua cabeça voltada para o
homem da direita. No centro e acima, há uma vela de navio acima do mastro. Na parte direita da vela
e um pouco abaixo, há algumas palavras escritas em inglês.
Ela representa uma gravura do século XVIII em que o capitão britânico John Kimber
açoita uma escrava adolescente até a morte, porque ela se recusou a dançar no navio,
sendo que o mesmo não foi condenado por isso. Com base em tais informações e no
que estudamos ao longo desta unidade, explique de que forma a atitude de Kimber
e as consequências se relacionam com o modelo de escravidão realizado a partir do
tráfico Atlântico de escravos.
124
2. Leia o trecho a seguir, a respeito do exército de mulheres do reino de Daomé na
África, que cita descrições feitas pelo viajante inglês Frederick Forbes:
“As ‘amazonas’ também decepavam a cabeça dos inimigos durante os conflitos, sendo
afirmado pela Forbes que elas eram aconselhadas a adotarem essa prática diante dos
soldados rivais. Ao descrever o ritual, Forbes relatou que as “amazonas” dançavam
enquanto assassinavam os inimigos e degolavam suas cabeças. Essa passagem repre-
sentou as ‘amazonas’ como guerreiras altamente cruéis que se divertiam enquanto
decepava as cabeças inimigas.”
125
Nele temos uma caricatura do empresário inglês Cecil Rhodes pisando por sobre o
mapa do continente africano. Ele foi um dos protagonistas da dominação colonial de
seu país em territórios africanos, sendo responsável pela fundação da Companhia
mineradora De Beers e que tentou implantar a construção de uma ferrovia que ligava
o norte ao sul da África.
126
4
Imaginário
sobre a África
e Historiografia
Africana
Me. Karla Katherine de Souza Seule
Os relatos sobre a África são antigos e aparecem com a existência de algumas das
primeiras formas de escrita. Contudo, muitos deles foram feitos por estrangeiros
que passaram por esse continente ou foram feitos por aqueles que ouviram os
relatos desses viajantes e assim, desenvolveram suas teorias sobre esse continente.
O filósofo alemão Friedrich Hegel expôs em seus escritos o território africano
como sendo uma parte do mundo sem História:
“
Não tem movimentos, progressos a mostrar, movimentos históricos
próprios dela. Quer dizer que sua parte setentrional pertence ao mun-
do europeu ou asiático. Aquilo que entendemos precisamente como
pela África é o espírito a-histórico, o espírito não desenvolvido, ain-
da envolto em condições de natural e que deve ser aqui apresentado
apenas como no limiar da história do mundo. (HEGEL, 1995, p. 174).
128
UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
Agora eu lhe convido para observar junto a mim como, de modo geral, tem
sido feito os relatos, bem como os estudos sobre a África e suas populações
ao longo da História. Esse trajeto possibilitará que eu e você conheçamos o
modo como as diferentes correntes historiográficas da História africana foram
desenvolvidas e as diferentes perspectivas e suas contribuições para os estudos
historiográficos a respeito desse continente e das suas populações, inclusive
para o ambiente escolar. Comecemos então!
129
UNIDADE 4
130
UNICESUMAR
“
Assim, a pele negra, o cabelo crespo e as feições físicas foram os aspec-
tos que, antes de quaisquer outros elementos, em um primeiro contato,
mais chamaram a atenção dos que passaram pelo continente. E desta
maneira, as terras africanas, foram caracterizadas como o habitat de
homens negros inferiores, sendo que a diferença, a crença na superio-
ridade e a dificuldade de entender o outro representam os significados
implícitos impressos nos referidos termos. (SILVA, 2010, p. 13).
Descrição da Imagem: Na imagem está disposto o mapa do continente africano, com destaque em verde
para a região subsaariana que abrange do centro ao sul da África.
131
UNIDADE 4
Figura 2 - Mapa aponta a região do Magreb, considerada a parte ocidental do “mundo árabe”
Fonte: Maphobbyist. Magrib. 2018. 1 Fotografia. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/
index.php?curid=701032. Acesso em 26 mar. 2022.
Descrição da Imagem: No mapa temos o norte da África, com destaque em verde para o Magreb, na
região noroeste da África. No restante do mapa está na cor cinza, onde também aparece o sul da Europa
e parte do oriente médio, também na na cor cinza. Os oceanos e mares estão na cor branca.
132
UNICESUMAR
africano em suas diferenças. A esse respeito, Silva (2010, p. 13-14) nos traz como
exemplo o caso do grego Heródoto, considerado o “pai da História”.
Tal exemplo se refere a forma como um dos primeiros estudiosos da História,
ao falar da África e dos africanos na Antiguidade, os descreve com “um misto
de estranhamento, admiração e desqualificação, através das várias referencias a
Etiópia e aos etíopes”, afirmando que a cor de sua pele era fruto do calor da região
e que os “negros da Líbia” eram o de “cabelo mais crespo que se tinha”, bem como
essas diferenças seriam por conta de o seu habitat ser considerado por Heródoto
como o “mais remoto do mundo”, o que teria inclusive lhes relegado segundo ele,
a uma inferioridade e ausência de civilização.
EXPLORANDO IDEIAS
Em uma situação parecida ao exemplo citado há pouco por Silva (2010), este
mesmo autor nos lembra de um outro autor grego da Antiguidade que se re-
feriu ou fez descrições do território africano, no caso foi o geógrafo e matemá-
tico Ptolomeu. Ele que viveu no norte, na região da Alexandria, fez um esboço
dos contornos da África em sua obra Geografia partindo da premissa de que o
continente “não passaria da região do Equador”, além disso, possuiria um clima
133
UNIDADE 4
O mapa acima de Ptolomeu foi desenhado por ele com base no conhecimento
que os europeus tinham do “velho mundo” na Antiguidade. Por isso, o mapa serve
como exemplo da visão predominante entre os europeus desde meados da Idade
Antiga, de que do centro para o sul do continente africano não existiria nada,
pois teria um clima impossível de o ser humano sobreviver:
134
UNICESUMAR
“
Ideias como o calor intenso e insuportável, as influências causadas
pelo clima nas características físicas das sociedades e a crença que
abaixo do Equador somente criaturas animalescas poderiam sobre-
viver, teriam uma participação chave nas explicações dos teólogos
e geógrafos medievais e nos viajantes do início da Idade Moderna
sobre o continente localizado ao sul da Europa. (OLIVA, 2008, p. 4).
“
O clima, além da cor da pele e as características geográficas, eram usa-
das para demarcar as “fronteiras” entre europeus e africanos e desse
modo, explicar suas diferenças físicas e culturais. (SILVA, 2010, p. 14).
EXPLORANDO IDEIAS
A teoria camita é uma teoria desenvolvida com base na história bíblica dos
filhos de Noé, em que um deles Cam teria desrespeitado a seu pai e como
castigo um de seus filhos, Canaã, foi condenado a ser escravo de seus ir-
mãos Sem e Jafet. E como nos relatos bíblicos a descendência de Noé, a par-
tir de seus filhos teria povoado o planeta, a teoria camita defende que dos herdeiros de
Cam descendem os africanos e que por isso as populações da África estariam relegadas
a servidão dos descendentes dos seus irmãos que povoaram os outros continentes do
Velho Mundo – Ásia e Europa.
O mapa da figura 4 se refere a um Mapa Múndi em que são demarcados os continentes
de acordo com essa descendência, elaborado pelo arcebispo Isidoro de Sevilha que viveu
entre os séculos V e VII, e foi responsável por ajudar a disseminar a ideia em sua cartogra-
fia de que os filhos de Cam seriam os africanos. Maiores informações presentes no artigo:
OLIVA, Anderson Ribeiro. Da Aethiopia à África: As ideias de África, do medievo europeu
à Idade Moderna. Revista de História e Estudos Culturais. Uberlândia: MG, Outubro/
Novembro/Dezembro de 2008, Ano V, Vol. 5, Nº 4.
Tal teoria serviu para justificar uma crença de que os africanos seriam povos
inferiores e corroborar com outras ideias como:
135
UNIDADE 4
“
de que a cor negra representaria a escuridão bíblica ou a maldade
em seu estágio demoníaco. Esse conjunto de crenças acabou por
reforçar a posição de desprestígio geográfico e cultural que a tradi-
ção greco romana já havia concedido à África, somando, agora, o
elemento espiritual. (OLIVA, 2008, p. 4).
136
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: O mapa do cartógrafo dos Países Baixos, datado do século XVI, mostra os contor-
nos reais do continente africano, rodeado pelos oceanos Atlântico (oeste) e Índico (leste), e duas ilustrações
de “monstros marinhos” no lado oeste. No canto inferior direito temos uma ilustração de caravelas e ainda
na parte inferior central um brasão com contornos no vermelho e amarelo, está com uma frase transcrita
em seu interior “Africae tabula nova”, que do latim significa “novo mapa da África”.
137
UNIDADE 4
138
UNICESUMAR
“
no século XV, duas encíclicas papais [que] deram plenos poderes
ao soberano português de se apoderar das terras e escravizar eter-
namente os povos islâmicos, pagãos e os negros em geral. E essa
condição de cativo dos povos negros, veio a contribuir e poten-
cializar os preconceitos e imagens negativas dos africanos. Sendo
que a maioria dos relatos elaborados nos decorrer dos séculos XVI,
XVII e XVIII, seguiam as abordagens de povos inferiores, mesmo, a
despeitos destes, se elevarem a um posição chave nas relações eco-
nômicas estabelecidas pelos europeus com o Mundo Atlântico. E
isso se verifica facilmente com a análise dos diários, memórias e
crônicas dos viajantes ou nos relatórios oficiais elaborados por di-
versos marinheiros, enviados diplomáticos, comerciantes, militares,
missionários e exploradores que percorreram o interior e a costa do
continente entre os séculos XV e XVIII. (SILVA, 2010, p. 16).
139
UNIDADE 4
OLHAR CONCEITUAL
O infográfico a seguir aponta as teorias raciais do século XIX e como elas aborda-
ram a existência de diferentes “raças humanas” e ajudaram a classificá-las dentro
de uma escala evolutiva entre as mesmas e as sociedades em que se formaram.
VEIGA, Larissa C. Clemente; VASCON, Luis F. de Castro. A influência das Teorias
Raciais e Eugênicas na produção científica nacional. Revista de Iniciação Científica da
FFC, Marília, v. 19, Nº 2, Jul-Dez de 2019, p. 27 a 34.
TEORIAS
RACIAIS DO SÉCULO XIX
EVOLUCIONISMO
SOCIAL
140
UNICESUMAR
Essas teorias colocaram os povos da África como povos primitivos dentro de uma
escala evolutiva em relação às demais populações do planeta, mas, sobretudo, em
relação à população europeia que vivia um contexto de industrialização e crença
do progresso e que, portanto, se via enquanto a mais desenvolvida.
Expedições colonizadoras haviam sido antecipadas por expedições científicas
ou o contrário ocorria e, então “essas teorias raciais explicariam e evidenciariam
o fato dos africanos serem prova viva do desenvolvimento evolutivo do homem
até o macaco, sendo dessa maneira, mais próximos dos animais do que dos hu-
manos” (SILVA, 2010, p. 21).
Esse imaginário estrangeiro depreciativo em relação aos africanos e mesmo
as visões mais atuais que ainda mantém parte dele, são baseados em um etno-
centrismo que, como vimos, não se deteve apenas ao olhar europeu por sobre a
África. No entanto, na Europa e nos demais locais por onde a influência Ocidental
europeia se disseminou, como na América por exemplo, acabou por lhe tornar
mais abrangente, assim como as suas seqüelas preconceituosas.
PENSANDO JUNTOS
Segundo Telles (1987), o etnocentrismo pode ser definido enquanto o modo como um
grupo constrói uma imagem do universo a partir de sua identidade cultural favorecendo
a si em relação a outros grupos diferentes. O quanto essa visão etnocêntrica afetou e
afetou as populações africanas e afrodescendentes ao longo da História? Reflita a esse
respeito enquanto realiza o restante de nosso caminho.
141
UNIDADE 4
“
Se nos dias atuais parece existir um conjunto mais ou menos comum
de ingredientes imaginários que compõem as leituras ocidentais so-
bre a África, não podemos esquecer que essas percepções estão, na
maioria dos casos, contaminadas pelas imagens depreciativas que
nos chegam do passado – recente e longínquo – e que emergem ao
nosso redor, do próprio tempo presente. Resultantes de estereótipos
e simplificações conceituais construídas ao longo dos séculos e da
repetição sistemática de ideias e fatos que são recorrentemente as-
sociados à África, essas visões representam e sintetizam uma longa
história das relações entre os ocidentais e os outros. As marcas mais
evidentes desses olhares são as interpretações embebidas pelo etno-
centrismo, pelos estranhamentos e, muitas vezes, pelo sentimento
de superioridade. (OLIVA, 2008, p. 1).
142
UNICESUMAR
Convido você a observar como de um modo geral, cada uma dessas correntes
analisou a História africana e as repercussões que tiveram.
EXPLORANDO IDEIAS
“
A África não é uma parte histórica do mundo. Não tem movimen-
tos, progressos a mostrar, movimentos históricos próprios dela.
Quer dizer que sua parte setentrional pertence ao mundo europeu
ou asiático. Aquilo que entendemos precisamente como pela África
é o espírito a-histórico, o espírito não desenvolvido, ainda envolto
em condições de natural e que deve ser aqui apresentado apenas
como no limiar da história do mundo. (HEGEL, 1995, p. 174).
143
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: A figura 7 é uma pintura retratando o busto de Hegel, um homem branco, com
cabelos grisalhos e lisos, além de olhos azuis. Enquanto a Figura 8 é uma pintura que retrata o tronco de
Kant, um homem branco, com casaco marrom, peruca e olhos claros.
“
Os negros da África não tem por natureza nenhum sentimento
acima do trivial. O Sr. Hume desafia qualquer um a citar um único
exemplo em que um negro tenha mostrado talentos, e afirma que
entre centenas de milhares de negros que são transportados dos seus
países para outros lugares, embora muitos tenham sido colocados
em liberdade, ainda assim nenhum jamais foi encontrado que apre-
sentasse qualquer coisa de grande em arte ou ciência ou qualquer
outra qualidade digna de elogio, apesar de que entre os brancos
alguns sempre se elevam bem acima das massas mais ínfimas, e por
meio de dotes superiores ganham o respeito do mundo. A diferença
144
UNICESUMAR
O primeiro dos “motivos” listados acima, foi um dos fundamentos utilizados pela
chamada corrente da “inferioridade africana”. Não podemos nos esquecer que
essa primeira perspectiva de estudos históricos sobre a África fez parte do con-
texto descrito há pouco, do estabelecimento da História enquanto uma ciência
onde os historiadores tradicionais entendiam que a História humana teve início
quando da invenção da escrita, já que tudo o que havia antes disso foi considera-
do enquanto “pré-histórico”. Desse modo, esses historiadores dos tempos iniciais
da História científica “desconsideravam qualquer possibilidade de produção
histórica por meio da oralidade”, não enxergando a África, portanto, enquanto
“um continente histórico” (LEMOS, 2015, p. 158-159), dada às populações sem
tradição escrita na sua parte subsaariana.
145
UNIDADE 4
Contudo, tudo isso não significou que não foram realizados estudos a respeito da
África e da sua população, muito pelo contrário, muito conhecimento científico em
torno das línguas, etnias, costumes e religiões do “outro” africano foram produzi-
dos. Ciências-irmãs da História nasciam dessa forma para estudar esses “outros”,
sobretudo, o “outro africano”. Entre essas ciências a de destaque foi a Antropologia.
Descrição da Imagem: A figura se refere a uma fotografia em preto e branco em que o antropólogo
polonês Bronislaw Malinowski aparece no canto esquerdo agaixado observando um conjunto de crianças
pretas, enquanto dois homens pretos - um no centro e outro no canto direito – observam a cena.
146
UNICESUMAR
147
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: Na Figura 10 está presente uma fotografia em preto e branco de um homem
de perfil voltado à direita, onde aparece seu busto, ele tem cabelo curto e tem bigode e usa um casaco,
e o seu crânio é medido por um outra pessoa de pé através de um paquímetro. A pessoa de pé está à
direita da imagem, onde aparece apenas parte do seu corpo, ela usa um casaco abotoado. Na Figura 11,
há um conjunto de fotografias e preto e branco do rosto de perfil de nove homens de variadas etnias,
sendo uma fotografia de frente do rosto, abaixo no centro, utilizadas para mostrar suas diferentes ca-
racterísticas físicas.
“
Produções de obras literárias, jornalísticas e similares foram [...]
sendo utilizadas pelos historiadores. Denominados de ‘historia-
dores modernos’, esses estudiosos se ampararam justamente nos
documentos construídos graças aos viajantes e comerciantes que se
fizeram presentes em regiões da África, incorporando nos seus estu-
dos muito dos preconceitos que esses grupos acabaram registrando,
principalmente a ideia de que a sociedade europeia prevalecia sobre
a africana. (TELES, 2012, p. 241-242).
148
UNICESUMAR
Temos então uma escrita da História da África sob essa perspectiva da inferiorida-
de africana feita de fora, que marginalizava e diminuía qualquer possibilidade de os
povos da África ter influência em seus destinos ou o de outros povos mundo afora.
A Escola dos Annales traria novas perspectivas no início do século XX. Com
o auxílio do conhecimento obtido por ciências como a Antropologia, até mesmo
como meio de compreender os caminhos “diferentes” do europeu ou Ocidental,
essa nova escola historiográfica trouxe novos olhares para a História como um
todo, mas também para uma História africana.
O contexto aqui era diverso do “progresso” industrial e científico vivido pelas
potências econômicas europeias no transcorrer do século XIX. Pois, essa mesma
Europa industrializada, cuja imagem com a qual suas nações se identificavam era
a de “moderna” ou a “sociedade mais desenvolvida”, se viu em meio a duas grandes
guerras, que expuseram com a sua destruição, toda a barbárie a qual o ser huma-
no possa ser capaz de cometer. Desse modo, o Ocidente perdeu sua crença num
progresso humano contínuo e linear, e assim, o seu suposto papel civilizatório
por sobre a África, dando margem ao fortalecimento no continente africano de
um pan-africanismo como reação ao colonialismo europeu.
Inserida nesse processo, na África nasceu a segunda perspectiva historiográ-
fica sobre a sua História, que ficou conhecida como a “corrente da superioridade
africana”. Esta corrente da historiografia africana, se fez ainda sob o contexto em
que os movimentos por independência em relação às metrópoles colonizadoras
europeias ganharam força e levaram a maior parte das independências na África,
na passagem do meio para a segunda metade do século XX:
“
A partir de 1947, a Société Africaine de Culture e sua revista Pré-
sence Africaine empenharam-se na promoção de uma história – da
África descolonizada. Ao mesmo tempo, uma geração de intelec-
tuais africanos que havia dominado as técnicas europeias de inves-
tigação histórica começou a definir seu próprio enfoque em relação
ao passado africano e a buscar nele as fontes de uma identidade
cultural negada pelo colonialismo. Esses intelectuais refinaram e
ampliaram as técnicas da metodologia histórica desembaraçando-a,
ao mesmo tempo, de uma série de mitos e preconceitos subjetivos.
(FAGE TELES, 2012, p. 243).
149
UNIDADE 4
“
o continente africano tornava-se assim um centro de irradiação
civilizacional. Seus discípulos tiveram ativa participação na reda-
ção da História Geral da África e na decifração da escrita meroítica
em 1974, atuando junto ao Institut Fondamental de l’Afrique Noire
(IFAN) da Universidade de Dakar, que, na atualidade, recebe o nome
de Universidade Cheikh Anta Diop de Dakar, em sua homenagem.
(MACEDO, 2008, p. 17).
150
UNICESUMAR
E ainda, a organização de uma grande obra sobre a História africana acabou por
se concretizar. Esta obra foi a coleção organizada pela UNESCO com a partici-
pação de intelectuais estrangeiros intitulada História Geral da África, que como
pontuou Silva (2010, p. 32), “é considerada como um ponto de virada nos estudos
sobre a história africana”. Composta por oito volumes começou a ser elaborada no
final da década de 1960 até 1980, a pedido de intelectuais africanos importantes,
provenientes de países africanos recém independentes, como o historiador e po-
lítico de Burquina Fasso Joseph Ki-Zerbo. Esta coleção é até hoje uma referência
em conteúdos a respeito da História da África.
Figura 12 - Griot moderno, em Diffa, Níger
Fonte: Roland.A Griot performs at Diffa, Niger,
West Africa. 2006. 1 fotografia. Disponível em:
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?-
curid=16637883. Acesso em 23 mar. 2022.
NOVAS DESCOBERTAS
151
UNIDADE 4
Contudo, não podemos deixar de ponderar que, esta segunda corrente de análise
da História da África foi responsável em muitos casos por repetir erros das abor-
dagens anteriores que tentaram combater. Pois, ao utilizar de um “afrocentrismo”
no lugar do “eurocentrismo” por meio de um “desproporcional enaltecimento
das características histórico-culturais africanas”, ou até mesmo por uma culpa-
bilização total dos estrangeiros por todos os seus problemas, alguns africanistas
terminaram por colocar em seus estudos populações africanas enquanto “meras
vítimas de ações externas, perdendo assim todo o papel de agentes históricos”
(SILVA, 2010, p. 33) por parte delas.
“
as datas e os eventos cedem lugar aos conceitos e na qual são estabe-
lecidas tipologias das formações estatais e sociais levando em conta a
variedade de povos e culturas, identificando as interferências externas
(muçulmanas, cristãs) e sua africanização. (MACEDO, 2008, p. 19).
“
Isto tanto dentro da África, como B. Barry, A. F. Ajahi, A. Boahen,
B. A. Ogot, V. Mudimbe, I. A. Akinjogbin, T. Falola, M. Diouf, E. J.
Alagoa e outros; quanto fora da África, como J. Vansina, J. Thornton,
152
UNICESUMAR
A ênfase dos integrantes dessa vertente não é em uma “identidade africana”, que
tornaria a África una. Ao contrário, o que essa corrente da atualidade tem busca-
do é sim reconhecer a diversidade africana e suas raízes, presente desde grandes
a pequenas organizações políticas e populacionais, bem como as suas culturas.
Algo realizado a partir da análise das individualidades e não por meio de gene-
ralizações que corram inclusive o risco de ser preconceituosas.
Uma historiografia na África ou fora dela, mas com raízes verdadeiramente
fincadas nesse continente e em suas realidades e dinâmicas próprias. Que só foi
possível por ter tido início na própria áfrica, enquanto uma historiografia origi-
nalmente africana, pois conforme advertiu Macedo (2008m, p. 25), Sua posição
está bem formulada na máxima segundo a qual “enquanto os leões não tiverem
seu historiador, as narrativas da caçada glorificarão apenas o caçador”.
Essas abordagens têm, desse modo, contribuído para se chegar a uma História
da África de fato. Uma reconstrução de histórias em que as populações africanas
são devidamente protagonistas em seu “mundo” e dos “outros” e não apenas meras
coadjuvantes para complementar ou satisfazer seus objetivos.
153
UNIDADE 4
154
UNICESUMAR
155
Ao longo de nosso trajeto vimos o estabelecimento de um imaginário estrangeiro
responsável por caracterizar a África e os africanos até hoje de modo preconcei-
tuoso. Também acompanhamos as diferentes linhas de abordagem desenvolvi-
das em torno dos estudos da História africana. Nesse espaço, elabore um mapa
mental em que aponte de forma prática as características gerais que integram
esse imaginário em torno do continente africano e as três perspectivas historio-
gráficas a respeito da História da África.
Imaginário e historiografia
Imaginário Origem, contexto
sobre a África e os e consequências:
etnocêntrico
africanos
Correntes
historiográficas que Corrente da Inferioridade
abordam a História africana:
africana.
DIÁRIO DE BORDO
158
UNICESUMAR
Agora vamos adentrar ao modo como as nossas histórias, ou seja, como as histó-
rias de África e Brasil se entrelaçaram e tem até o presente momento se constituí-
do ao longo do tempo. Comecemos pelos contextos em que elas se fizeram, para
partirmos então para os aspectos culturais que detemos e tiveram a fundamental
contribuição de africanos e africanas para a sua elaboração.
Africanos no Brasil: da escravidão até a abolição – Infelizmente o entrelaçar
da História de um Brasil e da África, ou de algumas das populações africanas que
durante boa parte do tempo tiveram aqui o desenrolar dos seus destinos, tiveram
tal desígnio estabelecido por meio da escravidão. Essa prática aconteceu desde o
início da nossa História, ainda enquanto colonizados por Portugal, quando para cá
africanos e africanas foram trazidos – sim, trazidos, já que os mesmos não vieram
por sua própria vontade – com a finalidade de servirem enquanto escravizados
aos colonizadores dos territórios que no presente momento fazem parte do Brasil.
Como observou em sua obra O Povo Brasileiro, o célebre historiador, sociólo-
go e antropólogo Darcy Ribeiro (1995, p. 19), nós brasileiros somos resultado “da
confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios
silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como es-
cravos”. Portanto, as contradições presentes nesses encontros e desencontros entre
nossas matrizes culturais, da qual a africana foi parte substancial, foram feitos
por meio do violento contexto da escravidão estabelecida por meio do tráfico
Atlântico de escravos comercializados do continente africano para a América.
Tal tema, já foi discutido em fases anteriores desse nosso trajeto, mas aqui eu
lhe convido a retomá-lo, com o enfoque no modo como a escravidão se fez no
Brasil, bem como serviu de palco para a chegada das primeiras populações africa-
nas por aqui, ao longo de um espaço de tempo – meados do século XVI a meados
do século XIX – que se tratou da maior parte da nossa História enquanto um país.
A escravidão foi o meio pelo qual os colonizadores portugueses inseriram
africanos na construção de sua colônia que deu origem ao nosso Brasil e isso
aconteceu já no século XVI, mais precisamente em sua primeira metade, de quan-
do datam os primeiros registros da chegada de escravizados africanos por aqui.
Os primeiros africanos foram trazidos para o Brasil segundo Guedes (2016),
em 1538. Eram provenientes de diferentes territórios do seu continente de ori-
gem, bem como eram pertencentes a vários grupos étnicos, com destaque para
sudaneses, culturas islamizadas da costa ocidental africana e populações de lín-
guas bantas do centro sul da África. Uma prática que se estendeu por mais de 350
159
UNIDADE 5
anos, em que cerca de 5,5 milhões de africanos tiveram como destino o Brasil,
sendo que destes, apenas cerca de 4,8 milhões chegaram vivos, já que muitos
morriam no transporte e cujos números desse modo, demonstram que aproxi-
madamente 38% dos africanos trazidos para as Américas tiveram como destino
final o nosso país.
160
UNICESUMAR
“
A diáspora negra no Brasil foi numericamente a mais importante
de todas as diásporas africanas nas Américas; de todos os países
do continente americano, foi o país que recebeu o contingente nu-
mericamente mais importante dos escravizados africanos entre os
séculos XVI e XIX. De todos os negros da África deportados para
as Américas, 30% a 40% tiveram o Brasil como destino. Entre os
séculos XVII e XVIII, os negros africanos e seus descendentes mes-
tiços chegaram a representar quase 70% da população, tão grande
o volume do tráfico. Hoje, negros e mestiços representam quase
a metade da população brasileira, ou seja, cerca de 80 milhões de
brasileiros. (MUNANGA, 2018, p. 259).
PENSANDO JUNTOS
Você sabia que a utilização crescente da mão de obra africana se fez também por conta
dos interesses econômicos em torno do tráfico Atlântico de escravos, aos quais os portu-
gueses se empenharam em participar? Pois bem, segundo Marquese (2006), conforme a
mão de obra indígena se escasseava por motivos como as mortes por epidemias, fugas
e pressão jesuíta para proibir a escravização dos nativos que atrapalhava o seu trabalho
catequético para com eles, os portugueses foram se estabelecendo na África, sobretudo,
em Angola e fazendo do tráfico negreiro uma atividade econômica lucrativa, para a qual
era interessante que o foco da escravização na América portuguesa fossem os africanos.
161
UNIDADE 5
Conforme nos explica Ribeiro (1995), esses africanos que possuíam diferentes
origens variadas e que, portanto, falavam diferentes idiomas, eram proposital-
mente misturados do transporte da África ao Brasil até seu destino final em
senzalas. Desse modo, os seus algozes buscavam impedir que se unissem e orga-
nizassem motins ou revoltas como modo de resistir a condição de escravizados
que estavam lhes impondo.
Descrição da Imagem: A imagem se constitui em uma tela colorida do pintor francês Johann Moritz
Rugendas , em que seu autor representa o porão de um navio negreiro repleto de homens e mulheres
africanos escravizados amontoados, alguns nus outros semi nus, incluindo uma criança que está sendo
amamentada por um escravizada sentada no chão. No centro da imagem um deles está em pé com os
braços esticados na entrada do porão recebendo água de uma pessoa por meio de uma jarra, enquanto
segura sua caneca na mão esquerda que é completa e apoia a direita na abertura do teto do porão. Em
seu lado direito um homem branco com calças amarelas, camisa branca e colete verde, aponta para os
quatro escravizados que estão no entorno da coluna do mastro central do navio, enquanto outro homem
branco de calça marrom, camisa branca, gravata preta e paletó azul, está erguendo uma lamparina com
sua mão esquerda e um outro que está usando calça azul, camisa branca e cabelos ruivos está segurando
um escravizado.
162
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: A tela de Debret retrata uma cena em que, enquanto ao fundo vemos montanhas
cobertas pela mata e alguns coqueiros no canto direito e algumas espécies de cabanas no lado esquer-
do, temos ainda ao fundo, mais ao centro, um escravizado preso a uma árvore enquanto outro homem
negro, com calça branca e sem camisa o açoita e outros dois também vestindo roupas brancas, um deles
de chapéu, ambos segurando ferramentas de trabalho agrícola. Ao mesmo tempo, no plano principal da
imagem, na frente temos um escravizado semi nu, com suas mãos e pés amarrados num pau de arara
prostrado ao chão e sendo açoitado por um homem branco de calça azul com um lenço branco e listras
que a amarra, bem como camisa branca e colete amarelo no centro laranja nas laterais, usando um lenço
amarrado na cabeça branco com listras laranja, barba e bigode, nos pés chinelos e o que parecem ser
seus pertences nos pés da escada em lado direito: um chapéu de palha e paletó azul.
163
UNIDADE 5
Além disso, as situações aqui revisitadas por mim e por você pelas quais pessoas
escravizadas eram submetidas na América, também inspiravam as mais diversas
formas de resistência a essas condições de violência. Fosse de forma direta, por
meio de motins e fugas, ou indireta, nas suas práticas cotidianas, como por meio
da busca em manterem vivos os seus costumes de origem - como a religiosidade,
por exemplo -, esses africanos utilizaram diferentes mecanismos para resistir a
escravidão que na América estiveram sujeitas.
Os quilombos ou mocambos foram comunidades ou aldeias que nasceram
em meio a essas fugas e se tornaram importantes formas de resistência cujos
remanescentes permanecem até atualidade:
“
Ainda em fins do século XVI, o rei de Portugal argumentava que
os colonos estavam ficando pobres, pois não conseguiam impedir
as sucessivas escapadas de seus cativos. Em resposta, as autoridades
coloniais garantiam que havia, de fato, obstáculos — considerados
inimigos — da colonização, sendo o principal deles os “negros de
Guiné” (como eram chamados em geral os africanos escravizados),
fugitivos que viviam em algumas serras e faziam assaltos às fazendas
e engenhos (GOMES, 2015, p. 12).
“
[...] movimento de rebeldia permanente organizado e dirigido pelos
próprios escravos que se identificou durante o escravismo em todo
o território nacional. Movimento de mudança social provocado, ele
foi uma força de desgaste significativa ao sistema escravista, solapou
as suas bases em diversos níveis – econômico, social e militar [...].
(MOURA, 1989, p. 22).
164
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: A imagem é uma tela colorida de Rugendas em que é retratada uma roda de
capoeira com dois homens negros, o do lado esquerdo com calça vermelha e camisa amarela, enquanto
o do lado direito está sem camisa e com calça amarela – ambos descalços – jogam capoeira, cercados de
homens e mulheres negros, que assistem a encenação, sendo que ao fundo há mocambos ou cabanas
brancas com telhas de barro.
165
UNIDADE 5
resistência por parte dos escravizados no combate às condições que lhes foram
impostas: “o fantasma de uma insurreição ampla estava sempre presente nos pe-
sadelos dos senhores e das autoridades” (PINSKY, 2010, p. 49).
Já no século XIX, quando alcançamos a independência, mais precisamente
no ano de 1822, essa emancipação política do nosso país em relação a Portugal
não significou o fim para a escravidão por aqui, que perdurou até 1888. Não à toa,
este acontecimento levou ao culminar no ano seguinte, 1889, da Proclamação da
República. Como se deu esse processo e que consequências ele deteve na situação
da população afro brasileira, são assuntos necessários de serem discutidos e por
isso convido você a voltarmos a nossa atenção até eles no presente momento.
Embora a abolição não tenha sido fruto direto de uma rebelião escrava em
específico, ela “não pode estar reduzida a um ato de brancos” (PINSKY, 2010, p.
49). O movimento abolicionista esteve presente na história brasileira desde o
período colonial, que comprou e alforriou muitos negros. Mas esse movimento
ganhou força quando políticos, como por exemplo Joaquim Nabuco e José Bo-
nifácio, começaram a defender a abolição como algo iminente durante a déca-
da de 1870, subseqüente a proibição do tráfico negreiro por intermédio da Lei
Eusébio de Queiroz em 1850 por aqui, como uma consequência da pressão da
Inglaterra, após a Lei Bill Alberdeen instituída por lá em 1845, por meio da qual
governo inglês autorizava a sua marinha prender navios negreiros encontrados
na travessia do Atlântico.
Além de organizações, jornalistas publicaram textos onde defendiam a abo-
lição, junto a revoltas que fizeram parte do cotidiano no país e fizeram ganhar
fôlego o movimento em prol da abolição, embora uma elite agrária tentasse adiar
esse acontecimento. Neste ínterim, outras leis foram promulgadas, como a Lei
do Ventre Livre de 1871 que libertava os filhos de escravizadas nascidos a partir
desse ano, bem como a Lei dos Sexagenários de 1885, pela qual os escravizados
maiores de 60 anos eram libertos.
Contudo, essas leis não tinham longo alcance, sobretudo a última, já que dada
as suas condições de vida, dificilmente um escravizado ou escravizada chegavam
perto dos 60 anos de idade, quanto mais ultrapassavam tal média de vida. Tudo isso
gerou mais intenso debate, incluindo na Câmara e Senado, fazendo sob tais pres-
sões com que em 13 de maio de 1888 a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel,
no momento a regente do país, culminando na abolição da escravatura no Brasil.
166
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
167
UNIDADE 5
É importante que façamos esse resgate para que compreendamos assim como de
fato foi o estabelecimento da Lei Áurea. Ou seja, esta não foi uma dádiva e sim o
resultado de anos de luta travada por personagens reais. Porém, ainda que alcan-
çada a abolição, a Lei Áurea não rompeu com os mais de 350 anos de escravidão
no Brasil, sobretudo, com os seus efeitos por sobre a população afrodescendente.
Após o fim da escravidão:
“
muitos negros foram expulsos das fazendas e ficaram sem ter onde
morar nem como sobreviver. Uma boa parte da elite brasileira não
queria que os negros assumissem os novos postos de trabalho que
estavam surgindo no Brasil, à preocupação da elite era embranque-
cer o país com imigrantes vindos da Europa. Essa política de segre-
gação racial fez com os negros vivessem as margens da sociedade.
(MEDEIROS; NASCIMENTO, 2010, p. 310).
Portanto, com a abolição, o negro não foi inserido no mercado de trabalho as-
salariado ou nas escolas ou outros mecanismos que levassem a mudanças na
sua condição social de marginalizados para cidadãos. Desse modo, a maioria da
população afrodescendente permaneceu não só a margem do restante de nossa
sociedade, como também passou a perecer sob novos modos de discriminação
e marginalização social.
O racismo nesse contexto foi se construindo nas bases estruturais de nossa
sociedade, ainda que sejamos um país miscigenado. Olhemos para o contexto da
abolição e após a mesma. O Brasil além de ser o último país das Américas a abolir
a escravidão, após a mesma ter finalmente sido proibida por lei, não houve uma
política de inserção social das populações no que nos referimos acima – traba-
lho, bem como tudo que o mesmo proporciona para a sobrevivência, bem como
educação – para aqueles que deixaram de estar sob a condição de escravizados
alçarem com equidade melhores condições de trabalho e de vida.
Ao contrário, junto à abolição tivemos o crescimento de uma política de
“branquear” a população brasileira. Teorias racistas desenvolvidas na Europa e
nos EUA vinham defendendo que os não-brancos eram provenientes de “raças
degeneradas”, que precisavam ser eliminadas. A elite e as autoridades governa-
mentais provenientes dela acataram tais discursos e posturas, implantando aqui
políticas de incentivo a imigração europeia para o Brasil. Seu objetivo era claro:
168
UNICESUMAR
“
“aperfeiçoar a raça” – criar uma “raça brasileira” saudável, cultural-
mente europeia, em boa forma física e nacionalista. As elites brasi-
leiras da primeira metade do século XX tendiam a acreditar que os
pobres e não-brancos eram, em sua grande maioria, degenerados.
(DÁVILA, 2005, p. 21).
Figura 6 - Miscigenação
Fonte: Brocos, M. Ham's Redemption. 1895. 1
fotografia. Disponível em https://commons.
wikimedia.org/w/index.php?curid=3535604.
Acesso em 26 mar. 2022.
169
UNIDADE 5
“
Essas personagens lembram respectivamente a Madonna que car-
rega o menino Jesus no colo; José, e o anjo que intermedeia, na ico-
nografia religiosa, as relações entre o plano terreno e a divindade,
ao estabelecer algum tipo de conexão gestual mais direta com uma
dimensão ausente na cena. (LOTIERZO, 2013, p. 239).
170
UNICESUMAR
171
UNIDADE 5
“
a distribuição dos rendimentos por décimos de população segundo
a raça/cor, observa-se que no primeiro décimo (10% mais pobres),
estão 14,1% da população negra e 5,3% dos brancos. Outra forma de
verificar a desigualdade por raça/cor é o destaque dos extremos da
distribuição de rendimentos, em que, ao longo do tempo, predomina
a participação dos brancos no 1% com maiores rendimentos (mais ri-
cos) e de pretos ou pardos entre os mais pobres. (BRASIL, 2016, p. 16).
“
Segundo a PNAD 2013, os jovens brancos de 15 a 17 anos de idade
possuíam uma taxa de frequência escolar líquida 62,9% maior do
que a dos jovens pretos ou pardos da mesma faixa etária, com 47,8%.
Em 2012, entre os estudantes de 18 a 24 anos de idade, do total de
estudantes brancos, 66,6% frequentavam o ensino superior, apenas
37,4% dos jovens estudantes pretos ou pardos cursavam o mesmo
nível. Essa proporção ainda é menor do que o patamar alcançado
pelos jovens brancos 10 anos antes (43,4%). De acordo com os dados
mais recentes, a maior incidência de analfabetismo ocorre entre as
pessoas negras (11,8%). (BRASIL, 2016, p. 16)
“
a PNAD 2013, há maior proporção de negros em trabalhos infor-
mais (49,6%) comparativamente à população de cor branca (36%).
[...]
172
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
173
UNIDADE 5
Para revertermos tudo isso, é preciso que comecemos por acabar com esse
desconhecimento sobre nossas heranças africanas e a sua dimensão. Devemos
trazer à tona não só o conhecimento a respeito delas, mas o quanto elas integram
mesmo o dia a dia de grupos que descendem de outros grupos étnicos. Por isso,
eu quero encerrar os caminhos finais por sobre os estudos da História africana,
percorrendo essas ligações culturais que o Brasil e a África detém. Vamos lá?!
As heranças africanas dos costumes e cultura brasileira, a construção
material e de saberes no país – Tais heranças são inúmeras e, portanto, o espaço
que eu e você detemos aqui não permite que abordemos toda a sua dimensão.
Contudo, não impede que eu e você façamos um rápido traçado em torno dessa
imensidão e da relevância que teve para a constituição do Brasil seja enquanto
país, ou no que se refere ao seu povo.
O historiador e antropólogo congolês Kabengele Munanga explica que temos
no Brasil heranças africanas que são de ordem econômica, democrática, cultural
e política, sendo que:
“
No plano econômico, os negros serviram como força de trabalho,
fornecendo a mão de obra necessária às lavouras de cana-de-açúcar,
algodão, café e mineração. Uma mão de obra escravizada é tratada
de maneira desumana e com condições de vida muito precárias;
e foi graças a esse trabalho gratuito do negro escravizado que fo-
ram produzidas as riquezas que ajudaram na construção da base
econômica do Brasil colonial. No plano democrático, os africanos
ajudaram no povoamento do país de tão intenso que era o volume
do tráfico negreiro. A título de exemplo, a evolução demográfica,
segundo alguns autores, mostra que até 1830 os negros constituíam
60% da população total, os brancos 16% e os mestiços 21%, ou seja,
negros e mestiços somavam 84% da população total. A partir de
1850, data da abolição do tráfico negreiro, acompanhado da extin-
ção formal da escravatura em 1888, a população negra começou a
decrescer sensivelmente por causa das más condições de vida em
que se encontraram e da mestiçagem com brancos e índios.
174
UNICESUMAR
Por isso, eu e você vamos viajar por sobre algumas das características culturais
africanas presentes do idioma em que falamos, aos nossos hábitos alimentares,
bem como em nossa cultura popular – crenças, música, etc. – e daqueles conhe-
cimentos que fizeram parte da construção material do nosso país por meio não
só da força de trabalho, mas de saberes e técnicas que muitos africanos trouxeram
para cá consigo. Mergulhemos nesse importante resgate!
Começaremos pelo nosso idioma. Este é um instrumento não apenas de
comunicação, mas ele é fruto de construções sócio-culturais no meio em que se
desenvolveu. Desse modo, quando os portugueses vieram para cá a partir de 1500
e iniciaram aqui o seu processo colonizador, por meio da língua que falavam e
inseriram por aqui tentaram impor o seu poder e modo de projetar o mundo.
Porém, o português falado pelos portugueses não ficou ileso aos contatos man-
tidos entre os povos que aqui viviam e aos que se estabeleceram para além dos
colonizadores. E assim, um jeitinho particular de falar o português no Brasil se
desenvolveu e teve a participação direta dos povos africanos que fizeram parte
de nossa formação enquanto povo.
A língua além de compor a cultura de um povo, é um mecanismo de trans-
missão da mesma (PEAD, 2019). Os portugueses quando aqui chegaram encon-
traram inúmeros povos nativos que já detinham seus próprios idiomas e modos
de comunicação. Para facilitar, se utilizaram da língua geral praticada, sobretudo,
por aqueles que faziam parte do tronco linguístico tupi-guarani.
175
UNIDADE 5
EXPLORANDO IDEIAS
No processo de colonização, a língua Tupinambá, por ser a mais falada ao longo da costa
atlântica, foi incorporada por grande parte dos colonos e missionários, sendo ensinada
aos índios nas missões e reconhecida como Língua Geral ou Nheengatu.
Fonte: https://www.labeurb.unicamp.br/elb/indigenas/lingua_geral.html. Acesso em
10/11/2021
Até o final do século XVIII essa língua geral foi a mais praticada por aqui. Com o
decorrer da colonização e com a vinda cada vez maior de portugueses e africanos
para o Brasil, além de medidas administrativas como decretos que impuseram
o uso da “língua do rei” de Portugal como aquela a ser falada por aqui, esta foi
sendo incutida à população, entretanto, sob novas formas:
“
Pela história de suas relações com outro espaço de línguas, o por-
tuguês, ao funcionar em novas condições e nelas se relacionar com
línguas indígenas, língua geral, línguas africanas, se modificou de
modo específico (GUIMARÃES, 2005, p. 25).
176
UNICESUMAR
“
o termo “benjamin” virou “caçula”, “selo” virou no português bra-
sileiro “carimbo”, “mulambo” substituiu o termo “trapo”, “insultar”
virou “xingar”, as “nádegas” passaram a ser chamadas de “bundas”
e “aguardente” definitivamente passou a ser “cachaça” no Brasil.
Como a língua é viva, algumas palavras mudaram um pouco e
outras adquiriram significados distintos, não muito distantes do
original. Além das palavras, o sotaque, o ritmo da fala, a cadência,
a sonoridade e a vocalização. Como sinaliza Yeda Pessoa de Castro,
grande pesquisadora das línguas africanas no Brasil, no nosso país
se pronunciam as vogais átonas: aqui se fala pneu em lugar de pneu;
advogado em lugar de advogado; submarino no lugar de submarino;
entre outras. (Lima, 2018, p. 172).
177
UNIDADE 5
“
Nagô e quimbundo são línguas aglutinantes, portanto desprovidas
de sistema flexional. Donde se segue que, na língua portuguesa, tal
influência repercute à medida que os utentes da língua vão reduzin-
do as flexões e corrompendo os fonemas, gerando uma imensidade
de alofones e alomorfes. Caso típico é a tendência que as populações
menos escolarizadas e menos próximas do litoral têm de flexionar
os verbos só em duas pessoas: “Eu gosto, tu gosta, ele gosta, nós gosta,
vocês gostam." (CASTIM, 1998, p. 39).
178
UNICESUMAR
Os exemplos aqui citados, segundo Mendonça (2012), são fruto das diferenças
profundas entre as línguas africanas e indo-europeias, bem como seus vestígios
são particularmente notados em nosso dialeto “caipira”.
Figura 6 - O caipira
Fonte: Costa, A. T. Retrato de negro. 1906. 1
fotografia. Disponível em https://commons.
wikimedia.org/w/index.php?curid=39660754.
Acesso em 26 mar. 2022.
179
UNIDADE 5
Para além dessas influências linguísticas, os africanos nos legaram ainda mui-
tos dos nossos hábitos alimentares e muitas vezes não sabemos disso. Tais hábi-
tos são elementares nas características culturais de um povo, pois o modo como
nos alimentamos reúne de elementos sociais, econômicos e culturais em nosso
redor. Pois, se nos alimentar é primordial à nossa sobrevivência, a escolha dos
alimentos que consumimos depende dos recursos de que dispomos, aos hábitos
que herdamos de nossos antepassados e vem sendo alterados de acordo com as
relações estabelecidas por nós em nosso meio.
No Brasil, nossos hábitos alimentares são fruto das relações entre os povos
que construíram esse país e por isso, não à toa neles estão muitas das interfe-
rências culturais africanas entre aqueles cuja descendência forma a maioria da
população por aqui.
Comer foi um ato construído pelo homem, com base em suas necessida-
des físicas e sensoriais, percebidas por meio do cheiro, sabor, textura e cor dos
alimentos. Aos poucos, pressupostos econômicos, sociais e culturais, como as
crenças religiosas por exemplo, foram determinando nossas escolhas alimentares
(CARDOSO et. al., 2007). O Brasil, enquanto um caldo de culturas, dada a sua
diversidade, reuniu alimentos nativos, conhecidos dos indígenas a outros trazidos
pelos portugueses e africanos. E precisamos observar que o nosso país começou
a ser formado via colonização em um momento onde as especiarias africanas e
orientais estavam sendo mais acessíveis ao Ocidente, ou seja, na Era das Grandes
Navegações que vinha ocorrendo desde o século XV e se estendeu até XVII.
Nesse contexto, alimentos que faziam parte da base alimentar do indígena,
como a mandioca e o milho, entre outros, foram acrescentados à consumidos
por nativos da África ou já conhecidos pelos africanos, por meio de seus contatos
comerciais com outros povos. Esse processo de influências africanas em nossa
alimentação foi facilitado pelo fato de muitas africanas que aqui eram escraviza-
das terem sido introduzidas nas casas grandes dos senhores de escravos no Brasil
enquanto cozinheiras.
Aos poucos, essas mulheres foram incorporando à comida brasileira produ-
tos como o azeite de dendê, cuja palmeira que produz seu fruto, fora trazida da
África para o Brasil, já nas primeiras décadas do século XVI. Ou ainda, outros
alimentos como: o coco-da-bahia, o quiabo – ingrediente indispensável na culi-
nária de algumas populações africanas- a cebola, o alho e a pimenta malagueta
(CARDOSO, et. al., 2007).
180
UNICESUMAR
“
O feijão era apreciado tanto por africanos como por portugueses,
o que o levou a ser um prato de destaque na mesa do brasileiro,
tornando-se prato nacional, consumido pelos ricos e muitas vezes
sendo o único alimento do pobre. O caruru é outro prato típico da
culinária africana, feito com inhame, que manteve o nome indígena,
mas com outros ingredientes como galinha, peixe, carne de boi ou
crustáceo. Outras receitas foram surgindo com o tempo, como a
rapadura e as comidas de milho e coco, como canjicas, munguzás,
angus e pamonhas. (CARDOSO, et. al., 2007, p. 51).
A banana, uma das frutas mais consumidas no Brasil, também foi introduzida
por aqui já no século XVI por influência africana:
“
cercando as casas dos povoados e as ocas das malocas indígenas,
e decorando a paisagem com o lento agitar de suas folhas. Nenhu-
ma fruta teve popularidade tão fulminante e decisiva, juntamente
com o amendoim. A banana foi a maior contribuição africana para
a alimentação do Brasil, em quantidade, distribuição e consumo.
(RADAELLI e RECINE, s/d, p. 17).
181
UNIDADE 5
Além dela, frutas como a manga, a jaca, a cana e o coco, também vieram do con-
tinente africano e fazem parte daquelas que os brasileiros tanto estão acostuma-
dos ao consumo in natura ou pratos em que elas compõem sua base. Ou outras
nativas foram incorporadas a elas no consumo diário e nos pratos desenvolvidos
por essas mulheres africanas, como por exemplo, o caju.
182
UNICESUMAR
183
UNIDADE 5
EXPLORANDO IDEIAS
O candomblé iorubá, ou jeje-nagô, como costuma ser designado, segundo Prandi (2001),
congregou no Brasil desde o início de sua construção religiosa, aspectos culturais originários
de diferentes cidades iorubanas, originando-se aqui a partir da reunião de diferentes ritos,
ou das chamadas “nações de candomblé”, predominando em cada nação tradições da cida-
des ou região africana das quais emprestou o nome, como por exemplo, os queto, ijexá, efã.
184
UNICESUMAR
185
UNIDADE 5
Ainda quanto às influências africanas em nossa cultura popular, temos sua forte
presença em nossos contos e lendas. Normalmente isso não é tão visível, já que
muitos deles receberam também heranças indígenas, como o caso do currupira
e da caipora e até mesmo o saci pererê. Porém, desde a África, as populações que
desse continente para cá foram trazidas, detinham muitas histórias tradicionais
centradas nas figuras de animais - como por exemplo a tartaruga e o macaco - e
cujas habilidades que suas espécies possuem em meio a natureza, eram vistas
nesses casos enquanto “magias” ou “poderes” de proteção e para a ação sobre o
meio, tiveram essas crenças continuadas nas tradições que essas pessoas desen-
volveram por aqui. Esses africanos levaram as suas tradições totêmicas por onde
passaram, influenciando ainda as indumentárias dos festejos delas provenientes,
alguns símbolos culturais com os quais convivemos, ou ainda amuletos protetores
que se referem a divindades animais e que fazem parte das crenças comuns entre
a população brasileira.
Exemplos nesse sentido são encontrados nos desfiles de escolas de samba
durante o Carnaval.
Descrição da Imagem: Em meio ao desfile no autódromo do Rio de Janeiro, a imagem é uma fotografia
do carro abre alas da Portela, com sua águia azul, rodeada pelas arquibancadas lotadas de pessoas
assistindo ao desfile.
186
UNICESUMAR
“
o quanto a maneira de se mover e de se adornar mostra como a pes-
soa é ou como ela deseja ser. Assim, ao se debruçar sobre a presença
das heranças africanas no Brasil, não se pode deixar de reconhecer
a forte herança das manifestações corporais em nossos ancestrais.
Essas manifestações se expressam na corporeidade em movimento,
traduzindo -se nas danças de matriz africana, na ginga, no rebolado,
na estética afro -brasileira, que ficam evidentes no modo de vestir e
de enfeitar o corpo, desde o tempo da escravidão até a recuperação,
hoje em dia, de penteados e de padrões de tecidos africanos nas
cabeças e nos trajes daqueles que desejam eventualmente celebrar
esse pertencimento cultural hoje em dia. (LIMA, 2018, p. 173).
187
UNIDADE 5
nicas que herdamos de nossa matriz africana, mas que não têm sido observadas
e estão entre as mais esquecidas.
Segundo Lima (2018), quanto às contribuições africanas para além da música,
dança, vocabulário e nossa alimentação, que são muitas e em vários momentos
são tratadas com desprezo, como se fossem pouco importantes, há um desco-
nhecimento ainda maior do quanto pessoas provenientes da África contribuíram
por meio do desenvolvimento do conhecimento e de técnicas para a produção
material, para além da força braçal por si só, mas nos mais variados trabalhos
que realizaram Brasil afora.
Contudo, os estudos hoje trazem muitos saberes e tecnologias que foram inseri-
das aqui por populações trazidas da África. Além de seus conhecimentos na agri-
cultura, que os fizeram ser utilizados no início da colonização na produção de cana
e nos engenhos para o fabrico de açúcar, são de origem africana técnicas importantes
utilizadas e desenvolvidas no Brasil seja na produção cerâmica ou na metalurgia:
“
Esses africanos pertenciam a grupos que tinham conhecimentos
técnicos avançados, pois faziam parte de uma cultura de especia-
listas. Assinala -se a existência de alguns grupos que tinham origem
na Costa da Mina, por esse nome conhecida, por ser por onde se
escoava o ouro proveniente do interior do continente. Os habitantes
da Costa da Mina no começo do tráfico atlântico chegaram a com-
prar, com ouro, cativos trazidos pelos portugueses de outras partes
do continente. No Brasil, a atividade de busca de jazidas de ouro
sempre esteve presente, desde que chegaram os portugueses, mas
foi a partir do final do século XVII que as buscas se intensificaram.
Na última década do século, as primeiras jazidas foram encontradas
em uma área que, por essa razão, passou a ser chamada de região
das Minas Gerais. Para lá, muitos africanos foram levados como
cativos para trabalhar na mineração, atividade que se tornou fun-
damental para o império português e para o Brasil. Havia africanos
que conheciam bem os ofícios ligados a esse campo de trabalho. No
seio da população da região das minas do Brasil existia uma anti-
ga crença, principalmente entre os mineradores durante os séculos
XVIII e XIX, de que todo minerador deveria ter uma negra de nação
mina como amante para que tivesse sucesso em suas atividades de
188
UNICESUMAR
“
Por meio de estudos recentes da arqueometalurgia, pode -se consta-
tar a sofisticação dessa tecnologia de fundidores do grande espaço
ocupado por povos bantos na região ao sul do Saara. Grupos africa-
nos apresentavam uma relação especial com o metal, especialmente
o ferro. Esse valor aparece também no universo religioso trazido
para o Brasil por grupos da África Ocidental, não bantos. Um dos
orixás mais populares do Candomblé é Ogum, que além de guer-
reiro é ferreiro. (LIMA, 2018, p. 177).
Esses conhecimentos fizeram com que esses grupos fossem “preferidos” quando
da escravidão, para servirem enquanto escravizados em tais tarefas:
“
No Brasil, muitos desses especialistas eram comprados e escravi-
zados para fabricar e abastecer suas atividades de fabrico de ferra-
mentas, porque havia uma necessidade constante desses utensílios
de uso múltiplo. Instrumentos como machados, pás e foices eram
fabricados por africanos com sua própria tecnologia trazida para o
Brasil. (LIMA, 2018, p. 177).
189
UNIDADE 5
“
Está relacionada diretamente com essa tecnologia e com a tecnolo-
gia do cadinho, recipiente de argila refratária utilizado em operações
químicas a temperaturas elevadas, também trazido por africanos e
africanas. Há uma série de escritos de viajantes do século XIX, como
o do geólogo inglês John Mayer, no Brasil em 1807, que sinaliza: “Al-
guns dos grãos do ouro são tão pequenos que flutuam na superfície,
podendo ser arrastados nas repetitivas mudanças da água que se
fazem. Para prevenir esse inconveniente, os negros esmagam algu-
mas ervas em uma pedra e misturam com um pouco do seu suco
a água de suas gamelas. Não afirmarei que esse líquido contribua
realmente para precipitar o ouro, mas é certo que é empregado com
grande confiança e resultado”. (LIMA, 2018, p. 177-178).
Com isso, trouxeram tais técnicas para a nossa arte, que abrangeu a prática de
produzir objetos de ferro, cuja fina fabricação seus ancestrais já dominavam há
séculos, assim como também trouxeram técnicas arquitetônicas, como o exem-
plo do mocambo - “estruturas para erguer casas” (GOMES, 2015, p. 11) - que se
tornou sinônimo de pequenas aldeias ou até mesmo parte de comunidades qui-
lombolas, permanecem vivas do “nordeste do Brasil, em alguns isolados rurais”
em outras regiões desde os tempos coloniais (MUNANGA, 2018, p. 459).
Figura 13 - Mocambos na comunidade quilombola de Presidente Kennedy - ES
Descrição da Imagem: A imagem é uma foto panorâmica da comunidade quilombola de Presidente Ken-
nedy no Espírito Santo, cujos mocambos, ou cabanas das aldeias que formam a comunidade aparecem
ao fundo, em meio a uma área rural.
190
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
191
UNIDADE 5
Esse trajeto final que eu e você realizamos na última etapa de nossos estudos
a respeito da História da África e de populações africanas, teve por objetivo que
eu e você resgatássemos relações profundas existentes entre a África e o Brasil,
para que observássemos e ressaltássemos o quanto elas são grandiosas embora,
há muito, venham sendo negligenciadas. Porque embora a Lei 10.639 e 11.644
tenham tornado obrigatório na Educação Básica, no princípio do século XXI, o
ensino da história e da cultura negra no Brasil, ainda não foram suficientes para
vencer toda uma estrutura de preconceitos em relação às populações afrodes-
cendentes e o seu papel na construção desse país.
Ainda que o Brasil já tenha abolido a escravidão há mais de um século, uma
prática que foi direcionada de forma crescente ao longo de sua existência aos
africanos comercializados como mercadorias sob o jugo dessa escravidão, os
resquícios dela o modo como sua abolição se fez acabaram por fazer e manter
a sociedade brasileira voltada para um olhar eurocêntrico, que exalta aspectos
culturais europeus/brancos e impede que olhemos para povos da África/negros
enquanto protagonistas em nossa formação e capazes de desenvolver conheci-
mento, desenvolvimento e riqueza.
A diplomacia tem levado nas últimas décadas a um retorno do estabelecimen-
to de relações entre o Brasil e recentes nações africanas do pós-independências
ocorridos em meados do século XX. E ainda que tais relações vão hoje além
daquelas iniciadas por meio de um comércio Atlântico de escravizados, elas não
estão ilesas das marcas deles provenientes, como por exemplo o preconceito ra-
cial, embora por aqui sejamos o país mais negro fora da África.
Portanto, enquanto professores, historiadores e brasileiros, devemos conhe-
cer todas essas relações e contribuir para que essas discussões contribuam para
vencer esses obstáculos, através do resgate daquela que é ou faz parte da nossa
própria trajetória histórica. E embora o espaço que tivemos aqui não tenha sido
suficiente para discutir tudo o que é necessário, eu e você pudemos dar alguns
dos primeiros passos nessa direção. Com base no conhecimento que adquirimos,
por meio desta disciplina, que tal elaborarmos um dicionário com palavras que
são derivadas dos idiomas africanos? Vamos lá!
192
O conhecimento das nossas heranças culturais é fundamental para a nossa edu-
cação cidadã, pois “não se educa um cidadão sem colocar-lhe uma consciência
crítica das raízes culturais que contribuíram na formação de sua nacionalidade".
Fonte: MUNANGA, Kabengele. Passado e Presente nas Relações África-Brasil.
In: JORGE, Nedilson (Organizador). História da África e Relações com o Brasil.
Brasília: FUNAG, Coleção Eventos, 2018, p. 461.
Sendo assim, elabore com base nos conhecimentos obtidos em nossa análise
sobre as heranças culturais africanas na constituição do Brasil, um mapa mental
em que estas sejam apresentadas.
UNIDADE 1
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197
UNIDADE 1
2. O(A) aluno(a) deve argumentar: que o faraó era uma autoridade política porque era o líder
da sociedade, resultado da unificação dos grupos e reinos diferentes, e ao qual foi conce-
dido poder para dirigir e direcionar o desenvolvimento da sociedade; que o faraó era uma
autoridade religiosa porque, dentro da religião egípcia, ele era filho de uma figura divina
e sua decisões tinham poder sobre decisões religiosas; e que o faraó era uma autoridade
judicial pois ele tinha poder de decisão sobre questões de lei, divisões de bens, estabele-
cimento de fronteiras, e decisões como um juiz.
3. a) O(A) aluno(a) deverá observar que as candaces, como assim o foram chamadas em escri-
tos gregos durante a Antiguidade, nada mais foram que rainhas ou governantes de Kush.
b) É importante que o(a) aluno(a) observe a sua representação enquanto mulheres fortes
e verdadeiras chefes de Estado, já que não eram meras mães ou esposas de governantes
em Kush, mas eram elas as lideranças políticas em muitos momentos.
c) E por último, quanto ao último questionamento, é preciso que seja observado que essas
mulheres exerceram papéis que em uma sociedade patriarcal, nos moldes Ocidentais ao
qual estamos normalmente acostumados, não se fazia em Kush, bem como em outros
reinos africanos.
UNIDADE 2
1. O aluno deve desenvolver um Mapa organizado em que sistematize por meio de conceitos
chave, claros e objetivos, que definam as origens, características sócio culturais, políticas e
econômicas, das populações mandinga, bantas e iorubás, bem como dos reinos de Axum,
Gana, Mali, Oyó, Congo e Monomotapa, que discutimos ao longo da Unidade.
198
UNIDADE 3
1. Você deve observar as condições em que esse tráfico fazia, em proporções muito maiores
do que práticas de escravidão anteriores, até mesmo na África, incluindo de violência. E
por isso, os efeitos foram atos desumanos como os praticados por Kimber. Para tanto,
ele poderá dispor de outros dados apresentados ao longo da primeira etapa da unidade.
2. Você precisa apresentar os dados dispostos na segunda parte desta unidade, onde foram
analisados vários exemplos de conflitos armados ou revoltas, algumas que duraram mais de
uma década, buscando conter o avanço imperialista europeu, como uma reação contínua
e presente em todas as partes da África.
3. Nessa questão é importante que aponte aspectos na caricatura de Rhodes em que de-
monstra o intuito de dominar o continente africano por parte das potências imperialistas
europeia. É fundamental, ainda, discorrer a respeito dos efeitos que em geral isso causou,
como: fronteiras e modelo socioeconômico impostos, incentivo a conflitos antigos e a
incitação de novos, além da dependência econômica enquanto países que mesmo livres.
UNIDADE 4
1. O aluno deverá expor de forma clara e objetiva em seu mapa, o desenvolvimento do imagi-
nário estrangeiro – árabe e ocidental – a respeito da África, com base em uma difícil relação
de alteridade entre esses e os “outros” africanos, ao utilizarem-se como medida de análise as
suas características enquanto superiores e a das populações africanas enquanto inferiores
por serem diferentes delas. Já no que se referem as três abordagens da História da África a
partir da construção da História enquanto uma ciência, deve ser exposto que: a abordagem
da inferioridade africana foi construída pelos imperialistas europeus em sua ação coloniza-
dora sobre a África, utilizando-se dos preconceitos já existentes e presentes no imaginário
que ajudaram a construir em torno do continente africano, para justificar suas ações; já a
abordagem da superioridade africana foi construída quando da libertação dos territórios eu-
ropeus dos seus colonizadores e, assim foi iniciada por estudiosos africanos dos países recém
independentes que buscavam evidenciar as capacidades que muitas vezes foram negadas
ou ocultadas por esses colonizadores, mas que acabaram em alguns casos cometendo erros
de abordagem nesse intuito; e por último as abordagens atuais que revisaram as anteriores
no sentido de superar seus obstáculos e fazer uma História em que verdadeiramente se
respeite as particularidades e as dinâmicas locais da África e de seus habitantes, algo alcan-
çado a partir de estudiosos africanos que não só nasceram no continente mas estudaram
no mesmo, em um contexto em que o colonialismo já havia sido vencido.
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UNIDADE 5
200