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Processo Digital Nº: Classe - Assunto Requerente: Requerido

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE CAMPINAS
FORO DE CAMPINAS
1ª VARA CÍVEL
AVENIDA FRANCISCO XAVIER DE ARRUDA CAMARGO, 300,
Campinas - SP - CEP 13088-901
Horário de Atendimento ao Público: das 12h30min às19h00min

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1038199-62.2019.8.26.0114 e código 777A8A5.
SENTENÇA

Processo Digital nº: 1038199-62.2019.8.26.0114


Classe - Assunto Procedimento Comum Cível - Fornecimento de medicamentos
Requerente: Luciana Santos Ronqui
Requerido: Unimed Campinas Cooperativa de Trabalho Médico

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE FERNANDO STEINBERG, liberado nos autos em 17/12/2019 às 14:41 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). JOSE FERNANDO STEINBERG

Vistos.

LUCIANA SANTOS RONQUI ajuizou ação de obrigação de fazer e indenização


por danos morais em face de UNIMED CAMPINAS COOPERATIVA DE TRABALHO
MÉDICO, alegando, em síntese: que foi diagnosticada com uma enfermidade rara denominada
cefaléia em salvas, havendo a necessidade de um tratamento específico preventivo: o
galcanezumabe, de nome comercial emgality, de acordo com a prescrição médica às fls. 34/36;
houve a negativa do fornecimento dos medicamentos pelo plano de saúde.

Sendo assim, requereu a condenação da ré, a título de obrigação de fazer, consistente


em autorizar, custear e fornecer o tratamento integral prescrito pela médica e todos os outros que
venham a ser prescritos, e a condenação da ré, a título de danos morais, ao pagamento da quantia
R$ 10.000,00.

Tutela deferida às fls. 71/72.

Citada (fls. 125), a ré ofereceu contestação às fls. 131/153, aduzindo, em suma: a falta
de cobertura contratual e legal; legalidade na conduta da ré ao não custear o tratamento, vez que
não regulamentado pela ANS; ausência de danos morais.

Houve réplica (fls. 371/372).

É o relatório.

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Fundamento e decido.

Por serem prescindíveis novas provas, com fundamento no artigo 355, inciso I, do
Código de Processo Civil, passo a conhecer diretamente do pedido, proferindo sentença.

No mérito, os pedidos procedem em parte. Vejamos.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE FERNANDO STEINBERG, liberado nos autos em 17/12/2019 às 14:41 .
A saúde, como bem intrinsecamente relevante à vida e à dignidade humana, foi
elevada pela atual Constituição Federal à condição de direito fundamental do homem. Assim, ela
não pode ser caracterizada como simples mercadoria, nem confundida com outras atividades
econômicas. O particular que presta uma atividade econômica correlacionada com serviços
médicos e de saúde possui os mesmos deveres do Estado nos limites contratados, ou seja, prestar
assistência médica integral aos consumidores dos seus serviços pactuados, entendimento esse que
não se sustenta somente no texto constitucional ou no Código de Defesa do Consumidor, mas,
principalmente, na lei de mercado de que quanto maior o lucro, maior também é o risco.

Pois bem. A recusa (fls. 39/42) da ré no que tange à cobertura do tratamento médico
objurgado ofende o direito básico do consumidor-paciente inscrito no artigo 47 da Lei nº 8.078/90,
sendo nula de pleno direito, de acordo com o artigo 51, § 1o, inciso II, dessa mesma lei, bem como
diante do princípio constitucional inserto no artigo 170, inciso V, de nossa Lei Maior.

Acresça-se que, na sua defesa, a ré não demonstrou, de forma cabal, a existência de


outro medicamento com os mesmos caracteres daquele indicado pelo médico da autora, que
conhece, obviamente, seu problema mais de perto. Além disso, o medicamento é necessário para o
tratamento da doença, conforme consignou o médico da autora, com a expressa prescrição médica
do tratamento (fls. 34/36).

Tal entendimento, ainda, está em consonância com a Súmula 102, do E. Tribunal de


Justiça de São Paulo, que assim preconiza:

“Havendo expressa indicação médica, é abusiva a negativa de


cobertura de custeio de tratamento sob o argumento da sua natureza

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experimental ou por não estar previsto no rol de procedimentos da
ANS”.

Enfatize-se, que cabe ao médico, e não ao operador do plano de saúde, a indicação do


tratamento adequado ao consumidor, não sendo lícito à operadora do plano intervir ou impor
restrições à recomendação médica, e negar-se a amparar os procedimentos e os exames solicitados
para o tratamento necessário ao paciente. Precedente: STJ, RESP 668216/SP, Ministro Carlos

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE FERNANDO STEINBERG, liberado nos autos em 17/12/2019 às 14:41 .
Alberto Menezes Direito, Terceira Turma, julgado em 15/03/2007, publicado em DJ 02.04.2007,
p. 265.

Enfim, confira-se o seguinte julgado do E. Tribunal de Justiça de São Paulo, em caso


similar:

"FALTA DE INTERESSE DE AGIR - Inocorrência - Impossibilidade de


obtenção do bem desejado de outra forma - Preliminar rejeitada.
OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -
Plano de saúde - Negativa na cobertura de tratamento experimental -
Parcial procedência do pedido - Inconformismo das partes - Desacolhimento
- Autora acometida de cefaleia em salvas - Abusividade da negativa sob o
argumento de que o procedimento não consta do rol da ANS - Obrigação de
custear o tratamento necessitado pela autora - Dano moral não configurado
- Ausência de prova de dano efetivo - Aplicação do disposto no art. 252 do
RITJSP - Sentença mantida - Recursos desprovidos. Preliminar rejeitada e
recursos desprovidos.
(TJSP; Apelação Cível 1007484-46.2017.8.26.0554; Relator (a): J.L.
Mônaco da Silva; Órgão Julgador: 5ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Santo André - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento: 28/02/2018; Data de
Registro: 28/02/2018)."

Nessa linha, o medicamento solicitado deverá ser fornecido à autora, uma vez que a
recusa da ré foi imotivada, e não subsiste diante do direito aplicável à espécie.

Contudo, no que tange os danos morais, esses não são devidos, vez que a conduta da
ré não impulsionou qualquer dano à esfera moral da demandante. Desse modo, não foi

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Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1038199-62.2019.8.26.0114 e código 777A8A5.
comprovado nenhum fato que constitua causa suficiente para obrigação de indenizar danos
extrapatrimoniais, em razão da negativa da ré.

Posto isso, com fulcro no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos, para: confirmar a tutela deferida às fls. 71/72 e
condenar a ré, a título de obrigação de fazer, a autorizar, custear e fornecer o tratamento integral
prescrito pela médica da autora e todos os outros que venham a ser prescritos, no prazo de 24

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por JOSE FERNANDO STEINBERG, liberado nos autos em 17/12/2019 às 14:41 .
horas.

Majoro, ainda, a multa diária para R$ 1.500,00, limitado ao valor de R$ 30.000,00,


ante a interrupção do fornecimento do medicamento pela demandada, apesar da decisão proferida
às fls. 373/375.

Pela sucumbência recíproca, cada parte arcará com suas despesas processuais, exceto
honorários advocatícios, os quais fixo em 20% do valor da causa, a serem rateados na proporção
de 75% de responsabilidade da ré, e 25% de responsabilidade da autora.

Publique-se e intimem-se.

Campinas, 16 de dezembro de 2019.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006,


CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

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