Manual 2019
Manual 2019
Manual 2019
PREVENIR.
Madalena-CE
2019
1. INTRODUÇÃO
Fonte: DATASUS/ SIM e Secretaria da Saúde do Estado do Ceará: dados tabulados pelo autor
Mitos Verdades
O suicídio é uma decisão individual, já que FALSO. Os suicidas estão passando quase
cada um tem pleno direito a exercitar o seu invariavelmente por uma doença mental que
livre arbítrio altera, de forma radical, a sua percepção da
realidade e interfere em seu livre arbítrio. O
tratamento eficaz da doença mental é o pilar
mais importante da prevenção do suicídio.
Após o tratamento da doença mental o desejo
de se matar desaparece.
Quando uma pessoa pensa em se suicidar terá FALSO. O risco de suicídio pode ser eficaz-
risco de suicídio para o resto da vida. mente tratado e, após isso, a pessoa não estará
mais em risco.
As pessoas que ameaçam se matar não farão FALSO. A maioria dos suicidas fala ou dá sinais
isso, querem apenas chamar a atenção. sobre suas ideias de morte. Boa parte dos
suicidas expressou, em dias ou semanas
anteriores, frequentemente aos profissionais
de saúde, seu desejo de se matar.
Se uma pessoa que se sentia deprimida e FALSO. Se alguém que pensava em suicidar-se
pensava em suicidar-se, em um momento e, de repente, parece tranquilo, aliviado, não
seguinte passa a se sentir melhor, normal- significa que o problema já passou. Uma
mente significa que o problema já passou. pessoa que decidiu suicidar-se pode sentir-se
“melhor” ou sentir-se aliviado simplesmente
por ter tomado a decisão de se matar.
Quando um indivíduo mostra sinais de FALSO. Um dos períodos mais perigosos é
melhora ou sobrevive à uma tentativa de quando se está melhorando da crise que
suicídio, está fora de perigo. motivou a tentativa, ou quando a pessoa ainda
está no hospital, na sequência de uma
tentativa. A semana que se segue à alta do
hospital é um período durante o qual a pessoa
está particularmente fragilizada. Como um
preditor do comportamento futuro é o
comportamento passado, a pessoa suicida
muitas vezes continua em alto risco.
Não devemos falar sobre suicídio, pois isso FALSO. Falar sobre suicídio não aumenta o
pode aumentar o risco. risco. Muito pelo contrário, falar com alguém
sobre o assunto pode aliviar a angústia e a
tensão que esses pensamentos trazem.
É proibido que a mídia* aborde o tema do FALSO. A mídia tem obrigação social de tratar
suicídio. desse importante assunto de saúde pública e
abordar esse tema de forma adequada. Isto
não aumenta o risco de uma pessoa se matar;
ao contrário, é fundamental dar informações à
população sobre o problema, onde buscar
ajuda etc.
Fonte: Associação Brasileira de Psiquiatria, 2014: Suicídio: conhecendo para prevenir.
*Para saber mais sobre de como a mídia deve abordar sobre o suicídio, veja a cartilha comportamento suicida
conhecer para prevenir: dirigido aos profissionais da imprensa, ao o site da Associação Brasileira de
Psiquiatria no seguinte link: https://www.abp.org.br/manual-de-imprensa
3. CONCEITOS
Nessa seção, será abordado os conceitos como: o que é o suicídio, ideação suicida,
intenção suicida, comportamento suicida, tentativa de suicídio e por fim, risco de suicídio:
4.1 No mundo:
4.2 No Brasil:
4.3 No Ceará:
✓ No ano de 2018, ocorreram 645 óbitos, ou seja, em média 2 casos por dia;
✓ Dos 645 óbitos autoprovocados em 2018, 530 foram praticados pelo sexo
masculino, contra 115 casos do sexo feminino;
4.4 Na Madalena-CE:
✓ A faixa etária onde teve mais casos, foi entre 20-29 anos com 9 casos (28%),
e em segundo lugar, na faixa etária entre 40-49 anos com 7 casos (22%);
Fontes: Relatórios da OMS, 2014;2018; DATASUS; SIM; SVS-CE; Id. Mortalidade por suicídio na cidade de
Madalena-CE,1997-2018: um estudo quantitativo comparativo.
5. O PAPEL DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NA PREVENÇÃO, AVALIAÇÃO
E NA ABORDAGEM DO RISCO DE SUICÍDIO
5.1 Abordagem
1. Falar ao paciente que não deveria pensar assim pois a vida é tão bela, de que
é inteligente, com emprego, com filhos etc...”
Fonte: Coleção guia de referência rápida: avaliação do risco de suicídio e sua prevenção. RJ. 2016.
• Havendo uma conexão de vários níveis assistenciais no
cuidado de uma pessoa que tentou o suicídio em
Madalena, naturalmente se formará uma rede de proteção
devido ao laço e no interesse compartilhado pelos
profissionais. Rompem-se assim, o tradicional modelo que
é somente usuário/prestador de serviço.
• No momento de uma crise suicida de um paciente, o
modelo biomédico tradicional (centrado na doença), não
surtirá muito efeito de forma isolada. Para isso, o Método
Centrado na Pessoa é o mais indicado numa crise suicida.
Deve-se compreender dentro de uma avaliação integral da
pessoa e a perspectiva que essa pessoa tem sobre seu
processo de adoecimento dentro da sua comunidade e no
seu contexto familiar.
6. FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO
FATORES DE RISCO
Fatores sociodemográficos Fatores psicossociais Outros
• Sexo masculino • Abuso físico ou sexual • Acesso a meios letais (arma
• Adultos jovens (19 a 49 • Perda ou separação dos de fogo, venenos)
anos) e idosos pais na infância • Doenças físicas
• Estados civis viúvo, • Instabilidade familiar incapacitantes,
divorciado e solteiro • Ausência de apoio social estigmatizantes, dolorosas
(principalmente entre • Isolamento social e terminais
homens) • Perda afetiva recente ou • Estados confusionais
• Orientação homossexual ou outro acontecimento orgânicos
bissexual estressante • Falta de adesão ao
• Ateus, protestantes • Datas importantes (reações tratamento, agravamento ou
tradicionais > católicos, de aniversário) recorrência de doenças
judeus • Desemprego preexistentes
• Grupos étnicos minoritários • Aposentadoria • Relação terapêutica frágil ou
• Violência doméstica instável;
Transtornos mentais
• Depressão, transtorno • Desesperança, desamparo
bipolar, • Ansiedade intensa
abuso/dependência de • Vergonha, humilhação
álcool e de outras (bullying)
drogas, esquizofrenia, • Baixa autoestima
transtornos da • Desesperança
personalidade • Traços de personalidade:
(especialmente impulsividade,
borderline) agressividade, labilidade do
humor, perfeccionismo
• Comorbidade psiquiátrica
(coocorrência de • Rigidez cognitiva,
transtornos mentais) pensamento dicotômico
• História familiar de doença • Pouca flexibilidade para
mental enfrentar adversidades
• Falta de tratamento ativo e
continuado em saúde
mental
• Ideação ou plano suicida
• Tentativa de suicídio
pregressa
• História familiar de suicídio
Fonte: Botega,2015
Quadro 4: Fatores de proteção contra o suicídio.
FATORES DE PROTEÇÃO
Personalidade e estilo Fatores socioculturais Outros
cognitivo • Integração e bons • Gravidez, puerpério
• Flexibilidade cognitiva relacionamentos em • Boa qualidade de vida
• Disposição para grupos sociais (colegas, • Regularidade do sono
aconselhar-se em caso amigos, vizinhos) Boa relação terapêutica
de decisões importantes • Adesão a valores e
• Disposição para buscar normas socialmente
ajuda compartilhados
• Abertura à experiência de • Prática religiosa e outras
outrem práticas coletivas (clubes
• Habilidade para se esportivos, grupos
comunicar culturais)
• Capacidade para fazer • Rede social que propicia
uma boa avaliação da apoio prático e emocional
realidade • Estar empregado
• Habilidade para solucionar • Disponibilidade de
problemas da vida serviços de saúde mental
Estrutura familiar
• Bom relacionamento
interpessoal
• Senso de
responsabilidade em
relação à família
• Crianças pequenas na
casa
• Pais atenciosos e
consistentes
• Apoio em situações de
necessidade
Fonte: Botega,2015*
* Se o profissional desejar entender com maior profundidade sobre o manejo e muitas outras informações
sobre o suicídio, recomendo a leitura do livro Crise Suicida do suicidólogo e psiquiatra Neury Botega no
respectivo link: https://drive.google.com/open?id=1R9MqJrxRXenqFsYk0egWK_o1foftvRva
Outro livro que recomendo do mesmo autor, seria: Prática psiquiátrica no hospital geral, interconsulta e
emergência
6.1 OS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO
No quadro 2 pode-se observar que dentro dos fatores de risco para o suicídio
encontra-se dois com maior peso segundo diversas pesquisas científicas tanto aqui no
Brasil como nos outros país. Os principais fatores de risco que o profissional deva ficar
atento são:
2. Nas duas últimas semanas você teve o sentimento de não ter mais gosto por
nada, ter perdido o interesse e prazer pelas coisas que antes lhe agradavam
habitualmente?
Fontes: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), 5º Edição. Guia Prático de
Matriciamento em Saúde Mental, 2011.
1. Você já passou por período de cerca de 1 semana (ou 4 dias para episódio
hipomaníaco) em que se sentiu tão feliz e cheio de energia que seus amigos
lhe disseram que estava falando rápido demais ou que estava se comportando
de forma estranha e diferente?
2. Já houve algum período no qual você esteve com tanta energia e irritado que
se envolveu em discussões?
6.3.3 Sexo
7. OS FATORES DE PROTEÇÃO
7. 1 Suporte social
No suporte social, faz com que a pessoa busque ajuda em momentos de crise e de
sofrimento psíquico. Esse apoio ajuda a prevenir a pessoa que apresenta algum
comportamento suicida. Protege nos momentos difíceis, identificar mudanças de humor e
ajuda a pessoa buscar ajuda especializada.
7. 2 Outros fatores de proteção*
Estilos cognitivos e
personalidade
Fontes: Botega, 2015; Prevenção do suicídio, escola de saúde pública do Paraná módulo 1, 2019.
ALTO
MÉDIO
BAIXO
Tentativa de suicídio
Tentativa de suicídio prévia
prévia
Depressão grave,
Nunca tentou o suicídio influência de delírio ou
Depressão ou transtorno
Ideias de suicídio são bipolar alucinação
passageiras e
perturbadoras Ideias persistentes de Abuso/dependência de
suicídio, vistas como álcool
Não planeja como se solução
matar Desespero, tormento
Não tem um plano de psíquico intolerável, não
Transtorno mental, se como se matar vê saída
presente, com sintomas
bem controlados Não abusa/depende de Plano definido de se
álcool ou drogas matar e
Boa adesão ao Tem meios de como
tratamento Conta com apoio social fazê-lo
Já tomou providências
Tem vida e apoio sociais para o ato suicida
Fontes: Ministério da Saúde. Prevenção do suicídio: manual dirigido a profissionais das equipes de saúde
mental, 2006; Botega, 2015.
* Essa forma de comunicação é feita como objetivo de criar uma rede de apoio de proteção de pessoas mais
próximas ao paciente. Entrar em contato com um familiar ou amigo é algo mandatório não apenas em casos
de menores de idade. Mesmo que o paciente não aceite, temos que comunicar e falar sobre o risco de suicídio
(BOTEGA,2017).
• Estar junto ao paciente. Nunca deixá-lo sozinho;
• Tomar cuidado com os meios que estejam no próprio
espaço do atendimento;
• Realizar o contrato de não suicídio;
RISCO ALTO • Informar a família* da forma que já foi sugerida;
• Deverá ser encaminhado para o Hospital e
Maternidade Mãe Totonha imediatamente e depois
possivelmente para o CAPS de Canindé.
Em alguns casos, o paciente como já foi dito, pode apresentar quadros depressivos
graves, e outros podem apresentar problemas com uso de drogas psicoativas e sintomas
psicóticos. Caso assim precisam ser avaliados para a necessidade de internação, sendo
imperativo tal estratégica. O CAPS II e o CAPS AD (em caso onde o paciente é usuário de
drogas) de Canindé podem ver a possibilidade de cuidar dos casos mais graves. Muitas
vezes quando há vagas no Hospital Mental de Messejana pacientes podem ser
encaminhados para lá durante a crise. Não esquecendo que depois da alta, o paciente deva
receber cuidados da Atenção Primária junto com o NASF. No quadro abaixo, mostram quais
são as circunstâncias que indicam a necessidade de internação psiquiátrica.
E se por acaso nem no CAPS e nem no Hospital Mental de Messejana não houver
vagas? Ou se a família compromete a cuidar do paciente? Neste caso, pode ser pensando
na internação domiciliar. Mas devemos ter uma certa cautela ao pensar nessa opção.
A família que relata querer cuidar do paciente, pode fazer isso por sentimentos de
culpa e por meio do inconsciente, para permitir que o suicídio se consuma. Não é qualquer
família que terá capacidade de conter e cuidar (BOTEGA 2015). É preciso conversar de
forma clara e objetivamente com o paciente e seus familiares sobre um risco muito
consistente de suicídio e quais as medidas a serem tomadas. Caso seja necessário a
internação domiciliar é preciso formas de segurança em casa para impedir de o paciente
ter acesso a armas de fogo, venenos, medicamentos, cordas etc. (ABP,2014). No caso dos
medicamentos, devem mantidos longe do paciente e administrados por outra pessoa. Aqui
em Madalena, o estudo que realizei mostrou quais foram os meios que as pessoas usaram
para cometer o ato suicida. Foi constatado que o método mais utilizado foi o enforcamento
com 19 casos (59, %) conforme a tabela 5, e em segundo lugar foi o uso de objetos
cortantes, penetrantes e contundentes com 4 casos (12,5%) o que inclui “dentro” dessas
três categorias os seguintes instrumentos: facas, navalhas, giletes, canivetes, etc. Saber
quais foram os meios utilizados é importante para elaborar estratégias de prevenção tanto
numa internação domiciliar como na prevenção universal.
• Casos mais graves de risco de suicídio, que na prática clínica estão ligados a
depressão grave, esquizofrenia, transtornos de personalidade, transtorno
bipolar, abuso de drogas ou até mesmo mais de um destes juntos
(comorbidade) devem ser acompanhados pela Atenção Secundária e ao
mesmo tempo a Atenção Básica participe também do cuidado.
Fontes: Coleção guia de referência rápida: avaliação do risco de suicídio e sua prevenção. RJ. 2016; OMS:
MI-GAP manual de intervenções, 2010.
*Caso haja transtornos resistentes ao tratamento, recomendo a leitura e estudo do livro: transtornos
psiquiátricos resistentes ao tratamento, diagnóstico e manejo, da editora Artmed, 2015.
Tabela 2: Antidepressivos tricíclicos
Doses mais
Efeitos Colaterais Monitorização
Medicamento Classe comumente Periocidade Contraindicações
mais comuns Laboratorial
usadas em adultos
• Distúrbio de
• ECG basal para condução cardíaca
• Boca seca pacientes com mais • Glaucoma de
• Constipação de 50 anos. ângulo fechado
intestinal • Determinar se o • Infarto agudo do
Doses terapêuticas • Tontura paciente já miocárdio recente
Antidepressivos da clomipramina • Hipotensão apresenta sobre De acordo com a (3 a 4 semanas)
Clomipramina
Tricíclicos variam entre 75 e Postural peso (IMC 25,0 a necessidade clínica • Depressão bipolar
250 mg por dia • Sedação 29,9) ou obesidade sem o uso de
• Visão borrada (IMC ≥ 30). estabilizadores do
• Retenção urinária • Exame glicêmico humor
• Ganho de peso • Colesterol total e • Retenção urinária
frações • Prostatismo
• Íleo paralítico
Fontes: Coleção guia de referência rápida: avaliação do risco de suicídio e sua prevenção. RJ. 2016; Fundamentos de psicofarmacologia de Stahl: guia de prescrição.
6º edição, 2019. Manual de psicofarmacologia clínica. 8º edição, 2017.
Tabela 3: Antidepressivos seletivos da recaptação de serotonina, da recaptação da serotonina e norepinefrina e da recaptação de noradrenalida e dopamina.
Doses mais
Efeitos Colaterais Monitorização
Medicamento Classe comumente Periocidade Contraindicações
mais comuns Laboratorial
usadas em adultos
Fontes: Coleção guia de referência rápida: avaliação do risco de suicídio e sua prevenção. RJ. 2016; Fundamentos de psicofarmacologia de Stahl: guia de prescrição.
6º edição, 2019. Manual de psicofarmacologia clínica. 8º edição, 2017.
Tabela 4: Antipsicóticos de primeira e segunda geração.
Doses mais
Efeitos Colaterais Monitorização
Medicamento Classe comumente Periocidade Contraindicações
mais comuns Laboratorial
usadas em adultos
Fontes: Coleção guia de referência rápida: avaliação do risco de suicídio e sua prevenção. RJ. 2016; Fundamentos de psicofarmacologia de Stahl: guia de prescrição.
6º edição, 2019. Manual de psicofarmacologia clínica. 8º edição, 2017.
• Náuseas • Insuficiência
• Vômitos hepática grave
• Sedação • Doenças do ciclo
Inicial: 250m,
• Dispepsia da ureia
podendo ser • Gravidez
• Diarreia Visita inicial
Anticonvulsivantes/ aumentado
• Leucopenia Hemograma • Hipersensibilidade
250mg a cada 2 45-125 µ/g/mL
Ácido Valpróico
Estabilizadores de dias • Alopecia Enzimas Trimestral ao medicamento
humor • Elevação de hepáticas
enzimas Indicação clínica
Máxima:
60mg/kg hepáticas
• Discrasias
sanguíneas
• Hiperamonemia
Fontes: Coleção guia de referência rápida: avaliação do risco de suicídio e sua prevenção. RJ. 2016; Fundamentos de psicofarmacologia de Stahl: guia de prescrição.
6º edição, 2019. Manual de psicofarmacologia clínica. 8º edição, 2017.
11. ALGUMAS AÇÕES TERAPÊUTICAS PARA OS PROFISSIONAIS DA
ATENÇÃO BÁSICA