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Parte 2
A Arquitetura Grega: Períodos
Arcaico, Clássico e Helenístico
Arquitetura grega:
períodos Arcaico,
Clássico e Helenístico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Neste capítulo, você irá aprofundar o conhecimento sobre a arquitetura
grega, seus principais períodos, a cidade e as ordens arquitetônicas. Serão
estudadas as origens do pensamento arquitetônico, agregando a geome-
tria às proporções e à expressão simbólica em cada edificação e fazendo
do ato de projetar uma representação do poder criativo do ser humano.
Você vai compreender que a arquitetura grega conserva importantes
características nas principais correntes estéticas até a contemporaneidade.
Figura 1. Portal dos Leões, Micenas, com blocos de calcário em encaixe com junta seca.
Fonte: Georgios Tsichlis/Shutterstock.com.
dos granitos, ele permite um corte bastante preciso e pode receber polimento,
adaptando-se muito bem às técnicas de alvenaria baseadas em encaixe sem
argamassa. Além disso, nesse período e por muitos séculos de história, a
arte e a arquitetura seriam trabalhadas em conjunto, com esculturas cria-
das especificamente para uma fachada ou o interior de templos. Assim, a
maleabilidade do mármore, a sua variedade de cores e a proximidade das
suas principais jazidas fizeram dele um elemento crucial para os gregos.
Veja exemplos dessas construções nas Figuras 2 e 3.
Figura 3. Colunas dóricas em mármore, Templo de Hera 550 a.C., período Arcaico.
Fonte: Quintinlake (2018, documento on-line).
Antiguidade Clássica | UNIDADE 2
A Arquitetura Grega: Períodos Arcaico, Clássico e Helenístico | PARTE 2 103
4 Arquitetura grega: períodos Arcaico, Clássico e Helenístico
O texto a seguir mostra a interpretação do arquiteto romano Vitrúvio (séc. I a.C.) acerca
dos ideais clássicos aplicados à construção de formas.
Segundo ele, os princípios da Arquitetura são: ordinatio, dispositio, eurythmia, sym-
metria, decor e distributio.
Ordinatio (ordenação) refere-se ao dimensionamento justo das partes que compõe
o edifício, tendo em vista as necessidades do programa e de todo o conjunto.
Dispositio (disposição) é o “arranjo” conveniente de todas as partes, de sorte que
elas sejam colocadas segundo a qualidade de cada uma e onde são considerados
os critérios de composição, implicitando, inclusive, a representação gráfica.
Eurythmia refere-se à harmonia, porém a compreensão desta parte é bastante
confusa devido à carência de explicações maiores. Segundo o estudioso Borissa-
vlievitch, a euritmia não passa daquilo que modernamente chamamos de harmonia.
Symmetria (simetria), ao lado da euritmia, é um dos conceitos fundamentais da
estética clássica. Simetria seria o cálculo das relações, que os gregos chamavam de
analogias, entre as partes de uma construção, estabelecido através de uma medida
comum, denominada “modulus” por Vitrúvio.
Decor (conveniência) trata da disposição conveniente de cada parte do edifício,
segundo as necessidades do programa, o destino das dependências, o caráter do
seu ocupante, etc.
Distributio (distribuição) trata do princípio de que nada se deve empreender fora
das possibilidades daquele que faz a obra e segundo a comodidade do lugar,
controlando tudo com prudência (LEMOS, 1980).
A cidade grega
O relevo acidentado da Grécia geralmente permitia a organização de uma área sagrada
e amuralhada, uma cidade alta (ou acrópole), e uma cidade baixa (ou astu), na qual se
localizava, entre outros, a praça pública (ágora) onde se realizavam reuniões cívicas,
debates políticos, proclamações e atividades religiosas. Esses espaços públicos abertos
eram delimitados em seu perímetro por pórticos lineares, chamados de stoa, as quais
terão importância no decorrer da história, pois são antecedentes diretos da basílica
romana que, por sua vez, trata-se do modelo formal e estrutural das primeiras catedrais
cristãs, por volta de 300 d.C.
De forma simplificada, as cidades gregas são divididas em duas categorias, paleó-
polis e neópolis. As primeiras, mais antigas, tinham traçado irregular e ruas estreitas,
respondendo ao relevo e aos assentamentos informais de edificação, por exemplo, as
cidades de Atenas e Delos. Já as neópolis são mais novas, datando dos séculos IV e V,
e têm traçados ortogonais e quadras com dimensões regulares, como as cidades de
Mileto e Pesto. Ambas mantêm a separação entre cidade alta e cidade baixa, bem como
apresentam uma ou mais ágoras, aquedutos subterrâneos, teatros, ginásios e estádios.
Dórico
Esta ordem pode ser relacionada às colunas toscanas e minoicas, estrutural-
mente, representam o sistema de arquitraves que será empregado em toda a
arquitetura grega e consiste em uma formação de porta ou goleira, com dois
apoios verticais travados por um elemento horizontal (arquitrave), o qual
recebe as cargas da cobertura. Esse funcionamento simples remonta aos
trílitos pré-históricos.
A ordem dórica era construída em pedra, como as suas sucessoras, mas
vários elementos que a compõem indicam referências aos templos mais antigos,
feitos em madeira. A aplicação das ordens clássicas não era restrita aos templos,
porém, neles, elas expressam com mais força seu potencial de forma e conceito.
Templo dórico
Trata-se de templos robustos, com ênfase nos cheios sobre os vazios, de aspecto
sólido e forte, geralmente associados às divindades masculinas. Suas colunas
são bastante grossas, e o espaço entre elas (intercolúnio) equivale a uma vez
a medida do diâmetro (o diâmetro da sua base é o módulo de proporções para
todas as ordens clássicas); já a sua altura corresponde a cinco ou seis diâmetros
Antiguidade Clássica | UNIDADE 2
A Arquitetura Grega: Períodos Arcaico, Clássico e Helenístico | PARTE 2 109
10 Arquitetura grega: períodos Arcaico, Clássico e Helenístico
(5,5 no caso do Partenon) e não tem base, e o seu corpo (fuste) possui estrias
verticais com arestas vivas.
O capitel dórico ilustra perfeitamente seu caráter mais sério e funcional, na
forma de um tronco de cone invertido que recebe as cargas do entablamento e as
transmite ao solo descendo pelo fuste. O entablamento (porção superior acima
da coluna) é muito volumoso e divide-se em faixas horizontais: mais abaixo,
são apoiadas diretamente no capitel das colunas, e as arquitraves vencem os
vãos horizontais do intercolúnio; e logo acima, há o friso, o qual era dividido
em tríglifos e métopas (resquícios de elementos estruturais em madeira).
Por último, tem-se o grande triângulo de fechamento do telhado, chamado
de frontão. Nas suas bordas, as molduras protuberantes são denominadas
cornijas, e em cada vértice, muitas vezes, encontra-se elementos escultóricos
conhecidos como acrotérios. Os frontões dóricos, na maioria das vezes, não
são esculpidos, e seus exemplos mais importantes incluem o Partenon, em
Atenas; o templo de Zeus, em Olímpia; e o templo de Hera, em Pesto, Itália.
Na Figura 8, você pode ver um exemplo dessa construção.
Jônico
A ordem jônica começou a ser empregada no século V a.C. e apresentava
uma configuração mais leve e delicada em comparação à dórica. Além de
ser mais ornamentada e associada às divindades femininas, ela tem propor-
ções esbeltas, com colunas de altura igual a nove vezes o diâmetro da base,
um intercolúnio de dois diâmetros (o dobro do dórico) e um entablamento
menos volumoso.
Nas colunas, observa-se a adoção de uma base — a mais famosa é a ática,
a qual alterna dois torus e uma escócia — e caneluras verticais, que têm o
acabamento em filetes. No capitel, o elemento simbólico mais marcante inclui
as volutas, dois grandes espirais enrolados para baixo, em direção ao fuste.
A literatura arquitetônica relaciona essas volutas como representações dos
cornos dos carneiros, bodes ou da concha marinha (COLIN, 2011).
Na fachada dos templos jônicos, há, acima das colunas, arquitraves divi-
didas em três faixas horizontais e frisos contínuos com esculturas em relevo.
As construções mais importantes são o Erecteion e o templo de Atena Nike,
ambos na acrópole de Atenas. Veja exemplos e detalhes nas Figuras 9 e 10.
Coríntio
A ordem coríntia é a mais alta (com colunas na proporção de onze diâmetros),
ornamentada e monumental das três. Embora tenha sido empregada na Grécia
ainda no período Clássico, foi mais amplamente utilizada pelos romanos, como
símbolo de poder militar e riqueza. Assim como as colunas jônicas, usa-se a
base e o fuste filetado.
Já o capitel configura-se como um tronco de cone invertido com aplicação
de folhas de acanto esculpidas. O entablamento também segue o padrão jônico
com alteração nas alturas de arquitraves, friso e maior carga escultórica. Suas
principais representantes são os templos de Apollo Epicurius, em Bassae, e o
de Zeus Olímpico, em Atenas, que você pode ver na Figura 11. Já na Figura
12, é apresentada uma comparação entre as colunas das três ordens.
112 HISTÓRIA E TEORIA DA ARQUITETURA E DA ARTE I
https://goo.gl/3EW3Xc
O maior e mais famoso templo dórico é o Partenon, dedicado à deusa Atena Polias,
protetora da cidade, e que se localiza em Atenas. Em 448 a.C., ele foi reconstruído após
ser destruído pelos persas em 480 a.C. Seu formato é períptero (peristilo contínuo com
duas colunatas internas nas extremidades menores), segundo o projeto do arquiteto
Ictino, que definiu a proporção de 8 por 17 colunas. O Partenon incorpora alguns
atributos jônicos, como os frisos contínuos no interior da cela, o frontão esculpido e
as colunas jônicas no opistódomo.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011).
114 HISTÓRIA E TEORIA DA ARQUITETURA E DA ARTE I
Arquitetura grega: períodos Arcaico, Clássico e Helenístico 14
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Leituras recomendadas
ARGAN, G. C. A história da arte como história da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SUMMERSON, J. A Linguagem Clássica da Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
(Coleção Mundo da Arte).