A Semi-Imputabilidade Do Psicopata
A Semi-Imputabilidade Do Psicopata
A Semi-Imputabilidade Do Psicopata
ORIENTADOR:
Prof. Msc. Mildes Francisco dos Santos Filho
Aracaju
2020
1
FERNANDO WELLINGTON SANTOS DA SLVA
____________________________________________________________
Professor Msc. Mildes Francisco dos Santos Filho - Orientador
Universidade Tiradentes
_________________________________________________________
Professor
Universidade Tiradentes
____________________________________________________________
Professor
Universidade Tiradentes
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A SEMI-IMPUTABILIDADE DO PSICOPATA PERANTE O CÓDIGO
PENAL BRASILEIRO
THE PSYCHOOPATH´S SEMI-IMPUTABILITY BEFORE THE
BRASILIAN PENAL CODE
RESUMO
Esse artigo tem como objetivo maior averiguar a semi-imputabilidade do psicopata perante
o Código Penal Brasileiro. Para os cientistas, a psicopatia é um modo de ser, é algo inerente
ao indivíduo. Ele, o psicopata, não tem doença mental, nem retardo, e sendo assim não há
que se falar em inimputabilidade, prevista no art. 26, caput, do CP, aos psicopatas. Isto
porque, conforme mencionado acima, os transtornos mentais mencionados no referido
artigo dizem respeito aos casos em que os indivíduos têm sua inteligência e vontade
afetados, o que, definitivamente, não é o caso dos indivíduos acometidos pela psicopatia,
que são conscientes dos seus atos. Mas há também posicionamento na jurisprudência,
defendendo a semi-imputabilidade quando o réu não possuir em razão da perturbação
mental, a capacidade de determinar-se frente ao conhecimento do fato ilícito. Assim, a
semi-imputabilidade somente deverá ser mencionada quando houver claramente um déficit
na capacidade de autocrítica e de julgamento de valores ético-morais.
ABSTRACT
This article aims to investigate the psychopath's semi-imputability under the Código
Penal Brasileiro (Brazilian Penal Code). For scientists, psychopathy is a way of being,
something inherent to the individual. If he/she has neither mental illness nor retardation,
there is no need to talk about unimputability to psychopaths, as provided for in art. 26,
caput, from CP (Código Penal). The reason is that, as mentioned above, the mental
disorders cited in that article are related to cases in which individuals have their intelligence
and will affected, which is definitely not the case for individuals affected by psychopathy.
But there is also a positioning in the jurisprudence, defending semi-imputability when the
defendant does not have the ability to respond to the illicit nature of the act they have
committed due to mental
disorder. Thus, semi-imputability should only be mentioned when there is a clear deficit in
the capacity for self-criticism and judgment of ethical and moral values.
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1 INTRODUÇÃO
O tema psicopatia ainda necessita de estudos, mas alguns pontos parecem ser da
concordância dos seus estudiosos, como o fato da psicopatia tratar-se de um transtorno da
personalidade e não de uma doença mental.
Em relação com o Direito Penal, muitos doutrinadores divergem da Psiquiatria,
sugerindo que o problema seja solucionado pelo magistrado. Mas segundo o caput do art. 26
do CP, só é considerado inimputável, quem, no momento do crime não tenha plena
capacidade de entender o caráter ilícito do fato.
O problema que se busca saber é como o psicopata é visto pela sociedade e pelo
Direito penal na atualidade. Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho será propor a análise
do tratamento dispensado pelo ordenamento jurídico-penal brasileiro ao psicopata que pratica
crime, a fim de que seja possível chegar a uma conclusão acerca da reponsabilidade penal do
psicopata, visto que, de acordo com estudos realizados, os mesmos são racionais,
conscientes do que estão fazendo e do motivo porque agem. Conhecem as normas que regem
a sociedade e as suas consequências, investindo no plano premeditado e o praticando até onde
lhe parece mais conveniente.
Os objetivos específicos serão: entender a psicopatia através de um breve
histórico da psicopatologia e a importância da psiquiatria e psicologia forense na contribuição
da instrução criminal; analisar casos de psicopatas inimputáveis e semi-imputáveis e os casos
de psicopatas que por não possuírem atestado de sanidade mental, cumprem sua pena em
cadeia comum; estudar as consequências jurídicas penais para os psicopatas, bem como o
instituto da semi-imputabilidade, analisando a aplicabilidade da legislação brasileira nos casos
de psicopatia, citando casos acerca de psicopatas em cumprimento da sanção penal.
A metodologia terá como fonte primordial a pesquisa bibliográfica desenvolvida a
partir da consulta da área jurídica, médica e psicológica, sendo ainda, feita análise da
jurisprudência.
O trabalho tem relevância por buscar esclarecer que deverá haver uma legislação
específica e punitiva nos casos de portadores de psicopatia, para que não sejam encarados
como portadores de perturbação mental, e qual a importância do acompanhamento do
condenado após o cumprimento da pena com a semi-imputabilidade, visto que geralmente
voltam a praticar delitos, sendo crescente os números de crimes.
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O trabalho está estruturado em quatro tópicos, estando no primeiro a apresentação
do tema, os objetivos, a justificativa e a metodologia. O segundo aborda a psicopatia, conceito
do transtorno da personalidade psicopática e tipos de personalidade psicopática, bem como
crimes praticados por psicopatas e os desafios do judiciário em julgar.
O terceiro tópico traz a psicopatia e suas consequências jurídico penais, com o
passo a passo de um criminoso psicopata; a imputabilidade como omissão do Código Penal
Brasileiro e Jurisprudência sobre a psicopatia; e a semi-imputabilidade, compreendendo-se
que o ordenamento jurídico-penal brasileiro não fala explicitamente sobre a responsabilidade
penal do criminoso que é diagnosticado como psicopata.
No quarto tópico as considerações finais o entendimento sobre os
questionamentos se os psicopatas podem ser considerados como semi-imputáveis recebendo
redução da pena, ou plenamente imputáveis.
2 PSICOPATIA
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definir tais indivíduos como portadores de insanidade sem delírio (GOMINHO; SANTOS,
2018).
A psicopatia também é entendida como consequência de uma personalidade
defeituosa e não oportunamente corrigida, e que se formou sem a adoção de princípios éticos
e pela inadequação de instintos; ou veio a deformar-se pela adoção de hábitos contrários a lei
e ao que se entende como moralmente correto (HUNGRIA, 2002).
Então, pode-se supor que os fatores sociais, que se desenvolvem a partir da
relação do sujeito com a sociedade também interferem bastante no comportamento e na
personalidade do indivíduo. Tais como a pobreza, o preconceito, violência doméstica e abuso
sexual. Muitos dos assassinos ao serem entrevistados por psicólogos narram sua infância
como sendo difícil, com dificuldades financeiras, rejeição, violência doméstica, na maioria
para com eles mesmos ou para com suas mães e irmãos. Muitos deles relatam casos de abuso
sexual na infância e adolescência, sendo a mesma praticada por familiares próximos (pai, tio,
padrasto), ou por colegas de brincadeiras.
Para Hare (1973, p. 4-5), “a psicopatia representa uma desordem de personalidade
dissociativa, antissocial ou sociopática, ou seja, uma forma específica de distúrbio de
personalidade”.
Ainda segundo Coelho (2017), em verdade conhece-se a personalidade
psicopática através da constatação de que existem certos indivíduos que, sem apresentar
alterações da inteligência, ou que não tenham sofrido sinais de deterioração ou degeneração
dos elementos integrantes de seu psiquismo, exibem, através de sua vida, sinais de serem
portadores de intensos transtornos dos instintos, da afetividade, do temperamento e do caráter,
sem, contudo, assumir a forma de verdadeira enfermidade mental. Se mostram incapazes de
apresentar sentimentos altruístas, já que apresentam um profundo desprezo pelas obrigações
sociais.
Compreende-se então, que os psicopatas não são pessoas desorientadas,
portadoras de deficiência mental ou de identidade, não é um louco. Eles não sentem culpa e
podem se envolver frequentemente, por exemplo, em um golpe financeiro, na falência de um
concorrente ou, nos casos mais radicais, como estupro ou um assassinato. E seguindo este
raciocínio Hungria (2002, p. 03) trata que “a modificação da personalidade, no sentido do seu
reajustamento social, pode ser, e muitas vezes o é, apenas fingida ou meramente superficial,
não atingindo o substrato da intimidade psíquica do indivíduo”.
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Existem ainda os psicopatas da fé, indivíduos que, para convencer as pessoas de
que são bons, se convertem e manipulam todos ao redor, fazendo com que acreditem que
mudou, é uma nova pessoa (RIBEIRO, 2014).
O fato é que o número de psicopatas é enorme. Silva (2008, apud Gominho;
Santos, 2018, p. 16), estima que no mundo existem 280.000.000 (duzentos e oitenta milhões)
de psicopatas e no Brasil, aproximadamente de 6.000.000 a 8.000.000 (seis a oito milhões) de
psicopatas.
Já de acordo com Oliveira (2017), pode-se distinguir os seguintes tipos de
personalidade psicopática: problemas de conduta na infância; inexistência de alucinações e
delírio; ausência de manifestações neuróticas; Impulsividade e ausência de autocontrole;
Irresponsabilidade; encanto superficial, notável inteligência e loquacidade; egocentrismo
patológico, autovalorização e arrogância; Incapacidade de amar; grande pobreza de reações
afetivas básicas; vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada; falta de sentimento de culpa
e de vergonha; indigno de confiança, falta de empatia nas relações pessoais; manipulação do
outro com recursos enganosos; Mentiras e insinceridade; perda específica da intuição;
Incapacidade para seguir qualquer plano de vida; conduta antissocial sem aparente
arrependimento; ameaças de suicídio raramente cumpridas e falta de capacidade para aprender
com a experiência vivida.
Assim, pode-se entender que sobre a psicopatia alguns estudiosos acreditam que
existem evidencias multifatoriais para a psicopatia, que podem ser biológicas, intrínsecas ou
ambientais. Destacam-se no psicopata certas características e propriedades diferentes de
outras doenças. Ele tem uma personalidade estranha, separada do seu meio, mas existem
momentos, fases e circunstancias de condutas adaptadas, que permitem com que passem
desapercebido no seu ambiente social.
Segundo Ribeiro (2014, p.8), as características mais significantes da psicopatia
são o encanto superficial e o poder de manipulação que eles possuem sobre as pessoas, suas
mentiras sistemáticas, as quais utilizam como ferramenta de trabalho, seu comportamento
fantasioso, convertendo-se em reais personagens, como se estivessem diante de um
personagem verdadeiro, fazendo com que as pessoas a sua volta acreditem que ele viva
realmente o que conta. Segundo essa autora, há três tipos de psicopatia:
1) Psicopatia leve, onde o indivíduo se envolve em crimes
como estelionato ou fraude, lesando poucas pessoas; 2)
Psicopatia moderada, em que o indivíduo se envolve no mesmo
crime acima descrito, porém, acaba lesando um maior número
de pessoas, como por exemplo, o superfaturamento na compra
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de remédios para o sistema de saúde pública e; 3) Psicopatia
Grave, onde o sujeito pode cometer crimes de maior grau, tais
como os serial killers, que cometem uma série de assassinatos,
em sua maioria, com requinte de crueldade, sendo este, um tipo
raro. Estima-se, de acordo com a Psiquiatra Ana Beatriz
Barbosa e Silva que, cerca de 4% da população sofre de
psicopatia, sendo, 1% portador de psicopatia grave, 3% de
psicopatia leve ou moderada.
O judiciário enfrenta grandes desafios, pois, nem sempre, pode contar com um
diagnóstico preciso acerca do indivíduo portador de psicopatia. A psiquiatria, unanimemente,
vem desenvolvendo a tese de que o psicopata possui consciência dos seus atos, o que se
aproxima do Direito em matéria de culpabilidade, mas, como os psicopatas são dissimulados
e manipuladores, podem manipular até mesmo o especialista que o avalia.
Em pesquisa analisando a questão dos efeitos jurídicos-penais aos portadores da
psicopatia, Ribeiro (2014, p. 32), cita alguns casos de crimes praticados por psicopatas, a
exemplo de:
- Pastor Georgeval Alves Gonçalves - Denominando-se líder da Igreja Batista
Vida e Paz de Linhares/ES, Georgeval Alves, teve sua prisão temporária decretada e
prorrogada desde o dia 28/04/2018 uma semana após as mortes do filho de 03 (três) anos e do
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enteado de 06 (seis) anos, os laudos periciais e Inquérito Policial apontaram Georgeval como
responsável pela morte dos irmãos. Em entrevista à imprensa, Nylton Rodrigues, Secretário
de Segurança Púbica do Estado do Espírito Santo, proferiu a seguinte declaração: “As
investigações e os laudos são esclarecedores, definitivos e inegáveis”. As investigações
concluíram que as crianças foram abusadas sexualmente, visto que fora encontrada nos corpos
das vítimas uma substância denominada de PSA encontrada no sêmen humano, as
investigações concluíram que as crianças foram agredidas fisicamente e queimadas vivas
dentro do quarto, elas morreram carbonizadas. O caso segue em segredo de justiça, contudo
em depoimentos e entrevistas, Georgeval mente friamente e de forma descabível contrariando
em tudo as investigações e laudos periciais. (WAGMAKER, 2018, s. p).
- Silvia Calabresi Lima - era empresária e, em 2008 após denúncia de um
vizinho, foi descoberta pela polícia na qual chegou ao local e pode encontrar a criança vítima
que morava com ela, na situação a criança se encontrava acorrentada em uma escada e
posicionada de forma que as pontas dos pés sustentavam o peso do corpo, com um pano
abafando a boca e esparadrapo, a fim de impedir a criança de gritar. A criança foi morar com
Silvia com a autorização da própria mãe para estudar, todavia a criança servia de empregada,
apanhava diariamente, era torturada com alicate, tinha os olhos, nariz e boca torturados com
pimenta, vários dedos das mãos esmagados, passava fome por dias consecutivos, Silvia
oferecia fezes e urina de cachorros para a vítima. Silvia dizia que as torturas eram formas de
educar a criança. A ex-empresária apresentava sérios sinais de psicopatia, não se
arrependendo por nenhum dos seus feitos. Silvia foi condenada a 14 (quatorze) anos e 5
(cinco) dias de reclusão. (GOMINHO; SANTOS, 2018).
- Francisco da Costa Rocha, o Chico Picadinho, que foi condenado a 30 anos de
prisão por assassinar e esquartejar uma mulher, em 1966, cumprindo pena apenas 1/3 da pena,
o equivalente a 10 anos e foi posto em liberdade. Em 1976, cometeu outro crime semelhante,
assinando e esquartejando outra mulher. Foi condenado a regime fechado, porém a pena
expirou em 1998, mas foi obrigado a permanecer na Casa de Custódia de Taubaté (SP).
- Suzane Von Richthofen, em 2002 mandou matar os pais, de forma hedionda,
sendo condenada a 39 anos de prisão, em regime fechado, em 2006, pelo 1° Tribunal do Júri
de São Paulo. Em 2009, Richthofen requereu o cumprimento da pena em regime semi-aberto.
O Ministério Público solicitou laudo e parecer criminológico da mesma, por uma equipe de
psiquiatras, psicólogos e uma assistente social, tendo um resultado divergente com relação ao
grau de periculosidade, pois, enquanto psiquiatras afirmaram que Richthofen não possui
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doença mental que ofereça perigo, os psicólogos e a assistente social não concordavam que
ela estava preparada para sair da prisão. O promotor se manifestou contra sua transferência
para o regime semiaberto. Conforme pode ser visto na mídia, Richthofen não apresentou
nenhum remorso, tristeza ou sentimento pela morte dos pais. Está preocupada apenas com a
herança, a qual ainda disputa judicialmente com seu irmão. Aí ela se mostra arrependida na
busca de manipular as pessoas.
- Pedro Rodrigo Filho, o "Pedrinho Matador", um serial killer que afirma com
orgulho ter matado mais de 100 pessoas, inclusive seu próprio pai. Na Penitenciária do
Estado, em São Paulo, ele é temido e respeitado pela comunidade carcerária. A primeira vez
que matou, Pedrinho tinha apenas 14 anos e nunca mais parou. Com vários crimes nas costas,
Pedro Rodrigo foi preso aos 18 anos, em 1973, e continuou matando dentro da própria prisão.
Ele é considerado o maior homicida da história do sistema prisional e diz que só na cadeia já
matou 47 pessoas. Mata sem misericórdia quem atravessa o seu caminho ou simplesmente
porque não vai com a cara do sujeito. Pedrinho sabe que matar é errado, mas justifica seus
atos como algo que vem de família: pais e avós também foram matadores. Para "Pedrinho
Matador", tirar a vida de alguém é somente mais um trabalho bem-sucedido. E para que
ninguém se esqueça do que é capaz, tatuou no braço a frase "Mato por prazer" (SANTOS,
2018).
Para um maior número de estudiosos, a psicopatia trata-se de um transtorno de
personalidade, como para Ballone (2008), ao expressar sua opinião coloca que bastante claro
que a psicopatia não é uma enfermidade mental, porque as doenças desse grupo estão bem
delimitadas, e esta não faz parte dele; além disto os doentes mentais – inimputáveis – não
cometem tantas atrocidades como os dissociais o fazem. Combinado a este fato há o ponto
crucial de que os enfermos não possuem consciência de seus atos por não compreenderem a
realidade, já que em sua maioria sofrem processos alucinatórios ou delirantes (COSTA,
2008); situação totalmente oposta para com os psicopatas que compreendem a realidade, mas
não conseguem não praticar determinados atos, como se seus sentimentos falassem mais alto
que sua razão. Ainda em relação a este autor, o mesmo concorda que os indivíduos
acometidos por esse transtorno não podem ser colocados no grupo da normalidade, por conta
dos seus desequilíbrios psicoemocionais e comportamentais. Assertiva que é confirmada por
Nascimento (2006), ao mencionar que os sociopatas ou psicopatas não são loucos nem débeis,
pairando numa zona intermediária Ressalta-se, todavia, que para a doutrina dominante – seja
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ela proveniente da área médica ou psicológica – têm-se como claro o fato de se tratar de um
transtorno de personalidade.
Pode-se entender então, que a despeito de padecer de um transtorno de
personalidade, o psicopata é inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato delituoso
por ele praticado, sem remorso ou consideração pela vítima.
Nesse tópico serão abordados o conceito de crime e a questão dos efeitos jurídico-
penais aos psicopatas que cometem crime; especialmente, nos desafios que o judiciário
enfrenta, devido à falta de lei específica no Código Penal brasileiro e Jurisprudência sobre a
psicopatia, bem como a semi-imputabilidade, objeto principal deste trabalho.
Capez (2004) conceitua o aspecto analítico de crime da seguinte maneira: é aquele
que busca, sob o prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais do crime. A finalidade
deste enfoque é propiciar a correta e mais justa decisão sobre a infração penal e seu autor,
fazendo com o que o julgador ou intérprete desenvolva seu raciocínio em etapas. Sob esse
ângulo, crime é todo fato típico e ilícito. Dessa maneira, em primeiro lugar deve ser observada
a tipicidade da conduta. Em caso positivo, e só neste caso, verifica-se a mesma é ilícita ou
não. Sendo o fato típico e ilícito, já surge a infração penal. A partir daí é só verificar se o autor
foi ou não culpado pela sua prática, isto é, se deve ou não sofrer um juízo de reprovação pelo
crime que cometeu. Para a existência da infração penal, portanto, é preciso que o fato seja
típico e ilícito.”
No Brasil, o conceito legal de crime é encontrado no art. 1º da Lei de introdução
ao Código Penal, considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou
de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. A
culpabilidade, que antes era composta pelo dolo e culpa, passou a se caracterizar por um juízo
valorativo, de censura, uma vez que é o ato reprovatório da conduta ilícita, de quem tem
capacidade genérica de entender a ilicitude de seu ato, sendo-lhe exigível comportamento
conforme o ordenamento jurídico. A culpabilidade, como juízo de censura, é composta por
imputabilidade e consciência potencial da ilicitude.
Para que um indivíduo seja responsabilizado por um fato típico e ilícito, por ele
atentado, é preciso que ele seja imputável, ou seja, ele deverá ter consciência do delito que
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está cometendo ou atentando. Imputabilidade é a capacidade de, no âmbito jurídico, ser
consciente pelo fato e sofrer sanção decorrente dessa responsabilidade (GRECO, 2010).
Já é sabido que nem todos psicopatas cometem crime e muito já foi falado quanto
aos crimes cometidos por sujeitos acometidos por psicopatia. No momento em que pratica os
crimes violentos, o psicopata deseja não simplesmente matar, mas também humilhar e causar
dor extrema na vítima.
Tanto para o CID10, quanto para o DSM –IV somente se pode falar em psicopatia
a partir dos dezoito anos de idade, pois é a partir dessa idade que as características mais
específicas pertinente a psicopatas tornam-se mais frequentes, talvez aqui seja o ponto em que
estudiosos, pesquisadores, psicólogos e afins corroborem com o maior número de opiniões,
porque via de regra, acabam citando características muito idênticas.
O psicopata de grau moderado a grave são aqueles deliberadamente antissociais.
Possuem as mesmas características do psicopata de grau leve, porém em níveis mais
agressivos. São impulsivos, frios, sádicos, mentirosos, não possuem empatia. Os de grau
moderado tem uma tendência a estarem infiltrados no mundo das drogas, álcool, jogo
compulsivo, promiscuidade e vandalismo, além de grandes golpes e graves estelionatos. Os
que apresentam um grau muito grave são os assassinos frios e calculistas, quais são o objeto
desta pesquisa. Eles obtém prazer ao ver o prazer alheio e uma alta tendência a se
tornarem serial killers (OLIVEIRA, 2019).
A culpabilidade refere-se à reprovabilidade da conduta do agente, que praticou um
fato típico e ilícito, quando o direito lhe exigia um comportamento diferente daquele praticado
ou não. diz respeito ao juízo de censura, ao juízo de reprovabilidade que se faz sobre a
conduta típica e ilícita praticada pelo agente. Reprovável ou censurável é aquela conduta
levada a efeito pelo agente, que nas condições se encontrava, podia agir de outro modo
(GRECO, 2010).
Para que um indivíduo seja responsabilizado por um fato típico e ilícito, por ele
atentado, é preciso que ele seja imputável ou seja, ele deverá ter consciência do delito que está
cometendo ou atentando. Imputabilidade é a capacidade de, no âmbito jurídico, ser consciente
pelo fato e sofrer sanção decorrente dessa responsabilidade, registrado isso, cumpre destacar
que a legislação brasileira prevê causas de inimputabilidade para aqueles indivíduos que não
possuem capacidade psíquica de entender a ilicitude da sua conduta, como os portadores de
doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26, CP), os menores
de 18 anos (art. 27, CP) e a embriaguez completa e involuntária (§ 1º, art. 28, CP).
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Para um maior número de estudiosos, a psicopatia trata-se de um transtorno de
personalidade, como para Fonseca (2006, p. 201.), que afirma constituir “alterações do
comportamento resultantes de anomalias da personalidade ou de estados de desadaptação do
indivíduo”. Ballone (2008) ao expressar sua opinião coloca que bastante claro que a
psicopatia não é uma enfermidade mental, porque as doenças desse grupo estão bem
delimitadas, e esta não faz parte dele; além disto os doentes mentais – inimputáveis – não
cometem tantas atrocidades como os dissociais o fazem. Combinado a este fato há o ponto
crucial de que os enfermos não possuem consciência de seus atos por não compreenderem a
realidade, já que em sua maioria sofrem processos alucinatórios ou delirantes (COSTA,
2008); situação totalmente oposta para com os psicopatas que compreendem a realidade, mas
não conseguem não praticar determinados atos, como se seus sentimentos falassem mais alto
que sua razão. Assertiva que é confirmada por Nascimento (2006), ao mencionar que os
sociopatas ou psicopatas não são loucos nem débeis, pairando numa zona intermediária
Ressalta-se, todavia, que para a doutrina dominante – seja ela proveniente da área médica ou
psicológica – têm-se como claro o fato de se tratar de um transtorno de personalidade.
Os psicopatas, nas situações de crimes, ele procura humilhar a vítima, causando-
lhe sofrimento e desespero. Banaliza o indivíduo, colocando-o na situação de coisa. Para
tanto, o sociopata procura pessoas mais fracas, que possam ser facilmente dominadas e com
as quais ele possa se sentir mais forte e poderoso; mesmo porque somente submetendo outras
pessoas ele eleva sua estima, que é constantemente baixa. Este sujeito não consegue sentir de
modo completo o conjunto de emoções humanas (GARRIDO, 2007).
Após a consumação do ato ele não sente culpa ou peso na consciência, entretanto,
eventualmente entra em depressão e afirma que não gostaria de ter realizado tal ação, mas o
fez por culpa de terceiro, não chamando para si a responsabilidade. Somando-se a este fato há
a ausência de medo por serem pegos. A situação é mais complicada quando se tratam de
assassinos seriais: além de não temerem ser pegos, ainda costumam executar seus crimes com
o mesmo modus operandi, deixando no local – ou mesmo enviando a polícia – pistas de quem
seriam, como forma de desdenhar das autoridades, e demonstrar que querem ser encontrados
(RIBEIRO, 2014).
Lombroso (2007, apud GOMINHO; SANTOS, 2018) não considerava um
criminoso inimputável ou semi-imputável, ele defendia que os mesmos fossem isolados da
sociedade, por não haver cura para eles. Críticas à parte, as teorias de Lombroso
influenciaram o Código Penal brasileiro no tocante a dosimetria da pena que o juiz tem o
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imite para definir qual será a pena imposta a um réu pelo crime cometido. Mas e quando o
criminoso for um psicopata? Há quem se posicione no sentido do psicopata criminoso ser
inimputável e até semi-imputável. Com o disposto no Código Penal brasileiro, em seu art. 26:
É isento da pena o agente que por doença mental ou desenvolvimento
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único – A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardo não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento (BRASIL, 2018).
3.1 A Semi-imputabilidade
O nosso Código Penal traz a figura do semi-imputável como uma justa medida
entre a imputabilidade e a inimputabilidade, em que se enquadram os indivíduos psicopatas.
Para Palomba (apud BORGES, 2018), esses indivíduos estariam em uma zona fronteiriça
entre a normalidade mental e a doença mental. Diante disso, a psicopatia configuraria uma
perturbação da saúde mental e, portanto, ao seu portador caberia a semi-imputabilidade, a
qual somente deverá ser mencionada quando houver claramente um déficit na capacidade de
autocrítica e de julgamento de valores ético-morais. Assim, liberar esses indivíduos ao
convívio social é uma responsabilidade extrema, uma vez que a taxa de reincidência é
elevadíssima. Dessa forma, acredita-se ser necessário garantir que aquele indivíduo que será
beneficiado a um regime menos severo, ou até mesmo o livramento condicional, tenha tido
sua periculosidade reduzida, e tenha chances de ser readaptado.
A Doutrina também nos traz diversos posicionamentos a fim de dar uma resposta
para a questão da psicopatia. Há aqueles que entendem serem eles imputáveis, a partir dos
critérios estabelecidos pela legislação penal, ou seja, respondem pelos crimes cometidos; há
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quem inclua o psicopata no rol dos semi-imputáveis, considerando a psicopatia como
perturbação da saúde mental, nos termos do artigo 26, parágrafo único, do Código Penal
Brasileiro; e, por fim, há quem sustente a inimputabilidade desses indivíduos, ou seja, a
ausência de capacidade de culpabilidade dos psicopatas. No entanto, uma vez que a psicopatia
se trata, em verdade, de um transtorno da personalidade antissocial, ela não é considerada uma
doença mental, e por não afetarem a inteligência e a vontade, consequentemente não excluem
a culpabilidade (DUARTE, 2018).
Por outro lado, há posicionamento na jurisprudência, defendendo a semi-
imputabilidade quando o réu não possuir em razão da perturbação mental, a capacidade de
determina-se frente ao conhecimento do fato ilícito. Há quem defenda que os réus ´psicopatas
por não conseguirem conter o ímpeto de praticar ilícitos mesmo sabendo que esses são
puníveis, os mesmos não conseguem sentir nos seus íntimos que estão praticando algo cruel,
já que não são desprovidos de culpa, remorso, afetividade, e por serem assim, há corrente que
defenda a semi-imputabilidade, havendo entendimento do Superior Tribunal de Justiça nesse
sentido (BRASIL, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, Habeas Corpus n°186149).
Na análise da próxima jurisprudência, de inicial houve condenação pelo réu ter
conhecimento do caráter ilícito de seus atos, porém a decisão foi recorrida por não ter sido
considerada sua semi-imputabilidade, pois tal circunstância expõe uma anormalidade no
comportamento que poderia moderar a capacidade de discernimento do acusado.
TRIBUNAL DO JÚRI. QUESITO. SEMI-IMPUTABILIDADE.
NECESSIDADE. Por não vinculados, os julgadores, a resultados das perícias eventualmente
realizadas durante a instrução do processo, questão como a semi-imputabilidade, se suscitada
em plenário, deve ser sujeitada aos jurados, especialmente quando tenham apontado, os
expertos, no respectivo laudo, que o examinando apresenta sério transtorno de personalidade
antissocial. PRELIMINAR DEFENSIVA ACOLHIDA, PARA ANULAR O
JULGAMENTO. (TJ-RS, Tribunal do Júri nº 70051064269, rel. Des. Newton Brasil de Leão,
30.01.2013).
O ordenamento jurídico-penal brasileiro não fala totalmente quanto à
responsabilidade penal do criminoso que é diagnosticado como psicopata, o que tem levado
juízes a enquadrarem os psicopatas ora como imputáveis, ora como semi-imputáveis, como
será visto a seguir.
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APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. SEMI-
IMPUTABILIDADE. CONDENAÇÃO. INSURGÊNCIA MINISTERIAL. ALEGAÇÃO DE
ERRO OU INJUSTIÇA NO TOCANTE À APLICAÇÃO DA PENA.
Verificada a reprimenda aplicada na origem, tem-se que a mesma não atendeu aos
critérios da razoabilidade, necessidade e suficiência para a prevenção/reprovação do crime,
motivo pelo qual a pena deve ser exasperada na primeira e na terceira fase.
Ademais, considerando que o transtorno de personalidade antissocial não
influenciou na capacidade de entendimento quanto à ilicitude do fato praticado; que inexistem
outros comprometimentos patológicos; e que a parcial capacidade de autodeterminação
também se deve ao uso voluntário de entorpecentes, desde a adolescência; é de rigor a
aplicação da minorante do parágrafo único do artigo 26 do Código Penal, na fração de um
terço (1/3). (TJ- RS, Ap. crim. 70037449089, rel. Des. Odone Sanguine, 17.03.2011).
Em outra análise, foi ponderado que o transtorno foi significativo para redução da
pena. Como no caso a seguir citado por Santos (2018):
APELAÇÃO CRIMINAL. JÚRI. HOMICÍDIO DUPLAMENTE
QUALIFICADO. ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO. LATROCÍNIO TENTADO.
IMPUTABILIDADE DIMINUÍDA. TRANSTORNO ANTI-SOCIAL DE
PERSONALIDADE. REDUÇÃO OBRIGATÓRIA DA PENA. NÃO INCIDÊNCIA DA
PROIBIÇÃO DE INSUFICIÊNCIA.
1. DECISÃO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS.
DELITO DE LATROCÍNIO TENTADO. NÃO RECONHECIMENTO. O princípio
constitucional da soberania dos veredictos do Tribunal do Júri (art 5º, XXXVIII, alínea ‘c’,
CF) impede a revisão do mérito da decisão do Conselho de Sentença pelo Tribunal Estadual,
exceto nas restritas hipóteses arroladas no art. 593, inciso III, do CPP. Veredicto do júri que
encontrou respaldo probatório nos autos, não cabendo a este Tribunal questionar se a prova
foi corretamente valorada, bastando a plausibilidade entre as respostas dos jurados e a
existência de indícios de autoria para que a decisão seja válida. Evita-se, assim, a
arbitrariedade, respeitando, contudo, a íntima convicção dos jurados na tomada da decisão.
2. TRANSTORNO ANTI-SOCIAL DE PERSONALIDADE.
IMPUTABILIDADE DIMINUÍDA. REDUÇÃO OBRIGATÓRIA DA PENA.
2.1. As modernas classificações internacionais consideram as psicopatias como
transtornos da personalidade e as definem como alterações da forma de viver, de ser e
relacionar-se com o ambiente, que apresentam desvios extremamente significativos do modo
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em que o indivíduo normal de uma cultura determinada percebe, pensa, sente e
particularmente se relaciona com os demais. O transtorno antisocial de personalidade coincide
com o que tradicionalmente se denomina psicopatia. As personalidades psicopáticas se
enquadram no rol das perturbações da saúde mental, anomalia psíquica que se manifesta em
procedimento violento, regulando-se conforme o disposto no parágrafo único do art. 22,
do Código Penal.
2.2. Comprovado pelo laudo psiquiátrico que o réu ao tempo do crime padecia de
transtorno anti-social de personalidade, a redução de pena é obrigatória, o que é facultativo é
o quantum maior ou menor (1/3 a 2/3) dessa diminuição de pena.
2.3. A consequência legal da capacidade relativa de culpabilidade por perturbação
da saúde mental ou por outros estados patológicos, é a redução obrigatória da pena, pois se a
pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade, então a redução da capacidade de
culpabilidade determina, necessariamente, a redução da pena. Argumentos contrários à
redução da pena no sentido do cumprimento integral da pena são circulares, inconvincentes e
desumanos porque o mesmo fator determinaria, simultaneamente, a redução da culpabilidade
(psicopatias ou debilidades mentais explicariam a culpabilidade) e a agravação da
culpabilidade (a crueldade do psicopata ou débil mental como fator de agravação da pena).
Não incidência da untermassverbot na medida em que o legislador não atuou de maneira
deficiente, mas sim ponderada.
DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DEFENSIVO. UNÂNIME.
(TJ-RS, Ap. crim. 70041554122, rel. Dra. Rosane Ramos de Oliveira Michels, 29.01.2013).
Ao explorar os resultados obtidos em jurisprudências, foi notado que a partir do
estudo do tema, através de doutrinas, teses e legislação há uma relação entre os julgados e o
posicionamento dos autores (SANTOS, 2018).
Mas essa questão não está pacificada nos Tribunais, tampouco na doutrina e, no
tocante aos crimes contra a pessoa, eles estão inseridos em uma gama de categorias, conforme
artigos 121 ao 128, o 129, o 130 a 136, 137, do 138 ao 145 do Código Penal, mas nada em
relação a imputabilidade elencada no artigo 26 a respeito da psicopatia foi tratado no nosso
Código Penal (GOMINHO; SANTOS, 2018).
Acerca da semi-imputabilidade, esta é “a redução da capacidade de compreensão
e vontade, não exclui a imputabilidade.” Todavia, observamos que há uma grande dificuldade
para o Direito Penal brasileiro classificar o psicopata como imputável ou semi-imputável e
consiste na perda parcial da capacidade do agente entender a sua conduta, devido à doença
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mental ou ao desenvolvimento mental retardado. Capez entende que a semi-imputabilidade
“alcança os indivíduos em que as perturbações psíquicas tornam menor o poder de
autodeterminação e mais fraca a resistência interior em relação à prática do crime.”. Ou seja,
o indivíduo entende o caráter da sua conduta, mas devido as suas condições mentais, não
controla seus atos.
Os comportamentos dos psicopatas são decorrentes de suas escolhas praticadas
livremente. Diante disto, para essa corrente, a qual somos defensores, não há que se falar em
inimputabilidade, prevista no art. 26, caput, do CP, aos psicopatas. Em relação ao semi-
imputabilidade prevista no parágrafo único do aludido artigo, que estabelece que há uma
redução da capacidade do indivíduo em entender o caráter ilícito do fato e de agir conforme
esse entendimento. Há na medicina um consenso sobre o fato de que a psicopatia não é uma
doença mental. Ocorre que existem autores que defendem que os Psicopatas apresentam em
verdade uma perturbação mental, cabendo o enquadramento desses indivíduos como semi-
imputáveis (Duarte, 2018).
O nosso Código Penal traz a figura do semi-imputável como uma justa medida
entre a imputabilidade e a inimputabilidade, em que se enquadram os indivíduos psicopatas os
quais estariam em uma zona fronteiriça entre a normalidade mental e a doença mental,
apresentando comprometimento no aspecto afetivo, intencional e de volição. Assim, o
transtorno do comportamento deles desestrutura a sua capacidade de autocrítica e de
julgamento de valores ético-morais. Diante disso, a psicopatia configuraria uma perturbação
da saúde mental e, portanto, ao seu portador caberia a semi-imputabilidade. Assim, a semi-
imputabilidade somente deverá ser mencionada quando houver claramente um déficit na
capacidade de autocrítica e de julgamento de valores ético-morais. Há ainda a possibilidade
de conversão da pena privativa de liberdade em medida de segurança, no caso dos semi-
imputáveis, como bem dispõe o art. 98 do Código Penal:Art. 98 -Na hipótese do parágrafo
único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a
pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial,
pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º
a 4º (DUARTE, 2018).
Observa-se que há uma grande dificuldade para o Direito Penal brasileiro
classificar o psicopata como imputável ou semi-imputável. A semi-imputabilidade consiste na
perda parcial da capacidade do agente entender a sua conduta, devido à doença mental ou ao
desenvolvimento mental retardado. Capez entende que a semi-imputabilidade “alcança os
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indivíduos em que as perturbações psíquicas tornam menor o poder de autodeterminação e
mais fraca a resistência interior em relação à prática do crime.” Ou seja, o indivíduo entende o
caráter da sua conduta, mas devido as suas condições mentais, não controla seus atos. O
agente imputável, porém, com a responsabilidade de entendimento do que faz, sendo a
responsabilidade do agente diminuída em razão da culpabilidade ser reduzida, devido as suas
condições pessoais.
A semi-imputabilidade também possui os três requisitos do critério biopsicológico
da imputabilidade, com exceção a intensidade do requisito cronológico e consequencial.
Enquanto que na imputabilidade o requisito cronológico dependerá do tempo da ação ou da
omissão, na semi-imputabilidade ele se intensifica, devendo estar presente no tempo da ação
ou da omissão do agente, já o requisito consequencial, na semi-imputabilidade se dá com a
perda parcial do entendimento do agente, diferente da perda total na imputabilidade. A
consequência da declaração de semi-imputabilidade do agente para a imputabilidade é que, a
semi-imputabilidade não exclui a culpabilidade, apenas diminui, reduzindo-se, assim, a pena
de 1/3 a 2/3, ou imposição de medida de segurança, mas a sentença continuará sendo
condenatória, em conformidade com o artigo 96 do CP. Vai depender de laudo de sanidade
mental do acusado, dependendo do seu grau de perturbação, o juiz deverá diminuir a pena.
Diante dos conceitos mencionados, concluímos que, o imputável possui
consciência e entendimento acerca da sua conduta, respondendo, assim, às penas impostas no
artigo 32 do CP, o semi-imputável é aquele que possui perturbação da saúde mental, em que o
indivíduo vai entender que a sua conduta foi ilícita, mas devido a perturbações, este tem a
pena diminuída, podendo, também, cumprir uma medida de segurança, conforme veremos, no
decorrer do estudo e o inimputável é o portador de doença mental ou o desenvolvimento
mental retardado ou incompleto, conforme artigo 26 do CP.
Nosso sistema penal não adota os institutos da pena de morte e da prisão perpétua,
utilizados em longa escala em diversos locais, como solução final para os dissociais.
Constatando tal fato, Aguiar (2008) nos informa que, a princípio, o isolamento e a ausência de
progressão de regime surtiriam algum efeito, mas assevera que decisões mais concisas
precisam ser encaminhadas.
Encontra-se respaldo também, acerca do psicopata ser semi-imputável, no
entendimento dos Tribunais: “Capacidade diminuída dos psicopatas – TJSP – “Os psicopatas
são enfermos mentais, com capacidade parcial de entender o caráter criminoso do ato
praticado, enquadrando-se, portanto, na hipótese do parágrafo único do artigo 22 (art. 26
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vigente) do Código Penal (redução facultativa de pena). No entanto, quando declarada a
psicopatia pela perícia técnica, podemos dizer que o psicopata entende o que é crime,
possuindo “capacidade cognitiva preservada, mas poderá não controlar seus estímulos à
prática criminosa (...)”. Contudo, isto poderá “comprometer sua liberdade de opção no
momento do fato, por ter sua a vontade reduzida em decorrência da perturbação de
comportamento anteriormente presente (...)”, cuja possibilidade está prevista no parágrafo
único do art. 26 do CP, conhecida como semi-imputabilidade (RIBEIRO, 2015).
Após o estudo desenvolvido, concluímos que, como cidadão a medida mais viável
e eficaz para o psicopata seria a Castração Química, quando os crimes cometidos por estes
atentem contra a liberdade sexual do indivíduo. Por se a única maneira que busca a raiz do
mal, qual seja os hormônios e a consequente excitação. Ressalta-se que essa castração seguiria
os moldes da Legislação Francesa, por ser esta a menos agressiva ao indivíduo.
Porém, sabe-se que as garantias fundamentais explícitas na Magna Carta, em seu
artigo 5º são imutáveis em decorrência do dispositivo 60, §4º, IV (Cláusula Pétrea) da mesma
Carta. Donde se conclui que uma punição não pode ir contra a lei maior de nosso País.
Destarte, pode-se reconhecer que a Medida de Segurança, realizada de maneira a
obedecer os dispositivos do ordenamento jurídico brasileiro que a regem, não se olvidando
dos limites básicos dos direitos humanos e do exercício da cidadania é, ainda, a melhor
punição dispensada ao psicopata. Desde que seja compreendido o fato da incapacidade que
estes têm de voltarem ao convívio social, retornando-se, assim, a premissa que pregava a
ausência de tempo limite para o cumprimento deste instituto.
Importante ressaltar que nesta medida, o acompanhamento efetivo, com equipe
interdisciplinar deve ser contínuo, para que se consiga a diminuição da agressividade e da
impulsividade do indivíduo. Corroborando com nossa linha de pensamento França (1998, p.
359) defende que “eles sejam considerados semi-imputáveis, ficando sujeito as a medida de
segurança por tempo indeterminado e a tratamento médico psiquiátrico”.
Quanto à política específica para os psicopatas, alguns autores a mencionam, mas
não chegam a pormenorizá-la, todavia a meu ver ela consistiria numa proposta que alcançasse
todos os ramos necessários para o convívio pacífico entre psicopatas e sociedade. O foco
principal da política precisa ser a incapacidade de reinserção dos dissocias na sociedade,
pensando-se em alternativas viáveis, seguras e de acordo com o ordenamento jurídico, mesmo
que mudanças sejam necessárias.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com a pesquisa foi possível entender que o psicopata com transtorno
mental, sem apego, ética nem moral, mas muito egoísta e manipulador para obter o que quer e
é cruel. Não sente pena da vítima nem se julga responsável. É capaz de enganar até
profissionais da área da saúde. Impressionante o número de pessoas com esse transtorno. Só
no Brasil, existem aproximadamente de 6.000.000 a 8.000.000 (seis a oito milhões).
Mas nem todas as pessoas psicopatas são loucas ou cometem crime. Entretanto,
quando cometem, geralmente são reincidente. Se são presos, comportam-se bem para ser
bem-visto, ou ameaça os demais detentos que passam a ser mais violentos.
A culpabilidade deve ser entendida como o juízo de reprovação jurídica, apoiado
na ideia de que o homem, em certas condições, poderia ter agido de outro modo, mas não o
fez. Ela está diretamente relacionada a possibilidade de se evitar uma condita ilícita, e não
evitando, ao agente será emitido um juízo de reprovação
Contudo, uma vez o psicopata, preso em cadeia comum, ele pode manipular a
todos, e, se possuir comportamento exemplar, sua pena é reduzida. Sendo assim, o que
acontecerá com este indivíduo depois que cumprir a sua pena? Pelo Código do Direito Penal
na atualidade, os comportamentos dos psicopatas são decorrentes de suas escolhas praticadas
livremente. Diante disto, para essa corrente, a qual somos defensores, não há que se falar em
inimputabilidade, prevista no art. 26, caput, do CP, aos psicopatas.
Há uma grande dificuldade para o Direito Penal brasileiro classificar o psicopata
como imputável ou semi-imputável. A semi-imputabilidade consiste na perda parcial da
capacidade do agente entender a sua conduta, devido à doença mental ou ao desenvolvimento
mental retardado. A semi-imputabilidade alcança os indivíduos em que as perturbações
psíquicas tornam menor o poder de autodeterminação e mais fraca a resistência interior em
relação à prática do crime.
Foi observado que há um consenso de que o psicopata é semi-imputável, porém,
existem casos de omissão da psicopatia, tendo precedentes de julgados que declararam o
psicopata como doente mental. Sendo assim, este não seria semi-imputável, mas sim
inimputável, pois, uma vez que seja doente mental, não possui consciência de seus atos.
Dessa forma, concluímos que há necessidade urgente de que seja criada uma lei,
principalmente criminal, que trate especificamente da psicopatia, de acordo com o grau de
periculosidade do agente, pois, dependendo do grau e do caso em concreto, haveria
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possibilidade real de como classificar os psicopatas, de acordo com a sua perturbação mental,
analisando, principalmente, os indivíduos mais perigosos, que, com certeza voltarão a
delinquir. Que ainda esta lei que classifique e distinga o indivíduo inimputável do semi-
imputável, que possam ser acompanhados pela medicina, após o cumprimento de suas
sanções, onde, mesmo havendo lei dispondo que ninguém ficará preso por mais de 30 anos,
possa haver uma exceção para os portadores do transtorno, enquanto forem avaliados com
periculosidade, devido ao perigo que representam para a sociedade.
Dessa forma, quanto à medida de segurança, acredita-se que a mais eficaz, seria
tirar o indivíduo do contexto social. Também seria interessante a idealização de uma
instituição semelhante a do cumprimento da medida de segurança, de forma que os apenados
passa a maior parte do tempo isolados dos demais. Assim, há necessidade de uma reforma
estrutural, legal, e técnica, e da criação em cada Estado de um Hospital adequado para
tratamento dos psicopatas, onde as equipes de tratamento e de avaliação estejam aptas para
tanto, que possuam os recursos necessários e que o sistema penal as ampare e esteja tão
preparado quanto.
O presente trabalho foi de grande importância para compreensão acerca de um
tema tão complexo, uma vez que, permitiu a seu autor conhecer melhor acerca do transtorno
da psicopatia e suas consequências jurídicas, além de ter aperfeiçoar e somar o entendimento
da doutrina, e do julgamento dos casos concretos, de modo que reiteramos a necessidade de
atualização da legislação vigente. Outrossim, por se tratar de um tema extremamente
complexo, foi necessário enxugar a pesquisar um pouco acerca da personalidade do psicopata,
já que o nosso maior foco é o Direito.
_________________________________
¹ Fernando Wellington Santos da Silva, graduando em Direito pela Universidade
Tiradentes – UNIT. E-mail: Fernando.wellington.aju@hotmail.com
REFERÊNCIAS
22
BALLONE. G. J. Personalidade Psicopática.2008 Disponível em
<http://virtualpsy.locaweb.com.br. Acesso em Março, 2020.
CAPEZ, Fernando; Bonfim Edilson Mougenot. Direito Penal-Parte Geral. São Paulo:
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FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 5 ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan,
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23
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OLIVEIRA, Valéria Santos. O psicopata frente ao código penal brasileiro, 2017. In:
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SILVA, Ana Beatriz B. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro,
Objetiva, 2008.
WAGMAKER, Iures. Inquerito que aponta pastor como responsável por matar irmãos
é devolvido à polícia 2018 Disponível em: https://novo.folhavitoria.com.br. Acesso em
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