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Ling I - Viso Geral Da Lingstica

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A LINGUÍSTICA E OS ESTUDOS DA LINGUAGEM

HISTÓRIA E OBJETO DA LINGÜÍSTICA

Considerações Iniciais
A maior parte dos livros nos diz que a Linguística é o estudo científico da linguagem
humana e das línguas naturais – línguas faladas por toda a comunidade humana para a
interação social. Aquele que se dedica a este estudo é chamado de linguista. Parece simples
este conceito, entretanto há uma diversidade de definições para o termo linguagem, gerando
muita controvérsia. John Lyons (1997, p.15) diz que a pergunta “o que é linguagem?” é
comparável a “o que é a vida?”. Para estudarmos Linguística, é fundamental conhecermos as
respostas para esta pergunta, ou seja, muito temos a conhecer...
Retomaremos, sempre que oportuno, a definição dos conceitos de língua, de
linguagem e também da Linguística ao longo de nossos estudo linguísticos.
Para o momento vamos pensar sobre o campo de atuação da Linguística.

“A linguística é a parte do conhecimento mais fortemente debatida no mundo


acadêmico. Ela está encharcada com o sangue de poetas, teólogos, filósofos, filólogos,
psicólogos, biólogos e neurologistas além de também ter um pouco de sangue
proveniente de gramáticos.” (RYMER, p. 48)

Ramificações da Linguística
A fim de cumprir o seu objetivo básico, que é determinar a natureza da linguagem e a
estrutura e funcionamento das línguas, a Linguística segue duas direções:
1. Busca desenvolver uma metodologia de trabalho que vai desde a delimitação de
conceitos operatórios até a discussão e montagem de modelos descritivos e/ou explicativos
dos fenômenos linguísticos. Assume assim um caráter teórico e geral, pois não se ocupa de
nenhuma língua em particular, mas dos fatos em geral e a maneira de abordá-los. Suscita
diversas correntes metodológicas e vários níveis de discussão.
2. Busca observar e descrever línguas testando métodos e técnicas visando descobrir
como é a estrutura da língua e como funcionam as línguas. Por estudar um número maior de
línguas, fornece material para, em âmbito mais abstrato, determinar a natureza e os traços que
compõem a linguagem.
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Vamos dar nomes a cada um dessas “direções” que a Linguística segue. Trata-se da
Linguística Geral e da Linguística Descritiva, respectivamente.
Convém ressaltar que a despeito de suas diferenças, elas se complementam, visto que a
Linguística Geral fornece conceitos e categorias em termos dos quais as línguas serão
analisadas; enquanto a Linguística Descritiva fornecerá os dados que confirmam ou refutam
as proposições e teorias colocadas pela Linguística Geral. Quem nos diz isso é John Lyons.
Para ilustrar, vamos ao exemplo:
Linguística Geral formula a hipótese de que em todas as línguas há nomes e verbos.
Linguística Descritiva refuta a hipótese demonstrando, mesmo empiricamente, que
em uma determinada língua os verbos não existem.
Aparentemente, somos levados a pensar que há apenas uma divergência entre
Linguística Geral e Descritiva, mas se observarmos atentamente veremos que há um ponto
comum entre elas. Qual? O NOME e o VERBO. Para confirmar ou refutar a hipótese os
linguísticas precisam operar com estes conceitos que foram fornecidos pela Linguística Geral.
Desse modo, a maior parte das pesquisas que estão sendo feitas atualmente sob o
nome de Linguística é puramente descritiva, visto que é bastante direta em si mesma.
Correspondendo a estudar a linguagem e descrever determinadas línguas, os seus autores
estão procurando clarificar a natureza da linguagem sem usar juízos de valor ou tentar
influenciar o seu desenvolvimento futuro.
Naturalmente há uma diversidade de razões para se descrever uma língua, que não
somente fornecer dados para a Linguística Geral, ou testar teorias e hipóteses que geram
conflito, mas porque querem apresentar uma gramática de referência ou um dicionário para
fins práticos.
Como a linguagem interessa a diversas categorias, convém delimitar com muita
clareza o campo de atuação do linguista, para que não se confunda ou penetre em outras
disciplinas. Para isso, analisaremos agora três dicotomias através das quais os autores dividem
o campo da Linguística:
1. Sincrônica versus diacrônica
2. Teórica versus aplicada
3. Micro linguístico versus macro linguística
1. Uma descrição sincrônica de uma língua descreve esta língua tal qual ela se
encontra em determinada época. Já a descrição diacrônica, preocupa-se com o
desenvolvimento histórico da língua, assim como as mudanças estruturais que nela ocorreram.
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Entretanto, atualmente, essas duas abordagens tendem a uma convergência, por vezes,
tornando-se impossível separá-las.
2. A linguística teórica objetiva a construção de uma teoria geral da estrutura da
língua ou a criação de um arcabouço teórico geral para descrição das línguas. Como o próprio
nome diz, a linguística aplicada é a aplicação das descobertas e técnicas do estudo científico
da língua para fins práticos, principalmente na elaboração de métodos de aperfeiçoamento do
ensino da língua.
A título de esclarecimento, a distinção entre linguística teórica e aplicada independe
das outras duas. Na prática, há pouca ou nenhuma diferença entre os termos linguística teórica
e linguística geral, visto que ambas partem do pressuposto de que o objetivo da teórica é
formular uma teoria satisfatória da estrutura da linguagem em geral. Quanto à linguística
aplicada, observa-se que ela se vale tanto do aspecto geral quanto do descritivo.
A terceira dicotomia refere-se a uma visão mais estreita ou mais ampla dos propósitos
da linguística. Vale lembrar que estes termos ainda não estão estabelecidos definitivamente na
teoria linguística.
3. A microlinguística se refere a uma visão mais restrita, e a macro linguística, a
uma mais ampliada. Na concepção micro linguística, as línguas devem ser analisadas em si
mesmas e sem referência a sua função social, à maneira como são adquiridas pelas crianças e
aos mecanismos psicológicos que subjazem à produção e recepção da fala. Como diria
Saussure, “em si e por si”. De forma mais ampla, a macro linguística trata de tudo o que é
pertinente, de alguma forma seja qual for á linguagem e ás línguas.
Assim temos como campo de atuação:
Microlinguística
Fonética: o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
Fonologia: o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
Morfologia: o estudo da estrutura interna das palavras;
Sintaxe: o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases
gramaticais;
Semântica: ou semântica lexical, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a
integram;
Lexicologia: o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que
contribui para a lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários,
enciclopédias e outras obras que descrevem o uso ou o sentido do léxico.
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Macrolinguística
Psicolinguística;
Sociolinguística;
Linguística antropológica;
Dialetologia;
Linguística matemática e computacional;
Estilística, etc.
Não há uma “lista” definitiva deste campo de atuação. Há, inclusive, divergência
quanto a isso na fala de diversos estudiosos.

Caráter Científico da Linguística


Como já vimos, a Linguística é definida como a ciência da linguagem ou,
alternativamente, como estudo científico da linguagem. Para Lyons (2004, p.45) Linguística
é uma disciplina cujo status científico é inquestionável, visto que sofre das implicações muito
especificas das palavras inglesas “science” e “scientific” que se referem, antes de qualquer
coisa, às ciências naturais e aos métodos de investigação que lhes são característicos.
Quando se fala em ciência, as pessoas pensam logo nas ciências naturais como física,
astronomia, biologia, e esquecem que as disciplinas de humanidades também são ciências.
Atualmente, porém, a maioria das ciências humanas tem rigor metodológico comparável ao
das ciências naturais, visto que usa ferramentas como a lógica e a matemática para descrever
seus objetos de estudo e construir teorias complexas.
A Linguística foi decisiva para que as ciências humanas adquirissem esse rigor. Ela foi
a primeira dessas disciplinas a se constituir como ciência, no final do século XVIII, com
método e objeto próprios e bem definidos, emprestando depois às demais o seu método de
pesquisa.
Antigamente, a Linguística não era autônoma, visto que se submetia às exigências de
outras disciplinas, a exemplo – lógica, filosofia, história. O século XX mudou completamente
esta atitude, que se expressa através do caráter científico dos novos estudos linguísticos, que
estão centrados na observação dos fatos de linguagem.
O método científico admite que a observação dos fatos seja anterior ao
estabelecimento de uma hipótese e que os fatos observados sejam examinados de forma
sistemática mediante experimentação e à luz de uma teoria. Ora, partindo desse princípio,
não há o que duvidar do caráter científico da Linguística.
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Para entender como isso ocorreu, podemos fazer uma viagem no tempo, desde a
Antiguidade, quando a curiosidade sobre a linguagem humana começou a inquietar os
filósofos e sábios, até os dias atuais.

Revisando: Breve Histórico da Linguística


Tendemos a pensar que a Linguística é uma disciplina muito nova, visto que se
estabeleceu em sua forma atual há algumas décadas. Mas tem-se estudado a linguagem desde
a invenção da escrita ou, quem sabe, até mesmo antes disso.

Na verdade, a linguagem é tão importante que, sem ela, não seríamos capazes de
pensar, pois todo pensamento estrutura-se na forma de alguma linguagem, seja ela
verbal, visual, gestual, etc. O filósofo grego Parmênides (535-450 a.C.) já dizia que “ser e
pensar são uma só e a mesma coisa”, ideia reafirmada pelo filósofo francês René
Descartes (1596-650) na famosa frase “penso, logo existo”.

De início, temos a “Gramática”. Estudo inaugurado pelos gregos, ainda de forma


filosófica, baseado na lógica e desprovida de qualquer visão científica e desinteressada da
própria língua. Neste momento, visa unicamente formular regras para distinguir as formas
corretas das incorretas. As primeiras discussões dos filósofos gregos centravam-se no
problema da relação entre o pensamento e a palavra, isto é, entre o conceito e o seu nome. Isto
levou Platão a estabelecer a primeira classificação das palavras de que se tem conhecimento.
Para ele, as palavras podem ser nomes e verbos.
Depois dele Aristóteles considerou uma outra classificação das palavras: nomes,
verbos e partículas. Se aqui temos a primeira divisão da cadeia de sinais linguísticos pelo
reconhecimento de uma diferença de categoria entre palavras, estamos diante de uma posição
que toma como interesse a relação da linguagem com o conhecimento. Esta divisão entre
nomes e verbos visa descrever a estrutura do juízo, que deve falar de como é o mundo. De
acordo com S. Auroux (1992), citado por Guimarães (2001), “a Gramática pode ser
considerada como elemento de uma das primeiras revoluções tecnológicas da história do
Homem”.
Ainda na antiguidade, é fundamental mencionar a Índia, onde o interesse religioso
levou a estudos bastante rigorosos dos aspectos fonológicos do sânscrito. Estes estudos
objetivavam estabelecer de modo perfeito que som deveria ser produzido nos cânticos
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sagrados, para que eles tivessem validade sagrada. Neste caso, o que importa é a correção da
descrição de uma qualidade fônica, ou seja, a descrição da forma da língua, nela mesma.
Teremos oportunidade de fazer um estudo mais detido da história da gramática, por
hora vamos dar um salto no tempo e sair direto da Antiguidade para o século XIX, tempo em
que ocorreram muitas mudanças no campo da Linguística.
No início do século XIX, considera-se o trabalho de Franz Bopp, Sobre o Sistema de
Conjugações do Sânscrito, Grego, Latim, Persa e Línguas Germânicas, publicado em 1816,
como um marco para a constituição da linguística comparativa. Outra obra fundamental é a
Gramática Germânica de Grimm, de 1819. Antes deles pode-se considerar o trabalho de
Rasmus Rask de 1811, publicado em 1818. Neste momento, a linguística se apresenta
tomando como objeto a mudança linguística, motivada pela possibilidade de reconstituir o
passado linguístico das línguas europeias e asiáticas.
A questão principal aqui são as relações genealógicas entre as línguas, e o objeto do
linguista são as formas no seu processo de mudança. Assume uma forma para saber como
ela era antes, a fim de reconstruir por comparação entre as línguas aparentadas (consideradas
da mesma família), o passado da forma em questão. Este procedimento, que se dá no interior
de uma posição naturalista, biológica, visto que, nesta época, a Linguística é considerada uma
disciplina da Biologia.
Em síntese, é de concordância geral que o fato mais extraordinário dos estudos
linguísticos do séc. XIX foi o desenvolvimento do método comparativo, que resultou num
conjunto de princípios pelos quais as línguas poderiam se comparadas sistematicamente no
tocante a seus sistemas fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário, demonstrando, assim,
que eram “genealogicamente aparentadas” Do mesmo modo que o francês, o italiano, o
português, o romeno, o espanhol e outras línguas românicas tinham sido originadas do latim;
o latim, o grego e o sânscrito tiveram uma origem. Qual? De alguma língua ainda mais antiga
à qual se costuma denominar de indo-europeu ou proto- indo-europeu.

No fim do século XIX e comecinho do século XX, acontece o que se chama da


grande revolução linguística. Ferdinand de Saussure, (1857 -1913), um estudioso suíço
de indo-europeu, cujas aulas de linguística geral, publicadas postumamente por seus
alunos (Charles Bally e Albert Sechehaye), determinaram direção da análise linguística
europeia de 1920 em diante. *(p.306)
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Esse enfoque foi amplamente adotado em outros campos sob o termo


“estruturalismo” ou análise estruturalista. Saussure também é considerado o fundador da
semiologia.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Leonard Bloomfield e colaboradores
desenvolveram material de ensino para uma variedade de línguas cujo conhecimento era
necessário para o esforço de guerra. Este trabalho possibilitou o aumento da proeminência do
campo da linguística, tornando-se uma disciplina reconhecida na maioria das universidades
americanas somente após a guerra.
Noam Chomsky desenvolveu seu modelo formal de linguagem, conhecida como
gramática transformacional, sob a influência de seu professor Zellig Harris, que por sua vez
foi fortemente influenciado por Bloomfield. O modelo de Chomsky foi reconhecidamente
dominante desde a década de 1960 até a de 1980 e desfruta ainda de elevada consideração em
alguns círculos de linguistas. Steven Pinker tem se ocupado em clarificar e simplificar as
ideias de Chomsky com muito mais significância para o estudo da linguagem em geral.
(WIKPÉDIA, 2005)
Edward Sapir (1884-1939) antropólogo e linguista, nascido na Alemanha, mas foi nos
Estados Unidos que liderou o estudo da linguística estrutural. Foi um dos primeiros a explorar
as relações entre os estudos linguísticos e a Antropologia. Sapir propôs uma perspectiva
alternativa sobre a linguagem em 1921, ao sugerir que a linguagem influencia a forma de
pensar dos indivíduos. A ideia de Sapir foi adaptada e desenvolvida durante a Década de 1940
por Whorf, dando origem à Hipótese de Sapir-Whorf. Nesta teoria, os homens vivem
segundo suas culturas em universos mentais muito distintos que estão expressos (e talvez
determinados) pelas línguas diferentes que falam.
Deste modo, também o estudo das estruturas de uma língua pode levar à elucidação de
uma concepção de um mundo que a acompanhe. Esta proposição suscitou o entusiasmo de
uma geração inteira de antropólogos, de psicólogos e de linguistas americanos e, em menor
escala, europeus, nos anos 40 e 50, antes de ser enfraquecida pela corrente cognitivista. Ela
influenciou o estruturalismo francês e, apesar das refutações formuladas, principalmente por
etnólogos e sociolinguístas neste meio tempo, sua existência persiste até hoje.
Roman Osipovich Jakobson (1896 - 1982) foi um pensador russo que se tornou um
dos maiores linguistas do século XX e pioneiro da análise estrutural da linguagem, poesia e
arte. Sua pesquisa foi decisiva para a constituição de um pensamento semiótico vinculado à
arte do construtivismo e da Fonologia como campo de estudo dos sons da linguagem.
Destacou-se, também, pelos estudos sobre afasia, pelo conceito de fonema como feixe de
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traços distintivos e da concepção de linguagem como processo de seleção e de combinação de


signos. De mentalidade interdisciplinar, vincula a poética e a linguística de tal maneira que
Haroldo de Campos chegou a chamá-lo de “o poeta da linguística”.
Estes são alguns dos nomes que, enquanto “profissional das letras”, precisamos
conhecer. Foi apresentado um brevíssimo histórico, cabe à sua curiosidade e interesse em
descobrir um pouco mais.

OBJETO DA LINGUÍSTICA

A linguagem, a língua e a fala


Todos os animais se comunicam de alguma forma e, em algum período em sua vida,
seja para garantir a sua sobrevivência seja por interativos biológicos – a fim de garantir a
continuidade da espécie – só possível através de um mínimo de interação. A frequência e a
extensão da atividade comunicativa estão ligadas aos meios que a espécie dispõe para tal fim.
Embora seja muito interessante estudar a comunicação dos animais, o nosso foco será a
comunicação humana, pois é nesta espécie que a comunicação atinge o seu mais alto grau de
complexidade.
Os homens se servem dos mais diversos expedientes para entrarem em contato uns
com os outros. Costuma-se dar o nome de linguagem a qualquer dessas formas de
comunicação. Desde os tempos mais remotos, este termo é utilizado para associar uma cadeia
sonora (voz) produzida pelo aparelho fonador a um conteúdo significativo e utilizar o
resultado dessa associação para interação social, tendo em vista que tal aptidão consiste não
somente em produzir e enviar, mas também em receber e reagir , efetivando o processo de
comunicação. Através dessa compreensão, a linguagem aparece como o mais eficaz
instrumento natural de comunicação à disposição do homem.
O desenvolvimento dos estudos linguísticos fez com que muitos estudiosos
propusessem definições de linguagem, semelhantes em alguns pontos e divergentes em tantos
outros. Estudaremos aqui as apresentadas por Saussure e Chomsky, visto que pressupõem
uma teoria geral da linguagem e da análise linguística.
Saussure considerou a linguagem “heteróclita e multifacetada”, visto que abrange
vários domínios - é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica - pertence ao domínio
individual e social; desse modo “ não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos
humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade” (1969, p.17). A linguagem, em sua
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diversidade e complexidade, também é estuda por outras ciências, a exemplo da Psicologia e a


Antropologia, além da Linguística. A fim de melhor especificar o objeto da Linguística,
Saussure distingue a linguagem da língua – um objeto unificado e suscetível de classificação.
Define que a língua é uma parte essencial da linguagem.

Mas o que é mesmo a língua?


Muitos de nós confunde língua e linguagem. – Mas não é a mesma coisa? – nos
perguntamos. Vocês conhecem este poema de Gregório de Matos
“O todo sem a parte não é o todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo”.

Este poema nos possibilita fazer uma analogia entre os conceitos de língua e
linguagem, observe:
- a linguagem é ao mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e um
conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social para permitir esse exercício
nos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é “ uma cavaleiro de diferentes domínios”-
física, fisiológica e psíquica, visto que pertence ao domínio social e individual, não se
deixando classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir a
sua unidade;
- a língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação – daí a
analogia feita com o poema – desde que lhe demos o primeiro lugar entre os fatos da
linguagem.
Voltando ao mestre Saussure, a língua, para ele, é “um sistema de signos” – ou seja,
um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo. É a “parte
social da linguagem”, exterior ao indivíduo e obedece às leis do contrato social estabelecido
pelos membros da comunidade.
O conjunto linguagem-língua comporta, ainda, um outro elemento, conforme
Saussure, a fala. A fala é um ato individual, resulta das combinações feitas pelo sujeito
falante utilizando o código da língua; expressada pelos mecanismos psicofísicos (atos de
fonação) necessários à produção dessas combinações.
A distinção linguagem/língua/fala situa, segundo Saussure, o objeto da Linguística.
Decorre daí a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua
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(langue) e outra que analisa a fala (parole). As duas partes são interdependentes, visto que a
língua é a condição para produzir a fala, assim como não há língua sem o exercício da fala.
Desse modo, ele destaca a necessidade de duas linguísticas – a linguística da língua e a
linguística da fala. Saussure focou seu trabalho na linguística da língua “produto social
depositado no cérebro de cada um”, um sistema supra individual que a sociedade impõe ao
falante.

Esquematicamente, poderíamos apresentar os seguintes traços básicos:

LÍNGUA FALA
Sistemática - regularidade Assistemática - variedade
Subjacente Concreto
Potencial Real
Supra-individual - coletivo Individual

Os seguidores dos princípios saussureanos se empenham em explicar a língua por ela


própria, examinando as relações que unem os elementos no discurso, procurando determinar o
valor funcional desses diferentes tipos de relações. A teoria de análise linguística
desenvolvida por eles, em herança a Saussure, foi denominada de estruturalismo – tema que
será mais detidamente estudado.
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PRINCÍPIOS GERAIS DA LINGUAGEM


Revisando as Dicotomias Enunciadas por Saussure

Língua X Fala
Saussure também efetua, em sua teorização, uma separação entre língua e fala. Para
ele, a língua é um sistema de valores que se opõem uns aos outros e que está depositado como
produto social na mente de cada falante de uma comunidade, possui homogeneidade e por isto
é o objeto da linguística propriamente dita. Diferente da fala que é um ato individual e estão
sujeito a fatores externos, muitos desses não linguísticos e, portanto, não passíveis de análise.

Sincronia X Diacronia
Ferdinand de Saussure enfatizou uma visão sincrônica, um estudo descritivo da
linguística em contraste à visão diacrônica do estudo da linguística histórica, estudo da
mudança dos signos no eixo das sucessões históricas, a forma como o estudo das línguas era
tradicionalmente realizado no século XIX. Com tal visão sincrônica, Saussure procurou
entender a estrutura da linguagem como um sistema em funcionamento em um dado ponto do
tempo (recorte sincrônico).

Sintagma X Paradigma
O sintagma, definido por Saussure como “a combinação de formas mínimas numa
unidade linguística superior”, e surge a partir da linearidade do signo, ou seja, ele exclui a
possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter
valor a partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento. Já o paradigma é,
como o próprio autor define, um "banco de reservas" da língua fazendo com que suas
unidades se oponham, pois uma exclui a outra. Pois, o signo linguístico constitui-se numa
combinação de significante e significado, como se fossem dois lados de uma moeda.

Natureza do Signo Linguístico


Conversamos anteriormente sobre a fala. Vimos que ela é a realização das
possibilidades oferecidas pela língua. Deste modo, é um ato individual e momentâneo no qual
interferem fatores extralinguísticos. Vimos também que há uma interdependência entre língua
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e fala. Por seu caráter homogêneo, Saussure considera a língua – sistema de signos - como o
objeto específico da Linguística.
Este mesmo autor nos diz que um signo é combinação de um conceito com uma
imagem sonora. Observe que quando alguém lhe diz: “coração” o que acontece
imediatamente? Você mentalmente cria uma imagem mental e “visualiza” a escrita da
palavra. Este é o conceito de signo linguístico. Ou seja, um conjunto formado de duas partes:
uma perceptível, ou imagem acústica - o significante - e uma inteligível, ou a ideia que o
complexo sonoro desperta no ouvinte, o conceito – o significado.

Observe a ilustração:
IMAGEM ACÚSTICA CONCEITO
↓ ↓
C-OR-A-Ç-Ã-0 ( )
↓ ↓
Significante Significado

É importante destacar que o signo não é uma “coisa e uma palavra”, mas um conceito
e uma imagem acústica. Esta imagem sonora é algo mental, visto que é possível a uma pessoa
falar consigo própria sem mover os lábios. Mas, em geral, as imagens sonoras são usadas para
produzir uma elocução.

Para ilustrar o conceito de signo:


Significante == sons == face material ==(C-O-R-A-Ç-Ã-O)
SIGNO ===================================================
Significado == conceito == face imaterial == ( )

Para definir a relação de que a língua e pensamento são indissociáveis, Saussure criou
uma analogia com a folha de papel: se rasgarmos o papel, afetamos ambos os lados da folha –
verso e anverso. Podemos ampliar este exemplo também para os componentes do signo, o
significado e o significante. A língua, para Saussure, é a expressão do pensamento que,
sem ela, é uma “massa amorfa e indistinta”. A expressão não se dá diretamente do
pensamento aos sons: ela é mediada pela língua, que é um sistema de signos.
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É nesta relação que se estabelece no sistema que os signos adquirem seu valor, que
significam. A língua não é um sistema de signos justapostos, mas uma rede de signos que se
relacionam e, assim, significam.
Para melhor compreender esta relação, Saussure estabeleceu dois princípios: o da
arbitrariedade dos signos e o caráter linear dos significantes.
Vamos a eles:
1. Por que os signos são arbitrários? Será que ao pensar em coração poderíamos
criar outra sequência de sons que não O /c/-/o/-/r/-/a/-/ç/-/ã/- /o/ que lhe serve de significante?
A resposta será não, se considerarmos que a língua é um conjunto de convenções – e
realmente precisa ser assim – adotada por uma comunidade linguística para se comunicar.
Entretanto, em outras línguas tal ideia pode ser representada por outros significantes, cor
(inglês), por exemplo.
2. O segundo princípio se refere ao caráter linear do significante. Sendo o
significante de natureza auditiva, desenvolve-se na cadeia do tempo de modo que os signos se
apresentam obrigatoriamente uns após os outros, formando assim uma cadeia – a da fala, cuja
estrutura linear em virtude disto, é analisável e quantificável.
O signo linguístico traz ainda como características, segundo Saussure, a mutabilidade
e imutabilidade do signo. Paradoxalmente, o signo linguístico é simultaneamente mutável e
imutável. Parece ser uma contradição, mas a contradição desaparece atendendo às diferentes
perspectivas em que o signo é mutável e imutável. O signo é imutável pela simples razão de
que “relativamente à comunidade linguística que o emprega, o signo não é livre, mas
imposto”. O povo não é consultado, e o significante escolhido pela língua não poderia ser
substituído por qualquer outro.

A língua aparece, pois, como um corpo imutável, independente não só do sujeito


como da própria comunidade linguística que a utiliza. “Em qualquer época, e por muito
que recuemos, a língua aparece como uma herança duma geração precedente”.

Em contrapartida, o signo linguístico também aparece como mutável, pois a língua,


enquanto instituição social está sujeita à ação do tempo. “O tempo que assegura a
continuidade da língua, tem um outro efeito, à primeira vista contraditório em relação ao
primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos linguísticos, e, num certo sentido,
podemos falar ao mesmo tempo de imutabilidade e da mutabilidade do signo.” A mutação
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provocada pelo tempo sobre a língua consiste fundamentalmente num desvio na relação entre
significante e significado.
O próprio Saussure, através de uma analogia com o jogo de xadrez se encarrega de
ilustrar, o que, a princípio pode parecer uma contradição. Ele nos diz que se substituirmos as
peças de madeira por peças de marfim, a troca não fará nenhuma diferença. Entretanto, se
diminuirmos ou aumentarmos o número de peças, essa mudança, com certeza, afetará a
“gramática do xadrez”...

Perspectivas de enfoque: Sincronia, Diacronia, Anacromia


“A língua altera-se no tempo, mas não por causa dele”
(BORBA, 2003, p.70)
Vimos que a língua não é estática, muito pelo contrário, é um mecanismo dinâmico em
constante transformação. Como elemento essencial para os estudos linguísticos, ela pode ser
estudada sob três pontos de vista:
- quanto ao seu modo de ser;
- ao seu funcionamento;
- quanto às suas transformações ou evolução.
Você percebeu que estes três pontos de vista têm relação com o tempo? Vamos dar os
nomes a cada um destes enfoques.
1. O primeiro deles considera os fatos linguísticos independente do seu real
funcionamento porque o seu campo de interesse está centrado no exame de suas
possibilidades de funcionamento, ou seja, descrevem ou explicam quanto à sua natureza e
função este é o enfoque anacrônico.
2. O segundo enfoque, o que será observado são os fatos ou dados concretos em
funcionamento, ou seja, a sua maior preocupação será descrever o funcionamento concreto da
língua em um dado momento e lugar, procura conhecer o estado de língua - este é o enfoque
sincrônico.
3. O terceiro, naturalmente será o enfoque diacrônico. Neste, observa-se as mudanças
que a língua sofre com o decorrer do tempo, ou seja, detectam-se as alterações sofridas pela
língua no decorrer do tempo.
Convém destacar que o estudo anacrônico, por se deter no modo de ser dos fatos, é
atemporal, pois tanto pode referir-se ao passado, ao presente ou mesmo predizer o que
acontecerá no futuro. Diz-se, assim, que este ponto de vista examina o mecanismo linguístico
como potencial, enquanto conjunto de possibilidades ou como uma máquina lógica.
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Os enfoques sincrônicos e diacrônicos, apesar das características distintas, não devem


ser considerados como estanques. Na verdade, completam-se, visto que a língua não é
estática e, desse modo, não é uma realidade sincrônica. A sincronia é, então, uma operação
abstrativa e, de certa forma, redutora. Nesse sentido, precisa ser completada pela visão
diacrônica. Por outro lado, a sincronia vê a língua como um jogo de relações num conjunto
coerente e regular.
Veja um exemplo, apresentado por Borba (2003, p.72), que esclarece estes conceitos:

Sincronicamente o plural dos nomes (substantivos e adjetivos) funciona assim:


1º) nomes terminados em vogais recebem o (s): menino-s, bode-s
2º) nomes terminados em (r, -s, -z) recebem o (es): mar- es, mes-es, feroz-es;
3º) nomes terminados em (l) mudam o (i) em (is): anima -is, crué -is, azu- is
Para as regras acima, temos que observar o seguinte:

1º) se a vogal pertence ao ditongo (ao), há três possibilidades:


mão, irmão === mãos, irmãos
pão, cão === pães, cães
dragão, leão === dragões, leões

2º) se o (s) está em sílaba átona, a palavra não varia:


um === dois lápis
o === os alferes
este === estes ourives

3º) a terminação em ( il) comporta-se assim:


(il) tônico ==== perde o (e) recebe o (s): funil/funis, anil/anis
(il) átono ==== perde o (il) e acrescenta-se o (eis): fóssil/fósseis, dócil/eis

Considerações de ordem diacrônica mostram a regularidade desses fenômenos.


Inicialmente sabemos que o morfema de plural é o –s porque assim terminava o acusativo
plural latino, caso que gerou as formas do português. Esse –s acrescenta-se a diferentes tipos
de radicais.
Exemplo: Rosa/rosas, lobo/lobos, etc...
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PERSPECTIVA DO ENFOQUE LINGÜÍSTICO

“O ensino de língua na escola é a única disciplina em que existe disputa entre


duas perspectivas distintas, dois modos diferentes de encarar o fenômeno da linguagem:
a doutrina gramatical tradicional, surgida no mundo helenístico no século III a.C. e a
linguística moderna, que se firmou como ciência autônoma no final do século XIX e
início do século XX.” Marcos Bagno

GRAMÁTICA: CONSIDERAÇÕES GERAIS


Ouvimos o tempo inteiro o termo ‘gramática tradicional’ ou ‘gramática normativa’,
você sabe por que ela é assim denominada? É sobre isso que conversaremos a partir de
agora...

História; divisões: Gramática Tradicional


Saussure define a gramática como o estudo de uma língua examinada como um
“sistema de meios de expressão” (1992, p.185)
Mattoso Câmara Jr., no Dicionário de Linguística e Gramática, nos diz que mais
estritamente é o estudo dos morfemas, ou morfologia, e dos processos de estruturação do
sintagma. Pode-se acrescentar o estudo dos traços fônicos e da grafia correspondente, que
permitem a apreensão linguística pela distinção acústica dos elementos enunciados, na língua
oral – fonologia e fonêmica -, e, na escrita, a leitura do texto. Trata, assim, a gramática:
a) dos fonemas e sua combinação;
b) dos morfemas e sua estruturação no vocábulo (sintagma lexical);
c) dos sintagma de vocábulos.
Desse modo, a gramática está dividida em três partes gerais, respectivamente:
fonologia, morfologia e sintaxe.
Desde a sua origem – Séculos V – IV a.C. - a gramática estabeleceu as regras,
consideradas as melhores, para a língua escrita, baseada no uso que dela faziam seus usuários
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– escritores, poetas e prosadores. Etimologicamente é a “arte de escrever”, esclarecendo,


assim, o seu objetivo.
O estudo da gramática, na Grécia Antiga, apresenta três diferentes períodos:, pré-
socráticos, estóicos e alexandrinos.

Período Pré-socrático
Sócrates, Aristóteles e Platão
Nesta época, a língua não era uma preocupação independente, encontrando-se esparsa
na obra de cada pensador do período. As reflexões sobre a língua eram feitas a partir de um
cunho filosófico. Platão discute a origem das línguas escrevendo um diálogo (Crátilo)
dedicado à origem da língua: “todo enunciado tem dois elementos principais: um tema e uma
rema” (rema – aquilo que se fala sobre o tema) – ou seja, cria-se aí a divisão da oração em um
elemento nominal e um elemento verbal, estabelecendo-se, consequentemente, as classes do
nome e do verbo. Platão lança três classes gramaticais: substantivo, verbo e o adjetivo.
Aristóteles acrescentou a estas duas classes as conjunções – que as considerava como um
elemento de ligação, não as distinguia, assim, das preposições, artigos e pronomes.

Período dos estóicos


Os estóicos consideravam que o homem tinha uma mente em branco que ia sendo
escrita com as experiências durante a vida – estas experiências eram traduzidas a partir da
língua. Trataram da pronúncia, da etimologia e das classes de palavras e paradigmas
flexionais (separadamente) privilegiando o estudo gramatical, mas, ainda, sem estar
interessado na língua em si mesma, pois, como filósofos, estudavam a língua como expressão
do pensamento e dos sentimentos. Os estóicos foram os que mais se ocuparam com os estudos
da gramática. Embora os escritos dos primeiros estóicos sobre gramática se tenham perdido,
ficaram, todavia, alguns dos seus resultados conhecidos por informações de terceiros. A
gramática dos estóicos oferece quatro classes das palavras: nome, verbo, conjunção, artigo.
Nesta classificação os adjetivos são citados entre os nomes. Dividindo posteriormente entre
nomes próprios e comuns, passaram os estóicos a referir-se a cinco classes de palavras.
Introduziram também a distinção entre caso reto, - o nominativo, - e os casos oblíquos, -
acusativo, genitivo, dativo. O nominativo seria a forma primeira; os demais, dele derivados.
Classificaram os verbos em passivos e ativos, e assim também em transitivos e neutros
(intransitivos). Distinguiram entre aspectos concluso e inconcluso do verbo. Deixaram os
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estóicos de inserir nos casos (como fizera Aristóteles) a distinção do verbo em presente,
passado e futuro.

Período dos Alexandrinos


Assim denominados por se referirem aos sábios da Alexandria.
Destacaram-se nestes período:
Dionísio da Trácia (séc. II a.C.) produziu a mais antiga das gramáticas gregas que se
tem notícia. Nela, descreveu duas unidades básicas: a sentença (logos) e o vocábulo (lexis).
Cuidou principalmente dos vocábulos, que são “partes do discurso” (meros lógou), arrolando
ao todo oito classes: artigo, nome, verbo , princípio, pronome, advérbio e conjugação. Três
séculos mais tarde, Apolônio Díscolo completará os estudos de Dionísio com o
desenvolvimento da sintaxe, mostrando na oração a binaridade - nome – verbo - , e ainda
apontando as relações de concordância destas duas classes entre si e com as demais. Ainda
que não alcançasse uma gramática plena, os trabalhos de Dionísio da Trácia e Apolônio
Díscolo integram ainda hoje o sistema que se apresenta como sendo o da língua padrão.
Você percebeu por que a gramática é chamada de Tradicional?

Alguns gramáticos e datas que devem ser destacadas:


- Varrão (séc. I a.C.): o primeiro romano a escrever sobre a língua latina;
- Donato (séc. IV d.C; Prisciliano (séc VI d.C): gramáticas com fins pedagógicos e
descreviam o latim clássico;
- João de Barros (1540): primeira reflexão da língua portuguesa. Tentativa de
normatizar a escrita de algumas palavras;
- Século XVII - Jerônimo Sares Barbosa: Gramática Filosófica da Língua Portuguesa;
- Século XVII (1660): Gramática de Port-Royal;
- Final do século XVIII: descoberta dos Sânscritos, levando à descoberta da “família
das línguas” ;
- Século XIX – Verdadeira revolução: início dos estudos lingüísticos.
Conhecemos um pouco da história de nossa Gramática.... Vamos avançar na linha do
tempo e conhecer alguns dos movimentos do século XX.

OS VÁRIOS CONCEITOS DE GRAMÁTICA


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Vimos que a gramática originalmente traz em si o conceito de “arte de escrever” ;


logo, privilegia a língua escrita, correta, dos grandes escritores. Mas, aprendemos também que
o termo correto, que é um juízo de valor, precisa levar em conta a funcionalidade da língua
através das variações diatópica, diastrática ou diafásica. O modo exemplar pertence à língua
histórica, enquanto que o correto (ou incorreto) situa-se no plano da estrutura da língua
funcional. Partindo desta reflexão, vamos aos conceitos de gramática:

Gramática Descritiva ou Sincrônica


Mattoso Câmara Jr., (2004, p.11) define como o estudo do mecanismo pelo qual uma
dada língua funciona num dado momento (syn- [reunião], chrónos [tempo]), como meio de
comunicação entre os seus falantes, e na análise da estrutura, ou configuração formal que
nesse momento a caracteriza. Quando Mattoso Câmara utiliza o termo “gramática descritiva”,
ou sincrônica, sem outro qualificativo, entende-se tal estudo e análise como referente ao
momento atual, ou presente.

Gramática Normativa
Recomenda como se deve falar e escrever, segundo o uso e a autoridade dos escritores
corretos – gramáticos e dicionaristas esclarecidos. (BECHARA, 2001). É sinônimo de
Gramática Tradicional, visto que normatiza e prescreve as regras do “bem escrever”.

Gramática Estrutural
Estuda a língua como um sistema; propões definições precisas, visto que se
fundamenta em critérios formais e distribucionais; apresenta unidades linguísticas em
construções diversas. Como falha, apresenta um tratamento insuficiente para a análise
sintática.

Gramática Transformacional
Representa uma concepção mais precisa e completa que outros modelos de gramática;
dá regras explícitas e ordenadas; geram um número infinito de construções gramaticais. Como
falhas aponta-se o não fornecimento de elementos para exercícios estruturais e a preocupação
com a competência e não com o desempenho.

Gramática Funcional
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Estuda a língua em uso, o desempenho linguístico; levando em consideração as


necessidades do falante no momento da comunicação. Aponta-se como falha o estudo
preferencial pela língua falada em diferentes contextos.

Gramática Gerativa
Parte da teoria linguística elaborada por Chomsky e pelos linguistas do MIT -
Massachusssets Institute of Technolonogy - entre 1960 e 1965. Chomsky define uma teoria
capaz de dar conta da criatividade do falante e sua capacidade de emitir e de compreender
frases inéditas. Nessa perspectiva, a gramática é um mecanismo finito que permite gerar um
conjunto infinito de frases de uma língua.
Você observou que as gramáticas mudam de conceito, conforme a teoria utilizada para
explicar a língua? Pausa para respirar! Como são tratadas as palavras? Quatro abordagens...

ESCOLAS E MOVIMENTOS MODERNOS

Estruturalismo
O Estruturalismo é uma corrente teórica da linguística baseada nos princípios do
Cours de Linguistique Générale (1916) de Ferdinand de Saussure, que se desenvolveu na
Europa e nos Estados Unidos da América a partir dos anos 30 do século XX. Assim, o
estruturalismo é a modalidade de pensar e um método de análise praticado nas ciências do
século XX, especialmente nas áreas das humanidades.
Saussure é considerado o fundador do estruturalismo, embora tivesse preferido a
designação de sistema em vez da de estrutura para definir a língua como um todo cujas partes
se relacionam entre si e concorrem para a sua organização global. As relações entre as partes
do sistema ou estrutura foram descritas por Saussure em termos de relações sintagmáticas (no
plano do sintagma, num eixo horizontal) e paradigmáticas (no plano da semântica, num eixo
vertical).
É com as teorias defendidas pelo Círculo Linguístico de Praga (1929) e ventiladas
no Congresso Internacional de Haia (1930) que surge o termo estrutura, inicialmente aplicado
à fonologia por Troubetzkoy, mas rapidamente alargado aos outros domínios da linguística e
até mesmo à antropologia dita estrutural com Claude Levi-Strauss (1958).
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Apesar do princípio subjacente ao estruturalismo ser o mesmo na Europa e nos


Estados Unidos - a concepção da língua como uma estrutura definida pela relação entre os
seus elementos, a verdade é que surgiram orientações diversas em ambos os continentes, o
que nos permite falar de um estruturalismo europeu e de um estruturalismo americano.

Origens e Concepções do Estruturalismo Linguístico


O estruturalismo linguístico nasceu quando Ferdinand de Saussure pretendeu atingir
leis gerais do funcionamento de uma língua. O estruturalismo etnológico nasceu quando
Claude Lévi-Strauss pretendeu atingir as leis gerais do funcionamento de certas estruturas
culturais, especificamente aquelas que regem os sistemas de parentesco ou as que regem a
produção dos mitos em culturas arcaicas. Para Barthes, o objetivo da atividade estruturalista:
“é reconstituir um objeto, de modo a manifestar nessa reconstituição as regras de
funcionamento (as funções) desse objeto”.
O estruturalista toma a estrutura pelo real. Recompondo o objeto para fazer aparecer
suas funções, pensa, na verdade, estar encontrando as funções do real a que a estrutura
pertence. O trabalho do estruturalista consiste em descobrir, por trás das aparências, além da
organização aparente do objeto, estruturas inteligíveis que expliquem certo funcionamento, e
isso num campo que se relaciona com a atividade humana.
O estruturalismo é uma abordagem que veio tornar um dos métodos mais
extensamente utilizados para analisar a língua e a sociedade na segunda metade deum dos
pioneiros do pensamento estruturalista foi Saussure, ao formular uma abordagem da
Linguística onde a língua se apresenta como um sistema estruturado. Esta linha foi m passou a
ser chamado de Semiótica, através de autores como Roland Barthes. Também se apoiando no
caminho aberto por Saussure e aplicando-o ao estudo dos mitos, Lévi-Strauss apresenta-se
como o grande nome associado à antropologia estrutural. Já no século xx. Entretanto,
"estruturalismo" não se refere a uma "escola" claramente definida de autores, embora o
trabalho de Ferdinand de Saussure seja geralmente considerado um ponto de partida. O
estruturalismo é mais bem visto como uma abordagem geral com muitas variações diferentes.
Como em qualquer movimento cultural, as influências e os desenvolvimentos são complexos.

Estruturalismo Europeu
Os intelectuais da época não ficaram indiferentes ao mundo que os circundava. Na
França, poderiam ser encontrados os mais brilhantes pensadores do século XX. Paris mais
parecia à capital intelectual da Europa. Estavam em pleno ativismo político figuras como
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Sartre, Althusser, Foucault, Deleuze, Pêcheux, Lacan, Lévi-Strauss, Barthes, Derrida,


Bourdieu, Todorov, Benveniste e Castoriadis, para não citar outros. Debatiam sobre todos os
assuntos, principalmente os que gravitavam em torno do estruturalismo e do marxismo. De
todos os países europeus, a França foi aquele em que o estruturalismo teve maior ressonância,
um fenômeno que culminou no final dos anos 1960, num momento em que vários
movimentos de contestação política chegaram a colocar em crise uma série de valores
estabelecidos, naquele país. As duas guerras mundiais fizeram ruir os valores e tradições que
apoiavam o mundo moderno.
As teses iluministas, aos poucos, foram deixadas de lado. A razão humana havia
produzido uma era de catástrofes. O progresso tecnológico serviu para o extermínio de
milhares de pessoas e devastar a natureza. O otimismo das Luzes foi substituído pelo medo e
pela insegurança do pós-guerra.
O estruturalismo europeu encontrou os primeiros desenvolvimentos nas obras do
discípulo de Saussure, C. Bally (1932) e dos linguistas saídos do Círculo Linguístico de
Praga, N. S. Troubetskoy (1939) e R. Jakobson (1963). Mas o estruturalismo europeu é,
sobretudo identificado com as escolas da Glossemática de L. Hjelmslev (1943) e do
Funcionalismo de A. Martinet. Em traços muito gerais, a glossemática desenvolveu-se no
Círculo Linguístico de Copenhague e consistia na concepção da língua como forma e não
substância, distinguindo assim dois planos na língua: o da expressão, constituído pela parte
fónica da língua, e o do conteúdo, representado pelo conceito. Já o funcionalismo ou
estruturalismo funcional, desenvolvido por Martinet, considera a língua como uma dupla
articulação (entre a fonologia e a morfologia) e estuda-a do ponto de vista sincrónico e
diacrónico, sempre com um objetivo descritivista.
O Funcionalismo surge após a II Guerra Mundial através dos membros da Escola de
Praga, com destaque para Roman Jakobson e Nikolaj Trubetzkoy. Caracteriza-se pela crença
de que a estrutura fonológica, gramatical e semântica das línguas é determinada pelas funções
que têm que exercer nas sociedades em que operam. Não têm uma gramática, pois entendem
que a função principal da língua é a comunicação. Desse modo, a língua é utilizada como
interação social, cujo correlato psicológico é a competência comunicativa. A partir do
funcionalismo surgem os estudos sobre a gramaticalização

Estruturalismo Americano
O estruturalismo americano, por seu turno, nasceu dos estudos das línguas
ameríndias de F. Boas (1940) e de E. Sapir (1921, 1949), tendo conhecido desenvolvimentos
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mais profundos no Distribucionalismo de L. Bloomfield, C. F. Hockett (1958) e Z. S. Harris


(1951, 1962) e vindo a encontrar a sua mais ampla expressão no Generativismo de N.
Chomsky (1957, 1965) e seus seguidores, embora esta escola tenha nascido da contestação de
muitos trabalhos anteriores. Também muito sumariamente, o distribucionalismo consistiu
num método de análise, fundamentalmente aplicado à fonologia e morfologia, em que se
localizavam unidades em função dos contextos em que elas ocorriam e em função das suas
capacidades combinatórias. O generativismo apresenta um modelo formal, de base lógico-
matemática, para a descrição da língua como estrutura e para a descrição da competência e da
performance do conhecimento linguístico humano.
Outro movimento moderno é o Gerativismo, baseado nos estudos de Noam Chomsky.
Esta teoria passou a ser conhecida a partir da publicação de Syntatic Structures e desde então
se transformou numa referência obrigatória para os estudos referentes à linguagem humana
impondo perspectivas com alto poder de convencimento. O gerativismo se propõe a explicar
os fatos linguísticos e usa as intuições para julgar a sentença. De acordo com a teoria de
Chomsky, a mente deve ser estudada assim como se estuda o corpo humano; cada parte do
cérebro tem sua função, portanto, existe uma parte que é responsável pela linguagem.
A gramática gerativista retrata o conhecimento mental que os falantes possuem da
língua que é a competência linguística. Esse conhecimento mesmo que não seja usado está
guardado no cérebro. O uso que cada indivíduo faz desse conhecimento no dia-a-dia é
chamado de desempenho, mas não recebe muita importância do gerativismo.
Chomsky estabeleceu dois tipos de gramáticas dentro do gerativismo. Uma delas é a
Gramática Universal (GU), já mencionada anteriormente. A outra é a Gramática Particular
(GP) que se utiliza da gramática universal e também das características próprias de cada
língua.
O Estruturalismo e o Gerativismo integram a tradição formalista. Ambas as
perspectivas não fazem indagações sobre a criação das estruturas numa dada situação social.
Os dois modelos se distinguem na medida em que o Estruturalismo postula a língua como
uma estrutura composta de diferentes construções, enquanto que o Gerativismo se prende à
forma como a linguagem é adquirida.

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