A História Da Saúde
A História Da Saúde
A História Da Saúde
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE
Fonte: https://bit.ly/3LvfMyY
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2.1 Saúde no período colonial
Fonte: todamateria.com
Sarampo;
Varíola;
Rubéola;
Escarlatina;
Tuberculose;
Febre tifoide;
Malária;
Disenteria e
Gripe.
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2.2 Santas Casas de Misericórdia
Fonte: pinterest.com
Por conta das dificuldades e perigos da vida, a igreja sempre incentivou os fiéis
brasileiros a formarem irmandades por meio de categorias sociais, para que
pudessem encontrar soluções e abrirem as portas para a vida eterna.
No Brasil, a irmandade mais velha é a da Misericórdia. Inspirada na promessa
do corpo, ela realizava um trabalho visando alimentar os presos e os famintos, redimir
os cativos, curar os enfermos, cobrir a nudez, descansar os peregrinos e enterrar os
mortos (EDLER, 2018).
A ordem era mantida por grandes figuras de alto prestígio social, graças ao
legado de seus membros e a quaisquer recursos diretos da Coroa. Por ordem de São
Francisco e do Carmo, foram inaugurados no século XVIII quatro hospitais dedicados
ao acolhimento dos confrades. Desde o século XVI, os hospitais da Santa Casa da
Misericórdia encontram-se quase todos em nível médio e em situação de pobreza
permanente e desde o século XVI atendiam a população de indigentes e moribundos
em 15 cidades brasileiras.
Conforme afirma Edler (2018) moradores de cidades e vilas pediam aos
governantes a presença de médicos durante todo o período colonial. Cartas foram
escritas ao rei expressando preocupação com a saúde dos súditos e lamentando a
grande falta de recursos médicos e boticas que eles precisam ter para serem curados
de suas doenças. Mas o desafio era encontrar médicos dispostos a viajar para a
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colônia. A falta de uma clientela com recursos para justificar a saída da metrópole
fazia com que a permanência no Brasil dependesse da obtenção de alguma função,
relacionado, principalmente à política ou à Câmara.
Fonte: www.aventurasnahistoria.uol
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2.4 Novas diretrizes para saúde: O governo Vargas (1930-1945)
Fonte: cpdoc.fgv.br
A primeira fase do governo Vargas foi formada pelo governo provisório criado
pela revolução de 1930, que introduziu importantes mudanças nos direitos civis em
geral e nas políticas sociais brasileiras em particular. As mais importantes foram: a
introdução do voto secreto e do sufrágio feminino em 1932 (Fausto, 2000); a criação
do Departamento de Educação e Saúde Pública (MESP) em 1930 (Decreto nº 19.402,
de 14 de novembro de 1930) e a criação do Instituto de Aposentadorias e Pensões
dos Marítimos (IAPM) em 1933.
A Criação do IAPM deu início a transformação das CAPS nos IAPS (Carvalho,
2001), sob a tutela do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (MTIC), depois do
Ministério do Trabalho e da Previdência Social (MTPS). Os Iaps foram criados de
acordo com o figurino típico do sistema e seguro social, ou seja, por categorias
profissionais ou econômicas. Ao longo dos anos 30 foram criados novos Iaps, como:
IAPB (bancários), Iapi (industriários), Iaptec (transportes e cargas), Ipase (servidores
do Estado), IAPC (comerciários) e Iapfesp (Ferroviários e Empregados em Sérvios
Públicos). Os Iaps destinavam-se apenas aos trabalhadores do mercado formal de
trabalho das cidades. Assim, tanto os trabalhadores rurais quanto os informais das
cidades continuaram sem acesso aos benefícios previdenciários e de saúde. Ainda
que voltado para uma parcela da população, os Iaps tiveram um alcance social muito
mais amplo do que as Caps, em função, principalmente, do aumento da urbanização
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e da industrialização a partir dos anos 1930. Em 1945, o número de segurados dos
Iaps atingiu 2,8 milhões, um aumento aproximado de cerca de 20 vezes o número de
140 mil segurados de 1930 (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989).
Uma das características mais importantes dos Iaps, que os diferenciavam das
Caps era a forte presença do Estado, que indicava o presidente dos seus colegiados
de gesto, os quais contavam, ainda, com representações dos empregadores e
trabalhadores. Quanto a estrutura das receitas, as contribuições das empresas e dos
colaboradores passaram a ser arrecadadas pelo governo federal, que as transferia
posteriormente para os Iaps. A gestão financeira do sistema previdenciário era
baseada no regime de capitalização, havendo a obrigação de formação de reservas
financeiras para garantir as futuras aposentadorias e pensões (fundo de garantia) a
gestão dessas reservas nem sempre era criteriosa no início havia diretrizes
específicas para a aplicação das reservas. Muitas vezes a aplicação de recursos não
tinha por meta maximizar os ganhos financeiros das aplicações, servindo para
financiar atividades cujo retorno pecuniário era duvidoso.
De acordo com esses mesmos autores, em 1955, os montantes aplicados em
títulos e valores mobiliários, que obtinham rendimentos mais elevados, representaram
apenas 30% do Patrimonio total. Esse montante foi reduzido para 13% em 1964,
deteriorando a situações econômicas dos Iaps. Os recursos dos Iaps teriam sido
gastos em outros investimentos de retorno duvidoso para o Estado, tais como a
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Companhia Hidroelétrica do São Francisco
(CHESF), a Fábrica Nacional de Motores (FNM) e a Viação Férrea Federal Leste
Brasileiro. Tais recursos nunca teriam retornado aos caixas dos institutos.
O centro da atenção dos Iaps era o financiamento das aposentadorias e pensões.
Nem todos os institutos ofereciam assistência médica aos seus segurados, apenas o
IAPM e o IAPB ofereceram desde o início este tipo de assistência. Os segurados do
IAPC, por exemplo, passaram a contar com essa proteção em 1940, e os do Iapi, em
1953. A unificação dos benefícios são foi estabelecida em 1960, quando foi aprovada
a Lei Orgânica da Previdência Social (MATIJASCIC, 2002).
Assim como as Caps, os Iaps ofereciam assistência médica principalmente por
meio de serviços terceirizados. As primeiras unidades de saúde dos institutos só foram
criadas no final da década de 1940 e já se limitavam a alguns grandes centros
urbanos, como Rio e São Paulo. A experiência do Iaps na área de assistência médica
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ampliou a tendência iniciada pelos Caps de fortalecer o mercado privado de serviços
de saúde no país. Matisjacic (2002) aponta que uma das principais causas da
deterioração financeira do sistema previdenciário foi o forte aumento dos gastos com
serviços médicos.
As despesas médicas representavam, em 1940, 13,4% do total dos gastos dos
Iaps, enquanto em 1967, atingiram 29,6%. A dicotomia entre areas de saúde pública
centradas, de um lado, em áreas preventivas, imunização, saneamento e controle de
vetores, e de outro, na assistência médica de caráter curativo e especializado
oferecida pelo sistema previdenciário continuou durante todo o período. Enquanto o
sistema previdenciário financiava a assistência médica para uma parcela da
população urbana, o Mesp financiava as áreas de saúde pública de caráter coletivo,
desenvolvidas, sobretudo, no interior do país (LIMA; FONSECA; HOCHMAN, 2005).
Em 1937, o antigo DNSP foi substituído pelo Departamento Nacional de saúde
(DNS). Em 1942, com apoio norte-americano, e em função do esforço de guerra dos
aliados, foi criado o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), uma autarquia pública
ligada ao Mesp, ao qual o DNS era subordinado. Inicialmente, a finalidade do Sesp
era organizar areas de saneamento e de atenção integral a saúde para as populações
da área de produção da borracha (Amazônia) e de ferro (Minas Gerais).
Fonte: sabedoriapolitica.com
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Os problemas da medicina no Brasil colonial derivaram da quase inexistência
de profissionais nessa área, do escasso interesse dos médicos portugueses em vir
para o Brasil e também da proibição de se instalar um ensino superior na Colônia.
Esses fatores fizeram com que, em muitos casos, a arte de curar exercida pelos
curandeiros e pajés fosse a preferência dos habitantes do Brasil. Naquele momento
historicamente complicado e diversificado os limites entre médico culto e dedicado aos
estudos dos livros e cirurgião prático se davam de forma aberta (MIRANDA, 2017).
A reorganização do espaço hospitalar no Brasil colonial se fez paulatinamente,
principalmente nos hospitais militares no início do século XIX. A reputação era
péssima devido as condições precárias de higiene, acomodações insuficientes (onde
os pacientes eram acumulados em enfermarias) e o descaso da administração pública
em proporcionar melhores instalações físicas. Fatores que contribuíram para que a
organização do seu espaço interior fosse retardada. Somente na segunda metade do
século XIX que houve a reorganização do espaço hospitalar, iniciando pelo Hospital
Pedro II (MIRANDA, 2017).
George Stahl considerava que a ação natural dos órgãos era resultado da ação
reguladora de uma alma sensitiva, responsável pela distribuição igual e bem ordenada
do espírito vital sediado no corpo, ou seja, o vitalismo.
Com bases mecanicistas o solidismo de Friedrich Hoffmann considerava, ao
mesmo tempo, o corpo humano como sendo uma máquina e o movimento que
decorria de seu funcionamento era a expressão da vida. Para Hoffmann, o corpo
obedece às leis da hidráulica e tem como base o sistema de movimentos circulatórios
dos humores. Esses movimentos são devidos aos alimentos que assimilados pelo
sangue são dirigidos ao cérebro, onde um fluido nervoso é secretado à fim de manter
o movimento e, por conseguinte, as contrações do coração. Afirma ainda que as
doenças surgiam devido aos humores alterados por uma intervenção anormal que
perturbavam os espíritos sutis, causando desarranjos na fluência circulatória do
sangue.
Conforme Miranda (2017) pesar dos erros em sua doutrina, Hoffmann merece
crédito por ter desempenhado um papel significativo nas pesquisas sobre o sistema
nervoso e suas funções vitais para o corpo.
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Desde a época colonial, as artes de curar são praticadas no Brasil e
transmitidas às gerações seguintes por aqueles que as praticaram. A cura foi
praticada por:
Curandeiros;
Boticários;
Barbeiros sangradores;
Parteiras; entre outros.
Fonte: povodalua.wordpress.com/2016/07/30/a-curandeira
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O caso "Mão Santa" como ficou conhecido o curandeiro, ajuda a compreender
melhor a posição da pratica da cura quando se trata da medicina acadêmica, ao
mesmo tempo em que se percebe uma falta de confiança nos métodos de tratamento
médico. Conforme expõe o autor ao discutir o feito mais notável do renomado
curandeiro paraguaio:
Poucos dias depois de sua instalação, foi Mão Santa solicitado para curar o
filho do Capitão do Porto Queiroz, o qual não obtivera melhoras com as
receitas médicas, tendo sido mesmo desenganado. As esperanças dos pais
do enfermo se voltaram para o curandeiro e o êxito não se demorou. Num
momento toda a cidade se inteirava do milagre, e o Capitão do Porto não
somente deu ao curandeiro sua estima como o acreditou perante várias
famílias respeitáveis. Desta sorte se firmou e se consolidou o prestígio de
Mão Santa na então cidade da Paraíba. (MEDEIROS, 1994, p. 70).
O autor afirma que, no caso de Mão Santa, houve uma mudança na hierarquia
dos cuidados médicos da época, o que tornou o curandeiro mais prestigiado do que o
médico devido ao tratamento dispensado ao capitão do filho de Porto. A situação neste
caso foi criada como resultado do sucesso do curandeiro no tratamento de uma
doença que a medicina não conseguiu tratar.
3.2 Curandeirismos
Fonte: rfi.fr/br/africa/20130831-dia-africano-da-medicina-tradicional
Ariosvaldo da Silva Diniz realizou um estudo em 2011 que foi citado por Silva e
Mariano (2020) e abordou questões relacionadas à epidemia de Cólera que eclodiu
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na província de Pernambuco em 1856. Este estudo evidencia os inúmeros agentes da
cura que foram ao cenário insalubre do Recife para combater a doença, cuja natureza
etiológica e terapêutica era desconhecida na época.
Sem dúvida, a menção do " curandeirismo " no Império brasileiro faz refletir
sobre o significado do termo, não apenas para entende-lo como uma noção voltada
para quem o pratica (especialmente o curandeiro), mas também para enfocar a sua
gradual ressignificação na história brasileira.
Silva e Mariano (2020) argumenta que termo cura que “abarca em si um
número de saberes populares e de agentes da cura filiados as mais diversas tradições
e culturas que tinham o seu espaço e sua validade junto aos doentes. ” Portanto, a
partir dessa assertiva, o termo " curandeirismo " não é mais utilizado no singular,
passando a ser denominado no plural " curandeirismos ", para abranger os diversos
conhecimentos tradicionais sobre os diferentes métodos de práticas de cura que eram
exercidas por vários curadores.
A década de 1880 pode ser destacada como um período estratégico para tratar
do assunto, sobretudo, se considerarmos não somente o crescimento da medicina
acadêmica, mas também os chamados “práticos", que eram todas as pessoas que se
envolveram na arte da reabilitação e cura, mas não receberam nenhuma formação
acadêmica para tal.
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ajuda aos curandeiros, em casos de complicações de saúde. A busca era grande e o
exercício era praticado atendendo as pessoas mais pobres até à elite. Esse fato gerou
uma verdadeira luta entre o saber médico-científico e os curandeirismos, cujas
atividades de mercado estavam beneficiando mais aos práticos do que os alopáticos
ou homeopáticos.
Fonte: seer.unirio.br
Os médicos não pretendiam apenas ser mais uma opção de cura respeitável
e merecedora da confiança das pessoas simplesmente em função de seu
compromisso com a ciência. Seu objetivo era ser a única opção existente,
para que conseguissem definitivamente conquistar o poder e prestígio que
acreditavam merecer como representantes da doutrina científica. Para tanto,
necessitavam do apoio do poder que legisla, pois só com suas armas não
conseguiriam atingir a legitimidade desejada. Os interesses de ambos eram
comuns: a saúde dos povos deveria ser uma meta perseguida tanto por
médicos quanto por autoridades (Pimenta, 2003, p.54-55).
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4 SAÚDE PÚBLICA
Fonte: https://bit.ly/3JuzetR
Febre amarela; e
Malária.
Peste bubônica;
Cólera; e
Varíola.
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Essas doenças levaram à situação que demandava da construção de um
sistema sanitário eficaz de controle baseado no conhecimento das formas de
transmissão e também no tratamento das mesmas.
Diante da situação e com o aumento da preocupação com as condições de vida
nas cidades, mais médicos vieram, instalando-se e dando início ao projeto de
institucionalização do setor saúde no Brasil e a regulação da prática médica
profissional. A primeira faculdade de medicina foi inaugurada no mesmo ano da
chegada da Família Real, a Escola Médico-cirúrgica, localizada em Salvador Bahia,
visando institucionalizar os programas de ensino e normalizar a prática médica em
conformidade com os modelos europeus. Com o tempo os médicos estrangeiros
foram substituídos por médicos brasileiros ou formados no Brasil.
Esse período foi marcado pelo interesse pela regulamentação do exercício da
saúde e do exercício profissional, em relação ao interesse político e econômico do
Estado em garantir a sustentabilidade da produção da riqueza por meio do controle
de mão de obra e da qualidade dos produtos, com medidas voltadas para controle de
doenças, disciplina e normatização da prática profissional (LIMA; LEMOS, 2020).
As primeiras Políticas de Saúde Pública que surgiram no mundo e que, logo
seriam colocadas em prática no Brasil eram voltadas principalmente para:
Proteção e saneamento das cidades, principalmente as portuárias,
responsáveis pela comercialização e circulação dos produtos
exportados;
Controle e observação das doenças e enfermos, inclusive e
principalmente dos ambientes;
Teorização acerca das doenças e construção de conhecimentos
para adoção de práticas mais eficazes no controle das moléstias.
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Ainda segundo os autores, foi exatamente nesta ordem que os problemas de
saúde e saneamento foram marcantes ao longo da história da saúde no Brasil. A
agricultura era a base econômica do Brasil e tinha no café a vinculação do trabalho
assalariado que carecia cada vez de mão de obra e, as epidemias que se propagavam
entre os trabalhadores por causa das péssimas condições de saneamento afetavam
o crescimento econômico.
Fonte: https://bit.ly/3LzL9Zj
24
Dois anos mais tarde, Oswaldo recebeu um convite de Egydio Salles Guerra
para trabalhar na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, onde ficou responsável pela
montagem e a chefia do laboratório de análises clínicas. No ano de 1897, Oswaldo
Cruz viajou para Paris, e se manteve lá durante dois anos estudando microbiologia,
soroterapia e imunologia, no Instituto Pasteur, e medicina legal no Instituto de
Toxicologia.
Quando voltou da capital francesa, o médico retornou ao cargo na Policlínica
Geral e se uniu à comissão de Eduardo Chapot-Prévost para estudar a mortandade
de ratos que causou um surto de peste bubônica em Santos. No Rio de Janeiro, ele
tinha o posto de direção técnica no Instituto Soroterápico Federal, que estava sendo
construído na Fazenda Manguinhos, e foi fundada em 1900. Dois anos mais tarde, o
jovem bacteriologista ficou responsável pela direção do Instituto e trabalhou para
desenvolver suas atividades para além da fabricação de soro antipestoso, inserindo a
pesquisa básica aplicada e a formação de recursos humanos. Um ano mais tarde
chegou ao comando da Diretoria-Geral de Saúde Pública (DGSP) (FIOCRUZ, 2017).
Naquela altura, Oswaldo teve que realizar a difícil tarefa de criar uma campanha
sanitária para combater às principais doenças da capital federal, que foram a febre
amarela, peste bubônica e varíola. Foi necessário adotar métodos como o isolamento
dos doentes, e a notificação compulsória dos casos positivos, além de capturar os
vetores, mosquitos e ratos, e desinfetar as moradias em áreas de focos. Usando o
Instituto Soroterápico Federal como base de apoio técnico-científico começou
campanhas de saneamento e em poucos meses a incidência de peste bubônica
reduziu com o extermínio dos ratos cujas pulgas transmitiam a doença.
Ao combater a febre amarela, na mesma época, Oswaldo Cruz enfrentou vários
problemas. Grande parte dos médicos e da população acreditava que a doença se
transmitia pelo contato com as roupas, suor, sangue e secreções de doentes. No
entanto, Oswaldo Cruz acreditava em uma nova teoria: o transmissor da febre amarela
era um mosquito. Assim, suspendeu as desinfecções, os métodos tradicionais no
combate à moléstia, e implantou medidas sanitárias com brigadas que percorreram
casas, jardins, quintais e ruas, para eliminarem focos de insetos. Sua atuação
provocou violenta reação popular (FIOCRUZ, 2017).
Com o ressurgimento dos surtos de varíola, Oswaldo Cruz tentou promover a
vacinação em massa da população, e os jornais começaram a apresentar uma
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campanha contra a medida. Todavia, o congresso protestou e foi organizada uma liga
contra a vacinação obrigatória. No mês de novembro houve uma rebelião popular e
no dia 14 a Escola Militar da Praia Vermelha se ergueu. O Governo venceu a rebelião
que durou uma semana, mas também suspendeu a obrigatoriedade da vacina. No ano
de 1907 a febre amarela foi erradicada do Rio de Janeiro. Contudo, em 1908 surgiu
uma nova epidemia de varíola, no qual a própria população tomou a iniciativa de
procurar os postos de vacinação.
Mesmo com uma crise instalada entre 1905 e 1906 Oswaldo Cruz liderou uma
expedição em 30 portos marítimos e fluviais de Norte a Sul do país para organizar um
código sanitário com regras internacionais. Todo esse empenho contra as doenças
gerou reconhecimento internacional em 1907, quando Oswaldo Cruz recebeu a
medalha de ouro no 14º Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim,
na Alemanha, em prol do trabalho de saneamento do Rio de Janeiro (FIOCRUZ,
2017).
Em 1908 Oswaldo Cruz foi recebido como herói nacional, e no ano seguinte o
instituto passou a ter seu nome. Com a ajuda da equipe do Instituto Oswaldo Cruz
(IOC) foi realizado um levantamento das condições sanitárias do interior do país. No
ano de 1909, Oswaldo deixou a Diretoria Geral de Saúde Pública e se dedicou apenas
ao Instituto de Manguinhos, que recebeu seu nome como reconhecimento de tudo que
ele fez. A partir do Instituto iniciou importantes expedições científicas que se
ampliaram por todo o interior do país. Ademais, conseguiu erradicar a febre amarela
no Pará e desenvolveu a campanha de saneamento da Amazônia. Com a sua
autorização, foi concluído o término das obras da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré,
cuja construção não havia se concluído por conta do grande número de mortes entre
os operários provocadas pela malária.
No ano de 1913, ele foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Já em 1915,
por motivos de saúde, deixou a direção do Instituto Oswaldo Cruz e mudou-se para
Petrópolis. Com êxito, se tornou prefeito da cidade, e desenvolveu grandes planos de
urbanização, que não pôde ver construído. Sofrendo de crise de insuficiência renal,
morreu a 11 de fevereiro de 1917, com apenas 44 anos (FIOCRUZ, 2017).
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4.2 Epidemias e Saúde pública no século XIX
Fonte: brasil.elpais.com
“Não admira que o governo português pareça ver com indiferença abandonar
os lares pátrios milhares de cidadãos que podiam ser úteis ao Estado, e a si
próprios, para virem procurar em terra estranha uma fortuna inteiramente
ilusória; o que na verdade custa compreender é que ele, tendo conhecimento
de que uma epidemia se manifestava nos principais portos do Império,
continuasse com a mesma indiferença a ver sair pelas barras do Reino a
mocidade portuguesa em demanda de uma morte quase certa! [...] A febre
amarela, como se deve saber em Portugal, tornou-se endémica no Brasil.
Desde 1849 a 50 nunca ela deixou de aparecer na estação calmosa, com
mais ou menos fúria, fazendo sempre vítimas de preferência sobre os
estrangeiros recém-chegados, e sobretudo nos Portugueses, cujo número é
sempre mais considerável.
[...] O governo português, que estabelece quarentenas e lazaretos para
aqueles que demandam a Pátria, não pode ignorar estes factos, e, contudo,
não julga dignos de compaixão os infelizes que, deixando a pátria, parentes
e amigos, vem encontrar a morte em terra estranha! É aqui [Baía] e no Rio
de Janeiro que a febre amarela continua a levar ao túmulo um grande número
de vítimas e, todavia (parece incrível) são estas as duas cidades que os
emigrados buscam de preferência! É doloroso, mesmo para os corações
menos sensíveis, ver jovens de 12 a 24 anos, lutar com uma enfermidade
terrível, que rapidamente lhes apaga a luz da inteligência e lhes extingue a
vida”. (ALVES, 2005, p. 4-5).
28
Fonte: researchgate.net
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chegam hoje, pode-se crer que a infeliz freguesia do Socorro ficará deserta!
No Aracajú começou a desenvolver-se, não sendo, porém, ainda aterrador o
estado sanitário.
[...] A escravatura é quem mais tem sofrido. O cólera parece ter um gosto
particular para filar os ‘paisinhos’ e a febre amarela é com os brancos que se
diverte. Temos de tudo no Brasil, louvado seja Deus! [...] É tristíssima a
situação atual de Sergipe. Eu estou de malas prontas e esperando o vapor
do Sul para ir por esse Norte tranquilizar o espírito, que tem sofrido não pouco
com esta consternação geral”. (ALVES, 2005, p. 6-7).
Febre amarela;
Peste;
Malária;
Leishmanioses
cutaneomucosas; e
Doença de Chagas.
Fonte: bbc.com
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Criou brigadas mata-mosquitos;
Saneou caixas de água e esgotos;
Expurgou casas, por meio da queima de soluções à base de
enxofre, como forma de acabar com os mosquitos e suas larvas
(imitando a campanha norte-americana desenvolvida em Havana
com base na teoria de Carlos Finlay de que o agente transmissor
era um mosquito - Stegomia fasciata, Culex aegypti ou Aedes
aegypti).
A Febre Amarela não foi a única campanha de Osvaldo Cruz. Outros também
foram desenvolvidos, por exemplo, contra a peste bubônica, como o extermínio de
ratos, e a campanha contra a varíola, que tornou a vacinação obrigatória (ALVES,
2005).
O trabalhador de saúde tinha muitos inimigos. Mas a imagem da campanha
pela transição sanitária foi decisiva para garantir melhores condições e contribuir para
a reputação internacional: Naquela época, o Brasil lutava pelo direito a um país
saudável no conceito dos organismos internacionais de saúde e até ser como modelo
exemplar. Seus portos eram considerados limpos, em grande parte devido às novas
normas sanitárias internacionais que reduziram os critérios de classificação, e essas
novas representações, ditadas pela nova cultura médica, foram categóricas ao
advento da mitologia, predominante no início do século XX, colocando o Brasil como
uma futura potência mundial.
No entanto, a década de 1920 foi marcada pela crise do padrão exportador
capitalista, uma vez que os países importadores se tornavam mais exigentes com a
qualidade dos produtos, surgindo muitas represarias aos produtos brasileiros onde os
navios e portos ainda mantinham níveis de higiene insalubres, exportando doenças.
Novas ações foram implementadas no controle das doenças na área da saúde pública
(COSTA, 1985).
Por outro lado, o Estado assume ativamente na década de 1930 o papel de
regulador através da elaboração de projeto econômico baseado na industrialização
em prol da implantação de infraestrutura produtiva o que propiciou o fortalecimento do
projeto político-ideológico nacional, onde foi criado o Mesp - Ministério da Educação
32
e Saúde Pública, e MTIC – Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, medidas que
fomentaram o crescimento e a mudança do sistema econômico e regem a “regulação
da cidadania” pela previsão de um “direito à saúde”.
Fonte: cursosextensao.usp.br
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como fundamental a superação das desigualdades sociais para a melhoria das
condições de saúde das populações (RABELLO, 2010).
A Saúde Coletiva é descrita a partir de uma perspectiva multidisciplinar a qual
atua em conjunto com as seguintes disciplinas:
Biomedicina;
Estatística;
Biologia; e
Ciências Humanas.
Epidemiologia;
Planejamento / gestão
e Serviços de saúde; e
Ciências Humanas.
Diante desta situação vale ressaltar que ambas as áreas são importantes para
o planejamento de ações de saúde levando à contínua dependência em realizar
pesquisas destinadas a melhorar os seus métodos.
Devido as mudanças no perfil de morbidade da população à diminuição da
ocorrência de doenças transmissíveis e ao envelhecimento progressivo da população,
a epidemiologia começou a focar suas pesquisas em doenças não transmissíveis e
nem infecciosas, além de se preocupar com eventos sem relação exclusivamente às
doenças como é o caso dos estudos sobre violência, hábitos deletérios e peso ao
nascer. Com isso, a concepção de unicausalidade das doenças foi alterada
paulatinamente, dando margem ao pensamento multicausal no qual a interação entre
agente, hospedeiro e meio ambiente é responsável pelo surgimento das doenças
(SILVA et al, 2020).
De acordo com os autores, a Epidemiologia e a Medicina têm uma raiz em
comum: Hipócrates associava o aparecimento de doenças à interação entre o
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indivíduo e o ambiente, mas com o passar do tempo suas teorias foram abandonadas.
Foi quando surgiu a teoria dos Miasmas, onde se acreditavam que as epidemias eram
causadas devido à má qualidade do ar proveniente da emanação de decomposições
de animais, plantas e pacientes.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARATA, R. B. Cem anos de endemias e epidemias. Ciência & Saúde Coletiva, São
Paulo, SP, v. 5, ed. 2ª, p. 333-345, 20 ago. 2020.
Cooper, D. B. “The New Black Death”: Cholera in Brazil, 1855-1856”. In: KIPLE,
Kenneth (ed.) The African Exchange. Toward a Biological History of Black People.
(1).Durham London: Duke University Press, 1987.
38
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ FIOCRUZ. A trajetória do médico dedicado à ciência,
[s. l.], 2017. Texto adaptado da edição nº 37 da Revista de Manguinhos, publicada
em maio de 2017.
39
MIRANDA, C. A. C. A arte de curar nos tempos da colônia: limites e espaços da cura.
3. ed. rev. ampl. e atual. – Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2017.
PAIM, J. et al. O sistema de saúde brasileiro: história, avanços e desafios. The Lancet,
Londres, n. especial série Brasil, p. 11-31, maio 2011.
40
SILVA, W. F. MARIANO, S. R. C. ARTES DE CURAR EM COMBATE: MEDICINA E
CURANDEIRISMOS NA PARAÍBA IMPERIAL (1880-1889), [s. l.], p. 1-12, 22 ago.
2020.
41