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APRENDENDO E ENSINANDO A desenvolvimento integral das famílias, levando

PRÁTICA DE EXTENSÃO RURAL NO em consideração todas as esferas da vida.

ASSENTAMENTO VILA RURAL II EM


PALAVRAS-CHAVE: Extensão Universitária,
ALTA FLORESTA - MT Intervenção, Agronomia, Acadêmicos

Luiz Fernando Caldeira Ribeiro1 INTRODUÇÃO


Jôcelli Nattane S. Rosalino2 A lógica produtivista tem regido o
Mauricio Arruda2; Duilhio da Silva Loures 2
mundo contemporâneo baseado em um modelo
João Paulo Da Silva2; Pedro Julio Pelegrini2 de desenvolvimento com ênfase nos seus
Eduardo Teixeira Maia3 aspectos econômicos, o que o torna
Soraia Olivastro Teixeira2 eminentemente excludente. Este modelo marca
Vanessa Bezerra Dos Santos2 sua influência em todas as formas de vida social
e também nos processos de educação formal ou
RESUMO: Há um evidente descompasso entre a não.
formação dos profissionais das ciências agrárias e No caso do ensino superior brasileiro,
a realidade do meio rural, onde os assentamentos predomina a formação de profissionais voltados
são unidades produtivas de agricultores para o mundo do trabalho com uma perspectiva
familiares complexas e que demandam atenção limitada de desenvolvimento. Nas Ciências
em diversas dimensões, além da produtiva. A Agrárias, especificamente, observa-se uma
metodologia deste trabalho foi baseada na dificuldade das universidades brasileiras lidarem,
pedagogia progressista libertadora, que visa levar nos processos de formação profissional, com
educadores e educandos a atingir um nível de outro tipo de educação, voltada para um
consciência da realidade em que vivem na busca desenvolvimento integral, que consiste na
de transformação. Foram levantados os saberes formação de um profissional que pense na
locais sobre produção, os gargalos que afetam a mudança da sociedade em todos os seus
produção e métodos de intervenção para a aspectos, sendo eles sociais, econômicos,
melhoria dos saberes empíricos para a políticos, culturais e ambientais. Entretanto, o
preparação de oficinas, atividades práticas e de que se assiste hoje é a formação de profissionais
material de apoio pelos acadêmicos. Apesar das em Ciências Agrárias para o atendimento de
diferenças dos resultados obtidos, o demandas do mercado de trabalho que, por sua
assentamento não difere da realidade dos vez, são dirigidas para a grande produção
assentamentos localizados em todo o Brasil. A agrícola.
reforma agrária deve ser considerada uma vitória O papel formador das Universidades de
pelas famílias assentadas que, além da luta pela Agronomia encontra-se mais direcionado para
terra, deve proporcionar uma melhoria no atender a lógica produtiva de uma agricultura

1
Docente – Coordenador da Ação - Universidade do 2
Discente – Universidade do Estado de Mato Grosso –
Estado de Mato Grosso – Campus de Alta Floresta. Campus de Alta Floresta.

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monocultora e convencional, ficando reprimidas Portanto, a extensão rural tem
as demandas sociais voltadas para a agricultura como objetivo auxiliar no desenvolvimento social
familiar. Por outro lado, um trabalho de formação comunitário, econômico-financeiro, promovendo
que se afaste dessa perspectiva produtivista deve a educação rural; o diagnóstico participativo
ser pensado de forma a não estar dissociado da como processo de obtenção, sistematização e
realidade, no caso, do meio rural brasileiro. Isto análise de informações; a articulação da pesquisa
significa pensar em um novo perfil de profissional e extensão, entre outros, consequentemente tem
consciente de sua responsabilidade social e de o intuito de melhorar a qualidade de vida da
seu papel transformador da realidade. população rural (FREIRE, 2002).
A assistência técnica e a extensão rural O objetivo deste projeto residiu na
têm importância fundamental no processo de busca do fortalecimento do ensino de extensão
comunicação de novas tecnologias, geradas pela rural, baseado nos princípios da Política Nacional
pesquisa, e de conhecimentos variados, de Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER
essenciais ao desenvolvimento rural no sentido –, através da intervenção em áreas do
amplo e, especificamente, ao desenvolvimento assentamento rural Vila Rural II e do intercâmbio
das atividades agropecuária, florestal e pesqueira de professores, extensionistas, estudantes e
(PEIXOTO, 2008). agricultores, visando ao levantamento das
Em um sentido amplo, a extensão dificuldades encontradas no meio rural e na
rural pode ser entendida como um processo propriedade, expondo ideias e recomendações
educativo de comunicação de conhecimentos de para auxiliar nas atividades executadas pelos
qualquer natureza, sejam conhecimentos proprietários e a troca de saberes.
técnicos ou não. Neste caso, a extensão rural
difere conceitualmente da assistência técnica pelo METODOLOGIA
fato de que esta não tem, necessariamente, um A comunidade Vila Rural II é um
caráter educativo, pois visa somente resolver assentamento do Instituto de Terras do Mato
problemas específicos, pontuais, sem capacitar o Grosso (INTERMAT), composto de 33 famílias,
produtor rural (DIAS, 2008). com uma área de 49,9497 hectares sendo a
De acordo com Peixoto (2008), os maioria dos proprietários vive de rendimentos da
métodos pedagógicos utilizados pela extensão aposentaria. A implantação de vilas rurais busca
são: individuas (visita técnica, contato pessoal); levar dignidade a trabalhadores que, devido ao
grupais (reunião com palestras ou encontros, êxodo rural, estão hoje desempregados na
demonstrações práticas e resultados, curso, dia cidade.
de campo) e massa (exposição ou feira, O Projeto visa atender,
campanha). Porém, os métodos de extensão não prioritariamente, famílias cujos pais possuam
devem ser confundidos com os meios ou veículos acima de 45 anos, desempregados, que não
de comunicação utilizados no trabalho tenham imóvel na cidade e que demonstrem
extensionista, que são: cartas circulares, aptidão para a lida com a terra. As áreas
cartazes, folders, rádio, folhetos, revistas, destinadas à criação de vilas rurais estão
jornais, televisão, entre outros. localizadas nos entornos dos centros urbanos e

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são adquiridas pelo Governo do Estado ou em entrevistas a representantes institucionais e de
parceria com os municípios contemplados. Os associações presentes no assentamento com o
lotes de 1,2 a 2,5 hectares (1) são destinados, objetivo de conceituar a problemática a partir dos
preferencialmente, para homens e mulheres com objetivos traçados, contextualizar e contrastar o
mais de 45 anos que, depois de selecionados, conhecimento que se produza ao longo do
cadastrados e registrados no Sistema de processo com informações e dados pré-
Informações de Projetos de Reforma Agrária existentes.
(Sipra/Incra), tornam-se habilitados à concessão Para cada propriedade foram realizadas
de créditos destinados à agricultura familiar e à três visitas, com o intuito de descobrir suas
reforma agrária. dificuldades e o que poderia ser feito para
A metodologia deste projeto foi baseada melhorar a vida das pessoas do assentamento. As
na tendência pedagógica progressista libertadora, visitas foram realizadas de maneira parcelada, ou
que visa levar educadores e educandos a atingir seja, a primeira visita foi efetuada no dia
um nível de consciência da realidade em que 25/08/12, a segunda visita dia 13/09/12, a
vivem na busca de transformação. Os conteúdos terceira visita dia 27/10/12 e a quarta visita dia
foram trabalhados através de grupos de 17/11/12.
discussão em que prevaleceu o diálogo e a Nas duas primeiras visitas foi realizado
participação, fortalecendo as relações o levantamento das informações pessoais e as
estabelecidas de forma horizontal, de iguais para atividades realizadas pelos produtores rurais, os
iguais, buscando resolução de determinadas objetivos e as dificuldades. A terceira teve como
situações pelo grupo envolvido. O trabalho partiu objetivo discutir com os proprietários sobre os
do conhecimento pré-existente dos participantes problemas que se encontravam nas propriedades
envolvidos, não tendo como pretensão a e as possíveis ideias para minimizar ou eliminar
introdução de “pacotes” prontos, que não esses problemas que causavam prejuízos ou até
valorizam o conhecimento, o desenvolvimento mesmo eram barreiras para o desenvolvimento
participativo e contextualizado da problemática das atividades agropecuárias. A quarta visita teve
da comunidade. como intuito expor as ideias e recomendações
O método utilizado é construído na ideia sobre os problemas mencionados pelos
de diálogo entre educador e educando, onde há produtores, sendo que as mesmas foram
sempre partes de cada um no outro, pois se expostas através de meios utilizados pela
entende que a educação deve ser um ato coletivo extensão rural, como: slides, folhetos, imagens,
e solidário. Foram adotados como estratégias resultados de pesquisas e monografias efetuadas
para esse processo de educação a participação, o nas dependências da Universidade do Estado de
diálogo e a conscientização. Visitas em nove Mato Grosso.
propriedades do assentamento foram realizadas
com o intuito de esclarecimento do que se RESULTADOS E DISCUSSÕES
pretendia desempenhar no local, além da busca O questionário utilizado para a
por uma primeira aproximação com a realização do diagnóstico agrícola foi o adaptado
problemática. Para tanto foram efetuadas por Rocha (1997), que consiste na metodologia

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de levantar e analisar, em nível de identificação os problemas da propriedade, pois a proposta de
familiar, a situação social, econômica e educação que permeou este trabalho teve como
tecnológica. A abordagem aos produtores foi suporte teórico a educação libertadora, de
realizada na forma de entrevista, contendo construção coletiva do conhecimento entre
perguntas em relação à produção atual, professores, estudantes universitários e
dificuldades encontradas e necessidade de assentados envolvidos, pois sabe-se que ensinar
informações técnicas para a melhoria de não é transferir conhecimento, nem a formação é
produção e na qualidade de vida. a ação pela qual um sujeito criador dá forma,
Os indicadores de produção estilo ou alma a um corpo indeciso ou
representam uma produção diversificada, típica acomodado. As pessoas, mesmo diferentes em
de propriedades de agricultura familiar. A relação ao outro, devem ter claro que quem
ocorrência nas propriedades visitadas de acredita formar se forma e re-forma ao formar;
produtos produzidos foram: mandioca com quem é formado forma-se e forma ao ser formado
10,64%, abacaxi com 8,51%, com 6,38% a (Freire, 1998). A educação libertadora se dá
cultura de banana e a criação de galinhas enquanto processo em um contexto que deve ser
caipiras, com 4,26% as culturas de amendoim, levado em consideração. O objetivo dessa
café, castanha do Brasil, laranja, limão, manga, concepção foi provocar e criar condições para que
melancia, quiabo e a criação de porcos e com se desenvolva uma atitude de reflexão crítica,
2,13% o cultivo de cana-de-açúcar, cebolinha, comprometida com a ação. O homem é
acerola, caju, couve, cupuaçu, feijão, mamão, considerado sujeito da educação, pois não
maracujá, pepino, salsinha e a criação de frangos. existem homens concretos, senão homens
Das nove propriedades visitadas, apenas duas situados no tempo e no espaço, devendo-se levar
não produziam nenhum produto agrícola, sendo em conta tanto a vocação ontológica do homem
utilizada somente para a moradia. (de ser sujeito) quanto às condições em que ele
As principais dificuldades mencionadas vive (o contexto).
pelos proprietários que dificultam a produção Após as atividades de campo foi
agrícola foram: falta de água na estação seca e realizada uma discussão com os acadêmicos em
do auxilio da assistência técnica pública com sala de aula, onde houve um consenso para a
100% dos produtores entrevistados e com 30% quebra de um paradigma, pois todos entendiam
das reclamações foram listadas a comercialização que as atividades de um extensionista rural não é
dos produtos; dificuldade no transporte do apenas transmitir o conhecimento técnico da
produto até o consumidor e as condições das Universidade para o campo, mas que a extensão
estradas no período da chuva. rural é uma atividade mais complexa de ser
Os acadêmicos envolvidos do projeto entendida, os trabalhos de campo realizados no
realizaram palestras sobre os temas com a assentamento rural causam uma sensibilidade no
comunidade e entregaram boletins e modo de se comunicar com as pessoas, havendo
recomendações técnicas individuais para os um maior entendimento da realidade que se vive
produtores visitados. Foram apresentados para hoje nos assentamentos rurais. Todos
todos os problemas vários sugestões para sanar concordaram que as atividades desenvolvidas

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contribuíram significativamente para a formação Este trabalho não se constituiu em
pessoal e, sobretudo profissional, capacitando-os tarefa simples, pois utilizou uma perspectiva
para o mercado de trabalho. Destacaram que transdisciplinar. A assistência técnica e a
aprenderam mais do que ensinaram e que extensão rural têm importância fundamental no
desenvolveram a habilidade de escutar a opinião processo de comunicação de novas tecnologias,
e respeitar os saberes locais. De um modo geral, geradas pela pesquisa, e de conhecimentos
se faz assistência técnica sem extensão rural, variados, essenciais ao desenvolvimento rural no
mas não se faz extensão rural sem assistência sentido amplo e, especificamente, ao
técnica. desenvolvimento das atividades agropecuária,
florestal e pesqueira (PEIXOTO, 2008).
CONCLUSÕES
A ausência da assistência técnica e de REFERÊNCIAS
trabalhos organizados pela prefeitura faz com que
os proprietários desacreditem na realização de DIAS, M. M. Políticas públicas de extensão rural e
inovações conceituais: limites e potencialidades.
projeto e cursos, devido à falta de
Revista Perspectivas em Políticas Públicas,
comprometimento dos órgãos e profissionais e Belo Horizonte, v.1, n.1, 2008.
devido à dificuldade de ingressar nos trabalhos
FREIRE, P. Extensão ou comunicação. São
desenvolvidos por esses órgãos de extensão. Paulo: Paz e Terra, 2002.
Portanto, para os proprietários a realização de
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes
curso e projetos não é necessária no momento, necessários à prática educativa. Ed. Paz e Terra,
São Paulo, 1998.
pois os mesmos buscam os conhecimentos
quando ocorrem problemas na sua propriedade. PEIXOTO, M. Extensão rural no Brasil: uma
abordagem histórica da legislação. Brasília: Lília
No entanto, todos consideram a “ajuda” dos
Alcântara, 2008.
órgãos de extensão necessária e de fundamental
importância, pois passam as informações
adequadas e que se enquadram na realidade
desses proprietários.
A atividade extensionista é fundamental
para proprocionar o melhor desenvolvimento das
atividades exercidas nas propriedades,
consequentemente, melhora as condições de vida
dos proprietários. Portanto, a extensão garante a
passagem de informações, técnicas e métodos
viáveis e de qualidade para proporcionar o
incremento na produção, porém, esse auxílio não
deve ser momentâneo, ou seja, deve possuir o
caráter educativo, e não visar somente resolver
problemas específicos, pontuais, sem capacitar o
produtor rural.

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