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Patrimônios Despercebidos No Centro Leste de Florianópolis:: Identificação Como Memória Visível

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Patrimônios despercebidos no

Centro Leste de Florianópolis:


identificação como memória visível
Patrimônios despercebidos no
centro leste de Florianópolis:
identificação como memória visível

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


CENTRO TECNOLÓGICO
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - 2022.2

DEDICATÓRIA
Acadêmico: Eduardo Petry
Orientador: Professor Paolo Colosso, Dr.
Dedico este trabalho àqueles que me antecederam, aos que construíram as
cidades e aos que nelas habitam, mas também a todos e todas que trabalharam
incansavelmente na busca pela resolução dos problemas e no planejamento do espaço
urbano dessas mesmas cidades. Em especial, aos defensores do patrimônio cultural, que
se dedicam de corpo e alma pela causa da valorização da memória comum.
Florianópolis, Outubro 2022
EPÍGRAFE
“Seja como for, o caminho mais seguro para criar, no campo do
patrimônio cultural, condições mais favoráveis para a inclusão
social é, sem qualquer dúvida, o reconhecimento da primazia
do cotidiano e do universo do trabalho nas políticas de
identificação, proteção e valorização [..]”.
Ulpiano T. Bezerra de Meneses, 2006
RESUMO SUMÁRIO
Atualmente a região de Florianópolis conhecida como centro histórico leste, passa CONSIDERAÇÕES INICIAIS ………………………………………………….…………………..………………05
por mais um processo de transição, onde importantes histórias não têm sido Motivação ………………………………………………………………………………………………..………………05
reconhecidas e valorizadas, em detrimento de outras narrativas, que aliadas a outros Questão …………………………………………………………………………………………..……….….……………05
processos em curso, tendem a potencializar o apagamento dos valores culturais que
Objetivo Geral …………………………………………………………………………………………..……...……05
permanecem resistindo nessa parte da cidade e que são essenciais para a vitalidade da
mesma frente às transformações a que está sujeita. Num contexto de ausência de Objetivos Específicos……………………………………………….…………………………..……………05
políticas de educação patrimonial efetivas, de limitações das políticas públicas de Introdução…………………………………………………………………………………..……………..……………06
proteção e crise econômica e social, a mobilização de atores sociais desponta como uma
alternativa a esse processo, em especial aqueles que se relacionam diretamente com os PATRIMÔNIO CULTURAL………………………………………………………………………...…………….……07
espaços, como os frequentadores do centro leste. No entanto, há um hiato entre a Evolução do Conceito de Patrimônio Cultural……………..….…………………07
existência dos valores culturais e a percepção destes, que é potencializado pela pouca Patrimônio cultural em Florianópolis …………………………….…..….…………………11
visibilidade das memórias coletivas, em especial pela falta de identificação física dos
Com Meneses: necessidade de uma agenda comum…………………14
lugares portadores de valores culturais intangíveis. Nesse sentido, promover a
visibilidade e valorização dos patrimônios despercebidos dessa região, com suas
histórias, significados e valores, pode fazer frente a esse processo de apagamento da CENTRO LESTE ………………………………………….…………………………………………..…………….……………16
identidade dessa importante parte da cidade. Um desses patrimônios histórico-culturais Breve Histórico …………………………….…………….………………………………..…………………………17
com pouca visibilidade e que corre risco de apagamento é o Instituto Arco-Íris de Processo em Curso………………….…………….………………………………..…….……………………23
Direitos Humanos, que paradoxalmente é um dos lugares mais simbólicos da essência Diferentes Narrativas…………….…………….……..…………………………..…….……………………25
dessa parte da cidade, e ao mesmo tempo o mais sensível. Outras Visões…………….…………………..………….………………………………..…….……………………28
Um Centro abandonado? ……..………….………………………………..……….…………………29
Palavras-chave: Patrimônio Cultural. Florianópolis. Educação Patrimonial. Visibilidade. Diagnóstico Comum ……..………….…………………………………………..………..…………………31
Delimitação do Recorte …..……….…………………………………………..…………………………32
Patrimônios Oficiais do Recorte ……………………………………..……….…………………35

IDENTIFICAÇÃO COMO FERRAMENTA ………………………………...……….…………………36


ABSTRACT Mapeamento de iniciativas locais ………………………………...………..…………………36
Síntese das iniciativas locais …………………………………………....…….….…………………41
Referências que se aproximam ……………………………………....……….…………………41
Currently the region of Florianópolis known as the historical center east is going
through another transition process, where important histories have not been recognized Considerações da identificação como ferramenta………………….…….44
and valued, to the detriment of other narratives, which, together with other ongoing
processes, tend to potentiate the erasing of the cultural values that remain resisting in PROPOSIÇÃO ………………………………………………………………………………………………………….………..45
this part of the city and that are essential for its vitality in face of the transformations to Patrimônios despercebidos do Centro Leste……………………..…….………..45
which it is subjected. In a context of absence of effective heritage education policies, Instituto Arco-Íris de Direitos Humanos e Casa de Arte e
limitations of public policies of protection and economic and social crisis, the Exposição Metálica……………………………………………………………………………..……….……..47
mobilization of social actors emerges as an alternative to this process, especially those
Fábrica de Balas e Padaria moritz……………………….…………………………….………52
who relate directly with the spaces, as the East center frequenters. However, there is a
gap between the existence of cultural values and their perception, which is enhanced by 5º Distrito Naval…………………………………………………………………………..……..……….………..54
the low visibility of collective memories, especially by the lack of physical identification of Casa da Família Soares…………………………………………………………..….…..……….………..57
places with intangible cultural values. In this sense, promoting the visibility and
valorization of the unnoticed heritage of this region, with its stories, meanings and CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………..…………….…..……….………..58
values, can confront this process of erasing the identity of this important part of the city. Conclusão…………………………………………….……………………………..…………….…..……….………..58
One of these historical and cultural heritages with little visibility and at risk of being Agradecimentos……………………………………………………..…………….…..………….….………….60
erased is the Rainbow Institute of Human Rights, which paradoxically is one of the most
symbolic places of the essence of this part of the city, and at the same time the most
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ………………………………………………………..…………………61
sensitive.
LISTA DE FIGURAS………………………………………………………………………………………….………………63
APÊNDICES ……………………………………………………………………………………………………….….……………66
Keywords: Cultural Heritage. Florianópolis. Heritage Education. Visibility. ANEXOS ……………………………………………………………………………………………………………..…………………69
1.CONSIDERAÇÕES INICIAIS
mesma época, 2013, em uma das incursões pelas ruas centrais, descobri o Museu da
Escola Catarinense, uma construção monumental, palaciana, porém escondida. Na época
o MESC ainda não havia passado pelo processo de reforma, e estava bastante
deteriorado, com salas interditadas, vazamentos, janelas quebradas, goteiras, paredes
descascadas.
A concepção do tema do presente trabalho nasce da percepção de um
Como futuro estudante de arquitetura, quando soube que haveria uma
usuário-pesquisador, que aprendeu a ler a cidade pelas pistas deixadas por quem veio
intervenção, me apresentei como voluntário e trabalhei no processo de preparação da
antes, e que acredita que elas podem ser a chave para empoderar/despertar novos
estrutura do prédio do museu para receber o evento Mostra Casa Nova [1], que ao final
agentes políticos e transformadores, que venham a somar na causa do patrimônio
do evento devolveria o prédio totalmente funcional para o uso museal e cultural. Foi o
cultural. Como bem definiu Aloísio Magalhães, “só se preserva aquilo que se ama, só se
início de um lindo relacionamento, e já se vão dez anos que conheci o MESC e por meio
ama aquilo que se conhece”. Imbuído nesse estado de espírito, me junto fervorosamente
dele vivenciei o Centro Leste.
ao coro dos que acreditam que uma quebra de paradigma passa pela acessibilidade das
informações e do conhecimento compartilhado.
1.2: Questão Problema
1.1: Motivação Existem patrimônios culturais que não são percebidos no centro histórico leste e
que se ligam à memória coletiva? A visibilidade de tais lugares pode ser trabalhada com
Ao longo da minha formação de estudante-pesquisador, sempre fiquei inquieto educação patrimonial?
com a falta de ligação entre os materiais já produzidos e os objetos de estudo. Quantos
lugares passava em frente e ficava instigado a conhecer mais, porém não sabia onde
procurar e nem como procurar: Prédio rosa da rua tal, número tal? Locais que já haviam 1.3: Objetivo Geral
sido percebidos por quem veio antes, e que muitas vezes já haviam sido objeto de
reportagem, artigo, tese e até mesmo livro! Para minha sorte e curiosidade, muitos destes
Problematizar a pouca visibilidade dos patrimônios culturais que não são alvo das
locais fui descobrindo anos depois, juntando pistas ou esbarrando nas informações meio
políticas públicas de proteção e valorização, pensando em alternativas de educação
que por acaso. Quanto tempo poderia ter otimizado se tivesse acessado esses materiais
patrimonial por meio do acesso à informação, no contexto do centro histórico leste de
nos momentos que mais os precisava… Tenho certeza que é uma dor sentida por muitos
Florianópolis.
outros. Por isso me preocupei em dedicar esforços à parte das referências visuais do
trabalho, em especial as não tão conhecidas, pois esse descolamento entre objeto e
representação é uma das fronteiras que acredito serem mais críticas, para uma vez
vencidas, angariar mais defensores do patrimônio. Igualmente foi objeto de cuidado, a 1.4: Objetivos Específicos
organização e sistematização de diferentes informações sobre a área que estão dispersas
nos mais variados locais e mídias, de jornais e livros, passando por repositórios online até Compreender a origem das políticas de preservação cultural no Brasil, e como o
comentários de redes sociais, e por que não, até em paredes (figura 01). conceito de patrimônio cultural evoluiu com o tempo. Interpretar as discussões atuais do
campo do patrimônio cultural.
A vivência com o Centro Leste Identificar as principais políticas de preservação cultural em Florianópolis, e
começou como usuário indireto, investigar sua espacialização no centro histórico leste da cidade.
quando frequentava as aulas
noturnas do cursinho preparatório na Apresentar um breve resgate da história da região e justificar o recorte territorial
região. Na época não tinha olhos para considerado no desenvolvimento do trabalho como Centro Leste. Problematizar as visões
perceber aquela parte da cidade, mal sobre o potencial do Centro Leste, e questionar as principais narrativas de abandono e
me relacionava com ela. Passada a vocação de usos da área.
fase preparatória e conquistada a
Listar e analisar projetos já existentes de valorização do patrimônio cultural do
vaga, voltei a frequentar o centro, e
centro de Florianopolis, pensando na identificação visual como abordagem, considerando
sem a pressão do estudo, comecei a
meios/recursos analógicos e digitais. Localizar e avaliar projetos de referência que se
perceber a cidade. Inspirado pela
aproximam da abordagem pretendida, realizados em outras cidades brasileiras.
nova fase de vida, decidi unir os
hobbies de fotografia, escrita e Elaborar uma relação de lugares de memória da área estudada, com potencial de
pesquisa em um blog de arquitetura, serem trabalhados como verbetes de patrimônio despercebido, visando sua visibilidade.
e uma das primeiras postagens foi __________
justamente sobre a rua Tiradentes. 1: não confundir com a mostra Casa Cor, são eventos distintos. A partir de 2014 a mostra Casa Nova passou
Por aquela . a se chamar Casa&Cia e a última versão do evento ocorreu em 2015. A reforma do prédio foi um legado do
evento, que na edição de 2012 já havia recuperado o antigo Grupo Escolar Silveira de Souza.
Figura 01 - Acervo Pessoal, registro ago. 2022.
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1.5: Introdução Por fim, pretende-se apontar possíveis locais portadores de valores culturais no
recorte do Centro Leste e que possuem pouca visibilidade (figura 02) apesar de serem
culturalmente relevantes, e que poderiam se beneficiar da utilização de ferramentas de
educação patrimonial como alternativa à preservação, por meio de maior visibilidade.
Atualmente está em curso um processo bastante singular de disputa pelo Centro
Leste. São diferentes discursos que estão disputando não apenas as narrativas e as
memórias, como também os rumos do futuro da região. Trata-se de um pedaço da cidade
cuja tessitura é muito sensível, de uma urbanidade única, resultado de um longo
processo de acomodação histórica, marcado por diferentes fases que vão desde o
período colonial até o momento presente. É um local onde o patrimônio cultural material
e imaterial coexistem indissociáveis, onde as questões de cotidiano e trabalho estão
diretamente imbricadas com cultura enquanto fato social, como defende Meneses (2006).

Neste trabalho, parte-se do pressuposto de que o patrimônio cultural se dá


simultaneamente nas duas vertentes - material e imaterial, e portanto os processos em
curso na região, como as projetos de revitalização, podem afetar sensivelmente tanto os
valores intangíveis desse patrimônio, que não é contemplado por políticas públicas de
preservação, como os aspectos físicos, que são parcialmente protegidos. Assim, ao longo
do estudo, serão analisados os processos em curso, partindo da compreensão das
políticas de preservação no Brasil, da evolução dos conceitos da área patrimonial,
passando pelas políticas de preservação cultural vigentes em Florianópolis, culminando
na reflexão sobre a necessidade de uma agenda comum do campo do patrimônio
cultural, cujo debate é mediado por Meneses (2006; 2012) .

Na sequência se busca entender a formação do Centro Leste e sua consolidação ao


longo do tempo, bem como problematizar a noção de “centro leste”, visto que percebe-se
que há diferentes recortes relativos a sua delimitação. Nesta etapa buscou-se em
Weissheimer (2021) bases para dialogar com as questões relativas à preservação e à
transformação no recorte, enquanto coube a Veiga (2008) subsidiar o histórico. A
delimitação do perímetro se deu levando em conta tanto o processo de formação
histórica como os distintos recortes sobre essa parte da cidade.

Uma vez definido sobre qual recorte territorial do Centro Leste o trabalho irá se
apoiar, são analisados os bens culturais já reconhecidos legalmente no recorte,
considerando as legislações vigentes nas três esferas de poder. Os trabalhos de Adams
(2001) e Dias (2005) constituem as bases de compreensão dessa etapa. Inicia-se também
uma reflexão crítica sobre as disputas em curso, em especial pelas narrativas e
permanências, através de um mapeamento amostral de trabalhos acadêmicos propostos
para a região que apresentam diferentes leituras e propostas.

Dessa base comum é construída uma análise do processo em curso e dos riscos
percebidos em relação a permanência de outros patrimônios não reconhecidos e
protegidos via legislação, e que dependem do engajamento de atores sociais para serem
mantidos frentes aos diferentes projetos de cidade que são propostos para o setor leste.

Paralelamente ao reconhecimento das limitações das políticas públicas do campo


do patrimônio, e da compreensão da singularidade e fragilidade do centro histórico leste
frente a processos de transformação econômica e social, buscou-se verificar se existem
relações entre a identificação de patrimônios culturais e a educação patrimonial como
alternativas a esse processo de apagamento e invisibilidade. São analisados exemplos de
valorização de lugares portadores de memória através de ferramentas de educação
patrimonial, como mapas e placas, tanto no contexto local, como também em outros
contextos urbanos, que possuem similaridades com o de Florianópolis.
Figura 02 - Rua Victor Meirelles em 2000. Retirado de: PETRY, 2011 (lista figuras).

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2.PATRIMÔNIO CULTURAL 2.1: Evolução do conceito de patrimônio cultural

As iniciativas mais remotas de ações do Estado Brasileiro relacionadas ao


reconhecimento e preservação cultural remontam ainda ao período colonial, com a
criação do Museu Real em 1818. No entanto, a concepção dominante na época se
Historicamente a questão do patrimônio cultural foi erroneamente tratada como restringia ao que mais tarde veio a ser caracterizado como bens móveis, isto é, objetos
algo à parte das demais questões fundamentais da sociedade brasileira, sendo percebida que podem ser transportados, que não são fixos a um lugar específico, cuja mudança não
como um complemento da área da cultura, esta por sua vez subordinada à da educação. ocasione perda. Construções e outros artefatos fixos, denominados como bens imóveis,
Desse modo, a concepção do patrimônio cultural se desenvolveu isoladamente de outras não eram objeto de maiores pretensões, a não ser em certa medida alguns itens de
questões basilares, como o planejamento urbano, resultando em um cenário atual onde pequena escala, como monumentos, estátuas, bustos, etc. Os museus, por exemplo,
diferentes legislações entram em choque, quando na verdade deveriam ser afins. Para nada mais eram do que edifícios funcionais projetados para abrigar objetos antiquíssimos
Meneses (2006, p. 35), existe um conflito tácito entre a preservação e o ordenamento de elevado valor, como pinturas, esculturas, jóias, e principalmente, artefatos
urbano, que é essencial na compreensão do processo de crise do campo do patrimônio arqueológicos, em especial os de natureza exótica, como as múmias egípcias ou tesouros
ambiental urbano. retirados do continente Africano e Americano. As construções e edificações não eram
percebidas como objetos a serem preservados, quanto mais ambiências ou conjuntos
Como resultado dessa atitude de relegar um papel secundário às questões do
urbanos - antes de tudo, eram construções com funções específicas, independente da
patrimônio, e encará-lo separadamente de outras áreas estratégicas, atualmente o Brasil
antiguidade. Na verdade, a noção de patrimônio que vigorava estava atrelada aos
enfrenta um momento crítico no setor, caracterizado pelo enfraquecimento dos órgãos
monumentos do passado remoto, em especial às ruínas dos tempos imemoriais, como da
de preservação e outros complementares, como o IPHAN, IBAMA, FUNAI e demais
antiga Grécia, de Roma, ou as Pirâmides do Egito, cuja temporalidade estava séculos
instituições que historicamente acumularam grandes avanços, principalmente após o
atrás. A noção de patrimônio se desenvolve paralelamente à ciência da arqueologia e da
processo de redemocratização. Esta é apenas uma parte de um processo maior de
formação das identidades nacionais.
esvaziamento das instituições, de um projeto político em curso. Mas o foco do presente
estudo não é a questão política atual, embora seja indissociável da questão do Para compreender a evolução da idéia de patrimônio cultural no Brasil, é
patrimônio cultural, vide a recente insegurança política da pasta da cultura [2]. fundamental reconhecer a influência dos franceses em terras tupiniquins, que atravessa
o período colonial, imperial, primeira e segunda república, findando gradativamente após
Este trabalho parte de alguns pontos basilares de conhecimento comum: o Brasil é
o fim da II Guerra Mundial (PETER, 2007) e de maneira abrupta com a ascensão do Estado
um país continental, marcado por problemas estruturais, caracterizado por contrastes
Novo. Será deles que serão importadas as primeiras idéias de patrimônio cultural.
brutais em termos sociais e econômicos, por políticas públicas deficitárias, mas que
Enquanto no Brasil não existia nenhuma legislação voltada ao campo do patrimônio
também é constituído de uma diversidade única, detentor de um patrimônio cultural sem
cultural, além dos museus e coleções particulares, a Catedral de Notre Dame já figurava
fim, e que está ameaçado. Mas o principal, parte da ideia que enquanto o cenário macro
como monumento nacional da França desde 1862, isto paralelamente às obras de
não mudar, é fundamental que se opere no micro, ou seja, se as políticas públicas e
restauração empreendidas por Viollet-le-Duc, um dos grandes teóricos da restauração.
oficiais da área do patrimônio cultural não dão conta de garantir a proteção e promoção
Pode-se dizer que a arqueologia evoluiu de tal modo, que foi utilizada tanto como
do patrimônio brasileiro, cabe a sociedade exercer seu papel de agente político e atuar na
instrumento de restauração fazendo a ponte entre o estudo do passado e a construção
escala local.
do presente, como também instrumento de afirmação identitária, materializada nos
Nessa perspectiva, o maior desafio é como empoderar a sociedade a se perceber modismos estilísticos que marcaram a fase do ecletismo, com os neos -clássico, gótico,
como um agente político, e mais, como levá-la a reconhecer seu patrimônio cultural como barroco, românico, mourisco, bizantino, e até mesmo renascentista.
relevante sem depender da chancela do Estado, que muitas vezes vem a reboque e de
forma enviesada por interesses outros. Se na França buscava-
se o enaltecimento da iden-
Ao longo do trabalho a perspectiva da educação patrimonial por meio dos atores tidade nacional por meio da
locais será melhor desenvolvida através do estudo de um caso, o Instituto Arco-Íris e sua proteção e restauração de
relevância e simbolismo para o Centro Leste, porém é fundamental que anteriormente monumentos nacionais ex-
sejam feitas algumas considerações sobre o quadro atual do patrimônio cultural no cepcionais, como as cate-
Brasil, principalmente em relação às políticas públicas, sua evolução, suas deficiências e drais góticas, no Brasil do
outras questões chave para se avançar na busca por soluções. séc. XIX (figura 03) se
enfrentavam questões que
colocavam em cheque a
__________ própria unidade nacional,
2: Em 2016 o Ministério da Cultura foi extinto após 30 anos de êxitos acumulados, sendo rapidamente
recriado como uma secretaria subordinada ao Ministério da Educação. Ao final do governo Temer, já havia como as revoltas internas, a
sido resgatado o status de ministério. No governo de Jair Bolsonaro foi novamente extinto o ministério, abolição da escravidão, a
sendo rebaixado à secretaria especial dentro do Ministério da Cidadania, e posteriormente alocado no iminência da República.
Ministério do Turismo, onde permanece.
Figura 03 - Rua Victor Meirelles em 1851. Retirado de:
DAMIÃO, 2016.(lista figuras).
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Considerando a chegada dos portugueses como início do processo de formação, o Se os heróis do imaginário paulista foram ignorados, no estado natal do presidente, a
Brasil ainda era um país muito jovem, em pleno processo de acomodação e formação casa de Bento Gonçalves esteve na primeira leva de tombamentos. Ainda assim, em São
enquanto nação. Paulo foi reconhecida a coleção do Museu Paulista, dedicada à memória da
independência. Em Santa Catarina por sua vez, de todo vasto legado cultural que
Passada a fase instável, ainda nos primeiros anos da república recém proclamada, remonta ao século XVII, foram contempladas em 1938 apenas as três principais
enquanto a Europa estava mergulhada na I Guerra, o Brasil experimentava crescimento fortalezas, Santana, Anhatomirim e Ponta Grossa, nos livros Histórico e Belas Artes,
econômico e estabilidade civil, de modo que intelectuais nacionais se voltam para a simultaneamente.
questão da necessidade de se cristalizar uma identidade nacional, tal qual já ocorria em
outras nações, cabendo ao passado colonial e imperial fornecer os elementos materiais Tal qual as demais nações, o Brasil iria recorrer às suas ruínas mais longínquas no
dessa narrativa. tempo, fazendo os recortes convenientes, para galgar seu lugar na história das grandes
nações, selecionando os testemunhas de sua grandeza passada. Para a mentalidade da
Um marco desse processo de auto-descoberta, afirmação histórica e cultural, foi a época, o patrimônio só poderia ser do tipo material, não cabendo espaço para outros
Carta de Atenas, elaborada em 1931 como um esforço coletivo entre diferentes países tipos, como os assentamentos indígenas ou as artes rupestres, de modo que todo o
visando a “conscientização dos Estados modernos para a preservação de suas edificações passado milenar dos indígenas e povos pré-históricos foi ignorado, uma vez que não
e monumentos históricos” (OLIVEIRA, 2007, p. 25), visto que cada estado-nação lidava deixaram cidades de pedra e cal, tal qual os povos da América Central[4]. Assim, o
com a questão de uma forma autônoma e independente, havendo diferentes passado mais remoto passível de rastreio, não era assim tão antigo, e estava de certo
entendimentos. modo plenamente vivo e ativo, diferente das ruínas medievais e romanas, por exemplo.
A criação de um órgão nacional voltado às questões do patrimônio e cultura se deu Engenhos seculares de cana de açúcar, fazendas de café, fortalezas, igrejas e cidades
em meio a um momento de ebulição cultural, política e econômica. Conhecido como inteiras, mesmo estagnadas, ainda conservavam sua lógica constitutiva. Como se
Decreto-Lei nº 25, de 1937, o ato que criou Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico verificou posteriormente, a grande perda de patrimônio não se deu pela ausência de
Nacional - SEPHAN [3], foi promulgado apenas passados vinte dias do golpe que foi a tombamentos, mas pela ausência de outras ferramentas de ordenamento urbano e
constituição do Estado Novo, período no qual Getúlio Vargas exerceu poder ditatorial. A principalmente pela visão fragmentada de cultura como um acessório, e não como um
título de comparação, enquanto o SEPHAN corresponde ao Decreto-Lei nº 25, a produto social.
Consolidação das Leis do Trabalho - CLT foi promulgada como Decreto-Lei nº 5.452, Cabe destacar que já nos primeiros atos de proteção do recém criado SEPHAN, os
apenas em 1945, ou seja, a política de patrimônio foi um dos primeiros feitos do seu técnicos tinham a consciência da amplitude do acervo passível de proteção, da mesma
governo. Entre as principais características do seu regime estiveram a centralização do forma que tinham conhecimento dos desafios e dificuldades políticas e administrativas
poder, o nacionalismo e autoritarismo, que operou inclusive pela cultura. que a empreitada apresentava, de modo que direcionaram suas primeiras ações para os
Na construção dessa agenda política, coube ao passado colonial (figura 04) exercer bens que em sua interpretação se enquadram tanto nos critérios de elevado valor
o papel de lugar comum, com valores compartilhados por todo território, na tentativa de histórico e arquitetônico, bem como vulneráveis a descaracterizações e demolições. No
apaziguar as disputas nacionais e internacionais do início do séc. XX. Os primeiros mesmo ano, 1938, em que foram tombadas cidades históricas mineiras, igrejas barrocas,
tombamentos ocorreram no ano seguinte, mas com pesos e medidas diferentes. as ruínas das missões e os sobrados baianos, a corrente arquitetônica ainda vigente era o
Enquanto praticamente todas as fortalezas e principais igrejas coloniais foram ecletismo, ao melhor estilo "afrancesado", onde coexistem um processo de abandono e
reconhecidas, o patrimônio bandeirante de São Paulo ficou de fora. Pensar na formação demolições das construções anteriores a república, e de remodelação e aformoseamento
das cidades, agora republicanas[5]. Apesar das primeiras manifestações da arquitetura
do país no período colonial e deixar de fora o legado paulista não deixa de ser um recado __________
do tom político do SEPHAN, pois faziam menos de seis anos que havia ocorrido a Revolta 4: Atualmente já se sabe que existem vestígios de formações urbanas em plena selva amazônica, com
Constitucionalista,
__________ na qual o estado de São Paulo se opôs frontalmente a Vargas. indícios de grandes estruturas, como avenidas, canais e elevações, porém de escala e natureza distinta das
ruínas Astecas, Maias e Inca, cujos vestígios materiais se mantiveram mais visíveis.
3: O nome original foi utilizado de 1937-1946. Em seguida é conhecido como DPHAN - Diretoria do Patrimônio
5: Nos primeiros anos da República, os ideais do Positivismo de Comte foram materializados tanto na
Histórico e Artístico Nacional, até 1970. A sigla IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
arquitetura eclética como no urbanismo higienista, remodelando as feições coloniais das cidades. Em
aparece pela primeira vez em 1970, sendo empregada inicialmente por nove anos. De 1979 a 1990 ficou
Florianópolis esse processo se materializa nas obras de canalização do Rio da Bulha e na construção da
conhecido pela sigla SPHAN/Pró-Memória, e nos quatro anos seguintes, apenas como IBPC - Instituto
Escola Normal.
Brasileiro do Patrimônio Cultural. Desde 1994 segue com o nome atual.

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Figura 03 - Vista da Cidade de Desterro em 1867. Disponível em: MASP(lista figuras).
moderna já se fazerem presentes, como o excepcional Edifício do MES[6] no Rio de De certa forma a legislação de 1937 foi bastante ousada para sua época, produziu
Janeiro, o ecletismo e suas variações ainda estavam em alta, e constituíam o repertório da resultados satisfatórios, se mantendo atual pelos anos seguintes, apesar de reproduzir
arquitetura popular - no sentido de não acadêmica - amplamente difundido, uma interpretação bastante limitada acerca do patrimônio, como pode ser percebido
principalmente nas cidades mais afastadas das grandes metrópoles, onde as novidades pelo critério de inscrições em livros-categorias, ou seja, caixinhas. Cabe ressaltar, que o
demoravam a chegar. Desse modo, frente ao desafio monumental de selecionar e SEPHAN, enquanto órgão da estrutura federal, concentrava sozinho a função de proceder
proteger os exemplares constituintes da identidade nacional, todos os demais com os reconhecimentos e tombamentos, em uma época onde as distâncias territoriais e
exemplares foram preteridos, especialmente os de tendência eclética e feitio limitações práticas ditavam o ritmo do trabalho, de modo que essa primeira fase de
contemporâneo. atuação do órgão ficou conhecida como a fase heróica, dada a dimensão do desafio e as
circunstâncias. Para se ter idéia, os processos eram totalmente analógicos, não havia
As primeiras legislações possuíam caráter centralizador, eram tomadas na Capital comunicação instantânea nem arquivos digitais; fotografias levavam dias para serem
Federal, e buscavam responder às demandas de então: bens isolados, distinguíveis por reveladas.
valores e atributos de excepcionalidade, e que corriam risco de desaparecer pela
substituição e demolição frente a renovação arquitetônica, urbanística e estilística. É o Santa Catarina ilustra bem a postura preservacionista da época em que havia
caso por exemplo do tombamento da Casa Natal de Victor Meirelles (figura 05), que seria apenas um único órgão público tratando do tema. Diferente de Minas Gerais e da Bahia,
demolida em meados da década de 1940 para alargamento da rua, que ironicamente leva que experimentaram ciclos de crescimento e desenvolvimento ainda no séc. XVIII e
o mesmo nome do artista. A compra e tombamento do imóvel se deram com participação possuíam cidades em decadência, as três cidades mais antigas do estado estavam em
ativa do diretor do SEPHAN, Rodrigo M. Franco de Andrade, e faziam parte de uma pleno desenvolvimento - São Francisco do Sul, Laguna e Florianópolis, e as demais
estratégia maior de criação de novos museus dedicados à memória e cultura nacional, cidades, eram todas ainda muito jovens, em pleno processo de formação, como Joinville,
focando nos grandes temas nacionais de então, como império, inconfidência e ciclo do Blumenau, Itajaí, Urussanga, e mais tantas outras que atualmente possuem um vasto
ouro acervo reconhecido. Coube aqui a postura de socorrer justamente os objetos mais
singulares, antigos e arruinados, que eram as fortalezas, mandadas construir no tempo
colonial pela coroa portuguesa dentro de um plano de expansão do território. Em 1938,
as fortalezas estavam em sua maioria sem uso, consideradas obsoletas para fins
militares, deixaram de constituir instalações funcionais, sendo esvaziadas e
eventualmente abandonadas. Tal qual ocorreria em todo território nacional, o
tombamento tinha a função de assegurar a permanência dos bens, mas não resultava na
sua efetiva preservação. As fortalezas permaneceram abandonadas até a década de 70,
quando gradativamente foram restauradas.

Voltando ao papel do velho continente Europeu na formação do conceito de


patrimônio histórico, foi no pós-guerra que foram introduzidas muitas atualizações
acerca do patrimônio cultural e novas demandas, como a reconstrução e a proteção de
outros tipos de bens que não mais apenas os monumentos e construções de valor
excepcional. Questões como pastiche e restauração ganharam prioridade no debate,
sendo sucedidas de outras tantas que foram crescendo em complexidade. Neste
contexto foi elaborada a principal carta patrimonial do campo, a Carta de Veneza de
1964, cujo objetivo era fornecer princípios básicos para projetos de restauração
contemporâneos (OLIVEIRA, 2007), introduzindo conceitos que até hoje são seguidos,
como a importância da distinção entre materiais antigos e novos, e o emprego da
documentação como ferramenta. Foi nesta mesma carta, que aparece a orientação
Figura 05 - Casa Natal de Victor Meirelles na década de 1940, antes de ser adquirida pelo
máxima relativa a restauração, tida como princípio norteador de qualquer ação em
IPHAN e transformada em museu. Retirado de: MUSEU VICTOR MEIRELLES, 2015(lista figuras). material histórico, onde a intervenção

Questões como visibilidade, integridade, uniformização de gabaritos não faziam


parte dos problemas, visto que tanto as limitações técnico-construtivas, como os códigos Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais,
de obras e posturas já faziam o papel de balizar a unidade de conjunto urbano edificado. todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões
Era o tempo onde construções dos mais diferentes estilos e épocas, incluindo as em estilo estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá
ostentar a marca do nosso tempo” Carta de Veneza (1964 apud OLIVEIRA,
art déco e pronto-modernistas conviviam com sobrados coloniais, palacetes ecléticos, 2007, p. 32).
igrejas de altas torres, praças e jardins.

__________ No Brasil, por sua vez, o cenário era de industrialização, crescimento das cidades,
6: Ministério de Educação e Saúde, também conhecido como Palácio Capanema, foi a primeira edificação a urbanização desenfreada. Se não houve um pós guerra, ocorreu um período político
incorporar os princípios modernistas defendidos por Le Corbusier, em 1936. bastante conturbado, desde a morte de Getúlio Vargas passando pelo período JK e culmi-
9
nando no golpe militar de 1964. A metamorfose das cidades brasileiras se dará no Em meio a esse cenário, em que o patrimônio reconhecido e protegido não
contexto da utopia modernista, da construção de Brasília, da criação da Companhia necessariamente é representativo, se abre espaço para disputas e apagamentos. Lugares,
Siderúrgica Nacional, da popularização do concreto armado e da indústria automotiva. fatos e eventos não considerados pelas políticas oficiais acabam ficando relegados a uma
Assim, a inexistência de uma revisão da legislação, coincide com um período bastante posição de marginalidade, de não oficiais, de menores. Como resposta, a mobilização dos
tumultuado na política nacional, nas décadas de 50 a 70, e expõem as fragilidades da grupos sociais e outros atores políticos, tem cobrado ações mais inclusivas do poder
legislação que foi pensada para atuar em um contexto de país agrário, de centros público, de modo que esse patrimônio invisível, ou melhor, despercebido, passe a ser
urbanos pequenos e consolidados, e principalmente, de limitações construtivas. valorizado e protegido.

Esse período de crescimento desprovido de planejamento será determinante nas Essa fase é um contraponto direto as práticas mais consolidadas do campo do
feições que as cidades assumiram (figura 06), incluindo os centros históricos e a patrimônio cultural, que ainda hoje não superaram alguns cânones como a utilização do
descaracterização de conjuntos que até então se mantinham íntegros. Diante da tombamento como principal instrumento de proteção e o rigor técnico relativo a
complexidade do desafio de fazer frente a esse processo, ficará evidente a necessidade intervenções em bens culturais cujo valor simbólico e social é colocado em segundo plano
de uma nova abordagem para a questão do patrimônio, que vai coincidir com a abertura em detrimento de aspectos de cal e pedra. A evolução efetiva do conceito de patrimônio
democrática e maior participação social. histórico e edificado para patrimônio cultural e urbano é uma transição urgente e
necessária, mas que não ocorre por igual.
Ainda nas décadas de 1970 e 1980, mesmo com a circulação de documentos
programáticos mais progressistas, como a Carta de Amsterdã, causava repulsa, em
vários círculos técnicos, chamar a atenção para a natureza social do patrimônio FASE CARACTERÍSTICA PERÍODO
ambiental urbano – expressão aliás reveladora de mudanças e que, então,
começava a difundir-se. (MENESES, 2006, p. 41) fase 1 monumentos, objetos artísticos e documentos históricos de valor 1808 a déc.
excepcional, ligados ao Brasil colônia e império. 1920

Como já mencionado, a questão cultural é um campo de disputas, estando fase 2 necessidade de uma política de Estado e fase heróica do IPHAN: década de
diretamente ligada à política, seus avanços e retrocessos. Nesse sentido, um dos avanços tombamento como ferramenta: identidade nacional em 1920 a 1950
mais significativos ocorreu com a Constituição Federal promulgada em 1988, fruto de construção
ampla participação popular, e de especialistas, incluindo da área do patrimônio cultural
(MENESES, 2012, p. 33). fase 3 questões próprias da realidade brasileira, cartas de Brasília (70) e década de
Salvador (71), indicando a criação de uma rede institucional 1960 a 1980
Considerando a evolução da preservação no Brasil desde a época colonial até o
momento presente, a título de entendimento do processo, poderia ser distinguir de fase 4 contexto de redemocratização e participação popular, década de
maneira simplista e generalizada, em 5 fases (quadro 1), que partem da noção de reconhecimento do patrimônio natural e imaterial, valorização das 1980 a 2000
monumento histórico e artístico, ainda no tempo do império, passando pela primeira diferenças, novos atores sociais, ampliação do debate, ebulição
legislação nacional, baseada na experiência francesa, chegando até década de 1970,
quando as questões do patrimônio nacional passam a exigir maior personalização em fase 5 globalização, economia neo-liberal, mercantilização do uso 2000 até o
relação às especificidades nacionais, como a recém construção de Brasília, que nasce cultural, disputas, diferenças culturais como produto presente
como monumento. A crise atual do campo do patrimônio cultural passa pelo processo de
reabertura democrática, e globalização a partir da década de 1990, onde o neoliberalismo
passa a atuar também no patrimônio, chegando ao momento atual onde é capturado
Quadro 01 - Simplificação dos principais períodos do patrimônio cultural brasileiro.
Do autor, 2022.
como valor de mercado.

10
Figura 06 - Vista do Centro Leste. Acervo Pessoal, registro ago. 2022.
2.2: Patrimônio Cultural em Florianópolis lise sobre o patrimônio cultural em Florianópolis será focada especificamente na figura
municipal, embora a atuação das legislações federal e estadual se façam presentes em
Como desdobramentos do movimento moderno e das mudanças globais ocorridas menor escala desde a década de 1950 e 1980, respectivamente.
no pós-guerra, as cartas patrimoniais internacionais contribuíram para disseminar a Visando subsidiar a compreensão sobre a evolução do conceito de patrimônio
preservação dos bens culturais além dos grandes centros europeus, alcançando em cultural na cidade, foram compiladas as principais legislações que de algum modo se
especial os países em pleno desenvolvimento, como o Brasil. Aqui, as orientações foram relacionam com a construção e fortalecimento das políticas locais (APÊNDICE 01).
traduzidas e interpretadas à luz da realidade nacional, resultando em documentos como
o compromisso de Brasília - 1970, e de Salvador - 1974, que entre outras diretrizes, Além de siglas, números de leis e decretos, importa entender também o
convidava Estados e municípios a criarem instrumentos e órgãos específicos de funcionamento desses mecanismos e as alterações pelas quais passaram ao longo do
preservação do patrimônio cultural em seus respectivos contextos de atuação . Segundo tempo. Atualmente IPUF e SEPHAN costumam ser entendidos como uma mesma
Weissheimer (2021, p. 196), a criação de uma legislação de tombamento em nível estrutura, porém não o são, embora tenham trabalhado em concordância nos últimos
municipal em Florianópolis foi resultado direto do “chamado que o governo federal fez anos. Quando criado em 1974 o órgão competente responsável pela matéria de
aos estados e municípios” naquela mesma década. tombamento era o SEPHAN, que era assistido por uma comissão, responsável por
representar a participação da sociedade e legitimar as decisões. Assim, a Comissão
Os anos 70 e 80 do século XX foram determinantes para a configuração atual do Técnica do Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Natural do Município -
centro histórico (figura 07), pois foi entre as primeiras iniciativas de reconhecimento e a COTESPHAN, era composta por diversas entidades ligadas à questão cultural no
efetiva proteção dos bens, que ocorreu um verdadeiro surto de novas construções na município, como a UFSC, UDESC, IPHAN, FCC, Fundação Franklin Cascaes, FATMA, IAB,
trama histórica, e que foi acompanhado do abandono intencional dos imóveis históricos. OAB e SUSP - Superintendência de Serviços Públicos do Município. Na época de criação,
Antes de vigorarem as primeiras legislações de patrimônio, estava em curso a SEPHAN e COTESPHAN estavam vinculadas a à Secretaria Municipal de Educação, Saúde e
verticalização do centro da cidade, visto que a centralidade estava espremida entre o Assistência Social, e não ao Instituto de Planejamento Urbano - IPUF.
morro e o mar. Estes primeiros edifícios em altura foram construídos no coração do
centro histórico, que conservava simultaneamente a característica de centro comercial, As legislações do campo do patrimônio cultural, tal qual o do planejamento
econômico e social. Assim, as construções mais antigas, já em processo de desuso, foram urbano, são construídas a pequenos passos, em etapas cumulativas. A primeira legislação
percebidas como potencial de investimento, de modo que antes mesmo de ocorrerem os específica de proteção cultural foi então a Lei 1.202/74, que definiu as bases do que viria
primeiros tombamentos de arquiteturas não religiosas ou institucionais, as construtoras a constituir o patrimônio cultural de Florianópolis. Como resultado das limitações de falta
e incorporadoras já haviam se apropriado de inúmeros imóveis do centro, notadamente de um corpo técnico efetivo, as primeiras ações de tombamento ficaram restritas a
os mais antigos (figura 09), os quais permaneceram abandonados e sem uso aguardando unidades individuais, como as principais igrejas da cidade, protegidas em 1975, ou
o momento da demolição. edificações relevantes mais ameaçadas. Tal qual o IPHAN na década de 1930, a equipe de
técnicos do SEPHAN vivenciou uma fase heróica relacionada aos primeiros anos de
O protagonismo da cidade em
legislação, quando a demanda e urgência por ações efetivas frente ao processo de
aderir ao compromisso, resultou na
renovação arquitetônica demandaram ações emergenciais. Uma das ações paliativas foi a
criação da Lei Municipal Nº 1.202/74,
instituição da lei nº 1.715 de 1980, que condicionava a aprovação de reformas ou
que instituiu a figura do tombamento,
demolições de imóveis com mais de 30 anos apenas após anuência do COTESPHAN.
até então restrita a atuação pontual do
IPHAN no estado, além de criar o A vinculação do SEPHAN ao instituto de planejamento ocorreria apenas em 1984,
Serviço do Patrimônio Histórico, no bojo de uma reforma político-administrativa, onde o órgão assume o protagonismo
Artístico e Natural do Município, como estrutura executiva, amparado pelas políticas de planejamento urbano do IPUF,
atualmente SEPHAN. O governo do enquanto o COTESPHAN é transformado em colegiado consultivo, de modo que
Estado, por sua vez, só viria a
regulamentar o tombamento na esfera
Com a sua inserção na esfera do planejamento urbano da cidade e da legislação
estadual a partir de 1980, sendo que urbanística foi dado importante redirecionamento da política de preservação,
as primeiras proteções efetivas se aplicando em âmbito municipal os novos princípios de preservação preconizados
deram apenas no final da década de pela Carta de Veneza, marco nos conceitos internacionais de preservação vigentes.
1990. Desse modo, o município ficou Os atos expandiram-se na área de preservação natural. Apresentavam, também,
responsável por realizar o ênfase nos referenciais urbanos da cidade, através da ampla proteção de conjuntos
urbanos históricos, incorporando-se ao processo (ADAMS, 2002, p. 205).
levantamento e proteção tanto dos
bens de valor na escala do município,
como do estado e da união, uma vez No ano seguinte é aprovado o Plano diretor dos Balneários, que com exceção do Distrito
que a cidade acumula o status de Sede, passa a contar com uma legislação que já prevê a incorporação do patrimônio
capital do estado e possui um relevante histórico. São instituídas pela primeira vez as áreas de Preservação cultural - APC, sendo a
legado histórico. Por conta desse APC-1 destinada a patrimônio histórico. Foi neste mesmo momento que foram criadas as
contexto de protagonismo local, a ana-
Figura 07 - Construção Ed. Meridional, em 1957.
Acervo da Casa da Memória de Florianópolis. 11
três categorias de preservação: P1, P2 e P3. No ano seguinte, ainda de forma
desvinculada do planejamento urbano, é realizado o tombamento dos 10 conjuntos
urbanos (figura 08) do centro histórico através do nº 270/86. A ação que foi ousada para
a época, causou diversas reações, sendo a principal delas a necessidade de uma revisão
de cada um dos imóveis inseridos dentro dos conjuntos, através da classificação de
acordo com uma das três categorias: P1, P2 e P3. Ao final da revisão, em 1990, pelo
menos 278 imóveis inicialmente protegidos por estarem dentro das poligonais dos
conjuntos, foram excluídos e os que permaneceram foram classificados (ADAMS, 2002).
Paralelamente à consolidação das
políticas de preservação municipais,
seguiu-se a crise no setor da construção
civil, de modo que tanto pela legislação
como pelas dinâmicas do mercado, as
demolições cessaram, ao passo que os Figura 10 e 11 - Térreo da edificação Mário Hotel em 1982, com vãos alterados e
tombamentos avançaram. Nesse ínterim, publicidade comercial. Autoria Maria Isabel Kanan. Acervo DPPC / FCC (lista figuras).
o centro da cidade acumulou um passivo
de abandono e degradação: inúmeros
imóveis que perderam sua relação com o
mar após o aterro e ficaram sem uso;
construções deixadas para cair pelos
proprietários, contrários ao tombamento;
imóveis históricos de posse das cons-
trutoras que constituíam uma reserva de
terra; e uma total desregulamentação
sobre conservação, pintura e comu-
nicação visual. Em resposta a esse cená-
rio e com o fortalecimento do SEPHAN,
através do apoio da administração popu-
lar de Sérgio Grando e Afrânio Bopré,
mandato 1993-1997, foi desenvolvido o
Projeto Renovar (figuras 10 a 15), que foi
o responsável por devolver aos rema- Figura 12 e 13 - Ilustração do Manual de Recuperação do Projeto Renovar exemplificando
nescentes arquitetônicos do centro através da edificação nº 148 da Rua Conselheiro Mafra a situação de desvalorização, má
conservação e descaracterização antes da aplicação das diretrizes do projeto, e a
histórico a visibilidade que haviam Figura 08 - Conjuntos de valor histórico e
situação posterior almejada. O cenário “errado” reflete as condições reais do imóvel na
perdido, tanto em termos materiais como
arquitetônico definidos pelo Decreto nº 270
década de 80, porém sem identificar ou caracterizar os respectivos comércios. Retirado de
de 1986.Fonte: Leis Municipais, 2022.
simbólicos. Além da remoção das IPUF, 1993 (lista figuras).
placas publicitárias que encobriram as fachadas, outra medida que teve um grande
impacto foi a reconstituição dos vãos das portas e janelas dos pavimentos térreos, que
em sua grande maioria haviam sido modificados ao longo do tempo.

A partir dos anos 90 a região


central serviu como vitrine para as
transformações ocorridas tanto na
legislação como na percepção
social em relação ao patrimônio
histórico e cultural. Em especial o
setor comercial oeste, represen-
tado pelas ruas Francisco Tolen-
tino, Conselheiro Mafra, Felipe
Schmidt, Deodoro, Trajano e Arci-
preste Paiva, onde a recuperação e
valorização do casario foi flagrante. Figura 14 e 15 - Edificação em 1994, após intervenção de recuperação dos vãos do térreo e
Figura 09 - Rua Fernando Machado, em 1979. remoção da poluição visual; e em 2013, com características conservadas duas décadas
12
Acervo da Casa da Memória de Florianópolis. depois. Acervo Casa da Memória de Florianópolis e Acervo Pessoal, registro abr. 2013.
Será finalmente em 1997 que as políticas de preservação do SEPHAN se unirão A partir de 2008 passam a ser discutidos mecanismos visando contemplar o
aos instrumentos de planejamento urbano do IPUF na região central. Até então, o patrimônio imaterial e no ano seguinte é promulgada a política cultural de Lugares de
Distrito Sede era regido pelo Plano Diretor de 1976, enquanto o patrimônio histórico era Memória, Lei nº 7955, cuja redação foi reformulada em 2010. Chama atenção que
resguardado pelas ações emergenciais e pontuais do SEPHAN. O novo Plano Diretor do naquele momento já foram pensados em mecanismos de identificação visual, como é
Distrito Sede, onde fica a região central, incorporou diversos dispositivos já explícito no
implementados e validados pelo Plano Diretor de 1985, como as Áreas de Preservação
Cultural e categorias de preservação. Art. 2º Os locais a que se refere o artigo anterior deverão ser protegidos em sua
dimensão física através de inventário para posteriormente ser sinalizados através de
A partir de então seguiu-se um fortalecimento cada vez maior da atuação do placas contendo referências culturais e históricas de Florianópolis (FLORIANÓPOLIS,
SEPHAN e a consolidação das feições do patrimônio cultural da região central tal qual 2010).
chegou aos dias atuais, consagrando-se pela heterogeneidade do conjunto urbano,
formado por sobrados ecléticos, dos lotes coloniais, grandes edifícios residenciais e
comerciais, vazios no meio de quadras, praças e ruas de diferentes tempos e escalas, Apesar da existência das leis, passados mais de dez anos, a política de lugares de
um patrimônio que reflete tanto da história e cultura local (figura 16). memória ainda não apresenta resultados perceptíveis na cidade. O Plano Diretor
aprovado em 2014 e ainda vigente, incorpora a postura dos seus antecessores em alinhar
os instrumentos de proteção do patrimônio cultural com o planejamento urbano. Uma
das inovações introduzidas foi a APC-4

Locais de Memória e Áreas de Interesse Cidadão que destinam-se à preservação dos


lugares onde ocorreram fatos de valor histórico ou legendário, que se mantêm
presentes na memória coletiva ou onde acontecem atividades que incorporem
valores intangíveis materializados no espaço (FLORIANÓPOLIS, 2014)

Além de manter as tradicionais três categorias de proteção para os imóveis situados na


APC-1 - Área de Preservação Cultural Histórica (figura 17), a lei introduziu mais duas
categorias de preservação, P4 e P5, de modo que as cinco categorias vigentes até o
momento são

P-1 - imóvel de excepcional valor arquitetônico, artístico ou histórico a ser


totalmente preservado, tanto interna como externamente;
P-2 - imóvel partícipe de conjunto arquitetônico, a ter seu exterior totalmente
preservado, possibilitando remanejamento interno, desde que sua volumetria e
acabamento externos não sejam afetados e sejam mantidos aqueles elementos
internos de excepcional valor histórico e/ou arquitetônico;
P-3 - imóvel no entorno de edificações de interesse histórico, podendo ser demolido
ou readequado, desde que o resultado preserve as relações espaciais e visuais ali
envolvidas;
P-4 - imóvel cujo valor cultural reside em suas características arquitetônicas
vernaculares, ou na peculiaridade de sua atividade produtiva, ou em suas
manifestações culturais de caráter singelo e popular, ali ocorrentes, desde que
significativo no contexto urbano ou rural, sujeito às diretrizes definidas no ato de
sua classificação pelo SEPHAN; e
P-5 - imóvel localizado no entorno de áreas protegidas, caracterizadas como áreas
de transição e de preservação da paisagem, podendo ser demolido ou readequado,
em conformidade com as diretrizes definidas no ato de sua classificação pelo
SEPHAN. (FLORIANÓPOLIS, 2014)

A construção da Lei do Plano Diretor de 2014 incorporou princípios de participação


popular instituídos pelo Estatuto da Cidade, de modo que sua elaboração e aprovação
refletiram o impasse entre os interesses de atores locais de maior poder econômico e
político, e de movimentos sociais e outros atores da sociedade civil organizada. Apesar da
existência dos dispositivos voltados à valorização da cultura e memória, como a APC-4,
até o momento ainda não foi implementado nenhum local de memória na cidade.

O último capítulo da evolução da legislação cultural na cidade remete diretamente


ao período anterior à consolidação das políticas de preservação. Em 2021 foi regulamen-
Figura 16 - Rua Saldanha Marinho em 1999. Retirado de: PETRY, 2011.(lista
figuras). 13
tado um novo decreto referente à composição da COTESPHAN, substituindo o decreto Atualmente está em discussão a revisão do Plano Diretor, cujos desdobramentos
anterior, de 1984. A comissão tem justamente a função de validar as políticas culturais poderão agregar novas inovações e protagonismos entre o planejamento urbano e
por meio da participação da sociedade, representada atualmente por 10 membros preservação cultural, bem como apontar para retrocessos e acirramento de tensões. Tal
qual na década de 1970, as políticas públicas seguem em constante movimento de
acomodação, e a participação de novos atores sociais é fundamental para proporcionar
I - um representante da Secretaria Municipal de Cultura, Esportes e Lazer; legitimidade e representatividade no resultado final do instrumento.
II - um representante do IPUF, através do SEPHAN;
III - um representante do Secretaria Municipal de Turismo, Tecnologia e Considerando que a evolução da legislação municipal em Florianópolis ilustra
Desenvolvimento Econômico; localmente o processo mais amplo de evolução do conceito de patrimônio cultural,
IV - um representante da FLORAM; pode-se dizer que aponta para uma maior participação da sociedade, e uma consequente
V - um representante das entidades com atribuições vinculadas ao patrimônio
histórico e cultural no âmbito federal ou estadual (IPHAN e FCC);
representatividade, tanto nos valores materiais como imateriais (figura 18).
VI - um representante das instituições de ensino superior do Município que
tenham formação de profissionais em pelo menos uma das seguintes áreas:
arquitetura, história, arqueologia, restauro ou patrimônio; 2.3: Com Meneses: necessidade de uma agenda comum
VII - um representante das entidades de classe da indústria da construção civil,
comércio, hotelaria e/ou serviços;
VIII - um representante dos profissionais liberais com atuação em projetos e obras Contudo, como não poderia deixar de ser, a questão cultural é igualmente um
de patrimônio histórico e cultural; campo de disputas, onde diferentes agentes operam, com diferentes agendas e
IX - dois representantes da sociedade civil organizada de abrangência difusa; interesses. Entre os maiores desafios do setor está a construção de uma agenda comum
(FLORIANÓPOLIS, 2021) ao campo, que é o ponto de partida para se avançar no debate propositivo. Nesse
sentido, uma obra de referência empregada no presente estudo foi o texto de Ulpiano T.
Diferentemente da composição dos tempos mais atuantes do órgão municipal, a Bezerra de Meneses (2006), em que dialoga com outros autores do campo sobre o
nova composição reserva pouco espaço para as universidades e para arquitetos cenário atual e os desafios colocados, na busca de alternativas para avançar sobre
urbanistas. Da mesma forma, a presença de dois representantes sociedade civil questões que são consenso, como a limitação do tombamento enquanto preservação de
organizada de abrangência difusa [07], aponta uma maior participação social, em ambiências urbanas.
detrimento dos técnicos e acadêmicos.
Para Ulpiano de Meneses existe uma questão muito sensível em relação ao uso
cultural que privilegia as representações, “o uso cultural da cultura ao invés de
estabelecer uma interação das representações e práticas, privilegia as representações
que eliminam as práticas. O simbólico substitui as condições concretas de produção e
reprodução da vida” (2012, p. 29).

Uma questão que precisa ser abordada diz respeito à tendência corrente de
conferir usos culturais para objetos de valor cultural, mesmo nos casos em que o objeto
possui potencial de outros usos que não o cultural, como potencial funcional. Predomina
uma visão contemplativa em detrimento de usos práticos e funcionais. Para o autor,
existem três dimensões do patrimônio, a do cotidiano, do trabalho e da cultura, onde
este último seria percebido pelo senso comum dominante como sendo de espírito mais
elevado, e por isso mesmo incompatível com as relações sociais próprias do universo do
cotidiano e do trabalho, que seriam menos nobres, menos dignas. Essa perspectiva
embasa a formação de um universo em separado, formada pelos “produtos e os
produtores culturais, os consumidores culturais, os equipamentos culturais, os órgãos
culturais e assim por diante mas, acima de tudo, os usos culturais” (MENESES, 2006, p.38).

O principal problema dessa prática é justamente o esvaziamento do universo da


cultura e seu consequente isolamento fora dos espaços vitais e pulsantes da cidade, que
poderiam confluir e irriga-lo. Por exemplo um centro cultural localizado em um bairro
predominante fabril, onde a rotina do trabalho pudesse ser estendida e vivida fora das
Figura 17 - Delimitação das Áreas de Preservação Cultural Histórica - APC-1, definidas
pelo Anexo da Lei Complementar 482 de 2014. Disponível em: FLORIANÓPOLIS, 2014 (lista instalações fabris, mas ainda dentro do mesmo lócus. Assim, um edifício que tenha seu
figuras). valor cultural reconhecido não poderia manter seu uso original ou outro a ele associado,
como por exemplo uma antiga escola que precisou deixar de ser um local de ensino para
__________ se transformar em um centro cultural ou museu.
7: entidades sindicais de trabalhadores, entidades de classe, conselhos e associações profissionais,
entidades acadêmicas e de pesquisa, Organizações Não Governamentais (ONG), fundações privadas,
movimentos sociais de abrangência difusa e entidades empresariais
14
O principal sujeito da cultura é o habitante local, que é quem de fato mantém Nesse sentido, as contribuições de Ulpiano fazem coro a uma nova perspectiva de
uma relação de apropriação e fruição do patrimônio ambiental urbano. O autor atuação no campo, onde questões do cotidiano e do trabalho combinadas com as
problematiza a questão da escala do valor cultural e destaca que a ideia de se medir a dinâmicas de planejamento urbano, enquanto prática dos órgãos do patrimônio,
intensidade do “valor cultural” de um bem compactua com a visão ultrapassada de encontrem respaldo na mobilização dos atores sociais para efetividade das suas ações.
patrimônio em que se pressupõem que os atributos sejam inerentes ao bem, onde as
relaçõe sociais e afetivas ficam em segundo plano.

A matriz de valor não está nas coisas em si, mas nas práticas sociais, de modo
que “atuar no campo do patrimônio cultural é se defrontar, antes de mais nada, com a
problemática do valor”, que perpassa todas as esferas do campo (material ou imaterial
(MENESES, 2012, p. 32).

O município sendo a menor unidade administrativa da federação, é onde de fato


está o patrimônio, assim como é nos bairros que está o patrimônio do município. Logo
faz sentido considerar que seja no bairro onde começa o reconhecimento e valorização
dos patrimônios culturais urbanos. Assim, sendo as políticas de ordenação urbana
competência dos municípios segundo a Constituição Federal de 1988, estas deveriam
ser integradas à preservação para efetivamente proteger e valorizar o patrimônio
cultural urbano. O problema se dá pelo fato de na maior parte das vezes os municípios
não possuírem nenhuma legislação voltada ao patrimônio cultural, cabendo aos órgãos
estaduais serem os únicos atuantes, assim como os federais, de modo que na prática
não existe uma atuação conjunta e coordenada.

Devido a essa diferenciação de atribuições, o descompasso entre o nível


responsável pelo ordenamento e o responsável pela legislação foi ao longo do tempo
mediado pela idéia de envoltória, que basicamente segrega uma porção do território
onde está inserido o bem, e toma para ao órgão do patrimônio a responsabilidade de
avaliar as intervenções propostas. No entanto essa abordagem não é eficaz, pois além
de ser inadequada aos fins almejados, que é preservar a ambiência do bem, entra em
conflito com as legislações urbanísticas definidas pela municipalidade. O ideal seria
então que ambas legislações conversassem, que o planejamento urbano levasse em
consideração as dinâmicas de preservação, de modo inclusive a dispensar o uso do
tombamento em todas as situações.

Na reflexão sobre o cenário real e o ideal em relação ao campo do patrimônio e


suas situação atual, o autor coloca que

Seja como for, o caminho mais seguro para criar, no campo do patrimônio cultural,
condições mais favoráveis para a inclusão social é, sem qualquer dúvida, o
reconhecimento da primazia do cotidiano e do universo do trabalho nas políticas
de identificação, proteção e valorização, e, conseqüentemente, de maximização do
potencial funcional. (MENESES, 2006, p. 53).

Se a noção de patrimônio cultural está mudando novamente, abraçando a cidade


como objeto, reconhecendo que material e imaterial, e todas suas categorias, não
fazem sentido enquanto partes separadas, atomizadas, a preocupação é que enquanto
esse processo é gestionado, que a sociedade por sua vez, além de participar desse
processo, seja protagonista na outra ponta, na parte social, se organizando e
mobilizando (figura 18) para que num futuro não muito distante, essas novas práticas
de preservação se encontrem com essa sociedade mobilizada, e que questões tão
polêmicas, como a arbitrariedade do tombamento, sejam mais pacíficas entre todos,
que o tombamento seja uma distinção, um reconhecimento e não uma espécie de bóia
dos afogados, de seguro compulsório. Figura 18 - Instituto Arco-Íris, registro ago. 2022.

15
3.CENTRO LESTE
O esvaziamento da região leste é uma realidade que tem mobilizado a sociedade
nas últimas duas décadas, e que tem ascendido um amplo debate sobre quais estratégias
deveriam ser adotadas para fazer frente a esse processo, que é seguido de “abandono” e
degradação. Os principais atores sociais são os proprietários, os comerciantes,
moradores e usuários que frequentam a área. Se somam a eles, a participação do poder
Florianópolis, ou melhor, a Grande Florianópolis, é um território em disputa, pelo público e da iniciativa privada. Enquanto comerciantes e moradores cobram do poder
menos desde 1777, quando a coroa espanhola invadiu a região (figura 20), e a freguesia público por soluções imediatas para os problemas percebidos, como ausência de
de São Miguel da Terra Firme, atual Biguaçu, foi provisoriamente sede da Capitania de movimento e degradação do espaço urbano, outros atores como movimentos sociais
Santa Catarina [8]. Posteriormente a capital voltou para a ilha, onde permanece até hoje, percebem que há pouca discussão sobre as consequências do emprego das estratégias
e de lá para cá, embora muito tenha mudado, alguns outros aspectos territoriais oferecidas pelo poder público para esses problemas, que via de regra são de curto prazo
permaneceram praticamente inalterados desde então: as fortalezas, o Palácio do e estão alinhadas a uma visão limitada. A ausência de uma visão comum sobre o Centro
Governo, a Catedral, a Casa de Câmara e Cadeia e o traçado das ruas à leste da Praça da Leste e seu futuro abre espaço para iniciativas exógenas, que a partir de uma leitura
Matriz. superficial se apropriam de espaços e promovem novas dinâmicas, como a especulação
imobiliária, que vem a reboque das propostas da iniciativa privada quanto ao potencial da
Ao longo do tempo essa porção de território que constitui o embrião da economia criativa e inovação.
urbanização da cidade, juntamente com a porção oeste, experimentou diferentes
momentos, sempre em conexão com a cidade, com seus rumos sociais, políticos e Torna-se fundamental problematizar as diferentes estratégias apresentadas pelos
econômicos. Foi ali, por exemplo, que se ensaiou uma pretensa modernização calcada diferentes atores visando chegar a uma visão comum, que até o momento não existe.
em ideais higienistas da primeira república, no início do séc. XX, onde além de vigorosos Nesse sentido, compreender a formação dessa área singular, sua consolidação e papel
processos de remodelação urbana, de inúmeras injustiças sociais e processos de que desempenha na dinâmica urbana é uma alternativa na construção de uma visão
expulsão e apagamento, ocorreram também importantes mudanças sociais, como o comum.
florescimento da cultura de esportes náuticos. Reflexo de uma época, essas práticas
associadas à prática do remo, atualmente estão quase que completamente desapa-
recidas da região, se não fosse a presença de um letreiro no alto de uma das construções
mais interessantes daquela parte da cidade - Clube Náutico Francisco Martinelli.

Qual não teria sido o clima que rodeou aquelas ruas quando na década de 1970 se
decretava a morte ao esporte nos moldes como ocorria? Que debates e disputas não
poderiam ter acompanhado a discussão sobre o futuro da cidade: abraçar aos aterros e
a promessa de modernidade e progresso, ou se agarrar aos seus valores e práticas
consolidadas? No mesmo processo do aterro da Baía Sul (figura 19) outros importantes
marcos simbólicos da memória da cidade foram apagados, como o antigo Miramar, e
outros por pouco foram poupados, como a Fortaleza de Santa Bárbara. Não são estas
respostas que se busca nesse trabalho, mas sim, compreender um outro processo que se
dá nesta mesma região, no século atual, onde diferentes processos e atores possuem
ideias diversas sobre a vocação e futuro dessa parte da cidade, e sobre a permanência
não apenas das construções de pedra e cal, mas principalmente da cultura imaterial.

Atualmente o processo de transformação da região se dá em uma escala muito


mais discreta, sem grandes obras ou alterações na fisionomia da cidade, e pode-se dizer,
que com exceção dos paralelepípedos, a transformação ocorre individualmente em cada
um dos imóveis, caso a caso. Relaciona-se aos usos e ocupações desses imóveis e as
relações que desempenham junto ao espaço público da rua. A transição de usos e
ocupações tem sido seguida de um contínuo esvaziamento das ruas, que reflete a
ausência de planos maiores e integrados que promovam a vitalidade da região do Centro
Leste a médio e longo prazo.
__________
8: Ao longo do trabalho, será considerada como marco temporal, a criação da Capitania de Santa Catarina
em 1738, cujo primeiro governador, o engenheiro portugues José da Silva Paes, foi responsável por
estruturar tanto o território, projetando as fortalezas, as principais construções da praça da matriz como
também a organizando vinda dos açorianos e as freguesias. No entanto, além da presença anterior do
homem pré-histórico, como os Sambaquis, a região era amplamente povoada pelos índios Carijós quando
dos primeiros contatos com o homem branco colonizador. Figura 19 - Obras do aterro da Baía Sul, em frente ao atual Centro Leste, entre 1970 e 1975.
Acervo da Casa da Memória de Florianópolis.
16
3.1: Breve Histórico A atratividade da região à leste da praça, que representava o coração do poder
colonial no ponto mais ao sul de posse da Coroa Portuguesa, e mais tarde o coração
No processo de colonização da região que atualmente compreende a Grande político e administrativo do Estado de Santa Catarina, foi um elemento fundamental para
Florianópolis, as primeiras iniciativas de ocupação e organização, não ameríndias, foram a consolidação de uma urbanidade única em toda região. Nesse setor, foram instaladas
as freguesias[9] luso-brasileiras, que foram instaladas em pontos estratégicos que repartições públicas, fundadas as mais diversas instituições e ensaiadas as primeiras
compreendiam tanto a porção insular como continental da baía formada pela Ilha de tentativas de constituir uma cidade-capital.
Santa Catarina. A distribuição desses assentamentos levava em conta a formação de uma Veiga (2008) destaca como edifícios de destaque no Largo da Matriz, num período
rede de apoio às fortalezas e controle do vasto território, de modo que nenhuma que vai da fundação da cidade até a década de 1930, as edificações da Casa dos Jesuítas,
freguesia estaria próxima ou afastada demais em relação a outra. Tanto é, que por pelo o Quartel de Artigos Bélicos, o Quartel da Polícia Civil, o Prédio dos Correios, a Casa de
menos dois séculos, a comunicação entre elas se deu de forma bastante ativa Câmara e Cadeia, a Escola Normal, o Instituto Politécnico, além da própria Avenida do
prioritariamente por via marítima. Saneamento. Ela cita também como principais referenciais a leste da Praça da Matriz, a
Não há mistério sobre a primitiva vocação militar de Florianópolis, na época Igreja do Menino Deus, o Quartel do Campo do Manejo, o Forte Santa Bárbara e o
chamada Desterro. Na vila, espremida entre o mar calmo de baía e o morro íngreme, a Hospital Militar.
cidade se desenvolveu para os lados: a oeste residências, comércio, e posteriormente a A malha histórico fundacional era formada, entre outras, pelas atuais ruas João
zona portuária e industrial; e a leste, principalmente comércio, instituições públicas e Pinto, Tiradentes, Victor Meirelles, Saldanha Marinho e Nunes Machado, que atendiam ao
militares, além do primeiro hospital do estado (VEIGA, 2008, p. 189). traçado colonial portugues, com tendência à malha xadrez, partindo da praça principal,
Será nesse contexto que a freguesia de Nossa Senhora do Desterro, localizada no paralelamente a linha do mar se desenvolveram ortogonalmente até onde o terreno
ponto central dessa rede, vai exercer o papel de centralidade em relação às demais permitia (figura 21). Em um primeiro momento a existência do Córrego da Fonte Grande
freguesias, vindo a se consolidar como vila em 1726, capital da província em 1821 e foi uma barreira ao espraiamento do Centro Leste, mais tarde chamado de rio da Bulha, e
cidade em 1823. O objetivo dessa pequena retrospectiva é destacar como desde a das proeminências rochosas que mais tarde emprestaram o nome de Bairro da Pedreira.
fundação até os dias atuais, a organização do território se deu de forma concêntrica, isto Além destas ruas, haviam outras contemporâneas, mas cujo traçado foi adaptado ao
é, espelhada, e que a centralidade do centro fundacional de Florianópolis se deu relevo, se distanciando da malha ortogonal, como a Fernando Machado, Anita Garibaldi e
principalmente em função da posição estratégica da primitiva freguesia, que mais tarde General Bittencourt, entre outras. (VEIGA, 2008, p. 190)
absorveu as demais, vindo a formar o atual município, hoje capital do Estado. Dito isto, Entre os diversos aspectos relevantes de serem resgatados quanto ao histórico da
não fosse a atual divisão administrativa dos municípios, poderia-se dizer que as antigas região, o desenvolvimento da malha urbana é um dos mais importantes, pois diferente
freguesias, hoje municípios e bairros, constituem parte intrínseca de uma mesma cidade, de outros setores da cidade que foram radicalmente modificados, na porção leste o
e que a região do centro histórico fundacional continua exercendo um papel polarizador. traçado se manteve, embora a arquitetura tenha sido destruída
__________
9: As freguesias eram uma divisão administrativa religiosa que indicava a presença de um núcleo de A maioria dessas vias foi, aos poucos, adquirindo características mistas de zona
povoamento organizado, sendo a menor unidade administrativa no antigo império portugues. comercial e residencial, dando lugar aos típicos sobrados com comércio no térreo

1777 1876

Figura 20 - Planta da Villa, elaborada em 1777 pela Coroa Espanhola, durante a invasão e Figura 21 - Planta da Cidade, elaborada em 1876 a mando de Alfredo d' Escragnolle Taunay,
ocupação da ilha. Disponível em: FORTALEZAS.ORG (lista figuras). enquanto presidente da Província de Santa Catarina. Disponível em: FORTALEZAS.ORG (lista
figuras). 17
e residência no andar superior. [...] No aspecto geral, o caráter marcou a instalação dos grandes edifícios institucionais que passariam a ocupar a
residencial-comercial foi a regra em quase todas as ruas, salvo algumas exceções, região, em especial o Tribunal de Justiça, o Palácio Santa Catarina, e a Assembléia
sendo a mais expressiva a rua João Pinto, antiga Rua Augusta, tipicamente
comercial. (VEIGA, 2008, p. 190).
Legislativa. A presença do aparato público, somada a outras instituições voltadas ao
ensino, como a Academia de Comércio, a Faculdade de Educação e o Grupo Escolar Dias
Velho, reforça a circulação de pessoas na área, permitindo a consolidação de um centro
Para a autora, foi a combinação das limitações geográficas para expansão da comercial ativo e diversificado.
cidade à leste, como a área pantanosa, o córrego da Fonte Grande e os acidentes
geográficos, que incentivaram a cidade a se desenvolver para o lado oeste, onde a
atividade comercial e marítima passou a se sobrepor a antiga função militar e
demandar novas instalações, como armazéns, mercados, depósitos e estaleiros.
Posteriormente, o saneamento do córrego e a urbanização à leste ajudaram a conservar
o caráter residencial dessa parte da cidade. No mapa de usos e ocupação do solo,
elaborado pelo geógrafo Wilmar Dias em 1947, é possível perceber essa setorização de
funções já consolidada (figura 22).

Figura 22 - Mapa de uso do solo da área central de Florianópolis em 1947, elaborado por
Wilmar Dias. Retirado de: apud SOUZA, 2012, p. 50 (lista figuras).

A mesma remodelação urbanística que expulsou os pobres da região central,


saneou o Rio da Bulha, construiu novos edifícios públicos e ajardinou as praças, foi
seguida de uma renovação arquitetônica, com a introdução de novas linguagens
estilísticas, e técnicas construtivas. Seguido a essa renovação, o automóvel é introduzido
na cidade, tendo na Ponte Hercílio Luz símbolo máximo dessa fase, cujas vias de acesso
contribuíram ainda mais para o desenvolvimento da porção oeste da área central em
detrimento da leste, caracterizada pelo casario antigo e ruas estreitas (figura 23).

Ainda sobre o mapa de 1947, interessante notar que o terreno onde seria edificada
a nova sede social do Clube Doze de Agosto, em 1956, já aparece como vago. Os grandes
espaços públicos da cidade à época, eram a Praça XV de Novembro, a Praça General
Osório e o Largo XIII de Maio. O Centro Leste ficava justamente entre estes, funcionando
como uma espécie de corredor (figuras 24 e 25). Na década seguinte, a Praça General
Figura 23 - Vista do Centro Leste na década de 1950 e as diferentes fases da Rua João Pinto
Osório perderia status de maior espaço público da cidade, para se tornar o terreno onde refletida nos afastamentos das edificações. Em verde, período colonial, em amarelo, início
foi edificado o novo prédio do Instituto Estadual de Educação. Antes do aterro da Baía Sul, do séc. XX, em vermelho, a partir da segunda metade do séc. XX. Elaborado pelo autor, sobre
certamente essa foi uma das maiores mudanças na parte central da cidade, e que fotografia do acervo da Casa da Memória de Florianópolis.

18
Figura 24 - Panorama da cidade, por volta de 1905, com o Quartel do Campo do Manejo,futura Praça General Osório, no primeiro plano. Na década de 1960 sofre uma mudança radical, com a construção do
Instituto Estadual de Educação, que inicialmente funcinava no prédio do atual Museu da Escola Catarinense.Foto de Eugen Currlin. Acervo G. Schmidt-Gerlach. Disponível em: FORTALEZAS.ORG (lista figuras).

Figura 25 - Vista panorâmica do centro à leste da Praça XV, tomada a partir da torre da Catedral. Em destaque a recém construída Escola Normal e imediatamente atrás, o Instituto Politécnico em
construção. Considerando 1922 como ano do lançamento da pedra fundamental do Instituto Politécnico e 1924 como de sua ocupação, a fotografia é seguramente da primeira metade da década de 1920. Elaboração
própria (junção de duas imagens distintas) a partir de originais do acervo da Casa da Memória de Florianópolis, coleção Início séc. XX. 19
A década de 1940 marca o início das grandes modificações ocorridas no interior
das quadras, sem maiores alterações nas vias. Antigos lotes coloniais foram
remembrados, possibilitando grandes terrenos destinados a novas arquiteturas. Por
exemplo, o prédio do 5º Distrito Naval, que seria edificado na mesma década sobre a
metade remanescente de casario da quadra delimitada pelas ruas General Bittencourt,
Victor Meirelles, Nunes Machado e avenida Hercílio Luz (figura 27).

A alta concentração de atividades e pessoas demandava igualmente meios de


acesso e circulação, que foram atendidos pela presença das linhas de transporte
urbano, que faziam a conexão da região com toda a Grande Florianópolis. O aterro da
década de 1970 possibilitou uma maior presença do automóvel, que podia chegar muito
próximo à região histórica, e foi determinante para a manutenção das características de
centralidade de toda região central da cidade (figura 28 e 29).

Figura 26 - Rua Nunes Machado, esquina com João Pinto, em 2000. Ao fundo, Clube Doze de
Agosto. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis.

Apesar dessas características de uso misto, a região leste, entendida como a leste
e nordeste da Praça XV e com eixo de crescimento pela Rua General Bittencourt, ainda
se caracterizava como setor residencial, não sendo cotada para outras funções em
virtude das limitações tão características, como caixa de rua estreita e alta densidade de
ocupação. Dessa forma, até os anos 2000 (figura 26) o setor conservou três principais
características: condição de centro histórico, de centro comercial e de zona residencial.
Essa diversidade possibilitou a manutenção de aspectos históricos e culturais que foram
mantidos até meados da década de 2000, quando se iniciou o processo de desequilíbrio
que caracteriza a região atualmente.
Figura 27 - Rua Victor Meirelles em 1905, com casario colonial consolidado em ambos os lados
da via. Acervo G. Schmidt-Gerlach. Retirado de: Onde Está Desterro? (lista figuras). 20
Figura 28 - Em primeiro plano, residências humildes da população que outrora ocupava a região baixa, como o entorno do Rio da Bulha e os cortiços do Beco Sujo, ambos desaparecidos com as obras
higienistas do início do séc. XX. Ao fundo, aterro da Baía Sul em andamento, na década de 1960. Ao centro, Instituto Estadual de Educação, inaugurado em 1963.Comparando com a figura 24 é possível
perceber o impacto que a transformação da Praça General Osório, antes Campo do Manejo, causa à dinâmica das ruas do centro leste, representadas em vermelho. Destas, a Fernando Machado é a que sofre a
maior alteração, perdendo a função de via arterial entre as duas principais praças da cidade, cujo trecho final da rua é sentenciado a “gangrenar”. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção 21
Aterros.
Figura 29 - Aterro da Baía Sul, defronte ao centro leste, na década de 1980, antes da construção do Terminal Cidade de Florianópolis, ocorrida em 1988. A presença massiva de veículos, em uma época onde
poucas famílias podiam possuir um, e a presença de linhas de onibus anteriores ao próprio terminal, permite vislumbrar a efervecência da região leste, e que foi diminuindo principalmente após os anos
2000. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção Aterros.
22
3.2: Processo em Curso Apesar da ênfase com que os proprietários de imóveis da região atribuem a saída
do terminal urbano como principal motivo pela decadência que a área enfrenta desde
então, eles possuem parte no ônus desse processo de esvaziamento. Ao insistir na
mesma fórmula de exploração dos imóveis, voltados a fins comerciais e altamente
Historicamente, o núcleo fundacional da cidade se desenvolveu paralelamente à dependentes de um fluxo constante de pedestres, repassaram ao poder público a
linha do mar, tendo a Praça da Matriz como centro de referência, de modo que a responsabilidade por trazer novamente o antigo fluxo baseado no movimento
identidade do centro histórico se consolidou ao longo do tempo como uma só, sem transitório de pessoas. De forma que não foram investidos em outros usos, que além de
distinções mais acentuadas. O centro histórico coincidiu com o centro administrativo e conviver com o perfil comercial da região poderiam proporcionar muito mais vitalidade
econômico, que se refletiu em condições singulares de concentração e circulação de para toda a área, como moradias voltadas a públicos mais jovens. Hoje a região é
pessoas, que por sua vez, gerou um centro comercial. Até o início século XXI o equilíbrio caracterizada pela vacância justamente por ser um local onde não são oferecidas
da região se manteve, em especial pelo constante trânsito de pessoas (figura 30) , porém ocupações alternativas para os imóveis, como residências (figura 31).
com a saída de importantes instituições públicas, como a Academia de Comércio de Santa
Catarina, a Faculdade de Educação da UDESC, a Câmara de Vereadores, e também o Essa especialização monofuncional é consequência da visão funcionalista da
Palácio de Santa Catarina a porção a leste da praça XV passou a ter um fluxo menor de cidade, derivada do pensamento moderno, que previa que cada setor da cidade deveria
pessoas. Paralelamente a essas modificações, a principal porta de entrada de pedestres desempenhar uma função, e a do centro histórico seria cultura, artes, arquitetura e
na região, constituída pelas linhas de transporte coletivo concentradas no Terminal comércio. E isso é um problema, pois desencadeou a idéia que essas porções da cidade
Cidade de Florianópolis, foi transferida para um novo terminal, localizado justamente no teriam uma vida à parte do todo, assim áreas que historicamente exerceram alguma
lado oposto da Praça XV de Novembro. centralidade, por concentrar instituições, serviços e comércio - funções vitais da cidade-
passaram a ficar em segundo plano, pois se criaram novas áreas comerciais e pequenas
A combinação desses fatores afetou a dinâmica já consolidada da região como centralidades nos bairros, que mesmo que destituídas das instituições, passaram a
principal centro comercial da região metropolitana, e como a valorização dos endereços desempenhar a função de micro-centralidade, enquanto as antigas áreas centrais e
comerciais é diretamente influenciada pela circulação de pessoas, às ruas à leste da Praça históricas ficaram apenas com a função cultural.
XV perderam seu protagonismo, que se refletiu em aluguéis mais acessíveis. Tal cenário
foi favorável à renovação do comércio local, que passou a ser procurado por outras Outra consequência dessa visão funcionalista dos centros históricos como
atividades que antes não teriam condições de se instalar no endereço, em especial espaços essencialmente culturais, é que eles acabam perdendo relevância na vida
atividades mais populares, como comércio de bens de segunda mão: roupas, móveis e cotidiana, justamente por não serem mais vitais, de modo que são preteridos em
principalmente livros e vinis. Igualmente se instalaram novos restaurantes e bares, que relação a outros lugares da vida comum, e acabam por se esvaziar. Aos poucos a
voltados a um público mais diversificado, se somaram aos já existentes e consolidados imagem de centro comercial misto cedeu espaço para o centro cultural vazio.
como representantes da boemia da região, como o Canto do Noel e Kibelândia.

Figura 30 - Movimento intenso de pedestres no entorno do Terminal Cidade de Florianópolis, em Figura 31 - Centro comercial fechado por falta de movimento, onde outrora as salas comerciais
2000. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis eram valorizadas. Fechado sim, abandonado, não, vide cartaz de locação. Acervo Pessoal, ago. 23
2022.
Paulatinamente ao esvaziamento comercial e consolidação cultural, o caráter A reinvenção do Museu da Escola Catarinense pode ser entendida como o
residencial vem perdendo relevância na área nas últimas décadas, em especial a faixa primeiro movimento efetivo de revalorização da região após o esvaziamento da década
média da população economicamente ativa, segundo estudo de Weissheimer (2021). anterior, cujo protagonismo foi fundamental no resgate da memória histórica e cultural
Enquanto a cidade de Florianópolis registrou um crescimento populacional no recorte da região. Esse processo não se deu sem polêmicas. Fruto de um esforço entre
estudado, de 2000 a 2010, o centro como um todo perdeu população fixa. instituição pública e iniciativa privada, a recuperação do edifício do museu inseriu novos
atores e despertou novos debates, que vieram a agregar na diversidade da região, como
Chama atenção nessa pesquisa, mais especificamente o Centro Leste, que o setor da economia criativa.
comparado a outros setores da região, manteve a população jovem, abaixo dos 24 anos,
e que em termos econômicos empobreceu. Quer dizer, realmente os dados Assim como a mudança das linhas de ônibus para o TICEN desequilibraram a
demonstram o que já se percebia empiricamente, que com as mudanças ocorridas na região e permitiram a consolidação momentânea como centro popular com aluguéis
primeira década dos anos 2000, a região empobreceu, e a parcela da população mais menores, a entrada de novos atores sociais ligados diretamente ao setor privado em sua
ativa economicamente (jovens adultos) se deslocou para outras áreas, e justamente vertente tecnológica trouxe novas questões ligadas à valorização imobiliária e a
passou a ser ocupada por outras famílias, inclusive com crianças, de modo que a região mercantilização da cultura local. Aspectos da boemia, do comércio popular, dos
passou a concentrar essa faixa de população. É interessante notar, assumindo que a ambientes artísticos e culturais passaram a ser ressignificados visando uma tentativa de
população que possui maior poder econômico foi em busca de outras regiões que revitalização de uma área que jamais deixou de ser ativa e dinâmica (figura 32 e 33).
reunissem outros atributos de maior atração, que existem alguns outros atributos que Como estratégia de promoção da região em detrimento das demais, foi utilizada a velha
ainda são capazes de segurar uma parcela da população que possui mobilidade social, tática de separar para conquistar. O centro histórico a leste da praça XV passou a ser
mas permanece no Centro Leste. promovido como “distrito criativo”, em alusão a presença do Sapiens Centro e da
proposta de desenvolver a economia criativa naquela parte da cidade. Em resposta,
Considerando que o centro comercial se sobrepõe ao centro histórico, e com a termos como “pedreira” e “bulha” passaram a ser empregados pelos críticos ao projeto
saída do primeiro, o segundo volta a ficar em evidência, a partir da década de 2010 o do distrito criativo, em referência a memória histórica da região. Um meio termo
caráter cultural da região leste fica em maior destaque. É o momento em que se largamente utilizado desde então é “centro-leste”, que transita entre as duas narrativas,
cristaliza a nova identidade da região, caracterizada pelos equipamentos culturais, pelo e que frequentemente tem o vocábulo centro substituído por outro, como: setor, área,
comércio alternativo, pela boemia. Desde a década de 1950, o principal equipamento porção, ala, lado ou trecho. Recentemente o termo leste já apareceu empregado como
cultural da região leste foi o Museu Victor Meirelles, posto apenas recentemente circuito baixo-leste, em referência ao mapeamento realizado pelo Centro Sapiens de
compartilhado com novas instituições vizinhas, como o Museu da Escola Catarinense e o todos os comércios de economia criativa na região.
Museu Cidade de Florianópolis.

Figura 32 - Travessa Ratclif em 2004, já consolidada como espaço diversificado e apropriado Figura 33 - Travessa Ratclif em 2022. Exemplo de resistência e vitalidade nas últimas décadas,
por diferentes usos. Autoria de Graziela N. Monteiro. Retirada de MONTEIRO, 2004 (lista praticamente sem alterações comparada com a situação de 2004. Acervo Pessoal, ago. 2022. 24
figuras).
3.3: Diferentes Narrativas

Como exposto ao longo do trabalho, a região do Centro Leste (figura 34) tem sido
objeto de diferentes transformações nas últimas décadas, das quais as mais recentes
operam sutilmente por meio de narrativas, isto é, um modo de interpretar e promover a
realidade. São pelo menos três narrativas principais, que atendem a interesses que ora
convergem num mesmo projeto, ora seguem caminhos distintos, mas sempre
relacionados ao mesmo recorte territorial - o Centro Leste.

A primeira dessas narrativas parte dos proprietários e comerciantes, que


defendem que a região que por anos teve no comércio e prestação de serviços sua
principal vocação, precisa ser requalificada visando restaurar a antiga dinâmica de área
comercial. Para este grupo, cabe ao poder público a responsabilidade de desenvolver
estratégias que fomentem a circulação de pessoas nas ruas da região. Da parte da
prefeitura, pelo menos desde 2008, se estuda meios de transformar fisicamente o
espaço, com intuito de fomentar a presença e circulação de pedestres. Embora a fiação
subterrânea e nivelamento dos calçamentos jamais tenha sido implementados,
houveram outras medidas que de fato se concretizaram, como reforma do Terminal
Cidade de Florianópolis, em 2012, a restauração da Casa de Câmara e Cadeia, de 2014 a
2018, a instalação de órgãos de atendimento ao consumidor, como o Pró Cidadão, em
2020, a inauguração do Museu da cidade de Florianópolis, em 2021. Além das obras, a
prefeitura implementou em 2013 o projeto Viva a Noite, focado nos bares da região, e o
Projeto Viva Cidade, que promoveu a realização de feiras culturais nas ruas João Pinto e
Nunes Machado. Apesar do sucesso de tais iniciativas, nenhum dos projetos trouxe
resultados efetivos a longo prazo, de modo que a tendência de esvaziamento se
confirmou, resultando em pontos comerciais desvalorizados e proprietários insatisfeitos,
porém acomodados. Para essa narrativa, o Centro Leste ainda possui a vocação de centro
comercial, e está abandonado e degradado por ausência de intervenções na estrutura
física, e não pela ausência de outros usos, como moradia.

A segunda narrativa parte da iniciativa privada, que percebe a inoperância dos


proprietários em explorar outras potencialidades que não apenas o comércio, e propõe
que a região se especialize em atividades ligadas à indústria criativa, a inovação e
tecnologia, por meio de incubadoras, startups, co-creations, enfim, espaços voltados ao
fomento de novas idéias e negócios e que trabalham em rede. Essa proposta nasce da
experiência de outras cidades internacionais, que aplicaram a fórmula para revitalizar
antigas zonas urbanas degradadas. O embrião do projeto foi a instalação da incubadora
Sapiens Centro, dentro do museu da Escola Catarinense, por meio de uma parceria entre
iniciativa privada e poder público. Dentro dos objetivos do projeto, estava a requalificação
da região central por meio da economia criativa e seus desdobramentos, como a questão
de moradia, alimentação e principalmente, cultura. É importante frisar que de certa
forma a iniciativa surge após o esgotamento das primeiras iniciativas da prefeitura e dos
comerciantes locais de reativar a economia apenas pelo caráter cultural e boêmio da
região.

A proposta foi inovadora ao trazer para a discussão a possibilidade de novos usos


para a área central, incluindo moradia, tal qual ocorre nas cidades internacionais
utilizadas como modelo, como Barcelona, Medellín e Londres. No entanto, a transposição
de tais idéias não levou em conta a singularidade da região central, que apesar de possuir
algumas semelhanças com tais referências quanto a desvalorização e degradação de
áreas históricas e culturais, possui uma escala incomparavelmente menor, e dinâmicas
Figura 34 - Edifício Sede da Liga Operária Beneficente. No prédio funciona até hoje o salão
de dominó, e já abrigou uma biblioteca voltada à classe trabalhadora. Acervo Pessoal, ago.
constitutivas diferentes. 2022.
25
Enquanto nos exemplos internacionais as áreas objeto de intervenção possuíam Nos anos seguintes, por meio de uma emenda à lei de 2015, o perímetro do
um passado ligado a atividades já superadas, e muitas vezes estavam efetivamente Centro Sapiens é ampliado para oeste e norte da Praça XV, se desvinculando do recorte
abandonadas, em Florianópolis havia um centro com grande vitalidade, longe de estar original restrito ao Centro Leste. Esse respaldo do poder público foi confirmado em 2020
abandonado. Desse modo, as ideias de transposição do modelo estranjeiro ficaram através da lei que autoriza o executivo municipal a
restritas à utilização de prédios públicos para coworking, e quanto a moradia não
puderam ser efetivamente aplicadas, principalmente pela inanição dos proprietários dos conceder incentivos fiscais às empresas de economia criativa
imóveis que não compraram a ideia. enquadradas como startup ou empresas de inovação instaladas no
perímetro alvo do programa de desenvolvimento
Diante das limitações em relação aos proprietários, o projeto do Centro Sapiens econômico-tecnológico territorial Centro Sapiens, delimitado pelas
encontrou no poder público um parceiro na promoção da visão do Centro Leste como vias rua Trajano à avenida Hercílio Luz e a rua Artista Bittencourt ao
um distrito criativo, através de projetos oficiais que concediam incentivos à instalação de terminal Urbano Cidade de Florianópolis, no município de
empreendimentos voltados à economia criativa na região. Em sua primeira versão, a Florianópolis. (FLORIANÓPOLIS, 2020)
proposta denominada Sapiens Miramar previa
A efetiva participação dos comerciantes locais se dá em 2020 por intermédio da
transformar o lado Leste do Centro da Capital , nas imediações praça XV de CDL em parceria com a Associação Floripa Amanhã, com o projeto “Distrito 48”, que
Novembro, abrangendo oito ruas, em uma área de inovação. Todas serão integra a iniciativa da prefeitura. A partir de então a pressão pela revitalização da região
revitalizadas e, em parceria com a Celesc, o cabeamento da área passará a leste é impulsionada pela nas três frentes: comerciantes, prefeitura e mídia. Nessa
ser subterrâneo. Na região, empresas que investem em tecnologia serão narrativa, tanto os anseios dos comerciantes por intervenções na estrutura física como
isentas (PREFEITURA, 2015) os desejáveis incentivos do poder público para efetivação do projeto do distrito criativo,
concentram o foco na situação de abandono e degradação existente, que justificaria a
Ainda em 2015, o projeto passou a ser chamado oficialmente de Centro Sapiens, e adoção de medidas mais radicais, como a remodelação dos paralelepípedos, por
foi formalmente delimitado como sendo a poligonal Praça XV, Rua Antônio Luz, Rua exemplo.
Fernando Machado e Av. Hercílio Luz (figura 35).
A terceira narrativa não se constitui de um grupo bem definido, pelo contrário,
representa atores sociais a princípio dissonantes, mas que se unem em oposição ao
projeto hegemônico de revitalização do Centro Leste. São movimentos sociais que
atuam na área, como o Instituto Arco-Íris, profissionais liberais como arquitetos,
jornalistas, advogados, entre outros; além de artistas, comerciantes, moradores, enfim,
os atores sociais. Apesar de não haver um consenso sobre qual seria o projeto para a
região, há concordância sobre a necessidade de se fazer uma reflexão crítica aos
projetos oficiais, que via de regra ignoram as dinâmicas históricas, econômicas, sociais e
culturais que permeiam as ruas do Centro Leste e não são ouvidas nem contempladas
pelas iniciativas que visam a revitalização da área.

Nos últimos anos o grupo se fortaleceu em decorrência das tentativas de


intervenções descabidas em elementos considerados até então intocáveis, como os
paralelepípedos, que são protegidos por lei desde 1990. Tal fato proporcionou uma
maior integração entre os atores sociais, que passaram a propor reflexões mais
integradas sobre qual seria a vocação da região, em contraponto à narrativa comercial e
tecnológica. Questões como moradia, permanência, diversidade e cultura passaram a
ser pontos comuns nos debates e críticas feitas desde então. Um dos grupos mais
atuantes nesse sentido é o movimento Viva Centro Leste, formado a partir de 2020 e
que foi decisivo na manutenção dos paralelepípedos históricos da região, não só do
Centro Leste, mas da própria Praça XV de Novembro.

Entre as principais características da narrativa dos atores sociais, além da postura


de luta e resistência, está a defesa de que a área reivindicada pelo projeto do Distrito
Criativo possui uma vitalidade própria, que perpassa valores de mercado, e se aproxima
de questões de identidade, pertencimento, memória e resistência. A existência de tal
contraponto é fundamental para a construção de um projeto comum para a região.
Figura 35 - Mapa de lançamento do Sapiens Miramar, posteriormente Centro Sapiens. Por fim, existem ainda as narrativas apresentadas pelas grandes mídias, como
jornais, que nem sempre estão comprometidas com a neutralidade, mas que via de
Atualmente a poligonal compreende o largo da Alfândega, seguindo pela rua Trajano até
a Artista Bittencourt, com fechamento da Av. Hercílio Luz. Antes denominado Distrito
Criativo, foi rebatizado pela CDL de Distrito 48. Retirado de: FLORIANÓPOLIS, 2015 regra estão alinhadas aos interesses do setor privado e do poder público (figura 36).
(lista figuras).
26
Figura 36 - Colagem com pequena amostra de diversas manchetes veiculadas na imprensa entre 2018 e 2022, e os principais discursos veiculados (lista figuras). 27
3.4: Outras Visões intervenção, como mapas de usos e ocupação.
Nesse sentido, os materiais mapeados em
diferentes tempos permitem leituras bastante
interessantes acerca dessa porção da cidade,
Em contraposição aos projetos oficiais capitaneados pelo poder público e aqueles em especial sobre seus usos e a evolução. Não
encabeçados pela iniciativa privada, há as alternativas elaboradas como exercício de coube ao trabalho elaborar tais análises, mas
projeto pelos novos arquitetos e urbanistas em seus trabalhos finais de graduação. sim a intenção de mapear parcialmente a
Nestas propostas, onde os acadêmicos exercitam seu olhar e interpretação sobre uma existência de tais estudos.
realidade na qual propõem uma intervenção, a principal característica é a liberdade
propositiva, motivo pelo qual chama atenção a variedade de possibilidades e alternativas Se o poder público insiste em projetos
percebidas e apontadas para o Centro Leste. que promovam um tipo de dinâmica urbana
que por anos existiu na região, calcada apenas
Considerando que são trabalhos de conclusão de curso, e representam o preparo na circulação de pessoas e no consequente
dos novos profissionais, não deixa de ser relevante uma breve análise sobre essas visões movimento necessário a manter uma zona
distintas, que são tão plurais e representativas quanto o próprio Centro Leste. Foram comercial ativa, as proposições dos novos arqui- Figura 38 - Resgate e valorização dos
cinemas de rua e da produção
localizados 27 trabalhos que se relacionam com o setor leste, produzidos pelos tetos vão na contramão. Percebem o potencial audiovisual local. Autor do projeto:
concluintes dos cursos de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa da região para moradia, para permanência, e Arquiteto Lucas Luciani da Silva.
Catarina - UFSC e da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, no recorte de 2004 para outros usos que não os ligados apenas ao Retirado de: LUCIANI DA SILVA, 2021
(lista figuras).
a 2022. A relação com os trabalhos mapeados encontra-se no Apêndice 02, organizado e movimento comercial. Projetos de novos edifíci-
disponibilizado com intuito de subsidiar novas abordagens sobre a região. Trata-se de os voltados a outros perfis de moradores, como migrantes, jovens nômades, população
uma amostra, que não teve objetivo de esgotar todos os materiais produzidos no em situação de rua, por exemplo, evidenciam também uma diversidade social que é
período, tanto de outras instituições como de outros acadêmicos que por ventura não muito expressiva na região, e que costuma ficar de fora dos projetos oficiais. No
tiveram seus trabalhos mapeados. São materiais que transitam entre as categorias de entanto, embora alguns projetos percebam um potencial da região como lugar de
projeto arquitetônico, projeto urbanístico e ensaios, que não são excludentes entre si, permanência e vivência, e não apenas de transitoriedade e relações comerciais, poucos
mas complementares. trabalhos são propositivos enquanto arquiteturas voltadas à habitação (figura 37), como
moradia multifamiliar, compartilhada, ou mesmo unifamiliares.
Os trabalhos, de modo geral, partem de uma mesma análise inicial que reconstrói
o histórico da região, e a partir de um fio condutor, que é o tema, se desenvolvem de Nessa mesma linha de permanência e fruição, pelo menos dez trabalhos
formas completamente diferentes, produzindo análises e interpretações distintas, que exploram o potencial do Centro Leste como espaço público, propondo uma
por sua vez reconhecem diferentes atores, potencialidades, problemas e soluções. Na extrapolação da rua, seja pela qualificação por meio de mobiliário urbano, pela
amostra mapeada, quantos as proposições arquitetônicas e urbanísticas, predominam integração entre espaços atualmente cercados e mal utilizados, como pela proposição
algumas linhas principais: usos relacionados às dinâmicas culturais em suas mais diversas de estruturas que dialogam com o ambiente construído, com passarelas e coberturas,
manifestações (figura 37), usos voltados a pessoas em situação de vulnerabilidade social, por exemplo. A valorização da pavimentação histórica é visível na maioria dos trabalhos
usos do próprio espaço urbano, como a fruição da rua, e também, alguns poucos usos sobre a região.
relacionados ao universo do trabalho, da moradia, da educação e da indústria criativa e
tecnológica. Em relação à questão da memória coletiva, o universo amostral é bastante
diverso, recebendo diferentes tipos de tratamento de acordo com a natureza do
Cabe destacar que entre as ferramentas usuais de diagnóstico e levantamento de trabalho, se destacando naturalmente nos trabalhos teóricos que se aprofundam na
diretrizes, os futuros arquitetos se utilizam de estudos que visam caracterizar o sítio da caracterização histórico-social, as quais são constantemente problematizadas. Porém
em relação aos trabalhos propositivos, chama atenção que vários utilizam os mesmos
terrenos, em especial os subutilizados, como o da antiga padaria Moritz e do antigo 5º
Distrito Naval, mas cujos levantamentos históricos ignoram tais informações, tais
camadas de memória. Tais informações coexistem aos terrenos, porém desconectadas.
São propostas que apesar de partirem de uma leitura da situação atual demonstram
não ter vínculo com o histórico, o que acaba por potencializar indiretamente um
processo de apagamento das memórias existentes,e recentes na trama social.

Por fim, enquanto alguns trabalhos apontam para novos horizontes de


apropriação e valorização do espaço urbano ou resgatam aspectos de memória e
sociabilidade da região, outros se apropriam superficialmente desses mesmos aspectos
e os utilizam a favor de propostas que se balizam pragmaticamente dentro dos limites
da legislação, e demonstram uma falta de sensibilidade em relação ao tecido histórico
colonial e a escala da região. Tal constatação permite validar a diversidade de leituras e
Figura 37 - Outros projetos para o centro leste: Moradia estudantil, moradia transitória propostas para uma mesma região em disputa.
(hostel) e habitação de interesse social. Autor do projeto: Arquiteto Marcelo Carlos Monteiro.
Retirado de: MONTEIRO, 2016 (lista figuras). 28
3.5: Um Centro abandonado?

Enquanto nenhum projeto se sobressai como comum a todos os interessados, o


centro é vendido como abandonado. A narrativa de que o centro está abandonado não se
justifica, a não ser que os parâmetros de vitalidade utilizados sejam os mesmos que
tornaram essa área pulsante nos últimos séculos, quando era uma das raras partes
urbanizadas e centrais de toda a região da Grande Florianópolis. Percebe-se que há um
certo comodismo dos proprietários dos imóveis dessa região em apostar todas as fichas
de que a vocação da área continua sendo a mesma dos períodos históricos anteriores, se
fechando para outros potenciais que não os comerciais. O aspecto de abandono se dá
pela presença da especulação imobiliária, ou melhor, o efetivo abandono foi
desencadeado por essa postura, pois enquanto a região ainda possuía certa vitalidade, os
proprietários dos imóveis vagos se limitaram a ofertar suas propriedades dentro dos
mesmos padrões já existente: salas comerciais e depósitos. Não perceberam que estava
em curso um gradual processo de descentralização não só do Centro Leste, mas de todas
as centralidades. Ao passo que a mudança do terminal de ônibus, a desativação do
Palácio do Governo, o fechamento da Escola Antonieta de Barros, a transferência da
Faculdade de Educação ocorreram na primeira década dos anos 2000, as cidades da
região metropolitana se consolidaram com centralidades próprias, bem como ocorreu a
formação de centralidades nos bairros de Florianópolis, em especial das regiões norte,
Leste e Sul; sem falar do fenômeno crescente das vendas online e da internet.

Assim, pressupor que o centro esteja abandonado por falta de movimento de


pedestres é insistir em uma lógica que migrou para os shoppings centers, onde um
grande fluxo de transeuntes é forçado a percorrer circuitos fechados e eventualmente ter
sua atenção captada para uma vitrine. Tanto a infraestrutura do Centro Leste como as
edificações não atendem mais a essa lógica. O perfil do frequentador do centro ainda
está em construção, mas sabe-se que são pessoas em busca de experiências
diferenciadas, de encontro e vivência com a cidade, que valorizam a história local, seus
atores e elementos constitutivos. Esse novo público muitas vezes tem interesse inclusive
em vivenciar integralmente a experiência da urbanidade proporcionada pelo centro,
porém a região não oferece muitas opções de moradia. Ao passo que existem inúmeros
imóveis ociosos na região, porém não preparados para receber moradores. Seria
necessário unir boa arquitetura, proprietários proativos, além de incentivos por parte do
poder público, como linhas de crédito ou mesmo assessoria técnica, para que esses
imóveis se adaptassem a outros usos mais benéficos e apropriados, como moradias.

Após a pandemia o processo de esvaziamento dessa porção da cidade ficou ainda


mais acelerado, e atualmente há pelo menos muitos imóveis térreos e sobrelojas vazios à
venda ou para alugar (figura 39). Iniciou-se um processo de desvalorização, seguido de
uma crescente oferta de espaços, que dificilmente seriam colocados a venda antes. é um
momento de inflexão, pois ao mesmo tempo estão dadas as chances de reverter esse
quadro, adquirindo os imóveis e transformando-os em residências.

a.ban.do.no - substantivo masculino. ato pelo qual uma pessoa


renuncia a um direito, um bem, etc.; renúncia; desistência; cessão;
(Meu Dicionario.Org, 2022)

Pelo contrário, o Centro Leste e seus imóveis não foram renunciados pelos proprie-
tários, mas sim estão fechados e disponíveis ao mercado imobiliário (figura 40). Há
inclusive diferentes projetos para essas construções. O Centro Leste está longe de estar Figura 39 - Imóvel histórico que no passado recente abrigou dois comércios e atualmente está
abandonado, está em disputa! com ambos andares desocupados, estando integralmente à venda (figura 39).Acervo Pessoal, ago.
2022. 29
Tiradentes, nº 201
João Pinto esq. , 213 e Victor
Nunes Machado - Meirelles, nº 216 -
Wersten Telégrafo Confeitaria Moritz
Imóvel P2

João Pinto,
nº 211 e 215 João Pinto,
nº 153

Tiradentes, nº 181
- Sociedade Amor
João Pinto, Á Arte
nº 145 Imóvel P2

João Pinto, nº 90 e
Antônio Luz, s/n.

Tiradentes,
nº 92 e 98
Imóvel P2

Figura 40 - Colagem com diversos anúncios de venda e locação de imóveis da região central, em especial das ruas João Pinto e Tiradentes, registrados em 09/09/2022. Fonte: Elaboração própria a partir da 30
plataforma de anúncios online OLX (lista figuras).
3.6: Diagnóstico Comum No entanto, existe um valor agregado que é justamente a localização, a ambiência,
que é irreproduzível. Então não se trata de abandono, mas sim da falta de visão e
inoperância dos proprietários e do mercado imobiliário, que não explora a moradia na
região. Face a isso, possibilidades seriam a prefeitura justamente incentivar esses outros
Como pode ser observado, essa região desempenhou diferentes funções ao longo usos, para que os proprietários abram a mente para essas novas destinações e usos. O
do desenvolvimento da cidade, sofrendo mutações e se adaptando (figura 41). A primeira Centro Sapiens foi uma dessas iniciativas oficiais, porém ocorreu descolada da
delas foi o declínio da função de posto militar para capital da província, quando a cidade participação social dos demais atores sociais que compõem a região.
passa a crescer na direção oeste. No início do século XX, foram as obras de cunho
sanitarista que alteraram as formas de ocupação, e no final desse mesmo século foi o Enquanto não emerge uma nova realidade promovida pelo estado, a população
aterro que desencadeou a maior mutação das dinâmicas historicamente consolidadas. deve assumir o protagonismo, principalmente num cenário de disputas de narrativas,
Por fim, na primeira década do século XXI ocorreram novas alterações, não tão drásticas como tem ocorrido no Centro Leste de Florianópolis. Assim, num cenário de limitações
como o aterro, mas que por serem ainda muito recentes são apontadas como as das políticas públicas de preservação do patrimônio cultural, como ausência de educação,
motivadoras da presente crise de identidade dessa parte da cidade. proteção, promoção e valorização, de revisão de abordagens de escala urbana e de
conflitos de narrativas e projetos, os patrimônios menores e seus atores ficam sujeitos ao
O processo de disputas das visões sobre a região denominada Centro Leste, no apagamento e invisibilização. Nesse sentido, a valorização e identificação desses lugares
centro histórico de Florianópolis, é resultado de um lento processo de transformação que de memória não turística, mas ligada ao universo do trabalho e do cotidiano, são
se inicia nos anos 2000, e se intensifica a partir de 2010, mas cuja visibilidade passa a ser essenciais para a resistência e manutenção da alma do Centro Leste.
maior em 2015. Ao longo desse período a região deixa de ser parte do centro histórico e
passa a ter uma identidade própria, destacada em relação ao centro histórico
fundacional.

Por meio desse contexto singular, que o Centro Leste passou a primeira década do
século XXI em dormência, e foi sem a efetividade de um novo projeto social para a região,
que a partir de 2010 passou a ser percebido como um território em aberto, com forte
vocação cultural. A presença do Museu da Escola Catarinense, criado em 2007, passou a
ser um fator atrativo na região apenas após 2013, quando sediou um evento de
arquitetura, que além de renovar fisicamente o prédio, trouxe grande visibilidade para as
ruas esquecidas do Centro Leste. A partir de então, tanto poder público, como iniciativa
privada se voltaram com grande interesse para essa região, apresentando inúmeros
projetos voltados a desenvolver o caráter cultural da área, bem como introduzir a
economia criativa, como principal alternativa para o esvaziamento comercial. Essas
iniciativas, como criação de incentivos fiscais para instalação de startups, promoção de
feiras e eventos voltados à cultura e a boemia, têm sido amplamente veiculados como
principal alternativa para revitalizar o fluxo de pedestres.

Apesar de tais projetos encontrarem amplo apoio de comerciantes e proprietários


locais, há indícios de que nem todos os atores sociais da região são ouvidos, em especial
os movimentos sociais e comerciantes locatários, que estão na região desde antes da
chegada das ideias voltadas à requalificação. As ações de requalificação amplamente
difundidas pelo poder público e iniciativa privada na verdade são pensadas como
revitalização, no sentido de não reconhecer as preexistências sociais e culturais que não
se enquadrem no projeto de distrito criativo. A principal crítica que se faz a tentativa de
revitalizar a região sem a ampla participação de todos os atores envolvidos, é que uma
vez iniciado o processo de revalorização, haverá uma gradativa alteração nas condições
que permitiram a formação da identidade local, como aumento de preços dos aluguéis e
expulsão de negócios e moradores mais antigos.

O problema se dá por conta dos detentores da propriedade, que ainda esperam


um mesmo tipo de público, ou pelo menos demoraram a aceitar a mudança do caráter
da região, que foi brutalmente acelerada pela Pandemia de Covid 19 em 2020. Não se
abrem para outros usos, como moradia, pois esperam que a região volte a ter uma
relevância comercial pois os aluguéis desa categoria costuma ter uma valorização muito
superior, que não seria obtida por aluguéis residenciais, pois a maioria dos prédios são Figura 41 - Centro Leste destacado, segundo a delimitação mais comum, restrita a malha
antigos e precisam de reformas para competirem com outros mais novos e confortáveis. fundacional leste. Autoria: Marcelo Carlos Monteiro. Retirado de: MONTEIRO, 2016 (lista
figuras). 31
3.7: Delimitação do Recorte Ao longo do processo de pesquisa, desde a fase de mobilização de referências e de
trabalhos anteriores sobre a área, ficou evidente que havia algo ainda não explicitado,
Historicamente, os adjetivos de orientação cardinal associados à toponímia de mas latente, sobre como diferentes agentes caracterizam a porção territorial do centro
Florianópolis ficaram restritos aos extremos da ilha: norte e sul, e eventualmente leste histórico de Florianópolis, localizada a leste da Praça XV de Novembro, núcleo fundacional
para se referir principalmente à região das praias oceânicas. Considerando que a oeste se da cidade. São inúmeros os termos empregados para se referir a mesma porção de terra,
localiza o continente fronteiriço, com quem a ilha mantém relações consolidadas há pelo variando sutilmente de acordo com o tempo e objetivo do trabalho ou notícia.
menos 270 anos, o adjetivo raramente foi utilizado para se referir a uma região. Entre as Centro Leste, Setor Leste, Setor Criativo, Centro Histórico Leste, Leste da Praça XV,
duas porções de terra, as baías norte e sul imperam como principais referenciais Porção Leste, Pedreira, Distrito criativo, Ala Leste, Área Leste, Lado Leste, Trecho Leste...
relacionadas aos pontos cardinais. são muitas as variações com que a mesma região tem sido referenciada na última
Assim, até bem pouco tempo, o adjetivo leste era empregado apenas para se década, algumas apenas variações da mesma idéia, porém outras nem tão inocentes
referir pontualmente às praias banhadas pelo mar aberto, ou especificamente as praias assim.
da Lagoinha do Leste ou Prainha do Leste. No entanto, nos anos recentes, a geografia Por exemplo, quando o enfoque trata das questões históricas mais sensíveis da
ilhoa passou a empregar o termo leste para se referir a uma porção específica da cidade, região, que no passado foi objeto de intensas ações do Estado visando aplicar políticas
que em nada lembra as praias paradisíacas da cidade, mas sim, uma pequena porção do higienistas e de expulsão de parcelas significativas da população, resgata-se o nome
centro histórico e fundacional da cidade. A expressão “à leste da Praça XV” sai dos livros Bairro da Pedreira ou mais especificamente o do antigo Rio da Bulha. Para questões
de história e passa a figurar corriqueiramente nas conversas, discussões, reportagens, culturais, o termo Centro Histórico possibilita uma abordagem neutra e bastante
trabalhos acadêmicos, e até mesmo nos movimentos sociais. Compreender como resurge consolidada, enquanto as mídias preferem variações de Ala, Setor, Lado, Trecho, Porção e
o emprego do termo leste, é entender um processo em curso sobre o território urbano Área Leste. Para questões sociais contemporâneas, a expressão Centro Leste é a mais
da cidade, onde diferentes interesses e narrativas disputam uma mesma área e seu utilizada, em oposição ao Centro Sapiens, que assim como Distrito Criativo, são
futuro, a começar pelo nome. estratégias de vinculação da região com uma suposta vocação para o setor de tecnologia
Entre os moradores nativos da região da Grande Florianópolis, incluindo dos e inovação.
bairros localizados dentro da porção insular, pelo menos até os anos 2000 era comum se Não se trata de um mero detalhe linguístico, além da disputa pela nomenclatura,
referir ao centro histórico fundacional de Florianópolis como “a cidade”, em oposição ao
há uma implicação muito mais prática relacionada ao contorno considerado associado ao
restante do município de Florianópolis e da região metropolitana. A expressão “ir ao
centro” ainda é muito usual entre os habitantes locais quando desejam se referir a porção termo. Diferentes trabalhos consideram variados recortes urbanos como sendo a referida
do centro histórico, em especial as ruas de comércio popular, não havendo distinção “área leste”, resultando em leituras e interpretações bastante divergentes. Por exemplo,
entre Centro Leste ou oeste. De certo modo, o centro é compreendido como um todo trabalhos que consideram o famoso “paredão da Hercílio”, um dos conjuntos de
abstrato, sendo o espaço entre os pontos de referência que balizam os percursos nessa habitação mais densos de toda cidade, resultam em análises que caracterizam a área
zona comercial. como possuidora de um alto índice de moradias, enquanto outras que deixam essa
pequena quadra de fora, resultam em um recorte predominantemente comercial e
institucional, praticamente sem moradias. Da mesma forma, quando considerada a
porção da rua General Bitencourt, a caracterização de moradias do tipo residência
unifamiliar se sobressai, quando praticamente não há mais nenhuma na porção restrita
ao polígono definido pela Praça XV, Rua Antônio Luz, Rua Fernando Machado e Av.
Hercílio Luz. São inúmeras as variáveis que se alteram de acordo com o contorno
considerado e os resultados obtidos.

Figura 42 - Planta da cidade de Florianópolis, em 1910. Arquivo Público de Santa Catarina. Figura 43 - Amostra de diferentes poligonais para o centro leste, retiradas dos trabalhos
Adaptado pelo autor (recortada). Retirado de: VEIGA, 2019 (lista figuras). acadêmicos analisados. Fonte: Elaboração própria. 32
Entende-se que essa problematização seja essencial para uma discussão sobre Este é um dos motivos pelos quais o trecho final da rua Fernando Machado é incluído no
essa porção da cidade, pois os recortes tendem a ser mobilizados de acordo com os recorte estudado pelo presente trabalho (figura 46).
interesses sobre a região, sobre seus atores, suas potencialidades e carências. Não coube
no trabalho levantar e analisar todas as interpretações quanto ao termo empregado e ao A delimitação do recorte para o desenvolvimento do trabalho vai considerar a rua
recorte territorial, mas sim questionar a ênfase com que a poligonal é reduzida as ruas do Fernando Machado em toda sua extensão original, tendo o Instituto Estadual de
centro fundacional, que desde a década de 1920 suplantou a barreira natural do Rio da Educação como fronteira. Ao mesmo tempo reconhece a rua General Bittencourt como
Bulha e se consolidou tendo o Campo do Manejo como limite leste, e mais tarde a eixo estruturante do Centro Leste, parte indissociável da sua formação e consolidação
Avenida Mauro Ramos (figuras 44 e 45). Com a expulsão das camadas mais pobres da (figura 47). Desse modo, o recorte não leva em conta apenas aspectos da malha
região saneada do Rio da Bulha, que foram impelidas a se instalarem no morro limítrofe, fundacional, tão bem representada pelas ruas João Pinto, Tiradentes, Victor Meirelles e
a Av. Mauro Ramos passa a ser a fronteira do centro elitizado, como pode ser percebido suas transversais, mas também a malha expandida e consolidada, que se consolida ao
pela própria arquitetura remanescente das ruas Fernando Machado, Anita Garibaldi e longo do século XX e se mantém.
General Bittencourt. Questionar a poligonal do Centro Leste restrito ao centro fundacional e reconhecer
suas costuras imediatas é questionar também as leituras e discursos hegemônicos que
insistem em apresentar o Centro Leste apenas com vocação cultural.

Figura 44 - Planta da Cidade do Desterro Figura 45 - Foto Aérea da região central,


em 1876. Adaptado pelo autor. Disponível em 1938. Acervo do Instituto de Figura 46 - Vista panorâmica da cidade, em 1915. Poligonal do centro leste considerada no
em: Fortalezas.org (lista figuras). Planejamento Urbano de Florianópolis. trabalho destacada em rosa. Registro de José Ruhland. Retirado de: DAMIÃO, 2016 (lista figuras)
Retirado de: IPHAN, 2018 (lista figuras).

Um dos problemas principais de pensar o Centro Leste tão delimitado, restrito à


malha colonial das Ruas João Pinto, Tiradentes, Victor Meirelles, e suas transversais
Saldanha Marinho, Nunes Machado e Travessa Ratclif é que ele continua como algo
isolado da cidade, tal qual na primeira fase da cidade colonial (figura 43). O recorte mais
consolidado está equivocado ao promover a ideia de que a Av. Hercílio Luz continua
sendo uma barreira, pois desconsidera as relações e dinâmicas históricas que se
operaram a partir do início do séc. XX, como o espraiamento em direção aos morros e a
rua General Bitencourt como eixo de expansão, sendo que a Av. Hercílio Luz não é uma
fronteira, é uma costura.

Pensar que o Centro Leste possui atributos únicos e não se integra ao restante da
cidade pode ser muito problemático, pois justamente reforça que ele não está integrado,
quando de fato está, em especial as ruas General Bittencourt, Fernando Machado e Anita
Garibaldi. Um dos pontos mais críticos dessa fronteira imaginária atribuída à Av. Hercílio
Luz é a promoção de que não há moradias no Centro Leste, de que é constituído apenas
de imóveis comerciais e institucionais, de que não é um endereço residencial,.
Figura 47 - Localização do setor leste no Centro histórico de Florianópolis, e poligonal do
recorte considerado no trabalho como sendo o Centro Leste, em lilás. Fonte: Elaboração própria.
33
.L.

.M.

.K.
A
B .J.
C
D
E F G
H

Figura 48 - Vista Aérea da região central na década de 1960,com o perímetro do centro leste, considerado para o recorte, em destaque. Em primeiro plano,a linha do mar, que corresponde a atual Rua Antônio Luz.
Pontos de interesse: A: Estação Elevatória (castelinho); B: Escritório IBGE em Santa Catarina; C: Terreno onde foi construído o edifício da Secretaria Estadual de Educação na déc. 1970; D: Western Telegraph;
E: Cine Imperial; F: Clube de Regatas Aldo Luz; G: Oscar Hotel; H: Clube Náutico Francisco Martinelli (sede de 1935); I: Forte Santa Bárbara, ocupado pela Capitania dos Portos; J: Fábrica de Balas e Confeitaria
Moritz; K: Instituto Arco-Íris; L: 5º Distrito Naval - Marinha do Brasil; M: Edifício Liga Operária Beneficente. Elaboração própria a partir de original do acervo da Casa da Memória de Florianópolis, coleção
Aéreas.
34
3.8: Patrimônios Oficiais do Recorte Além dos imóveis individuais, a região leste possui protegidas integralmente as
ruas João Pinto e Tiradentes, além da Travessa Ratclif. Parcialmente estão tombados
Existem três esferas de tombamento institucionalizadas no Brasil que trechos das ruas Victor Meirelles e Saldanha Marinho. O reconhecimento via legislação
correspondem aos três níveis de poder: municipal, estadual e federal. No caso de desse patrimônio ocorreu em 1990, como resposta à exclusão dos imóveis que foram
Florianópolis, são respectivamente: SEPHAN, FCC e IPHAN. excluídos da proteção dos conjuntos tombados em 1986.

Bens com Tombamento Federal - IPHAN: Dos 10 bens materiais protegidos na Quanto ao patrimônio imaterial, o município conta com iniciativas de registro e
cidade de Florianópolis, 3 estão compreendidos no recorte do Centro Leste: reconhecimento, porém nenhuma especificamente territorializada na área considerada
pelo recorte. Apesar da existência da Política Cultural Locais da Memória, sancionada em
-Casa de Victor Meirelles, categoria material: imóvel, 1950; 2009, não foi identificada nenhuma ação correlata na região central.

-Forte Santa Bárbara, categoria material: imóvel, 1984; Com objetivo de visualizar a espacialização dos patrimônios oficiais do recorte, isto
é, aqueles alvo de políticas e legislações públicas, foi produzido um mapa relativo ao
-Obra pictórica: Vista da baía sul do Desterro, tirada do adro da Igreja do Rosário e perímetro em estudo (figura 49).
São Benedito, de Victor Meirelles, categoria material: móvel, 1986;

Em relação ao Patrimônio Imaterial, o IPHAN realizou até o momento o registro de


apenas uma manifestação local, que se soma ao registro da Roda de Capoeira e o Ofício
dos Mestres de Capoeira, presentes em todo o território brasileiro. Trata-se da Procissão
do Senhor dos Passos, registrada em 2018.

Bens com Tombamento Estadual - FCC: Dos 21 tombamentos estaduais realizados


em Florianópolis, 03 estão no recorte do Centro Leste:

- Estação de Elevação Mecânica - P.T. nº: 008/86

- Antiga Escola Normal Catarinense- P.T. nº: 013/92

- Antigo Instituto Politécnico - P.T. nº: 014/92

Em relação ao Patrimônio Imaterial, são pelo menos três registros já realizados na


cidade, incluindo a Procissão Sr. dos Passos, considerada patrimônio cultural imaterial
catarinense, cujo primeiro registro foi realizado em 2006 e revalidado no início de 2017,
antes mesmo do IPHAN.

No momento em que o trabalho está sendo desenvolvido vigora também o


tombamento provisório da região central, da qual o recorte faz parte. Trata-se do estágio
de admissibilidade de um pedido de tombamento, que uma vez admitido, protege
provisoriamente o objeto da ação. Por se tratar de uma questão em aberto, cujos
desdobramentos ainda são desconhecidos, não será incluída como parte das proteções
efetivas e oficiais em vigor na área do recorte.

Tombamento Municipal - SEPHAN / IPUF: Das três esferas, é a que possui quantidade
mais expressiva de patrimônios sob sua tutela no município de Florianópolis. Como
explorado nos capítulos anteriores, a ação da Prefeitura Municipal através do SEPHAN foi
pioneira. No recorte territorial considerado, há atualmente 45 unidades individuais,
distribuídas entre as categorias de proteção P1, P2 e P3. As novas classificações P4 e P5
ainda não foram aplicadas na região. Os bens reconhecidos pelo IPHAN e pela FCC são
igualmente protegidos pelo SEPHAN.

Embora o conjunto de imóveis objeto da ação de proteção de 1986 fosse formado


por pelo menos mais 278 unidades, as quais foram retiradas do conjunto, desde 1997
vigora no recorte a proteção da Área de Preservação Cultural Histórica- APC 1, que atua
como um instrumento de preservação atrelado ao planejamento urbano.
Figura 49 - Legislações de proteção patrimonial vigentes em 2022, considerando as três esferas:
municipal, estadual e federal. Elaboração própria, a partir de DIAS (2005), FLORIANÓPOLIS
(2014), FLORIANÓPOLIS (1990), IPHAN (2018) e IPUF (2022);(lista figuras).
35
4.IDENTIFICAÇÃO COMO FERRAMENTA
A internet tem se mostrado uma aliada na mudança desse cenário, possibilitando
inúmeras trocas que até então eram bastante limitadas. Nesse sentido, outros atores
sociais passam a fazer essa ponte, trazer essas informações para o público, traduzi-las
em linguagem comum, como jornalistas [10], historiadores, escritores, e por que não,
arquitetos. Também é online que se dá o fenômeno mais interessante de
A cidade, enquanto artefato produzido pelo homem, é um espelho da sociedade compartilhamento de informações sobre a memória e história da cidade: os comentários
que a criou, tem a capacidade de afetar as pessoas que nela vivem, e por elas ser afetada. de leitores nas publicações. Seja em blog, site de notícias ou rede social, os comentários
Lugares simbólicos, eventos memoráveis, feitos e pessoas notáveis, muitas vezes são são atualmente um dos principais pontos de partida para a sensibilização de novos
esquecidos ou apagados, pelo simples fato de não serem lembrados, não serem atores na causa do patrimônio. Dada a natureza intangível da internet, esse rico material
apresentados a novas gerações que possam guardar essas informações e transmiti-las fica condicionado aos sites de hospedagem e aos dissabores das tecnologias, podendo
adiante. Diante da complexidade cada vez maior dessas relações entre quem produz a “sair do ar” por inúmeros motivos, de modo que tudo se perca, não resultando em algo
cidade e quem nela vive, como as dinâmicas de propriedade, a especulação imobiliária, sólido. É antes de tudo um ponto de contato, de partida, não um fim.
ausência de políticas de educação patrimonial e participação social, muito se perde.
Essas informações atingem o público de diferentes formas, sendo a internet sem
O emprego de instrumentos de identificação, como placas fixadas nas edificações, sombra de dúvida o principal meio de contato, porém junto com a facilidade de acesso,
é uma prática que culturalmente não é muito presente em nossa sociedade, ficando vem problemas como informações sem fonte e o plágio, problemas que costumam ser
restrita a iniciativas pontuais e interesses individuais. Os poucos lugares que recebem filtrados e barrados em publicações acadêmicas e comprometidas com a pesquisa
algum tipo de identificação normalmente constituem monumentos e locais de maior científica. Dessa forma, pensar na identificação como uma alternativa a maior visibilidade
simbolismo e importância, como instituições públicas e privadas. No Brasil, onde não há a dos patrimônios culturais, em especial o edificado, passa pela troca de informações, pela
cultura da publicização de informações acerca dos lugares e suas histórias, o papel de colaboração entre diferentes atores e meios, mas que fundamentalmente deve ser
placa de memória ficou restrito às placas de logradouros, que da forma como podem, canalizada para que resulte em algo tangível.
fazem a conexão entre a cidade e sua história.
Em relação à área de estudo encontramos todas essas alternativas de identificação,
A utilização de mapas e roteiros temáticos também são uma forma de identificação de modo que uma análise delas permitirá compreender se já existem iniciativas que
e valorização da cidade construída, e consequentemente, dos seus atributos culturais. Os possam se enquadrar na abordagem pretendida pelo trabalho. Para tanto serão
mapas físicos, que já foram instrumentos indispensáveis do cotidiano, perderam mapeadas as iniciativas já existentes, considerando as mais visíveis, tanto no universo
relevância e precisão com a popularização de novas ferramentas de navegação digital, online, como físico, que constituem a atual situação no contexto de estudo.
sendo ressignificados pela indústria do turismo.
Em Florianópolis encontramos todas essas alternativas de identificação, mas ainda
Cumprem com a função de orientação, porém assim, falta maior representatividade, falta aprofundamento. O vasto patrimônio cultural
também foram transformados em tem sido sistematicamente generalizado e formatado para atender aos interesses
mercadoria, não tendo mais compromisso turísticos e comerciais, em detrimento de uma história coletiva plural, diversa e viva. Por
com a função de representar com trás das construções históricas existem muitas tensões mal resolvidas, memórias não
neutralidade e mesma ordem de importância contadas, histórias apagadas. Esse hiato acaba por contribuir para a perpetuação de
todos os lugares, e com a relevância das problemas históricos e na construção de uma memória social branda e superficial, que
informações contidas (figura 50). só existe nos mapas turísticos e nas fachadas coloridas.
Na contramão desse processo de
apagamento, os inventários e levantamentos
promovidos principalmente no meio 4.1: Mapeamento de iniciativas locais
acadêmico e nos órgãos do patrimônio, fazem
o caminho inverso, e resgatam histórias, fatos
As iniciativas locais de identificação e valorização da memória coletiva são muito
e demais informações que permitem
pontuais, porém dada a dimensão reduzida da área, acabam sendo bastante
entender melhor a representatividade dos
representativas. Foram listadas seis ações realizadas nas últimas duas décadas, que
lugares e sua importância histórica. Porém
englobam tanto o poder público, a iniciativa privada, como a sociedade organizada. De
essas iniciativas tendem a ficar restritas aos
modo geral a maioria está desenhada para atender ao mercado turístico, porém algumas
fins de levantamento e diagnóstico, cerradas
ensaiam uma abordagem mais inclusiva voltada também aos moradores locais.
em arquivos e eventualmente disponibilizadas
em publicações. São informações relevantes e
verificadas, mas que não estão acessíveis, não
estão vinculadas fisicamente aos lugares os
__________
10: Velho Bruxo [Edson Luiz da Silva] mantém o blog o mais antigo, o Floripêndio, online desde 2010; Carlos
quais se referem. Damião, mantém um blog pessoal desde 2014 e Billy Culleton que mantém o Portal Floripa Centro desde
Figura 50 - Exemplo de mapa turístico.
2019.
Autoria Maurizio Di Reda, 2010 (lista
figuras).
36
4.1.1: Placas de Logradouros Públicos
contemplar não só o patrimônio histórico oficial, tombado, já consagrado e
reconhecido, mas também seus acervos museológicos, arqueológicos,
Florianópolis é a terceira cidade mais antiga do Estado, as suas ruas acumulam arquitetônicos - urbanos e rurais do centro e do interior da ilha - ruas históricas,
camadas de história que remetem a diferentes períodos e que são refletidas nos nomes fortificações e igrejas centenárias (IPUF, 2000, s.p).
dos logradouros públicos, que foram paulatinamente sendo modificados ao longo dos
anos. Enquanto iniciativa do poder público, pelo menos no centro histórico, há alguns A publicação é fartamente ilustrada com imagens antigas e atuais (todas com
anos a prefeitura tem tido o cuidado de trazer pequenas informações históricas nas referência), e os textos de cada verbete trazem informações precisas que são relevantes
placas de algumas ruas, remetendo aos antigos nomes, como se fossem notas de rodapé. tanto ao usuário da cidade como ao visitante. A leitura do guia não deixa de ser um
Estas placas possuem uma cor diferenciada, marrom, enquanto as placas comuns são convite a refletirmos sobre como a cidade foi retratada na época, o que se mantém, o
padronizadas na cor azul (figura 51 e 52). que mudou. Passados mais de 20 anos, o guia se mantém atual e necessário, porém
alguns dos lugares retratados já não existem mais da forma como foram apresentados.
Um deles é o verbete de nº 11, dedicado a Travessa Raticlif e a sua atração à época: Casa
de Artes e Exposição Metálica, ou Museu Bicaca. Trata-se do mesmo prédio onde
atualmente funciona o Instituto Arco-Íris de Direitos Humanos. Foi inclusive por meio
deste verbete, que se tomou conhecimento da existência do museu, atualmente extinto
[13]. Quanto ao recorte em estudo, há mais 7 verbetes, um número elevado
considerando que no setor oeste, que é uma área maior, tem menos de 10.

Figura 51 e 52 - Placa Marrom e Placa Azul, ambas no centro histórico. Acervo Pessoal,
registro ago. 2022 e abril 2013, respectivamente.

Considerando que os nomes de logradouros públicos costumam ser instrumentos


políticos, e frequentemente são modificados para atender a interesses, nem estes são
capazes de exercer a função de referência à memória cultural acumulada da cidade. Por
exemplo, do período imperial ao republicano, praticamente todas as ruas tiveram os
nomes alterados. Na atualidade essa prática se mantém, o tradicional Largo da Catedral
[11] foi nomeado para Largo São João Paulo II em 2014 via lei do Executivo Municipal.

Não entrou no objetivo da análise quantificar os logradouros onde a placa traz


informações históricas, mas quanto a do Largo da Catedral, a nova identificação não faz
menção ao nome anterior, demonstrando que essa prática é falha.

4.1.2: Circuito Cultural de Florianópolis

A iniciativa mais antiga e mais interessante, é ao mesmo tempo a mais


desconhecida. A sua descoberta, apenas em 2017, constitui até hoje uma grata surpresa,
dada a qualidade, profundidade e pluralidade com que retrata a área central, e no Figura 53 - Capa do guia e página referente ao verbete da Travessa Ratclif e
entanto não costuma ser citada nem retratada no meio cultural. Trata-se do guia-livreto a Casa de Artes e Exposição Metálica. Acervo Pessoal, registrada, set. 2022.

denominado Circuito Cultural de Florianópolis (figura 53), lançado em 2000, por iniciativa
da Prefeitura Municipal, na administração Angela Amin 1996 - 2004, com pesquisa, Ainda sobre a iniciativa, cabe ressaltar que apesar do olhar inclusivo sobre o
coordenação e redação da arquiteta Eliane V. da Veiga [12]. O livreto traz 92 verbetes, Centro Leste, não há nenhuma referência à parte continental da cidade, que igualmente
distribuídos em duas abordagens, uma focada no centro histórico e outra ao longo da possui locais de interesse e representatividade. Pode ter sido uma escolha editorial ou
ilha. A obra foi concebida dentro de uma visão que buscava apresentar uma visão mais mesmo uma limitação quanto ao tamanho e formato do guia, que traz um mapa incluso
abrangente do potencial cultural da cidade, onde desejava: (ANEXO 01), mas não deixa de reforçar a narrativa da “Ilha de Florianópolis”, uma
concepção formatada para promover a cidade como restrita a parte insular, e que foi
__________ amplamente explorada pela indústria turística, e está presente nos materiais produzidos
11: Corresponde ao trecho inicial da Rua Fernando Machado, fechado ao trânsito e calçado com petit-pavé
com estes fins.
em 1985. LANER, Márcia Regina Escorteganha; 2007.
12: Trata-se da mesma arquiteta que participou do Projeto Renovar em 1993 e publicou o livro referência
__________
13: O histórico do museu é explorado no verbete sobre o Instituto Arco-Íris de Direitos Humanos. O referido
Memória Urbana, também em 1993.
Instituto não é citado no guia.
37
4.1.3: Roteiro Autoguiado do Centro Histórico de Florianópolis colorido se destaca e por estar na calçada, normalmente neutra. Em um dos cantos do
mosaico fica instalado um código de QR Code gravado em uma placa de metal, a qual tem
O projeto foi encampado pela CDL Florianópolis - Câmara dos Dirigentes Lojistas, uma grande durabilidade. Paralelamente ao emprego de materiais de boa qualidade e
que entre outras atribuições defende os interesses dos comerciantes da cidade, em duração, o site desenvolvido, ao qual o código direciona, é simples e proporciona uma
parceria com o Governo do Estado, que forneceu recursos através do Funturismo (CDL, boa experiência de navegabilidade. Por fim, o fato do site estar no ar dez anos depois, e
2012). A iniciativa foi desenvolvida a partir do projeto do professor Antônio Pereira as placas em sua maioria ainda estarem conservadas, demonstra o sucesso dessa
Oliveira, na época presidente da CDL, e que além de atuar profissionalmente no mercado fórmula.
de turismo da cidade desde a década de 1960, possui uma sólida formação acadêmica na
área, segundo IGOR (2022).

A iniciativa possui semelhanças com o projeto do Circuito Cultural, como a escolha


de lugares de valor cultural não muito explorados, a elaboração de um mapa e a
construção de verbetes informativos. E apesar do pouco tempo entre as duas iniciativas,
pouco mais de dez anos, o roteiro autoguiado inovou radicalmente ao explorar a
utilização de placas físicas nos locais selecionados, como a utilização de um repositório
online, para o qual as placas direcionam por meio da tecnologia de QR Code, algo ainda
incipiente na época. Outra característica que chama atenção, é a ênfase dada a
independência do usuário ao longo do percurso, que é incentivado a se auto-guiar, como
o próprio nome do projeto sugere.

No roteiro, foram identificados 25 pontos de interesse (ANEXO 02), que reúnem


“igrejas, casarios, ruas, museus, praças, monumentos - e a vida de uma cidade que se
orgulha de seu patrimônio cultural” (CDL, 2014). Entre as atrações, merecem destaque a
valorização dos espaços públicos, como as ruas, praças e jardins, que apesar de
concentrarem construções de grande valor turístico, tem uma história que muitas vezes é
mais antiga e importante do que as edificações. Apesar de predominar lugares de grande
simbolismo, como igrejas, palácios e museus, aparecem outros que normalmente passam
despercebidos, como o conjunto de sobrados oitocentistas, últimos remanescentes da
configuração colonial da praça, bem como itens dignos de nota de rodapé, como o antigo Figura 54 - Placa instalada em um dos pontos do roteiro, nos Jardins do MHSC. Fotografia de
relógio da empresa de telégrafos Western, atualmente instalado no Mercado Público. autoria de Karla Leal,2017 (lista de figuras).

Além das placas instaladas nos pontos de interesse, foi elaborado um mapa
Dos locais indicados, 5 ficam no setor leste, e já aparecem no circuito cultural de
artístico, que ao mesmo tempo que dá suporte ao roteiro, é um meio de promover o
2000, porém trazem informações diferentes. Embora não seja o objetivo aqui, em uma
projeto, tendo sido distribuído na época em diferentes pontos da cidade, como folheto
rápida comparação entre verbetes das duas iniciativas, a de 2012 não possui o mesmo
A5, dentro de uma ação integrada com os próprios locais de interesse, como museus.
cuidado com a seleção das fontes, tampouco explora o uso de imagens como a de 2000.
No lançamento do projeto em 2012, o tom que permeia a apresentação do projeto Considerando que esta mais recente se utiliza de recursos online, chama atenção a opção
foi justamente para apresentar uma visão expandida do centro da cidade, para “que o por não explorar o potencial de apresentar mais imagens e fotografias.
turista não pense que Florianópolis é só a Catedral, o Palácio Cruz e Sousa e o Mercado
Público” (CDL, 2012), nas palavras do representante da CDL.
4.1.4: Onde Está Desterro?
A iniciativa foi pioneira, e apesar de não ter sido ampliada para mais pontos,
permanece como um bom exemplo de iniciativa que levou em conta aspectos turísticos, Dos exemplos destacados, é o único que parte de uma iniciativa da sociedade civil,
históricos e econômicos, dialogando com a produção acadêmica e com os órgãos de ou melhor, de um grupo de pessoas físicas. O projeto foi idealizado por Julia Pedrollo
preservação. Houve cuidado quanto à instalação das placas, bem como ao conteúdo. Albertoni e submetido ao Edital Elisabete Anderle, edição 2017, no qual foi selecionado
Embora o projeto não apresente dados referente aos responsáveis pela execução, em primeiro lugar na categoria Educação Patrimonial, com um prêmio de R$ 15.000,00, a
possivelmente houve participação dos técnicos do SEPHAN - Serviço de Patrimônio serem aplicados no desenvolvimento do projeto. O edital de estímulo à cultura é uma
Histórico, vinculado ao IPUF - Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis. política pública do Governo Estadual realizada desde 2009, por meio da Fundação
Catarinense de Cultura - FCC. A autora e proponente é historiadora, formada pela UFSC
Um dos grandes diferenciais do projeto é a execução das placas em si (figura 54). em 2015, onde também concluiu mestrado em 2018. Sua linha de pesquisa estava
Em um quadrado de 40x40cm aproximadamente, foi confeccionado com cacos de piso voltada à história da alimentação, hábitos alimentares veiculados em revistas da década
um mosaico com a figura do Boi de Mamão. Visualmente interessante, o resultado de 1950. Além dela, participaram do projeto Augusto Pedrollo Albertoni (cientista da
computação e fotógrafo) e Isadora Machado (designer gráfica e ilustradora digital).

38
O projeto pode ser definido como um guia turístico sensível pelas histórias O site foi desenhado para dar suporte ao formato de exploração, ponto a ponto.
esquecidas e memórias coletivas do centro histórico de Florianópolis. Foi pensado em Apenas na página inicial é apresentada uma visão do todo representada em um único
três temas principais: estruturas, acontecimentos e vidas, sendo que cada tema possui ao mapa, sendo que nos verbetes apenas é mostrado o trecho seguinte. Essa opção de não
menos 7 pontos cada, totalizando 21 lugares (ANEXO 03). Cada um dos pontos possui um fornecer um mapa completo a todo instante é interessante pois dinamiza a experiência
verbete, que fica hospedado no site próprio do projeto, sendo acessado tanto pela leitura de descoberta e leva o usuário a explorar outros lugares que não necessariamente os
do QR Code como pelo site. Foram desenvolvidos panfletos tipo lambe-lambe, nos quais pontos identificados. Na verdade, os verbetes são mais sobre trechos da cidade do que
foram impressos os códigos respectivos de cada ponto do roteiro. Os códigos foram sobre edificações específicas. Os pontos servem como amarração e suporte ao percurso.
distribuídos apenas na área mapeada pela iniciativa, sendo fixados em estruturas que
fazem parte da cena urbana, como postes, muros e equipamentos urbanos (figura 55). Relativos ao Centro Leste, há pelo menos 7 percursos, que levam o usuário a
percorrer toda a extensão da Rua Antônio Luz e João Pinto, contemplando pontos
relativos aos três temas - estruturas, acontecimentos e vidas. Para análise foi escolhido o
ponto localizado defronte ao prédio do Instituto Arco-Íris de Direitos Humanos, que se
relaciona diretamente a dois percursos: o “senhoras” do roteiro “vidas” e “carnaval” do
percurso “acontecimentos”. O código lambe foi colado em 2018 no poste de iluminação
pública, e em 2022 já não existia mais (figura 56).

Figura 55 - Exemplo de utilização dos códigos, produzidos em papel colados aos postes. Foto
de Vanessa Camassola Sandre, abril de 2018 (lista de figuras). Figura 56 - Mesmo poste em maio de 2018 e janeiro de 2022. Caráter efêmero do
código. Google, ferramenta Street View.

O conteúdo de cada verbete foi construído com base em fontes e referências Sem sombra de dúvidas, esta iniciativa é a que melhor explora o patrimônio
verificadas, como livros, trabalhos científicos e fontes primárias. Ao final de cada item, são cultural da cidade enquanto testemunho de acontecimentos sociais, tensões históricas,
apresentadas as referências utilizadas, e todas as imagens possuem legendas precisas, alegrias e tristezas. Traz uma dimensão muito humana do patrimônio cultural, o
embora não indiquem a fonte. Há uma preocupação em democratizar o conhecimento problematiza, coloca em evidência. Os verbetes não têm a preocupação de promover
sem abrir mão da qualidade das informações, mas para atingir o objetivo de ser um texto uma imagem de cidade palatável ou comercializável como artigo turístico, pelo contrário,
acessível e leve, não indica no corpo do texto de onde veio cada informação, como são um convite aos usuários locais de conhecerem mais a fundo sobre seu passado,
ocorreria em um trabalho acadêmico, por exemplo. Uma das principais qualidades do sobre as vidas dos que vieram antes. É o tipo de projeto que se não fosse o caráter
material textual é a forma fluida como traduz as informações históricas, assuntos efêmero dos códigos QR Code, constituiria a principal iniciativa encontrada como
delicados e memórias coletivas. alternativa à promoção e valorização da memória social da cidade e seu patrimônio
cultural, com potencial de engajar novos atores sociais na defesa do patrimônio cultural.
Em determinado ponto do site, é explicitada a intenção de valorizar o
conhecimento científico já existente, e a origem pública de todo material
Todos os textos deste roteiro foram elaborados com base em pesquisas acadêmicas 4.1.5: Lambe-Lambe no Festival Cidades Pós-Pandemia
das universidades federais ou estaduais brasileiras feitos por outros pesquisadores
e estudantes, sejam elas teses, dissertações ou trabalhos de conclusão de curso,
disponíveis em sua maioria online. Também foram consultados livros de Constitui mais um exemplo da ação de atores sociais mobilizados horizontalmente,
historiadores, arquitetos e antropólogos, assim como dados de Acervo. Nenhum que agem de forma organizada e independente dos interesses da iniciativa privada e do
destes conteúdos é inédito em relação à pesquisa, pois já foram escritos por outros poder público. A produção e colagem dos lambe-lambes foi realizada dentro das
autores. (ALBERTONI, 2018, online)

39
atividades do Festival Cidades Pós-Pandemia, realizado entre abril e maio de 2022 sob o
4.1.6: Destinos Turísticos Inteligentes
lema “colocar no horizonte uma obra em comum”, e que teve entre outras pautas,
discutir o Centro Leste e seu papel na cidade. O evento, que foi organizado pelo
Desenvolvido pela startup Smart Tour Brasil, de Florianópolis, foi executado a
Programa de Pós-Graduação do Curso de Arquitetura da UFSC, sob coordenação do
partir de uma parceria do Sebrae com a Prefeitura Municipal, e ativado na cidade a partir
Professor Paolo Colosso, esteve sediado no Museu da Escola Catarinense, que fica no
de agosto de 2022. Constitui a iniciativa mais recente no que tange a identificação e
Centro Leste, de onde foi irradiado para o entorno. A iniciativa do evento se soma ao
promoção de locais turísticos. Antes de ser implementado na capital, o projeto da startup
Movimento Viva Centro Leste, um coletivo formado em 2020 por arquitetos, jornalistas,
passou por uma fase de validação em parceria com os municípios da rota turística “Costa
artistas, estudantes e outros atores sociais preocupados com o futuro do Centro Leste.
Verde Mar”, no litoral norte catarinense.
A ação de colagem dos cartazes na fachada da antiga Escola Antonieta de Barros
(figura 57) com estampas provocativas e reflexivas, trouxe também um código QR Code
que direciona a uma linha do tempo, que apresenta de forma interativa as principais
notícias relativas ao polêmico projeto do executivo municipal de remover os
paralelepípedos históricos. O recorte temporal trabalhado pelo site vai de fevereiro de
2020 até maio de 2022, e permite compreender o processo de resistência da sociedade
mobilizada e os momentos que marcaram o período.

A linha do tempo (ANEXO 04) foi desenvolvida e organizada por Agatha K. R.


Gonsalves, como parte de sua tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em
Administração da UFSC. Embora a colagem dos cartazes se configure como uma iniciativa
pontual, e o conteúdo do site não tenha mais sido atualizado, o fato de trazer como
objeto focal os paralelepípedos históricos do Centro Leste, que são um componente
extremamente expressivo do conjunto urbano, justifica a relevância da ação como
exemplo de iniciativa.

Figura 58 - Placa instalada no canteiro da praça, próximo aos monumentos. Retirada de: Bom
Dia SC, 2022 (lista de figuras).

O serviço funciona por meio de placas com QR Code instaladas nos locais
identificados pelo projeto, que direcionam ao conteúdo sobre o lugar. Também há o
emprego da tecnologia de georeferenciamento, que segundo a proposta, permite acessar
as informações, mas sem necessidade de escanear os códigos. Esses conteúdos seguem a
mesma ideia de verbete das iniciativas analisadas anteriormente, trazendo informações e
fotos. No entanto, a plataforma inova ao estabelecer uma parceria com um guia turístico
local [14], que garante a qualidade das informações apresentadas, e humaniza a
experiência. No verbete analisado, também existe a opção de ouvir o conteúdo na voz do
guia, necessitando porém que seja feito download e executado como arquivo de áudio.

Até o momento, são pelo menos 15 placas instaladas, segundo a reportagem da


NSC (2022), a maioria em locais de apelo turístico, sendo 5 no centro histórico - 4 no
Mercado Público - e 1 na Praça XV (figura 58), mas nenhuma delas na poligonal do Centro
Figura 57 - Aplicação dos lambe-lambe na área central da cidade, com estampas
críticas e códigos QR Code. Acervo Pessoal, registrada em maio de 2022
Leste. Ainda assim, esta iniciativa se faz relevante pela proximidade com a região, e pela
Apesar do caráter efêmero dos códigos, impressos em papel e fixados pela técnica abordagem adotada no verbete sobre a Praça XV de Novembro, que foi o único a que se
lambe-lambe, a ação deixa um legado e sinaliza para uma nova abordagem de teve acesso até o presente momento (ANEXO 05).
mobilização social. Sistematizar as informações acerca do assunto e disponibilizá-las de
__________
forma acessível é uma poderosa ferramenta de empoderamento que permite 14: Rodrigo Stüpp, mas conhecido como Guia Manezinho, tem se destacado desde 2015 pela abordagem
desconstruir a noção de complexidade de disputas que envolvem a judicialização, por irreverente e crítica que faz da história da cidade, pelo uso de expressões de linguagem conhecidas como
exemplo. Essa mesma abordagem pode ser replicada para os mais variados temas, manezinhas, pelo uso de fotografias históricas, pela profissionalização da atividade, e também pela prática
incluindo o patrimônio cultural. do “pague quanto acha que vale” ou PQQ - Pague o quanto quiser no final.

40
Além de informações bastante conhecidas, o texto do verbete possui um tom 4.3: Referências que se aproximam
crítico e resgata aspectos sociais do lugar, como o fato de ser um local que por anos foi
destinado exclusivamente para a elite. Certamente o conteúdo reflete a abordagem do Apesar de existirem boas iniciativas de identificação de patrimônios culturais na
guia, não necessariamente refletindo uma postura do APP. cidade, nenhuma atende plenamente o que se entende como ferramenta ideal para
Apesar de ser um serviço gratuito, para utilizá-lo é necessário tanto um aparelho promoção e visibilidade das memórias visando despertar novos atores sociais. As
celular conectado a internet, como a instalação de um aplicativo específico. Também é iniciativas que mais se aproximam da abordagem, tem o problema de não deixarem
necessário fazer um cadastro, exclusivamente pelo APP. Diferente de outros projetos marcas permanentes, como placas com código QR Code fixas. Já as placas mais duráveis
similares em que o código QR Code direciona para um site navegável, neste o usuário e resistentes, direcionam a conteúdos limitados e sem profundidade crítica, que não
necessita do intermédio do app, que leva a páginas estáticas, sem possibilidade de problematizam as questões do patrimônio cultural e memória.
interação e navegação. Não há opção de acessar o conteúdo do verbete se não pelo Desse modo, foram também localizadas e avaliadas outras iniciativas de referência
código ou pelo georeferenciamento, não testado até o momento. que se aproximam da abordagem pretendida e que já tenham sido executadas em outras
A iniciativa é bem vinda, porém apenas reforça a hegemonia de pontos turísticos cidades brasileiras. Foram identificados projetos recentes nas capitais Porto Alegre,
consolidados. O principal diferencial da proposta, é que além de fornecer breves Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Também foi incluída uma iniciativa realizada em
informações sobre os locais, os usuários podem interagir com a plataforma, deixar Passo Fundo - RS, como exemplo de cidade média, que exerce influência regional e possui
avaliações, e principalmente, gerar dados que poderão ser utilizados pela prefeitura. instituições universitárias consolidadas, tal qual Florianópolis
Desse modo, a questão de quem acessa esse serviço deve ser problematizada, pois caso
não haja um esforço de popularizar a ferramenta, ela tende a se restringir a um perfil
bastante reduzido da população que frequenta esses espaços. 4.3.1: Patrimônio Cultural Carioca - 2014

Certamente é uma ferramenta com muito potencial e que pode ser explorada O projeto é desenvolvido pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro através do
como aliada na identificação de lugares de memória e representatividade, mas que tem Instituto Rio Patrimônio da Humanidade - IRPH, uma autarquia criada a partir da
problemas de acessibilidade. Também há uma grave fragilidade relativa às placas, que na estrutura do órgão de patrimônio municipal (que já existia desde 1986) com objetivo de
verdade são totens de material não durável, instalados, no caso da Praça XV, em locais gerir o Sítio reconhecido pela UNESCO em 2012. O objetivo do projeto é indicar locais de
inadequados e passíveis de serem facilmente destruídos ou removidos. memória pela cidade (figura 59). Está dividido em diferentes circuitos temáticos, como:
Literatura, Rádio, Sítios Arqueológicos, Diversidade, Botequins, Samba, Bossa Nova, das
Águas, do Porto, da Herança Africana.

4.2: Síntese das iniciativas locais

Verbetes Texto amplo Código Placas Interação produção


Iniciativa sobre o crítico uso de QR Físicas entre de mapa
centro imagens Code duráveis usuários ou roteiro
online

Placas de Rua - - - - XX - -

Circuito Cultural 64 XX XX - - - XXX

Roteiro 25 X X XXX XX - XX
Autoguiado

Onde está 21 XXX XXX X - - XX


Desterro?

Viva Centro 01 XX X X - - -
Leste

Smart Tour 05 XX XX XX X - -

Quadro 02 - Quadro de análise: Um “X” para aplicável, dois “X”, para aplicável e razoável, e Figura 59 - Placa se soma à paisagem urbana como uma nota de rodapé. Retirada de: RIO,
três “X”, para aplicável e satisfatório. Do autor, 2022. 2021(lista de figuras).
41
O circuito do Rádio já foi realizado em três fases (2018, 2019 e 2020), e emprega 4.3.2: Marcas da Memória - Porto Alegre, 2015
uma metodologia de participação popular através de votação. Além disso, utiliza critérios
bem definidos, como somente homenagear “pessoas já falecidas, emissoras, empresas Promovido pelo Poder Executivo e Legislativo de Porto Alegre em parceria com o
ou locais que tenham sua história de alguma forma ligada ao Rádio” (FUNJOR, 2020). Da Movimento da Justiça e dos Direitos Humanos, o projeto é um raro exemplo de promoção
mesma forma há a preocupação com a viabilidade da instalação das placas, que são de memórias sensíveis, ligadas a violência e aos direitos humanos.
instaladas nas fachadas dos locais “definidas de acordo com a maioria dos votantes junto
a Prefeitura do Rio (IRPH) e administradores dos locais sugeridos.” (FUNJOR, 2020). O projeto Marcas da Memória visa sinalizar os locais onde
houve repressão, que tenham servido como prisões ou centros
Dentre os circuitos, merece destaque também o mais recente, dedicado à de detenção, de tortura e de desaparecimentos de pessoas
diversidade, por meio da homenagem de personalidades LGBTQIA+. Em 2021 foram durante a Ditadura Militar. Esses espaços são assinalados na
entregues as três primeiras placas do circuito (figura 59 e 60) paisagem urbana, tornando público que ali aconteceram graves
Cabaret Casanova (Avenida Mem de Sá 25, Centro), palco de violações aos direitos humanos. (JOSEFA, 2021)
apresentações de artistas emblemáticos como Madame Satã; Apesar de ser relacionado a memórias cercadas de dor e tristeza, fazem parte da
Largo da Carioca (endereço do extinto jornal “A Pátria”), em memória coletiva, e portanto da cultura local. A identificação desses locais de memória é
homenagem a João do Rio, jornalista, cronista, contista e fundamental para dar a dimensão material de histórias que muitas vezes quando
teatrólogo que completa seu centenário de morte este ano; aprendidas parecem estar perdidas no espaço-tempo, quando na verdade fazem parte
Parque do Flamengo (em frente à Rua Dois de Dezembro), em do cotidiano das pessoas, da cidade.
referência a Lota de Macedo Soares, importante arquiteta
carioca (RIO, 2021). Segundo reportagem da GZH (2015), seriam instaladas placas em 22 locais.
Atualmente existem ao menos 9 placas indicando locais relacionados ao período da
Apesar do projeto estar categorizado por circuitos temáticos distintos, existe uma repressão do período da ditadura militar 1964-1985.
unidade entre as placas. As placas possuem um padrão comum: formato circular, fundo
azul, letras brancas. Em todas aparece a logo do projeto. Embora não seja possível A instalação dessas placas não se dá sem resistências ou reações. Uma das placas
identificar o material empregado, possivelmente seja algum polímero ou até mesmo um instaladas em 2015 foi danificada pelo proprietário do imóvel onde a mesma foi instalada,
metal leve. Essa opção facilita a eventual reposição das peças, além de desencorajar que sendo que houve um acordo com a justiça (PORTELLA, 2021) que obrigou a re-instalação
sejam furtadas como material reciclado, como ocorre com placas de metais mais nobres. da placa em 2021. Trata-se de um lugar muito simbólico, tido como o primeiro centro
O formato circular confere um destaque maior a placa, e as cores padronizadas remetem clandestino de repressão de toda região do Cone Sul - Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
às antigas placas esmaltadas. Assim, o design da peça é um grande êxito. No entanto, as Paraguai e Uruguai.
placas não trazem nenhum elemento de hyperlink, como códigos QR Code, que poderiam
expandir a quantidade de informações selecionadas.

Figura 60 - Unidade entre as placas resulta em uma identidade forte: formato, diagramação, tipo
Figura 61 - Placa reinstalada em frente à casa onde funcionou clandestinamente um centro de
e tamanho de fonte, e principalmente, as cores. Retirada de: FREIRE, 2021(lista de figuras).
tortura, ligado a memória da ditadura militar. Imagem retirada de: G1, 2021(lista de figuras).
42
As placas foram confeccionadas em chapas de granito polido, com os escritos em 4.3.4: Projeto Arquivo - Curitiba, 2018
baixo relevo, destacados com a cor branca ou amarela (figura 61). Ao contrário de outras
placas que utilizam recursos digitais, como QR Code, estas são totalmente analógicas,
Constitui um exemplo de iniciativa entre instituições públicas que compartilham do
sem a possibilidade de incluir informações além do que for gravado no material. Sendo
interesse comum de promover e valorizar o patrimônio cultural edificado. O Projeto
temas complexos e merecedores de maiores informações, as placas naturalmente têm
Arquivo é desenvolvido desde 2018 por um grupo de pesquisa ligado ao curso de
limitações quanto a retratar o tema, e pecam pelo excesso de informação. Por estarem
Arquitetura e Urbanismo da UTFPR, e vem sendo implantado em parceria com a
instaladas em locais como as calçadas, têm pouco destaque entre o material e a
Prefeitura Municipal de Curitiba através do projeto Rosto da Cidade. Enquanto o primeiro
informação, e a durabilidade é comprometida considerando que as calçadas
tem enfoque nas questões de arquivo, como fotografias, plantas, desenhos e outros
eventualmente são danificadas pelos mais variados motivos.
documentos relacionados aos imóveis tombados, o segundo busca a revitalização desses
mesmos imóveis, recuperando e promovendo seu uso em parceria com os proprietários.

O projeto Arquivo tem por objetivo “produzir e sistematizar um inventário sobre o


4.3.3: Projeto Relendo Passo Fundo - 2016 Patrimônio Histórico Arquitetônico na cidade de Curitiba, tornando o conteúdo completo
das pesquisa acessível ao público.” (ARQUIVO, 2022). Em um site próprio estão
O projeto foi desenvolvido pelos acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo disponíveis cerca de 140 verbetes sobre o patrimônio edificado protegido. Cada um
da Universidade de Passo Fundo por meio do escritório modelo do curso - EMAU. Se possui fotografias antigas e atuais, levantamentos arquitetônicos, como desenhos e
configura como uma iniciativa incipiente de valorização e resgate de memórias em uma plantas, além de textos e uma ficha com as principais informações.
cidade de médio porte, que já possui legislação própria para o patrimônio histórico. No
entanto, ainda não possui uma abordagem que leve em conta o patrimônio como bem O conteúdo é acessado por meio de um código QR Code impresso em uma placa
cultural, no sentido amplo do termo. A iniciativa dos acadêmicos, em parceria com a cerâmica (azulejo ou piso), que é fixada na fachada do imóvel. Nessa mesma placa
prefeitura, constitui um bom exemplo de troca, visto que a evolução da visão de existem outras informações relativas ao projeto Rosto da Cidade, que é o responsável
patrimônio histórico para cultural exige um amadurecimento, que vem com a pesquisa e pela sua fixação e manutenção (figura 63).
a prática.
Atualmente o projeto
ocorre de forma progra-
mada, no formato evento,
de maneira guiada, com
encontros em dias agen-
dados. Em 2022 ocorreu a 9º
Edição. Através de um
percurso previamente defi-
nido, os participantes perco-
rrem as ruas da cidade e
fazem paradas estratégicas
em pontos previamente
identificados com uma
intervenção (figura 62).

Ainda não utilizam


nenhum tipo de recurso
online ou placas, mas já
produziram um mapa com
os pontos de parada. Existe
um perfil no Instagram que é
utilizado para comuni-
cações. Trata-se de uma
iniciativa em estágio embri-
onário com grande potencial
de amadurecimento, mo-
tivos pelos quais foi selecio-
nada para futuro Figura 62 - Marca visual do projeto, pintada em ponto do Figura 63 - Placa afixada em imóvel tombado, no largo da Ordem. A área útil da placa é pouco
acompanhamento. roteiro. Foto de Priscila M. Perin (lista de figuras). explorada, e o código possui tamanho diminuto. Acervo Pessoal, registrada em abril de 2022.

43
O site possui boa navegabilidade, podendo ser acessado igualmente de forma Tanto o projeto Circuito Memória Paulista
online e não apenas pelo código. Os verbetes possuem campo de interação, onde os como o Placas da Memória, foram amparados
usuários podem deixar comentários. Também existe a opção de compartilhamento via pela criação do Inventário Memória Paulistana,
redes sociais. instituído pelo CONPRESP (2019), que tinha
como atribuição promover a “identificação de
Considerando que a cidade possui uma longa tradição na valorização dos narrativas que constituem referências culturais
patrimônios edificados, é comum que os mesmos imóveis possuam mais do que uma da cidade de São Paulo, com posterior
placa, resultado de diferentes iniciativas. Essa característica permite que alguns localização e emplacamento, visando a
exemplares se destaquem ainda mais na paisagem urbana pela quantidade de placas que salvaguarda da diversidade dos grupos
ostentam, agregando um valor distintivo raramente encontrado em outras cidades. Da existentes na cidade”.
mesma forma, essa distinção permite aos usuários identificarem que mesmo entre os
imóveis tombados existem diferentes níveis de tratamento. A participação da sociedade civil foi
inicialmente fomentada em 2019 através da
Como limitações da iniciativa, há de se destacar que se refere apenas a bens já disponibilização de formulários online (ANEXO
acautelados pela legislação, e de valores materiais. Não explora aspectos da cultura 06). Como estratégia de visibilidade, foi
enquanto imaterial. A placa enquanto suporte permanente do código cumpre bem com a promovido também, no ano seguinte, um
função, porém por ser desenvolvida dentro de outro projeto, chamado Rosto da Cidade, concurso dentro das atividades da Jornada do
acaba tendo a área de exposição pouco aproveitada em detrimento do conteúdo que Patrimônio, visando ampliar os verbetes.
poderia apresentar.
O projeto se desdobra tanto na dimensão
física como digital, tendo nas placas a principal
4.3.5: Circuito Memória Paulista - São Paulo, 2021 interface com usuários comuns, do cotidiano.
Assim como a iniciativa do Patrimônio Cultural
É um desdobramento de projetos anteriores, como o Placas da Memória Carioca, as placas possuem uma identidade
Paulistana, que já mapeou mais de 400 locais de memória desde 2019. A partir desse visual marcante: são redondas e utilizam letras
material previamente catalogado e identificado, foram produzidos roteiros na cor branca sobre um fundo azul (figura 65).
disponibilizados em uma plataforma online onde é possível percorrer diferentes circuitos Da mesma forma, possuem a mesma limitação
temáticos, como “ as sociabilidades do cinema, a memória operária, as histórias da de não utilizar ferramentas de hiperlink, como
assistência à saúde na cidade, resistência negra, lutas da população LGBTQIA+, histórias código QR Code. No caso da placa paulistana, o
do teatro, do samba, da arquitetura modernista, o futebol de várzea e os povos indígenas espaço útil da placa é pouco explorado, trazendo
paulistanos” (DPH, 2021). Cada um dos circuitos se apoia em recursos audiovisuais, frases curtas e diretas. O principal diferencial do
possibilitando uma experiência imersiva e mediada. O mapa por sua vez (figura 64), projeto, que é o mapa online, acaba Figura 65 - Placas instaladas em
diferentes pontos da cidade.Acervo
possibilita visualizar todos os locais já inventariados, e seus respectivos textos desvinculado das placas e perde a potência Pessoal, registrada em setembro, 2021.
informativos, que são os mesmos utilizados quando as placas são confeccionadas. como canal de cruzamento de informações.
Outro ponto que não é fomentado pela iniciativa, é possibilitar um espaço online
para troca e interação entre usuários, de modo que os verbetes se tornam estáticos
frente às mudanças de percepção e leituras sociais sobre os eventos, fatos ou
personalidades, afinal a história não é estática. Ainda assim, é a principal iniciativa
mapeada como referência.

4.4: Considerações da identificação como ferramenta

Importância da padronização das placas; textos curtos e diretos; otimização da


área útil para informações; Utilizar materiais resistentes, com baixa manutenção e pouco
valor de troca como sucata, contraste entre placa e elemento de fixação (parede, muro,
calçada);

Importância do uso de QR Code para explorar as possibilidades; combinação com


mapas físicos e digitais; organização por grandes temas; Valorização de lugares de
memória material e imaterial (não fazer a distinção); potencial de parcerias entre
Figura 64 - Mapa dos pontos já identificados pelo projeto Placas da Memória Paulistana. instituições ; importância da participação da população no processo;
Disponível em: DPH, Jornada do Patrimônio 2021 (lista de figuras).

44
5.PROPOSIÇÃO
ainda se manifestam só aumenta, e se não forem construídas pontes, o vazio será
preenchido por outras histórias, nem todas preocupadas com o passado social e
importância histórica da região.

Portanto, a identificação desses lugares com atributos culturais e a mediação entre


diferentes atores, em especial os recém chegados, é essencial para a manutenção da
5.1: Patrimônios despercebidos do Centro Leste memória coletiva do Centro Leste, e por consequência, da cidade. Nesse sentido, o
trabalho buscou identificar locais de valor cultural que ou por não estarem contemplados
nas políticas de proteção patrimonial, ou por serem muito simbólicos da alma dessa
A constatação dos patrimônios despercebidos decorre de um processo de
parte da cidade e estarem invisibilizados, devem e merecem ser reconhecidos, para que
aprofundamento, de convivência e profunda interação entre usuário e meio. Não nasce
as novas gerações possam ao menos tomar consciência da densidade histórica e cultural
do nada, precisa ser mediada, e nesses casos normalmente começa pelo palpável, pelo
da região.
visível, e avança aos poucos para o intangível, o não dito. Os patrimônios culturais mais
facilmente percebidos são naturalmente aqueles que ainda conservam seus atributos, Como critério de escolha, buscou-se lugares que tenham exercido grande
sejam físicos ou não. relevância cultural na região leste a partir da década de 1955 até os anos 2005, período
em que se operaram as principais mudanças na região, como a verticalização, o aterro, a
A arquitetura desempenha um papel importante nessa primeira percepção, e tem
saída das instituições públicas e a desativação do terminal urbano. Certamente o período
o poder de mediar esses encontros. Lugares como o Museu Victor Meirelles, Prédio dos
entre os anos 2000 e 2020 constitui um recorte igualmente relevante, porém marcado
Correios, a Escola Antonieta de Barros, Museu da Escola Catarinense e Kibelândia, por
mais por questões de ordem social e econômica do que de transformação física do
exemplo, constituem lugares facilmente identificáveis tanto pelos seus valores estéticos e
espaço. Uma região tão densa e carregada de história possui inúmeros locais de memória
físicos como também pelos atributos intangíveis, imateriais que detém. Outros se
social e valores culturais. Como parâmetro foram selecionados (figura 66) aqueles cuja
destacam menos pela arquitetura e mais pela função tradicional, como a Sociedade
existência seja menos perceptível, e que também estão mais desprotegidos, no sentido
Musical Amor à Arte e a Liga Operária Beneficente, que se relacionam intrinsecamente
de terem suas marcas de memória radicalmente apagadas, como se pretendia fazer com
com o endereço que ocupam há mais de um século.
o piso de paralelepípedo.
Avançando em direção ao patrimônio imaterial, a identificação de endereços
portadores de memória social e de atributos culturais é mais subjetiva, mais sútil,
principalmente quando estes lugares já não pertencem mais aos antigos proprietários, ou
não desempenham as funções que os tornaram relevantes. A antiga sede do Clube de
Remo F. Martinelli, o Cinema Imperial, o Telégrafo Western, a Confeitaria Moritz ou a Sede
5º Distrito Naval, são pontos de referência que possivelmente quem nasceu ou conheceu
a cidade após os anos 2000, não tenha o menor conhecimento do que foram ou da
importância que tiveram. Ou então aqueles que descobriram o Centro Leste a partir dos
anos 2010, e não foram apresentados a Faculdade de Educação, a Escola Antonieta de
Barros, a Livraria Lunardelli ou ao Sebo Armazém do Livro, o primeiro da cidade.

E quanto aos que conheceram a região após 2020, quiçá 2022, que referências
descobrirão? Como se dará esse contato? O samba da Travessa Ratclif, o Bar do Noel, o
Sebo da Ivete, os brechós e lojas de usados seguem firmes, outros comércios,
principalmente restaurantes e lanchonetes não. Novos locatários, novos negócios e
histórias tomam o lugar das antigas, se somam as camadas históricas da região, trazem
diversidade, novos usuários.

A questão geracional é um fator chave na valorização da memória coletiva, e se


baseia na troca, entre quem tem conhecimento para compartilhar, e principalmente
quem se abre para ouvir. O processo de esvaziamento de moradores da região central
sem sombra de dúvida contribui para o aumento do hiato entre quem viveu e quem vive
o Centro Leste. A transmissão de conhecimento relacionado ao cotidiano, ao trabalho, à
cultura e lazer é essencial para a manutenção da memória.

Nos anos recentes, a redescoberta da vida noturna na região, que por anos foi
solitariamente representada pelos botequins populares, trouxe novos usuários, e
inaugurou um novo capítulo da história social. Enquanto os moradores e comerciantes
não retomam essa parte da cidade, o fosso entre os valores culturais e os lugares em que
Figura 66 - Recorte da área do Centro Leste analisada e locais
catalogados. Elaboração própria.
45
Foram mapeados 10 lugares de memória, que se enquadram na abordagem de Quanto à antiga Fábrica e Confeitaria Moritz, que no passado recente abrigou os
patrimônios culturais despercebidos. Porém, no processo de pesquisa e escolha, foram escritórios do grupo empresarial familiar, trata-se de uma das edificações ociosas com
localizados inúmeros outros locais que possuem igualmente potencial de serem maior visibilidade no Centro Leste, mas cuja memória como local de trabalho não é
trabalhados como verbetes de memória. Inclusive lugares que já não existem fisicamente, percebida, e portanto não valorizada. Na análise de projetos arquitetônicos propostos
porém detentores de memórias potentes, e cuja desterritorialização é problemática. para o Centro Leste, a edificação e seu terreno são constantemente apropriadas como
espaços abandonados e desvinculados de qualquer memória. Nessa mesma linha, o
O principal destes foi o endereço onde viveu Antonieta de Barros, e que abrigou conjunto de edifícios que compunham o 5º Distrito Naval constantemente é percebido
simultaneamente, de 1922 até 1952, seu curso primário. Embora a vida e obra da ilustre apenas enquanto arquitetura e não como lugar portador de memórias, algumas das
catarinense seja tema de constantes trabalhos e releituras, o lugar onde viveu e lecionou quais, sensíveis e carregadas de dor. Por fim, a inclusão das residências remanescentes
está absolutamente apagado. Sabe-se que foi no trecho final da Rua Fernando Machado, do trecho inicial da Rua General Bittencourt, cujos lotes coloniais vem sendo
lado par, entre a Av. Hercílio Luz e General Bittencourt. Além da residência ter sido remembrados, apagando o último resquício residencial do bairro da Pedreira.
demolida, não existe nenhum vinculo do antigo endereço, nº 32, com a numeração atual
da rua, pois ao longo do tempo a numeração dos lotes foi modificada, e a informação se
perdeu. Nem mesmo o IPUF tem esse dado. O mais provável é que corresponda a um dos Verbete Endereço Categoria Período Proteção
imóveis entre os números 140 e 192.
Instituto Arco-Íris de Travessa Ratclif, Direitos Sociais, Desde 1917 Municipal,
Também como exemplo de local já desaparecido, há a sede do Jornal O Estado, Direitos Humanos e nº 56 esquina com Cultura, imóvel P2
que funcionou na Rua João Pinto de 1913 a pelo menos até a década de 1950, e cuja Casa de Arte e Rua João Pinto, Educação, Saúde
presença se liga a diversos fatos da memória comum do Centro Leste. Outro endereço Exposição Metálica nº 187 Pública
cuja memória é muito potente e atualmente passa despercebida, é a primeira sede do
Clube Doze de Agosto, que existiu no mesmo terreno onde atualmente há o Condomínio Fábrica de Balas e Rua Tiradentes, Comércio e década de Municipal,
Joana de Gusmão, na Rua João Pinto, nº 30. Dos salões do clube saíram alguns dos blocos Confeitaria Moritz nº 213 e Victor Alimentos 1920 a 1970 APC-1
mais antigos de carnaval de rua da cidade, que assim como os clubes de remo, marcaram Meirelles, nº 216
época e se somam ao imaginário coletivo da região central.
5º Distrito Naval Rua Nunes Autoridade, 1949 a 1983 Municipal,
Assim, a escolha amostral (quadro 3) se deu levando em conta os resquícios Machado, nº 192 Poder, instituições APC-1
materiais visíveis, a partir dos quais as histórias foram sendo localizadas ao longo do
processo de pesquisa, visto que o levantamento partiu da situação atual, ou seja, Residência Família Rua General Residência 1954 a 1969 Municipal,
praticamente nenhuma informação vinculada aos espaços e construções. Com exceção Soares Bittencourt, nº 12 APC-1
da Casa de Arte e Exposição Metálica, cuja existência foi descoberta ao acaso em 2017
Western Telegraph Rua João Pinto, Trabalho e 1923 a 1973 Municipal,
por meio do guia Circuito Cultural de Florianópolis, e da sede da Liga Operária
Beneficente e da Sociedade Amor À Arte, cujas paredes trazem referências à sua história, Company esquina com Moradia imóvel P2
todos os demais verbetes de memória foram reconhecidos paralelamente ao Nunes Machado,
desenvolvimento do trabalho. lado par

Visando atingir o objetivo inicial de esboçar verbetes de memória, foram escolhidos Editora Lunardelli Rua Victor Cultura, 1965 a 2006 Municipal,
4 dos 10 lugares mapeados, sobre os quais são apontados dados e considerações, com Machado, nº 28 Educação imóvel P3
objetivo de subsidiar a construção de um futuro verbete, que leve em consideração tanto (atual 112)
aspectos históricos como sociais. Essa escolha foi direcionada para aqueles locais onde se
Cine Imperial / Coral Rua João Pinto, Lazer 1932 a déc. Municipal,
percebe um risco maior de desaparecimento e apagamento: Instituto Arco-Íris, Fábrica e
nº 156 90 APC-1
Padaria Moritz, 5º D.N e Residências da General Bittencourt.

Embora o Instituto Arco-Íris seja tombado na categoria P2, o que significa que não Sociedade Musical Rua Tiradentes, Sociabilidade, desde 1911 Municipal,
pode ter a fachada e cobertura modificadas, não há garantias de que após uma eventual Amor à Arte nº 181 Cultura imóvel P2
restauração do espaço, os aspectos materiais sejam mais valorizados do que os
Edifício Liga Operária Rua Tiradentes, Sociabilidade, desde 1935 Municipal,
imateriais, de que a arquitetura histórica seja considerada mais importante do que a
Beneficente nº 100 Trabalho APC-1
memória social. Como é um espaço cedido, possivelmente a responsabilidade pela
manutenção seja do ocupante e não da proprietária, que é a UFSC, e considerando que o Clube de Regatas Rua João Pinto, Sociabilidade, 1921 a 1973 Municipal,
Instituto não possui condições de realizar a recuperação do espaço dentro dos preceitos Aldo Luz s/n, em frente ao Lazer APC-1
da restauração, há o risco de ficar mais degradado até o ponto em que sejam obrigados a nº 145 e 153
deixar o imóvel. Nesse contexto, poderiam perder o uso do espaço, algo impensável, mas
que se não houver mobilização e resistência, pode se tornar uma pauta, tal qual a
remoção dos paralelepípedos. Quadro 03 - Locais mapeados no recorte do Centro Leste. Do autor, 2022.

46
5.2: Instituto Arco-Íris de Direitos Humanos e
Casa de Arte e Exposição Metálica

Endereço: Travessa Ratclif, nº 56 esquina com Rua João Pinto, nº 187

Categoria: Direitos Sociais, Cultura, Educação, Saúde Pública

Período de atuação no endereço: 1917 até o presente momento.

É uma construção que já recebeu diferentes usos, abriga a diversidade, possibilita


um espaço seguro e de resistência no centro, permite a existência do outro. Materializa a
pluralidade e resistência do Centro Leste ao longo das últimas décadas.

Atualmente o prédio encontra-se subocupado, em estado precário de conservação,


necessitando de uma ampla reforma (figura 68). O que mais me chama atenção nessa
construção, além do inegável valor estético, arquitetônico e histórico, é sua história.
Sendo um prédio público, já abrigou as mais diversas funções, principalmente ligadas à
educação, cultura e saúde pública. Nas últimas décadas, no entanto, se consolidou como
um dos lugares mais emblemáticos do processo de cristalização da identidade do “Centro
Leste”, fornecendo espaço a atividades consideradas ousadas e disruptivas, como o
Instituto Arco-Íris e o Museu Bicaca. Se relaciona com inclusão social e redução de danos.

Figura 67 - Prédio na década de 1940, enquanto funcionava como Centro de Saúde Figura 68 - Aspecto externo do prédio remete a degradação e abandono, no entanto é um dos 47
de Florianópolis. Fonte: Casa da Memória, coleção Edifícios. lugares mais pulsantes da região do centro leste. Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
5.2.1 : Resgate Cronológico 1987 - É constituído o grupo de pesquisa Núcleo de Estudos e Assistência em
Enfermagem e Saúde às Pessoas em Condição Crônica (NUCRON), vinculado ao
Departamento de Enfermagem e ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
1917 - Funciona como Instituto Politécnico de Florianópolis, a primeira instituição de UFSC. Em algum momento, anterior ou posterior, o NUCRON passa a ocupar o andar
ensino superior da cidade, célula mater dos cursos de Farmácia e Odontologia da UFSC. superior do imóvel, com acesso pela Travessa Ratclif.

1925 - O Instituto é transferido para a nova sede construída na Av. H. Luz, atual Casa 1994 - A Editora da UFSC lança um livro sobre a vida e obra de Bicaca, que já funcionava
José Boiteux. no imóvel (figura 71).

1936 - É criado o Departamento de Saúde


Pública, a partir da antiga Diretoria de Higiene,
que funcionava em um imóvel na Rua
Tiradentes, praticamente vizinho ao Instituto.
Nessa época, o diretor era Osvaldo Cabral, o
famoso historiador.

1940 - Já abrigava o Centro de Saúde de


Florianópolis (figura 67 e 69), posteriormente Figura 71 - Única imagem do
transferido para o prédio do Departamento de artista em seu ateliê,
Saúde Pública, na esquina da Felipe Schmidt
possivelmente selecionada
pelo próprio, para ilustrar o
com a Rio Branco. livro que registra sua vida e
obra. Detalhe do singelo
1962 - A propriedade é transferida do Governo letreiro sob a bandeira da
Estadual para o Federal, na figura da UFSC, que
porta. REIS, 1994, pg 14
(lista figuras).
havia sido criada por lei apenas dois anos
antes, constituindo ao lado do terreno do
Campus Trindade, o segundo patrimônio
Figura 69 - Detalhe da placa do Centro

próprio mais antigo da Universidade.


de Saúde de Florianópolis, déc. 1940. 1995 - Data de criação do CNPJ da Casa de Arte e Exposição Metálica, tendo como
Casa da Memória, coleção Edifícios.
endereço cadastral a Rua João Pinto, nº 187.
1973 - É fundada a Casa de Arte e Exposição Metálica, por Osvaldo Lopes Reis,
1996 - Participação da Casa Vida & Saúde NUCRON em evento científico, onde apresenta
conhecido como Bicaca. Em algum momento, anterior ou posterior, será instalada no
como endereço oficial Travessa Ratclif, 56 (figura 72).
imóvel, na parte térrea voltada para a Rua João Pinto.

1981 - a Prefeitura reconhece a Casa de Arte e Exposição Metálica como de utilidade


pública - Lei nº 1762/1981, sendo acompanhada pelo Estado, Lei nº 5928/1981. Não se
sabe se na época já funcionava no imóvel da UFSC.

1984 - A Prefeitura realiza a urbanização da Travessa. Possivelmente foi o momento


onde foi fechada ao trânsito de veículos e transformada em calçadão. Seria dessa época
o desenho em petit pavé (figura 70 e 73).

Figura 72 e 73 - Placa do projeto Vida & Saúde e placa da inauguração da urbanização do


trecho da Travessa, ambas ainda existentes em 2016, e já removidas em 2018. Google Street
View, captura em dezembro de 2016.

1997 - Fundação do Instituto Arco-Íris por profissionais da saúde, psicologia, educação,


direito e serviço social, além de pessoas vivendo com HIV/Aids e seus familiares. Nesse
mesmo ano é criado o CNPJ com o nome “Arco-Íris Instituto de Prevenção a Aids”, tendo
como endereço cadastral Travessa Ratclif, 56.
Figura 70 - Detalhe do desenho no piso de pedras petit pavê, remetendo a Casa de Artes.
Google Street View, captura em fevereiro de 2022.
48
2011 - A Cinemateca Catarinense tem como sede o mesmo endereço do instituto Arco-
Íris. Possivelmente ocupa o pavimento superior.

2013 - Ano de maior volume de exibições do cine clube. No final do ano Cinemateca deixa
Figura 74 - Rara imagem de utilizar o espaço, e não há registros de novas exibições do cineclube.
colorida das maquetes.
Em primeiro plano a Ponte 2014/15 - Após a sentença final do processo movido pela UFSC contra a ocupação do
Hercílio Luz, seguida do
que possivelmente seja a
prédio pelo Instituto Arco-Íris, que estaria sendo feita de forma ilegal, o Instituto
Colombo Salles, e ao desocupou de forma amigável o imóvel, permitindo que a universidade fizesse a
fundo, ruas e prédios em reintegração de posse, com a condição de devolvê-lo tão logo. A reitora da época,
miniatura. Obra singela,
porém muito simbólica.
Roselane Neckel, se compromete em formalizar a cessão do espaço, pondo fim ao
Fonte: Circuito Cultural imbróglio que havia sido movido por administrações anteriores, em data desconhecida. O
de Florianópolis, 2000 imóvel segue desde então como propriedade da Universidade, mas cedido integralmente
(lista de figuras).
ao Instituto.
2000 - A Casa de Artes e Exposições Metálicas é identificada no guia Circuito Cultural de 2015 - O Ateliê Modelo de Arquitetura - AMA, e o Laboratório de Urbanismo - LabURB do
Florianópolis como principal atração da região, também conhecida como “Museu Bicaca”. Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC passam a desenvolver um projeto de
Entre as atrações do acervo, muitas maquetes representando lugares conhecidos da extensão junto ao Instituto, como resultado do acordo entre a UFSC e o Instituto. O
cidade, como a Ponte Hercílio Luz (figura 74). objetivo inicial foi a revitalização do edifício, posteriormente o foco foi reformulado
2003 - Ano da morte do artista e idealizador da Casa de Artes e Exposição Metálica, Seu visando abarcar também a parte urbana, da qual o Instituto é parte indissociável. O
Bicaca. O endereço funcionava ao mesmo tempo como atelier, Museu e Residência projeto se chamava “Valorização Cultural e Urbana do Instituto Arco Íris”, coordenado
(LOTH, 2006). pela Professora Dra. Soraya Nór.

2006 - Última notícia sobre o acervo do Museu Bicaca. Após a morte do artista, a UFSC 2019 - No dia da Luta
fecha o espaço, organiza uma exposição oficial no Hall da Reitoria, e anuncia a intenção antimanicomial é realizado Bazar
de transferir o acervo para a ilha de Anhatomirim, a mesma da fortaleza, onde ficaria em Vegano, na sua 8º edição, porém
exposição permanente. Também anuncia a pretensão de transformar o antigo espaço pela primeira vez no centro,
ocupado pelo museu em um local cultural voltado ao livro e à leitura no centro da cidade. tendo o prédio do Instituto Arco-
Íris como palco principal (figura
2009 - Última menção ao funcionamento do projeto de extensão do curso de 77), irradiando para as ruas do
enfermagem da UFSC, instalado no pavimento superior, que por último trabalhava na entorno. Constitui um dos
prevenção da violência contra a mulher. inúmeros exemplos onde o
prédio possibilita a realização de
2010 - Criação do Projeto Travessa Cultural, dentro do programa federal Ponto de
atividades que de outro modo
Cultura, do extinto MinC. A principal ação foi o financiamento do Cine Ieda Beck passa a
não teriam um espaço de apoio Figura 77 - Atividade com Paulo Nogueira, o “professor
funcionar no imóvel da Travessa. Sessões gratuitas, tanto dentro do imóvel como na rua
na região. das ruas”, sobre a invisibilidade preta em
(figuras 75 e 76). Florianópolis. Olhar Animal, 2019 (lista de figuras).

2020 - Em decorrência da pandemia de Covid-19 o Instituto Arco-Íris suspende as


atividades presenciais na sede. Posteriormente voltou a desenvolver suas atividades na
Passarela da Cidadania. No entanto, a instituição ainda seguiu prestando apoio à
comunidade da região central de forma indireta. Em julho de 2020, por exemplo,
disponibiliza sua rede de wi-fi para uso de pessoas carentes da região central (figura 78).

Figura 75 - Logo do
projeto Travessa
Cultural. Instituto
Arco-Íris de Direitos
Humanos, 2011.

Figura 76 - Preparativos para exibição externa, do Cineclube Ieda Figura 78 - População carente do centro leste utilizando rede wifi do Instituto Arco-Íris.
Beck, sem data. Fonte: Travessa Cultural (lista de figuras). Retirado de: Floripa Centro, 2020 (lista de figuras).
49
2022 - Reabertura da sede do Instituto Arco-Íris, após um período fechado, e uma 5.2.2 : Pontos para desenvolver e relacionar:
pequena reforma, visando otimização do espaço interno. A data coincide com a
comemoração dos 25 anos de funcionamento da instituição, que atualmente ocupa todo
Gênese da UFSC: enquanto primeira instituição de ensino do Estado, no coração do
o térreo do imóvel, dividido em dois grandes salões. Não foi localizada nenhuma
Centro Leste, foi onde germinou a primeira iniciativa que lançou as bases das primeiras
informação específica quanto ao pavimento superior, porém é de se supor que foi cedido
faculdades independentes, posteriormente agrupadas como universidade. Embora a
ao Instituto após a reintegração de posse de 2014, devendo permanecer sem uso por
Faculdade de Direito, criada como tal em 1932, seja considerada a primeira faculdade, ela
falta de condições físicas. Quanto ao andar térreo, segue sendo utilizado ativamente, por
se originou dentro do instituto Politécnico, que embora não levasse o nome de
diferentes atividades (figuras 79 a 83).
“faculdade”, foi definitivamente a primeira instituição de ensino superior do Estado com
os cursos técnicos de Farmácia e Odontologia, que foram promovidos a “Faculdade” em
1946,

Saúde Pública e Rio da Bulha: a origem do primeiro órgão de saúde pública da


cidade está na Inspetoria de Higiene, que em 1919 teve seu prédio reformado, passando
a denominar-se Diretoria de Higiene do Estado. Em 1936 a Diretoria funcionava em um
prédio alugado na Rua Tiradentes, de número 26. Seria o mesmo reformado em 1919? A
partir de 1937 é criado o Departamento de Saúde Pública, que absorve atribuições da
antiga Diretoria de Higiene, e é instalado no prédio do Instituto Politécnico. A Diretoria de
Higiene por sua vez é transformada em Diretoria de Higiene e Assistência Municipal, e
segue funcionando na rua Tiradentes entre 1936 e 1939, tendo à frente o médico Dr.
Osvaldo Cabral.

O célebre historiador só passou a se destacar na área cultural a partir da década de


1970, tendo um legado expressivo relacionado à saúde pública, na qual defendia uma
Figura 79 e 80 - Oficina de ZineColageria realizada em 22.06.22, dentro do
Festival de Literatura de Florianópolis PIPA (lista de figuras).
visão higienista. Desse modo, é possível relacionar que o famoso médico historiador, que
residia em uma casa de estilo neo-colonial, implantada no meio do lote na cobiçada Rua
do Passeio (atual Esteves Júnior), conviveu com o Centro Leste. Da pena do médico saiu a
famosa descrição do Centro Leste “Cortiços baratos e sem conforto. Lavadeiras.
Marinheiros. Soldados. Mendigos. Gente de má fama. Toda uma favela a marginar um rio
imundo”. Para Santos (2009, p. 90), foi nesse contexto de pobreza, doenças e a vida
marginal a que a população era submetida, a elite passou a se referir
preconceituosamente a essa parte da cidade como Rio da Bulha, elite da qual Cabral era
um representante. Teria essa experiência tão próxima com o rio da Bulha contribuído
para a visão do escritor que descreveu a região leste de forma tão dura?

Bicaca e Franklin Cascaes: Contemporâneos na formação, no tempo e na


abordagem. Osvaldo Lopes Reis, conhecido como Bicaca, nasceu em 1915, foi aluno da
antiga Escola de Aprendizes Artífices, que mais tarde passou a se chamar Liceu Industrial
Figura 81 - Apresentação do Grupo Africatarina em 25.06.22 no de Florianópolis, e hoje corresponde ao Instituto Federal. Não se sabe a área de atuação,
Instituto. Autoria Luis Antônio Rodrigues (lista de figuras). mas foi após a aposentadoria que se dedicou com mais ênfase na produção artística.
Franklin Cascaes, por sua vez, nasceu em 1908, e na década de 1930 frequentou o Curso
Noturno do Liceu Industrial de Florianópolis como aluno ouvinte, onde trabalhou como
auxiliar na oficina de modelagem. Posteriormente foi contratado como professor de
desenho, atuando de 1941 a 1970. Seu legado passou a ser conhecido fora do ambiente
de trabalho apenas em meados da década de 1970, mesmo tempo em que Osvaldo
oficializa seu pequeno museu.

Ambos estudaram na mesma instituição, e tiveram contato com o Peninha, apelido


do agitador cultural Gelci Coelho, que foi o principal articulador desses artistas com a
sociedade, visto que ambos eram pessoas de outro tempo, artistas autodidatas, que não
tinham articulações com o meio cultural da Florianópolis da década de 1970. Igualmente
relevante, ambos artistas tiveram uma vida humilde, de poucas posses, e na maior parte
Figura 82 e 83 - Oficina de percussão samba-reggae do Grupo Africatarina em 27.07.22, do tempo empregaram suas poucas economias para financiar a sua arte. Suas
em parceria com a Associação de Amigos da Casa da Criança e do Adolescente do Morro abordagens estavam voltadas ao popular, ao folclore, as memórias e valores culturais de
do Mocotó. Autoria Ramires Ramos (lista de figuras).
50
sua época. Franklin se voltou ao fantástico, ao imaterial, enquanto Osvaldo se deteve 5.2.3 : Referências do Verbete
além dos aspectos do folclore, como boi de mamão, aos aspectos arquitetônicos, como
as maquetes da Catedral Metropolitana e a Ponte Hercílio Luz.
AMORA, Ana M. G. Albano (org.). História da saúde em Santa Catarina: instituições e patrimônio
Franklin faleceu em 1983 aos 68 anos e por meio de Peninha, conseguiu garantir arquitetônico (1808-1958). Barueri: Manole, 2012. xxviii, 176 p.
que seu acervo fosse recebido pela UFSC, que faz a guarda até os dias de hoje. Bicaca, CAVANUS, Aline Vicente. Instituto Arco-Íris: um espaço de resistência no Centro Histórico de
faleceu em 2003 aos 88 anos, e com intermédio do mesmo Peninha, garantiu que o Florianópolis. 2016. Trabalho de conclusão de curso, graduação em Arquitetura e Urbanismo pela
acervo fosse doado pela família à UFSC, do qual não se tem mais notícias desde a Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em:
exposição promovida em 2006. Foram dois cidadãos comuns que a seu tempo e do seu https://repositorio.ufsc.br//handle/123456789/217088 . Acesso em: 22/05/22.
modo, desejaram contribuir e participar da história da cultura da Ilha de Santa Catarina.
FLORIANÓPOLIS. LEI Nº 1762/81 - Declara de Utilidade Pública a "Casa de Arte e Exposição Metálica".
Florianópolis, 1981. Disponível em:
Função Cultural e Social: Paralelamente ao funcionamento do atelier do Seu
https://leismunicipais.com.br/a1/sc/f/florianopolis/lei-ordinaria/1981/176/1762/lei-ordinaria-n-1762-1981-de
Bicaca na parte térrea voltada a Rua João Pinto, nº 187, coexistiu o Instituto Arco-Íris, clara-de-utilidade-publica-a-casa-de-arte-e-exposicao-metalica?r=c. Acesso em: 05/09/22.
instalado também no térreo, mas na parte voltada para a Travessa Ratclif, nº 56. Nesse
mesmo período a Casa Vida & Saúde NUCRON, ligado ao curso de enfermagem da UFSC, INSTITUTO ARCO-ÍRIS. Histórico. Florianópolis. Disponível em:
ocupava a parte superior, cujo acesso é pela Travessa Ratclif, nº 56. Ou seja, o endereço, https://institutoarcoirisdh.wordpress.com/historico/. Acesso em: 22/05/22.
pelo menos na década de 1990, constitui um pólo de atividades de extensão da UFSC,
IPUF. Circuito cultural de Florianópolis. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Textos de Eliane V. da Veiga,
voltadas à comunidade mais vulnerável, com foco especial em saúde e cultura. diagramação e projeto gráfico Joel Pacheco. Florianópolis, SETUR, 2000.
Além destas possíveis abordagens sobre o lugar de memória representado pelo LOTH, Moacir. UFSC faz exposição em homenagem a artista popular de Santa Catarina. In: Notícias.
instituto Arco-Íris e as dimensões sociais, há outras relações potentes que podem ser Notícias da UFSC. Publicado em 30/11/2006. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.
desenvolvidas a partir da edificação. Por exemplo a questão da presença e suporte à Disponível em:
população vulnerável e marginalizada do Centro Leste; a vocação enquanto espaço https://noticias.ufsc.br/2006/11/ufsc-faz-exposicao-em-homenagem-a-artista-popular-de-santa-catarina/.
Acesso em: 05/09/22.
privilegiado para a troca de conhecimento; o potencial de valorização de outras
manifestações culturais, como os cineclubes e artistas independentes; e também, os MARTINS, Marcelo Sabino. Entre a pena e o bisturi: Oswaldo Cabral e a colonização da memória em
aspectos simbólicos e práticos do Instituto enquanto local de resistência, e lugar de fala. Santa Catarina (1929-1972). Tese de doutorado em História apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em História, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo
Horizonte, 2018. Disponível em:
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-BC6GCW/1/entre_a_pena_e_o_bisturi_marcelo_sabino_ma
rtins.pdf. Acesso em: 22/05/22.

NUCRON. Núcleo de Estudos e Assistência em Enfermagem e Saúde às Pessoas em Condição Crônica.


In: História. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 2019. Disponível em:
https://nucron.ufsc.br/historia/ . Acesso em: 22/05/22.

REIS, Osvaldo Lopes. Arte, Vida e Recordação de Osvaldo Lopes Reis. Florianópolis: Editora da UFSC,
1994.

SANTOS, André Luiz et al. Do Mar ao Morro: a geografia histórica da pobreza urbana em Florianópolis.
Tese de doutorado em Geografia apresentada ao programa de pós-graduação em Geografia do
Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2009. Disponível
em: https://labcs.ufsc.br/files/2011/12/Tese-03-PGCN0383-T.pdf. Acesso em: 22/05/22.

SINDICATO DOS JORNALISTAS. Cine Ieda Beck realiza ciclo sobre festivais em 7 de agosto. In: Cultura.
Sindicato dos jornalistas de Santa Catarina. Florianópolis, 2013. Publicado em 05/08/2013. disponível em:
https://sjsc.org.br/05/08/2013/cine-ieda-beck-realiza-ciclo-sobre-festivais-com-exibicao-de-filmes-do-catavid
eo-na-abertura/. Acesso em: 22/05/22.

UFSC. Relatório Gestão 2007. Florianópolis, 2007. Disponível em:


https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/134990/RELATORIO_GESTAO_2007.pdf?sequence=1
&isAllowed=y. Acesso em: 22/05/22.

VELLOSO, Verônica Pimenta. Instituto Politécnico de Florianópolis. In: Dicionário Histórico-Biográfico das
Ciências da Saúde no Brasil (1832-1930). Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, [2002]. Disponível
em: http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/iah/pt/verbetes/instpolytflo.htm. Acesso em: 22/05/22.
Figura 84 - As três portas de entrada do imóvel em 2022. A primeira corresponde à escada de
acesso ao piso superior, a segunda ao Instituto Arco-Íris e a terceira à antiga Casa de Arte e
Esposição Metálica, atualmente ocupada pelo instituto. Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.

51
5.3: Fábrica de Balas e Confeitaria Moritz Neste mesmo endereço funcionou por um longo período a fábrica, a loja e a
residência da família. Se destacou pela produção de doces, e em especial as balas
Rocôco/Rococó e Azedinha. Posteriormente a família abriu novas padarias e outros
empreendimentos pela região central, e no final da década de 1970 a fábrica da Rua
Endereço: Rua Tiradentes, nº 213 e Victor Meirelles, nº 216 Tiradentes foi fechada após um incêndio.

Categoria: Trabalho, Comércio e Alimentos Da Nunes Machado, virando a esquina da Tiradentes, como quem vai para a
Hercílio Luz, via-se a vitrine mais linda da cidade. A Confeitaria Moritz. [...]
Período de atuação no endereço: década de 1920 a 1970 Uma porta grande no meio, uma vitrine de cada lado. Dentro, por toda volta,
prateleiras, fechadas com vidros, guardavam as latas que tinham um vidro
na frente, para se ver os biscoitos fabricados lá - Cream Craker, Fofô, Língua
5.3.1 : Breve Histórico de Gato, Côco, Tareco, Amanteigados, Santa Fé, Joelho de Moça… Lá de
dentro, dos fundos, vinham os pães, os doces, as balas, os biscoitos, e mais
tarde, as massas. O cheiro era meio quente, adocicado, sempre provocando
Foi uma das poucas iniciativas industriais na cidade, possuía caráter familiar, o nosso apetite. [...] Moravam todos em cima da confeitaria, onde também
funcionavam a fábrica de macarrão, de balas e a estufa para secagem de
estando voltada à produção de doces e pães. A família era de origem alemã, e importou macarrão. (RAMOS, 1999, p. 44).
os equipamentos e tecnologia necessários para o negócio. Ao lado dos Hoepcke, foram
uma das famílias que se destacaram pelo empreendedorismo industrial, numa época
em que as principais atividades econômicas da cidade estavam ligadas ao mar, serviços No mesmo local funcionaram posteriormente outras atividades ligadas a empresa
ou ao funcionalismo público. familiar, que se consolidou a partir dos anos 60 como um grupo empresarial. Existem
poucas informações sobre o endereço após o incêndio que destruiu parcialmente a
confeitaria em 1976 (figura 85 a 87). Possivelmente abrigou também os escritórios do
Balas Rococo e Uva do Norte – Produzidas e vendidas pela padaria Moritz,
no final da rua Tiradentes, ainda dão água na boca em quem experimentou
grupo João Moritz Participacoes Ltda, que implantaram os primeiros supermercados da
o seu sabor. (SCHMITZ, 2019, online). cidade, chamados de A Soberana, outra memória afetiva da cidade ligada ao universo do
cotidiano e trabalho.

Um fato curioso é que quando a fabriqueta foi instalada, em 1927, a região do rio
da Bulha já havia sido saneada, e o endereço que já era uma das principais ruas da
cidade, ficava próximo a principal avenida de então e de acordo com o mapa de usos do
solo da cidade, 1947, a pequena indústria estava inserida dentro de uma vizinhança de
caráter predominantemente residencial.

Figura 86 - Imagem atual da


fachada da Rua Tiradentes, com os
pavimentos superiores desocupados.
Acervo Pessoal, registrada em
17/08/2022.

Figura 87 - Imagem atual da


fachada da Rua Tiradentes, com o
térreo parcialmente ocupado.
Acervo Pessoal, registrada em
Figura 85 - Detalhes das aberturas do pavimento térreo da antiga Padaria 17/08/2022.
Moritz, em 1995. Casa da Memória de Florianópolis, Coleção Edifícios.
52
5.3.2 : Situação Atual: Igualmente relevante é o portão lateral, que faz a ligação da rua com o pátio dos
fundos, por onde ocorria o fluxo de entrada e saída tanto dos funcionários da fábrica,
Pelo menos desde 2011 os andares superiores do prédio voltados para r. como dos veículos (de tração animal), segundo depoimento de um morador local ouvido.
Tiradentes estão sem uso, e visivelmente ociosos, sem esquadrias de abertura, O meio fio de pedra em frente ao portão ainda conserva a característica de rampa.
denunciando situação de abandono e degradação. Uma análise mais atenta - espessura
do vão das paredes, águas do telhado, fachada dos fundos permite identificar como
sendo duas construções distintas, separadas por um corredor, e que posteriormente
foram unidas através da fachada comum. Embora não tenha sido localizada nenhuma
informação referente ao prédio, na planta de 1947, o terreno é representado no tamanho
atual. Desconsiderando as demolições ocorridas na quadra dos fundos, o terreno do
imóvel da antiga fábrica possui o maior terreno de uso não institucional de todo Centro
Leste. Essa área atualmente usada como lava-car (figura 89 e 90), constantemente é
explorada em trabalhos acadêmicos que se voltam para a região e propõem diferentes
usos e projetos, considerando o potencial da área histórica, mas que desconhecem o
passado e as referências culturais que representa.

Perto, na Rua Tiradentes, ficava a Padaria Moritz e, nos fundos dela, a


Fábrica de Balas Rocôco. Lembro-me do incêndio na fábrica, não sei precisar
a data [...] Balas Rocôco! Como eram gostosas, com côco e cobertas de
chocolate! Além das balas Rocôco, também saboreávamos umas balas Figura 89 - Pátio interno, onde atualmente funciona um
azedinhas em forma de lua, sabor laranja. Só em pensar dá água na b oca! estacionamento. Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
(SOARES, 2000, p. 08).

A edificação que não é tombada, está dentro da APC, podendo ser modificada
desde que respeitando os gabaritos e projeções existentes. Até o ano de 2016 o prédio de
três pavimentos ainda conservava as características da entrada e as vitrines laterais, com
acabamento em granilite texturizado em diferentes cores e formato de arco (figura 88).
Posteriormente recebeu revestimentos que ocultaram as características marcantes da
vitrine tão vividamente descrita pelo memorialista Ramos (1999, p. 44).

Figura 90 - Imagem atual da fachada da Rua Victor Meirelles.


Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.

5.3.3 : Referências do Verbete

RAMOS, Sebastião. No tempo do Miramar. Florianópolis, Ed. Papa-Livro, 1999.

SCHMITZ, Paulo Clóvis. Florianópolis é a “terra do já teve”, dizem os ilhéus mais


saudosistas. In: Notícias, publicado online em 26/10/2019. Florianópolis: Jornal Notícias
do Dia, 2019. Disponível em:
https://ndmais.com.br/noticias/florianopolis-e-a-terra-do-ja-teve-dizem-os-ilheus-mais-sa
udosistas/. Acesso em: 27 ago. 2022.

SOARES, Maura. Na Rua da Pedreira. Revista Ágora. Ano XV, n. 31, v. 15, Florianópolis:
Figura 88 - Aspectos interessantes da antiga vitrine preservados até 2016,
Associação dos Amigos do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina, 2000. disponível
já removidos na captura de 2017. Google, Street View, outubro 2016. em: https://agora.emnuvens.com.br/ra/issue/view/30. Acesso em: 27 ago. 2022.
53
5.4: 5º Distrito Naval

Endereço: Rua Nunes Machado, nº 192

Categoria: Autoridade, Poder, instituições

Período de atuação no endereço: 1949 a 1983

5.4.1 : Breve Histórico

Edificação construída em fins da década de 1940, quando a cidade ainda


desempenhava um papel relevante em relação a sua condição marítima. Os Distritos
Navais nada mais são do que a própria Marinha do Brasil, que é dividida em unidades
administrativas menores, que na prática significam a presença da instituição federal. O
5º DN compreende os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Tem como
atribuições.

Cada DN é responsável pelas tarefas da Marinha do Brasil. Os Distritos


executam operações navais, aeronavais, e de fuzileiros navais, controlam Figura 92 - Rua Victor Meirelles, em 1905. O casario colonial à direita foi destruído para
as atividades relacionadas com a segurança da navegação marítima; a construção do Grupo Escolar Dias Velho na década de 30 e para a sede do 5º DN, na década
coordenam e controlam as atividades de Patrulha Costeira, Inspeção Naval de 40. O prédio da atual Kibelândia já aparece construído. Fonte: Onde está Desterro?
e Socorro e Salvamento Marítimo; realizam atividades de Assistência
Cívico-Social às populações ribeirinhas, e outras atividades específicas.
(MARINHA, 2022). Por trás das paredes alvas, da seriedade e disciplina do conjunto (figura 95)
coexistem memórias obscuras relacionadas também ao período da Ditadura Militar 1964
- 1985. Segundo o Relatório Final da Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright, o
Dessa forma, a presença do Distrito Naval na cidade significava um grande 5º Distrito Naval fez parte do quadro repressivo (DE LUCA, 2014), formado por órgãos
prestígio, além de fomentar a economia através dos inúmeros postos de trabalho. A estaduais que combatiam as ações civis de oposição ao regime.
sede foi construída sobre uma quadra que, com exceção do prédio da Academia de
Comércio, atual Casa José Boiteux, era predominantemente residencial e conservava as
características da ocupação inicial da região (figura 91 e 92). A construção de um edifício
de tal porte permite
perceber a importância e
poder que a instituição
Marinha do Brasil possuía
na cidade (figura 93).

Com a perda de
relevância do porto da
cidade e mais tarde a
chegada do aterro, a sede
da repartição da Marinha
foi transferida para o
município de Porto Alegre
ainda na década de 1980.
Posteriormente o prédio
foi reaproveitado por
outro órgão federal, o
Ministério da Fazenda em
Santa Catarina. Figura 91 - Esquina da Rua Nunes Machado com Victor Meirelles, Figura 93 - Instalações da antiga 5º DN ocupam mais da metade da quadra, e constituem um
em 1931. Casa da Memória de Florianópolis, Coleção Ruas. paredão na fachada voltada à Rua General Bittencourt. Google, ferramenta Street View, 2022.
54
Apesar de não haver nenhuma menção ao endereço do 5º DN na Rua Nunes cessão de uso do forte Santa Bárbara em troca da construção de uma nova sede para a
Machado, é de se supor que o braço das forças armadas no centro da cidade Capitania dos Portos. No antigo prédio passou a funcionar a Fundação Franklin Cascaes,
desempenhou um papel ativo nas ações do regime. que foi responsável pelo resgate da memória do forte, bem como sua preservação e
valorização. Foi sob sua ocupação que o prédio foi inteiramente restaurado e inserido
nos roteiros culturais. Anos mais tarde, em 2013 a Marinha assumiria novamente o
Na época do golpe, a quantidade de gente fazendo delação era
imóvel com a intenção de instalar um centro cultural, pois caso não o fizesse a União
tão grande, que o almirante do 5º distrito naval, baixou uma
retornaria o controle sobre o patrimônio.
portaria que só aceitava delação com nome e firma
reconhecida (MALHEIROS, p. 105)

Uma outra face da presença do 5º DN na cidade se deu pelo viés do patrimônio


histórico , no contexto das fortalezas, que antes de mais nada foram instalações
militares voltadas à defesa marítima, portanto de sua guarda. Foi com o 5º DN que a
UFSC e IPHAN negociaram o convênio que permitiu a restauração da fortaleza de
Anhatomirim, firmado em 21 de novembro de 1979. Passados apenas nove dias da
assinatura do convênio, se deu o emblemático episódio da Novembrada, quando a
população catarinense, com ampla participação universitária, demonstrou sua
insatisfação com o regime militar. Em 1984 novamente o povo florianopolitano foi às
ruas, dessa vez pelas Diretas Já (figura 94).

Figura 95 - Prédio que foi a sede da Marinha do Brasil em Florianópolis,


atualmente Ministério da Fazenda. Google, Street View, captura 2022.

5.4.2 : Ponta Solta

Na busca por informações sobre a presença da antiga instituição na cidade, foi


localizado um trabalho muito relevante que trata justamente sobre a atuação dos órgãos
de segurança durante o período da ditadura, e no caso catarinense, cita que o 5º Distrito
Naval foi um dos principais. No entanto, o referido trabalho não cita em nenhum
momento a existência do órgão em Florianópolis. Considerando que de fato existe um
descolamento entre lugares físicos e memórias, é de se supor que no referido trabalho
não se teve acesso a informação de que a instituição funcionava em Florianópolis, no
coração do centro histórico, e não na cidade de Itajaí, como apresentado

A principal instituição militar responsável por lidar com


questões de subversão em solo catarinense durante todo o
período ditatorial, tanto para coleta de informações quanto
para o despacho de mandados de busca, era o 5º Distrito Naval
Figura 94 - Manifestação pelas Diretas Já no Centro Leste, em 1984, passando pela Rua (5º DN), o qual era subordinado à Agência Curitiba do SNI,
Tiradentes na altura da Sociedade Amor à Arte. Casa da Memória de Florianópolis. Coleção Ruas. agência superior responsável pela coordenação dos serviços
informacionais do Paraná e de Santa Catarina. Localizado em
Ainda sobre o patrimônio histórico das forças armadas, como desdobramento do
Itajaí, todas as outras entidades – especialmente a supracitada
convênio da década de 1970, a UFSC assumiu também a Fortaleza de Ratones em 1990 e
Divisão Central de Informações (DCI/SSI/SC) – com frequência
a da Ponta Grossa, em 1991, por meio do Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina:
relatavam suas atividades ao 5º DN. (PEREIRA, 2021)
250 anos de História Brasileira. Das quatro fortalezas do sistema original desenhado por
Silva Paes, a de Araçatuba foi a única não contemplada, seguindo em ruínas sob a
guarda do Exército Brasileiro. No entanto, a instituição jamais funcionou em Itajaí com status de sede do 5º DN,
mas sim, como braço da Capitania dos Portos, na forma de delegacia. Assim, suponho
Mesmo com a mudança para outro estado, o órgão ainda participaria de mais um que o acadêmico não localizou nenhuma informação sobre o fato do Distrito Naval ter
capítulo das tratativas sobre as fortificações coloniais, mas agora na cena cultural do funcionado no centro de Florianópolis, algo fartamente documentado, porém invisível e
Centro Leste. Em 2000 a Prefeitura Municipal de Florianópolis negociou com o 5º DN a descolado do lugar físico.
55
5.4.3 : Situação Atual

Trata-se de uma construção que ocupa um lugar de destaque na dinâmica do


Centro Leste, porém que se fecha em si mesma e não agrega a urbanidade da região.
Dada a natureza estritamente burocrática de suas funções, que não realiza atendimento
ao público, acaba por contribuir na ausência de vitalidade das ruas do entorno. Nos
últimos anos o conjunto foi reformado e passou a ser compartilhado com outros órgãos
federais, como o Ministério da Economia, porém sem sombra de dúvida é um local
subaproveitado, com enorme potencial de abrigar funções mais nobres.

Para além da visibilidade da estrutura física, a correlação entre as memórias da


construção, em especial as ligadas ao período militar, estão praticamente desvinculadas,
fato que esvazia o local dos significados que possui, e portanto, das reflexões possíveis e
necessárias. A presença de um órgão do aparato militar na região constitui o ponto de
partida para inúmeras reflexões relacionadas à história recente e que ainda não foram
territorializadas naquela parte da cidade.

5.4.4 : Referências do Verbete

DAMIÃO, Carlos. Memória de Florianópolis: Marinha está há 170 anos na cidade. In:
Notícias. Jornal Notícias do Dia. Publicado em 29/08/2015. Disponível em:
https://ndmais.com.br/noticias/memoria-de-florianopolis-marinha-esta-ha-170-anos-na-ci
dade/. Acesso em: 07 set. 2022.

DE LUCA, Derlei Catarina. Relato: A BUSCA DA VERDADE. In: Relatório final. Comissão
Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright. Florianópolis, 2014. disponível em:
https://coletivomemoriaverdadejusticasc.wordpress.com/relato-a-busca-da-verdade-por-
derlei-catarina-de-luca-membro-da-comissao-estadual-da-verdade-sc-e-militante-do-coleti
vo-catarinense-memoria-verdade-justica/ . Acesso em: 04 set. 2022.

MALHEIROS, Eglê. [Entrevista em 2013]. In: Depoimentos de Eglê Malheiros e Salim


Miguel. Relatório Final. Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright. Florianópolis,
2014. Disponível em:
https://www.gov.br/memoriasreveladas/pt-br/assuntos/comissoes-da-verdade/estaduais/
389fa27327d13645e1c7627cdf1c232a.pdf . Acesso em: 04 set. 2022.

MARINHA. Você sabe o que é um Distrito Naval (DN)? In: Notícias. Marinha do Brasil.
Disponível em:
https://www.marinha.mil.br/sspm/?q=noticias/voc%C3%AA-sabe-o-que-%C3%A9-um-distri
to-naval-dn. Acesso em: 07 set. 2022.

PEREIRA, Juliano Cabral. Santa Catarina Sob Suspeita: A Atuação Dos Órgãos De
Segurança E Informação Da Ditadura Militar Em Território Catarinense (1964-1985).
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do
Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em
História, área de concentração em História do Tempo Presente. Florianópolis, UDESC,
2021. Disponível em:
https://www.udesc.br/arquivos/faed/id_cpmenu/6182/PEREIRA__Juliano_C___Disserta__o_1
6478891615606_6182.pdf. Acesso em: 07 set. 2022.
Figura 96 - Como não foi localizada nenhuma imagem referente ao período em que o prédio
abrigou o 5º D.N, fica a interrogação sobre qual a memória do lugar. O espaço fica
reservado para futuramente receber essa imagem. Fonte: Grátis.PNG
56
5.5: Residência Família Soares

Endereço: Rua General Bittencourt, nº 12

Categoria: Residência

Período de atuação no endereço: 1954 a 1969

5.5.1 : Breve Histórico

Figura 97 - Trecho da Rua Victor Meirelles, antiga Rua da Pedreira, no trecho onde se
Os limites do Centro Leste coincidem com o do antigo bairro da Pedreira, que inicia a General Bittencourt, em 1940. Casa da Memória de Florianópolis, Coleção Ruas.
possuía tal nome em virtude da afloração de rochas que por anos foi o limite nordeste
da região central. Foi nessa área da cidade, de terreno acidentado, próxima ao córrego
5.5.2 : Situação Atual:
da Bulha, que a população mais pobre construiu residências humildes, de porta e janela
(figura 97) num primeiro momento da ocupação da região do centro fundacional. Foi
Pela descrição da memorialista no texto biográfico, a casa da família seria a
nesta mesma região que se deram as mudanças mais radicais quando da renovação
segunda do início da Rua General Bittencourt, que corresponde ao imóvel de nº 12.
urbana promovida no governo de Hercílio Luz.
Analisando a captura do Street View de 2011, quando o conjunto se encontrava
Das residências humildes, poucas foram poupadas pela valorização que se deu na preservado, e havia o imóvel vizinho, de nº 16, é de se supor que o imóvel da família
região, sendo o trecho inicial da Rua General Bittencourt um raro remanescente. De Soares já estivesse descaracterizado quanto às aberturas, devendo ter ter aspecto
acordo com o mapa de usos do solo da cidade, de 1947, a quadra era totalmente semelhante aos vizinhos, caracterizados pelo lote estreito, e fachada mínima, composta
residencial. Em contraste com as residências das elites, as casas urbanas destinadas às de porta e janela, como descrito no texto.
classes menos favorecidas eram densas e exíguas, beirando o que atualmente seria
Dessa forma, o relato combinado com as imagens permite visualizar um lado
considerado insalubre.
pouco explorado das habitações do Centro Leste, quando eram ocupadas por famílias
numerosas famílias. Os imóveis não são tombados, estando parcialmente protegidos pela
APC. Apesar da relevância histórica e cultural que representam as residências dos menos
O trecho da Rua da Pedreira [trecho inicial da General Bittencourt], onde
nasci, só tinha um lado com casas. O outro lado era tomado pela abastados, o casario singelo já foi radicalmente alterado, quando não demolido (figuras
construção do 5° Distrito Naval. [...] Minha casa era a segunda da rua. Porta 98 e 99). Atualmente no endereço onde 50 anos atrás viveu uma família de doze pessoas,
e janela fronteira. Um corredor não muito estreito ligava a sala de entrada em que se passa o relato da srª Maura, existe uma região vazia, que paulatinamente vem
aos outros cômodos. A sala principal foi dividida e ali meus pais dormiam sendo ocupada pelos bares da moda.
quando a família começou a aumentar. No quarto seguinte as meninas,
três a princípio, e no outro, o dos rapazes, cinco à época em que me
recordo para início desta narrativa - ano de 1954. O quarto das meninas,
com camas individuais e o dos meninos, com beliche, para melhor
acomodação. A sala de jantar. Ah, a sala de jantar! Era o lugar dos
encontros, local onde se discutia política, arte, os últimos acontecimentos
familiares e sociais, a recepção aos parentes. Uma cadeira de balanço ao
lado do rádio marca ABC. À mesa todos se sentavam em um banco
comprido, de um lado, em cadeiras, de outro, a fim de caber toda a família.
O almoço era partilhado, a comida dividida irmamente. Operário da Força e
Luz [...], somente meu pai sustentava a família. O orçamento doméstico era
complementado com as costuras que minha mãe fazia para fora. Uma
cristaleira em um canto com vidro de cristal jateado e ornado de flores, em
que a louça comum ficava ao lado dos poucos cristais e porcelanas.
Naquela época podia se comprar! A água para beber era colocada em um
Figura 98 e 99 - Comparativo do conjunto correspondente à localização da casa da Família
filtro de louça [...] (SOARES, 2000, p. 08). Soares, em 2011 e 2022. Fonte: Google, ferramenta Street View

O relato singelo apresenta elementos do cotidiano familiar, e permite vislumbrar 5.5.3 : Referência do Verbete
uma outra dinâmica do Centro Leste, que em plena década de 1960 remete a condições
SOARES, Maura. Na Rua da Pedreira. Revista Ágora. Ano XV, n. 31, v. 15, Florianópolis: Associação
físicas e sociais que normalmente passam ao largo das discussões sobre a precariedade dos Amigos do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina, 2000. disponível em:
das habitações urbanas das famílias menos favorecidas da época. https://agora.emnuvens.com.br/ra/issue/view/30. Acesso em: 27 ago. 2022.
57
6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como é explorado no capítulo 3, está em curso uma crise referente a qual o
projeto comum para a região, que consiga em um só tempo atender a diferentes atores,
cujas demandas e interesses muitas vezes não conversam e são divergentes. São pelo
menos três narrativas principais que se destacam: o poder público, a iniciativa privada e a
sociedade civil. Enquanto não emerge uma agenda comum, o processo de esvaziamento
e degradação da área histórica se acentua, e coloca em xeque a viabilidade da
6.1: Conclusão manutenção tanto da vitalidade da região, como sua memória comum. A própria
narrativa do abandono abre espaço para concessões a soluções exógenas, como a
De modo geral os patrimônios culturais são primeiramente reconhecidos por instalação do distrito criativo, ou para a especulação imobiliária.
pessoas com olhar mais sensível e treinado, em geral especialistas, como arquitetos,
historiadores, pesquisadores, e até mesmo outros usuários que vivenciam a cidade de
forma mais plena, como artistas (figura 100), fotógrafos, jornalistas, entre outros. No
entanto, esses valores culturais acabam não sendo tão facilmente identificáveis pelas
pessoas comuns, que são justamente aquelas que se relacionam diretamente com esses
bens, como moradores, inquilinos, proprietários e turistas. Essa falta de conexão entre
objeto e conhecimento, acaba por enfraquecer uma das abordagens que têm se
mostrado como alternativa às limitações das políticas de proteção oficiais, que é o
envolvimento da população como agente ativo no processo de valorização dos
patrimônios culturais do meio em que se insere (MENESES, 2006). Percebe-se que o
enfraquecimento do patrimônio comum abre espaço para diversas situações, como a
perda da memória coletiva, o apagamento de histórias, lugares, pessoas, fatos ou feitos,
cujo reconhecimento é fundamental para coesão social. Dessa constatação nasce a
questão que o trabalho buscou responder no seu desenvolvimento.

As políticas de patrimônio cultural possuem uma longa trajetória no contexto


brasileiro, e dada as dificuldades de sua implementação, ao longo do tempo evoluíram,
assim como a própria ideia de patrimônio cultural. Como visto no capítulo 2, as primeiras
iniciativas visando reconhecimento e proteção de referências culturais no país nasceram
ainda no contexto do Brasil império, ligadas a fatos ou feitos, monumentos e obras de
arte. Conforme as mudanças políticas definiram os rumos da nação, as políticas públicas
de patrimônio foram captadas como instrumento da construção de uma identidade
nacional, apoiada no passado comum do tempo colonial. Da primeira legislação nacional,
de 1937, até a promulgação da carta magna de 1988, a própria noção de valores
patrimoniais se alterou, e refletiu um amadurecimento. Da abordagem voltada ao
singular, passou-se gradativamente a reconhecer patrimônios mais singelos, não só
materiais, mas principalmente manifestações ligadas a cultura imaterial, além da própria
paisagem natural.

Na cidade de Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina, essas políticas


federais foram espacializadas pelo menos desde 1938, porém a efetividade e ampliação
delas ocorre apenas a partir da década de 1970, quando o município assume o
protagonismo de legislar sobre o assunto. Tal qual o órgão federal, o municipal enfrentou
desafios e precisou de estratégias para viabilizar a efetiva promoção das referências
materiais e imateriais da cidade. Como legado dessa trajetória, Florianópolis é uma
cidade que possui, apesar de todas as desigualdades sociais e econômicas, um rico
acervo cultural reconhecido e preservado. Dentre os recortes possíveis sobre o território,
o Centro Histórico Leste, ou apenas Centro Leste, é onde esse passivo cultural está mais
concentrado e ameaçado.

O Centro Leste acumula muitas camadas históricas, que refletem simultaneamente


a memória social, as disputas pelo espaço e as histórias não só de Florianópolis, mas de
toda região metropolitana. Sendo um local portador de tanta importância e visibilidade, Figura 100 - Prédio do Western Telegraph Company, destaque para o relógio, que
acaba por ser objeto de diferentes interesses, projetos e narrativas. atualmente está instalado no Mercado Público, ao lado do Cine Coral. Pintura de
Átila Ramos. Retirado de: BORGES, 2018 (lista de figuras).
58
Apesar da simplificação das principais narrativas em disputa, existe uma grande Cada um dos patrimônios culturais despercebidos (figura 101), uma vez iniciada a
variedade de leituras sobre a região, e sobre seu potencial. Como exemplo, foram mobilização de informações, apontou para outros, que via de regra se interligam e
identificados trabalhos acadêmicos que apresentam alternativas diferentes, e que apesar possibilitam diferentes leituras. Trabalho, sociabilidade, lazer, moradia, saúde, política e
de partirem de uma análise comum, chegam a conclusões distintas. Não pode ser poder; são temas que atravessam os espaços físicos e constituem a alma da região, não
ignorado que o viés cultural tem se tornado hegemônico em detrimento dos usos cabendo em recortes limitados ou específicos. A própria construção de verbetes,
voltados ao trabalho e lazer, e que a combinação de ambos é necessária para a colocada como objetivo inicial, se mostrou uma tarefa mais complexa, e que deve ser
urbanidade da região, como tem acontecido nos últimos séculos. construída de forma colaborativa, balizada por grandes temas.

A invisibilidade da memória social da região é um componente crítico em todas as


narrativas e projetos, e uma vez que se relaciona diretamente com o espaço físico, pode
ser rapidamente apagada caso sejam realizadas proposições que desconsiderem sua
importância. Em um cenário onde não há nem mesmo consenso sobre a delimitação da
região ou sua nomenclatura, há um grande risco de que os novos projetos para a região
não se vinculem ao passado comum, e a vitalidade que permanece tão característica da
região, se perca.

Como estratégia para a verificação de patrimônios despercebidos, e sujeitos ao


apagamento, foi estabelecido um recorte que leva em conta convenções sobre a
delimitação do Centro Leste, e ao mesmo tempo é propositivo ao suscitar uma crítica em
relação a exclusão de uma porção dessa região, frequentemente ignorada. Sobre essa
poligonal, foi feita a análise da existência de políticas patrimoniais e culturais, incluindo
instrumentos de planejamento urbano. A constatação foi de que apesar de existirem
diversos lugares já reconhecidos e protegidos, a legislação é insuficiente para frear uma
eventual transformação da região.

Enquanto alternativa a esse cenário, foi proposto que a educação patrimonial seja
trabalhada como ferramenta de preservação cultural voltada aos usuários da região, à
medida que conecta espaços físicos de uso corrente a memórias e valores intangíveis.
Dessa forma, ao longo do capítulo 4 foram identificadas iniciativas locais que de alguma
forma já atuam na promoção desses valores, e que contribuam na circulação de
conhecimento entre os diferentes atores sociais que se relacionam com a cidade. Apesar
de terem sido mapeadas diferentes iniciativas, não foi identificada nenhuma que
respondesse a necessidade de promover a visibilidade permanente dos lugares de
memória que atualmente estão invisibilidades, despercebidos. Foi percebida a existência
de muito material, principalmente no ambiente digital, mas que está dissociado do
espaço na sua dimensão física. As poucas placas e códigos utilizados possuem diferentes
limitações, como acessibilidade e durabilidade,

Na busca por outras referências foram mapeadas também, iniciativas de uso da


identificação e visibilidade como ferramenta de educação patrimonial em outros
contextos, outras cidades-capitais. Guardadas as devidas proporções, existem alguns
pontos em comum entre as iniciativas bem sucedidas já realizadas em cidades como Rio
de Janeiro e São Paulo, que poderiam ser transplantadas para o contexto local. Ainda
como referência de participação e mobilização social e a valorização do patrimônio
cultural, havia a intenção de estudar o caso do Espaço Comum Luiz Estrela, em Belo
Horizonte, porém o estudo dessa relação fica como sugestão para aprofundamento
futuro sobre o tema.

No capítulo 5 foram apresentados lugares físicos que se ligam a memória


intangível do Centro Leste, e que se enquadram como patrimônios culturais
despercebidos, seja pela invisibilidade ou pelo apagamento. A escolha foi balizada pela
recorrência como são ignoradas as histórias por trás das construções e terrenos vazios,
como a antiga Fábrica e Confeitaria Moritz, o quarteirão residencial formado pelas ruas Figura 101 - Vista parcial do Centro Leste, com Instituto Arco-Íris ao centro, e
Victor Meirelles e General Bittencourt, o 5º Distrito Naval, e especialmente o Instituto demais imóveis catalogados destacados. Edição do autor sobre foto de Ricardo
Arco-Íris. Maas, de 28/07/2022, tomada a partir do Edifício da Secretaria de Educação de SC. 59
Nesse sentido, os verbetes esboçados servem mais como ponto de partida,
apresentando dados e informações que até então estavam desterritorializadas e
desvinculadas dos lugares físicos, mas que uma vez relacionadas, permitem a
participação de novos atores sociais. Dessa forma, se conclui que a visibilidade e
valorização de tais bens culturais, apesar de despercebidos, é potente, e se faz
necessária, e que o trabalho de identificação apenas começou, há muito por fazer, e que
o caminho passa pela troca de conhecimento.

Por fim, ao longo de todo trabalho houve o cuidado de apresentar os processos em


curso, seus atores e visões, e principalmente, compartilhar dados e informações até
então dispersas e ocultas, de modo a permitir que novos atores sociais, como
pesquisadores, acadêmicos, moradores, se apropriem desse conhecimento e o
mobilizem a favor da preservação do Centro Leste. O principal produto do trabalho se
constitui justamente da construção dessa conexão entre os lugares físicos e os de
memória, e do compartilhamento do conhecimento já produzido e sistematizado.
6.2: Agradecimentos

“A felicidade só é real quando é compartilhada”. Essa frase, que funciona como um


mantra pessoal, poderia também ser reescrita como - o conhecimento só é real, quando
compartilhado. Chego ao final da graduação com essa perspectiva. Não teria descoberto
a arquitetura, ou o campo do patrimônio cultural, se não fosse pelo conhecimento dos
que vieram antes e deixaram pistas, pegadas. Dedico esse trabalho a estes, que se
preocuparam em deixar sua contribuição, em compartilhar informação. Acadêmicos e
populares, familiares ou estranhos, foi graças a predisposição e ao compromisso com a
memória que estas histórias foram registradas, repassadas, preservadas e descobertas.

Este trabalho é apenas uma singela contribuição na construção do conhecimento


comum, voltado aos problemas reais com os quais nos deparamos cotidianamente.
Estudar sobre arquitetura, memória e patrimônio, desde sempre foi um prazer
compartilhado com familiares, amigos, colegas e professores. Não poderia concluir esta
etapa tão simbólica sem agradecer a todos pelo apoio nos últimos anos.

Em primeiro lugar, agradeço a minha família, por me possibilitar realizar esse


sonho chamado arquitetura. Entre dificuldades e limitações, o apoio nunca faltou, e
juntos vencemos os desafios, compartilhamos das alegrias e construímos novos sonhos.

Aos amigos de longa data, que acompanharam todas as etapas dessa aventura
insana que foi estudar na UFSC, e que foram essenciais para não perder a perspectiva
nem o ânimo ao longo dos últimos 9 anos. Juntos crescemos e nos transformamos.

Meu carinho aos colegas do curso, com os quais dividi tantos momentos e pude
aprender lições que não se aprendem em livros. Foram momentos inesquecíveis.

Aos mestres e professores, com os quais aprendi não só a ver e entender a


arquitetura, como também a produzi-la. Sou grato por entrar sabendo pouco, e sair com
a certeza que aprendi muito. Em especial meu orientador, que me acolheu, acreditou no
meu tema e me deu suporte e orientação.

Meu reconhecimento a todos os anônimos que se dedicam para que a UFSC


funcione e cumpra seu papel social: produzir conhecimento e transformar a sociedade.

Por fim, meu singelo agradecimento a Universidade Federal de Santa Catarina, e


por tudo que me proporcionou. Que jamais se perca da sua missão: Pública, gratuita e de Figura 101 - Arte urbana na fachada lateral do Instituto Arco-Íris, representando o
qualidade. personagem Finn, o Humano. Executada antes de dezembro de 2016. Fonte: Acervo Pessoal,
registrada em 17/08/2022.
60
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PEREIRA, Juliano Cabral. Santa Catarina Sob Suspeita: A Atuação Dos Órgãos De Segurança E
Informação Da Ditadura Militar Em Território Catarinense (1964-1985). Dissertação de mestrado
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da UDESC. Florianópolis, UDESC, 2021. Disponível VELLOSO, Verônica Pimenta. Instituto Politécnico de Florianópolis. In: Dicionário Histórico-Biográfico das
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606_6182.pdf>. Acesso em: 07 set. 2022.
LISTA DE FIGURAS - REFERÊNCIAS
Figura 16: Aquarela retratando Saldanha Marinho, esquina com Rua Anita Garibaldi, com os fundos da Superintendência do
Patrimônio da União em Santa Catarina em destaque. Ao fundo, o edifício do atual Museu da Escola Catarinense - MESC, que na época
funcionava como Faculdade de Educação da UDESC de autoria de Sérgio Luiz de Castro Bonson, realizado em 26/12/1999. Retirado de:
Petry, Michele Bete. Entre desenhos, aquarelas e expressões gráficas de humor: a cidade e o cotidiano de Florianópolis (SC) na obra de
Sérgio Bonson. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de
Capa: Rua João Pinto em 1851, via arterial do centro comercial de Desterro, tendo ao fundo Imperial Hospital de Caridade. Pintura de
Pós-Graduação em História, Florianópolis, 2011. p. 112. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/94832 .
Victor Meirelles, realizada em 1851. Imagem recortada pelo autor. Retirado de: DAMIÃO, Carlos. Uma viagem colorida à antiga Nossa
Senhora do Desterro. In: Notícias. Jornal Notícias do Dia. Publicado em 04/12/2016. Disponível em:
Figura 17: Delimitação das Áreas de Preservação Cultural Histórica - APC-1, definidas pelo Anexo da Lei Complementar 482 de 2014,
https://ndmais.com.br/noticias/uma-viagem-colorida-a-antiga-nossa-senhora-do-desterro/.
que aprovou o Plano Diretor, em vigor desde então. Disponível em: http://ipuf.pmf.sc.gov.br/plano-diretor/.

Folha de Rosto: Esquina da Rua João Pinto com a Travessa Ratclif, em frente ao prédio do Instituto Arco-ìris. Fonte: Acervo Pessoal,
Figura 18: Detalhe da fachada do imóvel histórico onde funciona atualmente o Instituto Arco-Íris de Direitos Humanos. Fonte: Acervo
registrada em 17/08/2022.
Pessoal, registrada em 17/08/2022.

Figura 01: Pistas esquecidas. Sob a camada de tinta, a numeração original da Livraria Lunardelli, localizada no nº 28 da rua Victor
Figura 19: Obras do Aterro da Baía Sul, entre 1970 e 1975, na altura do centro leste. Ao fundo, na lateral direita, o antigo Trapiche
Meirelles. Atualmente corresponde ao nº 112, igualmente coberto por tinta. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
Miramar. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção Aterros.

Figura 02: Desenho urbano retratando rua Victor Meirelles, de autoria de Sérgio Luiz de Castro Bonson, realizado em 27/01/2000, por
Figura 20: “Plano da vila de Nossa Senhora do Destierro”, elaborado em 1777, no contexto da invasão da ilha pela pela Coroa
meio da técnica crayon sobre papel. Retirado de: Petry, Michele Bete. Entre desenhos, aquarelas e expressões gráficas de humor: a
Espanhola. A invasão ocorreu em fevereiro de 1777 e o mapa é datado de dezembro do mesmo ano. Catalogado pelo Projeto
cidade e o cotidiano de Florianópolis (SC) na obra de Sérgio Bonson. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina,
Fortalezas.org. Disponível em: https://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=17 .
Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Florianópolis, 2011. p. 112. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/94832 .
Figura 21: Planta Topográfica da Cidade do Desterro, levantada pelo Major Engenheiro Antônio Florêncio Pereira do Lago e Carlos
Othom Schlappal, em 1876, a mando de Alfredo d' Escragnolle Taunay, enquanto presidente da Província de Santa Catarina.
Figura 03: Pintura de Victor Meirelles, realizada em 1851 retratando a Rua Augusta, atual João Pinto, durante o período de estudos do
Catalogado pelo Projeto Fortalezas.org. Disponível em: https://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=17 .
artista da Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Imagem recortada pelo autor. Retirado de: DAMIÃO, Carlos. Uma
viagem colorida à antiga Nossa Senhora do Desterro. In: Notícias. Jornal Notícias do Dia. Publicado em 04/12/2016. Disponível em:
Figura 22: Mapa de uso do solo da área central de Florianópolis em 1947. Autoria: Wilmar Dias, publicado originalmente em DIAS,
https://ndmais.com.br/noticias/uma-viagem-colorida-a-antiga-nossa-senhora-do-desterro/.
Wilmar. “Florianópolis, ensaio de geografia”. In: DECG: Boletim Geográfico. Florianópolis, ano 1, n°2, julho,1947. Retirado de: SOUZA,
Jéssica Pinto de. O plano diretor de 1952-1955 e as repercussões na estruturação urbana de Florianópolis. Dissertação submetida ao
Figura 04: Vista de Desterro, atual Florianópolis, em 1867. Pintura de Joseph Bruggemann. Acervo do MASP. Imagem recortada pelo
Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade, PGAU-Cidade da UFSC, como parte dos requisitos para a
autor. Disponível em:
obtenção do título de Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade, Linha de Pesquisa em Urbanismo, Cultura e História da
https://masp.org.br/acervo/obra/vista-de-desterro-florianopolis.
Cidade. 2012. p. 50. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/94156 .

Figura 05: Casa Natal de Victor Meirelles antes de ser transformada em museu, na década de 1940. Retirada de: MUSEU VICTOR
Figura 23: Vista do Centro Leste na década de 1950. Provavelmente tomada a partir do recém construído Edifício Meridional,
MEIRELLES, 6ª Edição do Projeto Armazém. Florianópolis, 2015. disponível em:
1954-1959, cuja angulação corresponde à perspectiva da fotografia. Autoria Foto Postal Colombo. Fonte: Elaboração própria a partir
https://museuvictormeirelles.museus.gov.br/2015-2/6a-edicao-do-projeto-armazem/.
de original do acervo da Casa da Memória de Florianópolis, coleção Panorâmicas.

Figura 06: Vista da região do Centro Leste a partir do aterro da Baía Sul. Fotografia tomada da passarela de pedestres sobre a Rod.
Figura 24: “Panorama da cidade, por volta de 1905, com o Quartel do Campo do Manejo no primeiro plano”. Foto de Eugen Currlin.
Gustavo Richard. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
Acervo G. Schmidt-Gerlach. Reproduzido do livro "Ilha de Santa Catarina: Florianópolis" (GERLACH, 2015: p. 178-179), digitalização:
Renato Rizzaro. Catalogado pelo Projeto Fortalezas.org. Disponível em: https://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=990.
Figura 07: Construção do primeiro edifício reconhecido como "arranha céu” em Florianópolis, com térreo e sobreloja comercial mais
nove andares de unidades residenciais. Registo de 1957. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção Edifícios.
Figura 25: Vista panorâmica do centro à leste da Praça XV, tomada a partir da torre da Catedral. Em destaque a recém construída
Escola Normal e imediatamente atrás, o Instituto Politécnico em construção. Considerando 1922 como ano do lançamento da pedra
Figura 08: Conjuntos de valor histórico e arquitetônico definidos pelo Decreto nº 270 de 1986. Anexo disponibilizado no Diário Oficial,
fundamental do Instituto Politécnico e 1924 como de sua ocupação, a fotografia é seguramente da primeira metade da década de
nº 13.117, edição de 05/01/1987. Disponível em:
1920. Elaboração própria a partir de original do acervo da Casa da Memória de Florianópolis, coleção Início séc. XX.
https://leismunicipais.com.br/a1/sc/f/florianopolis/decreto/1986/27/270/decreto-n-270-1986-tomba-como-patrimonio-historico-e-artist
ico-do-municipio-conjuntos-de-edificacoes-existentes-na-area-central-do-territorio-municipal-1986-12-30-versao-original .
Figura 26: Rua Nunes Machado, esquina com João Pinto, em 2000. Ao fundo, Clube Doze de Agosto. Fonte: Casa da Memória de
Florianópolis, coleção Ruas.
Figura 09: Trecho numeração par da Rua Fernando Machado, esquina com a Rua General Bittencourt em 1979. No local do imóvel
colonial atualmente existe o condomínio San Marco Residence. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção Ruas.
Figura 27: “Rua Victor Meirelles em 1905, antiga Rua da Pedreira, dos Artigos Bélicos”. Retirada de Ilha de Santa Catarina, livro
iconográfico por Gilberto Gerlach publicado em 2015, Tomo I e II, e disponibilizada por Onde Está Desterro, em
Figura 10: Térreo da edificação Mário Hotel em 1982, com vãos alterados e publicidade comercial. Registro de Maria Isabel Kanan.
https://www.ondeestadesterro.com.br/o_massacre.html.
Fonte: Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural - DPPC, da Fundação Catarinense de Cultura - FCC.
Figura 28: Aterro da Baía Sul, na década de 1960. Ao centro, Instituto Estadual de Educação, inaugurado em 1963, e logo atrás o
Figura 11: Edificação Mário Hotel em 1982, com vãos alterados e publicidade comercial. Registro de Maria Isabel Kanan. Fonte:
Edifício Trabalhador Catarinense (r. General Bittencourt, nº 127) em construção. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção
Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural - DPPC, da Fundação Catarinense de Cultura - FCC.
Aterros.

Figura 12: Ilustração da cartilha Projeto Renovar, mostrando a situação anterior a recuperação do imóvel histórico degradado e com
Figura 29: Aterro da Baía Sul, defronte ao centro leste, na década de 1980, antes da construção do Terminal Cidade de Florianópolis,
características arquitetônicas ocultas ou descaracterizadas.
ocorrida em 1988. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção Aterros.
Retirado de: IPUF, 1993. Disponível em:
http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/18_06_2015_23.55.19.47ea075a39d1880afba38c32562b95ef.pdf .
Figura 30: Movimento intenso de pedestres no entorno do Terminal Cidade de Florianópolis, em 2000.
Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, coleção Edifícios.
Figura 13: Ilustração da cartilha Projeto Renovar, mostrando a situação almejada após a recuperação do imóvel histórico e suas
características arquitetônicas originais.
Figura 31: Centro comercial fechado por falta de movimento, onde outrora as salas comerciais eram disputadas e valorizadas. Fonte:
Retirado de: IPUF, 1993. Disponível em:
Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/18_06_2015_23.55.19.47ea075a39d1880afba38c32562b95ef.pdf .
Figura 32: Travessa Ratclif em 2004, autoria de Graziela Naldi Monteiro. Retirada de MONTEIRO, Graziela Naldi. Revitalização de parte
Figura 14: Edificação do antigo Mário Hotel em 1994, com as características recuperadas após o Projeto Renovar. Fonte: Casa da
do centro histórico de Florianópolis antigo bairro da Pedreira : um novo olhar sobre as ruas da área. Trabalho de Conclusão de Curso,
Memória de Florianópolis, coleção Edifícios.
em Arquitetura e Urbanismo, pela UFSC. Florianópolis, 2004. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/221040 .

Figura 15: Edificação do antigo Mário Hotel, com as características recuperadas após o Projeto Renovar mantidas por mais de duas
décadas. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 30/04/2013. 63
Figura 32: Travessa Ratclif em 2004, autoria de Graziela Naldi Monteiro. Retirada de MONTEIRO, Graziela Naldi. Revitalização de parte Figura 45: Foto Aérea da região central, em 1938. Acervo do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis. Retirado de: IPHAN,
do centro histórico de Florianópolis antigo bairro da Pedreira : um novo olhar sobre as ruas da área. Trabalho de Conclusão de Curso, Procissão do Senhor dos Passos
em Arquitetura e Urbanismo, pela UFSC. Florianópolis, 2004. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/221040 . (Florianópolis, SC): dossiê de registro. Brasília, 2018. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/dossie_procissao_sr_dos_passos_flp_2018(1).pdf pg 224.
Figura 33: Travessa Ratclif em 2022. em comparação com a fotografia de 18 anos antes, a travessa foi um dos poucos endereços do
centro leste que praticamente não sofreu alterações, seguindo como espaço apropriado e movimentado. Fonte: Acervo Pessoal, Figura 46: Vista panorâmica da cidade, em 1915. Poligonal do centro leste destacada em rosa. Registro de José Ruhland, Acervo
registrada em 17/08/2022. Roberto Lacerda Westrupp. Retirado de: DAMIÃO, Carlos. In: Notícias. Jornal Notícias do Dia. Publicado em 10/12/2016. Disponível em:
https://ndmais.com.br/noticias/vistas-panoramicas-resgatam-a-originalidade-de-florianopolis/ .
Figura 34: Edifício Sede da Liga Operária Beneficente. No prédio funciona até hoje o salão de dominó, e no passado funcionou uma
biblioteca voltada à classe trabalhadora. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022. Figura 47: Localização do setor leste no Centro histórico de Florianópolis, e poligonal do recorte considerado no trabalho como sendo
o Centro Leste, em lilás. Fonte: Elaboração própria.
Figura 35: Mapa de lançamento do Sapiens Miramar, posteriormente Centro Sapiens. Retirado de: FLORIANÓPOLIS. PMF lança projeto
Centro Sapiens na segunda. In: Notícias. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Publicado em 10/09/2015. Figura 48: Vista Aérea da região central na década de 1960, com o perímetro do centro leste, considerado para o recorte, em
Disponível em: http://www.pmf.sc.gov.br/noticias/index.php?pagina=notpagina&noti=15213. Acesso destaque. Elaboração própria a partir de original do acervo da Casa da Memória de Florianópolis, coleção Aéreas.

Figura 36: Colagem com pequena amostra de diversas manchetes veiculadas na imprensa entre 2018 e 2022, e os principais discursos Figura 49: Legislações de proteção patrimonial vigentes em 2022, considerando as três esferas: municipal, estadual e federal.
veiculados: Elaboração própria, a partir de DIAS (2005), FLORIANÓPOLIS (2014), FLORIANÓPOLIS (1990) e IPHAN (2018).

AMANHÃ, Floripa. Projeto Distrito 48 vai transformar área central de Floripa através da economia criativa. Publicado em: 31/08/2020. Figura 50: Mapa Ilustrado de Florianópolis, 2010. Autoria Maurizio Di Reda, a pedido da Prefeitura Municipal de Florianópolis.
Disponível em: Disponível em: http://mzdireda.blogspot.com/2010/03/mapa-ilustrado-de-florianopolis.html.
https://floripamanha.org/2020/08/projeto-distrito-48-vai-transformar-area-central-de-floripa-atraves-da-economia-criativa/v
Figura 51: Placa marrom referente a rua João Pinto. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
GADOTTI, Fábio. Centro Histórico: Pedras mantidas. In: Colunistas. Jornal Notícias do Dia. Publicado em 29/07/2022. Disponível em:
https://floripamanha.org/2022/07/centro-historico-pedras-mantidas/ Figura 52: Placa azul, referente a Rua Jerônimo Coelho. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em abril de 2022.

GONÇALVES, Michael. Degradação do centro histórico de Florianópolis provoca a falência do comércio local. In: Notícias. Jornal Notícias Figura 53: Capa do guia Circuito Cultural de Florianópolis, editado nos anos 2000, e página do verbete relativo a Travessa Ratclif e a
do Dia. Publicado em 12/06/2018. Disponível em: Casa de Arte e Exposição Metálica. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em setembro de 2022.
https://ndmais.com.br/noticias/degradacao-do-centro-historico-de-florianopolis-provoca-a-falencia-do-comercio-local/ .
Figura 54: Placa instalada em um dos pontos do roteiro, nos Jardins do MHSC. Fotografia de autoria de Karla Leal, publicada no blog de
FLORIANÓPOLIS, Prefeitura Municipal. Vem aí o novo centro leste. Publicado em 18/11/2021, no perfil da Prefeitura na Rede Social viagens, em outubro de 2017. Disponível em:
Facebook. Disponível em: http://www.cariocandoporai.com.br/2017/10/florianopolis-em-familia-roteiro-de-4-dias.html.
https://m.facebook.com/watch/?v=3088879691396130&paipv=0&eav=AfYdKWgQSwmCR26vwu7neYF7lsxKSTrq9aoemDYEmIjk_q-NF4tf
W-2bw-h0aHYUzSc&_rdr. Figura 55: Exemplo de utilização dos códigos, produzidos em papel colados aos postes. Foto de Vanessa Camassola Sandre, publicada
em abril de 2018 no perfil do facebook do projeto. Disponível em:
ARMANDINHO. Pela manutenção dos paralelepípedos do Centro Histórico Leste, de Florianópolis. https://www.facebook.com/flamboia/photos/a.280749988953216/596520467376165/.
Rua Victor Meirelles. Praça XV; Museu Victor Meirelles; Escola Estadual Profª. Antonieta de Barros. Publicado em 07/11/2021, no perfil
Armandinho, na Rede Social Facebook. Disponível em: Figura 56: Mesmo poste em maio de 2018 e janeiro de 2022. Caráter efêmero do código. Google, ferramenta Street View.
https://www.facebook.com/488356901209621/posts/4942032579175342/ .
Figura 57: aplicação dos lambe-lambe na área central com estampas críticas e códigos QR Code. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em
Figura 37: Outros projetos para o centro leste: Moradia estudantil, moradia transitória (hostel) e habitação de interesse social. Autor maio de 2022.
do projeto: Arquiteto Marcelo Carlos Monteiro. Retirado de: MONTEIRO, Marcelo Carlos. Pedreira: repensando a área histórica.
Trabalho de Conclusão de Curso, em Arquitetura e Urbanismo, pela UFSC. Florianópolis, 2016. p. 27. Disponível em: Figura 58: Placa instalada no canteiro da praça, próximo aos monumentos. Retirada de: Bom Dia SC. Florianópolis amplia roteiros
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/213833. autoguiados. In: Turismo. Bom Dia SC, publicada em 14/08/2022. Disponível em:
https://bomdiasc.com.br/turismo/florianopolis-amplia-roteiros-turisticos-autoguiados/.
Figura 38: Resgate e valorização dos cinemas de rua e da produção audiovisual local. Autor do projeto: Arquiteto Lucas Luciani da
Silva. Retirado de: LUCIANI DA SILVA, Lucas. Cine Pedreira: cinema de rua e centro audiovisual no centro histórico de Florianópolis. Figura 59: Placa se soma à paisagem urbana como uma nota de rodapé. Retirada de: RIO. Prefeitura inaugura três primeiras placas do
Trabalho de Conclusão de Curso, em Arquitetura e Urbanismo, pela UFSC. Florianópolis, 2021. p. 56. Disponível em: Patrimônio Cultural Carioca do Circuito da Diversidade. In: Cidade. Prefeitura do rio de Janeiro. Publicado em 28/06/2021. Disponível
http://150.162.242.35/handle/123456789/223342. em: https://prefeitura.rio/cidade/prefeitura-inaugura-tres-primeiras-placas-do-patrimonio-cultural-carioca-do-circuito-da-diversidade/ .
Acesso em: 22 ago. 2022.
Figura 39: Imóvel histórico que no passado recente abrigou dois comércios e atualmente está com ambos andares desocupados e
disponíveis para locação. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022. Figura 60: Unidade entre as placas resulta em uma identidade forte. Retirada de: FREIRE, Quintino Gomes. Prefeitura do Rio lança
Circuito da Diversidade e instala placas. In: Geral. Diário do Rio, publicado em 24 de junho de 2021. disponível em:
Figura 40: Colagem com diversos anúncios de venda e locação de imóveis da região central, em especial das ruas João Pinto e https://diariodorio.com/prefeitura-do-rio-lanca-circuito-da-diversidade-e-instala-placas/.
Tiradentes, registrados em 09/09/2022. Fonte: Elaboração própria a partir da plataforma de anúncios online OLX. Disponível para
consulta em: https://sc.olx.com.br/florianopolis-e-regiao/centro/centro/imoveis/comercio-e-industria. Figura 61: Placa reinstalada em frente à casa onde funcionava clandestinamente um centro de tortura, local ligado a memória da
ditadura militar. Imagem retirada de: G1 RS. Recolocada placa que indica local de antigo centro de tortura da Ditadura Militar em Porto
Figura 41: Centro Leste destacado do entorno, segundo a delimitação mais comum, restrita a malha histórico-fundacional. Autoria: Alegre. In: Notícia. Publicada em 29/04/2021. disponível em:
Marcelo Carlos Monteiro. Retirado de: MONTEIRO, Marcelo Carlos. Pedreira: repensando a área histórica. Trabalho de Conclusão de https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/04/29/recolocada-placa-que-indica-local-de-antigo-centro-de-tortura-da-ditadur
Curso em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Santa Catarina. 2016. Disponível em: a-militar-em-porto-alegre.ghtml
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/213833.
Figura 62: Marca estilizada do projeto em ponto do roteiro. Foto de Priscila M. Perin, publicada em julho de 2016, na rede social
Figura 42: Planta da cidade de Florianópolis, em 1910. Arquivo Público de Santa Catarina. Adaptado pelo autor (recortada). Retirado instagram. disponível em:
de: VEIGA, Eliane Veras da. A Casa de Chácara da Rua Bocaiúva - Histórias da Praia de Fora. MPSC. Florianópolis, 2019. p. 39. https://www.instagram.com/p/BHxTHmBjQVF/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D.

Figura 43: Amostra de diferentes poligonais para o centro leste, retiradas dos trabalhos acadêmicos analisados. Fonte: Elaboração Figura 63: Placa afixada em imóvel tombado, no largo da Ordem. Área útil da placa é pouco explorada, e o código possui tamanho
própria. diminuto. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em abril de 2022.

Figura 44: Planta da Cidade do Desterro em 1876. Planta Topográfica da Cidade do Desterro, levantada pelo Major Engenheiro Antônio Figura 64: Mapa dos pontos já identificados pelo projeto Placas da Memória Paulistana. Disponível em: DPH. Circuito Memória
Florêncio Pereira do Lago e Carlos Othom Schlappal, em 1876. Copiada por Waldir Fausto Gil em 15 de maio de 1939; e digitalizada por Paulista. In: Jornada do Patrimônio 2021. Secretária Municipal de Cultura - Prefeitura de São Paulo. 2021. Disponível em:
Flávio Andaló, em 2006. Adaptado pelo autor (recortada). Catalogado pelo Projeto Fortalezas.org. Disponível em: https://www.circuitomemoriapaulistana.com.br/sobre. Acesso em: 22 ago. 2022. 64
https://fortalezas.org/index.php?ct=fortaleza&id_fortaleza=15 .
Figura 65: Placas instaladas em diferentes pontos da cidade. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em setembro de 2021. Figura 88: Aspectos interessantes da antiga vitrine preservados até 2016, já removidos na captura de 2017. Google, ferramenta Street
View, outubro 2016.
Figura 66: Recorte da área do Centro Leste analisada e locais catalogados. Fonte: Elaboração própria.
Figura 89: Pátio interno, onde atualmente funciona um estacionamento. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
Figura 67: Prédio na década de 1940, enquanto funcionava como Centro de Saúde de Florianópolis. Fonte: Casa da Memória, coleção
Edifícios. Figura 90: Imagem atual da fachada da Rua Victor Meirelles. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.

Figura 68: Aspecto externo do prédio remete a degradação e abandono, no entanto é um dos lugares mais pulsantes da região do Figura 91: Esquina da Rua Nunes Machado com Victor Meirelles, em 1931. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis, Coleção Ruas.
centro leste. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
Figura 92: Rua Victor Meirelles, em 1905. O casario colonial à direita foi destruído para a construção do Grupo Escolar Dias Velho na
Figura 69: Detalhe da placa do Centro de Saúde de Florianópolis, déc. 1940. Fonte: Casa da Memória, coleção Edifícios. década de 30 e para a sede do 5º DN, na década de 40. O prédio da atual Kibelândia já aparece construído. Fonte: Onde está Desterro?

Figura 70: Detalhe do desenho no piso de pedras petit pavê, remetendo a Casa de Artes. Google Street View, captura em fevereiro de Figura 93: Instalações da antiga 5º DN ocupam mais da metade da quadra, e constituem um paredão na fachada voltada à Rua
2022. General Bittencourt. Fonte: Google, ferramenta Street View, 2022.

Figura 71: Única imagem do artista em seu ateliê. Considerando que o livro foi editado pelo próprio artista, possivelmente a fotografia Figura 94: Manifestação pelas Diretas Já no coração do Centro Leste, em 1984, passando pela Rua Tiradentes na altura da Sociedade
por ele escolhida, seja a imagem que gostaria de deixar de si e sua obra. REIS, Osvaldo Lopes. Arte, Vida e Recordação de Osvaldo Amor à Arte. Ao fundo, prédio da padaria Moritz, com seu letreiro visível. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis. Coleção Ruas
Lopes Reis. Florianópolis: Editora da UFSC, 1994. pg 14.
Figura 95: Prédio que foi a sede da Marinha do Brasil no centro de Florianópolis, atualmente Ministério da Fazenda. Fonte: Google,
Figura 72: Placa do projeto Vida & Saúde, em 2016. Google Street View, captada em dezembro de 2016. ferramenta Street View, captura 2022

Figura 73: Placa da inauguração da urbanização do trecho da Travessa, em 2016. Google Street View, captada em dezembro de 2016. Figura 96: Como não foi localizada nenhuma imagem referente ao período em que o prédio abrigou o 5º D.N, fica a interrogação sobre
qual a memória do lugar. O espaço fica reservado para futuramente receber essa imagem. Disponível em:
Figura 74: Rara imagem colorida das maquetes. Em primeiro plano a Ponte Hercílio Luz, seguida do que possivelmente seja a Colombo https://www.gratispng.com/png-gdcxin/.
Salles, e ao fundo, ruas e prédios em miniatura. Fonte: IPUF. Circuito Cultural de Florianópolis. Prefeitura Municipal de Florianópolis.
Textos de Eliane V. da Veiga, diagramação e projeto gráfico Joel Pacheco. Florianópolis, SETUR, 2000. Figura 97: Trecho da Rua Victor Meirelles, antiga Rua da Pedreira, no trecho onde se inicia a General Bittencourt, em 1940. Casa da
Memória de Florianópolis, Coleção Ruas.
Figura 75: Logo do Projeto Travessa Cultural. Retirado de: Instituto Arco-Íris Direitos Humanos, Perfil na rede social Facebook.
Disponível em: https://www.facebook.com/photo/?fbid=159886509986819&set=a.159886483320155. Figura 98: Comparativo do conjunto correspondente à localização da casa da Família Soares, em 2011. Fonte: Google, ferramenta
Street View, 2022.
Figura 76: Preparativos para exibição externa, do Cineclube Ieda Beck, sem data. Fonte: Travessa Cultural, sem data ou autoria.
disponível em: Figura 99: Comparativo do conjunto correspondente à localização da casa da Família Soares, em 2022. Fonte: Google, ferramenta
https://www.facebook.com/photo/?fbid=1745800552113474&set=pb.100082000850757.-2207520000 Street View, 2022.

Figura 77: Atividade com Paulo Nogueira, o “professor das ruas”, sobre a invisibilidade preta em Florianópolis. Fonte: Olhar Animal, Figura 100: Cine Coral, no centro de Florianópolis. Tela de Átila Ramos. Retirado de: BORGES, Leonardo Bertoldi. Centro de Mídia:
30/12/2019, sem autoria. Retirada de: Retomada do cinema de rua. Trabalho de Conclusão de Curso, em Arquitetura e Urbanismo, pela UNISUL. 2018. disponível em:
https://olharanimal.org/pra-fechar-o-ano-balanco-8-bazar-vegano-floripa/ https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/12307.

Figura 78: População utilizando rede wifi do Instituto Arco-Íris. Retirado de: Floripa Centro. Wi-fi gratuito é disponibilizado no Centro Figura 101: Vista parcial do Centro Leste, com Instituto Arco-Íris ao centro, e demais imóveis catalogados destacados. Edição do autor
para população carente e pessoas em situação de rua. Publicado em 02/07/2020. Disponível em: sobre foto de Ricardo Maas, de 28/07/2022, tomada a partir do Edifício da Secretaria de Educação de Santa Catarina.
https://floripacentro.com.br/wi-fi-gratuito-e-disponibilizado-no-centro-para-populacao-carente-e-pessoas-em-situacao-de-rua/
Figura 102: Arte urbana na fachada lateral do Instituto Arco-Íris, representando o personagem Finn, o Humano. Executada antes de
Figura 79: Oficina de ZineColageria realizada em 22.06.22, dentro do Pipa Festival. Retirada de: Festival de Literatura de Florianópolis: dezembro de 2016. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em 17/08/2022.
Pela Ilha Palavra Amplificada, publicada na rede social Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/p/Cf4aI3YO_7Q/ .

Figura 80: Oficina de ZineColageria realizada em 22.06.22, dentro do Pipa Festival. Retirada de: Festival de Literatura de Florianópolis:
Pela Ilha Palavra Amplificada, publicada na rede social Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/p/Cf4aI3YO_7Q/ .

Figura 81: Apresentação do Grupo Africatarina em 25.06.22 no Instituto. Autoria Luis Antônio Rodrigues. Retirada de: Africatarina,
publicação na rede social Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/p/Cfz3M7xsNQ7/.

Figura 82: Oficina de percussão samba-reggae do Grupo Africatarina em 27.07.22, no Instituto. Autoria Ramires Ramos. Retirada de:
Africatarina, publicação na rede social Instagram. Disponível em: https://www.instagram.com/p/Cgo4RcSLIMh/

Figura 83: Oficina de percussão samba-reggae do Grupo Africatarina em 27.07.22, em parceria com a Associação de Amigos da Casa
da Criança e do Adolescente do Morro do Mocotó. Autoria Ramires Ramos. Retirada de: Africatarina, publicação na rede social
Instagram. Disponível em:https://www.instagram.com/p/Cgo4RcSLIMh/

Figura 84: As três portas de entrada do imóvel em 2022. A primeira corresponde à escada de acesso ao piso superior, a segunda ao
Instituto Arco-Íris e a terceira à antiga Casa de Arte e Esposição Metálica, atualmente ocupada pelo instituto. Fonte: Acervo Pessoal,
registrada em 17/08/2022.

Figura 85: Detalhes das aberturas do pavimento térreo da antiga Padaria Moritz, em 1995. Fonte: Casa da Memória de Florianópolis,
Coleção Edifícios.

Figura 86: Imagem atual da fachada da Rua Tiradentes, com os pavimentos superiores desocupados. Fonte: Acervo Pessoal, registrada
em 17/08/2022.

Figura 87: Imagem atual da fachada da Rua Tiradentes, com o térreo parcialmente ocupado. Fonte: Acervo Pessoal, registrada em
17/08/2022. 65
Compilado Legislação Municipal
Relativa a Patrimônio Cultural e
APÊNDICE 01 Planejamento Urbano em Florianópolis Decreto nº 190/90 1990 Decreto Municipal nº 190/90, de 29 de maio de 1990

[Exclui 249 imóveis dos conjuntos históricos


tombados em 1986 e classificados em 1989;altera
a classificação de proteção P2 para P3 de 8
Lei n° 246/55 * 1955 APROVA O CÓDIGO MUNICIPAL. imóveis; tomba a malha viária urbana central.
Conteúdo não disponível na internet ]
mapa** [1º Plano Diretor de Florianópolis]

Lei nº 001/97 1997 DISPÕE SOBRE O ZONEAMENTO, O USO E A OCUPAÇÃO


Lei nº 1.202/74 1974 DISPÕE SOBRE A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO DO SOLO NO DISTRITO SEDE DE FLORIANÓPOLIS, E DÁ
HISTÓRICO, ARTÍSTICO E NATURAL DO MUNICÍPIO E OUTRAS PROVIDÊNCIAS.
CRIA O ÓRGÃO COMPETENTE
[3º Plano Diretor de Florianópolis, Distrito Sede]
Decreto 1.341/75 1975 Decreto Municipal nº 1.341/75, de 17 de dezembro de 1975
Lei nº 7.667 2008 INSTITUI O PROGRAMA MUNICIPAL DE PROTEÇÃO E
[Tombamento das igrejas mais antigas de CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO IMATERIAL OU
Florianópolis, notadamente do período colonial. INTANGÍVEL DO MUNICÍPIO.
Conteúdo não disponível na internet ]

Lei nº 7955 2009 DISPÕE SOBRE A IMPLANTAÇÃO DA POLÍTICA


Lei 1440/76 1976 ALTERA O PLANO URBANO DA CIDADE E DÁ OUTRAS CULTURAL LOCAIS DA MEMÓRIA
PROVIDÊNCIAS.

[2º Plano Diretor de Florianópolis] nº 8209 2010 ALTERA EMENTA E DISPOSITIVOS DA LEI Nº 7955 DE
2009

Lei n.1.715/80 1980 ALTERA DISPOSITIVOS DA LEI Nº 1440, DE 31 DE MAIO DE


1976 E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Lei nº 482 2014 INSTITUI O PLANO DIRETOR DE URBANISMO DO
MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS QUE DISPÕE SOBRE A
POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO URBANO, O PLANO
Decreto nº 046/84 1984 Decreto Municipal nº 046/84, de 27 de março de 1984 DE USO E OCUPAÇÃO, OS INSTRUMENTOS
URBANÍSTICOS E O SISTEMA DE GESTÃO
[Regulamenta as atividades do SEPHAN e da
COTESPHAN. Conteúdo não disponível na internet ] [4º Plano Diretor de Florianópolis]

Lei nº 2.193/85 1985 DISPÕE SOBRE O ZONEAMENTO O USO E A OCUPAÇÃO Decreto nº 21.932 2020 REGULAMENTA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO E
DO SOLO NOS BALNEÁRIOS DA ILHA DE SANTA CLASSIFICAÇÃO DE BENS CULTURAIS IMÓVEIS NO
CATARINA DECLARANDO-OS ÁREA ESPECIAL DE MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS.
INTERESSE TURÍSTICO E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.

[3º Plano Diretor de Florianópolis, com exceção do Decreto nº 23.080 2021 REGULAMENTA A COMISSÃO TÉCNICA DO SERVIÇO DO
Distrito Sede] PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARTÍSTICO E NATURAL DO
MUNICÍPIO (COTESPHAN).
Decreto nº 270/86 1986 TOMBA, COMO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO
DO MUNICÍPIO, CONJUNTOS DE EDIFICAÇÕES
EXISTENTES NA ÁREA CENTRAL DO TERRITÓRIO
MUNICIPAL. *Os Decretos e Leis cujo conteúdo está disponível online, estão com os respectivos
números sublinhados, sinalizando que há um link vinculado.
Decreto nº 521/89 1989 CLASSIFICA, POR CRITÉRIOS DIFERENCIADOS DE VALOR ** O mapa da Lei 246/55 não está disponível online, tendo sido retirado DELORENZO
HISTÓRICO, ARTÍSTICO E ARQUITETÔNICO, OS PRÉDIOS NETO, 1957 (apud SOUZA, 2012, p. 81).
INTEGRANTES DOS CONJUNTOS HISTÓRICOS
TOMBADOS PELO DECRETO Nº 270/86.
Elaboração própria, a partir de ADAMS (2002), IPUF (2012), IPUF (2022).

66
Trabalhos de Conclusão de Curso em

APÊNDICE 02
Arquitetura e Urbanismo entre 2004 08 2016 - CAVANUS Aline Vicente Cavanus - TCC - UFSC
e 2021 relativos ao Centro Leste
Instituto Arco-Íris: um espaço de resistência no Centro histórico
de Florianópolis
Nº ANO / AUTOR INFORMAÇÕES
https://repositorio.ufsc.br//handle/123456789/217088
01 2004 - MONTEIRO Graziela Naldi Monteiro - TCC - UFSC
09 2016 - MONTEIRO Marcelo Carlos Monteiro - TCC - UFSC
Revitalização de parte do centro histórico de Florianópolis
antigo bairro da Pedreira : um novo olhar sobre as ruas da área Pedreira: repensando a área histórica

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/221040 https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/213833

02 2009 - RAUEN Raquel Regina Rauen - TCC - UFSC 10 2017 - MORALES Angellina Mayer Mengue Morales - TCC - UFSC

Circuito Cultural No Centro Histórico Florianópolis Permitir a diversidade no Centro de Florianópolis: programa de
inclusão social na Pedreira
http://150.162.242.35/handle/123456789/120395
http://150.162.242.35/handle/123456789/217098
https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/217779
11 2017 - NASCIMENTO Maria Cristina Kreutz do Nascimento - TCC - UFSC
03 2011 - LINHARES Gabriela Tridapalli F. Linhares - TCC - UFSC
Cidade Subjetiva
Hostel cidade: uma alternativa para o resgate da urbanidade no
Centro Histórico de Florianópolis https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/200788

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/212931 12 2017 - JUNCKES André Fhilipe Junckes - TCC - UFSC

04 2011 - PACHECO Ellis Monteiro dos Santos Pacheco - TCC UFSC Desenvolvimento Excludente: Gentrificação em Florianópolis

Descortinando o Leste da Praça XV - uma nova ambiência https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/202965

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/121410 13 2017 - BRATTI Maria Luiza Bratti - TCC - UFSC

05 2013 - PEDROTTI Gabriel Santiago Pedrotti - TCC - UFSC Uma proposta alternativa para o Centro Histórico de
Florianópolis
Percurso e centro criativo da Bulha: uma proposta de reforma
urbana para o Centro de Florianópolis https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/200800

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/213498 14 2017 - IMPROTA Mirella Lenoir Improta - TCC - UFSC

06 2015 - SOUZA Mariana Rocha Siqueira de Araújo e Souza - TCC - UFSC Casa de Acolhimento ao Migrante

Encontros na cidade: ensaios de intervenções urbanas para o https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/202973


bairro da Pedreira (2015) Autora:
15 2017 - SOUZA Julia Lucena Sousa - TCC - UNISUL
https://issuu.com/grupoquiasma/docs/caderno_mariana_rocha
_s_a_souza Interiores Urbanos: centro histórico de Florianópolis

http://150.162.242.35/handle/123456789/213866 https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/12439

07 2016 - RIBEIRO Luisa Ribeiro - TCC - UFSC 16 2018 - FIGUERÓ Isabela de Carvalho Figueiró - TCC - UFSC

Antonieta de Barros: um novo atrativo para o setor leste da Centro Social: equipamentos de acolhimento voltados à
praça XV população em situação de rua no centro de Florianópolis
(Centro social: uma rede equipamentos voltados à população
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/213831 em situação de rua no centro de Florianópolis)

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/217123 67
Trabalhos de Conclusão de Curso em

APÊNDICE 02
Arquitetura e Urbanismo entre 2004 24 2021 - MONDARDO Augusto Benjamin Vito Mondardo - TCC - UNISUL
e 2021 relativos ao Centro Leste*
A propriedade do vazio: dinâmica entre o espaço ocioso e a
vitalidade do centro urbano de Florianópolis
Nº ANO / AUTOR INFORMAÇÕES

17 2019 - MARTERER Sofia Marterer - 2019 - TCC - UFSC https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/14839

Os Ismos do Urbano: ensaios para um urbanismo ativista 25 2021 - CAVALCANTE Luane Cavalcante - TCC - UNISUL

https://repositorio.ufsc.br//handle/123456789/204857 COLAB - Centro e Inovação Colaborativa

18 2019 - DE SOUZA Priscila de Souza - TCC - UFSC https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/24485

26 2021 - SARAIVA Mikaela Paola Daniel Saraiva - TCC - UNISUL


Centro de Aprendizagem e Produção Tecnológica - Uma
proposta para inclusão social de jovens em Florianópolis Centro de Acolhimento para Pessoas em Situação de Rua

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/200656 https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/15998

19 2020 - DALSENTER Marcella Luiza Vettori Dalsenter - TCC - UFSC 27 2022 - GARGIONI Matheus Moro Gargioni - TCC - UFSC

Cidade, patrimônio e cotidiano: proposta de diretrizes urbanas O transbordar queer como jeito de fazer cidade: o que pode vir
para a valorização das rugosidades da R. General Bittencourt a público? Ensaio sobre a arte-dissenso como potência de
sociabilidades dissidentes em Florianópolis
https://repositorio.ufsc.br//handle/123456789/219723
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/234485
20 2020 - RODRIGUES Bárbara dos Santos Rodrigues - TCC - UNISUL

Vila Contemporânea - um complexo gastronômico e cultural no *Como critério foram selecionados apenas trabalhos que estão disponíveis de forma
centro de Florianópolis online, em repositórios de acesso público. Certamente existem muitos outros trabalhos
de conclusão de curso no período analisado, em especial na primeira década dos anos
2000, marcada pela transição do formato analógico para digital.
https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/12422

Enquanto recorte amostral, os esforços de mapeamento dos referidos trabalhos


21 2020 - GISLON Jacinta Milanez Gislon - TCC - UNISUL
acadêmicos sobre a região do centro leste foram influenciados pela disponibilidade dos
Uma experiência aberta: associação cultural e ressignificação mesmos em repositórios online. Não foram localizados materiais referentes a outras
do patrimônio histórico Universidades que possuem cursos de Arquitetura e Urbanismo em Florianópolis e
Região Metropolitana.
https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/12427

22 2020 - AMANDIO Barbara Amandio - TCC - UNISUL Elaboração própria.

Edifício Multifuncional no Centro de Florianópolis

https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/16009

23 2021 - LUCIANI DA Lucas Luciani da Silva - TCC - UFSC


SILVA
Cine Pedreira: cinema de rua e centro audiovisual no centro
histórico de Florianópolis

http://150.162.242.35/handle/123456789/223342

68
ANEXO 01 Mapa do Circuito Cultural

Mapa do Circuito Cultural de Florianópolis, roteiro 1 - Centro. Editado. (no encarte original existem mais dois mapas, o de localização da cidade e estado e o do roteiro 2, pela ilha) . 69
IPUF. Circuito Gultural de Florianópolis. Prefeitura Municipal de Florianópolis. Textos de Eliane V. da Veiga, diagramação e projeto gráfico Joel Pacheco. Florianópolis, SETUR, 2000.
ANEXO 02 Mapa do Roteiro Autoguiado

Mapa do Roteiro Autoguiado do Centro Histórico de Florianópolis, disponibilizado ao público na forma de folheto tamanho A5. CDL. Roteiro Autoguiado do Centro Histórico 70
de Florianópolis. Câmara de Dirigentes Lojistas de Florianópolis, 2014. Disponível em: http://www.roteiroautoguiado.com.br/index.php. Acesso em: 22 ago. 2022.
ANEXO 03 Percurso Onde Está Desterro?

Onde Está Desterro? ALBERTONI, J. P. . Onde Está Desterro?. 2018 (Projeto Cultural de Educação Patrimonial). disponível em: <https://www.ondeestadesterro.com.br/index.html>. 71
Acesso em: 14/03/22
ANEXO 04
Linha do Tempo da Luta em Defesa dos
Paralelepípedos

Recorte temporal. GONSALVES, Aghata K. R. Linha do Tempo da Luta em Defesa dos Paralelepípedos. 2022. Projeto realizado como parte de sua tese de doutorado Programa de
Pós-Graduação em Administração da UFSC. Disponível em: https://sites.google.com/view/movimentovivacentroleste/in%C3%ADcio . Acesso em: 14/03/22
72
ANEXO 05 Destinos Turísticos Inteligentes

Verbete Praça XV de Novembro: Destinos Turísticos Inteligentes - Florianópolis. Acesso via QR Code. Hospedado em: https://smarttourjoinville.webnode.page/praca-xv-po/ . 73
ANEXO 06 Inventário Participativo - Memória Paulistana

Formulário disponibilizado pela Secretaria Municipal de Cultura, por meio do Departamento do Patrimônio Histórico (SMC|DPH) em 2019 para receber sugestões de lugares de memória.
Disponível em: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfhtkuOJfPgJyJMTLxNlk9AhmkXjZXbZNY8guWv9NC2sQXI2w/viewform. Acesso em: 26 set. 2022. 74

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