Disputa Entre Discursos:: Jornalismo e A Violência Contra As Mulheres
Disputa Entre Discursos:: Jornalismo e A Violência Contra As Mulheres
Disputa Entre Discursos:: Jornalismo e A Violência Contra As Mulheres
A RTIGO
DISPUTA ENTRE
DISCURSOS:
jornalismo e a violência contra as
mulheres
DOI: 10.25200/BJR.v14n3.2018.1033
ABSTRACT - In this paper we will present partial results from a study on how
journalistic production treats violence against women. It questions the discourses
circulating around this subject for each outbreak of violence. We intend to grasp the
role of journalism in a culture that claims to defend women yet also criminalizes
the victims of abuse. This investigative perspective draws on theoretical and
methodological approaches of discourse such as those from works by Dominique
Maingueneau, Patrick Charaudeau and Eni Orlandi, among others. We found that
Journalistic production fails to clarify facts used in reports on violence against
women, thereby upholding old prejudices.
Key words: Journalism. Discourses. Violence. Rape. Women.
1. Introdução
filho de três anos que fica com seus pais; ela sai madrugada afora sem
compromisso de horário; ela já foi, segundo suas próprias palavras,
viciada em drogas, mas já não é mais. Para o leitor dessas lascas de dados,
ao lado das contradições não esclarecidas, há um clima que perpassa o
conjunto das matérias e o conduz à responsabilização da vítima.
Por um lado, o não esclarecimento das contradições revela
descaso típico de um posicionamento no ideário da cultura do
estupro: o veredito antes do julgamento, a desdenhar apurações. Por
outro lado, os traços de vida pessoal, jogados sem contextualização,
desenham a intenção de não adentrar pormenores da vida da vítima,
os quais a tornariam mais culpada, talvez, mas possivelmente menos
estereotipada (o tipo a levar vida pregressa, que mora nas entrelinhas
das matérias) e mais humanizada.
No que não foi dito, e fica por dizer, habitam significações
que previamente condenam essa moça, como se o abuso, qualquer
que seja, pudesse ser desculpável em algumas circunstâncias.
Contudo, nas matérias consideradas colaterais, não dedicadas
ao caso estudado, não se põe em dúvida a ocorrência de estupro nem
a condição da vítima. Elas dão como fato indiscutível uma ocorrência
em que se apoiam para reivindicações, legitimando, implicitamente,
as declarações da moça, sem atentar para contradições.
Ao mesmo tempo, com a observação dos dados da segunda
coleta, o silêncio das matérias jornalísticas é contrabalanceado pela
abordagem direta dos temas que se ligam ao caso. Em nenhuma das
cartas, ao menos dentre as divulgadas, os leitores põem em questão
a vítima e suas circunstâncias. Ao contrário, assumem que houve
uma infração a ser sanada e a ser fonte de medidas preventivas.
Essas cartas que rechaçam possíveis preconceitos, se
tomadas como representativas de nossa cultura, são um consistente
indício de mais respeito às mulheres. Verdade que talvez estejamos
lidando com a fatia, de faixa etária e educação superior, em que os
índices de concordância com a criminalização das mulheres caem.
Mesmo assim, nessa pesquisa, é nas cartas dos leitores que
mais podemos identificar discursos em disputa, sobretudo contra os
preconceitos. Uma consequência dos discursos proferidos pelo jornal,
essas cartas, ao abordarem diversas nuanças do caso, os subtemas,
arrolam os discursos que circulam e compõem nosso ideário e vêm,
ao mesmo tempo, reabilitar a integridade da vítima, redimindo-a do
silêncio com que foi retratada.
NOTAS
REFERÊNCIAS