Port Teste 1 2020
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O velho vendedor desta tarde, ali à esquina da rua, lembrou-me outro, lá longe, no passado de uma cidade
diferente, esse diluído não só em tempo ou em bruma mas também num fumo aromático que não aquecia, fumo
frio, talvez, e que atravessava ossos porosos que existiam, que estavam ali dentro de mim, um pouco arrepiados
também. Eu passava todos os dias pelo homem, que usava boina e samarra 1, talvez fosse espanhol, já não me
lembro, e detinha-me sempre para comprar o eterno cartucho de castanhas, que logo metia, em partes iguais, nos
5
bolsos já largueirões do casaco, deixando ficar as mãos naquele leve, apesar disso reconfortante calor. Cá fora
havia nevoeiro, ou então um espesso teto de nuvens baças separava-nos da estrela da vida, que
desaparecera do nosso convívio há muito tempo. E eu, mesmo sem querer, mesmo pensando que isso era
impossível, não a imaginava lá em cima mas muito longe, para o sul, aquecendo e iluminando a minha terra. Fazia
o resto do percurso devagar, ia aproveitando aquela sensação tão doce. Quando chegava ao hotel tinha as mãos
enfarruscadas e as castanhas estavam quase frias, mas paciência, comia-as mesmo assim.
10 Hoje, aqui, não comprei castanhas ao velho vendedor. Hoje, aqui, não quero sujar as mãos e, de resto, o
casaco não tem bolsos. Hoje, aqui, ainda não faz frio e o Sol é sedentário e amigo, mora lá em cima, nunca anda
muito tempo a viajar. Ou brilha ou brilhou ou vai brilhar um dia destes, talvez amanhã. O fumo também nunca chega
a ser névoa e as castanhas têm outro sabor. Nem melhor nem pior. Um sabor diferente.
Diário de Lisboa 13-11-68
1. Reescreve as frases seguintes, substituindo cada expressão sublinhada pelo pronome pessoal
adequado. Faz apenas as alterações necessárias.
(A) “O velho vendedor desta tarde [...] lembrou-me outro”. (linha 1)
(D) “Hoje, aqui, não comprei castanhas ao velho vendedor.” (linha 15)
3. A cronista não comprou castanhas nem reconheceu o velho vendedor, mas lembrou-se de outro.
1 Era uma garotinha pequena de visita a um palácio, o da vila de Sintra, creio eu. Ou
seria o de Queluz? Um palácio real em todo o caso, daqueles de salas imensas, e
móveis importantes, de museu, agressivamente dignos, afetados, saídos das mãos de
um autor conhecido, como os quadros e as estátuas. Quem pode conviver com um
móvel assim?
A menina parou, olhou, observou com atenção. Teria seis, sete anos. Depois de
5 muito olhar, de por assim dizer entrar ou tentar entrar no ambiente, voltou-se para os
pais e disse, lamentando muito: «Como esta pobre gente vivia!»
Os presentes sorriram e até riram com vontade. Com que então aquela pobre gente! Com
que então… Pois claro, aquela pobre gente sem aparelho de rádio nem televisão, que
aborrecimento naquelas grandes salas doiradas, sem ir ao cinema sequer, naquela imensa
cozinha sem máquinas. Não, aquilo já não servia para os sonhos de oito anos (ou sete). Isso
era dantes, quando nós éramos crianças e lidávamos com princesas e príncipes encantados. A
miudinha, ali, era porém produto de uma civilização diferente, sem estúpidos e velhos sonhos
10 de palácio, com desejos mais modestos muito mais confortáveis e fabulosos, como estar
sentado na sala de estar sem doirados nem móveis de autor, a ver no pequeno ecrã os
homens a passear na Lua. Sim, sim, ela, a menina, tinha razão. Porque aquela pobre gente
nem sequer suspeitava. Para ali estava naquelas grandes salas luxuosas, sem nada saber de
uma próxima geração lunar. Que nós ainda achamos maravilhosa. Que para a menina, ali, no
palácio real, é tão natural talvez como respirar. Como aquela pobre gente vivia.
1. Seleciona, para responderes a cada item (1.1 a 1.4), a única opção que permite obter uma
afirmação adequada ao sentido do texto.
1.1 Na perspetiva da cronista, expressa no primeiro parágrafo, os móveis daquele museu
caracterizavam- se por serem sobretudo
a) banais.
b) perfeitos.
c) nobres.
d) antigos.
1.2 Na expressão «Quem pode conviver com um móvel assim?» (linha 4), está presente
a) uma frase interrogativa usada para fazer uma pergunta.
b) uma frase imperativa usada para fazer um pedido.
c) uma frase imperativa que corresponde a um chamamento.
d) uma frase interrogativa usada para exprimir um ponto de vista crítico.
1.3 A frase «Como esta pobre gente vivia!» (linha 7), apresenta o ponto de vista
a) da cronista.
b) dos pais da menina.
c) da menina.
d) dos outros visitantes do museu.
1.4 Na expressão «Com que então (…)» (linha 8), o uso das reticências pretende
a) exprimir dúvida.
b) manifestar surpresa.
c) interromper uma ideia.
d) indicar que a frase não terminou.
2. Associa cada elemento da coluna A ao elemento da coluna B que lhe corresponde, de acordo
com o sentido do texto e de modo a identificares o valor semântico do advérbio destacado.
3. Classifica cada uma das afirmações seguintes (3.1 a 3.5) como verdadeira ou falsa,
apresentando uma alternativa verdadeira para as frases falsas.
3.1 Apesar da estranheza relativamente ao espaço, a menina tentou integrar-se no ambiente.
3.4 Para a geração da cronista, as viagens à Lua são perspetivadas como um facto usual.
3.5 Segundo a cronista, a estranheza da menina deveu-se ao facto de as salas do palácio serem
imensas e vazias.
5. Indica duas características que permitam classificar este texto como uma crónica.
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6. A partir do ponto de vista da cronista, indica uma consequência do avanço da tecnologia.
Transcreve uma expressão onde esteja presente a ironia utilizada pela cronista para referir este
facto.
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Parte C
13. Lê o excerto do «A aia», de Eça de Queirós.
Responde, de forma completa e bem estruturada.
“A AIA”
1 Foi um espanto, uma aclamação. Quem o salvara? Quem?… Lá estava junto do berço de
marfim vazio, muda e hirta, aquela que o salvara! Serva sublimemente leal! Fora ela que,
para conservar a vida ao seu príncipe, mandara à morte o seu filho… Então, só então, a
mãe ditosa, emergindo da sua alegria extática, abraçou apaixonadamente a mãe
5 dolorosa, e a beijou, e lhe chamou irmã do seu coração… E de entre aquela multidão que
se apertava na galeria veio uma nova, ardente aclamação, com súplicas de que fosse
recompensada, magnificamente, a serva admirável que salvara o rei e o reino.
Ora uma noite, noite de silêncio e de escuridão, indo ela a adormecer, já despida, no
seu catre, entre os seus dois meninos, adivinhou, mais que sentiu, um curto rumor de ferro
e de briga, longe, à entrada dos vergéis reais. Embrulhada à pressa num pano, atirando os
cabelos para trás, escutou ansiosamente. Na terra areada, entre os jasmineiros, corriam
passos pesados e rudes. Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre
lajes, como um fardo. Descerrou violentamente a cortina. E além, ao fundo da galeria,
avistou homens, um clarão de lanternas, brilhos de armas…Num relance tudo
compreendeu: o palácio surpreendido, o bastardo cruel vindo roubar, matar o seu príncipe!
Então, rapidamente, sem uma vacilação, uma dúvida, arrebatou o príncipe do seu berço de
marfim, atirou-o para o pobre berço de verga, e, tirando o seu filho do berço servil, entre
beijos desesperados, deitou-o no berço real que cobriu com um brocado.
Bruscamente um homem enorme, de face flamejante, com um manto negro sobre a
cota de malha, surgiu à porta da câmara, entre outros, que erguiam lanternas. Olhou,
correu ao berço de marfim onde os brocados luziam, arrancou a criança como se arranca
uma bolsa de oiro, e, abafando os seus gritos no manto, abalou furiosamente.
O príncipe dormia no seu novo berço. A ama ficara imóvel no silêncio e na treva.
Mas brados de alarme atroaram, de repente, o palácio. Pelas janelas perpassou o
longo flamejar das tochas. Os pátios ressoavam com o bater das armas. E desgrenhada,
quase nua, a rainha invadiu a câmara, entre as aias, gritando pelo seu filho! Ao avistar o
berço de marfim, com as roupas desmanchadas, vazio, caiu sobre as lajes num choro,
despedaçada. Então, calada, muito lenta, muito pálida, a ama descobriu o pobre berço de
verga... O príncipe lá estava quieto, adormecido, num sonho que o fazia sorrir, lhe
iluminava toda a face entre os seus cabelos de oiro. A mãe caiu sobre o berço, com um
suspiro, como cai um corpo morto.
8. Explica, por palavras tuas, o sentido da frase: «A mãe caiu sobre o berço, com um
suspiro, como cai um corpo morto.»
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TEXTO B
Elabora um breve comentário à atitude da Aia à luz dos dias de hoje. Deves:
Contextualizar a atitude da Aia.
Explicar os motivos que a levaram a tal decisão.
Demonstrar se hoje tal comportamento seria provável ou não.
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GRUPO II
2. «Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre as lajes como um fardo.»
3. Selecciona a forma mais adequada para completar as frases indicadas. Transcreve para
a folha de respostas a opção que consideras mais adequada:
5.1 Há um mês, os meus pais· ________________que eu fosse ao cinema.
a) consentirão b) consentiram c) consentirem
1. Coloca as formas verbais destacadas nas frases nos tempos indicados entre
parênteses. Faz as alterações necessárias.
a. Eu diverti-me com o Rex. (futuro do indicativo)
b. Sentou-se ao meu lado, coçou a cabeça e disse-me que a minha mãe não
queria o cão em casa. (condicional)
c. Vamos treiná-lo a expulsar os intrusos. (futuro do indicativo)
d. Divertíamo-nos muito, eu, o Rex e o meu pai! (condicional)
e. Isso foi um pouco estragado pelo grito que o meu pai deu.
f. Sentou-se ao meu lado, coçou a cabeça.
3.1. A cronista viu um “velho vendedor” de castanhas que a fez recordar um outro que conheceu no passado.
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4.1. A ação situa-se no passado, numa cidade.
……………………………………………………………………………………....................
4.2. Nesse tempo, a cronista comprava diariamente um cartucho de castanhas a um vendedor de rua e, de
seguida, ia para o hotel onde estava hospedada.
……………………………………………………………………………………....................
4.3. A metáfora “espesso teto de nuvens baças” salienta a ideia de que o dia estava escuro e sombrio.
OU
4.3. A metáfora “estrela da vida” salienta a ideia de que o Sol é indispensável à vida.
……………………………………………………………………………………....................
5.1. O pronome “a” refere-se à “estrela da vida”.
……………………………………………………………………………………....................
5.2. Ainda que admitindo ser impossível, a cronista insinua que o Sol (“estrela da vida”) não estava presente
naquela cidade, pois os dias eram sempre sombrios e frios.
……………………………………………………………………………………....................
6.1. A cronista não comprou castanhas ao vendedor porque não queria sujar as mãos, não tinha bolsos no
casaco nem estava frio.
3. Classifica cada uma das afirmações seguintes (3.1 a 3.5) como verdadeira ou falsa,
apresentando uma alternativa verdadeira para as frases falsas.
3.1 Apesar da estranheza relativamente ao espaço, a menina tentou integrar-se no ambiente. V
3.2 Os visitantes do museu sorriram face ao uso inadequado do adjetivo. F
3.3 Esta crónica apresenta os pontos de vista de duas gerações diferentes. V
3.4 Para a geração da cronista, as viagens à Lua são perspetivadas como um facto usual raro. F
3.5 Segundo a cronista, a estranheza da menina deveu-se ao facto de as salas do palácio serem
imensas e vazias não terem meios tecnológicos. F
5. Indica duas características que permitam classificar este texto como uma crónica.
Este texto é uma crónica porque a autora apresenta o seu ponto de vista sobre as diferentes
perspetivas das gerações anteriores (visitantes do museu e cronista) e da geração atual (menina).
10. A frase repetida que provém do fonógrafo provoca reações nas personagens.
Indica as ações encadeadas das personagens a partir deste acontecimento.
As personagens retiraram-se para uma sala distante; tentaram tapar a boca do fonógrafo com uma
almofada, mantas e cobertores; refugiaram-se na cozinha e, por fim, fugiram para a rua.
10.1 Identifica três adjetivos que traduzam o estado de espírito das personagens perante o insólito
acontecimento.
«enervados», «furiosos» e «espavoridos».
13.2
Para mim, o comentário mais adequado ao sentido do texto é o da Mariana.
A Aia é uma serva admirável e ela é feliz na servidão «Serva sublimemente leal».
A aia trocou os bebés, colocando o seu filho no berço real do príncipe e o herdeiro do reino
no berço pobre de verga do escravozinho, ato que permitiria salvar o reino.
A aia é muito corajosa e leal.
Neste excerto está presente a dupla adjetivação “muda e hirta”, que mostra o estado de
espírito da Aia.
Considero que a opção da Aia em salvar o príncipe mostrou que ela era uma pessoa muito
leal ao reino.
16. Explica, por palavras tuas, o sentido da frase: «A mãe caiu sobre o berço, com um
suspiro, como cai um corpo morto.»
Esta frase significa que, após o choque emocional provocado por pensar que o seu
filho tinha sido raptado, a rainha perde as forças e quase desmaia.
16.1. Identifica a figura de estilo presente na frase anterior.
Comparação.
.
A Aia é uma serva admirável e ela é feliz na servidão «Serva
sublimemente leal».
A aia trocou os bebés, colocando o seu filho no berço real do príncipe e
o herdeiro do reino no berço pobre de verga do escravozinho, ato que
permitiria salvar o reino.
Considero que a atitude da Aia foi muito corajosa e leal. Esta revela uma
dedicação desmesurada ao filho, ao príncipe e aos reis. Ela prova
com o gesto da troca das crianças uma grandeza de alma que não
pode ser compreendida por nenhum humano e que, por
consequência, não tem nenhuma recompensa ou pagamento
material. A crença espiritual que alimenta o seu gesto demonstra
uma linearidade e uma simplicidade de pensamento que coloca o
dever acima de tudo: o dever de escrava e o dever de mãe.
Reconheço, no entanto, que não compreendo como uma mãe
deixa morrer o seu filho e que seria incapaz de cometer tal ato.
Termino reafirmando que, apesar de não compreender o ato da
Aia em sacrificar o seu próprio filho para o bem do reino, defendo
que esta revelou uma enorme grandeza de alma, lealdade e
coragem.
A aia, personagem que dá título ao conto, num ato de desespero, trocou os
bebés do berço, assim que se apercebeu que o filho da rainha estava em perigo
de vida.
Pensamos que, com este gesto, ao entregar o seu próprio filho à morte para
salvar o herdeiro ao trono, a aia demonstrou uma enorme dedicação e lealdade
para com os seus senhores e uma coragem incomensurável.
Porém, pensamos que a atitude da aia foi precipitada ao sacrificar o seu próprio
filho e ao seguir cegamente o apelo da lealdade ao seu rei e rainha. Foi, de facto,
cruel para com ela própria e para com o escravozinho. Abdicou da sua própria
felicidade e entregou o seu filho à morte para salvar a vida do principezinho.
Acerca da troca de bebés, não concordo pois penso que ninguém tem o direito de escolher quem vive e quem morre,
independentemente da classe social. Para além disso, na minha opinião, o amor de mãe deve ser superior a qualquer
outro sentimento, como por exemplo, a lealdade. Um dos deveres da mãe deve ser o de proteger o filho.
Em relação ao suicídio, julgo que a Aia não agiu corretamente pois, como já referi anteriormente, ninguém tem o direito de
escolher quem vive e quem morre, mesmo quando se trata da nossa própria vida. Do meu ponto de vista, o suicídio é um
ato de cobardia. A aia suicidou-se pois não conseguia viver com as consequências da sua escolha.
Concluo, baseando-me nos argumentos por mim apresentados anteriormente, que não foi correta a atitude, da aia, de
O desejo da aia de provar que a cobiça e a ambição podem estar arredadas de um coração
leal, fez com que ela escolhesse um punhal para pôr termo à sua vida. Trata-se de um objeto
pequeno, certeiro que remete para o carácter decidido da personagem e que era o maior tesouro
que aquela mulher ambicionava, pois, esse objeto lhe abriria caminho para o encontro com o seu
filho, para cumprir o seu dever de mãe, dando-lhe de mamar.
GRUPO II
4. «Depois houve um gemido, um corpo tombando molemente, sobre as lajes como um fardo.»
7. Selecciona a forma mais adequada para completar as frases indicadas. Transcreve para
a folha de respostas a opção que consideras mais adequada: