Dissertao Crystyane Bernardino - VF
Dissertao Crystyane Bernardino - VF
Dissertao Crystyane Bernardino - VF
Belo Horizonte
2021
CRYSTYANE FERREIRA BERNARDINO
Belo Horizonte
2021
AGRADECIMENTOS
Difícil escrever pouco, com tanto a agradecer. Agradeço primeiramente a Deus, que me
permitiu estar numa Pós-graduação, viver essa experiência e me deu sabedoria e serenidade
para viver esse momento.
Agradeço a minha avó, Josefina, minha veinha, que mesmo não entendendo o que eu
vivo hoje, eu devo a ela o lugar onde eu estou e sei que se ela entendesse, ela estaria vibrando
de felicidade comigo. Agradeço a ela por todo carinho, por me permitir continuar trilhando o
caminho em busca dos estudos e também por meus princípios, que dela vieram, e me fizeram
ter certeza de que esse é o caminho. Agradeço também aos meus pais que da forma como
puderam sempre me ajudaram, de diversas formas, durante essa trajetória. E ao meu amor,
Raphael Dias, que me acompanhou nessa jornada e a tornou mais leve com as nossas viagens,
com os momentos de descanso, que me ajudou a desanuviar.
Aos amigos da Funec, em especial à Thatá, da dança, da PUC, da sorveteria, em especial
à Sabrina e ao amigo que não foi só amigo, que foi também tradutor, revisor de texto, audiência
para eu treinar as apresentações, suporte técnico, né Ygor Santos? Não tenho como agradecer e
nem como retribuir essa ajuda e motivação.
Agradeço a turma de 2018 que me acolheu quando fiz disciplinas isoladas, em especial
o Thiago Cardoso e o Fábio, que me acolheram e essa parceria me rendeu metade do meu Lattes,
né Thiago? Meu parceiro de artigos.
Não tenho palavras para agradecer também à minha turma: Mestre dos Magos, que
transformou minha experiência no mestrado. Fomos uma turma extremamente unida, muito
alegre, que sempre dividiu as conquistas e também os perrengues, que comemoramos juntos e
também choramos e sofremos juntos a adaptação ao mestrado. Em especial agradeço à minha
dupla, Jose, que para muito além do mestrado se tornou uma grande amiga, a Hellen, meu
xodózinho, a Sol, que teve papel primordial para que eu conseguisse finalizar tudo a tempo, a
Poly, Dri, Thiago Ramos, Fernanda, Isaac, Kelen, enfim, a todos da minha turma que fizeram
do mestrado uma experiência fantástica.
Agradeço também ao meu orientador, Uajará, que teve um papel muito relevante não
só na minha dissertação, mas no meu trajeto no mestrado como um todo. Desde quando eu
entrei para fazer disciplina isolada, foi com ele que eu comecei a produzir, que aprendi a escrita
acadêmica, que me ajudou no Comitê de Ética (a comissão que eu mais gostei de participar e
onde mais aprendi). Agradeço a ele a confiança que teve em mim durante todo esse processo,
a autonomia que sempre me deu. Agradeço pela oportunidade de ter escolhido minha banca,
tanto a de qualificação, quanto de defesa. Enfim, ele sempre fez o papel que realmente um
orientador deve ter: me deixou caminhar sozinha, mas sabendo que ele estava ao meu lado, que
quando precisasse era só chamar. Obrigada por tudo, Uajará.
Agradeço ao meu coorientador, Daniel, que foi essencial no desenvolvimento da minha
dissertação, tanto com as suas dicas e correções minuciosas, como também me abrindo portas
para o meu campo, me levando em palestras, workshops, me apresentando pessoas. Isso foi de
muita importância, não só para minha dissertação, mas para o meu crescimento como
pesquisadora, pra me dar fôlego e para vislumbrar os próximos passos. E também por me
permitir participar do NICE, onde temos muitas trocas de conhecimento, uma equipe muito
boa, onde pude aprender muito. Muito obrigada, Daniel.
Sou muito grata a toda equipe do PPGA. À Patrícia, sempre tão solícita, a todos os
professores, em especial à Laíse, Ludmila e Felipe, que cada um ao seu jeitinho contribuíram
para o meu crescimento.
Não poderia deixar de agradecer também a drª Fernanda Scussel, do perfil
@pesquisanapratica, foi graças aos ensinamentos dela que pude aprimorar muito a minha
escrita e passei a entender a vida acadêmica de uma forma descomplicada. Agradeço também
à Amália, do @academica_pesquisa por todas as suas dicas e por dividir sua vivência
acadêmica.
E finalmente agradeço aos membros das minhas bancas, que gentilmente me cederam
seu tempo, experiência e conhecimento para aprimorar meu trabalho, Lilian Bambirra,
Guilherme Ary Plonski e Andréa Mineiro.
RESUMO
The cooperation between Science and Technology Institutions (STIs), companies and
Government, the Triple Helix (TH), is admittedly promising in innovation systems and has
shown good results in several countries. But the interactions among the HT agents represent a
complex type of cooperation, about which very little is known about its decision making
process. Previous research analyzes the decision making process centered on one of the agents
or on one of the aspects of decision making. This research aimed at analyzing the decision
making process concerning the cooperation among the agents of the Triple Helix in the
Regional Innovation System of Minas Gerais (RIS-MG). The choice of RIS-MG also fills a
gap, in that little is known about this type of cooperation in the state. Theoretical lenses and
concepts of Decision Making Processes, Innovation and Triple Helix were discussed. Data was
collected by means of document analysis and semi-structured interviews. All the public calls of
the state funding agencies that involved the three TH agents were analyzed. From this
documental analysis, 12 agents from RIS-MG were selected, who participated or participate in
TH projects, being five innovation managers from companies, five researchers from STIs and
two representatives from state funding agencies. Content analysis revealed 15 codes were
derived in three categories. A survey of the Triple Helix projects in the last thirteen years in
SRI-MG (2007-2020) is presented; the analysis of the structure of the interactions and their
progress throughout the studied period, identifying changes that may have interference in the
decision making process of the agents; and the analysis of the decision making process for HT
cooperation. The main theoretical contribution of this research was the articulation of the
Decision Making Processes theory with the Triple Helix theory, made in order to analyze the
decision making process for the HT cooperation as a whole, from the factors that influence the
decision to cooperate, the consensus process among the agents, and the decisions during the
cooperation. The results of this study may be used, in a practical way, as a decision-making tool
by the agents of SRI-MG by better understanding the dynamics of cooperation, including
motivations and obstacles to cooperation, strategies to reach consensus, the integration of
interests to define the scope of the project and the mechanisms used to improve decisions during
the project, as well as good practices in the governance mechanisms of this type of cooperation.
Keywords: Decision Making Process, Triple Helix, Regional Innovation System, Minas
Gerais.
LISTA DE FIGURAS
2 REFERENCIAL TEÓRICO 19
2.2 INOVAÇÃO 26
3.3 TRATAMENTO 49
5 CONCLUSÃO 102
REFERÊNCIAS 105
1 INTRODUÇÃO
Admite-se, como ponto de partida, que a cooperação entre instituições tão distintas não
é fácil de ser construída e, principalmente, ser mantida. A cooperação Hélice Tríplice demanda
esforço e consenso para que as decisões estejam alinhadas e as ações sigam um fluxo, até se
alcançarem os resultados desejados e, igualmente importante, que a apropriação desses
resultados seja conveniente aos interagentes.
Os três agentes têm motivações e interesses diferentes para interagir. Por parte do
Governo, o reconhecimento, legitimidade e visibilidade pelas ações desenvolvidas; por parte
da empresa, o lucro advindo do resultado da inovação desta interação; e por parte das
universidades e centros de pesquisa, uma melhor infraestrutura para futuras pesquisas,
laboratórios e os ganhos financeiros advindos dos royalties da inovação. Cada elemento da HT
analisa informações diferentes antes de se iniciar a cooperação. Uma análise mais ampla por
parte do Governo, uma visão mais técnica por parte da universidade e centros de pesquisa e
uma visão voltada às informações de mercado por parte das empresas. O aporte de cada hélice
para a interação também ocorre de forma diferente. O Governo proporciona a maior parte do
aporte financeiro (MAZZUCATO, 2015), as universidades entram com a infraestrutura técnica
e capital intelectual e as empresas com o conhecimento do mercado e técnico e o restante do
custeio para o desenvolvimento das inovações.
Enfim, são diversos os dilemas que envolvem este tipo de cooperação e, na tentativa de
elucidar alguns destes pontos, apresenta-se a seguinte questão: como é o processo de tomada
de decisão dos agentes em ações que envolvem a cooperação Hélice Tríplice no Sistema
Regional de Inovação de Minas Gerais (SRI-MG)?
O objetivo geral deste trabalho foi analisar o processo decisório relativo à cooperação
entre os agentes da Hélice Tríplice no Sistema Regional de Inovação de Minas Gerais.
Como etapas para se alcançar este objetivo propôs-se: (i) Fazer o levantamento dos
projetos de base Hélice Tríplice nos últimos treze anos no SRI-MG (2007-2020); (ii) Analisar
a estrutura das interações e de seu avanço ao longo do período estudado, a fim de identificar
mudanças que possam ter interferência no processo decisório dos agentes; (iii) Analisar as
práticas adotadas para o processo decisório pelos agentes do SRI-MG para a cooperação Hélice
Tríplice.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
Uma decisão é um processo sistêmico e contextual, que não pode ser analisada
isoladamente da situação em que ocorre. É uma escolha, realizada a partir de alternativas,
considerando os aspectos envolvidos nesse processo, tais como: “o que”, “como”, “quem”,
“quando” e “por que” (PEREIRA; FONSECA, 2009).
Por permear diversos aspectos da atividade humana, o processo de tomada de decisão
tem sido analisado por pesquisadores de diversas áreas. Para as áreas da Economia e Psicologia
esse tema recebe ainda mais destaque, ao ponto de três pesquisadores de Processos Decisórios
receberem o "The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel",
o Nobel da Economia: Simon em 1978, Kanemahn em 2002 e Richard Thaler em 2017.
Dentre os estudos representativos, existem duas correntes: a teoria normativa e a teoria
descritiva. A teoria normativa explica o modo pelo qual uma decisão deveria ser tomada,
enquanto as teorias descritivas refletem a maneira como o processo de tomada de decisão ocorre
na prática (PRÉVE; MORITZ; PEREIRA, 2010).
O principal pressuposto dos modelos normativos é o da racionalidade do tomador de
decisão, onde este conhece todas as alternativas para selecionar o curso de ação ideal. Os
modelos descritivos de tomada de decisão, comparados aos modelos normativos, admitem a
dificuldade de obter as informações e os limites de processamento (GONTIJO; MAIA, 2004).
Em 1972 o autor Herbert Simon escreve o livro “O comportamento Administrativo”,
que dá origem à Teoria das Decisões, a obra seminal na linha descritiva. Segundo o autor, os
seres humanos têm um conhecimento restrito, e por isto, capacidades limitadas para analisar as
20
consequências de suas decisões, uma vez que não conhecem o futuro, nem controlam as reações
dos outros às suas decisões (SIMON, 1972).
Com base na racionalidade limitada o tomador de decisão tende a considerar modelos
simplistas, que lhe fornecem opções óbvias e familiares, para selecionar opções aceitáveis e
encerrar assim a busca pela melhor alternativa. Essa aparente irracionalidade é decorrente do
uso das heurísticas de decisão e do viés causado pela ordem em que as opções se apresentam
ao decisor (STONER; FREEMAN, 1999; ROBBINS, 2005). Além disso, para Simon, a decisão
é um processo carregado de jogos de poder e políticas, repleta de tons pessoais e história
institucional (SIMON, 1972).
A tomada de decisão requer tempo e capacidade humana de assimilar informações. Na
era do conhecimento, com tantas informações disponíveis, o desafio do decisor não é mais o
acesso a informações, mas sim interpretá-las a fim de determinar sua utilidade para o processo
decisório. Atualmente, os tomadores de decisão são desafiados a pensar globalmente, usando
todos os instrumentos de informação e de comunicação disponíveis (PEREIRA; FONSECA,
2009).
4ª Etapa - Escolher a alternativa: Pode-se adotar diversas formas para decidir qual
alternativa adotar. Variáveis como custo, tempo e eficácia, dão suporte à escolha de qual
opção é a mais adequada para a situação;
5ª Etapa - Implementar a solução: Pensando na totalidade da situação e não apenas nos
detalhes, implementa-se a alternativa escolhida e todas as ações decorrentes desta;
6ª Etapa - Avaliar os resultados: Monitora-se os desdobramentos da solução
implementada, verificando se a situação foi totalmente resolvida, avaliando seus
resultados e consequências.
O modelo racional, proposto por March e Simon (1975) e adaptado por Cyert e March
(1992), descreve a tomada de decisão como uma ação orientada para objetivos, cujo processo
até a escolha é baseado em normas e rotinas, de modo que as atividades sejam exercidas
seguindo procedimentos racionais. Para eles, as organizações se apoiam constantemente em
padrões para tomar decisões, procedimentos operacionais que se tornam a memória da
organização e oferecem estabilidade e orientação para decisões recorrentes.
Proposto por Mintzberg, Raisinghani e Théorêt (1976), o modelo processual esclarece
as fases e ciclos que estruturam o processo decisório. Com ênfase na dinâmica dos
comportamentos decisórios e na amplitude e complexidade das decisões estratégicas, o modelo
compreende fases de decisão, sendo elas, identificação, desenvolvimento e seleção. O processo
se inicia com o diagnóstico do problema, passa pela análise de múltiplas opções e termina com
a seleção de uma alternativa. Também fazem parte do modelo as rotinas de apoio à decisão
(controle, comunicação e políticas) e fatores externos como intervenções e feedback.
No modelo político, desenvolvido por Allison (1969), a política é considerada como
mecanismo de decisão. Utiliza-se a metáfora da tomada de decisão como um jogo, em que
diferentes jogadores ocupam posições diferentes e exercem graus de influência distintos, de
acordo com as regras e seu poder de barganha. Nele as decisões estão mais relacionadas às
mudanças políticas do que ao processo racional de escolha.
Associado à expressão “lata de lixo” por Cohen, March e Olsen (1972), o modelo
anárquico faz referência a um processo de decisão que apresenta regras pouco definidas ou até
mesmo incoerentes. Nele, as organizações são tidas como “anarquias organizadas” em que
diversos tipos de problemas e soluções são apontados pelos participantes à medida que ocorrem.
As situações de escolha caracterizam-se por preferências problemáticas, tecnologia obscura e
participação fluída. As preferências, nesse caso, representam ideias esparsas e precisam ser
descobertas em vez de serem previamente conhecidas.
O decisor é aquele que está munido de poder institucional para homologar uma decisão
(MINTZBERG, 2004). A decisão final pode vir de um indivíduo ou ainda de vários. Em muitos
casos, há colegiados que representam corpos constituídos, assembleias, conselhos, comitês,
júri, ou por outro lado, uma coletividade com delimitações mal definidas, como é o caso das
associações, grupos comunitários, da opinião pública e dos grupos de interesses (PRÉVE;
MORITZ; PEREIRA, 2010).
Há ainda situações complexas, normalmente de interesse público, onde não existem
decisores óbvios, muito menos processos de decisão técnicos e transparentes, estruturados, e
23
sim decisões políticas e/ou sociais, que alteram a racionalidade do processo decisório (GOMES
et al, 2009). Préve, Moritz e Pereira (2010) referem-se a estes atores como intervenientes, pois
[...] por meio de suas ações, condicionam a decisão em função do sistema de valores
dos quais são portadores. Ao lado deles estão todos aqueles (parceiros, colaboradores
e consumidores) que, de maneira normalmente passiva, sofrem as consequências da
decisão tomada (PRÉVE, MORITZ, PEREIRA, 2010, p.83).
Admite-se que as decisões tomadas em grupos são, muitas vezes, diferentes daquelas feitas por
indivíduos. Pesquisas em psicologia social sobre desempenho em grupo sugerem que o grupo
tende a ser mais eficaz em suas escolhas do que os membros individuais do grupo (YANG,
2010).
E não é diferente na inovação, ela tornou-se mais dependente de cooperações
interorganizacionais e estruturas institucionais, transcendendo as fronteiras empresariais
(LEVÉN; HOLMSTRÖM; MATHIASSEN, 2014; FROW et al., 2015). A cooperação é tida
como atividade primordial nas relações entre governo-universidade-empresa (BALDINI;
BORGONHONI, 2007; COWAN; ZINOVYEVA, 2013; MÜLLER et al., 2018).
O consenso possibilita o agrupamento de agentes com interesses compartilhados, o
compartilhamento de recursos (físicos, estruturais, financeiros e informacionais) e de riscos,
para o alcance de objetivos comuns (MÜLLER, 2018).
Para se chegar no consenso, a comunicação é fator de extrema importância
(GRANDORI; SODA, 1995), pois trata do fluxo de informação entre agentes. É preciso existir
uma comunicação clara, de forma contínua e com rodadas de negociação para a tomada de
decisões conjuntas. As capacidades relacionais dos agentes da rede requerem processos de
comunicação estruturados e práticas de gerenciamento de alianças para habilitar e suportar a
capacidade de absorção e a aprendizagem em redes.
Portanto, apoiar os canais de comunicação e sistemas que aumentem o fluxo de
comunicação é um esforço necessário. Isso requer um projeto cuidadoso de como a cooperação
irá promover simultaneamente o fluxo de ativos de conhecimento, aumentando assim a
profundidade e amplitude da cooperação (MARTINS, 2016).
Para tanto, Bukowitz e Williams (2002) ressaltam que compartilhar conhecimento
envolve motivação, facilitação e confiança. Consideram a confiança um elemento relevante
para a inovação, pois permite melhorar o processo de aprendizagem, estimular a criatividade,
além de ser importante para o sucesso das parcerias estabelecidas. Fatores como a adaptação,
relacionamento de longo prazo, interdependência e confiança mútua são importantes para o
desenvolvimento de inovações e consenso entre os agentes.
Nesse cenário, a confiança surge como um elemento determinante na relação entre os
agentes, sustentando a busca conjunta de ganhos coletivos frente às incertezas e riscos dos
projetos de inovação (BALESTRIN; VARGAS, 2004). Giuliani (2013) afirma que a confiança
refere-se à segurança de que um agente não explorará a vulnerabilidade do outro. “Em uma
relação de confiança, mais importante do que conhecer o comportamento do outro diante de
situações previstas é esperar dele um comportamento aceitável em circunstâncias imprevistas”
25
2.2 INOVAÇÃO
A inovação pode ser dividida ainda em duas categorias: inovação disruptiva ou radical,
que produz um impacto expressivo no mercado e na atividade econômica, e as inovações
incrementais, que são pequenas melhorias, na natureza técnica dos produtos, processos,
métodos de organização e produção (TIDD; BESSANT, 2018). O Manual de Oslo (OCDE,
2005) classificava a inovação em quatro tipos: produto, processo, marketing e organizacional.
E em sua última edição fez alterações conceituais categorizando-as como inovação em produto
(bem ou serviço) e inovação em processos de negócio (OCDE, 2018).
A criação de inovações segue um processo de seleção, no qual um grande número de
possibilidades nasce como ideias vagas, estas geram um número muito menor de iniciativas,
que deriva em uma quantidade menor ainda de sucessos industriais, e há mais um filtro até o
sucesso comercial, um funil (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2007).
Esse processo de desenvolvimento de inovações pode ser explicado por alguns modelos,
que foram se alterando ao longo do tempo. Da década de 50 à década de 80, as características
do processo de inovação foram dominadas por uma visão linear, o science push (VIOTTI;
MACEDO, 2003). Um processo onde novos conhecimentos advindos da pesquisa científica
levariam a processos de invenção, seguidos por atividades de pesquisa aplicada e
desenvolvimento tecnológico, resultando ao final da cadeia em introdução de produtos e
processos comercializáveis (IACONO; DE ALMEIDA; NAGANO, 2011). De maneira similar,
as políticas que emergiram nas duas décadas seguintes, as abordagens demand pull, também se
acomodavam na visão linear, inverteu-se apenas o sentido da cadeia linear. As necessidades do
28
Conforme a OCDE (2018), estes sistemas possuem seis diferentes funções: formular
políticas de tecnologia e inovação, promover a P&D, financiar a P&D, promover
desenvolvimento de recursos humanos, difundir a tecnologia e promover empreendimentos
tecnológicos.
DeBresson (1997) argumenta que o desenvolvimento tecnológico neste sistema avança
graças à complementaridade de dois tipos de conhecimento: o conhecimento técnico ou
produtivo (geralmente específico e comunicado por meio de técnicas, práticas e regras
preestabelecidas, que advém de experiências e habilidades específicas); e o conhecimento
científico (mais universal, que emerge tanto dos conhecimentos humanos previamente
acumulados quanto de experiências).
As trajetórias de evolução dos SNI estão diretamente relacionadas às decisões
estratégicas de desenvolvimento adotadas pelos países, principalmente aqueles “envolvidos no
processo da sociedade da informação e que competem no mundo globalizado” (ROSSINI;
ROSINA, 2012, p. 484). No Brasil, esta estrutura é relativamente recente e vem ganhando
robustez ao longo dos anos (CUNHA et al., 2009) através das seguintes organizações,
apresentadas na Figura 4:
Figura 4 - Principais organizações no SNI brasileiro
Esse aparato legal visa dar segurança para a transferência de tecnologia e resguardar a
Propriedade Intelectual das inovações desenvolvidas (SOARES; GOMES, 2017). Não há
muitos estudos sobre a utilização das patentes e demais modalidades de proteção formal usadas
pelas empresas no Brasil, mas as informações disponíveis nas edições da PINTEC até 2008,
revelam um quadro de subutilização desses mecanismos, indicando que apenas 16% das
empresas que implementaram inovações utilizaram as patentes (BUAINAIN et al, 2018).
No caso das universidades, os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) também
encontram dificuldades para se trabalhar com a Propriedade Intelectual das inovações geradas,
por uma série de motivos, como a falta de uma política de inovação documentada, de gestão do
conhecimento do setor, de documentação dos procedimentos internos, de uma equipe fixa, com
perfil multidisciplinar e com competência para atuar no setor, do envolvimento das
universidades no processo de transferência de tecnologia assim como o envolvimento dos
pesquisadores; e do envolvimento das empresas durante o processo de desenvolvimento das
pesquisas (FREITAS; LAGO, 2019).
Para formalizar essa transferência de tecnologia e a titularidade ou cotitularidade em
acordos para a inovação, geralmente é usado o Acordo de Cooperação, também denominado
Acordo de Parceria, respaldado pela legislação vigente, e que permite o ajuste entre instituições
públicas e privadas para a realização de projetos de interesse comum. Inclusive o MCTI
substituiu o termo que se referia a esse documento como um contrato para instrumento jurídico
específico (VERDE; MIRANDA, 2018) permitindo expressamente o ajuste de tais cláusulas
em instrumento jurídico a parte, inclusive em momento posterior do início do projeto.
Mesmo com esses avanços da legislação o SNI brasileiro é situado entre aqueles de nível
intermediário de construção, ao lado de México, Argentina, Uruguai, África do Sul, e Índia, as
quais possuem instituições de pesquisa e ensino, mas não em proporções semelhantes aos países
desenvolvidos, e o envolvimento das empresas em inovação é restrito (SUZIGAN;
ALBUQUERQUE, 2011).
Em 2017, o Brasil tinha 296 Instituições de Educação Superior (IES) públicas e 2.152
privadas (INEP, 2019), que geram uma produção científica crescente e de qualidade. Mas a
transformação e utilização deste conhecimento em tecnologia aplicada ainda é muito incipiente
(MELO; SILVA, 2019).
As universidades federais lideram o ranking de depósitos de patente no país, e segundo
Buainain e seus colegas (2018) isso é um o reflexo de um traço estrutural do SNI brasileiro,
onde poucas empresas constituíram capacitação endógena de P&D e por isto sempre recorreram
a fontes externas para apoiar o esforço inovativo. Para eles os pesquisadores enfrentam
32
restrições tanto contratuais como culturais para se engajar em atividades de P&D nas empresas,
e as empresas em estabelecer acordos que incorporem as restrições e reflitam a realidade de
pesquisadores acadêmicos. Dentre as áreas que tem maior interação entre esses dois agentes os
autores destacam as engenharias, ciências exatas e da terra, biológicas, saúde e agrárias.
Essa prevalência do desenvolvimento de inovações na esfera pública é um traço do SNI
brasileiro, que tem um histórico de investimentos maiores em P&D por parte do Estado do que
da iniciativa privada (MAZZUCATO, 2015), como evidenciado nos dados consolidados de
dispêndio de Ciência e Tecnologia (C&T) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicação (MCTIC), disponibilizados de 2000 a 2016 (Figura 5) incluindo Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) e Atividades Científicas e Técnicas Correlatas.
Os investimentos ainda são escassos. O Brasil investiu 1,3% do seu PIB em P & D em
2018 (soma de investimentos públicos e privados). Esta taxa está muito aquém da média dos
países da OCDE, onde o investimento representa 2,38% de PIB. Se encontra na 64ª posição de
126 avaliados no Global Innovation Index em 2018 (WYLINKA; NESTA, 2019).
Um dos motivos apontados pela literatura para esse baixo investimento e envolvimento
das empresas brasileiras com a inovação é sua capacidade de absorção reduzida (TEIXEIRA et
al., 2017). Essa capacidade é definida por um conjunto de habilidades que possibilitam a
empresa valorar o novo conhecimento, assimilá-lo e explorá-lo comercialmente. O
desenvolvimento dessa capacidade permite que a empresa avalie melhor as oportunidades
externas (COHEN; LEVINTHAL, 1990), como as oportunidades tecnológicas oriundas das
universidades e obtenha maior sucesso nelas (TEIXEIRA et al., 2017).
Essa capacidade de absorção, bem como outros entraves à inovação nas empresas e sua
cooperação com outros agentes para desenvolvê-la variam de empresa para empresa, de local
para local, inclusive muito influenciados pela região onde estão localizadas TEIXEIRA et al.,
33
2017). Por isso esses fatores são melhor analisados quando observados em um nível micro, por
isso a necessidade de uma abordagem mais localizada do que o SNI.
Com base nos conceitos da teoria sobre o SNI, e os aspectos relacionados à economia
regional foi desenvolvida, no início dos anos 1990, a abordagem sobre Sistemas Regionais de
Inovação (SRI), enfatizando a importância dos recursos e potencialidades regionais para o
desenvolvimento tecnológico e econômico local (COOKE, 2005).
De acordo com Doloreux e Parto (2004), a inovação é espacialmente localizada, pois
ocorre num contexto histórico, institucional, político, social e econômico bem delimitado, com
regras, convenções e normas próprias do local. Para que o desenvolvimento regional de
inovações ocorra é necessário criar um ambiente que estimule o aprendizado, a capacitação
técnica, difusão e incorporação de novas tecnologias, bem como o relacionamento entre as
esferas de pesquisa básica e aplicada, entre pesquisadores e empresários.
Por isto, a necessidade de uma cultura de inovação, um contexto multidimensional que
inclui a intenção de ser inovativo, a infraestrutura que dá suporte à inovação, comportamento
de nível operacional necessários a influenciar o mercado e a orientação de valor e o ambiente
para implementar a inovação (DOBNI, 2008).
A construção de um sistema regional de inovação depende também do passado histórico
da região, marcado pela especialização produtiva, a infraestrutura e configurações institucionais
(path dependences) e da capacidade de absorção de suas firmas.
Considerando o exposto, alguns pressupostos podem ser observados a partir desta
discussão sobre inovação nos níveis nacional e regional, a saber: 1) as inovações desenvolvidas
nos projetos HT são em sua maioria inovações incrementais; 2) o aporte financeiro público nos
projetos é maior do que o aporte privado; 3) o passado histórico do SRI-MG não favorece seu
desenvolvimento por ainda apresentar diversas barreiras culturais para a implementação de uma
cultura de inovação forte no estado.
Existe um consenso na literatura de que os principais agentes que promovem a inovação
nos sistemas de inovação são: o Estado, como instituição de fomento e regulamentador; as
universidades/ instituições e centros de pesquisa, no qual é atribuído o desenvolvimento de
novos conhecimentos; e por fim as empresas, responsáveis pela transformação do
conhecimento em produtos comercializáveis (SARPONG et al., 2017). Sendo assim, na
próxima seção serão apresentados os conceitos sobre a cooperação que envolvem esses três
agentes para a geração de inovações, a Hélice Tríplice.
34
Uma primeira teoria que tentou explicar a cooperação entre governo, estrutura produtiva
e infraestrutura científica e tecnológica foi o “Triângulo de Sábato” (SÁBATO; BOTANA,
1968), que buscava impulsionar o desenvolvimento econômico e social da América Latina. Mas
neste modelo apenas o governo detinha a capacidade e os recursos necessários para ditar os
rumos da inovação tecnológica e as outras esferas eram consideradas relativamente fracas
(PLONSKI, 1995).
Na década de 1990, Henry Etzkowitz pesquisava sobre a proteção e capitalização do
conhecimento, o papel das universidades em iniciativas governamentais para o apoio a
pequenas e médias empresas e no desenvolvimento regional e Loet Leydesdorf explorava a
dinâmica de sistemas. Da união dos trabalhos destes autores surge a abordagem da Hélice
Tríplice, relativa à cooperação entre universidade-indústria-governo (ETZKOWITZ, 2009).
Suas bases estão firmadas: no conhecimento, que é utilizado para a produção de renda; no
consenso, quando os agentes mencionados se unem para discutir problemas e possíveis soluções
e; na inovação, nascida da união dos dois anteriores (ETZKOWITZ; ZHOU, 2017).
Sbragia et al (2006, p. 40) também entendem que a “Tríplice Hélice é um modelo espiral
de inovação que leva em consideração as múltiplas relações recíprocas em diferentes estágios
do processo de geração e disseminação do conhecimento”. Para os autores, “cada hélice é uma
esfera institucional independente, mas trabalha em cooperação e interdependência com as
demais esferas, por meio de fluxos de conhecimento entre elas”. O modelo Hélice Tríplice está
sendo utilizado para a criação de políticas e programas que visam à melhoria das condições
locais a partir da inovação em todo o mundo (LEYDESDORFF; ZAWDIE, 2010; HIRA, 2013;
RODRIGUES; MELO, 2013).
Ao longo dos anos, este conceito vem ganhando evoluções, motivadas por ideias
incrementais somadas ao modelo. Além disso, a interação entre as esferas institucionais também
se encontra em constante mudança, com novas formas de representação. Destas evoluções no
conceito incluiu-se a sociedade (Hélice Quádrupla) e o ambiente (Hélice Quíntupla) como
hélices importantes na dinâmica da inovação (CARAYANNIS; RAKHMATULLIN, 2014).
Apesar da ascensão dos estudos sobre as novas abordagens teóricas das hélices, alguns autores
relatam dificuldades para se trabalhar com elas (YOON; YANG; PARK, 2017) e nesta pesquisa
optou-se pelo conceito de Hélice Tríplice, por acreditar-se que as dificuldades na cooperação
destas esferas já são muitas, limitando-se, portanto, à interação apenas de universidade-
empresa-governo.
35
Etzkowitz (2009) aponta que o caminho que leva à abordagem da Hélice Tríplice parte
de duas fases. A primeira é representada por um modelo estadista, no qual o Estado exerce total
controle da academia e da indústria e a segunda representada pelo modelo Laissez-faire, onde
as três esferas agem de forma isolada, interagem de forma modesta, com fronteiras ainda
fortemente delimitadas (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000; ETZKOWITZ, 2009).
Na fase I o Estado direciona todo o processo de desenvolvimento de novas tecnologias
na indústria. A estrutura de produção e as instituições educacionais e de pesquisa são peças
subordinadas ao governo. A inovação assume um caráter normativo, resultado das diretrizes do
governo e não das relações entre universidades e a indústria (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF,
2000; ETZKOWITZ, 2009).
A fase II é caracterizada pela separação entre as esferas institucionais em um modelo
denominado de Laissez-faire. Nesta fase a influência do governo diminui, limitando seu papel
ao de regulamentação e compra de produtos (ETZKOWITZ, 2009). Mas as esferas recorrem
uma à outra somente quando necessário (ARANTES; SERPA 2012). Etzkowitz (2009, p.22)
também ressalta que nessa abordagem “quando existem interações e relações entre as esferas,
determina-se que elas ocorram entre fronteiras fortemente protegidas e preferivelmente através
de um intermediário". As instituições de ensino são vistas como fornecedoras de pesquisa
básica e mão de obra qualificada, à indústria cabe procurar utilização prática para os
conhecimentos úteis produzidos nas universidades e o governo tem seu papel limitado à
atividade de regulação e mobilização de recursos para o processo inovativo.
Para suprimir a falta de cooperação entre as esferas, surge a terceira fase, o modelo da
Hélice Tríplice, que promove a geração de iniciativas de inovação tanto de baixo para cima
como de cima para baixo (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 2003; TOSTA et al., 2012). Para
Leydesdorff e Etzkowitz (1996), existem quatro dimensões que dão suporte para a cooperação
das três esferas institucionais e o desenvolvimento da Hélice Tríplice que são: a) a
transformação interna em cada uma das esferas institucionais, b) as influências de cada agente
de inovação em relação ao outro, c) o desenvolvimento de novas redes, estabelecidas através
das relações trilaterais de interação, dando suporte à geração de novos conhecimentos e
inovações tecnológicas, d) a troca de papéis entre os agentes de inovação, onde cada um pode
assumir suas atribuições ou a das outras esferas.
Essa abordagem age também como uma plataforma para a formação de instituições, por
meio da reformulação dos papéis das instituições. Instituições intermediárias surgem, como os
Escritórios de Transferência de Tecnologia, empresas de capital de risco, incubadoras dentro
das universidades, aceleradoras, espaços de coworking, living labs, parques científicos, falabs,
36
1
O termo ICT foi utilizado para se referir ao grupo de geradores de conhecimento, em consonância com
a legislação vigente de inovação (Marco Legal de Inovação/2016) e por acreditar-se que há cooperações HT sendo
desenvolvidas por instituições científicas tecnológicas, além das universidades, como é o caso do CEFET-MG,
por exemplo.
40
que levem ao surgimento de novos produtos e processos, além de estruturar os NITs para a
transferência das tecnologias criadas (SANTOS, 2015). Ao contrário de outras teorias que
enfatizam o papel do governo ou das empresas na dinâmica da inovação, a abordagem Hélice
Tríplice coloca a universidade no centro da produção de inovações, tecnologias e empresas
baseadas no conhecimento (ETZKOWITZ, 2009).
Ao Governo cabe criar e gerenciar projetos que facilitem o desenvolvimento tecnológico
provenientes da interação universidade-empresa, por meio de suas instituições tanto no âmbito
federal quanto no estadual e regional, criando ambientes inovadores em universidades e
empresas e, atuando no desenvolvimento de uma política de Ciência, Tecnologia e Inovação
(CT&I) robusta (BRASIL, 2004). A criação de um ambiente econômico e político propício para
a geração de conhecimento é fundamental para atrair investidores nacionais e internacionais
(FONSECA, 2010).
Mas esta cooperação entre universidades e empresas não é tão simples assim, diversas
dificuldades permeiam essa relação, tais como preconceitos, diferenças de valores, objetivos e
cultura organizacional. Por isso essa relação se torna o elo mais frágil da Hélice Tríplice. No
Brasil, a qualidade de uma instituição de ensino superior é historicamente pouco influenciada
pela inovação gerada, a produtividade dos pesquisadores não é diretamente ligada a ela. Além
disso, são poucas as métricas para se analisar a inovação dentro das universidades. Somada a
estas dificuldades há ainda a barreira ideológica. Com base em diversos trabalhos que tratam
deste gap, essas barreiras são expostas no Quadro 1:
k) Publicações advindas dos projetos atreladas à m) Falta de conhecimento dos potenciais parceiros e
proteção intelectual, que pode demorar muito de informações sobre os resultados em projetos
l) Falta de apoio das lideranças da universidade anteriores
para que os pesquisadores participem dos projetos n) Falta de experiência em trabalhos
m) Insegurança jurídica para se firmar as parcerias multidisciplinares
n) Falta de cultura de inovação o) Falta de confiança na capacidade de
o) Pretensão da empresa em usufruir da totalidade desenvolvimento da inovação na ICT
dos ganhos com o projeto p) Falta de mecanismos e pessoal para
p) Heterogeneidade de conhecimento acompanhamento dos projetos
q) Visões diferentes sobre propriedade intelectual
r) Falta de acompanhamento ou interesse após as
investigações
s) Conflito ideológico, onde a cooperação com a
empresa é vista como uma “venda” do
conhecimento, que não pode acontecer
Fonte: Adaptado de Porto (2000); Segatto-Mendes e Sbragia (2002); Ipiranga, Freitas e Paiva (2010); Noveli e
Segatto (2012); Closs et al (2013); Ferreira e Carayannis (2019); Mascarenhas, Marques e Ferreira (2020).
(JOHNSON; EDQUIST; LUNDVALL, 2003). Etzkowitz e Ranga (2013) ainda ressaltam que
a desaceleração econômica e as crises políticas são grandes catalisadores para a criação do
Espaço de Consenso.
Apesar dos avanços óbvios nas últimas décadas, ainda há muito que se avançar na
abordagem Hélice Tríplice. De acordo com Suzigan, Garcia e Furtado (2007), ainda é pequeno
o fluxo de troca de conhecimentos entre as universidades e as empresas brasileiras. O Brasil
ocupa o 70 de 137 em colaboração universidade-indústria em P & D, de acordo com The Global
Competitiveness Index 2017-2018 (SCHWAB, 2018).
Mas como reflexo deste conjunto de mudanças, programas de base Hélice Tríplice
foram surgindo no país (RAPPEL, 1999; DAGNINO, 2004; MELLO, 2008; ABDALLA;
CALVOSA; BATISTA, 2009; SANTOS; SBRAGIA; TOLEDO, 2012):
− o programa “RHAE Pesquisador na Empresa”, do CNPq, com o objetivo de estimular a
entrada, nas micro, pequenas e médias empresas, de pesquisadores mestres e doutores
para atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação;
− o Programa Pite (Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica), da Fapesp,
que financia projetos de pesquisa em instituições acadêmicas ou institutos de pesquisa,
desenvolvidos em cooperação com pesquisadores de empresas;
− o Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe), da Finep, com objetivo de
promover o desenvolvimento tecnológico das empresas, induzindo-as à aproximação
com instituições de ensino e pesquisa;
− o Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas (PROCAP);
− a criação dos Fóruns de Tecnologia (ForumTec) no Ceará (em 1996), na Bahia (em
1997) e em Minas Gerais (em 2003), para articular as instituições que compõem o
Sistema Estadual de Ciência e Tecnologia, promovendo a geração de projetos
cooperativos que captem recursos para o desenvolvimento tecnológico local;
− o PBQP (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade);
− o SOFTEX (Sociedade para a Promoção da Excelência de Software Brasileiro);
− o FORTEC - Fórum Brasileiro de Gerentes de Inovação e Transferência de
Tecnologia. O FORTEC tornou-se uma instituição semelhante às organizações
internacionais como AUTM (Estados Unidos), Réseau Curie (França), Praxis-Unico
(Reino Unido), Red de OTRIs (Espanha) e RedViTec (Argentina), entre outros;
− a EMBRAER, cooperação entre Instituto Euvaldo Lodi (IEL), CTA / INPE e a
Confederação Nacional da Indústria (CNI), para a criação da empresa estatal destinada
à fabricação de aviões
43
Quanto à abordagem, esta foi uma pesquisa qualitativa. Vieira (2004) destaca que a
pesquisa qualitativa possibilita a realização de descrições mais ricas e bem fundamentadas,
baseado em pequenas amostras, que permite que o pesquisador tenha maior grau de
flexibilidade para a adequação da estrutura teórica ao fenômeno em estudo.
Esta pesquisa se caracterizou como aplicada, por pretender gerar conhecimentos para
aplicação prática, dirigidos à solução de problemas específicos, neste caso, os relativos à
cooperação Hélice Tríplice no Sistema Regional de Inovação de Minas Gerais (SRI-MG).
Quanto aos objetivos, esta foi uma pesquisa descritiva, ou seja, tem como objetivo
descrever precisamente os fatos e fenômenos de determinada realidade, exigindo do
pesquisador uma série de informações sobre o que deseja investigar (TRIVINOS, 2008).
Quanto à estratégia metodológica, foi utilizado o estudo de caso, procedimento
metodológico que enfatiza entendimentos contextuais, sem esquecer-se da representatividade
(LLEWELLYN; NORTHCOTT, 2007), centrando-se na compreensão da dinâmica do contexto
real e envolvendo-se num estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira
que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento (EISENHARDT, 1989).
A escolha do SRI-MG como caso para o estudo foi devido à potencialidade do estado
para cooperações como a HT, por possuir instituições fortes nas três esferas da HT e para suprir
a lacuna de pesquisa sobre essa cooperação no estado. Ademais, o entendimento do processo
decisório para a cooperação HT no SRI-MG pode facilitar o estabelecimento desse tipo de
cooperação e dar fluidez a ela.
Por fim, no que se refere ao desenvolvimento no tempo, esta pesquisa se classifica como
transversal, apesar de alguns dados analisados abrangerem o período de treze anos.
Os instrumentos para a coleta dos dados foram múltiplos a fim de se conhecer o objeto
de pesquisa o melhor possível. Foram utilizadas a pesquisa documental e entrevistas
semiestruturadas.
A triangulação desses métodos de coleta de dados parte da concepção de que o uso de
vários métodos para examinar a mesma dimensão do problema de pesquisa, de múltiplas
perspectivas, enriqueça a compreensão, permitindo que novas ou mais profundas dimensões
surjam (CRESWELL, 2014). A eficácia da triangulação baseia-se na premissa de que os pontos
46
fracos em cada método único serão compensados pelas forças de contrabalanceamento de outro
(MARCONDES; BRISOLA, 2014).
Para entender como esta interação tem ocorrido no estado nos últimos treze anos foi
feita uma tabulação quantitativa do volume de editais e programas que envolveram os três
agentes da Hélice Tríplice em sua execução. Para esta coleta foram analisados os sites das
instituições de fomento que atuam no estado (Fapemig, SEDE, Finep, CNPq) que poderiam ter
lançado programas e editais relacionando os três agentes, no período de 2007 a 2020. Foram
tabulados e tratados os dados das instituições do estado, não tratando nesta pesquisa dos
programas e editais das instituições de fomento federais.
Foram solicitados à Subsecretaria de Inovação da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econômico (SEDE) os dados sobre programas que pudessem envolver os três
agentes da Hélice Tríplice. Partiu deles a informação de que na própria Secretaria eram
desenvolvidos e geridos alguns programas e que ficavam a cargo da Fapemig o
desenvolvimento e a gestão de outros projetos, a maioria que envolve os três agentes no estado,
e esses dados foram solicitados também aos gerentes de inovação na Fapemig. Foram recebidos
relatórios e planilhas com os dados e estes foram tratados por análise de conteúdo e tabulação
simples.
O período de abrangência desta pesquisa era inicialmente mais curto, mas, uma vez
recebidos os dados, percebeu-se que os sistemas virtuais utilizados para armazenar estes dados
nas instituições de fomento começaram a ser utilizados em 2007, e não haveria motivo para
desprezar os dados para fazer um recorte menor de tempo. Utilizou-se, então, este ano como
marco inicial do período pesquisado, devido à disponibilidade dos dados.
Acredita-se que o uso de documentos em várias áreas das Ciências Humanas e Sociais
será útil, devido à riqueza potencial de informações que deles pode-se extrair e resgatar, além
de possibilitar o entendimento de objetos em sua contextualização histórica e sociocultural
(CELLARD, 2008).
O complemento da revisão da literatura e os dados extraídos da pesquisa documental
serviram de auxílio para a próxima etapa da coleta de dados, a entrevista. O roteiro de
entrevistas teve como base trabalhos que já investigaram interações entre os agentes que
compõem a Hélice Tríplice (MEYER; SINILÄINEN; UTECHT, 2003; ALBUQUERQUE,
2005; HUGGINS; JONES; UPTON, 2008; RUUSKA; TEIGLAND, 2009; GOMES;
COELHO; GONÇALO, 2014; ROSA; ROSENLUND; ROSELL; HOGLAND, 2017;
TONELLI; JUNQUILHO, 2018), em especial a interação universidade-empresa, que se mostra
na literatura como o elo mais fraco da cooperação Hélice Tríplice (DAGNINO, 2003;
47
Não houve a pretensão de nesta etapa colher dados referentes às instituições nas quais
os participantes trabalham, mas de ouvir a percepção destes como agentes do SRI-MG.
Acredita-se que a realização das entrevistas fora das instituições a qual representam e a garantia
do anonimato (tanto do participante quanto da instituição, caso o participante citasse)
proporcionou aos participantes a liberdade para se expressarem, exporem as reais dificuldades
encontradas para a cooperação, as limitações do SRI-MG percebidas por eles, casos de sucesso
que julgam relevantes, independentemente se ligados à instituição que trabalham ou não,
contribuições pessoais para o desenvolvimento de ações, o relato de suas experiências em
projetos atuais e antigos, etc.
Não foram entrevistados nesta pesquisa menores, incapazes, ou qualquer sujeito que
possa ser classificado em grupos socialmente vulneráveis.
No momento do convite ao participante por e-mail, foi enviado em anexo o TCLE, para
que o participante pudesse ler com calma antes de aceitar o convite para a entrevista. No dia
marcado por ele para a realização da entrevista, o TCLE foi novamente exposto a ele solicitando
seu aceite, para a participação na pesquisa, bem como o aceite a gravação da videoconferência,
que foi registrado verbalmente ou por escrito por meio do chat. Após o consentimento do
participante era iniciada a entrevista.
Além das informações sobre a pesquisa e sobre a pesquisadora, os participantes foram
informados sobre os riscos pertinentes à pesquisa, sua gradação e suas formas de mitigação.
São eles:
• Cansaço e desconforto; risco de grau mínimo; minimizado ao participante escolher o melhor
dia e horário para a entrevista, e ser orientado a escolher um local confortável e calmo em
sua casa para se acomodar durante a realização da entrevista. Além disso a pesquisadora
estará atenta aos sinais verbais e não verbais de desconforto físico e poderá propor uma
pausa, caso o participante deseje;
• Possibilidade de constrangimento ao responder alguma questão; risco de grau mínimo;
mitigado pela possibilidade explicitada ao participante de não responder questões que não
queira, sem prejuízo algum;
• Estresse, inclusive pelo fato de ser usada a videoconferência e a possível falta de costume
do participante com esta tecnologia; risco de grau mínimo; minimizado pelas orientações
da pesquisadora quanto ao uso da plataforma escolhida, o cuidado da escolha de uma
plataforma estável, uso de Internet cabeada pela pesquisadora para melhor conexão e a
possibilidade de desistência do participante caso, mesmo com os cuidados tomados, ele/a
não se adapte ou esteja com problemas técnicos que o impossibilite de continuar;
49
3.3 TRATAMENTO
Após coletados os dados, esses passaram por tratamento: a tabulação e transcrição. Após
a seleção dos editais neste período que envolveram os três agentes da Hélice Tríplice, foi feita
uma análise documental destes, com o objetivo de analisar a estrutura desta relação, o aparato
jurídico utilizado, seus meios de formalização, como se dá o aporte exigido de cada um dos
agentes, e as formas de registro dos resultados da interação (produtos, patentes, bases de dados
etc.). Foi analisada ainda a evolução destes fatores ao longo do período, por intermédio das
alterações de conteúdo (conceitos, exigências, requisitos, processos seletivos) incorridas nos
editais.
50
Para as informações coletadas nas entrevistas e nos documentos colhidos foi utilizada a
análise de conteúdo, por frequência e temática, como método de análise (BARDIN, 2016). Este
método de tratamento e análise de dados tem por objetivo compreender de forma crítica o
sentido das comunicações, apreendendo suas significações explícitas e ocultas. A decodificação
dos dados pode ser realizada por meio de diferentes procedimentos, tais como a decomposição
do texto em unidades léxicas ou a análise por categorias (CHIZZOTTI, 2018). A elaboração de
categorias evidencia a construção teórica feita pelo pesquisador a partir das informações
fornecidas pelos sujeitos no momento empírico (REY, 2005). A etapa de categorização foi feita
com o auxílio do software MaxQda, gerando 15 códigos, que foram posteriormente agrupados
em 3 categorias, como exposto no Quadro 2.
Como proposto nos objetivos específicos desta pesquisa, nessa sessão são apresentados:
(i) o levantamento dos projetos de base Hélice Tríplice nos últimos treze anos no SRI-MG
(2007-2020); (ii) a análise da estrutura das interações e de seu avanço ao longo do período
estudado, identificando as mudanças que possam ter interferido no processo decisório dos
agentes; (iii) e a análise das práticas adotadas para o processo decisório pelos agentes do SRI-
MG para cooperação Hélice Tríplice, sendo estas práticas divididas nas três fases do processo
decisório identificadas: decisão de cooperar, processo de consenso e decisões durante a
execução do projeto.
PROJETOS DE BASE
Apoio às Incubadoras de Empresas de
Base Tecnológica 5 14 14 14 16 10 9 14
57
Abriga também o Mapa da Inovação, que aloca as estruturas ligadas à inovação no Estado,
mostrando suas informações e localização geográfica, dividindo-as em categorias. Proporciona
maior visibilidade, acesso e articulação entre os mais de 400 agentes cadastrados do ecossistema
de inovação em Minas.
Com base nos dados do quarto grupo, são apresentados na Tabela 2 os resultados dos
Projetos Hélice Tríplice, sendo que da Fapemig é apresentada a contagem dos relatórios finais
e da SEDE é sinalizada a ocorrência do programa ao longo dos anos, uma vez que os números
referentes aos projetos da SEDE foram cedidos como um compilado de todos os anos de
execução dos projetos, não permitindo sua divisão ano a ano.
Comunicação e Relacionamento
Empresa-Cliente 10
Pesquisas na área do Setor Elétrico -
Parceria FAPEMIG – CEMIG
DISTRIBUIÇÃO S.A., CEMIG
TRANSMISSÃO e GERAÇÃO S.A. * * *
Programa de Atração de Estudantes do
MIT para Intercâmbio em Empresas de
Base Tecnológica em MG 1
Pesquisas na área do setor aeronáutico -
EMBRAER S.A. 1 5
Pesquisa na Área de Espeleologia
PARCERIA FAPEMIG-VALE 9
Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação
para Recuperação das áreas impactadas
pelo rompimento da barragem de
Fundão – Mariana –Mg 15
Encontros de Inovação x x x x x x x x
Programa de Incentivo à Inovação – PII x x x x
* houve a chamada/edital, mas os resultados finais não estão disponíveis na base de dados
Fonte: dados da pesquisa (2021).
Nas duas instituições de fomento vê-se que a oferta dos programas é variável. Na SEDE
a manutenção destes programas é ainda mais instável, como pode ser visto nas Tabelas 1 e 2.
Na Fapemig esta oferta é um pouco mais regular (com exceção dos últimos 3 anos). A seguir é
apresentada a quantidade de editais ofertados pela Fapemig, ao longo do período estudado,
considerando o volume total de editais (direcionados aos quatro grupos já definidos
anteriormente), os editais de projetos de base e editais de projetos HT.
25 26
25
21 21 20
18 19
20
16 16
14
15 12
10 8 8
5 32 33 34 43 32 22 3 3 3
12 21 2 1 12
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Total de editais Projetos de base Projetos Hélice Tríplice
Fonte: dados da pesquisa (2021).
empreendedora nas universidades, ainda que lenta. Mas os dados apresentados na figura 7 não
demonstram esse crescimento.
Na Tabela 3 são evidenciados os valores ofertados nestes editais pela Fapemig e são
destacados também os valores que foram aportados por empresas para o lançamento destes
editais, sendo estas empresas a Whirpool, Vale, Fiat, Cemig, Fundação Renova, Embraer e
Algar. Além dos valores demonstrados na tabela foi feito também um aporte de R$ 120.000
pelo CNPq em 2019 em um dos projetos HT. No ano de 2020 não foram feitos aportes para os
projetos em questão.
Submissão da
proposta
Meio eletrônico e Meio eletrônico e Meio eletrônico e
versão impressa aplicativo AgilFap sistema Everest
Contratação e
liberação dos De acordo com Gestora para Fundação de Apoio
recursos o Termo de gerenciamento dos como responsável
Outorga recursos pelo gerenciamento
dos recursos
63
2007 2017
A análise do processo decisório para a cooperação HT no SRI-MG foi feita com base,
tanto nos resultados da análise documental dos editais e dos programas, quanto das 12
entrevistas, com os 5 pesquisadores (ICT1 a ICT5), 5 responsáveis pela área de inovação na
empresa (EMP1 a EMP5), e 2 secretários de inovação das instituições de fomento (GOV1 e
GOV2).
Essa categoria reuniu o maior volume de segmentos codificados durante a análise, o que
sugere que esta etapa do processo decisório seja a mais delicada, a que demanda mais dos
agentes, a fase do estabelecimento da cooperação.
Dentre as sete subcategorias, as duas que tiveram maior relevância foram entraves para
cooperar (com 66 segmentos codificados) e motivação para cooperar (com 65 segmentos
codificados). A seguir serão descritos os resultados de cada subcategoria: Motivação para
cooperar, Entraves para cooperar, Informações sobre os agentes que são analisadas pelos outros,
Informações sobre a inovação a ser desenvolvida e Aportes para a cooperação.
“o trabalho conjunto, aí pra gente é muito bom, porque a gente compartilha riscos,
compartilha os investimentos, amplia muito aí o acesso aos resultados, né?” EMP1.
“As universidades hoje estão muito mais abertas a fazer essas parcerias, né? Inclusive
por sobrevivência, né? Por sobrevivência dos pesquisadores. Eles precisam de
recurso, mas falta estímulo, recurso destinado a pesquisa, o Estado está quebrado,
então a primeira coisa que corta é a pesquisa, a gente sabe disso. Os investimentos
não chegam pra certas áreas” EMP5.
Outras motivações também foram citadas pelos representantes das empresas, como a
obrigação legal de aportar recursos em P&D e os benefícios fiscais por investir em inovação.
Para as ICTs, a principal motivação para a cooperação foi perceber o trabalho nos
projetos como um retorno para a sociedade (SEGATTO-MENDES; SBRAGIA, 2002;
ETZKOWITZ, 2003), perceber a possibilidade de fazer ciência aplicada como um retorno do
que é gasto nas universidades, com a solução de problemas do cotidiano. Relatam, ainda, que
ao estarem em contato com o mercado (MOTA, 1999; PORTO, 2000; SEGATTO-MENDES;
SBRAGIA, 2002; CLOSS et al, 2013; MASCARENHAS; MARQUES; FERREIRA, 2020),
trabalhando na solução desses problemas, os pesquisadores sentem que estão se atualizando e
à medida em que participam dos projetos, afirmam ensinarem melhor e ter maior experiência
para passar aos seus alunos.
Além da experiência adquirida por eles, os pesquisadores relatam como ponto
primordial para participarem da cooperação HT a formação dos alunos, a formação de recursos
humanos, que poderão ser absorvidos pela empresa no futuro.
“Que aqui no Brasil a gente não tem muita condição de fazer ciência básica, porque
assim, a básica é muito cara. Então eu prefiro fazer, pelo menos, uma coisa que seja
66
útil. A empresa e a sociedade elas nos mantêm com o pé no chão, elas nos mantêm
vivos, elas nos mantêm com problemas que são reais. Eu tenho que resolver esse
problema, porque essa pessoa aqui precisa da solução desse problema. Então, pra mim
é o mais interessante. E aí você gera resultados que são mais práticos. E além disso
você forma alunos que vão trabalhar em empresas importantes, então é bom pros
alunos. Pra mim, é só benefício.” ICT1.
Outra motivação ligada ao recurso financeiro é usar a cooperação como uma forma de
angariar recurso externo para escalonar a inovação, como uma forma de levar adiante as suas
invenções como pesquisador. A possibilidade de se fechar o ciclo da invenção à
comercialização da inovação.
Também foram citados como motivadores o desafio, inerente ao desenvolvimento da
inovação; a produção científica advinda dos projetos em cooperação; a credibilidade que o
alcance dos resultados dos projetos traz para a instituição (SEGATTO-MENDES; SBRAGIA,
2002; BALDINI, 2011) e o cumprimento da exigência da Capes quanto à inserção social dos
Programas de Pós-Graduação.
Para a hélice do Governo, a cooperação é vista como uma forma de gerar inovação a
partir do conhecimento produzido nas ICTs por meio das empresas e objetivam com isso
fomentar a inovação e o desenvolvimento no estado.
“O Brasil não tem uma cultura de investimento de P&D dentro de empresas, o grosso
do conhecimento é produzido nas ICTs, principalmente nas universidade, né? E que
também não tem uma cultura de ter parcerias. Então, o governo entra pra tentar
aproximar esses dois entes e fazer, de fato, esse conhecimento ser transferido e chegar
na ponta, né? Não adianta só a pesquisa, em algum momento, ela tem que ser aplicada,
né? Então, o governo entra pra essa conexão, pra gerar desenvolvimento e inovação."
GOV 1.
67
Diferentemente das motivações para cooperar que foram particulares de cada hélice,
quando perguntados sobre os entraves para a cooperação HT no SRI-MG houve pontos que
foram citados pelas três hélices.
O primeiro desses pontos foi o gap entre a visão das empresas e da academia (NOVELI;
SEGATTO, 2012; FERREIRA; CARAYANNIS, 2019; MASCARENHAS; MARQUES;
FERREIRA, 2020), onde as empresas focam o lucro com a comercialização da inovação no
mercado e a academia foca o avanço da ciência durante o desenvolvimento de tal inovação.
“eu acho que tem um gap entre a visão da indústria e da academia. Eu já tive dos dois
lados né? E quando estava na academia eu via aí a questão de distanciamento da
indústria e de não saber como acessá-los assim, sabe? Pra conseguir trazer o
desenvolvimento acadêmico orientado pra uma necessidade um pouco mais pé no
chão, mais real. E na indústria, às vezes, eu vejo isso também, sabe? Às vezes a gente
tem uma necessidade, ela é mais imediata, só que a academia, ela tende por exemplo,
ao apego tecnológico da coisa, que é muito comum, tá? Enquanto a indústria é voltada
ao negócio, eu quero que resolva o meu problema, a academia, o foco dela é a
contribuição científica, né? É o pensar diferente, essa disparidade entre a visão de um
e outro, eu acho que dificulta, tá?” EMP1.
A falta de recursos no Estado para se aportar neste tipo de cooperação foi outro ponto
comum, o que força as empresas a buscarem a cooperação bilateral, com as universidades ou
ainda com startups, segundo os entrevistados das empresas.
“onde todo mundo, só tá pensando em publicar artigo com prazos de dois anos, eles
precisam resolver o problema em dois meses, né? Então, você tem que convencer a
empresa de que você entende a necessidade e o prazo da empresa. Você tem que
convencer a empresa de que você consegue fazer do jeito deles. E muita empresa não
acredita não. Algumas acreditam e a gente vai nelas. E é um pouco injusto. Porque eu
já ouvi um monte de coisas que eram realmente inapropriadas, né?” ICT 1.
Mas uma das entrevistadas da hélice empresa contrapôs esse imediatismo das empresas,
com a justificativa que falta organização de longo prazo nas empresas. A entrevistada trabalha
há mais de 20 anos em cargos ligados à inovação.
“Eu acho que as empresas tem que se organizar em termos do que elas querem em
termos de tecnologia também, devem distinguir o que é urgente e o que é emergente,
e tratar de outra forma, não querer que a universidade resolva o que é urgente, pra
trabalhar com a universidade o que for mais importante, para um trabalho mais de
médio e longo prazo. Se eu tenho tempo pra executar isso, que está no meu
planejamento estratégico, aí sim eu acho que o problema seria resolvido (...) Mas,
entrar como curto prazo já é assim, crônica da morte anunciada pra PDI” EMP 2.
A falta de equipe capacitada nos NITs para formalizar a cooperação também perpassou
as três hélices, se mostrando um dificultador para esse tipo de cooperação ser estabelecida, tanto
69
por questão da comunicação falha quanto pela perda de know-how com a troca de membros da
equipe.
“Às vezes você tem um lugar que tá tudo, está tudo funcionando e de repente para. E
aí, você custa a construir e, assim, capacitar uma equipe, não é fácil pra essa área, a
hora que tem expertise vem e troca tudo. Eu tenho que começar tudo do zero. Esse é
um problema que a gente sempre vê. Principalmente porque grande parte das equipes
dos NITs de Minas Gerais é formada por bolsistas, através de recurso da Fapemig. Há
uma descontinuidade do projeto. Porque em muitas universidades, como sempre, teve
falta de servidores, às vezes os reitores não alocam servidores pro quadro do NIT, aí
acaba a bolsa e aí? Quem que vai fazer? Eu não tenho servidor do quadro, aí sai todo
mundo, não tem nem quem passe, quem vai treinar a próxima equipe, esses são vários
problemas que a gente sabe que a realidade de muitos NITs de Minas.” ICT3.
A falta de cultura de inovação ainda é muito presente nas três hélices (IPIRANGA;
FREITAS; PAIVA, 2010; CLOSS et al, 2013), evidenciando problemas sistêmicos do país e
que segundo os entrevistados não tem a possibilidade de ser resolvido no curto e médio prazo.
“Eu acho que infelizmente somos um país que não investe muito em pesquisa, em
desenvolvimento a gente é muito, isso falando até pela empresa, a gente tem o nome
lá fora de fast followers né? Seguidores rápidos. A gente deixa os mais desenvolvidos
inventarem, desenvolverem, a gente vai lá, se for aplicado aqui no nosso mercado, a
gente vai lá e copia né? E aí a gente perde aquele passo que vem com muito
conhecimento, com ganho de know-how, com capacitação, que é a pesquisa, né?
Então, é meio esse trabalho de base, assim, investimento nessa base que falta.” EMP
5.
Esse dado corrobora o pressuposto 3 da teoria sobre inovação, a qual supunha que o
passado histórico do SRI-MG não favorece seu desenvolvimento por apresentar diversas
barreiras culturais para a implementação de uma cultura de inovação forte no estado.
A falta de comunicação também impossibilita que a cooperação HT seja estabelecida,
pela falta de conhecimento das competências dos parceiros (PORTO, 2000). Principalmente
entre a ICT e a empresa.
“eu acho que é muito importante a comunicação, hoje a universidade comunica muito
pouco, ela fala pouco dos seus resultados, das suas pesquisas, do que ela já chegou,
dos contratos que ela celebra, então fica difícil para a gente descobrir, achar que ela é
boa naquilo.” EMP3.
Essa observação quanto aos setores é pertinente, uma vez que a literatura mostra que
em algumas áreas essa interação ocorre em maior frequência, como na grande área de Ciências
Agrárias e de Engenharias e Ciência da Computação, com destaque para a predominância do
complexo mínero-metalúrgico em Minas Gerais, com a concentração de empresas de produção
intensiva em escala (RIGHI, et al, 2008).
Se tratando dos entraves percebidos por cada hélice, as empresas relatam: a dificuldade
dos pesquisadores em entender a necessidade da empresa (IPIRANGA; FREITAS; PAIVA,
2010), a falta de recursos na empresa (IPIRANGA; FREITAS; PAIVA, 2010), a aversão ao
risco (IPIRANGA; FREITAS; PAIVA, 2010; NOVELI; SEGATTO, 2012; MASCARENHAS;
MARQUES; FERREIRA, 2020), a falta de modelos mais ágeis para o desenvolvimento da
inovação, a dificuldade em delimitar para o pesquisador o que é exatamente a necessidade para
a empresa.
Já as ICTs veem como entraves a demora no repasse financeiro por parte da FAP, a falta
de clareza na definição do escopo do projeto, a falta de flexibilidade das normas internas da
Universidade, a falta de sinergia entre a Universidade e a Fundação de Apoio, a dificuldade na
prestação de contas e as barreiras ideológicas na universidade para se trabalhar a favor da
cooperação. Este último entrave corrobora o pressuposto 2 da teoria sobre HT.
“Tem uma resistência também por alguns outros docentes, né? Que se traz a empresa,
parece que nós estamos vendendo, estamos privatizando a universidade pública, né?
Bom, eu respeito, né? Mas assim, eu acho que a gente pode também tentar andar com
as próprias pernas, né? E uma coisa não exclui a outra, eu pelo menos penso assim
né?" ICT 4.
“E uma outra coisa que eu tinha pensado é a questão de governança, que eu acho que
os programas ainda precisam de um alinhamento maior. Então, você tem um conjunto
de programas, cada um fazendo o seu, cada um tocando do seu lado e não tem um
alinhamento entre eles, né? Não tem conversa entre os atores." GOV2.
71
Dentre as informações que são analisadas pelos agentes para se estabelecer a cooperação
com os parceiros, as empresas se preocupam, em especial, com a vocação da ICT para o tema
do projeto e com os resultados em projetos anteriores do pesquisador, apresentados de forma
clara e atrativa. Já as ICTs focam na afinidade com a linha de pesquisa que já trabalham e
possuem expertise e como o seu trabalho como pesquisador irá agregar valor para a empresa.
Esses dados corroboram em partes com a literatura, pois o fator de proximidade, considerado
um dos principais para a cooperação entre esses agentes (MASCARENHAS; MARQUES;
FERREIRA, 2020), não foi citado pelos entrevistados.
A análise do Governo é mais rigorosa, até mesmo pelo seu papel na formalização da
cooperação. Cabe a eles fazerem a checagem da infraestrutura para P e D, tanto na empresa
quanto na ICT e também a conferência da comprovação da capacidade técnica e intelectual dos
envolvidos na cooperação.
Mas há ainda questões mais estratégias, além das questões burocráticas, que têm sido
analisadas pelos agentes do Governo, são elas o interesse da empresa no projeto e indícios da
capacidade de absorção dos resultados na empresa.
“É, acho que a nossa decisão acaba sendo de realmente garantir que exista de fato um
interesse. Já se teve muito investimento onde se procurou delimitar o que é o problema
real, o que era o problema de mercado, mas nem sempre de fato isso conseguia ser
absorvido (...) hoje a gente está muito na linha de conseguir a contrapartida da
empresa, conseguir que ela também aporte recurso, não só o Estado, porque seria uma
forma de validar". GOV1.
“Acho que a gente ter alguma garantia ou pelo menos alguma evidência de que aquela
empresa trabalha bem com inovação, que vai conseguir incorporar os resultados. Que
vai ter um gerente de projeto lá na ponta responsável por acompanhar os projetos junto
com a ICT, que vai fazer as demandas, né? A competência da empresa pra lidar com
a inovação é importante, porque se não tem jogo, né? A gente talvez lá atrás no início,
há dez anos atrás, quando começou esse tipo de parceria, não tinha muito essa visão,
né? A empresa tem uma área de P e D, vamos lá. Agora, hoje, pra poder renovar essas
parcerias e pra fazer novas, aí a gente já adota o tipo de critério dele, que é: a empresa
está realmente aberta a inovar? a receber projetos? a receber pesquisador lá dentro? é
uma pergunta que eu faria. Aí, claro, né, a empresa pode te enganar, as evidências
podem não ser suficientes a priori, é difícil de medir isso né? Mas tentaria de alguma
forma tatear isso aí, né?" GOV 2
Com base nos dados das entrevistas, pôde-se perceber que a capacidade de absorção
(COHEN; LEVINTHAL, 1990; JIMÉNEZ-BARRIONUEVO et al, 2011) nas empresas
mineiras ainda precisa ser desenvolvida. Percebeu-se que mesmo na empresa que aparenta ter
uma estrutura de P&D mais robusta e faz aportes significativos nos projetos, admitem-se
dificuldades na internalização dos resultados.
73
Percebeu-se também que, pelos relatos, essa capacidade de absorção é maior e melhor
explorada nas empresas que não fazem o aporte em P&D por obrigação legal. As empresas que
o fazem se mostraram menos próximas no acompanhamento do projeto e menos preocupadas
com a assimilação dos resultados pela empresa.
“A gente prioriza coisas que tem uma maturidade maior, né? Uma garantia de gerar
maior resultado.” GOV2.
Segundo os dados da pesquisa, levantados tanto pelos editais quanto pelas entrevistas,
o aporte financeiro é feito pela empresa e pelo Governo. Algumas das empresas têm a obrigação
legal de fazer aporte financeiro em P&D, o que parece interferir significativamente na forma
como essas empresas conduzem e lidam com a cooperação HT. Mesmo as empresas que não
têm essa obrigação, afirmam precisar fazer um aporte robusto para se entrar numa cooperação
desse tipo, para lançar um edital.
“movimentar uma ação grande dessa envergadura demanda muito dinheiro, porque é
uma coisa que eu costumo brincar, tipo Gisele Bündchen, não levanta da cama se não
for pra ganhar cem mil dólares. Então assim, edital que o pessoal tem que ter
consciência é isso. Fazer edital no varejinho pra pouco dinheiro é dor de cabeça, é dor
de barriga, é dor de tudo. Então, edital é um trabalho sem fim, porque desde a fase da
construção da parceria, do texto do edital, aí fase de propostas, né? Os caras têm muita
dúvida, o que é natural, é do processo, pesquisador pergunta e a gente tem que
responder, é o que eu falo, foi pra rua, botou a cara a tapa, você tem que responder,
você não pode deixar uma pessoa sem resposta.” EMP2.
Nos editais esse aporte feito pelas empresas pode ser dividido em contrapartida
financeira e econômica. Sendo que no caso das parcerias feitas com a Fapemig, há a retenção
de um percentual do valor aplicado para despesas administrativas. Os entrevistados dessa hélice
75
relatam que o interesse em estabelecer cooperações HT e não bilaterais (U-E) está no aporte de
recursos vindo do Governo.
“tem um milhão de regras pra gastar o recurso, porque a partir do momento que o
dinheiro caiu na conta de um órgão público estadual, de uma autarquia, eu tenho que
seguir as regras do dinheiro público, vamos dizer assim. Então, não tem porque eu
fazer isso se aquele órgão público não for também aportar recursos.” EMP2.
“mas eu acho muito paternalismo, porque é pago a bolsa, o resto é bagatela de algumas
coisas aqui, é muito pouco, que eles tem que passar. Então, eu acho que podia exigir
um pouquinho mais das empresas. É, mas já é alguma coisa.”ICT2.
Quanto ao aporte técnico para a execução do projeto as empresas afirmam fazer este
aporte técnico, por meio de pessoal especializado para P&D, com o conhecimento sobre o
problema a ser trabalhado e infraestrutura que proporcione este desenvolvimento. Além disso,
ressaltam que em alguns casos é necessário promover o acesso dos pesquisadores à empresa,
para que tenham contato com a situação problema.
O aporte intelectual é visto como a contrapartida da ICT, tanto pelas empresas, quanto
pelo Governo. As empresas veem na ICT a possibilidade de resolução de temas complexos, em
que o problema exige esforços multidisciplinares.
"(...) a gente pega o macro tema de pesquisa, que a gente não sabe onde ele vai dar.
Então, o primeiro foi contato da roda com trilho. A gente não sabia quem comia mais
quem, se era roda que comia o trilho, ou o trilho comia a roda e são milhões e milhões
76
de dólares por ano que a gente gasta com esse tema do contato da roda com trilho, um
gasto enorme. (...) A gente pegou esse macro tema e não sabia o que fazer com ele,
porque dele vem, estudo de tribologia, que é aquele de atrito, vem a questão de
engenharia de metalurgia de roda, freio, tudo. Aí a gente assinou o acordo e falamos
com a FAP: a gente não sabe nem por onde começar, qual seria o primeiro projeto (...)
Aí tem um comitê gestor para esse tema, que aprova cada projeto de P e D que será
desenvolvido debaixo desse grande guarda-chuva, existe a troca de conhecimento e
com isso a gente criou uma grande rede de pesquisa só sobre o contato roda trilho."
EMP2.
Alguns desses fatores são restritos a cada hélice, outros perpassam pelas três hélices,
como em Entraves para cooperar. A própria quantidade de fatores elencados já demonstra a
complexidade dessa decisão. Além da quantidade percebe-se temáticas densas, problemas
sistêmicos, que não permitem uma solução simples, chamando a atenção para a necessidade de
esforços intensos e contínuos para que a longo prazo este tipo de cooperação possa se
estabelecer com maior facilidade.
Quanto ao processo de consenso entre os agentes foi investigado de quem surgia a busca
pela coordenação, ou seja, os responsáveis pela parceria, como é feita a integração dos
interesses para definição do escopo do projeto, informações sobre o processo de comunicação
entre os agentes, sobre a formalização do projeto e os aspectos relacionados à transferência de
tecnologia e propriedade intelectual. O maior volume de segmentos codificados nessa categoria
ocorreu na subcategoria formalização do projeto, por receber segmentos tanto dos editais
quanto das entrevistas, com 78 segmentos codificados. O processo de comunicação entre os
agentes também foi bastante citado, em especial pelos entrevistados, gerando 54 segmentos.
“Então a gente entendeu as nossas necessidades, entendeu o que precisava ser feito
em termos de desenvolver tecnologia de baixa maturidade e estabeleceu uma parceria
com a ICT-X pra que desenvolvessem orientados aquilo que a gente quer. Então,
assim, é muito comum a empresa fazer este papel de orientação pra academia, tá?
Dando as necessidades, passando requisitos e depois fazendo validação daquilo que
tá sendo desenvolvido.” EMP1.
“Então, no geral sendo muito mais parte da empresa do que da instituição pública, até
porque o foco da instituição pública é ensino, pesquisa e extensão, então assim quando
dá tempo a extensão, a inovação não está dentro do escopo, por conta disso realmente
tem que é um protagonismo mais de empresa mesmo, não tem jeito.” EMP3.
78
Eles ainda relataram que geralmente essas conexões surgem de um networking restrito,
onde o gerente de inovação já conhece quem são os pesquisadores no seu ramo de atuação e os
procura para propor desafios. E quando não é este o caso, eles procuram o NIT da ICT que lhes
chamou a atenção, para propor a cooperação e o NIT se encarrega de buscar o pesquisador mais
capacitado para atender àquele desafio. Outra possibilidade é a proposta de cooperação surgir
de órgãos como a Embrapii, agentes intermediários na cooperação Hélice Tríplice.
Uma possiblidade levantada pelos gerentes de inovação, mas que acontece com muito
menos frequência, é de o Governo procurar empresas de um setor, que julga estratégico para o
Estado, e propor a abertura de um edital, para fomentar o desenvolvimento de inovações para
aquele setor.
Uma outra forma recorrente dessa cooperação surgir vem de estagiários que propõem a
pesquisa dentro da empresa, alunos que percebem o problema dentro da empresa e estão em
contato com pesquisadores que poderiam ajudar na solução deste.
Essa percepção do aluno como “ponte” também foi relatada pelos agentes das ICTs, e
ainda os ex-alunos, que mesmo não estando mais na ICT ao encontrarem o problema na empresa
se lembram dos pesquisadores e suas expertises e os procuram para propor a pesquisa. Todos
os entrevistados da hélice ICT citaram os alunos ou ex-alunos como elos entre a ICT e a
necessidade da empresa.
“Agora, o que eu acho que as coisas mais sólidas são principalmente por, assim, ex-
alunos. Tem, por exemplo, esse da Empresa X. É uma pessoa que chegou e falou
assim, professora, a senhora lembra de mim? (...) Meu pai era plantador de banana.
Hoje eu sou empresário da banana e quero fazer parceria e vamos desenvolver a
pesquisa, quero investir.” ICT2.
“Então, por exemplo, a Empresa X, que foi com quem a gente trabalhou, nós
chegamos nela como? O dono da empresa foi aluno do doutorado no meu
departamento e assim eu cheguei nele, nós conversamos e acertamos uma parceria,
tá? E assim vai. É, a Empresa Y, a primeira vez que eu fui na Empresa Y, foi por causa
de um aluno meu que trabalhava lá, ele me chamou pra fazer uma palestra, eu fui lá,
fiz a palestra, conheci as pessoas e a gente fica namorando, é um processo de namoro,
né? Fica namorando por um tempo, né?” ICT1.
“E é um processo como o processo comercial normal, né? Você tem que chegar na
empresa e tentar se aproximar, entender, achar o contato certo, entender o que a
empresa tem pra te oferecer, o que você pode oferecer. Mas é um, é um processo longo
e difícil, né? Porque você tem que encaixar com a empresa, né? Isso também não é
79
peculiaridade da universidade não, é sempre assim, toda vez que você quer alguma
coisa com uma empresa, a não ser que você seja cliente da empresa, você tem que
batalhar pra achar aquela pessoa e aquele problema certo. Então, surge assim.” ICT1.
“Eu tentando fazer coisas avançadas. Nós criamos pra esse parceiro a primeira busca,
a primeira caixa de busca, que você escreve alguma coisa e ele achava os arquivos
com aquele texto, nós fizemos. Eles não quiseram. Não era o que eles precisavam de
resolver aquele problema, naquele ponto, não era o que eles queriam naquela época.
(...) a gente tem que ser humilde de enxergar que a nossa invenção científica
maravilhosa, que vai gerar dez artigos, dois doutorados, não é o que a empresa
precisa.” ICT1.
Quanto à definição do escopo outro ajuste se mostra comum, que é o limite de exposição
dos dados da empresa como insumos para os projetos.
“que tinha um projeto que estava sendo desenvolvido por um aluno de mestrado e que
poderia ser de interesse nosso, que fala aí duma otimização de um processo de uma
linha de produção para o seguimento X. Beleza, assim, é legal, só que assim, a gente
teve que fazer uma readequação do escopo porque quando ele submeteu lá pra FAP a
proposta de projeto, ele partia de uma expectativa de, por exemplo, fazer uma
80
otimização baseada em dados financeiros da empresa. Aí eu falei assim, não, você não
vai ter acesso a dados financeiros, né? a gente não pode expor a empresa nesse
contexto.” EMP 1.
Além disso, é necessária celeridade do processo, para que os envolvidos não percam o
interesse no projeto. Um tempo de tramitação muito longo fazem os parceiros desistir, mesmo
que o interesse no projeto seja alto.
Nessa subcategoria relativa à integração dos interesses para definição do escopo do
projeto, a questão do networking restrito volta a aparecer, pois os gerentes afirmam que é mais
fácil trabalhar com um pesquisador que já conhecem sua forma de trabalho e os pesquisadores
afirmaram ser mais fácil com uma empresa, onde eles já conhecem as demandas. Nesses casos
a integração dos interesses ocorre quase naturalmente, segundo eles.
Com visões tão diferentes de cada tomador de decisão é necessário um objetivo comum
para se fechar o escopo do projeto. Os entrevistados das três hélices afirmam que é necessário
um “casamento” entre as competências do pesquisador e a necessidade da empresa, deve-se
conseguir um projeto onde o pesquisador enxergue sua contribuição para a ciência e para a
sociedade e que este produto gere valor para a empresa, um consenso entre a visão científica e
de mercado.
Após definido o objetivo do projeto, é necessário ainda se alinharem as “recompensas”,
retornos satisfatórios para cada uma das partes. Os entrevistados ressaltam, ainda, a necessidade
de se envolver o jurídico das instituições nas discussões para a definição do escopo desde o
início, para não se esbarrar em questões burocráticas depois das expectativas alinhadas.
Os entrevistados relatam que os interesses e as formas para os atingir devem estar
minunciosamente registrados no Plano de Trabalho, bem como as atividades de cada hélice ao
longo do desenvolvimento. Esse registro minucioso evita conflitos no decorrer e ao final do
projeto.
Durante a execução do projeto, todos os agentes entrevistados relataram que são
necessárias adequações do escopo. Essas mudanças são comuns ao longo do desenvolvimento,
e são deliberadas de forma conjunta, geralmente, com base nos resultados parciais ou até mesmo
pela demora do início do projeto (por causa do trâmite jurídico).
De forma geral, percebe-se que essa busca por consenso entre as três hélices para a
cooperação no estado ainda é delicada e demanda grande esforço individual dos agentes
envolvidos, apesar da atuação dos NITs e das Fundações de Apoio como facilitadores na
comunicação e consenso na cooperação.
Quanto ao relatado pelos entrevistados a respeito do escopo dos projetos dos quais já
participaram, parecem haver indícios que as inovações desenvolvidas nos projetos HT são, em
sua maioria inovações incrementais, como levantado no pressuposto 1 da teoria sobre inovação.
Para que haja a integração dos interesses e definição clara do escopo do projeto
percebeu-se a importância da comunicação (GRANDORI; SODA, 1995, MARTINS, 2016).
Ela é necessária para o esclarecimento de dúvidas dos pesquisadores e gerentes e para o
alinhamento do foco e das expectativas. Os entrevistados, das três hélices, relatam que há um
processo de comunicação longo e informal até se chegar à decisão de cooperar, alguns
compararam esse processo a um “namoro”.
“A gente agendou várias reuniões e visitas, né? De empresas, então ela vai lá, conhece
os laboratórios, tudo. Aí, a partir dali começa a gerar uma necessidade ou interesse,
né? Vem diversas conversas, reuniões. E aí começam a aparecer os acordos.” ICT4.
dos pesquisadores relataram que a proximidade com o técnico da empresa depende do interesse
da empresa no projeto e do porte da empresa.
“Então, é uma parceria, parceria mesmo. Isso. Então, mas assim, geralmente a gente
tá em contato direto com eles. Inclusive, geralmente, no meu caso, a gente pega a
amostra deles, analisa, discute, olha, está acontecendo isso. Então, assim, é uma coisa
muito saudável, é muito bacana. A gente acaba pegando amizade com o pessoal, né?
E isso é legal” ICT2.
“É, mas aqui, nós temos a Rede Mineira de Propriedade Intelectual. É uma das redes
que é uma das primeiras redes nacionais, que dá exemplo pra várias. Inclusive, os
modelos de contratos da AGU foram criados pela rede. (...) Então, assim, o pessoal
de Minas é muito unido, é troca de figurinha mesmo, porque o problema que todo
mundo tem é o mesmo. Então, se alguém tem um problema, diz: gente, nunca
aconteceu aqui, alguém já fez isso? Tem um grupo no WhatsApp pra resolver isso.
Todos nós trabalhamos juntos. Então isso ajuda demais.” ICT2.
83
E um outro ponto levantado, principalmente pelos gerentes de inovação, foi que as ICTs
precisam comunicar melhor seus resultados, dar maior visibilidade ao que desenvolvem e ao
que têm expertise para desenvolver.
Quanto à formalização do projeto os agentes relataram que a decisão por qual modelo
de cooperação e qual o instrumento jurídico a utilizar depende da necessidade e urgência dos
resultados do projeto.
Um dos caminhos possíveis para a formalização do projeto, e o que os entrevistados
relataram como sendo o mais frequente que envolva os três agentes, é a assinatura de um Termo
de Cooperação entre a FAP e a empresa, a elaboração e publicação de um edital, a fase de
seleção das propostas (emissão da Nota Técnica), a construção do Plano de Trabalho, do
orçamento e do cronograma, seguida da análise da procuradoria da ICT e do jurídico da empresa
dos termos e da documentação do parceiro, para então os envolvidos assinarem o Termo de
Cooperação Técnico-científica e o Termo de Outorga e darem início ao projeto.
Esse processo pode contar com o auxílio de assessores ad hoc, como suporte à decisão,
geralmente, contratados pela FAP. Além disso, pode ter o auxílio da Fundação de Apoio no
trâmite de formalização.
Percebe-se que este não é um processo simples e demanda idas e vindas a diversos
envolvidos no processo, por isso, geralmente, é um processo moroso. Quando finalmente essa
etapa de formalização é vencida, geralmente, os agentes fazem uma reunião para relembrar os
acordos feitos, a divisão das atividades e o escopo do projeto, uma reunião de alinhamento para
o início do projeto.
84
Ressaltam ainda que quanto mais minucioso o termo de cooperação, menos problemas
surgem posteriormente. E também a importância de um setor jurídico que entenda de
Propriedade Intelectual para se fazer esse trâmite.
“Não é um trâmite fácil, porque tem todo um ajuste jurídico que tem que ser feito
entre as partes, não é fácil, a importância de envolver o jurídico desde o início e ser
um jurídico que entende de processo de inovação é importante.” EMP3.
E uma dica dada tanto pelos gerentes de inovação quanto pelos pesquisadores, foi sobre
a importância de se fazer o mapeamento dos processos desse trâmite jurídico dos acordos, para
facilitar o andamento dos próximos e ainda evitar a perda de know-how, por troca de equipe.
O trabalho da AGU e outros órgãos correlatos também são reconhecidos como um
auxílio para o trâmite burocrático da formalização da cooperação, seja no desenvolvimento de
modelos de documentos, de treinamentos, de espaço para discussão das dificuldades, ou agente
que colabora na formalização das políticas públicas na área de inovação.
“É, então, assim, ainda existe essa dificuldade, mas depois de vinte anos trabalhando
com isso, vou te falar que eu tô, assim, até em mares que eu nem esperava há vinte
anos atrás de ser positivo, né? Eh eu sou anterior a primeira lei de inovação nessa área.
Aí, dava um medo naquela época. Então, agora a gente tem auxílio nesse trâmite, essa
negociação da parte contratual em si, aí vem PGE, AGU, ou nas privadas os jurídicos,
faz diferença (...) Tem um evento da AGU, a escolinha da AGU se tornou pública,
toda parte deles de inovação, da lei de inovação, tá no YouTube, eu acho que foram
cinco palestras no ciclo” EMP2.
“Inclusive, as empresas são acomodadas. Eles acham que a gente tem que passar tudo
de graça. Isso não é correto também. Então, isso é um comportamento aqui do Brasil,
lá fora todo mundo cobra, todo mundo faz isso. Então, é cultura. Outro dia a empresa
virou e falou assim, ah, mas nós estamos colocando muito dinheiro então os royalties
tem que ser só nosso, e eu disse não, no mínimo cinquenta por cento aqui óh, não tem
esse negócio. (...) Aí a gente tem instruindo bem os professores agora, mas como eles
também não estavam acostumados, eles falavam: por mim tá OK. Eu falei, não, não,
existem regras dentro da universidade. Então agora estamos trabalhando assim,
bastante seminários para educá-los nisso também. Mas é cultura, né?” ICT2.
Quanto à legislação sobre inovação vigente (ARBIX, 2017; BUAINAIN et al, 2018)
parece haver um consenso de que a legislação atende a demanda dos agentes, está adequada.
Um dos entrevistados afirmou que a legislação atual de inovação dá segurança à empresa para
firmar esses acordos de cooperação, o que não acontecia no passado. Mas quando se trata da
aplicação da lei os entrevistados relatam ter dificuldade, e esse grau de dificuldade varia de
instituição para instituição.
“Então você pega por exemplo quando eu estava na UF(Y) eu conseguia fazer esses
trâmites em alguns poucos meses, aqui na UF(X) eu gasto um ano. Então, é o mesmo
governo, é o mesmo contato né, só que o seguinte as normas internas que você tem
em um local elas são muito diferentes do outro e aí quando você fala sobre política de
inovação as Universidades elas acham bacana, vamos receber as empresas, vamos
86
trabalhar com as empresas, mas ela não quer mexer nas normas internas, e por não
mexer nas normas internas isso impede.” ICT5.
“Então, pro Estado agir em inovação, esse eu acho que é um dos pontos fundamentais,
que a questão da aplicação do Marco Legal. (...) Mas assim, não tenho dúvida, é lugar
comum, isso é um entrave, não tenho dúvida, assim, analisando o ambiente do estado
de Minas Gerais, a gente tem uma dificuldade muito grande. Eu converso muito com
as ICTs do estado e vejo essa dificuldade de aplicação da norma. Então, não só a
agência de fomento, né? As próprias ICTs do estado tem dificuldade de aplicar o
Marco Legal.” GOV2.
Processo moroso
Importância do conhecimento jurídico pelo envolvidos no processo
Mapeamento dos processos do trâmite
Reconhecimento de suporte de órgãos como AGU e CGEE
Plano de trabalho e Termo de Cooperação técnico-científica como documentos em destaque
Propriedade Intelectual/ Transferência de tecnologia
Cotitularidade tripartite (em acordos firmados com a Fapemig)
Dificuldades em se acordar a PI entre as empresas e as ICTs
Legislação atual é vista como adequada, mas com dificuldades em sua aplicação
Fonte: dados da pesquisa (2021).
Como previsto no pressuposto 3 da teoria sobre processos decisórios, o processo de
consenso dos decisores na cooperação Hélice Tríplice é muito delicado, e é influenciado por
diversos fatores.
Envolve diversas discussões, formais e informais, até se entender todos os
posicionamentos dos agentes, e se chegar a uma decisão coletiva (ROTHSTEIN; BUTLER,
1987). Os agentes da HT também se usam de moradores (HERRERA-VIEDMA et al., 2014),
os agentes intermediários, com o NIT e a Fundação de Apoio, para facilitar esse processo.
Depois de finalizado, a decisão coletiva acordada, a formalização desta também se mostrou
primordial, com a devida adequação à legislação, para que a cooperação se mantenha saudável.
As decisões durante a execução do projeto parecem ser a fase menos crítica do processo
decisório na cooperação Hélice Tríplice, acontecendo de forma mais fluida, segundo os dados
das entrevistas com os agentes. Foi questionado a eles sobre as responsabilidades dos agentes
de cada hélice, quanto à interdependência das hélices, sobre a autonomia para as decisões ao
longo do desenvolvimento dos projetos, sobre os mecanismos de governança da cooperação e
sobre o registro do processo decisório. Nesta categoria, as subcategorias que se destacaram nos
relatos dos entrevistados foram os mecanismos de governança da cooperação, com 74
segmentos codificados (entre relatos e trechos dos editais) e sobre as responsabilidades dos
agentes, com 29 segmentos codificados.
Durante a fala dos entrevistados foram levantadas as atribuições que estes acreditavam
ser de seus parceiros, as responsabilidades e papéis que acreditam que eles e os parceiros devem
desempenhar. A síntese dessas responsabilidades se encontra no Quadro 8.
88
“Mas pelo menos a EmpresaX, tá aí trabalhando lado a lado com eles de semana a
semana, reuniões periódicas, acompanhando resultado, aprovando relatório, tendo as
discussões técnicas. Então, a gente vai crescendo junto com e nesse sentido. Então, a
gente tem muito mais condição de depois avaliar se o projeto foi bem sucedido ou
não, né? E o Governo, de certa forma, fica pra trás, aí porque não tem esse
acompanhamento assim nesse sentido. Seria uma atribuição? Não sei, não sei” EMP1.
Agentes das ICTs se veem no papel de provocar as empresas a inovar e sabem que
precisam que a instituição priorize a inovação em suas ações e são vistas pelas empresas no
papel de partilhar os riscos e como protagonistas no desenvolvimento da inovação.
Mas o agente que recebeu mais atribuições foi o Governo, o que não quer dizer que os
outros agentes não as tenham, mas foram evidenciadas no Quadro as atribuições que foram
feitas durante a fala dos entrevistados, evitou-se fazer extrapolações para além delas. Dentre o
que foi atribuído ao Governo percebe-se que as empresas e as ICTs esperam do Governo o
aporte financeiro e ações que estimulem a cooperação (SARPONG et al., 2017), a aproximação
entre essas duas hélices, e de forma mais abrangente o estímulo à ciência e à inovação.
89
“E por mais que a gente tenha que estimular seja parceria universidade-empresa, né?
também a exemplo de outros países, tudo aquilo que a gente conhece. Ah, porque lá
nos Estados Unidos tem um discurso. O Governo nunca, jamais na vida pode dizer
que as rédeas dessa questão da educação, da ciência, não estão com ele. Porque esse
é um papel do Governo, seja federal, seja estadual. Então, eu acho que um ponto da
Fapemig que me dá tristeza de ver, porque eu conheci a Fapemig outros tempos, né?
me dá muita tristeza esse sucateamento assim, né? De órgãos assim e da importância
da ciência. Aí vem Covid aí todo mundo chora porque não tem vacina, entendeu?
Então fazer ciência, fazer rede de pesquisa, fazer uma vacina sair em seis meses, custa
milhões, né? E aí você vê que o Governo não está olhando pra isso, a empresa privada
tem um limite e principalmente em crises, né? Tem tudo isso. Então, não dá pra
esperar que a iniciativa privada faça o papel que é do Governo. Ela pega de um
processo pra frente, entendeu? E a gente tá falando da Empresa X que é muito grande
que pode falar: não, vou investir aqui em pesquisa básica, entendeu? Horizonte três,
estou aqui, mas que empresas hoje que estão com recursos pra isso? Somos a exceção”
EMP2.
Um outro ponto levantado não como uma atribuição, mas como um ponto que não
deveria se esperar do Governo, foi o acompanhamento técnico do projeto.
“Eu acho que no projeto específico, o Estado não deveria e ele acaba que não entra
muito. É porque as vezes até algumas empresas esperam isso da Fapemig, esse
monitoramento técnico de perto. Só que a Fapemig não tem técnicos em engenharia
aeroespacial ou em, sei lá, motores elétricos. É, a gente se usa da academia. Então, a
gente tem consultores ad hoc, chama os caras, os especialistas e põe eles pra trabalhar
90
pra gente. Mas isso tem um custo de transação enorme, porque aí nós temos que
convocar o cara, tem que pagar, temos que escolher o cara, o cara vem de outro estado.
Ele não conhece o portfólio inteiro, os objetivos do programa. Então, ele vai fazer
uma análise descontextualizada, né? Ele vai olhar pro projeto, falar assim: óh tá bom,
tá ruim. Mas, ele não conhece o todo, não conhece o contexto. Então, a gente tem
trabalhado dessa forma aqui, esperar que a agência de fomento possa fazer a gestão
técnica, do projeto individual eu acho que é um erro, eu acho que não é por aí. Eu
acho que a gente tinha que fazer a gestão do portfólio, desse portfólio estar ligado a
uma estratégia geral do estado.” GOV 2.
“Então, eu vejo isso como um problema, o foco com o recurso, porque como os
recursos são escassos, eu acho que a gente tinha que escolher, né, alguns setores
econômicos, algumas tecnologias, algum tipo de empresa pra investir. Então, eu vejo
essa dificuldade mesmo de estratégia, no sentido do que não fazer. Então, a hélice do
Estado tem essa dificuldade. Se a hélice do Estado usasse o seu poder pra escolher o
que fazer, e o que não fazer, eu acho que seria legal, seria bem-vindo e não entrar no
conteúdo dos projetos, mas escolher essas coisas. Então, esse é um ponto sobre a
hélice do Estado, que eu vejo essa... é falta de estratégia mesmo, né, de escolher, fazer
escolhas.” GOV 2.
Esses dados apontam para uma dependência do SRI-MG em relação ao Governo tanto
no papel de financiador quanto ao papel de agente articulador da HT (ETZKOWITZ, 2013),
inclusive pela participação restrita das empresas nesse tipo de cooperação e pela disparidade da
capacidade de investimentos delas na cooperação, como mencionado pela entrevistada EMP2.
Entende-se que, se houvesse mais pesquisas buscando sanar a falta de diretrizes para
conduzir esta cooperação no nível micro (ROSENLUND, ROSELL; HOGLAND, 2016) este
papel do Governo no SRI-MG poderia ser melhor exercido e a cooperação HT poderia ser
explorada de uma forma mais eficaz no estado.
Essa dependência em relação ao Estado corrobora o pressuposto 1 da teoria sobre HT,
onde supunha-se que o SRI-MG se encontra em transição do modelo Laissez-faire para o
modelo Hélice Tríplice.
Quanto aos modelos e troca de papéis entre os agentes, outro ponto que vale ser
ressaltado, é a percepção dos papéis de cada hélice muito rígida pelos entrevistados. De forma
espontânea durante as entrevistas não fizeram menção a troca de papéis, característica da teoria
Hélice Tríplice, e quando provocados quanto a isso a resposta era de que essa troca não ocorria.
Não, eu acho que não, eu acho que cada um cumpre o seu papel, né? Mas, assim, eh
dentro dessas hélices, né? ICT4.
91
Somente uma gerente de inovação relatou essa sobreposição de papéis, mas de forma
negativa. Por esse relato entende-se que quando há a sobreposição é por insegurança do parceiro
ou por ele não conseguir cumprir com alguma de suas atribuições.
Olha, na maior parte das vezes cada um fica na sua caixinha ali pré-estabelecida, né?
Mas o que acontece, o que já aconteceu é o órgão não estar preparado para aquela
ação. E aí, acabar ficando por conta da empresa, uma parte de questões de cobranças,
dos pesquisadores, de gestão, que caberia ao órgão de fomento, a empresa ter que
tomar a dianteira, tá? Isso às vezes, acontece. O órgão de fomento, ele se empolga, né,
pra fazer a parceria, só que ele não tem braço pra tocar. E aí, acaba que, às vezes, a
gente tem que assumir esse papel e isso é muito ruim, porque, por vezes, a gente nem
pode assumir. Então, o órgão começa a ficar sem braço pra tocar alguma coisa e pede
pra empresa tocar, mas eu não sei quais regras, né? Outro ponto é, o órgão fica tão
sem braço, às vezes tão inseguro, que ele fica perguntando tudo pra gente. O
pesquisador pediu tal coisa, eu falo: se isso aí tiver de acordo com a tua regra, manda
ver, cara. Tô aqui com você, né? Está dentro do nosso acordo? Tá dentro do escopo
do que eu combinei de como você podia gastar o nosso dinheiro também? Então, às
vezes existe sim a troca dos papéis, ou por insegurança do parceiro, né, sobre
determinada ação ou por falta de braço”. EMP2.
A seguir são evidenciadas as interconexões entre as hélices e o que foi relatado como
interdependência em cada uma delas. Não se tem a pretensão de afirmar que onde não houve
citações, e por conseguinte a representação, a interdependência não exista, apenas não foram
relatadas pelos entrevistados.
Figura 10 - Interdependência das hélices na visão dos entrevistados
Responsabilidades,
riscos e resultados
compartilhados
Foco no resultado
pelas três hélices
Sinergia entre as
Inovar pelo hélices, fazer junto
desenvolvimento
do Estado
Governo
Se tratando dos elos, um dos entrevistados relatou a percepção do elo do Governo sendo
mais frágil dentro da cooperação com os outros agentes.
“Eh um elo que geralmente talvez seja o elo mais fraco, seja exatamente do Governo,
né? Porque os governos geralmente eles vão trocando né? Geralmente o pessoal não
faz política de Estado, né? Faz política de governo, né? E aí não faz o negócio que vai
ficar pra outros governos, né? Geralmente você vê política tipo assim, pro meu
governo, né, se o outro entrar depois, ele se vira, né? Então, é o que a gente fala,
política de estado e política de governo, né? E aí esse elo é que fica meio prejudicado,
né? Apesar da universidade ela trocar o reitor, periodicamente também, tal, mas assim,
a missão da universidade não muda muito, né? A empresa também, ela vai ter os
interesses dela que é o lucro né? E aí ela quer, por exemplo a universidade pra adquirir
tecnologia e tudo, né? Então, assim, pelo menos, na minha visão, o elo mais fraco ali
é o do Governo. Porque aí ele pode mudar alguma lei, alguma resolução, algum
decreto, né? E aí muda o jeito como, se pensava uma parceria, aí você tem que
repensar, né? Então, ele acaba minando o projeto, eu observo, assim, que o elo mais
fraco ainda é o do Governo, né? GOV 1.
Mas a percepção do elo ICT-empresa também surgiu como elo mais frágil dentro da
cooperação.
“Eu vejo que ainda é difícil, na relação, principalmente, da ICT com a empresa, eu
vejo que a ICT reconhece o apoio do Estado, do Governo. Eu vejo que a empresa
reconhece o papel do Governo, afinal de contas dinheiro de graça é bem-vindo. É, não
é bem de graça, né? Tem contrapartida, inclusive tem empresário que foge desse
dinheiro, porque às vezes é mais caro prestar contas e gerir esse dinheiro da forma
devida do que pegar um empréstimo. Então, às vezes vejo que tem empresário que
foge disso. Mas eu, mas de modo geral, eu acho que os empresários, eles,
principalmente, de empresas de base tecnológicas, eles reconhecem o apoio do
governo. Então, essas duas ligações, esses dois elos da hélice eu acho que eles
funcionam bem, esses dois que o Governo está envolvido. Agora o elo entre a ICT e
empresa. Eh bom, aí, né? Sabemos que são muitos os problemas, né? E acho que tem
casos e casos, questões econômicas, setores econômicos, mas de modo geral eu acho
que ainda é difícil.” GOV 2.
94
“Então, por exemplo, o meu grau de autonomia junto à Empresa X de grande porte,
ela é muito pequena. O meu grau de autonomia junto à Empresa Y de médio porte,
essa empresa de biotecnologia que eu te falei, era muito maior. O dono da empresa,
ele quase foi meu aluno. Então, assim, o acesso era muito fácil, o que não quer dizer
que eu ia conseguir o que eu queria não, tá? É, mas então assim, eu acho que a
autonomia é o natural. Assim como uma empresa pequenininha, sendo contratada por
uma empresa grande.” ICT2.
composição desses comitês varia, houve relato de gestões mais centralizadas no responsável
máximo por inovação na empresa, mas também de gestões descentralizadas, por áreas de
atuação da empresa, por exemplo.
“Nós temos uma área que é responsável por fazer, vamos dizer, as gestões das
cooperações tá? Então assim, existe uma gerência dentro da empresa, era uma
diretoria, hoje em dia, um pouco mais enxuta. E tem duas esferas disso aí, né? Tem a
esfera técnica que a gente tem assim, as estruturas que realmente vão estar lá avaliando
quais que são os conteúdos técnicos que a gente quer trabalhar, quais que são os
desafios que a gente pode levar pras universidades, nas mais diversas áreas (...) Isso é
uma coisa. E existe outras pessoas que trabalham pra poder suportar tudo isso aí, como
que faz pra gente capturar fomento externo, pra poder colocar aí nessas parcerias.
Existem pessoas que vão tá discutindo propriedade intelectual tá? Pessoas que vão
estar ao lado jurídico, pra poder fechar os contratos, do financeiro. Então, assim, é
uma equipe voltada pra viabilizar tudo isso aí, sabe? Desde fazer essas análises assim
de editais até suportar as discussões de propriedade intelectual, tá? Como é que fica a
PI pra todos os casos. Então, sim, a gente tem uma estrutura de pessoas. O que
acontece é o seguinte, né? Essas pessoas do nosso lado trabalham junto com aquelas
lá, por exemplo, das fundações das universidades, né? Geralmente tem as fundações
e eles fazem essas conexões, ajudam nessas discussões de repasse de dinheiro, de
negociação de contrapartida, de acordos de PI e tiver envolvida dentro da cooperação,
né?” EMP1.
Mas essa não é a realidade de todas as empresas analisadas: duas delas relataram a falta
de equipe própria para acompanhamento do projeto, deixando a governança do projeto a cargo
da FAP, e eventualmente, contratando uma consultoria para revisão da prestação de contas.
“É um ponto importante esse, não existe dentro da empresa, dentro dessa área a gente
tem tentado criar essa governança, mas sempre falta braço, né? Falta gente pra
trabalhar, tanto dos dois lados, né? É complicado.” EMP 5.
Nas ICTs essa governança pode ser acompanhada por um colaborador do NIT, ou por
uma câmara técnica criada para suporte aos projetos. Os entrevistados relatam também sobre
as apresentações periódicas do andamento do projeto na empresa.
Nos órgãos do Governo para fazer a governança dos projetos pode haver câmaras de
assessoramento ou comitê gestor para esse acompanhamento. O que foi relatado durante as
entrevistas é que esse acompanhamento é mais facilitado na SEDE do que na Fapemig, por
contar com uma equipe maior e com uma subsecretaria voltada à ciência, tecnologia e inovação.
Em alguns projetos também há a liberação dos recursos atrelada às prestações de contas
parciais, para facilitar o acompanhamento.
Os entrevistados do Governo também ressaltam que o rigor do acompanhamento dos
projetos por parte das empresas varia de empresa para empresa, algumas deixam esse
acompanhamento mais "solto" e a conferência final é feita pelo Governo e outras "pesam a
96
“Comparando as empresas que a gente tem parceria, uma Empresa X, por exemplo,
ela tem muito essa preocupação de internalizar o resultado. E eu vejo que os gerentes
de projeto da EmpresaX, eles trabalham de pertinho com os laboratórios, eles não
deixam laboratório. E se um gerente demonstra que não está acompanhando aquele
projeto, de alguma forma, ele é trocado. Quem vai acompanhar esse projeto agora é
outro gerente de outra unidade, eles fazem uma gestão desse projeto muito de perto.
Então, eu vejo que eles têm essa competência. (...). E outras empresas já não são assim,
né? Aí já tem uma variedade muito grande de gerentes de projeto na ponta, tem o que
gosta, que acompanha, que dá resultado, tem outros que acha que é só mais uma coisa
pra fazer.” GOV2.
Mas um agente intermediário que permeou toda a discussão sobre a governança dos
projetos foi a Fundação de Apoio. Todos os entrevistados a citaram como um agente facilitador
da governança dos projetos. Corroborando com Alves e Azevedo (2007), as Fundações são
vistas pelos entrevistados como órgãos que ajudam no processo burocrático e que agilizam a
gestão dos projetos. Inclusive, os editais passaram a adotar a obrigatoriedade de uma instituição
gestora para os projetos, sugerindo a Fundação de Apoio.
“Então, a gente não precisa se preocupar. E tem a fundação que resolve a parte de
financiamento, de dinheiro. Então, nós temos aqui, por exemplo, a Fundação X, eles
negociam como vai ser o pagamento, esse negócio todo, manda nota fiscal. Então,
assim, a gente não precisa preocupar com isso. Isso ajuda muito. Porque, por exemplo,
compras, a gente fala assim: óh eu quero equipamento X com essas características,
compra e entrega pra gente e o acerto financeiro fica com eles, a gente fica só com
relatório técnico, né? Então assim, aqui a gente tem certas facilidades nesse sentido.”
ICT 2.
“(...)ali você tem pessoas que desenvolvem habilidades para trabalhar com
determinadas questões, por exemplo ali você tem o setor de compras, pessoas que são
especialistas em contabilidade desse tipo de transação, eles já tem entendimento
jurídico próprio, então assim é o elemento muito importante mas a universidade
também tem que saber trabalhar com essas fundações. Porque se não souber trabalhar
acaba sendo só mais um órgão, e pesado, solto ali no meio. Tem que estar tudo
articulado.” ICT 5.
É uma participação vista com bons olhos tanto pelas ICTs, quanto pela empresa.
“isso é muito ligada às Fundações de apoio né? As Fundações de apoio e elas têm essa
questão a gente tem uma taxa que cada uma é cobra por uma fatia do projeto para ela
poder fazer essa gestão, e é importante destacar isso, que é melhor que seja celebrado
entre as partes e seja gerido por um terceiro, quando a gente tem duas esferas
envolvidas deixar isso na mão de um ou de outro pode dar confusão e mais, as
prestações de contas desses contratos são muito minuciosos, então a Fundação faz
este double check, revisa os dados, eu acredito que não tendo essa estrutura externa
isso não acontece bem não.” EMP 3.
“Porque a gente já exige, a gente já quer que o pesquisador faça muitos papeis, né?
que ele faça a pesquisa, que busca a empresa, que ele pesquise, que ele se venda. E aí,
ainda além disso pegar a parte da burocracia, fazer as compras, isso não é o papel do
pesquisador. Então, eu acho que se não houvesse Fundação de Apoio os resultados de
projetos de pesquisas seriam muito piores. São instituições fundamentais.” GOV 2.
“Sim, sim, geralmente através de relatórios, tá? Cada projeto tem os entregáveis aí
que vão tá associados, né? Tem alguns que vão ser relatórios, treinamentos, ou até
mesmo algum tipo de ferramenta. Tá? Solução, algum software, ferramenta,
demonstrador, tudo mais. Mas é muito comum sim a gente ter relatórios, depois ficam
como registro e é uma forma também da gente ter o acesso ao que está sendo
desenvolvido. (...) Tanto os relatórios mensais de acompanhamento e evolução, assim,
né, que a gente, olha, cronograma, desembolso financeiro, registra as decisões
técnicas quanto aqueles relatórios finais, que vai ter algum tipo de entrega
significativa e algum conteúdo de um dos pacotes de trabalho do projeto.” EMP 1.
teoria não foi confirmado, o modelo processual de tomada de decisão parece representar melhor
a dinâmica das decisões para a cooperação HT do que o modelo político.
A seguir apresenta-se a síntese dos pressupostos da pesquisa, se esses foram
corroborados ou refutados e os achados da pesquisa referentes a cada um desses pressupostos.
Para facilitar o uso desta pesquisa como ferramenta de tomada de decisão pelos agentes
do SRI-MG é feita a seguir uma síntese dos achados com aplicações práticas, que podem
melhorar o funcionamento da cooperação HT no SRI-MG, baseados na análise dos editais, dos
relatos dos entrevistados e da percepção da pesquisadora.
anteriores. Essa é uma informação que se mostrou relevante para que o Governo faça aportes em projetos de
uma dada empresa
As normas internas nas universidades podem ser revistas, de forma a se adequar melhor à legislação vigente de
inovação, facilitando o trâmite burocrático da cooperação
Falta ao SRI-MG um alinhamento quanto aos esforços relacionados à inovação. Segundo os relatos dos
entrevistados e da percepção da pesquisadora, é comum se verem esforços duplicados sendo feitos dentro do
estado para um mesmo fim, seja em ações ou em programas. Há tentativas do Governo do estado para se fazer
essa integração, mas devido à extensão e heterogeneidade de Minas Gerais, essa governança ainda não se
mostrou efetiva
Uma vez que os alunos e ex-alunos foram evidenciados como agentes-chave para o estabelecimento da
cooperação, o acompanhamento desses, principalmente os egressos, se torna uma atividade importante, que
pode gerar conexões para cooperações futuras
A clareza dos objetivos do projeto é um ponto crucial para o estabelecimento e manutenção do consenso ao
longo do projeto, ter claro entre todos os envolvidos o que se quer com o desenvolvimento da inovação, sem se
restringir as formas para fazê-lo
O conhecimento jurídico aprofundado e específico para a área de inovação por parte dos envolvidos no trâmite
burocrático da cooperação é primordial, nas três hélices. Apesar de óbvio, isso não é a realidade em muitas
instituições do SRI-MG, nas três hélices, o que dificulta o estabelecimento da cooperação
Um Plano de Trabalho minuciosamente detalhado evita conflitos e ruídos na comunicação ao longo do projeto
A comunicação aberta e a proximidade do acompanhamento do técnico da empresa com o pesquisador na ICT
facilitam a internalização dos resultados do projeto
As redes do SRI-MG (RMPI e RMI) e o trabalho conjunto delas com a AGU se mostraram como um importante
suporte à cooperação, por facilitarem a solução de problemas nos NITs do estado, com o desenvolvimento de
modelos usados tanto pelas ICTs quanto pelas empresas, com treinamentos e para a disseminação de boas
práticas
Ainda se fazem necessárias revisões na legislação vigente de inovação, a fim de facilitar sua aplicação. A
legislação é vista como adequada, mas por possuir trechos que possibilitam interpretações diferentes e pela falta
de exemplos, sua aplicação encontra dificuldades no SRI-MG
A governança dos projetos feita pela Fundação de Apoio facilita a comunicação entre os agentes, as compras,
o trâmite burocrático e principalmente, a prestação de contas do projeto. Foi percebida como um agente
intermediário primordial para a cooperação
5 CONCLUSÃO
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