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Quem Foi Emmy Von N?

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Caso Emmy Von N analisado por Freud


Posted on 21/08/2021 Redação Psicanálise ClínicaPosted in Teoria Psicanalítica

Emmy Von N foi a primeira paciente a ser avaliada por Freud utilizando o método
catártico e empregando outros recursos que são válidos até hoje na psicanálise.
Contudo, muitas avaliações da época foram tida como equivocadas, um passo
importante para a evolução dos estudos da psique humana.

Por esse motivo, conhecer esse caso e suas particularidades é fundamental para
compreender melhor os conceitos de uma das abordagens mais importantes da
psicologia. Dito isso, continue a leitura e descubra tudo sobre o caso Emmy Von N.

Este artigo vai enriquecer sua visão sobre a psicanálise. Isso porque você vai:

 conhecer o caso Emmy Von N., um dos primeiros e mais importantes na história
da psicanálise
 e também entender como foram as técnicas empregadas por Freud, que utilizou
o método catártico (sugestão hipnótica) mas já numa transição de técnicas
que depois formariam o método da associação livre e a psicanálise
propriamente dita.

Índice de Conteúdos
 Quem foi Emmy Von N?
 Caso Emmy Von N analisado por Freud
o Traumas de infância
 Qual método Freud empregou no caso Emmy Von N.?
 O papel central da paciente Emmy Von N. na origem da psicanálise
 O conceito de histeria e a forma de tratamento com Psicanálise
 Freud, Hipnose e Psicanálise
 A importância do caso para a psicologia e psicanálise
o Histeria e sexualidade
o Hipnose e psicanálise

Quem foi Emmy Von N?


Emmy Von N foi, na verdade, uma mulher nobre da Suíça, que se chamava
Fanny von Sulzer Wart. Ela esteve entre os primeiros estudos de Sigmund Freud —
que posteriormente veio a se tornar um dos nomes mais emblemáticos entre os
especialistas.

O nome fictício de Emmy Von N foi dado para possibilitar os estudos sobre o seu
comportamento. Dentre os relatos do caso, uma das principais características de
Emmy era o seu medo exagerado de situações normalmente inofensivas.
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Além disso, a paciente apresentava também sintomas físicos peculiares, como dores
no corpo e um vício vocálico. Tudo isso foi visto como evidências para um quadro que
iria muito além de alucinações puramente imaginárias.

Caso Emmy Von N analisado por Freud


O caso de Emmy Von N chegou a Freud como uma paciente histérica, que na época
era compreendida como uma doença nervosa relacionada ao útero e que provocava
crises convulsivas.

Contudo, o principal traço da histeria seria o comportamento de pânico, estresse e


emoções extremamente à flor da pele — assim como Emmy apresentava em relação
ao medo de animais e de pessoas desconhecidas, por exemplo.

Sabendo disso, Freud começou a utilizar as técnicas de hipnose para desvendar a


origem desses medos irracionais da paciente. Assim, o psicanalista hipnotizava a
paciente com o objetivo de expandir a sua consciência e retomar lembranças
apagadas.

Essa seria uma das estratégias adotadas pelo método catártico, responsável por fazer
com que o paciente fale e expresse livremente o que está sentindo, pensando e
reprimindo. Com isso, a pessoa hipnotizada se torna capaz de expor tudo que tem lhe
causado medo.

Traumas de infância
No caso Emmy Von N analisado por Freud, a paciente relatou episódios de infância
em que seus irmãos lhe atiravam animais mortos, como provocação de criança. A
partir dessa informação, o psicanalista pode observar como os traumas de infância são
levados à vida.

Muito embora o método hipnótico utilizando sugestão tenha sido contraposto pelo
próprio Freud ao longo de seus estudos, esse caso foi de suma importância. Afinal, foi
com essa observação que a psicologia voltou seu olhar ao impacto de fatos do
passado do paciente.
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As situações traumáticas passaram então a ser associadas aos eventos de histeria,


considerando que por diversas vezes os primeiros espasmos e crises partiam
justamente no momento dessas situações.

Qual método Freud empregou no caso


Emmy Von N.?
Freud empregou inicialmente o Método Catártico ou Sugestivo, baseado na hipnose.

Este método combinava:

 a técnica da pressão, em que o terapeuta pressionava a testa do paciente,


 com as sugestões hipnóticas, em que o terapeuta pedia que o paciente em
estado hipnótico se desvencilhasse dos sintomas.

Em síntese, Freud dava ordens (ou sugestões) para a paciente não ter mais
determinados sintomas.

É bom lembrar que foi um momento inicial da carreira de Freud, em que ele era um
entusiasta da hipnose, baseando em técnicas de hipnose e sugestão desenvolvidas
por Charcot e Breuer, de quem Freud fora discípulo.

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Ainda não era propriamente psicanálise: o termo só foi cunhado por Freud anos
depois. Mas os elementos fundadores da Psicanálise já podem ser vistos no caso
Emmy Von N., graças às anotações feitas por Freud.

Leia Também:  O que é vínculo terapêutico entre terapeuta e paciente

O papel central da paciente Emmy Von N.


na origem da psicanálise
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Emmy demonstrava uma série de sintomas, dentre os quais:

 dores gástricas (surgidas após a morte do marido),


 tiques nervosos,
 gagueira,
 tendência à repetição de frases (como “fique quieto” e “não me toque”),
 medo de ser tocada e de estar com outras pessoas (por ter sido perseguida em
situações da vida),
 medo de camundongos e de circo,
 mudanças de humor (o que hoje alguns diriam “bipolaridade”),
 entre outros.

Freud escreveu a respeito da gagueira, uma das principais manifestações sintomáticas


de Emmy:

“Eu lhe havia perguntado qual a origem de sua gagueira e ela respondera “não sei”.
Pedira-lhe, portanto, que se lembrasse disso na hora da hipnose de hoje. Em
consequência, me respondeu hoje, sem nenhuma reflexão adicional, mas com grande
agitação e com dificuldades espásticas na fala: “Como os cavalos certa vez saíram em
disparada com as crianças na carruagem; e como outra vez eu estava passando de
carruagem pela floresta com as meninas, durante uma tempestade, e uma árvore bem
à frente dos cavalos foi atingida por um raio e os cavalos se assustaram e eu pensei:
‘Agora você precisa ficar bem quietinha, se não seus gritos vão assustar os cavalos
ainda mais e o cocheiro não conseguirá contê-los de jeito nenhum.’ Surgiu a partir
daquele momento.” A paciente ficou extraordinariamente agitada ao contar-me essa
história. Soube também por ela que a gagueira tinha começado logo após a primeira
dessas duas ocasiões, mas havia desaparecido pouco depois e então se estabelecera
de uma vez por todas após a segunda ocasião semelhante. Apaguei sua lembrança
plástica dessas cenas, mas pedi-lhe que as imaginasse mais uma vez. Ela pareceu
tentar fazê-lo e permaneceu quieta enquanto atendia a meu pedido; a partir de então,
falou durante a hipnose sem qualquer impedimento espástico.”

Durante a hipnose, ela conseguia se expressar, num fluxo mais contínuo de ideias,
sem travas e sem gagueira. Isso reforçou em Freud a ideia de que os sintomas
tinham origem psíquica, não eram de origem física.

Emmy se mostrava irritada com a frequente pergunta de Freud “de onde vem esse
sintoma?”, respondendo a Freud: “Se eu soubesse eu não precisaria estar aqui”.

Além disso, ela pedia que Freud parasse de falar tanto e deixasse-a falar. O que foi
outro insight para Freud, depois, colocar a fala do paciente em lugar de destaque em
sua terapia, o que está na base da próxima e definitiva fase da técnica freudiana: a
livre associação.
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O conceito de histeria e a forma de


tratamento com Psicanálise
“Não sei” (resposta recorrente de Emmy Von N.) pode ser entendida como “eu temo
dizer”, uma forma de expressar o recalque (mecanismo de defesa) e a recusa em se
expressar. Isso porque o Ego usa de mecanismos de defesa para evitar que as
causas dos sintomas venham à consciência, afinal seria doloroso reviver aquela
dor da causa.

Entretanto, na histeria, o tratamento por excelência é entrar em contato com a


causa (descobrir a causa).

Freud notou que, quanto mais lembranças surgiram e ela relatava essas


lembranças, menos sintomas Emmy demonstrava ter. Como se o ato de falar
amenizasse esses sintomas. E na duração das sessões de hipnose, os sintomas
desapareciam e a paciente se expressava de maneira digamos “mais espontânea”.

Emmy disse ao final de sessões: “agora eu me sinto muito melhor”. Freud


começava a identificar que o ato de falar livremente ajudava no alívio dos sintomas
psíquicos. Anos depois, Freud abandonaria a hipnose em favor de outra técnica,
a livre associação, em que o papel de “falar livremente” se torna ainda mais
relevante.

Freud, Hipnose e Psicanálise


Freud relatava não conseguir hipnotizar todos os pacientes. Ele entendia que nem
todos os pacientes eram hipnotizáveis.

A paciente Emmy pedia para falar. Então, muitas sessões tinham grande parte de
“conversa” e cada vez menos de hipnose, pelas anotações que o próprio Freud fazia
das sessões. Isso seria já uma transição em favor da associação livre.

“Se, para sermos breves, adotarmos o termo “conversão” para designar a


transformação da excitação psíquica em sintomas somáticos crônicos, que é tão
característica da histeria, podemos então dizer que o caso da Sra. Emmy Von N.
apresentava apenas uma pequena quantidade de conversão. A excitação, que era
originariamente psíquica, permaneceu em sua maior parte nessa esfera, e é fácil
compreender que isso lhe confere uma semelhança com as outras neuroses, não
histéricas. Existem casos de histeria em que todo o excedente da estimulação sofre
conversão, de modo que os sintomas somáticos da histeria se intrometem no que
parece ser uma consciência inteiramente normal. A transformação incompleta, no
entanto, é mais comum, de modo que pelo menos parte do afeto que acompanha o
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trauma persiste na consciência como um componente do estado emocional do


indivíduo.”

Leia Também:  Significado de Transferência em Terapia

Na histeria, há necessidade de lembrar como forma de tratar. A lembrança é retornar


à fonte do sintoma e, ao se lembrar a origem do sintoma, de maneira “quase
automática” o sintoma desaparece.

A ideia de “conversão” no conceito de “histeria de conversão” significa que tudo


aquilo que é vivido de forma traumática (e não é combatido na ocasião em que ocorre)
é convertido em sintoma.

Conversão significa: eventos da vida do paciente que são “perdidos” enquanto tal,


mas que são transformados em sintomas (e assim permanecem na vida psíquica
do sujeito).

Assim, o caso Emmy Von N. trouxe importantes insights para a Psicanálise:

 O passado está presente, pelo menos como sintoma; isto é, o sintoma é a


prova presente de um evento de outra natureza, ocorrido no passado.
 No inconsciente, passado e presente convivem livremente, pois o inconsciente
não tem temporalidade.
 A fala do paciente é importante e é a essência do tratamento, mais do que a
sugestão do analista.
 Emmy deu o insight para Freud iniciar a associação livre.
 De certa forma, Emmy Von N. é co-autora da Psicanálise, o que mostra a
incrível importância do par analítico (analista – paciente).

As técnicas da hipnose fizeram parte da construção da psicanálise, pois estiveram na


base dos primeiros tratamentos de Freud.

A psicanálise não invalida a hipnose, que pode ser usada de maneira efetiva até hoje,
embora psicanálise e hipnose tenham técnicas diferentes:

 hipnose: método com técnicas de sugestão;


 psicanálise: método da associação livre.

A importância do caso para a psicologia e


psicanálise
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A personalidade e comportamento imperativo de Emmy Von N. foi o principal fator para


que a psicologia e a psicanálise se consolidassem da maneira que conhecemos hoje:
o paciente relatando livremente os fatos e emoções que o levaram até ali.

Isso pois, nas consultas com Freud, Emmy fazia questão de falar o que queria e
interrompia qualquer pergunta que a desviasse de seu relato. O psicanalista permitiu
que a consulta seguisse dessa forma e resolveu aderir a tática com os demais
pacientes estudados.

Essa atitude de Emmy mudou a relação entre paciente e analista, bem como mudou o
formato em que ocorriam as consultas. Pois, analisando a forma como a paciente se
expressava, Freud conseguia muito mais informações do que conduzindo a sessão
com perguntas calculadas.

Esse formato se mostrou tão eficiente que virou um padrão para as consultas inclusive
em outras áreas da saúde mental: psicanálise, psicologia, psiquiatria. Não à toa,
independente de qual seja a abordagem seguida pelo analista, o modelo das consultas
psicoterapêuticas segue sendo o de cada vez mais escutar o paciente.

Outras questões interessantes também foram discutidas com mais amplitude e


propriedade após o estudo do caso Emmy Von N, como a relação entre histeria e
sexualidade. O conceito da hipnose e da sugestão também foram melhor investigados.

Histeria e sexualidade
Freud associou que o quadro de Emmy poderia estar ligado a sua abstinência sexual,
uma vez que a mulher era viúva há 24 anos. Desse modo, a histeria não era mais
associada a uma condição ocasionada pelo útero, mas sim com a sexualidade da
paciente. É como se a repressão do superego impusesse proibições ao prazer, e isso
fosse se acumulando em tensões à paciente.

Muitos outros estudiosos também fizeram essa associação, que inicialmente era
superficial demais para chegar a resultados conclusivos. Entretanto, a percepção foi
determinante para se reconhecer o papel das interferências externas no
ocasionamento da histeria.

Ou seja, em vez de uma condição genética que colocaria a mulher como predisposta à
histeria — no caso da condição associada ao útero —, agora se enxerga a
possibilidade de outros acontecimentos e situações serem os causadores das crises.

Todo esse processo de transformação pelo qual passa o caso de Emmy Von N. são
uma amostra de como os diagnósticos clínicos dos quadros mentais dos pacientes
foram evoluídos conforme os estudos passaram a investigar o indivíduo e sua
amplitude.
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Hipnose e psicanálise
A hipnose continua sendo uma técnica bastante usada na psicanálise, porém vale
lembrar que ela passou por diversas transformações desde Emmy Von N. Isso porque
Freud conseguiu empregar seu estudo para o que lhe propunha: se aprofundar
na psique humana.

Com as pontuações feitas pelo psicanalista europeu, os estudiosos e profissionais


sucessores da área puderam aperfeiçoar a abordagem psicanalítica evitando
equívocos cometidos inicialmente.

Entretanto, a hipnose está entre a base do método psicanalítico, sendo responsável


por solucionar muitas interrogações que o paciente carrega consigo durante anos. Mas
para isso, claro, é necessário que o psicoterapeuta seja acima de tudo um bom
hipnotizador.

Leia Também:  Ato e fato psicanalítico: o que são?

É justo destacar ainda que o caso de Emmy Von N é apenas uma premissa do que
viria a se tornar o trabalho freudiano. Desse modo, muitos métodos, conceitos e teorias
surgiram para complementar, ajustar ou mesmo refutar as primeiras concepções sobre
o assunto.

Em vista disso, a psicanálise possui um grau de complexidade que envolve conceitos e


teorias que precisam ser avaliados minuciosamente. Assim como fez Freud ao
observar o comportamento de Emmy e aplicar seus métodos de investigação.

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Ato e fato psicanalítico: o que são?


Posted on 18/09/2021 Equipe Psicanálise ClínicaPosted in Teoria Psicanalítica

Alguns anos atrás, vários eventos foram deflagrados no mundo todo, onde foram
travados debates e discussões sobre o conceito de ato e fato psicanalítico embora um
pouco focado e centrado em Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981) com base no
seu seminário nº 15, sob título “O ato psicanalítico, (Lacan, 1967-1968)”, onde
refletiram vários analistas buscando firmar o um conceito mais generalizado e
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universalizado de ato psicanalítico em que pese, não tinha ainda sido formulado
didaticamente, por estar numa chamada ‘disjunção’ com o saber psicológico.

Índice de Conteúdos
 Entendendo o ato fato psicanalítico
o Fato psicanalítico e o analisando
 O fato histórico
 O inconsciente e o fato psicanalítico
 O fato psicológico
 O inconsciente é um fato psicanalítico
 Suicídio e o fato psicanalítico
 A materialização do fato
 Considerações finais

Entendendo o ato fato psicanalítico


E com relação ao conceito de fato psicanalítico já havia uma pré concepção de que era
o mesmo objeto da Psicanálise, ou seja, o inconsciente. Paralelo também, havia uma
reflexão sobre outros conceitos correlatos como o de método psicanalítico, de como
colocar em marcha ou movimento para que uma análise pudesse ser levada adiante,
pois, tinha o lado do chamado paciente ou analisando face a experiência da escuta
especializada e da fala, diferentemente da cotidiana e de senso comum.

Trouxeram à tona o conceito de fato clínico, com base e o apoio na Medicina, o que
para Psicanálise passaria a ser um fenômeno emprestado do olhar médico no
paciente, buscando a relação causa-efeito e o lugar do sintoma, dentro da realidade e
sua observação. Discutiam o que era o possível diagnóstico psicanalítico e de como
poderia em teoria ser possível delimitar os conceitos e construir e situar ele, pois
desejavam firmar e consolidar o diagnóstico psicanalítico diferencial do psicológico e
do psiquiátrico e até do diagnóstico clínico geral.

As reflexões tentavam traçar um certo padrão, levando o analista como o operador da


Psicanálise a saber interrogar o estatuto do inconsciente em relação à realidade
concreta dos fatos psíquicos e que a Psicanálise deveria pelo menos, ‘em tese e a
priori’, estabelecer diretrizes e marcos de uma relação do sujeito com o mundo
mediada pela realidade psíquica.

Fato psicanalítico e o analisando

Discutiam também o conceito paciente, analisando, analisado, analista, o que seria ser
um partilhante e a relação de confiança. E buscavam superar algumas incertezas
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conceituais como já supra referido com relação ao que mais preocupava, que seria o
diagnóstico psicanalítico frente ao fato e ato psicanalíticos porque envolvia a
observação da trajetória existencial da pessoa (analisando), sua historicidade
pregressa, cultura, patologias, que muitas vezes era estereotipada e distorcida ou até
sofismada pelo paciente e suas implicações frente a relação transferencial e a
anamnese e nosografia, semiologia, sinais e sintomas tudo a partir da estrutura
dinâmica e dos conflitos do analisando.

Paralelo ainda, buscavam em muitas reflexões o objeto da Psicanálise, já entendido


como o inconsciente ser o fato psicanalítico. Isto precisa ser consolidado e aceito de
forma universal e incorporado pela doutrina sistematizada.

Muitos analistas perceberam que precisavam entender o que seria o fato psicanalítico
e se ele seria o real objeto primordial da Psicanálise, até porque na época definiam
outras ciências e técnicas os seus objeto como por exemplo, a Sociologia propugnava
que seu objeto era o fato social; a Psiquiatria postulava que o seu objeto era o fato
psíquico; a Psicologia, que estava em conflito inicial com a Psiquiatria defendia o fato
psicológico e os mecanismo de defesa como seu objeto.

O fato histórico
A História busca o fato histórico como seu objeto. Cada ciência, arte e técnica
começava a buscar do seu objeto como ‘fato’, pois queriam delimitar suas
atribuições. Muitas recorreram e foram buscar no meio jurídico o socorro até de
leis. E era natural a indagação por uma questão de interfaces que começavam a
florescer e foram se expandindo para outros campos do saber.

A Psicanálise também não se intimidou e passou a buscar e tentar universalizar e


consolidar o que seria afinal fato e o ato psicanalítico no sua esfera de atribuições. E
enfrentou acusações até de charlatanismo. Porque havia uma reflexão de que vencida
essa etapa existiria no futuro um entendimento construído e muito melhor para puxar a
reboque os demais conceitos.
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A visão e a percepção, dos operadores da psicanálise de forma global, era de que de


nada adiantaria consolidar, generalizar e universalizar conceitos isolados sem
estabelecer os marcos e delimitações do que seria o fato psicanalítico e o atos
psicanalíticos bem como o diagnóstico psicanalítico.

O inconsciente e o fato psicanalítico


Conceito como o inconsciente, trauma, castração, o fixação na fase psicossexual, o
fálico e o genital, o complexo de Édipo entre outros ficariam como ponta soltas se não
fosse bem delimitado o objeto da Psicanálise e se não fosse bem esclarecido o que
seria realmente fato e o ato psicanalítico. Esta foi uma das grandes preocupações os
analistas operadores da Psicanálise.

Leia Também:  Livre Associação: o que é, qual o xis da questão?

Era preciso ficar bem claro estes conceitos. E vale salientar que Lacan em meados de
1967 até 1968, como já supra citado, tinha preocupação de refletir sobre o tema em
seus seminários. Alguns analistas passaram a apoiar a visão de que o objeto da
Psicanálise é o fato psicanalítico que é em última análise o inconsciente. Isto ficou
bem sacramentado.

Tudo na Psicanálise gira em torno do inconsciente diziam os analistas, bem diferente


do fato psiquiátrico e psicológico, que possuem outros objetos. O fato psicológico
seria o objeto primordial da Psicologia e ligado ao comportamental; e o fato
psiquiátrico com a bioquímica cerebral seria da esfera da Psiquiatria e tinha que ter
interface forte com a psicofarmacologia.

O fato psicológico
Faltava, portanto, delimitar o que seria o ‘ato psicanalítico’, pois enquanto o fato é o
que advém do foco central da técnica ou método, que seria o inconsciente, o ato
psicanalítico dependeria da volição e das escolhas da pessoa em se tratando de
Psicanálise. O fato psicanalítico independe da pessoa, pois, é o inconsciente com sua
linguagem e simbologias próprias que pode em teoria falar pelos sonhos, atos falhos,
chistes, lapsos, enfim e tem seu ‘lócus’ no cérebro de cada pessoa.

Já o ato psicanalítico pode ser no sentido mais ‘stricto senso’ , como nascimento, a
morte (óbito), o implemento de idades cronológicas,(aniversários), a doença, velhice; e
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no sentido mais ‘lato senso’ são os atos humanos em geral, as emoções, sentimentos,
e suas expressões com o beijo, o sexo, o amor, a paixão, o sorriso contextualizado,
uma fala, choro, gritos, brigas e rixas, contendas, lesão corporal enfim.

Devemos sempre que possível não confundir o fato psicanalítico, pois ‘fato’ vem de
‘factum’,( latim), e significa aquilo que é fixado e independe da pessoa, como a
inconsciência em cada cérebro.

O inconsciente é um fato psicanalítico


O cérebro sede da mente onde ocorre o pensamento, com as bioquímicas das
sinapses celulares, onde reside o inconsciente, o id, ego, superego, é um fato
psiquiátrico que contem o fato psicanalítico mas também o fato psicológico. Existe
uma complexidade misturada. O comportamento humano e suas defesas são um fato
psicológico.

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O ato é a capacidade para agir, para realizar alguma coisa ou a ação. Para um ser vivo,
o movimento adaptado a um fim como, por exemplo, o ato instintivo que vem do ‘id’, do
inconsciente, ou ato voluntário do ego, ou uma manifestação da vontade humana
como o ato de bondade, de caridade estão vinculados a expressão do ato
psicanalítico. O ato psicanalítico é o que impulsiona os homens e mulheres dia a dia
em suas jornadas existenciais.

Pinçando exemplos pragmáticos ou uma ‘práxis’, (teoria na prática) nas origens


conforme relato bíblico, em Gênesis, no mundo pré-diluviano, Caim atraiu Abel para um
lugar ermo e com uma vara o agrediu até desfalecer e cair e após, usando uma pedra
esmagou seu crânio, onde viu seus miolos escorrerem, que é o cérebro, matando o
irmão, o que motivou a irmã que viu o ato e foi correndo chorando contar ao pai e a
mãe, (Adão e Eva) que Caim praticou um crime, ou seja, em última análise, seria um ato
psicanalítico desatinado. A irmã correndo e chorando desesperada estava também em
ato psicanalítico.
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Suicídio e o fato psicanalítico


Depois, Deus (Yawed) vai até Caim e pergunta em sua mente, ‘Caim, onde está teu
irmão ?’ Ele responde – ‘Não sei. Acaso sou eu o guarda dele ? Não sei.’ Mas, o
inconsciente (o fato psicanalítico) era uma voz interna que lhe dizia, ‘você matou seu
irmão’. Finalmente, ele tomado de remorso confessou à Deus, dizendo, ‘eu matei ele,
Senhor’.

O assassinato foi um ato psicanalítico, em que pese Deus seja onisciente, onipresente
e onipotente, mas desejava vencer a ‘negação’ de Caim que tentou aplicar um
mecanismo de defesa. Vale destacar que todo o homicídio bem como suicídio são
atos psicanalíticos. O suicídio visa tentar destruir o fato psicanalítico (inconsciente)
junto com os atos psicanalíticos, tem o foco de levar a reboque.

O ato significa o momento em que se faz alguma coisa. O ato psicanalítico se reveste
de várias configurações emocionais e sentimentais: ciúme, inveja, orgulho, soberba,
arrogância, são exemplos típicos de atos psicanalíticos ‘lato senso’; os atos
psicanalíticos ‘stricto senso’ são a doença, a morte, a crise, o nascimento, a velhice, a
juventude enfim.

A materialização do fato
Com relação ao tempo cronológico ou estoque de tempo ele não é objeto ou fato
psicanalítico. É um dado de métrica de realidade. A engenharia criou instrumentos
para sua parametrização como o relógio, assim com para outros dados de realidade,
como sensores, calendários para os dias, termômetros, barômetros, altímetros,
bússolas, pluviômetros, velocímetros, tomógrafo, raios ‘X’, entre tantos outros.

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Exemplificando, um exame médico em ressonância ou tomografia apontando um


câncer é um dado métrico de realidade. Mas, o câncer em si, a doença oncológica um
ato psicanalítico. Não podemos confundir ferramentas ou instrumentos de
parametrização cronobiológicos temporais que vão matematizar a jornada existencial
com ato psicanalítico.

Firmado os dois conceitos de fato e ato psicanalíticos tudo ficou bem mais
claro. Ficou bem mais fácil fixar um diagnóstico psicanalítico e foram superados os
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conflitos com os conceitos diferenciais do campo e domínio da Psicologia e da


Psiquiatria e demais vertentes.

Considerações finais
Portanto, rememorando literatura quando Caim assassinou Abel praticou um ato
psicanalítico e foi confrontado pelo consciente (ego) e seu inconsciente, este o fato
psicanalítico. O diagnóstico psicanalítico apontou que foi por ciúmes e inveja, duas
emoções psicanalíticas sérias que nos afeta até dias atuais que levou Caim ao
desatino.

Por derradeiro concluímos que em tese nossas vidas são permeadas de atos
psicanalíticos em concurso com o fato psicanalítico (inconsciente e suas simbologia
e linguagem própria) mediado pelo superego.

Firmar o fato e o ato psicanalítico foi um dos grandes desafios para os pesquisadores
consagrados da Psicanálise

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