Liberdade Eteorias Sobre o Livre-Arbítrio
Liberdade Eteorias Sobre o Livre-Arbítrio
Liberdade Eteorias Sobre o Livre-Arbítrio
arbítrio
1. Esclarecimento Prévio dos Conceitos de Liberdade, Livre-arbítrio e
Responsabilidade
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contexto que faz sentido a máxima segundo a qual “a minha liberdade termina
quando começa a liberdade do outro);
No fundo, os limites da liberdade são, entre outras coisas, determinados pelas
leis legitimas e justas, que devem governar as sociedades
Para além disso, a liberdade humana é sempre condicionada por fatores diversos,
nomeadamente de ordem biológica e sociocultural;
Apesar de condicionada, porém, a liberdade humana não é determinada. É que
ser condicionado é diferente de ser determinado;
Os condicionalismos limitam, mas não abolem a liberdade;
Por mais condicionada que a pessoa esteja, permanece sempre uma margem se
não de liberdade, pelo menos de livre-arbítrio, que permita que o homem possa
ser, tanto quanto possível,
o Construtor do mundo e
o Construtor de si próprio.
2. O Problema do Livre-Arbítrio
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Se bem que ligados, não se devem confundir os conceitos de decisão e de ação. Com efeito, se a
primeira, que consiste na escolha de uma entre as várias possibilidades de ação, é um processo
puramente mental, a ação é a objetivação ou concretização da decisão.
Mas se a ação é a concretização da decisão, nem sempre a decisão se concretiza na ação, isto é, nem
sempre passa do plano mental/subjetivo, para o plano material/objetivo. É o que, por exemplo, acontece
com o aluno que decide estudar, mas não estuda.
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estudaremos duas, o determinismo radical e o libertismo) opõem os conceitos de
livre-arbítrio e de determinismo, considerando que onde há
causalidade/determinismo, não pode haver livre-arbítrio e, inversamente, onde
existe livre-arbítrio, não pode haver causalidade/determinismo. As teorias
incompatibilistas defendem, portanto, que é impossível conciliar livre-arbítrio e
determinismo causal. Por sua vez, as teorias compatibilistas (das quais estudaremos o
determinismo moderado) consideram que nas decisões humanas esses conceitos
não se excluem necessariamente, podendo, por isso, coexistir.
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É o facto de não terem consciência das causas que agem sobre si e as levam
a decidir e a agir da forma como efetivamente decidem e agem, que leva a que as
pessoas tenham a ilusão do livre-arbítrio.
A tese segundo a qual não existe vontade livre no universo e de que, portanto,
o livre-arbítrio é uma ilusão, está em desacordo com a experiência de liberdade da
vontade que intuímos em muitas das escolhas que fazemos no quotidiano.
A experiência de liberdade que interiormente sentimos em pensamentos (p.
ex., penso na Revolução Francesa mas, logo de seguida, posso pensar no pai natal ou no
carnaval do Rio de Janeiro, sem que a isso nada me obrigue, mas simplesmente porque
eu quero) e escolhas (escolho um gelado de chocolate, mas poderia ter escolhido um de
morango; escolho uma camisola amarela, mas poderia ter escolhido uma castanha ou de
outra qualquer cor), bem ainda como a análise dos processos de deliberação e
decisão presentes na generalidade das escolhas que fazemos no quotidiano (devo
levar ou não chapéu de chuva? devo escolher bolachas desta ou daquela marca?),
apontam para o facto de que deve existir pelo menos alguma liberdade da vontade,
uma vez que parece que muitas das nossas decisões não são precedidas por
condições causais que as determinam, mas sim que são fruto de deliberações e
decisões que livremente fazemos.
Assim, dado que em muitas decisões que quotidianamente tomamos,
pressupomos espontaneamente a presença do livre-arbítrio, e dada a dificuldade
do determinismo radical em provar que essa sensação de liberdade é uma ilusão,
podemos até dizer que sentimos e cremos que o livre-arbítrio faz parte do próprio
processo de agir.
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efeito, não se pode responsabilizar uma pessoa por ações que, por efeito de causas
interiores (doença mental, por exemplo) ou exteriores (por exemplo, o ladrão que
aponta uma arma) a obrigam e levam a que ela não possa deixar de fazer aquilo que
faz.
2.2. Libertismo
Como o determinismo radical, também o libertismo defende a existência de
incompatibilidade entre determinismo e livre-arbítrio. Ao contrário daquela teoria,
porém, o libertismo nega o determinismo causal em algumas decisões que
efetuamos, afirmando, por isso, a existência do livre-arbítrio.
O livre-arbítrio é, para o libertismo, um facto, uma evidência, de cuja
realidade temos experiência direta, nas múltiplas escolhas que fazemos no
quotidiano. Por exemplo, quando no supermercado escolhemos uma pasta de dentes
em vez de outra ou, numa sapataria, um par de sapatos em vez de outro. O libertista
defende que a escolha é inevitável e inerente ao nosso próprio existir. A cada
memento da nossa vida temos de fazer escolhas (por exemplo, neste momento escolhi
ler este texto, em vez de fazer outra coisa qualquer; de manhã, escolhi levantar-me e
vestir-me em vez de ficar na cama), e essas escolhas não são determinadas por outra
coisa que não a própria decisão ou escolha.
Dotado da capacidade de autodeterminação, pelas suas escolhas, o agente
dá livremente início a cadeias causais novas, assim delineando, de, de forma livre e
responsável, o sentido da sua vida, o seu presente e o seu futuro (por exemplo, a
escolha deliberada e livre de um aluno que prefere ficar em casa a estudar e fazer o
exame, em vez de ir a uma festa ou fazer uma viagem, dá lugar a uma serie de
consequências – satisfação de dever cumprido, passagem de ano, candidatura ao ensino
superior, etc. – diferente da que resultaria se a sua escolha tivesse sido a outra).
O libertismo admite até que que o determinismo seja verdadeiro para os
fenómenos da natureza que, causalmente determinados por acontecimentos anteriores,
obedecem a leis fixas e invariáveis. Mas de entre as coisas que o homem faz,
algumas, as ações, não são nem resultado do determinismo causal da natureza,
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nem aleatórias (fruto do acaso), mas livres, tendo para tal o ser humano capacidade
de, pelo menos em algumas escolhas que faz, decidir livremente, isto é, de decidir
atualmente, agora, no presente, à margem de todo o encadeamento causal vindo do
passado, e apenas em função da sua vontade, do seu querer, assente em razões
fruto de ponderação e deliberação racionais.
Ao defender que nas decisões racionais que toma há livre-arbítrio e não
causalidade, o libertista não só rejeita o determinismo, uma vez que as suas ações não
são o resultado de causas anteriores que as determinam, mas de decisões racionais e
livres, como também rejeita o indeterminismo, porquanto, sem serem fruto do acaso,
as ações humanas são o resultado de escolhas livres.
Decidindo e agindo em função de deliberações racionais, o sujeito demarca-
se da mais ou menos longa sequência de causas e efeitos e inicia novas cadeias
causais de acontecimentos (cadeias causais novas, porque não têm atrás de si outro
acontecimento, outra causa, que não seja a própria decisão de escolher), pelo que,
libertando-se da tirania do passado, molda, em certa medida, o futuro, um futuro
aberto e não pré-fixado.
Dotado de livre-arbítrio, o homem é um ser por natureza livre, uma vez que
em todas as circunstâncias da sua vida tem de efetuar escolhas (um aluno, por
exemplo, quando pela manhã veste uma peça de vestuário ou outra, ou na aula está
atento e se empenha nas tarefas ou não). A liberdade do ser humano é tal que mesmo
que o queira não pode deixar de ser livre, uma vez que recusar-se a escolher é já
fazer uma escolha, é escolher não escolher.
Objeções ao Libertismo
De acordo com esta objeção, aquilo que faz com que as pessoas, apesar de
não terem livre-arbítrio pensem que o têm, é o facto de – ao contrário das situações
em que são obrigadas/constrangidas de forma visivelmente violenta, por exemplo, pelo
apontar de uma arma – as causas determinantes do seu agir nem sempre serem
fisicamente visíveis, o que leva a que, não se apercebendo delas, as pessoas pensem,
ilusoriamente, que são livres. Com efeito, o desconhecimento das causas de algo,
não equivale à inexistência dessas mesmas causas.
Ora, enquanto não conseguir apresentar um argumento suficientemente
convincente, que elimine a hipótese de a sensação de que temos livre-arbítrio é
falsa, o libertismo não pode fugir a esta objeção. Isso, até, porque, não se verifica na
teoria de que não temos livre-arbítrio qualquer contradição. Ela oferece uma
explicação logicamente coerente para as decisões que tomamos e as escolhas que
fazemos.
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b) Dificuldade em provar a incompatibilidade entre a teoria de que todos
os acontecimentos são efeito de causas anteriores e a existência de livre-
arbítrio.
c) Objeção complementar:
A conceção de escolha presente no libertismo não é nem plausível, nem
viável.
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a motivos, como crenças e desejos, situação que é bem ilustrada nas diversas
situações de escolha que fazemos no quotidiano. Por exemplo, quando numa loja
alguém escolhe uma determinada camisa em vez de outra, fá-lo também com base em
fatores ligados ao desejo e ao gosto, como a preferência pela cor, o modelo, o corte, e
não apenas com base em critérios estritamente racionais, como o preço, a natureza dos
materiais, a durabilidade, entre outros.
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sem ser pressionado ou constrangido, fez aquilo que queria fazer. Sempre que decide
e age desta maneira, guiado pelo seu livre-arbítrio, o sujeito agente é responsável e
deve ser responsabilizado (censurado ou louvado) por aquilo que faz.
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ser verdadeiro, exclui a possibilidade do livre-arbítrio e, portanto, a sua
compatibilização com o determinismo.
Por sua vez, para o libertismo, só são livres as decisões e as ações que são
fruto de deliberações puramente racionais e que, portanto, se encontram livres de
qualquer causa vinda do exterior ou do mundo interior do sujeito. Assim, dizer, como
faz o determinismo moderado, que uma ação livre é aquela que á causada por
crenças e desejos, é negar que seja fruto do livre-arbítrio (que é puramente
racional) e, portanto, que este e o determinismo sejam compatíveis.
c) Objeção complementar:
Possibilidade de o princípio das possibilidades alternativas ser falso.
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Será que os sujeitos das duas situações referidas agiram livremente? Somos
tentados a responder que sim, uma vez que eles fizeram aquilo que, por sua própria
iniciativa decidiram fazer. Mais, ainda, deverão os referidos sujeitos ser
responsabilizados, censurados no primeiro caso e louvados no segundo, por terem
decidido e agido como o fizeram? Mais uma vez, somos tentados a responder que
sim, uma vez que se agiram livremente, devem ser responsabilizados pelo que fizeram.
Porém, respondendo desta maneira, uma vez que os sujeitos em questão não
poderiam ter agido de maneira diferente daquela que agiram, teremos de admitir que
nem o livre-arbítrio nem a responsabilidade implicam o princípio das
possibilidades alternativas, que havíamos tomado como inerente àqueles conceitos,
permanecendo, assim, em aberto o problema da relação entre responsabilidade e
livre-arbítrio, entendido como possibilidade de se ter agido de maneira diferente
daquela como se agiu.
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