ESTS 016 – Aerodinâmica I

Aula 02 – Análise dimensional e similaridade

Prof. Dr. Marcelo Tanaka Hayashi

Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas
Universidade Federal do ABC
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Introdução
Para entender a importância dos coeficientes adimensionais, considere um aero-
fólio de corda c em um escoamento com velocidade V8 e ângulo de ataque α:
R

α
V8 c

Espera–se que R dependa das seguintes propriedades:

1. Velocidade de corrente livre (V8 ).
2. Densidade da corrente livre (ρ8 ).
3. Viscosidade do fluido (µ8 ).
4. Dimensão do corpo (c).
5. Compressibilidade do fluido (a8 ).
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Análise dimensional
Assim, a força aerodinâmica R pode ser escrita na forma:
R “ f pρ8 , V8 , c, µ8 , a8 q (1)
Como em uma equação deve valer o princípio da homogeneidade dimensional,
vamos escrever R da seguinte forma:
` ˘
R “ f1 ρa8 V8b cc µd8 ae8 (2)
Cada variável é expressa em termos de suas dimensões fundamentais: massa
(M ), comprimento (L) e tempo (T ):
ML M L
rRs “ ; ; rρ8 s “
rV8 s “
T2 L3 T
(3)
M L
rcs “ L ; rµ8 s “ ; ra8 s “
LT T
Portanto, dimensionalmente, a eq. (2) pode ser escrita na forma:
ˆ ˙a ˆ ˙b ˆ ˙d ˆ ˙e
ML M L c M L
“ pLq (4)
T2 L3 T LT T
± ® ® ® ° ®
R ρ8 V8 c µ8 a8
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Análise dimensional
Para que a eq. (4) seja dimensionalmente coerente, é necessário que:
$
&Para M : 1 “ a ` d
’ (5a)
Para L: 1 “ ´3a ` b ` c ´ d ` e (5b)
’
Para T : ´ 2 “ ´b ´ d ´ e (5c)
%

O sistema (5) é composto por 3 equações e 5 incógnitas. Portanto, é possível

resolver a, b e c em termos de d $
e e:
&a “ 1 ´ d
’ (6a)
b“2´d´e (6b)
’
(6c)
%
c“2´d
Substituindo (6) em (2), tem–se:
” ı
p1´dq p2´d´eq p2´dq d e
R “ f1 ρ8 V8 c µ8 a8 “
« ˆ ˙d ˆ ˙e ff
` 2 2
˘ µ8 a8
“ f1 ρ8 V8 c (7)
ρ8 V8 c V8
´¹¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¸ ¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¶ °
´1
Re´1
8 M8
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Análise dimensional
Dividindo a eq. (7) por ρ8 V82 c2 , tem–se:
R ` ˘
“ f2 Re´d
8 , M8
´e
(8)
ρ8 V82 c2
Note que o lado esquerdo da eq. (8) permanecerá sendo adimensional, caso ele seja
multiplicado por um número puro e c2 seja substituído por uma área de referência
S. Assim, pode–se definir:
R
CR “ 1 2
“ f3 pRe8 , M8 q (9)
2 ρ8 V 8 S

Observação
Note que, na eq. (1), R é uma função de 5 variáveis independentes. Entretanto,
a análise dimensional mostrou que:
1. R pode ser expresso em termos de um coeficiente de força, CR .
2. CR é uma função apenas de Re8 e M8 , como mostra a eq. (9).
Portanto, a análise dimensional permitiu reduzir o número de parâmetros
independentes de 5 para 2.
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Análise dimensional
Uma vez que sustentação e arrasto são componentes da força resultante R, os
coeficientes de sustentação e arrasto podem ser escritos na forma:
CL “ f4 pRe8 , M8 q (10)
CD “ f5 pRe8 , M8 q (11)
Uma relação similar à eq. (1) vale para momentos aerodinâmicos e a análise
dimensional leva ao coeficiente de momento:
CM “ f6 pRe8 , M8 q (12)
Lembre–se, no entanto, que a análise foi feita para uma dada geometria com um
certo ângulo de ataque α. Se α puder variar, CL , CD e CM dependerão, em
geral, do valor de α, ou seja:
CL “ f7 pRe8 , M8 , αq (13)
CD “ f8 pRe8 , M8 , αq (14)
CM “ f9 pRe8 , M8 , αq (15)

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Similaridade de escoamentos
Considere 2 campos de escoamento diferentes sobre 2 corpos distintos. Por defini-
ção, escoamentos diferentes são dinâmicamente similares se:
1. Os padrões das linhas de corrente do escoamento forem geometricamente
similares.
2. As distribuições de propriedades adimensionais (V {V8 , p{p8 , T {T8 , etc.)
forem as mesmas no campo do escoamento em coordenadas adimensionais
comuns.
3. Os coeficientes de força forem os mesmos1 .
Para compreender melhor esse conceito, considere um escoamento 2–D, estacio-
nário, viscoso e compressível. Neste caso, a eq. da conservação da quantidade
de movimento na direção x é dada por:
„ ˆ ˙
Bu Bu Bp B Bv Bu
ρu ` ρv “´ ` µ ` (16)
Bx By Bx By Bx By

1
Na realidade, este item é uma consequência do item 2.
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Similaridade de escoamentos
Considere, agora, a definição das seguintes variáveis adimensionais:
ρ u v p
ρ̄ “ ; ū “ ; v̄ “ ; p̄ “
ρ8 V8 V8 p8
µ x y
µ̄ “ ; x̄ “ ; ȳ “ (17)
µ8 c c
onde ρ8 , V8 , p8 e µ8 são valores de referência (e.g., os valores de corrente livre)
e c é um comprimento de referência (digamos, a corda do aerofólio). Assim, em
termos das variáveis adimensionais (17), tem–se:
,
x Bx̄ 1 /
x̄ “ ñ “ /
c Bx c
. Bp q 1 Bp q
“ (18)
Bp q Bx̄ Bp q / Bx c Bx̄
“ /
-
Bx Bx Bx̄
Analogamente para a derivada em y, obtém–se:
Bp q 1 Bp q
“ (19)
By c B ȳ
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Similaridade de escoamentos
Substituindo as variáveis dimensionais da eq. (16) com as definições (17) e utili-
zando as relações (18) e (19), tem–se:

ρ8 V82 Bū ρ8 V82 Bū

„ ˆ ˙
p8 B p̄ µ8 V8 B Bv̄ Bū
ρ̄ū ` ρ̄v̄ “´ ` µ̄ ` (20)
c Bx̄ c B ȳ c Bx̄ c2 B ȳ Bx̄ B ȳ

Dividindo a eq. (20) por ρ8 V82 {c, tem–se:

ˆ ˙ ˆ ˙ „ ˆ ˙
Bū Bū p8 B p̄ µ8 B Bv̄ Bū
ρ̄ū ` ρ̄v̄ “´ ` µ̄ ` (21)
Bx̄ B ȳ ρ8 V82 Bx̄ ρ8 V8 c B ȳ Bx̄ B ȳ
´¹¹ ¹ ¹ ¸ ¹ ¹ ¹ ¶ ´¹¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¸ ¹ ¹ ¹ ¹ ¹ ¶
2 ´1
pγM8 q Re´1 8

Portanto, a equação de conservação da quantidade de movimento adimensional

na direção x̄ é dada por:
„ ˆ ˙
Bū Bū 1 B p̄ 1 B Bv̄ Bū
ρ̄ū ` ρ̄v̄ “´ 2 Bx̄
` µ̄ ` (22)
Bx̄ B ȳ γM8 Re8 B ȳ Bx̄ B ȳ

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Similaridade de escoamentos
Conclusões:
‚ Considere 2 escoamentos diferentes (sobre corpos distintos), mas com os
mesmos valores de γ, M8 e Re8 .
‚ Neste caso, os coeficientes das derivadas na eq. (22) serão os mesmos para
os 2 escoamentos.
‚ Logo, a eq. (22) é numericamente idêntica para os 2 casos citados.
‚ Além disso, assuma que os 2 corpos sejam geometricamente similares, de
tal modo que as condições de contorno em termos das variáveis adimen-
sionais sejam as mesmas.
‚ Então, as soluções da eq. (22) para os 2 escoamentos devem ser idênticas.
‚ Tal resultado permite que se realize ensaios em túnel de vento utilizando
modelos em escala de aeronaves e extrapolar os coeficientes de força e
momento para um protótipo em tamanho real, desde que os parâmetros
adimensionais relevantes para os 2 escoamentos sejam os mesmos.

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O número de Mach
O número de Mach é um parâmetro adimensional que indica a importância dos
efeitos de compressibilidade de um escoamento e é definido como:
V
M“ (23)
a
Tipicamente, admite–se um escoamento incompressível quando M8 ă 0.3. Além
disso, define–se um escoamento localmente:
‚ Subsônico , se M ă 1.
‚ Sônico , se M “ 1.
‚ Supersônico , se M ą 1.
Olhando para todo o campo de escoamento simultaneamente, é usual classi-
ficar escoamentos em 4 diferentes regimes de número de Mach:
1. Escoamento subsônico: M ă 1 em todos os pontos do escoamento.

M8ă 0.8

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O número de Mach
2. Escoamento transônico: Existem regiões no campo do escoamento em que
M ą 1 e outras em que M ă 1. Neste caso, existem 2 possibilidades:
(a) M8 ă 1

M ą1
0.8 ă M8ă 1
M ą1

(b) M8 ą 1

M ą1
1 ă M8ă 1.2
M ă1

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O número de Mach
3. Escoamento supersônico: M ą 1 em todos os pontos do escoamento.
M ą1

M8ą 1.2 θ

4. Escoamento hipersônico: velocidades supersônicas muito elevadas.

M8 ą 5

camada de choque fina, quen-

te, com interações viscosas e
reações químicas.
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O número de Reynolds
O número de Reynolds é um parâmetro adimensional que indica a relação entre
as forças de inércia e as forças viscosas de um escoamento e é definido como:
ρ V lref
Re “ (24)
µ
Na camada limite, a velocidade do escoamento é retardada pelas tensões
viscosas na parede sólida:
camada limite
esteira
Re8 “ 1ˆ104
cd « 0.035

camada limite
esteira
Re8 “ 1ˆ106
cd « 0.0045

Observação
Escoamentos típicos de aplicações aerodinâmicas tem altas velocidades e baixa
viscosidade (nas CNTP, µar “ 1.78ˆ10´5 kg/m¨s). Assim, apresentam elevados
números de Reynolds e, muitas vezes, podem ser admitidos como invíscidos.
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Exemplo
Uma aeronave é projetada para operar com velocidade de 250 m/s a uma alti-
tude em que a densidade e a temperatura do ar são de 0.414 kg/m3 e 223 K,
respectivamente. Um modelo em escala 1 : 5 da aeronave é construído para que
seja possível estimar as forças aerodinâmicas que atuam no protótipo através de
um ensaio experimental em um túnel de vento cuja pressão na seção de testes é
de 1.01 ˆ ?105 N/m2 . Admitindo que o ar tenha comportamento de gás perfeito
e que µ 9 T , especifique as condições de operação (velocidade, temperatura e
densidade) necessárias no túnel de vento para que os coeficientes de sustentação e
arrasto sejam os mesmos no modelo e no protótipo.
Solução:
a ?
ap “ γRTp “ 1.4 ˆ 287 ˆ 223 ñ ap “ 299.33 m/s
Vp 250
Mp “ “ ñ Mp “ 0.835 ą 0.3 ñ Esc. compressível
ap 299.33
Para que os coeficientes de força aerodinâmica
# sejam os mesmos, é necessário que:
Mm “ Mp
Rem “ Rep
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Exemplo
Analisemos, primeiramente, os números de Mach:
Vm Vp Vm Vp
Mm “ Mp ñ “ ñ? “a
am ap γRTm γRTp
Vm Vp 250
6? “a “? “ 16.74 (25)
Tm Tp 223
Agora, comparemos os números de Reynolds:
ρm Vm lm ρp Vp lp ρm Vm lm ρp Vp lp
Rem “ Rep ñ “ ñ ? “ a
µm µp C Tm C Tp
Vm Vp lp
6 ρm lm ? “ ρp lp a ñ ρm “ ρp ñ ρm “ 5ˆ0.414 ñ ρm “ 2.07 kg/m3
Tm Tp lm
Da eq. de estado de gás perfeito, tem–se:
pm “ ρm RTm ñ 1.01 ˆ 105 “ 2.07 ˆ 287 ˆ Tm ñ Tm “ 170 K
Finalmente, da eq. (25), tem–se:
a ?
Vm “ 16.74 Tm “ 16.74 170 ñ Vm “ 218.26 m/s
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