Artigo 17 2021
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Resumo: Vigas de rolamento são elementos estruturais que têm por finalidade sustentar o
caminho de rolamento das pontes rolantes e transmitir os esforços por elas causados para as
estruturas suportes. As pontes rolantes provocam, na estrutura de sustentação, cargas dinâmicas
com variação cíclica, exigindo que as vigas de rolamento sejam verificadas à fadiga para que
tenham vida útil igual ou superior aos componentes estruturais da ponte rolante, de acordo com
sua classe. São verificadas à fadiga vigas de rolamento biapoiadas com 6 e 10 metros de vão
para suportar ponte rolantes com 100 e 300 kN, soldadas em aço ASTM A 36 e ASTM A 572
grau 50, respectivamente. Analisou-se a influência na vida à fadiga dos enrijecedores
intermediários soldados na mesa inferior e interrompidos a uma distância do topo da mesa
inferior igual a quatro vezes a espessura da alma, utilizando normas nacionais (AISC, 2005;
ABNT NBR 8800, 2008) e internacionais (IIW, 2008; DNV, 2011). Também foi possível
classificar cada viga de rolamento de acordo com as classes estabelecidas pela normas NBR
8400 (2019) e AISC Design Guide 7 (2005). Conclui-se ainda que os enrijecedores
intermediários, quando prolongados até a mesa inferior, reduzem a vida da viga à fadiga,
confirmando a importância de os mesmos serem interrompidos a uma distância da mesa inferior
que pode variar entre quatro a seis vezes a espessura da alma.
1 Introdução
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ABNT NBR 8800, 2008) e pelo International Institute of Welding (IIW, 2008) e pela Det
Norske Veritas (DNV, 2011).
Fisher, autor do AISC Design Guide 7 (2005), estima que 90% dos problemas em vigas de
rolamento estão relacionados com trincas provocadas por fadiga que ocorrem principalmente
nas juntas soldadas. Sendo os enrijecedores intermediários um dos pontos críticos e portanto,
selecionados para estudo neste trabalho.
De acordo com o AISC (2005) e a ABNT NBR 8800 (2008) os enrijecedores intermediários
ilustrados na Figura 1, podem ser de dois tipos:
a) soldados na mesa comprimida, alma e mesa tracionada;
b) soldados na mesa comprimida, alma e interrompidos, a uma distância da mesa tracionada,
entre quatro a seis vezes a espessura da alma, tw. Pois, segundo Salmon; Johnson; Malhas
(2009) soldar o enrijecedor na mesa tracionada aumenta o risco de falha por fadiga ou
fratura frágil.
Figura 1 – Tipos de enrijicedores intermediários permitidos pela normas AISC (2005) e NBR 8800 (2008)
Para a previsão à fadiga de juntas soldadas, o IIW (2008) e a DNV-RP-C203 (2011) utilizam a
Equação (1), a ABNT NBR 8800 (2008) utiliza a Equação (2) e o AISC (2005) a Equação (3):
C
N= ∆σm; ; ∆σ≥∆σL (1)
327 Cf
N= ; σSR ≥σTH (2)
σSR m
329 Cf
N= ; FSR ≥FTH (3)
FSR m
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Onde:
• N: número de ciclos de variação de tensões durante a vida útil da estrutura, vida à fadiga;
• ; σSR ; FSR: gama de tensões; faixa admissível de variação de tensão, explicitado na
Figura 3;
• C; Cf : constante específica para cada detalhe construtivo, classe ou categoria, conforme
valores apresentados nos Quadros 1 e 2;
• m: expoente ou inclinação:
o m = 3 para AISC (2005) e NBR 8800 (2008);
o m = 3 para IIW (2008) e DNV (2011) para N ≤ 1x107 ciclos;
• L; TH; FTH: limite de fadiga; limite admissível de variação de tensões, para um número
infinito de ciclos de solicitação.
Figura 2 – Etapas do processo de verificação à fadiga de elementos estruturais contendo juntas soldadas
Elemento dimensionado
conforme norma aplicável
Cálculo de danos
acumulados
Duração
calculada
Comparação com
Não atende duração requerida ou
especificada por
norma aplicável
Atende
3
Figura 3 – Espectro de tensões com amplitude (a) e variação de tensão ( = SR = FSR) constantes e variáveis
Constante Variável
Fonte: Dos autores
As curvas S-N fornecidas pelas normas, em geral são separadas em classe de igual resistência
à fadiga, tipo de junta soldada e qualidade da solda. As curvas S-N do IIW (2008) e DNV (2011)
representam uma probabilidade de sobrevivência de pelo menos 95% ou 5% de probabilidade
de falha. Apresentam-se na Figura 4 curvas S-N normalizadas pelo IIW (2008).
Figura 4 – Curvas S-N de resistência à fadiga de aço, tensão normal, amplitude constante.
Embora não seja objetivo deste trabalho aprofundar nos critérios das normas citadas, é
importante destacar que as curvas S-N padronizadas das juntas soldadas, independem da
resistência do material de base, do tipo de eletrodo e da tensão média nominal, desde que as
juntas soldadas estejam aprovadas por critérios de qualidade (CASTRO; MEGGIOLARO,
2009).
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Quadro 1 – Detalhe construtivo e parâmetros de fadiga das normas selecionadas, aplicáveis a enrijecedor
intermediário soldado às mesas e à alma da viga de rolamento, Figura 1a
L;
Categoria Constante
Norma Nº Detalhe construtivo
ou classe C ou Cf TH; FTH Observação
(MPa)
Enrijecedor
transversal não
IIW carregado. Sem
511 80 1,024 x 1012 46,78
(2008) acabamento na
junta soldada.
Metal-base em
almas ou mesas
AISC
de vigas, no pé
(2005)
de filetes de
5.7 C 44 x 108 69,00 solda
NBR
adjacentes a
8800
enrijecedores
(2008)
transversais
soldados.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir das normas citadas.
Quadro 2 – Detalhe construtivo e parâmetros de fadiga das normas selecionadas, aplicáveis a enrijecedor
intermediário soldado à mesa comprimida e à alma da viga de rolamento, Figura 1b
L;
Categoria Constante
Norma Nº Detalhe construtivo TH; FTH Observação
ou classe C ou Cf
(MPa)
Utilizar tensão
IIW 12 principal para
512 80 1,024 x 10 46,78
(2008) calcular .
Utilizar tensão
principal para
calcular
DNV quando o
9 E 1,024 x 1012 46,78
(2011) enrijecedor
terminar na
alma
Metal-base em
almas ou mesas
AISC
de vigas, no pé
(2005)
de filetes de
5.7 C 44 x 108 69,00 solda
NBR
adjacentes a
8800
enrijecedores
(2008)
transversais
soldados.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir das normas citadas.
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Após determinar a vida à fadiga da viga de rolamento é necessário verificar se o valor obtido é
adequado à duração total do uso da ponte rolante. Os equipamentos de elevação e
movimentação de cargas são classificados em grupos com base em classes de utilização,
espectro de carga ou condição de serviço. A norma ABNT NBR 8400 (2019) com base na
duração total do uso utiliza dez classes conforme Quadro 3. O AISI Design Guide 7 (2005)
segue a classificação utilizada pelo Crane Manufactures Association of Amercia (CMMA 70)
que utiliza seis classes, Quadro 4. Ambas as normas apresentam metodologia para cálculo do
número de ciclos equivalentes para cargas inferiores à carga máxima.
2 Metodologia
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Figura 5 – Seção transversal da viga
Foi analisada a influência na vida à fadiga dos enrijecedores intermediários soldados às mesas
e à alma da viga, e dos enrijecedores intermediários soldados à mesa superior e à alma,
interrompidos a uma distância do topo da mesa inferior igual a quatro vezes a espessura da
alma.
Figura 6 – Vigas com enrijecedor intermediário, com representação das tensões no pé do enrijecedor em
um quadrado elementar
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2.1 Solicitações, esforços internos e espectro de tensões aplicadas
As rodas da ponte rolante provocam variações de momento fletor na viga rolamento, de acordo
com a posição em que estão. A Figura 7 apresenta essa posição para o momento fletor máximo,
e os dados para cada viga estão no Quadro 6.
Figura 7 – Posição das rodas da ponte rolante que provocam momento fletor máximo na viga de rolamento
Quadro 6 – Dados para a situação de momento fletor máximo nas vigas com vão de 6 e 10 metros
L (m) 6 10
x (m) 2,2 4,3
a (m) 3,4 3,1
P1 (kN) 115 255,13
P2 (kN) 115 224,13
Fonte: Dos autores
A variação de tensão normal ∆σx e a variação de tensão cisalhante ∆τxy nas vigas correspondem
à diferença entre a tensão máxima (gerada pelo peso próprio da viga somado à carga máxima
com impacto da ponte rolante) e a tensão mínima (gerada pelo peso próprio da viga de
rolamento).
Onde:
• M equivale ao momento fletor máximo na viga gerado pela ponte rolante, já calculado pelas
referências citadas e conferido pelos autores;
• y é a distância do pé do enrijecedor até o eixo neutro, ilustrado na Figura 6;
• Ix é o momento de inércia da viga em relação ao eixo x.
V.Q
∆τxy = I (5)
x .tw
Onde:
• V é a força cortante para quando o momento fletor é máximo;
• Q é o momento estático da seção em relação ao pé do enrijecedor;
• Ix é o momento de inércia em relação ao eixo x;
• tw é a espessura da alma da viga.
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Já a variação das tensões principais ∆σ1,2 é calculada pela equação:
Onde:
• ∆σx equivale à variação de tensão normal no eixo x, calculada pela Equação (4);
• ∆σy é a variação da tensão normal no eixo y;
• ∆τxy é a variação da tensão cisalhante, calculada pela Equação (5).
Os detalhes construtivos e as curvas S-N para cada enrijecedor já foram definidos conforme
Quadros 1 e 2 e Figura 4. O cálculo dos danos acumulados foi determinado como o número de
ciclos equivalentes.
Quadro 7 – Esforços internos, propriedades geométricas e tensões nas vigas, localizadas na Figura 6
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3.2 Duração calculada para as vigas e classificação de pontes rolantes
A duração das vigas à fadiga foi calculada por meio do número de ciclos, N, conforme as
Equações (1), (2) e (3) de cada norma. Como os resultados da norma AISC (2005) foram muito
semelhantes aos da ABNT NBR 8800 (2008), são apresentados nos Quadro 8 e 9 apenas os
ciclos calculados pela norma brasileira.
Utilizaram-se as normas NBR 8400 (2019) e Design Guide 7 (2019) para classificação das
pontes rolantes, cujos resultados são apresentados no Quadros 3 e 4.
Quadro 8 – Classificação de pontes rolantes com capacidade de 100 kN suportadas pela viga de rolamento com
6 metros de vão
Quadro 9 – Classificação de pontes rolantes com capacidade de 300 kN suportadas pela viga de rolamento com
10 metros de vão
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Malhas (2009), comprovando que soldar o enrijecedor na mesa tracionada aumenta o risco de
falha por fadiga, diminuindo a vida útil da viga.
Na viga de 6 metros de vão, pelas normas ABNT NBR 8800, IIW e DNV (2011), quando a
distância de é maior ou igual a 10mm, houve uma queda de aproximadamente 21,2% da vida
útil da viga quando o enrijecedor foi soldado à mesa tracionada. Pela norma DNV (2001),
quando a distância de é menor que 10mm, essa queda foi de aproximadamente 45%. Na viga de
10 metros de vão, pelas normas ABNT NBR 8800, IIW e DNV (2011), quando a distância de é
maior ou igual a 10mm, houve uma queda de aproximadamente 14% da vida útil da viga quando
o enrijecedor foi soldado à mesa tracionada. Pela norma DNV (2011), quando a distância de é
menor que 10mm, essa queda foi de aproximadamente 40%.
O número de ciclos resistidos pela viga de rolamento também é utilizado para classificar os
equipamentos de elevação e movimentação de cargas, pontes rolantes no caso em questão, que
as mesmas suportam, conforme normas ABNT NBR 8400 (2019) e AISI Design Guide 7
(2005), Quadros 3 e 4. Portanto, quanto maior o número de ciclos suportados pela viga, também
maior a vida útil da ponte rolante e, consequentemente, sua classificação.
5 Conclusão
A diferença do número de ciclos entre as normas indica que a IIW (2008) e a DNV (2011) são
mais conservadoras na determinação da vida à fadiga quando comparadas com a ABNT NBR
8800 e a AISC. A DNV (2011) é a única das normas utilizadas que prevê a diminuição da vida
à fadiga da viga quando o enrijecedor intermediário é soldado à mesa inferior a uma distância
menor que 10 mm da borda.
Além da importância de determinar a vida útil em relação à fadiga da viga, o número de ciclos
também é necessário para selecionar os elementos de elevação e movimentação de cargas
compatíveis com a solicitação da viga de rolamento e vice-versa.
Como a verificação à fadiga de elementos contendo juntas soldadas ainda não é um assunto
abordado na maioria dos cursos de graduação na área de Engenharia, espera-se que a realização
desta pesquisa e a divulgação dos resultados proporcionem um material inicial de consulta para
estudantes e profissionais de Engenharia.
Referências
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8400 - Equipamentos de
elevação e movimentação de carga - Regras para projeto. Rio de Janeiro, 2019.
BELLEI, I.H. Edifícios industriais em aço: projeto e cálculo. 6 ed. São Paulo: Pini, 2010.
FISHER, J. M. AISC Design Guide 7. Industrial Building: Roofs to Anchor Rods. 2.ed.
Chicago: AISC, 2005.
SALMON, C. G.; JOHNSON, J.E; MALHAS F.A. Steel structures: Design and Behavior.
5.ed. Upper Sadler River: Pearson Prentice Hall, 2009.
TREMARIN, R.C.; PRAVIA, Z.M.C. Previsões de vida fadiga segundo normas técnicas: uma
revisão crítica. Soldagem & Inspeção, São Paulo, v.22, n. 3, p.281-299, 2017.
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