Location via proxy:   [ UP ]  
[Report a bug]   [Manage cookies]                

IV Congresso Brasileiro de Educação "Ensino e Aprendizagem Na Educação Básica: Desafios Curriculares" Unesp - Câmpus Bauru - 25 A 28 de Junho de 2013

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO

PARANÁ (PDE/PR): formação continuada e produção do conhecimento na


educação física escolar no período de 2007 e 2008

Tania Regina Bonfim


trbonfim@hotmail.com
Deiva Mara Delfini Batista
dmdbribeiro@uem.br
Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira
aaboliveira@uem.br
Universidade Estadual de Maringá
Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física UEM/UEL
Paraná

Palavras-chave: Formação Continuada. Programa de Desenvolvimento


Educacional/PR. Diretrizes Curriculares da Educação Básica/PR.

Introdução e Objetivo

Nacional e internacionalmente, a temática sobre a educação tem sido foco de


estudos e debates, como apontam organismos internacionais, tais como Banco
Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), Banco Mundial,
Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Comissão Econômica para a América
Latina e Caribe (CEPAL), Organização das Nações Unidas (ONU) e
Conferência Mundial sobre Educação para Todos que, dentre outros, têm
atrelado a educação ao desenvolvimento social, político e econômico de uma
nação.
À par de todas as críticas que pesquisas e documentos suscitam pela
linguagem hegemônica de uma educação voltada para o mercado, há um
chamamento para a formação de professores no sentido de se alcançar uma
educação de qualidade.
No Brasil, Freitas (1999) avalia que a década de 1990 foi o período em que a
formação de professores ganhou representatividade na consecução das
reformas educativas e, com o Plano Nacional de Educação (Lei nº
10.172/2001) a discussão sobre a referida formação e a qualidade da
educação se efetiva no discurso; bem como a formação continuada presente
nos Decretos Federal nº 5.800/2006 e 6.094/2007, gerando o PDE/MEC no ano
de 2008.
Entre estudioso da formação docente, há um consenso de que deve ser
buscada na formação, a unidade entre teoria e prática, a sólida formação
teórica, o compromisso social do profissional da educação na busca de uma

IV Congresso Brasileiro de Educação "Ensino e Aprendizagem na Educação Básica:


desafios curriculares"

UNESP – Câmpus Bauru – 25 a 28 de junho de 2013


sociedade mais humana e solidária, e o trabalho coletivo e interdisciplinar como
processo de reflexão, como indicam Scheibe e Bazzo (2001).
Neste sentido, pensar na formação continuada de professores requer pensá-los
como profissionais da educação, suas condições de trabalho, de carreira e de
salário, que os possibilitem exercer sua função; ou seja, a formação deveria
acontecer em um continuum no seu cotidiano e não esporadicamente.
A formação continuada, também designada de formação permanente, em
serviço ou no lócus de trabalho é entendida pela ANFOPE (1998, p.5) como a
continuidade da formação profissional para o desenvolvimento do seu trabalho
pedagógico.
No Estado do Paraná percebe-se que esta perspectiva tem sido buscada nas
Políticas Educacionais para a Formação de Professores (Secretaria de Estado
da Educação – SEED/PR), mormente à formação continuada; oferecendo as
modalidades: Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE/PR), Reuniões
Pedagógicas, Grupos de Estudos, Cursos e Simpósios, Projeto Folhas e o
próprio Portal Dia a Dia Educação que disponibiliza materiais para subsidiar o
trabalho docente (NADAL, 2007).
Para este trabalho, focaremos no PDE/PR buscando relações entre o material
produzido pelos professores PDE e as Diretrizes Curriculares, especificamente
na Educação Física.
O PDE/PR foi inicialmente implantado pelo Decreto nº 4482/2005 (mas
concretizado em 2007), como parte da reformulação das políticas públicas para
a educação no Estado; constituindo-se hoje, uma política de formação
continuada dos professores da rede pública, regulamentada pela Lei
Complementar nº 130/2010, articulada à progressão na carreira. Propõe um
conjunto de atividades teórico-práticas orientadas a partir de uma proposta de
trabalho e diálogo entre os professores do Ensino Superior e da Educação
Básica, visando como resultado a produção de conhecimento e mudanças
qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense.
O programa tem duração de 02 (dois) anos. No primeiro ano, o professor tem
garantido o direito a afastamento remunerado de 100% de sua carga horária
efetiva, permanecendo vinculado a uma IES. No ano seguinte, o afastamento
corresponde a 25% e o professor retorna ao estabelecimento de ensino que
está lotado para implementação da proposta de trabalho, desenvolvida durante
o primeiro ano, com material elaborado pelo mesmo. O professor PDE deve
elaborar um projeto de intervenção pedagógica, sob orientação de um docente
da IES, relacionado a um “problema” a ser investigado no âmbito da Educação
Básica, tendo por base as Diretrizes Curriculares, sua escola (ponto de
referência) e área/disciplina. Em síntese, o projeto buscará solucionar uma
dificuldade observada na sua unidade educacional, o que a seu modo,
instrumentalizará o pensamento e a práxis pedagógica do professor (PARANÁ,
2010; 2013).

IV Congresso Brasileiro de Educação "Ensino e Aprendizagem na Educação Básica:


desafios curriculares"

UNESP – Câmpus Bauru – 25 a 28 de junho de 2013


As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná estão estruturadas tratando
primeiramente da Educação Básica, constando as formas históricas da
organização curricular, a concepção de currículo pretendido, os conteúdos
escolares, a interdisciplinaridade, a contextualização sócio-histórica e avaliação
e, na sequência, refere-se à disciplina de formação/atuação (Educação Física),
apontando historicamente sua constituição como campo de conhecimento e
contextualizando os interesses políticos, econômicos e sociais que interferiram
na mesma e, por fim, os fundamentos teórico-metodológicos e os conteúdos
estruturantes (e elementos articuladores) que devem organizar o trabalho
docente.
Fundamentada em teorias críticas da educação sob um processo de discussão
coletiva, estas Diretrizes consideram que “um sujeito é fruto de seu tempo
histórico, das relações sociais em que está inserido, mas é também um ser
singular, que atua no mundo a partir do modo como o compreende e como dele
lhe é possível participar” (PARANÁ, 2008, p.14). Assume-se então, que os
sujeitos da Educação Básica devem ter acesso ao conhecimento produzido
pela humanidade que, na escola é veiculado pelos conteúdos das disciplinas
escolares. A escola, neste caso, é o lugar de socialização do conhecimento de
forma que promova a reflexão crítica dos sujeitos “com vistas à transformação
da realidade social” (p.20) baseando-se nas dimensões científica, artística e
filosófica do conhecimento.
Para a Educação Física, a partir da sua dimensão histórica e das teorias
críticas, as Diretrizes Curriculares compreendem a necessidade de mudança
na forma de pensar o tratamento teórico-metodológico dado às aulas,
reconhecendo que a gênese da cultura corporal reside na atividade humana
para a existência da espécie, que, sistematizada, está presente na escola
como conteúdos de ensino. Esta gênese “está relacionada à vida em
sociedade, desenvolvida inicialmente nas relações Homem-Natureza e
Homem-Homem, isto é, pelas relações para a produção de bens e pelas
relações de troca” (PARANÁ, 2008, p.51) que são mediadas pelo trabalho,
como constitutivo da experiência humana, e que, concomitantemente à
materialidade corporal e como ato humano, social e histórico, dão sentido à
existência humana.
Nesta perspectiva, a Cultura Corporal é apontada como objeto de estudo e
ensino da Educação Física, em que a ação pedagógica deve estimular a
“reflexão sobre o acervo de formas e representações do mundo que o ser
humano tem produzido, exteriorizadas pela expressão corporal em jogos e
brincadeiras, danças, lutas, ginásticas e esportes (Coletivo de Autores, 1992
apud PARANÁ, 2008, p.53).
Tais temas da Cultura Corporal são trazidos nas Diretrizes Curriculares como
conteúdos estruturantes da Educação Física que devem estar atrelados aos
elementos articuladores, tidos como conteúdos paralelos: cultura corporal e

IV Congresso Brasileiro de Educação "Ensino e Aprendizagem na Educação Básica:


desafios curriculares"

UNESP – Câmpus Bauru – 25 a 28 de junho de 2013


corpo, ludicidade, saúde, mundo do trabalho, desportivização, técnica e tática,
lazer, diversidade e mídia, permitindo ampliar o conhecimento da realidade.
Assim, considerando que o Estado do Paraná tem implementado uma política
de formação continuada para professores da rede pública cuja orientação
pedagógica fundamenta-se nos princípios educacionais da SEED e nas
Diretrizes Curriculares, o objetivo desta pesquisa foi diagnosticar,
preliminarmente, por meio da produção final dos professores PDE/PR (2007 e
2008), a articulação dos seus estudos aos conteúdos estruturantes e
elementos articuladores propostos pelas Diretrizes Curriculares/Educação
Física (DCE/EF) no contexto da formação continuada.

Metodologia

Para a consecução do objetivo proposto, o encaminhamento metodológico


estruturou-se a partir da perspectiva da pesquisa documental preconizada por
Marconi e Lakatos (2003), cuja fonte de coleta de dados tem como
característica principal documentos escritos ou não. A escolha das produções
finais dos professores PDE nos anos de 2007 e 2008 (Cadernos PDE) ocorreu
em razão da disponibilidade dos dados no site da SEED/PR (Portal Dia a Dia
Educação). Após levantamento dos artigos disponibilizados e buscando a
correspondência com os conteúdos estruturantes e elementos articuladores
constantes nas DCE/EF, estabeleceu-se como critério para a categorização
das produções finais, a identificação e interpretação do título, das palavras-
chave e sinopse de cada artigo.

Discussão e Considerações Finais

Apresenta-se a seguir, na forma de quadros, para melhor visualização, os


dados diagnosticados. No quadro 1 observa-se a produção final dos
professores PDE categorizada em relação aos conteúdos estruturantes das
Diretrizes Curriculares/Educação Física.

Quadro 1 – Produção final dos professores PDE/PR nos anos 2007 e 2008
categorizadas em relação aos conteúdos estruturantes das DCE/EF

Conteúdos Estruturantes 2007 2008


Esporte 11 16
Jogos e brincadeiras 8 9
Ginástica 4 7
Lutas 5 1
Dança 10 5

IV Congresso Brasileiro de Educação "Ensino e Aprendizagem na Educação Básica:


desafios curriculares"

UNESP – Câmpus Bauru – 25 a 28 de junho de 2013


Verifica-se que a maioria dos professores PDE nos anos 2007 e 2008 teve sua
produção final articulada ao conteúdo estruturante Esporte (11 artigos em 2007
e 16 em 2008). Entende-se por conteúdos estruturantes, os conhecimentos
amplos, os conceitos, teorias ou práticas que identificam e organizam os
campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para
a compreensão do seu objeto de ensino. Por serem históricos, são oriundos de
uma construção que tem sentido social como conhecimento (PARANÁ, 2008).
Será que só o esporte representa simbolicamente as realidades vividas pelo
homem? Percebe-se que a hegemonia de um conteúdo sobre outro ainda se
faz presente na escola dado o processo histórico da área, no entanto
evidencia-se a necessidade de reconhecer e articular os outros campos de
estudos já que também estruturam o objeto de estudo/ensino da Educação
Física. Mesmo que o professor tenha afinidade com um conteúdo, é
indispensável que o mesmo se aproprie do conhecimento produzido nas outras
áreas, haja vista que tem a função de mediar este processo. Neste sentido,
concordamos que a formação continuada deve incidir sobre estas fragilidades
para que o todo seja contemplado.
No quadro 2 a produção final dos professores PDE está categorizada quanto
aos elementos articuladores.

Quadro 2 – Produção final dos professores PDE/PR nos anos 2007 e 2008
categorizadas em relação aos elementos articuladores das DCE/EF

Elementos Articuladores 2007 2008


Cultura corporal e saúde 25 24
Cultura corporal e diversidade 5 11
Cultura corporal e ludicidade 8 4
Cultura corporal e corpo 2 4
Cultura corporal e mundo do 2 4
trabalho
Cultura corporal e desportivização 3 2
Cultura corporal e mídia 3 1
Cultura corporal e lazer 1 2
Cultura corporal – técnica e tática não houve

Evidencia-se a supremacia da produção em relação à cultura corporal e saúde


(25 artigos em 2007 e 24 em 2008). Nas Diretrizes, reconhece-se que, além
dos conteúdos estruturantes, as disciplinas escolares incorporam e atualizam
conteúdos articuladores decorrentes do movimento das relações de produção e
dominação que determinam relações sociais, geram pesquisas científicas e
trazem para o debate questões políticas e filosóficas. Propõe-se, pelas
DCE/EF, que os temas sejam abordados pelas disciplinas que lhe são afins, de

IV Congresso Brasileiro de Educação "Ensino e Aprendizagem na Educação Básica:


desafios curriculares"

UNESP – Câmpus Bauru – 25 a 28 de junho de 2013


forma contextualizada, articulados com os respectivos objetos de estudo e sob
o rigor de seus referenciais teórico-conceituais (PARANÁ, 2008).
No quadro 2, percebe-se a hegemonia sobre a questão da saúde. No entanto,
a proposta da articulação prevista fundamenta-se no Sistema de Complexos
Temáticos (PISTRAK, 2000 apud PARANÁ, 2008); ou seja, a articulação deve
permitir a ampliação do conhecimento da realidade estabelecendo relações e
nexos entre os fenômenos sociais e culturais a partir da especificidade dos
conteúdos. Neste caso, para todo conteúdo estruturante, espera-se que os
nexos sejam contemplados nos elementos articuladores.
Detecta-se que os resultados evidenciados nos quadros apontam para uma
abordagem unilateral em relação à proposta de formação requerida. Os dados
indicam, ao que parece, que os subsídios teórico-metodológicos necessários
para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas necessitam ser
revistos quanto à proposta do Programa de redimensionamento da prática
pedagógica do professor PDE, pois no levantamento realizado, a incoerência
entre título, palavras-chave e sinopse, verificada em alguns artigos, não apenas
dificultou o diagnóstico e categorização como pode ser uma hipótese para os
resultados obtidos. Neste caso, caberia uma análise do trabalho completo, que
sugerimos como continuidade desta pesquisa quando os mesmos forem
disponibilizados.
Porém, de modo geral, o diagnóstico indica que os professores PDE vêem se
apropriando, de certo modo, do conhecimento proposto pelas Diretrizes
Curriculares, procurando articular sua prática pedagógica à referida proposta.
Considerando a provisoriedade do conhecimento, entende-se que o Programa
está em constante construção para atender aos propósitos formativos.
A par das críticas aos programas de formação continuada de professores, o
PDE/PR propõe um modelo de formação continuada com acentuada carga
horária de atividades de aprofundamento teórico realizadas nas IES públicas
do Estado, proporcionando o retorno dos professores PDE às atividades
acadêmicas, sem desconsiderar as questões do cotidiano escolar.

IV Congresso Brasileiro de Educação "Ensino e Aprendizagem na Educação Básica:


desafios curriculares"

UNESP – Câmpus Bauru – 25 a 28 de junho de 2013

Você também pode gostar