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41TD6 - Escatologia - Unid.1

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CURSO DE ESCATOLOGIA

Juízo final, Cremona (Itália).

MARÍLIA
2017

______________________________________________________________________
FAJOPA - Faculdade João Paulo II, 41TD6 – ESCATOLOGIA.
Direitos autorais: Dr. Pe. Hugues A. O. E. d’ANS - Marília / SP, 2º semestre de 2017.
CURSO DE EscatolOGIA
INTRODUÇÃO GERAL

As perguntas mais frequentes que o povo faz dizem respeito às origens do mundo
(PROTOLOGIA) e ao seu fim (ESCATOLOGIA). A matéria existe desde sempre para
sempre? Se o mundo tem um começo, foi por acaso ou necessidade? A fé responde que
é devido a uma Causa primeira, uma Causa sem causa, sem começo nem fim, sem
limite, fora do tempo e do espaço: Deus! Surge então uma série de dúvidas sobre a
criação do mundo. E quase ninguém responde... a não ser os fundamentalistas que
dizem que tudo aconteceu do jeito que está escrito na bíblia. Então, eu pergunto: ―Quem
estava aí para testemunhar e relatar todas essas coisas?‖... Rezamos no Símbolo
niceno-constantinopolitano: “Creio em Deus Pai Todo Poderoso, criador de todas as
coisas visíveis e invisíveis”. Enxergamos e conhecemos só uma ínfima parte das “coisas
visíveis”. Que dizer então sobre ―as coisas invisíveis”?

Tem mais: o mundo é eterno ou vai acabar um dia? Quando e como tudo isso
acontecerá? Há vida além da morte? O inferno, o purgatório e o céu existem? Como
será o juízo final? E quase ninguém responde... a não ser os fundamentalistas que
dizem que tudo acontecerá do jeito que está escrito na bíblia e até alguns ―profetas‖ que
tentam marcar uma data sempre revista e corrigida.1

Se já é difícil falar das coisas visíveis e invisíveis, a dificuldade chega ao extremo


quando se trata das coisas futuras e da eternidade. Entretanto, se o povo pergunta, o
teólogo deve dar uma resposta que se encontra no tratado de ―Escatologia”, também
chamado ―De Novíssimis‖ porque trata das ―coisas novas‖: ―Eis que faço novas todas
as coisas‖ (Ap. 21,5).

A ―escatologia‖ (do grego ―eschatos‖, "último" + o sufixo ―-logia‖, ―discurso, estudo‖)


refere-se às ―últimas realidades‖: morte, ressurreição e vida eterna. Entretanto não se
limita a isso. De modo mais radical, ―não se trata, pois, tanto de perguntar pelas
―últimas realidades‖, mas pelo ―Último‖ de todas as realidades [...] Jesus Cristo:

1
Segundo uma teoria que combina astronomia, ciência e passagens bíblicas, um corpo celeste deveria
colidir com o nosso planeta em 23.09.2017, data em que estou redigindo essas linhas. O fim do mundo já
foi anunciado várias vezes desde o ano de 2000 (o chamado ―blug do milênio‖). Passei por todos eles,
graças a Deus. Que venha o próximo!

2
plenitude, pleroma, evento escatológico por excelência‖.2 Ele é o A e o de todas as
coisas, nosso Futuro absoluto, o Último de todas as coisas. A finalidade da escatologia
não consiste em responder ao ―quando‖ nem ao ―como‖ acontecerão as últimas
realidades, simplesmente porque o próprio Cristo nos avisou: "Quanto ao dia e à hora
ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai‖ (Mt 24,36).
Quanto ao ―como‖, só podemos utilizar imagens, com prudência e discrição:

―Não são informações histórico-descritivas, nem são visões


proféticas antecipadas do futuro, mas são teologia no sentido
mais estrito do termo. Falam do Absoluto de Deus em relação ao
homem e do homem em relação a esse Absoluto, como
Esperança, como Perdão, mas também como Justiça. Esse
núcleo é vestido de imagens, reflexo de experiências, traduzidas
dentro do espaço hermenêutico em que se vive‖.3
Desenvolveremos o nosso estudo conforme o seguinte esquema:

UNIDADE 1: A COMUNHÃO DOS SANTOS

UNIDADE 2: A RESSURREIÇÃO

UNIDADE 3: O JUÍZO

UNIDADE 4: O CÉU

UNIDADE 5: O PURGATÓRIO

UNIDADE 6: O INFERNO

UNIDADE 7: A ESPERANÇA DOS CÉUS NOVOS E DA TERRA NOVA

SIGLAS
Catech. R.: Catecismo Romano (Tridentino)
CEC: Catecismo da Igreja Católica
LG: Constituição dogmática Lumen Gentium

2
LIBÂNIO, João Batista; BINGEMER, Maria Clara L. Escatologia Cristã: O Novo Céu e a Nova Terra.
Petrópolis: Vozes, 1985, p. 22-23.
3
Ibid., p.27.

3
UNIDADE I - A COMUNHÃO DOS SANTOS

1. QUEM É SANTO?
Para o Primeiro Testamento, a fonte de toda santidade encontra-se em Deus: só Deus é
Santo, três vezes Santo (Is. 6,3). Sua santidade é inacessível ao homem pecador. Ele revela
sua santidade manifestando sua glória principalmente através de sua criação e de suas
teofanias. Toda santidade deriva de Jahweh. Ele torna ―sagrados‖ os lugares e os objetos
que têm um certo contato com Ele: a terra prometida, a cidade de Jerusalém, os santuários,
o templo, a arca da aliança, as tábuas da lei, os objetos que servem ao culto (são as ―coisas
santas‖ - “sancta”, em latim).

A comunidade apostólica assimilou a doutrina e o vocabulário do Primeiro Testamento.


Deus Pai é Santo (Lc 1,49) assim como sua Lei (Rm 7,12) e sua Aliança (Lc 1,72). Santo é
o seu templo e santa é a Jerusalém celestial. Assim como Ele é Santo, santos também
devem ser seus eleitos: ―Como é Santo Aquele que vos chamou, tornai-vos também vós
santos em todo o vosso comportamento, porque está escrito: sede santos, porque eu sou
Santo” (1Pd 1,15-16). Por esse motivo, os fiéis da Igreja primitiva se autodenominavam
―santos‖ (―sancti”, em latim): ―Vós sois a raça eleita, o sacerdócio real, a nação santa [...]
vós que outrora não éreis povo, mas agora sois o povo de Deus‖ (1 Pd 2,9-10). At 9,13 fala
também dos santos de Deus em Jerusalém. Essa consciência surgiu após o Pentecostes,
graças ao dom do Espírito Santo que, no batismo, triunfa do pecado. A santidade inicial
nos é dada de modo absolutamente gratuito. Isto não significa que já estejamos prontos a
ser canonizados! Temos que corresponder a essa graça divina para crescer cada vez mais
na vida de fé, esperança e caridade para chegarmos a uma santidade perfeita. O apelo a
viver a santidade nos vem de Jesus: "Portanto, sede santos, assim como vosso Pai celeste é
santo" (Mt 5, 48).

2. EU CREIO NA COMUNHÃO DOS SANTOS


Quando rezamos o Símbolo dos Apóstolos, professamos a nossa fé ―na santa Igreja
Católica e na comunhão dos santos‖. ―Este artigo é, em certo sentido, uma explicitação do
anterior: pois o «que é a Igreja senão a assembleia de todos os santos?». A comunhão dos
santos é precisamente a Igreja.‖ (CEC 946). A Igreja é a comunhão de todos os fiéis que
podem participar da Eucaristia e que vivem na fraternidade e na comunhão duma mesma
fé.

4
«Uma vez que todos os crentes formam um só corpo, o bem de uns
é comunicado aos outros [...]. E assim, deve-se acreditar que existe
uma comunhão de bens na Igreja. [...] Mas o membro mais
importante é Cristo, que é a Cabeça [...]. Assim, o bem de Cristo é
comunicado a todos os membros, comunicação que se faz através
dos sacramentos da Igreja»4
O Catecismo Romano precisa: «Como a Igreja é governada por um só e mesmo Espírito,
todos os bens por ela recebidos tornam-se necessariamente um fundo comum» (Catech. R.
1.10,24). Utilizando uma linguagem mais atual, podemos chamar esse ―fundo comum‖ de
―fundo de solidariedade‖. Ninguém se salva sozinho e todo batizado deve preocupar-se não
só com a própria salvação, mas com a salvação do mundo, o que constitui justamente a
finalidade da Igreja. Da mesma maneira, a expressão ―comunhão dos santos‖ pode ser
traduzida em linguagem moderna por ―solidariedade entre todos os fiéis cristãos‖:

«Sancta sanctis! (O que é santo, para aqueles que são santos)».


Assim proclama o celebrante na maior parte das liturgias orientais,
no momento da elevação dos santos Dons antes do serviço da
comunhão. Os fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e Sangue
de Cristo (sancta), para crescerem na comunhão do Espírito
Santo (Koinônia) e a comunicarem ao mundo. (CEC 948).
3. A COMUNHÃO DOS BENS ESPIRITUAIS (SANCTA)

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, os bens espirituais são:

- A comunhão na fé, recebida dos Apóstolos (CEC 459);

- A comunhão nos sacramentos, de modo todo especial a Eucaristia (CEC 950);

- A comunhão dos carismas (CEC 951);

- A comunhão da partilha: «Tudo o que o verdadeiro cristão possui, deve olhá-lo como
um bem que lhe é comum com os demais, e deve estar sempre pronto e ser diligente para ir
em socorro do pobre e da miséria do próximo».5

- A comunhão da caridade:

Na comunhão dos santos (sanctorum communio), «nenhum de nós


vive para si mesmo, e nenhum de nós morre para si
mesmo» (Rm 14,7). «Se um membro sofre, todos os membros
sofrem com ele; se um membro for honrado por alguém, todos os
membros se alegram com ele. Vós sois o Corpo de Cristo e seus
membros, cada um na parte que lhe diz respeito» (1Cor 12,26-27).

4
S. Tomás de Aquino, symb. 10 citado por CEC, 947.
5
Cat Rom 1, 10, 27, p. 121.

5
«A caridade não é interesseira» (1Cor 13,5). O mais insignificante
dos nossos atos, realizado na caridade, reverte em proveito de
todos, numa solidariedade com todos os homens, vivos ou
defuntos, que se funda na comunhão dos santos. Pelo contrário,
todo o pecado prejudica esta comunhão. (CEC 453).
4. A COMUNHÃO ENTRE A IGREJA DO CÉU E A DA TERRA (SANCTI)

Os três estados da Igreja

A comunhão dos santos não se restringe à Igreja terrestre, também chamada peregrina ou
militante, constituída pelos fiéis que ainda militam neste mundo; inclui também a Igreja
padecente, composta por outros que, passada esta vida, são purificados, e, finalmente, a
Igreja triunfante, constituída por aqueles que ―vêem claramente o Deus uno e trino como
Ele é, mas alguns de modo mais perfeito que outros, segundo a diversidade dos méritos‖.6

―Todos, porém, comungamos, embora em modo e grau diversos, no


mesmo amor de Deus e do próximo, e todos entoamos ao nosso
Deus o mesmo hino de louvor. Com efeito, todos os que são de
Cristo e têm o Seu Espírito, estão unidos numa só Igreja e ligados
uns aos outros n'Ele (cf. Ef. 4,16).‖7
A intercessão dos santos
―E assim, de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda
caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de
Cristo, mas antes, segundo a constante fé da Igreja, é reforçada pela
comunicação dos bens espirituais. Porque os bem-aventurados,
estando mais ìntimamente unidos com Cristo, consolidam mais
firmemente a Igreja na santidade, enobrecem o culto que ela presta
a Deus na terra, e contribuem de muitas maneiras para a sua mais
ampla edificação em Cristo (cfr. 1 Cor. 12, 12-27) (148). Recebidos
na pátria celeste e vivendo junto do Senhor (cfr. 2 Cor. 5,8), não
cessam de interceder, por Ele, com Ele e n'Ele, a nosso favor diante
do Pai (149), apresentando os méritos que na terra alcançaram,
graças ao mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo
(cfr. 1 Tim., 2,5), servindo ao Senhor em todas as coisas e
completando o que falta aos sofrimentos de Cristo, em favor do Seu
corpo que é a Igreja (cfr. Col. 1,24) (150). A nossa fraqueza é
assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos.‖8
Santa Terezinha do menino Jesus chegou a dizer: ―Quero passar o meu céu a fazer o bem
sobre a terra‖, uma clara alusão à sua incessante intercessão junto a Deus por todos nós,
membros da Igreja militante. A frase ―não morro, entro na vida‖, que ela pronunciou às
vésperas de sua morte, define muito bem a esperança cristã na vida eterna. Na mesma
6
CONCÍLIO FLORENTINO, Decreto para os Gregos, 1439. (Denzinger-Hünermann 1305).
7
II CONCÍLIO DO VATICANO, Const. dogm. Lumen Gentium, 49. (Os destaques são nossos).
8
Ibid. (Os destaques são nossos).

6
ótica, São Domingos de Gusmão, fundador dos dominicanos, disse aos seus irmãos em seu
leito de morte: ―Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após minha morte e ajudar-vos-ei mais
eficazmente do que durante a minha vida.‖

Por outro lado, podemos e devemos interceder uns pelos outros, unidos pelos vínculos da
fé e da caridade: ―Ninguém de nós vive e ninguém morre para si mesmo‖ (Rm
14,7). Ninguém deve orar apenas para si mesmo. Todos os frutos espirituais devem ser
colocados a serviço de todos os irmãos. Esta é a comunhão que une os santos.

A comunhão com os santos

Porém, não é só por causa de seu exemplo que veneramos a


memória dos bem-aventurados, mas ainda mais para que a união de
toda a Igreja aumente com o exercício da caridade fraterna (cfr. Ef.
4, 1-6). [...] É, portanto, muito justo que amemos estes amigos e co-
herdeiros de Jesus Cristo, nossos irmãos e grandes benfeitores, que
demos a Deus, por eles, as devidas graças [...] porque todo o
genuíno testemunho de veneração que prestamos aos santos, tende
e leva, por sua mesma natureza, a Cristo, que é a «coroa de todos
os santos»9 e, por Ele, a Deus, que é admirável nos seus santos e
neles é glorificado.10
De modo muito feliz, o Catecismo da Igreja Católica acrescenta aqui esta citação de S.
Policarpo, estabelecendo assim claramente a diferença entre culto de veneração e culto de
adoração:

«A Cristo, nós O adoramos, porque Ele é o Filho de Deus; quanto


aos mártires, nós os amamos como a discípulos e imitadores do
Senhor: e isso é justo, por causa da sua devoção incomparável para
com o seu Rei e Mestre. Assim nós possamos também ser seus
companheiros e condiscípulos!» (CEC 957- O destaques é nosso).
Também a Constituição Dogmática Lumen Gentium dirige essa recomendação aos padres
conciliares:
―Ensinem portanto, aos fiéis que o verdadeiro culto dos santos não
consiste tanto na multiplicação dos atos externos quanto na
intensidade do nosso amor efetivo, pelo qual, para maior bem nosso
e da Igreja, procuramos «na vida dos santos um exemplo, na
comunhão com eles uma participação, e na sua intercessão uma
ajuda».11 Por outro lado, mostrem aos fiéis que as nossas relações
com os bem-aventurados, quando concebidas à luz da fé, de modo

9
Breviário romano, Invitatório na Festa de Todos os Santos.
10
II CONCÍLIO DO VATICANO, Const. dogm. Lumen Gentium, 50. (Os destaques são nossos).
11
Missal Romano, Prefácio dos Santos. (Os destaques são nossos).

7
algum diminuem o culto de adoração prestado a Deus pai por
Cristo, no Espírito, mas pelo contrário o enriquecem ainda mais.‖12
A comunhão com os falecidos

A Igreja Primitiva pensava que a Parusia do Cristo aconteceria logo (escatologia iminente).
Pedro afirmou: "O fim de todas as coisas está próximo" (1Pd 4,7). Paulo imaginava que ela
aconteceria durante a sua vida: "Nós, os vivos, os que ainda estivermos lá para a Vinda do
Senhor, não passaremos à frente dos que morreram" (1Ts 4,15). Tratava-se mais duma
esperança do que uma certeza. Neste contexto, não reflete sobre a escatologia individual.
Quando a questão começou a aparecer, surgiu, com razão, a ideia que devia existir uma
forma de comunhão entre os vivos e ―os que adormeceram em Cristo‖ (cf. 1Cor 15,20) que
se traduz pela oração. Podemos e devemos rezar pelos falecidos porque não sabemos
exatamente qual é o estado de glória dos nossos entes queridos:

―Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo


místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam, cultivou com
muita piedade desde os primeiros tempos do Cristianismo a
memória dos defuntos e, «porque é coisa santa e salutar rezar pelos
mortos, para que sejam absolvidos de seus pecados» (2 Mac.
12,46), por eles ofereceu também sufrágios.‖13
―A nossa oração por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua
intercessão em nosso favor‖ (CEC 958 – O destaque é nosso). Parece paradoxal, mas poso,
ao mesmo tempo rezar ao Senhor para que lhes seja plenamente misericordioso e confiar-
me a eles, porque foram pessoas boas e generosas, assim como me recomendo aos santos
canonizados. É o sentido da festa de todos os santos. Se, de fato, o estado deles não é igual
àquele dos santos canonizados, isto é oficialmente reconhecidos pela Igreja, o importante é
que essas pessoas estejam na glória de Deus. A partir do momento em que participam da
divina comunhão, podemos confiar-nos à sua intercessão. Atenção: é muito comum ouvir o
povo dizer que vai ―rezar pelos santos‖. É um erro: a nossa oração se dirige unicamente à
Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Na ladainha de todos os santos, pedimos
que eles roguem e intercedam por nós. O mesmo vale para a Virgem Maria: ―Rogai por
nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte‖. Retomando a ideia de solidariedade, a

12
II CONCÍLIO DO VATICANO, Const. dogm. Lumen Gentium, 51.
13
Ibid. 50.

8
comunhão dos santos significa uma mútua responsabilidade: podemos ajudar os defuntos
rezando por eles e pedimos-lhes que nos ajudem recomendando-nos à sua intercessão.14

―Ao celebrar o sacrifício eucarístico, unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja
celeste, comungando e venerando a memória, primeiramente da gloriosa sempre Virgem
Maria, de S. José, dos santos Apóstolos e mártires e de todos os santos‖ (LG 50).

Para finalizar, a Igreja recomenda também as obras de penitência e de caridade assim como
as indulgências (CEC 1032).

Na única família de Deus

―Todos os que somos filhos de Deus, e formamos em Cristo uma família (cf. Hebr. 3,6), ao
comunicarmos na caridade mútua e no comum louvor da Trindade Santíssima,
correspondemos à íntima vocação da Igreja‖ (CEC 959).

RESUMINDO

CEC 960. A Igreja é «comunhão dos santos»: esta expressão designa, em primeiro lugar,
as «coisas santas» (sancta) e, antes de mais, a Eucaristia, pela qual «é representada e se
realiza a unidade dos fiéis que constituem um só Corpo em Cristo».

CEC 961. Este termo também designa a comunhão das «pessoas santas» (sancti) em
Cristo, que «morreu por todos», de modo que o que cada um faz ou sofre por Cristo e em
Cristo reverte em proveito de todos.

CEC 962. «Nós cremos na comunhão de todos os fiéis de Cristo: dos que peregrinam na
terra, dos defuntos que estão levando a cabo a sua purificação e dos bem-aventurados do
céu: formam todos uma só Igreja; e cremos que, nesta comunhão, o amor misericordioso
de Deus e dos seus santos está sempre atento às nossas orações».15

++++++++++++

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, ROGAI POR NÓS.


TODOS OS SANTOS E SANTAS DE DEUS, INTERCEDEI POR NÓS.

14
Reflexão baseada numa entrevista dada pelo teólogo Bernard SESBOÜÉ S.J. e publicada no diário
católico francês ―La croix‖: http://croire.la-croix.com/Definitions/Lexique/Communion-des-saints/La-
communion-des-saints-qu-est-ce-que-c-est (acesso em 26.09.2017).
15
PAULO VI, Sollemnis Professio fidei (Credo do Povo de Deus) 30: http://w2.vatican.va/content/paul-
vi/pt/motu_proprio/documents/hf_p-vi_motu-proprio_19680630_credo.html

9
APROFUNDANDO

PAPA FRANCISCO: A COMUNHÃO DOS SANTOS16

Hoje gostaria de falar sobre uma realidade muito bonita da nossa fé, ou seja, da
«comunhão dos santos». O Catecismo da Igreja Católica recorda-nos que com esta
expressão se entendem duas realidades: a comunhão com as coisas santas e a comunhão
entre as pessoas santas (n. 948). Meditemos sobre o segundo significado: trata-se das
verdades mais consoladoras da nossa fé, porque nos recorda que não estamos sozinhos,
mas existe uma comunhão de vida entre todos aqueles que pertencem a Cristo. Uma
comunhão que nasce da fé; com efeito, o termo «santos» refere-se àqueles que acreditam
no Senhor Jesus e são incorporados nele na Igreja, mediante o Batismo. Por isso, os
primeiros cristãos chamavam-se também «santos» (cf. At 9,13.32.41; Rm 8, 27; 1 Cor 6,
1).
O Evangelho de João testemunha que, antes da sua Paixão, Jesus rezou ao Pai pela
comunhão entre os discípulos, com as seguintes palavras: «Para que todos sejam um,
assim como Tu, ó Pai, estás em mim e Eu em ti, para que também eles estejam em Nós
e o mundo creia que Tu me enviaste» (17, 21). Na sua verdade mais profunda, a Igreja
é comunhão com Deus, familiaridade com Deus, comunhão de amor com Cristo e com
o Pai no Espírito Santo, que se prolonga numa comunhão fraterna. Esta relação entre
Jesus e o Pai é a «matriz» do vínculo entre nós, cristãos: se estivermos intimamente
inseridos nesta «matriz», nesta fornalha ardente de amor, então poderemos tornar-nos
verdadeiramente um só coração e uma só alma entre nós, porque o amor de Deus dissipa
os nossos egoísmos, os nossos preconceitos e as nossas divisões interiores e exteriores.
O amor de Deus dissipa também os nossos pecados!

Se existir esta radicação na nascente do Amor, que é Deus, então verificar-se-á também
o movimento recíproco: dos irmãos para Deus; a experiência da comunhão fraterna
leva-me à comunhão com Deus. Estarmos unidos entre nós leva-nos a permanecer
unidos a Deus, conduz-nos para este vínculo com Deus que é nosso Pai. Eis o segundo
aspecto da comunhão dos santos, que eu gostaria de ressaltar: a nossa fé tem
necessidade da ajuda dos outros, especialmente nos momentos difíceis. Se estivermos
unidos, a nossa fé fortalecer-se-á. Como é bom amparar-nos uns aos outros na
maravilhosa aventura da fé! Digo isto porque a tendência a fechar-nos no privado
influenciou também o âmbito religioso, de tal modo que muitas vezes temos dificuldade
em pedir a ajuda espiritual de quantos compartilham conosco a experiência cristã. Quem
de nós nunca sentiu insegurança, confusão e até dúvidas no caminho da fé? Todos nós
vivemos isto, e eu também: faz parte do caminho da fé, faz parte da nossa vida. Nada
disto nos deve admirar, porque somos seres humanos, marcados pela fragilidade e
limites; todos nós somos frágeis, todos temos limites. No entanto, nestes momentos de
dificuldade é necessário confiar na ajuda de Deus, mediante a oração filial e, ao mesmo
tempo, é importante encontrar a coragem e a humildade de nos abrirmos aos outros,
para pedir ajuda, para pedir que nos dêem uma mão. Quantas vezes fizemos isto, e
depois conseguimos resolver o problema e encontrar Deus mais uma vez! Nesta
comunhão — comunhão quer dizer comum-união — somos uma grande família, onde
todos os componentes se ajudam e se sustentam entre si.
16
AUDIÊNCIA GERAL, Praça de São Pedro, Quarta-feira, 30 de Outubro de 2013:
http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2013/documents/papa-francesco_20131030_udienza-
generale.html (Acesso em 26/09/2017).

10
E consideremos outro aspecto: a comunhão dos santos vai além da vida terrena, vai
além da morte e perdura para sempre. Esta união entre nós vai mais além e continua na
outra vida; trata-se de uma união espiritual que deriva do Batismo e não é interrompida
pela morte, mas, graças a Cristo ressuscitado, está destinada a encontrar a sua plenitude
na vida eterna. Existe uma união profunda e indissolúvel entre quantos ainda são
peregrinos neste mundo — entre nós — e aqueles que já ultrapassaram o limiar da
morte para entrar na eternidade. Todos os batizados da terra, as almas do Purgatório e
todos os beatos que já se encontram no Paraíso formam uma única grande Família. Esta
comunhão entre a terra e o Céu realiza-se especialmente na prece de intercessão.

Estimados amigos, dispomos desta beleza! É uma nossa realidade, de todos, que nos faz
irmãos, que nos acompanha no caminho da vida e que depois nos levará a encontrar-nos
no Céu. Percorramos este caminho com confiança e alegria. O cristão deve ser alegre,
com o júbilo de ter muitos irmãos batizados que caminham com ele; animado pela ajuda
dos irmãos e das irmãs que percorrem este mesmo caminho para ir ao Céu; e também
com a ajuda dos irmãos e das irmãs que estão no Céu e intercedem por nós junto de
Jesus. Em frente ao longo deste caminho com alegria!

++++++++++++

“Se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou.


E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.‖
(1Cor 15,13-14)
++++++++++++
PERGUNTAS PARA O FÓRUM DE PARTILHA

1) O que significa o termo ―escatologia‖? Qual a finalidade deste tratado de teologia?


2) Explique o que é e em que consiste a ―comunhão dos santos‖?
3) Tem sentido de oferecer sufrágios pelos nossos irmãos falecidos?
4) Explique a diferença entre culto de veneração e culto de adoração.
5) Quais são os três estados da Igreja? Explique brevemente cada um deles destacando a
sua mútua relação com os demais.

11

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