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Adição Ao Jogo

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Adição ao jogo

A adição ao jogo era considerada pela sociedade até à pouco tempo, se calhar nalguns
casos ainda continua a ser, como uma consequência de um espírito egoísta,
desconsiderador, fraco e irresponsável, que fazia sofrer os seus ente queridos
simplesmente por não saber resistir a uns momentos de prazer e diversão. Hoje, pelo
menos na comunidade médica e clínica, a adição ao jogo não é considerada um vício ou
um defeito moral, mas sim uma perturbação de comportamento.

O jogo é na verdade aceitável na nossa sociedade desde que em pequenas doses, sendo a
partir daqui problemático definir começa ou não o problema. A adição ao jogo é mais
do que simplesmente gastar muito ou todo o dinheiro, passar muito tempo a jogar ou
simplesmente jogar mais do que as outras. É sobretudo jogar diferente. A raiz do
problema está no controle. A diferença entre um jogador adito e o jogo de qualquer
outra pessoa reside no facto de que esta última controla o seu comportamento a jogar.
Sabe quando parar e estabelecer limites de tempo ou dinheiro. O adito ao jogo tem esses
limites estabelecidos a partir de fora: só deixa de jogar quando acaba o dinheiro, quando
os amigos ou familiares o vêm buscar. Quando começa a jogar, perde o controle.

Uma outra diferença reside no fenómeno da recuperação. Em parte explica o porquê do


descontrole e da compulsividade marcante do jogador adito. Este comportamento
começa com a intenção de recuperar o dinheiro perdido e leva a incrementar o valor das
apostas (supostamente para aumentar o valor do premio a receber) e a frequência das
mesmas. É como se na mente do jogador se tornasse especialmente relevante jogar o
mais possível para se tornar mais provável a recuperação do dinheiro. Este
comportamento leva a uma espiral de apostas, perdas, ocasionalmente algum ganho que
parece estimular ainda mais a espiral, com mais apostas cada vez maiores, mais perdas e
assim sucessivamente.

Características Gerais

Sexo

A percentagem de homens com problemas de jogo é sem dúvida superior à de mulheres,


na ordem de mais ou menos dois para um. Ou seja, 30% a 40% de mulheres em relação
a 60% a 70% de homens. Relativamente ás percentagem daqueles que procuram ajuda,
a desproporção é bastante mais elevada: somente 10% das mulheres procuram ajuda
num âmbito clínico contra 90% de homens.

Idade

Os estudos sobre esta questão, embora limitados, apontam para uma maior proporção de
jovens (entre 18 e 30anos), contrariando uma suposição contrária, sendo contudo na
faixa dos 40 anos e acima os jogadores que procuram ajuda profissional.

Classe social

Dada a diversidade de jogos actualmente acessíveis, todas as classes sociais podem


virtualmente ser afectadas, pelo que o comportamento do jogador-problema se verifica
independentemente do estrato social e poder aquisitivo. A única distinção entre os
vários grupos é aparente a nível da frequência com que participam no jogo. Assim como
também parece não existir qualquer diferença a nível educacional, uma vez que todos os
estudos apresentam uma distribuição similar em todos os grupos.

Factores sócio-familiares

A instabilidade familiar e ocupacional estão intimamente ligadas e relacionadas com o


jogo problemático. Um outro factor de risco é a presença de um jogador problemático
na estrutura familiar. No caso de filhos, o risco de os mesmos virem a desenvolver um
relacionamento problemático com o jogo sobe para os cerca de 50%. Existem alguns
factores que são apontados como relevantes: Uma disciplina familiar inadequada,
inconsistente ou excessivamente permissiva; Exposição ao jogo durante a adolescência;
Valores materiais apoiados em símbolos materiais e financeiros; Falta de planeamento e
desperdício familiar; Alcoolismo e solidão.

Características de personalidade

Durante algum tempo, os estudos centrados nesta problemática tentaram encontrar um


perfil de personalidade que pudesse caracterizar o jogador-problema dos não jogadores.
Infelizmente nenhum dos estudos foi conclusivo sobre a validade de se detectar traços
de personalidade que pudessem prever a possível evolução neste sentido. Os resultados
encontrados foram inconsistentes tanto a nível de traços de personalidade como sobre as
características psíquicas e psicopatológicas. Os testes psicológicos aplicados aos
jogadores também não conseguiram estabelecer “tipos homogéneos” de personalidade e
muito menos estabelecer uma qualquer capacidade de previsão quanto a identificar
indivíduos de risco a nível de desenvolverem características de jogador-problema. O
único resultado consistente em todos os estudos foi uma altíssima probabilidade de
virem a desenvolver estados depressivos. O que não significa, que as pessoas mais
inclinadas a desenvolver estados depressivos sejam também mais vulneráveis a
desenvolver padrões de jogo problemáticos.

Processo de adição ao jogo

Normalmente, as fases que o jogador atravessa estão bem estabelecidas, costumando


começar na adolescência e desde as primeiras apostas até à perda de controlo costuma
transcorrer um período médio de 5 anos.
Fase de ganhos – o jogador começa a ter contacto com o jogo, vendo-o como uma
actividade divertida e excitante. A sorte inicial é rapidamente substituída por uma
perícia e habilidade que produz episódios de ganhos. Estes ganhos levam a uma
excitação cada vez maior e o jogador começa a jogar cada vez mais e a apostar quantias
cada vez maiores. Este prazer de ganhar estimula quer a auto-estima quer determinadas
sensações fisiológicas. Nesta fase, o jogador acaba por acreditar ser um apostador
excepcional. Nesta fase, acontece um episódio de grande ganho. Os jogadores
problemáticos têm invariavelmente uma história de terem ganho um valor muito
elevado nesta fase. Aparentemente, a partir deste acontecimento criam a ilusão de que
podem repetir esta façanha. Os ganhos são vistos como fruto da sua habilidade e
capacidade, e as perdas como uma questão de azar, maus conselhos e simples falta de
sorte.
Fase de perdas - O episódio de grande ganho marca o fim da primeira fase e o início
da segunda. Neste ponto, o optimismo irracional do jogador leva-o a falar
constantemente dos seus ganhos e o jogo passa a estar sempre presente na sua mente.
Nesta fase o valor das apostas aumenta significativamente levando a grandes perdas e
numa tentativa de recuperação joga tudo o que tem. Perder é simplesmente intolerável, é
fundamental recuperar o seu dinheiro. Aposta cada vez mais para recuperar o dinheiro,
o optimismo irracional não permite avaliar correctamente o que está a acontecer. As
apostas sucedem-se com mais frequência, mais altas o que conduz a mais perdas e a
uma procura de dinheiro para continuar através de empréstimos, da família, do ordenado
e de seguida de todas as formas possíveis. Esta forma de conseguir dinheiro transforma-
se numa experiência semelhante ao jogo; dinheiro rapidamente disponível sem muito
esforço. As dividas e as perdas começam agora a afectar a auto-estima do jogador e a
necessidade de repor a situação financeira antes de a família descobrir o que se passa,
conduzem a mais apostas e a mais perdas. Os recursos começam a ser utilizados
exclusivamente para o jogo e a pressão dos credores e possivelmente de indivíduos
ligados a créditos ilegais levam o jogador ao desespero. Nesta fase, o jogador faz uma
confissão parcial do problema e pede dinheiro à família para poder sair da situação em
que se encontra. Em troca deste dinheiro, faz acordos de deixar de jogar. Contudo, esta
ajuda costuma ser muito nociva uma vez que impede o jogador de assumir a
responsabilidade do seu comportamento, levando de novo à situação de optimismo
irrealista, porque cria a ilusão de que nada de mal lhe vai acontecer.

Fase de desespero - A primeira ajuda marca o início desta fase. Esta fase é
caracterizada pela deterioração do relacionamento entre o jogador e as pessoas que estão
verdadeiramente preocupadas com ele. Á medida que os membros da família, ou amigos
se apercebem que as dividas se acumulam e ele continua a jogar, surge um ambiente
cada vez mais pesado à volta do jogar que começa agora a sentir vários tipos de pressão:
Grandes dividas; O desejo de devolver o que deve rapidamente; A deterioração da
relação com a família e os amigos; O desenvolvimento de uma reputação negativa na
comunidade; A nostalgia de voltar aos ganhos. Sob pressão, começa a procurar dinheiro
de todas as formas, recorrendo a delitos não-violentos se necessário. Começam os
empréstimos a outros jogadores e a utilização sistemática de cheques sem provisão.
Nesta fase, nunca estão relaxados apresentando uma hipersensibilidade, uma
irritabilidade e uma falta de descanso que levam a um modo de vida errático e caótico.
O mundo do jogador desaba. Está nesta fase física e psicologicamente exausto, com um
sentimento de desamparo e de desespero, endividado ao máximo e à beira da exclusão
social. Surgem as depressões e muitas vezes os pensamentos suicidas.

Existem várias formas de terapia para a adição ao jogo, com estratégias de intervenção
muito bem definidas dentro do enquadramento teórico seguido por cada uma delas. Sem
escrever um autentico manual de terapias, torna-se virtualmente impossível descrever
todas as formas de intervenção, filosofias subjacentes e enquadramento teórico.

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