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Protocolo de Assistencia Obstetrica Rede Cegonha-Crm-Pb

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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


PROTOCOLO DE
ASSISTÊNCIA OBSTÉTRICA
- REDE CEGONHA -
Alba Rejane Wanderley Espinola
Aureliana Barboza da Silva Nóbrega
Eva Betania Pires Martins D’Oliveira
Juliana Silveira de Mello Lula Ayres
Maria Neirismar Dias de Morais Souto
Renata de Medeiros Wanderley Gadelha
Sabina Bastos Maia
Sandra Albuquerque Farias
Tatiana Viana Fragoso Vieira
Viviane Meneghetti Ugulino Azevedo Isidro

COLABORADORES

Adriano Nunes ⚫ Andrea Correia Nóbrega de Sá ⚫ Bruna Nadiely Victor da Silva


Claudio Sergio Medeiros Paiva ⚫ Eduardo Borges da Fonseca
Cristianne da Silva Alexandre ⚫ Giane Camilo Sarmento
Gilka Paiva de Oliveira Costa ⚫ Hermano da Nóbrega Bezerra
Liliane Araújo Saraiva Câmara ⚫ Maria Amélia Rolim Rangel
Moisés Diogo de Lima ⚫ Monica Janine Andrade de Freitas Oliveira
Narriane Chaves Pereira de Holanda ⚫ Otávio Soares de Pinho Neto
Vanessa Luna Araújo Teotônio

Ideia – João Pessoa – 2020

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Direitos reservados. A responsabilidades sobre os textos e imagens são dos autores.

Capa/Editoração: Magno Nicolau

Edição:
Caroline Wanderley Espinola
Guilherme Wanderley Espinola

Ilustração da capa
FLÁVIO TAVARES (Artista Plástico)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

P967 Protocolo de assistência obstétrica: Rede Cegonha [livro eletrô-


nico] / Alba Rejane Wanderley Espínola ... [et al]. – João Pes-
soa: Ideia, 2020.
14 mb. pdf

ISBN 978-65-5608-081-9

1.Ginecologia obstétrica - protocolo. 2. Assistência obsté-


trica – Rede Cegonha - Paraíba. 3. Instituto Cândida Vargas - Pa-
raíba. 4. Associação Paraibana de Ginecologia e Obstetrícia. I.
Espinola, Alba Rejane Wanderley. II. Título.

CDU 618 (813.3)


Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Gilvanedja Mendes, CRB 15/810

EDITORA
www.ideiaeditora.com.br
contato@ideiaeditora.com.br

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


SUMÁRIO

PREFÁCIO ................................................................................. 7
APRESENTAÇÃO ....................................................................... 9
INTRODUÇÃO ......................................................................... 11

ABORTAMENTO ...................................................................... 13
ALTA HOSPITALAR SEGURA ................................................... 26
AMNIORREXE PREMATURA E CORIOAMNIONITE .................... 34
ASSISTÊNCIA AO PARTO CESARIANO...................................... 45
ASSISTÊNCIA AO PARTO DE RISCO HABITUAL ........................ 59
AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL ....................................... 81
CARDIOPATIAS E GESTAÇÃO ................................................ 102
CEFALEIA PÓS-PUNÇÃO DURAL (CEFALEIA PÓS-
RAQUIANESTESIA) ............................................................... 117
DIABETES E GESTAÇÃO ........................................................ 120
DISTÚRBIOS DO LÍQUIDO AMNIÓTICO .................................. 133
DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL (DHPN) ........................... 140
DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL (DTG) .................... 151
EPILEPSIA E GESTAÇÃO ........................................................ 160
GESTAÇÃO E HIV - MANEJO OBSTÉTRICO E VIAS DE PARTO . 166
GESTAÇÃO ECTÓPICA ........................................................... 174
GESTAÇÃO GEMELAR ............................................................ 183
GESTAÇÃO PÓS-TERMO ........................................................ 198
HEMORRAGIA PÓS-PARTO.................................................... 203

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HIPERÊMESE GRAVÍDICA ..................................................... 226
INDUÇÃO DO PARTO COM FETO VIVO................................... 233
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO NA GESTAÇÃO .................... 242
INFECÇÃO PUERPERAL ......................................................... 248
INSERÇÃO DE DISPOSITIVO INTRAUTERINO DE COBRE
NO PÓS-PARTO E PÓS-ABORTO............................................. 262
INSUFICIÊNCIA CERVICAL .................................................... 271
LAQUEADURA TUBÁRIA ....................................................... 279
MORTE MATERNA E O “NEAR MISS” .................................... 289
PARADA CARDIORESPIRATÓRIA NA GESTAÇÃO ................... 296
PARTO DISTÓCICO ................................................................ 307
PARTO VAGINAL APÓS CESARIANA (PVAC) .......................... 326
PARTO VAGINAL INSTRUMENTAL ........................................ 332
PNEUMOPATIAS E GESTAÇÃO .............................................. 341
RESTRIÇÃO DE CRESCIMENTO FETAL ................................... 361
SANGRAMENTO DE SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO ......... 372
SEPSE EM PACIENTE OBSTÉTRICA ........................................ 388
SÍFILIS E GESTAÇÃO ............................................................. 396
SÍNDROMES HIPERTENSIVAS NA GESTAÇÃO ........................ 408
TIREOIDOPATIAS E GESTAÇÃO ............................................. 419
TOXOPLASMOSE E GESTAÇÃO .............................................. 429
TRABALHO DE PARTO PREMATURO ..................................... 437
TROMBOEMBOLISMO VENOSO NO CICLO GRAVÍDICO
PUERPERAL .......................................................................... 446

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PREFÁCIO

N as últimas décadas, a medicina evoluiu substancialmente em todas


as áreas. Para o médico, continua sendo primordial o contato, o
zelo e a dedicação aos pacientes. Mas para desempenhar digna-
mente o seu mister, além de boas condições de trabalho, ele precisa estar
atualizado com as inúmeras novidades da profissão.
Vive-se hoje, num mundo cada vez mais conectado, e inundado
por informações acessíveis na palma das mãos, via “smartphone”. Muitas
destas novidades são puro lixo eletrônico, mas outras podem representar
uma nova possibilidade terapêutica. É preciso, pois, “separar o joio do
trigo”, e escolher no meio de tantos, os conhecimentos úteis para tomada
de decisão.
Estudos realizados nos Estados Unidos e na Holanda mostraram
que 30%-40% dos doentes recebem cuidados em desacordo com as evidên-
cias científicas, e que 1/4 dos tratamentos são desnecessários ou potenci-
almente prejudiciais. Essas observações despertaram interesse na me-
lhora da qualidade dos indicadores de saúde, no controle de custos, e na
redução dos tratamentos inapropriados e ineficazes. Criaram-se então, os
“guidelines”, protocolos de condutas baseadas nas melhores evidências
científicas.
Para reduzir a variação na tomada de decisão, utilizar os recursos
financeiros de forma racional e, sobretudo, para dar segurança para mé-
dicos e pacientes, nasce o “Protocolo de Assistência Obstétrica - Rede Ce-
gonha”, uma iniciativa do Instituto Cândida Vargas, o apoio da Associação
Paraibana de Ginecologia e Obstetrícia e a fundamental participação de
renomados especialistas que trabalham nas maternidades de João Pessoa-
Frei Damião, Edson Ramalho, Lauro Wanderley.
Na condição de Ginecologista e Obstetra e Presidente do Conselho
Regional de Medicina do Estado da Paraíba, sinto-me orgulhoso por pre-
faciar esta obra e cumprimento aos seus autores, pela excelência de suas

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respectivas contribuições. A qualidade e a clareza dos inúmeros temas


contidos nestas páginas, servirão como balizadores para uma assistência
ginecológica e obstétrica segura e atual.

Roberto Magliano de Morais


Presidente do Conselho Regional de
Medicina do Estado da Paraíba.

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APRESENTAÇÃO

A criação deste protocolo se iniciou a partir do sonho de um pequeno


grupo de obstetras de ter como referência algo que pudesse ser im-
plantado de maneira uniforme em todas as maternidades públicas
da cidade e, quem sabe, servisse como instrumento para outras institui-
ções.
Acreditamos que condutas unificadas na obstetrícia, aliadas ao
amor e respeito ao próximo, constituem a base para melhor assistência às
gestantes, puérperas e seus acompanhantes. Como as nossas maternida-
des são hospitais escolas, a vontade de contribuir no processo ensino
aprendizado também nos motivou.
O principal objetivo deste documento é aperfeiçoar o cuidado obs-
tétrico no município de João Pessoa baseado nas evidências científicas
atualizadas e considerando as peculiaridades de cada serviço. Além disso,
em um contexto acadêmico de formação-intervenção no campo prático da
obstetrícia, cabe-nos, a partir deste instrumento, ressignificar nossa atu-
ação enquanto trabalhadores (profissionais médicos) e preceptores num
ambiente de troca de saberes.
Com apoio da Prefeitura Municipal de João Pessoa, Governo do Es-
tado da Paraíba, Polícia Militar da Paraíba e Empresa Brasileira de Servi-
ços Hospitalares, representantes das maternidades se engajaram neste so-
nho, fazendo com que, a quatro mãos e com muita dedicação e esforço,
pudéssemos apresentá-lo.
Protocolo significa instrumento que promove padronização de
condutas, organizando e facilitando as tomadas de decisões. No entanto,
a medicina não é uma ciência estática e serão necessárias atualizações e
correções decorrentes dos resultados de sua aplicabilidade. Não podemos
esquecer que a profissão médica é distinta, por lidar com a indetermina-
ção e complexidade em sua ação, exigindo raciocínio de adaptação à sin-
gularidade de cada paciente.
A assistência ao parto e nascimento vem se aperfeiçoando ao
longo dos anos. Mudar exige, antes de tudo, abertura e coragem. Desa-
prender e reaprender novos conceitos e condutas é um desafio. Seguir um
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protocolo não significa perder a autonomia nem deixar de valorizar as


particularidades de cada paciente, pois há situações não contempladas pe-
los protocolos e, nesses casos, caberá a experiência, o bom senso e o tra-
balho em equipe.
A medicina baseada em evidências científicas objetiva segurança
e qualidade na assistência. Assim, as mais recentes publicações da Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS), Federação Brasileira das Sociedades de Gi-
necologia e Obstetrícia (FEBRASGO), Ministério da Saúde do Brasil, Colégio
Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG), UpToDate foram as princi-
pais bases para construção desse protocolo.
Que mortes evitáveis sejam realmente prevenidas, que sejamos
corresponsáveis pela qualidade de assistência prestada em nossas mater-
nidades, pois o processo de assistência é uma relação entre humanos.
Gratidão por cada etapa vencida, por cada discussão, por cada co-
laborador que, de forma espontânea, como nós, dedicou seu precioso
tempo nessa construção. Gratidão especial a Deus por abençoar a união do
nosso grupo, por nos capacitar e escolher para este objetivo.
Muito nos orgulha concretizar este trabalho árduo, porém estimu-
lante e com o propósito único de que a ferramenta que agora apresenta-
mos seja um pilar edificante nessa jornada fascinante que é nascer.

As autoras

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INTRODUÇÃO

O livro, quando pouco,


é um bom conselheiro.

O protocolo que honrosamente vos apresento, é uma iniciativa da


SMS-JP (ICV), com a participação da SES (MFD), PMPB (HGER),
EBSERH (HULW), Rede Cuidar (SES).
A elaboração desta obra, acomoda um antigo anseio do corpo clí-
nico das Maternidades de João Pessoa. A sensibilidade, competência e des-
prendimento de abnegados servidores, num esforço Hercúleo, materiali-
zaram esse patrimônio intelectual que agora é de todos.
O conteúdo atualizado, fruto de pesquisas e vivências, bebe da
fonte das mais consolidadas evidências científicas, adaptadas à realidade
dos nossos serviços - condição imperiosa para sua consolidação e prestí-
gio.
Sua publicação objetiva alcançar, de forma linear, todos os profis-
sionais inseridos na rede de cuidados à mulher, para que dele se valham
na busca dos melhores resultados em favor daquelas que a nós confia o
alento e cura para seus males.
Vencida essa árdua etapa, uma não menos penosa será a divulga-
ção, aceitação e cumprimento das orientações aqui vigentes. A cada um
dos senhores, confiamos o título de guardiões dos ensinamentos aqui
compilados, que sejam nortes para vossas condutas, que possam atraves-
sar nossas fronteiras e sejam adotados por serviços correlatos. Somente a
adesão de todos, dará sentido ao empenho desprendido na confecção
deste material.
Por fim, alinhados aos ditames de seus ensinamentos, em con-
senso com as boas práticas vigentes, uníssonos, estaremos na vanguarda
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da prestação de serviço de excelência às mulheres - princípio e fim de nos-


sas vocações, ação humana, inspiração divina.

Francisco Marcelo Braga de Carvalho


Presidente da Sociedade de Ginecologia
e Obstetrícia da Paraíba - SOGOPA

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ABORTAMENTO

1. INTRODUÇÃO

Consiste na interrupção da gravidez antes das 22 semanas, peso fe-


tal inferior a 500g ou comprimento inferior a 25cm. Aborto é o produto da
concepção eliminado no abortamento. Classifica-se o aborto como pre-
coce quando ocorre no primeiro trimestre ou tardio quando se dá no se-
gundo trimestre.
O abortamento é a mais comum intercorrência obstétrica e apre-
senta maior incidência em países em desenvolvimento. A incidência dimi-
nui à medida que a idade gestacional avança. Até cerca de 20% das gesta-
ções clinicamente reconhecidas serão perdidas, sendo que 80% das perdas
ocorrem até 12 semanas de gravidez. Considerando os abortos subclínicos,
estima-se que a incidência se eleva para até 26% das gestações.
Cabe destacar que no Brasil 38.919 óbitos maternos foram regis-
trados no SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade) de 1996 a
2018, sendo cerca de 67% em decorrência de causas obstétricas diretas,
destacando-se: hipertensão (8.186 óbitos), hemorragia (5.160 óbitos), in-
fecção puerperal (2.624 óbitos) e aborto (1.896 óbitos).

2. FORMAS CLÍNICAS

2.1 AMEAÇA DE ABORTAMENTO

Ocorre quando o concepto mantém a vitalidade. O quadro clínico é


discreto, caracterizando-se por sangramento vaginal de pequena a média
intensidade e pouca dor em cólica. O útero permanece aumentado e o ori-
fício interno fechado.
O exame ginecológico (especular) é importante para afastar lesões,
pólipos e vaginites agudas, que podem ocasionar sangramento vaginal,
principalmente após o coito.
À ultrassonografia, não há alterações significativas: o saco gestaci-
onal encontra-se íntegro e, caso haja embrião maior que 7 mm, é possível

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visualizar batimentos cardíacos embrionários. A depender do achado ul-


trassonográfico, pode-se lançar mão da dosagem quantitativa de β-HCG.

De modo geral, quando o β-HCG está maior que 1.500 a 2.000mUI/ml,


deve haver saco gestacional intrauterino. Além disso, em uma gesta-
ção normal, os valores de β-HCG aumentam 66% (ou 1,8 vez) a cada
48 horas.

Os sinais ultrassonográficos de mau prognóstico são:


• Saco gestacional irregular
• Frequência cardíaca fetal abaixo de 90 batimentos por minuto
• Hematomas subcoriônicos maiores que 25% do diâmetro do saco
gestacional
• Índice de saco gestacional (ISG) menor que 5 mm

O ISG é a diferença entre o diâmetro médio do saco gestacional (DMS)


e o comprimento cabeça-nádegas do embrião (CCN). ISG menor que 5mm
demonstra importante oligoidramnia de primeiro trimestre, o que na
maior parte dos casos é secundário a grave e precoce insuficiência placen-
tária, devido à má adaptação do trofoblasto, ou alguma aneuploidia.
Na vigência desses achados, a ultrassonografia deve ser repetida den-
tro de 7 a 10 dias.

➢ CONDUTA

A conduta na ameaça de abortamento deve ser expectante, não exis-


tindo indicação de internação hospitalar, mesmo na presença de hema-
toma retroplacentário. Não há conduta médica a ser tomada para alterar
a evolução ou não de um quadro de abortamento a não ser o acompanha-
mento ambulatorial. Deve-se orientar repouso relativo, abstinência se-
xual e realizar ultrassonografia seriada em intervalos dependentes da
evolução do quadro. Pode ainda ser prescrito hioscina + paracetamol - 1
comprimido via oral de 6/6 horas em caso de cólicas.

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2.2 ABORTAMENTO INEVITÁVEL

Considerado como uma progressão da ameaça de aborto com dila-


tação cervical, possibilitando a protusão do saco gestacional. As cólicas
são mais intensas e o sangramento profuso com coágulos.
Ao exame, percebe-se útero compatível com a idade gestacional e
saco gestacional em processo de expulsão pelo colo uterino.
A conduta quando não eliminado totalmente é semelhante à do
aborto incompleto.

2.3 ABORTAMENTO INCOMPLETO

É a forma clínica mais frequente e ocorre quando há eliminação par-


cial do conteúdo uterino. Geralmente apresenta sangramento ativo, em-
bora na maioria das vezes não seja volumoso. Em alguns casos, percebe-se
a presença de material ovular ao exame físico ginecológico e o colo aberto,
com sangramento e cólicas.

➢ CONDUTA
• Internação da paciente
• Solicitação de classificação sanguínea e fator Rh / VDRL. As
pacientes Rh negativo e Coombs indireto negativo devem ser
medicadas com Imunoglobulina anti-Rh para prevenção de
possível aloimunização.
• Hemograma para monitorar anemia e rastrear a infecção
• Acesso venoso, com correção da volemia, se necessário
• Sinais vitais devem ser verificados a cada seis horas: tempera-
tura axilar, frequência cardíaca e pressão arterial.

Nas gestações de primeiro trimestre:


• Misoprostol 400 a 800mcg 3h antes do esvaziamento.
• AMIU (preferencialmente) ou dilatação do colo e curetagem ute-
rina.
Nas gestações do segundo trimestre:
• Esvaziamento da cavidade uterina. AMIU ou curetagem, por téc-
nica convencional, após a expulsão do feto.
• Misoprostol 400 a 800mcg em dose única se colo impérvio

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• Inibição da lactação - cabergolina: 1 mg (2 comprimidos de 0,5 mg)


VO em dose única (se necessário).

2.4 ABORTAMENTO COMPLETO

Definido quando há eliminação total do conteúdo uterino. É mais


frequente quando a perda gestacional acontece até oito semanas de gra-
videz. À ultrassonografia não se identificam imagens do produto concep-
tual, podendo haver apenas coágulos.

➢ CONDUTA
• Orientar a paciente
• Prescrever sintomáticos
• Monitorar hemorragia
• Solicitar classificação sanguínea e fator Rh / VDRL

2.5 ABORTAMENTO INFECTADO

Situação em que há restos intrauterinos e infecção. Na maioria das


vezes é resultado de abortamentos provocados de forma ilegal. A paciente
apresenta quadro clínico de aborto incompleto associado a sinais de in-
fecção, tais como:

• dor local importante à palpação do abdome e à mobilização


uterina
• útero amolecido
• eliminação de material com odor fétido
• comprometimento do estado geral
• febre
• taquicardia

Geralmente são infecções polimicrobianas a partir da ascensão de


germes que fazem parte da flora vaginal e intestinal, como cocos anaeró-
bios, gram-negativos, bacteroides e Clostridium perfingrens (ou welchii).
Nos casos complicados, a infecção pode se estender aos anexos, pe-
ritônio ou se generalizar e evoluir para septicemia. Nos casos graves,
acompanhados de peritonite e que demoram a dar uma resposta

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satisfatória, deve-se proceder a laparotomia exploradora e, se necessário,


realizar retirada de órgãos pélvicos.
A persistência de febre após os cuidados iniciais pode traduzir abs-
cessos pélvicos ou tromboflebite. Nesse caso indica-se a utilização da he-
parina (vide protocolo de infecção puerperal).

➢ CONDUTA
• Hidratação venosa
• Avaliar necessidade de hemotransfusão
• Solicitar exames laboratoriais como classificação sanguínea,
hemograma, VDRL, nos casos complicados (sepse) solicitar
função hepática, renal, hemocultura, gasometria, lactato, ul-
trassonografia transvaginal e abdome total.
• A antibioticoterapia recomendada é:

✓ Sem sepse
Clindamicina 600mg + SF 0,9% 100ml EV 6/6h +
Gentamicina 240mg + SF 0,9% 100ml EV / dia

✓ Com sepse
Ampicilina 01g EV 6/6h +
Clindamicina 600mg + SF 0,9% 100ml EV 6/6h +
Gentamicina 240mg + SF 0,9% 100ml EV / dia (7 a 10 dias).

Deve-se proceder a curetagem uterina após início da antibiotico-


terapia (utilizar ocitocina – 10UI em 500 ml de SF 0.9% - para dimi-
nuir risco de perfuração).

Nos casos sem sepse, suspender ATB 48h após ausência de evidência
clínico-laboratorial de infecção. Nos casos com sepse, a duração típica do
tratamento é de 7 a 10 dias. Alta hospitalar após suspensão do ATB.
Solicitar parecer da CCIH sempre que desejável e em casos de não
haver melhora em 48 a 72 horas.

2.6 ABORTAMENTO RETIDO

Existem dois tipos de abortamento retido, o ovo morto ou missed


abortion (presença de embrião sem vida no saco gestacional íntegro) ou o
ovo anembrionado/ovo cego (ausência de embrião no saco gestacional

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íntegro). Seguem os achados diagnósticos de aborto em ultrassom nas fi-


guras 1 e 2.

Figura 1: Achados diagnósticos de aborto em ultrassom inicial. Fonte: ISUOG.

Figura 2: Achados diagnóstico de aborto nas ultrassom de seguimento. Fonte: ISUOG.

➢ CONDUTA
• Expectante

A conduta expectante pode ser uma opção nessas pacientes uma vez
que nas três semanas que seguem ao decesso do ovo, a grande maioria
evolui em trabalho de abortamento com expulsão do produto da con-
cepção. O coagulograma se impõe quando a retenção é maior que 4 sema-
nas. Solicitar classificação sanguínea / VDRL.

• Esvaziamento uterino

o Abortamento com idade gestacional ultrassonográfica < 12 se-


manas

▪ Misoprostol 400 a 800 mcg a cada 3h (até 2x) ou 400mcg 3


a 6h antes do procedimento (AMIU - método de escolha ou
dilatação e curetagem).
▪ Alta hospitalar pode ser com 12 horas

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o Abortamento com idade gestacional ultrassonográfica ≥ 12 se-


manas

▪ Misoprostol 200mcg a cada 4 ou 6 horas ou 400mcg via


vaginal a cada 3 horas com um máximo de cinco doses.
▪ Infusão venosa de ocitocina em solução glicosada na ve-
locidade de 40 mUI/min (20 UI do fármaco em 500 ml de
soro glicosado a 5% a 20 gotas/min).
▪ No caso de histerotomia prévia, há um risco de 0,28% de
rotura uterina com o uso de misoprostol, por isso a dose
não deve ser maior que 200mcg via vaginal a cada 6 ho-
ras.
▪ Esvaziamento da cavidade uterina - AMIU ou curetagem,
por técnica convencional, após a expulsão do feto.
▪ Inibição da lactação com cabergolina: 1mg (2 comprimi-
dos de 0,5 mg) VO em dose única, caso a paciente apre-
sente lactação ou mamas túrgidas
▪ A alta hospitalar deve ser com 24 horas

2.7 ABORTAMENTO HABITUAL

Ocorre quando há três abortos espontâneos consecutivos, sendo clas-


sificado em primário ou secundário caso seja ou não antecedido por parto.
Acomete de 0,5 a 1% dos casais. Nesse caso, o casal deve ser encaminhado
para investigação no intervalo intergestacional para pesquisa de possível
causa.

2.8 ABORTAMENTO LEGAL

O Código Penal Brasileiro só permite o aborto no Brasil nas seguin-


tes situações:
Artigo 128: Não se pune o aborto provocado por médico:

I. Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;


• É necessário Laudo de dois obstetras e um especialista na pa-
tologia que motiva a interrupção.
• Consentimento informado da gestante e familiares.
• Não é necessário comunicar ao CRM.
• É necessária a notificação à comissão de ética do hospital.

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II. Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido do


consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu res-
ponsável legal.

Nos casos de crime sexual, a assistência médica é prioritária e deve


ser garantida à mulher antes de qualquer providência no âmbito policial
ou judicial. Portanto, mesmo que a vítima não apresente lesão física ex-
terna ou aparente, deve ser atendida previamente no serviço de saúde,
para ser submetida às profilaxias de gestação, de DST/AIDS e de hepatite
B, por exemplo, bem como para receber acompanhamento psicológico e
de assistência social.
Constitui um dever do Estado dar assistência à mulher estuprada
que engravidou e pretende interromper a gestação, ainda que ela não te-
nha noticiado o fato à polícia ou a qualquer outra pessoa. A interrupção
da gestação nesse caso é um direito da mulher e deve ser garantido mate-
rialmente pelo Estado.

III. Casos de anencefalia fetal

Em maio de 2012, o Supremo Tribunal Federal decidiu favoravel-


mente à interrupção voluntária da gravidez em casos de má formação fe-
tal incompatível com a vida, como se dá na anencefalia / acrania. (CON-
FORME RESOLUÇÃO 1.989⁄2012 DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA -
Publicada no D.O.U. de 14 de maio de 2012, Seção I, p. 308 e 309).
Na ocorrência do diagnóstico inequívoco de anencefalia, o médico
pode, a pedido da gestante, independente de autorização do Estado, inter-
romper a gravidez. Não é mais necessária qualquer autorização judicial
para a realização do procedimento de interrupção de gestações de fetos
anencefálicos.

Providenciar termo de consentimento e anexar laudo do ul-


trassom assinado por dois médicos e que contenha duas fotografias,
identificadas e datadas. Uma com a face do feto em posição sagital,
outra com a visualização do polo cefálico no corte transversal, de-
monstrando a ausência da calota craniana e de parênquima cerebral
identificável.

Termo de consentimento, laudo de ultrassonografia e registro fo-


tográfico devem, obrigatoriamente, integrar o prontuário da paciente.

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3. ASPECTOS ÉTICOS

3.1 CONSENTIMENTO

O consentimento da mulher é necessário para o abortamento em


quaisquer circunstâncias, salvo em caso de iminente risco de vida e es-
tando a mulher impossibilitada para expressar seu consentimento de
acordo com o Código Civil arts. 3º, 4º, 5º, 1631, 1690, 1728 e 1767 – Código
Civil:
a) Acima dos 18 anos a mulher é capaz de consentir sozinha.
b) A partir dos 16 e antes dos 18 anos a adolescente deve ser as-
sistida pelos pais ou por seu representante legal, que se mani-
festam com ela.
c) Antes de completar 16 anos a adolescente ou criança deve ser
representada pelos pais ou por seu representante legal, que se
manifestam por ela.

A outra circunstância em que é necessário o consentimento de re-


presentante legal (curador/a ou tutor/a) refere-se à mulher que, por qual-
quer razão, não tenha condições de discernimento e de expressão de sua
vontade. Orienta-se o preenchimento do termo de consentimento livre es-
clarecido (TCLE) a todas as pacientes internadas com diagnóstico de abor-
tamento.

3.2 SIGILO

Diante de abortamento espontâneo ou provocado, o (a) médico(a)


ou qualquer profissional de saúde não pode comunicar o fato à autoridade
policial, judicial, nem ao ministério Público, pois o sigilo na prática pro-
fissional da assistência à saúde é um dever legal e ético, salvo para prote-
ção da usuária e com o seu consentimento. O não cumprimento da norma
legal pode ensejar procedimento criminal, civil e ético-profissional contra
quem revelou a informação, respondendo por todos os danos causados à
mulher. É crime: “revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem
ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revela-
ção possa produzir dano a outrem” (Código Penal, art. 154). Constituição
Federal: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito à indenização material ou moral decor-
rente de sua violação” (art. 5º, X).
Quanto à criança e ao adolescente:
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Rede Cegonha | 22

Código de Ética Médica: “é vedado ao médico revelar segredo pro-


fissional referente à paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou res-
ponsáveis legais, desde que o menor tenha capacidade de avaliar seu pro-
blema e de conduzir-se por seus próprios meios para solucioná-los, salvo
quando a não revelação possa acarretar danos ao paciente” (artigo 74 –
resolução CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009 – Código de Ética Mé-
dica). A assistência à saúde de crianças ou adolescentes menores de 18
anos em abortamento deve, pois, submeter-se ao princípio da proteção
integral. Se a revelação for feita para preservá-la de danos, estaria afas-
tado o crime de revelação de segredo profissional. Entretanto, a revelação
do fato também pode lhe acarretar prejuízos ainda mais graves, como o
seu afastamento do serviço de saúde e perda da confiança nos profissio-
nais que a assistem. A decisão, qualquer que seja, deve estar justificada no
prontuário da adolescente.

3.3 DA OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA

Código de Ética Médica: “o médico deve exercer a profissão com


ampla autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais a
quem ele não deseje, salvo na ausência de outro médico, em casos de ur-
gência, ou quando sua negativa possa trazer danos irreversíveis ao paci-
ente” (art. 7º). É seu direito “indicar o procedimento adequado ao paciente
observado as práticas reconhecidamente aceitas e respeitando as normas
legais vigentes no país” (art. 21) e “recusar a realização de atos médicos
que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua cons-
ciência” (art. 28). É vedado “descumprir legislação específica nos casos de
transplante de órgãos ou tecidos, esterilização, fecundação artificial e
abortamento” (art. 43) e “efetuar qualquer procedimento médico sem o
esclarecimento e o consentimento prévios do paciente ou de seu respon-
sável legal, salvo em iminente perigo de vida” (art. 48).

NÃO CABE OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA:


a) Caso de necessidade de abortamento por risco de vida para a
mulher;
b) Qualquer situação de abortamento juridicamente permitido, na
ausência de outro(a) médico(a) que o faça e quando a mulher pu-
der sofrer danos ou agravos à saúde em razão da omissão do(a)
médico(a);
c) Atendimento de complicações derivadas de abortamento inse-
guro, por se tratarem de casos de urgência.
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 23

4. PREENCHIMENTO DA DECLARAÇÃO DE ÓBITO


➢ Deve ser preenchida a declaração de óbito (DO):

• Quando a criança nascer viva e morrer logo após o nascimento,


INDEPENDENTEMENTE da duração da gestação, do peso do re-
cém-nascido e do tempo enquanto tenha permanecido vivo. Não
se trata de óbito fetal, dado que existiu vida extrauterina. O hos-
pital deve providenciar também a emissão da Declaração de Nas-
cido Vivo (DNV), para que a família promova o registro civil do
nascimento e do óbito.
• Nos casos de restrição de crescimento intrauterino, pois o feto
pode pesar menos de 500g, mas ter idade gestacional maior que 22
semanas.
• A legislação atualmente existente permite que, na prática, a emis-
são da DO seja facultativa para os casos em que a família queira
realizar o sepultamento do produto de concepção.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

• 70% dos abortamentos até 8 semanas resolvem-se espontanea-


mente.
• É importante ressaltar que a curetagem uterina deve ser realizada
apenas quando a aspiração não estiver disponível (AMIU apre-
senta menores taxas de complicações e reduzida necessidade de
dilatação cervical).
• Sempre se deve encaminhar o material abortado para estudo ana-
tomopatológico.
• Efeitos colaterais podem ocorrer com a utilização do misoprostol,
tais como: diarreia, que deve ser tratada apenas com hidratação
oral, vômitos, controlados com antieméticos, e sangramento ge-
nital excessivo, tratado com esvaziamento uterino, preferente-
mente por meio de aspiração manual ou elétrica e em alguns ca-
sos, pode correr febre.
• Deve-se sempre verificar o tipo sanguíneo materno. Se a paciente
for Rh negativo com parceiro Rh positivo ou desconhecido e teste
de Coombs indireto negativo deve-se prescrever a imunoglobulina
Rh (300 µg) idealmente até 72 horas após o evento.
• Na alta hospitalar, o médico deverá fornecer à paciente licença
médica para repouso domiciliar pelo período de 14 (quatorze
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Rede Cegonha | 24

dias), a contar da data do abortamento, em formulário próprio ou


no receituário da instituição.
• Encaminhar ao planejamento reprodutivo após a alta. Em casos de
abortamento sem sinais de infecção pode-se oferecer a inserção
do DIU após esvaziamento.

A atenção humanizada às mulheres em abortamento é direito de toda


mulher e dever de todo(a) profissional de saúde.

REFERÊNCIAS

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Gynecology: November 2018 - Volume 132 - Issue 5 - p 1311-1313.
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(Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Brasil. Ministério da Saúde. Atenção humanizada ao abortamento: norma técnica
/ Ministério da saúde, Secretaria de atenção à saúde, Área técnica de saúde da
mulher. – 2. ed. – Brasília: Ministério da saúde, 2011. 60 p. – (Série a. Normas e
manuais técnicos) (Série direitos sexuais e direitos reprodutivos); Caderno nº 4.
Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo para Utilização de Misoprostol em Obste-
trícia, Área técnica da Saúde da Mulher, 2012. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_utilizacao_misopros-
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Ações Pragmáticas Estratégicas. Aspectos jurídicos do atendimento às vítimas de
violência sexual: perguntas e respostas para profissionais de saúde / Ministério
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tratégicas. – 2. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2011.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Análise de Situação de Saúde. Manual de Instruções para o preenchimento da De-
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Moraes Filho OB. Aborto: Classificação, diagnóstico e conduta. São Paulo: Federa-
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2020.

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Rede Cegonha | 26

ALTA HOSPITALAR SEGURA

1. INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define alta como sendo a libe-


ração de um paciente de um centro de cuidados, usualmente referindo-se
à data em que o mesmo deixa o hospital.

A alta da gestante ou puérpera consiste no processo de planeja-


mento e transferência do cuidado do ambiente hospitalar para o do-
micílio, em condições clínicas estáveis.

Alguns problemas relacionados à alta hospitalar podem ser evitados


com medidas simples:
• Orientações passadas de forma clara às pacientes
• Preenchimento correto e completo dos prontuários
• Preenchimento correto e completo dos resumos de alta
• Melhor organização e estruturação das rotinas do serviço

A falta de informações educativas para as pacientes nas altas de in-


ternações de alto risco ou no período pós-parto ou pós-aborto pode gerar
medo, ansiedade e insegurança. Quando as orientações de alta são reali-
zadas apenas no momento da saída da paciente, com diversas informações
ao mesmo tempo, observa-se mais dificuldade na compreensão e no cum-
primento das mesmas, podendo gerar inclusive readmissões com elevação
de custos hospitalares.
Além disso, uma demora no processo de alta pode levar a uma me-
nor disponibilidade de leitos e consequentemente maior concentração de
pacientes aguardando a internação, uma vez que o maior volume de in-
ternações hospitalares acontece pela manhã e, nesse período, ocorre a
menor parte das altas.
Reforça-se que a alta hospitalar oportuna e responsável é conside-
rada uma boa prática obstétrica impactando não apenas na maior
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 27

disponibilidade de leitos como na redução no número de consultas e re-


admissões na maternidade.

2. FINALIDADE

Permitir que a paciente retorne ao ambiente domiciliar com orien-


tações sobre o autocuidado e com seu recém-nascido, visando prepará-los
para a continuidade da assistência, conforme a Portaria MS/GM:
3.390/2013:
“Art. 16. A alta hospitalar responsável entendida como transferên-
cia de cuidado, será realizada por meio de:
I – Orientação dos pacientes e familiares quanto à continuidade do
tratamento, reforçando a autonomia do sujeito, proporcionando o
autocuidado;
II- Articulação da continuidade do cuidado com os demais pontos de
atenção da rede de assistência, em particular, a atenção básica;
III- Implantação de mecanismos de desospitalização, visando alter-
nativas às práticas hospitalares, como as de cuidados domiciliares
pactuados na rede de atenção básica.

3. ETAPAS PARA A ALTA

• Definir a data provável da alta, de acordo com o quadro clínico do


paciente e/ou RN;
• Manter um Plano Terapêutico diário de cuidado multidisciplinar
registrado no prontuário, de acordo com as necessidades da paci-
ente;
• Justificar, no prontuário, durante a evolução diária, o motivo da
não liberação para alta;
• Preparação de transição de cuidado, com orientações de forma
clara, para a paciente e seu acompanhante, de preferência no dia
que anteceder a alta, objetivando melhor logística (muitos depen-
dem de transportes particulares com algum custo ou residem em
outra localidade);
• Preenchimento do cartão pré-natal com dados do parto e RN (no
momento do parto);
• Preenchimento do checklist de alta (Anexo 1): é uma abordagem
estruturada para o planejamento da alta, a partir da admissão,

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Rede Cegonha | 28

usando uma lista de verificação padronizada de tarefas a serem


realizadas durante a hospitalização;
• Contato com a Atenção Básica de referência ou ambulatório de es-
pecialidades para a continuidade do cuidado, a depender da gra-
vidade do caso (contrarreferência).

4. DESCRIÇÃO DA ALTA

• Alta hospitalar deve ter abordagem multiprofissional e garantir o


preenchimento do Resumo de Alta que apresente de forma resu-
mida as informações relacionadas ao cuidado prestado durante a
internação (Anexo 2);
• Informar a paciente e acompanhante sobre a alta hospitalar;
• Entregar exames fornecidos pela paciente no momento de admis-
são, cartão do pré-natal e caderneta da criança preenchidos; car-
tão de vacinação e Declaração de Nascido Vivo, atestado e receita
médica;
• Confirmar a Classificação Sanguínea materna e, nos casos Rh ne-
gativos, verificar a classificação do recém-nascido.
• Orientar sobre a importância do aleitamento materno exclusivo;
• Orientar a higienização da ferida operatória e íntima;
• Orientar a amamentação e a contracepção;
• Orientar quando e onde realizar a retirada dos pontos cirúrgicos
da cesariana;
• Orientar o agendamento para consulta puerperal e acompanha-
mento do RN (ambulatório de egressos / puericultura);
• Conferir checklist de alta (Anexo 1).

5. ALTA HOSPITALAR NA PUÉRPERA

• Após 48h (no caso de parto normal, com risco habitual, pode ser
dada alta após 24 ou 36h) com prescrição de analgésico por via
oral, antiflatulento e sulfato ferroso.
• Checar a administração da imunoglobulina Anti-Rh nas pacientes
Rh negativas.
• Dieta, de acordo com as condições clínicas necessárias.
• Orientação para retirada de pontos não absorvíveis com 7 a 10
dias.

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• Orientação acerca da higiene pessoal, cuidados com a ferida ope-


ratória e com as mamas. Orientações contraceptivas:
o Progestágeno isolado oral (Desogestrel 75mg) para aque-
las que não inseriram o DIU pós-parto.
o Os progestágenos isolados não interferem na produção do
leite.
o Injetável trimestral é categoria 3 pelos critérios de elegi-
bilidade da OMS (uso do método não geralmente recomen-
dado a menos que outros mais apropriados não estejam
disponíveis ou não sejam aceitos).
o Anticoncepcionais orais combinados são categoria 4, não
devem ser prescritos devido ao risco aumentado de trom-
bose nas primeiras 6 semanas após o parto (o método não
deve ser usado, pois apresenta um risco inaceitável).
o Revisão e orientações após inserção de DIU.

A contracepção após o parto imediato não é uma necessidade de


contracepção propriamente dita e sim uma necessidade pela vulne-
rabilidade. Isto porque estar na maternidade talvez seja o único mo-
mento de contato de algumas mulheres com o serviço médico, ou seja,
é a janela de oportunidade. Dra Carolina Sales

• Orientações específicas para prevenção e controle de infecção pu-


erperal
o Orientar a puérpera sobre sinais e sintomas de in-
fecção.
o Orientar que as relações sexuais com penetração
vaginal podem ser restabelecidas por volta de 20 a
30 dias após o parto normal, quando já tiver ocor-
rido a cicatrização e por volta de 30 a 45 dias após
o parto cirúrgico.
o Higiene perineal deve ser realizada com água e sa-
bão no mínimo três vezes ao dia e após as elimina-
ções fisiológicas (diurese e evacuação).
o Higiene da ferida operatória durante os ba-
nhos com água e sabão, orientar secar bem
após o asseio.

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5. PONTOS IMPORTANTES

• O planejamento da alta deve ter início no momento da admissão


hospitalar e tem o objetivo de dar continuidade ao cuidado rece-
bido pelo paciente no hospital.

• As altas devem ser efetivadas no turno da manhã até às 10 horas,


com a liberação do leito até o meio dia. Isto possibilita novas in-
ternações e evita a concentração de pacientes na maternidade.

ANEXO 01
Checklist de Alta

ESTADO CLÍNICO S N
Reversão / melhora dos fatores de motivaram a in-
ternação?
Condição obstétrica adequada para alta?
O local do cuidado pós-alta foi orientado?
(USF, pré-natal de alto risco, ambulatório de egres-
sos)
As consultas especializadas “pós-alta” estão agen-
dadas?

EXAMES COMPLEMENTARES
Confirmada a tipagem sanguínea e VDRL?
Administrada a Imunoglobulina nas pacientes Rh
negativas?
Recebeu informação sobre exames alterados?
Os exames da paciente lhe foram entregues?
Orientado em relação a exames/ pareceres penden-
tes e como proceder?
Há exames a serem realizados após a alta?

EDUCAÇÃO QUANTO A SUA DOENÇA/ GESTA-


ÇÃO/ PARTO
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Sabe seu diagnóstico (por que foi internada, indica-


ção da cesárea) e implicações de sua doença?
Orientada quanto ao seu tratamento?
Está ciente de suas limitações?
Orientada quanto aos sinais de piora e quando pro-
curar o serviço de saúde?
Foi entregue folheto de orientações para os cuida-
dos domiciliares?
Preenchimento do CARTÃO PRÉ-NATAL com da-
dos do parto e RN
Estímulo ao aleitamento exclusivo
Recebeu orientações quanto ao uso do DIU? Con-
sulta de revisão agendada?

RESUMO DE ALTA FORNECIDO/EXPLICADO?


(2 vias: 1ª. Via entregar à mãe e 2ª. via deixar no
prontuário)
Fornecimento de atestados, declarações, relatórios
e prescrição de medicamentos pelo médico assis-
tente.

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ANEXO 02
Modelo de resumo de Alta (adaptável às maternidades e às condições
clínicas)

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REFERÊNCIAS

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System Rev Implement Rep. 2016;14(2):106‐173.
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de Prevenção e Crité-
rios Diagnósticos de Infecções Puerperais em Parto Vaginal e Cirurgia Cesari-
ana/Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2017.
Brasil. Resolução da Diretoria Colegiada. RDC Nº. 63. Dispõe sobre os Requisitos
de Boas Práticas de Funcionamento para os Serviços de Saúde. Disponível em:
http://portal.anvisa.gov.br/docu-
ments/33880/2568070/rdc0063_25_11_2011.pdf/94c25b42-4a66-4162-ae9b-
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Rede Cegonha | 34

AMNIORREXE PREMATURA
E CORIOAMNIONITE

1. INTRODUÇÃO

Amniorrexe prematura ou ruptura prematura de membranas ovula-


res (RPMO) é aquela que acontece antes do início do trabalho de parto,
independentemente da idade gestacional.
O período de latência é compreendido entre a ruptura das membranas
e o real início do trabalho de parto, sendo com frequência inversamente
proporcional à idade gestacional de ocorrência.
Pode ocorrer em até 10% de todas as gestações, sendo mais comum no
termo. Porém, a RPMO pré-termo tem incidência de 2-3% e se responsabi-
liza por 18,2% dos partos prematuros no Brasil.

2. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é essencialmente clínico, confirmado por pelo menos


dois dos seguintes critérios:
• História clínica: queixa de perda de líquido vaginal, transparente
e com odor característico; pode ter cor amarelada ou esverdeada
(mecônio), ou ser purulento, se houver infecção.
• Exame obstétrico: exame especular, sem utilizar vaselina ou povi-
dine, com observação de saída de líquido pelo orifício do colo ute-
rino, de modo espontâneo ou pela manobra de Valsalva (prova de
esforço).
• Medida do pH vaginal por fita: encontra-se alcalinizado na pre-
sença de líquido amniótico apresentando valores maiores ou
iguais a 7.
• Teste do fenol vermelho: posiciona-se um tampão vaginal e, após
um tempo, adiciona-se algumas gotas do reagente (fenolsuftaleína
a 0,1%), quando se observa a alteração da coloração de laranja para
vermelho na presença de líquido amniótico.

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• Ultrassonografia: a identificação da redução de líquido amniótico


em uma gestante com história sugestiva pode contribuir para o
diagnóstico desde que se tenha exame prévio recente com análise
normal do líquido amniótico. Trata-se de um método auxiliar im-
portante, mas não definitivo. Cabe ressaltar que em até 30% das
mulheres com RPMO confirmadas pode existir um índice de lí-
quido amniótico (ILA) normal na primeira avaliação por imagem.

3. CONDUTA OBSTÉTRICA

• Internação hospitalar (a partir de 23 semanas de gestação)


• Exame físico:
o Temperatura axilar e pulso materno;
o Dinâmica uterina;
o Altura uterina;
o Batimentos cardíacos fetais e movimentação fetal;
o Exame especular;
o NÃO REALIZAR O TOQUE VAGINAL, exceto:

➔ Na presença de atividade uterina compatível com


trabalho de parto.
➔ Gestantes a termo.
➔ Quando se planeja a indução imediata.

• Avaliar existência de trabalho de parto através da palpação abdo-


minal e evidência de contração uterina efetiva.
• Quando a conduta for expectante (IG menor que 36 semanas):

➔ Realizar coleta para cultura por swab vaginal e re-


tal para pesquisa de estreptococo do grupo B
(EGB), se disponível no serviço;
➔ Ultrassonografia obstétrica para confirmação de
idade gestacional e avaliação do volume amniótico
residual;
➔ Pesquisa laboratorial de corioamnionite através
de hemograma e PCR (repetir a cada 72h);
➔ Pesquisa laboratorial de outros focos de infecção:
sumário de urina e urocultura;

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➔ Cardiotocografia: quando a IG for igual ou supe-


rior a 32 semanas.

A conduta subsequente será definida pela idade gestacional, ausência


de diagnóstico de corioamnionite no momento da internação e presença
de boa vitalidade fetal.

A. Menos de 23 semanas

Excluir a presença de infecção amniótica, prolapso de cordão, desco-


lamento de placenta e trabalho de parto. Na presença de infecção amnió-
tica deve-se permitir (não inibir) ou induzir o trabalho de parto e iniciar
antibioticoterapia.
Excluídas as condições acima, a conduta da RPMO abaixo de 23 sema-
nas deverá ser INDIVIDUALIZADA, com aconselhamento do casal. A dis-
cussão com a paciente e familiares e a conduta definida devem ser conve-
nientemente registradas no prontuário e assinado termo de consenti-
mento livre e esclarecido (TCLE).

▪ Não há indicação de corticoterapia e tocólise.


▪ Acompanhamento ambulatorial na triagem da materni-
dade para realização de exame especular e leucograma a
cada 3 dias.
▪ Internar quando completadas as 23 semanas.

B. Entre 23 e 36 semanas

Indicada a internação hospitalar. Deve-se excluir a presença de infec-


ção amniótica, descolamento de placenta e TP. Na presença de infecção
amniótica (corioamnionite), induzir o trabalho de parto, independente-
mente da idade gestacional. Importante explicar à paciente e acompa-
nhante sobre o prognóstico reservado em gestações com menos de 26 se-
manas.
Diante de um caso mais delicado e com maior risco na manutenção da
gravidez, como, por exemplo, um oligoâmnio grave, a conduta de resolu-
ção com 34 semanas seria plausível. A partir de 36 semanas, a interrupção
da gestação está indicada.

A conduta conservadora deve ser realizada em ambiente hospitalar.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 37

• Na admissão

➔ Solicitar hemograma, PCR, sumário de urina e urocultura. Reali-


zar exame especular e solicitar ultrassonografia obstétrica. EVI-
TAR toque vaginal. Importante rastrear infecção pelo EGB (colher
swab), quando disponível no serviço.

• Durante a internação

➔ Medidas gerais: hidratação oral e repouso relativo.

➔ Rastreamento laboratorial de processo infeccioso.


o Leucograma e PCR a cada 72h. Valorizar alterações evolu-
tivas em exames seriados como aumento relativo da con-
tagem total de leucócitos em cerca de 20% acima do valor
basal ou da proporção de formas imaturas (desvio à es-
querda). Deve-se valorizar, em conjunto com outros sinais
e sintomas, o aumento da PCR em 20%.

➔ Rastreamento clínico de processo infeccioso.


o Exame especular a cada 72h.
o Controle de temperatura e frequência cardíaca materna a
cada 6h. Considera-se significativa a elevação sustentada
da FC em 10% acima dos níveis basais da gestante e tem-
peratura axilar maior ou igual a 37,8°C.
o Outros sinais: palpação uterina dolorosa, secreção vaginal
purulenta, taquicardia fetal.

➔ Avaliação do estado fetal


o Ausculta de batimentos cardiofetais duas vezes ao dia.
o Mobilograma diário.
o Avaliação fetal por ultrassonografia a cada 7 dias.

➔ Corticoterapia
o Betametasona 12mg IM a cada 24h por dois dias; ou
o Dexametasona 6mg IM de 12/12h por dois dias.
Contraindicações: evidências de infecção e/ou parto iminente, hipersen-
sibilidade à droga.

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→ A utilização de corticoide em prematuro tardio


(entre 34 e 36 semanas) é recomendada. Não inibir o tra-
balho de parto para administrar corticoide tardio!
→ Lembrar que o corticoide pode levar a uma leu-
cocitose transitória sem desvio à esquerda.

➔ Antibioticoterapia (até 36 semanas).

➢ Para prolongar período de latência:

• Ampicilina 2g IV 6/6h por 48 horas + Azitromicina


1g em dose única VO.
• Seguido por Amoxicilina 500mg 8/8h ou 875mg
VO 12/12h por 5 dias.

➢ Em caso de infecção amniótica:

• Clindamicina 600mg 6/6h + Gentamicina 240mg


em dose única diária EV 1x/dia OU
• Ceftriaxona 1g EV 12/12h + Metronidazol 500mg
EV 8/8h
• Manter esquema por 48h após o parto ou após o
último pico febril.

➔ TOCÓLISE
O uso de tocolíticos é recomendado na ausência de infecção e no perí-
odo compreendido entre a 23ª e a 34ª semana de gestação.
Quando indicada, a inibição do trabalho de parto deverá ser criteriosa
e não deverá se prolongar por mais de 48 horas, tempo necessário para
completar a corticoterapia, neuroproteção com MgSO4 e/ou transporte
para centro de assistência terciária.
Destaca-se que a neuroproteção é recomendada até 32 semanas (vide
capítulo de trabalho de parto prematuro).

C. > 36 semanas:
• A partir de 36 semanas a interrupção da gestação está indicada,
entretanto admite-se a espera de 24h para que se desencadeie o

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 39

trabalho de parto espontâneo naquelas pacientes que desejam es-


perar, exceto se houver sinais de infecção, alteração na vitalidade
fetal e/ou apresentações anômalas.
• Aproximadamente 60% das mulheres com ruptura prematura de
membranas no termo entrará em trabalho de parto dentro de 24
horas. Sendo assim, conforme recomendações do Ministério da
Saúde, a paciente pode aguardar esse período em domicílio, se as-
sim desejar.
• O risco de infecção neonatal grave na amniorrexe é de 1%, compa-
rado com 0,5% para mulheres com membranas intactas;

o Na admissão:

▪ Solicitar hemograma e PCR.


▪ Caso seja decidido pela indução do trabalho de parto: con-
siderar as condições do colo uterino através do Índice de
Bishop e as provas de vitalidade fetal (vide capítulo de in-
dução do parto com feto vivo).
▪ Em termos gerais:

o Ausência de cicatriz uterina – Misoprostol 25 mcg


vaginal de 6/6 horas
o Na presença de cicatriz uterina sugere-se cesari-
ana, pois não é indicada a indução mecânica nos
casos de amniorrexe pelo provável risco de infec-
ção e está contraindicado o uso de misoprostol.

▪ Antibioticoprofilaxia para EGB deverá ser feita nas ges-


tantes com fatores de risco, em trabalho de parto, cu-
jos resultados de culturas sejam desconhecidos ou que
não tenham sido colhidas pela associação com taxas ele-
vadas de colonização materna (até 35%), conforme quadro
a seguir:

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Rede Cegonha | 40

Deve ser realizada na presença de qualquer um dos fa-


tores de risco:
o Febre intraparto
o Idade gestacional menor que 37 semanas
o Bacteriúria nesta gestação por Streptococcos
agalactiae (EGB)
o Antecedente de recém-nascido acometido de
infecção por EGB
o Amniorrexe há mais de 18 horas

Esquema de escolha:

Penicilina cristalina 5.000.000 UI, IV (dose de ataque) seguido de 2.500.000


IV 4/4h pelo tempo que durar o trabalho de parto sendo suspenso após o
parto. Pode-se utilizar Ampicilina 2g (ataque) e 1g IV de 4/4h ou Clinda-
micina 900mg IV de /8h.

▪ Se paciente já estiver em uso de Cefazolina ou ampici-


lina, não precisa administrar penicilina.
▪ Pacientes com quadro de incompetência cervical que
evoluem com exposição de membranas devem ser con-
duzidas da mesma forma que a amniorrexe.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 41

4. FLUXOGRAMA

CORIOAMNIONITE

1. INTRODUÇÃO

Corioamnionite é a infecção intrauterina do líquido amniótico, da


placenta e das membranas ovulares de etiologia polimicrobiana, com ger-
mes da microbiota vaginal ou intestinal. Ocorre, na maioria das vezes, em
mulheres com amniorrexe prematura.
Está associada à morbidade neonatal aguda, incluindo pneumonia
neonatal, meningite, sepse e morte, além de complicações a longo prazo,
como displasia broncopulmonar e paralisia cerebral.
Em 2015 o Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento
Humano, recomendou o uso do termo triplo I (Infecção / Inflamação /
Intra-amniótica) para abordar a heterogeneidade desse distúrbio.

2. DIAGNÓSTICO

▪ CRITÉRIOS MAIORES

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 42

• Febre intraparto aferida em duas ocasiões,


com intervalo de 30 minutos, sem outro
foco aparente
• Líquido amniótico purulento

▪ CRITÉRIOS MENORES
• Taquicardia materna persistente
(>100bpm/fora do período febril)
• Taquicardia fetal persistente (>160bpm/
fora do período febril)
• Útero doloroso a palpação
• Líquido amniótico fétido ou aquecido
• Leucocitose (>15.000 a 20.000 ou desvio a
esquerda)

Para o diagnóstico:
• 1 Critério maior + 1 critério menor
• 3 ou mais critérios menores

Febre materna isolada é definida como qualquer temperatura ma-


terna entre 38,0°C e 38,9°C, sem fatores de risco adicionais presentes com
ou sem elevação persistente da temperatura. Existe forte suspeita de in-
fecção intra-amniótica quando a temperatura materna é maior ou igual a
39,0 ° C ou quando a temperatura materna é de 38,0 a 38,9 ° C e um fator
de risco clínico adicional está presente.

3. CONDUTA

Recomenda-se a administração de antibióticos intraparto sempre


que houver suspeita ou confirmação de infecção intra-amniótica e a ges-
tação deve ser interrompida independentemente da idade gestacional.
A presença de apenas um critério menor é insuficiente para o di-
agnóstico e não deve ser iniciado antibiótico, porém se presença de dois
critérios menores, da mesma forma que no cenário de febre materna iso-
lada, existe forte suspeita, a paciente deve ser cuidadosamente monito-
rada e início da antibioticoterapia deve ser considerado a menos que uma
fonte que não seja a infecção intra-amniótica seja identificada e documen-
tada.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 43

A indução do trabalho de parto é recomendada como primeira op-


ção e a cesariana não melhora o prognóstico materno/fetal e sim aumenta
o risco de infecção de ferida operatória, endometrite e trombose venosa
profunda. Logo, deve ser reservada para casos com indicação obstétrica.

Os esquemas são:

• Clindamicina 600mg IV 6/6h + Gentamicina 240mg IV


1x/dia
• Ampicilina 2g IV 6/6h + Gentamicina 240mg IV 1x/dia
• Ceftriaxona 1g IV 12/12h + Metronidazol IV 500mg 8/8h

Caso a paciente evolua para cesariana, deve sempre adicionar co-


bertura anaeróbica com objetivo de reduzir as taxas de endometrite com-
plicadas. O esquema proposto é:

• Ampicilina 2g IV 6/6h +
• Gentamicina 240mg 1x/dia +
• Metronidazol 500mg OU Clindamicina 600mg IV 6/6h

O tratamento pós-parto deve ser continuado até que a paciente


esteja afebril e assintomático por pelo menos 24h.

REFERÊNCIAS

American College of Obstetricians and Gynecologists’ Committee on Practice Bul-


letins— Obstetrics. Practice Bulletin No. 172: Premature Rupture of Membranes.
Obstet Gynecol. 2016;128(4): e165–77.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estraté-
gicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Diretri-
zes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida [recurso eletrô-
nico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estraté-
gicos, Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. – Brasí-
lia: Ministério da Saúde, 2017.
Committee on Obstetric Practice. Committee Opinion No. 712: Intrapartum Ma-
nagement of Intraamniotic Infection. Obstet Gynecol. 2017;130(2): e95-e101.

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Rede Cegonha | 44

Duff, P. Preterm prelabor rupture of membranes: Clinical manifestations and di-


agnosis, 2020. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/preterm-
prelabor-rupture-of-membranes-clinical-manifestations-and-diagnosis.
Galletta MAK. Rotura prematura das membranas ovulares: protocolo clínico. São
Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FE-
BRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 30/ Comissão Nacional Es-
pecializada em Assistência Pré-Natal).
Gyamfi-Bannerman C, Thom EA, Blackwell SC, Tita AT, Reddy UM, Saade GR, et al.
Antenatal Betamethasone for Women at Risk for Late Preterm Delivery. The New
England journal of medicine. 2016;374(14):1311-20.
Morris JM, Roberts CL, Bowen JR, Patterson JA, Bond DM, Algert CS, et al. Imme-
diate delivery compared with expectant management after preterm pre-labour
rupture of the membranes close to term (PPROMT trial): a randomised controlled
trial. Lancet. 2016;387(10017):444-52.
Quist-Nelson J, de Ruigh AA, Seidler AL, van der Ham DP, Willekes C, Berghella V,
et al. Immediate Delivery Compared with Expectant Management in Late Preterm
Prelabor Rupture of Membranes: An Individual Participant Data Meta-analysis.
Obstetrics and gynecology. 2018;131(2):269-79.
Valente EP et al. Obstetrícia: diagnóstico e tratamento. 2.ed. Rio de Janeiro: Med-
Book, 2018.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 45

ASSISTÊNCIA AO PARTO CESARIANO

1. INRODUÇÃO

O parto cesariano é um procedimento cirúrgico que tem como ob-


jetivo retirar o concepto do meio intraútero, através de uma incisão da
parede abdominal (laparotomia) e do útero (histerotomia) quando surgem
complicações durante a gravidez ou trabalho de parto.
Em todo o mundo, as taxas de cesariana têm aumentado constan-
temente, sem benefícios significativos para a saúde das mulheres ou re-
cém-nascidos, por essa razão tem havido esforço dos órgãos reguladores
no sentido de reduzir as cesarianas desnecessárias.
É razoável que a taxa de cesariana não deva ser menor do que 15%
nem maior do que 25% dos partos. O Brasil, com uma taxa de 55%, ocupa
a segunda posição no ranking de países com maior porcentagem de cesá-
reas no mundo.

2. INDICAÇÕES

A maioria das indicações de cesárea é relativa, a decisão deve ser


individualizada e sempre discutida com a paciente.

Consolidadas Relativas
Desproporção céfalo-pélvica Feto não-reativo (depende do es-
tágio do trabalho de parto).

Cicatriz uterina corporal préviaDPP (depende do estágio do traba-


lho de parto)
Placenta prévia oclusiva Infecção pelo HIV (depende da
carga viral)
Feto em situação transversa Gemelar com 3 ou mais fetos
Herpes genital ativo Gemelar (depende das relações en-
tre as situações dos fetos)
Procidência do cordão ou membro Cesárea prévia com histerotomia

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Rede Cegonha | 46

fetal segmentar
2 ou mais cesarianas prévias
Morte materna com feto vivo (ce- Macrossomia fetal em gestante di-
sárea post mortem). abética
Falha imediata da ressuscitação na Psicopatias
parada cardiorrespiratória ma-
terna
Vasa prévia Malformações congênitas
Ruptura uterina Cardiotocografia categoria III
Apresentação pélvica (eletiva) Diástole zero ou reversa na artéria
umbilical; Alteração no ducto ve-
noso
Gemelar com o primeiro feto não Vaginismo
cefálico

Gemelar monocoriônico / mono- HIV com carga viral desconhecida


amniótico ou positiva

Acretismo placentário Malformação fetal (meningomi-


elocele, hidrocefalia com macro-
crania, defeito de parede anterior
com fígado extracorpóreo, terato-
mas sacrococcígeos, hidropisia)
Rotura perineal de quarto grau em
parto anterior
Falha da indução de parto bem-
conduzida

Coarctação da aorta e síndrome de


Marfan

Iminência de rotura uterina

Tabela 1: indicações consolidadas as e relativas de cesáreas

3. CONTRA-INDICAÇÕES

- Absolutas: não há, os riscos e benefícios são considerados de acordo


com condições maternas e fetais.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 47

- Relativas: Feto morto, malformações fetais graves incompatíveis com


a vida (nas quais seja possível o parto vaginal)

4. TÉCNICA HABITUAL

4.1. Anestesia

• Bloqueio: raquianestesia (preferencial) ou peridural.


• Geral.

4.2. Antissepsia com aposição de campos estéreis, após cateterismo vesical


(não obrigatório)

4.3 Descrição do procedimento

➢ Incisão na pele:
• Transversa: Pfannenstiel (preferencial), Joel-Cohen (transversa e
reta), Maylard e Cherney.
• Mediana: vertical

Figura 1: Incisões na cesariana (Fonte: Cesariana - Linhas de incisão [Internet]. [acesso


em 05/02/2020) Available from:http://www.haodf.com/zhuanjiaguandian/wang-
chongyang909_157618.htm)

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➢ Incisão do tecido celular subcutâneo, fascia superficialis e aponeu-


roses.
➢ Divulsão dos músculos retos abdominais.
➢ Incisão no peritônio (celiotomia parietal e visceral).
➢ Histerotomia.
• Segmentar:
- Transversa - Fuchs-Marshall ou Kerr (a mais realizada).
- Longitudinal – Kronig.
- Extraperitoneal - Latzko ou Water.
• Corporal:
- Sanger (cesárea clássica).

Recomenda-se incisar diretamente o útero cerca de 1 cm acima da


prega vesicouterina, sem que se realize o retalho vesical.
A incisão do útero mais comumente realizada é a segmentar, arciforme,
inicialmente a bisturi e depois por divulsão digital.
Recomenda-se a divulsão digital, por ser mais rápida de ser reali-
zada, além disso, está associada a menor risco de sangramento e necessi-
dade transfusional.
➢ Retirada do concepto – Orientar o occipital do concepto para a in-
cisão e, no caso da apresentação córmica e pélvica, realizar as ma-
nobras específicas. Para o clampeamento do cordão umbilical, se
RN com boa vitalidade, aguardar, 1 a 3 minutos após o desprendi-
mento fetal (clampeamento oportuno).
➢ Retirada da placenta – placenta deve ser preferencialmente extra-
ída de forma espontânea, por tração controlada do cordão.
➢ Limpeza cuidadosa da cavidade uterina; Inserção do DIU caso seja
desejo da paciente; (vide capítulo de DIU pós-parto).

Deve ser estimulado o contato pele-a-pele na primeira hora


após o nascimento HORA DOURADA

➢ Histerorrafia - A exteriorização do útero pode melhorar a exposi-


ção e facilitar o fechamento da histerotomia. Tanto a preferência
pessoal, quanto as circunstâncias clínicas individuais devem ori-
entar essa decisão. Evidências recentes não mostram diferenças
entre as duas técnicas. Fios Vicryl 1 ou 0 (ou similar) ou CAT-GUT
cromado 1 ou 0, pontos contínuos ou separados.

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➢ Inspeção da cavidade abdominal antes do fechamento do abdome


e os achados devem constar na descrição cirúrgica.
➢ Contagem de compressas e agulhas.
➢ Celiorrafia a critério - No geral, sugere-se o não fechamento do
peritônio considerando redução do tempo operatório.
➢ Os músculos grandes retos abdominais podem ser aproximados ou
não, acredita-se que os músculos se aproximam naturalmente e
suturá-los pode causar dor desnecessária quando a mulher co-
meça a se movimentar.
➢ Aponeurose – sutura contínua, sem muita tensão. Fios Vivryl 1 ou
0 (ou similar) ou CAT-GUT cromado 1 ou 0.
➢ Tecido celular sub- cutâneo - não há recomendação atual de apro-
ximar o subcutâneo quando esta separação for menor do que 2 cm.
Fios Vivryl 2-0 (ou similar) ou CAT-GUT cromado ou simples 2-0.
➢ Pele – Pontos separados ou contínuos (intradérmico) com Mo-
nonylon 3-0 ou 4-0; ou contínuo intradérmico com fio absorvível
(Monocryl ou Vicryl 4-0).

5. TÉCNICA DA CESÁREA MINIMAMENTE INVASIVA: MISGAV-LADACH

Os princípios básicos da cesariana minimamente invasiva são nor-


teados pela eliminação de tempos cirúrgicos desnecessários, evitando
trauma tissular, vascular e nervoso, proporcionando menos dor, febre,
uso de analgésicos, resultando em uma recuperação mais rápida das paci-
entes.
- Não há deslocamento entre a aponeurose e os músculos retos
abdominais.
- Peritônio é aberto com pequena incisão à tesoura e comple-
mentada por divulsão digital transversal.
- Não se descola a bexiga do útero.
- Não fechamento do peritônio é recomendado.
- Músculos retos abdominais não são suturados.

6. PRÉ-OPERATÓRIO

• Jejum: 2 horas sem ingerir líquidos claros, 6 horas sem ingerir dieta leve
e 8 horas sem ingerir refeições regulares, salvo nas emergências obs-
tétricas!
• Banho de aspersão (chuveiro) pré-operatório antes da cirurgia.

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• Tricotomia: se necessário, o mais próximo possível do parto.


• Antibioticoprofilaxia 1ª escolha: Cefalosporina de primeira geração:

Cefazolina 2g até 120 kg e 3g acima de 120 kg

Deve ser administrada nos 60 minutos que antecedem a inci-


são, em dose única. Em caso de duração da cirurgia maior que 4
horas, sangramento maior que 1,5 L, nova dose deve ser adminis-
trada.

Pacientes alérgicas a cefalosporinas, ou com reação anafilática


grave a penicilina: Clindamicina 900 mg com ou sem aminoglicosí-
deo (Gentamicina 5mg/kg).

• Embrocação ginecológica com produto antisséptico aquoso imediata-


mente antes da cesariana previne endometrite. O procedimento deve
ser feito imediatamente antes da cirurgia devido ao risco de exposição
fetal.
• Cateterismo vesical com sonda de Foley n° 12 ou 14, se necessário.
• Termo de consentimento informado, exceto nas emergências, discutido
com o paciente e acompanhante, assinado e datado antes do procedi-
mento incluindo: diagnóstico, procedimento, fatores de risco mais co-
muns e importantes e procedimentos adicionais que podem ser neces-
sários (laqueadura tubaria, remoção de massas anexiais conhecidas).
• A presença do acompanhante E da doula na sala de cirurgia (cesariana),
se for desejo da paciente, deve ser garantida de acordo com as Leis.
❖ Lei nº 11108 – 07 de abril de 2005 – Lei do acompanhante
(Federal).
❖ Lei nº 13080 - 27 de outubro de 2015 – Lei das doulas (Mu-
nicipal).
❖ Lei nº 10648 – 18 de março de 2016 – Lei das doulas (Esta-
dual).

7. INTRA-OPERATÓRIO

• Manutenção da normotermia durante a cirurgia (verificar tempe-


ratura da sala cirúrgica deve ser, no mínimo, 26°C).
• Usar Checklist de cirurgia segura e do nascimento seguro da Or-
ganização Mundial da Saúde. (adaptar ao serviço)

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Figura 2: Check list cirurgia segura, OMS

• Redução do tempo cirúrgico.


• Técnica operatória: Hemostasia adequada reduzindo a possibili-
dade de hematoma; minimizar trauma e usar cautelosamente o
cautério e ligaduras vasculares evitando necrose tecidual; não dei-
xar espaço morto no fechamento dos planos cirúrgicos e remover
tecidos desvitalizados.
• Ocitocina 10 UI IM – profilaxia para hemorragia pós parto a ser
realizada logo após o nascimento do bebê.

8. INTERCORRÊNCIAS INTRAOPERATÓRIAS
• Hemorragia (perda maior que 1.000ml associada a sintomas de hi-
povolemia)
• Prolongamento da histerotomia (lesão dos grandes pedículos vas-
culares)
• Aderências
• Lesão visceral (bexiga, intestino, ureter)
• Atonia uterina
• Acretismo placentário
• Extração fetal difícil

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9. OPERAÇÕES COMPLEMENTARES

- Admissível somente a intervenção impostergável, cujas indicações


são excepcionais:
• Hérnia estrangulada
• Apendicite aguda
• Torção de tumor genital
• Retirada de cicatrizes
• Lise de aderências
• Laqueadura tubária: Deve estar de acordo com a Lei do Planeja-
mento Familiar. É vedado ao médico realizar laqueadura no mo-
mento do parto exceto: risco de vida materno, cesáreas sucessivas
(pelo menos 2 cesáreas anteriores), com autorização por escrito
(planejamento familiar) 60 dias antes do procedimento (Lei 9263
de 12-01-1996). (Vide capítulo de laqueadura tubária).

10. PÓS-OPERATÓRIO

- Dieta zero nas primeiras 6h. Após, dieta líquida, seguida de branda.
- Hidratação: Cristalóides 2000 ml EV em 12 horas (50 gts/min). Hidrata-
ção venosa deve ser proporcional às perdas.
- Acesso venoso hidrolisado nas primeiras 24h.
- Ocitocina 5UI em soros alternados.
- Misoprostol via retal, 600 mcg para pacientes de alto risco pra HPP (Ge-
melar, macrossômico, polidramnio, hipotonia uterina).
- Dipirona 1g EV + AD de 6/6h.
- Cetoprofeno (50mg/mL) 100mg (1 amp) + SF 0,9% 100ml EV 12/12h; OU
- Tenoxicam 20mg (1amp) EV 12/12h.
- Bromoprida (5mg/mL) 10 mg (1 amp) + AD EV; OU
- Ondansetrona (2mg/mL) 4mg (1 amp) + SF 0,9% 100ml; OU
- Metoclopramida (5mg/mL) 10mg (1 amp) em caso de vômito.
- Tramadol (50mg/mL) 100mg (1 amp) + SF 0.9% 100ml EV até de 12/12h
em caso de dor intensa ou pacientes alérgicas a dipirona e AINH.
- Sonda de Foley (número 12 ou 14) aberta por 8 horas (a manutenção da
sonda por mais tempo deverá ser prescrita em prontuário, se for neces-
sária).
- Deambulação precoce.
- Enoxaparina 40mg SC (vide indicações no capítulo de profilaxia de

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 53

tromboembolismo venoso no ciclo gravídico puerperal) * alertar para os


fatores de risco.
- Sinais vitais (temperatura, frequência cardíaca, frequência respiratória
e pressão arterial) de 6/6h (obrigatoriamente).
- Estimular a amamentação.

Complicações pós-operatórias:
• Atonia uterina
• Formação de hematomas
• Infecção: ferida operatória, endometrite, ITU
• Formação de fístulas
• Pneumonia
• Atelectasia
• Trombose venosa profunda (TVP) ou tromboembolismo pulmonar
(TEP)
• Coagulopatia
• Apendicite aguda
• Síndrome de Ogilvie: caracterizada por um conjunto de sinais e
sintomas de obstrução do cólon sem uma causa mecânica identifi-
cável.

11. HISTERECTOMIA-CESÁREA

Prefere-se a histerectomia subtotal, pela situação de emergência, não in-


validando a total. Indicações:

Rotura uterina – 32% Sangramento não identificado –


9%
Atonia uterina – 29% DPP – 2%
Placentação anômala – 38% Mioma uterino – 1%
Placenta prévia – 7% Outras - < 2%
Tabela 2: indicações de histerectomia durante a cesariana.

12. CESÁREA PERI-MORTEM

Se as tentativas de ressuscitação falharem, a cesariana aumenta a


chance de sucesso da RCP, pois resulta em uma série de alterações benéfi-
cas à ressuscitação: descompressão/redução da compressão aortocava, o
que aumenta o retorno venoso e débito cardíaco; aumento da volemia,
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Rede Cegonha | 54

devido à contração uterina e consequente autotransfusão do sangue que


se encontrava na circulação uteroplacentária; aumento da capacidade
funcional residual e da oxigenação; redução do consumo de oxigênio; e
compressões torácicas mais eficazes.

O tempo entre a PCR materna e o início da cesariana deve ser de


quatro minutos, com o nascimento ocorrendo até o quinto minuto.

É recomendado gastar um minuto entre o início da cirurgia e o


nascimento do bebê. A laparotomia deve ser imediata e não se deve trans-
portar o paciente para a sala de cirurgia. A RCP deve continuar durante e
após a cesariana.
Caso a parada cardíaca ocorra precocemente na gravidez (menor
que 24 semanas de idade gestacional), não há evidência para se afirmar
que a cesariana de um feto não viável irá melhorar o prognóstico materno.
(Vide capítulo de parada cardiorrespiratória na gestação).

13. CESÁREA A PEDIDO

É a cesárea solicitada pela mulher antes do trabalho de parto e na


ausência de qualquer indicação médica de ordem materna ou fetal. Se
for identificado que o motivo da solicitação de uma cesariana a pedido
é de ordem psicológica (ansiedade, medo do parto, tocofobia), a equipe
do pré-natal pode e deve orientar a mulher, inclusive com o auxílio de
um profissional de saúde mental, fazer reuniões, trazer a mulher para
dentro do serviço, mostrar como o serviço funciona e quais são as op-
ções oferecidas.
Temos que discutir com essas mulheres os riscos imediatos, a mé-
dio e longo prazo, qual o tamanho de família que ela deseja, uma vez
que cesarianas sucessivas também são complexas e podem comprome-
ter o futuro reprodutivo e a saúde da mulher.
Devem ser discutidas as razões que levaram à solicitação da paci-
ente bem como os riscos e benefícios da cesariana sem indicação mé-
dica. Se, mesmo assim, a paciente desejar a cesariana a pedido, escla-
rece-se que:
• Não deve ser realizada antes da idade gestacional de 39 semanas;
• Não deve ser recomendada em mulheres que planejam prole nu-
merosa, pois a alta taxa de repetição de cesarianas aumenta os ris-
cos de placenta prévia, acretismo e histerectomia.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 55

A autonomia da mulher é importante e deve ser respeitada, entre-


tanto, a opção por uma cirurgia do porte de uma cesariana deve estar pre-
cedida de um consentimento informado, o qual é oferecido por um profis-
sional que não tenha conflitos de interesse com a forma do nascimento do
bebê.

14. CLASSIFICAÇÃO DE ROBSON

O aumento gradual das taxas de cesariana em todo o mundo tem


causado alerta aos órgãos de saúde, em razão do seu potencial risco ma-
terno e perinatal. Recentemente, a OMS adotou o sistema de classifica-
ção de Robson como um padrão global para avaliar, controlar e compa-
rar as taxas de cesariana.
A classificação de Robson distribui as mulheres em 10 grupos com
base em cinco características obstétricas que são rotineiramente docu-
mentadas: paridade (nulíparas, multíparas, com e sem cesárea anterior),
o início do trabalho de parto (espontâneo, induzido ou cesárea ante-
parto), idade gestacional (pré-termo ou termo), apresentação fetal (ce-
fálica, pélvica ou transversa) e o número de fetos (única ou múltipla).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 56

Figura 3: Classificação de Robson – cesarianas Fonte: Declaração da OMS sobre Taxas


de Cesáreas.

A OMS espera que essa classificação ajude os hospitais a:


• Otimizar as indicações das cesáreas ao identificar, analisar e foca-
lizar intervenções em grupos específicos que sejam particular-
mente relevantes em cada local;
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 57

• Avaliar a efetividade de estratégias ou intervenções criadas para


otimizar as indicações de cesáreas;
• Avaliar a qualidade da assistência, das práticas de cuidados clíni-
cos e os desfechos por grupo;
• Avaliar a qualidade dos dados colhidos e chamar a atenção dos
funcionários para a importância desses dados e do seu uso.

REFERÊNCIAS

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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 59

ASSISTÊNCIA AO PARTO
DE RISCO HABITUAL

1. INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde define como “nascimento nor-


mal” aquele com início espontâneo do trabalho de parto em pacientes com
risco habitual e que permanecem assim durante todo o pré-parto e o
parto. O feto nasce espontaneamente na apresentação cefálica fletida, en-
tre 37-42 semanas de gestação e, após o parto, mãe e recém-nascido (RN)
encontram-se em boas condições.
Em 1996, a OMS desenvolveu uma classificação das práticas co-
muns na condução do parto normal, orientando para o que deve e o que
não deve ser feito no processo do parto. Esta classificação foi baseada em
evidências científicas concluídas através de pesquisas feitas em todo
mundo. Em 2018 foram divulgadas novas recomendações para garantir
que grávidas saudáveis tenham uma experiência positiva na hora do
parto natural.
O Ministério da Saúde publicou em 2017 as Diretrizes Nacionais
de Assistência ao Parto com o objetivo de incentivar e avaliar sistemati-
camente a informação científica disponível em relação às práticas mais
comuns na assistência ao parto e ao nascimento fornecendo subsídios e
orientação a todos os envolvidos no cuidado à gestante e ao recém-nas-
cido.

Entende-se que, na prática da assistência ao parto, há partici-


pação de todos os envolvidos (parturiente, acompanhante, família e
equipe de saúde multiprofissional).

2. IDENTIFICAÇÃO DO RISCO GESTACIONAL

A avaliação obstétrica indicará o nível de complexidade da assis-


tência a ser prestada, agravos ou patologias de cada gestante, além de

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 60

determinar decisões sobre o parto, seu tipo, qual o prestador de serviço


envolvido (médico e/ou enfermeira);

OBS.: Classificar no prontuário, no momento do encaminhamento da par-


turiente ao pré-parto, se é alto risco ou risco habitual;

• Informar às gestantes de risco habitual (baixo risco de com-


plicações) que o parto normal é geralmente muito seguro
tanto para a mulher quanto para a criança.

• A assistência ao parto e nascimento de risco habitual que se


mantenha dentro dos limites da normalidade pode ser re-
alizada tanto por médico obstetra quanto por enfermeira obs-
tétrica e obstetriz.

• Respeito à escolha da mãe sobre o local do parto:

✓ Informar às nulíparas de baixo risco de complicações


que o planejamento do parto no domicílio não é re-
comendado tendo em vista o maior risco de compli-
cações para a criança. Informar também que as evi-
dências são oriundas de outros países e não necessari-
amente aplicáveis ao Brasil.
✓ Informar às multíparas de baixo risco de complicações
que, tendo em vista o contexto brasileiro, o parto do-
miciliar não está disponível no sistema público de sa-
úde, por isso não há como recomendar.

O plano de parto deve ser confeccionado em conjunto com a mulher


e seu marido/companheiro durante a gestação (pré-natal). Se a mu-
lher tem um plano de parto por escrito, este deve ser lido e discutido
no momento da admissão na maternidade.

2.1 CRITÉRIOS PARA ADMISSÃO DA PARTURIENTE PARA TRABALHO


DE PARTO NORMAL SEM DISTÓCIA (que pode ser conduzida pela en-
fermagem obstétrica em cuidado compartilhado com a equipe mé-
dica):

• Gestação única entre 37 semanas até 41 semanas;

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 61

• Trabalho de parto em fase ativa (acima de 5 cm de dilatação


cervical);
• Apresentação cefálica de vértice;
• Ausência de mecônio;
• Parturiente em bom estado geral, afebril, eupneica, normo-
tensa, ausculta pulmonar e cardíacas normais, SEM INTER-
CORRÊNCIAS OBSTÉTRICAS E/OU CLÍNICAS;
• BCF normal;
• Ausência de macrossomia (peso fetal estimado maior que
4000g);
• Ausência de restrição de crescimento fetal/ fetos devem ter
peso adequado para a idade gestacional (AIG);
• Ausência de cesárea prévia e/ou cirurgias ginecológicas pré-
vias;
• Rotura das membranas até 6h no momento da admissão.

3. ATRIBUIÇÕES GERAIS DO MÉDICO OBSTETRA


(durante todas as fases do trabalho de parto)

• Manter-se informado da evolução de todas as mulheres em


trabalho de parto;
• Acompanhamento da evolução do trabalho de parto com ava-
liação de sinais vitais maternos, dinâmica uterina, ausculta fe-
tal e toques vaginais conforme diretriz;
• Avaliação de bem-estar fetal através da ausculta intermitente
e cardiotocografia (quando indicado);
• Assegurar alto padrão de cuidados para as mulheres e seus fi-
lhos com problemas médicos ou obstétricos complexos;
• Estar disponível para atuar prontamente nas situações de
emergência;
• Proporcionar liderança clínica e servir de exemplo para a
equipe;
• Treinar e educar os profissionais em uma equipe multiprofis-
sional;
• Desenvolver e implementar padrões adequados de prática
obstétrica e ter papel central no gerenciamento do risco;
• Contribuir com a experiência no diagnóstico e opinião clínica;

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Rede Cegonha | 62

• Trabalhar em regime de estreito relacionamento e harmonia


com as enfermeiras obstetras, no sentido de promover uma
assistência dentro de princípios humanistas e promover a gra-
videz, parto e puerpério, sempre que possível, como processos
normais e fisiológicos;
• Realização de operações obstétricas;
• Outras situações não definidas dependendo da avaliação da
equipe;
• Adoção de condutas conforme diretrizes assistenciais.

4. ADMISSÃO

4.1 DIAGNÓSTICO DE TRABALHO DE PARTO E INTERNAÇÃO:

• A admissão da paciente só deve ocorrer na vigência de trabalho de


parto ATIVO. Essa política adotada vai evitar intervenções desne-
cessárias e insatisfação por parte da mulher e familiares.

• Se não está em trabalho de parto estabelecido (≤ 5 cm de dilatação


cervical): Considerar Fase de latência do trabalho de parto.

Sempre oferecer apoio individual e alívio da dor se necessário; deve-


se encorajar e aconselhar a mulher a permanecer ou retornar para
casa, levando em consideração as suas preocupações, a distância en-
tre a sua casa e o local do parto e o risco deste acontecer sem assis-
tência.

• Rotura das membranas mesmo sem trabalho de parto, pode ser


critério para internação. Explicar às mulheres com ruptura pre-
coce de membranas no termo que:
- O risco de infecção neonatal grave é de 1%, comparado com
0,5% para mulheres com membranas intactas;
- 60% das mulheres com ruptura precoce de membranas no
termo entrará em trabalho de parto dentro de 24 horas;
- A indução do trabalho de parto é apropriada em até 24 horas
após a ruptura precoce das membranas.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 63

5. ASSISTÊNCIA AOS PERÍODOS DO PARTO

5.1) ASSISTÊNCIA AO PRIMEIRO PERÍODO DO TRABALHO DE PARTO:

Compreende o trabalho de parto, em sua fase ativa (5cm) até a di-


latação completa, com duração variável em cada mulher: nas primíparas
dura em média 8 horas e é pouco provável que dure mais que 18 horas;
nas multíparas dura em média 5 horas e é pouco provável que dure mais
que 12 horas.
Práticas assistências recomendadas:

1) Mulheres em trabalho de parto devem ser tratadas com respeito,


ter acesso às informações baseadas em evidências e serem incluí-
das na tomada de decisões. Devem ser fornecidas todas as infor-
mações e explicações que desejarem.

2) Apoio empático pelos prestadores de serviço durante o trabalho


de parto e parto. Cumprimentar a mulher com um sorriso e uma
boa acolhida, se apresentar e explicar qual o seu papel nos cuida-
dos e indagar sobre as suas necessidades, incluindo como gostaria
de ser chamada.

3) Acompanhante: O acompanhante é de livre escolha da mulher


durante todo o período do trabalho de parto, parto e pós-parto
imediato, considerando a Lei Federal n. 11.108/2015; A admissão
do acompanhante é feita pela equipe de Serviço Social; as mulhe-
res têm direito a um acompanhante E uma doula.

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Rede Cegonha | 64

Foto 1: Incentivo à presença


do acompanhante de livre es-
colha da mulher (acervo do
Hospital Edson Ramalho)

4) Doulas Voluntárias: As doulas voluntárias poderão acompanhar


as parturientes durante todo o trabalho de parto, no parto e pós-
parto; Lei Municipal nº 13.080 - 27 de outubro de 2015 / Lei Esta-
dual nº 10.648 – 18 de março de 2016.

5) Uma mulher em trabalho de parto não deve ser deixada sozinha,


exceto por curtos períodos de tempo ou por sua solicitação.

6) Dieta: Deve-se oferecer livre ingestão de líquidos sem resíduos


(sucos, chás, café, bebidas isotônicas e gelatina) e alimentos que
fornecem calorias sem aumentar resíduos gástricos, como mel e
rapadura; Mulheres em trabalho de parto que não estiverem sob
efeito de opióides ou não apresentarem fatores de risco iminente
para anestesia geral podem ingerir uma dieta leve.

7) Ambiência: manter a gestante em ambiente calmo, ter privaci-


dade durante as avaliações, evitar conversas paralelas e em voz
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 65

alta, diminuir intensidade da luminosidade, temperatura agradá-


vel, músicas tranquilizadoras, roupas limpas e com equipamentos
necessários para assistência sempre disponíveis; evitar excesso de
pessoas no ambiente do pré-parto e sala de parto. Respeito ao di-
reito da mulher à privacidade!

Foto 2: Equipamentos necessá- Foto 3: Respeito à privacidade


rios à assistência ao parto nor- da gestante (acervo do Hospital
mal (acervo do Hospital Edson Edson Ramalho)
Ramalho)

ATENTAR PARA A QUANTIDADE DE ALUNOS/ESTAGIÁRIOS NA


SALA DE PARTO DE ACORDO COM A ROTINA DE CADA SERVIÇO
E SEMPRE RESPEITANDO A PRIVACIDADE E AUTONOMIA DA
PARTURIENTE.

8) Monitorização dos sinais vitais maternos: o pulso materno, a


pressão arterial e a temperatura, devem ser avaliados a cada 4 ho-
ras, entre as contrações, e repetidos se aparecerem sinais de alte-
ração, tais como: dispneia, lipotimia, cefaleia, escotomas visuais,
zumbidos, dor aguda e sudorese;

9) Higiene da parturiente: A parturiente deve ser estimulada a hi-


gienizar-se durante o trabalho de parto (banho, troca de roupas,
forro perineal e de cama), favorecendo o bem-estar materno;
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10) Posição da parturiente: As evidências indicam que o trabalho de


parto é mais fisiológico quando se permite que a mulher adote li-
vremente a posição vertical: deambulação, posição de cócoras ou
outras posições, pois estimulam a dilatação e diminuem o tempo
do trabalho de parto. Porém, a parturiente deve ter liberdade de
escolher em qual posição quer ficar durante o seu trabalho de
parto. Se escolher a posição horizontal, deve ser estimulado decú-
bito lateral esquerdo para prevenir a hipotensão materna, que au-
menta o risco de hipóxia fetal (Síndrome supino-hipotensiva);

Foto 4: liberdade de escolha da posição durante o trabalho


de parto. (acervo do Hospital Universitário Lauro Wander-
ley)

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Figura 1. Posições maternas no trabalho de parto e parto (Fonte: Parto e Nascimento; Di-
retrizes para o cuidado multidisciplinar, 2015).

11) Monitorização da evolução do trabalho de parto: A avaliação


das contrações uterinas deve ser realizada a cada 30 minutos e o
exame genital para a medida da dilatação cervical pode ser reali-
zado, em média, a cada 4 horas ou de acordo com a evolução do
trabalho de parto. Na maioria das vezes, não há necessidade de
toques frequentes ou intervalos menores, a menos que haja dúvi-
das sobre a progressão do trabalho de parto, suspeita de prolapso
de cordão ou se houver desejo da mulher para a realização desse
exame;

12) Avaliação da vitalidade fetal: Ausculta intermitente dos bati-


mentos cardiofetais (BCF) a cada 15-30 minutos (antes, durante e
logo após as contrações) com sonar doppler ou Pinard, com o ob-
jetivo de detectar possíveis desacelerações;

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Ausculta intermitente: Realizar a ausculta antes, durante e


após uma contração, por pelo menos 1 minuto e a cada 30 mi-
nutos. Registrar no prontuário a presença de acelerações e
desacelerações.

13) Punção venosa e infusão de líquidos: Não há necessidade de


instalação de veia periférica e/ou administração rotineira de lí-
quidos por via venosa no trabalho de parto normal. A instalação
de acesso venoso causa desconforto à parturiente, aumentando
risco de infecção local, limita a livre movimentação e o uso de mé-
todos não farmacológicos de alívio à dor. Por isso, o acesso venoso
em mulher em trabalho de parto deve ser criteriosamente indi-
cado.

14) Amniotomia: Não deve ser realizada como manobra rotineira no


trabalho de parto. Reserva-se seu uso em condições onde sua prá-
tica seja claramente benéfica:
● Trabalho de parto prolongado (descartada desproporção cefalo-
pélvica);
● Necessidade de encurtar o trabalho de parto por problemas ma-
ternos ou fetais;

15) Líquido amniótico meconial: Na presença de líquido meconial,


recomenda-se a realização imediata de cardiotocografia (CTG). Se
o líquido for classificado como fluido (+), deve-se realizar CTG in-
termitente durante o trabalho de parto. Se o líquido meconial for
classificado como moderado a espesso (++ ou +++), recomenda-se
monitorização fetal contínua. Profissionais treinados devem ser
comunicados e disponibilizados no momento do nascimento.

16) Uso do partograma: Utilizar o partograma, assim que o trabalho


de parto ativo for estabelecido, para acompanhamento da evolu-
ção do parto. É importante no diagnóstico das distócias e para de-
finição de condutas a serem adotadas.

OBS.: Para a OMS, mesmo que as evidências atuais não mostrem be-
nefícios significativos com o uso do partograma, em locais com poucos

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recursos pode haver benefícios com a instituição do mesmo, no acom-


panhamento da evolução do trabalho de parto.

17) Infusão de ocitocina: O uso de ocitocina, deve ser realizado de


acordo com a dinâmica uterina, para aumento do gotejamento até
alcançar os níveis de contrações desejados e exige também o
acompanhamento do médico obstetra. A indicação deverá ser jus-
tificada e registrada no prontuário da paciente. Se a ocitocina for
utilizada, assegurar que os incrementos na dose não sejam mais
frequentes do que a cada 30 minutos. Aumentar a dose de ocito-
cina até haver 4-5 contrações em 10 minutos.

18) Alívio da dor no parto: Toda mulher deve se sentir livre para es-
colher a técnica de alívio da dor que pode ajudá-la durante o parto.
Desta forma, tanto métodos farmacológicos quanto não farmaco-
lógicos devem ser disponibilizados pelo serviço.

➢ Métodos não farmacológicos para alívio da dor

• Técnicas de relaxamento (respiração, massagens corporais);


• Vocalizações;
• Visualizações;
• Banhos de aspersão(chuveiro) morno;
• Musicoterapia;
• Bola suíça;
• Aromaterapia;
• Acupuntura;
• Hidroterapia;
• Yoga;
• Hipnose.

Se uma mulher escolher técnicas de massagem durante o trabalho


de parto que tenham sido ensinadas aos seus acompanhantes, ela deve ser
apoiada em sua escolha.
Se uma mulher escolher técnicas de relaxamento no trabalho de
parto, sua escolha deve ser apoiada. Apoiar que sejam tocadas as músicas
de escolha da mulher durante o trabalho de parto.

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Por se tratarem de intervenções não invasivas e sem descrição de


efeitos colaterais, não se deve coibir as mulheres que desejarem usar áu-
dio-analgesia e aromaterapia durante o trabalho de parto.

➢ Analgesia de parto

A analgesia de parto poderá ser realizada de acordo com a dispo-


nibilidade do serviço e após solicitação da paciente (justificar no prontu-
ário). As técnicas farmacológicas de analgesia incluem anestesia geral,
anestesia de bloqueios e local.
As técnicas neuroaxiais representam os métodos mais efetivos
para controle da dor durante o trabalho de parto. Dentre elas, a analgesia
peridural, utilizando soluções anestésicas ultradiluídas, é considerada o
padrão-ouro, promovendo alívio adequado da dor com mínimos efeitos
colaterais. Entretanto, em face da possibilidade de complicações em sua
decorrência, este procedimento deverá ocorrer em ambiente hospitalar
mediante monitorização através da escala analógica visual, a fim de ga-
rantir a funcionalidade do cateter na eventual cesárea não planejada.
Em algumas situações, no entanto, o emprego dessas técnicas é li-
mitado pela existência de contraindicações maternas ou obstáculos estru-
turais e materiais. Nesses casos, as opções ainda são precárias e escassas,
oferecendo resultados pouco otimistas e de eficácia questionável. No caso
da anestesia geral, não existe uma definição da melhor droga (fentanil,
meperidina, diamorfina) e geralmente são associados a náuseas maternas,
vômito, sonolência, alterações nos BCF e depressão respiratória no RN, in-
terferindo negativamente no aleitamento.
A analgesia inalatória pela utilização de óxido nitroso ou sevoflu-
rano em concentrações fixas pode reduzir a dor em partos rápidos, em
locais em que não há disponibilidade de analgesia regional. Há necessi-
dade de estudos em larga escala para avaliar a incidência de efeitos cola-
terais.

5.2) ASSISTÊNCIA AO SEGUNDO PERÍODO DO TRABALHO DE PARTO:

Compreende o intervalo entre a dilatação cervical completa e o nasci-


mento do bebê.

Práticas assistências recomendadas:

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1) Monitorização do bem-estar materno e fetal: observar o comporta-


mento materno, a eficácia dos puxos e o bem-estar fetal. A ausculta fetal
deverá ser a cada 5 minutos, durante e após cada contração. O suporte
emocional nesse momento é imprescindível.

OBS: Evitar puxos dirigidos. Recomenda-se que o contexto clínico, o con-


forto e a preferência da mulher sejam considerados na decisão.

2) Posições maternas para o período expulsivo: Recomenda-se que no


segundo período do trabalho de parto, as mulheres adotem a posição que
lhes seja mais cômoda e que os profissionais da assistência incentivem po-
sições não litotômicas. As posições mais comuns são: semissentadas, de
cócoras, quatro apoios e laterais.

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Rede Cegonha | 72

Figura 2. Posições maternas no trabaho de parto e parto (Fonte: Parto e Nascimento;


Diretrizes para o cuidado multidisciplinar, 2015).

3) Se as contrações forem inadequadas no início do segundo período, con-


siderar o uso de ocitocina.

4) Para as nulíparas, suspeitar de prolongamento se o progresso (em ter-


mos de rotação ou descida da apresentação) não for adequado após 1 hora
de segundo período ativo. Pode-se realizar amniotomia se as membra-
nas estiverem intactas, após consentimento. Sempre descrever no
prontuário.

5) Para as multíparas, suspeitar de prolongamento se o progresso (em ter-


mos de rotação ou descida da apresentação) não for adequado após 30 mi-
nutos de segundo estágio ativo. Pode-se realizar amniotomia se as

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 73

membranas estiverem intactas, após consentimento e descrever no


prontuário.

6) Intervenções para reduzir o trauma perineal: Para proteção peri-


neal, as evidências atuais recomendam as técnicas Hands On (posiciona-
mento das mãos de modo a controlar a deflexão da cabeça fetal) e Hands
Off (as mãos do assistente são mantidas preparadas, mas sem tocar na ca-
beça fetal e no períneo).

OBS.: A massagem perineal com lubrificantes ainda é um caso em discus-


são na literatura; algumas sociedades científicas recomendam, outras não;

7) Não é recomendado que se faça episiotomia de rotina. Ela deve ser


realizada em casos seletivos e quando indicada, sendo indispensável que
a mulher seja informada sobre o procedimento. Recomenda-se a médio-
lateral originando na fúrcula vaginal e direcionada para o lado direito,
com um ângulo do eixo vertical entre 45 e 60 graus. Assegurar analgesia
efetiva antes da realização de uma episiotomia.

8) Não realizar pressão do fundo durante o trabalho de parto. A ma-


nobra de Kristeller não deve ser realizada no segundo período do trabalho
de parto.

9) Estimular o contato pele a pele entre a mãe e o recém-nascido na


primeira hora pós-parto: chamada HORA DOURADA, deixando os pro-
cedimentos de rotina (exame físico geral do RN, aplicação de vitamina K,
credê) para serem executados em momento oportuno, conforme proto-
colo de assistência da Neonatologia do serviço.

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Foto 5: Contato pele a pele e estímulo à amamentação “HORA DOURADA”

(Acervo Hospital Edson Ramalho)

Foto 6: Estímulo à amamentação


“HORA DOURADA” em parto
normal gemelar.

(Acervo Maternidade Frei Da-


mião)

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 75

10) É recomendada a presença de um médico pediatra / neonatologista


adequadamente treinado em todos os passos da reanimação neonatal.

5.3) ASSISTÊNCIA AO TERCEIRO PERÍODO DO TRABALHO DE PARTO

Esse período é compreendido entre o nascimento do bebê e a saída com-


pleta da placenta, cordão e membranas. Práticas assistenciais recomenda-
das:

1) Manejo passivo: consiste em aguardar a dequitação espontânea


em até 60 minutos;

2) Manejo ativo: o qual compreende três ações:

a) Uso de ocitocina (10 unidades IM administrada após o des-


prendimento biacromial);
b) Clampeamento do cordão umbilical entre 1 a 3 minutos
(momento que deve ser registrado no prontuário);
c) Tração controlada do cordão, associada a manobra de
Brandt-Andrews (elevação do corpo uterino com a outra
mão, via abdominal). Esse manejo está associado com me-
nor duração do terceiro período, reduzindo risco de he-
morragia materna e transfusão sanguínea.
OBS 1: Se a paciente se recusar ao manejo ativo, explicar as vanta-
gens. Se mesmo assim, não aceitar e for de baixo risco para he-
morragia, aceitar a recusa e anotar no prontuário.

OBS 2: Mudar da conduta expectante para a conduta ativa se ocor-


rer:

- Hemorragia;
- A placenta não dequitou 1 hora após o parto.

3) Se houver hemorragia, retenção placentária, colapso materno ou


qualquer outra preocupação quanto ao bem-estar da mulher:

- Solicitar assistência de médico obstetra para assumir o caso, se


este não for o profissional assistente no momento;
- Instalar acesso venoso calibroso e informar a puérpera sobre a
situação e os procedimentos previstos;
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Rede Cegonha | 76

- Se o parto ocorreu em domicilio ou unidade de parto extra ou


peri-hospitalar, a puérpera deve ser transferida imediatamente
para uma maternidade.

4) Não realizar a secção do cordão antes de 1 minuto após o nasci-


mento, a menos que haja necessidade de manobras de ressuscita-
ção neonatal. Se uma mulher solicitar o clampeamento e secção
do cordão após 5 minutos, apoiá-la em sua escolha.

OBS: Existem situações especiais que se recomendam o clampea-


mento precoce dos vasos umbilicais (< 60 segundos) a citar: recém-
nascidos hipóxicos; infecção materna viral de transmissão hema-
togênica (HIV, hepatite B); ou recém-nascidos de alto risco para
policitemia (macrossômicos, restrição de crescimento intraute-
rino grave, regiões de alta altitude). Nesses casos, recomenda-se
realizar clampeamento precoce dos vasos umbilicais, conside-
rando os potenciais riscos e benefícios.

5) Após a saída da placenta, convém examinar com calma a integri-


dade dos cotilédones, abertura das membranas, características do
cordão, alterações com enfartos, hematomas, ou outros achados,
e descrever no prontuário.

5.4) ASSISTÊNCIA AO QUARTO PERÍODO DO TRABALHO DE PARTO


(GREENBERG)

Esse período inicia-se após a saída completa da placenta e membranas.

Práticas assistenciais recomendadas:

1) revisão do canal de parto (vagina e genitália externa) de forma


criteriosa, explicando a mulher o que planeja realizar, a necessi-
dade de correção de lacerações e porque essa revisão é necessária.

2) Identificar as lacerações perineais: O trauma perineal ou genital


deve ser definido como aquele provocado por episiotomia ou la-
cerações, da seguinte maneira:

Primeiro grau – lesão apenas da pele e mucosas.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 77

Segundo grau – lesão dos músculos perineais sem atingir o esfínc-


ter anal.
Terceiro grau – lesão do períneo envolvendo o complexo do es-
fíncter anal:
- 3a – laceração de menos de 50% da espessura do esfíncter anal
externo.
- 3b – laceração de mais de 50% da espessura do esfíncter anal ex-
terno.
- 3c – laceração do esfíncter anal interno.
Quarto grau – lesão do períneo envolvendo o complexo do esfínc-
ter anal (esfíncter anal interno e externo) e a mucosa anal.

Explicar à paciente o que será realizado e porquê;

- Providenciar analgesia local (com a infiltração de até 20 ml de lido-


caína 1%) ou regional efetiva;
- Avaliar visualmente toda a extensão do trauma, incluindo as estru-
turas envolvidas, o ápice da lesão e o sangramento;
- Na suspeita de qualquer lesão da musculatura perineal, realizar
exame retal para verificar se ocorreu algum dano ao esfíncter anal
externo e interno.

Sempre fazer exame retal após a conclusão do reparo em casos de


trauma de difícil abordagem ou de 3o ou 4o graus, para garantir que o
material de sutura não foi acidentalmente inserido através da mucosa re-
tal.
Realizar a reparação perineal usando uma técnica de sutura con-
tínua para a camada de parede vaginal e músculo. Recomenda-se a utili-
zação de material de sutura sintética absorvível para suturar o períneo.
Após a conclusão do reparo, documentar detalhadamente a extensão do
trauma, o método de reparação e os materiais usados.

3) Observação e vigilância das condições da mulher, com registro dos


seguintes parâmetros: mucosas, pressão arterial, temperatura,
pulso, tônus uterino e sangramento vaginal, como medida de se-
gurança para prevenção de hemorragia pós-parto.

4) Efetuar verificação do tônus uterino a cada 15 minutos nas primei-


ras 2 horas em todas as puérperas, iniciando imediatamente após
a saída da placenta, independentemente, do local onde a puérpera
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Rede Cegonha | 78

esteja. Massagear gentilmente o fundo uterino através do abdome


materno até que o útero esteja contraído e assegurar-se de que o
útero não se torne relaxado (amolecido) após terminar a massa-
gem.
Esse é o momento considerado HORA DE OURO na prevenção da
hemorragia obstétrica, onde a execução das ações de controle do sangra-
mento, de forma sequenciada, consciente, correta e sem perda de tempo,
é o essencial.

6. RECOMENDAÇÕES GERAIS

- Chamar a mulher pelo nome, pois essa medida simples, garante a


sua identidade.
- Explicar tudo o que for fazer, deixando-a participar como prota-
gonista do processo de parturição e incluí-la na tomada de deci-
são.
- Identificar-se e usar crachá com nome e função.
- Informar à mulher e seu acompanhante sobre a sua situação clí-
nica e rotinas da maternidade, em qualquer setor onde estiverem.
- Tomar conhecimento do Plano (Preferências) de parto apresen-
tado pela mulher, se ela tiver um. Esclarecer que, durante a evo-
lução do seu trabalho de parto, poderão ser necessárias medidas
ou condutas que não se adequam ao que está definido nesse docu-
mento e que precisarão ser realizadas para garantir um desfecho
favorável do parto. Entretanto, quaisquer condutas adotadas de-
vem ser informadas previamente e consentidas pela paciente.
- Avaliar de forma cuidadosa as informações anotadas no Cartão da
Gestante.
- Suporte emocional pela equipe multiprofissional. O acompa-
nhante deve receber orientações básicas relacionadas ao trabalho
de parto, campos cirúrgicos e local onde deverá posicionar-se no
momento do parto. Sua presença traz apoio emocional, contato fí-
sico, para estimular positivamente à parturiente.
- Incentivar toda a equipe de assistência, visando evitar atitudes
desrespeitosas ou contrárias às evidências científicas.
- Partograma: seu registro deve ser obrigatório, pois permite acom-
panhar a evolução do trabalho de parto, documentar, diagnosticar
alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para a cor-
reção desses desvios, ajudando ainda a evitar intervenções desne-
cessárias.
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 79

- A indicação de cesariana durante o trabalho de parto necessita de


justificativa no prontuário.
- Ter um Termo de Consentimento Pós-Informado nas normas da
Instituição e seus respectivos protocolos e peculiaridades de ser
um HOSPITAL ESCOLA.
- Toda a equipe deverá ser capacitada e orientada em relação às di-
retrizes de assistência ao parto de risco habitual do Ministério da
Saúde, evitando procedimentos desnecessários, invasivos e não
recomendados.
- Não será permitido filmar os procedimentos. Deve-se permitir fo-
tografar o RN com a mãe e durante os procedimentos de rotina,
sob a supervisão da equipe, se a paciente solicitar.

REFERÊNCIAS

Belo Horizonte. Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. Assistência ao


Parto e Nascimento: Diretrizes para o cuidado multidisciplinar. –Belo Horizonte
(MG); 2015.
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gicos Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal. Relatório de Recomenda-
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tec.gov.br/images/Consultas/2016/Relatorio_Diretriz-PartoNormal_CP.pdf.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estraté-
gicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Diretri-
zes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida [recurso eletrô-
nico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estraté-
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Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: https://documentos.mpsc.mp.br/por-
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Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO);
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Rede Cegonha | 80

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ção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília: OPAS; 2018.
Silva LBD, Silva MP, Martins PC, Ferreira QTM. Posições maternas no trabalho de
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Steibel JA, Trapani A Jr. Assistência aos quatro períodos do parto de risco habi-
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 81

AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL

1. INTRODUÇÃO

A identificação das alterações na vitalidade fetal permite a aplica-


ção de intervenções oportunas para redução do risco de desfechos perina-
tais adversos decorrentes da redução da oferta de oxigênio para o feto.
Esses resultados adversos podem variar em grande espectro, desde gravi-
dade extrema, representada pelo óbito fetal, até sequelas de grande mor-
bidade em diversos sistemas, observadas anos após o nascimento.

Através dos métodos de avaliação da vitalidade fetal identifi-


cam-se sinais de sofrimento fetal agudo ou crônico.

• Sofrimento fetal agudo: desencadeado durante o trabalho


de parto e caracterizado por hipóxia, hipercapnia e aci-
dose. Decorre de uma redução aguda nas trocas materno-
fetais, com diminuição transitória ou permanente do
aporte de oxigênio necessário ao concepto.
• Sofrimento fetal crônico: decorre da privação crônica de
nutrientes e de oxigênio, alterando o crescimento e desen-
volvimento normal do feto, antes de desencadeado o tra-
balho de parto.

2. INDICAÇÕES PARA AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL

2.1 Gestações risco habitual

Em geral, há uma placentação adequada e um bom aporte de oxigê-


nio para o feto, permitindo crescimento e vitalidade adequados. Nessas
gestações, o acompanhamento pode ser realizado por meio de ausculta
dos batimentos cardíacos fetais, medição da altura uterina e registro da
movimentação fetal.
Nos casos com redução da movimentação fetal ou após 40 semanas
de gestação, indica-se propedêutica ampliada, tendo grande relevância os
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Rede Cegonha | 82

parâmetros agudos do perfil biofísico fetal (PBF), principalmente a cardi-


otocografia.

2.2 Gestações de alto risco

Pode haver maior risco de placentação inadequada, ocasionando


menor área de trocas materno-fetais, ou outras condições danosas ao
compartimento intrauterino que restrinjam a oferta de oxigênio ao feto,
necessitando avaliação da vitalidade fetal por métodos variados.
A tabela 1 traz as principais indicações de acompanhamento de vi-
talidade fetal.

Tabela 1: Indicações da avaliação da vitalidade fetal

Condições maternas:

Diabetes mellitus pré-gestacional

Hipertensão

Lupus eritematoso sistêmico

Doença renal crônica

Síndrome antifosfolípide

Hipertireoidismo

Hemoglobinopatia

Doença cardíaca cianótica

Condições relacionadas a gravidez:

Hipertensão gestacional

Pré-eclâmpsia

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 83

Diminuição da movimentação fetal

Diabetes gestacional (não controlada ou com tratamento


medicamentoso)

Oligodrâmnio

Restrição de crescimento fetal

Gestação pós-termo ou termo tardio

Isoimunização

Óbito fetal prévio (inexplicado ou recorrente)

Gestação múltipla monocoriônica (com discrepância de crescimento)

Fonte: Antepartum Fetal Surveillance, ACOG, 2014.

3. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA VITALIDADE FETAL

O objetivo principal da avaliação da vitalidade fetal anteparto é


identificar sinais da perda do bem-estar fetal em face de hipóxia. É reali-
zada através de métodos clínicos, biofísicos e hemodinâmico.

Métodos clínicos

• Registro diário da movimentação fetal (RDMF)/mobilograma.


• Prova simplificada de aceleração cardíaca fetal.

Métodos biofísicos
• Cardiotocografia anteparto de repouso (CTG basal).
• Perfil biofísico fetal (PBF).

Método hemodinâmico
• Dopplervelocimetria.

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3.1 REGISTRO DIÁRIO DA MOVIMENTAÇÃO FETAL (RDMF) / MOBILO-


GRAMA

A diminuição do movimento fetal é prova indireta de insuficiência


placentária e tem como interpretação a adaptação fetal às condições de
balanço negativo de oxigenação. Assim, o registro diário de movimentos
do feto é o teste clínico mais simples para avaliação das condições de vi-
talidade fetal. A percepção materna dos movimentos fetais tem início en-
tre 17 e 20 semanas de gestação.
Vários protocolos de contagem têm sido utilizados, mas não existe
consenso para o número e duração ideal dos movimentos fetais.

O método de Pearson recomenda a contagem dos movimentos


fetais durante 12 horas. Menos de dez movimentos fetais nesse perí-
odo é considerado anormal.

O Ministério da Saúde sugere registro materno dos movimen-


tos fetais por uma hora, após alimentação e com a gestante em decú-
bito lateral esquerdo. Contagem inferior a seis movimentos por hora,
prolongando-se a avaliação por duas horas, é considerado anormal.

Independentemente do método utilizado, o RDMF não pode determi-


nar a conduta. Diante de um resultado anormal, o teste sempre deve ser
seguido por outro teste mais específico de avaliação da vitalidade fetal,
como os que se seguem.

3.2 PROVA SIMPLIFICADA DE ACELERAÇÃO CARDÍACA FETAL

Consiste na verificação de aceleração de batimentos cardíacos fetais


com sonar frente à movimentação fetal espontânea, estímulos mecânicos
ou sonoros. Determina-se a frequência cardíaca fetal (FCF) basal ou de re-
pouso e verifica-se a elevação da frequência cardíaca fetal associada à mo-
vimentação espontânea fetal.
A presença de elevação da FCF é sinal de boa oxigenação fetal. Na
ausência de resposta, faz-se a estimulação mecânica ou sonora do polo ce-
fálico fetal, a ocorrência de acelerações após o estímulo são sinais de boa
oxigenação fetal. São considerados sinais de alerta: FCF menor que 110
bpm ou maior que 160 bpm; desacelerações (FCF <110 bpm mantidas por
vários segundos); ausência de acelerações da FCF após movimentação fetal
ou estimulação mecânica/sonora.
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A prova de aceleração cardíaca fetal, por ser método de triagem, não


pode determinar a conduta definitiva. Diante de um resultado anormal, o
teste sempre deve ser seguido por outro método mais específico de avali-
ação da vitalidade fetal.

3.3 CARDIOTOCOGRAFIA (CTG)

Consiste no registro simultâneo da frequência cardíaca fetal (FCF),


dos movimentos fetais espontâneos e das contrações uterinas.
O parâmetro da FCF depende da integração do sistema nervoso cen-
tral, autônomo e do sistema cardiovascular. Assim, a análise cardiotoco-
gráfica possibilita a avaliação da integridade dos mecanismos envolvidos
no controle da frequência cardíaca e da cinética fetal. Um resultado nor-
mal reflete um suprimento adequado de oxigenação fetal.
A CTG é classificada em anteparto (ou basal) e intraparto. A pri-
meira é largamente utilizada em gestações de alto risco, bem como em
condições associadas a risco de presença de sofrimento fetal, como no caso
do relato materno de redução de movimentos fetais. A CTG intraparto pro-
põe-se a avaliação do bem estar fetal durante o trabalho de parto.
Os benefícios do monitoramento contínuo pela cardiotocografia,
quando comparado à ausculta intermitente durante o trabalho de parto,
tanto em gestação de baixo quanto de alto risco, são cientificamente in-
conclusivos. Revisão sistemática comparando ambos evidenciou que o uso
da CTG contínua não melhora resultados perinatais e está associado a um
aumento de cesarianas e partos vaginais instrumentais. Ainda, esse estudo
demonstrou redução nas convulsões neonatais, mas sem diferenças signi-
ficativas na paralisia cerebral, mortalidade infantil ou outras medidas pa-
drão de bem-estar neonatal com o uso da CTG contínua. Apesar disso, a
maioria dos especialistas acredita que a cardiotocografia contínua du-
rante o trabalho de parto deva ser considerada em gestações de alto risco
ou quando anormalidades forem detectadas na ausculta intermitente.

A CTG apresenta alta sensibilidade, baixa especificidade e alta


taxa de falso-positivo para acidose, além de concordância intra e in-
terobservador baixa, sendo, portanto, necessário avaliação cautelosa
das suas alterações.

A técnica consiste na colocação de um transdutor sobre o dorso fetal


para captação da FCF e outro no fundo uterino para registrar as contra-
ções. A velocidade de registro do equipamento pode ser de 1, 2 ou 3
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cm/minuto, devendo ser utilizado a que o profissional esteja mais famili-


arizado. A gestante deve ser posicionada em decúbito lateral esquerdo,
posição semideitada (de 30 até 45º) ou sentada. O ideal é que o exame seja
realizado após alimentação e o período prévio de jejum prolongado deve
ser evitado. A duração média de avaliação é de 10 minutos, podendo ser
necessário período adicional de até 30 minutos para que alterações sejam
detectadas. No caso de dúvidas na interpretação do traçado, pode-se es-
tender o período de observação.
Destaca-se que não há indicação de administração de glicose à mãe
e de manipulação fetal, pois essas condutas não diminuem os resultados
alterados. Cabe também lembrar que o ciclo de sono no feto normal dura
cerca de 20 a 40 minutos não ultrapassando 90 minutos.
Os parâmetros avaliados na CTG são linha de base, variabilidade,
acelerações transitórias, desacelerações e contrações. As micro-oscilações
ou short-term variation (variabilidade de curta duração) só podem ser ava-
liadas na CTG computadorizada.

• LINHA DE BASE

Corresponde à média dos valores da FCF estimada em um seg-


mento de 10 minutos, excluindo acelerações e desacelerações.

Normal: FCF basal entre 110 e 160 bpm.

Fetos prematuros tendem a ter valores na extremidade superior e


fetos pós-termo na extremidade inferior da normalidade.

Taquicardia: FCF basal > 160 bpm por período superior a 10 minutos.

A febre materna é a causa mais frequente de taquicardia fetal. Nos


estágios iniciais de um processo de hipoxemia fetal, a secreção de cateco-
lamina também pode resultar em taquicardia. Outras causas menos fre-
quentes são o uso de drogas beta agonistas (salbutamol, terbutalina, rito-
drina, fenoterol), bloqueadores parassimpáticos (atropina, escopolamina)
e taquiarritmias fetais. A hiperatividade fetal também pode causar taqui-
cardia.

Bradicardia: FCF basal < 110 bpm.

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A bradicardia pode ser resultante de hipóxia fetal. Outras causas


são hipotermia materna, administração de betabloqueadores e arritmias
fetais, como bloqueio atrioventricular. Valores entre 100 e 110 bpm po-
dem ocorrer em fetos normais, especialmente em gestações pós-data.

• VARIABILIDADE

São oscilações da linha de base, em amplitude e frequência, obser-


vadas num período de 10 minutos, excluindo acelerações ou desacelera-
ções. Pode ser de dois tipos: a microscilatória (short-term variation), avali-
ada em milissegundos e só possível de interpretação através da cardioto-
cografia computadorizada; e a macroscilatória ou variabilidade oscilató-
ria, avaliada através da cardiotocografia convencional.

Variabilidade oscilatória normal: é definida entre 5 a 25 bpm pela FIGO


e, pela classificação de Zugaib e Behle entre 10 e 25 bpm.

Variabilidade reduzida (padrão comprimido): pode ocorrer devido à hi-


póxia do sistema nervoso central e consequente diminuição da resposta
simpática e parassimpática, mas também pode ser resultante de lesão ce-
rebral prévia, infecção, administração de depressores do sistema nervoso
central ou bloqueadores parassimpáticos. Durante o sono fetal profundo,
a variabilidade é geralmente na faixa mais baixa de normalidade, mas a
amplitude raramente está abaixo de 5 bpm.

Existe um grau de subjetividade elevado na avaliação deste parâ-


metro e, portanto, uma reavaliação cuidadosa é recomendada em situa-
ções limítrofes.

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Figura 1: CTG: variabilidade reduzida (Fonte: Revista Femina . Ref: Melo ASO, Souza
ASR, Amorim MMR / FEMINA | Junho 2011 | vol 39 | nº 6).

Variabilidade aumentada (padrão saltatório): A fisiopatologia desse pa-


drão ainda não foi completamente elucidada, mas pode ser visto associado
a desacelerações recorrentes, quando a hipóxia / acidose evolui muito ra-
pidamente. Acredita-se que seja causado por instabilidade ou hiperativi-
dade do sistema nervoso autônomo. É também associado à movimentação
fetal excessiva.
Padrão sinusoidal: É de ocorrência rara e é caracterizado por onda em
forma de sino, com variabilidade entre 5 e 15 bpm, com frequência de 3 a
5 ciclos por minuto, com ausência de acelerações. Pode estar relacionado
a situações de hipóxia, mas classicamente é associado a fetos isoimuniza-
dos ou hidrópicos com anemia grave.

• ACELERAÇÕES TRANSITÓRIAS

São elevações abruptas (início da aceleração até o pico em menos


de 30 segundos) na FCF acima da linha de base, com mais de 15 bpm de
amplitude e duração acima de 15 segundos, mas não ultrapassando 10 mi-
nutos.

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Acima de 10 minutos, considera-se mudança de linha de base.


Antes de 32 semanas, devido a menor maturidade do SNC, considera-se
aceleração a elevação de 10 bpm por período superior a 10 segundos.
A maioria das acelerações coincide com os movimentos fetais,
sendo sinal de feto neurologicamente responsivo. Durante o período de
sono fetal, raramente ocorre presença de aceleração fetal.
A ausência de acelerações tem significado incerto, mas isolada-
mente é improvável que indique hipóxia/acidose fetal. Diante da variabi-
lidade ausente ou diminuída e/ou ausência de aceleração transitória é re-
comendado repetir o exame após realizar estímulo mecânico ou vibroa-
cústico sobre o polo cefálico.

• DESACELERAÇÕES

São reduções na FCF abaixo da linha de base de mais de 15 bpm de


amplitude e com duração superior a 15 segundos.

Desacelerações precoces = DIP 1: desacelerações rasas, de curta duração,


com nadir da desaceleração coincidente com o pico da contração uterina.
Acredita-se que sejam causadas pela compressão do polo cefálico e não
indicam hipóxia/acidose fetal.
Desacelerações tardias (em forma de U) = DIP 2: desacelerações com iní-
cio e/ou retorno gradual à linha de base (intervalo entre o início e o nadir
desaceleração superior a 30 segundos), com o nadir da queda ocorrendo
após o pico da contração. O início da desaceleração ocorre pelo menos 20
segundos após o início da contração uterina. Essas desacelerações são in-
dicativas de uma resposta mediada por quimiorreceptores à hipoxemia
fetal, indicando baixa reserva de oxigênio no feto.

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Figura 2: Desacelerações tardias (DIP II) (Fonte: Tratado de Obstetrícia da Febrasgo,


2018)

Desacelerações variáveis (em forma de V) = DIP 3: desacelerações que


exibem uma queda rápida (intervalo entre o início e o nadir da desacele-
ração inferior a 30 segundos), com boa variabilidade na desaceleração e
recuperação rápida para a linha de base, variando tamanho, forma e rela-
ção com as contrações uterinas.
As desacelerações variáveis constituem a maioria das desacelerações du-
rante o trabalho de parto, e traduzem uma resposta mediada por barorre-
ceptores a pressão arterial aumentada, como ocorre com a compressão do
cordão umbilical. Raramente estão associados a um importante grau de
hipóxia / acidose fetal, a menos que exibam critérios de mau prognóstico,
como: duração superior a um minuto, taquicardia ou bradicardia após o
retorno à linha de base, recuperação lenta à linha de base, queda da FCF
abaixo de 70 bpm, morfologia em W e perda da variabilidade durante a
desaceleração.
Desacelerações prolongadas: duração superior a 3 minutos. Acima de 10
minutos considera-se mudança de linha de base. É provável que sejam de-
sencadeadas por respostas de quimiorreceptores diante de hipoxemia. De-
sacelerações superiores a 5 minutos, FCF mantida inferior 80 bpm e vari-
abilidade reduzida dentro da desaceleração associam-se a hipóxia/acidose
aguda e requerem intervenção emergente.

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• CLASSIFICAÇÃO DO TRAÇADO
Segundo consenso da FIGO, a cardiotocografia classifica-se em três
classes: normal, suspeita ou patológica, conforme a tabela 2:

Tabela 2: Classificação cardiotocografia intraparto (FIGO, 2015)

Normal →Linha de base:110-160 bpm.

→Variabilidade: 5-25 bpm.

→Sem desacelerações recorrentes.

→Considera-se feto sem hipóxia.

→Não é necessário intervenção.

Suspeita →Falta uma das características de normalidade, porém


sem características patológicas.

→Sugere baixa probabilidade de hipóxia fetal.

→Recomenda-se ação para corrigir causas reversíveis ou


prosseguir com métodos adicionais para avaliação de
oxigenação fetal.

Patológica → Linha de base abaixo de 100 bpm.

→Variabilidade reduzida, acentuada ou de padrão sinu-


soidal.

→Desacelerações tardias recorrentes (em mais de 50%


das contrações uterinas).

→Desacelerações prolongadas em traçado superior a 30


minutos ou superior a 20 minutos com variabilidade re-
duzida.

→Uma desaceleração prolongada com mais de 5 minu-


tos.

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→Sugere alta probabilidade de hipóxia fetal.

→Recomenda-se ação para corrigir métodos reversíveis,


métodos adicionais de avalição de oxigenação fetal. Na
indisponibilidade, considerar interrupção da gestação.

Uma outra classificação para interpretação da cardiotocografia,


bastante utilizada em nosso meio, é o índice cardiotocométrico modifi-
cado por Zugaib e Behle, conforme tabela 3.

Tabela 3: Índice cardiotocométrico de Zugaib e Behle modifi-


cado
Parâmetro Normal Pontuação
Linha de base 110-160 bpm 1
Variabilidade 10-25 bpm 1
Aceleração transitória 1 2
Desacelerações Nenhuma 1

O índice cardiotocométrico é o resultado do somatório dos valores


para cada parâmetro. Considera-se índice 4 ou 5 como feto ativo (normal),
índice 2 ou 3 como feto hipoativo (suspeito) e índice 0 ou 1 como feto ina-
tivo (anormal).
O exame já é considerado normal se o feto for classificado como
feto ativo. Nos casos de fetos hipoativos ou inativos é preconizado estimu-
lação sônica para interromper o ciclo sono-vigília fetal e reduzir taxas de
falso-positivo do exame, diferenciando fetos no estado de sono daqueles
com suspeita de hipoxemia fetal. Aplica-se fonte sonora com frequência
de 500 a 1000 Hz e de 110 a 120 decibéis (dB) por 3 a 5 segundos na região
do abdome materno correspondente ao polo cefálico fetal. De acordo com
a reposta após o estímulo, os fetos são classificados:
• Reativo: aumento da FCF em pelo menos 20 bpm e duração da res-
posta por pelo menos três minutos.
• Hiporreativo: aumento da FCF com amplitude inferior a 20 bpm
e/ou duração inferior a três minutos.
• Não reativo: quando não se verifica resposta cardíaca fetal após o
estímulo.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 93

Classifica-se, ainda, como resposta bifásica quando, posteriormente


ao término da resposta ao estímulo sônico (após retorno da linha de base
por pelo menos 30 segundos) aparecem acelerações transitórias, e mono-
fásica, quando isso não ocorre.
Após estímulo sonoro, o exame é considerado normal quando eviden-
cia feto reativo ou hiporreativo bifásico. Exames anormais (fetos não rea-
tivos ou hiporreativos com resposta monofásica) podem estar relaciona-
dos à inadequação do estímulo sônico por aplicação incorreta ou obesi-
dade materna, imaturidade neurológica por prematuridade, uso de medi-
cações sedativas, beta bloqueadores ou mesmo hipóxia fetal. Portanto,
resultado anormal deve ser interpretado com parcimônia e, muitas vezes,
podendo ser indicado exames adicionais de vitalidade fetal, como o perfil
biofísico fetal.

3.4 PERFIL BIOFÍSICO FETAL (PBF)

O PBF é viável a partir de 28 semanas de idade gestacional e inclui a


avaliação ultrassonográfica e a cardiotocografia. As variáveis biofísicas
(movimentos corpóreos fetais, movimentos respiratórios, tônus fetal e re-
sultado da carditocografia) refletem a integridade do SNC e, portanto, o
estado de oxigenação fetal. O volume do líquido amniótico é considerado
marcador de sofrimento fetal crônico, apesar da correlação entre oli-
goâmnio e acidemia fetal não está totalmente estabelecida.
Conforme a teoria da hipoxemia gradual, a sensibilidade desses cen-
tros à hipoxemia respeita a ordem inversa do desenvolvimento embrioná-
rio. Assim, a FCF é o primeiro parâmetro a se alterar e, a seguir, os movi-
mentos respiratórios, corporais e, por último, o tônus fetal.
As variáveis ultrassonográficas são avaliadas por período de até 30
minutos para evitar análises equivocadas devido ao estado de sono fetal.
Cada parâmetro recebe pontuação 2 ou 0 de acordo com sua presença ou
ausência, respectivamente (tabela 4).

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Rede Cegonha | 94

Tabela 4: Pontuação do Perfil Biofísico Fetal


VARIÁVEIS NORMAL (2 PONTOS) ANORMAL (0
PONTO)
Tônus 1 ou mais movimento de fle- Ausência
xão/extensão de membros ou
abertura/fechamento da mão
Movimento 3 ou mais movimentos corporais < 3 movimentos
corporal lentos ou 1 movimento corpóreo
amplo
Movimento 1 ou mais movimento respirató- Ausente ou < 30 se-
respirató- rio com duração de 30 segundos gundos
rio
Líquido am- Maior bolsão ≥ 2cm ou ILA ≥5 Maior bolsão < 2 cm
niótico ou ILA < 5
CTG Normal Anormal

O PBF é considerado normal quando se obtém escore 10 ou 8 com lí-


quido amniótico normal. Escore igual a 6 indica feto suspeito e escore
igual ou inferior a 4 indica exame anormal. Independente do escore, a pre-
sença de oligoâmnio pode indicar presença de sofrimento fetal crônico,
podendo ser necessário propedêutica adicional.
O PBF apresenta alto valor preditivo negativo (99,9%), mas altas taxas
de falso positivo (50%), devendo sua interpretação ser individualizada e,
muitas vezes, testes adicionais necessários.

3.5 DOPPLERVELOCIMETRIA

A dopplervelocimetria possibilita a avaliação da vitalidade fetal


através do estudo da hemodinâmica dos vasos. A análise da resistência ao
fluxo sanguíneo das artérias uterinas, umbilicais, cerebral média e ducto
venoso constitui importante ferramenta da propedêutica obstétrica, de-
vendo ser preferencialmente avaliada durante a ausência de movimentos
corporais e movimentos respiratórios fetais.
O sonograma pode ser interpretado de maneira qualitativa (aspecto
da onda) ou de maneira quantitativa (índices). Os índices gerados são: re-
lação sístole/diástole (S/D), índice de resistência (IR) e índice de pulsatili-
dade (IP). Cabe destacar que o Índice de Pulsatilidade (IP) utiliza a veloci-
dade média em sua fórmula, sendo o preferível para a avaliação dos vasos

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 95

em Obstetrícia. Outra consideração importante é que cada índice apre-


senta uma curva de normalidade em relação à idade gestacional.

• ARTÉRIAS UTERINAS

O Doppler das artérias uterinas reflete a circulação uteroplacen-


tária e índices anormais representam placentação inadequada e aumento
de risco de pré-eclâmpsia e crescimento intrauterino restrito (CIUR).
Metanálise recente evidenciou que o IP médio das artérias uteri-
nas acima do percentil 95 no primeiro trimestre, isoladamente, apresenta
uma sensibilidade de 48% no rastreamento de pré-eclâmpsia precoce, en-
quanto o rastreamento combinado (doppler das artérias uterinas, história
clínica materna e pressão arterial média) tem taxas de detecção superio-
res a 88 % para pré-eclâmpsia abaixo de 34 semanas e 73% para pré-
eclâmpsia abaixo de 37 semanas. Cabe destacar que utilizando o rastrea-
mento combinado, com softwares específicos para tal fim, a gestação é
considerada de alto risco para tais patologias quando o risco calculado é
superior a 1: 100.
Outra utilidade do Doppler das artérias uterinas é na diferenciação
de fetos pequenos constitucionais dos fetos com restrição de crescimento
quando o peso fetal se encontra entre o percentil 3 e 10 (vide capítulo de
Restrição de Crescimento Fetal).

• ARTÉRIA UMBILICAL

O Doppler da artéria umbilical permite a avaliação da circulação


fetoplacentária e representa o estudo indireto da perfusão intervilosa. À
medida que as vilosidades placentárias ficam comprometidas, a resistên-
cia vascular nesse vaso aumenta progressivamente. Os resultados obtidos
na artéria umbilical são considerados alterados quando se encontram
acima do percentil 95 para a idade gestacional.
Os índices, que representam a resistência vascular (como o IP), co-
meçam a elevar-se quando há comprometimento de aproximadamente
30% da árvore vilositária. A progressão para fluxo ausente (diástole zero)
ou reverso (diástole reversa) ocorre quando há aproximadamente 70% de
comprometimento, o que configura insuficiência placentária grave.

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Rede Cegonha | 96

Figura 3: Imagem de ultrassom do Doppler da artéria umbilical. A) Fluxo


normal na artéria umbilical. B) Resistência aumentada na artéria umbilical. C) Diás-
tole zero na artéria umbilical. D) Diástole reversa na artéria umbilical. Fonte: Melo
ASO, Souza ASR, Amorim MMR / FEMINA | Junho 2011 | vol 39 | nº 6.

A elevação anormal dos índices Dopplervelocimétricos da artéria


umbilical geralmente precede as alterações da FCF (CTG) e do PBF em ca-
sos de comprometimento placentário. Uma vez detectado alteração do
fluxo na artéria umbilical, a deterioração do estado de oxigenação fetal
pode ocorrer em dias ou até semanas, neste último caso principalmente
em gestações longe do termo. Nesse período, podemos observar até me-
lhora do fluxo diastólico com o tempo, embora frequentemente seja ape-
nas transitório, sendo visto, na prática clínica, geralmente secundária ao
uso do corticoide para maturação pulmonar fetal.
Pela gravidade do comprometimento fetal, o Colégio Americano
de Obstetrícia e Ginecologia (ACOG) recomenda que a interrupção deve ser
considerada em fetos com diástole zero a partir de 34 semanas ou diástole

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 97

reversa a partir de 32 semanas. Antes disso, a Dopplervelocimetria venosa


é fundamental para o acompanhamento desses casos. Em fetos que apre-
sentem aumento de resistência na artéria umbilical, mas com fluxo diastó-
lico ainda presente, pode ser realizado seguimento até 37 semanas.

• ARTÉRIA CEREBRAL MÉDIA

A análise do fluxo na artéria cerebral média informa a respeito da


presença vasodilatação cerebral. Na hipoxemia ocorre mecanismo com-
pensatório hemodinâmico, com redistribuição do fluxo sanguíneo através
de um aumento no suprimento para órgãos vitais como: cérebro, miocár-
dio e glândulas suprarrenais, em detrimento da perfusão dos rins, trato
gastrointestinal e extremidades inferiores, fenômeno chamado centrali-
zação fetal. Este fenômeno se apresenta com vasodilatação cerebral, au-
mento do fluxo diastólico nos vasos cerebrais e, portanto, redução do IP;
e vasoconstricção periférica, com redução do fluxo diastólico na artéria
umbilical e, consequentemente, aumento do IP neste vaso.
Por apresentar maior reprodutibilidade, a vasodilatação cerebral
é avaliada pela análise da artéria cerebral média e valores abaixo do per-
centil 5 para a idade gestacional são considerados anormais.
A diminuição do IP da artéria cerebral média é um dos marcadores
de alteração hemodinâmica fetal frente à hipoxemia. No entanto, é consi-
derado uma manifestação tardia e de baixa sensibilidade. Em muitos fetos
normais, nas últimas semanas de gestação, observa-se habitualmente um
aumento da velocidade diastólica nas artérias cerebrais sem que isso re-
presente sinal de comprometimento da oxigenação fetal ou centralização
da circulação. Também pode ocorrer vasodilatação cerebral fetal transi-
tória devido a hipotensão materna pela posição supina prolongada. Por-
tanto, a alteração da ACM deve ser interpretada com cautela e um valor
anormal da ACM não deve ser interpretado obrigatoriamente como cen-
tralização hemodinâmica fetal, devendo ser avaliado em conjunto com de-
mais fatores.
Em fetos com resultados normais na Dopplervelocimetria da arté-
ria umbilical e com crescimento fetal adequado, a avaliação da circulação
cerebral não demonstrou associação com resultados perinatais adversos,
indicando pouca utilidade do método em discriminar casos patológicos. Já
em fetos com restrição de crescimento fetal tardio, estudos demonstram
que a dilatação dos vasos cerebrais corresponde a um dos primeiros me-
canismos de redistribuição hemodinâmica e está associada a resultados

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Rede Cegonha | 98

perinatais e neurológicos adversos. Entretanto, ainda não há consenso se


a antecipação da interrupção frente a esta alteração em fetos com CIUR
tardio poderá proporcionar qualquer benefício, sendo atualmente útil no
diagnóstico dessa patologia.

• RELAÇÃO CEREBRO PLACENTÁRIA

A relação cerebroplacentária (RCP) corresponde ao quociente en-


tre o IP da ACM e da artéria umbilical e é considerado alterado quando se
encontra abaixo do percentil 5 para a idade gestacional.
Essa relação demonstrou ser mais sensível que a artéria umbilical
ou ACM isoladamente frente à hipóxia fetal e, em geral, a alteração da RCP
ocorre 1 semana antes da alteração da artéria umbilical ou ACM.
Em fetos com restrição de crescimento fetal tardio, sua alteração
está relacionada com maiores taxas de desfechos adversos, devendo esses
fetos ter uma vigilância intraparto rigorosa. A RCP é utilizada como um
dos critérios em protocolos de diagnóstico de CIUR para diferenciação
destes com fetos pequenos constitucionais (vide capítulo de restrição de
crescimento fetal). Já em fetos de crescimento adequado, até o momento
as evidências disponíveis são inconclusivas. Em metanálise realizada em
2020, com 18.731 pacientes incluídas no estudo, a RCP não adicionou valor
preditivo para resultados perinatais adversos além do IP da artéria umbi-
lical em gravidezes únicas, independentemente da idade gestacional e do
tamanho fetal. Portanto, atualmente não há evidência suficiente para seu
uso e/ou para definição de conduta em fetos de crescimento adequado.

• DUCTO VENOSO

O ducto venoso comunica a veia umbilical com a veia cava inferior,


possibilitando que o sangue proveniente do território placentário chegue
ao átrio direito fetal e, assim, transpasse o forame oval e atinja órgãos no-
bres do feto, como o cérebro e o coração. A avaliação Dopplervelocimé-
trica deste vaso demonstra indiretamente a resposta cardiovascular fetal
frente à hipóxia e é considerado um dos principais parâmetros hemodinâ-
micos preditores de morbimortalidade em fetos com prematuridade ex-
trema.
O diâmetro do DV é um terço do diâmetro da veia umbilical. Assim,
o fluxo sanguíneo tem alta velocidade nesse vaso, evidenciado por um tur-
bilhonamento sanguíneo neste local (fenômeno de aliasing ao estudo

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 99

Doppler). Alteração no ducto venoso pode representar descompensação


cardíaca fetal.
Alterações no Doppler do ducto venoso podem ser secundárias a
redução da contratilidade cardíaca, aumento acentuado da pós-carga e ar-
ritmias. Essas alterações podem ser encontradas na insuficiência placen-
tária, na síndrome de transfusão feto-fetal, em fetos hidrópicos ou com
arritmias.
Na insuficiência placentária, primeiramente ocorre aumento da
vasoconstricção periférica, com alterações do fluxo da artéria umbilical e
vasodilatação cerebral, com alteração da ACM; com a progressão do qua-
dro hipoxêmico e manutenção da vasoconstricção periférica, há aumento
da pressão cardíaca nas câmaras direitas, acarretando fluxo retrógrado na
veia cava inferior e ducto venoso durante a contração atrial. Na veia cava
inferior, pode ser fisiológico a presença de fluxo diastólico ausente ou re-
verso, mas este padrão de fluxo no ducto venoso sempre é considerado
patológico.
Estudo realizado em 2006 demonstrou relação direta entre o IP do
ducto venoso e a presença de acidemia fetal. Nesse estudo, a presença de
IP do ducto venoso entre 1,0 e 1,5 foi relacionado com probabilidade de 50
a 75% de acidemia fetal e IP acima de 1,5 relacionou-se com probabilidade
superior a 80%. Diante destes achados, quando o IP se encontra entre 1,0
e 1,5 sugere-se conduta ativa em relação ao parto, após corticoterapia se
indicada. De outro modo, quando o IP se encontra acima de 1,5, reco-
menda-se parto imediato, devido à alta probabilidade de acidemia fetal.

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Rede Cegonha | 102

CARDIOPATIAS E GESTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

As cardiopatias afetam 0,3% a 4% das gestações e são responsá-


veis por até 11% dos óbitos maternos. No Brasil predominam as doenças
adquiridas, principalmente em função da cardiopatia secundária à do-
ença reumática, cuja proporção na gravidez é estimada em 50% entre ou-
tras cardiopatias.
Universalmente, a cardiopatia é considerada a maior causa não
obstétrica de morbidade e mortalidade materna. Quanto maior a sobre-
vida das mulheres com cardiopatias congênitas ou adquiridas, maior de-
verá ser a atenção dos médicos quanto às dificuldades que estas enfren-
tarão durante a gravidez.

Sempre que possível, as mulheres com lesões cardíacas já di-


agnosticadas devem ser orientadas, previamente, sobre os riscos
durante a gravidez.

A assistência pré-natal deve obedecer à rotina habitual, tendo-se o cui-


dado de afastar os fatores que precipitam as complicações cardiovascula-
res, como: anemia, arritmias, infecção e hipertireoidismo. De acordo com
as exigências do quadro clínico, recomendam-se consultas simultâneas
com obstetra e cardiologista.
Deve-se definir claramente o diagnóstico cardiológico e estado funcional
da cardiopatia com o objetivo de elaborar uma estratégia conjunta para o
seguimento da paciente. A gestante e seus familiares deverão ter conhe-
cimento dos riscos, sendo fundamental a participação consciente de to-
dos os envolvidos.

2. MODIFICAÇÕES GRAVÍDICAS GERAIS

Começam durante as primeiras seis a oito semanas de gestação e


atingem o seu pico no final do segundo trimestre. As alterações

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 103

hemodinâmicas podem se tornar clinicamente evidentes em algumas


cardiopatas preexistentes. São elas:

• O volume sanguíneo aumenta cerca de 45% a partir do primeiro


trimestre da gestação.
• O aumento do volume sanguíneo ocorre mais pelo aumento do vo-
lume plasmático do que pelo aumento dos glóbulos vermelhos, no-
tadamente até a 20ª semana de gestação, justificando a presença
de anemia fisiológica na gravidez.
• O débito cardíaco (DC) começa a se elevar em torno da 10ª a 12ª
semanas de gestação. Esse aumento do DC é da ordem de 30 a 50%
e se mantém até o final da gravidez, ocorrendo um maior aumento
até a 28ª semana de gestação e sendo maior na gravidez múltipla.
• Ocorre queda importante na resistência vascular sistêmica e,
mesmo com o aumento do débito cardíaco (PA = RVP x DC), há di-
minuição da pressão arterial sistêmica desde o início da gestação
até o final do segundo trimestre.
• Elevação média da frequência cardíaca em torno de 16 batimentos
por minuto, iniciando na 4ª semana de gestação.
• Estado de hipercoagulabilidade que, associado a estase venosa, re-
sulta em maior risco de fenômenos tromboembólicos.
3. QUADRO CLÍNICO

As modificações anatômicas e funcionais do aparelho circulatório


durante a gestação favorecem o aparecimento de menor capacidade física,
cansaço, dispneia, palpitação, tontura, edema de membros inferiores e li-
potimia que podem simular cardiopatias e dificultar o diagnóstico.
A gravidez favorece o aparecimento de sopros funcionais (princi-
palmente um sopro sistólico fisiológico, por sobrecarga volêmica), o apa-
recimento de terceira bulha e o aumento na intensidade e/ ou desdobra-
mento de bulhas. No entanto, sopros diastólicos (podem ocorrer em até
18% de gestações normais) geralmente se associam a lesões cardíacas ana-
tômicas.
Os principais sinais e sintomas sugestivos de cardiopatia na gravi-
dez são:

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Rede Cegonha | 104

Presença de sopro diastólico. Progressão rápida da dispneia.


Cardiomegalia inequívoca ao Raio X Dispneia paroxística noturna.
de tórax. Dor precordial ou síncope após
Presença de sopro sistólico grau III esforço físico.
ou IV, rude e com irradiação. Cianose e estertores pulmonares.
Presença de fibrilação atrial ou ar-
ritmia cardíaca grave.

4. DIAGNÓSTICO FUNCIONAL

O diagnóstico funcional constitui elemento de prognóstico impor-


tante na gestação e visa estabelecer a capacidade funcional do coração.
As gestantes também são classificadas pela NYHA (New York Heart
Association), em classe funcional de I a IV, segundo a capacidade de realizar
esforço físico:

• Classe I: gestantes com doença cardíaca e sem limitação para


atividade física (assintomáticas).
• Classe II: discreta limitação para atividade física (sintomática
aos médios esforços).
• Classe III: grande limitação frente a um esforço físico (sinto-
matologia persistente aos mínimos esforços).
• Classe IV: incapacidade de realizar qualquer atividade sem
apresentar sintomas de insuficiência cardíaca (sintomas em
repouso).

Na gestação normal podemos realizar testes não invasivos do cora-


ção como eletrocardiograma, ecocardiograma e, em alguns casos, radio-
grafia de tórax.
Alterações normais atribuíveis à gravidez incluem: aumento do
ventrículo esquerdo (massa e dimensões), aumento da fração de ejeção,
aumento dos diâmetros das câmaras direitas e consequente dilatação do
anel tricúspide e insuficiência tricúspide.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 105

5. CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O RISCO MATERNO AO EN-


GRAVIDAR

A Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs uma classificação


que mostra, em ordem crescente, o risco materno ao engravidar.

mWHO II-
mWHO I mWHO II mWHO III mWHO IV
III

CIA ou Disfunção Disfunção VE Hipertensão


Extra-sísto-
CIV não VE leve (45- moderada arterial pul-
les
corrigidos 60%) (30-45%) monar

Cardiomio-
Lesões sim-
patia peri- Disfunção
ples corrigi- Fallot Cardiopatia
parto recu- grave VE
das, como operado hipertrófica
perada (FE (FE < 30%)
CIA ou CIV
normal)

Cardiomio-
EP, ducto Arritmias Lesões val-
Valva mecâ- patia peri-
patente ou supraven- vares mode-
nica parto com
PVM leves triculares radas*
FE reduzida

Turner Marfan com VD sistêmico


com aorta aorta nor- com função EM grave
DIAGNÓS- normal mal boa
TICO
Valva aór-
tica bicús- Fontan sem
EA grave
pide com complica-
sintomática
aorta < 45 ções
mm

Cardiopatia VD sistê-
Coarctação
congênita ci- mico com
corrigida
anótica disfunção

Aorta > 50
Defeito
EM mode- mm ou > 45
septo atrio-
rada mm (Mar-
ventricular
fan)

EA grave as- Ehlers-Dan-


sintomática los

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Rede Cegonha | 106

Aorta 45-50
Coarctação
mm ou 40-45
grave
mm (Marfan)

Fontan com
Taquicardia
complica-
ventricular
ções

Ausente ou
RISCO Leve Moderado Alto Muito alto
mínimo

TAXA DE
EVENTOS
CARDIO- 2,5-5,0% 5,7-10,5% 10-19% 19-27% 40-100%
VASCULA-
RES
*EA, estenose aórtica; EM estenose mitral; EP, estenose pulmonar; PVM, prolapso
valva mitral.
Fonte: OMS.

A gravidez está contraindicada na mWHO IV. Nas situações em que


a paciente já esteja grávida, deverá ser acompanhada em um centro com
experiência em doença cardíaca e gestação, podendo ser discutida a inter-
rupção da gravidez (prevista em Lei).
Para gestantes que se enquadram na mWHO III, embora não haja
contraindicação para gestação, o aconselhamento deverá ser realizado em
conjunto com “heart team” e ser acompanhada em um serviço com expe-
riência em doença cardíaca e gravidez.

Deve ser realizada estimativa do risco em todas as mulheres com do-


ença cardíaca em idade fértil antes da concepção.

6. TIPOS DE CARDIOPATIAS

6.1 Doença Valvar Cardíaca na Gravidez

Normalmente, os parâmetros clínicos relacionados com mau prog-


nóstico materno em portadoras de valvopatias são: classe funcional III e

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IV, hipertensão pulmonar, fibrilação atrial, antecedente de tromboembo-


lismo e/ou endocardite infecciosa.

Lesões regurgitantes leves ou moderadas, como insuficiência mitral e


aórtica, geralmente cursam sem complicações durante a gravidez;
Lesões estenóticas (estenose mitral e aórtica) moderadas ou graves, apre-
sentam pior evolução clínica e tendem a ser mal toleradas.

A estenose mitral é a valvopatia mais frequente da mulher em idade


fértil por doença reumática e a que mais frequentemente complica
durante a gestação.

Na gestante com estenose mitral de grau moderado a grave (área


valvar menor que 1,5cm2), o aumento da pressão no átrio esquerdo pode
resultar em edema pulmonar e também predispor a arritmias cardíacas,
como flutter ou fibrilação atrial, com aumento da morbidade e mortali-
dade.

Terapêutica:

Betabloqueadores sem atividade simpaticomimética intrínseca


como: propranolol, em dose inferior a 80mg/dia, ou atenolol, na dose de
50 a 100mg/dia. Utilizar preferencialmente os betabloqueadores seleti-
vos, como bisoprolol (2,5 a 10mg/dia) ou metoprolol (25 a 100mg/dia). Os
betabloqueadores não seletivos, como o atenolol, devem ser evitados, pela
maior associação com restrição de crescimento fetal e hipoglicemia neo-
natal.
Diuréticos, preferência aos diuréticos de alça como a furosemida
(dose média e fracionada de 40 a 60mg/dia).
Restrição cautelosa da ingestão de sal e limitação da atividade física.
Os sintomas principais da estenose crítica da valva aórtica são: dis-
pneia, dor torácica e síncope. Como na estenose mitral, o ecocardiograma
é o exame de escolha para o diagnóstico e avaliação da gravidade da lesão.
Gestantes com gradiente sistólico maior ou igual a 75 mmHg e área valvar
menor ou igual a 1cm2 apresentam alta incidência de complicações du-
rante a gravidez e o parto, devendo-se considerar o tratamento interven-
cionista.

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6.2 Cardiopatias Congênitas

A evolução materno-fetal é determinada pelos seguintes fatores:


• Tipo de cardiopatia;
• Cianose;
• Função ventricular;
• Arritmia;
• Hipertensão arterial pulmonar (PA média ≥ 25 mmHg);
• Correção cirúrgica prévia.

As cardiopatias acianogênicas (comunicação interatrial, comunica-


ção interventricular, persistência do canal arterial, estenose pulmonar,
estenose aórtica e coarctação da aorta) podem cursar com complicações
clínicas durante a gestação, parto e puerpério, inerentes à cardiopatia e à
própria gravidez (síndrome hipercinética). Destacam-se a insuficiência
cardíaca, os distúrbios do ritmo cardíaco e a maior possibilidade de endo-
cardite infecciosa e tromboembolismo.
Entre as cardiopatias congênitas cianogênicas, a Tetralogia de Fallot
é a mais frequente. O prognóstico materno é grave quando há síncope, he-
matócrito superior a 60%, saturação arterial periférica de oxigênio menor
que 80% e pressão sistólica do ventrículo direito maior que 100mmHg. O
trabalho de parto, o período expulsivo e o puerpério imediato conferem
especial risco, uma vez que qualquer redução na pressão arterial e na re-
sistência vascular sistêmica pode aumentar o shunt direita/esquerda (com
piora da hipoxemia) e levar ao óbito materno. A correção cirúrgica total
ou parcial desta cardiopatia melhora a evolução materna e promove nítida
redução da mortalidade fetal, devendo ser realizada antes da gravidez.

6.3 Doença de Chagas

O prognóstico da gravidez depende de:


• Forma clínica da doença;
• Grau de acometimento do sistema de condução e/ou do
miocárdio.
As manifestações da doença na gravidez:
• Alterações eletrocardiográficas (por exemplo: bloqueio atrioven-
tricular, bloqueio de ramo direito e ântero-superior esquerdo, al-
terações de repolarização ventricular).

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• Arritmias - mais frequentes são as ventriculares e mesmo na ges-


tação recomenda-se o uso de amiodarona (dose máxima de
600mg/dia por via oral). O implante de marcapasso e a cardiover-
são elétrica, quando indicados, podem ser realizados em qualquer
época da gestação.
• Insuficiência cardíaca – tratamento semelhante ao realizado fora
da gestação com digital e hidralazina para reduzir a pós-carga, ni-
tratos para reduzir a pré-carga, diuréticos como a furosemida e,
nas emergências, recomenda-se o uso de dobutamina (6 a
10mg/Kg/min).
• Tromboembolismo.
• Morte súbita.

6.4 Cardiopatia isquêmica

A mortalidade materna por IAM, na gestação, varia entre 21 e 35%,


e a fetal é estimada em 19%. O tratamento do infarto (na gravidez) tem o
mesmo objetivo das não grávidas que é a reperfusão miocárdica:
• Medidas farmacológicas (trombolíticos) - Trombolíticos
podem provocar hemorragia materna grave se utilizados
por ocasião do parto, parto pré-termo e perda fetal.
• Medidas mecânicas (angioplastia ou cirurgia), realizada
dentro das primeiras horas após oclusão coronária, me-
lhora a hemodinâmica, reduz o tamanho do infarto e a
mortalidade, sendo o benefício relacionado ao grau de re-
perfusão obtido. Devem ser realizadas em centros hospita-
lares adequados, por equipes capacitadas e com reta-
guarda cirúrgica; considerando-se também o risco da ra-
diação ionizante para o feto.

6.5 Miocardiopatia periparto

A miocardiopatia periparto é o aparecimento súbito de insuficiên-


cia cardíaca congestiva e dilatação ventricular esquerda, que pode se ini-
ciar desde o último trimestre da gestação até o sexto mês do puerpério,
em gestantes sem doença cardíaca prévia.
O quadro clínico é semelhante ao da ICC clássica e a etiologia in-
certa: viral, autoimune, humoral, nutricional. Durante a gestação indica-
se o tratamento convencional, exceto com inibidores de ECA,

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bloqueadores de receptores da angiotensina (BRA), inibidores da neprili-


sina e dos receptores da angiotensina (INRA), ivabradina, antagonista do
receptor mineralocorticoide e nitroprussiato de sódio. Recomenda-se:
diurético (às vezes necessário diurético de alça e tiazídico), beta bloquea-
dor cardiosseletivo, digitálicos, vasodilatador (nitrato e hidralazina), an-
ticoagulante. Mais recentemente, tem sido incluído nas situações pós-
parto a bromocriptina, a qual é um inibidor específico da secreção de
prolactina e estimulante dos receptores dopaminérgicos, mostrando bons
resultados nas publicações iniciais.

6.6 Doenças da Aorta

A síndrome de Marfan e a valva aórtica bicúspide são as duas pa-


tologias mais conhecidas e associadas com maior risco de dilatação, dis-
secção e ruptura da aorta torácica.
Maior chance de complicações ocorre com o diâmetro da aorta >
40 mm em Marfan e > 45 mm nas demais aortas. O risco de dissecção é de
1-10% em Marfan e outras síndromes genéticas, mas <1% na valva aórtica
bicúspide. Há um aumento do risco no terceiro trimestre e puerpério ime-
diato e a gestação é contraindicada se aorta > 45 mm em Marfan e > 50 mm
na valva aórtica bicúspide.

6.7 Arritmias

As arritmias são complicações frequentes na gravidez, associadas


ou não a doença cardíaca estrutural ou elétrica. A primeira manifestação
pode ser na gestação ou pode ocorrer agravamento de arritmias preexis-
tentes. A maioria são arritmias benignas, como bradicardia, taquicardia
sinusal e extrassístoles supraventriculares e ventriculares monomórficas.
Porém, pode ocorrer fibrilação atrial e taquicardia paroxística supraven-
tricular e, mais raramente, taquicardia ventricular sustentada ou fibrila-
ção ventricular.
Os distúrbios sustentados do ritmo cardíaco podem levar ao com-
prometimento hemodinâmico materno, ao risco de tromboembolismo e à
morte cardíaca súbita (MCS). Podem, também, comprometer o desenvol-
vimento fetal, determinando baixo peso, parto prematuro, anormalidades
fetais e mais indicações de parto cesárea. Por essa razão, tais distúrbios
devem ser diagnosticados e adequadamente tratados.
Para taquicardia paroxística supraventricular pode ser usado ma-
nobra vagal, massagem do seio carotídeo ou colocação de toalha molhada
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na face. Quando essas medidas falharem, a droga de escolha é a adenosina


endovenosa. A cardioversão elétrica sincronizada, indicada para a rever-
são de TSV instáveis (FA, flutter atrial, taquicardias atriais, TPSV) e TV
instáveis ou estáveis (estas, quando na presença de cardiopatia), é segura
em todas as etapas da gestação, não comprometendo o fluxo sanguíneo
para o feto.

7 Drogas de Ação Cardiovascular

7.1 Diuréticos (risco C e D)

• São utilizados na gravidez em situações especiais, como insuficiên-


cia cardíaca congestiva, insuficiência renal, congestão pulmonar
secundária à estenose mitral e hipertensão arterial crônica.
• Efeitos colaterais: hiponatremia, hipocalemia, hiperuricemia, alca-
lose metabólica, hiperglicemia, redução do volume plasmático e da
perfusão placentária.
• Diuréticos osmóticos, mercuriais, inibidores da anidrase carbônica
e antagonistas da aldosterona não devem ser administrados a ges-
tantes. A furosemida é segura, podendo ser prescrita durante todo
o ciclo gravídico-puerperal.

7.2 Digitálicos (risco C)

• Atravessam a barreira placentária.


• Podem predispor ao trabalho de parto prematuro, pelo efeito ino-
trópico positivo no miométrio.
7.3 Drogas vasoativas (risco C)
• Podem predispor ao trabalho de parto prematuro, devido à dimi-
nuição do fluxo placentário.

7.3 Beta-bloqueadores (risco C)

• Escolha seletiva: Bisoprolol e metoprolol.


• Podem estar associados com restrição de crescimento intraute-
rino, trabalho de parto prematuro, bradicardia fetal e hipoglice-
mia fetal, principalmente o atenolol.

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7.4 Antiarrítmicos (risco C)

• Lidocaína, quinidina, procainamida, mexiletine, propafenona,


adenosina, amiodarona, verapamil.
• A maioria dos antiarrítmicos pode ser empregada durante a gesta-
ção, no entanto o tratamento deve ser criterioso, com avaliações
clínicas periódicas para prevenir efeitos colaterais, muitas vezes
sérios.

7.5 Inibidores da enzima de conversão da angiotensina

• São formalmente contraindicados na gestação.

7.6 Anticoagulação

A anticoagulação permanente em gestantes cardiopatas é recomen-


dada quando os benefícios superam os riscos.
Indicações: uso de próteses valvares mecânicas e fibrilação atrial
permanente.
A indicação de anticoagulação transitória para gestantes submeti-
das a repouso hospitalar prolongado é controversa, a despeito da presença
de situações predisponentes ao tromboembolismo, como cardiopatias
congênitas cianóticas, hipertensão arterial pulmonar e insuficiência car-
díaca.
Os esquemas recomendados para anticoagulação estão no capítulo
de tromboembolismo no ciclo gravídico puerperal.

8. Profilaxia da Endocardite Bacteriana

Ainda que a antibioticoprofilaxia para Endocardite Infecciosa (EI)


seja questionada em procedimentos obstétricos não complicados, reco-
menda-se essa medida, uma vez que na prática cotidiana de obstetrícia
nem sempre se pode antecipar complicações ou contaminações.
Lesões consideradas de alto risco para endocardite infecciosa e que
têm indicação do uso rotineiro de profilaxia antibiótica antes de procedi-
mentos obstétricos (indicada antes de curetagem pós-aborto, partos vagi-
nais e cesáreas):

• Valvopatia reumática;

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• Prótese valvar cardíaca;


• Antecedente de endocardite infecciosa;
• Valvopatia corrigida com material protético;
• Cardiopatias congênitas cianóticas não corrigidas;
• Cardiopatia congênita cianótica com lesão residual;
• Cardiopatia congênita corrigida com enxertos de material proté-
tico (primeiros 6 meses);
• Valvopatia em paciente transplantada cardíaca.

ESQUEMAS DE PROFILAXIA PARA O PARTO

Antibiótico Dose
Ampicilina* venosa 2g
Gentamicina venosa 1,5 mg/kg (máximo 120 mg)
*Repetir 1g IV 6 horas após (Recomendação IIB)
Alergia à penicilina Dose
Vancomicina venosa 1g (diluída em 100 ml de SF,
infundir em uma hora)
Gentamicina venosa 1,5 mg/kg (máximo 120 mg)

Para procedimentos dentários, endoscopia, procedimentos em teci-


dos infectados – amoxicilina 2 g por via oral, uma hora antes do procedi-
mento. Em caso de alergia a derivados de penicilina – clindamicina 600 mg
ou azitromicina 500 mg.

9. ASSISTÊNCIA AO PARTO

• A cardiopatia não é indicação para indução precoce do trabalho


de parto. Portanto, salvo raras exceções, deve-se permitir o início
do trabalho de parto espontâneo.
• Recomenda-se a indução do parto quando a gestação completar 40
semanas para todas as mulheres com doença cardíaca (diretriz da
sociedade europeia publicada em 2018).
• Em todos os casos, a gestante e o feto devem ser monitorados du-
rante todo trabalho de parto e parto.
• No parto vaginal, deve-se alertar para as seguintes medidas:

▪ Decúbito elevado;

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▪ Alívio da dor (analgesia - peridural);


▪ Abreviar o período expulsivo: Fórcipe da Alívio;
▪ Não usar ergotamina (devido ao efeito vasopres-
sor).

• O maior número de complicações pós-operatórias em uma ges-


tante cardiopata faz com que o risco de cesárea seja maior que o
do parto vaginal bem assistido.
• Havendo indicação obstétrica, deve-se proceder à realização da
cesárea programada, poupando a gestante de um trabalho de
parto laborioso.
• Indica-se cesariana nas pacientes com patologia aórtica grave,
com insuficiência cardíaca aguda e intratável e nas formas graves
de Hipertensão Pulmonar (incluindo a síndrome de Eisenmenger).
• A administração de líquidos deve ser cuidadosa, fazendo-se con-
trole rigoroso dos fluidos (equipamento de microgotas) devido ao
risco de uma hipervolemia iatrogênica.
• Técnica anestésica deve ser discutida com anestesista experiente
no manejo de cardiopatias.
• Sempre reservar vaga de UTI.

ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS IMPORTANTES NO


TRABALHO DE PARTO E PARTO

• Cada contração uterina resulta no deslocamento de


300 a 500ml de sangue na circulação geral.
• A pré-carga aumenta com o consequente aumento do
débito cardíaco de aproximadamente 50% em cada
contração.
• A pressão média sistêmica também aumenta, em
parte, devido à dor e ansiedade materna.
• A perda sanguínea durante o parto (300 a 400ml para
um parto vaginal e 500 a 800ml para uma cesárea)
pode comprometer ainda mais o estado hemodinâ-
mico.

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As alterações hemodinâmicas durante o puerpério se devem prin-


cipalmente à descompressão da veia cava após o parto. O aumento no re-
torno venoso aumenta o débito cardíaco e provoca uma diurese abun-
dante. As alterações hemodinâmicas voltam às condições normais de três
a quatro semanas após o parto.

10. ASSISTÊNCIA AO PUERPÉRIO

• Deambulação precoce.
• Controle com ecocardiograma.
• Profilaxia de trombose venosa profunda, se necessário.
• Assistência ambulatorial.
• Planejamento reprodutivo.

REFERÊNCIAS

Avila WS, Alexandre ERG, Castro ML et al. Posicionamento da Sociedade Brasileira


de Cardiologia para Gravidez e Planejamento Familiar na Mulher Portadora de
Cardiopatia – 2020. Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):849-942.
Dob DP, Yentis SM. Practical management of the parturient with congenital heart
disease. Int J Obstet Anesth. 2006; 15:137–144.
Gualandro DM, Yu PC, Caramelli B, Marques AC, Calderaro D, Luciana S. Fornari
LS et al. 3ª Diretriz de Avaliação Cardiovascular Perioperatória da Sociedade Bra-
sileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol 2017; 109(3Supl.1):1-104.
Regitz-Zagrosek V, Roos-Hesselink JW. ESC Guidelines for the management of
cardiovascular diseases during pregnancy. European Heart Journal. 2018; 39,
3165–3241.
Tedoldi CL, Freire CMV, Bub TF et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretriz
da Sociedade Brasileira de Cardiologia para Gravidez na Mulher Portadora de Car-
diopatia. Arq Bras Cardiol.2009;93(6 supl.1):e110-e178.
Testa CB, Borges VTM, Bortolotto MRFL. Cardiopatia e gravidez / Pregnancy in
patients with heart disease. Rev Med (São Paulo). 2018;97(2):177-86.

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Testa CB, Bortolotto MR. Manejo clínico e conduta obstétrica em gestantes cardi-
opatas. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obste-
trícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 85/ Comissão Na-
cional Especializada em Gestação de Alto Risco).

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CEFALEIA PÓS-PUNÇÃO DURAL (CEFA-


LÉIA PÓS-RAQUIANESTESIA)

1. DEFINIÇÃO

A cefaleia pós-punção dural (CPPD) é a complicação mais fre-


quente da punção lombar. Uma perda aproximada de 10% do total de lí-
quido cérebro espinhal resulta em sintomas que se resolvem prontamente
após a reconstituição desse déficit.

2. CLÍNICA

O início dos sintomas é geralmente tardio, com a cefaleia come-


çando em 12 a 48 h. Iniciam-se, em 90% dos casos, até o terceiro dia após
a punção e raramente ocorre após 5 dias do procedimento. Os sintomas
também podem melhorar espontaneamente depois de 5 a 7 dias.

A característica marcante da CPPD é a sua natureza postural, sendo


uma cefaleia que piora posição ortostática e que melhora com o de-
cúbito horizontal.

O aumento da gravidade da cefaleia em posição ortostática é con-


dição sine qua non desse evento pós-punção da dura-máter.
A cefaleia é sempre bilateral, com distribuição: frontal (25%), oc-
cipital (27%), ou ambas (45%). Usualmente são descritas como dor tipo
pressão, “doída” e latejante, podendo se irradiar para região cervical e
ombros. Em 50% dos casos, as pacientes experimentam cervicalgia e rigi-
dez cervical.
Outros sintomas como náuseas (pode estar presente em mais de
80% dos pacientes), vômitos, distúrbios auditivos (hipoacusia, zumbidos),
distúrbios visuais (fotofobia, diplopia) e até paralisia de nervos cranianos
podem acompanhar o quadro.

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3. TRATAMENTO

É baseado na severidade dos sintomas. Medidas de suporte devem


ser realizadas nas cefaleias leves e o bloodpatch para as moderadas e seve-
ras.

1. Hidratação: 2L diários (via oral ou venosa).


2. Hidrocortisona 100mg de 8/8h (seis doses).
3. Tramadol 100mg EV 8/8h ou Tenoxicam 20mg EV 12/12h ou
Cetoprofeno 100mg EV 8/8h.
4. Dipirona 1g EV 6/6h.
5. Ondansetrona 4 a 8 mg EV, se náuseas ou vômitos.
6. Mesilato de diidroergotamina 1 mg + Dipirona sódica 350 mg +
Cafeína 100 mg (tomar1 a 2 cp VO de 6/6h) OU Paracetamol
500mg + e cafeína 65mg (2 cp VO 6/6h).

Cafeína: mostrou-se efetiva na diminuição de casos de pes-


soas com a cefaleia pós-punção dural e o número daquelas
que precisaram de drogas adicionais.

Após melhora, podem ser utilizados;

• Dipirona 1 a 2g de 6/6h OU Paracetamol 750mg de 6/6h OU


Paracetamol 500mg + Fosfato de codeína 30mg 6/6h.
• Cetoprofeno 100mg VO de 8/8h OU Cetorolaco de trometamol
10mg de 8/8h.

A medida invasiva é o blood patch (tampão sanguíneo) que consiste


na injeção de 20 mL de sangue autólogo no espaço peridural. É reservado
para os casos mais graves de cefaleia ou quando há persistência do quadro,
mesmo após medidas de suporte.
Solicitar a avaliação do anestesista e considerar a evolução caso a
caso para decidir quanto ao blood-patch. Dividir a escolha também com a
paciente que deve ser orientada quanto à possibilidade de lombalgia e dis-
creta elevação da temperatura corporal nas primeiras 24 a 48h.
Observar que as pacientes com cefaleia grave e incapacitante de-
vem ser candidatas ao blood-patch já no primeiro dia, especialmente se
puérpera, em função da maior necessidade de devolvê-la às suas ativida-
des normais.

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Se não houver melhora satisfatória, o quadro deve ser reavaliado


para afastar outros diagnósticos através da realização de exames de ima-
gem (ressonância e tomografia).

REFERÊNCIAS

Basurto OX, Martínez GL, Solà I, Bonfill CX. Drug therapy for treating post-dural punc-
ture headache. Cochrane Database of Systematic Reviews 2015, Issue 7. Art. No.:
CD007887.
Basurto OX, Uriona TSM, Martínez GL, Solà I, Bonfill CX. Drug therapy for preventing
post-dural puncture headache. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, Issue
2. Art. No.: CD001792.
Gyanesha P, Radhika K, Sinha M, Haldar R. Cefaleia pós-puncão dural para cesá-
rea: as estratégias preventivas são piores do que a cura? Rev Bras Anestesiol.
2015;65(1):82-83.
Miller RD et al. Miller’s Anesthesia. Elsevier, 8th, 2015.
Vieira VLR, Macedo CF, Sousa Júnior EJM. Cefaleia pós-punção da dura-máter em
obstetrícia. Rev Med Minas Gerais. 2009; 19 (3 Suppl.1):52-58.
Zugaib M. Obstetrícia. Ed. Manole, 2a edição, 2008.

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Rede Cegonha | 120

DIABETES E GESTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

Hiperglicemia é uma das condições médicas mais comu-


mente encontradas na gestação. 1 em cada 6 nascimentos ocor-
rem em mulheres com alguma forma de hiperglicemia. Conside-
rando o período gravídico-puerperal, é possível a ocorrência de
hiperglicemia tanto em mulheres já sabidamente diagnosticadas
como portadoras de DM previamente à gestação quanto em ges-
tantes sem esse diagnóstico prévio.

2. DEFINIÇÃO

• Diabetes mellitus gestacional: hiperglicemia detectada pela pri-


meira vez durante a gestação, cujos níveis glicêmicos sanguíneos
não atingem os critérios diagnósticos da OMS para Diabetes Mel-
litus (DM).
• Diabetes mellitus na gestação: hiperglicemia detectada na gravi-
dez em mulheres sem diagnóstico de diabetes e com níveis glicê-
micos que atingem os critérios da OMS para DM.

Hiperglicemia na
gestação

Diabetes mellitus
Diabetes mellitus gestacional (tipo 1, tipo 2)

Fluxograma 1: Classificação da hiperglicemia na gestação (fonte: MS, 2017)

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3. RASTREAMENTO

• Deve ser feito em todas as gestantes


• Primeira consulta: Glicemia de jejum; se gestação > 24 sem
(início tardio), solicitar o teste oral de tolerância à glicose
(TOTG).
• Segundo trimestre: TOTG 75g entre 24 a 28 semanas na-
quelas que tiveram glicemia de jejum < 92 mg/dL.
• Terceiro trimestre: Glicemia de jejum naquelas com ras-
treio anterior negativo.

TOTG 75g valores de normalidade

o Jejum <92
o 1h <180
o 2h <153mg/dL

4. DIAGNÓSTICO

• Diabetes mellitus gestacional: glicemia de jejum (GJ) entre


92 mg/dL e menor que 126mg/dL ou 1 ou mais valores al-
terados do TOTG 75g (exceto quando o valor de 2h for
maior ou igual a 200mg/dL, quando será classificado como
diabetes mellitus na gestação);

• Diabetes mellitus na gestação: glicemia de jejum 


126mg/dL ou Glicemia aleatória  200mg/dL ou de se-
gunda hora do TOTG  200mg/dL ou, ainda, hemoglobina
glicada (Hba1c)  6,5% (OMS, 2013).

ATENÇÃO: não é necessário repetição de exame para con-


firmação para não perder janela de oportunidade de tra-
tamento.

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Figura 1: Diagnóstico de DMG (fonte MS, 2017)

5. TRATAMENTO

• Primeira linha: dieta para diabéticos e exercícios físicos


regulares = mudança de estilo de vida.

• Retorno após 15 dias com o perfil glicêmico (controle diá-


rio da glicemia em jejum e 1h após café, almoço e jantar)
dos últimos dois dias → Caso 30% ou mais do perfil glicê-
mico esteja alterado, haverá necessidade de insulinotera-
pia.

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• O tempo para retorno pode variar de acordo com a idade


gestacional ao diagnóstico, podendo ser encurtado caso
muito próximo ao termo.

• Insulinoterapia: iniciar com Insulina NPH em doses fraci-


onadas usando a fórmula: 0,5 UI x peso atual da paciente
na seguinte distribuição:

▪ 1/2 da dose em jejum


▪ 1/4 antes do almoço
▪ 1/4 às 22 horas

Sendo o próximo retorno agendado para uma semana. Nesta oca-


sião, será ajustado e/ou iniciado insulina Regular (4 UI - 30 minutos antes
das refeições) caso o perfil glicêmico apresente picos após 1 hora das prin-
cipais refeições.

OBS.: É possível administrar as duas insulinas na mesma seringa desde


que seja primeiramente aspirada a insulina regular.

70 a 95
JEJUM
mg/dL

1 HORA após
140 mg/dL
Metas refeições
Glicêmicas 2 HORAS após
120mg/dL
refeições

70 a 100
Pré-prandiais
mg/dL
Fluxograma 2: Metas glicêmicas (fonte: MS, 2017).

Os ajustes devem ser realizados de acordo com os HGTs conforme


os tipos de insulina e tempo de ação a seguir:

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Rede Cegonha | 124

TEMPO DE NOME INÍCIO DE PICO DE DURA-


AÇÃO AÇÃO AÇÃO ÇÃO
LONGA DURA- DETEMIR 1-3h 6-8h (dis- 18-22h
ÇÃO creto)
INTERMEDIÁ- NPH 2-4h 4-10h 10-18h
RIA
RÁPIDA REGULAR 0,5-1h 2-3h 5-8h
ULTRARÁPIDA ASPARTE 5-15 min 0,5-2h 3-5h
LISPRO

Tabela 1: Tempo de ação das insulinas (fonte: MS, 2017).

Antidiabéticos orais: preferir a Metformina, administrada junto


ou logo após as refeições, iniciando com 500mg/dia até dose máxima de
2550mg/dia SEMPRE após assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido.

A Metformina poderá ser considerada em situações especiais, tais


como:

Falta de adesão da paciente ao uso de insulina;


Dificuldade de acesso à insulina;
Dificuldade na autoadministração da insulina (ex.: moradoras de
rua, pacientes deficientes visuais);
Necessidade de altas doses diárias de insulina (>100UI) sem resposta
adequada no controle glicêmico.

Nas pacientes portadoras da síndrome dos ovários policísticos


(SOP) e que estavam em uso de Metformina antes da gestação, essa
medicação deve ser descontinuada após confirmação da gestação.

6. Acompanhamento Pré-Natal

• Após o diagnóstico, iniciar imediatamente a primeira li-


nha de tratamento (ATENÇÃO: encaminhar para nutricio-
nista após primeiras orientações dietéticas);

• O retorno será após 15 dias, trazendo o perfil glicêmico re-


alizado na unidade básica ou em domicílio. Para a

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 125

definição da necessidade de insulinoterapia serão solicita-


das, preferencialmente, três medidas diárias de glicemia
(jejum, e 1 ou 2 horas após o café e almoço). Sempre que
possível, fazer também a medida da glicemia 1 ou 2 horas
após o jantar).

• Caso tenha iniciado insulinoterapia, sugere-se as medidas


das glicemias também pré-prandiais (30 minutos antes) e
o retorno deve acontecer com uma semana para ajustes e
para avaliar necessidade de introdução de insulina regu-
lar, caso haja picos pós-prandiais, apesar da dose ade-
quada da insulina NPH (valores pré-prandiais já adequa-
dos).

• Considerar manutenção de Insulinas análogas (Detemir ou


Glargina) naquelas com uso prévio (DM1) e bom controle
metabólico.

• Internamento será indicado diante de mau controle meta-


bólico, impossibilidade da paciente de realizar o perfil gli-
cêmico, cetoacidose, nefropatia, infecções, sofrimento fe-
tal, intercorrências obstétricas (amniorrexe, pré-
eclâmpsia, trabalho de parto prematuro).

Se houver antecedentes de óbito fetal intrauterino, in-


ternar a paciente duas semanas antes da idade gesta-
cional do óbito na gestação anterior ou imediata-
mente, se houver descontrole glicêmico.

• Quanto à avaliação da vitalidade fetal é recomendado:

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Rede Cegonha | 126

USG MENSAL

DMG - a partir de
Até 32 semanas
28/32 semanas
MOBILOGRAMA
DM 1 ou DM2 a
partir de 26/28
semanas

Até 38 semanas
- USG 4/4 sem
- CTG semanal / PBF
- Mobilograma diário
Bom controle
metabólico
Após 38 semanas
- USG semanal
- CTG / PBF 2x semana até
parto
Após 32 semanas

Até 36 semanas
- USG 2/2 sem
Mau controle - CTG semanal / PBF
metabólico e/ou - Usg doppler (se vasculopatia)
fatores de risco
- Mobilograma diário
- Avaliar interrupção entre 36
e 37 semanas

Fluxograma 3: Avaliação da vitalidade fetal durante o pré-natal

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 127

DOPPLERVELOCIMETRIA não deve ser indicada como ro-


tina!!

Realizar quando houver suspeita de insuficiência placen-


tária (vasculopatia), nas pacientes portadoras de: DM1 e
DM2 / Hipertensão.

• Outros exames complementares (Diabetes mellitus na ges-


tação)

- Função renal (creatinina, relação proteína/creati-


nina);
- Fundoscopia;
- ECG + avaliação cardiológica;
- Sumário de urina + urocultura: mensal na diabetes
mellitus na gestação de difícil controle e trimestral
nas demais;
- Labstix: cetonúria, glicosúria e proteinúria;
- USG morfológica entre 18 e 24 semanas;
- Ecocardiograma fetal entre 24 e 30 semanas nas di-
abéticas mellitus na gestação e em casos em que o
USG sugira cardiopatia fetal.

• ATENÇÃO: Evitar o uso de corticoides para maturação pul-


monar fetal de forma rotineira devido a seu efeito diabe-
togênico. Porém, caso haja iminente risco de parto prema-
turo, fazer com a paciente internada e sob vigilância rigo-
rosa pelo risco de cetoacidose diabética.

• Em paciente já em uso de insulina, caso haja necessidade


do uso de corticóide, poderá ser necessária a administra-
ção endovenosa de insulina regular em bomba de infusão
conforme tabela:

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Rede Cegonha | 128

Insulina SC em uso: < 40 U/dia 41-80 U/d 81-120 U/d >120 U/d
Dose de insulina suplementar IV (U/hora)
Glicemia capilar (mg/dL) Regime A Regime B Regime C Regime D
<108 0 0 0 0
109-126 0,5 1 2 3
127-144 1 2 3 5
145-162 1,5 3 4 7
163-180 2 4 6 10
>180 3 6 8 13

Tabela 2: Administração endovenosa de insulina regular em bomba de infusão

Glicemias não satisfatórias por 2 horas consecutivas – regime ini-


cial é trocado pelo subsequente (A para B, B para C e assim por diante).
Glicemias abaixo de 70 mg/dL – regime é substituído pelo anterior (B para
A, C para B e assim por diante).

7. Momento da interrupção

- DM1 e DM2 sem complicações e com bom controle glicêmico

→ interrupção com 38 semanas. Via de parto obstétrica.

- DM1, DM2 e DMG com complicações e/ou difícil controle glicê-


mico

→ 36 a 37 semanas. Via de parto obstétrica.

- DMG sem complicações e com bom controle glicêmico apenas


com dieta e exercício físico

→ interrupção com 40 semanas. Via de parto obstétrica.

- DMG sem complicações e com bom controle glicêmico com me-


dicações (insulina e/ou hipoglicemiantes orais)

→ Interrupção entre 38 e 39 semanas. Via de parto obstétrica.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 129

8. Abordagem em casos de suspeita de macrossomia.

USG entre 38 e 39
semanas

< 3.800g e 3.800 a 4.000g ou


> 4.000g
AIG GIG

Controle glicêmico difícil, óbito


intrauterino prévio e/ou doença Sim
vascular

Não

Expectante até Oferecer


Indução
40 semanas Cesariana

Fluxograma 4: Conduta na macrossomia fetal (fonte FIGO, 2015).

9. Assistência ao Parto

- Dieta: dieta branda para diabético deve ser mantida durante a


indução do trabalho de parto e nos trabalhos de parto espontâ-
neos.
- Insulina:
• Indução programada
▪ Fazer as doses normalmente e alimentar a
paciente.

• Cesárea eletiva
▪ DMG
- Suspender insulina da manhã.

▪ DM 1 e 2

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Rede Cegonha | 130

- Administrar 1/3 da dose da NPH manhã e instalar SG


a 7,5% (diluir 25ml de glicose a 50% em 500ml de SG a
5%)

- Dosar HGT de 2/2h com correção da glicemia com SG


7,5% (aumentando velocidade de infusão) se hipoglice-
mia ou insulina regular se hiperglicemia a fim de man-
ter níveis glicêmicos entre 70 e 126 mg/dL.

- Seguir esquema para correção com Insulina regular:

HGT < 200 não fazer


201 a 250 = 2UI
251 a 300 = 4UI
301 a 350 = 6UI
351 a 400 = 8UI
 400 = 10 UI

10. Assistência ao puerpério

- DMG - Dieta LIVRE e suspender medicações e HGTs;


- Incentivar a amamentação;
- Oferecer contracepção;
- Novo rastreio após 6 semanas na consulta de egresso;
- DM1 e DM2 – Manter dieta para diabético; vigiar sinais de hipo-
glicemia; atentar para infecções puerperais; orientar contracep-
ção; incentivar amamentação; manter HGT durante internação.
Retornar valores de insulinoterapia pré-gestacional gradativa-
mente, ou se fazia uso de hipoglicemiante oral, retornar uso antes
da alta.

11. Avaliação pós-parto

Na puérpera com diabetes gestacional orienta-se a suspensão da


terapia farmacológica antidiabética e em seis semana a realização
de Teste Oral de Tolerância à Glicose ou glicemia de jejum con-
forme viabilidade. Segue abaixo as considerações quanto aos re-
sultados desses exames.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 131

Puérperio - 6 semanas

TOTG 75G
Jejum e 2h

Jejum: 100 a 125 Jejum < 126 mg/dL


Jejum < 100 mg/dL Jejum > 126 mg/dL
mg/dL e 2a. hora: 144 a 199
e 2a. hora < 140 e/ou 2a. hora >=200
e 2a. hora < 140 mg/dL
mg/dL mg/dL
mg/dL

Glicemia de Intolerância à
Glicose Diabetes
Normal jejum alterada Mellitus

Fluxograma 5: Avaliação pós-parto (fonte MS, 2017).

Após o primeiro rastreio negativo, recomenda-se avaliação anual


por meio da glicemia de jejum e/ou TOTG 75 g ou pela medição da
HbA1c.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 133

DISTÚRBIOS DO LÍQUIDO AMNIÓTICO

1. INTRODUÇÃO

O líquido amniótico é o fluido que envolve o feto após as primeiras


semanas e durante grande parte da gestação, sendo composto por água
(98%) e elementos sólidos orgânicos e inorgânicos (2%). Ele deriva quase
inteiramente do feto e possui funções essenciais para o crescimento e de-
senvolvimento fetal.
O principal mecanismo responsável pela produção do líquido am-
niótico é o trato urinário, seguido da secreção traqueal e membranas fe-
tais. Já a eliminação é realizada pelo trato gastrointestinal (deglutição fe-
tal), trato respiratório (movimentos respiratórios fetais) e reabsorção in-
tramembranosa.
As alterações do volume de líquido amniótico, oligoâmnio ou poli-
drâmnio, estão associadas a efeitos adversos como: ruptura prematura de
membranas, anomalias congênitas fetais (obstrução do trato urinário ou
gastrointestinal, anormalidade renal), anormalidades cromossômicas fe-
tais (trissomia 18) e insuficiência uteroplacentária (restrição do cresci-
mento fetal).
O polidrâmnio pode ser agudo ou crônico. A forma aguda geral-
mente é grave e evolui para trabalho de parto prematuro e elevados índi-
ces de mortalidade perinatal. A forma crônica é diagnosticada com maior
frequência no terceiro trimestre da gestação e a evolução fetal é mais fa-
vorável.

2. DIAGNÓSTICO

O exame ultrassonográfico é o único método clínico para avaliar o


volume de líquido amniótico.

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Rede Cegonha | 134

2.1 Avaliação qualitativa

Realizada de forma subjetiva, ou seja, sem medidas ultrassonográfi-


cas e baseada na experiência clínica do examinador.

2.2. Avaliação semiquantitativa

➢ MAIOR BOLSÃO

• Oligoâmnio <2 cm
• Normal ≥2 cm e <8 cm e
• Polidrâmnio ≥8 cm (método limitado para casos de am-
niorrexe prematura)

➢ ÍNDICE DE LIQUIDO AMNIÓTICO

• Oligoâmnio ≤5 cm (Oligoâmnio severo < 3)


• Normal >5 cm e <24 cm
• Polidrâmnio ≥24cm
✓ ILA entre 25 e 29: polidrâmnio leve
✓ ILA entre 30 e 34: polidrâmnio moderado
✓ ILA igual ou maior que 35 cm: polidrâmnio severo

Em gestações múltiplas, o volume do líquido amniótico deve ser


avaliado através da medida do maior bolsão vertical, em cada uma das ca-
vidades.

3. CONDUTA

A conduta nos distúrbios do líquido amniótico deverá ser direcio-


nada de acordo com a etiologia, quando se identifica uma causa etiológica
potencialmente tratável.

3.1 OLIGOÂMNIO

• ETIOLOGIA

A investigação da causa do oligoâmnio deve considerar:


o Avaliação materna
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 135

➢ Uso de medicamentos como anti-inflamatórios e inibido-


res da enzima conversora da angiotensina (indicar a pa-
rada imediata do uso destes)
➢ Rotura prematura de membranas ovulares
➢ Doenças maternas que podem cursar com alterações pla-
centárias (pré-eclampsia, HAC, trombofilia, tabagismo).

o Avaliação fetal

➢ Avaliar malformações fetais, principalmente do aparelho


urinário (cariótipo fetal deve ser solicitado em casos sele-
cionados)
➢ Restrição de crescimento, pós-datismo, óbito intrauterino
➢ Transfusão feto-fetal em gemelares.

• TRATAMENTO

Não existe tratamento eficaz a longo prazo para o oligoâmnio.

o A hidratação materna (1-2L de água) pode aumentar transito-


riamente o volume de líquido amniótico nos casos de oligoâm-
nio como achado isolado.
o A amnioinfusão é um procedimento invasivo, de disponibili-
dade limitada e que também só aumenta transitoriamente o
volume de líquido amniótico. Pode ser útil apenas para avali-
ação morfológica fetal em casos de anidrâmnio.

• MOMENTO E VIA DE PARTO

o A idade gestacional para interrupção da gestação ainda é con-


troversa, podendo o parto ser antecipado na presença de alte-
rações maternas ou fetais.
o Nas gestações pré-termo a conduta expectante é indicada,
com internação hospitalar e com monitorização da vitalidade
fetal, do volume de líquido amniótico e crescimento fetal.
o Casos de oligoâmnio idiopáticos não devem ultrapassar as 37
semanas.
o O uso de prostaglandinas para indução do parto não está con-
traindicado.

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Rede Cegonha | 136

o Nos casos de ILA < 3 cm, idiopáticos, sugere-se interrupção


através de cesariana.
o Nos casos de rotura prematura de membranas ou restrição de
crescimento fetal, aplicar protocolos específicos conforme a
idade gestacional.

3.2 POLIDRÂMNIO

• ETIOLOGIA

A investigação da causa do polidrâmnio deve considerar:

o Avaliação Materna

➢ Teste oral de tolerância à glicose para afastar diabetes.


➢ Pesquisa de anticorpos irregulares para afastar a isoi-
munização.
➢ Sorologias para toxoplasmose, sífilis e parvovírus B19.

o Avaliação Fetal

➢ Avaliação detalhada da anatomia fetal através da ul-


trassonografia em especial do trato digestivo superior.
➢ Ausência do estômago ou o estômago pequeno pode
ser sugestivo de atresia de esôfago.
➢ Imagem da dupla bolha gástrica pode ser sugestiva de
atresia ou estenose duodenal.
➢ Dilatação intestinal sendo sugestiva de obstrução in-
testinal.
➢ Cariótipo fetal.

• TRATAMENTO

No manejo do polidrâmnio idiopático, a conduta baseia-se em evitar


o desconforto materno e afastar a possibilidade de parto prematuro.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 137

o AMNIODRENAGEM

Nas pacientes com polidrâmnio grave (ILA≥35 cm ou maior bolsão≥


16cm) que causa dispneia materna progressiva e dor abdominal persis-
tente, a amniocentese é indicada.
A drenagem geralmente é eficaz, porém, em poucos dias o polidrâm-
nio pode se refazer.

o INIBIDORES DAS PROSTAGLANDINAS (INDOMETA-


CINA)

Atuam diminuindo a filtração glomerular fetal com consequente re-


dução da produção de urina fetal e favorecem a reabsorção pulmonar e a
passagem do líquido através das membranas, promovendo, dessa forma,
uma diminuição na quantidade de líquido amniótico.
O uso desses inibidores não está indicado a partir de 32 semanas de-
vido aos seus importantes efeitos colaterais fetais, como o fechamento
precoce do ducto arterioso, assim como a ocorrência de enterocolite ne-
crotizante e insuficiência renal fetal.
A dose recomendada é de 50 mg/8-12 horas por um período máximo
de 05 a 07 dias.
Deve-se realizar controle ecocardiográfico fetal a cada 24-48 horas
e antes de iniciar o tratamento para detectar precocemente uma possível
restrição do ducto arterioso.

• MOMENTO E VIA DE PARTO

o A idade gestacional para interrupção vai depender da etiolo-


gia e da gravidade do polidrâmnio.
o Pacientes com polidrâmnio leve a moderado, com perfil biofí-
sico fetal normal, a indução do trabalho de parto com 39/40
semanas é orientada, pois o risco de óbito fetal aumenta a
longo prazo.
o No polidrâmnio grave, a indução deve ser feita com 37 sema-
nas para minimizar o risco de prolapso de cordão e descola-
mento prematuro de placenta.
o O parto deve ser realizado entre 34-37 semanas nas pacientes
com sintomas intoleráveis e que não respondem a amniocen-
tese.

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Rede Cegonha | 138

o A melhor via de parto seguirá as indicações obstétricas, le-


vando-se em conta as condições disponíveis ao nascimento em
cada serviço.
o Há um aumento do risco para a ocorrência de atonia uterina e
embolia amniótica pós-parto portanto, a administração de mi-
soprostol profilático (400 mcg VR) deve ser considerada.

4. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES

• É necessário afastar as malformações nefrourológicas e neu-


rológicas no oligoâmnio e as digestivas, cardíacas e neurológi-
cas no polidrâmnio.
• As principais causas de alteração do volume de líquido amnió-
tico são a rotura prematura de membranas e a restrição de
crescimento fetal no oligoâmnio e o diabetes no polidrâmnio.

REFERÊNCIAS

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(replaces Technical Bulletin Number 188, January 1994). Clinical management
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Garrido AG, Silva Filho ET, Silva Netto JP, Ferreira AC. Avaliação ecográfica do
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leira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 139

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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 140

DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL


(DHPN)

1. DEFINIÇÃO

Aloimunização é a resposta imunológica a um antígeno (Ag) da


mesma espécie. Embora mais de 40 antígenos eritrocitários já tenham sido
associados à DHPN, aqueles pertencentes aos grupos ABO e Rh são os prin-
cipais responsáveis por esse processo patológico (98% dos casos). Outros
antígenos, chamados de irregulares, raramente causam doença e, quando
causam, em geral têm apresentação branda.
Apesar da incompatibilidade ABO responder pela maioria dos casos,
a doença decorrente da produção de anticorpos (Ac) a partir do fator Rh
(aloimunização Rh), tem maior relevância devido sua gravidade, sendo
responsável por cerca de 80% dos casos de doença clinicamente detectá-
vel.

1.1 SISTEMA ABO

• Engloba dois antígenos: A e B. A produção de Ac por um indivíduo


acontecerá sempre que houver contato de seu sangue com hemá-
cias que possuam um ou mais Ag não encontrados em suas células
vermelhas.

Pessoas A produzem Ac contra Ag B


Pessoas B produzem Ac contra as A
Pessoas AB não produzem Ac (receptor universal)
Pessoas O produzem Ac contra o Ag A e o B, mas nenhum Ac é
produzido contra ele (doador universal).

Para existir incompatibilidade ABO, a mãe deve ser O e o feto A, B ou


AB

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 141

• Não há necessidade de exposição prévia da mãe a sangue A, B ou


AB para o desenvolvimento de Ac anti-A ou anti-B, eles já são na-
turalmente encontrados no organismo através, por exemplo, da
exposição a bactérias com esses Ag. Os Ag A, B e O são encontrados
em outras células e tecidos do organismo, exceto cérebro.

• Incide em 25-30% das gestações, porém, somente 2-5% dos fetos


apresentam evidências clínicas de hemólise, geralmente branda,
com icterícia precoce (< de 24h após o parto). Isso se explica pelo
fato de que a bilirrubina sérica é retirada pela placenta e trans-
portada para a mãe. Há poucos sítios antigênicos anti-A e anti-B
nas hemácias e a maioria dos Ac produzidos são IgM de alto peso
molecular que não atravessam a barreira placentária.

• Protege o feto parcialmente contra a incompatibilidade Rh (hemá-


cias ABO incompatíveis são destruídas antes de estimular o sis-
tema imunológico materno a formar Ac anti-Rh).

1.2 SISTEMA RH (Rhesus)

• É o mais complexo, com vários antígenos e proteínas. Dentre os


antígenos o mais implicado na aloimunização é o Ag D que deter-
mina se o indivíduo é positivo, se ausente, o indivíduo é Rh nega-
tivo.

• O indivíduo Rh negativo que possui a variante Du, por exemplo, se


comporta como Rh positivo e não desenvolve Ac anti-D (anti-Rh).
Os Antígenos do sistema Rh são encontrados apenas nas membra-
nas das hemácias e raramente levam à produção de Ac naturais,
sendo produzidos após transfusão incompatível ou gestação de
feto Rh positivo.

1.3 ANTÍGENOS ATÍPICOS OU IRREGULARES

• Respondem por 2% dos casos de DHPN. A sensibilização por eles é


rara, geralmente após transfusão, alguns podendo causar doença
hemolítica rara (anti-Kell, anti-Duffy, anti-M, anti-N), devendo ser
conduzidos da mesma forma que pacientes com Ac anti-D.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 142

Embora as circulações fetais e maternas sejam separadas, pode ha-


ver uma mistura pré-natal de sangue fetal e materno, mesmo em mulhe-
res assintomáticas. Alguns eventos potencializam a sensibilização em mu-
lheres Rh negativas na gravidez:

• Biópsia de vilocorial, amniocentese, cordocentese


• Abortamento ou aborto espontâneo
• Gravidez ectópica
• Aspiração da gravidez molar
• Interrupção terapêutica da gravidez
• Hemorragia anteparto
• Trauma abdominal
• Morte fetal intra-uterina
• Versão cefálica externa
• Parto

Apesar das recomendações existentes em relação à profilaxia com


imunoglobulina anti-D serem divulgadas e conhecidas, a aloimunização
materno-fetal ainda afeta cerca de cinco a cada 1.000 gestações.

2. FISIOPATOLOGIA

Devido à sua maior relevância e gravidade, discutiremos apenas a fi-


siopatologia relacionada ao SISTEMA RH (Rhesus).
O processo inicia com a passagem de hemácias fetais, Rh positivo,
para a circulação sanguínea em mulheres Rh negativo. Com isso, ocorre a
produção de anticorpos específicos que cruzam a placenta indo aderir-se
à membrana do eritrócito Rh positivo causando hemólise fetal.
O feto procura compensar a destruição de suas hemácias pelo incre-
mento na eritropoiese medular e, mais tardiamente, pelo aparecimento
de focos extramedulares de eritropoiese no fígado, baço, rins e placenta.
Isso leva à hepatoesplenomegalia e ao aparecimento de células imaturas,
principalmente reticulócitos e eritroblastos, circulando no sangue perifé-
rico, e, por isso, justificando o termo eritroblastose fetal.
Quando o processo atinge intensidade suficiente para a velocidade
de hemólise superar à de formação de novas células sanguíneas, instala-
se a anemia. A persistência do processo hemolítico gera hepatomegalia
crescente, ocasionando alteração na circulação hepática com hipertensão
portal; concomitantemente, a função do hepatócito é afetada, provocando
hipoalbuminemia. Tal associação pontua o início do aparecimento da
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 143

ascite, hipoproteinemia grave com anasarca, caracterizando a


hidropisia.

Figura 1: Representação esquemática da fisiopatologia da Aloimunização Rh. (Fonte:


Protocolo Febrasgo 2018).

Para a ocorrência do quadro clínico da DHPN são necessários dois


contatos do sangue fetal com o sangue materno: no 1º contato, ocorre a
resposta imunológica primária com formação de Ac da classe IgM incapa-
zes de atravessar a barreira placentária; no 2º contato, há formação de
resposta secundária, com formação de Ac da classe IgG que atravessam a
placenta e causam dano fetal. A cada nova exposição, o processo tende a
se acentuar e o acometimento fetal será, em geral, mais precoce e mais
grave do que na gestação anterior.

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Rede Cegonha | 144

3. DIAGNÓSTICO

3.1 CLÍNICO

A história clínica pode levantar suspeita: número de partos, aborta-


mentos, passado de filho com icterícia grave, hidropsia e/ou morte (ge-
ralmente após nascimento de 1-2 filhos normais).

3.2 LABORATORIAL

• Tipagem sanguínea materna: Toda gestante deve ser submetida à


investigação do tipo sanguíneo e fator Rh.

• Tipagem sanguínea paterna: Naquelas gestantes Rh negativo, o


risco de sensibilização ocorre quando o pai é Rh positivo.

Obs.: Em caso de desconhecimento, técnicas de Reação em Cadeia


da Polimerase (PCR) no plasma materno são capazes de identificar
sequências de DNA fetal livres. Parceiro homozigoto (DD) gera
100% dos filhos Rh positivos, enquanto que nos heterozigotos, a
chance será de 50%, podendo ser pesquisado a genotipagem do
parceiro para estabelecer precisamente o diagnóstico.

• Pesquisa dos anticorpos antieritrocitários através do teste de


Coombs Indireto (TCI): Deve ser realizada na primeira visita pré-
natal e repetida na 28ª semana de gestação. O TCI é a identificação
do Ac no plasma materno, usado como marcador de risco da do-
ença e não para definir sua gravidade, sendo possível doença
grave em pacientes com níveis baixos ou doenças menos graves
em pacientes com níveis elevados.

• A toda gestante com história de hidropisia fetal ou neonatal, com


mau passado obstétrico, hemotransfusão ou uso de drogas deve
ser solicitado o TCI, independentemente da tipagem Rh (positivo
ou negativo). A sensibilização materna só é caracterizada quando
esse exame é positivo, isto é, existem anticorpos antieritrocitários
na circulação materna.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 145

• Nos casos em que o resultado é negativo, a gestante é considerada


de risco para a sensibilização, sendo orientada a realizar a profi-
laxia ante e pós-natal. Quando for caracterizada a DHPN por TCI
positivo, esta só terá repercussão clínica importante quando a ti-
tulação for superior ou igual a 1:16, visto que níveis inferiores a
esse não oferecem risco de anemia moderada ou severa na grande
maioria dos casos. Nos casos de TCI com títulos menores que 1:16,
este exame deve ser repetido mensalmente ate 24 semanas e quin-
zenalmente até 36 semanas.

3.3 AVALIAÇÃO DA ANEMIA FETAL

➢ Métodos invasivos

• Amniocentese (espectrofotometria do LA): hoje substituída pelo


doppler.

• Cordocentese: padrão-ouro de avaliação da anemia fetal, permite


dosar hematócrito (Htc) e hemoglobina (Hg), confirmar tipagem
sanguínea fetal e quantidade de Ac eritrocitários presente na cir-
culação fetal (Coombs Direto), além da realização de terapêutica
intrauterina, através de transfusão sanguínea. Devido aos riscos
relacionados ao procedimento (hemorragia feto-materna, acentu-
ando a gravidade da doença), fica restrita aos casos em que há
forte suspeita de anemia fetal avaliada pelo estudo dopplerveloci-
métrico visando sua confirmação e tratamento.

➢ Métodos não-invasivos

• Cardiotocografia: alterações clássicas que indicam prognóstico


adverso, como ausência de variabilidade e desacelerações tardias,
e o padrão característico que indica fase terminal da doença, a
“oscilação sinusóide”. Não tem grande valia na definição de con-
duta, pois se altera geralmente em fases avançadas da doença.

• Ultrassonografia: É método propedêutico pouco sensível para pre-


dizer os estados anêmicos do concepto, detectando-os apenas nos
estadios avançados. Os achados mais importantes são:

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Rede Cegonha | 146

o Aumento do líquido amniótico;


o Ascite incipiente (halo anecogênico ao redor da
bexiga e vesícula biliar, derrame pericárdico, e
nos fetos masculinos, aumento da hidrocele);
o Aumento da espessura placentária e surgimento
de áreas de maior ecogenicidade dispersas pelo
parênquima, sugerindo edema;
o Aumento da circunferência abdominal compatível
com hepatoesplenomegalia;

A hidropsia fetal, grau máximo de comprometimento do concepto,


é caracterizada por pelo menos dois derrames serosos (ascite, derrame
pericárdico ou derrame pleural) acompanhado de edema de pele. A ultras-
sonografia só detecta alterações tardias e de gravidade acentuada e é útil
para guiar a cordocentese.

• Dopplervelocimetria: A avaliação do pico de velocidade sistólica


na artéria cerebral média (PVS-ACM) é o método mais eficaz, se-
guro, não invasivo, de fácil repetição e fornece de imediato o re-
sultado por ser método direto. O acompanhamento por estudo do-
ppler deve iniciar na 18ª semana em gestantes com TCI maior que
1:8. O feto anêmico tende a apresentar valores de velocidade má-
xima do pico sistólico acima do limite esperado para determinada
idade gestacional (IG). Valores entre 1,29 e 1,5 MoM são preditores
de anemia leve e acima de 1,5 MoM, preditores de anemia mode-
rada a grave. Três mensurações da velocidade do pico sistólico são
obtidas e a maior é registrada. Quando o PVS-ACM apresentar va-
lores acima de 1,5 múltiplos da mediana, para a idade gestacional
correspondente estamos frente à anemia moderada ou grave com
sensibilidade de 100% segundo vários autores.

Na DHPN não há alteração na placentação, sendo o doppler das ar-


térias uterinas e umbilicais usualmente normais, independente da gravi-
dade da anemia fetal, exceto quando existem outras doenças associadas
como pré-eclâmpsia.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 147

4. CONDUTA

• Nas gestações com Teste de Coombs Indireto negativo, sem histó-


ria de sangramento, sugere-se a repetição do exame ao redor da
28ª semana (antes disso não há consenso) e, caso permaneça nega-
tivo, faz-se a profilaxia antenatal com imunoglobulina anti-D.
Caso não seja possível, deve-se repetir o TCI com 32, 36 e 40 sema-
nas.

• Nas gestantes sensibilizadas com TCI ≤ 1:8, repetir mensalmente


(não precisa rastrear anemia). É possível existir diferenças nos tí-
tulos de Ac entre laboratórios, por isso, idealmente, deverão ser
titulados no mesmo laboratório. Somente aumento de mais de
uma titulação deverá ser considerada ascendente quando reali-
zada em laboratórios distintos.

• Nas gestantes sensibilizadas com TCI ≥ a 1:16, deve-se fazer o


acompanhamento através da análise dopplervelocimétrica do
pico de velocidade sistólica da artéria cerebral média.

➢ Nos fetos cujo pico da velocidade sistólica da artéria cere-


bral média é acima de 1,5 múltiplo de mediana (MoM),
com idades gestacionais superiores a 34 semanas, o parto
deve ser imediato. Abaixo de 34 semanas, a avaliação deve
ser cuidadosa e discutida com equipe de medicina fetal,
neonatologia, sempre com a participação da paciente.
➢ Valores de PVS-ACM acima de 1,5 MoM relacionam-se com
hematócrito abaixo de 30% (falso-positivo de 12%), sendo
indicado cordocentese (risco de 2% de óbito) para confir-
mação de anemia e indicação de hemotransfusão. A trans-
fusão intraútero (TIU) está indicada em casos de doença
grave (Htc < 30%, Hg < 10g/dL ou hidrópicos) em fetos
muito prematuros.
➢ Pode ser feita após 20 semanas (cordão mais espesso, in-
fundindo sempre o sangue O negativo, após prova cruzada
e irradiação) para obter um Htc entre 40-45%. Após a pri-
meira, o seguimento não será mais por doppler, e sim, por
cordocentese a cada 2 a 21 dias, de acordo com os níveis

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Rede Cegonha | 148

hematimétricos de cada transfusão, considerando que o


Htc tende a diminuir 1% ao dia.
➢ Estando a PVS-ACM abaixo da mediana para a idade ges-
tacional, não há hipercinesia e, portanto, não há anemia
fetal que necessite intervenção. Reavaliar a cada uma a
duas semanas.
➢ Estando a PVS-ACM entre a mediana e 1,5 MoM, pode ha-
ver anemia fetal, embora não justifique a cordocentese
(provavelmente os níveis de Hg não atingiram determi-
nado grau que justifique transfusão). Reavaliar a cada uma
a duas semanas.

A cesariana é a via de parto preferencial para fetos gravemente aco-


metidos. Após 35 semanas, há aumento das taxas de resultados falso-posi-
tivos, portanto, valores alterados próximos ao termo indicam a interrup-
ção da gravidez (fazer exsanguíneotransfusão após o nascimento).

5. PROFILAXIA

• Administração de imunoglobulina anti-D após o parto, com


300mcg de Imunoglobulina anti-D entre 72 horas até 28 dias, res-
saltando-se que, quanto menor o intervalo entre o evento e a apli-
cação da imunoglobulina, maior a eficácia.

A imunoglobulina profilática anti-D deve ser oferecida a mu-


lheres Rh D-negativas não sensibilizadas com 28 semanas de
gestação pois diminui o risco de aloimunização de 2% para
0,1% e neutraliza o sangue fetal até as 40 semanas de gestação.

• Se não disponível, manter vigilância materna com TCI mensal ou


na 32a, 36a e 40a semanas. A meia-vida é de 24 dias, porém, após a
administração, títulos baixos de Ac poderão ser detectados no san-
gue materno por várias semanas e o TCI ficará positivo pela pre-
sença da Imunoglobulina, mas não deverá ser maior que 1:4 com
35 semanas. Se o parto ocorrer até 3 semanas após a dose profilá-
tica, é possível abrir mão de nova dose no puerpério. Passado esse
período, justifica-se aplicar nova dose.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 149

• Em casos de abortamento, gestação molar ou ectópica, sangra-


mentos genitais e trauma abdominal na gravidez, biópsia de vilo
corial, amniocentese, cordocentese, versão cefálica externa ou
feto morto em pacientes Rh negativo, com TCI negativo e parceiro
Rh positivo ou desconhecido, deve-se proceder com a profilaxia
administrando-se 300μg de anti-D intramuscular, preferencial-
mente nas primeiras 72 horas após o evento, reaplicada a cada 12
semanas naquelas que se mantenham grávidas.

• A dose de 10μg da imunoglobulina é capaz de neutralizar 1 ml de


sangue fetal Rh positivo, assim, 300μg neutralizam 30ml de sangue
fetal transfundido. No Brasil, as únicas apresentações disponíveis
são de 250 e 300μg.

A imunoglobulina anti-D parece persistir por aproximada-


mente 12 semanas na maioria dos pacientes, com base em es-
tudos farmacocinéticos.

• Gestantes Rh negativo submetidas a laqueadura tubária também


deverão receber imunoglobulina anti-D.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de


Ações Programáticas Estratégicas. Manual Técnico de Gestação de Alto Risco. Sé-
rie A. Normas e Manuais Técnicos. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a
Saúde – 5º edição, Brasília – DF, 2012. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gesta-
cao_alto_risco.pdf

Crowther CA, Middleton P, Mcbain RD. Anti-D administration in pregnancy for


preventing Rhesus alloimmunisation (Review). The Cochrane Collaboration. n. 2,
p. 1 – 29, 2013. Disponível em: https://www.cochraneli-
brary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD000020.pub2/epdf/full

Fung Kee Fung K, Eason E, Crane J, Armson A, De La Ronde S, Farine D, et al. Pre-
vention of Rh alloimmunization. J Obstet Gynaecol Can. 2003;25(9): 765-73. Dispo-
nível em: http://www.jogc.com/article/S1701-2163(16)31006-4/pdf

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 150

McBain RD, Crowther CA, Middleton P. Anti-D administration in pregnancy for


preventing Rhesus alloimmunisation. Cochrane Database of Systematic Reviews
2015, Issue 9. Art. No.: CD000020.

Nardozza LM. Doença hemolítica perinatal. São Paulo: Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO
- Obstetrícia, no. 36/ Comissão Nacional Especializada em Medicina Fetal).

Practice Bulletin No. 181: Prevention of Rh D Alloimmunization, Obstetrics &


Gynecology: August 2017 - Volume 130 - Issue 2 - p e57-e70.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 151

DOENÇA TROFOBLÁSTICA
GESTACIONAL (DTG)

1. DEFINIÇÃO

É uma anomalia proliferativa do cito e sinciciotrofoblasto com dife-


rentes estágios histológicos que diferem na regressão, invasão, metástase
e recorrência. Porém, todas as formas possuem como marcador a gonado-
trofina coriônica humana (hCG).

2. CLASSIFICAÇÃO

Mola Hidatiforme Completa (MHC) - geralmente resulta da fecundação


de um oócito sem material genético por um espermatozóide haplóide que
se duplica. Não há tecido embrionário, mas uma hidropisia difusa e hiper-
plasia trofoblástica.

Mola Hidatiforme Parcial (MHP) - o cariótipo é triplóide, em sua maioria


resultante da fertilização de um oócito haplóide por dois espermatozói-
des. Caracteriza-se por edema focal de vilosidades coriônicas e presença
de tecidos fetais.

Mola Invasora (MI) - representa a invasão miometrial de 10-17% das mo-


las hidatiformes. Seu diagnóstico é clinico-hormonal no seguimento am-
bulatorial da paciente com gestação molar.

Coriocarcinoma (CorioCa) – pode resultar de qualquer evento gravídico


(50% origina-se da mola hidatiforme, 25% de abortamento ou gestação ec-
tópica e 25% de gestações normais) (Braga et al, 2018). É uma doença ma-
ligna com hiperplasia e anaplasia trofoblástica anormal. Caracteriza-se
por hemorragia e necrose, além de altos níveis de hCG.

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Rede Cegonha | 152

3. FATORES DE RISCO

Os fatores de risco mais bem estabelecidos para MH são:

• Extremos de idade materna (fase reprodutiva);


• História prévia de DTG (um episódio prévio aumenta em 10 a 15
vezes o risco de MH em relação à população geral);
• Para coriocarcinoma: MHC prévia e idade materna avançada.

4. QUADRO CLÍNICO

4.1 MOLA HIDATIFORME COMPLETA

A maioria das pacientes apresentam sangramento transvaginal entre


8 e 12 semanas gestação. Quando a gestação atinge o segundo trimestre
podem ser observados outros sinais e sintomas como crescimento uterino
anormal, massas anexiais (cistos tecaluteínicos nos ovários), hiperêmese
gravídica, sinais precoces de pré-eclâmpsia e quadro clinico de hipertire-
oidismo.

4.2 MOLA HIDATIFORME PARCIAL

Cursa na maioria das vezes com sintomas de abortamento, principal-


mente sangramento, e o diagnóstico é dado após avaliação histológica do
produto da curetagem.

4.3 NTG (Coriocarcinoma, mola invasora e tumor trofoblástico de sítio placentário)

Normalmente apresenta sangramento persistente e irregular após


esvaziamento molar ou subinvolução uterina pós-parto acompanhada de
hemorragia. Na presença de metástases, a clínica pode variar, pois de-
pende dos locais acometidos (cefaleia e convulsões nas metástases cere-
brais ou dispneia e dor torácica nas metástases pulmonares, por exemplo).

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 153

5. CONDUTA

5.1 Na suspeita de gestação molar na emergência

✓ Exames laboratoriais

➢ Beta-hCG quantitativo (marcador tumoral);


➢ Tipagem sanguínea e fator Rh;
➢ Hemograma completo;
➢ Coagulograma;
➢ Perfil toxêmico (na suspeita de pré-eclampsia precoce);
➢ T4 livre e TSH (na suspeita de hipertireoidismo ou crise
tireotóxica).

✓ Ultrassom transvaginal

➢ MHC - material intracavitário ecogênico com múltiplas


vesículas anecóicas de tamanhos variados (imagens em
flocos de neve) e ausência de feto.
➢ MHP - área focal de espaços císticos na placenta e feto
malformado (triploide), restrito e com pouco líquido am-
niótico.

5.2 Na suspeita ou diagnóstico estabelecido de NEOPLASIA TROFO-


BLÁSTICA GESTACIONAL

✓ História e Exame físico completos

✓ Exames complementares

➢ US transvaginal;
➢ Rx de tórax;
➢ Hemograma completo;
➢ Coagulograma;
➢ Função renal e hepática.

✓ Outros exames de imagem (somente na paciente sintomática com


suspeita de metástases, a depender da localização)

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Rede Cegonha | 154

➢ TC de tórax se Rx normal;
➢ TC de abdome;
➢ TC/RNM de crânio.

6. TRATAMENTO

- Estabilizar clinicamente a paciente (se necessário) e proceder ao es-


vaziamento uterino por AMIU (método de escolha na maioria dos
casos); nos casos de MHP com feto, pode-se proceder primeiro a in-
dução do aborto molar e depois esvaziamento uterino.
- Reservar 2 concentrados de hemácias se o volume uterino for maior
que 16 semanas;
- Dilatação do colo uterino (cânulas) - se necessário;
- Aspiração do conteúdo uterino (vácuo-aspiração);

- ENVIAR MATERIAL PARA BIOPSIA!

- Infundir ocitocina no início do procedimento e manter após (10UI


em 1L soro fisiológico-50gts/min);
- Se Rh negativo, fazer imunoglobulina;
- Histerectomia e quimioterapia profilática somente em casos seleci-
onados.

Na alta hospitalar

- Prescrever contraceptivo (preferencialmente anticoncepcional oral


combinado ou injetável mensal/trimestral);
- Solicitar beta-hCG quantitativo para ser colhido uma semana após o
esvaziamento;
- Encaminhar para ambulatório de seguimento pós-molar;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 155

Foto 1: Vesículas da mola hidatiforme (“cacho de uva”) – acervo Hospital Universi-


tário Lauro Wanderley

7. SEGUIMENTO DA DTG

- Esclarecer a paciente sobre a patologia e a necessidade de manter o


acompanhamento;

- Não é necessário USG de rotina (solicitar somente se sangramento


persistente ou beta-hCG em platô ou ascensão);

- Manter contracepção durante todo o acompanhamento;

- Dosagem de beta-hCG:
Semanal até 3 valores consecutivos negativos (< 5,0 mUI/ml);
Quinzenais até 3 valores negativos;
Mensal até completar 6 meses.

- Alta ambulatorial após 6 meses de acompanhamento mensal com


beta-hCG negativo;

- Liberar paciente para nova gestação, se assim ela desejar, e orientar


pré-natal de baixo risco no posto de saúde de sua localidade.

- Para estimar o risco de a paciente evoluir com uma das formas de


NTG utiliza-se o escore da Tabela 1.

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Rede Cegonha | 156

Tabela 1 - ESCORE DE RISCO PARA PACIENTES COM MOLA HIDATI-


FORME COM MAIORES CHANCES DE DESENVOLVER NEOPLASIA TRO-
FOBLÁSTICA GESTACIONAL (FIGO, 2002)

Fatores Pontos de
prognósti- escore
cos
0 1 2 3
História de Parcial Completa Recorrente -
MH em ges-
tação ante-
rior e tipo
de MH à US
na gestação
atual
Tamanho < ou = 1 >1 >2 >3
uterino em
relação à IG
(meses)
Níveis de < 50.000 >50.000 a <100.000 a >1.000.000
beta-hCG <100.000 <1.000.000
(mUI/ml)
Diâmetro - <6 >6 a<10 >10
de cistos te-
caluteíni-
cos (cm)
Idade da - <20 >ou = 40 >50
paciente
(anos)
Complica- - > ou = 1 - -
ções associ-
adas (*)

(*) = hipertireoidismo, hiperêmese, embolização trofoblástica, CIVD.


Escore final: < 4 = baixo risco 4=alto risco

Nos casos de pontuação menor que quatro, paciente de baixo risco.


Naquelas que o escore foi maior ou igual a quatro, tem-se alto risco para
desenvolvimento de NTG.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 157

8. INVESTIGAÇÃO E DIAGNÓSTICO DE NTG

Nas pacientes em controle pós-molar, o diagnóstico de NTG pode


ser feito precocemente (em cerca de 6 a 8 semanas) por meio de análise da
curva individual de regressão do beta-hCG.
O Quadro a seguir mostra os indicadores para investigação de NTG de
acordo com os critérios da FIGO (2002).

Quadro 1 – INDICAÇÕES PARA INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO DE NTG

1- Níveis séricos de beta HCG-acima de 20000 mUI/ml, decor-


ridas 4 ou mais semanas após o esvaziamento uterino (em
razão do risco de perfuração uterina pelo tumor

2- Níveis séricos de beta-hCG quantitativo em ascensão (mais


de 10%) ou estáveis, em platô, respectivamente por 2 a 3
semanas consecutivas (dias 1, 7, 14, 21)

3- Diagnóstico histológico de CorioCa

4- Evidências de metástases no cérebro, fígado e/ou trato ge-


niturinário

5- Opacidades nos pulmões, identificadas pelo RX de tórax

6- Hemorragia persistente pós-esvaziamento molar na ausên-


cia de identificação de conteúdo molar na cavidade uterina

7- Presença de hCG nos líquidos corporais por 4 a 6 meses após


o esvaziamento molar

Se houver qualquer dos critérios acima, encaminhar para o Hospital


Napoleão Laureano para estadiamento e tratamento quimioterápico.
A NTG pode ser estadiada do ponto de vista anatômico de acordo
com a tabela 2.

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Rede Cegonha | 158

Tabela 2- ESTÁGIOS DA NEOPLASIA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL

ESTÁGIO CARACTERÍSTICAS
I Doença confinada ao útero
II Doença se estende além do útero, mas se limita às
estruturas genitais (anexos, vagina e ligamento
largo)
III Doença acomete pulmões com ou sem envolvimento
do trato genital
IV Doença acomete outros sítios de metástases

9. SEGUIMENTO DA NTG

• Manter contracepção durante todo o acompanhamento.

• Dosagem de beta-hCG após alta da QT:


- Quinzenal por 3 meses
- Mensal por um ano após remissão (primeiro valor negativo)
- Alta ambulatorial após 1 ano de acompanhamento com beta-
hCG negativo
- Liberar paciente para nova gestação, se assim desejar e orien-
tar pré-natal de baixo risco (encaminhar pro pré-natal de alto
risco somente em caso de nova gestação antes da alta)

REFERÊNCIAS

Berkowitz RS, Horowitz NS. Hydatidiform mole: Epidemiology, clinical features,


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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 160

EPILEPSIA E GESTAÇÃO

1. DEFINIÇÃO

Distúrbio do cérebro caracterizado por uma predisposição dura-


doura a gerar crises epilépticas. É uma condição heterogênea caracteri-
zada por vários tipos de convulsões, etiologias e prognósticos variáveis,
sendo a patologia neurológica mais frequente na gestação.
Mulheres com epilepsia têm um risco aumentado de uma série de
complicações perinatais em comparação com a população em geral, inclu-
indo pré-eclâmpsia, parto prematuro, hemorragia, restrição de cresci-
mento fetal, natimortalidade e um risco dramaticamente aumentado de
mortalidade materna.
Na maioria das mulheres portadoras de epilepsia, a gravidez não
tem efeito sobre a frequência das convulsões, sendo assim, se as crises es-
tiverem bem controladas, é provável que continuem assim durante a gra-
videz. No entanto, em aproximadamente 20% a 35% das gestações em mu-
lheres com epilepsia, ocorre um aumento da frequência de convulsões du-
rante a gravidez.
As razões para a recorrência das crises durante a gravidez são mul-
tifatoriais, incluindo a redução ou interrupção dos medicamentos anti-
convulsivantes, flutuações hormonais que levam a um aumento da relação
estrogênio/progesterona (especialmente nas semanas 8 a 16 de gravidez),
privação de sono e fatores psicossociais. A causa mais comum de recor-
rência de crises na gravidez, no entanto, é provavelmente a redução da
concentração plasmática das drogas antiepilépticas e alteração do meta-
bolismo das pacientes.

2. CONDUTA OBSTÉTRICA

• Drogas Anticonvulsivantes

Pacientes com distúrbios convulsivos que desejam engravidar pre-


cisam inicialmente ter o diagnóstico bem estabelecido, avaliar a

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 161

necessidade de drogas anticonvulsivantes e a dose mínima para manter o


controle das crises. Seria ideal que toda mulher epiléptica em idade repro-
dutiva fizesse uso de método anticoncepcional adequado e programasse
a gestação em condições que pudessem minimizar os riscos perinatais: em
monoterapia, na menor dose possível, com bom controle das crises
por cerca de um ano.
Se uma mulher ficou sem convulsões por um período satisfatório e
atende aos critérios gerais para considerar a interrupção dos medicamen-
tos, devemos realizar isso pelo menos 6 a 12 meses antes de engravidar,
pois o risco de recorrência das convulsões após a retirada é maior durante
esse período devido às alterações fisiológicas maternas e aquelas que
mantêm a medicação têm oscilações nos níveis séricos da droga.
Um dos principais efeitos adversos das drogas antiepilépticas no
feto e no recém-nascido é um risco aumentado de grandes malformações
congênitas (tubo neural, coração congênito e defeitos do trato urinário,
anormalidades esqueléticas e fendas orais). Também podem existir efeitos
tardios na função cognitiva e neurológica.
De maneira geral, não se deve suspender o tratamento farmacoló-
gico da epilepsia, durante a gravidez, sem a supervisão de um especialista.
Essa conduta está associada a risco de aumento do número de crises e
complicações maternas e fetais.
As pacientes que planejam a gestação devem utilizar monoterapia
com lamotrigina (LAMICTAL/LAMITOR – Cp 25/50/100mg - primeira li-
nha), pois é a droga que possui os dados mais abundantes e consistentes
para baixo risco teratogênico estrutural e do desenvolvimento neuroló-
gico durante a gravidez. Levetiracetam (Cp 250mg e 750mg) e oxcarbaze-
pina (Cp 300 e 600 mg) também são alternativas seguras.
O valproato (DEPAKOTE/DEPAKENE – Cp 125/250/300/500mg)
deve ser evitado em todas as situações, com a rara exceção de que pode
ser usado como último recurso quando outras drogas foram tentadas e
falharam em fornecer um controle adequado das crises. Se o valproato for
usado, ele deve ser prescrito na menor dose efetiva.
Fenitoína (HIDANTAL – Cp 100mg), fenobarbital (GARDENAL – Cp
50/100mg) e topiramato (AMATO/TOPAMAX – Cp 25/50/100mg) também
foram associados a taxas basais relativamente altas das principais malfor-
mações. Muitos regimes de politerapia com drogas antiepilépticas tam-
bém aumentam o risco, por isso devem ser evitados.
Nas gestações estabelecidas, o tratamento medicamentoso não
deve ser substituído unicamente para reduzir o risco de teratogenicidade.
A mudança pode gerar precipitação de crises convulsivas e a sobreposição
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Rede Cegonha | 162

de drogas expõe o feto a efeito de medicamento adicional. A vantagem é


limitada para mudança se a gravidez já foi estabelecida há semanas. Uma
possível exceção seria uma paciente em uso de valproato cujas convul-
sões não provaram ser refratárias a outras drogas. Nesse caso, a transição
do valproato a qualquer momento da gravidez (quanto mais cedo melhor)
pode diminuir o risco de atraso no desenvolvimento e autismo.

• Suplementação de ácido fólico

É recomendada para toda mulher com potencial para engravidar 1-3


meses antes da concepção e deve ser mantida durante a gestação para evi-
tar os defeitos do tubo neural.

A dose recomendada é de 5mg/dia

• Parto

A via de parto deve ser obstétrica. A cesariana eletiva deve ser reali-
zada em pacientes com convulsões frequentes no terceiro trimestre ou
história de mal epiléptico em situações de estresse acentuado.
A convulsão durante o parto deve ser tratada com benzodiazepínicos
intravenosos e sua ocorrência não deve alterar a via de parto. Deve ser
realizada monitorização fetal contínua e o rastreamento cardíaco fetal po-
derá ser temporariamente deprimido por uma convulsão materna.

• Pós-parto

Observar ajuste de drogas que foram alteradas durante a gravidez e


condições maternas para o cuidado com o recém-nascido, pois os fárma-
cos podem provocar sonolência e irritabilidade materna.

• Amamentação

Todas as medicações antiepilépticas podem passar para o leite ma-


terno, mas esta quantidade é muito menor do que a transmitida anterior-
mente através da placenta para o feto.
A amamentação, em princípio, deve ser recomendada para todas as
mulheres epilépticas, individualizando a conduta e levando em conside-
ração outros aspectos, como a segurança e os efeitos indesejados para os

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 163

recém-nascidos, bem como a privação do sono que pode ocorrer com o


aleitamento natural, o que pode ser deletério para o bom controle das cri-
ses.

PONTOS IMPORTANTES:
✓ Gravidez não é associada à piora ou à melhora no controle
das crises
✓ Não suspender a medicação antiepiléptica, caso já em tra-
tamento
✓ Evitar valproato
✓ Evitar politerapia
✓ Se a primeira convulsão acontecer na gestação, devemos
fazer diagnóstico diferencial com trombose venosa cere-
bral e eclâmpsia.

3. ESTADO DE MAL EPILÉPTICO (EME)

Define-se pela presença de:


• Crises epilépticas prolongadas (>5 minutos) ou repetidas sem me-
lhora evidente do nível de consciência entre elas; OU
• Flutuações inexplicadas do nível de consciência, tremores, desvios
oculares, piscamentos, clonias, abalos.

É uma condição resultante da falha dos mecanismos responsáveis


pelo término das crises epilépticas ou pelo desencadeamento de mecanis-
mos que levam ao prolongamento anormal das crises. Trata-se de uma
Emergência Médica.
O tratamento precoce e rápido reduz a mortalidade e a permanência
hospitalar. Deve ser considerado como sintoma de doença aguda sistêmica
ou neurológica a ser investigada e tratada.

3.1 CONDUTA

1. Avaliar as vias aéreas, respiração e circulação. (ABC)


2. Posicionar a paciente em decúbito lateral esquerdo
3. Acesso venoso calibroso (se possível dois acessos), mantenha
com solução salina fisiológica intravenosa (I.V.) a 30 gotas/mi-
nuto.

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Rede Cegonha | 164

4. Administre oxigênio inalatório.


5. Monitorar a frequência cardíaca, ritmo cardíaco e pressão ar-
terial
6. Monitorar a frequência respiratória e avaliar a necessidade de
intubação/ventilação
7. Evitar hipertermia
8. Colher hemograma, NA, K, Ca, Mg, função renal e hepática, gli-
cemia, gasometria arterial, sumário de urina.
9. Solicitar vaga em Unidade de Terapia Intensiva
10. Fenitoína (amp de 5ml com 50mg/ml-total de 250mg) –diluir
em 250-500ml de SF 0,9% (não usar SG) e fazer 15- 20 mg/kg
I.V. de dose total (em uma linha venosa diferente do diazepam,
velocidade <50 mg/min). É importante que a linha venosa seja
adequada, pois a medicação é cáustica é pode causar lesão lo-
cal, caso extravase. Administrar em veia calibrosa ou central,
com monitorização do ECG e da pressão arterial. Ex: paciente
de 60kg: 250ml de SF a 0,9% + 1200mg de fenitoina(4-5amp) e
fazer em 30min(40mg/min).

REFERÊNCIAS

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cas para Epilepsia. CONITEC 2019. Disponível em:http://conitec.gov.br/ima-
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Rede Cegonha | 166

GESTAÇÃO E HIV - MANEJO


OBSTÉTRICO E VIAS DE PARTO

1. INTRODUÇÃO

Toda gestante deve ser orientada sobre a importância da testagem


da infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) no pré-natal e
quanto aos benefícios do diagnóstico precoce, tanto para o controle da in-
fecção materna quanto para a prevenção da transmissão vertical (TV). Em
gestações planejadas, com intervenções realizadas adequadamente du-
rante o pré-natal, o parto e a amamentação, o risco de TV é reduzido a
menos de 1%, no entanto sem adequados planejamento e seguimento está
bem estabelecido que varia de 15% a 45%.

2. INDICAÇÃO DA VIA DE PARTO EM GESTANTES VIVENDO COM


HIV/AIDS

Em mulheres com carga viral DESCONHECIDA ou DETECTÁVEL após


34 semanas de gestação, a cesárea eletiva na 38ª semana de gestação dimi-
nui o risco de transmissão vertical. Estudo incluindo 12.486 mulheres no
Reino Unido/Irlanda evidenciou que quando a carga viral (CV) < 50 cópias
o risco de transmissão é igual a 0,09%, CV 50-399 cópias o risco de trans-
missão é igual a 1% e CV 400-999 cópias o risco de transmissão é de 2,6%.
Para gestantes em uso de antirretroviral e com supressão da CV susten-
tada (CV indetectável na 34ª. Semana), caso não haja indicação de cesárea
por outro motivo, a via de parto vaginal é indicada.

3. ASSISTÊNCIA AO PARTO VAGINAL

• Havendo condições favoráveis para o parto vaginal e estando este


indicado, iniciar o AZT intravenoso logo que a parturiente chegar
ao serviço, conforme o protocolo estabelecido, e manter a infusão
até a ligadura do cordão umbilical.
• Sabendo-se que o tempo de trabalho de parto está associado a

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 167

maior ocorrência de TV do HIV, nas situações de colo desfavorável


e ausência de atividade uterina deve-se considerar a realização de
parto por cesárea, com a intenção de evitar induções prolongadas.
• Diante da integridade da bolsa amniótica, a progressão normal do
trabalho de parto é preferível à sua indução, pelo risco de ruptura
artificial das membranas e aumento de risco de transmissão ver-
tical do HIV.
• Estão contraindicados todos os procedimentos invasivos durante
o trabalho de parto (amniocentese, amniotomia, escalpo cefálico).
• O parto instrumentalizado deve ser evitado mas, quando indicado,
o fórceps deve ser preferido ao vácuo-extrator. A aplicação do fór-
ceps (ou vácuo-extrator) só será admitida se houver uma indica-
ção obstétrica precisa e que supere os riscos maiores de infecção
da criança pelo procedimento.
• O trabalho de parto deve ser monitorado cuidadosamente, evi-
tando toques desnecessários e repetidos (usar o partograma).
Deve-se evitar que as parturientes permaneçam com bolsa rota
por tempo prolongado, visto que a taxa de transmissão vertical
aumenta progressivamente após 4 horas de bolsa rota.
• O uso de fármacos que aumentam a atividade uterina não está con-
traindicado e deve ser utilizado segundo os padrões de segurança
já conhecidos. A amniotomia artificial deve ser evitada, a menos
que extremamente necessária.
• A episiotomia só deve ser indicada após avaliação cuidadosa de
sua necessidade. Sendo realizada, a mesma deverá ser protegida
por compressas umedecidas com degermante (o mesmo utilizado
para degermar a vagina e períneo durante o parto). Manter a epi-
siotomia coberta pela compressa umedecida deve ser tarefa de um
auxiliar, visto ser impossível para um único profissional dar assis-
tência ao parto e evitar o contato direto do nascituro com a episi-
otomia.

Frente à previsão de um parto demorado ou distócico, deve-


se considerar a resolução por cesariana.

• Diante de trabalho de parto prematuro, deve-se introduzir AZT


intravenoso materno concomitantemente à inibição medicamen-
tosa do parto, à investigação de causas infecciosas e seus respecti-
vos tratamentos e ao uso de corticosteroides para maturação
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pulmonar. Ao se conseguir a inibição do parto, o AZT intravenoso


deve ser descontinuado.

4. ASSISTÊNCIA À CESARIANA

• A cesárea eletiva deve ser realizada a partir da 38ª semana de ges-


tação, a fim de se evitar a prematuridade e/ou o trabalho de parto
e a ruptura prematura das membranas.
• Confirmar a idade gestacional adequadamente utilizando parâme-
tros obstétricos como data da última menstruação correta, altura
uterina, ultrassonografia precoce (preferencialmente no 1° tri-
mestre, ou antes, da 20ª semana).
• Caso a gestante com indicação para a cesárea eletiva inicie o tra-
balho de parto antes da data prevista para a cirurgia e chegue à
maternidade com dilatação cervical mínima (menor que 4 cm), o
obstetra deve iniciar a infusão intravenosa do AZT e realizar a ce-
sárea, se possível, após 3 horas de infusão.
• Realizar a completa hemostasia de todos os vasos da parede abdo-
minal.
• Realizar troca das compressas ou campos secundários antes de se
realizar a histerotomia, minimizando o contato posterior do re-
cém-nascido com sangue materno.
• Utilizar antibiótico profilático, tanto na cesárea eletiva quanto na-
quela de urgência: dose única endovenosa de 2g de cefalotina ou
Cefazolina (60 min antes da incisão).

5. ASSISTÊNCIA AO RN NO MOMENTO DO PARTO

• Sempre que possível, proceder ao parto empelicado (retirada do


neonato mantendo as membranas íntegras).
• A ligadura do cordão umbilical deve ser imediata à expulsão do
feto, não devendo ser executada, sob nenhuma hipótese, a orde-
nha do cordão.

ATENÇÃO: Quando ocorrer hemorragia pós-parto por atonia uterina,


não se deve administrar derivado do ergot se as parturientes fizerem
uso de medicamentos inibidores da enzima citocrômica P, CYP450 e
CYP3A4 (inibidores de protease: lopinavir, ritonavir, saquinavir, ata-
zanavir). O uso concomitante de IP e derivados do ergot está associado
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 169

a respostas vasoconstritoras exageradas e isquemias periféricas e cen-


trais graves. Havendo condições clínicas, preferir ocitocina ou miso-
prostol.

6. ASSISTÊNCIA AO PUÉRPERIO

• A puérpera deverá ser orientada quanto à importância de seu


acompanhamento clínico e ginecológico, assim como sobre o
acompanhamento da criança até a definição de situação imunoló-
gica. É muito comum, após o parto, haver diminuição da adesão da
mulher ao tratamento, principalmente, o não comparecimento a
consultas agendadas em serviço de referência para HIV, quando o
diagnóstico é feito na maternidade. O comparecimento às consul-
tas deve ser estimulado e monitorado, lançando-se mão de busca
ativa, se necessário.
• O seguimento obstétrico da mulher com HIV no puerpério, salvo
em situações especiais de complicações ocorridas durante o parto
e o puerpério imediato, é igual ao de qualquer outra mulher, de-
vendo-se prever o retorno entre o 5º e o 8º dia e no 42º dia pós-
parto.
• A caderneta da gestante tem informações importantes para o
acompanhamento da criança e para futuras gestações. Por esse
motivo, deverá ser devolvida a puérpera com todas as anotações
referentes ao período da internação para o parto.
• E necessário considerar que mulheres que não amamentam ten-
dem a ter um período menor de amenorreia, podendo voltar a
ovular a partir de quatro semanas após o parto.
• Sempre orientar uso de preservativo.
• As mulheres e suas parcerias devem ser acompanhadas com ações
de saúde sexual e planejamento reprodutivo, para que façam es-
colhas de forma consciente e segura.

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7. INDICAÇÃO DE ZIDOVUDINA (AZT) NA PROFILAXIA DA TRANS-


MISSÃO DO HIV NO PARTO E PUERPÉRIO

• DURANTE O PARTO

O AZT injetável é indicado para a prevenção de transmissão vertical


e deve ser administrado durante o início do trabalho de parto até o clam-
peamento do cordão umbilical.
Os ARVs devem ser mantidos nos horários habituais, via oral com
um pouco de água, durante o trabalho de parto ou no dia da cesárea pro-
gramada.

Recomenda-se a manutenção do uso do AZT injetável como profilaxia


para todas as gestantes durante o parto, exceto aquelas que apresen-
tam carga viral indetectável após 34 semanas de gestação. A mater-
nidade deverá encaminhar ao serviço de referência todas as anota-
ções referentes ao período da internação para o parto para que sejam
anexadas ao prontuário da puérpera.

ESQUEMA POSOLÓGICO DE AZT INJETÁVEL

• Apresentação comercial do AZT injetável (IV): frasco ampola de


200mg com 20ml (10mg/ml). Dose de ataque na primeira hora é
de 2mg/Kg e manutenção com infusão continua de 1mg/Kg, dilu-
ído em 100 ml de soro glicosado a 5%.
• A parturiente deve receber AZT endovenoso desde o início do tra-
balho de parto até o clampeamento do cordão umbilical.
• A concentração não deve exceder 4 mg/ml.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 171

Quadro 1 - Esquema posológico do AZT injetável no parto para a gestante


vivendo com HIV

DOSE DE ATAQUE (2mg/kg) NA PRIMEIRAHORA


Peso Quantidade de Número gotas/min
zidovudina
40kg 8 mL 36
50kg 10 mL 37
60kg 12 mL 37
70kg 14 mL 38
80kg 16 mL 39
90kg 18 mL 39
MANUTENÇÃO (1mg/kg/hora) EM INFUSÃO CONTÍNUA
40kg 4 mL 35
50kg 5 mL 35
60kg 6 mL 35
70kg 7 mL 36
80kg 8 mL 36
90kg 9 mL 36
Fonte: DIAHV/SVS/MS.

Esquema alternativo ao AZT EV (apenas em situação de exceção)

O esquema alternativo ao AZT injetável deve ser utilizado apenas


em situações de indisponibilidade dessa apresentação do medicamento no
momento do parto. A dose de AZT é 300mg VO, no começo do trabalho de
parto ou na admissão, seguida de 300mg a cada três horas, até o clampea-
mento do cordão umbilical. Esse esquema não é recomendável pela absor-
ção errática do AZT VO, sem evidência que garanta nível sérico adequado
no momento oportuno.

• DURANTE O PUERPÉRIO

A Terapia anti-retroviral (TARV) não deve ser suspensa após o parto, in-
dependente da contagem de LT-CD4+ e dos sinais e sintomas clínicos. As
pacientes coinfectadas com o vírus da hepatite B e/ou vírus da hepatite C

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devem ser encaminhadas para especialista da área, para adequação de es-


quema terapêutico.

8. INIBIÇÃO DA LACTAÇÃO

Inibir a lactação com o uso de cabergolina 0,5mg, 2 comprimidos,


dose única logo após o parto, evitando-se o desconfortável enfaixamento
das mamas por 10 dias e de efetividade questionável. Orientar o manejo
adequado do leite artificial e informá-la sobre o direito a receber fórmula
láctea infantil, pelo menos, até completar seis meses de idade.

9. BIOSSEGURANÇA NO PARTO

As precauções básicas e universais são medidas de prevenção que


devem ser adotadas em qualquer paciente, independente do diagnóstico
definido ou presumido de doenças infecciosas, quando da manipulação de
sangue, secreções, excreções, mucosas ou pele não íntegra.
As medidas de biossegurança incluem a utilização de equipamen-
tos de proteção individual (EPI), luvas, máscara, óculos de proteção, capo-
tes e aventais, com a finalidade de reduzir a exposição da pele e das mu-
cosas do profissional de saúde ao sangue ou fluidos corpóreos de qualquer
paciente.
Em caso de exposição a materiais biológicos, o profissional ex-
posto deve ser avaliado com rapidez para que possa, caso seja indicado,
realizar a profilaxia devida. A profilaxia ao HIV não confere segurança ab-
soluta e, portanto, não substitui a boa prática de saúde no que confere
minimizar risco através do uso correto dos EPI e técnica de excelência.
Durante o parto (vaginal ou cesárea) da mulher infectada pelo
HIV, devem-se tomar os seguintes cuidados:

• Preferir sempre o uso de tesouras, em vez de bisturi;


• Nunca utilizar lâmina de bisturi desmontada (fora do cabo);
• Preferir fios de sutura agulhados;
• Evitar agulhas retas de sutura, por causa do maior risco de aci-
dente percutâneo;
• Utilizar sempre pinças auxiliares nas suturas, evitando manipula-
ção dos tecidos com os dedos durante a sutura da episiotomia
(quando esta for necessária), durante o fechamento por planos na
operação cesariana e outros procedimentos;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 173

• Evitar sutura por cirurgiões, simultaneamente, no mesmo campo


cirúrgico;
• Atentar para que a passagem de materiais perfurocortantes (bis-
turi, porta-agulhas montados, etc.) do auxiliar para o cirurgião
seja feita por meio de cubas, após aviso verbal;
• Utilizar EPI na manipulação da placenta, do cordão umbilical e nos
cuidados imediatos ao recém-nascido, devido à possibilidade de
exposição a sangue e líquido amniótico.

REFERÊNCIAS

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Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia,
no. 93/ Comissão Nacional Especializada em Doenças Infecto-Contagiosas).
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Prevenção da Transmissão Ver-
tical do HIV, Sífilis e Hepatites Virais / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigi-
lância em Saúde, Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções
Sexualmente Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2019.
Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Utilizados pelo Serviço de Assistência
Especializada Familiar Materno Infantil HULW/UFPB. 2019. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1MHRVoy8LMz8o1dajP9zw-Ub-
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Townsend CL, Byrne L, Cortina-Borja M, Thorne C, De Ruiter A, Lyall H, et al. Ear-
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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 174

GESTAÇÃO ECTÓPICA

1. INTRODUÇÃO

Denomina-se gestação ectópica (GE) quando a implantação e o de-


senvolvimento do ovo ocorrem fora da cavidade corporal do útero.
A localização mais frequente é a tubária (90% a 95% dos casos) e é a
principal causa de morte materna no primeiro trimestre.
Com o aprimoramento dos exames subsidiários, como as dosagens
da fração beta do hormônio gonadotrópico coriônico (beta-hCG) e a ul-
trassonografia transvaginal, o diagnóstico é realizado com maior precisão
e em uma fase mais inicial.

Existem localizações pouco comuns de gestação ectópica como:

• Cervical - Gestação se desenvolve abaixo no canal cervical,


abaixo do orifício interno.
• Cicatriz de cesárea - O saco gestacional é totalmente envolvido
pelo miométrio e fibrose da cicatriz de cesariana e separado
da cavidade endometrial.
• Abdominal - Gestação se desenvolve na cavidade peritoneal.
• Gravidez Heterotópica - Gestação combinada intra e extraute-
rina.
• Gravidez Intersticial - Gestação se desenvolve na porção in-
tersticial da trompa.
• Gravidez Ovariana - Gestação se desenvolve no ovário.

Nesse capítulo abordaremos a gestação ectópica tubária, já que é a


mais frequente.

2. DIAGNÓSTICO

Deve ser o mais precoce possível. Geralmente os sintomas ocorrem


após a sexta ou oitava semana. Atenção para a tríade clássica:

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 175

DOR
ATRASO MENSTRUAL
SANGRAMENTO GENITAL

2.1 ACHADOS CLÍNICOS

DOR ABDOMINAL

• É o principal sintoma da GE, sendo intensa quando ocorre


a ruptura tubária. No abortamento a dor tem caráter de
cólicas.
• Deve-se suspeitar de hemoperitônio quando a dor acentua
e generaliza em todo o abdome, com ocorrência de náu-
seas e vômitos. Pode haver defesa abdominal.
• Pode acontecer dor escapular.

SINAIS DE CHOQUE

• Palidez cutâneo-mucosa sem perda sanguínea visível;


• Sudorese;
• Taquicardia;
• Hipotensão arterial.

EXAME DOS GENITAIS INTERNOS

• Palpação de massa anexial ou abaulamento do fundo de


saco com queixa de intensa dor – grito de Douglas (sinal
de Proust). Nos quadros iniciais, o exame clínico, muitas
vezes, não é elucidativo.

2.2 EXAMES SUBSIDIÁRIOS

• Dosagem da fração beta do hormônio gonadotrópico


coriônico (beta-hCG).
• Ultrassonografia transvaginal (USTV).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 176

Em alguns casos em que o beta-hCG é positivo e a USTV não con-


segue identificar a localização da gestação, ou seja, não se visualiza saco
gestacional na cavidade uterina nem massa anexial, define-se como gra-
videz de localização desconhecida.
Nessas situações, devem-se associar, na investigação, os valores
quantitativos do beta-hCG, cujo valor discriminatório é 2.000 mUI/mL –
ou seja, com valores superiores a este, a gestação intrauterina deveria ser
confirmada à ultrassonografia transvaginal.
Os valores do beta-hCG tendem a aumentar a cada 48 horas na gra-
videz tópica viável; o ritmo de evolução é o aumento de 35% ou mais dos
valores do beta-hCG em dois dias. A ausência de saco gestacional tópico
com beta-hCG acima da zona discriminatória, ou com curva de evolução
anormal, ou títulos em declínio, sugere uma gravidez inviável;

2.1 FLUXOGRAMA DE DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO ECTÓPICA

FONTE: Adaptado de ELITO JUNIOR, Julio; MONTENEGRO, Nuno Aires Mota de Men-
donça; SOARES, Roberto da Costa and CAMANO, Luiz. Unruptured ectopic preg-
nancy: diagnosis and treatment. State of art. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [online]. 2008,
vol.30, n.3, pp.149-159.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 177

Exames complementares: Beta-hCG, Ultrassonografia transvaginal


(visualiza o saco gestacional intrauterino com cinco semanas de atraso
menstrual), hemograma e classificação sanguínea.

3. CONDUTA

3.1 EXPECTANTE

A conduta expectante pode ser adotada em algumas gestantes se-


lecionadas obedecendo-se os seguintes critérios:
• Pouca dor ou sangramento;
• Confiabilidade na gestante para seguimento;
• Nenhuma evidência de rotura tubária;
• Nível de Βhcg < 200 mUI/ml e em queda;
• Massa ectópica ou anexial <3 cm ou não detectável;
• Ausência de BCF;
• Estabilidade hemodinâmica.

Estes casos podem representar uma gestação de localização desco-


nhecida, podendo tratar-se de um aborto ou mesmo gestação ectópica em
resolução.

3.2 METOTREXATO (MTX)

Critérios de inclusão
• Níveis de β-hCG inferiores a 5000 mUI/mL;
• Massa anexial com diâmetro inferior a 3,5 cm;
• Ausência de batimentos cárdio-embrionários;
• Ausência de líquido livre na cavidade;
• Paciente hemodinamicamente estável e assinto-
mática ou com sintomatologia mínima;
• Termo de consentimento livre e esclarecido assi-
nado (TCLE).

Exames antes da administração de MTX: Transaminase glutâmico


oxalacética (TGO), transaminase glutâmico pirúvica (TGP), tempo de Pro-
trombina, hemograma com plaquetas, creatinina e tipagem sanguínea.

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Rede Cegonha | 178

Dose: Metotrexato 50 mg/m2 IM em dose única no dia “1”.

Monitoriza-se o β-hCG no dia “4” e no dia “7”. Uma queda de no


mínimo 15% dos níveis de β-hCG entre esses dias indica o sucesso do tra-
tamento e a alta hospitalar pode ser concedida, com acompanhamento
através do β-hCG semanal até negativar (média de 5 a 7 semanas).
Caso contrário, uma nova dose do metotrexato deverá ser reali-
zada (apenas uma vez). Aumento ou manutenção dos níveis de β-hCG, in-
dica-se cirurgia. A USTV seriada após o tratamento com MTX é desneces-
sária, exceto quando existe suspeita de ruptura tubária.
A paciente deve ser alertada do risco de rotura tubária mesmo em
uso de metotrexate.
Nos casos de localização atípica da gravidez ectópica (gestação in-
tersticial, cervical ou a da cicatriz de cesárea) que, em geral, cursam com
títulos do beta-hCG elevados, superiores a 5.000 mUI/mL, o protocolo com
múltiplas doses é mais empregado.

01 ampola (2ml) de Metotrexato = 50mg

Contraindicações ao uso de metotrexato:

• Doença hepática ou renal prévias


• Supressão da medula óssea
• Gravidez intrauterina
• Imunodeficiência
• Anemia, leucopenia
• Amamentação
• Recusa em receber transfusão sanguínea
• Doenças pulmonar ativa

3.3 CIRÚRGICA

• CONSERVADORA

Critérios de inclusão
• Em pacientes ainda desejosas de engravi-
dar

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 179

• GE íntegra
• Contraindicação ou falha do tratamento
clínico

Na ectópica rota, quando a tuba não está excessivamente danificada


pode-se realizar o tratamento preservando-a.
Deve ser realizada salpingostomia linear, através incisão longitudinal
de cerca de 2 cm com remoção do tecido trofoblástico.
A via laparoscópica é a preferida, se houver disponibilidade no ser-
viço.

• RADICAL

Critérios de inclusão
• Quando a paciente tiver a prole definida
• Quando o dano tubário tiver sido extenso

A opção terapêutica é a salpingectomia total. No caso de compro-


metimento hemodinâmico, proceder, de imediato, a laparotomia. Provi-
denciar reserva de sangue. Na estabilidade hemodinâmica, a via laparos-
cópica deve ser preferida.

Nas pacientes Rh negativo fazer profilaxia para isoimunização com


imunoglobulina anti D 300 mcg IM dose única

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Rede Cegonha | 180

FLUXOGRAMA PARA O TRATAMENTO DA GESTAÇÃO ECTÓPICA

FONTE: Adaptado de ELITO JUNIOR, Julio; MONTENEGRO, Nuno Aires Mota de Men-
donça; SOARES, Roberto da Costa and CAMANO, Luiz. Unruptured ectopic preg-
nancy: diagnosis and treatment. State of art. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. [online].
2008, vol.30, n.3, pp.149-159.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 181

Figura 1: Gestação ectópica rota. Fonte: acervo do Hospital Universitário Lauro Wan-
derley (HULW-UFPB).

REFERÊNCIAS

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94: Medical management of ectopic pregnancy. Obstet Gynecol. 2008
Jun;111(6):1479-85.
American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG Practice Bulletin No.
193 Summary: Tubal Ectopic Pregnancy. Obstet Gynecol. 2018 Mar;131(3):613-
615.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Minis-
tério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programá-
ticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 302 p.
– (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Elito J J. Gravidez ectópica. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Gi-
necologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, nº
22/Comissão Nacional Especializada em Urgências Obstétricas).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 182

Elito JJ, Montenegro NAMM, Soares RC, Camano L. Gravidez ectópica não rota:
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sis.&source=search_result&selectedTitle=3~150&usage_type=default&dis-
play_rank=3.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 183

GESTAÇÃO GEMELAR

1. INTRODUÇÃO

É a presença simultânea de dois ou mais conceptos, no útero ou


fora dele. Nos últimos anos, a frequência de gestações múltiplas vem au-
mentando de maneira significativa, devido à postergação da maternidade,
da idade materna avançada na concepção e da consequente ampla utiliza-
ção das técnicas de reprodução assistida.
A gestação gemelar apresenta maior risco de complicações, tanto
do ponto de vista materno (anemia, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, diabetes
gestacional, hemorragia, infecção puerperal, tromboembolismo, hiperê-
mese), quanto fetal (abortamento, restrição do crescimento fetal, prema-
turidade e malformações congênitas), quando comparadas às gestações
únicas.

2. ZIGOTICIDADE E CORIONICIDADE

Na gestação polizigótica (70 a 75% das gestações múltiplas) cada


zigoto desenvolve seu próprio âmnio, cório e placenta (policoriônica). Nas
gestações monozigóticas (20%-25% dos casos), dependendo do momento
em que ocorre a divisão da massa embrionária, podem-se encontrar pla-
centas distintas ou compartilhadas, assim como os sacos amnióticos ou até
mesmo órgãos fetais.

- Dicoriônicas e diamnióticas (DC/DA): 20%-25%


- Monocoriônicas e diamnióticas (MC/DA): 70%-75%
- Monocoriônicas e monoamnióticas (MC/MA): 1%-2%
- Gêmeos conjugados: <1%

3. DATAÇÃO DA GESTAÇÃO

Até 13 semanas e 6 dias ou comprimento cabeça-nádega (CCN) até


84 mm, a datação é feita a partir do CCN do maior feto para evitar subes-
timações em caso de feto restrito precoce.
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Rede Cegonha | 184

Se a gestação estiver com mais de 14 semanas ou com CCN maior


que 84 mm, a medida da maior circunferência craniana deve ser utilizada
para a datação.
A discordância de CCN maior de 10% (CCN feto maior – CCN feto
menor/CCN feto maior x 100) está associada ao aumento de resultados ad-
versos na gravidez, tanto nas gestações MC quanto DC (aborto, morte fetal
> 24 semanas, discrepância de peso no nascimento, parto prematuro e
malformações).

4. DETERMINAÇÃO DA CORIONICIDADE

Todo esforço deve ser empreendido para se determinar a corioni-


cidade de uma gravidez múltipla. Entre 6 e 9 semanas, na gestação dicori-
ônica, são visualizados dois sacos gestacionais separados por septo es-
pesso, enquanto que na gestação monocoriônica apenas um saco gestaci-
onal é visualizado.
Entre 11 semanas e 13 e 6 dias de gestação utiliza-se a espessura
da membrana amniótica no local de sua inserção placentária, visuali-
zando-se o sinal do ´´T`` ou sinal do ´´ λ``, e o número de massas placentá-
rias.
Na gravidez dicoriônica diamniótica, os gêmeos são separados por
uma camada espessa de membranas coriônicas fundidas com duas mem-
branas amnióticas finas, uma em cada lado, dando a aparência de um
´´lambda completo``. Já na gestação gemelar monocoriônica diamniótica
(MCDA) há apenas duas camadas amnióticas finas ´´o sinal do T`` sepa-
rando os dois fetos. (Figura 1)
Com o avançar da gestação, pode ocorrer o desaparecimento do
sinal do lambda, sendo assim, a não visualização desse sinal após 14 sema-
nas não exclui gestação dicoriônica. Além disso, a visualização de duas
massas placentárias e de sexos fetais discordantes pode ser útil na avalia-
ção da corionicidade em gestações com idade mais avançada.
Recomenda-se acompanhar a gestação como monocoriônica nos
casos em que a determinação da corionicidade não seja possível.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 185

Figura 1: Imagens de ultrassom no primeiro trimestre de: (a) gestação gemelar dico-
riônica diamniótica (b) gestação gemelar monocoriônica e diamniótica. Fonte:
ISUOG, 2016.

5. ACOMPANHAMENTO PRÉ NATAL

Na gestação gemelar DC/DA não complicada, as consultas ambu-


latoriais devem ser programadas com intervalos de 3 a 4 semanas; sendo
que após 28 semanas deve ser a cada 2 ou 3 semanas e após 36 semanas,
semanalmente conforme figura 2. Esses intervalos podem ser reduzidos
de acordo com necessidades individuais.

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Rede Cegonha | 186

Figura 2: Seguimento ultrassonográfico em gestação gemelar DC/ DA não compli-


cada. Fonte: Febrasgo, 2018.

Nas gestações MC/DA o seguimento de pré-natal será semanal


após 34 semanas (figura 3).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 187

Figura 3: Seguimento ultrassonográfico em gestação gemelar MC/DA não compli-


cada. Fonte: Febrasgo, 2018.

Já o acompanhamento ultrassonográfico da gestação trigemelar


não complicada é sugerido conforme figura a seguir.

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Rede Cegonha | 188

Figura 4: Seguimento ultrassonográfico em gestação trigemelar não complicada.


Fonte: Febrasgo, 2018.

6. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DAS GESTAÇOES GEMELARES:

6.1 PREMATURIDADE

Tanto os nascimentos pré-termos espontâneos quanto os iatrogê-


nicos são mais comuns nas gestações gemelares. Cabe destacar que mais
da metade dos gêmeos nascem antes das 37 semanas de gestação.
Quanto ao rastreamento para trabalho de parto prematuro, reco-
menda-se a avaliação do comprimento do colo uterino entre 20 e 24

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 189

semanas de gestação. O colo uterino é considerado curto quando está


abaixo do percentil 5 para idade gestacional sendo que geralmente 25 mm
é utilizado como ponto de corte.
Para prevenção de prematuridade em gestações gemelares ainda
não há evidências científicas suficientes para recomendar o uso de pro-
gesterona de rotina. Já o seu uso em pacientes com colo curto é recomen-
dado rotineiramente apesar de não existirem evidências conclusivas
quanto ao benefício. Quanto a indicação de pessário na gestação gemelar,
o seu uso parece promissor, mas ainda são necessários mais estudos para
comprovar seus benefícios nesta população de alto risco.

6.2 PRÉ ECLÂMPSIA

A gravidez múltipla é considerada um fator de risco moderado


para pré-eclâmpsia, sendo aconselhável iniciar o tratamento preventivo
com AAS 150 mg (à noite) antes de 16 semanas e manter até 36 semanas,
caso um ou mais dos seguintes fatores de risco coexistirem:
→Primípara; idade materna maior que 40 anos; intervalo gestacional > 10
anos; IMC > 35 kg/m2, história familiar da pré-eclâmpsia; nefropatia crô-
nica; diabetes pré-gestacional; hipertensão arterial crônica ou história de
pré-eclâmpsia em gestação anterior; doenças autoimunes tipo SAF ou LES.

6.3 OUTRAS COMPLICAÇÕES

Anemia; êmese acentuada ou hiperêmese gravídica; hiperten-


são/PE; diabetes gestacional; polidramnia; abortamento; amniorrexe pre-
matura; placenta prévia; DPPNI; hemorragia pós-parto; insuficiência pla-
centária; maior incidência de esteatose hepática aguda; síndrome trom-
boembólica; erupção polimórfica gravídica; estrias gravídicas; edema su-
pra púbico e de MMII; varizes, morte de um dos fetos (se a perda fetal
ocorrer após a 16 semana de gestação, o gêmeo sobrevivente apresenta
risco aumentado de morte intrauterina).

7. COMPLICAÇÕES FETAIS EM GESTAÇÕES MONOCORIÔNICAS

7.1 SÍNDROME DE TRANSFUSÃO FETO-FETAL (STFF)

A STFF ocorre em 10%-15% das gestações MC e está associada ao


aumento de morbimortalidade perinatal. Cabe destacar que existem anas-
tomoses vasculares conectando as duas circulações fetais e a STFF ocorre
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Rede Cegonha | 190

quando há um desequilíbrio entre o processo hemodinâmico e de líquido


amniótico.
O diagnóstico, então, da STFF requer um desequilíbrio dos fluidos
amnióticos. O feto doador apresenta o maior bolsão de líquido amniótico,
inferior a 2 cm (oligoâmnio), e o feto receptor apresenta o maior bolsão
superior a 8 cm (polidrâmnio). A discordância de peso normalmente é en-
contrada, porém ela não é necessária para o diagnóstico de STFF.

Classificação de Quintero para STFF


• Estágio I: maior bolsão vertical > 8cm no receptor e < 2cm no do-
ador.
• Estágio II: não visualização da bexiga no doador/anidrâmnio. Do-
ppler normal.
• Estágio III: Doppler anormal (diástole zero ou reversa na artéria
umbilical, ducto venoso com onda A reversa, pulsação na veia
umbilical)
• Estágio IV: hidropsia de um ou ambos os fetos
• Estágio V: óbito de um ou ambos os fetos

CONDUTA (BASEADA EM ESTÁGIOS)

Estágio I:
✓ Expectante, em acompanhamento semanal através de USG com
Doppler e programação da interrupção da gestação com 34 sema-
nas.
✓ OBS: Polidrâmnio com desconforto respiratório materno ou colo
< 2,5cm: considerar laser ou amniodrenagem seriada se laser não
é possível (>26 semanas).

Estágio II a IV:
✓ < 26 semanas: Laser (padrão-ouro). Prolonga a gravidez e reduz
taxa de danos neurológicos.
✓ > 26 semanas: amniodrenagem seriada. Programar interrupção
com 34 semanas ou na viabilidade se Doppler alterado.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 191

7.2 SEQUÊNCIA ANEMIA-POLICITEMIA (TAPS)

A origem da sequência de anemia-policitemia conhecida como


TAPS (Twin Anemia-Polycytemia Sequence) é a mesma da STFF. A pre-
sença de um padrão de anastomoses vasculares que produz uma passagem
de sangue desequilibrada de um gêmeo para outro como anastomoses
muito pequenas (<1 mm) do tipo arteriovenosas (AV) e unidirecionais sem
anastomose arterioarterial (AA) acompanhante, permite a passagem lenta
de células vermelhas de um gêmeo para outro, elevando gradualmente os
níveis de hemoglobina discordantes.

CLASSIFICAÇÃO EM ESTÁGIOS

Tabela 1: Classificação da TAPs em estágios conforme achados antenatal


e pós-natal.

Fonte: Slaghekke F, Kist WJ, Oepkes D, Pasman SA, Middeldorp JM, Klumper FJ, Wal-
ther FJ, Vandenbussche FP, Lopriore E. Twin anemia-polycythemia sequence: diag-
nostic criteria, classification, perinatal management and outcome. Fetal Diagn Ther
2010; 27: 181–190.

CONDUTA
Estágios 1 e 2 - Expectante
Estágio 3 - Ablação a laser ou resolução da gravidez a depender da idade
gestacional

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 192

7.3 PERFUSÃO ARTERIAL INVERTIDA EM GÊMEOS (TRAP) - TWIN RE-


VERSED ARTERIAL PERFUSION

A ocorrência de gêmeo acárdico é de 1/35000 nascidos vivos e re-


presenta aproximadamente 1% das gestações MC. Na sequência TRAP, o
feto bomba mantém a circulação normal fetal. Além disso, uma parte do
seu débito cardíaco viaja através de anastomoses arterioarteriais placen-
tárias para a artéria umbilical e, eventualmente, para a circulação sistê-
mica do cogêmeo receptor, assim, criando a circulação “reversa” nesse
gêmeo. A presença de anastomoses arterioarteriais permite que o sangue
seja bombeado do gêmeo normal para o gêmeo acárdico sem passar por
um leito capilar.
A TRAP deve ser suspeitada em gestações MC quando um feto apa-
rece anatomicamente normal e o outro não possui estruturas cardíacas
aparentes e/ou atividade. O fenótipo acárdico varia de extremidades infe-
riores bem-desenvolvidas, pelve e abdômen a uma massa de tecido que
não é facilmente reconhecível como partes do feto. O gêmeo bomba pode
ter sinais de insuficiência cardíaca de alto débito: polidramnia, cardiome-
galia, derrames pericárdicos e pleurais, ascite e regurgitação tricúspide.

Figura 5: Gêmeo acárdico


(Acervo do Hospital Edson Ra-
malho).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 193

CONDUTA

Fetos entre 18 e 26 semanas de gestação, com sinais indicativos de


um mau prognóstico, são candidatos à intervenção (discordância de peso
>0,7 e/ou hidropsia). O tipo de tratamento pode ser ablação a laser ou por
radiofrequência (RFA), de acordo a experiência do serviço. Resolução das
gestações TRAP é recomendada entre 34 e 36 semanas de gestação.

7.4 GÊMEOS CONJUGADOS

É um tipo raro de gêmeos monoamnióticos, estimados em 1,5 por


100.000 nascimentos em todo o mundo. São classificados como cephalopa-
gus, thoracopagus, omphalopagus, isquiopagus, parapagus, craniopagus,
rachipagus e pygopagus, com base no local de fusão.

CONDUTA

De forma geral, recomenda-se cesárea logo após a confirmação da


maturidade pulmonar fetal. Não há evidência suficiente para orientar o
tempo específico da resolução da gestação sendo as decisões tomadas de
acordo com a individualidade de cada caso. A incisão uterina ideal de-
pende dos fatores específicos, incluindo a idade gestacional, o nível da
união e o prognóstico neonatal. O parto vaginal pode ser tentado no se-
gundo trimestre, particularmente, para gêmeos não viáveis ou para inter-
rupção da gravidez.

7.5 RESTRIÇÃO DE CRESCIMENTO INTRAUTERINO SELETIVO (RCIUs)

A RCIU seletivo é definida como a presença de um gêmeo com peso


fetal estimado abaixo do percentil 10. Esta situação está comumente asso-
ciada à discordância de peso entre os fetos superior a 25%, porém isso não
é essencial para o diagnóstico.
Nas gestações dicoriônicas, a restrição de crescimento seletivo é
conduzida como nas gestações únicas. Para gestações monocoriônicas, a
classificação de RCIU seletivo é baseada no Doppler da artéria umbilical
(AU) do gêmeo menor:
• Tipo I (fluxo diastólico persistentemente positivo)
• Tipo II (fluxo diastólico persistentemente ausente ou diástole reversa)
• Tipo III (fluxo diastólico intermitentemente positivo/ausente/diástole
reversa)
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Rede Cegonha | 194

CONDUTA

✓ RCIUs tipo I: conduta expectante e acompanhamento ultrassono-


gráfico com Doppler semanal ou quinzenal. Resolução: piora do
Doppler da AU. Em geral, o parto é com 34-36 semanas.
✓ RCIUs tipo II e tipo III: não existe ainda tratamento ideal. O mo-
mento do parto é definido pelo seguimento rigoroso do ducto ve-
noso (deterioração fetal) realizado, semanalmente, até 26/28 se-
manas e, diariamente, após esse período. O parto deve ser consi-
derado entre 32-34 semanas, na ausência de outras complicações.

7.6 MORTE DE UM DOS FETOS

Quando um gêmeo monocoriônico morre durante a gravidez, o gê-


meo sobrevivente pode perder parte do seu volume circulante para o gê-
meo morto, levando à hipotensão potencialmente grave no sobrevivente.
Consequentemente, pode haver hipoperfusão do cérebro e outros órgãos,
o que pode causar danos cerebrais ou o óbito.

CONDUTA

Deve-se realizar a avaliação do Doppler fetal, especialmente do


pico sistólico da artéria cerebral média (PVS-ACM), a fim de procurar por
sinais de anemia fetal no gêmeo sobrevivente. Em gestações pré-termo, a
manutenção da gestação mostra-se, na maioria dos casos, como a conduta
mais apropriada. O nascimento imediato geralmente não é indicado, pois,
se o gêmeo sobrevivente sofreu algum dano neurológico, isto frequente-
mente já aconteceu no momento em que a morte foi diagnosticada. Nas
gestações a termo, não há sentido em atrasar o parto.

7.7 ENTRELAÇAMENTO DE CORDÃO

O entrelaçamento dos cordões é frequente nas gestações monoam-


nióticas, ocorrendo em 48 a 71% dos casos. Pode complicar até 50% dessas
gestações e apresenta mortalidade de cerca de 15% após a idade gestacio-
nal de 20 semanas. O rastreamento ultrassonográfico rotineiro do entre-
laçamento de cordões pode permitir o diagnóstico antes que surjam alte-
rações fetais severas.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 195

CONDUTA

A monitorização fetal durante a gestação é controversa. Nas ges-


tações monocoriônicas e monoamnióticas, está recomendado o nasci-
mento entre 32 e 34 semanas, após curso de corticoide para maturação
pulmonar.

Figuras 6: Entrelaçamento de cordão em gestação gemelar monocoriônica (Acervo


Instituto Candida Vargas).

8. RESOLUÇÃO DA GRAVIDEZ

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Rede Cegonha | 196

9. VIA DE PARTO

• GESTAÇÃO ≥ 32 SEMANAS OU PESO FETAL >1500 G:

➢ Apresentação cefálica-cefálica: parto vaginal.


➢ Apresentação cefálica-não cefálica: cesárea ou parto vaginal com
versão interna e extração pélvica do segundo gêmeo a depender
da experiência da equipe assistencial e se a paciente desejar e
fornecer o consentimento informado.

• GESTAÇÃO <32 SEMANAS OU PESO FETAL ESTIMADO <1500G:

➢ Ambos em cefálica: intenção de parto vaginal.


➢ Um ou ambos não cefálicos: cesárea eletiva (exceto em fetos não
viáveis). Em situações não eletivas, pode-se individualizar se-
gundo o critério do obstetra.

10. INDICAÇÕES DE CESÁREA

▪ Primeiro gêmeo em apresentação não cefálica.


▪ Gêmeos MC/MA.
▪ Gestações múltiplas ≥ 3 fetos.
▪ Patologia materna, fetal ou placentária.
▪ Segundo gemelar com peso > 20 a 25% em relação ao primeiro
gêmeo (ou maior que 500g), especialmente, em apresentação
não cefálica, ou segundo gemelar que pese menos de 1500g.
▪ Suspeita de alteração da vitalidade fetal, impossibilidade de uma
correta monitorização de um ou de ambos os fetos durante o
parto.

REFERÊNCIAS

ACOG Committee Opinion No. 764: Medically Indicated Late-Preterm and Early-
Term Deliveries. Obstetrics and gynecology. 2019;133(2):e151-e5.
Carvalho FH, Vela HW, Morais AL, Feitosa FE. Manejo de gravidez múltipla. São
Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FE-
BRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 37/ Comissão Nacional Es-
pecializada em Medicina Fetal).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 197

Chaveeva P, Poon L, C, Sotiriadis A, Kosinski P, Nicolaides K, H: Optimal Method


and Timing of Intrauterine Intervention in Twin Reversed Arterial Perfusion Se-
quence: Case Study and Meta-Analysis. Fetal Diagn Ther 2014;35:267-279.
D’Alton M, Breslin N. Management of multiple gestations. Int J Gynaecol Obstet.
2020;150(1):3-9.
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definition and essential reporting parameters of selective fetal growth restriction
in twin pregnancy: a Delphi procedure. Ultrasound Obstet Gynecol. 2019;53(1):47-
54.
Khalil A, Rodgers M, Baschat A, Bhide A, Gratacos E, Hecher K, et al. ISUOG
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Lopriore E, Slaghekke F, Oepkes D, Middeldorp JM, Vandenbussche FP, Walther
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Quintero RA. Treatment of previable premature ruptured membranes. Clin Peri-
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Senat MV, Deprest J, Boulvain M, Paupe A, Winer N, Ville Y. Endoscopic laser sur-
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Slaghekke F, Kist WJ, Oepkes D, Pasman SA, Middeldorp JM, Klumper FJ, Walther
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tic criteria, classification, perinatal management and outcome. Fetal Diagn Ther
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Vial Y, Hohlfeld P. Intrauterine death in twin pregnancies. Schweiz Rundsch Med
Prax 1999; 88:1435-8.
Zugaib, M. Protocolos assistenciais, clínica obstétrica, FMUSP / Marcelo Zugaib,
Roberto Eduardo Bittar, Rossana Pulxinli Vieira Francisco. 5.ed. São Paulo: Edi-
tora Atheneu, 2015.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 198

GESTAÇÃO PÓS-TERMO

1. INTRODUÇÃO

A ocorrência do parto no momento adequado está associada a um


melhor resultado perinatal, enquanto as gestações pós-termo estão rela-
cionadas ao aumento da morbidade materna, morbimortalidade fetal e do
número de induções de partos e de cesarianas em todo o mundo, consti-
tuindo um problema de saúde pública.
É sabido que os resultados perinatais adversos aumentam grada-
tivamente após 40 semanas de gestação, especial e consideravelmente
após 42 semanas (pós-termo). No mundo, acredita-se que cerca de 14% dos
casos de natimortos sejam associados à gestação pós-termo.

2. DEFINIÇÕES

Gestações pós-termo são aquelas com duração igual ou superior a


42 semanas completas ou com mais de 294 dias, contados a partir do pri-
meiro dia do último período menstrual.

CLASSIFICAÇÃO A PARTIR DE 37 SEMANAS


DAS GESTAÇÕES
TERMO PRECOCE 37 semanas até 38 semanas e 6 dias
TERMO 39 semanas até 40 semanas e 6 dias
TERMO TARDIO 41 semanas até 41 semanas e 6 dias
PÓS-TERMO ≥ 42 semanas
Tabela 1: Definições; Fonte: Spong CY. Defining “term” pregnancy: recomendations
from the Defining “Term” Pregnancy workgroup. JAMA 2013;309:2445-6.

3. FATORES PREDISPONENTES

• Erro no cálculo da idade gestacional (causa mais comum);


• Anencefalia ou outras anormalidades fetais;
• História pessoal materna;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 199

• Nuliparidade;
• Obesidade;
• Idade materna mais avançada;
• Defeitos na produção fetal de hormônios envolvidos no parto (ca-
sos raros);
• Deficiência de sulfatase placentária;
• Produção em excesso de progesterona.

4. DIAGNÓSTICO

O cálculo da idade gestacional (IG) pode ser baseado na data da


última menstruação (DUM), mas estudos mostram que se usando apenas
esse parâmetro há maior probabilidade de superestimação da IG no mo-
mento do parto e que a estimativa da IG baseada em um exame de ultras-
som realizado antes de 22 semanas resulta em frequência significativa-
mente mais baixa de gravidez prolongada, evitando intervenções desne-
cessárias.
Existe uma diferença aceitável entre as idades gestacionais defini-
das pela DUM e pela USG para cada fase da gestação em que foi realizado
o exame.

IG em que foi reali- Variação aceitável entre IG calculada


zada a USG pela DUM e USG
Até 8,6 semanas Até 5 dias
De 9 a 15,6 semanas Até 7 dias
De 16 a 21,6 semanas Até 10 dias
De 22 a 27,6 semanas Até 14 dias
Após 28 semanas Até 21 dias

Tabela 2: Variação aceitável entre IG calculada pela DUM e USG;Fonte: Adaptado de


Committee on Obstetric Pratice, American Institute of Ultrasound in Medicine Soci-
ety for Maternal-Fetal Medicine. Method for estimating due date. Obstet Gynecol
2014; 124:863.

Havendo divergência acima dessa variação, o profissional está autori-


zado a redefinir a data provável do parto baseado no exame ultrassono-
gráfico.

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Rede Cegonha | 200

5. COMPLICAÇÕES

5.1 Riscos maternos

• Partos distócicos com lacerações de terceiro e quarto grau, he-


morragia e trabalho de parto prolongado relacionado à macrosso-
mia fetal
• Desproporção cefalopélvica
• Óbito fetal antes e durante o trabalho de parto
• Elevação dos índices de partos abdominais e consequente elevação
do risco de hemorragia pós-parto, infecção puerperal e trom-
boembolismo.

5.2 Riscos fetais

• Oligoâmnio
• Macrossomia (tocotraumatismos)
• Alterações do ritmo cardíaco
• Hipóxia neonatal
• Valores baixos de Apgar aos 5 minutos
• Síndrome de aspiração de mecônio
• Complicações neurológicas com maiores taxas de convulsões neo-
natais, alterações no desenvolvimento psicomotor aos 4 anos,
maior taxa de encefalopatia hipóxico-isquêmica
• Maior prevalência de paralisia cerebral aos 4 anos.

Apesar da taxa absoluta de óbito fetal ou neonatal ser baixa, o risco


relativo de morte fetal, perinatal e neonatal aumenta significativa-
mente após a 41ª semana, sendo duas vezes maior nas gestações com
duração ≥ 42 semanas comparado a gestações a termo.

6. CONDUTA

• Por volta da 41ª semana de idade gestacional a gestante deve ser


encaminhada para um centro de referência para testes de vitali-
dade fetal, incluindo avaliação do índice do líquido amniótico e
monitoramento cardíaco fetal (cardiotocografia).

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 201

A Dopplefluxometria não tem nenhum benefício compro-


vado na avaliação desses fetos e não é recomendada para
esta indicação, sendo preferível a cardiotocografia.

• A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda indução do


trabalho de parto em gestantes com 41 semanas completas ou
mais. (VER PROTOCOLO DE INDUÇÃO DO PARTO COM FETO VIVO).
• Estudos recentes sugerem que a indução deve ser oferecida a ges-
tantes com idade gestacional ≥ 41semanas, podendo ser uma das
poucas intervenções que reduz a taxa de natimortalidade.
• Em gestantes que recusam submeter-se à indução, deve ser feita
avaliação do bem-estar fetal duas vezes por semana (assinar
TCLE).

A conduta de indução do trabalho de parto após 41 semanas comple-


tas ou mais, em comparação com o trabalho de parto espontâneo,
aguardando-se indefinidamente ou, pelo menos, uma semana (42 se-
manas completas) em comparação com a espera espontânea, é asso-
ciada com menos mortes perinatais e menos síndrome de aspiração
de mecônio, sem um aumento do risco de cesariana.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Mi-
nistério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Pro-
gramáticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde,
2012.302 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco / Ministério da Saúde. Se-
cretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Edi-
tora do Ministério da Saúde, 2012. 318 p.: il. – (Série A. Normas e Manuais Técni-
cos) (Cadernos de Atenção Básica, n° 32).

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Rede Cegonha | 202

Keulen JK, Bruinsma A, Kortekaas JC, van Dillen J, Bossuyt PM, Oudijk MA, et al.
Induction of labour at 41 weeks versus expectant management until 42 weeks
(INDEX): multicentre, randomised non-inferiority trial. BMJ. 2019;364:l344.
Valente EP et al. Obstetrícia: diagnóstico e tratamento. 2.ed. Rio de Janeiro:
MedBook, 2018.
WHO recommendations: Induction of labour at or beyond term. Geneva: World
Health Organization; 2018. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/277233/9789241550413-
eng.pdf?ua=1.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 203

HEMORRAGIA PÓS-PARTO

1. INTRODUÇÃO

A hemorragia pós-parto (HPP) é uma das principais causas de mor-


bimortalidade materna no mundo. No Brasil, é a segunda causa de morte
materna perdendo apenas para os distúrbios hipertensivos.
Considerando que a quantidade de sangramento uterino no pós-
parto pode ser vultosa em curto tempo, faz parte das estratégias de ação
que os profissionais permaneçam à beira do leito até que a situação seja
estabilizada e que procurem a causa da hemorragia enquanto instituem o
tratamento da perda volêmica.

A maioria das mortes maternas são evitáveis!!

2. DEFINIÇÕES

HPP: perda sanguínea acima de 500 ml após parto vaginal ou acima


de 1000 ml após o parto cesáreo, em 24 horas, ou qualquer perda de
sangue pelo trato genital capaz de causar instabilidade hemodinâmica.
Perdas entre 500 e 1000mL de sangue em mulheres saudáveis são tam-
ponadas pelo sistema de reorganização fisiológica;
HPP maciça: são as hemorragias caracterizadas por sangramentos su-
periores a 2000 ml/24h ou que necessitem da transfusão mínima de
1200 ml (4 unidades de concentrado de hemácias) ou que resultem na
queda de hemoglobina ≥ 4g/dl (comparando com hemoglobina de
base) ou, ainda, que sejam capazes de provocar distúrbios de coagula-
ção.

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Rede Cegonha | 204

A Hora de Ouro na hemorragia pós-parto consiste na recomen-


dação do controle do sítio de sangramento puerperal, sempre
que possível, dentro da primeira hora a partir do seu diagnós-
tico; O objetivo da hora de ouro obstétrica é promover medidas
oportunas e de qualidade para se evitar e\ou combater a tríade
letal das hemorragias, que é: acidose, coagulopatia e hipoter-
mia.

3. CAUSAS

“4 Ts” CAUSA ESPECÍFICA


FREQUÊNCIA
Tônus Atonia Uterina 70%
Trauma Lacerações, hematomas, inversão e ro- 19%
tura uterina
Tecido Retenção de tecido placentário, coágu- 10%
los, acretismo placentário
Trombina Coagulopatias congênitas ou adquiridas, 1%
uso de medicamentos anticoagulantes

Obs.: Há também o sangramento relacionado à Doença Trofoblástica Ges-


tacional (mola hidatiforme), especialmente para aquelas pacientes que
sangram após 24 horas pós-parto ou sangramentos mais tardios.

4. ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO

A maioria dos quadros de HPP ocorre em pacientes sem fatores


de risco evidentes, contudo, as pacientes de risco apresentam quadros
hemorrágicos que tendem a ser mais graves e ameaçadores.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 205

QUADRO 1. ES-
TRATIFICAÇÃO DO
RISCO PARA HPP
(Fonte: Organiza-
ção Pan-Ameri-
cana da Saúde
2018)

QUADRO 2. CON-
DUTAS PREVENTI-
VAS BASEADAS NA
ESTRATIFICAÇÃO DE
RISCO PARA HPP NA
ADMISSÃO (Fonte:
Organização Pan-
Americana da Sa-
úde 2018)

5. PREVENÇÃO
Todos os centros obstétricos devem ter protocolos de admi-
nistração de rotina de uterotônicos no pós-parto imediato.

Prevenção medicamentosa universal: Ocitocina - reduz em >50%


os casos de atonia uterina. Nenhuma outra medida preventiva substi-
tui a ocitocina profilática.

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Rede Cegonha | 206

• Parto vaginal: 10 UI de ocitocina, via intramuscular, logo após


o nascimento
• Cesariana: 10 UI (02 ampolas de 5UI) de ocitocina, via intramus-
cular, logo após o nascimento (Obs.: Em pacientes anestesiadas,
administrar preferencialmente em uma área indolor, como a
do músculo vasto lateral da coxa).

OU
• Esquema endovenoso de 5UI de ocitocina em infusão lenta por
3 minutos, seguido de dose de manutenção (20 UI de ocitocina
diluídas em 500 ml de SF 0,9% a 125ml/h) por 4 a 12 horas, em
bomba de infusão contínua.

Medidas de preven- Características


ção
Uso universal da oci- Injetar 10 UI intramuscular de ocitocina,
tocina após o parto logo após o nascimento, em todos os par-
tos (vaginais e cesarianas)

Clampeamento opor- Realizar o Clampeamento do cordão um-


tuno do cordão umbi- bilical após 60 segundos na ausência de
lical contraindicações

Tração controlada do Realizar apenas se profissional treinado.


cordão umbilical Associar a tração controlada de cordão à
manobra de Brandt-Andrews (para estabi-
lização uterina)

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 207

Vigilância/massa- Massagem gentil a cada 15 minutos nas


gem uterina após de- primeiras 2 horas após a retirada da pla-
quitação centa

Outras medidas de Uso racional da ocitocina no trabalho de


prevenção propostas parto
Episiotomia seletiva
Evitar Manobra de Kristeller
Contato pele a pele com a mãe na 1ª hora
de vida
Ácido tranexâmico nos partos de alto
risco (em estudo)

MANEJO ATIVO DO TERCEIRO PERÍODO

• USO UNIVERSAL DA OCITOCINA APÓS O PARTO


• CLAMPEAMENTO OPORTUNO DO CORDÃO UMBILICAL
• TRAÇÃO CONTROLADA DO CORDÃO UMBILICAL*
• VIGILÂNCIA/MASSAGEM UTERINA APÓS DEQUITAÇÃO*

*MANEJO CUIDADOSO

6. DIAGNÓSTICO E ESTIMATIVA DE PERDA VOLÊMICA

As metodologias mais frequentemente utilizadas para a estima-


tiva da perda volêmica são:
• Estimativa visual:
- Compressa média (30x30cm) ensopada ............ perda de 140ml
- Poça de 50cm (diâmetro) ...................................... perda de 500ml
- Poça de 75ml ......................................................... perda de 1000ml
- Poça com 100cm ................................................... perda de 1500ml
- Cama com poça de sangue sobre o lençol ..................... < 1000ml
- Sangue escorrendo para o chão ....................................... >1000ml

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Rede Cegonha | 208

Figura 1: Estimativa visual da perda volêmica (Fonte: Organização Pan-


Americana da Saúde 2018)

• Pesagem de compressas sujas de sangue: perda estimada (ml) =


peso das compressas sujas de sangue (gramas) – peso estimado das
compressas secas (gramas). Do ponto de vista prático, pode-se di-
zer que 1 ml de sangue equivale a aproximadamente 1 grama de
peso.

• Estimativa clínica (através do índice de choque e/ou sinais vi-


tais). O índice de choque parece ser um marcador clínico de insta-
bilidade hemodinâmica mais precoce que os sinais vitais utiliza-
dos isoladamente e parece elevar-se à medida que o quadro ma-
terno se agrava.

• Índice de choque: na prática, valores a partir de 1,0 (FC > do que


a PA sistólica) sinalizam para manejo agressivo do quadro hemor-
rágico, incluindo possibilidade real de transfusão maciça.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 209

QUADRO 3. ÍNDICE DE CHOQUE NA HPP: VALOR, INTERPRETAÇÃO E CONSIDERAÇÕES NA


ABORDAGEM – importante

para nortear as ações da equipe (Organização Pan-Americana da Saúde 2018)

Figura 2: Indice de choque. (Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde 2018)

7. ABORDAGEM INICIAL

1. CHAMAR AJUDA: 2 médicos obstetras, 1 enfermeira obstétrica e 2


técnicos de enfermagem
2. INICIAR COMPRESSÃO UTERINA BIMANUAL IMEDIATA E CONTÍ-
NUA
3. PROVIDENCIAR 2 ACESSOS VENOSOS CALIBROSOS (14 A 16G)
4. FORNECER O2 EM MÁSCARA A 8 LITROS POR MINUTO
5. AQUECER A PACIENTE (MANTA TÉRMICA)

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Rede Cegonha | 210

6. ELEVAÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES


7. MONITORIZAÇÃO CONTÍNUA (FC, PA, TEMP E SAT DE O2)
8. CALCULAR O ÍNDICE DE CHOQUE (IC=FC/PA SISTÓLICA)

ACESSO 1
• COLETAR EXAMES - HEMOGRAMA, COAGULOGRAMA, TIPAGEM
SANGUÍNEA, PROVA CRUZADA, PROVA DO COÁGULO (teste de Wi-
ener: consiste em retirar 5 ml de sangue e colocar em tubo de en-
saio não heparinizado. Normalmente o sangue coagula em 8 a 10
minutos, se não coagular estima-se uma concentração de fibrino-
gênio menor que 150mg/dL)
• INFUNDIR SF 0.9% OU RL 500ML – CORRER RÁPIDO
• REAVALIAR ESTABILIDADE HEMODINÂMICA APÓS CADA SORO - A
reposição de fluidos deve ser racional, com avaliação da resposta
hemodinâmica materna a cada 250 a 500ml).
• REPETIR ATÉ O TOTAL DE 1500ML, USAR SORO AQUECIDO - Paci-
entes instáveis ou que não respondem adequadamente à infusão
de fluidos após 1500ml de infusão de cristaloides são candidatas a
hemotransfusão emergencial.

ACESSO 2
• INICIAR TRATAMENTO DE ATONIA UTERINA OU ENQUANTO SE
PROCURA OUTRO FOCO (REVISÃO DA CAVIDADE (RESTOS), REVI-
SÃO DO CANAL DE PARTO (LACERAÇÃO, HEMATOMA), COAGULO-
PATIA.

8. TRATAMENTO

8.1 MEDICAMENTOSO
O tratamento medicamentoso da HPP consiste principalmente no uso
de uterotônicos para combater a atonia uterina (que corresponde à maio-
ria dos casos) e no uso do antifibrinolítico (ácido tranexâmico) como tera-
pia adjuvante para controle do sangramento (indicado na hemorragia por
atonia ou por traumas-lacerações e cesarianas).

✓ MEDICAÇÕES UTEROTÔNICAS

A. OCITOCINA (Droga de 1ª escolha no tratamento da HPP). Cada am-


pola de 1 ml: contém 5UI de ocitocina.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 211

o 5UI de ocitocina, EV lento (3 min) associada a 20UI- 40UI


em 500ml SF 0,9% a 250 ml\h.
o Manutenção a 125 ml/h por 4h.
o Nos casos de atonia grave, avaliar dose de manutenção de
ocitocina até 24h (a uma velocidade de 67,5ml/h ou
3UI/hora).
Obs.: A ocitocina endovenosa apresenta início de ação em
1 min e meia-vida de 3-12 min.

B. MALEATO DE METILERGOMETRINA (Cada ampola de 1 ml: con-


tém 0,2mg de maleato de ergometrina).
o Injetar 0.2 mg, intramuscular, repetir em 20 min se neces-
sário (Se a 1ª dose falhar, é improvável que a segunda fun-
cione).
o Nos casos de sangramentos graves: realizar mais 3 doses
de 0.2 mg, IM, a cada 4h/4h (Dose máx.: 1mg/24h – 05 am-
polas de 0,2mg).
o Contraindicação principal: pacientes hipertensas.
Obs.: O início de ação da droga, via intramuscular, ocorre
entre 2 e 3 minutos e sua meia-vida varia de 30 a 120 mi-
nutos.

C. MISOPROSTOL (comprimidos de 25mcg, 100mcg ou 200 mcg de


misoprostol).
o Colocar 800 mcg de misoprostol via retal
Obs.: Considerar o tempo do início de ação do misopros-
tol: via retal: 15-20 min. Via oral: 7-11 min.

✓ MEDICAÇÃO ANTIFIBRINOLÍTICA

A. ÁCIDO TRANEXÂMICO (Cada ampola de 5ml: contém 250mg de


ácido tranexâmico).
o Infundir 1 grama, EV lento, em 10-20min (04amp + 250 ou
500ml de SF ou SRL - máx de 50mg/min)
o Iniciar imediatamente após o início do sangramento ou
até 3 horas do seu início, de qualquer causa (4Ts).
o Repetir se: persistência do sangramento após 30 min ou
reinício do sangramento em até 24 h da 1ª dose.

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Rede Cegonha | 212

Obs.: a cada 15 minutos de atraso para a realização da


primeira dose do ácido tranexâmico, ocorre uma redução
de 10% no seu efeito hemostático.

8.2 INVASIVO NÃO CIRÚRGICO

Em algumas situações é possível utilizar metodologias não cirúrgi-


cas para o controle de sangramentos, transitória ou definitiva, a depender
da causa da hemorragia.

✓ Compressão intrauterina bimanual:

o Deve ser a primeira manobra durante um quadro de ato-


nia uterina (manobra de Hamilton) a fim de se obter con-
trole transitório do sangramento, enquanto se aguarda a
realização e o início de ação das drogas uterotônicas.
o Comprimir por 20min ou até obter contração contínua e
efetiva.
o Deve ser realizada após o esvaziamento da bexiga, dei-
xando-se sonda vesical de demora para monitoramento da
diurese.

Figura 3: Compressão uterina


bimanual (Fonte: Organização
Pan-Americana da Saúde
2018)

✓ Balão de tamponamento intrauterino (se não houver disponibili-


dade no serviço, pode-se fazer artesanalmente, descrição da téc-
nica no final do capítulo)

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 213

o Indicação: controle temporário ou definitivo do sangra-


mento relacionado à atonia uterina, nas situações em que
as drogas uterotônicas falharam em controlar a HPP.

o Útil no controle do sangramento do sítio placentário nos


casos de placenta prévia, atonia uterina e na prevenção de
inversão uterina recorrente.

o Podem ser usados pós-parto vaginal ou cesárea.

o Contraindicação: neoplasias e infecções cervicais, vaginais


ou uterinas; sangramentos uterinos arteriais que reque-
rem abordagem cirúrgica; suspeita ou presença de lacera-
ções ou rotura uterina; anomalias uterinas que distorçam
a cavidade uterina, coagulopatias.

o Uso cauteloso: Risco potencial do posicionamento do BTI


precipitar uma perfuração nos casos de acretismo placen-
tário, pelo adelgaçamento da parede uterina.

8.3 CIRÚRGICO

Existem situações em que a única opção para o controle do foco


sangrante é a abordagem cirúrgica.
Além disso, nos casos de atonia uterina, a laparotomia estará indi-
cada quando as drogas uterotônicas e o balão de tamponamento intraute-
rino não forem suficientes para controle da HPP.

✓ Conservador

A) Ligaduras vasculares (entrar com cirurgião): as ligaduras vasculares


mais conhecidas são as das artérias uterinas, ovarianas e hipogás-
trica. Podem ser úteis no controle de sangramentos no segmento
uterino S1 (região do corpo e fundo). A ligadura vascular seletiva
baixa é útil nos casos de sangramentos no segmento uterino S2 (re-
gião cervical).
B) Suturas compressivas: sutura compressiva mais conhecida é a sutura
de B-Lynch. É útil no controle dos sangramentos na região do corpo
e fundo uterino (Segmento uterino 1) por atonia. Frequentemente
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Rede Cegonha | 214

associada à ligadura bilateral de artérias uterinas. A sutura de Cho


pode ser útil em sangramentos dos segmentos uterinos 1 e 2.

Figura 4: Suturas compressivas (Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde 2018)

QUADRO 4. EFICÁCIA DAS SUTURAS HEMOSTÁTICAS DE ACORDO COM A ÁREA UTERINA


ACOMETIDA, Organização Pan-Americana da Saúde 2018

C) Embolização seletiva de vasos pélvicos (não dispomos no serviço): a


embolização seletiva de vasos pélvicos é útil em pacientes estáveis
com sangramento persistente, mas não excessivo. Procedimento
usualmente reservado aos casos eletivos de HPP, em função de ne-
cessidade de estrutura e equipe especializadas. Ex: cesariana eletiva
por acretismo placentário.

✓ Extirpativo

A. Histerectomia: última etapa do tratamento cirúrgico. Determina


perda adicional de mais 2l de sangue (que estão represados), po-
rém, quando feita oportunamente, evita o choque e a coagulopa-
tia. Quando indicada, não deve ser postergada para evitar o

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 215

estabelecimento da coagulopatia. A histerectomia subtotal é a téc-


nica de escolha (mais rápida e exige menos habilidade cirúrgica),
porém, se sangramento no segmento inferior, está indicada a his-
terectomia total.

✓ Cirurgia de controle de danos

A. Empacotamento pélvico com laparotomia:


o Indicação: pacientes histerectomizadas, instáveis, com co-
agulopatia, hipotermia ou com distúrbio ácido básico, em
que se estima um tempo cirúrgico prolongado.
o Objetivo: corrigir a coagulopatia, o distúrbio ácido básico
e combater a hipotermia. Curativo da laparotomia: cura-
tivo a vácuo, preferencialmente.
o Correção cirúrgica definitiva: usualmente ocorre 2 a 5 dias
após o procedimento, quando a paciente já se encontra es-
tável.

9. TRATAMENTO POR CAUSA ESPECÍFICA

9.1 ATONIA

Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde 2018

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


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9.2 TRAUMA

Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde 2018

9.3 TECIDO

Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde 2018

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 217

9.4 TROMBINA

Fonte: Organização Pan-Americana da Saúde 2018

10. RESSUSCITAÇÃO HEMOSTÁTICA

A ressuscitação hemostática emergiu como um novo conceito para


o manejo de sangramentos graves. Protocolos de transfusão maciça po-
dem melhorar os resultados dos pacientes através da administração pre-
coce de hemocomponentes e hemoderivados e secundariamente por uma
intervenção multidisciplinar agressiva e precoce.
As estratégias de tratamento do choque hemorrágico têm como objetivo:

1. Controle rápido do sangramento


2. Restauração da perfusão tecidual
3. Abordagem precoce da coagulopatia

A. Infusão racional de líquidos: avaliar a paciente a cada 250 a 500ml


de cristaloides infundidos para determinar sua resposta hemodi-
nâmica e a melhor conduta a ser considerada naquele momento.
B. Os fluidos devem ser aquecidos para se evitar a hipotermia.
C. Tem-se evitado o uso de coloides.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 218

D. Aquelas pacientes com resposta inadequada (recorrência ou ma-


nutenção de instabilidade hemodinâmica) após infusão de 1500ml
de soro fisiológico (ou ringer lactato) são candidatas à hemotrans-
fusão.
E. Transfusão de hemocomponentes e hemoderivados: as pacientes
com instabilidade hemodinâmica são candidatas à hemotransfu-
são imediata, assim como aquelas que já receberam 1500ml de
cristaloides e não apresentam resposta adequada (rápida e susten-
tada) à infusão de cristaloides.
F. Pacientes com HPP desenvolvem, de forma mais precoce, quadros
de hipofibrinogenemia. Deve-se manter fibrinogênio acima de
200mgdl. Aquelas pacientes com fibrinogênio <200mg\dl devem
receber 1 dose de crioprecipitado ou 2 gramas de concentrado de
fibrinogênio. Nível adequado de fibrinogênio deve ser almejado
durante a transfusão maciça.

o Hemocomponentes mais utilizados na prática clínica


da HPP

CONCENTRADO DE HEMÁCIAS (CH) 250 – 300ml/unidade. Indicação: me-


lhorar oxigenação tecidual nas hemorragias graves. Cada unidade eleva
hemoglobina 1 a 1,5 g/dL e hematócrito em 3%.

PLASMA FRESCO CONGELADO (PFC) 180-200ml/unidade. Indicação: san-


gramentos sempre que RNI > 1,5 ou TP > 1,5 x o valor normal, reposição de
fatores de coagulação e nas transfusões maciças.

CONCENTRADO DE PLAQUETAS (PLT) 50 ml/unidade randômica. Indica-


ção: sangramentos com contagens de plaquetas inferiores a 50.000/ ou
100.000 mm3 se sangramento ativo (ou portadores de disfunção plaquetá-
ria). Cada Unidade Randômica: aumenta as plaquetas em 5.000-
10.000/mm3.
Observações: 01 dose de adulto de plaqueta refere-se a: 1 “pool” de pla-
quetas (volume: ±250mL. Equivale ±5 unidades randômicas) 1 aférese de
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 219

plaquetas (volume: ± 350ml. Equivale a ±6-8 unid. randômicas) 7 unidades


plaquetas randômicas (volume: ±300mL).

CRIOPRECIPITADO (CRIO) 10-20ml/unidade randômica. Indicação: Fi-


brinogênio < 200mg/dL, transfusão maciça. Cada unidade randômica: au-
menta o fibrinogênio em 10 mg/dl.
Observação: 01 dose de adulto de CRIO refere-se a 7 a 10 unidades.
METAS TRANSFUSIONAIS NAS PACIENTES COM HEMORRAGIAS OBS-
TÉTRICAS

❖ Hemoglobina> 8g/dl
❖ Hematócrito> 21-24%
❖ Plaquetas > 50 000 (ou >100.000 se sangra-
mento ativo)
❖ Protrombina <1.5 (vezes o plasma controle)
❖ PTTA < 1.5-1.7 (vezes o plasma controle)
❖ Fibrinogênio> 200mg/dL

Nas situações em que persistem os sinais de instabilidade hemodi-


nâmica após a resolução de um quadro de HPP, deve-se considerar a pre-
sença de anemia grave que necessite hemotransfusão e/ ou a presença de
um sangramento ativo não identificado. Avalia-se a hemotransfusão e re-
visam-se novamente os possíveis sítios de sangramento (mnemônico 4 Ts).

11. KIT DE EMERGÊNCIA HEMORRAGIA PÓS-PARTO

✓ PROTOCOLO/CHECK LIST = 01 fluxograma e 01 checklist- plastifi-


cados disponíveis no Kit
✓ SORO FISIOLÓGICO 0,9% = 02 frascos de 500 ml
✓ RINGER LACTATO = 02 frascos de 500 ml
✓ EQUIPO DE SORO = 02 unidades
✓ THREE-WAY + EXTENSOR = 02 unidades
✓ OCITÓCITO (5UI/1 ml) = 08 ampolas de 1 ml
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Rede Cegonha | 220

✓ METILERGOMETRINA (0,2mg/ml) = 02 ampolas de 1 ml


✓ MISOPROSTOL 200mcg/cp = 04 comprimidos
✓ ÁCIDO TRANEXÂMICO 250mg / ampola = 04 ampolas
✓ JELCO 16 OU 14 = 02 unidades de cada
✓ JELCO 18 = 02 unidades (para os casos em que não for possível AVP
com jelco de maior calibre)
✓ SERINGAS = 02unidades 5mL, 02 unidades 20mL
✓ AGULHAS = 4 unidades 40x12mm, 4 unidades 25x8mm
✓ MÁSCARA FACIAL OXIGÊNIO + LÁTEX = 01 unidade de cada
✓ SONDA VESICAL DE DEMORA + COLETOR URINÁRIO = 02 unidades
✓ TERMÔMETRO = 01 unidade
✓ BALÃO DE TAMPONAMENTO INTRAUTERINO (material para con-
feccionar) = 01 unidade
✓ TUBOS DE COLETA DE SANGUE = tubos para coleta de sangue - 6
unidades de cada Tampa amarela\vermelha (soro), roxa (EDTA),
azul (citrato de Sódio), cinza (fluoreto) e seringa para gasometria
✓ FACILITADORES = pedidos de exames já preenchidos e pré-apro-
vados
✓ TRAJE ANTICHOQUE NÃO PNEUMÁTICO = 01 unidade (quando dis-
ponível)

12. CONFECÇÃO DO BALÃO ARTESANAL COM CONDOM

12.1 MATERIAL

• Sonda de FOLLEY número 16 ou 18


• Luvas
• Fios de algodão
• Preservativo masculino
• Equipo de soro
• Soro fisiológico 500ml (lembrar de aquecer no momento do uso)
• Pinça Kelly ou Cherron (pinça longa sem dentes)

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 221

12.2 DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO

1. Introduza a extremidade da sonda no preservativo; amarre


firme com os fios de algodão a cerca de 3-4 cm da extremidade
proximal do preservativo.
2. Visualize a cérvice e introduza com ajuda da pinça o preser-
vativo já contendo em seu interior a extremidade da sonda.
3. Uma vez que todo preservativo esteja no interior da cavidade
uterina, conecte a sonda à seringa e inicie a infusão do soro
aquecido ou à temperatura ambiente para evitar hipotermia
(não usar líquidos frios).
4. Compressas vaginais podem ser inseridas para ajudar a man-
ter o balão intrauterino.
5. Preenchê-lo com soro até o volume de 300 a 500ml. Nas cesa-
rianas, deve-se infundir volumes inferiores nos balões quando
comparado ao parto vaginal, para evitar deiscência de sutu-
ras.
6. Tempo de permanência máximo: por até 24 horas.
7. Manter o uso de uterotônicos (ocitocina) e antibioticoprofila-
xia (Cefalotina 1g EV 6-6h) durante o seu uso.
8. Se falhar em conter o sangramento na atonia, está indicada
abordagem cirúrgica.
9. Retirada gradual (50ml de cada vez) em local adequado pelo
risco de reativação de um sangramento uterino.

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13. FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO

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14. CHECK-LIST

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15. RECOMENDAÇÕES FINAIS

• Reconhecer fatores de risco para HPP no pré-natal e durante a


assistência ao parto pode constituir-se no primeiro passo para se
evitar uma morte materna por HPP.
• Gestantes com cesariana prévia devem realizar ultrassom na
gestação para definir a localização da placenta. Se a placenta for
prévia, de inserção baixa ou estiver localizada na parede uterina
anterior, encaminhe-a para serviço de referência para exclusão de
acretismo placentário e/ou realização do parto com equipe
preparada, caso não seja possível afastar tal diagnóstico.
• Diante da suspeita de sangramento aumentado, vá imediatamente
ao leito da paciente e ative o protocolo de HPP.
• O controle precoce do sítio de sangramento é a medida mais eficaz
no combate ao choque hipovolêmico. Paciente sangrando: vá ao
leito e examine!
• Seguir o check-list!
• Pedir o kit de hemorragia pós-parto do serviço!
• A terapêutica da HPP deve ser direcionada para a causa do
sangramento.
• Durante um quadro de HPP, a equipe médica não deve se afastar da
paciente até a resolução do quadro hemorrágico.
• Os sinais clínicos são os critérios mais importantes na definição da
necessidade de transfusão sanguínea imediata.
• Após um quadro de HPP, manter as pacientes em leitos que
permitam observação rigorosa nas primeiras 24 horas. Não as
encaminhe para enfermarias ou quartos que ofereçam vigilância
habitual, de risco habitual.
• Hora de ouro na hemorragia obstétrica: recomenda-se o controle do
sítio de sangramento dentro da 1ª hora a partir do seu diagnóstico,
se possível. Executar ações de controle do sangramento de forma
sequenciada, consciente, correta e sem perda de tempo.

Após a resolução de um quadro de HPP, a persistência de sinais de


instabilidade hemodinâmica pode indicar: a presença de um sítio ativo de
sangramento (oculto ou não) ou a necessidade de hemotransfusão ou
ambos.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 225

REFERÊNCIAS

Haddad SM, Polido CB. Introdução. In: Hemorragia pós-parto. São Paulo:
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO);
2019. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO, no.1/Comissão Nacional
Especializada em Urgências Obstétricas).
Hatanaka DM, Viesi JH, Teruya A, Cordioli E. Diagnóstico e manejo hemostático
na hemorragia obstétrica: aplicabilidade do uso de hemocomponentes e hemode-
rivados. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obste-
trícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 113/ Comissão
Nacional Especializada em Urgências Obstétricas).
Knobel R, Osanan GC. Avaliação de risco e medidas preventivas. In: Hemorragia
pós-parto. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obs-
tetrícia (FEBRASGO); 2019. Cap. 2. (Série Orientações e Recomendações FE-
BRASGO, no.1/Comissão Nacional Especializada em Urgências Obstétricas).
Lalonde A; International Federation of Gynecology and Obstetrics. Prevention
and treatment of postpartum hemorrhage in low-resource settings. Int J Gynae-
col Obstet. 2012;117(2):108–18.
Organização Pan-Americana da Saúde. Recomendações assistenciais para preven-
ção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília: OPAS; 2018.
Osanan GC, Knobel R. Tratamento. In: Hemorragia pós-parto. São Paulo: Federa-
ção Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2019.
Cap. 3. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO, no.1/Comissão Nacional
Especializada em Urgências Obstétricas).
Pacagnella RC, Borovac-Pinheiro A. Definição e diagnóstico. In: Hemorragia pós-
parto. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrí-
cia (FEBRASGO); 2019. Cap. 1. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO,
no.1/Comissão Nacional Especializada em Urgências Obstétricas).
Practice Bulletin No. 183: Postpartum Hemorrhage. Obstetrics & Gynecology: Oc-
tober 2017 – Volume 130 – Issue 4 – p e168–e186.

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Rede Cegonha | 226

HIPERÊMESE GRAVÍDICA

1. INTRODUÇÃO

A ocorrência de náuseas e vômitos ocasionais até cerca de 14 sema-


nas de gestação é chamada êmese gravídica (NVG – náuseas e vômitos da
grávida), e pode ser considerada normal. Sua forma grave é chamada de
hiperêmese, com vômitos persistentes que obrigam ao jejum forçado e le-
vam à perda de peso e desidratação, respondendo por 1,1% de todos os
quadros de NVG. As NVG são mais graves entre gestantes que apresentam
situações com aumento das concentrações de GC (gonadotrofina coriô-
nica), a exemplo da gestação múltipla, doença trofoblástica gestacional,
gestantes com fetos do sexo feminino e de gestantes com fetos portadores
da síndrome de Down.
A maior parte das pacientes apresenta melhora a partir da segunda
metade da gestação, tornando-se ocasional após 20 semanas, mas em al-
guns casos o quadro clínico pode persistir até o parto.

2. DIAGNÓSTICO

• Vômitos incoercíveis antes de 20 semanas de gravidez. Náuseas


que iniciem após o 1º trimestre chamam atenção para doenças or-
gânicas
• Perda de peso corporal (4% a 10%) por redução do aporte alimen-
tar
• Sinais de desidratação grave, com redução do volume urinário
• Distúrbios hidroeletrolíticos
• Cetose
• Cetonúria
• Alterações laboratoriais

É importante determinar, nas mulheres com NVG, se existe um fa-


tor predisponente, como a insuficiência do cárdia, hipertireoidismo ou
dispepsias. As doenças do trato digestivo devem ser tradadas concomitan-
temente, para evitar evolução para quadros mais graves.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 227

A gravidade dos sintomas tem influência sistêmica, com reflexo


direto sobre as funções hepática e renal, e se os desvios metabólicos não
forem corrigidos, afeta o sistema cardiovascular (arritmias) e sistema ner-
voso central. A espoliação vitamínica e de aminoácidos, precursores da
formação dos neuromediadores, predispõe o aparecimento de alterações
comportamentais e neurológicas de intensidades variadas.

3. EXAMES

• Hemograma.
• Perfil eletrolítico (Na e K)
• Gasometria (de acordo com a gravidade)
• Função hepática (TGO/AST, TGP/ALT, Gama GT, Bilirrubinas) e renal
(ureia e creatinina)
• Amilase, lipase
• Glicemia
• TSH/t4 livre
• Sumário de urina e urocultura
• USG obstétrica e abdominal
• Esofagogastroduodenoscopia (nos casos sem remissão)

EXAMES RESULTADOS
Hemograma Hematócrito elevado, anemia mega-
loblástica
Transaminases, Amilase, Li- Elevadas
pase, Bilirrubinas
Ureia, Creatinina Elevadas
Glicose Diminuída
Proteínas Diminuídas
Tiamina Baixa
Hormônios tireoidianos TSH diminuído, T3 e T4 altos
Perfil eletrolítico Cloro, Potássio e Sódio diminuídos
Gasometria Alcalose metabólica
Rotina de urina Densidade alta, cetonúria
Ultrassom Abdominal Diagnóstico diferencial
Ultrassom pélvico Gestação múltipla, Neoplasia trofo-
blástica Gestacional
Tabela 1: Avaliação laboratorial e complementar na Hiperêmese gravídica. (Fonte:
série orientações e recomendações Febrasgo êmese da gravidez 2018).

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Rede Cegonha | 228

4. CLASSIFICAÇÃO

• Quanto à gravidade (avaliar as últimas 24h).

Determinação da gravidade da NVG – Escore de PUQE (Pregnancy Uni-


que Quanti cation of Emesis)

1 - Por quanto tempo se sentiu nauseada nas últimas 24 horas?


Nunca (1) – Até 4 horas (2) – Até 8 horas (3) – Até 12 horas (4) - > de 12
horas (5)
2 - Quantos episódios de vômitos apresentou nas últimas 24 horas?
Nenhum (1) – Um episódio (2) – Até 3 episódios (3) Até 4 episódios (4) –
mais de cinco (5)
3 - Quantos momentos observou intensa salivação e esforço de vômito
nas últimas 24 horas?
Nenhum (1) – Até 3 vezes (2) – Até 5 vezes (3) – Até 8 vezes (4) – Todo
tempo (5)
Classificação – Pontuação
≤6 forma leve
entre 7 e 11 forma moderada
≥12 forma grave
Fonte: Traduzido de Koren G, Piwko C, Ahn E, Boskovic R, Maltepe C, Einarson A, et
al. Validation studies of the Pregnancy Unique-Quanti cation of Emesis (PUQE) sco-
res. J Obstet Gynaecol. 2005;25(3):241-4

As formas moderadas e graves (PUQE >6), abordar de maneira mul-


tidisciplinar em ambiente hospitalar. O reconhecimento da hiperêmese é
fundamental para evitar a elevação da morbidade associada ao atraso do
tratamento.
Avaliar o comprometimento materno:
- Fase de desidratação: náusea e ptialismo intensos, vômitos, le-
vando a um quadro de desidratação. Distúrbios hidroeletrolíti-
cos podem estar presentes (Sódio alto, Cloro e Potássio um pouco
diminuídos), hematócrito um pouco aumentado.
- Fase metabólica: somam-se ao quadro anterior distúrbios nutri-
cionais (perda de peso > 5%), alterações da função hepática (au-
mento de transaminases e bilirrubinas, com leve icterícia), ceto-
acidose e cetonúria ++ ou +++, hipoalbuminemia, hiponatremia,

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 229

hipopotassemia, hipoglicemia, ainda hipotermia e torpor podem


ocorrer.
- Fase neurológica: soma-se ao anterior um quadro de comprome-
timento oftálmico com lesões retinianas e alterações neurológi-
cas iniciais com hiporreflexia e dor à palpação das panturrilhas
e coxas, que antecedem o acometimento encefálico( que é irre-
versível) em uma semana (interstício crítico de Briquet), período
em que a gravidez deve ser interrompida imediatamente.
- Fase da psicose de Wernicke-Korsakoff: encefalopatia amoniacal
caracterizada por instabilidade hemodinâmica de difícil con-
trole, alucinações e coma, irreversível na maioria das vezes.

5. CONDUTA

5.1 MEDIDAS GERAIS

• Internação nos casos moderados/graves.


• Apoio psicoemocional / psicoterapia.
• Manter cabeceira elevada.
• Suspender alimentação nas primeiras 24-48h (ou por mais tempo,
a depender da evolução do quadro clínico), retornando progressi-
vamente à dieta líquida e, em seguida, alimentos sólidos, de prefe-
rência pobres em lipídios e ricos em carboidratos, em pequenas
porções, em curtos intervalos (3-3h).
• Avaliar necessidade de nutrição parenteral nos casos mais graves.
• Controle diário de peso e diurese.
• Evitar medicamentos à base de ferro (piora os sintomas).
• Esclarecer a paciente e familiares sobre o caráter transitório dos
sintomas, e sobre a necessidade da gestante de atenção e apoio.

5.2 TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA

• Hidratação venosa e reposição iônica: a hidratação parenteral


deve ser iniciada de imediato (Ringer lactato ou Solução Salina).

• O ideal é a reposição de 2.000 a 4.000 ml em 24 horas, não devendo


exceder 6.000 ml/24 horas.

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Rede Cegonha | 230

• Nos casos de hidratação venosa prolongada, repor:

▪ Vitamina C 100mg/mL (ampola com 5 ml) 1 am-


pola ao dia
▪ Vitamina K 10mg IM a cada 3 dias
▪ Vitamina B1 (Tiamina) 100mg/mL (ampolas de
1mL) - 100 mg em 100 ml de solução salina, admi-
nistrada em 30 minutos, pode prevenir a Síndrome
de Wernicke
▪ Vitamina B6 (piridoxina) - utilizada na dose de 10
a 25 mg a cada 6 a 8 horas VO

• Reposição de Potássio está indicada nos casos de hipopotassemia,


isto é, valores abaixo de 3,5 mEq/l, o que raramente é necessário.

Se K < 2,5mEq/L ou sintomático: reposição EV (a repo-


sição por via venosa não deve ultrapassar 20 mEq/h)

▪ KCl 19,1% (ampolas de 10 ml, contém 2,5 mEq de


K por ml), administrar 1 ou 2 ampolas diluídas em
solução fisiológica (500ml a 1 litro), correr em 6
horas.

▪ KCl 10%, EV, na dose de 0,3 - 0,5 mEq/kg/h de po-


tássio em 6 horas, em bomba de infusão (usar SF
0,9%);

Se K entre 2,5-3,5mEq/L: reposição oral (Repor entre


40 a 80 mEq/dia)

▪ KCl xarope 6% (0,78 mEq K/mL); 15 a 30 ml após refei-


ções 3 vezes ao dia, 15 mL = 12 mEq

▪ Comprimido de liberação entérica (slow K = 1 drágea


= 8mEq) 2 drágeas de 8/8h

▪ Ampolas de KCl a 10% via oral 10 a 20 mL 3 vezes ao


dia acrescentado à dieta.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 231

• Evitar soluções com alta concentração de glicose

• Evitar reposição vigorosa de sódio

• Antieméticos
▪ Dimenidrinato: 50 a 100 mg IV, a cada 4 – 6 horas até
o máximo de 200 mg/dia
▪ Dramin B6 (amp de 10ml com 3mg/ml=30mg + 50mg
de piridoxina + 1g glicose e de frutose) 1 ampola por
via endovenosa até a cada 8 horas
▪ Metoclopramida: 10 a 20mg, IV, de 6/6 h
▪ Ondansetrona (em casos graves): 4 a 8 mg IV até de 6/6
h – IV lento por 15 a 20 minutos, evitar o uso no pri-
meiro trimestre
▪ Prometazina: 12,5 a 25 mg IM a cada 6 ou 8 h (amp de
2ml – 25mg/ml)

• Sedativos
▪ Levomepromazina – (em solução a 4%) - 3 gotas VO de
8/8 h
▪ Diazepam 5 mg VO ou 10 mg IV até de 8/8 h

• Corticosteróides
▪ Dexametasona (50 mg-IV de 12/12 horas por 24 a 48
horas
▪ Hidrocortisona (50mg VO 12-12h por 24-48h)
▪ Prednisona (10mg VO 12-12h por 7 dias – cp de 5 e
20mg-) não necessita de retirada gradual (esquema
curto)

5.3 TERAPÊUTICA ADJUVANTE

Omeprazol: 20 mg VO/ dia ou 40 mg (1 famp) EV/dia

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 232

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Minis-
tério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programá-
ticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. 302 p.
– (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Cabral AC, Duarte G, Moraes Filho OB, Vaz JO. Êmese da gravidez. São Paulo: Fe-
deração Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2018. Capítulo 3,
prognóstico e diagnóstico; p.10-15. [Orientações e Recomendações FEBRASGO,
no.2/Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal].
Cabral AC, Duarte G, Moraes Filho OB, Vaz JO. Êmese da gravidez. São Paulo: Fe-
deração Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2018. Capítulo 4,
Classificação e tratamento; p.16-23. [Orientações e Recomendações FEBRASGO,
no.2/Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal].
Cabral AC, Duarte G, Vaz JO, Moraes Filho OB. Êmese da gravidez. São Paulo: Fe-
deração Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2018. Capítulo 1,
O que é hiperêmese gravídica e qual a sua importância; p.1-3. [Orientações e Re-
comendações FEBRASGO, no.2/Comissão Nacional Especializada em Assistência
Pré-Natal].
Duarte G, Cabral ACV, Vaz JO, Moraes Filho OB. Êmese da gravidez. São Paulo:
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2018. Capítulo
2, Etiologia; p. 4-9. [Orientações e Recomendações FEBRASGO, no.2/Comissão Na-
cional Especializada em Assistência Pré-Natal].
Vaz JO. Náuseas e vômitos na gravidez. São Paulo: Federação Brasileira das Asso-
ciações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. (Protocolo Febrasgo – Obs-
tetrícia, nº 3/Comissão Nacional Especializada em Assistência Pré-Natal).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 233

INDUÇÃO DO PARTO COM FETO VIVO

1. INTRODUÇÃO

Consiste em estimular artificialmente o preparo do colo e as con-


trações uterinas coordenadas e efetivas antes do seu início espontâneo,
levando ao desencadeamento do trabalho de parto, em mulheres com IG ≥
23semanas.

A indução deve ser consentida e documentada (TCLE)

2. CONTRAINDICAÇÕES

2.1ABSOLUTAS

o Placenta prévia centro-total o Herpes genital ativo


o Vasa prévia o Tumores prévios de colo e va-
gina
o CTG anteparto não tranquili- o Câncer invasivo de colo ou va-
zadora gina
o Apresentação anômala o Mioma em segmento inferior
o Prolapso de cordão umbilcal o Desproporção céfalo-pélvica
o Anormalidades na pelve ma- o Cicatriz de miomectomia
terna
o Incisão uterina longitudinal o Ruptura uterina prévia
ou em “T” invertido em cesá-
rea anterior

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 234

2.2RELATIVAS

o Macrossomia fetal (≥ 4kg por o FCF não tranquilizadora


USG)
o Gemelar o Doença cardíaca materna
o Apresentação pélvica/córmica o Infecção por HIV

3. MÉTODOS

Para escolha do método a ser utilizado, usa-se o escore de Bishop


modificado:

PONTUAÇÃO 0 1 2 3

Altura da apresentação -3 -2 -1/0 +1/+2

Dilatação do colo (cm) 0 1-2 3-4 >4

Comprimento do colo (cm) >2 2 1 <1

Consistência do colo Firme Inter- Amole- -


mediá- cido
rio
Posição do colo Poste- Inter- Cantra- -
rior mediá- lizado
rio

3.1 FARMACOLÓGICO

o OCITOCINA

Indicada em pacientes com colo favorável (Bishop ≥ 6)


Apresentação: ampolas de 5 UI (ideal administrar em
bomba de infusão).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 235

DOSE: 01 ampola (5 UI) + SF 0,9% 500ml IV 8 gotas/minuto (ou


24 ml/h em BIC). Aumentar o gotejamento, gradualmente a
cada 30 minutos até dose máxima de 32 gotas/minutos (alguns
autores preconizam dose máxima de até 64 gts/min). Se após
2h de dose máxima de ocitocina o padrão contátil ideal não seja
atingido, pode-se considerar falha de indução.

Obs.: Caso tenha sido administrado misoprostol para amadure-


cimento do colo, respeitar o intervalo mínimo de 6h antes de
iniciar a ocitocina.

Tabela 1: Orientação para infusão de ocitocina

Tempo após o Dose de ocitocina Volume infundido ml/hora


início (min) (mU/min) (Diluição 5UI em 500mL)
30 4 24ml/h ou 8 gts/min
60 8 48ml/h ou 16 gts/min
90 12 72ml/h ou 24gts/min
120 16 96ml/h ou 32 gts/min

➢ RISCOS DA OCITOCINA:

• Alterações da contratilidade uterina: se mais de 5 contra-


ções em 10 minutos ou uma contração durando mais de
120 segundos
o Deve-se diminuir a velocidade de infusão e reavaliar
a situação. Reiniciar a uma dose e velocidade meno-
res caso as condições melhorem.

• Síndrome de hiperestimulação uterina: alterações da


contratilidade uterina com desacelerações e ou anorma-
lidades da FCF.
o Conduta:
▪ SUSPENDER A INFUSÃO DE OCITOCINA;
▪ Posicionar a gestante em decúbito lateral es-
querdo;
▪ Oferecer O2
▪ por máscara a 10l/min ou cateter 5l/min;

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 236

▪ Avaliar pressão arterial;


▪ Fazer um toque vaginal e avaliar dilatação cervi-
cal
▪ Considerar infusão rápida de cristaloides;
▪ Preparar para uma possível cesariana se as con-
dições fetais não retornarem ao normal;
▪ Administrar um agente tocolítico

Terbutalina 0,25mg (1/2 amp) subcutâneo (amp de 0,5mg) ou


Nifedipina 20mg VO a cada 30min (máximo de 4 doses)

• Sinais de iminência de rotura uterina (sinal de Brandl-


Frommel), rotura uterina.
o Deve-se solicitar ajuda, monitorização, sala de cirur-
gia disponível, estabilização materna e laparotomia.

o MISOPROSTOL

Indicado em pacientes com colo desfavorável (Bishop < 6)


Apresentação: comprimido de 25mcg.

DOSE: Aplicar 01 comprimido via vaginal, em fundo de saco va-


ginal posterior, embebido em água destilada (evitar o uso de
gel). Após introdução do comprimido via vaginal, a paciente
deve permanecer em repouso por 30 minutos.

A partir de 26 sem, 25mcg, via vaginal, 6/6h por 24h (de prefe-
rência às 6-12-18-24h). Manter até o colo atingir Bishop ≥ 6 em
até 24h.

Se não houver resposta, o caso deve ser revisto, e um novo


ciclo deve ser repetido.

Após 48h sem evolução satisfatória, considerar falha de indu-


ção = cesárea. Se colo favorável (Bishop > 6) – iniciar ocitocina.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 237

Misoprostol é um análogo sintético da PGE1, atuando no amadureci-


mento cervical por meio da degradação do colágeno do tecido con-
juntivo do colo uterino, bem como no aumento das contrações
uterinas.

➢ RISCOS DO MISOPROSTOL:

• Atividade uterina excessiva ou taquissistolia: mais de 5 con-


trações em 10 minutos ou uma contração durando mais de
120 segundos;
• Síndrome de hiperestimulação uterina: alterações da con-
tratilidade uterina com desacelerações e/ou outras anorma-
lidades da FCF;
• Sinais de comprometimento fetal.
o Conduta
▪ Administrar um agente tocolítico

Terbutalina 0,25mg (1/2 amp) subcutâneo (amp de 0,5mg) ou


Nifedipina 20mg VO a cada 30min (máx de 4 doses)

▪ Remover as partes do comprimido que não forem


absorvidas

• Sinais de iminência de rotura uterina (sinal de Bandl-


Frommel), rotura uterina.
o Solicitar ajuda, monitorização, sala de cirurgia disponí-
vel, estabilização materna e laparotomia.

Contra-indicação ao uso de misoprostol Mulheres


com cesárea anterior

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Rede Cegonha | 238

FLUXOGRAMA DE INDUÇÃO COM MISOPROSTOL

MISOPROSTOL 25MG 6/6h VV (24h)

REAVALIAR APÓS 24h

BISHOP ≥6 BISHOP < 6

OCITOCINA REAVALIAR NOVO


CICLO (MAIS 24h)

DOSE TOTAL: 8
COMPRIMIDOS

3.2 MECÂNICO

o Sonda Vesical de Demora (Foley) – método de Krause

Indicado quando há contra-indicação ao misoprostol (CICA-


TRIZ UTERINA), e o colo é desfavorável.

Técnica:
• Por meio do exame especular, limpar o colo e a vagina
com solução antisséptica (clorexidina aquosa)
• Introduzir no canal cervical uma sonda vesical de de-
mora nº 16 (pode ser 16 a 24)
• Insuflar o balão com 50 a 60 ml de água destilada ou
soro fisiológico

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 239

• Tracionar e fixar na face interna da coxa da paciente


com esparadrapo
• Tracionar a sonda a cada 6 horas até sua expulsão e
mantê-la tracionada por, no máximo, 24h.
• Após expulsão espontânea da sonda ou retirada do ba-
lão, iniciar ocitocina cuidadosamente caso não se veri-
fiquem contrações efetivas.

Remover o cateter após rotura de membranas. (Contra-indicação –


amniorrexe).

Obs.: Fazer CTG antes do inicio da indução e ausculta fetal de


2/2h nos fetos viáveis durante indução até o início das contra-
ções.

o Amniotomia

Para a indução, a amniotomia seguida da infusão endovenosa


de ocitocina mostrou-se mais eficaz. É um método reservado para
mulheres com colo uterino favorável (escore de Bishop ≥ 6).

Realizar a amniotomia por meio de amniótomo, avaliando a


frequência cardíaca fetal antes e após. A indicação deve ser criteriosa na
presença de apresentação fetal alta.

Risco da amniotomia: Prolapso de cordão após realização da am-


niotomia, principalmente em mulheres com apresentação fetal alta. No
prolapso de cordão há indicação de ações imediatas para a realização do
parto.

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Rede Cegonha | 240

4. FLUXOGRAMA

PACIENTE COM INDICAÇÃO DE INDUÇÃO

ÍNDICE DE BISHOP

<6 ≥ 6

MISOPROSTOL 25MCG VV DE INDUÇÃO COM


6/6H, MÁX 8 DOSES OCITOCINA

APÓS A OITAVA DOSE


NÃO SIM
BISHOP > 6

NÃO SIM
CESÁREA PARTO
FALHA DA VAGINAL
INDUÇÃO

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 241

REFERÊNCIAS

American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Practice Bulletin nº


107: Induction of labor. Obstet Gynecol 2009; 114(2, Part 1):386-97. (Reaffirmed
2016).
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Minis-
tério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programá-
ticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2012. 302 p.
– (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Howarth G, Botha DJ. Amniotomy plus intravenous oxytocin for induction of la-
bour. Cochrane Database of Systematic Reviews 2001, Issue 3. Art. No.: CD003250.
Morris J, Winikoff B, Dabash R, Weeks A, Faundes A, Gemzell-Danielsson K, Kapp
N, Castleman L, Kim C, Ho P C, Visser G. FIGO's updated recommendations for
misoprostol used alone in gynecology and obstetrics. International journal of
gynaecology and obstetrics: the official organ of the International Federation of
Gynaecology and Obstetrics. 2017; 138. 10.1002/ijgo.12181.
Paro HBS, Catani RR. Indução do trabalho de parto em mulheres com ou sem ce-
sárea anterior: Protocolo Assistencial do Hospital de Clínicas de Uberlândia/
EDUFU,2019.
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tical Guideline nº 296: Induction of Labour. J Obstet Gynaecol Can 2013;35(9): S1-
S18.
World Health Organization (WHO). WHO recommendations for Induction of la-
bour. Geneva: World Health Organization, 2011.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 242

INFECÇÃO DO TRATO
URINÁRIO NA GESTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

As infecções do trato urinário (ITU) ocorrem em 17 a 20% das gesta-


ções e se associam a complicações como rotura prematura de membranas
ovulares, trabalho de parto prematuro, corioamnionite, febre no pós-
parto, sepse materna e infecção neonatal. Podem ser assintomáticas (bac-
teriúria assintomática) ou sintomáticas (cistite ou pielonefrite).
As modificações gravídicas aumentam a prevalência de bacteriúria as-
sintomática, pielonefrite e quadros recorrentes de ITU durante a gravidez.
A gestação se associa a uma maior estase de urina, seja por dificulda-
des de esvaziamento associadas à compressão pelo útero gravídico, seja
pelo peristaltismo ureteral reduzido e pela leve dilatação ureteral obser-
vada durante a gestação. Essa tendência à estase perturba um dos meca-
nismos de proteção do trato urinário contra a aderência e invasão bacte-
rianas – o fluxo de urina e esvaziamento miccional, acarretando a desca-
mação de células superficiais e a eliminação de bactérias eventualmente
aderidas.
Em 80% das infecções do trato urinário, a Escherichia coli (E.coli) é o
agente etiológico identificado.

2. CLASSIFICAÇÃO E CONDUTA

2.1 BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA

A bacteriúria assintomática (BA) é definida como crescimento maior


ou igual a 100.000 unidades formadoras de colônia por mililitro (UFC/ml)
de um único uropatógeno em pacientes sem sintomas urinários.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 243

• CONDUTA

• A urocultura deve ser realizada como rotina pré-natal no pri-


meiro trimestre da gestação, e, posteriormente, uma em cada
trimestre.
• Toda bacteriúria assintomática na gestação deve ser tratada.
• Antibióticos

Nitrofurantoína* 100mg VO de 6/6 horas por 5 a 7 dias


Cefalexina 500mg VO de 6/ 6 horas por 7 dias
Cefuroxima 250mg VO de 8/8h por 7 dias
Fosfomicina 3g dose única
Amoxicilina-clavulanato (500mg + 125mg 8/8h ou 875mg + 125mg
12/12h) por 7 dias
Sulfametoxazol – trimetoprim (SMT+TMP)* (160/800mg) VO de 12/12
horas por 5 dias

* Devem ser evitados nos últimos dias antes do parto.

Nitrofurantoína: risco de hemólise em fetos ou recém-nascidos com de-


ficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD), prevalente em
0,0004% dos conceptos, devendo, portanto, ser evitada nas últimas sema-
nas da gestação.
Sulfametoxazol + trimetoprim: aumento teórico do risco de Kernicterus.
Associar ácido fólico (sulfa é antagonista do ácido fólico). Há relatos na
população brasileira de taxas de até 30% de resistência da E.coli a
SMT+TMP. Deve ser evitada no primeiro trimestre.

2.2. CISTITE

É a infecção sintomática baixa do trato urinário. Caracteriza-se por


polaciúria, disúria principalmente terminal e/ou desconforto suprapú-
bico.

➢ EXAMES

• Sumário de urina: presença de bactérias, piúria e nitrito,


sendo importante reforçar que a ausência de nitrito não
exclui a presença de cistite.

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Rede Cegonha | 244

• Urocultura ≥ 50 UFC/ ml (confirma o diagnóstico na pre-


sença de sintomas).

➢ CONDUTA

• O tratamento deve ser iniciado sempre que houver sus-


peita clínica.
• Aumentar a ingesta hídrica.
• Colher urocultura antes do início do antibiótico (após o
resultado da urocultura e antibiograma, pode se ajustar o
antibiótico).
• Antibióticos: mesmos da cistite.
• Sempre solicitar urocultura de controle após o tratamento
(7 dias após).
• Se cistite recorrente, conforme definição descrita mais
adiante, recomenda-se iniciar profilaxia com antibiotico-
terapia oral, uma vez ao dia durante a gravidez e até duas
semanas após o parto, com:
▪ Nitrofurantoína 100 mg OU
▪ Amoxicilina 250mg OU
▪ Cefalexina 250mg

2.3. PIELONEFRITE

Caracteriza-se pela presença de sintomas sistêmicos como: febre,


calafrios, cefaleia, náuseas, vômitos e/ ou hipersensibilidade do ângulo
costovertebral (sinal de Giordano +). Afeta 1 a 2% das gestantes.
Pode estar associada à desidratação, perda de função renal, ane-
mia, sepse, prematuridade, baixo peso ao nascer, infecção feto-anexial e
puerperal. Em razão do alto risco de complicações, o tratamento da ges-
tante com pielonefrite deve ser feito em regime de internação, permitindo
a monitorização dos sinais vitais, a identificação precoce de sinais de gra-
vidade, o controle da diurese, a hidratação e a utilização parenteral dos
antibióticos.

Todas as gestantes com diagnóstico de pielonefrite devem ser hos-


pitalizadas.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 245

• EXAMES

1. Hemograma;
2. Sumário de urina;
3. Urocultura com antibiograma;
4. PCR;
5. Ultrassom de aparelho urinário (nos casos de suspeita de
pielonefrites complicadas como gestantes em uso de imu-
nossupressão, portadoras de litíase, insuficiência renal, e/
ou rim único).

➔ Nos casos mais graves: Gestantes com sinais clínicos de gravidade


como taquicardia, hipotensão, taquipneia, dentre outros, devem
ser submetidas também a exames de dosagem de eletrólitos, ava-
liação de função renal e coleta de hemoculturas e pesquisas de ou-
tros focos e complicações, com realização de radiografia de tórax.

• CONDUTA

1. Venóclise + Hidratação (2000ml de SF ou SRL) + monitori-


zação de sinais vitais e curva térmica;
2. Antibioticoterapia venosa.

Cefalotina 1g EV 6/6h por 7 dias


Ceftriaxona 1g EV 12/12h por 7 dias
Cefepime 1g EV 12/12h por 7 dias

Se a resposta terapêutica for satisfatória (paciente afebril por 48


horas), avaliar mudança para terapia oral, preferencialmente guiada por
urocultura com antibiograma. Manter tratamento por via oral por 10 dias.
Em todos os casos de infecção urinária deve-se realizar cultura de
urina para controle de cura 7 dias após o final do tratamento.

As ITU são consideradas recorrentes quando preenchem pelo me-


nos um dos critérios abaixo:
• Dois ou mais episódios de ITU na gestação, sintomáticos ou
não;
• Duas infecções urinárias nos últimos seis meses ou três nos
últimos 12 meses, antes do início da gestação.

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Rede Cegonha | 246

3. PROFILAXIA

A profilaxia com antibióticos reduz em até 95% a chance de nova


infecção e deve ser realizada quando houver:

• História prévia de ITU recorrentes antes da gestação;


• Um episódio de pielonefrite durante a gravidez;
• Duas ou mais ITU baixas na gestação;
• Uma ITU baixa, complicada por hematúria franca e/ou febre;
• Uma ITU baixa associada a fatores de risco importantes para
recorrência.

Recomenda-se realizar profilaxia com antibioticoterapia oral,


uma vez ao dia durante a gravidez e até duas semanas após o parto, com:

• Nitrofurantoína 100 mg OU;


• Amoxicilina 250mg OU;
• Cefalexina 250mg.

Em caso de BA recorrente (dois ou mais episódios): os dados


são insuficientes para recomendar o uso de profilaxia com antibiótico.

REFERÊNCIAS

Huttner A, Kowalczyk A, Turjeman A, Babich T, Brossier C, Eliakim-Raz N, et al.


Effect of 5-Day Nitrofurantoin vs Single-Dose Fosfomycin on Clinical Resolution
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Clinical Trial. JAMA. 2018;319(17):1781-9.
Koch CR, Ribeiro Juliana C, Schnor OH, Zimmermann BS, Müller FM, D' Agostin J
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2000-2004. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2008; 41(3): 277-281. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-
86822008000300010&lng=en.
Moroni RM, Brito LGO. Infecção urinária de repetição - aspectos atuais. São Paulo:
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO);
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Nicolle LE, Gupta K, Bradley SF, Colgan R, DeMuri GP, Drekonja D, et al. Clinical
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 247

Update by the Infectious Diseases Society of Americaa. Clinical infectious disea-


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Santos Filho O O, Telini AH. Infecções do trato urinário durante a gravidez. São
Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FE-
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Thomas MH, MD, Kalpana G. Urinary tract infections and asymptomatic bacteriu-
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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 248

INFECÇÃO PUERPERAL

1. DEFINIÇÃO

Entende-se por infecção puerperal qualquer infecção do trato genital


ocorrida durante o puerpério. Entre outras manifestações, a paciente
pode apresentar febre puerperal, definida por temperatura axilar maior
ou igual a 38º C manifestada após 24 horas do parto, com duração mínima
de dois dias, nos primeiros 10 dias após o parto.
Juntamente com estados hipertensivos e hemorrágicos, a febre puer-
peral forma a tríade letal do ciclo gravídico-puerperal, uma vez que pode
evoluir para quadro de sepse, constituindo um importante problema de
saúde pública que demanda medidas de prevenção nos serviços de saúde.
O parto por cesariana é, isoladamente, o principal fator de risco para
a infecção puerperal, provavelmente em decorrência de prolongamento
da incisão miometrial em segmento inferior espesso, ocorrido após partos
prolongados e muito manuseados (múltiplos toques), após amniorrexe
prolongada com infecção materna (corioamnionite) ou por manipulações
para desprendimento da apresentação profundamente insinuada.
A etiologia é geralmente polimicrobiana e por microrganismos que fa-
zem parte da microflora do trato genital inferior ou introduzidos por fon-
tes exógenas.

2. FORMAS CLÍNICAS

2.1 INFECÇÃO DE FERIDA OPERATÓRIA – SÍTIO CIRÚRGICO (ISC)

As infecções no pós-operatório de cirurgias obstétricas são, na sua


maioria, provocadas por bactérias endógenas. Estima-se que, após 24hs do
procedimento, a ferida cirúrgica está selada e, portanto, protegida da con-
taminação exógena. Fontes exógenas podem ter importância durante o
ato cirúrgico; portanto, uma rigorosa técnica asséptica deve ser mantida
com o intuito de prevenir a contaminação.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 249

De forma geral, o quadro clínico se caracteriza por eritema circuns-


crevendo a incisão, dor, calor, induração, deiscência e drenagem puru-
lenta pela incisão cirúrgica.
O termo infecção de sítio cirúrgico compreende três subgrupos:

• Infecção superficial (pele e tecido celular subcutâneo);


• Infecção profunda (abscessos no nível subaponeurótico ou
submuscular);
• Infecção de órgãos e espaços (infecção/abscessos cavitá-
rios).

✓ ISC Incisional Superficial (ISC-IS)

Critério 1: Ocorre até 30 dias subsequentes ao ato cirúrgico.


Critério 2: Envolve apenas pele e tecido subcutâneo.
Critério 3: Atende a pelo menos UM dos seguintes critérios:
• Drenagem purulenta da incisão superficial;
• Cultura positiva de secreção ou tecido superficial obtido as-
septicamente; Microrganismo isolado em cultura de secreção
ou tecido endometrial, obtido durante cirurgia por aspiração
ou biópsia;
• Incisão superficial aberta pelo cirurgião na vigência de pelo
menos um dos seguintes sinais e sintomas: dor, hipersensibi-
lidade, edema local, calor, hiperemia e cultura positiva ou não
realizada; desconsiderar cultura negativa;
• Diagnóstico de infecção superficial feita pelo médico assis-
tente.

CONDUTA

• Hemograma (para controle clínico);


• Sintomáticos;
• Antibióticos.

Apesar de a maioria das pacientes receber antibióticos no início do


diagnóstico de ISC, esta prática tem pouco suporte em evidências científi-
cas.

• Com celulite – Antibiótico:

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 250

Cefalotina 1g IV 6/6h por 7 dias ou até tornar-se afebril por 48h,


sendo mantida cefalexina 500mg VO de 6/6h até completar 7 dias.
Para pacientes alérgicas: clindamicina 600mg 6/6h IV.

• Se necessário, realizar exploração e excisão do tecido necró-


tico;
• Sem celulite – drenagem.

Parecer da CCIH e Comissão de pele do hospital em casos seleciona-


dos.

✓ ISC Incisional Profunda (ISC-IP)

Critério 1: Ocorre nos primeiros 30 dias após a cirurgia;


Critério 2: Envolve tecidos moles profundos à incisão (por exemplo:
fáscia e/ou músculos);
Critério 3: Com pelo menos UM dos seguintes sinais ou sintomas:
• Drenagem purulenta da incisão profunda, mas não de ór-
gão/cavidade;
• Deiscência parcial ou total da parede abdominal ou abertura
da ferida pelo cirurgião, temperatura axilar ≥ 38ºC, dor ou au-
mento da sensibilidade local, exceto se a cultura for negativa;
• Presença de abscesso ou outra evidência de que a infecção en-
volva os planos profundos da ferida, identificada em reopera-
ção, exame clínico, histocitopatológico ou exame de imagem;
• Diagnóstico de infecção incisional profunda pelo médico as-
sistente.

EXAMES

• Hemograma;
• Hemocultura;
• Função renal;
• Cultura de urina com antibiograma;
• Cultura do material;
• Raios X do tórax e abdome (nos quadros graves);
• Ultrassonografia na suspeita de abscessos intracavitários ou
da parede abdominal;
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 251

• Considerar tomografia e ressonância nuclear magnética nos


casos de difícil elucidação.

CONDUTA

• Internação;
• Hidratação;
• Sintomáticos;
• Antibióticos:

Clindamicina 600mg 6/6h + Gentamicina 240mg IV dose única di-


ária ou
Ampicilina 2g IV 6/6h + Gentamicina 240mg IV dose única + Me-
tronizadol 500mg IV 8/8h por 7 a 10 dias

• Parecer da CCIH e Comissão de pele do hospital em casos se-


lecionados.

✓ Infecção de órgãos e espaços (infecção/abscessos cavitários)

Critério 1: Ocorre até 30 dias após ato cirúrgico.


Critério 2: Envolve qualquer órgão ou cavidade que tenha sido
aberta ou manipulada durante cirurgia.
Critério 3: Com pelo menos UM dos seguintes sinais ou sintomas –
cultura positiva de secreção ou tecido do órgão/cavidade obtida assepti-
camente; abscesso ou qualquer evidência de que a infecção envolva planos
profundos da ferida identificada em reoperação, exame clínico, histocito-
patológico ou de imagem; diagnóstico feito pelo médico assistente.

EXAMES

• Hemograma;
• Hemocultura;
• Função renal;
• Cultura de urina com antibiograma;
• Cultura do material;
• Raios X do tórax e abdome (nos quadros graves);
• Ultrassonografia na suspeita de abscessos intracavitários ou
da parede abdominal;
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Rede Cegonha | 252

• Considerar tomografia e ressonância nuclear magnética nos


casos de difícil elucidação.

CONDUTA

• Internação;
• Hidratação;
• Sintomáticos;
• Antibióticos:

Ampicilina 2g IV 6/6h + Gentamicina 240mg IV dose única + Me-


tronizadol 500mg IV 8/8h

• Parecer da CCIH e Comissão de pele do hospital em casos seleci-


onados.

2.2 INFECÇÃO DE EPISIOTOMIA OU DE LACERAÇÕES VAGINAIS

A incidência de infecção na episiotomia geralmente é baixa, ainda


mais por se tratar de procedimento com indicações restritas na obstetrícia
atual. As demais infecções resultam de lacerações, deiscências e hemato-
mas contaminados pela microflora vaginal.
O quadro clínico se caracteriza por dor intensa na região perineal,
hiperemia, calor e abscessos em formação.
Em geral não é um caso grave. Quando há infecção grave com áreas
extensas e necrose de estruturas perineais, é necessário desbridamento e
antimicrobiano sistêmico em regime de internação hospitalar.

CONDUTA

• Explorar a ferida com abertura e limpeza com SF 0,9%;


• Avaliação cuidadosa do canal vaginal para excluir a formação de
fístulas vaginais ou retais;
• Toque retal para avaliar integridade da mucosa retal e esfíncteres;
• Antibioticoterapia (casos mais graves):

Cefalotina 01g EV 6/6h ou ;Cefalexina 500mg VO 6/6h

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 253

• Cicatrização por segunda intenção;


• Comunicar a CCIH.

2.3 ENDOMETRITE

É a forma clínica mais frequente de infecção puerperal. Surge en-


tre o 4º- 5º dia pós-parto, sendo geralmente o início dos processos infecci-
osos do útero e anexos.

QUADRO CLÍNICO

Elevação da temperatura (excluindo as primeiras 24h após o


parto);
Taquicardia (frequência cardíaca maior que 120), calafrios, dor ab-
dominal, útero amolecido e subinvoluído, lóquios purulentos com odor fé-
tido.

Útero doloroso, amolecido e subinvoluido (Tríade de Bumm)

Nas formas graves pode-se observar febre alta, mal-estar, letargia,


sensibilidade abdominal e dor intensa à mobilização uterina, hipotensão,
íleo paralítico, podendo progredir para peritonite.

ACHADOS LABORATORIAIS

• Hemograma: Leucocitose >20.000/mm3 com desvio à esquerda. →


Lembrar que a leucocitose é comum após o parto. A proporção
normal de bastonetes e segmentados é de 1:16, podendo haver
presença de granulações tóxicas grosseiras.
• Sumário de urina / urocultura – descartar infecção urinária.
• Lactato (formas graves).
• Hemocultura (solicitar em imunossuprimidas, sepse ou falha tera-
pêutica).

EXAMES DE IMAGEM

• Ultrassonografia transvaginal – restos placentários, abscessos e


hematomas intracavitários ou de parede abdominal.

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Rede Cegonha | 254

CONDUTA

• Hidratação;
• Curetagem uterina, se restos placentários;
• Antibioticoterapia inicial – como a infecção é polimicrobiana a an-
tibioticoterapia deve ser de amplo espectro;
• Profilaxia para trombose venosa profunda com enoxaparina só-
dica 40 mg SC 1 vez ao dia;
• Antibioticoterapia:

Clindamicina 600mg IV 6/6h + Gentamicina 240mg IV 1 vez ao dia

Esquemas alternativos:

Cefalotina (1g 6/6h IV) + Metronidazol (500mg 6/6h IV)


Ceftriaxona (1g IV 12/12h) + Clindamicina 600mg IV 6/6h
por 7 dias.
(se houver comprometimento renal)

A antibioticoterapia endovenosa deve ser mantida até a paciente


tornar-se afebril e assintomática por 72 horas. A continuação do trata-
mento com antibióticos VO não é necessária nos casos não complica-
dos.
A persistência de febre após 48 horas de antibioticoterapia indica
reavaliação da paciente através de exame ginecológico, ultrassonografia
abdominal e pélvica com doppler colorido, tomografia computadorizada e
ressonância magnética. Nesses casos, deve-se avaliar a mudança de es-
quema terapêutico e intensificar a vigilância materna, pois um quadro in-
feccioso local pode evoluir para anexite, parametrite, abscesso pélvico,
tromboflebite pélvica séptica e sepse.
O tratamento cirúrgico é indicado para a remoção de restos placen-
tários através da curetagem uterina; desbridamento de material necrótico
em feridas cirúrgicas (perineal e abdominal); drenagem de abscessos (pe-
rineal, de parede abdominal e intracavitário); histerectomia com ou sem
anexectomia nas formas disseminadas e nas localizadas ou propagadas
que não respondem ao tratamento clínico.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 255

2.4 ANEXITE / PARAMETRITE / ABSCESSO PÉLVICO

São evoluções da endometrite, sendo a anexite a forma mais fre-


quente.

QUADRO CLÍNICO

• Febre elevada (>39ºC);


• Dor abdominal aguda com ou sem defesa abdominal;
• Toque vaginal: dor importante em anexos com ou sem tumoração
anexial;
• Sinais de peritonite: dor abdominal intensa com Blumberg posi-
tivo, irritação peritoneal e pode ter íleo paralítico.

EXAMES

• Hemograma: Leucocitose > 20.000/mm3 com desvio à esquerda.


Lembrar que a leucocitose é comum após o parto. A proporção
normal de bastonetes e segmentados é de 1:16, podendo haver
presença de granulações tóxicas grosseiras.
• Sumário de urina / urocultura – descartar infecção urinária.
• Lactato (formas graves).
• Hemocultura (solicitar em imunossuprimidas, sepse ou falha tera-
pêutica).
• USG: útil quando há tumoração anexial ou para visualização de
abscesso pélvico.

CONDUTA

1- Antibióticos (mesmo da endometrite).


2- Drenagem do abscesso (laparotomia exploradora) + 10 dias de anti-
bióticos
Obs.: enviar material para cultura.

Abscessos Intracavitários ⇨ coleções purulentas⇨ Laparotomia Ex-


ploradora
Abscessos em Fundo de saco de Douglas ⇨ Colpotomia e drenagem

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Rede Cegonha | 256

2.5 TROMBOFLEBITE PÉLVICA SÉPTICA

Em alguns casos as parametrites e peritonites podem complicar


com trombose das veias pélvicas (trombose de veia ovariana e trombofle-
bite pélvica séptica profunda), seguida por contaminação microbiana, po-
dendo ocorrer embolização de trombos infectados para o cérebro, pul-
mões e rins, caracterizando choque séptico.
O quadro clínico manifesta-se com febre de origem desconhecida e,
na ausência de obstrução venosa, o diagnóstico torna-se extremamente
difícil e inespecífico, podendo surgir calafrios, taquicardia, dor pélvica, si-
nais de trombose (TVP, TEP).
Pode ser indistinguível da endometrite, exceto pela não resposta
aos antibióticos.

EXAMES

• Hemograma + Coagulograma.
• Dopplerfluxometria – na ocorrência de infecção puerperal, a au-
sência de fluxo na veia ovariana é um indicativo de tromboflebite
pélvica.
• Tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética –
avaliam com mais precisão a extensão dos processos infecciosos,
tais como salpingite com piossalpinge, abscessos e tromboflebite
pélvica.
• Parecer do cirurgião vascular.

CONDUTA

• Admissão em Unidade de Terapia Intensiva (UTI);


• Manter antibioticoterapia IV;
• Associar heparinização plena:
Dose de ataque: 5000 a 10.000 IV em bolus;
Dose de manutenção: 1.000 a 1.500/h até TTPA 1,5 a 2 vezes o valor
basal.

Espera-se melhora clínica e cessação da febre com 24-36 horas após


início do tratamento.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 257

2.6 MASTITE

Trata-se de processo inflamatório resultante da estase láctea, dis-


tensão alveolar e obstrução ao fluxo do leite. Posteriormente ocorre pro-
liferação bacteriana, especialmente na presença de traumas mamilares, e
o processo se torna infeccioso, podendo evoluir, inclusive, para quadros
mais graves, com abscessos mamários e sepse.

Podem ser divididas em 2 tipos:

✓ EPIDÊMICA

Causada por cepas altamente virulentas de Staphylococcus aureus


produtor de penicilinase, com aparecimento precoce (4º dia pós-parto); é
menos frequente, sendo associada à piodermite do recém-nascido.

✓ ENDÊMICA

Staphylococcus aureus é o principal agente, presente em 60% das


vezes, mas também podemos encontrar Staphylococcus epidermidis,
Streptococcus sp., Escherichia coli, entre outros. A mastite endêmica, geral-
mente, é mais tardia, após a 2ª semana ou no desmame.

QUADRO CLÍNICO

• Sinais flogísticos (dor, calor e rubor mamário);


• Febre;
• Mamas túrgidas.

EXAMES

• Ultrassonografia mamária;
• Hemograma.

CONDUTA

• Apoio do banco de leite/posto de coleta de leite humano;


• Esvaziamento da mama afetada (ordenha manual, mecânica ou
elétrica), posicionamento adequado das mamas;

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Rede Cegonha | 258

• Hidratação oral;
• Analgésicos e anti-inflamatórios (paracetamol, ibuprofeno,
piroxicam);
• Antibióticos (7 a 10 dias):

MASTITE EPIDÊMICA IV

CLINDAMICINA 600mg 6/6h


ou
CEFALOTINA 1g 6/6h
ou
CEFALOTINA ou METRONI- 1g 6/6h + 500mg 8/8h
DAZOL

MASTITE ENDÊMICA VO

CEFALEXINA 500mg 6/6h

CLINDAMICINA 600mg 6/6h

AMOXICILINA + CLAVULA- 875/ 125mg 12/12h


NATO

Alérgicas às cefalosporinas – Eritromicina 500mg VO 6/6h por 7 a 10 dias


(usar preferencialmente o estearato de eritromicina, uma vez que o esto-
lato de eritromicina está relacionado a risco aumentado de colestase). Não
há indicação de inibição da lactação.

2.7 ABSCESSO MAMÁRIO

DEFINIÇÃO

É um processo infeccioso agudo decorrente da mastite, com forma-


ção de “lojas” (únicas ou múltiplas), podendo evoluir para necrose do te-
cido mamário.
Além de dor intensa, o quadro clínico infeccioso pode cursar com
prostração e queda importante do estado geral.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 259

EXAMES

• Hemograma;
• USG mamária;

CONDUTA

Drenagem: esvaziamento das lojas, que pode ser por meio de pun-
ção guiada por US (para abscessos < 5cm), ou drenagem cirúrgica e remo-
ção de áreas necróticas quando mais extenso, sendo recomendada coloca-
ção de dreno por 24 h (Penrose).
Esvaziamento manual: o aleitamento materno pode ser suspenso
provisoriamente na mama afetada, com esvaziamento por ordenha ma-
nual, mecânica ou elétrica.
Antibioticoterapia: semelhante ao da mastite, com antibiótico pre-
ferentemente guiado por cultura e antibiograma;
Apoio do banco de leite/posto de coleta de leite humano;
Lembrar-se de fazer diagnóstico diferencial com câncer de mama
(inflamatório).

3. MEDIDAS DE PREVENÇÃO E CONTOLE

3.1 MEDIDAS GERAIS

• Capacitação da equipe sobre prevenção da infecção;


• Prover retorno dos índices de infecção aos profissionais de saúde;
• O profissional de saúde deve higienizar as mãos antes e após o con-
tato com as pacientes:

O USO DAS LUVAS NÃO SUBSTITUI A LAVAGEM DAS MÃOS!

• Utilização racional de EPIs;


• Não utilizar adornos (anéis, pulseiras, relógios de uso pessoal, co-
lares, brincos, broches, piercings expostos, gravatas e crachás pen-
durados com cordão).

3.2 PARA O PARTO VAGINAL

• Realizar menor número possível de toques vaginais.

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• Antibioticoprofilaxia (Cefazolina 2g até 120 kg e 3g acima de 120


kg) para parto vaginal deve ser indicada nas seguintes situações:
o Remoção manual da placenta;
o Lacerações de períneo de 3º ou 4º graus;

3.3 PARA A CESARIANA

• Banho pré-operatório;
• Preparo cirúrgico da pele;
• Embrocação ginecológica com produto antisséptico aquoso;
• Antissepsia cirúrgica das mãos;
• Antibioticoprofilaxia 1ª escolha: Cefalosporina de primeira gera-
ção: Cefazolina 2g até 120 kg e 3g acima de 120 kg. Deve ser admi-
nistrada nos 60 minutos que antecedem a incisão, em dose única.
Em caso de duração da cirurgia maior que 4 horas, sangramento
maior que 1,5 L, nova dose deve ser administrada. Pacientes alér-
gicas a cefalosporinas, ou com reação anafilática grave a penici-
lina: Clindamicina 900 mg com ou sem aminoglicosídeo (Gentami-
cina 5mg/kg);
• Evitar remoção manual da placenta;
• Manutenção da normotermia durante a cirurgia;
• Técnica operatória e redução do tempo cirúrgico.

A infecção puerperal é uma das principais causas de morbimortali-


dade materna, constituindo um importante problema de saúde pú-
blica que demanda medidas de prevenção desses eventos nos serviços
de saúde.

REFERÊNCIAS

ACOG Practice Bulletin No. 199: Use of Prophylactic Antibiotics in Labor and
Delivery. Obstetrics & Gynecology. 2018;132(3):e103-e19.
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Prevenção e Critérios Diagnós-
ticos de Infecções Puerperais em Parto Vaginal e Cirurgia Cesariana/Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2017.
Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia - FEBRASGO. Manual de Orien-
tação Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério. 2010.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 261

Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Mastite Puerperal. 2018. Dis-


ponível em : https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/309-mastite-puer-
peral.
Karsnitz, DB. Puerperal Infections of the Genital Tract: A Clinical Review. J
Midwifery Womens Health 2013; 58:632–642.
Mackeen A, Packard RE, Ota E, Speer L. Antibiotic regimens for postpartum endome-
tritis. Cochrane Database of Systematic Reviews 2015, Issue 2. Art. No.: CD001067.
DOI: 10.1002/14651858.CD001067.pub3.
Maternidade Escola Assis Chateaubriand. Protocolos clínicos e diretrizes tera-
pêuticas. Infecções do Sítio Cirúrgico. Disponível em: http://www2.eb-
serh.gov.br/documents/214336/1106177/Cap%C3%ADtulo-12-In-
fec%C3%A7%C3%B5es-de-S%C3%ADtio-Cir%C3%BArgico.pdf/be3a92a2-db4e-
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Mathai M, Hofmeyr GJ, Mathai NE. Abdominal surgical incisions for caesarean sec-
tion. Cochrane Database of Systematic Reviews 2013, Issue 5. Art. No.: CD004453.
Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da
Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília:
Ministério da Saúde, 2001; 199p.
Say L, Chou D, Gemmill A, Tunçalp Ö, Moller A, Daniels J, et al. Global causes of
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https://www.jogc.com/article/S1701-2163(16)34662-
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World Health Organization. As recomendações da OMS para a prevenção e o tra-
tamento de infecções maternas no período periparto. 2015. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/han-
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INSERÇÃO DE DISPOSITIVO
INTRAUTERINO DE COBRE NO
PÓS-PARTO E PÓS-ABORTO

1. INTRODUÇÃO

O pós-parto é um período oportuno para iniciar uma contracepção


efetiva devido à intensa motivação de limitar gestações subsequentes, à
certeza de não estar grávida e à facilidade de estar internada. Assim, para
mulheres com acesso limitado aos cuidados médicos, o momento do parto
é a oportunidade para contato com o profissional de saúde e com as infor-
mações acerca de planejamento familiar.
Os contraceptivos reversíveis de longa duração (LARCs – Long-acting
reversible contraceptives), como os DIUs e o implante, proporcionam uma
contracepção segura e eficaz a longo prazo, reduzindo assim a taxa de gra-
videz não planejada. Iniciar o uso de LARCs com menos de 8 semanas pós-
parto diminui a chance de uma nova gravidez em 89%.
O DIU de cobre é um LARC de baixo custo e não interfere na ama-
mentação. É seguro, apresenta baixa taxa de complicações e não depende
da motivação da usuária para manter sua eficácia. É, ainda, considerado
um método altamente eficaz, porque apresenta uma taxa de falha de seis
a oito gestações em 1000 mulheres usuárias do método por 12 meses.

A inserção imediata do DIU pós-placentária é definida como a inser-


ção dentro dos 10 minutos após a saída da placenta.

Estimam-se taxas de expulsão de 10%, 29,7% e 1,9% para as inserções


pós-placentária, pós-parto precoce e pós-parto tardia, respectivamente.
Embora a taxa de expulsão na inserção pós-placentária imediata seja su-
perior à inserção pós-parto tardia, os benefícios da contracepção imedia-
tamente após o parto podem superar os riscos de expulsão, uma vez que
muitas mulheres não retornam para a inserção do DIU no período pós-
parto tardio.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 263

Estudos mostram não haver diferenças nas taxas de expulsão entre


DIUs colocados pelo método manual e com o uso da pinça. Comparando-
se os tipos de parto vaginal e cesariana, menores taxas de expulsão são
demonstradas quando o DIU é inserido durante o parto cirúrgico, sendo a
chance de expulsão de 5,19 vezes maior no parto vaginal.
Estudos têm mostrado que a inserção imediata não aumenta o risco
de perfuração. Revisões sistemáticas sobre a colocação do DIU no pós-parto
não encontraram nenhum caso de perfuração uterina entre os estudos re-
visados.
Pesquisadores compararam as taxas de infecção uterina e de sangra-
mento em mulheres após colocação do DIU de cobre T380A dentro de 10
minutos da saída da placenta e naquelas que não inseriram o DIU de cobre
nesse momento. Os resultados não evidenciaram diferenças significativas
nas taxas de infeccção e sangramento entre os grupos.

A não visualização dos fios do DIU inserido no pós-parto imediato é


uma situação frequente.

Em geral, conforme o útero vai regredindo, em torno de quatro a


seis semanas após o parto, os fios tornar-se-ão visíveis. A descida dos fios
pode não ocorrer, todavia isso não interfere na eficácia do método.
Desde que o dispositivo esteja tópico – dentro da cavidade uterina – seu
efeito contraceptivo se fará presente.
As razões para a não visualização dos fios podem ser: expulsão; fios
enrolados no canal cervical; fios retraídos na cavidade uterina com e sem
gravidez; perfuração e deslocamento para cavidade abdominal; e fios que-
brados.
A remoção do DIU, mesmo quando os fios não estão visíveis, é um
procedimento simples e na maioria das vezes realizado ambulatorialmente
com pinça de Hartmann.

2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO


Qualquer idade (inclusive adolescentes);

Desejo da paciente em utilizar DIU de cobre como método
anticoncepcional;
• Termo de Consentimento informado assinado.
3. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

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Rede Cegonha | 264

• Febre durante o trabalho de parto;


• Hipotonia ou atonia uterina pós-dequitação;
• Hemorragia pós-parto não controlada;
• Condições clínicas consideradas categorias 3 ou 4 para
uso do DIU de cobre (o uso do método não é recomendado
ou contraindicado), segundo a Organização Mundial de
Saúde (WHO, 2015);
• Trauma vaginal extenso, na opinião do investigador
(para parto vaginal);
• Ruptura prematura das membranas por 18 horas ou mais;
• Presença de corioamnionite;
• Retenção placentária exigindo sua remoção manual ou ci-
rúrgica.

4. TÉCNICAS DE INSERÇÃO

• Técnica de inserção MANUAL após parto vaginal

Depois do delivramento placentário, mas antes do reparo perineal,


colocar luvas estéreis. Remover DIU do insertor. Colocar o DIU entre os
dedos indicador e médio. Coloque a mão oposta no abdômen para estabi-
lizar externamente o útero. Dentro de 10 minutos após a dequitação, in-
serir o DIU até o contato com o fundo uterino. À medida que a mão interna
vai sendo retirada, girá-la cerca de 45 graus sentido horário ou anti-horá-
rio ajuda a evitar a exteriorização do DIU. Não cortar os fios; eles devem
ser aparados no retorno 4-6 semanas após a inserção.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 265

Figura 1: Técnica de inserção manual. (Fonte: ACOG, Women’s health care physici-
ans).

• Técnica de inserção COM PINÇA após parto vaginal

Depois do delivramento placentário, mas antes do reparo perineal,


colocar luvas estéreis. Remover o DIU do insertor. Apreender o DIU com
a pinça de DeLee/ Fórceps/ Cheron/ Foerster; a ponta superior do DIU
deve estar nivelada com a extremidade da ponta da pinça. Os fios devem
ficar longe do eixo da pinça, evitando que fiquem enrolados ou presos no
instrumento quando este for removido do útero.

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Rede Cegonha | 266

Figura 2: Posicionamento do DIU na pinça. (Fonte: ACOG, Women’s health care physi-
cians).

Usando uma mão ou válvula de Doyan ou espéculo, expor e visuali-


zar o lábio anterior do colo do útero. Apreender o lábio anterior, tracio-
nar delicadamente o colo do útero e, sob visão direta, introduzir o DIU
através dele. Soltar a mão que estava tracionando o colo e colocá-la no
abdome para estabilizar o fundo uterino. Avançar o DIU ao fundo uterino.
Confirmar o posicionamento fúndico tanto com a mão abdominal quanto
com a mão de inserção. Soltar o DIU da pinça, abrindo-a o máximo possí-
vel. Girar a pinça cerca de 45 graus e movê-la lateralmente para evitar a
retirada do DIU. Não cortar os fios.

Figura 3: Técnica de inserção do DIU com pinça. (Fonte: ACOG, Women’s health care
physicians).

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 267

• Técnica de inserção para cesárea

Colocar o DIU no topo do fundo uterino manualmente ou


com uma pinça de De Lee. Antes da histerorrafia, direcionar os
fios no sentido do orifício cervical interno. Não tentar passar os
fios através do colo do útero.

• Técnica de inserção pós-abortamento

Após o completo esvaziamento da cavidade uterina, manter o pin-


çamento e não retirar o instrumental, que servirá para medir o compri-
mento da cavidade uterina (histerometria). Adequar o aplicador do DIU
na medida mensurada da cavidade uterina e inseri-lo com a mesma téc-
nica usada na prática ambulatorial na ginecologia. No caso de aborta-
mento com idade gestacional superior a 16 semanas, utilizar a técnica de
inserção de DIU pós-parto imediato com pinça.

O protocolo para inserção de DIU exige preenchimento adequado do


livro de registro, formulário de solicitação e dos cartões do DIU (do
médico e da paciente).

5. ORIENTAÇÕES E ACOMPANHAMENTO

Antes da alta, a paciente deve ser instruída sobre efeitos colaterais,


possíveis complicações e sinais de alerta, como febre, dor pélvica aguda e
persistente. No caso de ser diagnosticada uma doença inflamatória, deve
ser prescrito antibiótico apropriado, não sendo necessária a remoção do
DIU com cobre, se houver melhora clínica.
Além disso, a usuária deve ser orientada para reconhecer sinais de
expulsão do DIU e retornar para reinserção ou para iniciar outro método
contraceptivo alternativo. Ela também deve ser informada de que, dentro
de algumas semanas, os fios do DIU podem sobressair através do introito
e serão aparados em um retorno. Não deve puxá-los.
No caso de gravidez com DIU in situ, a paciente deve ser comunicada,
e o DIU deve ser imediatamente retirado se o fio for visível.
Em casos de perfuração uterina e DIU em cavidade abdominal, a pa-
ciente deve ser encaminhada para laparoscopia.

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Rede Cegonha | 268

Mulheres com a inserção do DIU pós-placentário deverão ter um


acompanhamento ambulatorial agendado em 45-60 dias pós-parto, no
qual serão realizados exame clínico-ginecológico e ultrassonográfico. De-
vem ser avaliadas as queixas clínicas e satisfação; no exame especular,
deve ser avaliado o aspecto da secreção vaginal e observar se os fios estão
visíveis. Pode ser necessário cortá-los a 3cm do orifício cervical externo.
A avaliação da localização do DIU será realizada através da ultrassonogra-
fia. A não visualização dos fios do dispositivo é comum na inserção pós-
parto; a paciente deve ser tranquilizada quanto a não necessidade da re-
moção e manutenção da eficácia do método mesmo na ausência dos fios,
se o dispositivo estiver bem posicionado pelo exame de ultrassonografia.
As demais consultas de saúde da mulher com avaliação ginecológica
e coleta de citologia cérvico-vaginal devem ocorrer na Unidade Básica de
Saúde.

REFERÊNCIAS

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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 271

INSUFICIÊNCIA CERVICAL

1. INTRODUÇÃO

Insuficiência cervical (IC) é a inabilidade do colo uterino em man-


ter-se convenientemente fechado e reter o concepto até o termo. Esta ina-
bilidade pode ser decorrente de um defeito estrutural ou funcional.
Estima-se que sua incidência varia de 0,1% a 1,8%, sendo responsá-
vel por 20% a 25% dos abortos tardios de repetição e 3% a 5% dos aborta-
mentos tardios esporádicos.

2. ETIOLOGIA

Em relação à etiologia, pode ser classificada em quatro classes:

• Traumática: decorrente de dilatações da cérvice nas curetagens,


roturas cervicais pós-partos, indução de parto em colo imaturo e
amputações cervicais.

• Congênita: inversão na relação conjuntivo/muscular na ístmica.


Presente em 25 a 30% das pacientes com malformações uterinas.

• Fisiológica: aquela que só se manifesta na gestação, sendo transi-


tória, não havendo associação com lesões traumáticas ou histoló-
gicas (polidrâmnio, gemelidade).

• Anatômica: São devidas às lesões ou tumores que distorcem a re-


gião istmo-cervical, como o mioma do segmento inferior.

3. DIAGNÓSTICO

3.1 CLINICO

O diagnóstico é, sobretudo, clínico, por meio do antecedente obsté-


trico de perda fetal de repetição de segundo trimestre (entre a 12a e 20a
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Rede Cegonha | 272

semana de gestação) ou partos prematuros extremos (entre 21 e 32 sema-


nas de gestação).
A maioria das gestantes refere história de dilatação silenciosa do
colo na ausência de contrações uterinas, com herniação da bolsa pelo colo
uterino, nascendo um produto vivo, morfologicamente normal e fale-
cendo poucas horas após por imaturidade.
A cervicodilatação ocorre sem sintomas dolorosos ou hemorrágicos,
com protrusão de membranas fetais através do canal cervical, as quais se
rompem, resultando na eliminação rápida do concepto.

História clássica de IC

Pelo menos dois abortamentos de segundo trimestre (entre 12 e


20 semanas) e/ou partos prematuros extremos (entre 21 e 32 se-
manas) relacionados à dilatação cervical indolor e na ausência de
trabalho de parto ou descolamento da placenta.

O exame ginecológico é imperativo na avaliação do colo uterino a


fim de identificar lacerações, esvaecimento, dilatação do orifício interno
e encurtamento cervical.

3.2 EXAMES COMPLEMENTARES

Os exames complementares podem ser realizados antes ou durante


a gravidez.

A) ANTES DA GESTAÇÃO
• Histerossalpingografia (HSG): deve ser realizada na fase lútea
do ciclo menstrual. A confirmação do diagnóstico se dá ao ob-
servar alargamento do segmento istmocervical, na altura do
orifício interno do colo uterino, cujo limite superior é de 10
mm.
• Passagem da vela de Hegar no. 8: a introdução de vela de Hegar
número 8 confirma o diagnóstico.

B) DURANTE A GESTAÇÃO
• Ultrassonografia do colo do útero: deve ser realizada por via
transvaginal. São sugestivos de insuficiência cervical: colo
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 273

uterino com comprimento menor que 25 mm, abertura do ori-


fício interno do colo (afunilamento), com invaginação das
membranas para o canal cervical nas pacientes com antece-
dente de abortamento espontâneo tardio.
Obs.: Colo do útero curto (< 25 mm), por si só, não é critério
diagnóstico de IC.

4. TRATAMENTO

4.1 CERCLAGEM CERVICAL ELETIVA

O tratamento da incompetência cervical é a cerclagem cervical, que


deve ser realizada preferencialmente entre a 12ª e a 16ª semana de gesta-
ção. Sempre tratar as vulvovaginites antes do procedimento.
Contraindicações:

• Hemorragia ativa;
• Trabalho de parto prematuro;
• Rotura de membranas;
• Corioamnionite;
• Polidrâmnio;
• Anomalia fetal letal.

A técnica mais utilizada no Brasil é a de McDonald (1963), que con-


siste em uma sutura circular, na altura do orifício interno do colo. Alguns
utilizam a técnica de McDonald modificada por Pontes, que consiste em
dupla sutura, a primeira no nível do orifício interno do colo, e a segunda,
1 cm abaixo. Ambas as técnicas podem ser realizadas com os fios Prolene
2-0 ou 0 (agulha de 25 ou 30mm) ou Ethibond Excel nº 5, Seda nº 5.
É realizada a antibioticoprofilaxia com cefazolina 2g IV. Não se re-
comendam uterolíticos no intra-operatório ou pós-operatório rotineira-
mente.
A alta hospitalar pode ser dada no primeiro dia pós-operatório (en-
tre 6 e 24 horas), após a realização de ultrassonografia obstétrica para ava-
liar integridade das membranas por meio da avaliação do líquido amnió-
tico. As pacientes são orientadas quanto ao repouso relativo, abstinência
sexual e retorno ao ambulatório em três semanas.

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Rede Cegonha | 274

Figura 1. Técnica de Mc Donald. (Fonte:https://www.bibliomed.com.br/biblio-


med/bmbooks/ginecolo/livro8/cap/fig40-01.htm)

A retirada dos pontos de cerclagem é realizada em nível ambulato-


rial, entre a 37ª e 38ª semanas da gestação ou na presença de rotura pre-
matura das membranas ovulares.
A via de parto é vaginal, e a cesárea se reserva à indicação obsté-
trica.

4.2 CERCLAGEM DE URGÊNCIA

Realizada em gestantes assintomáticas e de alto risco, com achados


ultrassonográficos transvaginais sugestivos de incompetência cervical,
incluindo comprimento cervical ≤ 25 mm, principalmente ≤ 15 mm ou pro-
trusão de membranas ovulares no nível do orifício cervical interno. Pode
ser realizada entre 16 e 24 semanas de gestação.
A cerclagem de urgência prorroga a gestação em, aproximadamente,
8 semanas e pode evitar situações em que o concepto morreria por não
atingir idade gestacional de viabilidade. Deve-se manter progesterona 200
mg via vaginal até 36 semanas.

4.3 CERCLAGEM DE EMERGÊNCIA

Esta indicação restringe-se a pacientes com dilatação cervical supe-


rior a 3 cm no 2o trimestre, esvaecimento cervical pronunciado, membra-
nas protrusas através do canal cervical até o orifício externo do colo ou na
vagina, podendo inclusive conter partes fetais.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 275

Nestes casos, nos quais o aborto parece inevitável e a sobrevida fetal


é baixa, a cerclagem de emergência pode ser realizada até a 24ª semana da
gestação. Administrar Cefazolina 2g intravenosa profilática, e a interna-
ção deverá ser por maior período, com avaliação individual de cada caso.
O sucesso das cerclagens eletiva e de emergência é de 90% e 50%,
respectivamente, porém as taxas de prematuridade ficam em torno de
30%.
As complicações infecciosas, rotura prematura de membranas ovu-
lares, corioamnionite, mortalidade materna e fetal são maiores na cercla-
gem de emergência do que na eletiva.
Na presença de rotura prematura das membranas ovulares ou de
sinais de corioamnionite as suturas devem ser removidas imediatamente.
Na exposição das membranas deve-se ter muito cuidado com a pos-
sibilidade de infecção (corioamnionite subclínica). Recomenda-se o uso de
antibióticos conforme esquema a seguir:

Azitromicina 1g VO, DU + Amoxicilina 500mg VO de 8/8h por 7


dias + Clindamicina 300mg VO de 12/12h por 7 dias

Figura 2: Cerclagem de emergência: antes a após a sutura do colo uterino. Acervo


Instituto Cândida Vargas.

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4.4 CERCLAGEM ABDOMINAL

É indicada apenas nos casos de duas falhas de cerclagem via vagi-


nal anteriores e em amputações de colo uterino. Realizada preferencial-
mente com 11 – 13 semanas devido às dificuldades operatórias decorren-
tes do aumento do volume uterino após esta fase.
É utilizada a técnica de Benson & Durfee (1965), com passagem da
fita cardíaca ao nível do orifício interno do colo uterino. O parto é progra-
mado para 38 semanas de gestação por operação cesariana.

4.5 CONTRAINDICAÇÕES PARA REALIZAÇÃO DA CERCLAGEM

• Colo com dilatação acima de 4 cm;


• Colo muito esvaecido;
• Suspeita de corioamnionite;
• O concepto com vitalidade comprometida.

4.6 COMPLICAÇÕES DA CERCLAGEM

• Lacerações cervicais (3-4%)


• Estenose cervical (1%)
• Hemorragia por lesão dos vasos uterinos
• Transfixação da bexiga
• Necrose da parede vaginal anterior ou posterior
• Amputações de colo
• Esterilidade secundária
• Fístula vésico-vaginal.

Pontos importantes:

As cerclagens mais difíceis são aquelas com membranas prolabadas


para dentro da vagina, em que há necessidade de reduzi-las para dentro
da cavidade uterina. Pode-se fazê-lo com chumaço de gaze embebido em
soro fisiológico, balão da sonda de Folley ou pela redução do líquido am-
niótico por amniodrenagem orientada por Ultrassom no momento da ci-
rurgia.
Antes da realização da cerclagem deve ser discutido com o casal os
riscos do procedimento durante assinatura de termo de consentimento

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 277

(TCLE). Dentre os riscos estão: rotura pré-termo de membranas, trabalho


de parto prematuro, infecções puerperais, maior risco de internações hos-
pitalares e de realização de cesarianas.

5 ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL

No pré-natal, devem ser solicitados como exames pré-operatórios:

▪ Papanicolaou;
▪ Pesquisa de infecção vaginal (bacterioscópico, pesquisa para
Trichomonas vaginalis, Chlamidia spp., cultura para Neisseria go-
norrhoeae, fungos e anaeróbios);
▪ Coagulograma;
▪ Exames de rotina pré-natal, inclusive ultrassonografia obsté-
trica com medida da translucência nucal.

Após a cerclagem, as consultas são agendadas a cada 3-4 semanas


até 34 semanas, passando para consultas quinzenais e, após 38 semanas,
semanais.
É realizado o rigoroso controle das infecções vaginais, com repeti-
ção de pesquisa infecciosa laboratorial entre 20 e 24 semanas e 28 a 30
semanas. Entre 35 e 37 semanas, é colhida cultura vaginal e anal para es-
treptococo do grupo B.
O uso da progesterona natural micronizada é preconizado nos casos
de cerclagem de emergência ou quando presente alguma intercorrência
(útero irritável, dilatação do colo uterino, encurtamento e afunilamento à
ultrassonografia transvaginal). É utilizada a dose de 100 a 200 mg, intra-
vaginal até 36 semanas de gestação.

6 RETIRADA DO FIO

• Em torno de 37 semanas de gravidez;


• Após a retirada, deve-se aguardar que a paciente entre em tra-
balho de parto;
• O tempo entre a retirada do fio e a parturição, em média, é de
7 dias;
• Caso haja indicação obstétrica de cesárea, o fio deverá ser re-
tirado, ainda sob efeito da anestesia, logo após o parto;

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Rede Cegonha | 278

• O fio também deverá ser retirado se houver rotura das mem-


branas, trabalho de parto ou se houver alteração da vitalidade
fetal.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 279

LAQUEADURA TUBÁRIA

1. INTRODUÇÃO

A laqueadura tubária é um método de esterilização definitiva das


mulheres, não devendo ser ofertada inadvertidamente, nem fora dos pro-
tocolos da lei de planejamento familiar, salvo em condições de risco de
vida materna, sob realização de junta médica realizada no serviço.

1.1 LEI DA LAQUEADURA 1996

No Brasil, a esterilização cirúrgica está regulamentada por meio


da Lei nº 9.263/96 Constituição Federal Portaria nº 048/99(126) que
trata do planejamento familiar a qual estabelece no seu artigo 10 os crité-
rios e as condições obrigatórias para a sua execução.
Somente é permitida a esterilização voluntária nas seguintes situa-
ções:

I – Em homens ou mulheres com capacidade civil plena e maiores


de 25 anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde
que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação
da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à
pessoa interessada acesso a serviço de regulação da fecundidade,
incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando
desencorajar a esterilização precoce;

II – Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro concepto, teste-


munhado em relatório e assinado por dois médicos (BRASIL,
1996).

A legislação federal impõe, como condição para a realização da es-


terilização cirúrgica, o registro da expressa manifestação da vontade em
documento escrito e firmado, após a informação a respeito dos riscos da
cirurgia, possíveis efeitos colaterais, dificuldades de sua reversão e opções
de contracepção reversíveis existentes.
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Rede Cegonha | 280

A legislação federal estabelece, ainda, que em vigência de sociedade


conjugal, a esterilização depende do consentimento expresso de ambos os
cônjuges.
Além do exposto acima, a legislação federal não permite a esteri-
lização cirúrgica feminina durante os períodos de parto ou aborto ou
até o 42º dia do pós-parto ou aborto, exceto nos casos de comprovada
necessidade, por cesarianas sucessivas anteriores. Essa restrição visa à re-
dução da incidência de cesárea para procedimento de laqueadura, le-
vando-se em consideração que o parto cesariano, sem indicação clínica,
constitui-se em risco inaceitável à saúde da mulher e do recém-nascido.
Além disso, esses momentos são marcados por fragilidade emocional, em
que a angústia de uma eventual gravidez não programada pode influir na
decisão da mulher. Ademais, há sempre o risco de que uma patologia fetal,
não detectada no momento do parto, possa trazer arrependimento poste-
rior à decisão tomada.

Quando a mulher for portadora de doença de base e a exposição a


segundo ato cirúrgico ou anestésico representar maior risco para
sua saúde, também poderá ser realizada no momento da cesárea.
Nesse caso, a indicação deverá ser justificada em relatório escrito e
assinado por dois médicos, respeitando as demais exigências da lei.

O planejamento familiar deve ter acompanhamento por equipe multi-


disciplinar a fim de desencorajar a esterilização precoce e orientar acerca
de outros métodos contraceptivos, para que a decisão seja bem pensada e
registrada em documento.

2. CONTRA-INDICAÇÕES

• Doença ou problemas clínicos que contraindiquem a cirurgia e/ou


anestesia;
• Infecções que contraindiquem a colocação do "stent tubário”, nos
casos de laparoscopia;
• Não estar em conformidade com a Lei 9.263/96 relativo ao Plane-
jamento Familiar*.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 281

3. VANTAGENS

• Método permanente e eficaz (uma das maiores entre os métodos


contraceptivos. Índice de Pearl: 0,5);
• Eficácia precoce;
• Economia;
• Não interfere na libido;
• Complicações são raras;
• Não interfere na amamentação;
• Benéfico para mulheres que são portadoras de doenças que ofere-
cem risco à saúde durante a gravidez.

4. DESVANTAGENS

• Não evita transmissão de DSTs;


• Arrependimento (15-20%, principalmente quando realizada entre
25-30 anos ou quando acontece separação seguida de novo relaci-
onamento);
• Não é um método simples (cirurgia), sendo sujeito a complicações
intra e pós-operatórias (anestésicas, lesão de órgãos, hematomas,
infecção de sítio cirúrgico);
• Quando há falha, o risco de gravidez ectópica é maior;
• A síndrome pós-laqueadura: caracterizada por desarmonia do ci-
clo menstrual (metrorragia, sangramento intermenstrual,
“spotting”, amenorreia), algia pélvica, dismenorreia, dispareunia,
tensão pré menstrual e manifestações psicológicas. (controverso
na literatura, pois alguns estudos não comprovam sua existência).

5. REVERSÃO

A laqueadura é considerada esterilização definitiva. Em alguns ca-


sos a reversão é possível, mas há riscos (necessita de outra cirurgia) e a
taxa de sucesso é 20%. A reversão espontânea (recanalização) pode ocor-
rer em cerca de 1-4% (Índice de Pearl de 0,5). O índice de falha da laquea-
dura gira em torno de 2%, em 10 anos.

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Rede Cegonha | 282

6. CUIDADOS ANTES DO PROCEDIMENTO

• Deve ser assinado um termo de consentimento livre e esclarecido


e estar dentro dos artigos da Lei 9.263/96 relativo ao Planejamento
Familiar;
• Avaliação psicológica da paciente e casal antes do procedimento,
se os profissionais da saúde acharem necessário;
• Discutir e observar as orientações médicas em relação aos medi-
camentos de uso contínuo e esporádicos;
• Exames de rotina pré-operatórios para cirurgias, com avaliações
do anestesista e específicas que o cirurgião achar necessário
como: risco cirúrgico, coagulograma, hemograma, tipagem san-
guínea, teste de gravidez, USG pélvica, citologia e exame clínico
ginecológico;
• Jejum de oito horas antes dos procedimentos cirúrgicos.

7. TÉCNICAS CIRÚRGICAS

• Laparotomia
o A técnica mais utilizada em cirurgia aberta é a de Pome-
roy.
o As técnicas de Uchida e Irving são mais complexas, podem
ser utilizadas após a ineficácia das técnicas habituais e são
executadas mais facilmente por laparotomia.
• Laparoscopia vem avançando suas técnicas com coagulação por
energia bipolar, ou colocação de anéis de silicone de Yoon; os clips,
por HULKA JF.
• Histeroscopia (técnica ESSURE®): colocação de uma pequena mola
nas tubas, que causa uma inflamação e cicatrização local.
• Culdotomia (incisão no fundo de saco vaginal). A técnica realizada
dependerá da experiência do cirurgião.

7.1 OPERAÇÃO DE POMEROY

• Identificação da tuba
• Preensão de um segmento da tuba (mais frequentemente o istmo)
• Ligadura desta alça com fio absorvível, do tipo Vicryl ou CAT-GUT
(1 ou 0)

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 283

• Secção do segmento incluído na laqueadura


• Incluir todas as camadas da tuba
• Revisar a hemostasia da ligadura destes cotos
• Depois da cicatrização e reabsorção do fio, os cotos tubários se
afastam

Figura 1: Técnica de Pomeroy (Fonte: http://www.womenshealthsection.com)

7.2 TÉCNICA DE IRVING

• Identificação da tuba
• Pinçamento sem tracionar a tuba
• Confecção de uma pequena janela no mesosalpinge escolhendo re-
gião entre os vasos e bem próxima à tuba
• Passam-se dois fios à volta da tuba, amarrando-os para cada lado

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Rede Cegonha | 284

• Secciona-se cerca de 4 cm da tuba


• Confecção de dois túneis lateralmente na parede posterior do
útero, junto aos cornos, com 1- 2 cm de profundidade
• Os fios do coto proximal da tuba não são cortados e vão ser passa-
dos através do túnel, saindo de novo na parede posterior do útero
• Traciona os fios para guiar a entrada da trompa no túnel que fica
«enterrado» na espessura do miométrio
• Os fios são então atados um ao outro

Figura 2: Técnica de Irving (Fonte: http://www.womenshealthsection.com)

7.3 TÉCNICA DE UCHIDA

• Identificação da tuba
• Pinçamento sem tracionar a tuba
• Infiltração na serosa da trompa por cerca de 5 cm com solução sa-
lina de vasopresina
• Incisão da serosa expondo a camada muscular da trompa
• Ligadura e secção deste segmento

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 285

• Secciona-se o ponto proximal e a trompa se retrai para o mesosal-


pinge
• Faz-se um posto em “bolsa” no mesosalpinge para que os cotos tu-
bários fiquem entre os folhetos
• Revisar a hemostasia da ligadura destes cotos

Figura 3: Técnica de Uchida (Fonte: http://www.womenshealthsection.com)

8. SALPINGECTOMIA BILATERAL OPORTUNISTA

A tuba uterina é considerada uma via importante de carcinogênese


ovariana por transportar células do endométrio para o ovário (endome-
tróide e células claras) e por serem possíveis sítios de origem para o car-
cinoma seroso. São fatores protetores para câncer de ovário o uso de con-
traceptivo hormonal oral e a laqueadura tubária.
A salpingectomia completa bilateral é uma alternativa que tem
como vantagem a prevenção do câncer de ovário.
Também diminui a dor pélvica, o risco de nova cirurgia, hidrossal-
pinge, além de ser o método mais efetivo de esterilização permanente.

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Rede Cegonha | 286

Entretanto, os estudos referentes a salpingectomia bilateral para


esterilização tubária ainda são pequenos e escassos, tanto na avaliação da
função ovariana quanto para profilaxia do câncer de ovário.
A esterilização tubária excisional pode ser realizada através da rea-
lização de salpingectomia completa, fimbriectomia distal ou salpingecto-
mia parcial.
Deve-se discutir essa possibilidade com a paciente e registrar em
prontuário e TCLE.

9. ORIENTAÇÕES FINAIS

➢ Durante o pré-natal, deve-se informar à paciente se ela tem di-


reito à laqueadura tubária no momento parto, como no caso das
iterativas (duas ou mais cesarianas), pois deixar de informar às
pacientes sobre seus direitos configura violência obstétrica, se-
gundo item XXIII da legislação local. Deve-se encaminhar essas
pacientes ao serviço de planejamento familiar antes do 7º mês de
gestação (respeitar os 60 dias de antecedência exigidos por lei).
➢ Conferir se os documentos do planejamento familiar estão assina-
dos.
➢ Descrever em prontuário a realização da laqueadura.
➢ Na impossibilidade de fazer o procedimento (como no caso de
pelve congelada por aderências, impossibilitando o acesso às tu-
bas), descrever em prontuário e avisar à paciente.
➢ Oferecer a inserção do DIU nas pacientes que teriam direito por
lei à laqueadura, mas não procuraram o serviço de planejamento
familiar para regularizar a protocolo. Não fazer a laqueadura sem
a documentação.
➢ O artigo 15 da Lei estabelece que, realizar esterilização em desa-
cordo com o estabelecido no artigo 10, implica em pena de RECLU-
SÃO, DE 2-8ANOS, E MULTA, SE A PRÁTICA NÃO CONSTITUI CRIME
MAIS GRAVE. Esta pena é aumentada de UM TERÇO se a esteriliza-
ção for praticada:
• durante os períodos de parto ou aborto
• com manifestação da vontade do esterilizado expressa du-
rante a ocorrência de alterações na capacidade de discerni-
mento por influência de álcool, drogas, estados emocionais
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 287

alterados ou incapacidade mental temporária ou permanente.


Atenção! Pacientes com dores do trabalho de parto se incluem
facilmente nesse inciso.
• através de histerectomia ou ooforectomia
• em pessoa absolutamente incapaz, sem autorização judicial
• através de cesárea indicada para fim exclusivo de esterilização
(ATENÇÃO!!)
➢ Caso o médico tenha alguma objeção de consciência, tem o direito
de não realizar o procedimento, devendo encaminhar a paciente
a outro profissional.

REFERÊNCIAS

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management guidelines for obstetrician-gynecologists. Obstet Gynecol.
2008;111(6):1479-85.
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Conselho Federal de Medicina 30 de maio de 2009.
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Rede Cegonha | 288

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 289

MORTE MATERNA E O “NEAR MISS”

1. INTRODUÇÃO

A morte materna é um triste capítulo da história da sociedade que


tem um forte impacto, uma vez que cada mulher cuja vida é ceifada no
auge de sua idade reprodutiva, deixa um lar de órfãos, uma família frag-
mentada e uma eterna sensação na alma de que algo diferente poderia ter
sido feito.
A mortalidade materna é um retrato fiel da realidade sociopolítica
e cultural de uma região sendo, portanto, um importante indicador de sa-
úde pública e da desigualdade social. Apresenta-se como uma das mais
graves violações dos direitos humanos das mulheres, por ser uma tragé-
dia evitável em 92% dos casos e por ocorrer principalmente nos países
em desenvolvimento.

2. DEFINIÇÃO

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define morte materna


aquela ocorrida durante a gestação ou em um período de 42 dias após o
seu término, independente da duração ou da localização da gravidez, de-
corrente de qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou
seu tratamento, porém não provocada por acidentes ou incidentes.
Já a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO),
considera materno o óbito ocorrido nas mesmas circunstâncias anterio-
res, porém amplia até o período de um ano após o término da gestação
desde que tenha sido possível identificar o processo gestacional como de-
sencadeante do óbito.

3. CLASSIFICAÇÃO

3.1 Morte materna direta: representa a principal causa em países sub-


desenvolvidos e resulta de complicações relacionadas à gestação,
parto e puerpério decorrentes de intervenções, omissões, tratamen-
tos incorretos ou ainda de uma sequência de eventos resultantes de
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Rede Cegonha | 290

qualquer uma dessas situações. Tem como causas principais a hiper-


tensão, hemorragia, infecções, doença tromboembólicas, acidentes
anestésicos, etc.

3.2 Morte materna indireta: resulta de doenças crônicas preexistentes


ou que surgem durante a gestação e são agravadas pelas alterações
fisiológicas que ocorrem neste período como por exemplo cardiopa-
tias, nefropatias, diabetes, HIV e outras.

3.3 Morte materna não obstétrica: resulta de acidentes ou incidentes


não relacionados à gravidez em mulheres no período gravídico-puer-
peral.

3.4 Morte materna declarada: aquela cuja informação na declaração de


óbito torna possível classificar o óbito como materno.

3.5 Morte materna não declarada: aquela cuja informação na declara-


ção de óbito não permite classificá-la como materna, apenas após in-
vestigação do óbito.

3.6 Morte presumível: quando, por falha no preenchimento da declara-


ção de óbito, a causa básica relacionada ao ciclo gravídico-puerperal
não está declarada, e sim, apenas a causa final do óbito.

4. RAZÃO DE MORTE MATERNA

A razão de Mortalidade Materna (RMM) é um marcador utilizado


universalmente como método comparativo entre as regiões refletindo a
assistência prestada no ciclo gravídico-puerperal. É calculada com base no
número de nascidos vivos conforme fórmula abaixo sendo ainda ajustada
no Brasil por um fator de correção de 1,4 segundo a OMS devido às subno-
tificações e registros incorretos.

RMM= óbitos maternos (diretos ou indiretos) X 100.000


Total de Nascidos vivos

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Em 2018 a RMM no Brasil foi de 59,1 óbitos para cada 100.000 nas-
cido vivos, número muito além das metas estabelecidas para o milênio
pela ONU, sendo cerca de 75% representados pelas causas obstétricas DI-
RETAS tendo as doenças hipertensivas como responsável por um terço
dessas mortes, seguida das síndromes hemorrágicas. Em mais de 60 % das
vezes os óbitos ocorreram no puerpério.
Na Paraíba, a RMM em 2019 foi de 61,62 mortes por 100 mil nascidos
vivos sendo as principais causas desses óbitos devido as síndromes hiper-
tensivas seguidas das síndromes hemorrágicas, doenças tromboembóli-
cas, infecções e outras causas.
A ONU, reestabeleceu então uma meta a ser alcançada até 2030 de
RMM de até 70 mortes por 100 mil nascidos vivos onde cada país se com-
prometeu a reduzir em 7,5% a sua RMM a cada ano. Algumas ações pro-
postas para se atingir tais objetivos são trabalhar o acesso e a qualidade
da assistência reprodutiva e materno-infantil com treinamento das equi-
pes, estruturação dos serviços de emergência, qualificação dos Pré-Natais
de alto risco, vigilância e discussão dos óbitos pelos comitês locais de mor-
talidades, qualificação dos sistemas de informação e melhor uso dos dados
coletados.

“NEAR MISS” MATERNO

1. DEFINIÇÃO

A “quase perda” (near miss) materna é definida como “uma mulher


que quase morreu, mas sobreviveu a uma complicação grave, ocorrida du-
rante a gravidez, o parto ou em até 42 dias após o término da gravidez” e
é sinônimo de morbimortalidade materna grave. Foi definida pela OMS
em 2009 através de critérios específicos que levam em conta sinais clíni-
cos, resultados laboratoriais e intervenções utilizadas na condução dos ca-
sos e que leva ao diagnóstico de disfunção/falência de órgãos ou sistema.
Estudar o near miss materno e seus indicadores parece ter um
grande valor para a compreensão dos atrasos na cadeia dos cuidados, fa-
vorecendo a melhoria da qualidade de assistência e fortalecendo os siste-
mas de saúde regionais visto que ocorre em maior número do que o óbito
propriamente dito. Além disso, as mulheres que passam por essas circuns-
tâncias ameaçadoras da vida compartilham os mesmos fatores e eventos
patológicos daquelas que vieram a falecer.
O Ministério da Saúde estimou um índice de 37,5 casos de near miss
materno para 1000 nascido vivos no ano de 2010 no Brasil, sendo o risco
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Rede Cegonha | 292

maior em usuárias do SUS, que precisaram viajar mais de uma hora para
receber assistência ou que aguardaram mais de uma hora para a admissão,
o que fortalece o modelo causal dos 3 atrasos:

1. Atraso em procurar assistência: não reconhecimento de sinais


de alerta, falta de permissão familiar ou religiosa, etc.
2. Atraso em chegar a um serviço de assistência apropriada:
falta de transporte, longas distâncias, etc.
3. Atraso em receber assistência adequada no serviço de saúde:
diagnósticos inadequados, retardo no tratamento, equipa-
mentos inadequados, etc.

A incidência do near miss em países desenvolvidos varia de 0 a 1,8%


enquanto nos países de baixa renda está entre 0,5% e 20,7% o que demons-
tra ser também um marcador da desigualdade sociocultural e econômica
das regiões.

2. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

Os critérios diagnósticos do near miss materno são divididos em: clí-


nicos, laboratoriais e de tratamento.

Quadro 1. Critérios diagnósticos de near miss (OMS, 2009)

CLÍNICOS
Cianose aguda
Gasping (padrão respiratório terminal)
FR > 40 ou < 6 irpm
Choque (hipotensão grave persistente, definida como PAS < 90 mmHg
por mais de 60 minutos com pulso de pelo menos 120 bpm, apesar da
infusão de líquidos (>2 L)
Oligúria não responsiva a líquidos ou diuréticos (débito < 30 ml/hora
por 4 hora ou < 400 ml nas 24 horas)
Distúrbios da coagulação
Perda da consciência por 12 horas ou mais (Glasgow < 10)
Perda da consciência e ausência de pulso ou batimentos cardíacos
Acidente vascular cerebral
Convulsões não controladas

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 293

Convulsões na presença de pré-eclâmpsia


LABORATORIAIS
SO2 < 90 % por 60 min ou mais
PaO2/FiO2 < 200 mmHg
Creatinina 》300 µmol/L ou 》3,5 mg/dL
Bilirrubinas 》100 µmol/L ou 》6 mg/dL
pH < 7,1
Lactato > 5
Trombocitopenia aguda (< 50.000)
Perda de consciência e presença de glicose e cetonas na urina
TRATAMENTO
Uso de medicações vasoativas
Histerectomia em razão de infecção ou hemorragias
Transfusão 》5 unidades de concentrados de hemáceas
Intubação e ventilação por 》60 min não relacionadas com a anestesia
Diálise por falência renal aguda
Parada cardiorrespiratória

PAS: Pressão arterial sistólica; PAD: Pressão arterial diastólica; SO2: saturação de oxigênio;
PaO2/FiO2: pressão arterial parcial de oxigenação/fração inspirada de oxigênio.
Fonte: Say L, Souza JP, Pattinsos RC; WHO working group on Maternal Mortality and Mor-
bidity classifications. Maternal near miss-towasdr a standard tool for monitoring quality
of maternal health care. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol 2009;23(3):287-96.

Não existe quantidade necessária de critérios para o diagnóstico


de near miss.
Quaisquer das condições citadas acima são consideradas near
miss.

A análise dos critérios diagnósticos do near miss tem como objetivo


prático monitorar a qualidade da assistência em saúde pois vai servir de
base para avaliar o cuidado desde a atenção básica (como a paciente chega
ao serviço hospitalar) até a assistência intra-hospitalar determinando a
sequencia de complicações maternas graves que podem levar ao óbito ma-
terno.
Sendo assim é importante que a instituição de saúde promova um
plano de ação com notificação dos eventos adversos, educação em saúde,
capacitação das equipes de assistência para levar a uma reflexão sobre a
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qualidade da assistência prestada, buscando inovação e adequação da as-


sistência de forma a reduzir desfechos desfavoráveis.
A OMS padronizou um método para avaliação do near miss ma-
terno aplicado nas unidades de saúde para garantir a análise, implantação
e monitoramento de intervenções no cuidado da saúde para que a partir
dos resultados produzidos sejam promovidas ações e mobilização política,
de gestão e dos profissionais de saúde para melhorar a qualidade do aten-
dimento às mulheres grávidas.

Figura 1: A estrutura conceitual da abordagem do near miss (fonte: OMS, 2011)

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O propósito fundamental da abordagem do near miss é aperfeiçoar a


prática clínica e reduzir casos evitáveis de morbidade e mortalidade ma-
ternas.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico N° 20. Volume 51


Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico
N° 20. Volume 51. maio/2020.
Brasil. Ministério da Saúde. Guia de vigilância epidemiológica do óbito materno
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Análise de Situação em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica do óbito materno
/ Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Aná-
lise de Situação em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2009. 84 p.: il. – (Série
A. Normas e Manuais Técnicos).
Brasil. Ministério da Saúde. Manual de Preenchimento das Fichas de Investigação
do Óbito Materno Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Análise de Situação em Saúde. Manual de Preenchimento das
Fichas de Investigação do Óbito Materno/Ministério da Saúde, Secretaria de Vi-
gilância em Saúde, Departamento de Análise de Situação em Saúde–Brasília: Mi-
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CAM/IMIP. Medbook, 2018.
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WHO - World Health Organization. Avaliação da qualidade do cuidado nas com-
plicações graves da gestação. A abordagem do near miss da OMS para a saúde
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tion=com_docman&view=download&category_slug=guias-clinicas-3&alias=405-
avaliacao-da-qualidade-do-cuidado-nas-complicacoes-graves-da-gestacao-a-
abordagem-do-near-miss&Itemid=219&lang=es

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Rede Cegonha | 296

PARADA CARDIORESPIRATÓRIA
NA GESTAÇÃO

1. DEFINIÇÃO

A parada cardiorespiratória (PCR) na gestação é a interrupção sú-


bita e brusca da circulação sistêmica e/ou da respiração na paciente ges-
tante. A PCR na gravidez é um evento raro (1:30.000/1:20.000 das gesta-
ções), porém catastrófico.
A sobrevivência é baixa e comumente associada a sequelas. As mo-
dificações fisiológicas da gestação alteram as necessidades do organismo
materno e tornam mais difícil a reanimação cardiopulmonar (RCP).

2. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

• PERDA DA CONSCIÊNCIA;
• AUSÊNCIAS DE MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS OU RESPIRAÇÃO
AGÔNICA (“GASPING”);
• AUSÊNCIA DE PULSO OU DÚVIDA DA PRESENÇA.

Ação imediata é fundamental, já que a condução inicial modifica o


prognóstico. O atendimento deve sempre ser integral e padronizado.

3. CAUSAS

As principais causas de PCR na gestação no mundo estão relaciona-


das à hipertensão (eclâmpsia – AHC hemorrágico), hemorragia e sepse.
Outras causas como as cardiopatias (congênitas em países desenvolvidos
e reumáticas em países em desenvolvimento), vasculares (TEP / IAM / dis-
secção de aorta), anafilaxia e efeito de drogas (como sulfato de magnésio)
também são relevantes e devem ser sempre lembradas.

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4. CONDUTA

A prioridade é sempre a reanimação materna, e todos os protocolos


de reanimação e eletrocardioversão são semelhantes aos praticados em
pacientes não grávidas.
A compressão da aorta e da veia cava pelo útero gravídico, principal-
mente após a 20a semana de gestação, reduz o retorno venoso, o débito
cardíaco e a eficácia das compressões torácicas durante a RCP. A reserva
pulmonar diminuída, o aumento no consumo de oxigênio e o desloca-
mento do diafragma pelo útero trazem dificuldades à ventilação, com um
maior risco de broncoaspiração. Há, também, um risco aumentado de he-
morragias devido ao estado hiperdinâmico.

4.1 CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA

Refere-se ao conjunto de ações a serem realizadas conforme preco-


nizado na American Heart Association (AHA, 2015). Funciona como uma sis-
tematização, uma padronização das etapas a serem seguidas num atendi-
mento de parada cardiorrespiratória (PCR), com o intuito de melhorar as
ações e minimizar o tempo de ação até a vítima receber os atendimentos
específicos.

Figura 1: Cadeia de sobrevivência RCP (Fonte: AMERICAN HEART ASSOCIATION,


2015).

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Rede Cegonha | 298

1° Elo – Vigilância e prevenção

Os pacientes no ambiente hospitalar, independentemente do setor


onde se encontram, devem estar sob vigilância para se prevenir a PCR;
nesse momento, devem ser considerados diversos fatores como, por
exemplo, a monitorização dos sinais vitais e exames.

2° Elo – Reconhecimento e acionamento imediato do serviço médico


de emergência

O reconhecimento utiliza a mesma técnica do atendimento extra-


hospitalar – avaliam-se a responsividade, a respiração e o pulso (central –
carotídeo). Após a identificação da PCR, pede-se para trazer o carrinho de
emergência com o desfibrilador e demais itens. Porém, enquanto não
chega o carrinho, já se inicia a RCP, que é o próximo elo.

3° Elo – RCP imediata de alta qualidade

Realizar as compressões torácicas com qualidade.

4° Elo – Rápida desfibrilação

Este elo se inicia com a chegada do desfibrilador manual; o médico


deverá colocar as pás conforme a técnica e verificar se há indicação ou não
de choque e, logo após, deve-se retornar às compressões.

5° Elo – Suporte avançado de vida e cuidados pós-PCR

A paciente será conduzida para o setor de emergência (sala de es-


tabilização, UTI) para a realização de exames laboratoriais, monitorização
e investigação diagnóstica da causa da PCR e outros atendimentos especi-
alizados.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 299

IMPORTANTE!

Ao se identificar a PCR, deve-se começar imediatamente a ressusci-


tação para indivíduos não responsivos sem respiração normal: INICIAR
IMEDIATAMENTE A MASSAGEM CARDÍACA!

C – CIRCULAÇÃO
A – VIAS AÉREAS – AJUDA
B – BREATHING – RESPIRAÇÃO
D – DESFIBRILAÇÃO

4.2 SEQUÊNCIA DE ATENDIMENTO

1. Solicitar ajuda de equipe multidisciplinar;


2. Documentar a hora de início da parada cardíaca;
3. Monitorização da paciente.
4. Colocar a paciente em posição supina: outros membros da
equipe devem adequar a posição da paciente, colocando-a em
decúbito dorsal com a cabeça em ligeiro declive (Trendelem-
burg), com membros inferiores elevados (para facilitar o re-
torno venoso) e promover o desvio manual do útero grávido
para a esquerda (quando AFU for acima do umbigo).

Descomprimir a veia cava, afastando manualmente o útero para a


esquerda; após 32 semanas, a posição de decúbito lateral esquerdo (DLE)
favorece o retorno venoso.

Figura 2: Manobra de desvio do útero uni- e bimanual para descompressão aortocava


e melhora da hemodinâmica materna (Fonte: http://departamentos.car-
diol.br/dcm/gravidez/20190125-parada-cardiorrespiratoria-na-gestante.pdf).

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Rede Cegonha | 300

Recomenda-se o uso de tábua para massagem, a qual deve ser co-


locada sob o tórax da paciente, de forma que, em pacientes acama-
das, a massagem se torne eficiente.

5. Estabelecer acesso venoso: durante a RCP outros membros da


equipe estabelecem acesso venoso em veia de grosso calibre, acima
do diafragma, para garantir que a terapia administrada IV não seja
obstruída pelo útero gravídico.
6. Antecipar vias aéreas de acesso difícil (chamar atendente com
experiência).
7. Manter as compressões torácicas, com massagem cardíaca ex-
terna (MCE) pelo algoritmo BLS (suporte básico de vida) – profundi-
dade de 5-6 cm, num ritmo de 100-120 compressões/minuto.

Os socorristas devem evitar apoiar-se continuamente sobre o tórax


da paciente, permitindo o retorno do esterno à sua posição original após
cada compressão, garantindo, assim, um enchimento cardíaco adequado.
As compressões torácicas devem prosseguir ininterruptamente (ex-
ceto para desfibrilação e checar os pulsos, quando indicado), com troca de
socorrista a cada 2 minutos, pois massagens efetivas e continuadas resul-
tam em uma perfusão miocárdica mais elevada. De forma sequencial, ou-
tro socorrista deve iniciar o manejo das vias aéreas, que é crítico na ges-
tante.

COMPRESSÕES
• COMPRIMA FORTE E RÁPIDO
≥ 5CM PROFUNDIDADE E ≥ 100 VEZES/MIN
• REVEZAR FUNÇÃO DE MCE A CADA 2 MIN

8. Ventilação ambu-máscara com O2 a 100% antes da intubação é es-


pecialmente importante na gestante. Manter permeabilidade das
vias aéreas é fundamental enquanto se prepara o material para in-
tubação orotraqueal. Isso é obtido com a leve extensão da cabeça e
auxílio de uma via aérea provisória (cânula de Guedel).

A ventilação ambu-máscara com O2 a 100% é a estratégia mais rá-


pida de se iniciar ventilação (principalmente para assistentes com pouca

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 301

experiência com vias aéreas), e se estiver sendo eficiente (elevações ade-


quadas do tórax), pode-se aguardar para que intubação seja feita por um
laringoscopista mais experiente, habitualmente, o anestesista que integra
a equipe. Para ventilação, recomenda-se O2 a 100% com tempo de inspira-
ção de cerca de 1s.
Antes da intubação, mantem-se ritmo de 30 compressões torácicas
para 2 ventilações e, após a intubação, as ventilações são ininterruptas a
uma frequência de 8-10 rpm, evitando a hiperventilação. Lembrar que a
progesterona causa edema de mucosas e pregas vocais (dificultando a in-
tubação orotraqueal) e relaxa o esfíncter gastroesofágico inferior, predis-
pondo à broncoaspiração.

VENTILAÇÃO
• O2 A 100%
• INSPIRAÇÃO DE 1 SEG
• 30 COMPRESSÕES
• 2 VENTILAÇÕES

9. Realizar desfibrilação o mais precocemente possível em ritmos


chocáveis, que geralmente estão ligados a doença cardiovascular.
Iniciar imediatamente a RCP com massagem cardíaca e ventilação
ambu-máscara até que o desfibrilador esteja pronto e, nesse mo-
mento, checar o ritmo e proceder à desfibrilação, se necessária.

O mesmo protocolo de desfibrilação atualmente recomendado


deve ser utilizado na paciente grávida.

Recomenda-se choque único, com desfibrilador bifásico, com 120–


200 joules, seguido imediatamente de novo ciclo de RCP.
Deve-se utilizar a máxima energia do aparelho, de 360 J no desfibri-
lador monofásico, e de 120 a 200 J no desfibrilador bifásico, conforme ori-
entação do fabricante. Se esta orientação é desconhecida, deve ser admi-
nistrado choque de 200 J.

CHOQUE
▪ BIFÁSICO 120 A 200J
▪ MONOFÁSICO 360J
▪ DESCONHECIDO 200J

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Rede Cegonha | 302

RITMOS CHOCÁVEIS RITMOS NÃO-CHOCÁVEIS


Taquicardia ventricular sem Assistolia
pulso (TV)
Fibrilação ventricular (FV) Atividade elétrica sem pulso
(AESP)

A assistolia como ritmo inicial de PCR está associada a prognóstico


extremamente reservado (7% de alta hospitalar). Na maioria das vezes é
secundaria, sendo evolução tardia da FV/TV, ou via final de hipóxia pro-
longada, acidose ou necrose miocárdica.
Após 2 minutos de RCP, se houver um ritmo organizado no monitor,
procede-se à checagem do pulso carotídeo por 5 a 10 segundos. Caso não
haja pulso palpável nesse período, identifica-se AESP.

10. Drogas e doses conforme necessidade, sem postergar nenhum


passo devido à gestação; tanto na PCR com ritmo chocável (FV/TV
sem pulso) ou não chocável (assistolia, AESP), deve-se administrar
1 mg de epinefrina tão logo possível, intravenosa ou intraóssea, a
cada 3-5 minutos. Se não houver retorno do ritmo após desfibrila-
ção, administrar amiodarona por infusão rápida intravenosa de 300
mg. Pode ser repetida na dose de 150 mg, após 3 a 5 minutos. Todas
as medicações intravenosas devem ser administradas em bolus se-
guido imediatamente de 20 ml de solução salina a 0,9% e elevação
do membro. Para FV/TV refratária (resistente ao choque), adminis-
tra-se amiodarona por infusão rápida de 300 mg com repetição de
150 mg, conforme necessário.

FÁRMACOS
• EPINEFRINA IV/IO: 1MG A CADA 3 A 5 MIN;
• AMIODARONA IV/IO:
1ª. DOSE 300MG BOLUS;
2ª. DOSE 150MG BOLUS;
• 20 ML DE SOLUÇÃO SALINA A 0,9%.

As doses de medicamentos utilizadas são as mesmas que para não gestan-


tes e nenhuma medicação deve ser suspensa por receio de teratogenici-
dade fetal.
Verificar e reverter hipovolemia com fluidos em bolus se necessário.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 303

Figura 3: Algoritmo de atendimento PRC adulto (Fonte; AHA 2015).

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Rede Cegonha | 304

5. PRINCIPAIS CAUSAS REVERSÍVEIS DE PCR (5Hs e 5Ts)

• Hipovolemia.
• Hipóxia.
• Hipotermia.
• Hidrogênio (acidose).
• Hipo/Hipercalemia.
• “Tablets” (drogas).
• Tamponamento cardíaco.
• Tensão no tórax (pneumotórax)
• Tromboembolismo pulmonar.
• Tromboembolismo coronariano.

Durante toda a reanimação, avaliação fetal não deve ser realizada,


pois a vitalidade fetal não modificará a conduta e essa avaliação pode
prejudicar e retardar as manobras de reanimação.

6. ORIENTAÇÕES PARA USO DO DESFIBRILADOR

• Despir o tórax e secá-lo.


• Nos aparelhos automáticos, aplicar os eletrodos nas porções do tó-
rax correspondentes à base e ao ápice cardíaco.
• Afastar a equipe.
• Ligar o aparelho e aguardar que ele identifique o ritmo cardíaco,
ou, em caso de aparelho manual, identifique o ritmo no monitor.
• Em caso de ritmo chocável, aguardar que o aparelho carregue.
• Apertar o botão de descarga, ou, em caso de aparelho manual,
aplique as pás e realize a descarga.
• Aplicar cargas de 200 J (bifásico), ou 360 J (monofásico), a cada 60
segundos. Retomar a RCP mais brevemente possível, caso mante-
nha se as PCR entre os choques.

7. CESÁREA PERIMORTEM (CPM)

Se em 4 minutos a mulher grávida (com AFU acima do umbigo) não


conseguiu retorno ao ritmo sinusal com as medidas de reanimação
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 305

habituais, é aconselhável iniciar o preparo para a histerotomia de emer-


gência ou cesárea perimortem (CPM) enquanto a reanimação continua.
A CPM deve ser realizada até o 5º minuto de RCP e é indicada se o
fundo uterino estiver na altura da cicatriz umbilical ou acima dela (idade
gestacional acima de 20 semanas), independentemente da vitalidade fetal.
A realização da CPM com início no quarto minuto após o colapso
melhora as chances de sobrevivência da mãe e do feto. A retirada do con-
cepto esvazia o útero, melhorando o retorno venoso e a compressão aór-
tica, possibilitando, ainda, a realização de RCP, se necessária.
Não transportar para outros locais ou esperar por equipamentos ci-
rúrgicos para iniciar o procedimento; apenas um bisturi é necessário. Não
gastar tempo em procedimentos antissépticos. Desvio manual e contínuo
do útero para a esquerda deve ser realizado ao longo da CPM. Não inter-
romper a RCP em nenhum momento. Deve-se ter sempre em mente que a
CPM faz parte das medidas da RCP em gestantes, com o intuito de melho-
ria da hemodinâmica materna. A sobrevivência fetal pode ser considerada
um ganho secundário de medida salvadora materna.
O procedimento é simplificado com incisão mediana infraumbilical,
abertura da parede abdominal a bisturi e por divulsão bidigital e incisão
uterina corporal com comprimento de 5-7 cm a partir do fundo. São reti-
rados feto e placenta e, em seguida, deve ser realizada sutura contínua do
útero e fechamento dos demais planos anatômicos. Administrar ocitocina
intravenosa. Concomitantemente devem prosseguir as manobras de res-
suscitação cardiopulmonar O parto é uma etapa da RCP!
A equipe de reanimação neonatal deve ser notificada desde a cons-
tatação da PCR em gestante, permitindo um tempo preparatório máximo.
A reanimação é mantida até se obter resposta ou se determinar o insu-
cesso. Na presença de inconsciência profunda e ausência de movimentos
musculares, de reflexos e respiração espontânea, e observando-se pupilas
fixas e dilatadas, provavelmente existe um prognóstico reservado com
provável morte encefálica.
Nas mulheres que reassumem ritmo cardíaco e as compressões não
são mais necessárias, manter em decúbito lateral esquerdo para minimi-
zar compressão aortocava (mesmo após cesariana). Cuidados intensivos e
especializados são necessários após a recuperação da atividade cardíaca.
Um dado de extrema relevância é que 40% das PCR em gestantes
seriam de causas evitáveis. A identificação precoce dos sinais de perigo e
uma rotina segura de hospitais com maternidade para estabelecer proto-
colos para TEV, hemorragia, pré-eclâmpsia / eclâmpsia e sepse são passos
fundamentais para a redução desses eventos catastróficos. A PCR em
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Rede Cegonha | 306

gestantes é sempre uma situação crítica e de alto estresse para a equipe.


O conhecimento dos protocolos de RCP e o preparo da equipe são funda-
mentais para o aumento das taxas de sucesso.

REFERÊNCIAS

Bernoche C, Timerman S, Polastri TF, Giannetti NS, Siqueira AWdS, Piscopo A, et


al. Atualização da Diretriz de Ressuscitação Cardiopulmonar e Cuidados
Cardiovasculares de Emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia - 2019.
Arq Bras Cardiol. 2019;113(3):449-663.
Braga A, Trindade AP, Soggia MEV, Boccaletti MC, Asmar FTC, Rezende-Filho J, et
al. Colapso materno - Conduta da parada cardíaca na gravidez. Femina.
2012;40(4):209-16.
Cobb B, Lipman S. Cardiac Arrest: Obstetric CPR/ACLS. Clinical obstetrics and
gynecology. 2017;60(2):425-30.
Destaques da American Heart Association (AHA) para Ressuscitação Cardiopul-
monar (RCP) e Atendimento Cardiovascular de Emesrgência (ACE), 2015 Disponí-
vel em: https://eccguidelines.heart.org/wp-content/uploads/2015/10/2015-
AHA-Guidelines-Highlights-Portuguese.pdf
Knobel R, Katz L, Haddad SM. Parada cardiorrespiratória na gestação. São Paulo:
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO);
2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 110/ Comissão Nacional Especiali-
zada em Urgências Obstétricas)
Lee CY, Kung SW. Perimortem caesarean section: A case report of an out-of-hos-
pital arrest pregnant woman. World J Emerg Med. 2018;9(1):70–72.
Meaney PA, Nadkarni VM, Kern KB, Indik JH, Halperin HR, Berg RA. Rhythms and
outcomes of adult in-hospital cardiac arrest. Crit Care Med. 2010;38(1):101-8.
Moitra VK, Gabrielli A, Maccioli GA, O'Connor MF. Anesthesia advanced circula-
tory life support. Canadian Journal of Anaesthesia. 2012 Jun;59(6):586-603.
Vancini-Campanharo, Cássia & Okuno, Meiry & Lopes, Maria & Batista, Ruth &
Gabrielloni, Maria & Campanharo, Felipe & Lira, Claudio & Vancini, Rodrigo.
(2016). Ressuscitação cardiopulmonar na gestação: uma revisão integrativa. ABCS
Health Sciences. 41. 10.7322/abcshs.v41i3.909.
Zelop, CM, Brickner, B. Sudden cardiac arrest and death in pregnancy. Uptodate
2020. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/sudden-cardiac-ar-
rest-and-death-in-pregnancy?search=Obstetric%20CPR&source=search_re-
sult&selectedTitle=2~111&usage_type=default&display_rank=2.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 307

PARTO DISTÓCICO

1. INTRODUÇÃO

Pode-se definir distocia como qualquer perturbação no bom anda-


mento do parto em que estejam implicadas alterações em um dos três fa-
tores fundamentais que participam do parto (trajeto, objeto e força mo-
triz).

2. DISTOCIA FUNCIONAL / DISCINESIA (Força motriz ou contratili-


dade uterina)

Caracterizada como a alteração na força motriz durante o trabalho


de parto, pode estar presente em até 37% das nulíparas com gestações de
baixo risco.
As contrações uterinas durante o trabalho de parto (TP) têm a fun-
ção de promover a dilatação do colo uterino e permitir a progressão do
feto pelo canal de parto e, no pós-parto, promover a hemostasia (miotam-
ponamento). O tempo necessário à dilatação cervical ainda é controverso,
pois a parturiente e a evolução do trabalho de parto devem ser individua-
lizados.
A OMS recomenda que para pacientes de baixo risco, a fase ativa
não ultrapasse 12h em primíparas e 10h em multíparas, mas não reco-
menda manejo ativo antes de 5cm de dilatação. Em contraposição, o
tempo prolongado de trabalho de parto pode inferir em riscos ao binômio
materno fetal, como corioamnionite, sofrimento fetal e lesões de trajeto.
O profissional deve, portanto, ter discernimento da evolução habi-
tual de um trabalho de parto, cabendo a ele julgar a necessidade ou não
de intervenção.

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Rede Cegonha | 308

2.1 CLASSIFICAÇÃO E CONDUTA

▪ Distocia funcional por HIPOATIVIDADE UTERINA: é a parada


na progressão do TP por falha nas contrações (falta de tônus ou
alteração na frequência)

➢ Conduta
o Amniotomia;
o Ocitocina 01 ampola (5UI) + SF 0,9% 500ml IV 8 gotas/mi-
nuto (ou 24ml/h em BIC). Aumentar o gotejamento, gra-
dualmente a cada 30 minutos até dose máxima de 32 go-
tas/minutos (alguns autores preconizam dose máxima de
até 64 gts/min).

Obs.: se necessitar as duas condutas, separá-las entre si por no mínimo 40


a 60 minutos.

▪ Distocia funcional por HIPERATIVIDADE UTERINA: é a ativi-


dade uterina exagerada, com aumento na frequência e intensi-
dade das contrações. Pode ser resultado da administração exces-
siva de ocitocina/misoprostol. Frequentemente leva a lacerações
do canal de parto e maior risco de hemorragia intracraniana fetal.
Pode ocorrer por um processo obstrutivo (desproporção cefalo-
pélvica, tumor prévio ou sinéquia do colo uterino) ou não-obstru-
tivo (hiperatividade intrínseca, geralmente levando a um parto
rápido, que ocorre em 3h.

➢ Conduta: a hiperatividade por processo obstrutivo geralmente é


irreversível, sendo a cesariana o tratamento indicado devido ao
risco de sofrimento fetal agudo ou rotura uterina.

▪ Distocia funcional por HIPERTONIA: causada pelo aumento na


frequência das contrações uterinas (taquissistolia: não há tempo
para o completo relaxamento), que leva ao aumento no tônus ute-
rino basal. Também pode ser causado pelo uso indevido de oci-
tocina (causa mais frequente de hipertonia, sendo sempre prefe-
rível o uso com BI), por sobredistensão uterina (gemelaridade,
polidramnia...), incoordenação das contrações ou DPPNI.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 309

➢ Conduta
o Suspensão imediata da ocitocina (tem meia-vida curta)
o DLE
o Se não resolver: hidratação venosa, uso de betamiméticos
(terbutalina) ou até analgesia do parto
o Tentar amniodrenagem ou amniotomia (sobredistensão)
o Tocolíticos (se taquissistolia)
• Terbutalina 0,25mg (1/2 amp) subcutâneo (amp tem
0,5mg) ou
• Nifedipina 20mg VO a cada 30min (máx de 4 doses)

o DPPNI- interrupção da gravidez

▪ Distocia funcional por HIPOTONIA: não possui relevância clínica


durante a dilatação ou no período expulsivo, mas pode acarretar
em uma dequitação retardada.

➢ Conduta: deve ser corrigida com ocitocina, amniotomia.

▪ Distocia funcional de DILATAÇÃO (distocia de incoordenação):


é definida pela não progressão na dilatação do colo uterino em pa-
ciente em fase ativa do TP, a despeito de contrações com intensi-
dade e frequência adequadas.

➢ Conduta
o Analgesia de parto (oferecer, se possível, principalmente
nas pacientes ansiosas e poliqueixosas, onde a liberação
de catecolaminas decorrente do estresse pode levar à in-
coordenação uterina)
o Amniotomia
o Ocitocina (a ocitocina sensibiliza o marcapasso uterino,
sendo útil nas inversões de gradiente ou incoordenação de
1º grau)

2.2 FATORES QUE FAVORECEM A DISTÓCIA

• Diagnóstico incorreto do trabalho de parto


• Admissão hospitalar precoce
• Restrição no leito

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Rede Cegonha | 310

• Monitorização fetal contínua


• Analgesia peridural

2.3 PREVENÇÃO

• Maior integração da equipe


• Indução por estágio do TP (iniciar maturação cervical com miso-
prostol e uso posterior de ocitocina SN)
• Apoio emocional contínuo, presença do acompanhante
• Uso de medidas alternativas no controle da dor (banho morno,
deambulação, apoio físico e emocional) ao invés de analgesia
• Evitar posicionar a paciente muito cedo em decúbito dorsal ou
litotomia e evitar puxo precoce (exaure a paciente)
• Partograma: importante na detecção de distocia, mas não iniciar
antes dos 6cm, pois termina incitando intervenções desnecessá-
rias e iatrogenias.

3. DISTOCIA DO TRAJETO (bacia e partes moles)

Deve-se à presença de anormalidades ósseas ou de partes moles, o


que gera um estreitamento do canal de parto e dificulta ou até impede a
evolução normal do trabalho de parto e a passagem do feto.

3.1 DISTOCIAS ÓSSEAS

São anormalidades no formato, no tamanho ou nas angulações da


pelve, o que torna difícil ou até impede o parto por via vaginal. Para diag-
nosticá-las, o principal meio de avaliação ainda é clínico.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 311

Os parâmetros para definição de vício


pélvico, baseados na biometria da
pelve menor ou bacia obstétrica, são:
conjugata vera obstétrica menor que
10 cm (estreito superior);
bi-isquiático com menos de 9,5 cm (es-
treito médio); e bituberoso menor que
8cm (estreito inferior).

➢ ESTREITO SUPERIOR: diâmetro anteroposterior < 10 cm ou diâ-


metro transverso médio < 12 cm são parâmetros da presença de
vício do estreito superior, que impedem a insinuação, ficando a
apresentação “alta”, apesar da contração uterina efetiva.

Como medir: através do toque vaginal, procura-se atingir o pro-


montório com a ponta do dedo médio, e marca-se a parte proximal do
dedo que entra em contato com o ângulo subpúbico. A distância entre es-
ses dois pontos é a “conjugata diagonalis”; subtrai-se 1,5cm dessa medida
e temos o valor do diâmetro anteroposterior (conjugata vera obstétrica).
Sinal de Muller presente (a mão abdominal força a cabeça para a entrada
da bacia, e o toque bidigital explora as relações do polo cefálico com a pa-
rede pélvica e a possibilidade de descida deste).

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Rede Cegonha | 312

Sinal de Muller Mensuração da conjugata diagonalis

➢ ESTREITO MÉDIO: local mais frequente de distocia, ocorrendo pa-


rada de progressão da descida em variedade transversa. Há tenta-
tiva de acomodação fetal com surgimento de bossa serossanguí-
nea. Para avaliação desse estreito, mensura-se a diâmetro trans-
verso (bi-isquiático) que, clinicamente, coincide com o diâmetro
bituberoso na maioria das vezes. Como medir: localizar a borda
interna das tuberosidades isquiáticas pela palpação e medir com
fita métrica (tangenciando a borda superior do ânus) a distância
entre elas. No partograma, geralmente se observa a parada do
polo cefálico ao nível do plano 0 de De Lee.

Diâmetro bi-isquiático

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➢ ESTREITO INFERIOR: essa forma de distocia deve ser considerada


quando o diâmetro bituberoso se encontra < 8cm. É raro e deter-
mina traumatismos perineais.

➢ CONDUTA: como o polo cefálico sofre um processo de moldagem


durante o TP, reduzindo seus diâmetros, a prova de trabalho de
parto é, em geral, a conduta mais usada na prática. Deve-se acom-
panhar o TP, avaliando a descida da cabeça fetal, monitorando e
assegurando o bem-estar do binômio. Se contrações efetivas sem
progressão, indicar cesárea.

3.2 DISTOCIAS DE PARTES MOLES

É a presença de anormalidade em algum dos componentes do canal


de parto: colo, vagina e vulva, impedindo a progressão do parto.

➢ Vulva e períneo: presença de veias varicosas, edema vulvar, este-


nose, condiloma acuminado extenso, etc. Geralmente não impe-
dem o parto por via baixa, porém há maior risco de sangramento
e de infecções pós-parto.

➢ Vagina: a principal causa é a presença de septos vaginais trans-


versais ou longitudinais, completos ou incompletos. Devem ser
ressecados antes da gestação, de preferência.

➢ Colo uterino:

• Rigidez: colo endurecido, principalmente em primíparas


tardias, com isquemia provocada pela compressão do polo
cefálico, pode-se tentar a prova de trabalho de parto,
sendo indicada a cesárea caso haja falha.
• Aglutinação: geralmente causada por processos infeccio-
sos, as bordas externas do colo ficam aproximadas, apesar
do apagamento completo. Durante o toque vaginal, pode-
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se tentar remover as aderências formadas, prática usual-


mente bem sucedida. Caso contrário, há indicação de ce-
sariana.
• Estenose pós-cirurgia local: sequela de cerclagem ou co-
nização.
• Edema: colo uterino edemaciado.

➢ Tumores prévios: qualquer tumor que se interponha entre a


apresentação fetal e o canal de parto, sendo os mais comuns: mio-
mas uterinos, tumor de ovário e câncer de colo. Estas podem as-
cender durante a gestação, permitindo o parto; caso contrário,
está indicada a cesárea.

4. DISTOCIA DO OBJETO

São as anormalidades que ocorrem no trabalho de parto atribuídas


ao feto e às relações materno-fetais. As principais são:

4.1 Tamanho fetal (anomalias do volume fetal)

Fetos que apresentam peso maior que 4000g podem prejudicar a evo-
lução do trabalho de parto. Em alguns casos, a bacia materna não apre-
senta diâmetro que permita a passagem do feto, mesmo que estes não
apresentem um peso adequado, ao que se denomina desproporção cefalo-
pélvica (DCP).

4.2 Distocia biacromial (ou de ombros)

Após o desprendimento do polo cefálico, ocorre uma impactação ós-


sea do diâmetro biacromial entre o púbis e promontório sacral maternos,
impedindo a passagem dos ombros. Geralmente não ocorre a rotação ex-
terna e observa-se a chubby face fetal (impressão de gordura facial exces-
siva, mesmo em fetos não-macrossômicos, pela compressão da face contra
a vulva materna). Pode-se observar, também, o “sinal da tartaruga” (re-
tração da cabeça fetal durante as contrações).
A distocia de ombro é um evento grave e imprevisível. Existe uma
associação nítida com o peso fetal, no entanto, cerca de 50% dos casos
ocorrem em conceptos com peso normal, necessitando que estejamos

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prontos para diagnóstico e manejo adequado da situação, a fim de melho-


rar os desfechos maternos e perinatais.
Este evento pode causar graves consequências à parturiente – como
lacerações, atonia uterina, rotura uterina ou disjunção da sínfise púbica –
e ao feto – lesões de plexo braquial, fratura de clavícula ou úmero, po-
dendo evoluir para óbito intraparto ou neonatal.

Conduta: as manobras têm como objetivo tentar aumentar o diâmetro an-


tero-posterior da pelve materna, diminuir o diâmetro biacromial do feto
e alterar as relações entre a pelve materna e o biacromial fetal. Está pros-
crita a tração do polo cefálico e/ou a pressão fúndica uterina, pois aumen-
tam a impactação óssea.

É importante manter a calma e conhecer os passos do manejo. Não


há evidências de que uma manobra seja mais efetiva do que outra ou que
haja uma ordem obrigatória para realizá-las.

1. Informar à gestante sobre o que está acontecendo e a necessidade


de manobras.

2. Ampliar a equipe para atendimento da emergência: chamar outro


obstetra, equipe de enfermagem de apoio, neonatologista e aneste-
siologista.

3. Após 60 segundos do desprendimento cefálico, realizar a rotação


externa (reconstitutir a rotação interna) tracionando o polo cefá-
lico (parietais sob as palmas das mãos) com cuidado e firmeza, sem
exceder em força, para confirmar a impactação.

4. Confirmada a distocia, fazer a manobra de McRoberts: aumentar


o agachamento (se posição vertical) ou hiperflexão das coxas (se
deitada).

5. O auxiliar, posicionado no lado do dorso/occipito fetal, deve reali-


zar a pressão supra-púbica (manobra de Rubin I) contínua, na di-
agonal, por 30 segundos (tentativa de aduzir o ombro anterior); não
tendo sucesso, fazer por mais 30 segundos em pulsos (tipo massa-
gem cardíaca) com punho fechado ou mão espalmada.

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6. Colocar paciente em 4 apoios (manobra de Gaskin), para aumentar


o diâmetro anteroposterior da pelve e repetir a manobra de tração
do polo cefálico para desprendimento, agora, do ombro posterior
(que estará anterior nessa posição). Como a referida manobra solu-
ciona 80% das distocias, recomenda-se realiza-la antes das mano-
bras internas.

7. Em caso de insucesso ao utilizar a manobra anterior, solicitar a pa-


ciente que fique na posição de running start (elevar e dobrar o jo-
elho do lado do dorso fetal, como se fosse iniciar uma corrida), ma-
ximizando a mobilidade pélvica. Não resolvendo, iniciar manobras
internas.

8. As manobras internas podem ser feitas em posição de litotomia ou


em 4 apoios (melhores resultados). Iniciar da manobra menos pra
mais invasiva.

a. Rubin II: colocar os dedos indicador e médio sobre a escá-


pula posterior fetal, empurrando o concepto que se en-
contra com o biacromial no diâmetro anteroposterior
para um diâmetro oblíquo, com leve tração simultânea da
cabeça para desprendimento.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 317

b. Woods: se não houver resposta, manter os dedos sobre a


escápula posterior e o assistente coloca os dedos indicador
e médio da mão contralateral sobre a clavícula fetal, ante-
riormente, repetindo a tentativa de rotação para o mesmo
oblíquo.

c. Woods reversa ou parafuso: sem sucesso, os dedos indi-


cador e médio do assistente colocados sobre a escápula fe-
tal devem deslocar-se anteriormente para a clavícula ipsi-
lateral, e os dedos da clavícula posterior deslocar para a
escápula posterior, fazendo a rotação no sentido inverso,
para o oblíquo seguinte.

9. Jacquemier: pode ser realizada com a paciente em litotomia ou 4


apoios. É a retirada do ombro posterior, realizada introduzindo-se
a mão que se encontra do lado da face fetal na chanfradura sacroci-
ática da pelve materna, passando pela face e ventre fetal até alcan-
çar o braço posterior. Traciona-se então delicadamente a mão fetal,
passando pelo ventre e face fetal. Essa manobra transforma o diâ-
metro biacromial em axiloacromial (menor tamanho) e causa rota-
ção do feto, que sai em occipitosacro, podendo fraturar ossos do
braço, mas raramente lesando os nervos.

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10. Medidas de resgate: se nenhuma manobra funcionar, as opções se-


rão: fratura de uma ou ambas as clavículas fetais, a cesariana, a
manobra de Zavanelli (recolocar a cabeça fetal dentro do útero
mediante anestesia geral-halogenados) e fazer a cesariana.
Para facilitar o manejo da distocia de ombros pode-se utilizar o
mnemônico “ASAIDA”

A Avisar à parturiente; Chamar Ajuda; Anestesista a postos; Au-


mentar o Agachamento (McRoberts modicada)
S Pressão Suprapúbica
A Alterar a posição (quatro apoios)
I Manobras Internas - Manobra de Rubin II, Manobra de Woods
Manobra do parafuso invertido
D Desprender o ombro posterior
A Avaliar manobras de resgate

Após 7-8 minutos de tentativas de extração fetal há maior probabili-


dade de danos neurológicos fetais e óbito neonatal. Mesmo após ma-
nobras bem sucedidas há risco de tocotraumatismo.

As complicações de uma distocia de ombro são:

- Maternas: hemorragia, lesão de reto, laceração de vagina e colo,


atonia vesical, fístula, rotura uterina, disjunção púbica e neuro-
patia femural.

- Fetais: escoriações, lesão de plexo braquial, fratura de úmero e


clavícula, paralisia facial e do diafragma, sofrimento fetal, ence-
falopatia hipóxico-isquêmica e óbito.

Sempre documentar o evento, anotando os fatores de risco exis-


tentes, o peso do RN, anormalidades do TP, horário da saída da cabeça e
do corpo, membros da equipe presentes, episiotomia, anestesia, força
aplicada antes do reconhecimento da distocia, manobras realizadas por
ordem, duração e quem as realizou, registro do ombro anterior (direito ou
esquerdo) e peso estimado antes do parto.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 319

O mnemônico abaixo – protocolo ALEERTA, orientado pelo ALSO


(Advanced Life Support of Obstetrics) também pode ser usado para facilitar a
organização no manejo da distocia:

A Chamar Ajuda; Avisar a parturiente; Anestesista a postos


L Levantar os membros inferiores em hiperflexão (manobra de
McRoberts)
E Pressão suprapúbica Externa (manobra de Rubin I)
E Considerar Episiotomia
R Remover o braço posterior
T Toque para manobras internas:Manobra de Rubin IIManobra de
WoodManobra do parafuso invertido
A Alterar a posição: quatro apoios (manobra de Gaskin)

Diante da impossibilidade de alcançar os ombros, deve-se indicar


resolução da gestação por via alta, reintroduzindo a cabeça na pelve ma-
terna até as espinhas isquiáticas (manobra de Zavaneli).

4.3 Anormalidades de situação e apresentação

Não são tão frequentes no trabalho de parto quanto as distocias já


citadas.

➢ Cefálicas defletidas

o 1º grau (apresentação de bregma) - diâmetro occitofron-


tal = 12 cm. É possível a evolução vaginal, desde que não
haja comprometimento da vitalidade fetal. Ponto de refe-
rência: glabela.

o 2º grau (apresentação de fronte) - diâmetro occitoglabelar


igual a 13cm. É possível tentar prova de TP, pois pode fletir
ou defletir na evolução, mas não se deve insistir por muito
tempo. Geralmente a interrupção é por via alta. Ponto de
referência: naso.

o 3º grau (apresentação de face) - diâmetro submentobreg-


mático igual a 9,5cm; é possível haver evolução de parto
vaginal na variedade mentoanterior (se mento voltado

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Rede Cegonha | 320

para o sacro, necessita rotação interna para mentoante-


rior). Ponto de referência: mento.

1° 2°

Apresentações cefálicas defletidas graus 1, 2 e 3 (Fonte: https://med-


pri.me/upload/texto/texto-aula-705.html)

➢ Apresentação composta: um ou mais membros se insinuam jun-


tamente com o polo cefálico na pelve materna; está associado a
prolapsos de cordão; em caso de prolapso de cordão ou não ha-
vendo redução do membro, indica-se cesárea.

➢ Variedades de posição occipitoposterior(OS) e occipitotrans-


versa (OT): evidenciado ao toque (se dificultado, principalmente
na presença de bossa serossanguínea, tentar tocar orelhas e nariz
para definição). Aguardar no máximo 1h o período expulsivo, com
vigilância na ausculta; o fórcipe de Kielland é uma opção para ro-
tação fetal, se obstetra hábil.

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Foto 1: Desprendimento fetal


na variedade OS em parto na
banqueta.

(acervo da Maternidade Frei


Damião)

➢ Situação transversa: a palpação não evidencia polo fetal ocu-


pando o fundo uterino. No toque vaginal, não há parte fetal apre-
sentada, estando a escava vazia. Normalmente opta-se pela cesá-
rea.

➢ Apresentação pélvica: pode ser completa (modo de pés) ou in-


completa (modo de nádegas). A versão cefálica externa apre-
senta-se como uma alternativa efetiva em mulheres com apresen-
tação pélvica, visando diminuir as complicações de um parto pél-
vico. O procedimento exige habilidade técnica do profissional e
parece não ser efetiva em fetos pré-termo, sendo indicada após 36
semanas. A cesariana programada pode ser uma alternativa na as-
sistência à mulher com feto de apresentação pélvica idealmente
após 39 semanas, porém sugere-se aguardar o trabalho de parto.

A melhor proposta para assistência em situações emergenciais é o


parto em 4 apoios, que aumenta o ângulo anteroposterior da pelve ma-
terna, diminuindo a morbidade materna, duração do período expulsivo e
necessidade de manobras, sem alterar desfechos.

Algumas orientações importantes no parto pélvico:

1. Ausculta fetal intermitente a cada 5min.


2. É comum o líquido meconial (compressão abdominal fetal).

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3. Evitar manipulação do cordão.


4. Contraindicada a amniotomia (a bolsa facilita o desprendimento e
diminue risco de compressão funicular).
5. Colocar em 4 apoios assim que a apresentação se encontrar visível
no períneo (antes: deambular).
6. Evitar manobras, tração ou mobilização desnecessárias do feto,
que podem levar à deflexão da cabeça e piorar o prognóstico.
7. Presença de neonatologista (maior necessidade de reanimação)
8. Diâmetro bitrocantérico apresenta-se em variedade oblíqua, faz
uma rotação de 45° e se exterioriza, primeiro o trocanter anterior
(relação com o pube materno), seguido pelo posterior, geral-
mente. O sentido da rotação deve ser para posicionar o dorso fetal
ANTERIORMENTE em relação à paciente (dorso fetal voltado para
o pube materno). Se ocorrer rotação espontânea no sentido dorso
posterior, corrigir delicadamente (mãos sobre íleos fetais, sem
tração, com compressas), fazendo a rotação no sentido ventrodor-
sal durante as contrações, restabelecendo o dorso ANTERIOR.
9. Na sequência, observa-se o abdome fetal e o cordão umbilical, ha-
vendo rotação para um dos oblíquos da pelve para desprendi-
mento da cintura escapular. A presença de uma pequena depres-
são torácica (dobra peitoral) evidencia a cintura escapular no es-
treito inferior, indicando progressão normal do parto.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 323

10. A permanência do feto em posição oblíqua, sem desprendimento


dos MMSS sugere distocia de ombros (braço nucal): fazer a mano-
bra de rotação 180°-90°: segura-se o feto (com compressas) en-
quanto realiza-se rotação de 180° no sentido ventrodorsal, sem
tração, transformando a posição inicial no oblíquo contralateral,
e depois 90° no sentido oposto, posicionando novamente com
dorso anterior.

90°

180°

11. Nesse momento, a parturiente pode aumentar naturalmente o


agachamento, aproximando a pelve da superfície de apoio
(“tummie crunch”), auxiliando a manutenção da atitude fetal fle-
tida.
12. A protusão do ânus materno indica a cabeça fetal fletida em des-
prendimento iminente. Sua ausência indica cabeça hiperexten-
dida, necessitando manobra de Frank’s Nudge: segurar o tórax

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Rede Cegonha | 324

fetal com ambas as mãos (encaixa nas axilas, com polegares nas
clavículas e restante dos dedos nas escápulas), deslocando fron-
talmente em direção ao pube materno, pressionando o occipito
frontal contra este, levando à flexão e desprendimento da cabeça.
Corresponde a manobra de Bratch em litotomia (cambalhota fe-
tal sobre o abdome materno)

Manobra de Frank’s Nudge

13. Se houver falha no desprendimento, realizar a manobra de Mau-


riceau-Cronk, com dedos indicador e médio da mão dominante
do assistente sobre malares fetais e mão contralateral (dedos in-
dicador, médio e anelar) no occipício, forçando a flexão da cabeça
enquanto empurra contra o pube materno.

Desenhos realizados pela estudante de me-


dicina da Universidade Federal de São Car-
los, Larissa Evelyn Oliveira.

14. Se não desprender (raro), aplicar fórcipe de Piper (posição de lito-


tomia)

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 325

REFERÊNCIAS

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ombro: proposta de um novo algorítmo para conduta em partos em posições não
supinas. Femina. 2013; 41(3), 115–124.
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with classic assistance. J. Perinat. Med. 2015; 43(6): 707–713.
Brasil, Ministéro da Saúde. CONITEC - Diretrizes de Atenção à Gestante: a opera-
ção cesariana, Relatório de recomendação. Ministério da Saúde do Brasil; 2017.
Codarin RR, Francisco RP. Discinesias da contratilidade uterina e sua correção.
São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FE-
BRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 103/ Comissão Nacional
Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério).
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. Comissão de
assistência ao abortameno, parto e puerpério. Distocias. FEBRASGO; 2017. Dispo-
nível em https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/184-disto-
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Louwen F, Daviss BA, Johnson KC, Reitter A. Does breech delivery in an upright
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Moron AF, Camano L, Kulay Jr L. (eds). Obstetrícia. 1ª ed. Barueri: Editora Manole,
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Nunes, RD, Knobel R, Magalhães C, Polido CBA, Katz L. Distócia de Ombro. Fede-
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Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. Dispo-
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Urbanetz AA. Ginecologia e Obstetrícia Febrasgo para o Médico Residente. Editora
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term on all fours. Clin Case Rep. 2017; 5: 182–186.
Zugaib M. Obstetrícia. Ed. Manole, 3ª edição, 2016.

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Rede Cegonha | 326

PARTO VAGINAL APÓS


CESARIANA (PVAC)
(Assistência à mulher com operação cesariana prévia)

1. INTRODUÇÃO

Com o crescente número de mulheres submetidas a uma operação


cesariana primária nas últimas décadas, cresce proporcionalmente o nú-
mero de gestantes com cesariana(s) prévia(s).
Os riscos de um parto vaginal após cesariana, em geral, são baixos,
com taxa de sucesso em torno de 70%. As melhores evidências propõem
deixar que a mulher entre em trabalho de parto espontaneamente (prova
de trabalho de parto) como a melhor conduta a ser adotada, reduzindo
o risco de uma segunda cesariana.
A morte materna de mulheres com operação cesariana prévia é um
evento raro (4/100.00). O risco de rotura uterina é maior, porém a taxa de
mortalidade materna é maior nas submetidas a uma nova cesariana pro-
gramada quando comparadas àquelas que tiveram parto vaginal plane-
jado.

2. CRITÉRIOS

Existem alguns critérios que precisam ser avaliados na admissão de


gestantes com cesarianas prévias:
• As preferências e prioridades da mulher, respeitando sua autono-
mia;
• Os riscos e benefícios de uma nova cesariana;
• Os riscos e benefícios de um parto vaginal após uma cesariana, in-
cluindo o risco de uma cesariana não planejada (DE URGÊNCIA);
• História de parto vaginal prévio (especialmente se ele ocorreu
após uma cesariana prévia);
• Condições favoráveis do colo do útero (avaliado ou não através do
escore de BISHOP);

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• Trabalho de parto espontâneo;


• Número de cesarianas anteriores e suas indicações;
• História pré-natal;
• Ocorrência de complicações durante o procedimento anterior;
• Status atual da prole (número de filhos vivos e mortos).

CONDIÇÕES QUE PODEM REDUZIR A TAXA DE SUCESSO PARA UM


PARTO VAGINAL APÓS CESARIANA PRÉVIA:

• Falha de progressão do trabalho de parto;


• Parada secundária de descida;
• História de duas operações cesarianas;
• Idade materna maior que 40 anos;
• IMC maior que 30Kg/m2;
• Idade gestacional maior que 41 semanas;
• História de GIG/ peso acima de 4000g;
• Diabetes.

3. DIRETRIZES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE (2016)

• Levar em consideração o desejo e a autonomia da mulher;


• Preenchimento do TCLE;
• Autonomia dos profissionais e instituições de saúde em relação à
aceitação ou não da assistência ao parto vaginal após 2 cesarianas;
• Individualizar a conduta quando o intervalo interpartal for infe-
rior a 15 meses (ou intergestacional abaixo de 6 meses);

4. CONDUTA FRENTE A PACIENTE COM CESÁREA ANTERIOR

4.1. Parto vaginal após UMA cesariana:

O parto vaginal após uma cesariana é possível e recomendável, com


altas taxas de sucesso e baixas taxas de complicações. Essas mulheres têm
menor morbidade quando submetidas a uma prova de trabalho de parto.
A rotura uterina é uma complicação rara e de exceção, mas pode
associar-se a complicações graves (hemorragia, necessidade de hemo-
transfusão, histerectomia, desfechos neonatais desfavoráveis, morte ma-
terna e/ou fetal).
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A probabilidade de uma rotura uterina em uma gestante


com UMA cesariana anterior é em torno de 0,5% a 1%.

4.2. Parto vaginal após DUAS cesarianas:

Mulheres com duas cesarianas prévias têm morbidade semelhante


àquelas com uma cesariana anterior, dessa forma, podem ter a prova de
trabalho de parto oferecida, após aconselhamento sobre risco de ruptura,
morbidade materna e fetal e chance individual de sucesso.

Em mulheres com duas cesáreas anteriores


o risco de rotura é de 1,7% a 2%

4.3. Parto vaginal após MAIS DE DUAS cesarianas:

A operação cesariana é recomendada em mulheres com três ou mais


cesarianas prévias.
No entanto, é importante informar a essas mulheres que o risco de
infecção, lesão vesical e traumatismo cirúrgico não varia no parto vaginal,
existindo maior risco de rotura uterina neste tipo de parto.

O trabalho de parto e parto vaginal NÃO são recomendados para mu-


lheres com cicatriz uterina longitudinal de operação cesariana /
miomectomia anterior.

OBSERVAÇÕES:

NO PARTO NORMAL APÓS CESARIANA

- A profilaxia da hemorragia pós-parto segue o protocolo


habitual;
- Realizar revisão sistemática da cavidade uterina, em busca
de roturas assintomáticas;
- Revisão OBRIGATÓRIA do canal de parto
- Investigação de ACRETISMO PLACENTÁRIO

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5. INDUÇÃO DE TRABALHO DE PARTO EM MULHERES COM


CESARIANA PRÉVIA

● A indução do parto em gestantes com cesariana prévia aumenta


moderadamente o risco de rotura uterina quando comparado ao
trabalho de parto espontâneo;
● A indução deve ser realizada apenas se houver indicação médica,
não se devendo realizar indução eletiva por conveniência do mé-
dico ou da gestante;
● Prostaglandinas (Misoprostol/ Dinoprostone) não devem ser uti-
lizadas para preparo cervical ou indução;
● Quando indicada indução, deve ser feita com sonda de Foley ou
balão cervical para preparo de colo, e depois ocitocina ou amnio-
tomia (conforme protocolo específico);
● O uso de ocitocina está associado a risco mínimo a moderado de
ruptura uterina, necessitando, portanto, de cautela e com veloci-
dade de gotejamento controlada com bomba de infusão (alguns
autores recomendam dose máxima de 20mUI/min).

6. ROTURA UTERINA

O fato da rotura uterina ocorrer com muito mais frequência em mu-


lheres com cicatriz de cesárea faz dela uma complicação cada vez mais
temível, sendo que 18% das roturas ocorrem no período expulsivo do tra-
balho de parto.

6.1 DIAGNÓSTICO

Um dos principais sinais de distensão uterina é a sensação de des-


conforto diferente da contração uterina, pois o desconforto persiste du-
rante o intervalo das contrações. As contrações são subentrantes, intensas
e excessivamente dolorosas.
Na mulher em decúbito dorsal horizontal, percebe-se uma corcova,
um afundamento, uma divisão visível entre o fundo uterino e o segmento
inferior (“útero em ampulheta” pela visão frontal e “útero em corcova de
camelo” na visão lateral).
● Sinal de Bandl (anel próximo ou contíguo à cicatriz umbilical que
separa o corpo do segmento inferior do útero)

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● Sinal de Frommel (ligamentos redondos retesados e desviados


para frente).
● Síndrome de distensão segmentar (Bandl-Frommel).

Outros sinais:
• Deterioração do padrão dos batimentos cardíacos fetais;
• Sangramento vaginal;
• Parada das contrações;
• Subida da apresentação ao toque vaginal;
• Partes fetais palpáveis facilmente no abdome materno;
• Taquicardia importante e hipotensão grave.

6.2 CONDUTA

• Assegurar vias aéreas pérvias, respiração – fornecer O2 em más-


cara a 10l/min ou cateter a 5l/min, puncionar dois acessos veno-
sos calibrosos infundindo 1.000ml de solução cristaloide em cada
acesso na velocidade inicial de 500ml nos primeiros 10 minutos e
manter com a velocidade de infusão de 250ml/hora;
• Deve ser realizada laparotomia imediatamente com anestesia ge-
ral para não agravar ainda mais a hipotensão. Nos casos mais gra-
ves, na abertura da cavidade o feto é encontrado total ou parcial-
mente localizado no abdome materno juntamente com a placenta;
• Em geral é necessário realizar histerectomia para tratar a rotura
uterina, pois ocorrem lesões vasculares, com dificuldade de con-
servação do útero.

Levando em consideração a qualidade da assistência, equipe especia-


lizada e hospital capacitado, é possível e deve ser oferecido às mulhe-
res com cesárea anterior o direito de escolha, discutindo SEMPRE,
seus riscos e benefícios, numa decisão COMPARTILHADA.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal: re-


latório de recomendação/Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia
e Insumos Estratégicos, Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias
em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 381 p.
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 331

Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesari-


ana Nº 179 março/2016/CONITEC – Ministério da Saúde.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Minis-
tério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programá-
ticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 302 p.
– (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde Brasil 2011:
uma análise da situação de saúde e a vigilância da saúde da mulher. Brasília (DF):
Ministério da Saúde; 2012. p. 371-97.
Hauk L; American Academy of Family Physicians. Planning for Labor and Vaginal
Birth After Cesarean Delivery: Guidelines from the AAFP. Am Fam Physician. 2015
Feb 1;91(3):197-8.
Martel MJ, MacKinnon CJ. No. 155-Guidelines for Vaginal Birth After Previous Ca-
esarean Birth. J Obstet Gynaecol Can. 2018;40(3):e195-e207.
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College of Obstetricians and Gynaecologists, 2015.
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(Replaces guideline Number 147), February 2005. Int J Gynaecol Obstet. 2005
Jun;89(3):319-31.

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Rede Cegonha | 332

PARTO VAGINAL INSTRUMENTAL

INTRODUÇÃO

Alguns instrumentais cirúrgicos podem ser utilizados na assistência


ao parto vaginal, quando o nascimento deve ser ultimado a fim de reduzir
o risco materno e fetal. Eles executam a preensão e tração do polo cefálico
do feto visando abreviar o segundo período do parto. Quando bem indica-
dos e com boa aplicabilidade técnica, oferecem grande utilidade na obste-
trícia, entretanto, a constante diminuição de seu uso nos tempos atuais,
tem dificultado a experiência com as técnicas. São eles, o fórceps e o vácuo
extrator.

1. FÓRCEPS

Destinado a apreender o polo cefálico do feto e retirá-lo, dimi-


nuindo o segundo período do parto.

1.1 FUNÇÃO

✓ Preensão, tração (principal ação) e rotação

1.2 COMPONENTES

✓ Cabo: local de tração


✓ Ramo (zona articular): Pedículo e Articulação
✓ Colher (Cada colher tem três curvaturas: cefálica, pélvica e peri-
neal)

1.3 TIPOS DE FÓRCEPS

✓ Simpson - é o mais empregado nas maternidades brasileiras e é


composto de dois ramos cruzados. Indicado em variedades oblí-
quas e pegas diretas (OP / OS).

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Figura 1: Fórceps de Simpson. Fonte: Tratado de Obstetrícia de Febrasgo 2018.

✓ Kielland – a articulação é por deslizamento facilitando a pega


assimétrica nos casos de assinclitismo e permitindo a sua cor-
reção. Indicado em variedades transversas, posteriores, defleti-
das e occipito-sacras. Elevada morbidade.

Figura 2: Fórceps de Kielland. Fonte: Tratado de Obstetrícia de Febrasgo 2018.

✓ Piper - Extração na cabeça derradeira (feto pélvico)

Figura 3. Fórceps de Piper. Fonte: Tratado de Obstetrícia de Febrasgo 2018.

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Rede Cegonha | 334

1.4 INDICAÇÕES

- Maternas
• Segundo período prolongado
• Discinesias uterinas (inércia uterina)
• Exaustão materna
• Analgesia de parto
• Evitar o esforço secundário em portadoras de certas doenças car-
díacas, pulmonares, neuromusculares, tumores cerebrais ou
aneurismas
• Presença de cicatriz uterina, cuja solicitação no período expulsivo
possa causar a rotura uterina

- Fetais
• Cabeça derradeira no parto pélvico
• Condições fetais não tranquilizadoras, com intuito de abreviar o
período expulsivo
• Procidência de cordão
• Parada de rotação

1.5 CONDIÇÕES DE APLICABILIDADE

• Dilatação completa;
• Proporcionalidade da bacia ao concepto;
• Feto vivo ou morte recente;
• Cabeça insinuada (apresentação no plano +2 e +3 de DeLee);
• Membranas rotas;
• Boa analgesia;
• Bexiga e reto vazios;
• Diagnóstico preciso da variedade de posição;
• A paciente deve concordar com o procedimento (o prontuário
deve conter a indicação do procedimento, a avaliação clínica
da mãe e do feto e um resumo do consentimento informado).

1.6 APLICAÇÃO

• Posição de litotomia;
• Cuidados de assepsia e antissepsia;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 335

• Analgesia peridural do período de dilatação ou bloqueio bila-


teral dos pudendos
• Esvaziamento vesical;
• Determinar variedade de posição e apresentar, de forma espa-
cial, o fórcipe à vulva (a palpação da face posterior da orelha
é sempre uma boa maneira de confirmar a variedade de posi-
ção, o que deve ser feito mesmo diante da certeza. Se houver
dificuldade, buscar a borda supraorbital);
• Aplicar o fórcipe – introdução da mão-guia homóloga ao
ramo que se vai introduzir, aplicação das colheres, articula-
ção, verificação da pega e extração. Pega ideal: biparieto-
malo-mentoniana (figura 4);

“Pega ideal” biparieto-malo-


mentoniana (OS)

Figura: kimberly martens for


obg management

Figura 4: aplicação do fórceps. (Fonte: Operative Vaginal Deliveries in Contemporary


Obstetric Practice, 2012).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 336

• Retirada dos instrumentos (inversamente à sua colocação: a úl-


tima colher a ser introduzida será a primeira a ser retirada);
• Revisão do canal de parto (OBRIGATORIA).

Sequência para aplicação do Fórceps

A. Ajuda (solicitar). Avise a paciente. Anestesia Avaliar


B. Bexiga vazia
C. Colo uterino completamente dilatado
D. Determinar a variedade de posição. Preparar Distócia de
Ombro
E. Equipamento (conferir colheres do fórceps)
F. Fórcipe (inserção das colheres)
G. Gentil Tração (prova tração e tração nas contrações)
H. Hora de elevar os cabos
I. Incisão: realização de episiotomia
J. Já é hora de retirar o fórceps (quando mandíbula acessível)

1.7 COMPLICAÇÕES DO FÓREPS

MATERNAS FETAIS
Lacerações do colo uterino, da va-
gina, da vulva e do reto
Prolongamento da episiorrafia Céfalo-hematoma
Disjunção da sínfise pubiana Sequelas neurológicas tardias
Infecção Puerperal Hemorragia intra-craniana
Lesão vesical Paralisia do nervo facial e/ou hi-
poglosso
Hematoma perineal Fratura de crânio
Fratura do cóccix

1.8 CONTRA-INDICAÇÕES DO FÓRCEPS


• Ausência de indicação precisa
• Prematuridade
• Bolsa íntegra - risco de promover DPP e lesão de partes moles
• Dilatação cervical incompleta
• Cabeça móvel
• Desproporção cefalopélvica

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 337

• Feto morto: deslizamento dos ramos (contraindicação rela-


tiva)
• Inexperiência do operador

2 VÁCUO EXTRATOR

Condições e indicações semelhantes às do fórceps, no entanto não


está indicado na ausculta fetal não tranquilizadora, pela necessidade de
maior tempo para extração fetal nem nos fetos com menos de 34- 36 se-
manas pelo risco de hemorragia intraventricular (a segurança do vácuo é
incerta). Não deve ser usado em doenças fetais desmineralizantes (osteo-
genesis imperfecta).

Figura 5: Modelo de vácuo-extrator


Fonte: Tratado de Obstetrícia de Febrasgo 2018

2.1 VANTAGENS DO VÁCUO EXTRATOR

• Exerce menor tração sobre a cabeça do feto


• Requer menos anestesia
• Provoca menor laceração da vagina e do colo do útero
• Pode reduzir a frequência de episeotomias, lacerações de esfíncter
anal e roturas.

2.2 DESVANTAGENS DO VÁCUO EXTRATOR

• O período expulsivo pode ser mais demorado em relação ao


fórceps
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Rede Cegonha | 338

• O eixo da tração deve ser apropriado para evitar a perda do vácuo


• Aumento na incidência de céfalo-hematoma e
• Hemorragia retiniana do RN
• Não é primeira escolha no sofrimento fetal agudo

Sequência para aplicação do Vácuo-extrator


A. Ajuda (solicitar). Avise a paciente. Anestesia Avaliar
B. Bexiga vazia
C. Colo uterino completamente dilatado
D. Determinar a variedade de posição. Preparar
E. Equipamento (Conferir vácuo-extrator)
F. Fontanela Posterior
G. Gentil Tração (Prova tração e Tração com técnica adequada)
H. Hora de elevar
I. Incisão: avaliar episiotomia ( pode não ser necessária)
J. Já é hora de retirar o vácuo (Quando raiz mandíbula acessível)

2.3 APLICAÇÃO

• Posição de litotomia
• Cuidados de assepsia e antissepsia
• Verificar as conexões e o vácuo do aparelho
• Aplicar a cúpula sobre a sutura sagital e próximo da fontanela pos-
terior (centro: 3cm a frente) após enxugar a região do couro cabe-
ludo fetal
• Verificar se não existe tecido materno entre o dispositivo e a ca-
beça fetal palpando em círculo ao redor do mesmo
• Aplicar sucção entre 500 a 600 mmHg, com duração de 1 a 2 min
para atingir a pressão desejada
• A tração deve ser realizada em conjunto com os puxos maternos,
no início da contração, com a mão dominante, enquanto a outra
apoia a descida da cabeça fetal e a cúpula
• Havendo progressão, admite-se duas ou três trações em um perí-
odo de tempo de 15 a 30 minutos
• Remover o dispositivo após desprendimento do polo cefálico

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 339

Havendo falha desse método, não tentar aplicar fórceps, pois au-
menta a morbidade fetal.

Figura 6: Aplicação correta da cúpula do vácuo extrator. Fonte: Tratado de Obstetrícia


de Febrasgo 2018

3. COMO REDUZIR INCIDÊNCIA DE PARTO OPERATÓRIO

➢ SUPORTE EMOCIONAL CONTÍNUO

Redução na duração do trabalho de parto e probabilidade de parto


vaginal assistido.

➢ ADOÇÃO DE POSIÇÃO VERTICAL OU LATERAL


Redução na duração do 2º período do trabalho de parto, no nú-
mero de partos operatórios e de episiotomias.

➢ RETARDAR OS PUXOS EM PRIMÍPARAS


Redução da necessidade de rotação instrumental do polocefálico
fetal.

➢ EVITAR ANALGESIA PERIDURAL


Analgesia peridural se associa com aumento de procedimentos
operatórios.

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Rede Cegonha | 340

3 PONTOS IMPORTANTES

• Só realizar parto instrumental se for familiarizado com o método;


• Uso do antibiótico deve ser individualizado;
• Sempre descrever detalhadamente o procedimento no prontuário
e a sua indicação!
• O parto vaginal operatório deve ser abandonado quando não hou-
ver evidência de descida progressiva com tração moderada du-
rante cada contração ou quando o parto não é iminente após três
tentativas de tração quando aplicado corretamente por um ope-
rador experiente. Há aumento do risco de toco traumatismo com
indicação imediata de cesariana;
• Presença de equipe capacitada para cuidados neonatais;
• Não existe evidência da obrigatoriedade da episiotomia.

REFERÊNCIAS

Adaji SE, Shittu SO, Sule ST. Operative vaginal deliveries in Zaria , Nigeria. Ann
Afr Med. 2009;8(2):95–9.
Benzecry RM, Trapani Júnior A. Parto vaginal operatório: fórceps e vácuo. São
Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FE-
BRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO - Obstetrícia, no. 105/ Comissão Nacional
Especializada em Assistência ao abortamento, parto e puerpério).
Fernandes CE, Silva de Sá M F. Tratado de Obstetrícia da Febrasgo. Editora Else-
vier, 2018.
Freitas F, Costa SHM, Ramos JGL, Magalhães JA. Rotinas em obstetrícia. In: Maga-
lhães, J. A. et. al. Parto vaginal instrumental. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
Cap. 24, p. 355-371.
Montenegro CAB, Rezende Filho J. Obstetrícia. In: BEN- ZECRY, R. Fórcipe. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. Cap. 93, p. 905-921.
Murphy D, Strachan B, Bahl R, Obstetricians tRCo, Gynaecologists. Assisted
Vaginal Birth. BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynaecology.
2020;127(9):e70-e112.
Operative Vaginal Delivery; RCOG Green-top Guideline No. 262 of 19© Royal
College of Obstetricians and Gynaecologists; January 2011.
SOGIMIG. Curso de emergências obstétricas. Disponível em: https://www.sogi-
mig.org.br/wp-content/uploads/2019/05/3.-PARTO-OPERAT%C3%93RIO-CEO-
2018.pdf.
Zugaib, M. Obstetrícia. In: FRANCISCO, R. P.V.et. al. Fórcipe. São Paulo: Manole,
2007. Cap. 22, p. 397-405.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 341

PNEUMOPATIAS E GESTAÇÃO

PNEUMONIA NA GRAVIDEZ

1. INTRODUÇÃO

As pneumonias são a maior causa de morte por infecção não-obsté-


trica em mulheres grávidas e estão também associadas à morte fetal e à
prematuridade.
Os agentes mais frequentes costumam ser os mesmos da pneumonia
comunitária (PAC) na não gestante: Pneumococo, Mycoplasma pneumo-
niae, Chlamydia pneumoniae e Haemophillus infuenza e, menos frequen-
temente, a Legionella pneumophilla e os vírus (influenza e varicela), além
da pneumonia por aspiração.

2. DIAGNÓSTICO

• Tosse produtiva
• Febre
• Dor torácica
• Dispneia / taquipneia
• Astenia
• Estertoração
• Taquicardia

3. EXAMES

• RX de tórax (em exposição postero-anterior) deve ser realizado


com proteção abdominal e apesar de ser conclusivo em apenas
40% dos casos, estabelece o diagnóstico com mais firmeza. Não há
justificativa para não o realizar, uma vez que a dose de radiação é
mínima e inócua para o feto, todavia, alguns cuidados podem e
devem ser tomados em pacientes grávidas, tais como usar prote-
tores de chumbo sobre o abdome, colimar o feixe de raios X para

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Rede Cegonha | 342

a área de interesse e utilizar equipamentos permanentemente ca-


librados e aferidos.
• Hemograma pode apresentar leucocitose discreta
• Avaliar função renal
• Exame do escarro por bacterioscopia direta
• Cultura do escarro
• Hemocultura
• Coleta do material broncopulmonar
• Punção do líquido pleural
• Punção aspirativa transtorácica

A investigação etiológica é recomendada apenas para pacientes com


PAC grave ou não respondedora à terapia empírica inicial, bem como nos
internados em UTI.

4. CONDUTA

Para qualquer paciente com pneumonia, recomenda-se avaliação


clínica preliminar do risco ou estratificação de risco para avaliar a gravi-
dade e estabelecer se o tratamento poderá ser ambulatorial ou hospitalar.
Entretanto, para maior segurança das pacientes grávidas com pneu-
monia, ainda que a estratificação seja importante, a decisão deverá ser
predominantemente clínica.
Um bom método de estratificação de risco é o CURB-65, que avalia
os itens: confusão mental (C), ureia (U) (superior a 50mg/dl), frequência
respiratória (R) (superior a 30 irpm), pressão sanguínea arterial (B) (di-
astólica inferior a 60 e sistólica inferior a 90 mmHg) e idade (superior a 65
anos). Ainda que a idade superior a 65 anos não se aplique às pacientes
gestantes, sugerimos utilizar os demais pontos do CURB-65 para nortear
os critérios de gravidade.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 343

ITEM AVALIADO PRESENTE


C Confusão Mental (nível de Consciência) 1
U Ureia superior a 50mg/dl 1
R Frequência Respiratória ≥ 30 irpm 1
B Baixa pressão sanguínea arterial: sistólica menor que 90 mmHg
ou pressão diastólica menor que 60mmHg (Blood pressure) 1
65 Idade superior a 65 anos* 1
Total

Escore CURB-65 e sugestões do local de tratamento de pacientes


com pneumonia adquirida na comunidade. (Adaptado de Corrêa et al.)
* não se aplica às pacientes gestantes.

Algumas contraindicações para tratamento ambulatorial podem ser


utilizadas para definição de internação, como a hipoxemia (Sat O2 < 90%
em ar ambiente), a instabilidade hemodinâmica, a presença de comorbi-
dades (diabetes, hipertensão, imunodeficiência), raio X de tórax com
achados importantes e dificuldade de acesso ou intolerância aos antibió-
ticos por via oral.
Geralmente, é iniciado tratamento empírico das pneumonias bac-
terianas.

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Rede Cegonha | 344

1. Antibioticoterapia

Para o tratamento ambulatorial da pneumonia comunitária podem ser


empregados os seguintes antibióticos:

• Amoxicilina 500 a 1000mg VO 8/8h por 10 a 14 dias ou Amo-


xacilina+clavulanato 875/125mg VO 12/12h.
• Azitromicina 500 mg ao dia VO ou Claritromicina VO 500 mg
VO 12/12 horas por 7 dias.
• Cefuroxima 500 mg 12/12h, 7 a 10 dias, VO

Para gestantes que necessitem de internação hospitalar podem ser


empregados os seguintes antibióticos:

• Ceftriaxona 2 g EV uma vez ao dia ou Cefotaxima 1g EV 8/8h OU


• Amoxicilina+clavulanato 500/100 mg EV de 8 em 8 horas ou
1000/200 mg 12/12 horas por 7 dias.
Associado a:
• Azitromicina VO 500 mg/dia.
Duração do tratamento – 7 a 10 dias

2. Cuidados gerais.
3. Oxigenoterapia.
4. Hidratação venosa.

ASMA AGUDA GRAVE NA GRAVIDEZ

1. INTRODUÇÃO

A asma é uma doença respiratória crônica das vias aéreas associada


à inflamação, hiper responsividade das vias aéreas e obstrução reversível
ao fluxo aéreo, caracterizando-se por episódios de constrição das vias aé-
reas. É considerada a doença pulmonar mais comum no mundo todo e a
doença crônica que mais complica a gestação.
A asma grave é definida como aquela que permanece não contro-
lada com o tratamento máximo otimizado ou que necessita desse trata-
mento para evitar que a doença se torne não controlada (na tentativa de
reduzir a dose de corticosteroide inalatório ou corticosteroide oral),

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 345

apesar da supressão ou minimização dos fatores que pioram o controle da


asma.

2. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da asma é eminentemente clínico, caracterizado por


quadro respiratório típico e recorrente, geralmente ocorre desde a infân-
cia, mas pode iniciar ou agravar em qualquer fase da vida, inclusive du-
rante a gestação. A maioria das pacientes, no entanto, já sabe que tem
asma quando está gestando.
Sinais e sintomas mais comuns da asma exacerbada:
• taquipneia;
• uso da musculatura acessória do tórax durante a respiração;
• sibilância difusa ou diminuição do murmúrio vesicular;
• roncos;
• taquicardia;
• ansiedade;
• sudorese;
• posição de ancoragem do tórax (paciente sentada, com os
membros superiores ao lado do tórax, apoiados no leito)
• dificuldade e desconforto em decúbito dorsal;
• dessaturação;
• “fome de ar”

Entre os sinais de extrema gravidade, estão:


• alteração do estado de consciência;
• pulso paradoxal (queda inspiratória na pressão sistólica após
inspiração profunda);
• hipercapnia ou PaCo2 > 40mmHg (fadiga respiratória);
• respiração paradoxal (falência do diafragma, aumento do vo-
lume abdominal na inspiração);
• cianose central (lábios, mucosa oral)

O evento extremo da asma é a parada cardiorrespiratória, geralmente


em atividade elétrica sem pulso (AESP)

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Rede Cegonha | 346

3. EXAMES

• Saturação de oxiemoglobina: avaliação indireta e não invasiva da


oxigenação, obrigatória no pronto-atendimento.
• Hemograma: na suspeita de infecção respiratória (embora inespe-
cífico); atentar para a leucocitose neutrofílica que surge 4 horas
após a dose de corticoide sistêmico
• Dosagem de eletrólitos e pH do sangue: se houver comorbidades
cardiovasculares ou renais, em usuárias de diuréticos, altas doses
de broncodilatadores b-2-agonistas, corticoides sistêmicos e xan-
tinas.
• Gasometria arterial: indicada se houver falha na resposta inicial
ao tratamento, em suspeita de hipercapnia gerando carbonarcose
e em caso de deterioração clínica.
• RX de tórax: nos casos graves ou de pacientes candidatas à inter-
nação hospitalar. Útil no diagnóstico diferencial e de complica-
ções como pneumonia, pneumotórax, pneumomediastino e ate-
lectasia.

4. CONDUTA

O tratamento da asma na gravidez segue os mesmos princípios ge-


rais, sendo os medicamentos convencionais (broncodilatadores beta-2
adrenérgicos e corticosteroides) considerados seguros. A paciente deve
ser orientada que não existe evidência de teratogenicidade associada às
drogas utilizadas no tratamento da asma.
• Suporte de oxigênio (cateter nasal ou máscara): a SatO2 deve ser
mantida > 92% e PaO2 superior a 65 mmHg. Geralmente, esses va-
lores são obtidos com uso de 3 litros de oxigênio por minuto, atra-
vés de cateter nasal.

Nos casos severos (PaO2 abaixo de 60 – 65 mmHg persistente, PaCO2


maior do que 40mmHg e exaustão materna), é indicada a intubação e a
ventilação mecânica.
• Beta2-agonista de rápida ação: medida mais importante para
alívio dos sintomas, sendo que a via inalatória apresenta melhor
eficácia e menos efeitos adversos.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 347

-Salbutamol spray (100 mcg/jato) 2 a 4 jatos até de 20 em 20 mi-


nutos na primeira hora ou Salbutamol solução para nebulização
(5 mg/ml) 2,5 a 5 mg a cada 20 min (10 a 20 gotas) por 3 doses e
após de hora em hora até melhora clínica OU
- Inalação: - Soro Fisiológico 10 ml com
- Fenoterol 6 a 10 gotas e
- Ipratrópio 30 a 40 gotas;

Uma inalação até de 20 em 20 minutos na primeira hora.

• Corticosteroides Sistêmicos: promovem a resolução mais rápida


da exacerbação e prevenção de recorrência. Estão indicados em
crises graves, ausência de melhora dos sintomas após inalação, e
em pacientes que já estavam utilizando corticosteroide ou que uti-
lizaram recentemente. Deve ser mantido por via oral por 5 a 7
dias.

- Hidrocortisona: ataque de 200 a 300 mg IV


- Metilprednisolona: ataque de 40 mg IV
- Prednisona 40 a 60 mg via oral

• Sulfato de Magnésio: apresenta ação broncodilatadora, sendo in-


dicado quando não houver resposta ao tratamento inicial. Dose de
1 a 2 g de Magnésio IV (diluído em 100 ml de SF, correr em 20 mi-
nutos)

• Metilxantinas (aminofilina): não devem ser utilizadas rotineira-


mente, pois apresentam efeitos colaterais (arritmias, convulsões)
e risco aumentado de intoxicação em gestantes. Além disso, seu
efeito benéfico não é bem demonstrado na literatura.

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Rede Cegonha | 348

Tabela 1: Tratamento das exacerbações asmáticas. Fonte: Protocolo Febrasgo.

Após a melhora clínica e funcional, a paciente pode receber alta


para complementação do tratamento em regime ambulatorial. Reco-
menda-se o uso de prednisona 40 a 60 mg/dia, via oral, por 5 a 7 dias, as-
sociado a broncodilatadores inalatórios pelo mesmo período.

• É muito importante a hidratação venosa durante a crise asmática,


evitando-se desidratação.

A necessidade de avaliação fetal dependerá da gravidade da situa-


ção aguda. Em situação que mereça rastreio da saúde fetal, a monitoriza-
ção fetal contínua e/ou o perfil biofísico fetal podem ser indicados.

5. VIA DE PARTO

Em gestantes asmáticas, preconiza-se via de parto obstétrica, não


havendo contraindicação para parto vaginal. Naquelas pacientes com bom
controle clínico, a gravidez pode ser seguida até 40 semanas. Casos mais
graves, com controle clínico inadequado, podem ser interrompidos com
37 semanas. Na indicação obstétrica, é possível a utilização do misopros-
tol, pois a prostaglandina E1 não desencadeia broncoespasmo.

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6. AMAMENTAÇÃO

A amamentação no pós-parto deve ser incentivada. Não há contra-


indicação para o uso de corticoide e β2-agonista durante esse período.

EDEMA AGUDO DE PULMÃO NA GRAVIDEZ

1. INTRODUÇÃO

Edema agudo de pulmão (EAP) é uma das formas mais graves e fre-
quentes de apresentação da insuficiência cardíaca, sendo uma das princi-
pais emergências clínicas.
Caracteriza-se pela presença de dispneia, associada ao acúmulo
rápido e súbito de líquido no interstício e alvéolos pulmonares. Trata-se
de condição rara em gestantes, sendo uma complicação da pré-eclâmpsia
que ocorre em aproximadamente 7% de todas as gestações (destas, 30%
primigestas), com elevada mortalidade, levando a óbito 3,2 % das pacien-
tes.

2. DIAGNÓSTICO CLÍNICO

1. Quadro moderado:
• Tosse seca e persistente
• Ansiedade
• Poucos estertores crepitantes à ausculta pulmonar
• Taquipneia
• Taquicardia

2. Quadro grave
• Tosse produtiva
• Palidez
• Sudorese
• Dispneia intensa
• Estertoração difusa
• Uso de musculatura acessória (tiragem intercostal, retração de
fúrcula)
• Secreção rósea e bolhosa pela boca e nariz.
• Turgência jugular

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Rede Cegonha | 350

3. EXAMES

• Eletrólitos – sódio e potássio


• Hemograma
• Uréia e creatinina
o Diminuição do nível de sódio e elevação dos níveis de ureia
e creatinina estão associados a mau prognóstico.
• Glicemia
• Gasometria arterial pode ser normal ou evidenciar alcalose respi-
ratória. Nos casos moderados, hipoxemia, retenção de CO2 e, nos
casos mais graves, acidose respiratória.
• ECG pode mostrar taquicardia, bradicardia, alterações isquêmicas
(infradesnivelamento de ST, supradesnivelamento de ST).
• RX de tórax:
a. aumento da trama vascular
b. acentuação da circulação no ápice
c. ingurgitamento das artérias pulmonares
d. opacidade pulmonar difusa nos casos graves

4. CONDUTA

4.1 MEDIDAS GERAIS

• Chamar ajuda, utilizar profissionais treinados


• Monitorização
• Acesso venoso periférico
• Elevação da cabeceira: paciente sentado ou elevação da parte su-
perior do tronco e cabeça a 45º
• Suporte de oxigênio (oxigenoterapia e suporte respiratório mecâ-
nico são muito importantes).
o Oxigênio sob cateter (5 a 10 L/ min). Recomenda-se a ma-
nutenção da saturação de oxigênio acima de 95%, evi-
tando-se hiperoxia.
o Ventilação não invasiva (VNI – 10 a 15 L/min): máscara fa-
cial de O2, procurando manter a PO2 > 60 mmHg. Indicada
na falha do oxigênio sob cateter, deve ser tentada antes da
intubação. Lembrar que gestante tem via aérea difícil.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 351

o Intubação Orotraqueal (IOT): indicada na falha ou contra-


indicação à VNI;

4.2 TERAPIA MEDICAMENTOSA

A. Diuréticos (Furosemida (Lasix® – ampola de 20 mg): para controle


de sintomas de hipervolemia.
Dose: 40 a 80 mg EV (Furosemida EV: 0,5 a 1 mg/kg). Infundir lenta-
mente (em 2 minutos) diluída, pode ser repetida após 20 minutos.
Dose máxima: 120 mg.

B. Sulfato de Morfina (Dimorf ® - 01 ampola de 2 mL de solução in-


jetável a 1,0 mg/mL): para reduzir a ansiedade, reduzir o gasto de
energia respiratória, diminuir a pressão arterial direita e diminuir
as catecolaminas maternas.
Dose: 3 a 5mg EV em solução diluída (1mg/ml - diluir 1 ampola de mor-
fina + 8 mL de água destilada) administrar lentamente pelo risco de
hipotensão - 1mg/min. Pode ser repetida em intervalos de 15 minutos
até um máximo de 10 a 15 mg. Em caso de depressão respiratória, usar
Naloxone 0,4 mg EV e repetidos a intervalos de 2 a 3 minutos se neces-
sário.

C. Os vasodilatadores (Nitrato e Nitroprussiato) são recomendados


e devem ser introduzidos nos estágios iniciais do quadro de EAP
sem hipotensão arterial.
• Nitroprussiato de sódio (Nipride®): em casos de hiperten-
são arterial grave e insuficiência cardíaca congestiva
(ICC), descartando-se infarto agudo do miocárdio (IAM).
Dose: 0,5 – 10,0 mcg/kg/min - Diluir em soro glicosado a
5% com frasco e equipo protegidos da luz.
• Nitratos (dinitrato de isossorbida): Dose :10mg SL a cada 3
horas
• Nitroglicerina (Tridil®): preferido na síndrome coronari-
ana, 10 a 20 mcg/min. Devendo ajustar a dose a cada 5 mi-
nutos com aumento de 10 mcg/min. Máximo 200 mcg/min
EV. Droga de escolha na vigência de pré-eclâmpsia com
EAP.
• Uso em Unidade de Terapia Intensiva.

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Rede Cegonha | 352

Outros recursos terapêuticos como Inotrópicos (dopamina na dose de 2.5


a 20 mgc/Kg/min), dobutamina (na dose de 2,0 a 20 mcg/Kg/min), nora-
drenalina, digitalização, trombolíticos, amrinone (dose de ataque de 0,75
mg/Kg em 2 a 3 min e manutenção de 2 a 20 mcg/Kg/min) e aminofilina
(dose de ataque de 5 mg/Kg em 10 a 20 minutos, seguida de manutenção
de 0,5 a 0,7 mg/Kg/hora), devem ser utilizados em suporte de UTI e de
acordo com a etiologia do EAP.

INFLUENZA A (H1N1)

1. INTRODUÇÃO

A influenza (ou gripe) é uma doença viral febril aguda geralmente


benigna, com início abrupto, que pode causar vários sintomas sistêmicos
e respiratórios. Os vírus influenza A e B são responsáveis pelas epidemias
sazonais. O A tem subtipos, principalmente A(H1N1) e A(H3N2), que são os
mais comumente identificados em humanos, principalmente o H1N1.
O impacto da influenza na gravidez reforça a necessidade de manter
a conscientização sobre o risco especial em gestantes, necessidade de va-
cinação preventiva, e diagnóstico e tratamento precoces nos quadros agu-
dos de síndrome gripal em todas a situações de risco nas quais a gestante
se inclui.
Período de Incubação: 1 a 4 dias.
Transmissão: 24 horas antes do início dos sintomas até 3 dias após
final da febre.

2. DIAGNÓSTICO

2.1 Sinais e sintomas: febre > 37,8ºC (curva térmica declina geralmente
em 2 a 3 dias), dor na garganta, artralgias, calafrios, mal-estar, cefaleia,
mialgia, prostração, rinorreia e tosse seca. Em alguns casos: diarreia, vô-
mito, fadiga, rouquidão e hiperemia conjuntival.

2.2 Complicações: pneumonia bacteriana e por outros vírus, sinusite,


otite, desidratação, piora da ICC, asma, diabetes e pneumonia primária por
influenza, mais comum em gestantes em qualquer idade gestacional e

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 353

puérperas até 2 semanas após o parto (incluindo as que tiveram aborto ou


perda fetal).

2.3 Sinais de agravamento: dispneia, taquipneia ou hipoxemia (SpO2 <


95%), persistência ou aumento da febre por mais de três dias, exacerbação
de doença preexistente (DPOC, cardiopatia, etc), disfunções orgânicas gra-
ves (IRA), miosite (CPK > 2 a 3 vezes o valor de referência), alteração do
sensório e desidratação.

SÍNDROME RESPIRATÓRIA AGUDA GRAVE (SRAG)

Síndrome gripal (febre de início súbito, mesmo referida, tosse ou


dor na garganta e pelo menos um dos seguintes sintomas: cefaleia, mialgia
ou artralgia, na ausência de outro diagnóstico específico) associada a dis-
pneia ou os seguintes sinais de gravidade:

• SatO2: < 95% em ar ambiente


• Sinais de desconforto respiratório ou aumento da frequência res-
piratória
• Piora das condições clínicas de doença de base
• Hipotensão em relação à pressão arterial habitual da paciente
• Gestante com quadro de insuficiência respiratória aguda durante
período sazonal.

3. CONDUTA

3.1 Fosfato de oseltamivir (Tamiflu®), para todas as gestantes com sín-


drome gripal e sintomas referidos acima, independentemente da situação
vacinal, mesmo em atendimento ambulatorial. Nas gestantes e puérperas
até duas semanas após o parto, o antiviral ainda apresenta benefícios,
mesmo se iniciado após 48 horas do início dos sintomas. Neste grupo, o
antiviral também está indicado na ausência de sinais de agravamento.

• Dose: 75 mg (01caps de 12 em 12h por 5dias). Há necessidade


de alteração da dose em caso de insuficiência renal.

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Rede Cegonha | 354

• Obs: Para os pacientes que vomitam até uma hora após a in-
gestão do medicamento deve ser administrada uma dose adi-
cional.

3.2 Medidas de Apoio Terapêutico nas Infecções Respiratórias

- O2 por cânula nasal 1- a 3 l/min (PaO2 >70mmHg)


- Hidratação
- Antitérmicos
- Tocolíticos
- Toracocentese (se derrame pleural ou empiema)
- Manter nutrição adequada
- Considerar associar antibiótico.

3.3 Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)

- Iniciar terapêutica de suporte, incluindo hidratação venosa e oxige-


nioterapia com monitorização clínica adequada.

- Iniciar imediatamente o tratamento com fosfato de oseltamivir


(Tamiflu®), após a suspeita clínica, independentemente da coleta de
material para exame laboratorial e preferencialmente nas 48 horas
de doença, conforme tabela abaixo.

- Realizar internamento hospitalar em leito de isolamento ou, se in-


dicado, em Unidade de Terapia Intensiva, preferivelmente em iso-
lamento respiratório.

- Coletar amostras de secreções respiratórias para exame laborato-


rial, de preferência antes do início do antiviral, porém não retar-
dando desnecessariamente a terapêutica preconizada (para orien-
tações da coleta acessar link:).

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 355

Indicações para internação em unidade de terapia intensiva (UTI)

• Instabilidade hemodinâmica persistente após reposição volê-


mica.

• Sinais e sintomas de insuficiência respiratória, incluindo hi-


poxemia com necessidade de suplementação de oxigênio para
manter saturação arterial de oxigênio acima de 90%.

• Evolução para outras disfunções orgânicas, como insuficiência


renal aguda, insuficiência hepática, disfunção neurológica.

4. MEDIDAS PREVENTIVAS

4.1 MEDIDAS GERAIS

• Precauções padrão com reforço da higienização das mãos conforme


protocolos, obedecendo os 5 momentos da higienização das mãos
(antes de contato com o paciente, antes da realização de procedi-
mentos, após risco de exposição a fluidos biológicos, após contato
com a paciente e com áreas próximas a ela, mesmo sem tê-la to-
cado).

• Precauções para gotículas para todas as pacientes com suspeita ou


confirmação de infecção por influenza.

• Em procedimentos em que haja geração de aerossóis (exemplo: in-


tubação, sucção, nebulização), seguir orientações dos protocolos,
focando no uso dos EPIs, da máscara N95 ou PFF2.

• Manter a paciente em quarto privativo, se possível.

• Colocar máscara cirúrgica na paciente durante o transporte, reali-


zado dentro e fora do serviço de origem.

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Rede Cegonha | 356

4.2 QUIMIOPROFILAXIA

Indicada para indivíduos que tiveram contato com caso suspeito ou


confirmado para influenza. A mesma deve ser instituída nas primeiras 48
horas do contato. Para ser efetiva a quimioprofilaxia deve ser feita e con-
tinuada por mais 7(sete) dias após a última exposição conhecida.

Indicações:
• Pessoas com risco elevado de complicações não vacinadas ou va-
cinadas há menos de duas semanas, após exposição a caso sus-
peito ou confirmado de influenza.
• Pessoas com graves deficiências imunológicas (exemplos: pes-
soas que usam medicamentos imunossupressores, pessoas com
aids com imunodepressão avançada) ou outros fatores que pos-
sam interferir na resposta à vacinação contra a influenza, após
contato com pessoa com infecção.
• Profissionais de laboratório, não vacinados ou vacinados há me-
nos de 15 dias, que tenham manipulado amostras clínicas de ori-
gem respiratória que contenham o vírus influenza sem uso ade-
quado de EPI.
• Trabalhadores de saúde, não vacinados ou vacinados há menos
de 15 dias e que estiveram envolvidos na realização de procedi-
mentos invasivos geradores de aerossóis ou na manipulação de
secreções de caso suspeito ou confirmado de influenza sem o uso
adequado de EPI.
• Residentes de alto risco em instituições fechadas e hospitais de
longa permanência, durante surtos na instituição.

POSOLOGIA E ADMINISTRAÇÃO DA QUIMIOPROFILAXIA

Fosfato de Oseltamivir (Tamiflu) - 1 dose (cápsula de 75mg) diária, VO,


por 10 (dez) dias.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 357

5. CONDUTA OBSTÉTRICA NA PACIENTE COM SRAG

Considerar que, após 20 semanas, o útero tem tamanho suficiente


para comprimir a veia cava inferior, podendo causar hipotensão e taqui-
cardia pela diminuição do retorno venoso. A oxigenação fetal adequada
requer uma PaO2 de 70mmHg, que corresponde a uma SO2 de 95%.
Em relação ao bem-estar fetal, fazer ausculta dos BCF antes da via-
bilidade. A partir da viabilidade (26 semanas) avaliar a vitalidade fetal 2
vezes por semana ou no caso de alteração na condição materna.

Interrupção da gravidez: considerar idade gestacional, condição


fetal e materna e capacidade da UTIN. Fetos abaixo de 32 semanas,
apresentam melhor prognóstico permanecendo intraútero. Acima
34 semanas, haverá melhora funcional após o parto. Sugere-se in-
terrupção eletiva em mulheres com SRAG, mesmo estáveis.

Via de parto: o parto vaginal exige maior demanda de O2. Levar em


conta a capacidade de manter a oxigenação materna adequada e a
possibilidade de controle da dor durante o trabalho de parto.

Amamentação: ordenhar e oferecer ao RN se a paciente apresenta


sintomas de influenza. O leite materno não é potencial transmissor.
O tratamento ou profilaxia com antivirais não é contraindicação
para a amamentação (categoria C).

6. VACINAÇÃO

Deve ser realizada no período de recrudescência da epidemia. É se-


gura para a mãe em qualquer período da gravidez e reduz morbimortali-
dade. Confere proteção ao RN quando administrada até 15 dias antes do
parto, diminui a natimortalidade e não apresenta relação com malforma-
ções.

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Rede Cegonha | 358

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 359

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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 361

RESTRIÇÃO DE CRESCIMENTO FETAL

1. DEFINIÇÃO

A restrição de crescimento fetal (RCF), também designada de cres-


cimento intra-uterino restrito (CIUR), é definida como um peso fetal ao
nascimento inferior ao percentil 10 (p 10) da curva de crescimento fetal
para a idade gestacional correspondente. É também definido como uma
limitação patológica de um feto em atingir o seu potencial de crescimento.
Tais conceitos permitem a definição de outra categoria de feto: o
feto pequeno para a idade gestacional (PIG), quando o seu peso está abaixo
do p 10 sem uma causa referida.
A RCF e o PIG são termos usados de maneira equivalente na prática
clínica. Para evitar confusão e se estabelecer uma terminologia adequada,
o American College of Obstetricians and Gynecologists sugere o uso de RCF para
descrever os fetos com peso abaixo do p 10 e PIG para descrever o recém-
nascido cujo peso de nascimento é inferior ao p 10 da curva de cresci-
mento para a idade gestacional correspondente.
Um feto com RCF nem sempre é PIG ao nascimento, e um feto PIG
nem sempre é diagnosticado como restrito à avaliação ultrassonográfica.
Cerca de 18 a 22% dos fetos diagnosticados como portadores de RCF serão
neonatos constitucionalmente pequenos, mas são saudáveis, apresen-
tando um desenvolvimento normal.
O grande desafio no acompanhamento pré-natal é o de diferenciar
fetos constitucionalmente pequenos com evolução normal, daqueles com
restrição de crescimento patológico e risco de desenvolver complicações
no período pós-natal. Um feto com estimativa de peso fetal abaixo do p10
e acima do p3, sem alteração dopplervelocimétrica, com morfologia nor-
mal e sorologias negativas, é designado de PIG normal ou constitucional,
enquanto que aquele com estimativa de peso fetal abaixo do p10 e acima
do p3, sem alteração da dopplervelocimetria, porém com morfologia alte-
rada e/ou sorologia positivas, é chamado de PIG anormal.
A RCF é a manifestação final de uma variedade de alterações ma-
terna, fetal e placentária. Apesar de o mecanismo primário para a ocor-
rência de RCF ser muito variado, ele apresenta a mesma via patológica de
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Rede Cegonha | 362

déficit nutricional fetal e da perfusão útero-placentária. As alterações cro-


mossômicas e as malformações congênitas se responsabilizam por cerca
de 20% dos casos de RCF. A diminuição da perfusão na circulação útero-
placentária é a causa mais frequente da RCF, constituindo 30 a 40% de to-
dos os casos de RCF. Dessa forma, as possíveis causas de déficit de cresci-
mento fetal podem ser divididas em placentárias (mais comuns), fetais
(cromossomopatias, síndromes genéticas, malformações) e maternas. Das
causas maternas, destacam-se a hipertensão, o uso de álcool, tabagismo,
diabetes, lúpus, nefropatia crônica, cardiopatia, doenças inflamatórias in-
testinais, desnutrição e gestação tardia. A etiologia infecciosa também é
descrita (toxoplasmose, CMV, rubéola, herpes, HIV, varicela, zika).
A RCF ocorre em mais de 10% de todas as gestações, sendo conside-
rada a segunda causa de parto pré-termo e importante causa de morbi-
dade e mortalidade perinatal.
Além de a RCF determinar um impacto perinatal significativo, ela
tem sido associada a alterações na saúde fetal a longo prazo. A RCF tem
sido associada a um risco adicional de desenvolvimento de síndrome me-
tabólica, alterações cardiovasculares e endócrinas na vida adulta. Tam-
bém contribui para a remodelação cardíaca, levando à disfunção cardio-
vascular, que pode persistir na infância e adolescência, além de alterações
neurológicas a longo prazo.

2. CLASSIFICAÇÃO

2.1. Quanto à época do diagnóstico: A RCF tem sido categorizada em:

• RCF Precoce: quando o diagnóstico ultrassonográfico de


RCF é estabelecido antes de 32 semanas de gestação;
• RCF Tardia: quando o diagnóstico ultrassonográfico de
RCF é estabelecido após 32 semanas de gestação.

A apresentação clínica da RCF de início precoce é diferente da RCF


de início tardio. A RCF precoce é tipicamente mais grave e tende a apre-
sentar uma deterioração dos parâmetros de Doppler do feto, estando co-
mumente associada a doenças hipertensivas materna, com significante
disfunção placentária. Fetos com anormalidades genéticas podem tam-
bém apresentar RCF precoce e comumente se associam com alterações do
volume de líquido amniótico. A RCF tardia representa 70 a 80% dos casos
de RCF e se apresenta de uma forma mais moderada. A Tabela 1 sumariza

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as diferenças entre as duas categorias de fetos com RCF segundo a época


de sua instalação. No ano de 2016, um grupo de especialistas na área se
reuniu e estabeleceu a definição de RCF como sendo precoce e tardia, a
qual denominaram de Procedimento Delphi. (Tabela 2).

2.2 Quanto à simetria entre as relações de biometria fetal:

• RCF simétrico;
• RCF assimétrico.

Essa classificação é baseada na relação entre a circunferência cefá-


lica (CC) e a circunferência abdominal (CA).

Quadro 1: Classificação e categorização dos fetos com RCF, segundo a


época de sua instalação.

. Instalação antes de 32 semanas de gestação;


. Associação com pré-eclâmpsia em 50% dos
RCF Precoce casos;
(20-30% dos casos) . Alta associação com insuficiência placentária
e hipóxia fetal crônica;
. Progride com alteração do Doppler da arté-
ria umbilical e do Ducto Venoso (DV);
. Instalação após 32 semanas de gestação;
. Associação com pré-eclâmpsia somente em
RCF Tardia 10% dos casos;
(70-80% dos casos) . Insuficiência placentária leve;
. Geralmente não progride com alteração do
Doppler da artéria umbilical e do DV.

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Rede Cegonha | 364

Quadro 2: Consenso para definição de RCF segundo o procedimento DEL-


PHI.

2. DIAGNÓSTICO

3.1 ULTRASSONOGRAFIA

Configura-se no método de imagem de escolha para o diagnóstico e


análise evolutiva dos possíveis casos de RCF. O achado ecográfico típico
que caracteriza a RCF é uma discrepância significativa de alguns ou de to-
dos os parâmetros biométricos do feto quando comparados com as men-
surações esperadas para a idade gestacional correspondente. Os parâme-
tros de biometria fetal mais comumente avaliados são: diâmetro biparietal
(DBP), circunferência craniana (CC), circunferência abdominal (CA) e
comprimento do fêmur. A partir da análise de tais parâmetros, é possível
através de fórmulas se estimar o provável peso do feto. Vale salientar que
o cálculo do peso fetal por meio dessas fórmulas apresenta uma variação
de até 20%. Sendo assim, faz-se necessário que o diagnóstico e manejo do
feto portador de RCF seja guiado por uma avaliação ecográfica detalhada.
Nos casos graves de RCF associados a disfunção placentária, a dimi-
nuição do volume de líquido amniótico é um achado frequente. Nesses ca-
sos, quando o volume está normal ou aumentado, deve-se postular uma
aneuploidia ou uma anormalidade estrutural do feto.

3.2 DOPPLERVELOCIMETRIA

A análise dopplervelocimétrica da artéria umbilical pode revelar


anormalidades no fluxo sanguíneo nos casos de RCF. Com o aumento da
resistência vascular no compartimento placentário, o fluxo na artéria

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umbilical durante a diástole diminui. O decréscimo da velocidade diastó-


lica fetal ocorre quando aproximadamente 1/3 dos vasos no espaço inter-
viloso placentário são muito pouco perfundidos.
Eventualmente o fluxo diastólico na artéria umbilical desaparece, po-
dendo evoluir para uma reversão de fluxo (ausência de fluxo diastólica
final e fluxo reverso no final da diástole). A ausência de fluxo diastólico
final na artéria umbilical acontece quando 60 a 70% do compartimento
vilositário estão comprometidos. Quando tais alterações ocorrem, a fre-
quência da vigilância da condição de bem-estar fetal se intensifica e, na
dependência desses resultados, a resolução da gestação deverá ser cogi-
tada. O risco/benefício do parto versus a conduta expectante deve ser
sempre avaliada. As alterações da dopplervelocimetria da artéria umbili-
cal precedem as alterações dos parâmetros da frequência cardíaca fetal
(FCF) avaliadas por meio da cardiotocografia anteparto.
De forma compensatória, é observado um incremento de fluxo na ar-
téria cerebral média demonstrado através de um aumento de fluxo diastó-
lico final. Mudanças na circulação venosa também são observadas antes
da deterioração no traçado da FCF.
Mudanças na circulação venosa, observada através do fluxo no DV,
podem demonstrar ausência ou reversão durante a onda de contração
atrial (onda a) ou, ainda, pulsação no fluxo da veia umbilical.

3. ESTÁGIOS

De acordo com a estimativa de peso fetal e a análise dopplerveloci-


métrica, os fetos com RCF são divididos em quatro estágios:

• Estágio I: inclui os critérios para diagnóstico de RCF precoce e tar-


dio, segundo o Procedimento Delphi (Tabela 2), excetuando-se a
diástole zero ou reversa na artéria umbilical;
• Estágio II: caracterizado pela ausência de fluxo diastólico final na
artéria umbilical (diástole zero). Avaliar mais de 50% dos ciclos em
alça livre de cordão umbilical e, se a idade gestacional estiver com
menos de 28 semanas, deve-se analisar as duas artérias e conside-
rar o melhor fluxo. Se a idade gestacional estiver com mais de 28
semanas, avaliar somente uma artéria umbilical;
• Estágio III: presença de diástole reversa na artéria umbilical em
mais de 50% dos ciclos em alça livre de cordão umbilical e, se a
idade gestacional for inferior a 28 semanas, devem-se analisar as

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duas artérias e considerar o melhor fluxo; se a idade gestacional


for superior a 28 semanas, avaliar somente uma artéria umbilical
ou Ducto Venoso, os quais podem apresentar uma onda “a” (onda
de contração atrial) ausente.
• Estágio IV: caracterizado pela presença de desacelerações espon-
tâneas da frequência cardíaca fetal observadas à cardiotocografia
anteparto convencional (CTG) ou pela presença da onda “a” re-
versa à análise Doppler do ducto venoso.

4. AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VITALIDADE FETAL

A avaliação das condições de vitalidade fetal inclui a análise dop-


plervelocimétrica, que é a principal ferramenta da investigação do bem-
estar fetal:

• Doppler da Artéria Umbilical (AU): constitui-se no método pri-


mário de investigação do bem-estar fetal; avalia o fluxo no nível
placentário, expresso através do Índice de Pulsatilidade (IP). O
risco de hipoxemia e acidemia fetal está diretamente relacionado
à gravidade da anormalidade do Doppler da artéria umbilical. Se
o Doppler da AU se apresentar normal e a idade gestacional for
inferior a 32 semanas, a análise dopplervelocimétrica deverá ser
repetida semanalmente. Se o IP da AU se apresenta acima do P95
com diástole positiva e os demais parâmetros permanecerem nor-
mais, a análise dopplervelocimétrica deverá ser feita duas vezes
na semana. No entanto, se o fluxo diastólico se apresentar ausente
ou reverso, a análise deverá ser diária.

• Doppler da Artéria Cerebral Média (ACM): a resposta de qui-


miorreceptores à diminuição da pO2 e ao aumento da pCO2 e de
íons H+ é verificada por um incremento de fluxo no território da
ACM, expresso por meio da diminuição do IP. Esse fenômeno, de-
finido como centralização.

• Relação Cérebro-placenta (RCP): A RCP consiste na razão entre


os índices de impedância vascular entre a ACM e a AU (IP ACM/IP
AU). Apresenta uma maior capacidade preditiva de resultado pe-
rinatal adverso. Um valor da RCP inferior a 1,0 apresenta

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sensibilidade de 66% e especificidade de 85% de resultado perina-


tal adverso.

• Doppler de Ducto Venoso (DV): o Doppler de DV avalia a função


cardíaca nos casos de centralização fetal (indicador de hipoxe-
mia). Está indicado nos casos de fetos centralizados e/ou Doppler
da AU apresentando diástole ausente ou reversa. O Doppler de DV
expressa a falência cardíaca fetal através da ausência da onda “a”
ou de sua reversão.

Figura 1: Parâmetros clínicos de progressão da RCF em função da idade gestacional


(início da RCF) e da resistência de fluxo na artéria umbilical (Fonte: Baschat, 2011).

5. CONDUTA

5.1.Recomendações gerais durante o pré-natal

• Não se recomenda o repouso absoluto domiciliar;

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• Orientar a eliminação de fatores de risco externo, tais


como tabagismo.
• Indução da maturação pulmonar - de uso de corticotera-
pia.

5.2. Fetos com RCF e Idade Gestacional < 32 semanas

• Doppler da AU:

➢ Normal: Avaliação semanal da AU; CTG; Perfil bio-


físico fetal (PBF); Avaliação da movimentação fetal
pela gestante (mobilograma); Avaliação de ACM;
➢ IP AU > P 95: Avaliação da AU e da ACM duas vezes
por semana; CTG; PBF; Avaliação da movimenta-
ção fetal pela gestante (mobilograma). Avaliar a
possível resolução da gestação.
➢ IP AU com Diástole Zero: Avaliação da AU, da ACM
e do DV diário. CTG; PBF; Avaliação da movimen-
tação fetal pela gestante (mobilograma). Avaliar a
possível resolução da gestação.

5.3. Fetos com RCF e Idade Gestacional > 32 semanas (RCF Tardia)

Usualmente associado a uma disfunção placentária mais


leve e Doppler (IP) da artéria umbilical normal:

• Doppler da AU;
• CTG;
• PBF;
• Relação Cérebro-placenta.

6. CRITÉRIOS PARA A INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO

Os critérios para interrupção da gestação baseiam-se na idade ges-


tacional. Os objetivos principais são atingir a viabilidade fetal, aumentar
a taxa de sobrevida, diminuir a morbidade neonatal e reduzir a taxa de
admissão em unidade de tratamento intensivo.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 369

• Idade gestacional entre 24-26 semanas – a indicação da re-


solução da gestação está na dependência da patologia de
base materna;
• Idade gestacional entre 26-28 semanas – a indicação da re-
solução da gestação está na dependência de um PBF< 6;
• Idade gestacional entre 28-32 semanas – a indicação da re-
solução da gestação está na dependência de um Doppler
de DV anormal (IP > 1,5);
• Idade gestacional entre 32-34 semanas – a indicação da re-
solução da gestação está na dependência de diástole re-
versa na AU, Doppler anormal de DV (IP > 1,0);
• Idade gestacional entre 34-38 semanas – a indicação da re-
solução da gestação está na dependência de diástole zero
na AU, ACM ou RCP anormal;
• Idade gestacional > 38 semanas – conduta ativa.

7. VIA DE PARTO

O parto deverá ser realizado em um serviço especializado


que possua uma assistência neonatal intensiva. A via de parto es-
tará na dependência da gravidade do comprometimento fetal e
das condições maternas. Na vigência de acidemia fetal (DV anor-
mal e/ou PBF anormal e/ou diástole reversa na artéria umbilical),
o parto deverá ser cesariano. A presença de um Doppler de AU e
de ACM normais permitem a indução de um trabalho de parto, sob
monitorização contínua da FCF, salientando-se a eventual neces-
sidade de um parto cirúrgico de emergência.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A diferenciação de fetos constitucionalmente pequenos, que têm


bom prognóstico, daqueles com restrição de crescimento patológico é um
desafio. Cabe lembrar que devemos sempre discutir o seguimento e os ris-
cos com a paciente e seus acompanhantes, além de solicitar assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Segue na Tabela 3
abaixo um sumário do estadiamento e conduta obstétrica baseada no es-
tágio do CIUR.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 370

Quadro 3: Estadiamento e conduta obstétrica baseada no estágio do


CIUR.

ESTÁ- CRITÉRIOS INTERPRETAÇÃO REAVALI- RESOLUÇÃO


DIO AÇÃO
PFE <P3 PIG severo Semanal Programar para
RCP<P5 Insuf placentária 37sem (pode in-
I IP AUmb >95 leve (centralizado, duzir)
IP ACM <P5 mas sem compro-
IP AUt >P95 metimento da diás-
tole da AUmb)
II Diástole zero Insuf placentária A cada 2-3 34sem (cesárea)
grave dias
III Diástole re- Hipóxia crônica, A cada 24- 30sem (cesá-
versa mas baixa suspeita 48horas rea); fazer TCLE
IP DV >P95 de acidose
IV DV onda ´´a`` Alta suspeita de A cada 12- 26sem (cesá-
reversa acidose 24horas rea); fazer TCLE
CTG alterada

OBSERVAÇÕES:

• A avaliação dos fetos pequenos contitucionais é a cada duas


semanas.
• Nas gestantes com pré-eclâmpsia, recomenda-se seguimento
de acordo com estágio superior subsequente. Por exemplo,
para uma grávida no estágio II com pré-eclâmpsia o segui-
mento será feito como estágio III, ou seja, a cada 24-48 horas,
porém continuará como estágio II, devido à história natural
da RCIU ser imprevisível na presença de pré-eclâmpsia.

REFERÊNCIAS

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SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 372

SANGRAMENTO DE SEGUNDA
METADE DA GESTAÇÃO

INTRODUÇÃO

As hemorragias na segunda metade da gestação são eventos


frequentes em obstetrícia e constituem uma das principais causas de
internação de gestantes no período anteparto, com importante aumento
da morbimortalidade materna e perinatal, bem como de partos
operatórios. Entre as causas obstétricas, as mais importantes estão:

1. DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA


2. PLACENTA PRÉVIA
3. ACRETISMO PLACENTÁRIO
4. ROTURA UTERINA
5. ROTURA DE VASA PRÉVIA
6. ROTURA DE SEIO MARGINAL

1. DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA (DPP)


1.1. DEFINIÇÃO

Hemorragia na interface decidual placentária, que provoca


descolamento total ou parcial da placenta antes do parto (>20 semanas).
Ocorre devido à rotura dos vasos maternos na decídua basal e raramente
por vasos fetais. Representa causa significativa de morbimortalidade
materna e perinatal. A maioria das mortes perinatais (até 77%) ocorre
intraútero. A hipertensão é responsável por até 50% dos casos de DPP não
traumáticos. Tanto a pré-eclâmpsia quanto a hipertensão arterial crônica
são fatores de risco importantes para o DPP.

1.2. DIAGNÓSTICO

• Sangramento vaginal (20% dos casos apresentam sangramento


oculto)

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 373

• Dor abdominal e lombar


• Hipertonia uterina
• Persistência da dor entre as contrações no trabalho de parto
• Sensibilidade uterina
• Alteração da ausculta fetal
• Hipotensão materna
• Morte fetal e repercussão materna (quando a área de
descolamento é maior que 50%).

Em pacientes com sintomas clássicos, achados de anormalidades da


frequência cardíaca fetal, ausência de batimentos cardiofetais e/ou
coagulação intravascular disseminada apoiam fortemente o diagnóstico
clínico e indicam DPP extenso. O DPP grave pode levar à coagulação
intravascular disseminada (CIVD) e, em 10% a 20% desses, leva ao óbito
fetal. A CIVD se deve aoconsumo dos fatores de coagulação pelo coágulo
retroplacentário e pela liberação de tromboplastina na circulação
materna devido ao descolamento placentário.
O diagnóstico por imagem tem sensibilidade limitada, de 25-50% e
o achado clássico é a presença de hematoma retroplacentário que tem
aparência variável. Sua ausência não exclui o diagnóstico. O exame de
ultrassonografia também é útil para excluir outros distúrbios associados
a sangramento vaginal e dor abdominal.

1.3. COMPLICAÇÕES

MATERNAS FETAIS

Choque hemorrágico Prematuridade


CIVD Anemia
Útero de Couvelaire Sofrimento fetal
Cor pulmonale agudo Óbito fetal
Necrose renal tubular e Prematuridade
cortical

1.4. CONDUTA

A conduta deve ser individualizada e depende da extensão e


classificação do DPP, do comprometimento materno e fetal e da idade
gestacional. Tem como principais objetivos a parturição rápida,
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Rede Cegonha | 374

transfusão sanguínea adequada, analgesia adequada e monitorização das


condições materna e fetal.
O DPP é classificado em três graus (Classificação de Sher), levando-
se em conta os achados clínicos e laboratoriais:
• Grau I: Assintomático ou apresenta sangramento genital discreto,
sem hipertonia uterina significativa e com vitalidade fetal
preservada. Sem repercussões hemodinâmicas e coagulopatias
materna. O diagnóstico é realizado após o nascimento por presença
de coágulo retroplacentário.
• Grau II: Sangramento genital moderado com hipertonia uterina,
causando repercussões hemodinâmicas na mãe, como aumento de
frequência cardíaca, alterações posturais da pressão arterial e
queda do nível de fibrinogênio. Feto vivo, porém com vitalidade
fetal prejudicada.
• Grau III: Caracteriza-se por óbito fetal e alterações mais acentuadas
de hipotensão arterial materna e hipertonia uterina. Divide-se em:
- IIIA: Sem coagulopatia instalada.
- IIIB: Com coagulopatia instalada
• MEDIDAS GERAIS
o Monitorização materna (avaliar condições
hemodinâmicas da paciente)
o FC, PA, Sat O2, FR
o Dois acessos venosos calibrosos (com 1.000 ml de solução
cristaloide correndo em cada um deles, à velocidade
inicial de 500 ml nos primeiros 10 minutos e manutenção
de infusão de 250 ml/hora, mantendo-se débito urinário >
30mL/h)
o Cateterismo vesical
o Exames: Hemograma, coagulograma, fibrinogênio,
tipagem sanguínea e fator Rh para reserva de sangue
o Exames de rotina para doença hipertensiva, caso haja
indicação
o Teste de Weiner - controle imediato da coagulopatia.

Teste de Weiner ou teste do Coágulo

Coleta-se aproximadamente 10 ml de sangue em tubo de


ensaio seco, mantido em temperatura ambiente.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 375

Após 7 a 10 minutos deverá ser observada a formação de um


coágulo rígido, caso contrário há coagulopatia instalada.

Leitura do Teste de Weiner ou teste do Coágulo:


Coágulo Firme - sem lise – Fibrinogênio >150mg/100ml
Coágulo firme – com lise em 1h –Fibrinogênio: 100 a
150mg/100ml
Coágulo frouxo- lise total em 1h -Fibrinogênio: 60 a
100mg/100ml
Coágulo ausente - Fibrinogênio < 60mg/100ml

Tratamento dos distúrbios da coagulação e Intervenção


cirúrgica: vide capítulo de hemorragia pós-parto.

• FLUXOGRAMA DA CONDUTA DO DPP

Fluxograma 1: Conduta no DPP (Fonte: DPP Protocolos Febrasgo 2018).

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Rede Cegonha | 376

No parto vaginal deve ser realizado amniotomia e ocitocina para que


o parto seja rápido.
A cesariana de urgência é indicada quando há instabilidade materna
e/ou sofrimento fetal e o parto vaginal não é iminente.
Em caso do feto morto, o parto vaginal é aconselhável. Devem-se
adotar os mesmos cuidados de monitoração materna do ponto de vista
hemodinâmico e do estado de coagulação.
Após o parto, a monitorização materna rigorosa impõe-se,
principalmente quando se identifica a presença de útero de Couvelaire
como achado intraoperatório.

1.5 PONTOS IMPORTANTES

• O DPP provoca altos indices de mortalidade.


• Os fatores de risco mais importantes são: hipertensão-
tabagismo-drogas-mecânicos.
• O diagnóstico essencialmente clínico.
• A assistência visa controle da hemorragia: manutenção da
volemia, controle da coagulopatia, prevenção de complicações
e consequentemente preservar as duas vidas.
• Óbito fetal - descolamento > 50% da área placentária.

2. PLACENTA PRÉVIA

2.1 DEFINIÇÃO

Presença de tecido placentário próximo ou se estendendo ao longo


do orifício cervical interno, após 28 semanas de gestação.

2.2. CLASSIFICAÇÃO

• Placenta prévia: a placenta recobre total ou parcialmente


o orifício interno do colo uterino (anteriormente
denominada placenta prévia centrototal ou
centroparcial).
• Placenta de inserção baixa: a borda placentária insere-se
no segmento inferior do útero, não chega a atingir o
orifício interno e localiza-se em um raio de 2cm de

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 377

distância desta estrutura anatômica (anteriormente


denominada placenta prévia marginal).

A placenta prévia está relacionada com alterações atróficas e


inflamatórias do endométrio, acompanhada de vascularização
defeituosa.
Terreno inóspito.
A placenta migra para áreas sadias do endométrio.

2.3. DIAGNÓSTICO

• Clínico
O quadro clínico consiste em sangramento vaginal indolor (70-80%) de
início súbito e coloração vermelho vivo, imotivado, reincidente, de
gravidade progressiva, na segunda metade da gravidez.
Pacientes com sangramento de segundo ou terceiro trimestre não
devem ser submetidas a exame de toque vaginal que seja afastado o
diagnóstico de placenta prévia. Deve-se realizar exame especular, quando
será evidenciada a presença de sangramento vermelho-vivo.

• Imagem
O diagnóstico de placenta prévia é ultrassonográfico. A
ultrassonografia transvaginal deve ser realizada após 28 semanas de
gestação, sendo o padrão ouro, com melhor definição placentária.

Atentar para fenômeno da migração placentária no 1º e 2º


trimestres que podem confundir o diagnóstico.

Migração Placentária: expansão do segmento inferior, no 2º e


3º trimestres, elevando a implantação da placenta.

A ressonância nuclear magnética só deve ser solicitada quando, na


ultrassonografia, houver suspeita de acretismo placentário, tais como:
perda da interface entre a placenta e a bexiga, espaços hipoecóicos na
espessura da placenta, adelgaçamento do miométrio adjacente à placenta

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 378

e protrusão da placenta para o interior da bexiga. Nesses casos, há risco


de grande hemorragia se não for diagnosticado o acretismo antes do
parto.

2.4. Tratamento

As pacientes com placenta prévia devem ser acompanhadas em


regime de internação hospitalar.

➢ Tratamento Conservador
• O tratamento conservador está indicado quando o sangramento
materno não for intenso (ausência de alteração hemodinâmica)
em gestações com fetos pré-termo.
• Solicitar reserva de sangue.
• Repouso no leito.
• Administrar Nifedipina caso seja necessário o uso de corticóide.
• Tocólise é contra-indicada nos casos de sangramento profuso com
repercussão hemodinâmica importante.
• Tratamento da anemia.
• Hemotransfusão nos casos de Hb abaixo de 7.0 mg/dl ou se houver
sinais de descompensação hemodinâmica.
• Solicitar classificação sanguínea e fator Rh.
• As pacientes Rh negativo não sensibilizadas, devem receber
imunoglobulina anti-Rh quando houver sangramento.
• Sempre avaliar necessidade de manutenção do internamento.

O seguimento ambulatorial pode ser realizado em pacientes que não


apresentam sangramento por mais de 48 horas, na ausência de outras
complicações e caso consigam chegar ao hospital em menos de 20
minutos. Devem continuar o repouso em casa, manter abstinência sexual,
entender os riscos do acompanhamento ambulatorial e ter um
acompanhante permanentemente.

➢ Tratamento ativo: parto

Está indicada a interrupção imediata por cesárea se:

• Sangramento materno incontrolável (alteração


hemodinâmica),
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 379

• Vitalidade fetal alterada,


• Idade gestacional acima de 37 semanas.

O parto vaginal é indicado:

• Fetos mortos
• Estabilidade materna
• Placentas de inserção baixa / marginal (mais que 20 mm do
orifício cervical interno).

Gestação a termo: depende das condições maternas,


localização da placenta e vitalidade do feto.
Placenta Prévia total: cesariana.
Placenta marginal, feto morto ou com anomalias
incompatíveis com a vida: parto transpélvico, a depender
das condições maternas. Realizar amniotomia e preparar o
Centro Cirúrgico.

Obs.: Fazer a neuroproteção fetal no caso de interrupção abaixo de 32


semanas de gestação (vide capítulo de neuroproteção).

3. ACRETISMO PLACENTÁRIO

É a aderência anormal da placenta à decídua, ou à parede uterina.


Importante realizar o diagnóstico no período pré-natal para manejo
adequado do caso. De todos os fatores de risco, o crescente número de
cesarianas é o que contribui para o aumento da associação de placenta
prévia e acretismo placentário.

3.1 CLASSIFICAÇÃO

De acordo com o grau de invasão:

- Placenta acreta - a placenta que penetra na decídua, mas não o


miométrio.
- Placenta increta - a placenta penetra até a musculatura do útero.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 380

- Placenta percreta - a placenta ultrapassa o miométrio e atinge a


serosa (peritônio visceral).
- Esta diferenciação se determina, em virtude do grau de
deficiência em sua decidualização, que quando alterada, ocorre
penetração do trofoblasto em graus variados.

3.2. QUADRO CLÍNICO

Na presença de placenta prévia que não sangra, deve-se suspeitar


de acretismo. A hemorragia, semelhante à da placenta prévia, pode
ocorrer na presença do acretismo em razão da formação do segmento
inferior do útero e da dilatação do orifício interno que leva ao
rompimento da área da placenta que recobre este orifício, ocasionando o
sangramento.

3.3 DIAGNÓSTICO

O melhor, mais seguro e mais simples método para realização do


diagnóstico de placenta previa é a ultrassonografia com equipe experiente
para diagnóstico de acretismo placentário.
Quando a ultrassonografia não for esclarecedora, nos casos de
placenta prévia com predomínio posterior, a ressonância magnética pode
ser solicitada, porém trata-se de exame de alto custo, não disponível em
todos os serviços.

3.4 MOMENTO DO PARTO

O parto deve ser realizado com 36 a 37 semanas, em centro de


referência com experiência em casos de acretismo e uma equipe
multidisciplinar com obstetra, anestesiologista, radiologista
intervencionista, neonatologista, urologista, cirurgião geral, intensivista,
hemoterapeuta e enfermagem especializada.
Caso o acretismo seja identificado préviamente, indica-se uma
cesariana, porém este digaóstico precoce é difícil de ser realizado.
. Sem invasão uterina profunda - curetagem do leito
. Com penetração do miométrio - histerectomia;
. Uma alternativa está na embolização dos vasos ilíacos ou
ligadura das artérias uterinas.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 381

Cuidados no parto de gestantes com suspeita de acretismo


placentário:
• Reserva de hemocomponentes e UTI;
• Termo de consentimento livre e esclarecido assinado;
• Acesso venoso com jelco 16 (dois acessos);
• Anestesia: duplo bloqueio;
• Sondagem vesical com Foley 18;
• Radiologia intervencionista SE DISPONÍVEL (restrita a situações
especiais);
• Cesárea com histerectomia fúndica (corporal, fúndica);
• Tração suave do cordão, não tentar descolamento manual;
• Histerectomia com placenta in situ;
• Tamponamento pélvico em casos de sangramento difuso com
instabilidade hemodinâmica;
• Conservar o útero deve ser tratamento de exceção.

Foto 1: Histerotomia fúndica com extração fetal pélvica (acervo Instituto Cândida
Vargas).

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Rede Cegonha | 382

Foto 2: Placenta prévia centro total com acretismo (acervo Instituto Cândida Vargas).

4. ROTURA UTERINA

4.1 DEFINIÇÃO

Ocorre quando há separação de todas as camadas uterinas, inclusive


a serosa.
Pode acontecer durante a gravidez ou no parto e está associada a
hemorragia grave, laceração de bexiga, histerectomia, sofrimento fetal,
óbito materno e perinatal.
Pode ser completa, quando há separação de todas as camadas da
parede uterina, ou incompleta quando há separação da camada muscular,
mantendo o peritônio parietal intacto, constituindo um achado durante a
cesariana e promove repercussões clinicas significativas.

4.2 QUADRO CLÍNICO

o Durante a gravidez
SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9
Protocolo de Assistência Obstétrica | 383

No início é semelhante à gravidez ectópica:


• Dor intensa
• Sinais de irritação peritoneal
• Sangramento vaginal (pode ser oculto)

Na segunda metade a evolução é lenta:


• Extrusão progressiva do feto (massa palpável)
• Dores abdomino-pélvicas
• Sangramento.
o Durante o parto:

Na iminência de rotura uterina percebe-se distensão segmentar


(síndrome de Bandl-Frommel), contrações enérgicas e dolorosas, agitação
e ansiedade.
Próximo à cicatriz umbilical, percebe-se o relevo do anel, que
separa o corpo uterino do segmento inferior (sinal de Bandl) e, à palpação,
observam-se os ligamentos redondos retesados e desviados para a face
ventral do útero (sinal de Frommel).
Ocorre ainda alteração na frequência cardíaca fetal, sangramento
vaginal, dor abdominal súbita e intensa, choque hipovolêmico, subida da
apresentação fetal, palpação de partes fetais, taquicardia e hipotensão
materna.

4.3 DIAGNÓSTICO

O diagnostico é clínico e deve ser suspeitado em mulheres com


fatores de risco e frequência cardíaca fetal não tranquilizadora súbita,
agravamento da dor abdominal, sangramento vaginal e/ou instabilidade
hemodinâmica.

4.4 CONDUTA

• Solicitar ajuda
• Monitorização
• Sala de cirurgia disponível
• Estabilização materna
• Laparotomia (a incisão deverá ser preferencialmente
mediana infra-umbilical).

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Rede Cegonha | 384

DIAGNÓSTICO DE CHAMAR AJUDA E VIAS


O2 SUPLEMENTAR
ROTURA UTERINA AÉREAS PÉRVIAS

OBTER SE FETO VIVO, CABEÇA DOIS ACESSOS


CONSENTIMENTO ENCAIXADA E CALIBROSOS E
PARA LAPAROTOMIA E DILATAÇÃO INFUSÃO DE
POSSÍVEL COMPLETA: AVALIAR CRISTALÓIDES
HISTERECTOMIA PARTO INSTRUMENTAL

REPARO UTERINO OU
ANTIBIOTICOPROFI- HISTERECTOMIA
ANESTESIA GERAL
LAXIA (PROLE CONSTITUIDA E
CONDIÇÕES CLÍNICAS)

INFORMAR FAMÍLIA E
REGISTRAR EVENTO E
MANOBRAS EM
PRONTUÁRIO

Fluxograma 2: Conduta na rotura uterina.

5. ROTURA DE VASA PREVIA

5.1 DEFINIÇÃO

Presença de vasos umbilicais do feto próximos à inserção


placentária. Ocorre em 1% gestação única e 15% gestação gemelar
monocoriônica. Tem fisiopatologia desconhecida.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 385

5.2 DIAGNÓSTICO

Presença de vasos pulsáteis através da membrana durante o toque


vaginal, sangramento genital (indolor) iníciado após amniorrexe,
anormalidades na FCF secundárias a sangramento fetal (anemia,
hipotensão, choque cardiogênico, morte por exsanguinação).
A ultrassonografia endovaginal com Doppler é sensível (78%) e
específica (91%).

5.3 CONDUTA

Após diagnóstico de vasa prévia deve ser realizada


ultrassonografia e cardiotocografia duas vezes por semana entre 28-30
semanas, corticoterapia, e internação hospitalar após 28 semanas. A
interrupção da gestação pode ser a partir de 35 semanas e a cesariana de
urgência vai ser realizada nos casos de trabalho de parto, amniorrexe
prematura, sangramento genital ou taquicardial fetal.

6. ROTURA DE SEIO MARGINAL

6.1 DEFINIÇÃO

O seio marginal constitui a borda periférica do espaço interviloso,


circundando toda a placenta. O local habitual de rotura geralmente é a
zona inferior do bordo placentário.
Usualmente é um diagnóstico de exclusão.

6.2 QUADRO CLÍNICO

Sangramento genital de pequena intensidade, vermelho vivo,


indolor, sem alteração do tônus uterino e podendo ou não ter relação com
o TP (etiologia indefinida), e a vitalidade fetal está preservada. Não
aumenta morbimortalidade materna e fetal.
Após o parto, o exame da placenta pode confirmar o diagnóstico.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 386

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Rede Cegonha | 388

SEPSE EM PACIENTE OBSTÉTRICA

1. INTRODUÇÃO

A sepse materna é uma condição ameaçadora à vida, definida


como disfunção de órgãos resultante de infecções durante a gestação,
parto, pós-aborto ou puerpério.
Representa a terceira causa de morte materna em todo o mundo.
Apesar da maioria das pacientes obstétricas ser formada por jo-
vens sem comorbidades, a mortalidade pode chegar a 40 a 60%.

2. CAUSAS DE SEPSE MATERNA

2.1 Infecções de origem obstétrica

Infecções do trato genital, aborto séptico, corioamnionite, endome-


trite, infecção na ferida operatória da cesariana, da episiotomia ou de la-
cerações do parto.

DEVE-SE FAZER ANTIBIOTICOPROFILAXIA:


Lacerações de 3º e 4º graus
Mulheres submetidas a extração manual da placenta
Em cesarianas, deve ser feita antes da incisão da pele, assim como em
qualquer cirurgia abdominal.

Os procedimentos invasivos durante a gestação também são fatores de


risco para infecções, podendo ser causas de sepse materna, a exemplo da
cerclagem do colo uterino.

2.2 Infecções não genitais relacionadas ao ciclo gravídico-puerperal:


mastite ou pielonefrite, trombose pélvica séptica.

2.3 Infecções de origem não obstétrica: apendicite, colecistite, pancre-


atite, pneumonia e outras.

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Protocolo de Assistência Obstétrica | 389

3. DIAGNÓSTICO

Os sinais clínicos sugestivos de sepse incluem um ou mais dos se-


guintes: febre, hipotermia, taquicardia, hipotensão, hipóxia, oligúria e
comprometimento da consciência.
Para identificar esse quadro é necessário utilizar algum tipo de es-
core, seja o SOFA ou Quick SOFA (qSOFA), que são os mais utilizados atu-
almente, devem ser aplicados à beira do leito para identificar pacientes
com suspeita de infecção, as quais apresentam maior risco de desfechos
adversos (sepse materna presumida).

A maior recomendação para se identificar precocemente a sepse


materna é a utilização do Quick SOFA modificado para a obstetrí-
cia, avaliando-se a pressão arterial, a frequência respiratória e o
estado mental, já no momento da admissão da paciente na Tria-
gem / Classificação de risco.

Os critérios utilizados no Quick SOFA (qSOFA) são:


• PA sistólica < 90mmHg - 1 ponto
• Frequência Respiratória > 25 IRPM - 1 ponto
• Alteração do estado mental (não alerta) - 1 ponto

Um escore maior ou igual a 2 indica um maior risco de mortalidade


ou permanência prolongada em UTI e justifica a instituição do tratamento
precoce descrito adiante como o pacote da primeira hora. Inicialmente
é dado o diagnóstico de infecção sem disfunção.

INFECÇÃO SEM DISFUNÇÃO: paciente que possui foco infeccioso


suspeito ou confirmado (bacteriano, viral, fúngico, etc.) sem apresentar
disfunção orgânica.

Posteriormente a paciente deve ser investigada quando à presença


de disfunção orgânica através do escore SOFA; se maior ou igual a 2 está
fechado o diagnóstico de SEPSE.

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Rede Cegonha | 390

Tabela 1 : Escore SOFA modificado para a obstetrícia (fonte: guidelines for the inves-
tigation and management sepsis in pregnancy, 2017).

SEPSE: infecção suspeita ou confirmada associada a disfunção or-


gânica.

Quando falamos em choque séptico estamos nos referindo a um


quadro semelhante à sepse, mas que precisa de drogas vasopressoras para
manter uma pressão arterial média maior que 65 mmHg.

CHOQUE SÉPTICO: sepse que evolui com hipotensão não corrigida


após reposição volêmica, necessitando de drogas vasopressoras.

4. CONDUTA

O protocolo de 2016 preconizava intervenções em 3h e 6h mas, pos-


teriormente, observou-se que isso não era o bastante.
A recomendação lançada em 2018 sugere condutas que devem
ser tomadas na primeira hora após a suspeita de sepse materna. Im-
portante lembrar que não é a primeira hora de contato com o médico, mas
sim a primeira hora da chegada da paciente no serviço de saúde, na tria-
gem.
Após identificação do paciente com suspeita de sepse, usualmente
pela enfermagem durante a classificação de risco, a equipe médica decide
se deve ou não haver o seguimento do protocolo.

4.1 PACOTE DA PRIMEIRA HORA

● Coleta do lactato arterial - que deve ser imediatamente encami-


nhado ao laboratório, a fim de se evitar resultados falsos positivos.
O objetivo é ter resultado deste exame em 30 minutos. O lactato é

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 391

medidor de hipóxia tissular e se ele está maior que 2, precisa-se


medir novamente após 2 a 4 horas. A maioria dos serviços mede o
lactato arterial no processamento da gasometria.

● Obter culturas - hemocultura de pelo menos 2 sítios distintos em


até uma hora e culturas de todos os outros sítios pertinentes (as-
pirado traqueal, líquido ascítico, líquor, urocultura) antes de co-
meçar antibioticoterapia.

● Iniciar antibióticos de amplo espectro:

● Iniciar ressuscitação volêmica - com quantidade de líquido bas-


tante agressiva (30ml/kg), de cristalóide. A solução de escolha é o
ringer lactato. Também se indica a elevação dos membros inferi-
ores da paciente. Ex: paciente com 65 kg: 2000ml.

ESQUEMA SUGERIDO (ENDOVENOSO)


(duração típica do tratamento: 7 a 10 dias)
1. Gentamicina 240mg dose única + clindamicina 600 mg 6/6h
2. Gentamicina 240mg dose única + clindamicina 600mg 6/6h +
Ampicilina 1g de 6/6 h
3. Ceftriaxona 1g de12/12 h + clindamicina 600 mg de 6/6 h
4. Ciprofloxacino 400 mg 12/12h + metronidazol 500 mg de 8/8h
ou clindamicina 600 mg de 6/6h.

● Iniciar o uso de drogas vasopressoras - caso não se consiga man-


ter a PAM (pressão arterial média) acima de 65 mmHg, deve-se ini-
ciar o uso de drogas vasopressoras (Noradrenalina por bomba de
infusão contínua 0,01 a 2 mcg/kg/min). Não se deve tolerar PAM
abaixo de 65 mmHg por períodos superiores a 30 a 40 minutos.

● Aferição precisa do débito urinário


Essas intervenções são sequenciais e devem ocorrer quase que
simultaneamente

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Rede Cegonha | 392

PACOTE DE PRIMEIRA HORA


• Medir Lactato, se >2mmol/L, medir novamente após 2-4h
• Obter 2 amostras de hemocultura antes de iniciar antibió-
ticos
• Iniciar antibióticos de amplo espectro
• Ressuscitação volêmica 30ml/kg de cristalóide se hipoten-
são ou lactato >4mmol/L
• Iniciar vasopressor se mantiver hipotensão após ressusci-
tação volêmica (manter PAM > 65mmHg
• Ofertar oxigênio suplementar
• Monitorar débito urinário

4.2 REAVALIAÇÃO DAS 6 HORAS

Em sequência com o pacote inicial de tratamento, há um pacote de


ações para 6 horas. Nesse momento, em geral, a paciente já está em uma
Unidade de Terapia Intensiva.

• Uso de vasopressores para manter a PAM (pressão arterial média)


acima de 65 mmHg;
• Reavaliação do status volêmico e da perfusão tecidual, através de
exame clínico e laboratorial;
• Nova mensuração de lactato para pacientes com hiperlactatemia
inicial
• Avaliar necessidade de abordagem cirúrgica

IMPORTANTE!
• Sempre registrar em prontuário a condição clínica antes de ini-
ciar o tratamento, após 1h e após as 6h.
• Os pacotes devem ser iniciados imediatamente após o diagnóstico
e não devem ser adiados até admissão em UTI.
• Os antibióticos devem ser iniciados em, no máximo, 1 hora da che-
gada à maternidade. Frente a uma paciente com suspeita de sepse
materna, não se deve esperar os resultados das culturas para
iniciar o antibiótico.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 393

• Também, quando não se tem os resultados do lactato, deve-se ini-


ciar a reposição volêmica. Não se pode atrasar o tratamento
aguardando estes resultados.

4. ESCORE DE MEOWS

Na maioria dos casos, a sepse tem um caráter rapidamente progres-


sivo que exige observações clínicas frequentes. O Royal College of Obste-
tricians and Gynaecologists (RCOG) estipulou, em 2012, a utilização de ta-
belas MEOWS (Modified Early Obstetric Warning Score) em todos os casos
de infecção materna.
Deve ser instituída como rotina nos cuidados de enfermagem com
puérperas frente à prevenção de sepse. Neste sistema, a avaliação horária
dos sinais vitais é registada numa tabela impressa sob uma base colorida,
que estipula alertas cromáticos (amarelo ou vermelho) capazes de identi-
ficar precocemente doentes com manifestações prodrômicas de sepse e
ditam uma avaliação célere por obstetra, anestesista e/ou médico inter-
nista experientes.

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Rede Cegonha | 394

Em obstetrícia, o reconhecimento precoce destas situações, a res-


suscitação agressiva, a instituição imediata de antibioticoterapia de largo
espectro, o controle da fonte infeciosa e uma atuação multidisciplinar, são
os pontos chave na abordagem de sepse materna grave.

5. PONTOS IMPORTANTES

• O atendimento ao paciente séptico é multidisciplinar e todos de-


vem estar envolvidos para que o objetivo seja atingido.

• As alterações fisiológicas, imunológicas e mecânicas da gravidez


tornam as mulheres mais susceptíveis às infecções, além de difi-
cultar ou retardar o diagnóstico de sepse.

• Não postergar a curetagem uterina ou a histerectomia nos casos


de sepse por foco uterino.

• São medidas adjuvantes e de suporte: tromboprofilaxia, controle


da glicemia, proteção gástrica, avaliar necessidade de hemotrans-
fusão.

• Comunicação com a família é essencial.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 395

A sepse materna é uma condição absolutamente devastadora para


a saúde das mulheres. Se uma infecção materna não for reconhe-
cida precocemente e tratada oportunamente ela pode progredir
para choque e morte. TEMPO É VIDA!

REFERÊNCIAS

Bonet M, Nogueira Pileggi V, Rijken MJ, Coomarasamy A, Lissauer D, Souza JP, et


al. Towards a consensus definition of maternal sepsis: results of a systematic
review and expert consultation. Reprod Health. 2017;14(1):67.
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Rede Cegonha | 396

SÍFILIS E GESTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

A sífilis (ou lues) é uma infecção sexualmente transmissível (IST) de


caráter sistêmico, curável e exclusiva do ser humano causada pelo Trepo-
nema pallidum, uma bactéria Gram-negativa do grupo das espiroquetas.
A transmissão vertical acontece mais frequentemente intraútero,
embora também possa ocorrer durante a passagem do feto pelo canal do
parto, se houver a presença de lesão ativa.

A sífilis congênita é passível de prevenção quando a gestante


portadora da doença é tratada adequadamente.

A probabilidade da ocorrência de sífilis congênita é influenciada


pelo estágio da sífilis na mãe e pela duração da exposição fetal. Dessa
forma, a transmissão é maior (em torno de 70% a 100%) quando a gestante
apresenta sífilis primária ou secundária.
As repercussões da sífilis na gestação incluem graves efeitos adver-
sos para o concepto, desde abortos, óbitos fetais e neonatais até recém-
nascidos vivos com sequelas diversas da doença, que poderão se manifes-
tar até os 2 anos de vida ou tardiamente.
Estima-se que mais de 900 mil casos novos por ano ocorram no Bra-
sil; no mundo, o número de casos novos supera 12 milhões por ano. O Bra-
sil vive uma epidemia de sífilis, conforme revelou o último boletim epide-
miológico do Ministério da Saúde, mostrando um aumento de 32,7% da
sífilis adquirida entre 2014 e 2015.
A notificação compulsória da gestante com sífilis no país foi institu-
ída desde 2005 e a sífilis congênita é doença de notificação compulsória
desde 1986.

2. QUADRO CLÍNICO

As manifestações clínicas da sífilis em gestantes são semelhantes às


da sífilis adquirida que acomete a população geral. O curso da sífilis não

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 397

tratada consiste em três fases sintomáticas entremeadas por períodos as-


sintomáticos (latência).
A maioria dos diagnósticos em gestantes ocorre nesse estágio (sífilis
latente). No caso das gestantes, a maior parcela dos casos é diagnosticada
por meio dos testes preconizados durante o pré-natal e o parto, e nem
sempre a cronologia do tempo de infecção é bem determinada. Dessa
forma, diante de uma gestante com diagnóstico confirmado, em que não
é possível inferir a duração da infecção (sífilis de duração ignorada), clas-
sifica-se e trata-se o caso como sífilis latente tardia.
Nas gestantes HIV positivas, deve-se sempre realizar exame neuro-
lógico. No caso de sinais/sintomas oculares/neurológicos deve-se encami-
nhar para avaliação especializada e solicitar punção lombar para investi-
gar neurossífilis.

Figura 1: Manifestações clínicas de acordo com a evolução e estágios da sífilis (Fonte:


DCCI/SVS/MS).

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Rede Cegonha | 398

3. MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO DE SÍFILIS NA GESTAÇÃO

O diagnóstico da sífilis exige uma correlação entre dados clínicos,


resultados de testes laboratoriais, histórico de infecções passadas e inves-
tigação de exposição recente. Apenas o conjunto dessas informações per-
mitirá a correta avaliação diagnóstica de cada caso e, consequentemente,
o tratamento adequado. Os testes utilizados para o diagnóstico da sífilis
são divididos em duas categorias: exames diretos e testes imunológicos.

3.1 EXAMES DIRETOS

Figura 2: Exames diretos para sífilis. (Fonte: DCCI/SVS/MS).

3.2 MÉTODOS IMUNOLÓGICOS

São os mais utilizados na prática clínica. Dividem-se em:

• TREPONÊMICOS - detectam anticorpos específicos produzidos


contra os antígenos do Treponema pallidum. São os primeiros a se
tornarem reagentes.
• NÃO TREPONÊMICOS - detectam anticorpos não específicos anti-
cardiolipina, material lipídico liberado pelas células danificadas
em decorrência da sífilis e possivelmente contra a cardiolipina li-
berada pelos treponemas.

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Figura 3: Métodos imunológicos para diagnóstico de sífilis. (Fonte: DCCI/SVS/MS).

Os testes não treponêmicos devem ter seu resultado expresso em


fração (1:2, 1:4, 1:64 e assim sucessivamente) e são importantes para o di-
agnóstico e monitoramento da resposta ao tratamento, uma vez que a
queda, manutenção ou elevação das titulações indicam a evolução tera-
pêutica.
Para o diagnóstico da sífilis, deve ser realizado um teste treponê-
mico mais um teste não treponêmico. Considerando a sensibilidade dos
fluxos diagnósticos, recomenda-se, sempre que possível, iniciar a investi-
gação por um teste treponêmico (teste rápido, FTA-Abs, ELISA etc.).

Figura 4: Testes imunológicos para diagnóstico de sífilis (Fonte: DCCI/SVS/MS).

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Rede Cegonha | 400

EFEITO PROZONA

Sempre que um teste não treponêmico é realizado, é imprescindível


que se analise a amostra pura e diluída em virtude do fenômeno prozona.
O fenômeno de prozona consiste na falta de reatividade no teste re-
alizado em uma amostra que, embora contenha anticorpos não-treponê-
micos, apresenta resultado não reagente quando é testada sem diluir. Fe-
nômeno produzido por excesso de anticorpos em relação a quantidade de
antígenos com formação de imunocomplexos solúveis, gerando resulta-
dos falso-negativos.

4. TESTAGEM RÁPIDA E TRATAMENTO IMEDIATO DA GESTANTE

A testagem para sífilis está preconizada na gestação na 1ª consulta


de pré-natal, idealmente no 1º trimestre, no início do 3º trimestre (a partir
da 28ª semana), no momento do parto ou em caso de aborto, exposição de
risco e violência sexual.
Em todos os casos de gestantes, o tratamento deve ser iniciado com
apenas um teste reagente, treponênico ou não treponêmico, sem aguardar
o resultado do segundo teste.

Testagem para prevenção da transmissão vertical da sífilis deve ser


realizada na primeira consulta do pré-natal (idealmente, no primeiro
trimestre da gestação), no início do terceiro trimestre (28ª semana) e
no momento do parto ou aborto, independentemente de exames an-
teriores.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 401

Figura 5: Solicitação e conduta frente ao teste reagente na gestante (Fonte:


DCCI/SVS/MS).

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Rede Cegonha | 402

Figura 6: Resultados de testes treponêmicos e não treponêmicos, interpretação e


conduta para a gestante (Fonte: DCCI/SVS/MS).

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 403

5. TRATAMENTO

O tratamento deve ser realizado o mais precoce possível, já que, pe-


las altas taxas de transmissão vertical, se for realizado após a 14ª. semana
se considera tratamento de feto potencialmente infectado intra-útero.
Penicilina benzatina é a única opção segura e eficaz para tratamento ade-
quado das gestantes. Não existem estudos controlados em gestantes que
tenham determinado a eficácia da ceftriaxona no tratamento do feto, e
por isso esta não é uma medicação recomendada para o tratamento de sí-
filis na gravidez.

Figura 7: Resumo dos esquemas terapêuticos da gestante com sífilis (Fonte:


DCCI/SVS/MS).

Obs.: Gestantes que ultrapassarem o intervalo de 14 dias entre as do-


ses devem reiniciar o esquema terapêutico.

5.1 REAÇÃO ADVERSA ÀS PENICILINAS

A probabilidade de reação adversa às penicilinas, em especial as re-


ações graves, é muito rara.

A possibilidade de reação anafilática à administração de penicilina


benzatina é de 0,002%.

A reação anafilática é sempre uma condição de absoluta emergên-


cia. O objetivo do tratamento é a manutenção da oxigenação e a perfusão
de órgãos vitais.
A adrenalina é a droga de escolha e deve ser imediatamente admi-
nistrada. A epinefrina é administrada em solução aquosa a 1:1.000
(1mg/mL), dose para adultos é de 0,3ml-0,5ml por via intramuscular ou

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subcutânea, essa dose pode ser repetida a cada 15 minutos, de duas a três
vezes. A via intramuscular tem ação mais rápida que a subcutânea.
O paciente deve ser colocado em posição de Trendelenburg e, se a
hipotensão estiver presente, deve-se fazer a infusão rápida de solução fi-
siológica.
Considerar o uso de salbutamol (5mg/ml aerosol, 2mg-4mg VO de
6h/6h), bromidato de fenoterol (até 1 gota para cada 3 quilos em crianças,
máximo de 8 gotas, adultos 8 a 10 gotas) ou terbutalina (0,5mg-1mg/ina-
lação de 6h/6h , 2,5mg-5 mgVO de 6h/6h), se ocorrer broncoespasmo. O
uso de corticoides orais ou venosos e anti-histamínicos é útil apenas para
evitar uma evolução arrastada e não é útil para a fase aguda.
As pacientes com alergia comprovada à penicilina deverão reali-
zar preferencialmente a dessensibilização e, em seguida, o tratamento
com penicilina sob internamento hospitalar. No entanto, na impossibili-
dade de realizar a dessensibilização, a gestante poderá ser tratada no am-
biente ambulatorial ou na Atenção Primária de Saúde com Ceftriaxona 1
g, IV (intravenoso) ou IM (intramuscular), em dose única diária, por 8 a 10
dias ou eritromicina (estearato), 500 mg, por via oral, de 6/6 horas durante
15 dias, para a sífilis recente ou durante 30 dias, para a sífilis tardia.
As gestantes tratadas com outras drogas que não a penicilina serão
consideradas inadequadamente tratadas em relação à transmissão verti-
cal, sendo obrigatória a investigação e o tratamento adequado do recém-
nato.

5.2 REAÇÃO DE JARISCH-HERXHEIMER

Após a primeira dose de penicilina, a pessoa pode apresentar exa-


cerbação das lesões cutâneas com eritema, dor ou prurido, as quais regri-
dem espontaneamente após 12 a 24 horas, sem a necessidade da desconti-
nuidade do tratamento.
Tipicamente, vêm acompanhadas de febre, artralgia e mal-estar.
Essa reação não configura alergia à penicilina e ocorre em resposta à
grande quantidade de proteínas e outras estruturas liberadas na corrente
sanguínea pelas espiroquetas mortas com a administração de penicilina.
É mais comum em pessoas que recebem tratamento na fase secundária da
sífilis.

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5.3 TRATAMENTO DAS PARCERIAS SEXUAIS

As parcerias sexuais de gestantes com sífilis podem estar infecta-


das, mesmo apresentando testes imunológicos não reagentes; portanto,
devem ser tratadas presumivelmente com apenas uma dose de penicilina
benzatina IM (2.400.000 UI).
No caso de teste reagente para sífilis, seguir as recomendações de
tratamento da sífilis adquirida no adulto, de acordo com o estágio clínico
da infecção, utilizando preferencialmente penicilina benzatina.
É fundamental realizar busca ativa para diagnóstico e tratamento
das parcerias sexuais de gestantes com sífilis.

6. MONITORAMENTO PÓS-TRATAMENTO DE SÍFILIS NA GESTANTE

O seguimento da gestante com sífilis deve levar em consideração


tanto os sinais e os sintomas clínicos quanto o monitoramento laborato-
rial da resposta ao tratamento. Os testes não treponêmicos (VDRL, RPR,
TRUST, por exemplo) devem ser realizados mensalmente nas gestantes,
utilizando preferencialmente sempre o mesmo teste, para que seja possí-
vel comparação entre eles. Após o parto, repetir até completar 1 ano (3, 6,
9 e 12 meses).
É indicação de sucesso de tratamento a ocorrência de diminuição
da titulação em duas diluições dos testes não treponêmicos em três meses,
ou de quatro diluições em seis meses após a conclusão do tratamento (ex.:
pré-tratamento 1:64 e em três meses 1:16, ou em seis meses 1:4).

TÍTULO x DILUIÇÃO

Afirmar que a titulação da amostra diminui em duas diluições (de 1:64


para 1:16) é equivalente a afirmar que o título da amostra caiu 4 vezes.
Isso porque a amostra é diluída em um fator 2; logo, uma diluição equivale
a 2 títulos.

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Figura 8: seguimento da gestante com sífilis (Fonte: DCCI/SVS/MS).

7. CRITÉRIOS PARA RETRATAMENTO DA GESTANTE COM SÍFILIS

• Não redução da titulação em duas diluições no intervalo


de seis meses (sífilis primária, secundária e sífilis latente
recente) ou 12 meses (sífilis tardia) após o tratamento
adequado (ex.: de 1:32 para 1:8, ou de 1:128 para 1:32);
• Aumento da titulação em duas diluições (ex.: de 1:16 para
1:64 ou de 1:4 para 1:16) em qualquer momento do segui-
mento;
• Persistência ou recorrência de sinais e sintomas de sífilis
em qualquer momento do seguimento.

8. PONTOS IMPORTANTES

Para fins clínicos e assistenciais, alguns fatores são considerados


para o tratamento adequado da GESTANTE com sífilis, como:

• Administração de penicilina benzatina;


• Início do tratamento até 30 dias antes do parto;
• Esquema terapêutico de acordo com o estágio clínico;
• Respeito ao intervalo recomendado de doses;
• Avaliação quanto ao risco de reinfecção;
• Documentação de queda do título do teste não treponê-
mico em pelo menos duas diluições em três meses, ou de

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 407

quatro diluições em seis meses após a conclusão do trata-


mento – resposta imunológica adequada.

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FEBRASGO. Sífilis na gravidez. FEBRASGO, 2018. Disponível em https://www.fe-
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Menezes ML, Passos MR. Sífilis e gravidez. São Paulo: Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo FEBRASGO
- Obstetrícia, no. 68/ Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectoconta-
giosas).

SUMÁRIO ISBN 978-65-5608-081-9


Rede Cegonha | 408

SÍNDROMES HIPERTENSIVAS
NA GESTAÇÃO

1. DEFINIÇÕES

- PRÉ-ECLÂMPSIA: hipertensão (PAS  140 mmHg e/ou PAD  90


mmHg) e proteinúria ou disfunção de órgãos após 20ª semana de
gestação em mulheres previamente normotensas.
- ECLÂMPSIA: convulsões em gestantes com pré-eclâmpsia (na ausên-
cia de outras causas neurológicas).
- SÍNDROME HELLP: acrônimo de hemólise, elevação de enzimas he-
páticas e trombocitopenia. Pode acometer pacientes com pré-
eclâmpsia ou acometer pacientes normotensas e sem proteinúria
(20% dos casos).
- HIPERTENSÃO CRÔNICA: hipertensão diagnosticada antes da gesta-
ção ou antes de 20 semanas (pelo menos duas aferições). E também
em mulheres que permanecem hipertensas 12 semanas após o
parto.
- PRÉ-ECLÂMPSIA SUPERPOSTA: surgimento de proteinúria ou dis-
função de órgãos após a 20ª semana em gestante com HASC, ou des-
controle pressórico agudo após 20 semanas ou desenvolvimento de
gravidade.
- HIPERTENSÃO GESTACIONAL: hipertensão sem proteinúria ou ou-
tros sinais de pré-eclâmpsia em gestantes após a 20ª semana de ges-
tação. Ocorre resolução do quadro até 12 semanas após o parto.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 409

2. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

2.1 PRÉ-ECLÂMPSIA

- HIPERTENSÃO (PAS  140 mmHg e/ou PAD  90 mmHg) em duas


ocasiões com pelo menos 4 horas de intervalo, após 20 semanas
de gestação, em gestante previamente normotensa
E
- PROTEINÚRIA de 24 horas  300 mg ou razão proteína/creati-
nina urinária  0,3 ou proteinúria de fita 1+

* Se proteinúria for negativa, deve haver pelo menos um dos critérios


abaixo, associado à HAS:
- Plaquetas < 100.000;
- Creatinina plasmática > 1,1 mg/dL;
- Transaminases hepáticas com aumento de pelo menos 2 x em re-
lação aos valores normais;
- Edema agudo de pulmão;
- Sintomas visuais ou cerebrais.

Atualmente, também se considera pré-eclâmpsia quando, na ausên-


cia de proteinúria, ocorre disfunção de órgãos-alvo.

SINAIS E SINTOMAS DE GRAVIDADE

-Alterações visuais: escotomas, cegueira corti-


cal, fotopsia, vasoespasmo retiniano.
SINTOMAS DE DISFUNÇÃO
-Cefaléia de forte intensidade ou que persiste
DO SNC
após o uso de analgésicos.
-Alteração da consciência.
- Dor epigástrica ou em quadrante superior di-
ANORMALIDADES HEPÁTI-
reito não responsiva à analgésicos e/ou
CAS
- Transaminases  2 vezes os valores normais.
ELEVAÇÃO DA PRESSÃO AR- PAS  160 mmHg ou PAD  110 mmHg persis-
TERIAL tente após repouso.
PLAQUETOPENIA < 100.000
ANORMALIDADES RENAIS Creatinina plasmática >1,1 mg/dL
EDEMA AGUDO DE PULMÃO ---

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Rede Cegonha | 410

2.2 SÍNDROME HELLP

Esfregaço anormal de sangue periférico (es-


HEMÓLISE
quisocitose, anisocitose, equinocitose, pe-
cilocitose)
Bilirrubina total > 1,2 mg%
ELEVAÇÃO DAS ENZIMAS HE-
PÁTICAS TGO > 70 UI
PLAQUETOPENIA < 100.000/mm3

3. CONDUTA

3.1 PRÉ-ECLÂMPSIA SEM SINAIS DE GRAVIDADE (e também na


Hipertensão crônica e Hipertensão Gestacional)

- DEFINIÇÃO: Elevação da Pressão Arterial acima de 140 x 90 mmHg


até < 160 X 110 mmHg, com surgimento de proteinúria entre 300 mg
e 2 gramas no exame de 24 horas e que não apresenta nenhum dos
sinais de gravidade.
- SEGUIMENTO: Ambulatorial em Pré-Natal de alto Risco com inter-
valo menor entre as consultas com o objetivo de manter controle da
PA, identificar precocemente sinais de deteriorização clínica (he-
mograma, creatinina, bilirrubinas e TGO semanal, proteinúria de
24h e/ou relação proteína/creatinina urinária quinzenal) e manter
vigilância sobre vitalidade e crescimento fetal quinzenalmente.
- INTERRUPÇÃO da gestação com 37 semanas na PE sem sinais de gra-
vidade e na Hipertensão gestacional e Hipertensão arterial crônica
sem complicações com 38 a 39 semanas, por via obstétrica.

3.2 PRÉ-ECLÂMPSIA COM SINAIS DE GRAVIDADE

- Internação;
- Dieta normossódica;
- Solicitar exames laboratoriais (hemograma, proteinúria 24
horas ou relação proteína/creatinina urinária, TGO, creati-
nina e bilirrubinas);
- Ultrassonografia obstétrica com Doppler;
- Corticoterapia para maturação pulmonar fetal entre 23 e 34
semanas;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 411

- Sulfato de Magnésio para profilaxia de convulsões (Fazer


mesmo na ausência de sinais e sintomas de iminência de
Eclâmpsia).
- Interrupção com 34 semanas após estabilização materna ou
antes se condições clínicas materno ou fetal instáveis.

ESQUEMA SUGERIDO
- ATAQUE: 6g = 12 mL de MgSO4 50% + 100 mL de SG 5% IV em 30 minutos
- MANUTENÇÃO: 1g/h = 12 mL de MgSO4 50% + 488 mL de SG 5% IV em
bomba de infusão– 84 ml/h

ESQUEMA DE PRITCHARD
- ATAQUE: 4g (8 ml de MgSO4 à 50%) + 12 ml de AD IV associado à 10g (20
ml de MgSO4 à 50%) IM profundo (10 ml em cada nádega)
- MANUTENÇÃO: 5g (10 ml de MgSO4 à 50%) IM (alternar nádegas) a cada
4h

3.3 EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS EM GESTANTES

- Nifedipina 10 mg VO a cada 30 minutos, 3 repetições;


- Hidralazina 5 mg a cada 20 minutos até 4 repetições;
- Nitroprussiato de sódio: em casos não responsivos, iniciar com
0,25 mcg/kg/min até 4 mcg/kg/min em infusão intravenosa con-
tínua, em ambiente de terapia intensiva.

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Rede Cegonha | 412

CUIDADOS E MONITORAMENTO:
- Manter antagonista (Gluconato de Cálcio a 10%) à beira do
leito;
- Cuidados da enfermagem a cada 2h: FR, PA, FC e diurese (me-
dir e anotar);
- Reavaliação médica a cada 4 a 6 horas: Pulso, pressão arterial,
frequência respiratória, reflexos profundos e diurese;
- Considerar diminuição da dose caso alterações dos parâme-
tros;
- Suspender infusão se: FR < 14, reflexos ausentes,
diurese < 25 ml/hora;
• TRATAMENTO
- Infusão ANTI-HIPERTENSIVO
cautelosa de DE MANUTENÇÃO NA
cristalóides: 84 ml/hora
GESTANTE
concomitante ao MgSO4 em segundo
acesso venoso.
MEDICAÇÃO DOSE

1ª Escolha: METILDOPA 750 a 2000 mg/dia


2ª Escolha: NIFEDIPINA ou 30 a 120 mg/dia
ANLODIPINA 5 a 20 mg/dia
3ª Escolha: METOPROLOL 50 a 200 mg/dia

3.3 SÍNDROME HELLP

❖ Transferência para UTI;


❖ Sulfato de Magnésio (ataque e manutenção);
❖ Corticoterapia para maturação pulmonar fetal entre 23 e 34 semanas
de gestação);
❖ Interrupção da gestação (via obstétrica);
❖ Transfusão de plaquetas está indicado mesmo sem sangramento ativo
se contagem de plaquetas abaixo de 20.000/mm3, se houver indicação
cirúrgica manter entre 40.000 a 50.000/mm3. A dose preconizada é de
uma unidade para cada 10 Kg de peso;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 413

❖ O uso de corticoide (dexametasona 10mg EV de 12/12h) para elevação


das plaquetas parece não modificar o curso da doença, porém seu uso
pode ser considerado em situações especiais.

3.4 ECLÂMPSIA

• SEQUÊNCIA DE PROCEDIMENTOS RECOMENDADOS PARA AS-


SISTÊNCIA DE PACIENTE COM ECLÂMPSIA

ETAPA PROCEDIMENTO

Ajuda: chamar equipe


Air: permeabilidade de vias aéreas (cânula de Guedel, as-
A pirar secreções, intubação se Glasgow <8. Manter decúbito
lateral esquerdo e conter membros e cabeça.

Breathing: oxigenação sob máscara (8 a 10L/min). VMI se


B Glasgow <8.

Circulation: dois acessos venosos periféricos calibrosos


C (Jelco 16-18). Infundir Ringer lactato com cautela.

Disability: prevenção de dano: administrar MgSO4.


D
Exame clínico geral e obstétrico: altura e tônus uterino,
presença de metrossístoles;
Estabilização: monitorar SatO2, cardioscopia, instalar
E
SVD
Exames laboratoriais

Feto: ausculta fetal, cardiotocografia e USG com


Doppler se possível
F
Iniciar Corticoide (pelo menos a primeira dose)

Gestação: providenciar interrupção da gestação por via


obstétrica. Avaliar colo uterino e possibilidade de parto
G
normal. Evitar Cesariana logo após convulsão devido hi-
póxia materno-fetal transitória (exceto se DPP e/ou SFA)

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Rede Cegonha | 414

Resgatar Plaquetas para definir procedimento anestésico


(Bloqueio ou Geral)

• FLUXOGRAMA PARA ATENDIMENTO DE ECLÂMPSIA

Fonte: Adaptado de Obstetrícia: Diagnóstico e Tratamento -IMIP

4. PROPEDÊUTICA FETAL

- Ausculta fetal intermitente;


- Mobilograma;
- Cardiotocografia;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 415

- Ultrassonografia Obstétrica com Doppler para avaliar vitalidade


fetal, confirmar idade gestacional (através do exame de primeiro
trimestre) e estimar o peso fetal.

5. INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO

❖ Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade → 37 semanas.


❖ Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade → 34 semanas ou antes de
acordo com condições clínicas materno-fetais.
❖ Hipertensão gestacional e Hipertensão arterial crônica sem complica-
ções → 38 a 39 semanas

Indicações para antecipação do parto em gestantes com distúrbios


hipertensivos (qualquer uma das situações)
Eclâmpsia
Síndrome HELLP
Sofrimento Fetal
RCIU grave
Oligoâmnio severo
Hipertensão refratária grave (3 hipotensores em dose máxima)
Descolamento prematuro da placenta
Edema agudo de pulmão
Oligúria refratária
Amaurose
Óbito fetal

6. TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO DE MANUTENÇÃO NO PÓS-


PARTO – Iniciar 24 horas após o parto se persistirem as crises hiper-
tensivas

Medicação Dose

1ª escolha: Captopril 75 a 150 mg/dia

2ª escolha: Nifedipina 20 a 120 mg/dia

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Rede Cegonha | 416

3ª escolha: Diurético
- Hidroclorotiazida 25 mg/dia pela manhã
- Furosemida 20 mg/dia pela manhã

Outra escolha: Propranolol 40 a 240 mg/dia

ATENÇÃO:

- Manter MgSO4 por 24 horas após o parto de preferência em UTI


materna;
- Solicitar exames laboratoriais diários em casos mais graves;
- Nos casos de pacientes com hipertensão pré-existente que fa-
ziam uso de medicação anti-hipertensiva recomenda-se reiniciá-
la no pós-parto imediato.
- Objetivo do controle pressórico é manter PAS em torno de
140/150 mmHg e PAD em torno de 90/100 mmHg;
- Se houver necessidade de inibição da lactação, evitar derivados
do Ergot ou agonistas da dopamina pelo risco de agravamento da
hipertensão;
- Anti-inflamatórios não hormonais (AINH) no manejo da dor no
pós-parto não interferiram no controle da PA e outros eventos
adversos, entretanto recomenda-se o uso criterioso, principal-
mente nos casos graves.
- Profilaxia de Tromboembolismo: Clexane 40mg/dia para todas
as pacientes que receberão Sulfato de Magnésio por 24h pós-
parto.
- Proteção Gástrica – Omeprazol ou Pantoprazol 40 mg/dia.
- Na Emergências Hipertensivas:
• Clonidina: 0,1 mg VO a cada 60 minutos se necessário até
6 doses ou
• Captopril: 25 mg VO a cada 60 minutos
- Alta hospitalar após duas avaliações laboratoriais normais, com
a menor dose possível de hipotensor, com orientação contra-
ceptiva e retorno para cardiologista e ambulatório de egresso.

7. PREVENÇÃO DA PRÉ-ECLÂMPSIA

As intervenções recomendadas para as gestantes com alto risco


para pré-eclâmpsia são:

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 417

• Ácido acetilsalicílico (AAS) - 100 a 150 mg ao dia a partir da 12º


semana de gestação, administrar à noite e suspender após a
36ª semana.
• Suplementação de cálcio – 1,0 a 2,0g ao dia para gestantes com
dieta pobre em cálcio.

REFERÊNCIAS

American College of Obstetricians and Gynecologists. Emergent therapy for


acute-onset, severe hypertension during pregnancy and the post-partum period.
Committee Opinion. No. 692. Obstet Gynecol 2017;129:e90-5.
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in Pregnancy. Hypertension in pregnancy. Report of the American College of Obs-
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ISSHP classification, diagnosis & management recommendations for internatio-
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CAM/IMIP. Medbook, 2018.
Peraçoli JC, Borges VT, Ramos JG, Cavalli RC, Costa SH, Oliveira LG, et al. Pré-
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Rolnik DL, Wright D, Poon LC, O’Gorman N, Syngelaki A, de Paco Matallana C, et
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Rede Cegonha | 418

- Obstetrícia, no. 9/Comissão Nacional Especializada em Hipertensão na Gesta-


ção).
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Eclampsia. 2011. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/han-
dle/10665/44703/9789241548335_eng.pdf;jsessio-
nid=89F2764BA9D00955908EF2F139855E84?sequence=1.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 419

TIREOIDOPATIAS E GESTAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

A gravidez tem profundo impacto sobre a tireoide e sua função. A


glândula aumenta de tamanho em 10% quando há suficiência de iodo e em
20% a 40% na sua deficiência. A necessidade de iodo e a produção dos
hormônios da tireoide triiodotironina (T3) e tiroxina (T4) aumentam em
aproximadamente 50%.
As doenças da tireoide costumam se manifestar na fase reprodutiva
e são a segunda endocrinopatia mais comum na idade fértil. Estima-se que
as disfunções tiroidianas (hipotireoidismo e hipertireoidismo) ocorram
em 3-4% das gestantes, enquanto as formas subclínicas podem atingir nú-
mero ainda maior de mulheres (ao redor de 10%). Os nódulos e o câncer
de tireoide também apresentam aspectos diferenciados na gravidez, tanto
na evolução quanto no tratamento.
A condução das doenças tireoidianas durante a gestação requer cui-
dados especiais porque a gravidez produz alterações importantes na fun-
ção desta glândula. No primeiro trimestre, as dosagens hormonais podem
revelar diminuição do hormônio tireo-estimulante (TSH), já que a gona-
dotrofina coriônica placentária (hCG) estimula os receptores de TSH e a
secreção dos hormônios tireoidianos, retornando ao normal ao longo da
gestação. O nível de hormônios tireoidianos totais também pode sofrer
uma elevação devido ao aumento da TBG (globulina ligadora de hormô-
nios da tireoide, mas a triiodotironina (T3) e a tireoxina (T4) livres perma-
necem dentro da faixa da normalidade.
As dificuldades de diagnóstico na gravidez também podem ocorrer
devido à semelhança entre as queixas típicas da gestação e sintomas do
hipotireoidismo (fadiga, letargia, constipação) e do hipertireoidismo (ir-
ritabilidade, ansiedade, taquicardia, aumento da tireoide). Portanto, a in-
terpretação dos resultados de testes de função tireoidiana durante a ges-
tação deve ser feita com cuidado. O quadro abaixo auxilia no diagnóstico
diferencial.

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Rede Cegonha | 420

Quadro 1. Interpretação dos exames laboratoriais para diagnóstico


diferencial das tireoidopatias na gravidez

Gravidez + Gravidez +
Dosa- Gravidez Hipotire- Hipertireoi-
Hipotireoi- Hipertire-
gem Normal oidismo dismo
dismo oidismo

T4 li- Aumen-
Normal Diminuído Diminuído Aumentado
vre tado

T4 to- Aumen- Diminuído/ Aumen-


Diminuído Aumentado
tal tado Normal tado

TSH Normal Aumen- Aumentado Diminuído Diminuído


tado

Fonte: Manual Técnico de Gestação de Alto Risco, MS, 2012

Não há evidências suficientes para recomendar ou não a triagem


universal de TSH na gravidez. Todas as gestantes devem ser triadas na
consulta inicial quanto à história de disfunção tireoidiana e de tratamen-
tos para doenças da tireoide. Recomenda-se a dosagem de TSH para ges-
tantes com:

- História de hipotireoidismo ou hipertireoidismo ou sinais e sinto-


mas de disfunção tireoidiana;
- Positividade para anticorpos antitireoidianos ou bócio;
- História de radiação de cabeça e pescoço ou cirurgia de tireoide;
- Idade superior a 30 anos;
- Diabetes tipo I ou outra doença autoimune;
- História de perda gestacional, parto pré-termo ou infertilidade;
- Mais de duas gestações anteriores;
- História familiar de autoimunidade ou disfunção
tireoidiana;
- Obesidade mórbida.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 421

2. HIPOTIREOIDISMO

O hipotireoidismo ocorre em 0,1 a 0,3% das gestações. Em locais


com suficiência na ingesta de iodo, a principal causa de hipotireoidismo é
a doença autoimune conhecida como tireoidite de Hashimoto.
Os anticorpos anti-TPO (anti-peroxidase) e anti-TG (anti-tireoglo-
bulina) são encontrados em 2% a 17% das gestantes. Em mulheres com au-
toimunidade tireoidiana, o hipotireoidismo pode surgir na gravidez, pelo
comprometimento da habilidade da tireoide em aumentar a produção
hormonal.

Mulheres eutireoidianas portadoras do anti-TPO ou anti-TG de-


vem dosar TSH no diagnóstico de gravidez e a cada quatro sema-
nas.

A remoção cirúrgica da tireoide, o tratamento prévio com iodo ra-


dioativo (mulher deve aguardar pelo menos seis meses para engravidar) e
a deficiência nutricional de iodo, embora menos frequentes, também cau-
sam hipotireoidismo.
O hipotireoidismo não tratado ou inadequadamente tratado tem
sido correlacionado com maior risco de abortamento, pré-eclâmpsia, des-
colamento prematuro da placenta, restrição de crescimento fetal, prema-
turidade, natimortalidade e diminuição do coeficiente cognitivo de filhos
de mães hipotireoideas. Níveis normais de hormônios tireoidianos são es-
senciais para a migração neuronal, mielinização e outras mudanças estru-
turais no cérebro fetal.

2.1 QUADRO CLÍNICO

As gestantes acometidas são na maioria das vezes assintomáticas,


porém cerca de 20 a 30% desenvolvem sintomas.
Os sintomas moderados incluem ganho de peso modesto, letargia,
diminuição na capacidade de se exercitar e intolerância ao frio. Em mu-
lheres com sintomas mais importantes pode-se encontrar constipação,
rouquidão, perda de cabelo, pele seca e unhas descamativas.

2.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Exames laboratoriais são o método preferencial para a confirmação


diagnóstica.
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Rede Cegonha | 422

A dosagem do TSH é mais sensível do que o T4 livre para detectar


o hipotireoidismo.
Se o TSH estiver alterado, deve-se dosar o T4 livre.

A determinação dos auto-anticorpos anti-tireoperoxidase (anti-


TPO) e/ou o achado ultrassonográfico de tireoidite crônica sugerem a eti-
ologia auto-imune.
Devido a associação de desfechos negativos materno-fetais em al-
guns estudos recentes a partir de um limite de TSH de 2,5 um/L, o limite
superior de referência para o TSH durante a gestação tem sido definido
em:

2,5 mU/L - PRIMEIRO TRIMESTRE


3,0 mU/L - SEGUNDO E TERCEIRO TRIMESTRE

O hipotireoidismo subclínico ocorre quando o TSH se encontra


elevado, com T4L ou T4T normais e tem associação variável com resulta-
dos gestacionais adversos.

2.3 TRATAMENTO

O objetivo do tratamento da gestante com hipotireoidismo é obter


o eutireoidismo clínico e laboratorial.
O medicamento de escolha é a levotiroxina sódica, com dose de
ataque de 1.0–2.0µg/kg/dia, cujo comprimido deve ser ingerido em jejum,
preferencialmente 1 hora antes do café da manhã. A ingestão de ferro,
cálcio, alumínio ou produtos derivados de soja, diminuem sua absorção.
O TSH deve ser dosado a intervalos de três a quatro semanas e a dose
ajustada em incrementos de 25–50µg. O alvo do tratamento é manter o
TSH na metade inferior da faixa de referência para o trimestre. Quando
isso não é possível, o TSH deve ser mantido abaixo de 2,5 mU/L.
Gestantes com TSH >2,5 mU/L devem ser avaliadas quanto à pre-
sença do anti-TPO (anticorpo anti-tireoperoxidase) e o tratamento com
levotiroxina é recomendado para mulheres com anti-TPO positivo (> 35
UI/mL) e TSH acima de 2,5 mU/L, ou mulheres negativas para o
anti-TPO com TSH acima do limite superior da normalidade.
Até 85% das mulheres com hipotireoidismo tratadas com levotiro-
xina necessitam de aumento na dose durante a gestação. Mulheres com
hipotireoidismo em tratamento que engravidam devem contatar seu
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médico imediatamente e ter suas dosagens diárias de levotiroxina aumen-


tadas em 20% a 30%.

2.3 SEGUIMENTO

Depois do parto, a dosagem de tiroxina deve retornar aos níveis pré-


gravídicos e deve-se avaliar os níveis de TSH em seis a oito semanas pós-
parto. O aleitamento materno não está contraindicado para mulheres em
tratamento para hipotireoidismo. Recomenda-se o monitoramento perió-
dico com dosagem anual do TSH, dado que mudanças de peso e idade po-
dem alterar a função tireoidiana.

3. HIPERTIREOIDISMO

O hipertireoidismo incide em cerca de 0,2% das gestações. A doença


de Graves é a causa mais comum de hipertireoidismo durante a gravidez
e é responsável por 95% dos casos. É um hipertireoidismo auto-imune, me-
diado por anticorpos estimulatórios anti-receptor TSH (TRAb), produzi-
dos pelas células T, os quais estimulam o receptor de TSH e a síntese de T3
e T4 pela tireoide, de maneira independente da regulação hipofisária.
Outras causas de hipertireoidismo durante a gestação são a doença
trofoblástica gestacional, o adenoma tóxico, a tireoidite viral subaguda
(de Quervain), bócio multinodular tóxico, a tireoidite subaguda, o ade-
noma de hipófise secretor de TSH, o struma ovarii e as metástases funcio-
nais de câncer de tireoide.
A importância do diagnóstico e tratamento do hipertireoidismo du-
rante a gestação é a sua associação com abortamento, prematuridade,
crescimento intrauterino restrito, pré-eclâmpsia, natimortalidade e fa-
lência cardíaca. Mulheres com hipertireoidismo não controlado devem
adiar a gravidez até que sua doença esteja sob controle.
No último trimestre de gestação pode ocorrer remissão espontânea
do hipertireoidismo, permitindo a suspensão da medicação.

3.1 QUADRO CLÍNICO

Os sintomas de hipertireoidismo incluem taquicardia, nervosismo,


tremores, intolerância ao calor, prurido, perda de peso, bócio, diarreia,
palpitações, taquicardia (> 100 bpm), exoftalmia, e hipertensão arterial.
Embora a náusea seja comum no início da gestação, a ocorrência de

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Rede Cegonha | 424

hiperêmese gravídica com perda de peso pode significar a presença desta


patologia.

3.2 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Devido à dificuldade para estabelecer o diagnóstico clínico, a dosa-


gem laboratorial do TSH, do T4 livre e do índice de tiroxina livre são im-
portantes para confirmar a presença do hipertireoidismo na gestação.

O TSH é considerado subnormal quando entre 0,10 e 0,30mUI/l e su-


primido quando inferior a 0,1 mUI/l.

Na presença de TSH suprimido e T4 livre elevado caracteriza-se hi-


pertireoidismo clínico. Se o TSH estiver suprimido e o T4 livre normal,
denominamos hipertireoidismo subclínico.

3.2 TRATAMENTO

O objetivo do tratamento do hipertireoidismo durante a gravidez é


manter a gestante eutireoidea com o T4 livre no nível superior da norma-
lidade para evitar o hipotireoidismo fetal ou neonatal.
As principais drogas antitireoidianas utilizadas para o tratamento
são o propiltiuracil (PTU) e o metimazol (MMI). Ambas são tionamidas,
mas o PTU deve ser preferido no primeiro trimestre por sua menor passa-
gem pela barreira placentária (ainda assim pode causar bócio e hipotire-
oidismo no feto) e pela exposição ao MMI ter sido associada à aplasia cu-
tânea e a outros tipos de más-formações congênitas. A partir do segundo
trimestre de gestação, o PTU pode ser substituído pelo MMI.

Normalmente, as gestantes recebem a dose mais baixa possível de


propiltiouracil oral (50 a 100 mg, a cada 8 h) e a dose total diária deve
ser de 300 a 600mg, dependendo da severidade da doença A resposta
terapêutica é avaliada a cada 3 a 4 semanas. A dose do MMI é de 10 a
40 mg por dia, em uma ou duas tomadas.

Reações adversas comuns às duas drogas ocorrem em cerca de 3 a


12% das gestantes em uso destas drogas, variando desde reações leves e
frequentes (erupções cutâneas, prurido, intolerância gástrica, leucopenia
e anemia) até quadros incomuns e mais graves (agranulocitose, hepatoto-
xicidade), quando a medicação deve ser suspensa.
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 425

A melhora clínica é vista em quatro semanas e a normalização do


TSH ocorre entre seis e oito semanas, ou até mais. Devido ao retardo de
ajuste dos valores de TSH, a dosagem do T4 livre e T4 total devem guiar o
ajuste de dose durante o seguimento. Após o controle do hipertireoidismo,
(o qual geralmente ocorre após 20 a 30 dias), a dose pode ser reduzida gra-
dualmente até a mínima dose eficaz. A dose de manutenção deve estar
preferentemente abaixo de 150 mg ao dia de PTU.
Beta-bloqueadores (o propranolol na dose de 10 a 40 mg, a cada 6
ou8 horas) podem ser utilizados para controlar os sintomas hipermetabó-
licos e devem ser retirados tão logo ocorra o ajuste da dose do PTU, devido
risco de restrição de crescimento fetal.
É importante o cuidado de evitar o super-tratamento, o qual pode
resultar em hipotireoidismo materno e fetal. O tratamento cirúrgico (ti-
reoidectomia sub-total) é raramente indicado durante a gravidez, sendo
reservado para os casos em que doses altas de PTU forem necessárias para
controlar o hipertireoidismo. A radioiodoablação está formalmente con-
traindicado na gestação, devido ao risco de teratogenicidade e atrofia ti-
reoidiana fetal.
Em gestantes com doença de Graves eutireoidiana com dose baixa
de MMI (5-10 mg/d) ou PTU (100-200 mg/d), deve-se considerar a suspen-
são da medicação, dado o seu potencial teratogênico, e a avaliação do TSH
e T4L ou T4T dever ser feita a cada duas semanas.

3.3 SEGUIMENTO

Mulheres com doença de Graves devem ser seguidas depois do


parto, devido ao risco de recorrência ou agravamento dos sintomas nos
primeiros meses de puerpério. As mulheres assintomáticas devem ter o
TSH e o T4 livre dosados cerca de seis semanas após o parto.
O aleitamento materno não está contraindicado, mas a medicação
deve ser tomada após a mamada e deve ser dado um intervalo de três ho-
ras até a próxima mamada, para diminuir a concentração da medicação
no leite materno.

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Rede Cegonha | 426

3.4 TIIREOTOXICOSE GESTACIONAL TRANSITÓRIA (TGT)

É uma condição autolimitada, não relacionada à autoimunidade,


cujo mecanismo patogenético está relacionado ao estímulo da tireoide por
níveis sustentadamente elevados de beta-hCG. É possível que variantes
moleculares de beta-hCG com meia-vida mais prolongada e com ação tire-
otrófica mais potente sejam produzidas.
A prevalência da TGT em todas as gestações é de 2,4%, porém ela
raramente é sintomática e clinicamente significativa. Quando há sinto-
mas, estes ocorrem entre a 8ª e a 14ª semana e limitam-se até à 20ª semana.
A TGT está associada à gestação gemelar e à hiperêmese gravídica, mas
não parece estar associada a um aumento de complicações materno-fetais,
o que dispensa o uso de antitireoidianos de síntese na grande maioria das
pacientes. Para gestantes muito sintomáticas, o uso transitório de beta-
bloqueadores pode ser útil.

3.4 CRISE TIREOTÓXICA

A crise tireotóxica durante a gravidez é uma emergência obstétrica


caracterizada por estado de extremo metabolismo. Ocorre em 10% das
gestantes com hipertireoidismo e está associada com alto risco de falência
cardíaca materna.
O diagnóstico deve ser suspeitado quando a gestante apresenta uma
combinação de sintomas tais como febre, confusão mental, tonteiras, náu-
seas, diarreia e arritmias cardíacas. A infecção pode precipitar o apareci-
mento dos sintomas e deve ser sempre descartada.
O tratamento adequado da crise tireotóxica é feito com combinação
de medicamentos e medidas de suporte (oxigênio, hidratação venosa, re-
posição de eletrólitos, antipiréticos e compressas frias). O tratamento
deve ser feito em uma unidade de tratamento intensivo.
Propiltiuracil 1g pode ser dado oralmente ou, após ser macerado,
por sonda nasogástrica, e depois continuado com doses de 200mg a cada 6
horas. Pode-se associar o iodeto de sódio IV 500mg a 1g a cada 8 horas.
Vários autores recomendam o uso de quatro doses de dexametasona 2mg
IV a cada 6 horas para ajudar a bloquear a conversão periférica de T4 para
T3. O tratamento com β-bloqueadores para controlar a taquicardia ma-
terna é reservado geralmente para as gestantes com frequência cardíaca
de 120bpm ou maiores.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 427

4. NÓDULOS TIREOIDIANOS

Importante realizar inspeção e palpação da tireoide durante as con-


sultas pré-natais. Em casos suspeitos, a ultrassonografia é a ferramenta
mais acurada para detectar nódulos tireoidianos, determinar suas carac-
terísticas, monitorizar o crescimento e avaliar os linfonodos cervicais.
• Padrão ultrassonográfico de alta suspeição: nódulos hipo-
ecóicos com bordas irregulares, altura maior que a lar-
gura, com microcalcificações, os quais têm relação com
chance de malignidade maior que 70%.
• Padrão ultrassonográfico de baixa suspeição: nódulo
misto, sólido-cístico ou espongiforme têm risco menor que
3% de malignidade.

A aspiração por agulha fina (PAAF) é um método diagnóstico seguro


na gravidez e pode ser realizada em qualquer trimestre.

Figura 1: Fluxograma diagnóstico e de conduta na doença nodular tireoidiana de-


tectada na gestação. (Fonte: Tireóide e gravidez. Arq Bras Endocrinol Metab [on-
line]. 2008).

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Rede Cegonha | 428

REFERÊNCIAS

Bertoluci M. Tireoide e Gravidez. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Meta-


bologia. 2011; 522011. p. 679-94. Disponível em: file:///C:/Users/User/Downlo-
ads/NOVASRotinasemObstetrcia2009Final.pdf.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Ações Programáticas Estratégicas. Manual Técnico de Gestação de Alto Risco. Sé-
rie A. Normas e Manuais Técnicos. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde – 5º edição, Brasília – DF, 2012. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gesta-
cao_alto_risco.pdf.
Couto E, Cavichiolli F. Doenças da tireoide na gestação. São Paulo: Federação Bra-
sileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); 2018. (Protocolo
FEBRASGO - Obstetrícia, no. 49/ Comissão Nacional Especializada em Gestação de
Alto Risco).
Delitala AP, Capobianco G, Cherchi PL, Dessole S, Delitala G. Thyroid function and
thyroid disorders during pregnancy: a review and care pathway. Archives of
gynecology and obstetrics. 2019;299(2):327-38.
Maciel LMZ, Magalhães PKR. Tireóide e gravidez. Arquivos Brasileiros de
Endocrinologia &amp; Metabologia. 2008;52(7):1084-95.
Stagnaro-Green A, Abalovich M, Alexander E, Azizi F, Mestman J, Negro R, et al.
Guidelines of the American Thyroid Association for the diagnosis and
management of thyroid disease during pregnancy and postpartum. Thyroid.
2011;21(10):1081-125.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 429

TOXOPLASMOSE E GESTAÇÃO

1. DEFINIÇÃO

A toxoplasmose é uma zoonose causada pelo Toxoplasma gondii que


é um parasita com ciclo biológico de duplo hospedeiro. O gato, onde
ocorre o ciclo reprodutivo, é o hospedeiro definitivo. Outros animais, in-
cluindo o homem, são hospedeiros intermediários.
A toxoplasmose adquire especial relevância quando atinge a ges-
tante, devido ao elevado risco de acometimento fetal cuja gravidade está
relacionada à idade gestacional na qual ocorre a infecção aguda.
No início da gravidez a infecção é menos frequente, mas pode le-
var ao abortamento ou sequelas graves. O período entre 10 e 24 semanas
é considerado de maior risco. Agravos anatômicos e funcionais da toxo-
plasmose congênita, podem ser descritos:
• Restrição de crescimento intrauterino;
• Morte fetal, hidropsia fetal;
• Prematuridade e suas manifestações clínica;
• Microftalmia, lesões oculares, cegueira;
• Microcefalia, hidrocefalia, calcificações intracranianas;
• Pneumonite;
• Hepatoesplenomegalia;
• Erupção cutânea;
• Retardo mental;
• Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor;
• Surdez.

O Ministério da Saúde, por meio da Lista de Notificação de Doenças


e Agravos Compulsórios, recomenda o monitoramento (notificação obri-
gatória) dos casos de toxoplasmose gestacional (CID 10 O98.6 “Doenças
causadas por protozoários complicando a gravidez, o parto e o puerpé-
rio”).

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Rede Cegonha | 430

2. TRANSMISSÃO

A transmissão da toxoplasmose pode ocorrer pela ingestão de oo-


cistos por contato direto com fezes de gato ou manipulação de água ou
alimentos contaminados. Também pode ocorrer por ingestão de cistos te-
ciduais em carnes cruas ou mal cozidas.
Além das vias supracitadas, ainda pode ocorrer a transmissão ver-
tical transplacentária. Esta ocorre quando a mulher apresenta infecção
aguda durante a gestação.
Qualquer situação de imunocomprometimento (imunossupressão
ou imunodepressão) pode ser seguida pelo recrudescimento ou reativação
da doença. As condições comumente vinculadas são HIV, doença de Hod-
gkin e o uso de imunossupressores.

Ressalta-se que o recrudescimento em mulheres grávidas imunocom-


prometidas, infectadas antes da sua gravidez, pode levar à infecção
congênita.

3. DIAGNÓSTICO E CONDUTA

A maioria dos casos de toxoplasmose pode acontecer sem sinto-


mas ou com sintomas inespecíficos. Embora não exista consenso sobre o
real benefício do rastreamento universal para toxoplasmose na gravidez,
o Ministério da Saúde recomenda a realização da triagem sorológica, prin-
cipalmente em lugares onde a prevalência é elevada.
Diagnóstico por método indireto: sorologia para detecção de
IgG, IgM, IgA e determinação da avidez de IgG.
Diagnóstico por métodos diretos: técnicas moleculares de Rea-
ção em Cadeia da Polimerase (PCR e PCR em tempo real), por isolamento
(cultivos celulares e inoculação em camundongos) e histológico ou imu-
nohistológico.
Os métodos utilizados para confirmação dos casos pelos Laborató-
rios Centrais de Saúde Pública têm sido a sorologia IgM e IgG e avidez de
IgG.
Eventualmente, realizam PCR de acordo com a capacidade labora-
torial.
Recomenda-se a triagem por meio da detecção de anticorpos da
classe IgG e IgM na primeira consulta de pré-natal, uma vez que o diag-
nóstico é eminentemente laboratorial.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 431

Quadro 1: Cinética das imunoglobulinas para diagnóstico da toxoplasmose gestacio-


nal (fonte: BRASIL, 2014; MITSUKA-BREGANÓ, 2010).

O teste de avidez de IgG é importante para determinar a época da


infecção pelo toxoplasma na gestante, visto que alta avidez indica que
os anticorpos foram produzidos há mais de 12-16 semanas.

A conduta recomendada frente resultados de sorologia de IgM e IgG


para toxoplasmose encontra-se resumido no quadro a seguir:

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Rede Cegonha | 432

Quadro 2: Conduta recomendada frente resultados de sorologia de IgM e IgG para


toxoplasmose (fonte: Adaptado do livro Gestação de alto risco: manual técnico. Mi-
nistério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, 5. ed. Brasília: Editora do Ministé-
rio da Saúde, 2012. 302 p.)

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 433

3.1 GESTANTES IgG POSITIVO E IgM NEGATIVO (IMUNES)

- Gestante com doença antiga ou toxoplasmose crônica.


- Não há necessidade de novas sorologias.

3.2 GESTANTES IgM e IgG NEGATIVOS (SUSCEPTÍVEIS)

Quando são identificadas gestantes suscetíveis, deve-se adotar a


prevenção primária através das medidas listadas no quadro 1.
Além disso, todas as gestantes susceptíveis devem realizar, no mí-
nimo, três sorologias durante a gestação visando prevenir a transmissão
fetal e também proporcionar o tratamento caso haja contaminação intra-
útero.

PREVENÇÃO PRIMÁRIA EM GESTANTES SUSCEPTÍVEIS


• Lavar as mãos ao manipular alimentos;
• Lavar bem frutas, legumes e verduras antes de se alimentar;
• Não ingerir carnes cruas, mal cozidas ou mal passadas, incluindo em-
butidos (salame, copa, etc.);
• Evitar contato com o solo e terra de jardim; se indispensável, usar
luvas e lavar bem as mãos após;
• Evitar contato com fezes de gato no lixo ou solo;
• Após manusear a carne crua, lavar bem as mãos, assim como também
toda a superfície que entrou em contato com o alimento e todos os
utensílios utilizados;
• Não consumir leite e seus derivados crus, não pasteurizados, seja de
vaca ou de cabra;
• Propor que outra pessoa limpe a caixa de areia dos gatos e, caso não
seja possível, limpá-la e trocá-la diariamente, utilizando luvas e pazi-
nha;
• Alimentar os gatos com carne cozida ou ração, não deixando que es-
tes ingiram caça;
• Lavar bem as mãos após contato com os animais.

Quadro 3: Medidas de prevenção primária em gestantes susceptíveis.

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Rede Cegonha | 434

3.3 GESTANTES IgM POSITIVO E IgG NEGATIVO (POSSIBILIDADE DE


INFECÇÃO DURANTE A GESTAÇÃO)

- Iniciar espiramicina imediatamente.


- Repetir a sorologia em três semanas:
• IgG positiva: confirma-se a infecção.
• IgG negativa: suspender a espiramicina, orientar prevenção pri-
mária e repetir sorologia de três em três meses e no momento do
parto. (IgM falso positivo).

3.4 GESTANTES IgM E IgG POSITIVOS

• NAS PRIMEIRAS 16 SEMANAS GESTACIONAIS: deve- se rea-


lizar o TESTE DE AVIDEZ.

A presença de baixa avidez de IgG associada ao resultado positivo


de IgM e IgG indica uma infecção recente, adquirida durante a gestação ou
antes dela, pois baixos índices de avidez podem durar até um ano. Nesses
casos, a repetição da sorologia após 2 a 3 semanas pode mostrar elevação
dos títulos dos anticorpos IgM e IgG evidenciando uma infecção aguda, ou
mostrar títulos estáveis de IgG e persistentemente baixos de IgM mos-
trando que a infecção ocorreu há alguns meses e estamos diante de IgM
residual.
É importante destacar que, na gestante, a associação entre baixa
avidez de IgG e títulos elevados de IgM e IgG são fortemente sugestivos de
infecção aguda adquirida na gestação.
Avidez forte e gestação < 16 semanas: infecção adquirida antes da
gestação, não há necessidade de mais testes.

Não são requeridos exames de avidez após a 16ª semana de gestação


pois a avidez alta não descarta a infecção adquirida durante a gesta-
ção.

• APÓS A 16ª. SEMANA GESTACIONAL: iniciar espiramicina, se an-


tes da 30ª semana e esquema tríplice após a 30ª semana.

Se há suspeita de infecção aguda materna, deve-se encaminhar a ges-


tante para centro especializado em medicina fetal para realização de

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 435

amniocentese, visando avaliar a presença de infecção fetal por análise do


líquido amniótico por meio de PCR.

4. PROFILAXIA E TRATAMENTO

O uso da Espiramicina em gestantes no quadro agudo de toxoplas-


mose pode reduzir em até 50% a transmissão vertical.

Todas as gestantes com diagnóstico de infecção aguda


ou aguardando confirmação devem receber a profilaxia.

Em gestantes suscetíveis com quadro clínico sugestivo de doença


aguda, rash cutâneo e/ou linfadenomegalia, deve ser solicitada sorologia
e introduzida espiramicina até a confirmação diagnóstica, para depois re-
definir a conduta.

A profilaxia é realizada com Espiramicina 500mg


(1.500.000 UI - 2 comprimidos a cada 8 horas.

Deve ser iniciada na suspeita diagnóstica e mantida até o parto. Se


descartada a infecção aguda, a profilaxia pode ser suspensa.
Caso a infecção fetal seja confirmada pelo procedimento invasivo,
deve-se iniciar o tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folí-
nico e mantê-lo até o parto. O tratamento é contraindicado no primeiro
trimestre, devendo ser iniciado a partir de 15 semanas.

- Sulfadiazina 500mg, 2 comprimidos VO a cada 8 horas


- Pirimetamina 25mg, 1 comprimido VO a cada 12 horas
- Ácido folínico 15mg, 1 comprimido VO ao dia

Na toxoplasmose adquirida após a 30ª semana da gestação, o risco


de infecção fetal é alto o suficiente para dispensar procedimentos de di-
agnóstico fetal e indicar o início imediato do tratamento em esquema trí-
plice (pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico).
Durante o tratamento é necessário realizar o controle materno
com hemograma a cada duas semanas. Devido à alta toxicidade das drogas
utilizadas há risco de alterações como anemia megaloblástica, e nesses ca-
sos o tratamento deve ser suspenso e substituído pela profilaxia com Es-
piramicina. O ácido folínico é imprescindível para a prevenção de aplasia
medular causada pela pirimetamina.
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Rede Cegonha | 436

Em relação ao acompanhamento fetal, deve ser realizado com con-


trole ultrassonográfico a cada quinze dias, pesquisando sinais de anemia
fetal como a hidropsia. Além disso, aconselha-se a avaliação de vitalidade
fetal semanal.

5. AMAMENTAÇÃO

A toxoplasmose materna não contraindica a amamentação, em ne-


nhuma das duas situações, uma vez que não há nenhuma evidência de que
a toxoplasmose possa ser transmitida através do leite materno.

REFERÊNCIAS

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico / Minis-
tério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programá-
ticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2012. 302 p.
– (Série A. Normas e Manuais Técnicos).
Brasil. Ministério da Saúde. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres /
Ministério da Saúde, Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa – Brasília: Mi-
nistério da Saúde, 2016. 230 p.: il.
FEBRASGO. Toxoplasmose. FEBRASGO, 2017. Disponível em: https://www.fe-
brasgo.org.br/pt/noticias/item/185-toxoplasmose.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de Notificação e Investigação:
Toxoplasmose gestacional e congênita [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde,
Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças
Transmissíveis. – Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
Brasil Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA Nº 163/2018-CGAFME/DAF/SCTIE/MS.
Disponível em: https://central3.to.gov.br/arquivo/420107/.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 437

TRABALHO DE PARTO PREMATURO

1. DEFINIÇÃO

É o trabalho de parto que acontece quando a gestação se encontra


entre 22 e 37 semanas. A prematuridade permanece, nos dias atuais,
como sério problema perinatal, sendo responsável por aproximada-
mente 75% de toda morbidade e mortalidade neonatais.

2. DIAGNÓSTICO

a) Atividade uterina regular com contrações em intervalos de 5 a 8


min, e duração mínima de 20 segundos, mantendo esse padrão
por, no mínimo, 30 minutos;
b) Alteração progressiva da cérvice uterina com dilatação de 2 cm ou
mais, apagamento cervical de 50%;
c) Outros elementos que, se presentes, favorecem o diagnóstico de
TPP são: formação da “bolsa das águas”, colo solicitado pela
apresentação fetal e rotura prematura de membranas.

3. EXAMES COMPLEMENTARES

✓ Sumário de urina + urocultura com antibiograma


✓ Exame especular
✓ Ultrassonografia obstétrica
✓ Cardiotocografia se IG > 32 semanas
✓ Pesquisa para estreptococo do grupo B

4. CONDUTA

4.1 INTERNAÇÃO HOSPITALAR

Necessário para acompanhar a evolução das alterações do colo


uterino e para início da tocólise. Não é necessário manter a paciente em
repouso absoluto no leito.
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Rede Cegonha | 438

4.2 TOCOLISE (23 a 34 semanas)

O uso de agentes tocolíticos ou inibidores das contrações uterinas


deve ser iniciado assim que se concluir pelo diagnóstico de trabalho de
parto prematuro, respeitadas as contraindicações para o seu uso.

O objetivo da tocólise não é só inibir as contrações uterinas, mas


ganhar tempo necessário para a ação da corticoterapia e/ou
transporte materno-fetal com segurança para um centro de
referência.

Contraindicações

• Maternas: corioamnionite, sangramento grave;


• Fetais: morte fetal, anomalias fetais incompatíveis com a vida,
alteração na vitalidade fetal;
• Contraindicações relacionadas às drogas (tocolíticos).

A) NIFEDIPINA (Inibidor do canal de cálcio - Droga de escolha)

Mostrou-se mais efetiva tanto no retardamento do trabalho de


parto prematuro, em relação aos beta-miméticos, além de possuir menos
efeitos colaterais, sendo, portanto, o medicamento de escolha.

o Dose de ataque: 20mg VO a cada 20 min se persistência das


contrações (total de 3 doses).
o Dose de manutenção: 20mg a cada 6 horas nas primeiras 24 horas
e a cada 8horas nas 24 horas seguintes.

Dose máxima diária – 180mg

Contraindicações: IAM, hipotensão arterial, insuficiência cardíaca,


doença do nó sinusal, hipersensibilidade à nifedipina, estenose aórtica
avançada, angina instável e pós-infarto, porfiria.

Efeitos colaterais: cefaleia, edema, sensação de mal estar, vertigens,


prisão de ventre, tremores, tonturas, palpitações, desmaio.

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 439

B) TERBUTALINA (betamimético)

Os múltiplos efeitos colaterais têm restringido o uso de betamiméticos


(dor torácica, dispneia, taquicardia, palpitação, tremores, cefaleia,
hipocalemia, hiperglicemia, náuseas/vômitos, obstrução nasal e
taquicardia fetal, edema agudo de pulmão, aumento de tendência ao
sangramento em cesarianas).

o Dose de ataque: adicionar 5 ampolas em 500mL de soro glicosado


a 5%; iniciar com 10-20 gotas/minuto, EV. Pode ser administrado
em bomba de infusão, na velocidade de 120mL/hora (equivalente
a 40 gotas por minuto)

Observar a tolerância da paciente; manter o pulso materno abaixo


de 120 bpm e os batimentos cardíacos fetais abaixo de 180bpm;
Se necessário, aumentar 10-20 gotas/minuto a cada 20-30 minutos
até obter a inibição e manter esta infusão em torno de 12 horas (dose
máxima de 80 gotas/minuto, que só poderá ser atingida desde que a
gestante e o feto estejam suficientemente monitorados em relação a
efeitos colaterais cardiovasculares e metabólicos, devendo ser reduzida
ou suspensa a infusão em qualquer dosagem, se tais efeitos manifestarem-
se).

o Dose de manutenção: após 12 horas, na ausência de contrações,


diminuir 10-20 gotas/minuto, a cada 20-30 minutos, mantendo
dose mínima necessária por cerca de mais 12 horas.

Contra-indicações: hipersensibilidade aos componentes da


fórmula.

C) ATOSIBAN (Antagonistas de receptores de ocitocina)

Revisão sistemática da Biblioteca Cochrane (com 14 estudos


envolvendo 2485 pacientes), a respeito do uso dos antagonistas de
receptores de ocitocina (principalmente o atosiban), para inibir o trabalho
de parto prematuro, não conseguiu demonstrar qualquer
superioridade do fármaco em relação aos betamiméticos, placebo ou
nifedipina.
Possui duas apresentações (0,9mL e 5mL), ambas contendo
7,5mg/mL. A 1ª para injeção EV em bolus e a 2ª para infusão EV.
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Rede Cegonha | 440

Fase 1 (ATAQUE): infusão, via endovenosa, de um frasco de 0,9mL


(total de 6,75mg), correr em 1 minuto.
Fase 2: dois frascos de 5mL são adicionados em 90mL de soro
(Glicosado, Fisiológico ou Ringer Lactato), realizando-se infusão
de 24mL/hora, durante três horas; portanto, são infundidos, nesse
período, 72mL. O restante (28mL) é injetado 8mL/hora por mais
três horas e meia. (tempo total: 6h e meia)
Fase 3 (caso persistam as contrações): nova solução é preparada
com 10mL (dois frascos de 5ml) de atosiban em 90mL de soro,
mantendo-se a infusão de 8mL/hora por até 48 horas. Essas 3 fases
do atosiban podem ser repetidas, em casos muito bem-
selecionados, por até 3 vezes, no período de até 48h do início do
tratamento.
Efeitos colaterais: náuseas, hiperglicemia, cefaleia, tonturas,
palpitações, hipotensão, vômito, fogacho, reação local, insonia,
prurido, febre, hemorragia uterina, hipersensibildade, dispneia,
edema agudo do pulmão.

Pontos importantes:

o Duração média da tocólise: 48 horas (tempo da corticoterapia);


o Se não inibir, iniciar Penicilina Cristalina (profilaxia para EGB);
o Uso por tempo superior a 48-72 horas não mostrou benefício
(nível A), devendo ser realizado apenas em casos
seleccionados (idade gestacional muito precoce, com bem-
estar fetal assegurado e sem comprometimento infeccioso);
o A utilização da tocólise entre 34-36 semanas deve ser
individualizada de acordo com as
condições da paciente e do local de atendimento;
o O uso da progesterona, 200mg, via vaginal, parece ser a opção mais
segura e promissora terapêutica de manutenção pós-tocólise.

4.3 CORTICOTERAPIA (23 e 36 semanas e 6 dias)

Utiliza-se betametasona e dexametasona por serem fluorocorti-


cóides e atravessarem a barreira placentária.

Betametasona – 12mg IM, repete com 24h ou


Dexametasona 6mg IM 12/12h 4 doses

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 441

Obs: os efeitos atingem seu benefício máximo se o parto ocorrer após 24


horas da última dose.

RESGATE:
Sugere-se repetição da corticoterapia após 15 dias da dose de ataque
inicial se apresentar novo episódio com risco elevado de parto pré-
termo antes de 34 semanas.

4.4 ANTIBIOTICOPROFILAXIA DA SEPSE NEONATAL PELO


ESTREPTOCOCO DO GRUPO B (EGB)

Gestantes em trabalho de parto ou com rotura de membranas


anterior à 37ª semana, com risco iminente e significativo de parto
prematuro, que tenham cultura positiva para EGB, ou se a cultura não foi
realizada.

– Penicilina G 5 milhões UI IV seguida por 2.5 milhões UI IV de 4 em 4h


OU;
– Ampicilina 2,0g IV seguida por 1,0g IV de 4 em 4h.

Se a gestante for alérgica à Penicilina, usar Clindamicina 600mg IV de 6/6h


Outra opção: Cefazolina: 2 g, EV, dose de ataque; a seguir, 1 g, EV,8/8 horas
Obs.: Manter até o parto.

Outras indicações para profilaxia de infecção por EGB, independente-


mente da idade gestacional em gestantes com cultura não realizada:

• Membranas rotas >18h;


• Bacteriúria por EGB;
• História de recém-nascido prévio infectado por EGB;
• Temperatura intraparto maior ou igual a 38°C.

4.5 NEUROPROTEÇÃO COM SULFATO DE MAGNÉSIO (23– 32 SEMANAS)

O uso de sulfato de magnésio reduz significativamente o risco de


paralisia cerebral, distúrbio motor e do composto morte e paralisia
cerebral em prematuros.

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Rede Cegonha | 442

- Ataque: MgSO4 50% - 12ml (6g) + SG 5%, SF 0,9% ou SRL 100ml EV


em 20 a 30 minutos.
- Manutenção: MgSO4 50% - 12ml (6g) + SG 5%, SF 0,9% ou SRL 488ml
em BIC (84ml/h) 6/6h.

o Indicações:

- Parto iminente (dilatação 4 cm ou mais, com modificação


progressiva do colo associado a dinâmica uterina regular) em 12h;
- Trabalho de parto inicial com rotura prematura de membranas;
- Parto eletivo por indicação materna ou fetal, seja cesariana ou
parto vaginal (em caso de indicação de parto vaginal com indução,
somente iniciar o protocolo quando dilatação for maior que 4 cm).

o Duração do tratamento:

Dose de manutenção até o parto ou máximo de 12h;


O Sulfato de Magnésio deve ser suspenso caso trabalho de parto não
seja mais iminente em 12h (ausência de dilatação cervical progressiva
no intervalo de 4 horas entre as avaliações)

Em caso de cesariana: Iniciar o protocolo 4h antes do parto (Ataque 4h


antes do parto e manter dose de manutenção até o parto).

o Retratamento:

Se o sulfato de magnésio foi suspenso há > 6h: reiniciar o protocolo


(ataque e manutenção).

4.6 ANTIBIOTICOS NA PRESENÇA DE SLUDGE

Sludge é definido como um agrupamento de partículas (agregados


bacterianos e células inflamatórias) assemelhando-se a lama ou barro,
próximo ao canal cervical observado pela ultrassonografia transvaginal.
Pacientes que apresentam esse marcador possuem maior risco de
infecção intra-amniótica podendo levar a corioamnionite e parto
prematuro mesmo com membranas íntegras. Antibioticoterapia reduz a
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Protocolo de Assistência Obstétrica | 443

chance de nascimento espontâneo antes de 34 semanas e está indicada se


existir sinal de sludge no líquido amniótico associado a colo menor que
25mm ou antecedente de alto risco (trabalho de parto prematuro anterior,
conização do colo uterino, malformação Mulleriana, perda fetal
espontânea no segundo trimestre).

o Colo maior que (10mm) – Clindamicina 300mg 6/6h +


Cefalexina 500mg 6/6h 7 dias VO.
o Colo menor que (10mm) – Clindamicina 600mg 6/6h +
Cefazolina 1g 6/6 h EV por 48h

Manter Clindamicina 300mg 6/6h / Cefalexina 500mg 6/6h VO por


mais 8 dias (10 dias de tratamento).

Obs: Orienta-se o uso de probióticos durante o tratamento.

Figura 1: Imagem ultrassonográfica da presença de sludge ( Acervo da


maternidade do Hospital Universitário Lauro Wanderley)

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Rede Cegonha | 444

4.7 ORIENTAÇÕES PÓS-ALTA

• Repouso físico e sexual;


• Retorno ao pré-natal de alto risco em 7 a 15 dias;
• Progesterona natural micronizada 200mg/dia, via vaginal, até 36
semanas, se antecedente de parto prematuro em gestação
anterior e colo curto (menor que 2,5cm).

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 445

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Rede Cegonha | 446

TROMBOEMBOLISMO VENOSO NO
CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL

1. INTRODUÇÃO

O tromboembolismo venoso (TEV) inclui a trombose venosa pro-


funda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP). É uma complicação
comum em pacientes hospitalizados e importante causa de morbidade e
mortalidade obstétrica.

Durante a gestação, o risco de sua ocorrência aumenta entre 5 e 10


vezes e o risco permanece elevado após o parto, chegando a aumentar
em 20 vezes no puerpério.
A admissão hospitalar durante a gravidez é associada a um aumento
de 18 vezes no risco de TEV em comparação ao risco basal fora do
hospital.

A trombose de membros inferiores (TVP) é responsável por 75% a


80% dos episódios de TEV na gestação. Há predomínio de 83,8% do mem-
bro inferior esquerdo. Podem cursar com síndrome pós-trombótica que
consiste em insuficiência venosa crônica sintomática após TVP.
O TEP pode ser de difícil diagnóstico na gravidez, pois os sintomas
podem facilmente ser confundidos com os da gestação: dispneia e taqui-
cardia. Além disso, a embolia pulmonar na gravidez pode levar a morte
materna em um terço dos casos sendo uma das principais causas de morte
materna no mundo.
A gestante apresenta os três componentes etiopatogênicos da tríade
de Virchow:

a) Estase, devido à compressão das veias cava e ilíaca comum es-


querda pelo útero gravídico e à diminuição do tônus venoso
por causa da ação miorrelaxante da progesterona;

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Protocolo de Assistência Obstétrica | 447

b) Hipercoagulabilidade, secundária à indução da síntese hepá-


tica dos fatores VII, VIII e X de coagulação pelo estriol placen-
tário, aumento do fibrinogênio e do inibidor do ativador do
plasminogênio tipo I e II, e diminuição da síntese de proteína
S;

c) Lesão endotelial, que ocorre na nidação, remodelação endo-


vascular das artérias uteroespiraladas e com a dequitação.
Este risco de tromboembolismo é ainda maior nos primeiros
quinze dias do puerpério (em média, dez vezes maior).

No Brasil, embora não aparecendo entre as causas principais, a sua


ocorrência deve merecer a devida atenção já que muitos casos de embolia
pulmonar são preveníveis com uma tromboprofilaxia adequada que é fre-
quentemente subutilizada.

A tromboprofilaxia eficaz é critério de qualidade de todos os serviços


de saúde e os protocolos de profilaxia do TEV devem estar sempre
atualizados!

2. QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO

2.1 TVP
• Edema de membros inferiores, acompanhado ou não de
dor e empastamento na panturrilha;
• Dor nas extremidades;
• Diminuição do pulso;
• Palpação de cordão endurecido no membro afetado;
• Sinal de Homan (dorsiflexão do pé provocando dor em
panturrilha);
• Diferença de 2 cm entre a circunferência do membro
afetado e o normal.

O exame diagnóstico de escolha é a ultrassonografia (USG) com Do-


ppler do membro inferior.

2.2 TEP
• Dispneia;
• Dor pleurítica;
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Rede Cegonha | 448

• Dor torácica não pleurítica;


• Hemoptise e síncope;
• Taquidispneia, taquicardia e febre;
• Sinais de insuficiência cardíaca congestiva direita,
hipotensão, convulsões e deterioração clínica nos casos
mais graves.

Deve ser realizada gasometria arterial e raio-X de tórax (para ex-


cluir outros diagnósticos). Pode-se solicitar USG com Doppler bilateral de
membros inferiores em busca de TVP. Nos casos de TEP, a angiotomogra-
fia pulmonar (angio CT) é o exame de imagem diagnóstico de escolha.

3. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO E TERAPÊUTICA INDICADA

Toda mulher deve ser submetida a uma avaliação de risco para


TEV na gestação e essa avaliação deve ser reforçada se a mulher for in-
ternada por qualquer motivo ou a qualquer momento durante a gravi-
dez. São classificadas em:

3.1 ALTO RISCO

• Tromboembolismo prévio;
• Trombofilia hereditária ou adquirida de alto risco (SAF, homozi-
gose para fator V de Leiden e para mutação da protrombina – fator
II, deficiência de antitrombina, associação de duas ou mais trom-
bofilia);
• Necessidade de heparina de baixo peso molecular (HPBM) durante
a gestação.

3.2 RISCO INTERMEDIÁRIO

1. Mulheres portadoras das seguintes comorbidades:


• Doença cardiovascular ou pulmonar descompensada;
• LES em atividade;
• Câncer;
• Condições inflamatórias (doença intestinal inflamatória,
poliartropatia inflamatória);
• Síndrome nefrótica, (proteinúria > 3 g/dia);

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• Anemia falciforme;
• Diabetes Mellitus tipo I com nefropatia;
• Trombofilias de baixo risco ((heterozigose para fator V de
Leiden e para mutação da protrombina – fator II, deficiên-
cia de proteína C e proteína S);
* mutação da MTHFR não é trombofilia;
• Usuária de drogas endovenosas.

2. Mulheres que possuam DOIS ou mais fatores de risco menores


listados a seguir:
• Idade maior que 35 anos;
• Obesidade (IMC > 30 kg/m2);
• Gestação gemelar;
• Tabagismo;
• Pré-eclampsia leve;
• História familiar de TEV não provocado ou relacionado a
estrogênio em parente de primeiro grau;
• Veias varicosas grossas;
• Cesárea de emergência;
• Multiparidade (≥4).

3. Mulheres que possuam UM fator de risco maior listados a seguir:


• Procedimento cirúrgico no puerpério;
• Veias varicosas acentuadas associada a flebite ou trombo;
• Imobilidade: Paraplegia, viagem de longa distância (mais de
4h), internação (≥ 3 a 5 dias de repouso no leito);
• Gravidez múltipla (3 ou mais fetos);
• Terapia de reprodução assistida (FIV, hiperestimulação ovari-
ana);
• Pré-eclâmpsia grave;
• Hemorragia pós-parto (> 1 litro) que requer transfusão;
• Internação ou imobilidade;
• Infecção sistêmica (infecção puerperal, pielonefrite);
• Procedimentos cirúrgicos na gestação (laparotomia, apendi-
cectomia).

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3.3 BAIXO RISCO

Nenhum fator de risco listado acima.

4. CONDUTA

Divide-se em conduta profilática, naquelas que possuem risco alto e


moderado e terapêutica naquelas com quadro agudo de TVP.

4.1 CONDUTA PROFILÁTICA

• ENOXAPARINA SC (seguro para pacientes com peso entre 40 e 120


kg)

Gestação: 1º e 2º trimestres → 40mg/dia


3º trimestre → 1mg/Kg/dia

Puerpério: 40mg/dia

• HEPARINA NÃO FRACIONADA (LIQUEMINE)

(melhor opção para portadoras de doença renal crônica)

Gestação: 1º trimestre: 5.000UI SC de 12/12h


2º trimestre: 5.000UI SC de 8/8h ou 7.500UI de 12/12h
3º trimestre: 10.000UI SC de 12/12h

Puerpério: 5.000UI SC de 8/8h

ALTO RISCO – Devem manter profilaxia medicamentosa e meias compres-


sivas por 6 semanas após o parto.
RISCO INTERMEDIÁRIO – Devem manter profilaxia medicamentosa e
meias de compressão durante a internação, preferencialmente por até 10
dias. (Manter meias compressivas por 6 semanas se fator de risco persis-
tente).
BAIXO RISCO - estimular deambulação precoce e evitar desidratação.

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4.2 CONDUTA TERAPÊUTICA (quadro agudo de TVP)

ENOXAPARINA: 1mg/ Kg SC de 12/12h

WARFARIN (Indicado no puerpério, 24h após o parto)

Esquema: a conduta é baseada nos valores de INR (Razão


Normalizada Internacional)

Dia 1: iniciar enoxaparina; Solicitar INR basal; Solicitar plaquetas;


Dia 2: associar warfarin 10 mg
Dia 3: manter warfarin 10mg
Dia 4 diminuir warfarin para 5mg
Dia 5: solicitar INR a cada 48h

➢ Se INR < 2: aumentar 2,5mg de Warfarin em dias alternados; se INR


continuar < 2 após ajuste de dose, aplicar o aumento de warfarin
2,5mg para todos os dias.
➢ Se INR entre 2-3: suspende enoxaparina; faz novo INR e plaquetas
após 24h; se o INR se mantiver entre 2-3, ALTA.
➢ Se INR >3, diminuir 2,5mg de warfarin em dias alternados; se
INR<2, aplicar aumento de warfarin 2,5mg para todos os dias.

5. ORIENTAÇÕES ANTE-PARTO

Suspender anticoagulação quando:

• 12 horas antes da cesariana ou da indução eletiva do parto para


pacientes em uso de Heparina de baixo peso molecular (HBPM) –
dose profilática;
• 24 horas antes da cesariana ou da indução eletiva do parto para
pacientes em uso de HBPM – dose intermediária ou terapêutica;
• Para pacientes em uso de Heparina não-fracionada (HNF - li-
quemine ou heparina): suspender 6h antes no caso de dose profi-
lática e 12 horas antes se dose terapêutica. No caso de parto de
emergência pode se utilizar sulfato de protamina (ampolas de
5mL, da dose de 10mg/ml) fazer 1mg para cada 100U de heparina
utilizada nas últimas 4 horas, lentamente EV (20 min).

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6. ORIENTAÇÕES APÓS O PARTO

• HPMB após 8 a 12h se raquianesteia.


• HPMB imediatamente se anestesia geral.

7. CONTRAINDICAÇÕES OU NECESSIDADE DE SUSPENSÃO DA ANTI-


COAGULAÇÃO

• Sangramento ativo;
• Alergia ou plaquetopenia (queda de 50% do valor basal) induzidas
por heparina;
• Hipertensão arterial não controlada (≥ 180 x 110 mmHg);
• Coagulopatia (plaquetopenia < 70 mil ou TP com INR >1,5);
• Insuficiência renal (creatinina > 1,5mg/dL);
• Peso < 40 kg.

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