Metáfora
Metáfora
Metáfora
Cametá-PA
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO TOCANTINS/CAMETÁ
FACULDADE DE LINGUAGEM
1. Introdução ............................................................................................................................. 5
2. A abordagem da metáfora conceptual ................................................................................ 6
4. Procedimentos metodológicos............................................................................................ 13
5. Análise e discussão dos dados ............................................................................................ 17
5.1 A construção FAZER A X: domínio fonte e domínio alvo ....................................... 17
5.2 Família da construção FAZER A X ............................................................................ 23
6. Conclusão ............................................................................................................................ 28
Referências .............................................................................................................................. 29
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Abstract: The present paper aims to develop a discussion and analysis about the rather
productive irregular grammatical construction in Portuguese, namely: FAZER A
SANDY. This construction or instantiation is derived from the schematic pattern FAZER
A X. In other words, it is a hyperonym that would be a more schematic construction with
a less abstract level, and when the position of "x" is filled, hyponyms of a more abstract
and less compositional level emerge. Still in relation to the construction under study, it
should be noted that the verb is not in the sense of process, as in "Maria made lunch", but
rather presents a more abstract semantics. In this sense, to build the corpus of this
research, recruited data from the internet, more precisely from the instant messaging
application WhatsApp. Therefore, the theoretical basis of this work is rooted in the
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Estudante do Curso de Graduação em Letras, habilitação em Língua Portuguesa, da Faculdade de
Linguagem, Campus Universitário do Tocantins/Cametá, Universidade Federal do Pará, matrícula nº
201715740027, ano de ingresso 2017. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial
à obtenção do título de Licenciado em Letras Língua Portuguesa, sob a orientação de Prof. Dr. Robson
Borges Rua.
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1. Introdução
metáfora. Com essa nova abordagem, passa a ser observada a presença desse mecanismo
no cotidiano e não necessariamente em contextos literários.
A partir dessa perspectiva, Gibbs (1994) argumenta que é incorreto acreditar que
o uso da linguagem figurada requer algum tipo de habilidade cognitiva especial. Dessa
forma, a teoria da Metáfora Conceptual rompe com a tradição retórica que foi iniciada
por Aristóteles, contribuindo verdadeiramente para uma radical mudança na história
dessa figura de linguagem.
Sendo assim, destaca-se a onipresença das metáforas nos discursos do cotidiano
e a importância que de acordo com Lakoff e Johnson (1980) tais projeções têm na
estrutura da linguagem. Sobre esse fator fundamental para essa discussão em questão,
Souza (2016) diz que:
Dado (01)
assentada a informação de que uma construção gramatical pode se relacionar com outras
construções tanto verticalmente, quanto horizontalmente.
Em relação ao objeto de nossa pesquisa ‘FAZER A SANDY’, observamos que
esse padrão é uma instanciação de uma construção mais esquemática/abstrata, a saber:
FAZER A X, em que esse padrão, por sua vez, instancia outras construções que, de certo
modo, compartilharão aspectos formais e/ou funcionais.
Sobre o compartilhamento de aspectos formais e/ou funcionais no mesmo nível
(DIESSEL, 2015), destacamos as construções que integram a família do nosso objeto de
pesquisa, as quais são: “FAZER A EGÍPCIA”, “FAZER A ALICE” e “FAZER A KÁTIA
CEGA”, sustentando a hipótese dos estudos construcionistas acerca da organização da
gramática em formato de rede.
Assim, concluímos a seção sobre a revisão da literatura situando o nosso objeto
de pesquisa e relacionando-o com arcabouço teórico que nos auxiliará na seção de análise
de dados posteriormente.
4. Procedimentos metodológicos
Como sabemos, toda pesquisa científica tem como finalidade solucionar dúvidas
e/ou resolver um determinado problema. E para que essa finalidade seja concretizada, é
necessário que sejam estabelecidos métodos capazes de instruir a pesquisa, de modo que
demarquem o que precisa ser feito e de que forma.
Com isso, podemos sinalizar de antemão, que basicamente esta pesquisa seguiu
por três etapas fundamentais, como apresentadas na figura abaixo:
podemos deixar de mencionar que há a realização desse padrão por simpatizantes, ou seja,
por falantes que se identificam e se autoconsideram participantes dessa comunidade.
Além disso, a preferência pela temática também se deu no intuito de enaltecer a
causa LGBTQIA+, promovendo o respeito ao próximo, ainda que este seja diferente. Ou
seja, é imprescindível vislumbrar e compreender a diversidade como uma boa qualidade,
algo que traz aprendizado, dinamismo, progresso e novas reflexões.
Contudo, para o bom êxito desta pesquisa, ou seja, como Gil (2007) argumenta
ela “desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a formulação do
problema até a apresentação e discussão dos resultados” (GIL, 2007 apud GERHARDT
e SILVEIRA, 2009, p. 12). Nesse sentido, foram construídos alguns elementos
significativos, como: a) uma pergunta/problema; b) objetivo geral; c) objetivos
específicos.
a) pergunta/problema: de acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 42) as
interrogações são constituídas “em relação a pontos ou fatos que permanecem obscuros e
necessitam de explicações plausíveis e respostas que venham a elucidá-las”. Nesse
sentido, foi formulada a seguinte indagação para essa pesquisa: “Como fazer uma análise
linguística científica de padrões irregulares no Português, como FAZER A SANDY”?
Dado 02
Nessa seção, realizaremos uma análise dos dados coletados via WhatsApp, a fim
de destacarmos como resultado da pesquisa a produtividade de padrões considerados
marginais no português brasileiro. Desse modo, nossa seção de análise subdivide-se em
duas partes. Na primeira, trataremos da construção FAZER A X, a considerar o processo
metafórico, destacando os domínios fonte e alvo; já na segunda parte, discorreremos
acerca dos efeitos semântico/pragmáticos da construção em estudo.
Dado 03 Dado 04
Com base nos dados (03) e (04), verificamos que há duas características do
domínio fonte que são projetadas para um domínio alvo, a saber: ingênuo e inocente. A
considerar o processo metafórico, verificamos que em (03), o domínio alvo (Márcio)
19
Dado 05
20
Dado (06)
21
Formas Quantidade
Infinitivo 11
Nominais
Gerúndio 08
Flexionadas Presente 7
22
Passado 05
Subjuntivo 01
TOTAL 32
Dado (07)
Por outro lado, chamamos a atenção para o fato de que a ausência da forma
flexionada no tempo futuro e da forma nominal de particípio, sinaliza nessa pesquisa que
não há uma regra específica que impeça a realização dessa construção nas formas
linguísticas em destaque, mas o que ocorre é uma preferência dos falantes pelas formas
em que encontramos registros.
Sendo assim, a partir do que foi exposto na tabela (01), será apresentado a seguir
um gráfico contendo a estatística das formas nominais em relação as formas flexionadas.
De acordo com o gráfico, podemos observar que há uma preferência da ocorrência da
construção em estudo para as formas nominais do verbo, a saber: infinitivo e gerúndio.
Dado (08)
25
Dado (09)
26
Dado (10)
27
6. Conclusão
Esta pesquisa buscou apresentar uma discussão acerca das expressões irregulares
na língua. Nesse sentido, observamos que a nossa língua não é composta apenas por
formas canônicas, pelo contrário, há a existência e produtividade também de formas não
canônicas (irregulares), as quais, muitas vezes, são utilizadas em grupos/comunidades
específicos, assim como o nosso objeto em estudo, FAZER A SANDY.
Nesse sentido, este artigo foi contemplado com três seções. Na primeira seção
buscamos de início analisar e comparar as concepções consolidadas acerca da metáfora,
no intuito de verificarmos como era abordado acerca desse mecanismo, desde a tradição
retórica até os pressupostos defendidos pela teoria da metáfora conceptual.
Ainda nesta seção, buscamos apresentar o arcabouço teórico da Linguística
Cognitivo-Funcional que serviu como sustentação teórica para esta pesquisa,
principalmente para contemplar as construções gramaticais, uma das bases fundamentais
do objeto em estudo.
Na segunda seção, mostramos os nossos procedimentos metodológicos que
utilizamos para a realização dessa pesquisa e para a coleta dos dados, que serviram como
corpus. Já na última, expomos a nossa análise e discussão dos dados, verificando as
projeções do domínio fonte para o domínio alvo.
Com isso, os resultados nos mostraram que na língua tendemos a comparar e/ou
correlacionar as coisas não apenas por meio de formas canônicas (contempladas nas
gramáticas tradicionais). No que diz respeito ao aspecto formal, observamos que na
realização do padrão, em questão, há preferência dos falantes pelas formas nominais
(gerúndio e infinitivo) e pelas formas flexionadas (presente, passado, subjuntivo).
O desenvolvimento de uma pesquisa em torno das construções irregulares
possibilita oferecer à área da Linguística um conhecimento sobre o funcionamento da
língua em sua perspectiva de uso. Construções não canônicas são bastante produtivas na
língua, porém, ainda pouco exploradas em termos de geração e análise.
Portanto, mais do que apresentar uma abordagem acerca da análise de expressões
irregulares na língua, buscamos oferecer com essa pesquisa uma perspectiva rumo ao
vasto campo do saber sobre construções cristalizadas, que são utilizadas com uma certa
frequência pelos falantes da língua, sem que esses se deem conta dos mecanismos que
originaram tais construções.
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Referências
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