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1

Curso de Ciências da Nutrição

(2008/09)

“Factores que influenciam as escolhas alimentares da população”

“Factors that influence the food choices of the population”

Lara Iolanda Valente de Sousa Santos


2

Dedicatória

Dedico este trabalho com todo o esforço que lhe está associado à minha

família que esteve sempre do meu lado.


3

Agradecimentos

A todos os que me apoiaram ao longo destes anos de esforço,

especialmente a minha família e amigos.

À minha orientadora de estágio a Prof. Dr.ª. Ada Rocha que me apoiou e

me recebeu sempre de acordo com a minha disponibilidade.

À FCNAUP e aos seus funcionários, que permitiram a pesquisa e recolha

de informações necessárias para a elaboração deste trabalho.


3

Índice

Lista de abreviaturas 4

Resumo 5

Abstract 6

Introdução 7

1- Factores ambientais 9

1-1- Influências familiares 9

1.2- Influência da escola e dos amigos 11

1.3- Aspectos nutricionais dos alimentos 11

1.4- A origem dos alimentos 12

1.5- Disponibilidade 13

2- Factores individuais 14

2.1- Factores genéticos, fisiológicos, psicológicos 14

2.2- Preferências individuais e alteração dos hábitos alimentares 15

2.3- A saúde do indivíduo 17

2.4- Aspecto físico 21

3- Aspectos culturais e sociais 22

3.1- Religião 23

3.2- Factores ideológicos 24

3.3 - Marketing e publicidade 27

3.4- Motivação para a mudança 29

3.5- Fast-food 29

4- Conclusão 31

Bibliografia 34
4

Lista de Abreviaturas

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico

DAFNE - Data Food Networking

OMS - Organização Mundial de Saúde


5

Resumo

Ao longo da nossa vida somos confrontados com uma série de situações

que nos obrigam a fazer escolhas. Algumas das escolhas que temos de tomar

dizem respeito às nossas opções alimentares. Inicia-se, assim, um longo

processo de selecção e de opções que só terminam no fim da nossa vida -

experiência. Logo após o nascimento fazemos a nossa primeira refeição. Nesta

altura e até termos consciência que podemos escolher, aceitamos os alimentos

que nos são oferecidos pelos familiares, embora já decidamos a quantidade e o

momento das refeições. Surgem posteriormente uma série de factores que vão

determinar o que comemos, como comemos, quando comemos e onde comemos.

Os factores ambientais, culturais e pessoais vão influenciar as nossas escolhas

alimentares e o nosso comportamento face aos alimentos. Tudo o que nos rodeia,

até as coisas que não pareçam relacionar-se directamente com os alimentos, vai

ter influência nas opções alimentares que fazemos ao longo da nossa vida. Os

comportamentos que temos perante determinado alimento não surgem

momentaneamente, são fruto das várias experiências que temos com esse

alimento. O comportamento que nos leva a querer ou a rejeitar esse alimento

surge após um longo processo, em que determinados factores influenciam as

decisões que vamos tomar. Convém referir que este comportamento não é

estático, pois estamos constantemente em aprendizagem e a maior ou menor

importância que damos aos diferentes factores varia também constantemente.


6

Abstract

Throughout our life we face a series of situations which lead us to make

choices. Some of the choices we must make concern are related to food options.

Thus, a long selection and preference process begins which ends when our life is

finished – experience. Right after birth we have our first meal. By this time and

until we realize we can choose, we accept the nourishment which our family offers

us, although we already decide the quantity and the time of the meals. Later, a

series of factors arise which will determine what we eat, how we eat, when we eat

and where we eat. The environmental, cultural and personal factors will influence

our food choices and our behavior concerning food. Thus, I might say that

everything which surrounds us, even the things that apparently are not related to

food, will have a great influence in the choices we make throughout life. The

behaviors we have related to a certain food do not appear in the moment we are

before the contact with that food. The behavior which makes us want or reject that

food appears after a long process in which certain factors influence the decisions

we will take. We should refer that this behavior is not static, since we are in

constant learning and the importance we give to the different facts is constantly

changing.
7

INTRODUÇÃO

A organização da sociedade actual tornou-se possível a partir de uma

profunda transformação cultural, onde as questões alimentares adquiriram nos

últimos tempos uma extraordinária actualidade. A sua presença viva nos

diferentes contextos da vida social e em quase todos os domínios da actividade

humana é um sinal forte do nosso tempo, uma marca profunda da modernização

e do processo de desenvolvimento em curso1.

A imposição dos géneros alimentares dominantes do momento, acaba por

ser aceite de forma natural, sem recusas e sem choques, com conformismo e

seguindo as tendências do momento. Este elemento é reforçado pelo triunfo da

cultura de massas, pela cultura do “número”, pelo sentimento de pertença, sob

risco de ser inserido num grupo minoritário, correndo o risco de ser esmagada

pelo grupo de massas, conduzindo à sua exclusão, como por exemplo, os obesos

ao ser alvo de “exclusão” por parte da sociedade.

Se cada um de nós é aquilo que come, com quem o come, como o come e

o sentido que dá aquilo que come, podemos dizer que estamos perante uma

ideologia alimentar, a qual caracteriza as diferentes sociedades. As influências

culturais e os factores ambientais determinam os alimentos a ingerir, os padrões

das refeições, o número de refeições diárias bem como os métodos de confecção,

o modo como se come e os utensílios que se utilizam2,3.

As escolhas alimentares feitas pelo homem são influenciadas por diversos

factores4. A história familiar e pessoal e o envolvimento cultural, permitem

compreender o porquê do desenvolvimento dos hábitos alimentares. O paladar, o

preço, o aspecto, a disponibilidade, a facilidade de preparação, o marketing e a


8

publicidade, o conhecimento dos benefícios/prejuízos para a saúde acabam por

condicionar as escolhas alimentares5,6,7,8. No entanto estas escolhas são por

vezes um luxo e que por isso mesmo, nem sempre estão ao alcance de todos,

sendo assim também condicionadas pelo nível económico e social9. Diversos

factores de ordem física, mas também de ordem psicológica e psicossocial, como

por exemplo a influência social, as crenças, contribuem também para a selecção

dos alimentos por parte da população. As escolhas alimentares afectam também

a economia de um país, a produção agrícola, o emprego no sector alimentar bem

como as fortunas de muitas empresas9.

As escolhas alimentares resultam assim da experiência e da percepção do

consumidor sobre determinado alimento e vão induzir um determinado

comportamento face a esse alimento.


9

1- Factores ambientais

1-1- Influências familiares

Como mamíferos que somos, iniciamos a nossa alimentação somente com

um alimento, o leite. Durante os primeiros anos de vida passamos por um período

de transição, pois começamos a incluir na nossa dieta outros alimentos oferecidos

pelos familiares, que decidem o que comemos, quando e em que quantidade. A

criança aceita estes novos alimentos após alguma insistência por parte da família

e sob a influência de factores genéticos e de desenvolvimento que influenciam a

aceitação de determinado alimento pela criança e em determinada altura10,11.

A família representa a principal influência no comportamento alimentar da

criança pela transmissão de conhecimentos, atitudes, padrões e

preferências1,11,12,13,14. A família possui um papel social muito importante, pois é

certamente quem pode influenciar as crianças para a adopção de uma vida

saudável, como sejam a prática de exercício físico diário e a adopção de hábitos

alimentares saudáveis11,15. As escolhas e hábitos alimentares adquiridos durante

a infância podem persistir no tempo, podendo determinar o estado de saúde dos

indivíduos na idade adulta, assim como condicionar o maior ou menor

aparecimento de diversas patologias10,11,13,16,17,18. Um estudo efectuado por

Lazarou e colaboradores11 permitiu estabelecer uma relação entre o

comportamento alimentar dos pais e o comportamento alimentar das crianças11.

Verificou que as crianças aprendiam, interiorizavam e um dia mais tarde seguiam

o mesmo padrão alimentar adoptado pelos pais, optando pelos mesmos alimentos

e pelo mesmo tipo de refeições11.


10

Também os factores sociais vão influenciar as escolhas alimentares das

crianças e o seu comportamento face aos alimentos, uma vez que para a criança

as refeições são uma ocasião social, em que a família se reúne, conversa, e

partilha os alimentos1. A criança vai aprender e imitar posteriormente este

comportamento. Para as crianças tal como para os adultos, as preferências

alimentares são um dos principais determinantes das escolhas alimentares. No

entanto para a criança têm ainda uma importância superior, pois estas não têm

conhecimento do valor nutricional dos alimentos nem do tipo de confecção

culinária utilizada. Não sabem se os alimentos que ingerem são saudáveis e

adequados ou não. Estas primeiras experiências servem de aprendizagem e vão

criar oportunidades para que a criança adquira as suas próprias

preferências12,14,19,20. Segundo Paul Rozin21, a experiência tem uma forte

influência nas escolhas alimentares, uma vez que não é possível através dos

sentidos determinar por exemplo se um alimento é rico em termos nutricionais.

Considera que há determinantes psicológicos baseados na experiência individual

e na influência cultural, que vão influenciar a nossa atitude e comportamento face

aos alimentos. Os hábitos alimentares são fortemente marcados pelas primeiras

experiências, as que ocorrem no interior das manifestações familiares32,48,53.

Essas estruturas de origem irão constituir o princípio da percepção e da

apreciação de toda a vida futura14,21,22.


11

1.2- Influência da escola e dos amigos

Torna-se mais fácil educar, no sentido de serem adquiridos hábitos

saudáveis na infância e na juventude, do que mudar hábitos na idade adulta. O

objectivo da informação nutricional transmitida pela escola é o de educar para a

promoção de uma alimentação saudável, associada à prática de exercício físico

regular e à adopção de hábitos alimentares saudáveis, que venham a ser

perpetuados durante toda a vida do indivíduo. Nestas idades as crianças são

vulneráveis, podendo criar hábitos pouco saudáveis, pelo que se torna importante

que se crie comportamentos promotores de saúde. A influência dos amigos torna-

se importante pois as crianças aprendem umas com as outras, observando os

diferentes comportamentos. O convívio diário com os amigos, a rotina escolar

transmite à criança hábitos que esta vai seguir posteriormente. A escola e os

companheiros tomam desta forma uma importância extrema na aquisição de

hábitos de vida saudáveis20.

1.3- Aspectos nutricionais dos alimentos

Actualmente assistimos a uma maior sensibilização do consumidor para as

questões nutricionais associadas à alimentação (por motivos de saúde, éticos ou

simplesmente estéticos) tem-se verificado por parte do consumidor um grande

interesse pela obtenção de informações mais completas, verdadeiras e

esclarecedoras quanto às propriedades dos produtos alimentares23. Os

consumidores estão expostos a um grande volume de informação sobre os


12

aspectos relacionados com a nutrição, provenientes de uma série de fontes

informativas aparentemente credíveis, como é o caso dos órgãos de comunicação

social (media), do governo e da indústria alimentar. Torna-se necessário no

entanto fazer uma selecção da informação transmitida, para que se possam fazer

as opções correctas24.

Segundo Rossel8, “comemos aquilo que as normas e os sistemas de

controlo e de análise actuais nos garantem que é, dentro do possível, um alimento

seguro”8.

1.4- A origem dos alimentos

Um estudo realizado em 2008 por Espejel25 revela que o conhecimento da

população sobre a origem de determinado alimento tem uma forte influência nas

suas escolhas alimentares. A associação do alimento a determinadas

características, como o facto de se tratar de um produto tradicional, a região

geográfica de onde provém, as características próprias de clima e de práticas

agrícolas ou de fabrico a que são submetidos, são aspectos que vão influenciar o

comportamento perante o produto em questão. Este comportamento é muitas das

vezes conhecido e utilizado pelas campanhas de marketing como forma de

promoção do alimento. As características diferenciais que caracterizam estes

produtos, tais como as suas características organoléticas, promovem determinado

comportamento e atitude por parte do consumidor, que podem influenciar o seu

consumo25.
13

Hoje em dia é comum falar-se de alimentos funcionais. Morais26 define

alimento funcional como “um alimento convencional, que faz parte da dieta

comum, mas que demonstrou ter benefícios psicológicos e/ou redução do risco de

doenças crónicas, para além das funções nutricionais básicas”26. No entanto,

segundo Williams P. e colaboradores27 o consumidor aceita e opta por estes

alimentos com mais facilidade se os órgãos competentes e de saúde

apresentarem medidas que regulamentem a comercialização destes produtos27.

Independentemente disso estes produtos são encontrados com facilidade em

qualquer superfície comercial e apresentam-se sobre a forma de iogurtes,

bolachas, cereais, água, leite, entre outros.

1.5- Disponibilidade dos alimentos

A disponibilidade dos alimentos influencia o seu consumo, isto é, o facto de

um alimento se encontrar com facilidade leva a que seja escolhido em relação a

outros alimentos idênticos menos disponíveis. Um estudo efectuado por

Haerens22 com adolescentes demonstrou que a disponibilidade dos alimentos, os

hábitos de frequência televisiva e os hábitos alimentares da família estão

relacionados com determinados comportamentos alimentares. Os dois primeiros

revelam que o adolescente está atento às campanhas de marketing, sobretudo

televisivo, mas também à disponibilidade dos alimentos em casa ou no mercado,

aumentando o consumo de determinados alimentos, influenciado por estas

medidas. Os hábitos alimentares da família são, como já vimos, um dos principais

factores de influência alimentar nas crianças, transmitindo os pais e irmãos mais


14

velhos os padrões alimentares, que serão seguidos por todos caso não haja uma

intervenção adequada22,28.

2- Factores individuais

2.1- Factores genéticos, fisiológicos, psicológicos

Estes factores apresentam uma grande influência nas escolhas alimentares

muitas das vezes sem que o indivíduo se aperceba da sua influência. Há

indivíduos que mesmo sem patologia sentem-se melhor consumindo determinado

tipo de alimentos, ou como é o caso dos desportistas sentem uma maior

necessidade em ingerirem alimentos com uma elevada densidade energética.

Adam Drewnowski29 faz referência a diversos estudos que comprovam que

o impacto dos factores genéticos, fisiológicos e psicológicos são variáveis

importantes na selecção dos alimentos. Nestes estudos os consumidores referem

que as escolhas alimentares são primariamente influenciadas pelo paladar, custo,

conveniência, saúde e variedade. Este autor conclui que a influência de factores

como o paladar, custo e conveniência direcciona os consumidores para o

consumo de açúcar e gordura. Por outro lado, a procura da saúde e da variedade

alimentar contribuem para o consumo de cereais, hortícolas, fruta e alimentos

promotores de uma alimentação saudável29.

De acordo com Barthomeuf e colaboradores30, verificou-se que o

comportamento de alguns indivíduos em relação a determinado alimento vai

influenciar o comportamento de outros indivíduos em relação a esse mesmo


15

alimento. Neste estudo foram apresentadas individualmente a um grupo de

indivíduos fotos com reacções que outras pessoas tinham em relação a

determinado alimento. O resultado demonstrou que o grupo em estudo

apresentava as mesmas reacções que viu nas fotos perante os mesmos

alimentos. Isto é, as emoções demonstradas perante determinado alimento vão

influenciar a atitude de outros indivíduos a esse alimento. Poderá dizer-se que há

influência do efeito psicológico que caracteriza as emoções30,31.

2.2- Preferências individuais e alteração dos hábitos alimentares

As preferências alimentares surgem muito cedo na vida de um indivíduo, e

são muitas das vezes determinadas pelas influências culturais, no contexto em

que os alimentos são consumidos perante determinadas regras que reflectem a

experiência e a influência da família11,13,32. No entanto as características

individuais, do ambiente e dos alimentos, são os factores essenciais para

formação das preferências individuais. A qualidade sensorial e organoléptica dos

alimentos tais como o aspecto, o cheiro, o paladar e a textura, vão influenciar as

escolhas individuais1,5,6,7,8,9,33.

Segundo um estudo efectuado por Mendelson34, a maior barreira citada

pela população para a alteração dos hábitos alimentares são as preferências

individuais por determinados alimentos. Às preferências individuais seguem-se os

hábitos e os métodos de preparação como factores determinantes para a

alteração da dieta. Outras barreiras tais como o conhecimento sobre os alimentos,


16

o custo, a saúde e a disponibilidade não foram identificados, neste estudo como

factores determinantes para a mudança de comportamentos alimentares34.

As preferências de cada um, os hábitos alimentares e a preparação dos

alimentos (métodos culinários) surgem como as principais barreiras que se opõe à

mudança. Neste estudo de Afonso e colaboradores32, o conhecimento individual

sobre os produtos alimentares, o custo, a saúde do indivíduo e a disponibilidade

dos alimentos não foram identificadas como os factores determinantes na

mudança de consumo32. No entanto segundo outros autores23 a prática de uma

alimentação saudável é também dificultada pelos preços elevados de

determinados alimentos, como é o caso da carne magra e do peixe, pelos preços

reduzidos de outros como os óleos e os açúcares, pelos actuais estilos de vida. A

falta de tempo é um factor muito importante, levando muitas vezes o consumidor

a optar por refeições mais rápidas como é o caso das refeições congeladas, pré-

cozinhadas e pelo fast-food. Por outro lado as preferências alimentares levam a

uma resistência à mudança da dieta, dificultando a desistência de alimentos

preferidos23. Num outro estudo efectuado por Afonso e colaboradores28, verificou-

se que a qualidade e a frescura dos alimentos foi o factor reconhecido como

maior influenciador da escolha alimentar, seguido do gosto dos alimentos, sendo

o preço o factor que parece apresentar pouca valorização em Portugal (1,9%)32.

Outra das barreiras à prática de uma alimentação saudável prende-se com

o facto de os indivíduos considerarem que não necessitam de alterar os seus

hábitos alimentares, pois julgam já realizar uma alimentação suficientemente

saudável35,36,37. Esta ideia errada relativamente à prática de uma alimentação

saudável faz com que os indivíduos considerem que as recomendações sobre


17

alimentação são dirigidas aos outros, eventualmente mais vulneráveis do que eles

próprios, não tendo, por conseguinte de acatar as recomendações que lhes são

dirigidas38.

2.3- Estado de saúde

A dieta condiciona decisivamente a saúde da população, sendo que a

prática de uma alimentação saudável e o combate ao sedentarismo, além de

contribuir para a prevenção de doenças, ajuda o indivíduo a manter-se saudável e

contribui para a melhoria da qualidade de vida dos indivíduos4,23,39,40. A

dificuldade da população na prática de uma alimentação saudável deve-se a uma

grande variedade de factores41. O estado de saúde dos indivíduos e as

implicações na saúde, poderão ser condicionantes em relação às opções

alimentares tomadas, promovendo muitas vezes a prática de uma alimentação

saudável42. No entanto há factores que dificultam a adopção de uma alimentação

saudável, sendo necessário actuar sobre eles tentado modificá-los. Estes estão

ligados ao estilo de vida, nomeadamente aos maus hábitos alimentares, como a

prática de uma alimentação com excesso de sal, de gorduras, de álcool e de

açúcar, associadas à ausência ou ao consumo reduzido de legumes e hortícolas,

ao tabagismo e ao sedentarismo41,43,44,45.

Segundo a Organização Mundial de Saúde a recomendação para o

consumo per capita de sal é de 5 gramas diário, situando-se o consumo médio de

sal dos portugueses nos 11 a 12 g/dia46. Este comportamento contribui para que

haja um número elevado de hipertensos e de indivíduos com outras doenças


18

vasculares, estando fortemente relacionado com a elevada taxa de mortalidade

por acidentes cerebrovasculares no nosso país47.

O consumo excessivo de álcool também surge como uma das dificuldades

para a alteração de hábitos. Segundo dados da DAFNE-Data Food Networking46,

para um conjunto de 30 países, o consumo de álcool per capita em Portugal em

2003, para indivíduos com mais de 15 anos de idade, ocupou a 5ª posição de

maior consumidor, sendo as posições cimeiras ocupadas pelo Luxemburgo e pela

França46

Tabela 1: Consumo de álcool per capita

Países Consumo de álcool per

capita (l)

Luxemburgo 15,5

França 14,8

Portugal 11,4

Adaptado de DAFNE46.

O consumo excessivo de álcool é um catalisador evidente de doenças

graves, como o cancro do esófago e do fígado, cirrose, epilepsia, e outros casos

de morte como homicídio e acidentes de viação, representando estes últimos

genericamente 1,8% dos óbitos verificados em Portugal, em 200148.

De acordo com os números da base de dados europeia DAFNE46 verificou-

se uma redução do consumo de produtos hortofrutícolas. Entre 1990 e 2000, os

portugueses consumiram menos 9,4% de fruta, relativamente aos anos

anteriores. Registou-se igualmente uma quebra de 9,1% no consumo de


19

hortícolas. Esta redução do consumo de hortícolas pode dever-se ao aumento da

diversidade da oferta de produtos alimentares e também à diminuição do tempo

para cozinhar, optando a população por refeições prontas e mais rápidas.

Provavelmente esta diminuição traduz-se num menor consumo de sopa pela

população.

Tabela 2 – Consumo em Portugal no ano 2000

Alimento Consumo em Portugal Recomendação

(g) OMS (g)

Fruta 180 150

Legumes 137 250

Adaptado de DAFNE46.

Os valores de consumo individuais são fortes indicadores de consumo. Há

preocupações específicas da população que se relacionam com problemas

cardíacos, patologias várias e outros aspectos tais como as modificações

genéticas dos alimentos que influenciam o consumo, tal como demonstra o

estudo efectuado por Worsley49. Algumas das doenças passíveis de prevenção

pela adopção de uma alimentação saudável são a obesidade, a osteoporose, a

diabetes, alguns tipos de cancro, as doenças cardiovasculares e as doenças

orais10,11,13,16,17,18,50,51. Este papel atribuído à alimentação é conhecido pela

população em geral e está profundamente documentado pela comunidade

científica. De acordo com um estudo europeu realizado, os inquiridos acreditam

que a prática de uma alimentação saudável pode ajudar o indivíduo a manter-se


20

saudável, a prevenir doenças e a controlar o peso, tal como observamos no

quadro seguinte35:

Tabela 3 – Motivos para uma alimentação saudável

% População Motivo

67 Manter-se saudável

66 Prevenção de doenças

53 Controlo do peso

Adaptado de Kearney e colaboradores35.

Outro estudo realizado em Portugal por Afonso e colaboradores32 revela

que 57,8% dos portugueses refere a alimentação como o factor que mais

influencia a saúde32. Verificou-se no mesmo estudo que mais de metade dos

inquiridos referiu não pensar nos aspectos nutricionais dos alimentos que

consumia e 70,3% dos inquiridos indicou considerar já fazer uma alimentação

saudável32. Mais de metade da população considera que a alimentação interfere

no estado de saúde, contudo, o facto de mais de 70% considerar já fazer uma

alimentação saudável, condiciona a alteração de hábitos alimentares, pois não se

identificam como pertencentes ao grupo populacional que necessita alterar os

seus hábitos. Esta atitude e este comportamento dificultam a implementação de

atitudes que pretendem promover uma alimentação saudável a toda a população.

O estudo de Noble e colaboradores52 realizado com crianças, demonstrou

que a percepção do carácter saudável dos alimentos e as crenças nutricionais

são de uma forma geral bastante boas52. No entanto outro estudo efectuado pelos

mesmos autores demonstrou que nas escolhas alimentares, o carácter saudável


21

dos alimentos é um factor que exerce pouca influência, sendo a escolha mais

determinada pelo sabor, textura e aparência dos alimentos53.

Um estudo efectuado por Chen e colaboradores54 revela que a informação

nutricional transmitida é bem aceite pela população que sofre de patologia grave,

como é o caso do cancro. A promoção de comportamentos alimentares pelos

profissionais de saúde, com o objectivo de reduzir o risco de cancro, é encarada

pelos doentes de uma forma positiva, sendo que estes referem que vão seguir as

recomendações destes profissionais54 Verifica-se que por vezes se torna

necessário que ocorra uma situação grave, como é o caso de um diagnóstico de

doença oncológica, para que a população reconheça que não faz uma

alimentação saudável e que precisa mudar os seus hábitos para melhorar

também o seu estado de saúde.

2.4- Aspecto físico

O culto do corpo e a boa aparência física assumem actualmente uma

grande importância. Assim sendo, a distância encontrada entre o peso real e o

peso desejado, é por vezes grande e difícil de atingir, contribuindo desse modo

para o aparecimento de distúrbios alimentares tais como a anorexia ou a

bulimia55,56. De facto, não obstante as mulheres apresentarem uma atitude mais

positiva no que diz respeito à prática de uma alimentação saudável (devido

também ao facto de sobre as mesmas recair a responsabilidade da escolha e

preparação das refeições para as suas famílias), são também as mulheres que
22

mais frequentemente recorrem à alimentação, como resposta emocional para os

seus problemas6,42,57.

Quanto ao excesso de peso, e de acordo com Carmo e colaboradores50

46% das mulheres e 44% dos homens em Portugal apresentavam no ano 2000

excesso de peso ou obesidade. A prevalência da obesidade infantil a nível

nacional é de 30%, uma das mais elevadas da Europa, a par da Itália e da

Grécia58.

Tabela 4- Obesidade infantil em Portugal

Prevalência Pré- Crianças 7 a 9 anos

Obesidade e Obesidade %

Pré-obesidade e Obesidade 31,56

Pré-obesidade 20,3

Obesidade 11,3

Adaptado de Padez e colaboradores58.

3- Aspectos Culturais e Sociais

Segundo Fieldhouse2 a cultura é um dos maiores determinantes do que

comemos. Este autor refere que a natureza dos alimentos que ingerimos é

influenciada por uma grande variedade de factores geográficos, sociais,

psicológicos, religiosos, económicos e políticos. As escolhas alimentares, os

métodos culinários, o número de refeições por dia e o tamanho das refeições


23

fazem parte integrante de uma cultura na qual os costumes e as práticas são

seguidos por todos. A cultura é transmitida de geração em geração, no entanto

esta não é estática, preserva a tradição, mas também constrói mecanismos para

que ocorra mudança. A mudança ocorre devido à influência de factores

ecológicos, económicos, disponibilidade e aparecimento de novos produtos

alimentares. A cultura é aprendida desde muito cedo, e uma vez estabelecidos os

hábitos alimentares, eles persistem no tempo e são resistentes à mudança. A

socialização explica o processo onde ocorre a influência do comportamento que

vai ser transmitido de geração em geração2,3,59.

Um outro estudo de Vartarian e colaboradores60 avalia a influência de

factores externos sobre as escolhas alimentares. Demonstrou que há factores

externos que influenciam a população, sem o seu conhecimento e autorização,

isto é sem que esta se aperceba da sua influência nas escolhas e nas opções

alimentares9,60.

3.1- Religião

Um estudo apresentado por Bonne e colaboradores61 revela que a religião

é outro factor que pode influenciar as decisões de consumo alimentar da

população61. Muitas das celebrações religiosas, que derivam das influências

culturais, envolvem aspectos relacionados com os alimentos. Na nossa cultura

temos como exemplo os doces tradicionais quase obrigatórios em determinadas

ocasiões festivas, como por exemplo o bolo-rei no Natal e Reis, o bacalhau cozido

no Natal, as sardinhas assadas no S. João, a abstenção de carne na Quaresma,


24

entre outros. No entanto noutras culturas verifica-se a mesma influência da

religião sobre o consumo alimentar, como é o caso da proibição do consumo de

carne de vaca na Índia, ou a proibição do consumo de carne de porco pelos

judeus. Estes exemplos traduzem símbolos e rituais religiosos que envolvem os

alimentos. São factores que vão influenciar o comportamento alimentar da

população entre outros factores culturais62.

3.2- Factores ideológicos

As questões ideológicas, isto é, o conjunto de atitudes, crenças, costumes

e tabus, tais como a preocupação com o ambiente, as opções políticas e

religiosas que se tomam, entre outras, bem como a situação económica poderão

influenciar as escolhas alimentares da população.

Temos o exemplo da alimentação vegetariana, que de acordo com

Lindeman e Stark63, se trata de uma prática saudável, em que se ingere pouca

gordura, e que pode funcionar como uma referência de identidade, de

estratificação social ou associar-se a uma nova moralidade. Defende-se que o

vegetarianismo funciona como um importante veículo de expressão do modo

alternativo de vida das actuais sociedades, em que as práticas de consumo são

muitas vezes consistentes com as posições políticas adoptadas64.

Também os alimentos podem ser usados de diferentes formas perante

determinadas situações. O modo de preparação, distribuição e consumo pode

revelar determinada posição social45. Os alimentos são muitas vezes usados

como forma de revelar amizade ou respeito, como forma de recompensa ou


25

punição, como um agradecimento ou uma comemoração, a alimentação faz parte

das relações sociais que mantemos na nossa vida18,59,65. Como exemplo

podemos referir o facto de querermos agradar quando convidamos alguém para

partilhar uma refeição connosco, onde o tipo de alimento ou prato escolhido é

pensado e adequado à situação, ou ainda quando premiamos as crianças com

alimentos por determinada atitude ou acção, ou as castigamos não lhes

oferecendo o seu alimento preferido durante algum tempo.

O conceito de alimentação saudável engloba-se nas questões

ideológicas pois pode variar de indivíduo para indivíduo de acordo com o

conhecimento e com a importância que estes atribuem ao tema. Este conceito

está normalmente associado a três factores que são: a redução do consumo de

gordura, o aumento do consumo de fruta e hortícolas e adopção de uma

alimentação variada e equilibrada31,66,67.

Foram realizados vários estudos que permitem perceber qual o nível de

conhecimento da população sobre o tema alimentação saudável. Um estudo

efectuado por Moura e Cunha41 em Portugal e que serviu como base para a

elaboração do “Projecto Agro Consumidor”, desenvolvido entre 2003 e 2007

evidencia os principais conceitos mencionados pela população para a prática de

uma alimentação saudável. As cinco menções mais vezes mencionadas pelos

consumidores portugueses relacionadas com a prática de uma alimentação

saudável foram as representadas no quadro seguinte41:


26

Tabela 5 – Conceitos mencionados pela população para a prática de uma

alimentação saudável

Afirmações mencionadas % de respostas

Consumo de fruta e vegetais 82

Consumo de peixe 66

Redução de consumo de sal 52

Alimentação equilibrada e variada 47

Redução do consumo de álcool 47

Redução do consumo de alimentos 36

ricos em gordura

Adaptado de Moura e colaboradores41.

A dificuldade da população em fazer uma alimentação saudável deve-se a

uma grande variedade de factores41,43. Segundo este mesmo projecto os cinco

principais perigos alimentares mencionados, que mais preocupam os

consumidores portugueses dizem essencialmente respeito aos perigos

associados ao estilo de vida, tal como podemos observar no quadro seguinte23:

Tabela 6: Factores associados ao estilo de vida

Estilo de vida %

Consumo alimentos ricos em gorduras 60

Excesso de sal nos alimentos 59

Pesticidas nos alimentos 48

Consumo de álcool 48

Excesso de alimentos ingeridos 46

Adaptado de Cunha e colaboradores23.


27

Fazendo a análise por género, verifica-se que as mulheres e os homens

apresentam atitudes muito semelhantes em relação às quatro afirmações mais

vezes mencionadas. No entanto os homens atribuíram uma maior importância à

“redução do consumo de álcool”, e as mulheres à “redução do consumo de

alimentos ricos em gordura” e à “redução do consumo de açúcar ou alimentos

doces”23.

Verifica-se portanto que o conceito de alimentação saudável encontra-se

relativamente bem compreendido pelo consumidor português, embora este não o

ponha em prática frequentemente23,59. O facto de o consumidor considerar que

pratica uma alimentação adequada e saudável vai dificultar a tomada de medidas

de forma a alterar os seus hábitos. Torna-se necessário distribuir informação que

permita ao consumidor reconhecer que necessita alterar os seus hábitos, para

desta forma desenvolver comportamentos adequados à prática de uma

alimentação saudável.

3.3 – Marketing e publicidade

As campanhas de marketing e publicidade são nos dias de hoje um recurso

necessário para a implementação e comercialização de qualquer produto.

Segundo Rossel8, “A alimentação é, actualmente uma actividade social, produtiva,

industrial e comercial muito complexa, que implica a intervenção de um enorme

número de agentes8.
28

Um estudo efectuado por Chernin68 veio demonstrar que as crianças mais

jovens são mais facilmente influenciáveis que crianças mais velhas, isto porque

as primeiras não conseguem entender o carácter persuasivo das mensagens,

permitindo que os alimentos publicitados alterem as suas preferências

alimentares68 A televisão é hoje em dia o principal meio de comunicação que

influencia jovens e adolescentes, com capacidade para influenciar o seu

comportamento alimentar20,28,69,70.

Segundo Siegrist71, os produtos que promovem uma boa imagem física são

mais pretendidos que os que referem benefícios psicológicos71. Os alimentos que

estão associados a uma boa imagem corporal promovida muitas vezes pelas

campanhas publicitárias, como é o exemplo dos iogurtes magros ou cereais

integrais normalmente associados à imagem de mulheres bonitas e elegantes são

preferidos aos alimentos que apresentam benefícios psicológicos como por

exemplo o leite. Segundo o mesmo autor há também factores que influenciam a

população na aceitação ou na rejeição de novos produtos alimentares resultantes

das novas tecnologias. Alguns dos factores que influenciam o consumo destes

produtos são as características destes que podem promover benefícios ou riscos

para a saúde71,72. Os indivíduos que têm confiança na indústria alimentar parecem

ser um alvo mais fácil para o consumo de produtos funcionais que os indivíduos

que não confiam na indústria71. Há indivíduos que questionam os benefícios que a

indústria alimentar ou publicitária associa aos alimentos procurando confirmar a

veracidade dessa informação junto dos profissionais de saúde como os

nutricionistas. No entanto há também indivíduos que confiam na informação

transmitida sem pôr em dúvida o que lhes é transmitido. A informação consegue

por vezes ser tão forte ao ponto de parecer que quanto mais ingerirmos, maiores
29

são os benefícios e num espaço de tempo mais curto. Por exemplo no caso dos

cereais integrais, a publicidade induz o consumidor a acreditar que o aumento da

ingestão potencia os benefícios e de forma mais rápida. Refere os aspectos

positivos do produto e não fala da opção de consumo de outros alimentos como

por exemplo hortícolas ou sopa.

3.4- Motivação para a mudança

Segundo Woolcott42, os principais estímulos que conduzem os indivíduos a

optar pela prática de uma alimentação saudável são moderados pela motivação

individual que os mesmos têm. Esta por sua vez está relacionada com o

conhecimento nutricional que os indivíduos possuem e pelo seu estado de saúde

actual. A informação nutricional é hoje em dia abundante, no entanto os

consumidores não lhe atribuem a importância devida. A motivação para realizar

uma alimentação saudável vai muito para além da informação transmitida42.

Outro factor capaz de provocar a mudança de hábitos alimentares é a

perda de poder económico. Verificou-se em diversos estudos que a alteração do

nível socioeconómico das famílias promove uma alteração dos seus hábitos

alimentares. As famílias com poder económico mais baixo têm tendência a ter

uma alimentação menos saudável73,74


30

3.5- Fast-food

A indústria de fast-food oferece ao consumidor refeições rápidas, de

grande tamanho e a preços reduzidos, características que vão atrair grande

número de consumidores7,75,76. Os locais que distribuem este tipo de alimentos

estão amplamente distribuídos e ao alcance de qualquer um. Estes aspectos vão

influenciar as escolhas alimentares dos indivíduos, com pouco tempo para

prepararem refeições e por vezes com reduzido poder económico para adquirirem

outros produtos alimentares34.

Como referiu Emílio Peres45 “…o apelo dos novos alimentos e das novas

formas de organizar as refeições e merendas atinge um pouco toda a população.

Mas alguns sectores, sobretudo nos meios urbanos, mostram-se particularmente

vulneráveis, para o que contribui a desorganização da vida familiar com

impossibilidade de comer em casa, os horários de trabalho desencontrados, a

desconexão urbana com a satelitização de dormitórios, os altos custos das

refeições prontas, a má comida das cantinas e restaurantes, e a pobreza

nutricional e gastronómica do «pronto a comer».”45

Um estudo realizado em 200777 revelou que independentemente das

características organoléticas destes produtos, as crianças em idade pré-escolar

preferem o paladar de alimentos que pensam ser de determinada empresa de

fast-food77. Este estudo permite concluir que as crianças nesta faixa etária já

consomem com frequência alimentos de fast-food, talvez impulsionadas pelas

ofertas associadas à refeição ou talvez pelas surpresas que as empresas


31

oferecem na organização de festas para as crianças nas suas instalações78. Estas

empresas direccionam as suas estratégias de marketing com muito sucesso para

as crianças, pois estas revelaram gostar mais de determinado alimento por

pensarem ser de determinada empresa de fast-food.

Os preços reduzidos atribuídos às refeições são outro dos factores que

influencia o consumidor para a sua procura e consumo. Verifica-se então um

consumo excessivo deste tipo de alimentos que leva a que contribui para o

aumento da obesidade na população79.

4- Conclusão

Há elementos exteriores ao indivíduo que afectam e influenciam as suas

escolhas, incluindo a forma de agir perante os diferentes alimentos. Como foi

possível verificar, há diferentes factores, podendo estes ser subdivididos em

factores individuais, ambientais ou socioculturais, que vão influenciar a forma

como percepcionamos os alimentos. As nossas escolhas e os nossos

comportamentos relativamente aos hábitos alimentares vão reflectir esta

influência, condicionando essas mesmas escolhas. Há alimentos que nos

agradam, muitas vezes devido às características organolépticas, mas também

devido a outros factores como a influência no estado de saúde do indivíduo, de

acordo com as crenças religiosas de cada um, a experiência obtida durante a vida

do indivíduo até ao momento actual, as influências transmitidas pela família, a

cultura onde se encontra inserido, entre outros. Estes factores não são muitas
32

vezes reconhecidos ou sequer percepcionados pelo indivíduo comum como fortes

influenciadores do consumo e do comportamento.

O conhecimento acerca do que se entende por alimentação saudável

parece compreendido pela maioria da população, no entanto surgem barreiras

que impedem o consumidor de optar por uma alimentação realmente saudável.

Muitas vezes o próprio não reconhece que necessita alterar os seus hábitos,

considerando estar a fazer já uma alimentação adequada. É necessária a

intervenção de profissionais de saúde que alertem para a importância da nutrição

na saúde e transmitam à população a informação necessária, promovendo desta

forma a alteração dos hábitos, com o objectivo de promover a saúde e prevenir a

doença.

O estilo de vida actual dificulta por vezes a adopção de hábitos saudáveis,

seja pelo stress a que estamos sujeitos, à falta de tempo para preparar refeições

saudáveis ou ainda pela forte influência que as empresas distribuidoras de

refeições rápidas ou pré-preparadas têm sobre a população, refeições estas

pouco recomendadas na prática de uma alimentação saudável e equilibrada.

Torna-se portanto fundamental elaborar estratégias de actuação que abranjam

toda a população, com especial atenção para as camadas mais jovens, visto

serem estas as mais facilmente influenciáveis e portanto mais susceptíveis de

adquirirem desde cedo hábitos saudáveis. A intervenção nesta faixa etária passa

pela actuação dos profissionais de saúde, que devem actuar em várias vertentes

e promover estratégias que englobem a participação da família e da escola.

Torna-se necessário transmitir informação adequada aos pais, através do

desenvolvimento de acções de formação, palestras ou reuniões, bem como agir

em conjunto com as instituições de ensino com o objectivo de promover


33

actividades e estratégias educacionais que possam transmitir informação

adequada às crianças e promover deste modo a adopção de hábitos saudáveis. A

informação é a medida necessária, pelo que se deve fazer o esforço de a

transmitir a toda a população com clareza e persistência.


34

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