46-Texto Do Artigo-176-1-10-20201016
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Artigo original
RESUMO: As políticas de população são programas ou conjunto de acções através dos quais os governos
influenciam directa ou indirectamente as variáveis demográficas de modo a promover um equilíbrio entre as
dinâmicas demográficas e socioeconómicas. O debate sobre a adopção de uma política de população nos países
pobres, e em particular nos da África subsaariana, tem estado na ordem do dia sobretudo desde os meados do
século XX. As rápidas transformações demográficas e os desafios socioeconómicos e políticos relativos ao
progresso social levaram as agências governamentais e não-governamentais internacionais a promover a adopção
e implementação de políticas de população nos países em desenvolvimento para reduzir o crescimento
populacional e impulsionar o desenvolvimento socioeconómico. No âmbito deste movimento, Moçambique
adoptou uma política de população em 1999, mas a sua implementação não foi efectiva. Com base na revisão de
literatura, este artigo discute a necessidade e a natureza de uma política de população para Moçambique tendo em
conta o contexto demográfico social e político do país. O processo de desenvolvimento económico de Moçambique
também dependerá da forma como o país irá lidar com a sua dinâmica demográfica, sobretudo da forma como irá
gerir a sua fecundidade, tanto em termos de discurso como de políticas e programas a adoptar.
Palavras-chave: Crescimento populacional, desenvolvimento socioeconómico, Moçambique, Política de
População.
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Política de população em moçambique: porquê e para quê?
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As repercussões deste movimento global No entanto, a adopção das PPs nem sempre
sobre a população, particularmente nos foi o reflexo da vontade genuína dos
países menos desenvolvidos foram e têm Governos dos países africanos em reduzir o
sido profundas. A nível mundial, a crescimento populacional, mas sobretudo
fecundidade passou de 5 filhos por mulher uma necessidade de alcançar metas
no período 1950-55 para 2.5 filhos no simbólicas orientadas do exterior
período 2010-15. Durante o mesmo (CHIMBWETE et al., 2005; CONNELLY,
período, nos países menos desenvolvimento 2003; ROBINSON, 2015). Robinson
a fecundidade passou de 7 para 4.3 filhos (2015) apresenta três razões para a adopção
por mulher (UNITED NATIONS, 2017). de PPs nos países da África subsaariana: (i)
As trajectórias dos países (especialmente os as relações mais intensas com a comunidade
menos desenvolvidos) na redução da política internacional facilitaram a
fecundidade são diferentes. Nem todos os transmissão aos países africanos de normas
países adoptaram PPs e, entre os países que internacionais a respeito de valores, tais
adoptaram alguma forma de PP quer a como os direitos reprodutivos enquanto
natureza da política quer os graus de direitos humanos e ao mesmo tempo sobre
implementação tiveram e têm, o discurso vigente do período pós-segunda
características distintas. Guerra Mundial a cerca da relação entre
população e desenvolvimento; (ii) a pressão
POLÍTICAS DE POPULAÇÃO EM normativa e intensa das organizações
ÁFRICA internacionais para a formulação e adopção
Entre os países em desenvolvimento, os de PPs e; (iii) uma escolha racional dos
países da África subsaariana foram os Estados africanos em reduzir o crescimento
últimos a adoptar as PPs para a redução do da população como forma de acelerar o
crescimento da população. O primeiro país desenvolvimento socioeconómico.
africano a anunciar a adopção duma política Segundo a análise de Robinson (2015), a
de população foram as Maurícias em 1965, pressão normativa e coerciva das
seguiram-se o Quénia em 1967 e o Gana em organizações não governamentais
1969. Até 1974 apenas estes três países internacionais e das organizações doadoras
africanos tinham adoptado PPs teve maior influência. Esta (pressão
(CHIMBWETE et al., 2005; MOSLEY & normativa) baseava-se na crença da
BRANIC, 1989; ROBINSON, 2015). comunidade internacional de que o rápido
Entretanto, em 1999, quando Moçambique crescimento da população tinha
adoptou a sua política de população, cerca implicações negativas para o
de dois terços dos países Africanos também desenvolvimento socioeconómico. Desde
já haviam adoptado políticas com o as conferências internacionais de Bucareste,
objectivo de reduzir o crescimento da México e Cairo, começaram os programas
população (ROBINSON, 2015). de treinamento em demografia para
A adopção das PPs pela maioria dos países técnicos desses países e da promoção de
da região ocorreu entre 1980 e 1990 e PPs pelas organizações internacionais
explica-se pelo facto de ter sido nesse doadoras. Estas organizações, por um lado,
período em que cresceu a integração dos advogavam a adopção das PPs como um
países africanos na comunidade política mecanismo de promoção de direitos
internacional (ROBINSON, 2015), humanos e, por outro lado, como condição
provavelmente devido aos compromissos de acesso a fundos ou empréstimos das
políticos assumidos na conferência de organizações doadoras.
Bucareste, em 1974, e na seguinte no Embora a promoção de PPs por parte das
México, em 1984. organizações doadoras não significasse
uma imposição, a adoção de PPs facilitava
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc.. Vol. 1, No 2, pp 1-21, 2019
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