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CAPÍTULO. Casuística

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CAPÍTULO

Casuística IV
Todos os casos abordados neste capítulo são propostos para esclarecer
de que maneira são calculadas as velocidades nas colisões entre dois veí-
culos. Por se tratarem de eventos reais, as minúcias e detalhes dos cálculos
não foram ocultados, pelo contrário, cada passo da resolução é mostrado.
Como a temática deste livro versa sobre análise das colisões com o
objetivo de determinar a velocidade dos veículos envolvidos, vale ressal-
tar alguns tópicos já abordados.
A primeira observação pertinente diz respeito à velocidade quadrática,
descrita na equação 1.11. Essa equação, como já demonstrado, é de fácil
e excelente aplicação nos casos em que o veículo se desloca isolado, atin-
gindo obstáculos imóveis no percurso, sendo possível, inclusive adicionar
nos cálculos a velocidade de danos. Porém, a realidade apresenta ocorrên-
cias que em sua maioria são colisões entre dois, três e até mais veículos.
Para resolver a questão dos cálculos de velocidade nas colisões entre
dois veículos existem duas abordagens, o método escalar, em que se aplica
o Princípio da Conservação da Energia e outro, de natureza vetorial, em
que se aplica o Princípio da Conservação da Quantidade de Movimento.
Este livro, nesse aspecto, visa estudar os diversos casos abordados, com o
objetivo primeiramente de reforçar e aplicar com efetividade os dois prin-
cípios, e de outra forma também fazer comparações entre os resultados
de velocidade obtidos por um e por outro método.
Todos os casos estudados são de colisões reais, com o devido cuidado em
preservar a identificação dos veículos, das vítimas e das pessoas envolvidas.
Como de praxe, a exemplo da primeira edição do Manual de Perícias
em Acidentes de Trânsito, os exercícios são resolvidos em passos, que evi-
dentemente, se repetidos na aplicação em outros casos reais e similares,
devem resultar em valores de velocidade aceitáveis.
Cada caso abordado será resolvido pelos dois caminhos, sempre com
uma discussão inicial sobre a situação do local, tendo ao final uma ava-
liação acerca dos resultados obtidos, verificando se há compatibilidade,
se há possibilidade de adotar valor médio entre os dois métodos, se os
valores obtidos são discrepantes ou se o levantamento e as estimativas de
velocidade de danos no local apresentaram falhas, e de que forma esses
lapsos contribuíram para distorcer os resultados obtidos.
Serão apresentados e resolvidos pelo menos dois casos de cada tipo
de colisão perpendicular, oblíqua, traseira e frontal.
62 A cidente de T rânsito – N ovos M étodos de C álculo de V elocidade
L ino L eite de A lmeida

Exercícios / Estudo de Casos

1. Hilux x Palio
Considere uma colisão em interceptação envolvendo a caminhonete
V1-Hilux e o automóvel V2-Palio, que se deslocava no sentido do fluxo da
via, enquanto V1-Hilux atravessava a pista no sentido da esquerda para
a direita em relação ao veículo V2-Palio. O croqui simplificado abaixo
representa todos os percursos dos dois veículos. No instante da colisão a
parte anterior de V2-Palio atingiu a lateral direita de V1-Hilux. Conforme
análise inicial, os danos na porção anterior de V2-Palio correspondem a
velocidade de dano grave, e os danos na lateral direita de V1-Hilux foram
dimensionados em 45 km/h.
Y
canteiro

V1
d erra pagem=12,10m

V2
0m 3,7
5,6
14,85

0m
3,0
=1
6,7

to
en
am
rol
X
SC

11,45 5,4
10m
frenagem=13,
canteiro

Croqui 4.1
Capítulo IV – Casuística 63

Dados do caso
Veículo Massa kg Velocidade de dano Coeficientes de atrito
V1-Hilux 1780 45 km/h pneus x asfalto=0,6
pneus x asfalto=0,8
V2-Palio 940 45 km/h
pneus em rolamento=0,2

I – Método – Princípio da Conservação da Energia


1º passo: Discussão analítica preparatória.
No caso em tela, em virtude do fato de o veículo V2-Palio ter atingido
integralmente a lateral direita da caminhonete V1-Hilux, considera-se que
toda energia por causa dos danos provocados nessa região de V1-Hilux,
e todos os danos provocados na porção anterior de V2-Palio, devem ser
atribuídos ao veículo V2-Palio.
2º passo: Determinação do ângulo de saída de V1-Hilux em relação
ao eixo X.
– linha tangente ao início da marca de derrapagem.
3º passo: Determinação do ângulo de saída de V2-Palio em relação
ao eixo X.

4º passo: Definição da direção de projeção dos movimentos: dire-


ção X para o veículo V1-Hilux e direção Y para o veículo V2-Palio, no
momento imediatamente anterior à colisão.
instante da colisão

V1 X

V2
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L ino L eite de A lmeida

5º passo: Cálculo das energias na direção X e da velocidade do veí-


culo que trafegava nessa direção.

Direção X
– Energia do percurso da caminhonete V1-Hilux na direção X
(k=0,6; d=12,10m).

– Energia do percurso da V2-Palio da direção X (k=0,2;


d=13,0+5,60=18,6m)

– A energia da direção X é toda atribuída ao veículo V1-Hilux

– Velocidade do veículo V1=Hilux

6º passo: Cálculo das parcelas de energia na direção Y e da veloci-


dade do veículo que trafegava nessa direção.
Capítulo IV – Casuística 65

Direção Y
– Energia de dano na parte na lateral direita da caminhonete V1-Hi-
lux, considerando velocidade de dano Vd=45 km/h (12,5m/s).

– Energia do percurso de V1-Hilux na direção Y (k=0,6; d=12,10m)

– Energia de dano na parte anterior do Palio, considerando velo-


cidade de dano Vd=45 km/h (12,5 m/s).

– Energia do percurso do Palio na direção Y (k=0,2;


d=13,0+5,6=18,60)

– Energia da direção Y é toda atribuída ao veículo V2-Palio

– Velocidade do veículo V2-Palio


66 A cidente de T rânsito – N ovos M étodos de C álculo de V elocidade
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– O veículo V2-Palio freou antes da colisão?


R.: Sim, por 13,10 metros.

– Calcular parcela de velocidade antes da colisão:

– Velocidade total de V2-Palio.

7º passo: Tabela resumo das velocidades:

Dinâmica V1-Hilux (km/h) V2-Palio (km/h)


Antes da colisão 23,7 108,7
Instante da colisão 23,7 95,7

II – Método – Princípio da Conservação


da Quantidade de Movimento

1º passo: Cálculo da velocidade de saída do veículo V1-Hilux (pós-


-colisão).

2º passo: Cálculo da Quantidade de Movimento Final de V1-Hilux.


Capítulo IV – Casuística 67

3º passo: Cálculo da velocidade de saída do veículo V2-Palio (pós-


-colisão).

4º passo: Cálculo da Quantidade de Movimento final de V2-Palio.

5º passo: Determinação do ângulo de saída de V1-Hilux em relação


ao eixo X.

6º passo: Determinação do ângulo de saída de V2-Palio em relação


ao eixo X.

7º passo: Representação dos ângulos de saída dos vetores Quanti-


dade de Movimento de cada veículo.
Y

Q1

70º

Q2
32º
X
Q1=21182 kg.m/s
Q2=7990 kg.m/s
8º passo: Determinação do vetor Quantidade de Movimento Resultante.
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Q2

s
.m /
kg
Q1

8
88
=2 7
QR

9º passo: Determinação dos vetores Quantidade de Movimento Ini-


cial, Qi1 e Qi2. Esses valores são obtidos medindo-se os vetores Qi1 e
Qi2 na direção de movimento respectiva de cada veículo. A direção X
representa o veículo V1-Hilux imediatamente antes de entrar na colisão e
a direção Y representa o veículo V2-Palio.
Y
V2-Palio
/s

Q2=24091 kg.m/s
.m
kg
88
8
=27
QR

X
V1-Hilux
Q1=14050 kg.m/s

10º passo: Determinação da velocidade dos veículos V1 e V2 antes da


colisão, sabendo-se que Qi1=14050kg.m/s e Qi2=24091kg.m/s.
Capítulo IV – Casuística 69

11º passo: O veículo V2-Palio freou antes da colisão?


R.: Sim, por 13,10 metros.
– Calcular parcela de velocidade antes da colisão:

– Velocidade total de V2-Palio.

13º passo: Tabela resumo das velocidades:


Dinâmica V1-Hilux (km/h) V2-Palio (km/h)
Antes da colisão 28,4 105,5
Instante da colisão 28,4 92,1

III – Discussão Final Sobre os Resultados


Obtidos pelos Dois Métodos
Pelos dois métodos, PCE – Princípio da Conservação da Energia e
PCQM – Princípio da Conservação da Quantidade de Movimento, é pos-
sível averiguar que as velocidades calculadas para os veículos V1-Hilux e
V2-Palio têm margem, diferença de no máximo 4,7 km/h. Vide a tabela
abaixo com o quadro comparativo.
Veículo Trecho PCE (km/h) PCQM (km/h) Diferença(km/h)
Antes de colidir 23,7 28,4 4,7
V1-Hilux
Instante da colisão 23,7 28,4 4,7
Antes de colidir 108,7 105,5 3,2
V2-Palio
Instante da colisão 95,7 92,1 3,6

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