Preservação Arquitetônica
Preservação Arquitetônica
Preservação Arquitetônica
SUMÁRIO
1 CONCEITO ........................................................................................ 4
2 PRESERVAÇÃO ................................................................................ 6
2
8.2 Como a sociedade pode auxiliar o conselho de defesa do
patrimônio municipal? ................................................................................... 32
14 O ARQUITETO ............................................................................. 47
15 BIBLIOGRAFIA ............................................................................. 54
3
1 CONCEITO
Fonte: historiasylvio.blogspot.com.br
2 PRESERVAÇÃO
6
por formas e materiais iguais ou semelhantes aos originais. A
conservação implica manutenção permanente e objetiva, manter o estado
existente do monumento histórico. Já a restauração adquire um caráter
excepcional, designando intervenção de maior envergadura, em que se deve
operar através da distinguibilidade.
O campo disciplinar do restauro tem por objetivo estudar a preservação
de bens culturais, com métodos e referenciais teóricos próprios. Esses estudos
trazem implicações práticas, que vão desde a documentação do
patrimônio, até a execução de intervenções planejadas, segundo critérios e
requisitos específicos do campo disciplinar, aplicadas às especificidades do
patrimônio estudado. Esse trabalho de análise requer reflexão crítica,
interdisciplinaridade e criatividade projetual. Entretanto, desde os estudos do
monumento histórico até a efetivação das ações de intervenção, diversos
obstáculos surgem. Um desses obstáculos refere-se ao conteúdo e à
organização da legislação vigente no Brasil.
A transição entre a teoria e a prática da preservação seria facilitada, se
fosse possível contar com uma legislação coerente com os fundamentos
do campo disciplinar do restauro. Dessa forma, o esclarecimento sobre a
teoria da preservação poderia atingir toda pessoa interessada no assunto,
evitando julgamentos enganosos.
Um exemplo dessa incoerência é a Lei n.11.228, de 25 de junho de 1992,
Código de Obras e Edificações do Município de São Paulo, que contém as
informações gerais e específicas para orientação dos projetos da cidade de São
Paulo. Essa lei é recente, se comparada à Carta de Veneza, documento-base
do Icomos, fruto do congresso realizado em 1964, e ainda em vigor. Embora
tenha sido aprovada quase três décadas após a publicação da Carta de Veneza,
a Lei n. 11.228 carrega conceitos contrários à Carta, o que resulta em equívocos
por parte dos profissionais que a consultam, sem o conhecimento e
entendimento dos princípios essenciais do campo do restauro.
A Lei n. 11.228 traz a seguinte definição de restauro: “RESTAURO OU
RESTAURAÇÃO: recuperação de edificação tombada ou preservada, de
7
modo a restituir-lhe as características originais” Lembremos que não há, no
Código de Obras, indicação de excepcionalidade para obras preservadas, ou
seja, apesar de haver legislação e órgãos específicos que definem os limites de
possíveis intervenções e ainda fiscalizam as obras em monumentos históricos,
a Lei n. 11.228 é válida para qualquer imóvel pertencente ao Município de São
Paulo:
9
totalmente os princípios básicos da motivação que gera a preservação e
conservação dos monumentos históricos, ou seja, a valorização da cultura.
E qual é a motivação que leva à preservação de algo? Por que preservar?
A preservação é justificada por razões culturais, éticas e científicas. É definida
como um ato de cultura e deve ser ditada por aspectos estéticos, históricos,
memoriais e simbólicos.
A dualidade entre os princípios teóricos correlatos ao campo do restauro
– defendidos pelos técnicos dos órgãos de preservação - e os interesses
econômicos - defendidos de forma disfarçada por políticos - não é uma situação
encontrada apenas no Brasil. Em conferência recente realizada no edifício Vila
Penteado, sede da Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, a conferencista, Prof.a Dra Ascensión Hernández
Martínez, iniciou sua apresentação afirmando que há hoje, na Espanha, um
distanciamento entre a teoria, a legislação e a prática relacionadas ao campo do
restauro. Visando exemplificar essa situação, e lá apresentou doze casos de
intervenções feitas, nos últimos cinco anos, em edifícios e sítios históricos.
A Lei de Patrimônio Histórico Espanhol, de 1985, vincula a restauração de
edifícios ao planejamento urbano, estabelece critérios claros de restauração (art.
39.1, “conservação, consolidação e melhora”), proíbe a reconstrução e ressalta
que todas as fases históricas do monumento devem ser respeitadas. Entretanto,
pelos exemplos apresentados pela Prof.a Ascensión, fica claro que, não raras
vezes, a teoria da preservação se distancia das ações práticas de intervenção,
sendo que a legislação, apesar de clara, não é cumprida em sua totalidade.
Esse fato se justifica pela situação atual do governo central, que não tem
autoridade sobre as Comunidades Autônomas, responsáveis pela aprovação
dos projetos, e não tem como anular os equívocos aprovados como
sendo atos de preservação. Inclusive há hoje uma situação controversa, em
que os políticos espanhóis conseguem aprovar obras que não são validadas
pelos técnicos do campo do restauro.
Mas e a situação no Brasil? A educação patrimonial historicamente tem
se colocado como excelente ferramenta. Quando disponível, traz informações
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que fazem que os cidadãos validem as ações de cultura, fazendo parte
do processo de preservação. Entretanto, quando a educação não é estimulada,
as ações podem se tornar arbitrárias.
Uma grande ferramenta, para promover a preservação, é operar de forma
a fazer que a população se aproprie dos valores correspondentes a cada obra
de interesse cultural e torne os monumentos históricos parte de sua própria
história. Através da educação patrimonial, a população pode obter a
consciência de seu papel na preservação dos monumentos históricos.
Em relação aos teóricos do restauro, mergulhar no campo da prática,
enfrentar obras, vivenciando o canteiro de obras, talvez seja o caminho a ser
perseguido.
Para os profissionais que viabilizam as ações práticas, é imprescindível
conhecer a teoria, inclusive a ponto de formar mão de obra capacitada para o
entendimento da relevância do patrimônio arquitetônico e de suas características
singulares.
O conhecimento, por parte dos trabalhadores da construção civil, da
importância da obra que estão realizando faz que os mesmos se tornem aliados
do processo de preservação.
Na conferência “Tendências tradicionais de construção e conservação
arquitetônica: alguns casos de estudo”, o Prof. Dr. João Carlos de Oliveira
Mascarenhas Mateus comentou sobre as culturas construtivas e o fato de que
precisamos compreender o estado da nossa cultura construtiva, destacando
que a reabilitação, conservação e restauro devem garantir a autenticidade e
integridade dessas culturas.
Estudos de caso foram apresentados, visando esclarecer as fases
do processo de conservação arquitetônica, em que o projeto deve detalhar cada
tema, desde o entorno até a conservação dos materiais, instalações de
equipamentos e entendimento arquitetônico.
Além da preocupação de trabalhar os conceitos teóricos no projeto, o Prof.
João Carlos afirmou com convicção a necessidade de desenvolver o
projeto de preservação detalhadamente, usando da criatividade para trabalhar
11
cada elemento. Entretanto nem o conhecimento teórico, nem o desenvolvimento
adequado do projeto serão suficientes para o resultado final de excelência da
obra, se os serviços executados não forem feitos por pessoas capacitadas. E,
nesse ponto, alguns mitos se esclarecem: de fato, o Brasil tem carência de mão
de obra especializada, mas essa situação não justifica termos obras de
intervenção no patrimônio arquitetônico com qualidade inferior. O Prof.
João Carlos informou que em Portugal também há falta de profissionais
especializados, mas ele usa o canteiro de obras para trabalhar a qualificação da
mão de obra disponível. Inicialmente os funcionários precisam conhecer a
história, o significado da obra em questão, e depois os critérios de restauro
podem ser transmitidos.
A problemática que envolve as intervenções em edifícios tombados pode
ser atenuada com a sistematização da manutenção programada, que também
deve ser planejada a partir da reflexão teórica. A questão da manutenção
contínua não é algo novo, a Carta de Veneza (1964) já afirma, em seu artigo
quarto: “a conservação dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção
permanente”. Entretanto a falta de manutenção é um problema central para a
eficácia da preservação de obras relevantes. Os motivos que levam a essa
realidade giram em torno da falta de recursos humanos e financeiros, sobretudo
nos casos em que o edifício é público. A falta desses recursos está relacionada
com a lentidão dos processos e a falha da sistematização das ações projetuais.
Como já comentado, dentro do campo da preservação, a manutenção
refere-se às ações cotidianas e periódicas, que têm por objetivo resolver os
problemas assim que surgem, e, no caso da manutenção preventiva e
programada, as ações de manutenção se antecipam ao aparecimento dos
problemas.
A teoria afirma, ainda, que na manutenção é importante trabalhar por
analogia, optando por formas e materiais iguais ou semelhantes aos originais,
sendo que seu objetivo é contribuir para a conservação do monumento histórico.
Entretanto, na prática, é verificável que projetos ou memoriais descritivos
que contenham especificações que podem ser substituídas por elementos
12
similares acabam por ter a qualidade da obra comprometida. Isso se deve ao
entendimento de que um elemento similar pode ou não ter seu desempenho
equivalente, ou seja, quando um elemento é especificado, as questões que
deveriam ser destacadas são as relacionadas com a compatibilidade técnica, e
não apenas estética.
Quando a teoria do restauro afirma que, na manutenção ordinária, os
elementos podem ser substituídos por outros semelhantes, significa que não
apenas as características formais devem ser levadas em conta, os aspectos
técnicos devem ser ainda mais relevantes. Afinal, o objetivo é contribuir para a
conservação do monumento, e elementos com desempenho técnico inferior
irão apresentar vida útil encurtada, propiciando a deterioração do patrimônio
arquitetônico, podendo iniciar uma série de patologias construtivas nos sistemas
do edifício.
13
É a manutenção de um bem no estado físico em que se encontra e a
desaceleração de sua degradação, visando prolongar e salvaguardar o
patrimônio cultural.
14
3.7 Preservar é o mesmo que tombar?
15
4 O QUE É O CONSELHO DE DEFESA DO PATRIMÔNIO?
Fonte: cultura.sorocaba.sp.gov.br
Fonte: jornaldapraia.com
17
7.1 A interação entre o poder público e o setor privado
18
preservação dos monumentos históricos e aqueles que se empenhavam na
implantação de um novo urbanismo e uma nova arquitetura, colocando-se
diametralmente contra a preservação do passado ou sua integração à nova
produção.
Com a estruturação a nível federal, vários outros atos complementares
passaram a ser adotados com diferentes graus de abrangência, sendo que a
partir dos anos 70 também estados e municípios passaram a se instrumentalizar
no sentido da preservação de seus acervos culturais. Nem sempre respondendo
adequadamente às questões do momento ou do local, as atitudes oficiais não
conseguiram ainda dar uma resposta satisfatória para o tratamento da questão.
Entre os problemas enfrentados destaca-se a adoção de conceitos de
preservação que acabaram por fazer surgir um grande vazio conceitual (e por
que não existencial?) entre o exemplar de grande singularidade, merecedor de
um ato administrativo oficial que o eleva à categoria de patrimônio histórico
nacional (ou estadual ou municipal) e à condição de, se os orçamentos públicos
assim comportarem, protegido na sua conservação e manutenção, e os demais,
para os quais não é traçada política pública alguma. Esta arquitetura de
edificações “comuns” muitas vezes é a que mais contribui para a formação de
uma identidade local e, se tratada com a merecida atenção, pode apresentar um
potencial de aproveitamento para a solução de problemas sociais. Algumas
providências nesta direção já começam paulatinamente a serem adotadas por
algumas administrações públicas.
19
Fonte: guiadasemana.com.br
Não seria uma força construtiva da memória o fato de ela poder ser
contestada a partir de novas perspectivas e evidências, ou a partir dos
próprios espaços que ela bloqueou?....o passado rememorado com
vigor pode se transformar em memória mítica. Não está imune à
fossilização, e pode tornar-se uma pedra no caminho das
necessidades do presente, ao invés de uma abertura no continuum da
história.
(HUYSSEN, 2000, p.68)
21
“Quando se pensa em preservar, alguém logo aparece falando em
patrimônio e tombamentos. Também se propagou a crença e que cabia
ao governo resguardar o que valia a pena. Como? Através de
especialistas que teriam o direito de (o poder-saber) de analisar
edifícios e pronunciar veredictos....”
(SANTOS, 1986, p. 60)
22
Há casos onde a decisão técnica de preservar e recuperar determinado
bem arquitetônico é acompanhada da decisão política de alocar recursos
financeiros para a execução da obra. Nas vezes em que o prédio teria, através
de sua recuperação, condições de continuar desempenhando suas funções
originais (casos em que o uso do prédio persiste – igrejas, por exemplo), os
critérios para a intervenção parecem mais claros de serem adotados e
entendidos.
Em outras situações, que tendem a um maior número, a função
desempenhada pela edificação já não tem mais razão de ser, pelo menos
usando as instalações existentes. Nestes casos cabem algumas reflexões
importantes para definição e avaliação do processo: para qual finalidade será
feita a recuperação? Qual o nível de reconstituição a ser adotado? Estes critérios
devem ser idênticos para todos os prédios “tombados”? Qual o nível de
subjetividade a ser aceito na avaliação e aprovação por parte dos órgãos
públicos das propostas de intervenção?
Estas são ainda questões em aberto, para as quais o setor público precisa
posicionar-se a fim de melhor desempenhar suas atribuições relativas à
preservação do patrimônio arquitetônico.
A realização de um levantamento estatístico em nosso país a fim de
quantificar o número de intervenções significativas que recuperaram ou
reciclaram edificações nas últimas décadas certamente chegaria a uma
conclusão que pode ser antecipada: a maior parte dos projetos significativos, no
que diz respeito à qualidade e repercussão sociocultural, foi protagonizada pelo
setor público.
Esta premissa serve como reconhecimento do papel importantíssimo
desempenhado pelos governos federal, estaduais e, em alguns casos, pelas
administrações municipais, como patrocinadores, gestores e autores de obras
de grande relevância, algumas inclusive alvo de análise neste trabalho. Pelas
características peculiares da administração pública brasileira e da sociedade que
a mesma reflete, o Estado tem sido muitas vezes o único a investir recursos em
obras nas quais a geração de renda ou de retorno do investimento não são fatos
23
assegurados. Mudanças neste panorama começaram a ocorrer, ainda que
lentamente, no final da década passada, identificando-se aí claramente o papel
indutor das ações públicas.
Instituições privadas e até mesmo indivíduos passaram a ver no
aproveitamento dos prédios existentes, além de uma alternativa viável para
investimento, uma atitude consciente frente a uma conduta anterior na qual tudo
deveria ser feito a partir do novo. O velho, dito de outra forma, o existente ou o
passado, passa a ser encarado como um valor agregado ao patrimônio
imobiliário, embora apenas em algumas poucas situações possa ser fonte de
algum valor pecuniário. Empresas, notadamente do setor financeiro, começam
a associar sua imagem a iniciativas ligadas à preservação do patrimônio
arquitetônico da mesma forma com que vinham a mais tempo investindo em
eventos da área cultural, numa clara estratégia mercadológica. Exemplos como
o do Banco do Brasil, com o seu centro cultural implantado na cidade do Rio de
Janeiro na década passada e o do Banco Santander, inaugurado no ano de 2001
em Porto Alegre, são uma demonstração inegável da associação entre
instituições financeiras e a área cultural que acabaram se tornando mais visíveis
com a instalação de suas sedes em importantes marcos arquitetônicos das duas
cidades.
A despeito de opiniões que consideram tais atitudes um tanto quanto
oportunistas, não se deve perder de vista o fato de que as instituições culturais
daí surgidas têm via de regra atuação destacada e os projetos de arquitetura
através dos quais foram implantadas têm inegáveis qualidades.
24
Fonte: belgianclub.com.br
25
investimentos privados sejam orientados também no sentido da geração de
benefícios públicos. Programas e iniciativas públicas que contenham estes
requisitos tendem a ser bem-sucedidos na medida em que diversos aspectos da
vida urbana são atendidos: áreas edificadas degradas são recuperadas,
melhora-se a qualidade de vida ao mesmo tempo em que se incentiva o senso
de cidadania e história dentro da comunidade.
O setor público não deve, pois, deixar de exercer seu papel regulador,
estabelecendo normas e procedimentos para a elaboração de projetos e para a
execução de obras. Além disso, em consonância com seu papel de indutor de
comportamentos, deve apoiar e facilitar todas as iniciativas que venham ao
encontro dos objetivos de uma política macro de preservação. Isto significa dizer
que, desde a concepção de políticas de incentivos para o reaproveitamento e
recuperação de edifícios existentes (regimes urbanísticos diferenciados e
incentivos fiscais, por exemplo), orientação e suporte técnico, até a tramitação
administrativa dos processos de licenciamento de obras, deve haver um
tratamento diferenciado9. Na adaptação de um prédio antigo para uma nova
função, muitas vezes é inviável os atendimentos das normas técnicas atuais da
mesma forma como elas são aplicados às construções novas, sob pena de se
incorrer em mutilações inaceitáveis na estrutura original. Por outro lado, o não
atendimento das normas deve também ser evitado, já que não é admissível que,
para um edifício contemporâneo, por exemplo, não se destinem recursos para a
prevenção de incêndios ou sua que as administrações públicas dessem
tratamento distinto a situações de intervenção em prédios existentes de modo a
possibilitar uma análise que comporte as peculiaridades de cada caso.
Muitas vezes a possibilidade de que a tramitação de um processo de
aprovação de projeto pelos órgãos públicos possa estender-se por mais de um
ano afasta o proprietário de um imóvel com potencial para reaproveitamento da
intenção de preservá-lo. Há situações outras em que se percebe o receio dos
proprietários quanto aos custos gerados pelas exigências feitas pelos órgãos de
preservação. Na verdade, esta é uma equação financeira que ainda não foi
solucionada: as exigências (muitas vezes justificadas, outras nem tanto) não são
26
atendidas por falta de recursos do proprietário, o que leva a uma deterioração da
edificação, levando a um aumento do custo necessário para a realização da
obra. Fica quase sempre sem resposta a questão relativa ao ressarcimento do
proprietário frente às exigências dos organismos de proteção do patrimônio
histórico. Há de se buscar mecanismos eficientes para que o proprietário não se
sinta penalizado ou castigado por possuir um imóvel considerado como
patrimônio a ser preservado.
Em contraste com a realidade brasileira, onde a disponibilidade de
recursos financeiros é escassa, há em diversos países desenvolvidos
experiências bem-sucedidas em que os programas oficiais para recuperação de
prédios históricos e áreas urbanas contam com linhas de crédito que viabilizam
as intervenções.
Ressalvados os casos de excepcionalidade, as intervenções em prédios
existentes deveriam ser encaradas pela administração pública de forma mais
pragmática. Isto é, deveriam ser buscadas medidas que tornasse atrativo aos
proprietários dos imóveis considerados como de preservação investir na sua
manutenção e conservação. Não bastam, porém, políticas públicas voltadas
apenas para edificações de caráter ou condição excepcional.
É preciso dar a devida atenção às edificações vernaculares que carecem
de políticas adequadas a sua escala de tamanho, valor e complexidade.
Soluções particulares para cada situação tendem a ser mais bem-sucedidas já
que por sua própria natureza são capazes de atuar em mesmo patamar de
complexidade que o contexto em que se vai atuar. A alteração no gabarito
previsto para o alargamento da Rua Félix da Cunha, no bairro Moinhos de Vento
em Porto Alegre, é um exemplo de caso que recebeu uma solução apropriada
para o local, pois viabilizou a preservação de um conjunto de residências da
primeira metade do século XX, já incorporadas à imagem daquela região da
cidade. Aos poucos estes imóveis, com a alteração do perfil das atividades
existentes da vizinhança, estarão sujeitos a ter sua função residencial substituída
por atividades ligadas ao comércio e prestação de serviços sem que para tanto
tenham que ser demolidos.
27
Fonte: sul21.com.br
28
relativas a custos, demanda, consumo, mercado e retorno de investimentos
financeiros.
Preconceitos à parte, a realização de boa arquitetura não é, e nem deve
ser, incompatível com a produção do aumento da riqueza. Pode, por que não,
sendo um elemento de grande importância na melhoria da qualidade da vida
humana, desempenhar um papel na avaliação econômica de diferentes
produtos, no caso edificações.
O setor privado, na comparação com o setor público, responde mais
rapidamente ao dinamismo das relações presentes na sociedade atual. Esta
capacidade, se bem avaliada, pode ser utilizada para que se encontrem pontos
convergentes entre uma política de preservação de bens arquitetônicos e os
objetivos de todos aqueles que detêm uma capacidade econômica para
investimento.
Não são poucos os exemplos em que a conjunção de esforços de
administrações públicas e grupos de investidores possibilitou a recuperação de
prédios isolados ou conjuntos de edificações, obtendo grande sucesso tanto do
ponto de vista da crítica arquitetônica como daqueles preocupados com o
desempenho dos recursos alocados.
Um caso bastante emblemático, em que fica evidente a conjunção de
esforços entre todos os envolvidos, foi a intervenção no Fanuilhall e no Quincy
Market, antigo mercado da área portuária da cidade de Boston, EUA. A
construção original de 1826, que se encontrava bastante deteriorada, assim
como toda a área ao seu redor, instigou o arquiteto Benjamin Thomson a
desenvolver planos para a recuperação da região. Foram necessários mais de
cinco anos para que Thomson viabilizasse junto ao poder público, ao qual coube
estabelecer as diretrizes urbanísticas, e a uma empresa privada, responsável
pelo aporte financeiro e administrativo, a elaboração de um projeto para
recuperar o antigo mercado. Foram recuperados também de diversos prédios
vizinhos, agregando à antiga função comercial novas ocupações tais como
escritórios, hotéis, centro gastronômico, etc. Os edifícios, propriedades da
municipalidade, foram objeto de um contrato de comodato que possibilitou a
29
exploração comercial pela iniciativa privada mediante o custeio da obra,
realizada entre 1976 e 1978. O projeto optou por valorizar as estruturas originais
às quais foram somados diversos novos elementos, de novas infra-estruturas a
mobiliário urbano, dotados sempre de um desenho contemporâneo. Da
intervenção resultou uma das áreas mais dinâmicas e valorizadas da cidade.
Um outro exemplo da conjunção de esforços entre as políticas públicas e
a iniciativa privada com o intuito de intervir e recuperar edificações ociosas
existentes nos centros urbanos nas cidades brasileiras é o programa PAR
(Programa de Arrendamento Residencial) que vem sendo desenvolvido pela
Caixa Econômica Federal (CEF), desde o ano de 2001. Este programa atua em
áreas inseridas nas regiões metropolitanas e nos centros urbanos de grande
porte, incluindo todas as capitais estaduais, selecionadas em parceria entre a
CEF, o poder público e setores organizados da sociedade civil. De maneira geral
são escolhidos prédios cuja ocupação é deficitária e cujos proprietários não têm
mais condições ou interesse de recuperar. Satisfeitos os requisitos econômicos
exigidos pelo organismo financiador, o edifício é transformado em habitação
coletiva para usuários de menor poder aquisitivo.
Em Porto Alegre, há dois casos já em andamento com resultados
considerados positivos para todos os agentes envolvidos: um edifício na Av.
Borges de Medeiros e outro na Av. Salgado Filho. Em ambos os casos é possível
perceber que as questões econômicas foram as que tiveram peso maior na
tomada das decisões relativas ao empreendimento. Os projetos arquitetônicos
foram bastante limitados pelas diretrizes do PAR no que diz respeito às áreas
(custos) máximas das unidades, especificações de acabamento e prazos de
execução. Todavia, pode-se considerar a situação atual do programa como o
início de um processo com excelentes condições para atrair investimentos para
a recuperação do patrimônio imobiliário depreciado existente nas áreas centrais
das grandes cidades brasileiras através da adoção de novos usos em prédios
existentes. Com certeza, na medida em que o programa for se tornando mais
consistente, é de se esperar que se criem possibilidades para proposições
30
arquitetônicas mais elaboradas, inclusive com espaço para a investigação
projetual acerca do tema.
Fonte: commons.wikimedia.org
31
8.1 Qual a participação da sociedade e da população junto ao conselho
de defesa do patrimônio?
32
8.4 Quem faz parte do conselho?
Onde não houver uma especulação imobiliária muito forte, pode-se tentar
apenas a conscientização da comunidade e dos proprietários de imóveis a serem
preservados. Porém, como tais tratativas são geralmente informais, acabam por
ser frágeis, dependentes de indivíduos e situações, e não de leis.
33
Fonte: catracalivre.com.br
34
sua continuidade comprometida. Não havendo demanda para espaços culturais
equivalente à quantidade de prédios passíveis de serem reaproveitados, é
evidente que novas funções devem e podem ser buscadas para ocupar as
edificações disponíveis.
Uma análise dos prédios disponíveis para reciclagem indica que muitos
têm excelentes condições para abrigar uma variedade bastante grande de
funções, como operações comerciais (ex.: DC Navegantes e Ed. Ely em Porto
Alegre), de serviços (ex.: Ed. Tuiuti, Porto Alegre), turísticas (ex.: Puerto Madero,
Buenos Aires) e até mesmo residenciais.
A atuação conjunta e coordenada dos principais agentes envolvidos no
processo de recuperação do patrimônio arquitetônico e no planejamento global
das cidades teria com certeza amplas possibilidades de sucesso na manutenção
do patrimônio construído pelas gerações passadas.
Ampliar o leque das possibilidades (e a permissividade) para intervenções
é, sem sombra de dúvidas, um caminho na busca de soluções para muitas das
questões que envolvem o aproveitamento do patrimônio edificado de áreas
urbanas sobre as quais cai a pecha de deterioradas. Sem entrar aqui na
avaliação das qualidades dos projetos, exemplos de intervenções que
cumpriram tal papel não faltam: áreas portuárias desativadas e defasadas
puderam ser reintegradas ao contexto urbano, gerando renda e resgatando
valores culturais; prédios de indústrias desativadas foram revertidos em
conjuntos habitacionais, áreas degradadas por extração mineral tornaram-se
espaços de lazer e cultura (Ópera de Arame, em Curitiba).
Com estas condutas mais recentes, o axioma do movimento moderno de
que a forma segue sempre a função passa a ser colocado sob questionamento.
Instalações industriais obsoletas passam a ser adaptadas para os mais diversos
usos. A fábrica da Fiat em Lingotto, Itália, construída entre 1917 e 1920 15 e que
acabou se tornando um ícone do modernismo industrial, foi transformada em um
complexo de múltiplo uso pelo arquiteto Renzo Piano, e é hoje utilizada como
centro de eventos e comércio, hotel e escritórios.
35
Fonte: br.pinterest.com
36
automobilísitica, Lingotto deveria caminhar na direção de tornar-se um centro
de feiras de tecnologia e comércio, de negócios e serviços, com condições de
continuar a projetar o nome da cidade.
Tornou-se fato corriqueiro nas áreas metropolitanas brasileiras a
conversão de construções originalmente destinadas ao uso residencial em sedes
de empresas comerciais ou de serviços. Esta prática, cada vez mais freqüente,
apesar de acarretar alteração no perfil de bairros e regiões inteiras, de certa
maneira contribuiu para a preservação de inúmeras edificações.
Diversos exemplos poderiam ser invocados para ilustrar as possibilidades
da adaptação de edificações a novas utilizações. Quase todos colaborariam para
evidenciar a não existência de grandes limitações arquitetônicas ou conceituais
que restrinjam ou eliminem a possibilidade para um reaproveitamento. Os
resultados obtidos, ao contrário, demonstraram ser bastante positivos, sob todos
aspectos.
A idéia de intervenção ou reutilização implica alteração do estado do
objeto. Admite-se apenas em poucas situações excepcionais a intervenção
como uma atitude que vise apenas reconstituir ou deixar intacto o edifício. Neste
caso pressupõe-se que critérios bastante claros e de amplo conhecimento
tenham sido utilizados para a tomada da decisão e que meios para prover a
manutenção após a realização do investimento tenham sido previstos.
Na grande maioria das situações a intervenção acabará por provocar uma
alteração no rumo da utilização da estrutura física que passa a ser o alvo de um
novo projeto arquitetônico. Um redirecionamento da função original, por vezes já
obsoleta, freqüentemente possibilitado apenas por uma adequação das infra-
estruturas, já é capaz de fornecer condições de preservação a muitas
edificações. É o caso da adaptação de uma residência para utilização como
escritório, duas tipologias, a princípio, bastante compatíveis.
Não seria demais reafirmar que os limites recomendáveis para uma
intervenção devam evitar regras gerais, buscando sempre que possíveis
proposições válidas para o âmbito do contexto com o qual se está trabalhando.
Diante de uma situação concreta, deve-se procurar analisar as demandas
37
apresentadas pela função proposta e sua capacidade de adaptação à estrutura
física existente. Desta forma é possível avaliar o que será necessário para que
o desenho arquitetônico proposto seja bem sucedido.
É preciso que se estabeleça uma interação entre a função a ser
implantada na preexistência, sua situação física e o entorno. No caso de um bem
de reconhecido valor histórico ou cultural é interessante que se procure
dimensionar a repercussão que o mesmo exerce sobre o seu entorno e a que
influências está submetido. O processo de elaboração do projeto que busque
preservar uma edificação mediante sua reciclagem começará então a se
configurar, mediante algumas características metodológicas específicas.
O objeto já construído, a preexistência e o contexto, condicionam
decisivamente a maneira como o arquiteto vai interpretar o programa de
necessidades. Diferentemente de um projeto concebido sobre um terreno vazio,
a condição atual de um objeto arquitetônico é decisiva e provocará, para que se
tenha de fato uma intervenção contemporânea, uma renúncia mútua de
exigências entre o programa a ser atendido e os elementos já construídos. A
partir desta tomada de consciência é que as proposições que buscarão adequa
da forma (existente) e função (nova) serão estabelecida havendo
sempre diferentes níveis de predominância de uma ou outra.
A maior relevância histórica da edificação pode levar a um procedimento
em que a manutenção da forma seja preponderante na consideração do
programa de necessidades. Entretanto, tal fato já deveria ter sido alvo de
reflexão quando da decisão de aportar uma nova finalidade à edificação.
Também deve ser levada em consideração nestes casos a possibilidade de que
a intervenção ora implementada seja apenas uma dentre várias das quais o
prédio pode ser alvo ao longo de sua existência. Sendo assim, é recomendável
que se possa fazer uma leitura inconfundível das intervenções realizadas,
demonstrando claramente o que de novo foi introduzido e se possível até o que
foi suprimido. Além de reforçar a questão da contemporaneidade da intervenção,
esta conduta propicia procedimentos no sentido de reverter eventuais atitudes
tidas como equivocadas. O maior grau de intervenção, ou sua visibilidade, será
38
sempre função da relação existente entre a nova finalidade e a tipologia
existente, ou ainda, na maior ou menor necessidade de se propor alterações que
façam frente a carências técnicas ou funcionais.
Fonte: pinterest.pt
39
Segundo as necessidades de adaptação e a interpretação de cada
arquiteto, as intervenções podem ter naturezas distintas quando da implantação
de uma nova função em uma preexistência.
Em situações em que a área existente não é suficiente para atender o
novo programa podem ser realizadas adições ou acréscimos. Por vezes, mesmo
com a manutenção da função, um aumento de área se faz necessário, passando
a coexistirem partes antigas e novas dentro de uma mesma composição
arquitetônica. Ocorrem também intervenções em que os autores propõem a
retirada de alguma parte da construção, frequentemente fruto de intervenções
anteriores. A supressão é realizada quando é constatada uma inadequação
formal ou funcional, ou porque foi feita a opção de consolidar determinado
período da vida da edificação. A decisão de suprimir parte do edifício deve ser
sempre baseada em uma interpretação do projetista calcada em levantamentos
históricos e na situação proposta para a intervenção presente. A intervenção
realizada no Mercado Público de Porto Alegre ficou marcada pela adição da nova
cobertura do pátio central e pela remoção de diversas construções que
desfiguravam a espacialidade interior do edifício.
Em muitas intervenções, a edificação a passa por uma completa alteração
no seu interior, sendo mantida apenas a(s) fachada(s). Várias razões podem
levar a isto, desde a completa destruição do interior pela ação do tempo ou algum
sinistro, até por questões econômicas relativas a uma eventual recuperação do
existente. Nestes casos, a manutenção do invólucro externo está relacionada
com a presença marcante e prestígio que a edificação apresenta em seu
contexto e com o papel de articulação com o espaço público que geralmente
estas exercem. Situações como esta reservam ao arquiteto a possibilidade para
a elaboração de um projeto um pouco mais livre já que as vinculações com o
existente limitam-se quase que exclusivamente a vãos de fachadas, alturas de
pavimentos e acessos. Muitos arquitetos tratam intervenções como esta como
se estivessem literalmente a frente de um projeto daquilo que se convencionou
chamar de arquitetura de interiores. Como na ambientação de uma loja de um
shopping-center, por exemplo, o espaço interno não apresenta nenhuma ou
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escassa vinculação com o exterior, havendo, por outro lado, a possibilidade de
implantação de um gama variada de programas funcionais. O grande
beneficiário de uma intervenção deste tipo tende a ser o ambiente urbano, uma
vez que, via de regra, as escalas e referenciais públicos acabam por ser
mantidos, sendo a única ressalva a observação de que condutas desta natureza
não sejam plenas de atributos no sentido da preservação do objeto arquitetônico
em si. Francisco de Gracia, na análise que propõe a reflexão sobre a forma como
imagem e como estrutura, observa a respeito da situação:
11 O QUE É CONSERVAÇÃO?
Fonte: unesco.org
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a identificar e proteger seu patrimônio, esteja ou não incluído na Lista do
Patrimônio Mundial.
Fonte: jornalggn.com.br
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A noção de preservar tem que ver com uma atitude de prevenção, é algo
que se estende a modos que implicam uma conscientização que pode ser de um
grupo, uma pessoa ou uma instituição. O tombamento é uma medida, um ato
legal, no sentido de fazer com que a preservação se dê. Em geral é a primeira
de uma série de ações. Nesse sentido, e com esta perspectiva, a Preservação é
algo muito mais abrangente, e é bom que se diga, que nada tem a ver com uma
museificação do lugar. Ao contrário, boas ações de preservação inserem a
população local e dão um sentido de apropriação e uso do espaço. O objetivo da
Preservação longe de transformar-se em um empecilho é, antes de tudo, garantir
às gerações futuras um passado, que é composto multifacetadamente, por
aspectos que tomam toda a sua cultura de modo que seja um Patrimônio.
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Em relação à políticas de preservação e tombamento, há de fato muitos
interesses e desinteresses.
De um lado, por responsabilidade do estado, há uma imposição que deixa
o proprietário sem recursos financeiros e numa situação difícil, com imóvel sem
cuidado e muitas vezes impossibilitado de ser ocupado quer comercialmente,
quer residencialmente. É um ônus sem qualquer bônus ou incentivo.
De outro lado, há a total desinformação por parte de proprietários e até de
comunidades inteiras em relação ao patrimônio cultural e material que muitas
dessas edificações possuem. É um problema de educação cultural e até de
empreendimento. Se orientados, vários projetos assim podem reverter para
proprietários e em muitos casos para comunidades inteiras.
O caminho, considero longo, mas não impossível de ser seguido.
Cada vez mais nossas cidades estarão envelhecendo e se não
entendermos que o novo e o velho podem conviver sem um suplantar o outro
não teremos futuro e nem passado!
De concreto, e sei que é algo que nenhum de nós quer ou precisa: é de
uma cidade museificada.
Por outro lado, aspectos que têm a ver com o DNA da cidade precisam, e
devem ser mantidos para que sua identidade se mantenha. Talvez esse seja o
grande desafio e em nome do que áreas interdisciplinares devam colocar a sua
criatividade e inventividade.
Um pressuposto que era próprio do século XIX, e do qual Paris foi a
cobaia, foram as políticas de Houssman, onde acreditava-se que de tão ruim
tudo deveria vir abaixo! Munidos de pólvoras e homens com suas ferramentas,
a cidade ruiu. Em seu rastro várias outras cidades seguiram o mesmo caminho
dentre os quais estão Buenos Aires, Rio de Janeiro do Prefeito Pereira Passos
e Nova York.
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Fonte: 3.bp.blogspot.com
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o que não tem valor monetário é outro dos problemas, em especial quando o
patrimônio arquitetônico, está tendo outro valor de uso, ocupação e transito
social (caso específico do comércio da Santa Ifigênia e da área de venda e
consumo de craque). A decadência social em geral acompanha a dos espaços
arquitetônicos e em geral de outras praças e ajuntamentos.
De fato, projetos chamados de preservação, mas que engessam e de
certa forma descaracterizam e museificam espaços não fazem sentido à
preservação como um todo e a cidade especificamente. Exatamente por ela
conter fortes elementos vivos e de interatividade.
São muitos os critérios e variáveis essenciais para estudos de viabilidade
neste sentido, que devem ser feitos de forma prévia e nunca imediatista.
14 O ARQUITETO
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experiência demonstra que as intervenções tendem a ser mais bem-sucedidas
quando o agente protagonista das transformações se coloca com uma postura
contemporânea, como no dizer de GADAMER, apud de Gracia (1992, p. 180):
“...o restaurador ou o conservador de um monumento seguem sendo artistas de
seu tempo.”
ROSSI, apud de Gracia (1992, p.134), enfoca a questão sob outro ângulo:
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funciona a estrutura, quais são os materiais e técnicas empregados, reconhecer
o partido geral da obra e as demandas às quais respondia, como são as
instalações e quais delas ainda cumprem sua finalidade, quais eram os usos
originais e como se modificaram ao longo de sua vida, além da manutenção que
tem sofrido.
Pode-se contrapor à recomendação de Viñuales de se contar com
especialistas nas intervenções em monumentos de caráter excepcionais com
exemplos onde a competência do arquiteto ao desenvolver o projeto superou
eventuais deficiências de especialização. A intervenção de I.M. Pei no Museu do
Louvre, por exemplo, reflete uma situação desta natureza quando a inserção do
novo se deu de uma maneira tal que todas as "camadas" de construção que
constituem o conjunto arquitetônico, inclusive a contemporânea, tiveram
tratamento condizente sem que houvesse para tanto a necessidade de
especialistas em restauração, ao menos no que diz respeito à composição
arquitetônica.
A consideração de todo este panorama ajudará o arquiteto na definição
de quais aspectos podem ser retomados e revalorizados e quais devem ser
renovados, sendo que a recuperação deste patrimônio não só deve atender ao
aspecto construtivo, mas também ao funcional e a outros aspectos que permitam
ao edifício ter dali em diante uma vida útil e sustentável.
Fonte: dicasparis.com.br
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A questão das intervenções no ambiente construído, observada sob o
enfoque do mercado de trabalho do arquiteto, somente vem sendo tratada com
maior atenção mais recentemente. São evidentes e facilmente percebidos sinais
de que há uma solicitação maior da sociedade pela participação dos arquitetos
em projetos que envolvem intervenções cuja repercussão econômica começa a
assumir algum destaque.
As questões econômicas envolvidas no reaproveitamento de prédios
existentes, na verdade custos e investimentos necessários, ainda carecem de
estudos mais aprofundados. As características específicas que carregam cada
projeto e situação dificultam o estabelecimento de um perfil único para este tipo
de obras. Apesar disto, há autores e analistas que falam de números que, pelo
menos em um aspecto, são coincidentes: ano após ano crescem os valores
investidos no mercado de recuperação de prédios existentes. Charles K. Hoyt,
analista americano, citando uma consultoria financeira, fala de um crescimento
de US$ 23,1 bilhões em 1993 para US$ 31,1 bilhões em 1998, considerando-se
apenas obras cujo valor superou a soma de US$ 1 milhão. Ainda em relação à
situação americana, o Instituto Americano de Arquitetos (AIA) estimou que no
ano de 2000 os valores investidos em obras de recuperação se igualaram aos
destinados a obras novas.
Para a nossa realidade os números são ainda desconhecidos. Há
apenas algumas posições como a de Nestor Goulart Reis Filho, que, defendendo
a reciclagem de edifícios, afirma que, além do benefício evidente da preservação
do patrimônio arquitetônico, esta prática representaria apenas 30% do custo
necessário para a execução de um novo, fato que poderia servir como um
atrativo para empreendedores do ramo imobiliário, na medida em que as
margens de lucro poderiam ser, neste caso, maiores. Os exemplos já citados
de edifícios recuperados com recursos do Programa de Arrendamento
Residencial da Caixa Econômica Federal, assim como outros que com certeza
virão, ao lado daqueles cujos proprietários apresentam condições próprias para
investir, são prova de que a preservação pode, sim, ser economicamente
viabilizada.
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14.1 O arquiteto e a preservação do patrimônio histórico
Fonte: caubr.gov.br
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São Benedito de Cuiabá; o conjunto Arquitetônico, Urbanístico e Paisagístico de
Cuiabá; a Igreja do Senhor dos Passos; o Museu do Rio Cuiabá; o Palácio da
instrução; o Museu Rondon, entre outros.
Para a preservação desses acervos, a participação dos arquitetos e
urbanistas é fundamental, particularmente quanto aos ambientes construídos ou
bens edificados (edificações e espaços urbanos). A graduação em arquitetura e
urbanismo confere a capacitação técnica, teórica e prática, para atuação no
campo dos recursos culturais, relativo aos bens edificados, monumentos,
conjuntos urbanos e cidades históricas. Ressalta-se a atuação no campo do
patrimônio histórico e cultural é de interesse público em razão destes campos
serem compostos de bens a serem usados pela coletividade.
A importância da designação de arquitetos e urbanistas no campo dos
acervos construídos é reconhecida por organizações internacionais relativas ao
tema. Historicamente os arquitetos e urbanistas desempenharam papel
determinante na conceituação do campo do patrimônio histórico e cultural e no
desenvolvimento de metodologias e técnicas de preservação. Assim como na
estruturação das organizações do poder público e da sociedade civil dedicadas
a proteger e promover os bens históricos, assegurando sua permanência e
usufruto para as gerações presentes e futuras.
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15 BIBLIOGRAFIA
SILVA, José Tadeu. Patrimônio Histórico: como e por que preservar. Grupo
de Trabalho Patrimônio Histórico e Arquitetônico – 2008.
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O Patrimônio: legado do passado ao futuro. Disponível em <
http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/heritage-legacy-
from-past-to-the-future/>. Acessado em: 17/05/2018.
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