Polirritmia No Pandeiro
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Polirritmia No Pandeiro
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Sobre o autor
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Agradecimentos
Existem algumas pessoas especiais, com as quais contei e conto até hoje para
engrandecerem o meu conhecimento, minha humildade em saber dizer “não sei, vou
pesquisar” e para ter a força necessária para romper meus próprios limites. São os anjos
que Deus sempre coloca em meu caminho e me sinto na obrigação de mencioná-los e
agradecê-los.
Primeiramente agradeço à minha amada esposa, Noele Karime, que sorri, chora, sofre e
alegra-se junto comigo a cada conquista, a cada derrota, dia após dia. Minha companheira,
minha eterna namorada, meu chão e meu céu, meu amor. Ao meu grande amigo e parceiro
de tantas gigs, Lucas Telles, a quem atribuo uma grande parte da minha evolução musical e
que é o responsável pela revisão deste método. Ao incrível pandeirista Gustavo Bali, outro
grande amigo, que me colocou na direção correta dos estudos polirrítmicos no Pandeiro,
compartilhando informações e exercícios importantíssimos. E finalmente, mas não menos
importante, ao meu pai José Rafael e à minha irmã Lívia Mara, que me apoiam
incondicionalmente a lutar todos os dias para vencer este desafio que é viver de arte num
mundo sem delicadeza.
Este pedaço de mim é em homenagem a todo(a) aquele(a) que acredita na força do estudo,
na disciplina e que ainda se emociona diante de uma verdadeira obra de arte.
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Introdução
Segundo o livro “Music at your fingertips: Advice For The Artist And Amateur On Playing The
Piano (Da Capo Paperback)”, publicado em 1976 por Ruth Slenczynska, a definição de
polirritmia é o emprego simultâneo de duas ou mais estruturas rítmicas diferentes em sua
constituição. Eu acabei adaptando esta excelente definição para o uso no Pandeiro, em a
soma de dois ou mais ciclos que compartilham alguma unidade rítmica.
É importante ressaltar que os exercícios que serão apresentados neste método devem ser
praticadas diversas vezes. São exercícios diários que necessitam ser realizados
gradualmente e constantemente, para que seu cérebro processe as inúmeras informações
rítmicas-matemáticas de maneira organizada, clara e disciplinada. O fato de compreender
intelectualmente os exercícios propostos pode ser insuficiente para a aplicação desses
conceitos em música, por isso é importante vivenciar intensamente cada uma das etapas
aqui apresentadas, para que o corpo sinta as fórmulas rítmicas e seja capaz de executá-las
com propriedade. Existe uma grande diferença entre entender, aprender e assimilar. Confie
no método, dê tempo ao tempo, siga a ordem apresentada e bons estudos.
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Notações
A dinâmica de leitura dos exercícios é de extrema importância para uma boa assimilação.
Eu escolhi a notação rítmica adotada por Luiz Roberto Sampaio, no livro-método “Pandeiro
Brasileiro - Volumes 1 e 2”, que ao meu ver é de fácil assimilação e dialoga perfeitamente
com as partituras para instrumentos harmônicos, melódicos e rítmicos.
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A idéia principal é a de ser capaz de extrair os 3 tipos de notas (grave, média e aguda) na
parte de cima e de baixo do Pandeiro. Treine cada uma das notas separadamente e
diariamente para atingir um nível cada vez melhor de sonoridade, até que em ambas as
partes do Pandeiro (cima e baixo) você seja capaz de extrair os timbres corretos (tum para
notas graves, pá para notas médias e ti para notas agudas).
Feito isso, o próximo passo será memorizar as representações na partitura para cada nota,
sempre observando em que parte do Pandeiro (cima ou baixo) será necessário extraí-la.
Acompanhe o quadro abaixo e memorize-o:
1 œ
/4 œ
1 ¿
/4 ¿
1
/4
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Subdivisão do Pulso
Para adentrarmos o universo polirrítmico e sermos capazes de executar diferentes ciclos
rítmicos, devemos começar exercitando com precisão diferentes subdivisões do pulso.
Acompanhe o exercício abaixo:
q = 60
q q q q
4 w w w w
/4
Exercício 1
q = 60
q q q q
3 3 3 3
4 w w w w
/4
Exercício 2
q = 60
q q q q
4 w w w w
/4
Exercício 3
q = 60
q q q q
5 5 5 5
4 w w w w
/4
Exercício 4
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Acentuações
Após praticar as subdivisões do pulso, é hora de exercitarmos o que eu chamo de
compreensão espacial dentro destas subdivisões propostas. Você deve ter o claro
entendimento de todas as notas tocadas no Pandeiro e a capacidade de acentuá-las com
precisão e sem o comprometimento da pulsação. Dentro de um pulso subdividido em 5
notas (quintinas), por exemplo, você deve ser capaz de acentuar qualquer uma delas (1a, 2a,
3a, 4a ou 5a) com qualquer timbre (grave, médio ou agudo). Repare o exercício abaixo, com
pulso em 2 notas (colcheias):
q = 60
q q q q q q q q
4 œ œ œ œ
/4œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 1
Repare que o 1o. compasso do exercício acima propõe acentuarmos as primeiras notas de
cada pulso com grave (embaixo), enquanto no 2o. compasso, alternamos o acento para as
segundas notas, também com o grave (em cima). Seguindo o mesmo raciocínio, no 3o. e
4o. compassos, apenas trocamos o acento grave por médio. Agora vamos aplicar a mesma
lógica para pulsos em 3 (tercinas), 4 (semicolcheias) e 5 (quintinas) notas:
q = 60
q q q q q q q q q q q q
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
4 œ œ œ œ œ œ
/4œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q q q q q
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 2
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q = 60
q q q q q q q q
4 œ œ œ œ
/4œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
q q q q q q q q
/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 3
q = 60
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5
4 œ œ œ œ
/4œ œ œ œ
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5
/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5
/ œ œ œ œ ¿ ¿ ¿ ¿
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5
/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5
/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 4
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Reagrupamento Métrico
Após praticar as diferentes acentuações e suas variações, preparamos nossas mãos (e
cérebro) para diferentes possibilidades de toques de notas. Isso cria um sentido de
independência no subconsciente, que é primordial para qualquer compreensão e execução
de ciclos polirritmicos.
q = 60
q q q q
4 x4™™ ™™ 46
/4 œ œ œ œ
q q q q q q
6 x4
œ œ ™™ 48
/ 4 ™™ œ œ
q q q q q q q q
8 x3™™ ™™ 10
/4 œ œ œ œ 4
q q q q q q q q q q
10 x3™™ œ œ
/ 4 œ œ ™™
Exercício 1
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q = 60
q q q q
3 3 3 3
4 x2
™™ 44
/ 4 ™™ œ œ œ œ œ œ
q q q q
3 3 3 3
4 x4
œ œ ™™ 44
/ 4 ™™ œ œ
q q q q
3 3 3 3
4 x4™™ ™™ 10
/4 œ œ œ 4
q q q q q q q q q q
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
10 x4™™ œ œ œ
/ 4 œ œ œ ™™
Exercício 2
q = 60
q q q q
4 x4™™ ™™ 43
/4 œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q
3 x4™™ œ œ ™™ 44
/4 œ œ
q q q q
4 x4 5
/ 4 ™™ œ œ œ œ 4
q q q q q
5 x4™™ œ œ
/4 œ œ ™™
Exercício 3
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q = 60
q q q q
5 5 5 5
4 x2
™™ 46
/ 4 ™™ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q
5 5 5 5 5 5
6 x4 œ œ œ œ œ 4
/ 4 ™™ œ œ œ œ œ 4
q q q q
5 5 5 5
4 x4™™ ™™ 44
/4 œ œ œ œ œ
q q q q
5 5 5 5
4 x2™™ œ œ
/4 œ œ ™™
Exercício 4
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Modulação Métrica
É muito comum encontrar a definição de andamento como o grau de velocidade de um
compasso. Eu, particularmente, gosto de deixar claro que velocidade não tem relação direta
com o andamento, simplesmente pelo fato de o andamento depender da relação entre o
número de bpms e a figura rítmica adotada. A meu ver, se o andamento indicasse apenas a
velocidade, bastariam os BPM (beats per minute) para defini-lo.
Segundo o baterista americano Ari Hoenig, define-se como Modulação Métrica mudar o
tempo de uma parte de modo que um novo tempo tenha algum tipo de relação matemática
com o tempo original. Isso é possível por criar o valor de uma nota do primeiro tempo
equivalente ao valor de uma nota no segundo. Vejamos o exercício abaixo:
q = 60
q q q q
4
/4œ œ œ œ
q q q q
/ œ œ œ œ
q q q q
3 3 3 3
/ œ œ œ œ
q q q q
/ œ œ œ œ
q q q q
5 5 5 5
/ œ œ œ œ
q q q q
6 6 6 6
/ œ œ œ œ
q q q q
7 7 7 7
/ œ œ œ œ
q q q q
/ œ œ œ œ
Exercício 1
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Agora vamos aplicar a compreensão modular sobre um padrão rítmico. O ciclo de 4 notas
regulares será transformado em diferentes possibilidades. Iniciando com conjuntos de 4
semicolcheias, transformaremos a noção de pulso aplicando o mesmo agrupamento de 4,
porém a outras figuras, às colcheias, tercinas e quintinas. O resultado será a sensação de
mudança momentânea de pulso, devido ao deslocamento do início de cada ciclo em
relação à pulsação inicial. Confira o exercício abaixo:
q = 60
q q q q q q q q
4
/4œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5
/ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5
/ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ œ œ œ œ œ œ œ œ
Exercício 2
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Realidades Paralelas
Repare o seguinte exercício:
q = 60
q q q q q q q q
4
/4œ œ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6
/ œ œ œ œ œ œ
q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6
/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ œ œ œ œ œ œ œ œ
Exercício 1
Vamos analisá-lo, parte por parte. Existe uma célula-motivo, que consiste em uma nota
grave a cada 4 notas (chamaremos de “samba”). Começamos em semicolcheias e
modulamos o ciclo para tercinas, mantendo o motivo, denominado samba. No sétimo
compasso acontece algo novo e extraordinário, o qual chamei de realidade paralela.
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Agora retomemos o sétimo compasso. Estamos vindo de uma realidade paralela com o
motivo-base (samba) em tercinas. Assumamos isto como a única realidade no momento. E
se re-aplicarmos uma modulação em cima desta nova realidade? É o que acontece.
Simplesmente dobramos as figuras rítmicas deste novo samba. Estávamos em tercinas e
dobramos para sextinas (similar a sensação de colcheias se transformando em
semicolcheias), mas mantendo o agrupamento (notas graves) em múltiplos de 4. Isso cria
uma sensação de uma terceira realidade aplicada em cima das outras. É como se, na nova
realidade, as notas se tornassem ”fusas” em relação às “semicolcheias” anteriores. É um
exercício muito interessante, que quando atingido, nos abre um mundo novo de
possibilidades modulatórias.
q = 60
q q q q q q q q
4
/4œ œ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q 9 q 9 q 9 q 9
/ œ œ œ œ œ œ
q 9 q 9 q 9 q 9
/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3
/ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
/ œ œ œ œ œ œ œ œ
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Exercício 2
Considerações Finais
O estudo polirrítmico é algo intenso, complexo e que demanda MUITA disciplina. Decidi
iniciar o meu método de Pandeiro por ele, por refletir 100% da minha forma de tocar, da
minha forma de pensar e, explicitamente, de quem eu sou. A matemática sempre fez parte
de minha vida de uma maneira fluida e natural. Os números sempre foram meus melhores
amigos.
Eu entendo que você poderá chegar até aqui e não ter entendido tudo que viu acima, mas é
importante dar tempo ao tempo e não tentar executar todos os exercícios de uma vez só.
Existe uma lógica para a ordem das informações aqui dispostas. Você encontra aqui o
resumo dos últimos 10 anos de estudos da minha vida, portanto, não procure resumir
milhares de horas de estudos em alguns minutos de insistência. Mas, para aqueles que
lerem e relerem as informações que preparei cuidadosamente, estudarem os exercícios de
maneira calma e disciplinada, prometo que existirá um “antes do método” e um “depois do
método”.
Assim como vários ensinamentos que me foram passados ficaram guardados em algum
lugar do meu cérebro durante anos, até que finalmente começassem a fazer sentido à
medida que eu ia me aperfeiçoando na arte de tocar esse tamborzinho milenar, eu lhe
prometo que esse momento também chegará para você.
Me despeço com uma frase que um dia me foi dita pelo mestre Marcos Suzano e que me
marcou profundamente:
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