Garcia Daniel TCC
Garcia Daniel TCC
Garcia Daniel TCC
São Carlos
2019
Daniel de Senne Garcia
São Carlos
2019
AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E
PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
FOLHA DE AVALIAÇÃO OU APROVAÇÃO
Resumo
This course completion work aims to elucidate and clarify the current and future situation of
tidal power generation, as well as its operating principle, technological aspects and
environmental impacts. The importance of this study is due to the constant increase in world
energy demand concomitantly with the great concern about the sustainability and scarcity of
resources for fossil fuel production. In this way, because it is a form of renewable and
abundant energy in the entire planet, the energy coming from the oceans is of great interest of
research in the contemporaneity. As a final result of the work, a model of a tidal power plant
was obtained and an example of its electro-energetic calculation was presented, as well as the
description of its operation in order to contribute with the technological developments around
this one study area. The history of tidal power generation in Brazil and in the world was also
studied, and a bibliographic review and a detailed theoretical foundation on the subject were
carried out. In addition, the main types of energy converters from the tides were verified, and,
thus, the operation of a tidal power plant was analyzed.
Figura 7 - Variação da amplitude de maré ao longo do rio Severn, Reino Unido ................... 30
Figura 18 - Ferramenta criada no Excel para estimação do potencial de uma maremotriz ...... 47
LISTA DE TABELAS
m – massa
g – aceleração da gravidade
h – altura
𝑣 – velocidade
𝑉 – volume
𝜌 – massa específica
Q – vazão
𝐸 – energia
𝐴 – área
𝑇 – ciclo de maré
SUMÁRIO
Resumo ....................................................................................................................................... 8
Abstract ..................................................................................................................................... 10
1 Introdução .............................................................................................................................. 18
2 Histórico ................................................................................................................................ 22
7 Conclusões ............................................................................................................................. 49
1 Introdução
Mesmo assim, seu estudo é de grande relevância, pois o potencial é elevado e trata-se de uma
fonte de energia limpa e renovável. Além disso, a proximidade dos possíveis locais de
geração (costa) com os grandes centros urbanos e aglomerações populacionais desoneram os
custos em relação à transmissão (EPE, 2016), devendo ser, portanto, um bom motivo de
estudo e desenvolvimento.
De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil ainda possui um
milhão de residências sem luz. E esse número chega próximo a um bilhão de pessoas no
mundo todo, pelo levantamento da Agência Internacional de Energia.
Dessa forma, a energia advinda das marés é uma energia relativamente bem distribuída por
todo o planeta, com uma ampla distribuição geográfica, podendo ser aproveitada
mundialmente para aumentar a oferta de eletricidade limpa e contribuir para uma
universalização do serviço de energia.
Este trabalho foi divido em capítulos que buscam apresentar o conteúdo de forma a atingir o
objetivo de estudar a situação atual e futura da geração maremotriz de energia elétrica, bem
como seu princípio de funcionamento, aspectos tecnológicos e impactos ambientais. No
Capítulo 2, faz-se um estudo acerca do histórico e panorama atual do aproveitamento da
energia maremotriz no mundo. Realiza-se uma análise desde o início da exploração da energia
20
das marés com a introdução de moinhos na época do imperialismo romano, até a construção
de grandes plantas de usinas para geração de eletricidade.
2 Histórico
Porém, somente agora na contemporaneidade que se iniciou o aproveitamento das marés para
a geração de energia elétrica de fato, constituindo-se, portanto, de uma fonte relativamente
recente e inovadora.
Após o sucesso da usina de La Rance, na França, foi iniciado um estudo pela Eletrobrás para
estimar o potencial maremotriz brasileiro, identificando regiões propícias para o
aproveitamento dessa matriz energética, ou seja, com elevadas amplitudes de maré e
topografia adequada para a realização das obras de engenharia necessárias (LIMA, Shigeaki
Leite. 2005).
Segundo Tolmasquim: “A extensa costa brasileira e as vastas áreas de mar territorial são
condições naturais para o aproveitamento energético dos recursos do mar.” (EPE, 2016,
p.416). O Brasil é um país favorecido com uma enorme faixa costeira com boas condições de
marés, principalmente na região Nordeste, causadas pelos ventos alísios, que garantem
ondulações constantes durante todo o ano. Este fator torna a energia maremotriz uma opção
de fato realmente atraente, pois garantiria um fornecimento considerável de energia para o
país.
3 Princípio de Funcionamento
Pode-se considerar que, de certa maneira, a energia proveniente das marés é uma forma de
energia solar. As ondas do mar são formadas devido à incidência de ventos ao longo da
superfície do oceano, que por sua vez são consequência da diferença de temperatura de
massas de ar, portanto considera-se que a energia maremotriz advém da energia solar, assim
como muitas outras fontes energéticas.
A energia contida nas ondas é, assim, uma forma de energia solar, porém mais
concentrada. O fator de acumulação de energia solar na formação dos ventos é de 2
a 6 vezes, enquanto o fator de acumulação da energia eólica em energia de onda é de
aproximadamente 5 vezes. Portanto, a energia das ondas é de 10 a 30 vezes mais
densa que a solar (TOLMASQUIM, 2003). Isto implica em que, para um mesmo
potencial energético, são requeridas menores áreas para a conversão da energia das
ondas em eletricidade, inversamente àquelas necessárias aos aproveitamentos das
energias solar e eólica (COPPE/UFRJ; SEAHORSE WAVE ENERGY, 2013).
(EPE, 2016, p. 412).
Assim, num mundo onde a demanda energética só aumenta, poder ter a oportunidade de
geração de energia em espaços menores e que exijam menos esforços em comparação com os
meios atuais de obtenção, como a hidrelétrica e a térmica, torna a energia das marés um
modelo de fato atraente para complementação da matriz energética brasileira.
As maiores amplitudes de maré ocorrem em períodos de Lua Cheia e Lua Nova, em que o
Sol, a Terra e a Lua se alinham, somando-se as forças gravitacionais imprimidas pelo Sol e
pela Lua nos oceanos. Já as menores amplitudes ocorrem nas Luas Crescente e Minguante. A
Figura 6 ilustra esta situação.
Além disso, é importante ressaltar também que os pontos terrestres mais próximos da lua
possuem maior influência de sua força gravitacional. Assim sendo, quanto mais perto da linha
do equador, em geral maiores serão as amplitudes de maré, e maior será seu potencial de
geração elétrica.
O outro tipo de maré, a maré meteorológica é causada por variações de pressão e vento,
acarretando na variação do nível do mar, mas esta influencia de forma bem mais tímida do
que as de causa astronômica. Este tipo de maré não pode ser prevista, devido seu caráter
aleatório.
No caso brasileiro, o litoral norte e nordeste são muito pouco influenciados pela
maré meteorológica, ao passo que, possuem significativas alturas de maré
astronômica devido à proximidade do equador. Em contrapartida, o litoral sudeste e
sul sofrem bastante influência da maré meteorológica, devido às tempestades
intensas no Atlântico Sul. (Ferreira, Rafael. 2007 p. 58)
Durante o dia, o ciclo de maré costuma se repetir duas vezes, somando-se duas preamares e
duas baixamares. Desta forma, a potência teórica da usina varia a cada instante e torna-se nula
quando os níveis do lado interno e externo da barragem se igualam. Ao longo do mês, devido
às posições relativas do sistema Terra, lua e sol, as amplitudes de maré variam a cada ciclo,
existindo duas marés de sizígia (de maiores amplitudes, portanto, resultam em maior geração)
e duas marés de quadratura.
Esta intermitência das marés consiste em um dos principais problemas de se integrar uma
usina maremotriz diretamente na rede, devido à descontinuidade da geração. Assim, sugere-se
que haja uma integração da usina com outras formas de aproveitamento (seja termelétrica,
hidrelétrica, ou outras). Por seu caráter de fácil previsibilidade, as maremotrizes poderiam ser
utilizadas para reduzir a carga sobre estas outras usinas, possibilitando uma economia na
geração e benefícios socioambientais. Rafael Ferreira (2007) sugere:
Adicionalmente, sabe-se também que outro fator muito influente na variação da amplitude de
maré está associado essencialmente ao formato da costa, ao seu recorte. As marés sofrem,
portanto, de fenômenos como reflexão, difração, refração e até mesmo de influências devido à
topografia oceânica (batimetria), variando assim a amplitude e velocidade das ondas de maré.
Então, como já dito, à medida que se aproxima da costa a amplitude de maré aumenta
consideravelmente devido aos fenômenos de afunilamento, ressonância e reflexão que
ocorrem por causa da geometria do estuário.
A figura 8 mostra as duas principais formas de se aproveitar a energia das ondas, que pode ser
subdividida em energia cinética (relacionada ao movimento das partículas de água,
31
Dessa forma, podemos dizer que a energia das marés pode ser decomposta em potencial
(massa ‘m’ a uma altura ‘h’, em um campo gravitacional ‘g’) e cinética (massa ‘m’ a uma
velocidade ‘v’), como feito a seguir:
𝑚𝑣 2
𝐸 = 𝐸𝑝 + 𝐸𝑐 = 𝑚𝑔ℎ +
2
𝜌𝑉𝑣 2
𝐸 = 𝜌𝑉𝑔ℎ +
2
Tratando-se do fenômeno das marés, o volume de água (‘V’) pode ser substituído pela área de
estuário (‘𝐴𝑅 ’) vezes a altura da maré (‘h’). Assim observa-se que a energia potencial gerada
depende do quadrado da altura da maré:
𝐸𝑝 = 10,15𝐴𝑅 ℎ2 [𝑘𝐽]
Portanto, de acordo com Rafael (2007), e sendo 𝐴𝑅 (área de reservatório em km²), H (altura
da maré em metros), g (aceleração da gravidade em m/s²), 𝜌 (massa específica da água em
32
𝐸𝑝 = 𝐴𝑅 𝜌𝑔 ∫ ℎ𝑑ℎ
0
𝐻
𝐴𝑅 𝜌𝑔 ∫0 ℎ𝑑ℎ
𝑃=
𝑇
Neste trabalho estamos mais interessados na energia de maré propriamente dita e não na
energia das ondas. Existe uma ligeira diferença entre ambas, pois as marés se constituem de
movimentos aleatórios principalmente na linha da costa, e justamente esse movimento de vai
e vem de grandes massas de água que são aproveitados por turbinas para geração de energia
elétrica. O processo é bem parecido com o utilizado em usinas hidrelétricas, porém o
movimento costuma ser bidirecional ao invés de unidirecional como se vê em hidrelétricas.
Essa energia de vai e vem das marés (enchimento e esvaziamento do reservatório) pode ser
expressa como:
𝐸𝑣𝑒𝑚 = 𝜌𝑔 ∫ 𝐴(ℎ)ℎ𝑑ℎ
0
De certa maneira, prever o comportamento das marés é um cálculo viável e até simples, pois
os fatores astronômicos ocorrem de maneira cíclica. Assim, a energia maremotriz depende
sim de fatores sazonais, como a energia eólica e a solar, porém de forma muito menos intensa,
sendo considerada uma fonte de alta previsibilidade. E, a enorme densidade energética que se
33
obtém somado ao fato de serem consideradas energias limpas pode compensar muito o seu
estudo e utilização.
As usinas maremotrizes e suas tecnologias utilizadas atualmente são muito parecidas com as
de natureza hidrelétrica. Ambas aproveitam o fluxo d’água para gerar eletricidade por meio de
turbinas e geradores, conectados entre si. Contudo, no caso das maremotrizes, o fluxo de água
pode ser bidirecional, gerando energia tanto durante a maré enchente, quanto na maré vazante
(geração de duplo efeito).
A geração em efeito simples de maré vazante é a mais simples estratégia de operação de uma
usina maremotriz. Seu funcionamento consiste em armazenar água no reservatório durante a
maré alta, gerando energia durante a maré baixa, quando ocorre o maior desnível. Isto
acontece até que a altura da queda d'água seja a mínima possível para gerar energia. Então, as
passagens de água através das turbinas são bloqueadas, cessando-se a geração de energia até
que o processo se reinicie ciclicamente. A operação descrita é ilustrada pela Figura 9.
Barragem
A construção da barragem representa uns dos fatores mais relevantes em uma usina
maremotriz, principalmente por se relacionar de forma bastante significativa com os
custos totais de implantação da usina. (Bezzera, Neto, 2011)
Comportas
As comportas têm como principal função controlar o nível de água do reservatório, sendo
abertas e fechadas tantas vezes de acordo com o tipo de maré e o modo de operação da usina
(simples ou duplo efeito).
Por operarem com uma frequência maior que as comportas de hidrelétricas normais e também
por serem localizadas num ambiente muito propício à corrosão e com constante impacto das
ondas, as comportas das maremotrizes devem ser cuidadosamente projetadas para operarem
com uma boa confiabilidade e rapidez. Evitando, assim, possíveis problemas operacionais.
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Reservatório
O reservatório em uma maremotriz armazena água para gerar a queda d'água necessária para
geração de eletricidade. Estes geralmente são formados pelos próprios estuários, mas também
podem ser reentrâncias costeiras, enseadas ou corpos de águas entre ilhas e continentes.
Equipamentos Eletromecânicos
Os equipamentos conversores de energia são responsáveis por mais da metade do custo total
de uma usina maremotriz (Bezerra, 2011). Deve-se sempre considerar algumas condições para
a escolha destes, como a constante variação da altura de queda causando fadigas aos
equipamentos, os altos índices de corrosão à que ficam expostos, entre outros fatores.
Assim como em usinas hidrelétricas, é realizada a escolha da turbina a ser utilizada levando-
se em consideração a altura de queda, em metros, e também a vazão, em metros cúbicos por
segundo. As turbinas mais empregadas são de dois tipos basicamente, as de ação (Pelton,
principalmente) e as de reação (Francis, Hélice e Kaplan).
Dessa forma, a partir do que foi mencionado e da imagem da Figura 13 que representa o
ábaco de seleção de turbinas para um projeto, vemos que as turbinas Kaplan e Bulbo são as
mais recomendadas para o caso das maremotrizes, já que são adequadas para casos de baixa
queda e alta vazão de água. Além disso, são turbinas que ficam submersas e são ideais para
sistemas com pouca variação de carga. Além destas, utiliza-se também turbinas do tipo
Straflo, também de baixa queda, porém com pólos geradores ao redor da turbina, tornando-a
compacta e aumentando a área de escoamento, utilizadas, por exemplo, na usina de Annapolis
Royal no Canadá (Ferreira, Rafael. 2007). As principais turbinas utilizadas estão presentes na
Figura 14.
Como mencionado anteriormente nesta seção, um fator limitante com relação às turbinas é
que estas devem ser construídas ou revestidas com materiais não oxidantes devido ao
constante contato com água do mar, que possui elevado índice de salinidade. Este fato onera
bastante a confecção destas turbinas.
𝐶𝑚
𝐺𝑖𝑏𝑟𝑎𝑡𝑟𝑎𝑡𝑖𝑜 =
𝐸𝐾𝑊ℎ
4 Impactos Socioambientais
Primeiramente, a energia das marés trona-se bastante atraente do ponto de vista ambiental
visto que estamos tratando de uma fonte de energia renovável e limpa (que não emite gases
poluentes e/ou de efeito estufa). Este fator por si só já deve ser suficiente para incentivar o seu
estudo e desenvolvimento. De acordo com Hammons (1993), a estimativa é que a cada TWh
de energia gerada por uma maremotriz, deixa-se de emitir um milhão de toneladas de dióxido
de carbono.
Além disso, ressaltando o fato desta fonte ser praticamente inesgotável, cita-se Tolmasquim
novamente: “trata-se de um recurso abundante, dado o tamanho da costa brasileira e
considerando que os oceanos cobrem 70% da superfície terrestre” (EPE 2016, p. 437).
Como os esforços com relação a esse tipo de geração são ainda muito pouco expressivos, os
impactos ambientais causados são pouco conhecidos até o momento. Porém é possível
imaginar alguns efeitos negativos, como por exemplo, a ocupação de áreas naturais, alterando
as paisagens locais, a interferência no meio ambiente da costa, na flora e fauna marinha e até
mesmo em atividades turísticas.
Atividades pesqueiras também podem sofrer um enorme impacto neste sentido já que as
regiões de estuário são comumente utilizadas para esta finalidade econômica, e a construção
de barragens pode inclusive impedir a navegação de embarcações.
A tabela 2 resume bem alguns dos impactos ambientais existentes e propões também medidas
profiláticas que podem ser tomadas para cada caso específico.
5 Aspectos Econômicos
A planta de La Rance (França), por exemplo, tem um Gibrat Ratio de 0,36, enquanto
o projeto da usina de Severn (Reino Unido) apresenta um fator de 0,87 (OCEAN
ENERGY COUNCIL, [s.d.]). (Tolmasquim, 2016, p. 433)
Uma boa alternativa para se tentar reduzir custos nestes projetos é associando-os a outros
projetos, por exemplo, como feito na planta de La Rance, na França, em que a barragem foi
aproveitada para a construção de uma rodovia. Dessa maneira, levando em consideração a
longa vida útil da usina juntamente com a associação desta com outros empreendimentos (tais
como melhorias de navegação, construção de rodovias e ferrovias, entre outros) podem-se
obter benefícios que compensem os altos custos de investimento, desonerando o processo.
Segundo Andy Goldman (2012), a amplitude das marés podem variar entre 4,5 e 12,4 metros
e para que seja economicamente viável sua exploração, o ideal é que tenha pelo menos 7
metros. A amplitude de 7 metros é necessária para fornecer massas de água suficientes para as
turbinas.
Além disso, como já dito, a energia das marés é previsível e regular durante o ano, facilitando
o planejamento da geração de energia.
43
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Fonte:BATALHA (2014)
Na literatura, encontram-se as seguintes equações para a conversão da energia das marés nos
estuários. A teoria desenvolvida pelos autores Bernshtein (1961), Gibrat (1966), Prandle
(1984) e Godin (1988) leva em consideração as mudanças dos níveis de água entre os lados da
barragem. Essa diferença de nível entre reservatório e estuário, 𝐻𝑏 (altura bruta), pode ser
calculada:
𝜕𝐻𝑅
𝐴 = −𝑄(𝑡)
𝜕𝑡 𝑅
Onde Q é dado em m³/s (vazão utilizada para geração de energia) e 𝐴𝑅 , em km², é a área do
reservatório. Integrando em relação ao tempo, tem-se:
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𝑇/2 𝑇/2
𝑑𝑧
∫ 𝑄(𝑡)𝑑𝑡 = ∫ 𝐴 𝑑𝑡
𝑑𝑡 𝑅
0 0
Portanto, o volume total no reservatório será o desnível de maré ao longo de meio ciclo
multiplicada pela área do mesmo:
𝑇
𝑉𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = [𝑧 ( ) − 𝑧(0)] 𝐴𝑅
2
𝜌𝑔 ∫ 𝑄(𝑡)𝐻𝑏 (𝑡)𝑑𝑡
𝑃=
𝑇
Esta expressão é equivalente à que encontramos no capítulo 3.1 sobre “Comportamento das
marés”, e como já discutido, esse cálculo para determinação da potência e energia de um
sistema maremotriz pode ser obtido/simplificado através das expressões de Bernshteaein,
sendo função somente da área do estuário e também do desnível da maré. Assim, supondo que
a bacia encha instantaneamente, a potência bruta de um estuário é dada pela expressão:
𝑃 = 226. 𝐴𝑅 . 𝐻²
Observa-se que a altura multiplicada pela área do reservatório pode ser aproximada pelo
volume armazenado no reservatório. Esse volume que entra e sai do estuário é chamado de
prisma de maré, e quando dividido pelo período de maré (𝑇 =
̃ 6 ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠) resulta na vazão (Q),
utilizada para gerar energia. Por fim, se multiplicarmos a vazão Q pela altura H, obtemos a
potência hidráulica:
𝑃 = 𝛾𝑄𝐻
Figura 16 - Variação da amplitude de maré durante o mês de setembro de 2010 no porto de Itaqui (MA)
O primeiro estágio acontece quando o mar está no seu nível mínimo (baixamar) e o
reservatório está numa cota superior, quando a geração se dá aduzindo água para a
turbina fixa no sentido reservatório-mar. O segundo estágio acontece quando a
diferença de cota entre o nível do mar e o reservatório é inferior àquela admitida
pela turbina, não havendo neste estágio geração de energia. No terceiro estágio, a
diferença entre o nível do mar (preamar) e a cota do reservatório possibilita a
geração de energia, e esta se dá no sentido mar-reservatório através da turbina
móvel. No quarto estágio, o nível do mar é máximo (preamar) e a turbina móvel
alcança a sua posição final, a geração continua se dando no sentido mar-reservatório.
A partir de então, repetem-se os quatro estágios de maneira inversa, ou seja, do
quarto para o primeiro. (Ferreira, Rafael, p. 89)
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A partir do estudo realizado até aqui, foi possível implementar uma ferramenta simples no
software Microsoft Excel que permite uma análise aproximada da potência gerada por uma
usina maremotriz. Esta ferramenta utiliza dados (inseridos pelo usuário por meio de botões de
rotação) de nível e área de reservatório, e amplitude de maré na área de estudo, podendo ser
analisadas diversas situações diferentes de maneira fácil e simples.
Nota-se, pelo gráfico da potência gerada, os pontos do dia em que o nível do reservatório se
iguala à altura de maré, não gerando nesses momentos. Portanto, apesar de quantitativamente
os dados não estarem extremamente precisos, o aspecto comportamental da usina foi
representado de uma maneira relativamente fiel à realidade.
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7 Conclusões
Contudo, por causa das dificuldades de se implementar grandes projetos no mar devido aos
problemas com corrosão elevada e da falta, ainda hoje, de tecnologias suficientemente
consolidadas, os custos para construção de usinas maremotrizes são altos. E, de fato, são
necessários mais estudos para o levantamento do potencial teórico de cada região no mundo,
como o conhecimento da morfologia costeira, das elevações de maré, batimetria e topografia
das áreas.
Nesse sentido, um importante aspecto relacionado às energias oceânicas está ligado ao fato de
estarem localizadas próximas à costa, onde geralmente estão as maiores concentrações de
habitantes, ou seja, os centros de carga. Com isto, haveria uma redução considerável das
distâncias de transmissão de energia, diminuindo gastos e perdas.
O Brasil, em especial, é um país deveras privilegiado com sua enorme faixa costeira e boas
condições de marés, principalmente na região Nordeste, podendo assim esta fonte se tornar
uma excelente alternativa de complementação da matriz energética brasileira.
Como já mencionado, o comportamento das marés depende de fatores climáticos sim, porém
a influência de fatores astronômicos é muita mais expressiva. Sabe-se que estes fenômenos
ocorrem de forma cíclica, geralmente em períodos de 12 ou 24 horas, portanto, isto confere
uma alta previsibilidade à geração maremotriz.
A energia das marés, além de ser renovável (portanto, inesgotável) é uma energia bem
distribuída pelo globo terrestre, podendo ser aproveitada mundialmente para aumentar a oferta
de eletricidade e contribuir para uma universalização do serviço de energia, contribuindo,
assim, para o desenvolvimento socioeconômico de diversas regiões. Somente, isto já deveria
ser um motivo suficiente para impulsionar o estudo dessa tecnologia.
Porém, sabe-se que os estuários são locais de grande diversidade ecológica, como visto no
capítulo 4. Assim, visto que uma barragem pode modificar ciclos ambientais, impactando de
50
diversas formas a flora e a fauna locais bem como a qualidade da água, deve-se promover
programas de pesquisa e monitoramento para controlar estes impactos e tentar minimizá-los.
Por fim, tendo visto o elevado custo de construção de uma usina maremotriz, uma boa
alternativa para se tentar reduzir custos nestes projetos é associando-os a outros projetos, por
exemplo, como a construção de rodovias, ferrovias, entre outros, podendo-se obter benefícios
que compensem os altos custos de investimento, desonerando o processo. Além de,
obviamente, investir em pesquisa e desenvolvimento na área para reduzir os custos associados
ao projeto.
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