41TD6 - Escatologia - Unid.1
41TD6 - Escatologia - Unid.1
41TD6 - Escatologia - Unid.1
MARÍLIA
2017
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FAJOPA - Faculdade João Paulo II, 41TD6 – ESCATOLOGIA.
Direitos autorais: Dr. Pe. Hugues A. O. E. d’ANS - Marília / SP, 2º semestre de 2017.
CURSO DE EscatolOGIA
INTRODUÇÃO GERAL
As perguntas mais frequentes que o povo faz dizem respeito às origens do mundo
(PROTOLOGIA) e ao seu fim (ESCATOLOGIA). A matéria existe desde sempre para
sempre? Se o mundo tem um começo, foi por acaso ou necessidade? A fé responde que
é devido a uma Causa primeira, uma Causa sem causa, sem começo nem fim, sem
limite, fora do tempo e do espaço: Deus! Surge então uma série de dúvidas sobre a
criação do mundo. E quase ninguém responde... a não ser os fundamentalistas que
dizem que tudo aconteceu do jeito que está escrito na bíblia. Então, eu pergunto: ―Quem
estava aí para testemunhar e relatar todas essas coisas?‖... Rezamos no Símbolo
niceno-constantinopolitano: “Creio em Deus Pai Todo Poderoso, criador de todas as
coisas visíveis e invisíveis”. Enxergamos e conhecemos só uma ínfima parte das “coisas
visíveis”. Que dizer então sobre ―as coisas invisíveis”?
Tem mais: o mundo é eterno ou vai acabar um dia? Quando e como tudo isso
acontecerá? Há vida além da morte? O inferno, o purgatório e o céu existem? Como
será o juízo final? E quase ninguém responde... a não ser os fundamentalistas que
dizem que tudo acontecerá do jeito que está escrito na bíblia e até alguns ―profetas‖ que
tentam marcar uma data sempre revista e corrigida.1
1
Segundo uma teoria que combina astronomia, ciência e passagens bíblicas, um corpo celeste deveria
colidir com o nosso planeta em 23.09.2017, data em que estou redigindo essas linhas. O fim do mundo já
foi anunciado várias vezes desde o ano de 2000 (o chamado ―blug do milênio‖). Passei por todos eles,
graças a Deus. Que venha o próximo!
2
plenitude, pleroma, evento escatológico por excelência‖.2 Ele é o A e o de todas as
coisas, nosso Futuro absoluto, o Último de todas as coisas. A finalidade da escatologia
não consiste em responder ao ―quando‖ nem ao ―como‖ acontecerão as últimas
realidades, simplesmente porque o próprio Cristo nos avisou: "Quanto ao dia e à hora
ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai‖ (Mt 24,36).
Quanto ao ―como‖, só podemos utilizar imagens, com prudência e discrição:
UNIDADE 2: A RESSURREIÇÃO
UNIDADE 3: O JUÍZO
UNIDADE 4: O CÉU
UNIDADE 5: O PURGATÓRIO
UNIDADE 6: O INFERNO
SIGLAS
Catech. R.: Catecismo Romano (Tridentino)
CEC: Catecismo da Igreja Católica
LG: Constituição dogmática Lumen Gentium
2
LIBÂNIO, João Batista; BINGEMER, Maria Clara L. Escatologia Cristã: O Novo Céu e a Nova Terra.
Petrópolis: Vozes, 1985, p. 22-23.
3
Ibid., p.27.
3
UNIDADE I - A COMUNHÃO DOS SANTOS
1. QUEM É SANTO?
Para o Primeiro Testamento, a fonte de toda santidade encontra-se em Deus: só Deus é
Santo, três vezes Santo (Is. 6,3). Sua santidade é inacessível ao homem pecador. Ele revela
sua santidade manifestando sua glória principalmente através de sua criação e de suas
teofanias. Toda santidade deriva de Jahweh. Ele torna ―sagrados‖ os lugares e os objetos
que têm um certo contato com Ele: a terra prometida, a cidade de Jerusalém, os santuários,
o templo, a arca da aliança, as tábuas da lei, os objetos que servem ao culto (são as ―coisas
santas‖ - “sancta”, em latim).
4
«Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns
é comunicado aos outros [...]. E assim, deve-se acreditar que existe
uma comunhão de bens na Igreja. [...] Mas o membro mais
importante é Cristo, que é a Cabeça [...]. Assim, o bem de Cristo é
comunicado a todos os membros, comunicação que se faz através
dos sacramentos da Igreja»4
O Catecismo Romano precisa: «Como a Igreja é governada por um só e mesmo Espírito,
todos os bens por ela recebidos tornam-se necessariamente um fundo comum» (Catech. R.
1.10,24). Utilizando uma linguagem mais atual, podemos chamar esse ―fundo comum‖ de
―fundo de solidariedade‖. Ninguém se salva sozinho e todo batizado deve preocupar-se não
só com a própria salvação, mas com a salvação do mundo, o que constitui justamente a
finalidade da Igreja. Da mesma maneira, a expressão ―comunhão dos santos‖ pode ser
traduzida em linguagem moderna por ―solidariedade entre todos os fiéis cristãos‖:
- A comunhão da partilha: «Tudo o que o verdadeiro cristão possui, deve olhá-lo como
um bem que lhe é comum com os demais, e deve estar sempre pronto e ser diligente para ir
em socorro do pobre e da miséria do próximo».5
- A comunhão da caridade:
4
S. Tomás de Aquino, symb. 10 citado por CEC, 947.
5
Cat Rom 1, 10, 27, p. 121.
5
«A caridade não é interesseira» (1Cor 13,5). O mais insignificante
dos nossos atos, realizado na caridade, reverte em proveito de
todos, numa solidariedade com todos os homens, vivos ou
defuntos, que se funda na comunhão dos santos. Pelo contrário,
todo o pecado prejudica esta comunhão. (CEC 453).
4. A COMUNHÃO ENTRE A IGREJA DO CÉU E A DA TERRA (SANCTI)
A comunhão dos santos não se restringe à Igreja terrestre, também chamada peregrina ou
militante, constituída pelos fiéis que ainda militam neste mundo; inclui também a Igreja
padecente, composta por outros que, passada esta vida, são purificados, e, finalmente, a
Igreja triunfante, constituída por aqueles que ―vêem claramente o Deus uno e trino como
Ele é, mas alguns de modo mais perfeito que outros, segundo a diversidade dos méritos‖.6
6
ótica, São Domingos de Gusmão, fundador dos dominicanos, disse aos seus irmãos em seu
leito de morte: ―Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após minha morte e ajudar-vos-ei mais
eficazmente do que durante a minha vida.‖
Por outro lado, podemos e devemos interceder uns pelos outros, unidos pelos vínculos da
fé e da caridade: ―Ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo‖ (Rm
14,7). Ninguém deve orar apenas para si mesmo. Todos os frutos espirituais devem ser
colocados a serviço de todos os irmãos. Esta é a comunhão que une os santos.
9
Breviário romano, Invitatório na Festa de Todos os Santos.
10
II CONCÍLIO DO VATICANO, Const. dogm. Lumen Gentium, 50. (Os destaques são nossos).
11
Missal Romano, Prefácio dos Santos. (Os destaques são nossos).
7
algum diminuem o culto de adoração prestado a Deus pai por
Cristo, no Espírito, mas pelo contrário o enriquecem ainda mais.‖12
A comunhão com os falecidos
A Igreja Primitiva pensava que a Parusia do Cristo aconteceria logo (escatologia iminente).
Pedro afirmou: "O fim de todas as coisas está próximo" (1Pd 4,7). Paulo imaginava que ela
aconteceria durante a sua vida: "Nós, os vivos, os que ainda estivermos lá para a Vinda do
Senhor, não passaremos à frente dos que morreram" (1Ts 4,15). Tratava-se mais duma
esperança do que uma certeza. Neste contexto, não reflete sobre a escatologia individual.
Quando a questão começou a aparecer, surgiu, com razão, a ideia que devia existir uma
forma de comunhão entre os vivos e ―os que adormeceram em Cristo‖ (cf. 1Cor 15,20) que
se traduz pela oração. Podemos e devemos rezar pelos falecidos porque não sabemos
exatamente qual é o estado de glória dos nossos entes queridos:
12
II CONCÍLIO DO VATICANO, Const. dogm. Lumen Gentium, 51.
13
Ibid. 50.
8
comunhão dos santos significa uma mútua responsabilidade: podemos ajudar os defuntos
rezando por eles e pedimos-lhes que nos ajudem recomendando-nos à sua intercessão.14
―Ao celebrar o sacrifício eucarístico, unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja
celeste, comungando e venerando a memória, primeiramente da gloriosa sempre Virgem
Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e mártires e de todos os santos‖ (LG 50).
Para finalizar, a Igreja recomenda também as obras de penitência e de caridade assim como
as indulgências (CEC 1032).
―Todos os que somos filhos de Deus, e formamos em Cristo uma família (cf. Hebr. 3,6), ao
comunicarmos na caridade mútua e no comum louvor da Trindade Santíssima,
correspondemos à íntima vocação da Igreja‖ (CEC 959).
RESUMINDO
CEC 960. A Igreja é «comunhão dos santos»: esta expressão designa, em primeiro lugar,
as «coisas santas» (sancta) e, antes de mais, a Eucaristia, pela qual «é representada e se
realiza a unidade dos fiéis que constituem um só Corpo em Cristo».
CEC 961. Este termo também designa a comunhão das «pessoas santas» (sancti) em
Cristo, que «morreu por todos», de modo que o que cada um faz ou sofre por Cristo e em
Cristo reverte em proveito de todos.
CEC 962. «Nós cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo: dos que peregrinam na
terra, dos defuntos que estão levando a cabo a sua purificação e dos bem-aventurados do
céu: formam todos uma só Igreja; e cremos que, nesta comunhão, o amor misericordioso
de Deus e dos seus santos está sempre atento às nossas orações».15
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14
Reflexão baseada numa entrevista dada pelo teólogo Bernard SESBOÜÉ S.J. e publicada no diário
católico francês ―La croix‖: http://croire.la-croix.com/Definitions/Lexique/Communion-des-saints/La-
communion-des-saints-qu-est-ce-que-c-est (acesso em 26.09.2017).
15
PAULO VI, Sollemnis Professio fidei (Credo do Povo de Deus) 30: http://w2.vatican.va/content/paul-
vi/pt/motu_proprio/documents/hf_p-vi_motu-proprio_19680630_credo.html
9
APROFUNDANDO
Hoje gostaria de falar sobre uma realidade muito bonita da nossa fé, ou seja, da
«comunhão dos santos». O Catecismo da Igreja Católica recorda-nos que com esta
expressão se entendem duas realidades: a comunhão com as coisas santas e a comunhão
entre as pessoas santas (n. 948). Meditemos sobre o segundo significado: trata-se das
verdades mais consoladoras da nossa fé, porque nos recorda que não estamos sozinhos,
mas existe uma comunhão de vida entre todos aqueles que pertencem a Cristo. Uma
comunhão que nasce da fé; com efeito, o termo «santos» refere-se àqueles que acreditam
no Senhor Jesus e são incorporados nele na Igreja, mediante o Batismo. Por isso, os
primeiros cristãos chamavam-se também «santos» (cf. At 9,13.32.41; Rm 8, 27; 1 Cor 6,
1).
O Evangelho de João testemunha que, antes da sua Paixão, Jesus rezou ao Pai pela
comunhão entre os discípulos, com as seguintes palavras: «Para que todos sejam um,
assim como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti, para que também eles estejam em Nós
e o mundo creia que Tu me enviaste» (17, 21). Na sua verdade mais profunda, a Igreja
é comunhão com Deus, familiaridade com Deus, comunhão de amor com Cristo e com
o Pai no Espírito Santo, que se prolonga numa comunhão fraterna. Esta relação entre
Jesus e o Pai é a «matriz» do vínculo entre nós, cristãos: se estivermos intimamente
inseridos nesta «matriz», nesta fornalha ardente de amor, então poderemos tornar-nos
verdadeiramente um só coração e uma só alma entre nós, porque o amor de Deus dissipa
os nossos egoísmos, os nossos preconceitos e as nossas divisões interiores e exteriores.
O amor de Deus dissipa também os nossos pecados!
Se existir esta radicação na nascente do Amor, que é Deus, então verificar-se-á também
o movimento recíproco: dos irmãos para Deus; a experiência da comunhão fraterna
leva-me à comunhão com Deus. Estarmos unidos entre nós leva-nos a permanecer
unidos a Deus, conduz-nos para este vínculo com Deus que é nosso Pai. Eis o segundo
aspecto da comunhão dos santos, que eu gostaria de ressaltar: a nossa fé tem
necessidade da ajuda dos outros, especialmente nos momentos difíceis. Se estivermos
unidos, a nossa fé fortalecer-se-á. Como é bom amparar-nos uns aos outros na
maravilhosa aventura da fé! Digo isto porque a tendência a fechar-nos no privado
influenciou também o âmbito religioso, de tal modo que muitas vezes temos dificuldade
em pedir a ajuda espiritual de quantos compartilham conosco a experiência cristã. Quem
de nós nunca sentiu insegurança, confusão e até dúvidas no caminho da fé? Todos nós
vivemos isto, e eu também: faz parte do caminho da fé, faz parte da nossa vida. Nada
disto nos deve admirar, porque somos seres humanos, marcados pela fragilidade e
limites; todos nós somos frágeis, todos temos limites. No entanto, nestes momentos de
dificuldade é necessário confiar na ajuda de Deus, mediante a oração filial e, ao mesmo
tempo, é importante encontrar a coragem e a humildade de nos abrirmos aos outros,
para pedir ajuda, para pedir que nos dêem uma mão. Quantas vezes fizemos isto, e
depois conseguimos resolver o problema e encontrar Deus mais uma vez! Nesta
comunhão — comunhão quer dizer comum-união — somos uma grande família, onde
todos os componentes se ajudam e se sustentam entre si.
16
AUDIÊNCIA GERAL, Praça de São Pedro, Quarta-feira, 30 de Outubro de 2013:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2013/documents/papa-francesco_20131030_udienza-
generale.html (Acesso em 26/09/2017).
10
E consideremos outro aspecto: a comunhão dos santos vai além da vida terrena, vai
além da morte e perdura para sempre. Esta união entre nós vai mais além e continua na
outra vida; trata-se de uma união espiritual que deriva do Batismo e não é interrompida
pela morte, mas, graças a Cristo ressuscitado, está destinada a encontrar a sua plenitude
na vida eterna. Existe uma união profunda e indissolúvel entre quantos ainda são
peregrinos neste mundo — entre nós — e aqueles que já ultrapassaram o limiar da
morte para entrar na eternidade. Todos os batizados da terra, as almas do Purgatório e
todos os beatos que já se encontram no Paraíso formam uma única grande Família. Esta
comunhão entre a terra e o Céu realiza-se especialmente na prece de intercessão.
Estimados amigos, dispomos desta beleza! É uma nossa realidade, de todos, que nos faz
irmãos, que nos acompanha no caminho da vida e que depois nos levará a encontrar-nos
no Céu. Percorramos este caminho com confiança e alegria. O cristão deve ser alegre,
com o júbilo de ter muitos irmãos batizados que caminham com ele; animado pela ajuda
dos irmãos e das irmãs que percorrem este mesmo caminho para ir ao Céu; e também
com a ajuda dos irmãos e das irmãs que estão no Céu e intercedem por nós junto de
Jesus. Em frente ao longo deste caminho com alegria!
++++++++++++
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